Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Construção Das Irmandades Do Rosário e A Província Do Maranhão
A Construção Das Irmandades Do Rosário e A Província Do Maranhão
São Luís
2013
LEILA ANDRÉA BRITO PEREIRA
São Luís
2013
Pereira, Leila Andrea Brito.
A construção das Irmandades do Rosário e a Província do
Maranhão: a participação escrava em instituições cristãs no século XIX /
Leila Andrea Brito Pereira. – São Luís, 2013.
64 f
CDU: 326(812.1)
A CONSTRUÇÃO DAS IRMANDADES DO ROSÁRIO E A PROVÍNCIA DO
MARANHÃO: a participação escrava em Instituições cristãs, na segunda metade do
século XIX.
BANCA EXAMINADORA
Keywords: Brotherhood of Our Lady of the Rosary. Slavery. XIX Century. Maranhão.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
resistência. .............................................................................................................................. 41
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60
INTRODUÇÃO
12
atividades de sustentação tanto financeira quanto ligada ao número de seguidores,
irmãos. Suas principais ações rodeavam o mundo fúnebre com a realização de missas e
por vezes a efetivação do enterro de seus membros. Representava um elo social, a
exclusão ou não participação destas simbolizaria o não pertencimento.
A cristianização e a escravidão nos oitocentos simbolizou a grande mão de
domínio sobre a América portuguesa, o escravo estava atrelado a esses mundos, e se
remodelar, talvez tenha sido uma das saídas de está presente nesta sociedade mesmo
subjugado. Como falar sobre a Irmandade Nossa Senhora do Rosário, uma instituição
que deu abertura para os escravos e seus descendentes, sem tomar nota acerca da
escravidão dos africanos, em Portugal, na América Portuguesa e na própria África e
assim poder compreender a efetividade em participar deste grupo?
A Irmandade Nossa Senhora do Rosário é o maior símbolo desta relação de
origem portuguesa, foi remodelada e reconhecida pelos moldes africanos ao ponto de
ser intitulada em vários locais como Nossa Senhora dos Pretos, em sua maioria
reconhecida como uma das Irmandades que aceitava a comunhão de irmãos negros, na
condição de escravos e libertos.
As regras da Igreja matriz são reformuladas, a Mesa administrativa muda de
condição e a festa do reisado compõe outro elemento de reformulação africana. A
condição de escravo devido sua localização também é determinante para o afloramento
do culto. Identificamos por meio da literatura que os escravos poderiam ser divididos
em escravos urbano e rural, o primeiro possuía uma abertura muito maior para participar
das Irmandades devido à proximidade com os costumes citadinos e a possibilidade de
ganho sobre seus trabalhos, mesmo que seu senhor não permitisse. Em contraponto no
âmbito rural os escravos eram obrigados a seguirem sua fé nas capelas construídas no
próprio engenho contribuindo para a não diversidade de conhecimento vindo da cidade,
o controle era bem mais ofensivo.
Podemos identificar estas características no nosso objeto de análise: as
cartas de Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de São Luís e
Caxias, cidades da Província do Maranhão quando sobre a entrada e admissão de novos
irmãos era necessário que este oferecesse à casa certa quantia de dinheiro e joia para
adentrar a mesma. Isso só seria possível, por meio de nossa inferência, por escravos no
caso de São Luís que fossem urbanos, de ganho ou aluguel, visto a suas profissões
serem de alguma forma comparada com a dos rurais independentes. Mediante esses
elementos levantados e outros, a vir buscamos compreender o papel do escravo africano
13
no contexto da Irmandade Nossa Senhora do Rosário na ideia de identificar sua
participação enquanto resistência ou prosseguimento da prática cristã europeia. O
grande diferencial desta discussão é o que E. P. Thompson (1998) aponta como uma
história vista de baixo. Uma entidade mesmo com os moldes de controle do Estado e da
Igreja consegue sobrepor suas práticas culturais e de identidade africana.
A visão de vários autores sobre o mundo cristão atrelado à escravidão serão
nossas estruturas para a formação de uma análise acerca da reconstrução da identidade
do homem africano na condição de produto e ator do contexto social da metade do
século XIX por meio das cartas de Compromisso do Rosário no Maranhão.
Partindo desta literatura nosso trabalho será apresentado em três momentos.
O primeiro tratará as irmandades na relação Portugal-África-América portuguesa
contendo o histórico das irmandades religiosas neste recorte territorial e uma escrita
sobre a irmandade negra, instituição esta correspondente a toda discussão que
teceremos.
O segundo capítulo abordará sobre a construção histórica da Irmandade
Nossa Senhora do Rosário permeada pela escravidão onde o africano e seus
descendentes são constituídos ora como propriedade ora como partícipe. Em um
segundo momento ainda perpassando esta formação histórica: a identificação do rosário
como um modelo de resistência ao modo de produção escravista e por fim a significação
desta resistência pela Irmandade dentro do universo maranhense do século XIX
mediante as cartas de Compromisso da cidade de São Luís e Caxias, acrescentando a
busca de identificar elementos que justifique tais narrativas levantadas em nossa escrita.
14
1. AS IRMANDADES NA RELAÇÃO PORTUGAL-ÁFRICA-
AMÉRICA PORTUGUESA
15
A aceitação do catolicismo não significou, de modo algum, o abandono das
antigas crenças e dos costumes tradicionais. Os soberanos do Congo tinham
seu próprio quadro de referências culturais, bem como interesses objetivos na
adoção do cristianismo. Questões em torno da poligamia ou da prática de
cultos tradicionais foram fontes inesgotáveis de conflitos entre os convertidos
centro-africanos e missionários de várias épocas. (REGINALDO, 2005, p.
21)
16
O importante de fato é espalhar a fé cristã? Se o é até que ponto o
catolicismo deve ser preservado em sua íntegra? Reformular preceitos confirmar o que
verdadeiramente está em jogo, o domínio político-religioso. Exemplo disso são as
irmandades mescladas à heterodoxia, comportamento religioso que mistura elementos
da ortodoxia com práticas da cultura popular. Elas são apresentadas como o terceiro tipo
de associação religiosa. “Necessitavam de uma legislação interna que definisse cargos
como o de presidente, tesoureiro e outras funções necessárias” (COE, 2005, p.29).
Segundo SALLES,
As irmandades tinham que possuir uma hierarquia interna bem definida, ter
um santo de devoção que desse nome a uma capela ou um templo, além de
possuírem personalidade jurídica já que “as confrarias só podem ser eretas
por decreto formal de ereção; enquanto às pias uniões basta aprovação do
ordinário.” (Apud. COE, 2005, p. 16)
O batismo cristão foi entendido, pelas elites do Congo, como uma espécie de
iniciação à nova religião, que abria as portas para uma série de segredos e
privilégios em termos sociais e políticos. Mani Soyo, senhor da província do
Soyo e primeira autoridade a manter contato com os portugueses na costa do
Congo, entrou para a história como primeiro conguês a ser batizado em solo
natal. Nas palavras do cronista português, malgrado a impressionante
opacidade com relação à cultura do outro, discretamente ecoavam as
interpretações conguesas do batismo. (REGINALDO, 2005, p.17)
17
O fato da entrada do cristianismo ter sido feita por meio da própria gestão
política, do Congo, contribuiu para toda uma crença e reafirmação da crença pelo país.
