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Aula 01 - Tema e Tese
Aula 01 - Tema e Tese
tese
Redação
Fuvest 2021
Sumário
Apresentação .................................................................................................................. 3
1. A função do Tema na Organização do Texto................................................................. 3
1.1 Apreensão do Tema................................................................................................................... 6
1.2 Texto e Contexto........................................................................................................................ 9
1.3 Seu texto no Mundo dos Discursos ......................................................................................... 10
1.3.1. Exercícios: diálogo entre discursos ...................................................................................... 14
1.4 Recorte .................................................................................................................................... 17
1.4.1. Exercícios: Recorte do Tema ................................................................................................ 21
2. Subentendidos na Fuvest ........................................................................................... 30
3.Temas FUVEST ............................................................................................................ 33
4.Fuga do Tema ............................................................................................................. 38
5.Tema e Dissertação ..................................................................................................... 39
5.1 Dissertação Expositiva versus Dissertação Opinativa ............................................................. 41
5.1.2. Exercício: texto expositivo e texto opinativo ....................................................................... 42
6.Ponto de Vista e Tese.................................................................................................. 48
7. A Estrutura da Tese .................................................................................................... 52
8. Organização ............................................................................................................... 54
9. Proposta de Redação ................................................................................................. 55
9.1. Possibilidades de Encaminhamento das Propostas .............................................................. 60
10. Considerações Finais ................................................................................................ 66
Apresentação
Querido aluno,
Saudações. Agora que você já decidiu trilhar esse caminho com o Estratégia, tornando-se
um vestibulando corujinha, mãos à obra. Não que você já não tenha começado a escrever na aula
anterior e que ela não tenha sido produtiva, mas era uma aula de conceitos básicos. Neste e nos
próximos dois livros digitais, vamos discutir o primeiro critério de correção da FUVEST:
Incialmente, consideraremos o “tema”. Ele merece toda sua atenção. Costumo dizer que
metade da sua nota vem desse cuidado. Como já disse na aula anterior, a prova de Redação da
FUVEST tem duas características complicadas de se atender. Muitas vezes, o tema é amplo, mas,
ao mesmo tempo, a Banca exige um recorte um tanto quanto preciso.
Esse pdf é sobre o tema, gênero argumentativo, tese e sobre...
– Sem dúvida. Mas é tolice querer uma pessoa ter opinião sobre assunto que desconhece. (...) Que
diabo! Eu nunca andei discutindo gramática. Mas as coisas da minha fazenda julgo que devo saber.
E era bom que não me viessem dar lições. Vocês me fazem perder a paciência."
Comentário: Essa primeira proposta de redação da FUVEST não tinha o formato que foi adquirindo
conforme os anos. Ela é curta, praticamente não possui texto de apoio e a proposta é explícita. Do
ponto de vista do exercício da escrita, ela é sensacional, pois lida com o próprio conceito do que é
fazer uma dissertação. Afinal, a alma desse gênero é justamente a defesa de um posicionamento.
Observe que a Banca escolheu um diálogo no qual alguém afirmava a tolice de se ter opinião sobre
tudo. A seguir, a instrução deixava claro que você deveria concordar ou discordar da afirmação.
Veja, concordando ou discordando, você manifestaria uma opinião e deveria argumentar a favor
do seu ponto de vista. Ou seja, o simples fato de negar algum assunto que está sendo discutido, ou
até mesmo a indiferença sobre tal assunto - se tiver que ser sustentada-, irão redundar na produção
de um texto dissertativo.
Encaminhamentos possíveis: Essa proposta engana. À primeira vista, é simples demais. Pois é... o
que é muito simples em Redação acaba se tornando complicado. Como torná-lo interessante para
leitor? As teses possíveis parecem ser apenas duas:
1
Penteado, J.R. Whitaker. A Técnica da Comunicação Humana. São Paulo: Livraria Pioneira
Editora, 8ª edição, 1982
Tais teses parecem óbvias demais. A argumentação do senso comum seguiria o modelo da
exemplificação repetitiva que beira o pueril. Para ir mais longe, você deveria se perguntar o que é
opinião e qual o processo que nos leva a ter um juízo.
A opinião é inerente ao ser humano, pois ela reflete a forma do próprio pensar, essa é uma coisa
que você não pode parar de fazer. O processo do pensamento inclui perceber, discriminar e avaliar
o que ocorre ao nosso redor a partir dos critérios de utilidade, prazer, ameaça etc. Não há como
ficar indiferente a qualquer fenômeno do qual você tome contato. No mínimo, sua opinião seria
“isso não é importante para mim”, mas mesmo essa ideia já seria uma opinião.
Sendo assim, não se pode falar em “tolice” de ter uma opinião, mas pode-se falar em tolice em
manifestar uma opinião. Quem expressa publicamente um ponto de vista sabe que terá que
sustentá-lo e, portanto, deve manifestar conhecimento sobre o assunto. Caso contrário, poderá
ser visto como uma pessoa estúpida.
Além disso, as pessoas que acreditam estar certas, muitas vezes, transformam suas hipóteses em
verdades dogmáticas (absolutas que dispensam provas).
Opinião todos têm, mas devem manifestar apenas quando possuem conhecimento e
argumentos para sustentá-la.
É tolice ter opiniões dogmáticas sobre as coisas, pois equivaleria dizer que temos
conhecimento absoluto sobre o tema, o que é improvável.
Embora não devamos manifestar as nossas opiniões publicamente a não ser quando
temos certeza, é importante que criemos o hábito de refletir sobre a realidade e de ter
um posicionamento sobre ela.
O homem se apaixona muitas vezes durante a vida. Numa época, como a nossa, em
que a expectativa média do brasileiro é viver 70 anos, isso é significativo.
Qual será o tema do texto? Observe que, no primeiro período, o autor parece se referir à
paixão. O leitor, portanto, espera que o texto tematize o amor. A introdução de outro tema, o da
“expectativa de vida média” do brasileiro, altera a ideia inicial. Qual será o desenvolvimento? Há
várias possiblidades:
1
Amor Expectativa de Separação
vida
Expectativa de Necessidade de
2 Amor
vida se manter fiel
3 Expectativa de Mundo
Amor
vida moderno
No primeiro exemplo, a ênfase deve recair sobre o tema da separação. O texto deve se
articular para que esse tema organize as outras informações. Uma tese como “a maior expectativa
de vida torna a separação mais comum” sintetizaria a intenção de dar relevo a esse tema.
No segundo, a questão agora é organizar as mesmas ideias em torno de um outro núcleo,
o do sentimento amoroso. Uma tese mais adequada seria: manter o sentimento amoroso no
mundo moderno é um grande desafio, pois cabe aos amantes manter a reciprocidade de
sentimentos mesmo em virtude do aumento da expectativa de vida dos casais.
No terceiro, o tema passa a ser o aumento da expectativa de vida e suas consequências. A
tese deve ser outra. No mundo moderno, o aumento de expectativa de vida modifica as formas de
relacionamento, entre elas, pode-se destacar o amor.
Observe que, nos três esquemas, há três núcleos temáticos. Para se definir o principal, será
preciso perceber o desenvolvimento do texto e qual o sentido que será dado pela próxima ideia.
Exemplificando, observe o que aconteceria se a segunda frase fosse outra:
O homem se apaixona muitas vezes durante a vida. As paixões são muitas e das
mais variadas, vão além da relação homem-mulher.
Agora o tema é outro. A paixão que será discutida não é a paixão amorosa, mas o
entusiasmo pela vida.
Isso significa que um texto é um emaranhado de temas. Se eles forem bem organizados,
haverá um percurso coerente que indicará um dos temas como preponderante e organizador dos
outros. O exercício do Vestibulando é perceber esse encadeamento e depreender a unidade na
diversidade de assuntos.
Aproveite para testar sua capacidade de captar o tema central. Tomei como caráter
ilustrativo esta questão de interpretação de 2007. Observe como vários temas são discutidos no
texto de apoio, mas submetidos ao tema central.
Q.ETE/2007
Adestram-se animais, cultivam-se plantas e educam-se os seres humanos... Poderíamos
dizer que o cultivo, o adestramento, a educação passam pela vida. Na história da experiência de
viver que caracteriza a experiência de outros animais, das árvores e da experiência humana, nós,
homens e mulheres, fomos os únicos capazes de inventar a existência.
A invenção da existência deu-nos a possibilidade de estarmos não apenas no mundo, mas
com o mundo. Eu posso mudar o mundo e é fazendo isso que eu me refaço. É mudando o mundo
que eu me transformo também. Homens e mulheres inventam a história que eles e elas criam e
fazem. Nós temos de colocar a existência decentemente frente à vida, de tal maneira que a
existência não mate a vida e que a vida não pretenda acabar com a existência, para se defender
dos riscos que a existência lhe impõe. Isso, para mim, faz parte dessa briga pelo verde. Lutar pelo
verde, tendo certeza de que sem o homem e a mulher, o verde não tem cor.
(Adaptado de:
<http://www.semasa.sp.gov.br/admin/biblioteca/docs/pdf/LIVRO_GEST_ED_AMB_V1.pdf>
acessado em: fev. 2007.)
No texto, o autor explicita seu ponto de vista sobre alguns aspectos da evolução da vida no
planeta. Com base nas ideias desse autor, pode-se afirmar que
a) a preservação do planeta dependerá do adestramento dos seres humanos.
b) o equilíbrio entre o homem e a natureza será destruído pela "revolução verde".
c) a vida do planeta dependerá da forma como o homem construir sua existência.
d) a invenção da existência provocará grandes catástrofes naturais no planeta.
e) os seres humanos viverão com base nas experiências de outros animais e vegetais.
Comentário: Esse fragmento é muito interessante. Observe que o texto começa a discutir
educação, mas, ao final do primeiro parágrafo, o autor chega a outro tema: inventar a existência.
No parágrafo seguinte, ele acrescenta outras ideias: inventamo-nos juntos com os outros; há
primazia da existência em relação à vida; precisamos defender a questão ambiental. Qual desses
fragmentos temáticos configura-se como o principal? Aquele que se repete.
(disponível em https://www.propagandashistoricas.com.br/2014/04/yamaha-rd-50-primeira-moto-
brasileira.html, consultado em 12.03.2019)
Aparentemente, essa propaganda parece bastante simples. Mas algumas palavras utilizadas
no corpo do texto têm sentidos mais profundos quando se observa a época em que foi feita. O
cartaz é de 1975, dois anos após a crise do petróleo.
