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Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC

Curso de Direito
Trabalho de Conclusão de Curso

O cabimento no Recurso de Agravo de Instrumento e a tese da


Taxatividade Mitigada criada pelo STJ

Gama-DF
2022
Vinícius Gomes da Silva

O cabimento no Recurso de Agravo de instrumento e a Tese da


Taxatividade Mitigada criada pelo STJ

Artigo apresentado como requisito para


conclusão do curso de Bacharelado em Direito
pelo Centro Universitário do Planalto Central
Apparecido dos Santos – Uniceplac.

Orientador e Professor:Dr.Rafael Pitta

Gama-DF
2022
Vinícius Gomes da Silva

O cabimento no Recurso de Agravo de instrumento e a Tese da


Taxatividade Mitigada criada pelo STJ  
 

Artigo apresentado como requisito para conclusão do


curso de Bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos
– Uniceplac.

Orientador e Professor: Dr. Rafael Pitta

Gama, de março de 2022.

Banca Examinadora

Prof. Dr. Rafael Gomiero Pitta


Orientador

Prof. Nome completo


Examinador

Prof. Nome Completo


Examinador
O cabimento no Recurso de Agravo de instrumento e a Tese da
Taxatividade Mitigada criada pelo STJ
Vinícius Gomes da Silva
  
 
Resumo: O presente artigo tem por objetivo principal, expor e análisar o cabimento do agravo
de instrumento contra as decisões interlocutórias proferidas em juízo de primeiro grau de
jurisdição, suas hipóteses, origem, finalidade, aplicabilidade, discorrendo sobre seu histórico
no ordenamento jurídico brasileiro, bem como suas modificações ao longo da história, o
equívoco cometido pelo legislador em restringir o agravo e não elencar um rol com hipóteses
de não cabimento do agravo e principalmente a análise de suas hipóteses de cabimento e a
escolha do STJ pela interpretação de taxatividade mitigada do rol do art.1015 do novo Código
de processo civil, e também algumas posições doutrinarias que contribuiram para o estudo do
presente trabalho e descrever sobre as problemáticas que foram criadas em torno do tema,
ultilizando técnica de pesquisa bibliográfica e cuja problematização a ser apresentada no
presente artigo se dar na interpretação jurídica dos doutrinadores em relação ao cabimento do
agravo de instrumento fora das hipóteses do referido artigo e a decisão do STJ no julgamento
do Resp 1.704.520-MT.

Palavras-chave: Processo Civil. Agravo. Taxatividade Mitigada.

Abstract:
The main objective of this article is to expose and analyze the appropriateness of the sentence
review against interlocutory decisions rendered in a court of first degree of jurisdiction, its
hypotheses, origin, purpose, applicability, discussing its history in the Brazilian legal system,
as well as its modifications throughout history, the mistake made by the legislator in
restricting the sentence review and not listing a list with hypotheses of non-application of this
sentence and especially the analysis of its appropriate hypotheses and the choice of the STJ
for the interpretation of mitigated taxation of the list of art.1015 of the new Civil Procedure
Code, and also some doctrinal positions that contributed to the study of the present work and
describe the problems that were created around the theme, using a bibliographic research
technique and whose problematization to be presented in the present article takes place in the
legal interpretation of the indoctrinators in relation to the appropriateness of the instrument
record outside the hypotheses of the aforementioned article and the decision of the STJ in the
judgment of Resp 1,704,520-MT.

Keywords: Civil Procedure. Sentence Review. Mitigated Taxation.

1. INTRODUÇÃO
O agravo de instrumento é um recurso processual cabível contra decisões
interlocutórias, com ou sem resolução de mérito, cujo objetivo é evitar que danos graves e
irreversíveis sejam causados a uma das partes, pois as decisões do juiz possuem grande
impacto na vida dos envolvidos no processo, ou seja, o agravo de instrumento é o recuso
processual à disposição da parte que foi prejudicada, servindo de instrumento de impugnação
para certas decisões interlocutórias proferidas no juízo de primeiro grau durante o tramitar do
processo.
O julgador deve analisar o caso concreto, observado a presença dos critérios subjetivos
tais como a inutilidade do julgamento em recurso de apelação e a sua urgência, para melhor
julgar a admissibilidade do recurso, logo a problemática em relação ao cabimento do agravo
de instrumento se dar na recepção da abertura do rol do artigo 1015 do novo Código de
processo civil, já que uma interpretação mal realizada do disposto no artigo poderia acarretar
em prejuízo á uma das partes, além de aumentar a insegurança jurídica ao sistema recursal
brasileiro.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ), julgou no dia 05/12/2018 a possibilidade de
interposição do recurso de agravo de instrumento fora das hipóteses previstas no rol do artigo
1015 do novo Código, permitindo a interposição do agravo além das hipóteses já previstas no
caput, desde que comprovada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão
no recurso de apelação, diferentemente do Código de Processo Civil de 1973, que permitia
agravo de instrumento em qualquer decisão interlocutória, além de apresentar o agravo na
forma retida.
No antigo Código as decisões interlocutórias que não pudessem ser objeto de agravo,
atuavam os efeitos da preclusão, porém com o Novo Código de Processo Civil de 2015 as
decisões não elencadas no art.1015 passaram a ser impugnadas em preliminar no recurso de
apelação, evitando assim, a preclusão. Com o advento da lei n° 9.139/1995 o agravo de
instrumento, passou a ser denominado apenas como recurso de agravo, alterando o prazo de
interposição de cinco para dez dias, devendo o recurso de agravo ser interposto diretamente
no órgão ad quem, cabendo ao relator com base no art.558 do Código de 1973, conceder ou
não o efeito suspensivo.
Conforme o disposto no art.558, inciso I, do Código de 1973, passou-se a exigir a
juntada como peça obrigatória, devendo o agravante a respeito da interposição do recurso,
juntar sua cópia, indicar os documentos que o instruíram, além de informar o juiz a quo a
respeito acerca do recurso, com o objetivo principal de possibilitar a retratação do juízo de
primeiro grau. Outra mudança em relação ao agravo se deu com a promulgação da lei n°
10.352/2001 que trouxe a obrigatoriedade da petição que informa a interposição do recurso de
agravo, a antecipação da tutela recursal e a conversão em agravo retido.
No ano de 2005 com a promulgação da lei n° 11.187, o agravo retido passou a ser
utilizado como regra, cabendo agravo de instrumento somente nas hipóteses elencadas,
quando a parte for suscetível de sofrer lesão grave ou de difícil reparação, nos casos de
inadmissão e naqueles relacionados aos efeitos do recebimento da apelação, fazendo com que
o agravo de instrumento fosse utilizado em quase todas as decisões interlocutórias,
transformando assim, a exceção em regra, sem se preocupar com a questão da celeridade
processual, já que o agravo de instrumento passou a ser aplicado numa escala muito maior.
Com a redação do Código de Processo Civil de 2015, o agravo de instrumento passou
a ter novamente, assim como, no Código de 1939, um rol exaustivo das hipóteses de
cabimento contra as decisões interlocutórias, elencando as hipoteses de cabimento do agravo
de instrumento.
A restrição ao agravo de instrumento criada pelo legislador no rol do art.1015 se
mostrou ineficiente e a interpretação do rol ficou em cheque, gerando debates exaustivos
sobre o tema, doutrinadores como Fredie Didier, Teresa Arruda Alvim e Leonardo Carneiro
da Cunha defenderam a tese de que o rol seria exemplificativo e passível de analogia, todavia
o STJ optou por aplicar a interpretação da taxatividade mitigada, afetando direta e
indiretamente a celeridade processual, a quantidade de recursos e a dinâmica processual dos
tribunais em relação ao cabimento do agravo.
O presente trabalho tem por objetivo principal fazer uma análise geral sobre o recurso
de agravo de instrumento, com foco no entendimento do Superior Tribunal de Justiça,
demonstrando os efeitos da aplicabilidade da tese da taxatividade mitigada como forma de
sanar os posicionamentos divergentes acerca da natureza, interpretação, manejo e
aplicabilidade do recurso, além de expor a posição de alguns doutrinadores em relação a
interpretação do rol do art.1015 e a tese criada pelo STJ a partir do julgamento dos recursos
especiais.