O povo passou a desejar a conversão ao cristianismo, e o controle social já não estava
ligado diretamente a uma nação externa, Portugal, mas ao próprio Congo que viu por
meio de seu Rei uma forma de aproximação do reinado português. A religião cristã na
América Portuguesa surge como reafirmação do branqueamento e privilégio de um
grupo pequeno, a corte, eis que se faz presente mais uma forma de controle e separação
que contribuirá na América Portuguesa como uma reação contra o próprio colonizador.
Eis: “saber se foi o cristianismo, interpretado à luz das tradições africanas, vitorioso, ou
se foram as religiões africanas, que reelaboraram o cristianismo” (REGINALDO, 2005,
p.6).
A incorporação da crença cristã pelos africanos fez inverter os papeis de
fundadores e renovadores da fé já destacada. A escravidão contribuiu demasiadamente
para o fortalecimento da prática católica e as irmandades principalmente a Nossa
Senhora do Rosário contribuíram para o que buscamos entender como resistência ou
adaptação às imposições de evangelização.
Embora continuasse cara aos brancos, no decorrer dos séculos XVII e XVIII,
o Rosário foi se constituindo numa devoção preferencialmente de negros,
ainda em terras africanas. No final do século XVII, sob o patrocínio dos
dominicanos, foi fundada uma confraria do Rosário na Ilha de Moçambique.
Faziam parte desta irmandade portugueses e “cristãos da terra”. No início do
século XVIII, na Ilha do Príncipe, uma “fervorosa” irmandade de devotos
pretos, dedicada ao Rosário de Nossa Senhora, instituía oficiais com os
títulos de rei, rainha e príncipe. Em São Tomé, os negros sentiam-se tão
“donos” da devoção que fizeram o possível para impedir que uma irmandade
de brancos, também devotos da Senhora do Rosário, fosse ali instituída no
início do século XVIII. A confraria dos brancos foi aprovada “sem embargo
de ser muito impugnada e perseguida dos pretos da outra irmandade”. A
irmandade dos negros era bem mais antiga. Em 1526, em resposta a uma
petição dos negros locais, “o rei D. João III (1521-1557) permitiu a fundação
da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e deu liberdade a todos os seus
membros”. (REGINALDO, 2005, p.37-38)
18
coexistiam da relação de liderança de seus próprios irmãos às vezes sem origem na
própria fé.
Dentro da organização efetivada pelos africanos ora livres, ora escravizados
em suas terras e no mais tardar em Portugal e no Brasil, Lucilene Reginaldo (2009, p.
297) conduz a compreensão de como se dava a entrada deste nas Irmandades e o que o
fazia prosseguir e até mesmo diferenciá-los mediante a maior procura em participar
destas instituições. Ela elenca um tema bem importante para compreendermos as futuras
discursões acerca da cor como elemento de desfragmentação dentro da própria nação
africana.
19
de devoção das irmandades de pretos: como Nossa Senhora do Rosário, São Benedito,
Santa Efigênia, São Elesbão, Nossa Senhora da Conceição, Santo Antônio, São
Gonçalo, São Domingos e Nossa Senhora da Lampadosa.
Lucilene Reginaldo (2005) elenca que “a importância e a forma do exercício
de poder protagonizado pelas confrarias negras parecem ter sido o grande diferencial em
relação às confrarias dos brancos”. Ela destaca que tanto as irmandades de brancos,
quanto a de negros cumpriam um papel religioso e de ajuda mútua, estas características
fortaleceram claramente diante do contexto de opressão e resistência presente na relação
escravo e branco como uma intensa ligação e uma ideia de pertencimento agora
enquanto irmãos, visto a amplitude de direitos, e também deveres acerca da prática
cristã. A válvula de escape, as irmandades, em Portugal foi determinante para a
abrangência desta prática em outros territórios como o Brasil e a própria África.
Por meio das Irmandades era possível repassar as práticas cristãs como as
rezas, o dízimo. Neste espaço era possível cristianizar um número expressivo de fieis e
também disseminar as atividades católicas em cada contexto social e familiar do
escravo, liberto. A diversidade de pessoas que essas confrarias coletavam por estar mais
próximo da sociedade ampliava as práticas do dogma da Igreja.
No Rio de Janeiro o número de irmandades era muito grande. Mariza Soares
(2000) explica que não só pela distância já destacada na escrita acima, mas também a
própria prática autônoma já elaborada desde a chegada dos portugueses dificultou a
ação de outras leis canônicas. Apontando que “mesmo nas cidades onde existiriam
condições para isso como era no caso do Rio de Janeiro” a efetivação completa não era
feita. A autonomia, a descentralização velada, é vista nesta relação como determinante
para os desencontros e para a grande diferenciação a respeito das práticas cristãs e como
um caminho de quebra com os engessamentos acerca dos africanos escravizados.
A diferenciação social é o marco das irmandades no Rio de Janeiro, a
posição social determina qual santo irá ser o devoto e em quais Igrejas haviam de
frequentar. No Maranhão muito se difere, como seria este processo diante da divisão
social que também existe neste local e dos outros arcabouços que determinariam a
20
participação em cada Irmandade? No Rio de Janeiro cada santo remetia mais claramente
ao grupo de seus devotos como descreve Mariza Soares em seu livro Devotos da cor:
identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII.
21
adaptação, a heterodoxia, a remodelação do ambiente por vezes não seguindo as regras
gerais à risca. O fato de nem todas possuírem uma Igreja para praticarem sua fé e suas
reuniões, em conjunto às disputas pelo número de cristãos/irmãos e pelo próprio espaço
de abrangência somada aos dízimos e aos enterros foram agravantes para inúmeras
disputas entre Irmandades da região em que se encontravam na maioria dos locais
estudados.
Dentre as funções que as Irmandades estavam responsáveis a caridade e a
devoção, deram embasamento para o prosseguimento de suas ações. A análise feita por
Mariza Soares (2000) na carta de Compromisso da Irmandade de Santo Elesbão e Santa
Efigênia identificou que o funeral dos irmãos representava significativamente a prática
de caridade, ela descreve: “Os dois pilares das agremiações religiosas leigas são,
tradicionalmente, a devoção e a caridade ou, para usar a palavra de Russell-Wood, a
“propagação da doutrina” e a “filantropia social”” (SOARES, 2000, p. 166). Quando se
fala de “propagação de doutrina” e “filantropia social” se observa que o campo de
atuação destas Irmandades e o número de seguidores do santo da casa demonstrava o
valor da mesma e sobre o segundo elemento tornou-se evidente que muitos se afiliaram
também pelo fato de contribuir para que não fossem enterrados como indigentes,
principalmente os escravos, visto que, era altíssimo o valor empregado para que
acontecesse um funeral. Com a prática do funeral feita pelas irmandades era possível
identificar as contribuições de cada membro e o valor do indivíduo perante a sociedade,
de acordo com o valor, a condição de escravo, liberto, branco, era possível perceber sua
postura social, desta forma o aumento da busca de fazer parte destes agrupamentos era
compreendido.
