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O Povo brasileiro –
Resumo/ Apontamentos e
conclusões
Entender o sentido do que hoje somos
é muito mais do que um desafio,
constituísse num longo e detalhado
processo de trabalho. A reflexão sobre a
nossa formação nos remete às nossas
origens, à história que como brasileiros,
fomos construindo. A realidade na qual
nos encontramos traz reflexões e pontos
de vista provenientes de outros
contextos.

No que tange esse desafio de nos


tornar “explicáveis” Darcy Ribeiro indica
um conjunto teórico a partir do nosso
contexto histórico. Ribeiro reúne um
conjunto de pesquisas que culminam em
uma teoria do Brasil até então inédita.
Subjacente à descrição desta teoria, está
sua preocupação em entender por que
caminhos passamos, que nos levaram a
diferenças sociais tão profundas no
processo de formação nacional.

Os brasileiros entendem-se, se sabem,


se sentem e se comportam como uma só
gente, pertencente a uma mesma etnia,
será? Essa unidade não significa porém
nenhuma uniformidade. O homem se
adaptou ao meio ambiente e criou modos
de vida diferentes, tolerância,
convivência, civilidade, etc. A urbanização
contribuiu para uniformizar os
brasileiros, sem eliminar suas diferenças.
Fala-se em todo o país uma mesma língua,
um mesmo idioma só diferenciado por
sotaques e gírias regionais. Mais do que
uma junção de etnias formando uma etnia
única, a brasileira, o Brasil é um povo
nação, ajustado em um território próprio
para nele “fazer” seu destino.
Foi essa gente composta de índios,
negros, mulatos, que fundou esse país. Ao
longo da costa brasileira se encontraram
duas visões de mundo completamente
opostas: a “selvageria” e a “civilização”.
Concepções diferentes de mundo, da
vida, da morte, do amor, se chocaram.
Para os europeus os indígenas pareciam
belos seres inocentes, que não tinham
noção de "pecado", porém com um grande
defeito: eram "vadios", preguiçosos não
produziam nada que pudesse ter valor
comercial. Serviam apenas para ser
vendidos como escravos. Com a
descoberta de que as matas estavam
cheias de pau-brasil, mudaram o foco de
seus interesses. Era necessária mão-de-
obra para retirar a madeira.

Ocorreu uma forma de miscigenação


ao meu entender um tanto quanto
opressora, onde houvesse algum europeu
alojado na costa em contato com as naus,
e que pudesse viabilizar o fornecimento
de mercadorias das quais os indígenas já
haviam se tornado até certo ponto,
dependentes, cada aldeia levava uma
moça para casar-se com os respectivos
europeus. Se ele mantivesse relações
sexuais com a moça, então ele se tornava
“cunhado”, e passava a ter sogro, sogra,
genros, passava então a ser parente.
Então o português e os europeus,
conseguiram desse modo pôr milhares de
índios a serviço deles, para a extração e
carregamento de pau-brasil.

O branco penetrou na cultura indígena


através deste tal "cunhadismo", por meio
desse costume foi iniciada a formação do
povo brasileiro. E da união das índias com
os europeus nasceu um povo mestiço que
efetivamente ocupou o Brasil. Na barriga
das mulheres indígenas cresciam
indivíduos que não eram indígenas,
mulheres emprenhadas pelos
portugueses, pariam meninos e meninas
que sabiam que não eram índios e nem
europeus, pois os europeus não os
aceitavam como iguais. O que eram
então? Eram uma gente vazia? O que
significavam eles do ponto de vista
étnico? Estes mestiços consistiam a
matéria - prima com a qual se formaria no
futuro o povo brasileiro.

É admissível até que a colonização


pudesse ser feita através do
desenvolvimento dessa prática, tinha o
defeito, porém (para os portugueses), de
ser acessível a qualquer europeu
desembarcado junto às aldeias indígenas.
Isso efetivamente ocorreu, pondo em
movimento um número crescente de
navios e incorporando os indígenas ao
sistema mercantil de produção. Para
Portugal é que representou uma ameaça,
já que estava perdendo sua conquista
para armadores franceses, holandeses,
ingleses e alemães, cujos navios já sabiam
onde buscar sua carga.