2. AGRAVO DE INSTRUMENTO
O agravo de instrumento é o recurso processual que mais sofreu alterações ao longo da
história do direito processual brasileiro, visto que, é o recurso aplicado pela parte
vencida para questionar decisões interlocutórias em processo judicial, considerando
que que as decisões interlocutórias causam grandes impactos no que diz respeito a
resolução do processo. Para compreensão do presente recurso, faz-se necessário a
análise de sua origem, conceito, cabimento, suas modificações ao longo da história,
sua aplicabilidade, divergências nas interpretações doutrinárias e jurisprudenciais e
sua importância para o sistema recursal brasileiro.
Tal recurso é de fundamental importância para defender os interesses do agravante,
pois concede a parte, através da formação do instrumento, a possibilidade de se
expressar e demonstrar em juízo seu inconformismo e motivos pela qual discorda da
decisão proferida, com o intuito de obter a sua reforma, servindo de mecanismo que
garante a aplicação do princípio do duplo grau de jurisdição previsto no art. 5°,inciso
LV Constituição Federal de 1988, permitindo a parte que se sente prejudicada, solicitar
a reapreciação da decisão interlocutória proferida.

2.1 Origem histórica do agravo de instrumento

No século XII, no Reino de Portugal, foi criada uma competência direcionada aos
bispos, para que os mesmos revissem decisões de juízes que julgassem incorretamente ou
equivocadamente, a fonte foi provavelmente uma novela de Justiniano, onde o imperador da
época havia estabelecido que qualquer juiz que contasse injuria contra uma pessoa no decorrer
de um processo e aquele que sofreu tal ato se sentisse de certa maneira agravado poderia
“recorrer” ao bispo fazendo uma espécie de “queixa” ou “reclamação”, pedindo para que o
mesmo resolvesse a questão, porém deixando a última palavra de castigo dada a autoridade
maior ou seja o imperador. Já no século XII o imperador D. Adoniso III, criou uma regra que
tornava o rei um juiz competente para julgar apelação de sentenças permanentes e definitivas,
no final do século XIV (COSTA,1996, p.142).
O livro das leis e posturas, um antigo compilado de leis Portuguesas, permitia a
apelação de sentenças definitivas, desde que se tratasse de decisão interlocutória. Tal
mudança foi consolidada pelo monarca que veio a suceder, entretanto com o passar dos anos a
apelação das decisões interlocutórias se tornou uma questão problemática, pois terminou por
atrasar as demandas processuais, então o monarca ordenou que apenas as decisões
interlocutórias sem resolução final de mérito é que poderiam sofrer apelação, isso se deu pelo
fato do juiz não acatar pedidos de revogação de decisão interlocutória, logo a parte agravada
teria que apresentar queixa ao rei (Querimas), logo o agravo surgiu da não reformulação de
decisões interlocutórias por parte do juiz (COSTA,1996, p.143).
As querimas ou querimonias, a princípio deveriam ser realizadas de forma oral perante
a majestade, situação na qual o litigante tinha que mostrar toda a danosidade da situação
concreta e demonstrar diante do rei um certo inconformismo, levando em consideração que na
época os poderes do Rei emanavam do Senhor.
Trata-se da sobrevivência de uma prática de largo uso nos primórdios da
monarquia, quando o soberano percorria o país, com sua corte
deambulatória, e administrava a justiça pessoalmente aos vassalos,
conhecendo das queixas que lhe apresentavam mediantes as “querimas” ou
“querimonias” (AZEVEDO; COSTA, 1996, p. 150).