Devido à diversidade de etnias o número de conflitos entre irmandades era
ainda mais acentuado, não era apenas determinado por conflitos de local, procissão e
rezas, como já descritos no início do texto. Na formação das Irmandades na Bahia tem-
se destaque a prática de eleições de reis. Estas contribuíram para a estruturação das
Irmandades. A escolha de um líder foi primordial para a reconstrução social destes
grupos, significou um elemento importante de análise, pois esses reinados possuíam
diferentes maneiras de efetivação o que possibilitou o equilíbrio institucional das
confrarias. Além das cartas de Compromisso, os decretos foram determinantes para a
formação estrutural destas instituições tanto por meio da Igreja que por horas se ausenta
de algumas decisões como pelo próprio Estado que busca regularizar suas práticas.
22
Marina de Mello e Souza (2002) destaca que as eleições de reis negros se
deram predominantemente nas “irmandades de homens pretos” que seriam associações
leigas formadas por negros, escravos, forros ou livres, em torno de um santo protetor e
de um altar no qual este era cultuado. Possuíam funções de ajuda mútua, socialização e
diversão. Ela ainda aponta que existiram grupos de negros que elegeram reis negros sem
estarem organizados. Este dado é muito importante, pois percebemos que foram apenas
uma das formas que os escravos encontraram de se manifestar. Que a eleição dos reis
era feita no interior destas com uma corte festiva, já havia como plano assumir outros
cargos que remetiam às cortes europeias e às cortes africanas. Souza (2002) elenca
ainda: é nos documentos produzidos pelas irmandades da América portuguesa que
aparece com maior detalhe a composição e ocorrência dessas cortes festivas, eleitas
junto com o rei e a rainha, onde cada um tinha um papel na preparação e nos atos rituais
da festa.
A necessidade de vários membros para participar deste cortejo reforça em
nossos estudos o quanto este momento fortalecia os laços destes irmãos para com sua
Irmandade, não só no papel de ouvinte, mas de participe. Souza (2002) aponta sobre o
papel do rei após a festividade: no entanto o rei e sua corte não formavam uma
representação administrativa da irmandade e não eram obrigados a participarem das
reuniões seus encargos eram voltados especificamente para a realização da festa do
orago e para a coleta de donativos ao lado de suas contribuições. Um elemento
interessante sobre esta participação é que o candidato a rei teria que financiar toda a
festa, demonstrando aqui a necessidade de um poder aquisitivo notável.
23
elementos culturais, que os africanos possuíam em sua bagagem: suas danças, o bater de
tambores e suas vestimentas são elementos introdutórios para uma análise inicial sobre
estes reisados. Tão diversificados que por ora causaram certa estranheza por meio dos
colonos.
Destaca-se nos estudos das Irmandades negras que mesmo sendo de origem
europeia tenha absorvido características africanas e se mesclado às práticas do contexto
da América portuguesa ao ponto de termos uma dificuldade em determinar sua origem,
visto o entrelaçamento à cultura africana.
1
Para as irmandades funcionarem, fazia-se necessário um compromisso, conjunto de regras com a
aprovação do rei, que determinava os objetivos da associação, as modalidades de admissão de seus
membros, além de seus deveres e obrigações. Era a partir da aceitação do compromisso que os membros
da irmandade se comprometiam a venerar o santo padroeiro, mantendo seu culto e promovendo sua festa.
(COE, 2007, p.3)
24
A primeira irmandade de negros de Lisboa nasceu na Igreja do Convento de
São Domingos. Neste convento havia uma irmandade de N.S. do Rosário
instituída por pessoas brancas, provavelmente no final do século XV, mas a
partir do século XVI, paulatinamente, os negros foram ocupando espaço na
instituição. Em 1551, a Confraria do Rosário do Convento de São Domingos
estava “repartida em duas, uma de pessoas honradas, e outra dos pretos forros
e escravos de Lisboa”. Uma série de conflitos entre “os irmãos pretos” e as
“pessoas honradas", levou à cisão definitiva do grupo. Em 1565, os irmãos
negros tiveram seu primeiro compromisso aprovado pela autoridade régia.
Apesar disto, o acirramento das disputas, que chegou a envolver os
superiores do convento e até o Papa, levou à expulsão da irmandade dos
negros do templo dominicano no fim do século XVI. (REGINALDO, 2005,
p.47)
25
Conceber a existência de uma irmandade escrava negra diante da influência
europeia desperta a curiosidade ainda mais em saber qual interesse estaria por traz deste
envolvimento inicialmente contrário. Na América portuguesa diante da prática
escravista, mesmo em declínio é possível percebermos a necessidade dos cativos e ex-
cativos em fazer-se presente nas práticas cristãs.
(...) das pesquisas sobre irmandades negras no Brasil, para além do binômio
resistência ou acomodação, que durante décadas limitou os estudos sobre
estas associações. Interessava-me, cada vez mais, pelas análises que
privilegiavam as irmandades negras como espaços de expressão da
diversidade na comunidade escrava e liberta. Assim, no tocante a diversidade
étnica, buscava alternativas de análise que superassem as meras constatações
da divisão das confrarias com base nas origens africanas. (REGINALDO,
2005, p.2)
26
estudos mais aprimorados sobre a de Nossa Senhora do Rosário no Rio de Janeiro, na
Bahia e no Maranhão por seus estudos já serem mais encontrados e o último por ver a
necessidade de aprofundamento teórico sobre os documentos primários encontrados no
APEM.
27
2. A IRMANDADE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO: a
construção histórica
A leitura acima deixa clara não haver nenhuma exceção neste processo
comercial. O escravo perpetuará sua existência como dependente e transmitirá está
condição a todos que derivarem dele. Estes atributos de escravo, perpetuidade e
hereditariedade de fato aprisionaram grupos e grupos sobre as mãos dos seus senhores,
28
do Estado em si e da própria Igreja. Concepções formalizadas e internalizadas
diariamente nesses indivíduos foram determinantes para de um lado fortalecer por tanto
tempo a prática da escravidão na América portuguesa.
A escravidão é uma marca hereditária que consome a individualidade e o
ato de escolha e as transformam em conceitos engessados e forçadamente encaixados a
culturas diferenciadas. Neste contexto dúbio os termos trabalho, castigo e vigilância
refletem a base de sustentação da estrutura escravocrata somada aos indivíduos.
Gorender (2001) apresenta em seus estudos o escravo como inimigo visceral do
trabalho, esta reação derivaria da reação humana do escravo à condição de coisificação.