Sabemos que um dos primeiros e


principais núcleos povoadores surgiu em
São Paulo, chefiado pelo português João
Ramalho, alguns afirmam que ele havia
chegado ao planalto paulista antes de
Cabral. Os registros da época supõem
que ele teve mais de trinta mulheres
índias e quase oitenta filhos (as) mestiços.
A ocupação e o consequente povoamento
se iniciaram a partir do litoral. Na Bahia,
Pernambuco, Espírito Santo e no Rio de
Janeiro, em toda a extensão litorânea os
europeus geraram um exército de
mestiços, chamados de mamelucos pelos
jesuítas espanhóis, por causa da
aparência agreste e rústica e da violência
com que capturavam e escravizavam os
indígenas, de quem eram descendentes.

Esses mamelucos aprenderam o nome


das árvores, dos bichos, batizaram os rios,
aprenderam e dominaram
superficialmente a sabedoria milenar dos
índios. Em dez mil anos os índios
aprenderam a viver na floresta tropical,
identificaram mais de sessenta tipos de
árvores frutíferas, domesticaram muitas
plantas, essas que conhecemos hoje:
mandioca, milho, amendoim, dentre
muitas outras. Há duas contribuições
fundamentais nesse encontro: uma
mestiçagem do corpo e uma mestiçagem
da cultura. Em nós vivem milhões de
índios, índios que foram abatidos porque
a brutalidade do branco com o índio foi
terrível. Abatidos porque o branco
europeu tinha muitas doenças.

Considera-se que na ocasião em que


chegaram os portugueses em terras
brasileiras havia cinco milhões de
indígenas, dois séculos mais tarde não
chegavam a dois milhões. Em cinco
séculos desapareceram para sempre
cerca de oitocentas etnias. Eram povos de
diferentes culturas, que ocupavam
amplos territórios de características
geográficas distintas. Hoje, os
sobreviventes somam duzentos e setenta
mil habitantes ou talvez menos.

Era uma sociedade que, por ser mais


pobre, era também mais igualitária. A
miscigenação era livre, porque quase não
havia entre eles quem não fosse mestiço.
Até meados do século XVIII essa gente
falava uma língua aprendida com os
índios, o “nheengatu”. Um jeito de falar
tupi com boca de português, inventado
pelos padres jesuítas.

Em sua peregrinação, os paulistas foram


ampliando o tamanho do Brasil, na
esperança de encontrar minérios, eles
buscavam no fundo das matas a única
mercadoria que estava ao seu alcance: os
indígenas. As bandeiras partiam de São
Paulo levando mais de duas mil pessoas,
homens e mulheres, famílias inteiras de
mestiços que iam fazendo roças pelo
caminho, fundando vilarejos, caçando e
pescando para comer, ignoraram as
fronteiras portuguesas para aprisionar os
habitantes da terra, e vendê-los como
escravos aos engenhos do nordeste. E não
pouparam sequer os índios convertidos à
fé católica que habitavam as missões
jesuíticas do sul do país e do Paraguai.

No final do século XVII, a descoberta


de ouro pelos paulistas nas terras do
interior modificou os caminhos do Brasil
Colônia, em menos de dez anos,
chegaram à região das Minas mais de 30
mil pessoas, vindas de todo o país,
paulistas, baianos, senhores de engenho
falidos e, sobretudo, escravos; muitos
morriam de fome com o ouro nas mãos, já
que não havia o que comer. Os tropeiros
asseguravam a sobrevivência vendendo
comida e panos de algodão. Atraídos pelo
ouro, muitos se fixaram no cruzamento
das rotas de comércio e estabeleceram os
primeiros povoamentos e assim abriram
caminho para a ocupação do interior do
país.