Os países exportadores aumentaram o preço do combustível comprometendo o “milagre
brasileiro” – termo que se refere ao período de 1969 a 1973, no qual o Brasil cresceu em média
10% ao ano. Após a crise, a inflação acelerou, houve arrocho salarial e o ufanismo brasileiro ficou
comprometido. Nos anos precedentes, o governo militar promovera slogans como “Ninguém
segura esse país”. A impressão que se tinha era a de que, finalmente, o país faria parte do seleto
grupo de nações desenvolvidas.
A primeira frase “lançada a primeira moto brasileira” fazia referência ao fato de a empresa
nipônica ser a primeira a produzir uma moto em solo pátrio. Mas veja, seria mais exato dizer
“lançada a primeira moto fabricada no Brasil”. Ao fazer questão de utilizar o adjetivo “brasileira”,
a propaganda dialogava com o ufanismo ferido dos brasileiros.
Então, vou ter que conhecer um pouco da cultura no momento da produção do texto?
Perfeito.
A apreensão da proposta de redação exige conhecimento cultural do presente e dos
discursos em circulação sobre o tema.
REDAÇÃO
Para atender à proposta, seu texto deverá apresentar
- ponto de vista bem definido;
- argumentos que sustentem seu ponto de vista.
Sua redação será anulada se você
- reproduzir a coletânea;
- fugir ao recorte temático;
- não escrever uma dissertação-argumentativa;
- apresentar letra ilegível, impropérios, desenhos ou qualquer forma de identificação no texto.
TEXTO 1
TEXTO 2
A USP é uma das dez universidades mundiais escolhidas para fazer parte do movimento solidário
ElesPorElas (HeForShe), da ONU Mulheres – instituição criada pelas Nações Unidas para o
desenvolvimento de projetos na área de igualdade de gêneros e empoderamento feminino. O
projeto faz parte do programa Impacto 10x10x10, lançado no Fórum Econômico Mundial, em
Davos, em janeiro de 2015, reunindo líderes mundiais, dos setores público e privado e da academia.
Os critérios de seleção das universidades são baseados em sua reputação ética, excelência no
serviço público, relevância e alcance global e a boa vontade em usar sua influência para comandar
e inspirar mudanças no ensino superior – além da USP, participam Georgetown University,
University of Hong Kong, University of Leicester, Nagoya University, Oxford University, Sciences Po,
Stony Brook University (The State University of New York), University of Waterloo e University of
the Witwatersrand.
A parceria com a USP, a única universidade latino-americana, surgiu em junho do ano passado,
gerando a criação do Programa USP Mulheres, que agora conta com um escritório dentro do
campus da Cidade Universitária, em São Paulo. Segundo Eva Blay, em artigo publicado no Jornal da
USP, o Escritório USP Mulher, vai se esforçar para implantar programas que balizem valores
Aula 01 — Tema e tese 12
www.estrategiavestibulares.com.br
Professor Fernando Andrade
Aula 01: Fuvest 2021
TEXTO 3
é a história da família, da criança, e está diretamente ligada à história dos homens e das relações
de poder estabelecidas ao longo dos tempos.
Não podemos negar os avanços. Somos cidadãs no sentido pleno da palavra, pelo menos na teoria.
Na prática, ainda enfrentamos jornada dupla de trabalho, discriminação e violência. Somos
preteridas na política geral e de classe, embora constituindo a maioria do eleitorado. Somos menos
remuneradas, apesar de sermos mais escolarizadas. Somos preteridas nos esportes, mesmo sendo
maioria nas participações esportivas internacionais. Embora ainda estejamos num mundo
masculinizado, podemos e queremos “ser mulher”, não melhores do que ninguém, mas
simplesmente mulher. Para isso, precisamos de uma discussão honesta sobre as barreiras reais e
falhas que ainda existem no sistema, apesar das oportunidades que herdamos.
[(MARINELA, Fernanda. 1 A evolução dos direitos das mulheres. Disponível em:
www.estadodedireito.com.br. 48ª ed. Acesso em: 19/07/2016)].
Da leitura dos textos motivadores e de seu conhecimento sobre o assunto, escreva em norma
padrão da língua portuguesa, um texto dissertativo-argumentativo contendo entre 20 e 25 linhas,
com seu ponto de vista sobre a seguinte questão:
Igualdade de gênero: empoderamento social e econômico da trajetória feminina.
Essa proposta oferece um recorte de fragmentos que expressam uma opinião favorável ao
“empoderamento feminino”. Observe que os textos escolhidos dialogam em alguma medida com
discursos contrários que também circulam na sociedade. Muitas vezes, a opinião oposta está
implícita, não é nomeada. Vamos tentar resgatar esses discursos contrários. Faça os exercícios
abaixo.
Q.1 Observe o cartaz do texto 1. Uma peça publicitária que visava a incentivar as mulheres a se
engajarem no trabalho antes considerado masculino, dada a falta de mão de obra devido
o envolvimento da uma boa parte dos homens na Segunda Guerra Mundial. Faça um
comentário em que você destaque o discurso machista com o qual o cartaz dialoga.
anúncio tenta abarcar os dois discursos. A personagem feminina usa um lenço que a associa
ao espaço do lar, mas veste um macacão e flexiona o braço exibindo a musculatura. Essas
imagens reforçam a frase de que mulher também pode fazer aquilo que até pouco tempo
atrás era considerado “trabalho de homem”.
Agora que você já entendeu como um tema deve ser apreendido – pelas relações com a
história e pelo diálogo com outros textos -, proponho que você faça um tipo de comentário similar
ao exemplificado acima para os outros textos da coletânea. Lembre-se de que essa atividade vai
prepará-lo para dar respostas dissertativas na segunda fase e vai ajudá-lo no desenvolvimento de
argumentação.
O exercício é muito parecido como que você fez na aula passada, com a única diferença de
que agora você deve incluir no seu comentário a explicitação do discurso com o qual o texto
dialoga.
Q.3 Considere o texto que se segue ao cartão USPMulheres. Reflita sobre o papel social da
universidade, sobre os discursos que circulam campus (por exemplo, o discurso jurídico) e
compare-os aos discursos antifeministas. A partir disso, comente a escolha da USP para
fazer parte do movimento solidário ElesPorElas (HeForShe), da ONU Mulheres. .
Q.4 O último texto traz um histórico das conquistas femininas. Observe que cada feito dialoga
com um discurso contrário. Escolha um ou dois episódios dessa história e o(s) comente,
destacando o diálogo entre conquista e discursos.
Questão Considere o texto que se segue ao cartão USPMulheres. Reflita sobre o papel social
03 da universidade, os discursos que circulam campus (por exemplo, o discurso jurídico)
e compare-os aos discursos antifeministas. A partir disso, comente a escolha da USP
para fazer parte do movimento solidário ElesPorElas (HeForShe), da ONU Mulheres.
.
Depois de resumir o assunto, você pode ampliar um dos motivos apontados pelo
texto para a escolha da USP pela ONU Mulheres. O texto afirma que são escolhidas
as instituições que têm “reputação ética, excelência no serviço público, relevância e
alcance global e a boa vontade em usar sua influência para comandar e inspirar
mudanças no ensino superior”. Essa última característica tem potencial para ser
desenvolvida. Na USP, várias mulheres, por serem professoras da instituição,
ocupam também lugar de destaque na sociedade, sendo importantes divulgadoras
dos ideais de igualdade de gênero. Além disso, a liberdade acadêmica garante
produção de conhecimento e de pesquisa que promove o feminismo e isso
realmente tem acontecido.
Outro fator se relaciona ao papel do conhecimento superior na vida da mulher. A
graduação proporciona, ao indivíduo, reconhecimento social e autonomia, traços
importantes para formação de mulheres que lutarão pelos direitos do grupo. Há
várias outras possibilidades. É importante contrapor esse ímpeto universitário ao
ponto de vista tradicionalista. Por exemplo, o reconhecimento social da aluna
universitária certamente é uma contraprova ao discurso, segundo o qual, a
capacidade intelectual da mulher é inferior à do homem.
Questão. O último texto traz um histórico das conquistas femininas. Observe que cada feito
04 dialoga com um discurso contrário. Escolha um ou dois episódios dessa história e o(s)
comente, destacando o diálogo entre conquista e discursos.
SE LIGA!!!
Quando for possível e conveniente, no seu argumento, cite os discursos contra os quais
você se posiciona, explique-os, relativize-os e depois contra-argumente. Por exemplo, ao
dissertar sobre a questão feminina é sempre interessante começar pelo senso comum e
depois se posicionar de forma contrária. Segue um exemplo de começo de argumentação:
“No passado, dizia-se abertamente que o lugar da mulher era na cozinha. A expressão do
senso comum referia-se a uma divisão básica do trabalho familiar: o homem era o provedor
e a mulher cuidava do lar. Contudo, tal ditado associava-se a um evidente desprezo pelo
trabalho feminino. Ora, isso signicava um diminuição da capacidade feminina, o que não
condiz com a realidade...”
*Se você quiser argumentar contra algum elemento do discurso feminista,faça o contrário.
Comece pela opinião contra a qual você investirá a qual você investirá e depois contra-argumente.
1.4 Recorte
Qual é a diferença entre as propostas de redação da FUVEST e as de outros vestibulares?
Qualquer candidato corujinha diria que os temas do cobiçado vestibular são mais abstratos,
filosóficos, muito mais complexos. É verdade que eles têm um viés filosófico ou sociológico
inegável, algo que se percebe, inclusive, pelas citações nas coletâneas. A FUVEST já citou vários
filósofos e sociólogos.
Contudo, eu diria que a Banca, com algumas exceções, privilegia temas amplos que
permitem abordagens múltiplas. Você não verá um tema como: “a pena de morte deve ou não ser
aprovada”? Se a FUVEST quiser que você trate desse assunto, ela vai dar um tom acima, mais
abrangente, algo que lhe permita abordar esse tópico como subtema. Será algo como “o conceito
de justiça no contexto da violência endêmica.” Bonito, né? Bonito e indefinido. Você, corujinha
atenta, já começa a suar frio diante de um tema que é tudo. Você não sabe nem por onde começar.