29
A grande diferenciação do processo escravocrata europeu e africano está na
condição apontada por Thornton (2004) que a escravidão era difundida na África
atlântica porque os escravos eram a única forma de propriedade privada que produzia
rendimentos reconhecidos nas leis africanas, divergindo dos europeus que a terra
possuía esse papel. As terras na África pertenciam ao rei, ao Estado como uma
corporação e o governante como um funcionário do Estado, responsável em colher os
impostos. Esta problemática reforçou para que os africanos intensifica-se a venda de
escravos, a moeda de troca se tornou mais rentável até mesmo pela mobilidade e
diferenciação do produto.
A exacerbação do tráfico escravista como também elenca Thornton (2004)
reforçou o poder dos chefes de Estado e das castas aristocráticas, acentuando
características despóticas e espoliadoras. Esta afirmação nos embasa para a discussão a
respeito da posição ativa que os africanos tiveram mediante o painel escravocrata.
Resistência ou aceitação são termos a serem descritos neste panorama, passividade não
seria a melhor concepção. O que podemos destacar nesta construção social é a presença
de grupos étnicos em posições mais fortes sobre outras fortalecendo para a depreciação
e captura de alguns que não conseguiram fugir dos confrontos ou no enfrentamento
perderam posses, posições administrativas e a liberdade.
A mão dupla que a escravidão tornou-se deu embasamento para o processo
de continuidade e de lucro. Gorender (2001) apresenta no tráfico de africanos, duas
faces: uma em que os vendedores africanos praticavam o escambo para a obtenção de
valores de uso e do outro lado os traficantes europeus representando um genuíno
comércio, intercâmbio, circulação mercantil objetivando a lucratividade.
Para adentrarmos a prática escrava dentro do próprio contexto português é
importante destacarmos uma passagem de Thornton (2004) que demonstra a formação
estrutural equilibrada do comércio atlântico de escravos dentro da África pontuando que
o processo escravista esteve na ativa devido às raízes da prática dentro do próprio
território africano. Contrapondo Gorender (2001) que defende o escravo sendo o fruto
do modo de produção europeu, sendo o sujeito, mas uma consequência das práticas
econômicas portuguesas inicialmente.
30
(...) o comércio atlântico de escravos e a participação da África tinham
sólidas origens nas sociedades e sistemas legais africanos. A instituição da
escravatura era disseminada na África e aceita em todas as regiões
exportadoras, e a captura, a compra, o transporte e venda de escravos eram
circunstâncias normais na sociedade africana. A organização preexistente foi,
assim, muito mais responsável do que qualquer força externa para o
desenvolvimento do comércio atlântico de escravos. (THORNTON, 2004,
p.152)
31
portuguesas obtiveram marcante influência sobre a escravidão na América portuguesa.
Ao começarem a colonização do território brasileiro, os portugueses já traziam consigo
a experiência conjugada da escravidão e da plantagem. (GORENDER, 2001, p. 117) O
conflito neste contexto facilmente era percebido. O africano era considerado por vezes
inábil a socialização.
32
No Brasil, a densidade da população escrava, o grau de miscigenação e a
proporção numérica de pessoas de cor livres na população em geral variavam
muito de região para região e de um período a outro. Os escravos negros,
trazidos originalmente da África para trabalhar nas plantações de cana-de-
açúcar do Nordeste, tornaram-se pedras angulares da economia brasileira.
Como tais, estavam inevitavelmente suscetíveis a mudança das circunstâncias
econômicas. Durante os séculos XVI e XVII, os maiores núcleos de escravos
ficavam na Bahia, em Pernambuco e, em menor grau, no Rio de Janeiro. Em
sua maior parte, os escravos eram empregados nos canaviais da zona fértil do
litoral. Uma minoria era transportada para o interior para trabalhar em
fazendas de criação de gado das capitanias da Bahia, de Pernambuco, do
Ceará e do Piauí. (RUSSELL-WOOD, 2005 p. 55)
2
O alto custo de vigilância tem caráter estrutural na produção escravista. (GORENDER, p. 59)
33
formatava suas regras mediante suas necessidades financeiras e estes elementos de fato
contribuíram para que de alguma forma a coisificação do escravo não acontecesse de
maneira total. O aspecto religioso está contido nestas manifestações quando no início
das práticas cristãs se deu abertura para a participação dos escravos africanos e seus
descendentes em entidades religiosas como a Irmandade Nossa Senhora do Rosário.
34
compreender a importância que as Irmandades obtiveram principalmente a do Rosário, a
respeito do deslocamento parcial e sucessivo destes escravos para uma formação social
onde suas obrigações excediam os direitos.
Reginaldo (2009) aponta que a conhecida fama de Portugal enquanto um
lugar das misturas e o processo de cristianização propagou nos primeiros séculos de
contatos, o levante de inúmeros africanos a Portugal para serem instruídos na fé, na
cultura e nas línguas ocidentais. O reino de Portugal aproximou-se inicialmente do reino
de Congo como meio de adquirir a mão-de-obra escrava e nesta troca de produtos
implantou as práticas cristãs, Reginaldo (2009), alguns desembarcaram em Lisboa como
homens livres, eram representantes da corte do Mani Congo, embaixadores, parentes da
família real. Destes, alguns poucos se tornaram intérpretes (então chamados “línguas”),
catequistas e sacerdotes.
Russell-Wood (2005) pontua que em Portugal continental, em Angola e no
Brasil colonial os negros e mulatos, escravos e libertos, tinham suas próprias
irmandades. Onde na América portuguesa, entre as inumeráveis instituições de
indivíduos de ascendência africana, as duas mais importantes eram a de Nossa Senhora
do Rosário e a de São Benedito.
A presença da Irmandade Nossa Senhora do Rosário em Portugal foi
marcante para a estruturação da mesma. Lucilene Reginaldo (2005) destaca que a
devoção ao Rosário em Portugal já havia sido estabelecida desde o final do século XV.
Quando em 1490, “os nobres e o povo acudiram à intercessão da Virgem, por ocasião
da peste que nesse ano assolou Lisboa, e logo resolveram levantar, e levantaram uma
capela com grande aparato”. Desde então, o culto ao Rosário foi muito popular em
Portugal.
Sobre a simbologia das contas do Rosário por conta da tradição católica que
Domingos de Gusmão, religioso dominicano e pregador na região de Albi, sul da França
(local onde se proliferam os “heréticos albigenses e cátaros”), teve uma revelação da
Virgem que lhe ensinou um método de oração no qual seria invocada com a ajuda de
contas unidas por um cordão (SOUZA Apud REGINALDO, 2009, p. 303).
35
Um aspecto interessante na trajetória das irmandades negras foi o fato de
haverem sido inicialmente cultuadas pelos brancos para então serem adotadas pelos
negros como descreve Pinto (2000). Este elemento nos faz levantar varias hipóteses
acerca da mobilidade do processo cristão, a cor cada vez mais a se dissolver. As
aberturas na prática cristã ascenderam aos escravizados a um patamar onde sua voz
apesar de não ser reconhecida era pronunciada.