Setenta anos depois, a capitania de


Minas Gerais já era a área mais populosa
da América, com trezentos mil
habitantes, pessoas que vinham atrás de
fortuna, como os garimpeiros. A
descoberta do ouro mudou
completamente a vida da colônia. A
mineração enfraqueceu a indústria
açucareira, que era a principal atividade
econômica. A sociedade estava
estruturada nos moldes da fazenda, da
casa-grande e da senzala. O país
progredia graças ao trabalho escravo de
três milhões de negros. O açúcar, no
entanto, começou neste período a sofrer
concorrência das Antilhas.

A grande contribuição da cultura


portuguesa aqui foi fazer o engenho de
açúcar movido por mão-de-obra escrava,
ou seja, foi introduzir a utilização da mão
de obra escrava e o tráfico negreiro
traçando assim um modo de produção
escravista ou escravocrata. Por isso,
começaram a trazer milhões de escravos
da África. O negócio maior do mercado
mundial era a venda de açúcar e depois a
remessa de ouro (mercantilismo). Mas a
despesa maior era a compra de escravos.
Os europeus iam à África e faziam
grandes expedições de caça de negros,
metade morria na travessia ou na
brutalidade da chegada, ou mesmo por
meio do chamado “banzo”, um estado
psicológico que pode ser explicado como
depressão, mas milhões deles
incorporaram-se ao Brasil.
Estes negros eram provenientes de
povos diferentes, com dialetos locais,
línguas locais, o único modo de um negro
falar com o outro era aprender a língua do
seu capataz, que não desejava ensiná-los
a língua local temendo a ocorrência de
futuras fugas e a perda do controle da
“mercadoria”, genialmente esses negros
aprenderam a falar português ora com
auxilio de outros empregados da casa
grande, ora com auxilio de um capataz
mais flexível, ora observando e escutando
etc. Quem difundiu o português brasileiro
foi o negro, que se concentrou na área da
costa de produção do açúcar e na área do
ouro. Sabemos que com os negros
escravos vinham as escravas mulheres e
meninas, muitas apartadas dos maridos,
noivos e filhos, custavam o preço de dois
ou três escravos de trabalho, os senhores
de engenho queriam muito comprá-las, e
os capatazes também, para explora-las
tanto no trabalho da casa grande como
sexualmente, logicamente essas mulheres
e meninas engravidavam, e quem era essa
criança? Não era africana, não era índia e
não era européia, essa criança só
encontraria uma identidade no dia em
que se definisse o que é o brasileiro.
Darcy Ribeiro começa a descrever
como foi acontecendo a “gestação do
Brasil” e dos brasileiros como um povo.
Nessa reconstituição ele fala da união
ocorrida entre portugueses, índios e
negros, matrizes étnicas do brasileiro.
Um povo novo que, de acordo com
Darcy, se enfrentam e se fundem, fazendo
surgir, "num novo modelo de
estruturação societária". Para ele, essa
mestiçagem fez nascer um novo gênero
humano. Nova gente, mestiça na carne e
no espírito.
Segundo Darcy essa gente fez-se
diferente:
“Novo porque surge como uma etnia
nacional, diferenciada culturalmente de
suas matrizes formadoras, fortemente
mestiça, dinamizada por uma cultura
sincrética e singularizada pela redefinição
de traços culturais delas naturais.
Também novo porque se vê a si mesmo e é
visto como uma gente nova, um novo
gênero humano diferente de quantos
exista. Povo novo ainda, porque é um
novo modelo de estruturação societária,
que inaugura uma forma singular de
organização socioeconômico, fundada
num tipo renovado de escravismo e numa
servidão continuada ao mercado mundial.
Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e
espantosa vontade de felicidade, num
povo tão sacrificado, que alenta e comove
a todos os brasileiros”. (1996, p. 19)
Ao oposto do que se podia idealizar, um
conjunto tão variado de matrizes
formadoras não resultou num conjunto
multiétnico. Diz:
“... apesar de sobreviverem na fisionomia
somática e no espírito dos brasileiros os