Com o passar do tempo, os inconformismos em relação as decisões interlocutórias


começaram a ser realizados de forma escrita, trazendo mais segurança e credibilidade ao
processo e aos litigantes, surgindo as cartas testemunháveis, instrumentadas pelo escrivão e os
estromentos pobricos formados pelo tabelião, tais documentos eram indispensáveis para
comprovação das alegações durante o julgamento das querimas. Com o propósito de obstar
condenações iníquas decorrentes de falsas asserções não documentadas no processo,
estabeleceu a obrigatoriedade de todos os atos e termos do processo serem redigidos e
autenticados por um público notário [...] (AZEVEDO; COSTA, 1996, p. 150).
O termo agravo era usado apenas para indicar situações gravosas ou que delas resultou
algo grave, mas com o passar do tempo, o termo foi tomando significado diferente, passando
a ser compreendido como o ato empregado para solucionar tais situações.
[...] todavia, ao correr dos anos, por uma figura de linguagem denominada
metonímia, alterou-se o sentido da palavra, trocando-se a causa pelo efeito,
com a transposição do nome do mal para o remédio que se destina a curá-lo.
No direito espanhol, o agravio é o ato do juiz que prejudica a parte; no
direito português e brasileiro, tornou-se o recurso com que se busca remediar
o prejuízo.(COSTA apud CARNEIRO, 1998, p. 10).

O agravo de instrumento tal como se contempla surgiu apenas em 1521 nas


ordenações manuelinas, que é uma compilação da legislação portuguesa datada de 1512, que
posteriormente foram substituídas pelas ordenações Filipinas de 1603 e que foram seriamente
aplicadas no Brasil de tal maneira que passou a constituir a primeira legislação processual do
Brasil, trazendo algumas modalidades de agravo: agravo de instrumento, agravo ordinário,
agravo de ordenações não guardada, agravo de petição e agravo no alto do processo, mas no
ano de 1932 ficou estabelecido que os agravos de petição e agravo de instrumento e petição
deveriam se limitar aos agravos no alto do processo (COSTA, 1996, p. 144).
O regulamento 737 extinguiu agravo no alto do processo, quanto ao agravo de
instrumento e petição permaneceram e em 1939 o código nacional discutia o princípio da
oralidade que deveria minimizar a necessidade utilizar tais recursos sem a possibilidade de
embargo para os recursos de agravo de instrumento, petição e no alto do processo seria
cabível números clausus, todavia a mesma foi extinguida em 1973, possibilitando o
andamento do agravo de instrumento, em caso de decisão interlocutória fazendo que as
especificações das hipóteses de cabimento fossem eliminadas tirando do cenário o agravo de
petição contra decisões definitivas e também o agravo no alto do processo, pelas mãos do
legislador. (CORRÊA, 2001, p. 30).

a. Conceito e cabimento de agravo de instrumento no código de 1973 e no novo


Código de 2015

O Agravo de Instrumento é um recurso processual muito utilizado no Direito


Processual Civil e que tem por objetivo reformar decisões interlocutórias (decisões que não
colocam fim ao processo), ou seja, é um recurso cabível contra decisões interlocutórias que
não se adequam na ideia de sentença. O Código de 1973 dispondo o meio de impugnação das
decisões interlocutórias estranhamente permitiu que a requerimento da parte, o instrumento
não fosse formalizado, resultando na retenção do recurso nos autos, regulando, assim o agravo
retido como agravo de instrumento, mas com a Lei 9.139/1995 o recurso passou a ser
chamado apenas de agravo, estabelecendo, porém, seu processamento na forma de
instrumento ou retido (THEODORO, 2016, p.1035).
A maior contribuição da lei anterior se deu no quesito de processamento, já que o
agravo de instrumento passou a ser endereçado diretamente ao tribunal, enquanto os outros
recursos tinham que ser interpostos diante do órgão judicial responsável pelo ato decisório
que foi impugnado e só então, depois encaminhado para revisão no tribunal competente. Vale
ressaltar, também que o agravo de instrumento não possuía efeito suspensivo e não dispunha
de nenhum outro meio que apressasse o conhecimento da impugnação pelo tribunal ad quem.
Já com a lei 9.139/1995 o agravo de instrumento passou a ser despachado pelo relator, em
segunda instancia deixando para trás aquela incessante necessidade de uso do mandado de
segurança (THEODORO,2016, p.1036).
Em 1973 era indispensável evidenciar que a decisão recorrida poderia de alguma
maneira causar a parte lesão grave e de difícil reparação não cabendo nem se admitindo o
agravo em sua forma instrumental para impugnar a decisão, pois no caso concreto só se
aplicara agravo retido, porém com o Novo Código tal diferença desapareceu e com ela o
agravo na forma retida (THEODORO,2016, p.1038).
As decisões interlocutórias passaram a ser recorríveis somente nos casos previstos no
rol taxativo do art.101521 e baseando-se nos princípios da celeridade e da efetividade do
processo promoveu modificações a aplicabilidade do agravo, como a elaboração de um rol
taxativo que elenca as decisões que são passíveis de interposição pelo agravo de instrumento,
a abolição do agravo retido e consolidando que a impugnação deveria ser feita em preliminar
de apelação ou contrarrazões de apelação após a sentença conforme art.1009, §1°,² em casos
de decisões não alcançáveis por agravo instrumental. e além das hipóteses elencadas no
referido artigo, também caberá agravo nas decisões proferidas na fase de liquidação de
sentença, cumprimento de sentença, processo de execução e inventario (DONIZETTI,2016,
p.1360).

No processo de execução e no cumprimento de sentença, não há abertura para uma


nova sentença sobre o mérito da causa, pois o direito a ser atingido é de satisfação material da
parte e no processo de inventário no que tange a questão da admissão dos herdeiros resulta em
decisão interlocutória, Portanto a comprovação do risco de lesão grave e difícil reparação
segundo o NCPC de 2015 não é mais requisito para cabimento de agravo, porem a decisão
suscetível de causar a parte lesão grave antes da apelação ser julgada, poderá ser aplicado
mandado de segurança atuando em sentido oposto do que diz a sumula n° 267 do STF:” não
cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição”
(DONIZETTI, 2016, p.1361).

b. Prazo de interposição, procedimentos do agravo e seus efeitos.

