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Pré Românico
Pré Românico
E pode ser ainda mais reduzida, porque entre 650 e 750 o eixo da civilização europeia
deslocou-se do Mediterrâneo para o Norte e os quadros económico,
político e espiritual da época medieval começaram a definir-se, num período em que
também surgiram grandes realizações artísticas.
* povo que habitava a Cítia, zona do actual Casaquistão e da Rússia, a norte do Mar Cáspio.
Monstros de dentes arreganhados como este alçavam-se na proa dos navios dos vikings,
aos quais conferiam o carácter de míticos dragões marinhos.
Para obter esse efeito, o artista teve que impor uma disciplina
extremamente severa a si próprio.
A sua "regra do jogo" exigia que as formas orgânicas e geométricas ficassem separadas;
nos compartimentos de animais todas as linhas deviam ser parte do corpo de um animal,
desde o ponto de origem.
Também seguiu regras, muito complicadas, quanto à simetria, aos efeitos das imagens
nos espelhos, e às repetições de formas e cores.
Só analisando tudo com uma intensa observação poderemos aspirar a compreender
o espírito deste estranho mundo labiríntico.
Por outro lado, a figura humana esteve longo tempo fora do alcance
dos artistas célticos ou germânicos.
Aparentemente, o autor nem reparou que violava a integridade física daqueles corpos,
forçando-os a caber no apertado quadro circular.
Por outro lado, tinha um sentido de decoração bem desenvolvido:
o conjunto do painel, com o seu debuxo plano e simétrico, é uma bela peça ornamental,
parecida com um pano bordado.
E é possível que o traçado se inspirasse parcialmente em tecidos orientais.
As realizações culturais do seu reinado, por contraste, provaram ser mais duradouras:
sem elas, esta mesma página teria um aspecto diferente, porque foi impressa em
caracteres cuja forma deriva da escrita dos manuscritos carolíngios.
O próprio Carlos Magno tomou parte ativa neste ressurgimento, através do qual
esperava implantar as tradições culturais de um glorioso passado no espírito da gente
semibárbara dos seus estados. E conseguiu-o em grande parte.
Sentiu que a sua própria capital em Aachen (Aix-la-Chapelle) devia pôr em evidência a
majestade do Império, mercê de edificações de um tipo não menos imponente.
Esta frontaria monumental a Ocidente (em alemão, Westwerk), de que temos aqui um
dos primeiros exemplos, contém o embrião das frontarias de duas torres, comuns a
tantas igrejas medievais posteriores.
Uma Westwerk, ainda mais trabalhada, fazia parte da maior igreja basilical dos tempos
carolíngios, a do mosteiro de St. Riquier (também chamado Centula),
perto de Abbeville no Nordeste da França.
Foi completamente destruída, mas o seu traçado é conhecido em pormenor, mercê de
desenhos e descrições.
A importância dos mosteiros e o seu estreito nexo com a corte imperial estão vivamente
reflectidos num documento único deste período, o traçado, a grande escala, de uma
planta de convento, conservada na biblioteca do Capítulo, em St. Gall, na Suíça.
Sabemos por fontes literárias que as igrejas carolíngias continham pinturas murais,
mosaicos e baixos-relevos, mas todos desapareceram quase por completo.
Quando olhamos para a imagem de S. Mateus desse manuscrito, é-nos difícil acreditar
que tal obra possa ter sido executada na Europa setentrional c. 800:
se não fosse pela grande auréola dourada, o Evangelista poderia ser confundido
com o retrato de um autor clássico, como o de Menandro,
pintado em Pompeia quase oito séculos antes.
Este S. Marcos deve ter sido baseado numa representação no mesmo estilo
do S. Mateus, mas a pintura parece animada de uma energia vibrante que põe tudo em
movimento: as vestes redemoinham em tomo da figura, as colinas soerguem-se,
a vegetação parece agitada por um furacão e até os acantos da moldura ganham um
carácter estranho, flamejante.
Os Salmos só podem ser ilustrados se cada frase for tomada à letra e depois traduzida,
de qualquer modo, em imagens visuais.
Assim, no topo da página do Salmo 44 vemos o Senhor reclinado no leito, ladeado de
anjos suplicantes, uma imagem baseada nas palavras: “Despertai, Senhor, porque dormis?”
À esquerda, os fiéis ajoelham-se perante o Templo
"porque... o nosso ventre está colado à terra" e, à porta da cidade, no primeiro plano, são
mortos "como os carneiros nos matadouros".
Provindo de um artista destituído de sentido poético, esta concepção podia redundar em
charada enfadonha: aqui, porém, possui a força de um trágico martírio.
O estilo da Escola de Reims transparece nos relevos da capa, trabalhada como uma jóia,
dos Evangelhos de Lindau, obra do terceiro quartel do século IX.
Particularidade curiosa:
o Cristo crucificado não manifesta o menor indício de dor ou de agonia: mais parece
estar de pé que suspenso, de braços abertos num gesto solene.
Nesse tempo não se podia conceber ainda que Cristo revelasse sinais de sofrimento
humano, mesmo que os meios de representar a dor estivessem ao alcance do artista,
como se pode ver nas eloquentes expressões de desgosto entre as pequenas figuras
dos compartimentos adjacentes.
O seu poder, porém, enfraquecera tanto que a Europa ficou exposta outra vez
aos ataques de perigosos inimigos exteriores.
Ao Sul, os Muçulmanos recomeçaram as razias e incursões, os Eslavos e os Magiares
avançavam de Leste, e os Vikings da Escandinávia assolavam o Norte e o Oeste.
Daí em diante o Sacro Império Romano iria ser uma instituição germânica.
Melhor diríamos, um sonho germânico, porque os sucessores de Otão I
nunca chegaram a consolidar a sua alegada soberania nas regiões ao Sul dos Alpes.
Durante o período otoniano, dos meados do século X aos princípios do XI, a Alemanha
tornou-se a nação mais influente da Europa, tanto política como artisticamente.
Este sistema alternante divide a arcada em três unidades de três vãos: a primeira e a
terceira ficam em frente das portas, refletindo o eixo dos transeptos.
Como a nave e as colaterais são invulgarmente largas em relação ao comprimento,
a intenção de Bernardo deve ter sido a de obter um equilíbrio harmonioso entre os eixos
longitudinais e transversais do edifício.
A importância que Bernardo atribuía à cripta de S. Miguel pode inferir-se pelas duas
portas de bronze ricamente lavradas que encomendou, provavelmente para as entradas
do deambulatório (foram acabadas em 1015, o ano da consagração da cripta).
A ideia deve-lhe ter surgido quando visitou Roma, onde pôde ver portas de bronze
antigas, romanas ou bizantinas. Mas as portas de Hildesheim diferem das precedentes:
estão divididas em largas bandas horizontais, em vez de painéis verticais,
e em cada campo há uma cena bíblica em alto-relevo.
Toda a composição deve ter-se inspirado num manuscrito iluminado; os troncos torcidos,
estranhamente estilizados, têm o movimento redemoinhante das miniaturas irlandesas.
Em consequência, a tónica foi transferida do físico para o espiritual, e esta nova espécie
de ação não é apenas comunicada através dos gestos e olhares, mas também se revela
pela modificação da escala das coisas.