Aqui entra um outro componente importante no seu processo de interpretação da
proposta: o recorte temático que deve aparecer no jogo entre tema e textos da coletânea. A Banca,
portanto, amplia o tema e, ao mesmo tempo, oferece elementos de recorte do assunto que devem
ser observados.
Consideremos a prova da FUVEST de 2008. A Banca, depois de elencar três pequenos textos
e uma imagem, solicitava que o aluno produzisse uma dissertação em prosa, sem deixar explícito
o tema. Apesar disso, era fácil perceber o assunto que deveria nortear a produção do texto. O
primeiro texto falava em “Vigilância Epistêmica”.
Nesse momento, você poderia se perder na interpretação. A definição dada era a seguinte:
“Vigilância epistêmica* é a preocupação que todos nós deveríamos ter com relação a tudo o que
lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos enganados, para não
acreditarmos em tudo o que é escrito e dito por aí. É preciso vigiar o futuro para sabermos separar
o joio do trigo”. Vamos supor que você desenvolvesse uma tese condenando a fofoca no mundo
moderno. Bom, isso tem a ver com vigilância epistêmica, mas a partir dos outros textos, ficava claro
que você deveria discutir esse tema a partir do recorte da era digital.
Mas o quê exatamente sobre o mundo digital? A exploração da pornografia? A invasão de
privacidade? As fake News? O linchamento virtual?
Pois é, somente a coletânea poderia dar a você a dimensão do tema que você deveria
desenvolver. Tente perceber o recorte.
Vigilância epistêmica* é a preocupação que todos nós deveríamos ter com relação a tudo o que
lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos enganados, para não
acreditarmos em tudo o que é escrito e dito por aí. É preciso vigiar o futuro para sabermos separar
o joio do trigo**.
Hoje boa parte dos sites de busca indexam tudo o que encontram pela frente à internet, mesmo
que se trate de uma grande bobagem ou de evidente inverdade. Qualquer opinião emitida, vista
como um direito de todos, é divulgada aos quatro cantos do mundo. De fato, alguns desses sites
de busca deveriam colocar, nos primeiros lugares, páginas de renomadas Universidades,
preocupadas com a verdade.
Todos precisamos estar muito atentos a dois aspectos com relação a tudo o que ouvimos e lemos:
- se quem nos fala ou escreve conhece a fundo o assunto, se é um especialista comprovado, se
sabe do que está falando;
- se quem nos fala ou escreve, na verdade, é um idiota que ouviu falar algo e simplesmente repassa,
aos outros, o que leu e ouviu, sem acrescentar absolutamente nada de útil.
Aumentar nossa vigilância e preocupação com a verdade é necessidade cada vez mais premente
num tempo que todos os gurus chamam de Era da Informação.
Discordo, profundamente, desses gurus. Estamos, na realidade, na Era da Desinformação, de tanto
lixo e ruído sem significado que, na maior parte das vezes, nos são transmitidos, todos os dias,
eletronicamente, sem que exista o menor cuidado com a precisão e seriedade do que se emite, por
parte das fontes que colocam matérias na rede. É mais uma consequência dessa ideia que a maioria
das pessoas tem sobre a liberdade de expressar o que bem quiser, de expressar qualquer opinião
que seja, como se opiniões não precisassem se basear no rigor científico, antes de serem emitidas.
* Vigilância epistêmica = capacidade de ficar atento e perceber se uma afirmação tem ou não valor
científico.
** Separar o joio do trigo = no contexto, capacidade de diferenciar observações equivocadas,
mentiras mesmo, de outras afirmações que contêm verdades.
O acesso à Informação (em sua maioria, eletrônica) se tornou o direito humano mais zelosamente
defendido. E aquilo sobre o que a informação mais informa é a fluidez do mundo habitado e a
flexibilidade dos habitantes. O noticiário - essa parte da informação eletrônica que tem maior
chance de ser confundida com a verdadeira representação do mundo lá fora é dos mais perecíveis
bens da eletrônica. Mas a perecibilidade dos noticiários, como informação sobre o mundo real, é
em si mesma uma importante informação: a transmissão das notícias é a celebração constante e
diariamente repetida da enorme velocidade da mudança, do acelerado envelhecimento e da
perpetuidade dos novos começos.
Instrução: Os textos apresentados trazem reflexões e notícias sobre o mundo digital. Com base
nesses textos e em outras informações e ideias que julgar pertinentes, redija uma DISSERTAÇÃO
EM PROSA, argumentando de modo claro e coerente.
No primeiro texto, o autor já define melhor seu tema. Haveria urgência em se manter
vigilante em relação ao conhecimento, pois viveríamos na era da Desinformação ligada à “rede”,
ou seja, à internet. O autor do texto percebe, na disseminação de opiniões sem qualquer
embasamento, uma ameaça social.
Para que você tenha certeza de que o tema tem a ver com a com a internet, a foto e o texto
seguinte informam que “tesouros” históricos como fotos estão disponíveis na rede para quem
quiser consultá-los. Deveria ficar claro para o intérprete do tema que, potencialmente, a rede é
uma fonte quase inesgotável de informações valiosas.
A seguir, observava-se o texto de Zigmunt Bauman 2. Em resumo, o sociólogo destacava a
tendência da sociedade contemporânea de lidar com a informação de uma maneira diferente de
como faziam nossos ancestrais. Se no passado as pessoas buscavam se informar para compreender
melhor o mundo, no mundo atual, o que importa é o fluxo de informação, o fluxo em si. Estar
antenado com a última notícia, não importa se verdadeira ou falsa, porque, rapidamente, ela se
tornará ultrapassada.
Pegou qual é o recorte? Discutir a necessidade da vigilância epistêmica no mundo da era
cibernética da informação, considerando causas para o fenômeno.
2Um dos mais importantes sociólogos do século XX. Polonês, nasceu em 1925 e morreu em 2017. Fez uma
análise das relações sociais fluídas que marcam as sociedades a partir da segunda metade do século XX e
estudou o impacto desse fenômeno nas formas de viver.
Suponha uma proposta que tenha o seguinte comando: Com base nas ideias e sugestões
presentes na imagem e nos textos aqui reunidos, redija uma dissertação argumentativa, em prosa,
sobre o seguinte tema: O significado do processo educacional no mundo contemporâneo.
A educação, de forma geral, define-se pela necessidade de transmitir os padrões culturais para a nova geração. No
mundo contemporâneo, esse processo se tornou mais complexo, pois deve incluir o conhecimento tecno-científico.
Contudo, ele não é neutro. É interessante como Pink Floyd representa o sistema educacional. O clip da música “The
Wall” mostrava cenas de jovens sendo adestrados para se comportarem de modo massificado. Em que se pesem as
liberdades conquistadas no sistema educacional desde aquela época, a finalidade do sistema como um todo ainda
mantém um viés de domesticação do jovem .
Comentário: Observe que comecei pelo tema, o processo educacional, ao qual me refiro
nas duas primeiras linhas. Depois disso, apontei aquilo que se poderia inferir das intenções
do grupo de Rock (adestramento juvenil), aplicando essa ideia às circunstâncias
contemporâneas.
O tema explícito associado à foto e à informação sobre ela deveria levá-lo ao seguinte
recorte: a crítica ao sistema educacional do Pink Floyd procede? É exagerada? No meu
comentário, concordei com o grupo musical.
Faça o mesmo. Nos próximos exercícios, você encontrará o tema amplo da Educação e um
texto que oferece um recorte. Leia o texto de recorte do tema e faça um comentário juntando
tema e recorte.
Q.2 O poema abaixo de Bertold Brecht expressa a concepção do poeta sobre educação. A partir
da poesia, faça um comentário em que seja observável o recorte do tema segundo esse
outro viés.
ELOGIO DO APRENDIZADO
(...)
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.
(BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956; seleção e tradução: Paulo César de Souza. São Paulo:
Editora 34, 2012. p. 114.)3
Q.3 A reportagem abaixo, publicada no Estadão, apresenta um ponto de vista econômico sobre
o tema. A partir do texto, faça um comentário levando em consideração tal recorte.
Conexão entre educação e desenvolvimento
3
Bertold Brecht foi poeta e dramaturgo alemão, nasceu em 1898 e morreu em 1856. Em 1920, adere ao
marxismo e torna-se crítico do sistema capitalista. Seus experimentos teatrais revelam sua opção ideológica.
Vale-se da ideia de práxis (fazer um teatro que deve interferir na vida) e da tentativa de provocar o
estranhamento.
(disponível em https://www.estadao.com.br/noticias/geral,conexao-entre-educacao-e-
desenvolvimento,1688387,consultado em 15.03.2018)
2019 – Suzano. (São Paulo) – Dois jovens encapuzados atiraram em alunos da escola
fazendo 8 vítimas fatais.
2017 – Goiânia (Goiás) – Um adolescente de 14 anos matou dois colegas e feriu outros
4.
2011 – São Caetano do Sul (São Paulo) – Um aluno de 10 anos de idade atirou na
professora.
2011 – Realengo (Rio de Janeiro) – Um homem de 23 anos invadiu uma escola e matou
12 adolescentes.
Fonte: https://www.folhape.com.br/noticias/noticias/sao-
paulo/2019/03/13/NWS,98707,70,632,NOTICIAS,2190-RELEMBRE-OUTROS-CASOS-
ATIRADORES-ESCOLAS-BRASIL.aspx
Q.
5
ELOGIO DO APRENDIZADO
(...)
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.
(BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1956; seleção e tradução: Paulo César de Souza. São
Paulo: Editora 34, 2012. p. 114.)
Comentário: Você poderia começar o texto contextualizando a polêmica para seu
leitor. Deve ficar claro que sua reflexão tenta responder à seguinte pergunta: a
educação é realmente capaz de fazer com que o indivíduo saia da alienação? Se você
optar por citar o poema de Brecht, interprete-o para seu leitor. A partir daí, bastaria
mencionar os núcleos de ideias que poderiam dar sustentação ao seu ponto de vista.
Não perca de vista que sua resposta não se refere a casos particulares, mas “ao
processo educacional no mundo contemporâneo”.
https://www.estadao.com.br/noticias/geral,conexao-entre-educacao-e-
desenvolvimento,1688387
Comentário: Neste comentário, a contextualização pode ser muito breve. No
primeiro período você já pode se posicionar e, ao fazer isso, você apresentará o
recorte e, ao mesmo tempo, a tese. Veja que há algumas possibilidades de
posicionamento:
✓ A educação é importante para o desenvolvimento de um país.