signos de sua múltipla ancestralidade, não
se diferenciaram em antagônicas
minorias raciais, culturais ou regionais,
vinculadas a lealdades étnicas próprias e
disputantes de autonomia frente à nação”.
(1996, p. 20)
Com pequena exceção a grupos que
sobrevivem de maneira isolada, que
mantendo seus costumes, mas que,
segundo Darcy, não podem afetar a
macro etnia em que se encontram.
Dessa unidade étnica básica, ele não quer
propor uma uniformidade entre os
brasileiros, ele esclarece está questão
distinguindo três forças diversificadoras:
a ecológica, a econômica e a imigração.
Estas formam os fatores que tornaram
presente os diferentes modos de ser dos
brasileiros, espalhados nas diversas
regiões do território brasileiro.
Segundo Darcy:
“A urbanização, apesar de criar muitos
modos citadinos de ser, contribuiu para
ainda mais uniformizar os brasileiros no
plano cultural, sem, contudo, borrar suas
diferenças. A industrialização, enquanto
gênero de vida que cria suas próprias
paisagens humanas, plasmou ilhas fabris
em suas regiões. As novas formas de
comunicação de massa estão
funcionando ativamente como difusoras
e uniformizadoras de novas formas e
estilos culturais”. (1996, p. 21)
Darcy Ribeiro sugeriu deste modo que,
apesar das diferentes matrizes “racionais”
nas quais se formaram os brasileiros,
também por questões culturais e por
situações regionais, "os brasileiros se
sabem, se sentem e se comportam como
uma só gente, pertencente a uma mesma
etnia". Formamos uma etnia nacional
única, um só "povo incorporado".
Concebeu a história brasileira dividida em
cinco formadores regionais, a cultura
crioula, cabocla, gaúcha, caipira e a
cultura sertaneja. Divididas em
territórios específicos, a cultura crioula,
desenvolveu-se no litoral nordestino; a
caipira, que se formou nas áreas
ocupadas pelos mamelucos paulistas; a
sertaneja, desenvolvida na área que se
desdobra desde o Nordeste até os
cerrados do Centro-Oeste; a cabocla, que
correspondente à população amazônica e
a gaúchas, formada no sul do país.
Ressalva que este mesmo processo
ocorreu consolidando as
incompatibilidades sociais de caráter
traumático. Diz:
“A mais terrível de nossas heranças é esta
de levar sempre conosco a cicatriz de
torturador impressa na alma e pronta a
explodir na brutalidade racista e classista.
Ela é que encandece, ainda hoje, em tanta
autoridade brasileira predisposta a
torturar, seviciar e machucar os pobres
que lhes caem às mãos”. (1996, p.120)
Para Darcy formamos a maior presença
neolatina no mundo, uma "nova Roma".
Segundo ele, melhor, porque racialmente
lavada em sangue índio e em sangue
negro. Esta nossa singularidade nos
condena a nos inventarmos a nós mesmos
e desafiados a construir uma sociedade
inspirada na propensão indígena para o
convívio cordial e para a reciprocidade e a
alegria saudável do negro extremamente
alterativo.
Darcy Ribeiro trata das
características iniciais do território
brasileiro, das terras encontradas pelos
portugueses que desembarcaram pela
primeira vez no ano 1500 do calendário
europeu, estas terras se encontravam
povoadas por um grande número de
indígenas que viviam por toda superfície
do Brasil.
Segundo Darcy: "Eram, tão-só, uma
miríade de povos tribais, falando línguas
do mesmo tronco, dialetos de uma mesma
língua, cada um dos quais, ao crescer, se
bipartia, fazendo dois povos que
começavam a se diferenciar e logo se
desconheciam e se hostilizavam" (1996, p.
29).
Essas tribos aqui encontradas eram na
sua maioria da família tupi, elas se
encontravam nos primeiros passos da
revolução agrícola na escala da evolução
cultural. Já conseguiam domesticar
diversas plantas. Com o cultivo da terra
garantiam a subsistência do ano inteiro. É
importante lembrar que as aldeias
possuíam uma estrutura igualitária de
convivência sem estratificação direta.
Mas, devido a colonização de suas terras,
as tribos se chocavam em guerra umas
com as outras o mesmo aconteceu na