Resistências no recorte português não são elementos raros mais a ponta de
um grande iceberg a emergir. Questionamentos e mobilizações por parte dos escravos
ora ou outra eram percebidas, a Irmandade significou claramente uma grande válvula de
escape em meio a tantos desencontros no âmbito social e do direito. Lucilene Reginaldo
(2009) destaca em sua obra uma das passagens do ano de 1709, onde umas “pretas que
vendem milho, arroz e chicharros cozidos ao povo nas escadas do hospital do Rossio”
apresentaram ao Rei uma petição reclamando das perseguições, maus tratos e
espancamentos que vinham sofrendo da parte do corregedor e do alcaide daquele bairro.
A narrativa sobre os escravos africanos no contexto europeu só esclarece ainda mais a
posição ativa dos mesmos diante os conflitos, personagens passivos já não cabem mais.
36
inúmeras instituições mescladas a mais diversa motivação. Alguns se agruparam por
possuir a mesma origem como angolanos, pretos-minas e outras nações3 e etnias4,
outros por estar em um mesmo ambiente, mesma fazenda, cidade, povoado. Esta
mistura é apontada em Souza (2002): diante da separação dos grupos de origem e da
quebra das relações de linhagem os indivíduos escravizados foram obrigados a
encontrar outros laços na organização social, ao longo do percurso que levou da aldeia
africana à América, os primeiros a serem invocados.
3
Nação era um conceito utilizado pelos colonizadores para classificar os escravos traficados, geralmente
acrescentando-se ao nome cristão a nação a ele atribuída. (SOUZA, 2002, p. 140)
4
Etnia busca identificar características internas aos grupos, considerando as relações de poder nas quais
estão inseridos. (SOUZA, 2002, p. 142)
37
José Ramos Tinhorão propôs uma interpretação de difícil sustentação, se é
que assim podemos dizer sobre a primazia da devoção ao Rosário entre os
negros em Portugal e nas Américas. Segundo Tinhorão, “os negros se
fixaram em Nossa Senhora do Rosário pela ligação estabelecida com seu
orixá Ifá, através do qual era possível consultar o destino atirando soltas ou
unidas em rosário as nozes de uma palmeira chamada okpê-lifa”. Isto é o que
poderíamos chamar de uma leitura “nagocêntrica” por excelência! A tese de
Tinhorão também peca pelo anacronismo e pelo equívoco no tocante ao
tráfico atlântico de escravos. (p.55)
38
perdendo aos poucos o monopólio. Muito dos escravos adentravam as Irmandades com
o intuito de estas administrarem seus sepultamentos visto que tal prática necessitava de
um grande valor aquisitivo. Os que se tornavam irmãos dependendo também do dízimo
teriam um tratamento diferenciado em seu enterro com direitos a um número de missas
e outras regalias.
39
Já que não só o status, mas a própria “cor”, diante dos pensamentos e ações
abolicionistas, passou a ser um grande elemento de diferenciação entre os grupos.
Contribuindo para a formação de inúmeras maneiras de interação social. Como
demonstra citação seguinte:
40
3. IRMANDADE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO NO
MARANHÃO: um processo de resistência.
41
Luiz Mott (1997) pontua o panorama religioso reconstruído até agora,
agrupando os colonos do Brasil desde os autênticos e fervorosos aos indiferentes e até
hostis à religião oficial: os católicos praticantes autênticos aqueles que seguiam os
dogmas e ensinamentos impostos pela Igreja; os católicos praticantes superficiais, que
encenavam socialmente seus rituais e deveres obrigatórios cristãos; os católicos
displicentes com indiferença e por vezes praticando o que o autor chama de
“sincretismos” heterodoxos e por fim os pseudocatólicos, onde Mott (1997) inclui os
cristãos-novos que em sua maioria eram os escravos, de culto aos ancestrais, libertinos
e, que por conveniência e camuflagem frequentavam os rituais cristãos, mas mantinham
crenças heterodoxas ou sincréticas. A pontuação feita nos deixa com alguns
questionamentos: será que os religiosos destas Igrejas não desconfiavam de tais
práticas? Por que não intervir?
Quando elencamos o século XIX no Brasil, buscamos compreender
mediante as Irmandades de São Luís e a de Caxias, elementos que atestassem que o
escravo se fez pertencer ou se esquivou ao processo. Encontramos no Arquivo do
Estado Maranhão - APEM documentos que permitissem tal aprofundamento. Estes são
as Cartas de Compromisso das Irmandades Nossa Senhora do Rosário destes locais. O
escravo adentra as irmandades do Rosário e se tornam irmãos não deixando sua
condição inicial. A participação social significou uma resistência ou adaptação?
Para José d’Assunção (2009) as chamadas irmandades de negros
apresentavam-se como estruturas bastante úteis que cortavam transversalmente a
população afro e afrodescendente do mundo colonial, estas irmandades da modernidade
escravista-colonial organizavam também os pardos, brancos pobres, brancos abastados,
em seus próprios compartimentos sociais intencionando relacionar com o objetivo de
recolher possíveis benesses.
42
Irmandade de Caxias, 1865. Foram levantados inicialmente a estrutura deste conjunto
de leis e o processo necessário para que se efetivassem. O andamento jurídico perpassa
inicialmente dentro da própria Igreja. A mesa eleita vigente da Irmandade é responsável
em elaborar o Compromisso e enviá-lo ao Bispado, sendo aprovado, é direcionado a
Assembleia Legislativa Provincial e esta efetua outras análises, com as devidas
considerações ligadas aos preceitos e regras que regem a Igreja e o Estado. A Mesa
eleita também era responsável pela avaliação e cumprimento da carta.
Devido ao crescimento econômico que a Capital passava no início dos
oitocentos, com a cultura de algodão São Luís desenvolveu um processo de urbanização
implantando e aperfeiçoando leis e regras para melhorar a configuração urbana da
cidade e diminuir a proximidade com outras capitais de grande destaque como Rio de
Janeiro, Paris. A grande questão de São Luís circunda a falta de estrutura urbana para
que os costumes e práticas europeias pudessem ser colocados em prática. O saneamento
básico, a iluminação pública deixava a desejar, não se tendo um controle das endemias.
43
com o fim do tráfico negreiro em 1850 e com a crise econômica que pairava sobre a
segunda metade do século XIX na Capital, em contraponto à exploração das minas em
outras regiões como Minas Gerais, o Maranhão não mais os comprava, e sim fornecia
escravos para outras localidades em auge econômico, sendo assim, o número de cativos
diminuíram.
A cidade de Caxias é a segunda cidade mais importante da Província do
Maranhão, uma região envolvida por revoltas como a Balaiada (1838-1840).
44
A cidade de Caxias revestia-se de grande importância, pois além de ser o
principal centro de população do interior da Província, destacava-se pela
atividade agrícola e pastoril. E principalmente pela sua posição geográfica, "a
cabeça” da linha fluvial do Itapecuru e a chave dos sertões do Parnaíba, do
Alto Itapecuru e mais, indiretamente, do Tocantins, tornaram-na, depois de
São Luís, a mais próspera, a mais rica cidade do Estado. (LOPES apud
Santos, 2011, p.02)
45
3.1.1. A Capital
46
Há que se considerar outros personagens que se situam fora do que se
convencionou como normal no contexto escravista, pois se é real que o Brasil
se sustentou por mais de três séculos pela exploração escrava, também não
deixa de ser real que além de negros na condição de escravo, por diversos
mecanismos muitos negros também estiveram neste mesmo contexto na
condição de livre, e como tal, por certo estiveram mobilizando esforços para
se diferenciar dos que estavam como cativos. Mesmo os que estiveram na
condição de escravo não podem ser tomados como um grupo homogêneo.