✓ A ideia da educação como mola do desenvolvimento é um mito que não se
sustenta, embora sem ela a situação econômica piore.
✓ A educação é um dos componentes de desenvolvimento, mas não é o
principal.
são os valores que realmente estão sendo transmitidos no processo? Que tipo de
violência está implícito na educação formal hoje em dia?
2011 – São Caetano do Sul (São Paulo) – Uma aluno de 10 anos de idade atirou
na professora.
Fonte: https://www.folhape.com.br/noticias/noticias/sao-
paulo/2019/03/13/NWS,98707,70,632,NOTICIAS,2190-RELEMBRE-OUTROS-
CASOS-ATIRADORES-ESCOLAS-BRASIL.aspx
Veja, dei respostas rápidas e esquemáticas. Não é preciso responder a todas, tanto
que não respondi a uma delas. Tendo algumas ideias, é possível compor o texto,
desenvolvendo melhor os esboços.
Q.5
Freud4 e Educação
O pai da Psicanálise não falou muito sobre educação formal (escolar, institucional). Contudo, o
alemão desenvolveu um argumento interessante para pensar a importância social da educação e
o seu caráter violento.
Em Mal estar na civilização, Freud apresenta uma tese simples, mas bastante esclarecedora: o
processo civilizatório exige a contenção dos desejos e vontades, ou seja, o indivíduo bem educado
vive em constante mal-estar, pois não pode dar vazão aos seus desejos.
Na sociedade moderna de massas, a observância às milhares de regras presentes no nosso
cotidiano (por exemplo, atravessar a rua somente quando o sinal estiver verde) torna-se
fundamental. Ora, o indivíduo deve ser introduzido nesse mundo complexo e extremamente hostil.
A educação, portanto, leva o indivíduo a apreender as regras, interiorizá-las e automátizá-las –
regras que não são agradáveis ao indivíduo. Esse processo em si é violento.
2. Subentendidos na Fuvest
O que são subentendidos? Quais os subentendidos fundamentais na redação/FUVEST ?
Segundo Platão & Fiorin, subentendidos textuais “são insinuações, não marcadas
linguisticamente, contidas numa frase ou num conjunto de frases.”5 Há vários níveis de
subentendidos em uma ação comunicativa. O que nos interessa nesta seção é o direcionamento
mais amplo que anima a FUVEST.
Observe a imagem abaixo, parte de uma proposta de redação de Vestibular.
Percebe-se de imediato que a mensagem literal não traduz a intenção do emissor. Dizemos
para alguém sorrir ao tirar uma foto ou ao ser filmado, pois queremos a melhor imagem da pessoa,
afinal, gostamos dela. Não é esse o caso. Educadamente, o emissor da mensagem quer ameaçar o
destinatário: “lembre-se de que se você estiver fazendo algo errado, você será filmado e sofrerá as
4
Sigmund Schlomo Freud nasceu em 1856 (Alemanha) e morreu em 1939 (Inglaterra). Formou-se
em Medicina e, aos poucos, vai se interessando por Psiquiatria. Percebe a fragilidade de tal “ciência”
que não consegue explicar satisfatoriamente os comportamentos humanos a partir de causas físicas.
Propõe, então, a “Teoria da alma”. De acordo com Freud, grande parte dos processos psíquicos da mente
humana estão em estado de inconsciência, e são condicionados pelas relações familiares. Esses processos nada
físicos produzem sintomas corporais.
5
Fiorin, José L. & Savioli, Francisco P. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: editora Ática.
1996. P.310.
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penalidades cabíveis”. A ameaça não está linguisticamente registrada no cartaz, pelo contrário, o
comunicado é extremamente cortês.
Contudo, há outros subentendidos que só poderiam ser discutidos a partir de um certo
direcionamento da Banca. Então vamos à coletânea dessa proposta.
Proposta de Redação
Texto I
As imagens são confidenciais e protegidas nos termos da lei. Na porta de um shopping center.
Texto II
É obrigatória a identificação.
(Placa industrializada, colocada em portarias de prédios residenciais, repartições públicas etc.)
Texto III
O homem está, cada vez mais, e mais rápido também, pondo a técnica a seu serviço. Hoje,
principalmente nos centros urbanos, o que mais atormenta o cidadão é o perigo dos assaltos e da
violência com que são praticados. E estão cada vez mais sofisticados os sistemas de segurança, com
suas câmeras de filmagem, minúsculas às vezes, posicionadas em lugares bastante discretos. Há
aparelhos que são dotados de aprimorado zoom, o conjunto de lentes cujo alcance focal pode ser
ajustado até permitir ao operador a leitura do que está escrito num papel na mão de uma pessoa
a muitos metros de distância. Tudo para tornar nossa vida mais segura e feliz.
J. Freitas
Texto IV
Que saudades do tempo em que eu era livre!
reflexão filosófica, a vigilância fere o preceito de liberdade como valor absoluto e amplo que
determinou toda a cultura ocidental.
Aliás, não é à toa que escolhi essa proposta, pois ela toca nos pressupostos básicos da
FUVEST. Lembre-se destes três pilares da Banca
Liberalismo
Subentendidos do
Iluminismo Valores democráticos
Ceticismo
Liberalismo
Como o próprio nome já diz, Liberalismo é uma doutrina filosófica fundadora da sociedade
moderna, embasada em ideias de liberdade e igualdade. A igualdade liberal não é econômica, mas
jurídica social. Postula-se a universalidade dos direitos. Garantir isso na prática tem sido a grande
luta dos humanistas. Sendo assim, qualquer prática social que ameace os princípios liberais passa
a ser objeto de temas da Banca, por mais que tais práticas se justifiquem de forma utilitária.
A máxima do liberalismo foi expressa por Kant (e não é à toa que o texto fundador dele foi
tema da redação em 2017 na FUVEST). Para o alemão, o sujeito liberal é aquele que pensa por
conta própria e se comporta de forma autônoma, ou seja, ele age da melhor forma possível (porque
é racional), sem ser coagido por qualquer força exterior – Estado, religião, cultura de massa. O
indivíduo pode ser religioso, obedecer ao Estado ou gostar de novelas, mas age dessa forma tendo
consciência do que faz e sendo sujeito de sua escolha.
(A filmagem como vigilância é uma espécie de força exterior que coage o indivíduo, tirando-
lhe a possibilidade de escolha)
Valores democráticos
Ceticismo
3.Temas FUVEST
(Filosofia)
1991 Cesta Básica Questão social Sociologia
1992 Vestibular justo/injusto Questão social Sociologia
1993 Regras sociais Relação do indivíduo com a Ética
sociedade (Filosofia)
1994 Democratização dos meios Política Política/
de comunicação Sociologia
1995 Cultura de massa Relação do indivíduo com a Filosofia/
sociedade Sociologia
1996 Ciência e mito Representação do mundo Epistemologia
(Filosofia)
1997 Escrita (as dificuldades da Representação do mundo Epistemologia
escrita) (Filosofia)
1998 O inferno são os outros Relação do indivíduo com a Ética
sociedade (Filosofia)
1999 Julgamento da própria Identidade social Crítica brasileira
geração (Sociologia)
2000 Estrangeirismo na Língua Representação do mundo/ Crítica brasileira
Portuguesa Identidade social (Sociologia)
2001 Neonazismo Questão social Sociologia
2002 Julgamento da geração Identidade social Sociologia
passada
2003 Autoestima do brasileiro Identidade social Crítica brasileira
(Sociologia)
2004 Passado, presente, futuro Representação do mundo Epistemologia
(Filosofia)
2005 Controles sociais Política Sociologia/
Relação do indivíduo com a Filosofia
sociedade
2006 Trabalho Questão social Sociologia
2007 Amizade Relação do indivíduo com a Ética
sociedade (Filosofia)
Pois é, não tem como adivinhar qual será o tema. Em primeiro lugar, a FUVEST raras vezes
privilegia circunstâncias concretas ocorridas no ano em curso. Desde 1990, só seis propostas foram
inspiradas por fatos concretos: cesta básica (1991), projeto de lei do Aldo Rebelo (2000),
Neonazismo (2001), discurso de Taro Aso sobre idosos (2014) e limites para a arte (2108) e o papel
da arte (2020).
Podemos mapear os grandes núcleos temáticos e perceber os que mais caem na Fuvest.
Os interesses fundamentais do ser humano foram mapeados pelos filósofos antigos da
seguinte maneira:
Relações sociais;
Qual a melhor forma Como se define o
Como o poder
de se comportar? belo?
funciona?
Critério: bonito ou
Critério: bem ou mal Crítério: bem comum
feio
Esses temas devem ser cruzados com a percepção do indivíduo. Tomando o polo ético, do
“eu”, pode-se considerar 5 perspectivias.
Política;
Outros-outros Política
questão social
Questão social
Eu-eu
Subjetividade; Psicologia
identidade
Representação do *Epistemologia
Eu-conhecimento mundo Ciência
Eu-meio ambiente
Crítica
Brasileira
EIXOS TEMÁTICOS
7%
Questão social
30%
Representação
do mundo
30%
Ética (eu-
Política outros)
13% 20%
4.Fuga do Tema
Opa...agora vamos à seção que dá até arrepios: fuga total ou parcial do tema, um show de
horror, que você deve evitar a todo custo.
O primeiro caso ocorre por desatenção. Em 2017, logo depois da aplicação do Enem,
circulou, nas redes sociais, uma suposta mensagem de “whatsapp” de alguém que afirmava ter se
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enganado. Escrevera sobre cegos, quando o tema era sobre os “desafios para a formação
educacional de surdos no Brasil”. Claro que isso não vai acontecer com você, corujinha esperta que
está se preparando forte para o Vestibular.
O que pode ocorrer é a segunda situação. Em um dos vestibulares da UNICAMP, foi proposto
aos candidatos que falassem a respeito da escassez de água no planeta. Havia alguns textos de
apoio que deveriam servir como fonte para reflexão. Um deles expunha dados sobre o rio Tietê,
cuja água era potável até meados do século XX. Um dos candidatos fez uma dissertação em que
começava a falar da água, mas depois, evidentemente, empolgado com a argumentação sobre o
Tietê, desenvolveu a história do rio, discutindo sua importância para o estado de São Paulo. É lógico
que um rio é feito de água, mas as semelhanças temáticas entre um texto que fale sobre escassez
de água e um que fale sobre a história do Tietê param aí.