O Agravo de Instrumento é o único a ser interposto de maneira direta ao tribunal ad


quem para rápida apreciação no prazo de quinze dias, por meio de petição, observando os
requisitos expostos no art.1016³ e deverá ser formado pelas peças indicadas no art.1017 4 e
diferentemente do antigo Código (art.525)5, o novo Código de 2015 aumentou o rol de peças
obrigatórias e expôs algumas alternativas para os documentos indispensáveis para o

21
Art.1015, CPC.
² Art.1009, §1°, CPC.
³ Art.1016, CPC.
4
Art.1017, CPC.
5
Art.525, CPC, 1973.
conhecimento do agravo (BECKER, 2017, p.237).
O Código de 2015 trouxe uma mudança em relação ao agravo, pois tornou
indispensável as cópias da petição inicial, da contestação, da petição que possibilitou a
decisão agravada e a cópia da própria decisão agravada para verificar erros ou acertos da
decisão impugnada pelo juiz prolator, bem como a certidão da intimação para análise da
tempestividade do recurso e a cópia da procuração para comprovação do pressuposto
processual relacionado, a representação do advogado possibilitando a intimação do agravado
pessoalmente conforme dispõe o art.1019,inc.II 22 por carta (BECKER, 2017,p.246-252).

Quantos aos efeitos, o agravo de Instrumento tem efeito devolutivo, mas em regra não
possui efeito suspensivo, sendo ope judicis, já que não decorre diretamente da previsão legal,
ou seja, não é automático como a interposição do agravo, a suspensão dos efeitos da decisão
agravada, porém poderá ocorrer a necessidade de se pedir tal efeito, pois a produção de efeitos
pela decisão agravada pode causar danos a parte e até mesmo ao processo, em casos por
exemplo, de tutela provisória, agravo de instrumento interposto contra decisão interlocutória
de mérito e agravo de instrumento interposto contra decisão que modifica ônus da prova
(DIDIER,2014, P.137).
Os efeitos da decisão ficaram suspensos, não necessariamente o processo, salvo
quando a decorrência da suspensão dos efeitos da decisão forem inevitavelmente a suspensão
do processo, logo é possível que a parte formule um pedido de efeito suspensivo ao agravo ou
efeito ativo, embora tal termologia seja um pouco incorreta, o mesmo antecipa os efeitos da
tutela recursal abrindo possibilidade de pedir na análise que o tribunal fará assim que o agravo
for recebido, a não suspensão dos efeitos da decisão, mas conceda desde já aquilo que só com
o julgamento do recurso se concederia (WAMBIER, 2016,p.688).
No que diz respeito ao procedimento, este deverá ser interposto no tribunal e o
agravo encaminhado ao presidente do tribunal e depois distribuído ao relator, o exame de
admissibilidade será feito pelo tribunal e com demonstração de que os requisitos do art.955 7
do CPC estão presentes, depois pedir o conhecimento do agravo apresentado, fazer um
retrospecto do caso e depois as razões da reforma da decisão seja por errores in procedendo
ou por errores in judicando (NOTORIANO, 2015, p.114).

Art.1019, inc.II, CPC.


22

Art.955, CPC.
7
O relator verificará se os requisitos do art.99523 estão presentes, e na falta de um deles
a parte será intimada para regularização em cinco dias, seja pela regra do art.9329, seja pelo
art.1007 em relação ao preparo ou do art.1017 no que tange a juntada de peças faltantes,
avaliando em seguida se não se trata de decisão monocrática do agravo por parte do relator,
quando for inadmissível e quando possível dar provimento monocraticamente , quando a
decisão é contrária a precedente ou negar provimento monocraticamente quando recurso é
contrário a precedente (RANGEL,2015,p.446).
O relator ao analisar perceber que não é o caso de negar provimento ao agravo ou
seguimento ao agravo, a parte contrária será intimada pelo relator para contrarrazões ao
agravo de instrumento, isso será feito inclusive se for caso de dar provimento monocrático ao
agravo, considerando que o mesmo tem que ofertar o contraditório a outra parte e as
contrarrazões deveram ser apresentadas no prazo de quinze dias (RANGEL,2015, p.447).
Estando o relatório pronto, será o caso de pautarem o agravo, cabendo sustentação
oral em caso de agravo de instrumento em tutela provisória, embora alguns tribunais já
estendam a possibilidade de sustentando oral para outras situações, em especial quando se
trata de decisão de mérito, o agravo será julgado pelo órgão fracionário competente e em se
tratando de agravo de instrumento contra decisão de mérito, aplicar-se-á a necessidade de
ampliação da colegialidade, mas somente quando houver reforma da decisão agravada de
mérito por maioria. Uma vez julgado o agravo será proferido o acordão, que pode já ter o
colegiado ampliado em razão da aplicação da regra de ampliação do colegiado e em seguida
publicado, havendo possibilidade de outros recursos interpostos (ALVIM, 2017, p.45).

c. O contraditório e o Juízo de retratação do Magistrado a quo.