(CRUZ, 2007, p.23)
47
número de escravos comparado com os colonos no Brasil é perceptível o modo de
controle sobre estes agrupamentos ora por meio do castigo, ora por direcionar, às vezes,
a entrada deste cativo nestes e, assim poder ter uma vigilância mais apurada com a
influência direta da cristianização. Como versa Russell- Wood (2005), independente dos
motivos que levaram à criação de diferentes irmandades, todas tinham de se ajustar aos
mesmos procedimentos para garantir a aprovação oficial.
A Carta de Compromisso de 1851 tece dez (10) páginas com cinco (5)
capítulos e (40) quarenta artigos. Os itens abrangem os aspectos gerais da Irmandade;
do governo e administração; dos oficiais e irmãos da mesa; do secretário; do tesoureiro;
do zelador; do procurador; as atribuições da mesa; das eleições; do patrimônio da
Irmandade e as disposições gerais. Na leitura da carta podemos inferir que a Mesa
administrativa seja negra, com abertura para brancos como descreve o Art. 26. Pela
festa do Rosário ser muito dispendiosa a Irmandade dava abertura para eleição de não-
irmãos para o cargo de Juiz.
Para pertencer à Mesa administrativa e a outras funções da Irmandade do
Rosário percebemos com a carta, que era necessário estar munido de uma boa quantia
de dinheiro. Sendo assim buscou-se analisar como estes escravos ou libertos
conseguiam sustentar tantos dízimos e ofertas. A motivação a essa ideia estaria ligada
com o fato de São Luís possuir mais escravos urbanos, e estes poderem acumular bens
mesmo que não permitidos pela Igreja e Província vindos dos seus trabalhos, de
testamentos e doações. Pereira (2006) pontuou que a partir do perfil das atividades
praticadas pelos escravos, eles poderiam ser classificados como de eito, ligado ao
trabalho agrícola; e urbanos podendo ser divididos em escravos de ganho e de aluguel.
A respeito do trabalho escravo em área urbana, vale salientar que foi mais
dinâmico na cidade de São Luís, a capital da Província, e um grande
entreposto comercial e portuário. Nela, os inúmeros trabalhadores escravos,
na condição de ganhadores ou de aluguel, praticavam as mais diversas
atividades. Os homens, entre outras, as de marinheiros, carregadores,
estivadores, oficiais da construção civil, de marcenaria, de barbearia. As
mulheres, por sua vez, ocupavam-se de serviços domésticos (como cozinhar,
lavar e passar), do comércio informal de alimentos (peixes, vísceras de gado,
frutas, doces) e outros artigos. Cabe observar que ainda eram parteiras e
amas-de-leite, sobretudo de filhos dos que constituíram as classes
dominantes. (PEREIRA, 2006, p.38)
48
Podem ser Irmãos Todas as pessoas de um e outro sexo, que sendo de
costumes honestos queirão por sua devoção concorrer com seus bens e
serviços para o maior esplendor do culto da Virgem N.S do Rosário; e se for
pessoa escrava deverá apresentar licença por escripto de seu Senhor. (N.
SENHORA DO ROSÁRIO. Art. 2. 1851, p. 3)
49
De todas as questões apresentadas até aqui, que refletem a ideia de atraso no
qual se inseria a sociedade de São Luís, em relação aos ideais modernos de
civilidade, o problema da escravidão era um dos grandes sinônimos desse
atraso e refletia a grande distância que os brasileiros e, especialmente, os
maranhenses ainda teriam que percorrer um longo e estreito caminho para
tentar, pelo menos, mostrar-se na aparência civilizados. Apesar de grande
parte da população conviver “tranquilamente” com a escravidão, as práticas
mais cruéis não eram toleradas em público como estabelece o código de
posturas de 1866 no art. 99, ao proibir que os escravos andassem: pelas ruas
da cidade com gargalherias, grilhetas e outros instrumentos de castigo” e
“aquelles que assim forem encontrados, serão retidos por qualquer dos
fiscaes, que depois de tirar-lhes os mesmos instrumentos, os entregará aos
senhores, que pagarão a multa de dez mil reis, e o dobro nas reincidências.
(GOUVEIA NETO, 2008, p.14-15)
Contudo (...) não eram muitas vezes seguidas, o que não quer dizer que as
pessoas fizessem o que queriam. Havia, sim, um “consenso” entre os que
mandavam e os que sofriam as sanções, em que aqueles faziam de conta que
mandavam e estes faziam de conta que obedeciam. (GOUVEIA NETO,
2008, p.15)
5
Art. 4° Para se assentar por Irmão é necessário que a pessoa admitida entre para o cofre da Irmandade
com a oblação de mil reis pelo menos, e que assigne termo de sujeição as Leis deste Compromisso, e se
obrigue á pagar em cada anno civil a prestação de trezentos e vinte reis. (N. SENHORA DO ROSÁRIO.
Art. 2. 1851, p. 3).
50
As confrarias do Rosário, por regra estabelecida em sua formação, não
levavam em consideração critérios de riqueza e estatuto social. Admitia todos
os cristãos “assim homens, como mulheres, de qualquer estado e condição
que sejam grandes, e pequenos”. Ninguém deveria ser obrigado a pagar coisa
alguma para entrar na confraria de modo que nenhum pobre deixasse de sê-lo
por estes motivos. (REGINALDO, 2005, p.57)
Até porque os escravos não tinham poder suficiente para proibir a entrada de
algum membro de cor branca, pois tal censura passava a ideia de que os
negros estariam discutindo em suas reuniões assuntos ilícitos, como a
liberdade de cativos, ou até mesmo organizando alguma rebelião. O máximo
que se poderia fazer era limitar o número de indivíduos brancos nas
irmandades negras. (COE, 2005, p.35)
51
enterrados por conta da Confraria; duas missas de corpo presente e como contraponto
seus filhos seriam obrigados a servir em seus lugares.
Sobre o falecimento dos irmãos, a Irmandade se responsabilizava por
celebrar quatro missas em memória, um louvor das cinco chagas de Jesus Cristo. Caso o
irmão houvesse deixado dívidas os herdeiros ou testamenteiros dos falecidos deveriam
pagar as dívidas que excedem um ano, salvo no caso de pobreza. Significando caso
contrário a perda dos privilégios. Sendo mesário e irmão este em sua morte receberia
cinco missas em seu favor. O procurador, o juiz, juízas, tesoureiro, rei, rainha,
secretário, zelador e protetor, oito missas cada um. O sacerdote, sendo irmão, que as
celebrassem receberia a quantia de seiscentos e quarenta reis por cada missa.
Enterrar dignamente seus mortos era uma das prioridades dessas associações.