Mas pode acontecer o contrário.
Você pode ser obrigado a incluir um subtema e não fazê-lo, o que configura fuga parcial. Em
2015, a FUVEST propôs o seguinte tema: “camarotização e democracia”. Suponha alguém que
gostasse muito de sociologia e se empolgasse com o tópico da segregação, assunto muito discutido
na tradição do pensamento brasileiro. Suponha, ainda, que o candidato desenvolvesse muito bem
esse subtema, mas não mencionasse o impacto disso na democracia. Ele não iria tirar zero, mas
sua nota final seria abaixo do esperado. Então, cuidado!!!
FICA A DICA
Uma das maneiras de saber se você está fugindo do tema ou não é contar a ocorrência das
palavras-chave no texto. Se você deve dissertar sobre “vigilância” e “informação”, esses vocábulos
devem aparecer no mínimo umas quatro vezes num texto de 30 linhas. Falar sobre “informação”
sem usar a palavra “informação” não é tarefa humana ou é brincadeira de mímica. Claro que você
pode usar sinônimos como “conhecimento”, “dados”, “ideias”, mas observe que essas palavras
devem estar presentes quase em cada parágrafo.
Se você deve falar de “camarotização” e “democracia”, as duas palavras devem ter uma
ocorrência significativa no seu texto.
5.Tema e Dissertação
Nas seções anteriores, tratamos do tema de forma bastante exaustiva, pois ele é o ponto
de partida da produção de seu texto.
Agora com a bola em campo, vamos para o primeiro chute no jogo da dissertação. Você
deve exprimir uma...
OPINIÃO
Como assim? Sempre me disseram que,
no texto dissertativo, a gente não pode
expressar a opinião...
Preste atenção, corujinha, o texto
Fonte: Pixabay
dissertativo deve criar um efeito de
objetividade, mas ele sempre vai expressar
uma opinião pessoal.
Objetividade será explicada melhor no pdf sobre linguagem. Por ora, retenha que objetivo
é um texto sem marcas de pessoalidade ou marcas de emoção.
Considere as três formas linguísticas abaixo de expressão de ideias sobre um mesmo tema.
1 Deus que me livre, que não saio de casa depois das 23h nem que me paguem, já viu o
bairro em que moro?
No primeiro caso, a opinião e a subjetividade são bem marcadas, seja pelo uso da interjeição
“Deus me livre”, seja pelo uso da primeira pessoa em “eu não saio”, seja pelo recurso da pergunta
emotiva “já viu o bairro em que moro?”.
Nesse caso, a pessoa que expressa a opinião não tem necessidade de argumentar sobre seu
ponto de vista, pois ela fala de si mesma e está implícito que seu comportamento interessa apenas
a ela.
No segundo texto, o enunciador se vale de traços objetivos – uso da terceira pessoa,
generalização e enumeração de situações comuns. Mesmo assim, há uma opinião e ela fica clara
quando se observa a pergunta e a resposta enfática “Não, a insegurança é real. A partir daí, o
articulista deverá provar o que diz ou comentar a afirmação que fez.
No terceiro texto, também observamos traços objetivos, mas não localizamos com clareza
a opinião do autor. Na verdade, ele parece estar querendo simplesmente expor uma circunstância
não percebia pelo leitor. Mesmo assim, há uma opinião embutida. O enunciador relativiza a
sensação de insegurança diante das ruas, mostrando que, culturalmente, a rua sempre foi
percebida como um lugar perigoso.
O primeiro é subjetivo, emotivo; o segundo é dissertativo opinativo; e o terceiro é
expositivo. Qual é o texto requerido pela FUVEST? O opinativo.
É crucial que você faça uma dissertação opinativa e não uma expositiva. É característica ´que
vai proporcionar a nota máxima na FUVEST. Sendo, assim preparei uma bateria de exercícios para
você.
Abaixo, você encontrará dados expositivos que devem ser transformados em opinião. Note
que, ao fazer isso, automaticamente, você estará fazendo uma tese. Eu sei que ainda não
discutimos esse tópico, mas tente simplesmente seguir o modelo e faça instintivamente o que se
pede. “Tese” será o nosso próximo assunto.
Siga o modelo.
Os seres humanos são treinados para obedecer a figuras de autoridade desde muito cedo
na vida. Um experimento conduzido em 1961 pelo psicólogo Stanley Milgram da
universidade de Yale mediu esta disposição instruindo pessoas a executar atos que
entrassem em conflito com suas morais.
Na realidade, ninguém realmente tomou choque. Em vez disso, Milgram tocou gravações
para fazer com que o aluno parecesse estar com muita dor e quisesse terminar a
experiência. Apesar destes protestos, muitos participantes continuaram a experiência
enquanto a figura de autoridade os impulsionava, aumentando a voltagem após cada
resposta errada, chegando até a choques elétricos letais.
(disponível em https://www.lbv.org/sites/default/files/type-
content/documentos/editorial_meio_ambiente_-_portugues_2012.pdf, consultado em
15.03.2019)
Inspirado pelo assassinato do Dr. Martin Luther King Jr., a professora Jane Elliott criou um
exercício em 1968 para ajudar seus estudantes brancos a entender os efeitos do racismo.
Elliott dividiu sua classe em dois grupos: estudantes de olhos azuis e estudantes de olhos
castanhos. No primeiro dia, ela designou os alunos de olhos azuis como o grupo superior e
deu-lhes privilégios extras, enquanto as crianças de olhos castanhos representavam o
grupo minoritário.
Ela desencorajou os dois grupos a interagir e destacou os alunos para enfatizar os aspectos
negativos daqueles no grupo minoritário. Ela notou mudanças imediatas no
comportamento das crianças.
No dia seguinte, ela inverteu os papéis dos dois grupos e os estudantes de olhos azuis se
tornaram o grupo minoritário. No final do exercício, as crianças ficaram tão felizes que se
abraçaram e concordaram que as pessoas não deveriam ser julgadas com base nas
aparências externas.
Q.4 Formule uma opinião sobre o tema do Enem de 2018, “Manipulação do comportamento
do usuário pelo controle de dados na internet” a partir do recorte da estatística abaixo que
constava da coletânea.
Em 2017, 21,7% dos jovens de 15 a 29 anos não estudavam nem trabalhavam, um ligeiro
aumento em relação a 2016, quando foi registrado 20,5%. O número foi maior entre as
mulheres, cuja incidência foi de 27,1%, enquanto entre os homens, a taxa ficou em 16,4%.
(...)
Entre os jovens pretos e pardos, o percentual daqueles que não estudavam nem
trabalhavam foi de 24,4%, enquanto que entre os brancos, a taxa ficou em 17,7%. Por faixa
etária, o grupo de 18 a 24 foi o mais afetado, alcançando 28%.
(disponível em https://www.lbv.org/sites/default/files/type-
content/documentos/editorial_meio_ambiente_-_portugues_2012.pdf, consultado em
15.03.2019)
Comentário: Como tema geral, podemos apontar o (des)cuidado com a infância no Brasil.
Os recortes sugeridos pela organização textual do cartaz passam por subtemas como: a
exclusão social, indiferença social, o impacto da desigualdade na infância, a comparação
entre ser humano e animal. Expresse uma opinião incluindo um dos subtemas. O leitor
deve perceber que há algum tipo de julgamento relacionado ao tema recortado.
O diálogo com o senso comum sempre enriquece a tesa. Nesse caso, é óbvio que ninguém
defenderia o ponto de vista de que o cuidado com o animal tem a mesma equivalência que
o cuidado com a criança abandonada. Sendo assim, valeria a pena dialogar não com os
discursos sobre o tem, mas com as práticas efetivas de indiferença social.
Inspirado pelo assassinato do Dr. Martin Luther King Jr., a professora Jane Elliott criou um
exercício em 1968 para ajudar seus estudantes brancos a entender os efeitos do racismo.
Elliott dividiu sua classe em dois grupos: estudantes de olhos azuis e estudantes de olhos
castanhos. No primeiro dia, ela designou os alunos de olhos azuis como o grupo superior e
deu-lhes privilégios extras, enquanto as crianças de olhos castanhos representavam o
grupo minoritário.
Ela desencorajou os dois grupos a interagir e destacou os alunos para enfatizar os aspectos
negativos daqueles no grupo minoritário. Ela notou mudanças imediatas no
comportamento das crianças.
No dia seguinte, ela inverteu os papéis dos dois grupos e os estudantes de olhos azuis se
tornaram o grupo minoritário. No final do exercício, as crianças ficaram tão felizes que se
abraçaram e concordaram que as pessoas não deveriam ser julgadas com base nas
aparências externas.
Q.4 Formule uma opinião sobre o tema do Enem de 2018, “Manipulação do comportamento
do usuário pelo controle de dados na internet” a partir do recorte da estatística abaixo
que constava da coletânea.
Comentário: Essa é mais simples. Espera-se que você associe o tema, “Manipulação do
comportamento do usuário” à leitura do gráfico. O parâmetro para a associação deve ser
a abrangência do uso da internet. A manipulação por parte de provedores não seria um
problema social se afetasse um grupo pequeno, mas, dado o alcance da internet no
Brasil, a questão é mais grave. ,
Em 2017, 21,7% dos jovens de 15 a 29 anos não estudavam nem trabalhavam, um ligeiro
aumento em relação a 2016, quando foi registrado 20,5%. O número foi maior entre as
mulheres, cuja incidência foi de 27,1%, enquanto entre os homens, a taxa ficou em
16,4%.
(...)
Entre os jovens pretos e pardos, o percentual daqueles que não estudavam nem
trabalhavam foi de 24,4%, enquanto que entre os brancos, a taxa ficou em 17,7%. Por
faixa etária, o grupo de 18 a 24 foi o mais afetado, alcançando 28%.
Em 2008, a FUVEST publicou algumas das melhores redações daquele ano. Eu selecionei 2
desses textos e apresento, abaixo, alguns trechos. Observe como os candidatos elaboraram seu
ponto de vista.
