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História da Arte:

Da Pré-História à Arte Medieval

Ricardo Gonçalves · rgoncalves@ese.ipp.pt


Tempo Cósmico

15 mil
milhões
anos 4,5 mil
milhões
anos 4 mil
milhões
anos 6 milhões
anos 35 mil
anos

Big Bang formação da Terra formação da vida hominídeos homem

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Eras Geológicas
> 542 542/251 251/65,5 < 65,5
milhões de anos milhões de anos milhões de anos milhões de anos
< 2,5
milhões de anos

Pré-Cambriana Paleozóica Mesozóica Cenozóica Cenozóica


ou ou ou Terciária Quaternária
Arcaica Primária Secundária (Antropozóica)

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Glaciações do Quaternário
680/620 455/300 200/130 110/12
620/455 300/200 130/110 <12
milhares de anos milhares de anos milhares de anos milhares de anos

Günz Mindel Riss Würm

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efeitos das glaciações
Alteração da flora e fauna com consequências no modo de vida do homem
O sul da Europa e da Ásia, a África e a Insulíndia sofrem a influência dos glaciares.
Alternam-se períodos húmidos e períodos secos (glaciação e inter-glaciação).

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efeitos das glaciações
As planícies tinham pouco espaço por causa do avanço dos glaciares.
O nível dos mares era mais baixo (ex: achados arqueológicos de Grimaldi).
Existiam passagens entre os continentes (ex: Bering).
O recuo dos glaciares altera o clima (desertificação do Sahara).

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Na falta de cronologia precisa, costumam classificar-se vastos períodos de tempo
a partir de um determinado estádio de civilização (utensílios e técnicas)
e dar-lhe o nome da estação arqueológica
onde primeiro se encontraram esses utensílios.

A dificuldade deste método reside no facto de os grupos humanos não se desenvolverem


todos ao mesmo tempo (hoje em dia há grupos ainda em estádios de civilização
paleolítica média — Tasmaníanos ou Bosquímanos (África e Austrália).

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Os períodos habitualmente considerados
no desenvolvimento do homem e da sua actividade são:

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Paleolítico Inferior (ou Antigo) 2500/200 mil
anos

As armas e utensílios são calhaus levemente afeiçoados


para serem manejados a pulso (coup-de-poing).
Os hominídeos deste período são: Australopitecus, Homo habilis e Homo heidelbergensis.

Paleolítico Médio 200/45 mil


anos

Desenvolvem-se o Homo erectus e o Homo neanderthalensis.


Já aperfeiçoam os instrumentos.

Paleolítico Superior 45/10 mil


anos

Homo neanderthalensis desaparece para dar o lugar ao Homo Sapiens.


Nasce a Arte, a religião/magia e o comércio
(imagens de primeiras manifestações artísticas: meandros, mãos, etc.).

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Paleolítico Inferior (ou Antigo) 2500/200 mil
anos

Os instrumentos elaborados são toscos, destacam-se as achas de mão e os bifaces.


Servem para defesa e para trabalho e só os materiais mais resistentes chegaram até nós.

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Paleolítico Médio 200/45 mil
anos

Continuam a elaborar os mesmos utensílios líticos que no período anterior.


Há uma melhoria técnica e um desenvolvimento da tipologia lítica
(criam-se instrumentos com finalidades específicas).

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Paleolítico Superior 45/10 mil
anos

Desenvolvem-se as culturas criadas pelo Homo sapiens. Cultura Cro-Magnon (Europa).


A indústria lítica é muito elaborada,
realizando-se instrumentos de muita precisão e especialização.
Empregam-se outros materiais como o osso e a obsidiana.
(Arpões de osso, pontas de flecha, raspadores, etc.)

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Evolução do Homem

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Dryopithecus:
primeiros fósseis de linha de hominídeos.

Ramapithecus
(Miocenico 16/5,3 milhões de anos).

Australopithecus:
aparece na África do Sul (Taungs - Transvaal),
é um macaco antropóide caminhador, com dentição quase humana;
o achado mais conhecido e apelidado de Lucy, bem como outros na
Argélia e em Marrocos, levam a considerar que o homem deve ter
surgido durante o Pliocenico (5,3/2,6 milhões de anos) em África.

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Dryopithecus:
primeiros fósseis de linha de hominídeos.