Todos os indivíduos deveriam tomar as devidas providências para que seus
parentes fossem acompanhados pelo maior número de pessoas na hora da
morte, dando grande solenidade aos enterros e, principalmente, conseguir um
lugar de destaque dentro das igrejas para o seu enterramento e de seus
familiares. (COE, 2007, p.8)
52
unção possuía mais privilégios, exemplos como dos enterros, a quantidade de missas
determinadas por quanto o fraterno contribuiu para a ereção da irmandade. O dízimo,
uma contribuição obrigatória tanto na entrada quanto para a permanência na
fraternidade.
A religião católica em São Luís ainda se apresentava como base social então
em sua maioria a população era vista em alguma Irmandade com o objetivo de ser
participe deste contexto social evitando o distanciamento social. Os valores de entrada
mais especificamente na de Rosário eram bem pertinentes o que demonstra o quanto
custava caro ser ligado a essas instituições. O discurso de inclusão contrapunha com os
valores de aceite.
A instituição do Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário-
Lei Nº 302 10.11.1851 ofereceu muitos elementos para contrapor ou até mesmo
acrescentar nos documentos que temos em mãos como a carta de Compromisso de
Caxias datada de 1865.
3.1.2. Caxias
53
América portuguesa não acontece tão claramente nesta reação pontuada acima. A
interferência do Bispado é claramente identificada, e mais ainda essa ligação não
excluiu uma reavaliação quando necessário. O que se percebe é um controle muito
grande das ações a serem praticadas pela Irmandade do Rosário e o esclarecimento
minucioso quanto a cada atividade. Quando o decreto questiona o uso da cruz despida o
questionador esclarece logo que tal atitude indica jurisdição, ou seja, o poder de decisão
e comando que no caso deixa-se claro não poder possuir.
54
Irmandades do Rosário do Rio de Janeiro onde o principal elo foi a origem étnica
africana.
Após a reformulação do Compromisso desta irmandade, pode-se perceber
com clareza o processo de transformação que vai ocorrer com as irmandades
negras no decorrer do século XIX, quando o governo desestimula as
distinções étnicas nos compromissos dessas confrarias. Essa questão pode ser
confirmada em diversos compromissos. Aprovados no Maranhão durante o
século XIX, dos quais aparecem em impressos de leis provinciais a partir da
década de 40. (CRUZ, 2007, p. 28-29)
Art. 1° Toda a pessoa, quer de um sexo quer de outro, sendo livre, cathólica,
temente a Deus, modesta, caritativa, de bons costumes, que garanta as
obrigações, que se impuser pelo presente Compromisso poderá ser admitido
para Irmão de Nossa Senhora do Rosário.
Art. 4° Os termos de admissão serão lavrados no livro competente pelo
Secretário, e assignados pelo Presidente da Mesa, e pelo mesmo candidato
depois de satisfeitas a joia, e a primeira anualidade.
55
A Mesa administrativa era formada por dois presidentes: um vigário, o
Presidente Comissário, responsável pela festa do Rosário e outro Irmão, Presidente
direcionado às negociações econômicas; um secretário; um tesoureiro; um provedor que
também era o juiz da festa; o procurador; e os mesários.
A Mesa fazia todo o possível para que a festa a Nossa Senhora do Rosário
acontecesse anualmente no 1º domingo de outubro, sendo até publicado pela imprensa,
a organização deveria reunir-se quinze dias antes da festa; sendo que nesta festividade
ocorreria a eleição da nova Mesa, onde após 15 dias tomaria posse. O juiz e a Juíza têm
a responsabilidade de fazer a festa; serão escolhidos nove mordomos e nove mordomas
responsáveis por fazer as novenas.
O presidente só poderia gastar dez mil reis em cada projeto proposto. O
procurador era o responsável em convidar os Irmãos aos enterros e mandar
celebrar as missas; aos irmãos que falecessem eram rezadas três missas sendo uma delas
de corpo presente. Ao mesário três missas e ao Juiz seis missas. A Irmandade não
possuía um cemitério e por isso fica ao bel prazer de outras, no entanto a do Rosário
oferecia uma esquife e um caixão coberto. A preocupação com o enterro era de tamanha
importância que esta Confraria remeteu inúmeras medidas para que não deixassem
desolados seus Irmãos.
O historiador Mathias Röhrig Assunção (Apud Ferreti, 2008, p. 2) afirma
que:
Esta citação nos confirma essa insegurança que vinha por parte do Bispado
de controles diários. Caxias, na segunda metade do século XIX, de fato possuía todo um
histórico pós Balaiada, de desconfiança.
56
Com a Proibição do Tráfico Negreiro em 1831/1850, a Lei do Ventre Livre
de 1871, a Lei do Sexagenário de 1885 e a Lei Áurea 1888. Os escravos foram alguns se
perdendo na falta de aproveitamento da sua mão-de-obra, outros se adaptaram ao
contexto europeu e terceiros criaram seus modos de vida bem diferente do imposto. A
reformulação destes ex-cativos e libertos perpassaram pelos quilombos, pelos terreiros,
pelas Irmandades. Ora como resistência, ora como adaptação à prática da heterodoxia:
foi uma das formas de comportamento religioso que mais tiveram presentes nestas
instituições, a mistura de elementos da ortodoxia com práticas da cultura popular são
continuamente vista como principal exemplo a Festa do Reisado.
A principal diferença entre a Irmandade do Rosário de São Luís e de Caxias
está na datação, na admissão de irmãos quando enquanto que na Capital permitia a
entrada de escravos mediante o documento por escrito do seu senhor, na de Caxias já é
permitido a entrada de libertos, em exceção a escravos, levado em conta que as Cartas
de Compromisso são modificadas de acordo com a necessidade de cada Mesa
administrativa influenciada pela sua gestão e contexto social vigente que no caso de São
Luís por ainda ser uma prática contínua vista a colocação de escravo urbano e as
atividades citadinas estarem ligadas quase que por completo à sustentação social da
estrutura econômica perduram. Percebemos também que a relação étnica ao menos em
meados do século XIX, mediante nossa carta de compromisso e outras literaturas já não
serem tão efetivas sobre a determinação da crença religiosa nas Irmandades do Rosário,
o ponto em comum estaria na crença a Nossa Senhora do Rosário, mas também não
fechando para possíveis laços encobertos ligados a sua origem étnica.
O sincretismo religioso é acusado como o maior integrador desta construção
do Rosário. A abertura dada desde Portugal para uma mescla de práticas culturais e
religiosas permitiu dentre outros aspectos diferenciais da cultura africana de se
destacarem dentro do universo da América portuguesa e mais especificamente do
Maranhão com a reformulação da Irmandade Nossa Senhora do Rosário.
57
CONSIDERAÇÕES FINAIS
58
ligação à Igreja matriz fora por muitos séculos de forma distante, as regras foram
reformuladas e moldadas de acordo com a comunidade mais próxima.