1
Esse primeiro excerto é direto. Logo nas duas primeiras linhas, o autor já define seu
posicionamento: “A chamada Era da Informação apresenta diversas falhas.” Essa opinião desperta
o interesse do leitor que fica curioso: quais falhas? Ele terá que ler o texto.
Nesse outro, o título, “postura crítica”, já dá o tom opinativo do autor. O fragmento foi
construído de forma diferente do anterior. Não é curto e nem expõe de forma direta a tese.
Primeiramente, ele contextualiza o tema. O recurso é outro, enfatizar através de expressões
negativas a ideia de que a Era da Informação trouxe problemas para a sociedade:
“não...confiáveis”, “irresponsável” e “desinformação”. Além disso, há menção de subtemas
argumentativos. Ele aponta que as informações não obedecem a regras e a emissão delas se dá de
forma irresponsável. Esses dois subtemas merecem ser desenvolvidos. Ou seja, o autor do texto
já apresenta resumidamente qual vai ser o desenvolvimento textual.
Nos 2 fragmentos, você percebeu que o autor expressa sua opinião e posicionamento. Isso
pode ocorrer de forma mais desenvolvida ou mais resumida, mas sempre de forma enfática.
Sacou a importância da opinião e da tese?
O que é tese?
A tese nada mais é do que a sua opinião sobre o tema, expressa verbalmente e estruturada
em uma ou mais frases articuladas com sujeito, verbo e complemento. Um termo como “a
necessidade de vigilância epistêmica” não configura tese. Isso expressa um tema.
No mínimo, você pode ter como regra escrever o
tema e acrescentar um verbo que expresse um
julgamento sobre o tema. Exemplo: “A vigilância
epistêmica é necessária em um mundo marcado pelo
excesso de informação.
Essa tese parece ser a mesma do tema “a necessidade de vigilância epistêmica”, pois eu
simplesmente troquei “necessidade” por “é necessária”, mas note que essa troca tem
consequências, pois, no momento que eu coloco o verbo, sou obrigado a complementar a frase
com “em um mundo marcado pelo excesso de informação”. Teses com o verbo “ser” são mais
simples. Quando for possível seria interessante usar um verbo mais informativo. Teríamos uma
tese mais complexa em “A necessidade de vigilância epistêmica expressa um mundo no qual a
informação tornou-se entretenimento”.
Verbo
Tema Complementos Tese
Quanto mais clara, específica e interessante for a tese mais fácil será para você desenvolver
o texto. Em outras palavras: se você pudesse resumir a sua dissertação inteira (de 30 linhas) numa
única frase, essa frase seria a tese (a ideia principal do texto).
Um texto deve ser interessante para o leitor. Uma tese óbvia demais ou aquela que “chove
no molhado” não permitirá um desenvolvimento interessante. Toda tese que poda a capacidade
do escritor de mostrar seu valor na argumentação é ruim.
Às vezes, quando a tese é muito simples, vale a pena mencionar o seu oposto, para valorizá-
la e transformar o texto numa espécie de discussão que vai despertar o interesse. Suponha que
você simplesmente queira defender a ideia de que a tal “vigilância epistêmica” é importante. Essa
ideia parece óbvia e desnecessária. Para chamar a atenção do leitor, pode-se começar com a ideia
oposta. Algo como: “Muitos acreditam que vivemos no maravilhoso mundo da informação, no qual
até mesmo fotos documentais de difícil acesso podem ser disponibilizadas através das redes
sociais, contudo, dada a forma como circula a informação no mundo, é necessário bastante cuidado
ao acessar informações.”
Ficou comprido, né? Mas observe que agora a tese ficou interessante e já aponta uma
possível trajetória.
suas asas.
Alguém que aprendeu a lógica matemática é capaz de
fazer um exercício se os números forem outros e se a
circunstância se alterar um pouco. Alguém que aprendeu a
argumentar e defender um ponto de vista, saberá se posicionar a partir dos dados em mãos,
mesmo que não tenha enfrentando o tema ainda.
7. A Estrutura da Tese
Observe as 3 formulações sobre o assunto “atividade física”.
Afirmação
Argumento 1
sobre o tema
Aula 01 — Tema e tese
Argumento 2 Tese52
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Aula 01: Fuvest 2021
Lembre-se de que essa é uma sugestão. Nos textos apresentados, só o segundo apresentava
essa estrutura. O que todos os três tinham em comum? O leitor tinha certeza de que o autor do
texto tinha uma opinião sobre o assunto.
Essa certeza não vinha do nada. A tese é uma coisa engraçada, é o ponto de chegada e de
partida ao mesmo tempo. Depois de você refletir sobre um determinado assunto, o resultado deve
ser a tese, pois você deve estar pronto para defender uma afirmação para a qual você tenha
argumentos. Tendo chegado à tese, agora você deve começar a escrever.
O que é tese?
• Aquilo que vai ser defendido no texto;
• Resumo do texto a ser produzido;
• Responde ao tema, considerando inclusive as palavras principais do tema.
A tese aparece no texto?
• Não do jeito que você a descreve para você;
• Ela aparece desenvolvida no texto;
• No fundo, ela representaria o resumo de tudo o que você quis dizer.
Quais são as características de uma boa tese?
• Clareza;
• Objetividade;
• Concisão;
• Abordagem de todos os itens do tema.
Existem teses certas e erradas? NÃO.
• Existem teses boas e ruins;
• Tese boa: aquela que permite um bom desenvolvimento argumentativo;
• Tese ruim: óbvia demais.
Bom, agora é correr para o abraço, digo para a caneta. Você vai encontrar duas
propostas de redação no modelo FUVEST. Faça as redações e nos envie. Estou esperando.
8. Organização
Vale a pena relembrar a estrutura dissertativa, abaixo esquematizada.
1º parágrafo: Introdução
Argumento principal
e apresentação da tese.
2º, 3º e 4º parágrafos:
Argumentos Secundários
Desenvolvimento
Para a efetiva correção, o corretor deve estar bem consciente de qual proposta está sendo desenvolvida
pelo aluno. Portanto, preste atenção:
- No e-mail, identifique:
- A proposta, assinalando onde ela se encontra nos pdfs, ou seja, você deve assinalar a qual aula pertence
a proposta e o número da proposta.
Exemplos:
Pelo título: “As Humanidades perderam a função no século XXI ? (aula 01);
Pela anexação da proposta: Isso deve ser feito, se você produzir uma redação de outra proposta
que não consta dos livros digitais.
9. Proposta de Redação
Vamos lá, hora da diversão. Como você já sabe, encontrará 1 proposta da FUVEST e 1
proposta inédita. A partir desta aula, elas serão classificadas pelo núcleo temático.
Bom texto.
Ética (eu-outros)
Proposta 1
(Fuvest 2008) REDAÇÃO
Vigilância epistêmica* é a preocupação que todos nós deveríamos ter com relação a tudo o que
lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos enganados, para não
acreditarmos em tudo o que é escrito e dito por aí. É preciso vigiar o futuro para sabermos separar
o joio do trigo**.
Hoje boa parte dos sites de busca indexam tudo o que encontram pela frente à internet, mesmo
que se trate de uma grande bobagem ou de evidente inverdade. Qualquer opinião emitida, vista
como um direito de todos, é divulgada aos quatro cantos do mundo. De fato, alguns desses sites
de busca deveriam colocar, nos primeiros lugares, páginas de renomadas Universidades,
preocupadas com a verdade.
Todos precisamos estar muito atentos a dois aspectos com relação a tudo o que ouvimos e lemos:
- se quem nos fala ou escreve conhece a fundo o assunto, se é um especialista comprovado, se
sabe do que está falando;
- se quem nos fala ou escreve, na verdade, é um idiota que ouviu falar algo e simplesmente repassa,
aos outros, o que leu e ouviu, sem acrescentar absolutamente nada de útil.
Aumentar nossa vigilância e preocupação com a verdade é necessidade cada vez mais premente
num tempo que todos os gurus chamam de Era da Informação.
Discordo, profundamente, desses gurus. Estamos, na realidade, na Era da Desinformação, de tanto
lixo e ruído sem significado que, na maior parte das vezes, nos são transmitidos, todos os dias,
eletronicamente, sem que exista o menor cuidado com a precisão e seriedade do que se emite, por
parte das fontes que colocam matérias na rede. É mais uma consequência dessa ideia que a maioria
das pessoas tem sobre a liberdade de expressar o que bem quiser, de expressar qualquer opinião
que seja, como se opiniões não precisassem se basear no rigor científico, antes de serem emitidas.
* Vigilância epistêmica = capacidade de ficar atento e perceber se uma afirmação tem ou não valor
científico.
** Separar o joio do trigo = no contexto, capacidade de diferenciar observações equivocadas,
mentiras mesmo, de outras afirmações que contêm verdades.
O acesso à Informação (em sua maioria, eletrônica) se tornou o direito humano mais zelosamente
defendido. E aquilo sobre o que a informação mais informa é a fluidez do mundo habitado e a
flexibilidade dos habitantes. O noticiário - essa parte da informação eletrônica que tem maior
chance de ser confundida com a verdadeira representação do mundo lá fora é dos mais perecíveis
bens da eletrônica. Mas a perecibilidade dos noticiários, como informação sobre o mundo real, é
em si mesma uma importante informação: a transmissão das notícias é a celebração constante e
diariamente repetida da enorme velocidade da mudança, do acelerado envelhecimento e da
perpetuidade dos novos começos.
Instrução: Os textos apresentados trazem reflexões e notícias sobre o mundo digital. Com base
nesses textos e em outras informações e ideias que julgar pertinentes, redija uma DISSERTAÇÃO
EM PROSA, argumentando de modo claro e coerente.
Proposta 2
Texto I
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu nesta sexta-feira o monitoramento de
dados de internet de usuários de todo o mundo e ligações telefônicas nos Estados Unidos feito pela
Agência Nacional de Segurança (NSA, em inglês).
Em discurso sobre a reforma de saúde, ele comentou pela primeira vez sobre o caso, que causou
polêmica por causa das suspeitas de violação de privacidade. Ele afirmou que, antes de assumir o
governo, era cético em relação ao programa, mas concluiu que eles realmente ajudam o combate
ao terrorismo.
"Quando assumi meu mandato, me comprometi com duas coisas: o respeito à Constituição e a
proteção dos cidadãos americanos. Não podemos ter 100% de segurança com 100% de privacidade
e sem nenhum inconveniente".