O art.101912 prevê a intimação do agravado para responder no prazo de quinze dias, o


mesmo prazo será concedido para interposição do recurso por parte do agravante, devendo o
recorrido juntar a documentação necessária para o julgamento do recurso. O agravo de
instrumento geralmente permanece distante de onde corre o processo de origem, diante disso
foi estabelecido pela lei duas espécies de intimação do advogado da parte agravada: a
intimação pelo correio; intimação pelo órgão da imprensa oficial e no caso do agravado não
23
Art.995, CPC.
9
Art.932, CPC.
10
Art.1007, CPC.
11
Art.1017, CPC.
12
Art.1019, CPC.
tiver ainda, procurador, deverá ser intimado por carta, pessoalmente constando aviso de
recebimento (BRUSCHI, 2015, p.42).
O agravante terá que indicar o endereço e nome completo dos advogados que estão no
processo na petição (art.1016, IV)24 e incluir cópias das procurações outorgadas aos
advogados do agravante e do agravado, após responder, o agravado para anexar as
contrarrazões a serem encaminhadas ao tribunal com toda documentação que o mesmo achar
ser favorável a solução do recurso e a instrução das contrarrazões do agravado poderá ser feita
com cópias de outras peças no processo ou qualquer outro documento necessário para
contrapor as fundamentações da decisão agravada conforme art. 1017, I.14

É necessário ressaltar que o agravado não poderá ser julgado sem que o agravante seja
ouvido antes, a respeito da nova documentação conforme previsto nos arts. 435 15 e 43716 do
código de processo civil, não podendo além desse momento específico produzir outras peças,
salvo o disposto no art.221.17 O mesmo critério será usado para interposição do recurso e o
agravado poderá protocolar sua resposta no tribunal ou fazer seu envio pelo correio por meio
eletrônico ou fax, desde que sob registro com aviso de recebimento (GONÇALVES,2012,
p.110).
O juízo de retratação do Código de 1973 permaneceu no novo Código, permitindo
ao agravante que junte a cópia do agravo ao processo nos três dias posteriores a remessa
direta, assim o juiz poderá rever o ato impugnado, mesmo enquanto está aguardando resposta
do agravado. Se de fato um equívoco foi cometido, o juiz poderá emendá-lo rapidamente
comunicando a retratação aí tribunal e o recurso será considerado prejudicado de acordo com
art.1018,§1°18(THEOTONIO,2004, p.520).
Faz-se necessário ressaltar que a retratação funcionará apenas como causa de
extinção do agravo e o que o desafiará o agravo a ser aviado pelo vencido no incidente será a
nova deliberação ao juiz de origem, todavia se o juiz extinguir o processo, seu ato será
configurado como sentença, cabendo então apelação (FERREIRA, 2017, p.465).

3. JULGAMENTO DO RECURSO PELO COLEGIADO

24
Art.1016, inc.IV, CPC.
14
Art.1017, inc. I, CPC.
15
Art.435,CPC.
16
Art.437, CPC.
17
Art.221, CPC.
18
Art.1018, §1°, CPC.
O art.102025 dispôs um prazo de um mês, contado da intimação do agravado, tal prazo
é estabelecido para o tribunal, logo não possui efeito preclusivo e o prazo para intervenção do
Ministério Público será de quinze dias (art.1019, III).20 No que diz respeito a sustentação oral
após a exposição da causa pelo relator (art.937),21 tanto o Ministério Público como os
advogados terão apenas quinze minutos para sustentar oralmente suas razões, entretanto não
são todos os casos que cabem sustentação oral conforme art.537 22 do novo Código de
processo civil, como por exemplo, agravo de instrumento contra decisão interlocutória sobre
tutela provisória de urgência ou evidências (THEODORO, 2016, p.1051).
O regimento do tribunal decidirá para onde irá os autos do processo do agravo de
instrumento, se permaneceram em seus arquivos ou se serão enviados ao Juízo de primeiro
grau para anexação aos autos, caso permaneça o tribunal terá que oficiar ao juiz da causa
encaminhando cópia da decisão ou acordão, mas se tiverem que ser encaminhados para o
juízo de primeiro grau não haverá necessidade de se fazer uma comunicação apartada, já que
os autos do agravo já servem como informativo do teor da decisão em segundo grau
(THEODORO,2016,p.1052).

a. Taxatividade mitigada – breve analise da questão.

Há muito debate sobre a taxatividade do rol do art.1015 do Código de processo civil,


sendo entendimento majoritário o de que o rol é taxativo, pois o cabimento do agravo se dar
apenas nas hipóteses do artigo, porém há casos em que a decisão recorrida não esteja no rol
do artigo e, por esta razão, não estará coberta por preclusão, prevendo o art.1009, 23 em seu §1°
do novo Código que o interessado deverá suscitar tal questão em preliminar de apelação,
todavia mais divergências foram criadas em relação a regra de interposição do agravo previsto
no art.52224 do código de 1973. (THEODORO, 2016, p.1027).

A interpretação exemplificativa, embora pouco usada se mostra mais coerente, pois o


rol só poderá ser interpretado de maneira taxativa, caso a mesma taxatividade se estendesse

25
Art.1020, CPC.
20
Art.1019, inc. III, CPC.
21
Art.937, CPC.
22
Art.537, CPC.
23
Art.1009, §1°, CPC.
24
Art.522, CPC/1973
até o inciso XI que trata sobre redistribuição do ônus da prova, entretanto nota-se uma
abertura para uma interpretação extensiva no inciso XIII, para aplicação do agravo em
hipóteses não previstas no art.101526 e no mesmo sentido dispõe o art.356, §2°26 do Código de
processo civil que prevê agravo de instrumento da sentença parcial de mérito, tal hipótese não
está prevista no rol de hipóteses de cabimento de agravo de instrumento do novo Código
(THEODORO, 2016,p.1028).
O legislador no Código de 2015 tentou limitar o rol, na tentativa de ao menos,
reduzi-lo, diminuindo suas problemáticas, considerando que a técnica de enumeração taxativa
das hipóteses em que o agravo pode ser aplicado se mostrou limitado, fazendo com que no
início da vigência do novo Código, o mandado de segurança contra ato judicial fosse a
princípio uma opção viável, mas com o passar do tempo tanto a doutrina como a
jurisprudência se manifestaram contrário a tal ato (MARINONI, 2016, p.534).
O mandado se segurança se mostrou uma péssima alternativa, fazendo com que
passassem a admitir a impugnação da decisão não prevista no rol, utilizando uma
interpretação extensiva do mesmo, as decisões interlocutórias se sujeitaram a recorribilidade
somente em preliminar de apelação caso não se enquadre nas hipóteses previstas. A verdade é
que o legislador apenas fez diferenciação entre as decisões que deveriam ter recorribilidade
imediata e as que deveriam aguardar o momento processual específico para tratá-la (BUENO,
2017, p.657).
No que diz respeito a problemática do rol, o legislador poderia ter criado um rol
exauriente de hipóteses não passiveis de agravo, pois ao invés de simplesmente prever
hipóteses de cabimento, poderia ter elencado as hipóteses de não cabimento do agravo
(NEVES, 2016, p.1560). A interpretação taxativa limita a aplicação do agravo de
instrumento, interpretando o rol de maneira taxativa fechada, porém é válido dizer que
taxatividade não é incompatível com a interpretação extensiva e esta última permite uma
melhor aplicação do agravo de instrumento (DIDIER, 2016, p.206).
No sistema recursal brasileiro a ideia de que o agravo instrumental é o elemento
responsável por toda divergência gerada é inconcebível, visto que há uma grande limitação do
rol do artigo 1015, não apresentando interpretação ampliativa do agravo correndo sério risco
de trazer de volta o uso do mandado de segurança contramandado judicial, estagnando os
tribunais (DIDIER, 2016, p.210).