Ramapithecus
(Miocenico 16/5,3 milhões de anos).

Australopithecus:
aparece na África do Sul (Taungs - Transvaal),
é um macaco antropóide caminhador, com dentição quase humana;
o achado mais conhecido e apelidado de Lucy, bem como outros na
Argélia e em Marrocos, levam a considerar que o homem deve ter
surgido durante o Pliocenico (5,3/2,6 milhões de anos) em África.

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Homo habilis:
(Pleistocenico, 2,6 milhões de anos/12 mil anos)
Pitecantropo - Homem de Java e Sinantropo (China) meio símios meio homens;
usavam fogo, utensílios de quartzo e ossos partidos.

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Homo heidelbergensis:
Mauer (só mandíbula) - Alemanha;
Fontéchevade - França;
Swanscombe - Inglaterra;
Neanderthal - Alemanha, Bélgica, França, Espanha,
Portugal, Itália, Checoslováquia, Crimeia, Croácia.
(por alguns já considerados Sapiens)
1,6 m de altura; crânio próximo do actual,
com fronte fugidia, queixo pouco marcado,
pernas curtas e arqueadas.
(desenvolve a produção Musteriense)
(na Palestina, na 4.ª glaciação há Neandertalenses
de transição com corpo e membros mais evoluídos)

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Homo sapiens:
invadiu a Europa mais ou menos no quarto período interglaciar vindo da Ásia,
nem pelas características “rácicas” nem pela civilização têm a ver com os neandertais:
Homem de Combe-Capelle (Dordogne) - tipo etíope actual
Homem de Grimaldi (Riviera) - tipo negróide
Homem de Cro-Magnon (França) - muito alto (1,75m) - o que mais se difundiu
Homem de Chancelade (Pèrigord) - tipo baixo (1,55m) e grande capacidade craniana
- tipo esquimó.

Combe-Capelle Cro-Magnon Chancelade

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http://www.becominghuman.org/node/human-lineage-through-time

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Arte do Paleolítico

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O contexto histórico-social em que surgem as primeiras manifestações artísticas
apresenta uma economia recoletora — de caça e pesca — com uma organização social
de pequenos grupos, com produção de utensílios diversificados com recurso a pedra,
madeira, osso, marfim, chifres, etc.

Verifica-se já uma separação de género nas actividades quotidianas:


os homens dedicam-se à caça e as mulheres ao acompanhamento dos filhos,
à recolecão e à cestaria, que antecede a cerâmica.

A sociedade inicia a prática da sepultura dos mortos.

Abade Breuil (início séc. XX)


Institui a classificação geral da arte paleolítica em 2 ciclos:
Aurinhacence / Perigordense e Solutrense / Madalenense

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As primeiras manifestações artísticas acontecem na região franco-cantábrica.

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Do período Aurinhacense conhecem-se mãos pintadas, em positivo ou negativo.
Os positivos eram feitos por carimbagem da mão suja de tinta
e os negativos através da projeção, por sopro, de tinta sobre a mão.

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Desenvolvem-se várias experiências pictográficas, traços e pontos feitos com os dedos,
linhas paralelas e cruzadas, em ocre, vermelho ou preto.

S. Francisco de Borja, México Lapa dos Gaivões, Portugal

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A evolução técnica acompanha a evolução estética.

Os tratamentos são gradualmente mais cuidados (formas e decoração).


Surgem belos utensílios com gravações não figurativas e,
posteriormente, com figurações realistas.

Gruta de Blombos, África do Sul

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A partir do Madalenense (Altamira / Lascaux) as peças apresentam incisões finas,
melhora-se a técnica de talhe em osso, de alto e baixo relevo
(aproveitam-se as formas dos elementos).

Surge a escultura em vulto redondo.

As técnicas incluem: gravura, pintura, modelação e escultura.

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Os objectos ganham valor mágico/religioso (bastões, vénus) e assumem formas
esquemáticas e simbólicas de forma triangular (vulvas).

Saint Germain-en-Laye, França La Ferrassie, França

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Paralelamente aparecem formas realistas, figuras animais simples,
gravadas ou esculpidas em pedra, osso, marfim...

Amarelo, o ocre e o negro (contornos) são dominantes.