Folha de São Paulo on line, 07/06/2013,
(http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/06/1291350-obama-diz-que-monitoramento-de-
dados-foi-informado-ao-congresso.shtml, site consultado em 05/09/2014)
Texto II
Ela nasceu em 1933 para esmagar a oposição a Adolf Hitler e logo se transformou na peça central
do terror nazista. Com a ajuda de cidadãos comuns, a Gestapo vigiou, sequestrou, torturou e
executou milhares de pessoas
Em 1934, a estudante de música Ilse Sonja Totzke chamou a atenção dos moradores da pequena
Wurtzburgo, na Alemanha. Volta e meia, era vista conversando com judeus. Graças a denúncias
anônimas, em 1936, sua caixa de correio passou a ser vigiada pela Gestapo. Três anos depois, o
médico Ludwig Kneisel foi ao quartel-general da polícia secreta do regime nazista para delatar o
"comportamento suspeito" da vizinha. Em 1940, foi a vez da jovem Gertrude Weiss. Ela informou
aos agentes que a estudante nunca respondia à saudação "Heil Hitler!".
Questionada no ano seguinte, Totzke confirmou que tinha amigas, mas não amigos judeus. Corria
o risco de ser acusada de ter relações sexuais com eles - um grave delito de "desonra racial".
(...)
Raros alemães desafiaram a Gestapo como ela. Milhões, contudo, viveram no mesmo clima de
pavor, em que todos eram denunciantes e potenciais denunciados.
Após a Segunda Guerra, a polícia secreta de Adolf Hitler tinha a fama de ser infalível e implacável,
quase onisciente, até. Hoje, porém, historiadores têm uma visão distinta. Embora fosse a peça
central do terror nazista e agisse praticamente acima da lei, a Gestapo não teria a mesma eficácia
sem a colaboração de cidadãos comuns, como Kneisel e Weiss.
(...)
Vigiar o pensamento não era novidade no país. Desde os tempos do Segundo Império (1871-1918),
o chanceler Otto von Bismarck costumava recorrer a leis especiais para perseguir oponentes.
(Perazzo, Priscila F. “A história da Gestapo.doc”.
In http://minhateca.com.br/pedroassisteixeira/Documentos/LIVROS+E+ARTIGOS, site
consultado em 05.09.2014)
Texto III
“As cidades de segurança urbanas transformaram-se ao longo dos séculos em estufas ou
incubadoras de perigos reais ou imaginários, endêmicos ou planejados. Construídas com a ideia de
instalar ilhas de ordem num mar de caos, as cidades transformaram-se nas fontes mais profusas
de desordem, exigindo muralhas, barricadas, torres de vigilância e canhoneiras visíveis e invisíveis
– além de incontáveis homens armados.
(...) o tema unificador de todos esses dispositivos de segurança intraurbana é “o medo do Outro”.
Mas esse Outro que tendemos ou somos induzidos a temer não é algum indivíduo ou categoria
de indivíduos que se estabeleceu, ou foi forçado a fazê-lo, fora dos limites da cidade, e aos quais
se negou o direito de fixar residência ou se estabelecer temporariamente. Em vez disso, o Outro é
um vizinho, um transeunte, um vadio, um espreitador, em última instância, qualquer estranho.
Mas então, como todos sabemos, os moradores das cidades são estranhos entre si, e todos somos
suspeitos de portar o perigo; assim, todos nós, em algum grau, queremos que as ameaças
flutuantes, difusas e incontroladas sejam condensadas e acumuladas num conjunto de “suspeitos
habituais”. Espera-se que essa condensação mantenha a ameaça afastada e também,
simultaneamente, nos proteja do perigo de sermos classificados como parte dela.
É por essa dupla razão – proteger-nos dos perigos e de sermos classificados como um perigo – que
temos investido numa densa rede de medidas de vigilância, seleção, segregação e exclusão.
Lembre-se de que seu texto deve partir de uma tese bem determinada, ou seja, você deve
manifestar um posicionamento claro diante do tema.
Sua redação deve ter no mínimo 20 linhas e, no máximo 30. Não é preciso conclusão.
Representação do
mundo
Proposta 3/ FUVEST/2020
Texto 2: Somente numa sociedade onde exista um clima cultural, em que o impulso à curiosidade
e o amor à descoberta sejam compreendidos e cultivados, pode a ciência florescer. Somente
quando a ciência se torna profundamente enraizada como um elemento cultural da sociedade é
que pode ser mantida e desenvolvida uma tecnologia progressista e inovadora, tornando-se, então,
possível uma associação íntima e vital entre ciência e tecnologia. Essa associação é uma
característica da nossa época e certamente essencial para a manutenção de uma civilização com
os níveis presentes de população e qualidade de vida.
Oscar Sala, O papel da ciência na sociedade. 1974. Disponível em http://www.revistas.usp.br/revhistoria.
Adaptado.
Texto 4: Nós criamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais – o transporte, as
comunicações e todas as outras indústrias, a agricultura, a medicina, a educação, o
entretenimento, a proteção ao meio ambiente e até a importante instituição democrática do voto
Texto 5: Algo muito estranho está acontecendo no mundo atual. Vivemos melhor que qual quer
outra geração anterior. Pessoas são saudáveis graças às ciências da saúde. Moram em residências
robustas, produto da engenharia. Usam eletricidade, domada pelo homem devido ao seu
conhecimento de química e física. Paradoxalmente, essas mesmas pessoas ligam seus
computadores, tablets e celulares para adquirir e disseminar informações que rejeitam a mesma
ciência que é tão presente em suas vidas. Vivemos num mundo em que pessoas usam a ciência
para negar a ciência.
Alicia Kowaltowski, Usando a ciência para negar a ciência. 2019. Disponível em
https://www.nexojornal.com.br/. Adaptado.
Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar
pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o
tema: o papel da ciência no mundo contemporâneo.
Instruções:
• A dissertação deve ser redigida de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.
• Escreva, no mínimo,20 linhas, com letra legível e não ultrapasse o espaço de 30 linhas da
folha de redação.
• Dê um título a sua redação.
Comentário/ Proposta 1
Essa proposta já foi parcialmente comentada no decorrer desta aula. Basta agora indicar
algumas possibilidades de desenvolvimento do texto.
Analisando a proposta, percebe-se que não tem como fugir da discussão dos dois subtemas
que compõem a proposta: a proliferação das informações no ambiente virtual e a vigilância
epistêmica.
Além disso, o tema não é polêmico, não dá para defender uma tese contrária à vigilância
epistêmica. Nesse sentido, trata-se de um recorte bem fechado. O que você poderia fazer? Dar
mais ênfase em um dos dois subtemas. Por exemplo, você poderia contextualizar a
contemporaneidade a partir de difusão de informação para, a seguir, voltar sua carga
argumentativa para a necessidade de vigilância epistêmica. Poderia até exagerar um pouco,
fazendo uma afirmação do tipo: a vigilância epistêmica poderá determinar o futuro da
humanidade.
No formato contrário, você poderia desenvolver mais a questão da disseminação das
informações. Mostrar historicamente como isso ocorreu, ligar tal fenômeno à globalização,
considerar o impacto disso na cultura e nas formas de viver etc. Tendo desenvolvido essa subtema,
restaria, na segunda parte da redação, a proposição da vigilância epistêmica como intervenção.
A seguir apresento algumas sequências argumentativas que poderiam ser levantadas a
partir dos textos de apoio.
Texto 1
-Os sites de busca indexam informação sem filtros relevantes em relação à verdade.
-Os sites poderiam indexar informações ligadas a centros de pesquisa e de informação, mas
preferem apresentar as informações mais acessadas (há uma predominância da quantidade e não
da qualidade).
-Vivemos em uma época em que a opinião baseada no senso comum tem o mesmo valor
que a opinião de um estudioso.
-Trata-se de uma era da desinformação devido à quantidade de ideias que circulam fazendo
com que a informação relevante seja como uma agulha no palheiro.
- O ruído provocado pelas opiniões desvia a atenção do que é mais importante.
-A desinformação é “consequência dessa ideia que a maioria das pessoas tem sobre a
liberdade de expressar o que bem quiser..., como se opiniões não precisassem se basear no rigor
científico, antes de serem emitidas”.
Texto 2
- Não há como negar a vantagem das redes em relação às informações; a foto de D. Pedro,
anteriormente acessível a poucas pessoas, agora pode ser vista por milhares de pessoas.
- O jogo entre imagem e o texto do Estadão pode levar a uma reflexão inversa, já que a foto
de D. Pedro não diz muita coisa sobre quem foi realmente o monarca; pode-se deduzir um
argumento interessante: de que vale tanta informação se o leitor não tiver formação adequada
para processar novos dados de forma significativa?
Texto 3
O texto do Zigmunt Bauman é o mais complicado. Basicamente ele aponta causas para o
fenômeno.
- Por que as pessoas não se preocupam com a veracidade da informação? Porque nesse
mundo da rapidez das informações o que importa é o mais novo fenômeno e não o que é mais
verdadeiro. Sendo assim, ninguém se importa muito com a verdade.
Três outras ideias interessantes para desenvolvimento do texto
Comentário/ Proposta 2
Nessa proposta você encontrou uma seleção de textos complementares. O primeiro, uma notícia
de 2014, relata a adesão do então presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, ao programa de
“monitoramento de dados de internet de usuários de todo o mundo e ligações telefônicas nos
Estados Unidos feito pela Agência Nacional de Segurança (NSA, em inglês)”.
O segundo texto traça um histórico da política de segurança do Nazismo e da terrível Gestapo para,
no final, apontar um dado elementar: a ação de vigilância só foi possível porque teve o
assentimento dos alemães.
Já o texto três tece reflexões bastante perturbadoras sobre o fenômeno que elegemos como causa
para justificar o aparato de vigilância: a violência.
O Sociológo, Zygmunt Bauman (“queridinho da FUVEST”) localiza a base da política de segurança
dos Estados modernos no medo. O grande problema é que, nas sociedades urbanas de massa, a
falta de solidariedade entre indivíduos faz com que cada um veja o outro como potencial inimigo e
tenha medo do seu próximo.