Art.1015, CPC.
26

Art.356, §2°, CPC.


26
Na tentativa de minimizar o problema o STJ ao julgar o REsp.1.704.520/MT optou
por afirmar que o rol do referido artigo é de taxatividade mitigada, alegando que poderá se
admitir a interposição do agravo quando analisada a urgência decorrente da inutilidade do
julgamento em relação ao recurso de apelação e só será cogitada preclusão em recurso
interposto que tenha sido admitido pelo tribunal, compreendendo que tal tese só se aplica de
fato a decisões interlocutórias proferidas após publicação do acordão(DIDIER,2015, p.31).
Entendimento jurisprudencial recente do STJ, que ao analisar as hipóteses do
art.101527do Código de processo civil, autorizou uma interpretação que foi chamada de
taxatividade mitigada das hipóteses de agravo de instrumento. O STJ tem hoje um
entendimento que permite uma interpretação mais extensiva do rol do referido artigo, com o
objetivo de estender estas hipóteses para situações em que o agravante demonstrar que há uma
urgência na análise da situação. Neste caso o agravante demonstra para o tribunal uma
necessidade que avaliou a competência do juízo de primeiro grau, ele leva ao tribunal que
eventualmente rejeitou ou aceitou a competência daquele juízo e mostra que aquela questão
deve ser analisada naquele momento, sob pena de, ao final do processo por ocasião da
prolação da sentença, aquela decisão se torne inútil (BECKER,2019, p.244).
O parágrafo único do art.1015 não cria uma hipótese de cabimento tipificada, pois
artigo dispõe que na execução, no cumprimento de sentença, na liquidação e inventario caberá
agravo de instrumento, porém o caput do artigo só se aplica as decisões interlocutórias em
processo de conhecimento, com exceção do inventário e partilha, logo a tese da taxatividade
mitigada só diz respeito ao aos agravos de instrumento em processo de conhecimento,
considerando que as hipóteses do parágrafo único já são consideradas hipóteses genéricas de
cabimento de agravo de instrumento (STRECK,2014, p.65).
Quando uma decisão interlocutória em processo de conhecimento não é agravável,
mas é recorrível, aplicar-se-á a recorribilidade por meio de apelação, que é um recurso
utilizado para impugnar a sentença e as decisões interlocutórias proferidas ao longo do
processo, que não puderem ser impugnadas por agravo de instrumento, diante disso, podemos
interpretar que houve uma grande mudança do antigo Código para o atual, já que no Código
anterior as decisões interlocutórias eram sempre agraváveis. E quando não pode ser alvo de
agravo de instrumento? Quando não se encaixa em nenhuma das opções elencadas no rol do
referido artigo. Vale a pena ressaltar que, há um outro tipo de decisão que é irrecorrível, é
aquela que admite a intervenção da amicus curiae e conforme o art. 13828 do Código de
27
Art.105,CPC.
28
Art.138, CPC.
29
Art.1015, inc.III, CPC.
processo civil de 2015, é irrecorrível (ALVIM,2006, p.461).
Assim que o novo Código entrou em vigor os advogados e profissionais do direito
começaram a lidar com novos problemas, como por exemplo, as decisões sobre competência,
na qual o juiz declina a sua competência para um outro juízo e tal situação não encontra
previsão no art.1015 caput, caso essa decisão não seja impugnada imediatamente, não haverá
sentido em impugna-la depois, pois se o juiz federal declina a causa para a justiça do trabalho
por exemplo, não poderá impugna-la depois, visto que na justiça do trabalho, o recurso contra
sentença levaria uma decisão de um juiz federal para ser examinada pelo TRT, inutilizando o
recurso (BECKER,2017, p.237)
Outro exemplo seria sobre decisões interlocutórias em falência, que é um
procedimento concursal, assim como a recuperação judicial, e por isso, não há como prever o
final de um procedimento concursal, por consequência, não é possível afirmar que as decisões
interlocutórias em procedimentos concursais somente poderão ser impugnadas em apelação,
logo a falência ou recuperação judicial deveriam ser tratadas da mesma forma do art.1015,
diante disso, aonde se ler execução, cumprimento de sentença, liquidação e inventário,
poderia se acrescentar a falência (DIDIER,2016, p.201-205).
Em março de 2015, os doutrinadores Fredie Didier e Leonardo Cunha desenvolveram
e publicaram a ideia de que, embora o rol do art. 1015 seja um rol taxativo, sua taxatividade
não seria um obstáculo para uma interpretação analógica, ou seja, ao nos depararmos com
determinadas decisões interlocutórias que, embora não estivessem no rol do artigo e elas
tenham a mesma ratio, deveriam ser impugnáveis também, como por exemplo, decisão sobre
competência e decisão que não homologa negócio processual, ambos exemplos baseados no
inciso 3º do art.1015,29 que cuida da convenção de arbitragem, poderia ser interpretado por
analogia para abranger as hipóteses de decisão sobre competência, todavia o STJ preferiu
tomar uma decisão um pouco diferente (DIDIER,2016, p.211-212).