As figuras começam por ser apenas contornadas, rígidas, esquemáticas.
Vistas de perfil (só representam 2 patas, só mais tarde mostram as 4).
Os chifres vistos de frente em cabeças de perfil, há uma procura
de exactidão na representação.

Figuras antropomorfas (disfarçadas de animais – feiticeiro/xamane).


Não há imagem realista do Homem,
a imagem como duplo da realidade podia atrair malefícios sobre o representado.

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O final do Madalenense traz grande evolução.
O realismo é avançado, há perspetiva, movimento, policromia.
A modelação é naturalista (aproveita sugestão dos materiais – paredes, osso, marfim...).

A zona dos Pirinéus é rica em achados (baixo relevos, figuras em vulto redondo).

É uma arte de grande qualidade técnica e estética, com observação de proporções,


musculatura, vigor de formas, pormenorização refinada
(olhos, pelagem, patas) e de grande expressão.

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Bisontes, Le Tuc de l’Audoubert, França

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Bisonte, Tursac, Dordogne, França

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Altamira, Espanha

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Altamira, Espanha

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Altamira, Espanha

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Altamira, Espanha

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Altamira, Espanha

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Figuras são mais dinâmicas, de corpo colorido (ocres e vermelhos) e
representam-se grupos de animais (grande dimensão).

Predominam o vermelhão, os violácios, alaranjados, bistre (madalenense final).

A arte é mágica, propiciatória.


Imagem = continuidade da realidade.

Encontram-se utensílios gravados, estatuetas em vulto redondo animalistas ou


antropomórficas, estatuetas femininas de reduzida dimensão (vénus esteatopígias),
de formas exageradas (seios, nádegas, ventre — culto de fecundidade).
A cabeça e os membros são só apontados.

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Altamira, Espanha

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Cavalo, Mas de Azil, França

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Cavalo, Abri de Montastruc, França

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Mamute, Bruniquel, França

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propulsor, Mas de Azil, França

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Venus de Brassempouy

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Venus de Lespugue

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Venus de Vestonicka

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Venus de Laussel

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Venus de Willendorf

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Venus estilizadas de Doni Vestonicka

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O trabalho de classificação permite definir conjuntos homogéneos.

Auxiliares da investigação
Análises de Carbono 14; comparativa/estilística; geológica; geográfica; biológica;
de desenho; de fotografia (aérea, micro...), por filme; Rx; infravermelhos...

Análise estilística
Compara pintura com ornamentação de objectos encontrados
em depósitos arqueológicos, mais facilmente datáveis
(ocupação de camadas precisas datáveis pelo radiocarbono).
É uma cronologia relativa (pelas comparações).

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Evolução estilística
Traços simples (meandros, linhas ou mãos)
Composições complexas
Bicromias (Altamira, 1.º ciclo)
Policromias (Lascaux, 2.º ciclo)

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Foz Côa

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Penascosa, Foz Côa

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Foz Côa

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Bisontes, grutas de Niaux e Chauvet, França

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Esta investigação, tardiamente descoberta (fim de séc. XIX) é um instrumento de estudo
que permite abordar o imaginário das primeiras comunidades humanas.

A tese da finalidade mágico-simpática (pintura da zona franco-cantábrica) da temática


animalista carece de elucidação — progressos da análise arqueológica salientam
discrepância entre fauna representada e fauna consumida.

Está ultrapassada a sugestão de que as pinturas rupestres se


dispunham predominantemente nos locais habituais de vida,
já que as cavernas só rara e parcialmente eram usadas como habitação sistemática.
As realizações plásticas estão dispostas sobretudo em zonas pouco acessíveis,
em cavernas-santuários.

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Lascaux, França

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A disposição pictórica obedece a critérios coerentes e rigorosos.
Leroi-Gourhan define “mitograma primitivo”(estatística).
O par cavalo/bisonte surge como imagem chave, princípio ordenador feminino/masculino.

A possibilidade de leitura ou compreensão escapa-nos.


As pinturas são acompanhadas de signos abstratos.

A “palavra” acompanharia desde sempre a utilização social das imagens,


articulando-se numa narrativa simbólica coerente?

A mudança de clima, as migrações de animais para norte levam à gradual fixação, à


domesticação de animais e ao cultivo, dá-se a passagem para o NEOLÍTICO.

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