Esse medo vago, muitas vezes confirmado por ações violentas de fato, alimenta a esperança de
que o Estado possa manter tal ameaça longe de nós. Contudo, trata-se de uma ação ambígua:
queremos que o perigo encarnado em sujeitos violentos seja afastado, ao mesmo tempo que
corremos o perigo de sermos classificados como parte desse perigo. O resultado de toda essa
angústia vaga é que, segundo o sociólogo, “temos investido numa densa rede de medidas de
vigilância, seleção, segregação e exclusão.”
Depois desses três textos que permitiam ampliar a visão e a complexidade do tema, as instruções
apresentavam um recorte preciso e um encaminhamento que deveriam ser bem observados. A
Banca lembrava que era dever do estado a garantia da segurança pública, para em seguida fazer a
pergunta que deveria ser respondida antes de fazer o esboço da redação: até onde vai o poder do
Estado de intervir diretamente na dinâmica social e vigiar o indivíduo para assegurar a segurança
pública?
Essa pergunta não permite a famosa tríade – a favor, contra e meio termo. Ela parte do pressuposto
de que o Estado tem o direito de vigiar o indivíduo. A questão passa a ser: em que medida e em
qual intensidade? Qual a linha de delimitação entre o que pode ser tolerado e o que não pode?
Em primeiro lugar seria necessário mapear esse terreno pantanoso.
A proporção que se tomam medidas para garantir a segurança, a liberdade individual diminui e
vice-versa. Qual seria o ponto de equilíbrio?
Pensar em casos particulares talvez ajude. A vigilância a que Obama se referiu foi além dos limites.
A NSA espionou inclusive chefes de Estado, como a aliada Angela Merkel, chanceler alemã. Esse
caso, específico dá uma medida. A vigilância deve atender a finalidades muito precisas e não servir
a interesses que não sejam a segurança dos cidadãos.
Mas supondo que você não tenha se lembrado desse fato. O que fazer?
Nesse caso, a leitura atenta poderia tê-lo ajudado. Bauman cita o perigo e, portanto, o limite:
“seleção, segregação e exclusão”. Vigiar extensivamente somente uma parte da população, aquela
que é considerada suspeita, reforça estigmas sociais e justifica práticas violentas contra essa
população.
Obviamente, você poderia fazer a balança pender mais para o outro lado, para o lado da segurança.
Poderia lembrar que o governo Obama estava lidando com o pós 11 de setembro e, portanto,
práticas de vigilância se tonaram necessárias para que o medo social não fizesse mais estragos. É
só imaginar que se o Estado não assumisse seu papel público, os cidadãos americanos poderiam
partir para a autodefesa privada.
Esses exemplos apontam o caminho das pedras, mas não esgotam as possibilidades.
De qualquer forma, valeria a pena, no começo do seu texto, tentar contextualizar a questão
(mostrando que você leu bem o tema) e apontando com clareza a sua tese.
Comentário/ Proposta 3
Neste ano a FUVEST, mantendo seu estilo, resolveu entrar na polêmica que ainda movimenta
opiniões em torno da importância da ciência. Foram comuns, durante o ano, discussões em relação
aos terraplanistas ou àqueles que negam a eficácia das vacinas. Justamente dois episódios que
colocam em xeque a ciência no seu âmago. Afinal, a ciência moderna se inicia com o
questionamento do lugar que terra ocupa no Cosmos e a vacina sempre representou o que há de
mais palpável em relação a importância da ciência para o Homem.
O estilo, você já conhece, apresentar o problema de forma ampla. O aluno deveria produzir
um texto dissertativo sobre o tema explícito: o papel da ciência no mundo contemporâneo. Como
apoio, a Banca ofereceu uma coletânea com 5 textos, que, se bem refletidos, permitiria ao
candidato elaborar um percurso dissertativo bastante interessante. Vamos a eles.
O texto 1, na verdade uma charge, tematizava o perigo que a ciência representa. Uma das
cobras que se apresenta como inventora da roda, manifesta arrependimento, quando o artefato,
descendo um plano inclinado, ameaça atropelá-la.
O texto 2 defende a tese de que “a manutenção de uma civilização com os níveis presentes”
depende do papel social que a ciência vier a ocupar. O texto 3 pode ser lido como ampliação poética
dessa ideia. Trata-se de uma música composta por Gilberto Gil, na qual ele propõe um tipo de
aproximação entre ciência e religião que aboliria a diferença entre essas esferas. No refrão
““Cântico dos cânticos/ Quântico dos quânticos”, o eu lírico faz referência ao livro da bíblia que
tem esse nome, “Cântico dos cânticos”, e à expressão tirada das mais recentes teorias da física, a
teoria quântica.
Aula 01 — Tema e tese 63
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Professor Fernando Andrade
Aula 01: Fuvest 2021
Os dois últimos fragmentos expõem o perigo que ronda essa relação entre ciência e
sociedade. O primeiro expressa o paradoxo em que vivemos, dependemos da ciência de uma forma
nunca imaginada e ao mesmo tempo desconhecemos o que é a ciência. Isso seria uma “receita
para o desastre”, segundo o texto 4. O último texto trata dessa contradição em uma medida mais
profunda, considera aqueles que podem ser denominados “negacionistas” (negam evidências).
Tais pessoas valem-se da ciência e da tecnologia para, justamente, “disseminar informações que
rejeitam a mesma ciência”.
Percurso da coletânea
Outros percursos
Qualquer outro percurso argumentativo dependeria das teses que poderiam ser
formuladas. Lembre-se, para elaborar uma tese, retome o tema e acrescente o que você deseja
afirmar: “o papel da ciência no mundo contemporâneo é...”
A partir daí, podemos pensar em 2 possibilidades: (1) é importante ou (2) não é importante.
Há um posicionamento intermediário: o papel da ciência é acessório. Fazendo combinações,
podemos chegar a variações:
- A ciência tem papel fundamental e determinante para o futuro da sociedade.
- A ciência tem papel importante para transformar o mundo em algo melhor.
- A ciência tem papel importante, mas há riscos.
- A ciência tem papel acessório, pois...
- A ciência como constituída hoje tem um papel subordinado ao sistema econômico....
- A ciência tem assumido um papel que representa um risco para a humanidade...
- Diante de uma opinião pública hostil à ciência, o papel da ciência é o de se justificar perante
a sociedade.
- Etc.
Pressupostos:
De certa forma, o próprio candidato deveria demonstrar que tem conhecimentos sobre a
ciência. Aliás, se alguém pretende fazer parte do circuito acadêmico regido pelos pressupostos do
conhecimento moderno, deve ser capaz de saber do que se está falando.
A ciência moderna como configurada a partir do Renascimento é uma forma de conhecer o
mundo baseada num método rigoroso que parte do pressuposto da dúvida. Parte-se da premissa
de que qualquer afirmação que se proponha a ter validade de verdade pode ser posta em dúvida
até prova em contrário. O cientista quando apresenta uma resposta deve provar o que diz através
de experimentos, cálculos e diálogo com a comunidade acadêmica. Isso se refere à ciência pura.
A ciência gerou a tecnologia. Trata-se de conhecimento aplicado que permitiu ao homem
desenvolver máquinas e ferramentas capazes de solucionar problemas práticos.
Tanto a ciência quanto a tecnologia devem ser vistas como meios, como ferramentas e não
como fins em si. São modos de se conseguir uma vida mais confortável. O que define o papel de
alguma ferramenta é o seu uso. Uma faca utilizada para cortar alimentos não representa qualquer
ameaça, empunhada na mão de um terrorista, o utensílio assume outro significado.
Repertório possível
A seguir enumero alguns percursos argumentativos dentre vários outros que poderiam ser
usados. Observe que eles poderiam ser utilizados para apoiar diferentes teses.
Crítica à ciência
- A ciência considerada como um ídolo sem qualquer crítica produz desastres, basta
considerar as teorias deterministas, evolucionistas e racistas do final do século XIX que serviram de
base para políticas de eugenia e extermínio.
- As descobertas científicas estão submetidas a interesses econômicos, nunca se destruiu o
meio ambiente tão velozmente quanto no século XX, época em que a tecnologia se tornou a
mediadora entre o homem e a natureza. Atualmente, o desenvolvimento da inteligência artificial,
se não for bem administrado, pode provocar a exclusão de boa parte da humanidade que não se
beneficiará dos avanços da ciência.
- Os pensadores da Escola de Frankfurt formularam a expressão “razão instrumental” para
nomear o processo no qual o homem cria a ciência para dominar a natureza e acaba por ser
dominado por um tipo de conhecimento técnico que está a serviço do próprio sistema capitalista.
- Michael Foucault criou o termo biopolítica para destacar que, a partir de desenvolvimento
da biologia, houve um processo de disciplinarização e vigilância que torna as pessoas dóceis aos
poderes de manipulação. Em nome da ciência médica, pode-se classificar pessoas, alterar seus
hábitos, proibir procedimentos (como fumar), constranger etc.
- Duas histórias bem conhecidas, dentre outras, expressam o risco da ciência: “o médico e o
monstro” e “o aprendiz de feiticeiro”. No primeiro caso, a ciência leva à criação de uma aberração
insustentável; no segundo, o aprendiz não consegue mais controlar as forças que ele mesmo
despertou na natureza.
- O filósofo brasileiro Paulo Arantes definiu barbárie de uma maneira nova. O termo não se
refere a procedimentos não-civilizacionais, mas à incapacidade de o homem lidar com o poder da
tecnologia e da ciência.
-Zigmunt Bauman, sociólogo, chamou a atenção em seu livro “Mundo para Consumo” para
o fato de que os aparatos informacionais produziram uma tal quantidade de informação que
corremos o risco de que sistemas de inteligência artificial ocupem o lugar decisório de seres
humanos, algo que parcialmente já ocorre, quando se considera o papel dos algoritmos na nossa
vida.
- Historicamente, é possível destacar como a ciência fez grandes progressos a partir de
cobaias humanas.
Elogio à ciência
Aula 01 — Tema e tese 65
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- A ciência ocupou o lugar do dogmatismo religioso, mais nefasto, pois a religião não permite
a dúvida o que leva frequentemente a massacres.
- Historicamente, a ciência foi capaz de aumentar a expectativa de vida, de encontrar alívios
para os sofrimentos humanos, de permitir uma vida mais confortável etc.
- A ciência e a tecnologia permitiram uma certa autonomia do indivíduo frente à tradição.