b. A decisão do STJ pela Taxatividade Mitigada


O STJ analisou o parágrafo único do art.1015 e entendeu que caberá agravo de
instrumento sempre que a não impugnação imediata revelar-se inútil, ou seja, se não puder
impugnar logo a decisão, mas tentar impugna-la depois, o recurso posterior será
completamente inútil, porém é a inutilidade do recurso que torna a decisão agravável, então
podemos interpretar que o STJ pegou a ratio do parágrafo único e a estendeu, portanto caberá
agravo de instrumento sempre que o recurso contra a sentença se mostrar inútil, desde que
também, esteja fora das opções elencadas no referido artigo (ARENHART,2015, p.444-455).
O Resp. nº 1.696.396- MT, foi o que deu início ao julgamento da tese da taxatividade
mitigada, a ministra relatora Nancy Andrighi analisou as três principais correntes doutrinarias:
taxatividade absoluta, interpretação extensiva ou analógica e rol exemplificativo. A primeira
defende um rol mais exaustivo e que não permite a ampliação do rol para casos que não
estejam previstos no texto do artigo, a segunda interpreta o rol como taxativo, mas permitindo
interpretação extensiva ou analógica do texto e terceira e última defende um rol
exemplificativo, observando o artigo 5º XXXV e LIV2930 da constituição federal de 1988,
entendendo que as questões urgentes que não puderam ser apreciadas de forma imediata,
poderiam acabar por prejudicar a celeridade do processo e, por consequência ás partes
(ROMÃO,2016, p.259-274).
A relatora, então, entendeu que o legislador se equivocou ao restringir o art.1015,
alertando também, que o mandado de segurança deve ser evitado nos casos não previstos.
Assim, entendeu a relatora, que nos casos urgentes, que tratam sobre a inutilidade do processo
no julgamento da apelação e prejudicialmente do mérito, o rol poderá ser aberto,
impossibilitando o uso de mandado de segurança como recurso posterior, concluindo a
relatora, também que "A tese que se propõe consiste em, a partir de um requisito objetivo, a
urgência que decorre da inutilidade futura do julgamento do recurso diferido da apelação,
possibilitar a recorribilidade imediata de decisões interlocutórias fora da lista do artigo 1.015
do CPC, sempre em caráter excepcional e desde que preenchido o requisito urgência,
independentemente do uso da interpretação extensiva ou analógica dos incisos do artigo".
(THEODORO,2017, p.1037).
Tal entendimento deu origem a tese da taxatividade mitigada, fazendo com que a parte
demonstre para o julgador a urgência do julgamento, levanto em conta que, o julgamento
futuro do processo, além de não contribuir para a celeridade processual, faria com que o
processo se tornasse ineficiente e no que diz respeito a preclusão, não se aplica de maneira
consumativa as hipóteses não previstas no texto, em respeito ao art.1009, §3º,31 do Código de
processo civil de 2015, mas vale a pena observar que, a previsão em relação a modulação de
efeitos no Código é facultativa conforme art.927, §3º, 32 portanto a alteração não prejudicou
29

30
Art.5° incs. XXXV e LIV da CF/1988

Art.1009, §3°, CPC.


31

Art.927, §3°, CPC.


32
em nada as partes, considerando que a tese poderá ser utilizada ou não, sem danificar o
sistema de preclusão (THEODORO,2017, p.1037-1040).
Segundo Fredie Didier, a decisão do STJ é prática, embora um pouco vaga, o
problema se deu por resolvido, pois garantiu uma regra de transição e caso não seja possível
agravar pelo fato de não encontrar previsão no art.1015, poderá apelar, evitando a preclusão,
solucionando o problema do cabimento do agravo de instrumento fora das hipóteses do artigo
citado, em apenas dois anos e meio da vigência do novo Código, pacificando o problema,
portanto aquele que não tiver agravado contra decisão interlocutória que não se encontra na
lista, a parte não perderá o direito de impugnar na apelação (DIDIER,2016, p.212).

4. CONCLUSÃO

O novo Código de Processo Civil, em comparação com o Código anterior, sofreu uma
brusca e notoria alteração no que diz respeito ao sistema de recorribilidade de decisões
interlocutórias. Nesse cenário de alterações, o agravo de instrumento, salvo algumas hipóteses
legais, passou a servir como forma de impugnação apenas das decisões interlocutórias
expressamente previstas no artigo 1.015 do CPC. Com essa importante alteração, deu-se
inicío a uma discussão para tentar entender a natureza do rol estabelecido no artigo.
A decisão do STJ sobre o agravo de instrumento trouxe uma importante mudança para
o Código de processo civil, considerando que a interpretação do referido artigo deveria ser a
melhor possível e ao mesmo tempo, estar em consonância com os princípios constitucionais.
Algumas turmas atenderam ao que foi fixado no entendimento do tema 988, compreendendo a
urgência para análise do caso concreto, enquanto outras discordaram de tal aplicação,
analisando os casos de maneira diversa da que ficou estabelecida pelo STJ, fazendo com que
as partes fiquem reféns do entendimento dos julgadores em relação aos casos urgentes.
Esta situação delicada causou uma insegurança jurídica, porém é notório que a
flexibilidade em fazer uma abertura do rol foi muito positiva, sendo indispensável a
pacificação do entendimento aplicado, para melhor garantir a manutenção do processo
jurídico. Assim sendo, foi iniciada a discussão para tentar entender a natureza do rol
estabelecido no artigo. Em outras palavras, qual seria o objetivo maior do legislador ao
elencar decisões que poderiam ser impugnadas de imediatamente.