colonização do território africano.
Ao contrário do modelo constituído
pelas tribos indígenas no Brasil, os
portugueses invasores possuíam relações
sociais baseadas na estratificação das
classes, tinham uma velha experiência
como civilização urbana. Com eles veio a
Igreja católica que exerceu uma grande
influência no processo de formação
sociocultural do povo brasileiro. Na visão
de Darcy, a Igreja exerceu um forte poder
de mando, influenciando na vida dos
indígenas e negros.
Desde o início houve uma fração de
jesuítas que tinha uma utopia para os
índios, fazê-los pios seráficos, religiosos.
Eles achavam que era o jeito de fazer o
Paraíso na Terra. A religião estabeleceu-
se de fato com as filhas das índias e das
negras, as mestiças, que, não podendo
satisfazer-se com a religião dos índios e
dos negros, aceitavam e gostavam das
novenas, das ladainhas, das missas, das
procissões, assim surgindo esse
catolicismo santeiro e festeiro.
No contexto mundial Portugal entrava
na disputa pelos novos mundos,
estimulado pelas forças transformadoras
da revolução mercantil. Diz Darcy:
“Esse complexo do poderio português
vinha sendo ativado, nas últimas décadas,
pelas energias transformadoras da
revolução mercantil, fundada
especialmente na nova tecnologia,
concentrada na nau oceânica, com suas
novas velas de mar alto, seu leme fixo, sua
bússola, seu astrolábio e, sobretudo, seu
conjunto de canhões de guerra (...) Era a
humanidade mesma que entrava noutra
instância de sua existência, na qual se
extinguiriam milhares de povos, com suas
línguas e culturas próprias e singulares,
para dar nascimento às macro etnias
maiores e mais abrangentes que jamais se
viu. (1996, p.38)”.
Era a superação do Estado feudal, o
processo civilizatório no seu momento
mercantil. Além de protagonizarem o
inferno da expansão territorial político-
econômico, se intitularam propagadores
da unidade dos homens numa só
cristandade. De acordo com Darcy:
“Eles se davam ao luxo de propor-se
motivações mais nobres que as
mercantis, definindo-se como os
expansores da cristandade católica sobre
os povos existentes e por existir no além-
mar. Pretendiam refazer o orbe em
missão salvadora, cumprindo a tarefa
suprema do homem branco, para isso
destinado por Deus: juntar todos os
homens numa só cristandade,
lamentavelmente dividida em duas caras,
a católica e a protestante”. (1996, p.39)
Para o índio que passava a conviver
com aquela situação nova não foi nada
simples compreender o que representava
aqueles acontecimentos novos. O fato é
que desta colisão de culturas, surgiram
concepções que os índios estarrecidos
por certo tempo sustentaram, como a de
que os recém-chegados europeus eram
deuses. Não demorou muito para se
decepcionarem. Os indígenas
perceberam que os recém-chegados do
mar não passavam de enganadores,
mentirosos e principalmente
exploradores, lhes traziam pequenos
utensílios e em troca lhes tiravam a
alegria de viver, lhes entupiam de
doenças que os dizimava aos milhares.
Darcy Ribeiro assinala as duas visões
de mundo que se chocavam. Para os
conquistadores essa nova terra era um
espaço de exploração em ouro e glórias,
na visão dos índios, "o mundo era um luxo
de se viver, tão rico de aves, de peixes, de
raízes, de frutas, de flores, de sementes,
que podiam dar as alegrias de caçar, de
pescar, de plantar e colher a quanta gente
aqui viesse ter". (1996, pp. 44-45)
Enquanto os brancos não mediam
esforços para alcançar as riquezas que
lhes interessavam, os índios acreditavam
que a vida era dádiva de deuses bons. Na
perspectiva de Darcy Ribeiro os brancos
para os índios, eram aflitos, aborrecidos
e/ou angustiados demais. Para os
brancos, a vida era uma sofrida obrigação,
e todos estavam condenados ao trabalho
e subordinados ao lucro, enquanto que,
para os índios, "a vida era uma tranquila
função de existência, num mundo

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