Logo no início da exposição, ficou claro que parte da corrente doutrinária argumentou
que o rol seria absolutamente taxativo, já que o Código de Processo Civil tentou conceber um
rol fechado, com a finalidade de minimizar as demandas, descarregar o judiciário e evitar
recursos meramente protelatórios, alegando ainda que não poderia haver uma ampliação a
interpretação do instituto, pois causaria mais problemas para o poder judiciário.
Em relação ao posicionamento vencedor adotado, a relatora, ministra Nancy Adrighi,
partiu do pressuposto de que a taxatividade absoluta das hipóteses de cabimento poderia trazer
um grande prejuízo aos jurisdicionados que necessitassem da aplicação imediata do recurso e,
portanto, apresentassem urgência para refazer a análise da decisão que foi proferida.
Portanto ficou determinado e conciliado o rol existente com o requisito da urgência,
mas com ausência de caráter complementar. Por isso, considerou-se cabível o agravo em sua
forma instrumental, independente de comprovação de urgência, em todas as hipóteses
elencadas no art. 1.015 do novo Código de perder civil e, não menos importante, incluindo
também os outros casos previstos em lei, conforme o que está disposto no inciso XIII do
referido dispositivo.
Ficou firmado que todas as decisões interlocutórias são recorríveis, entretanto existem
decisões agraváveis, impugnáveis imediatamente por meio de agravo de instrumento que se
enquadram na ideia das decisões típicas e decisões apeláveis, uma vez que são recorríveis em
um momento posterior, por meio da apelação ou das contrarrazões que se enquadram na ideia
de decisões atípicas.
Logo, todas as decisões interlocutórias não agraváveis serão apeláveis, ou seja, a
apelação passa a ser o recurso específico a ser aplicado contra a sentença e contra as
interlocutórias atípicas, que não puderam ser impugnadas por agravo de instrumento. Assim,
houve uma mudança relevante também no recurso de apelação e no termo inicial dos prazos:
o prazo de recurso das decisões interlocutórias típicas inicia com a publicação/intimação da
própria decisão, enquanto o prazo recursal das decisões interlocutórias atípicas tem início a
partir da publicação/intimação da sentença.
Assim, poderá haver agravo de instrumento contra decisão interlocutória de mérito (e
não somente acerca de questão incidente), assim como na hipótese do julgamento antecipado
parcial de mérito e apelação contra decisão interlocutória que visa solucionar questão
incidente, como, por exemplo, a que indeferir a realização de uma prova pericial (hipótese não
prevista no art. 1.015).
Além das hipóteses legais (previstas no art. 1.015 do CPC e em outros dispositivos do
código e de leis especiais), são recorríveis por meio de agravo de instrumento, de acordo com
o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, as seguintes decisões.
A taxatividade mitigada não é uma escolha ruim de interpretação para o rol do
art.1015, todavia acabou por conferir aos órgãos jurisdicionais, poderes em excesso, em
relação a urgência ou não dos casos concretos, além de provocar uma espécie de preclusão
repentina, quando a parte descobrir no julgamento da apelação, que a urgência no caso, de
fato existia e que deveria ter sido questionada por meio de agravo de instrumento, fazendo
com que a revisão da decisão seja inútil.
A decisão fundamentada que deu luz a tese da "taxatividade mitigada" não foi a última
a abordar a questão do agravamento do instrumento, especificamente a possibilidade de
agravamento do cabimento em situações não contempladas pelo Código de Processo Civil art.
1. 015.Desde o julgamento do Recurso Especial repetitivo em dezembro de 2018, o STJ
Turmas vem analisando novas hipóteses de cabimento. No Recurso Especial n°
1.738.756/MG, a Terceira Turma do STJ considerou a possibilidade de uso de instrumento
contra decisão que afasta alegação de prescrição.
Apesar de a possibilidade não estar expressamente prevista no rol do art.1.015 do
CPC, a Turma concordou que quando uma questão é decidida em decisão interlocutória, trata
- se de resolver o mérito, se enquadrando no que dispões o artigo citado. No julgamento do
Resp. 1.724.453/SP, dentre todos os argumentos usados pela Relatora para defender o não
cabimento do agravo de instrumento na hipótese de indeferimento de exclusão de
litisconsorte, se dar na vontade do legislador.
Tal decisão, assim como as que já foram citadas,11 estão relacionadas ao reforçar dos
fundamentos para defender ou não a interposição imediata do agravo de instrumento, são
variados e acabam por se adaptar as circunstâncias e situações que vão surgindo. Mas é fato
que as decisões de Turma dos Tribunais não podem ser tomadas como o entendimento do
Tribunal como um todo, porém, permitem a abertura para surgimento de novas
jurisprudências ajudando e contribuindo para a compreensão de que a aplicação do recurso de
agravo de instrumento está em constante progresso.
Ante o exposto, podemos concluir a respeito do agravo de instrumento e da decisão do
STJ, que cabe unicamente ao legislador solucionar as controversas criadas a respeito do tema,
ou seja, há uma grande necessidade de alteração do texto legal por parte do legislador, que
deveria alterar o texto, inserindo um rol taxativo de possibilidades de não cabimento do
agravo de instrumento. A ideia mencionada iria garantir uma melhor aplicação da equidade,
melhorando a efetividade da segurança jurídica e arrancando das mãos do jurisdicionado a
possibilidade de interpretação conforme a sua necessidade e tornando o processo mais
objetivo, límpido, equilibrado e sem excessos.
Uma solução viável para a questão, seria uma interpretação objetiva que elencasse
algumas situações especificas em que a aplicação do agravo de instrumento é imprescindível,
como por exemplo, matérias que envolvam segredo de justiça ou competência, o que
facilitaria a objetividade na aplicação do recurso, uma contribuição automática para a
celeridade processual. Conclui-se também que a decisão do Superior Tribunal de Justiça
resolveu boa parte dos problemas vislumbrados pela doutrina, entretanto a matéria ainda não
foi pacificada, considerando que as normas fundamentais do processo presentes no art.1º 32 do
novo Código e os fundamentos constitucionais foram pouco abordados durante as tentativas
de solucionar a problemática criada sobre o rol do art.1015, deixando ainda algumas lacunas a
serem preenchidas nos próximos anos.

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