O escravo reformulou sua crença, a Igreja renovou seus conceitos, mas os
dogmas eram os mesmos. A cristianização passou por cima de muitas leis internas para
a conquista de cristãos. No século XIX vemos como o trabalho das Irmandades foi
essencial para o aumento no número de cristãos. A porta estando aberta a todos, como
controlar a entrada e saída? Nada melhor do que dogmas, preceitos e regras para tentar
reeducar um homem. As cartas de Compromisso estariam nesta função, de controlar as
atividades da casa e a vida dos irmãos, ainda mais sendo estas, elementos que
reforçavam a falta de civilização. O senhor de escravo oprime com violência e
indiferença e a Igreja modela e revela a onipotência.
Neste estudo apresentou-se a formação das cartas de Compromisso: os
membros admitidos, as regras, o bem em comum aos Irmãos do Rosário ligados a figura
de Nossa Senhora. Percebemos que a depender do recorte temporal e às Mesas
administrativas as cartas eram modeladas e reajustadas como identificamos nas cartas
de Caxias.
Esperamos que nossa literatura tenha sido proveitosa ao ponto de ampliar e
acrescentar seus conhecimentos sobre o papel da Irmandade Nossa Senhora do Rosário
como elemento ligante do escravo africano e descendente ao processo de resistência
neste modelo escravista nos oitocentos.
59
REFERÊNCIAS
Fontes Primárias
MARANHÃO. Lei nº 302, de 10 de Novembro de 1851. Aprova o Compromisso da
Irmandade de N. S do Rosário, erecta na igreja da mesma senhora nesta cidade. Coleção
de Leis, Decretos e Resoluções da Província do Maranhão, 1835-1848. São Luiz:
Typografia Const. De l. J. Ferreira, 1851.
MARANHÃO. Lei 736, de 7 de julho de 1865. Compromisso da Irmandade da Virgem
Nossa Senhora do Rosário da cidade de Caxias. Coleção de Leis, Decretos e Resoluções
da Província do Maranhão Tipografia José Mathias, v. 1865-6, 1966.
Fontes Bibliográficas
60
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Tradução de
Maria Manuela Galhado. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
COE, Agostinho Junior Holanda. A Morte e os Mortos na Sociedade Ludovicense
(1820-1855). 2005. 87p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) –
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, São Luís, 2005.
__________________. O poder da assistência em São Luís: a Irmandade da
Misericórdia e a prática assistencial na segunda metade do século XIX (1850-1890). In:
II Simpósio de História do Maranhão Oitocentista. jun. 2011 – UEMA. 14p.
CRUZ, Mariléia dos. Nem tudo é valentia ou vadiagem: práticas culturais e usos de
símbolos de civilidade por escravos, forros e mestiços na Província do Maranhão
Oitocentista. In: GALVES, Marcelo Cheche, COSTA, Michael P. Revista Outros
Tempos. São Luís: UEMA, 2007, vol. 04 ISSN 1808-8031. p. 16-36.
DINIZ, Leudjane Michelle Viegas. Escravidão Urbana e Criminalidade em São Luís
(1860-1880). 2005. 69p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) -
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, São Luís, 2005.
FERRETI, Sergio F.. Contribuição Cultural do Negro na Sociedade Maranhense.
In: Mesa Redonda no Curso de Letras da UFMA em 09/10/2008 no Auditório do CCH.
p. 1-7.
_____________________. Preconceitos e Proibições contra Religiões e Festas
populares no Maranhão. In: GT Religião Afro-brasileira e Kardecismo no IX
Simpósio anual da Associação Brasileira de História das Religiões em Viçosa, Minas
Gerais. 2007. p. 1-10.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel
Ramalhete, Petrópolis: Vozes. 1987.
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo: Ática, 2001.
GOUVEIA NETO, João Costa. Hábitos costumeiros na São Luís da segunda metade
do século XIX. Em Tempo de Histórias - Publicação do Programa de Pós-Graduação
em História 7 PPG-HIS/UnB, n.13, Brasília, 2008.
JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. “Balaiada: construção da memória histórica”.
História, SP UNESP, vol. 24, n.1, 2005, p. 41-76.
LAHON, Didier. Eles vão, Eles vêm. Escravos e libertos negros entre Lisboa e o Grão-
Pará e Maranhão (Séc. XVII-XIX). Revista Estudos Amazônicos. vol. VI, n. 1, 2011,
p. 70-99.
LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2007.
61
MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico-Geográfico da Província do
Maranhão. 3 ed. São Luís: SUDEMA, 1970.
MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu. In. SOUZA,
Laura de Mello e. (org.). História da vida privada no Brasil 1: cotidiano e vida
privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 155- 220.
NERIS, Wheriston Silva A produção do corpo sacerdotal no Bispado do Maranhão
(XIX): formação seminarística e introdução de novos modelos disciplinares. Revista
Outros Tempos. vol. 8, n. 12, dez. 2011 – Dossiê História Atlântica e da Diáspora
Africana. p. 17-43.
OLIVEIRA, Anderson José Machado de. Devoção e Identidades: Significados do Culto
de Santo Elesbão e Santa Efigênia no Rio de Janeiro e nas Minas Gerais nos Setecentos.
Topoi, vol. 7, n. 12, jan./jun. 2006, p. 60-115.
OTT, Carlos. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos do Pelourinho.
Afro-Ásia. n. 6, p. 119-126.
PEREIRA, Josenildo de Jesus. As representações da escravatura na imprensa
jornalística do Maranhão na década de 1880. 2006. 206f. Tese de Doutorado. USP,
São Paulo, 2006.
PINHEIRO, Roseane Arcanjo. Um Mapa da Difusão do Jornalismo Maranhense nos
século XIX e XX1. In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação. V Congresso Nacional de História da Mídia. São Paulo. maio /jun. 2007.
REGINALDO, Lucilene. Os Rosários dos angolas: Irmandades negras, experiências
escravas e identidades africanas na Bahia setecentista. 2005. 244f. Tese de Doutorado
Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2005.
__________________. “África em Portugal”: devoções, irmandades e escravidão no
Reino de Portugal, século XVIII. Departamento de Ciências Humanas e Filosofia –
Universidade Estadual de Feira de Santana. São Paulo, 2009. p. 289- 319.
________________. Outros africanos: os angolas na Bahia – séculos XVIII e XIX.
In: IX Encontro Estadual de História - ANPUH-BA HISTÓRIA: sujeitos, saberes e
práticas. 29 de Julho a 1° de Agosto de 2008. Vitória da Conquista - BA. p. 1 -11.
REIS, João José. O cotidiano da morte no Brasil oitocentista. In. ALENCATRO, Luís
Felipe de. História da vida privada no Brasil 2/ Império: a corte e a modernidade
nacional. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 95-142.
REGINALDO, Lucilene. Devoções atlânticas: a construção da identidade social e
religiosa de cativos e libertos na Bahia colonial. Afro-Ásia, 2012, p. 303-310.
62
RUSSELL-WOOD, A.J. R. Comportamento coletivo: as irmandades. In.____. Escravos
e libertos no Brasil colonial. Trad. de Maria Beatriz Medina. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2005. p. 189-231.
SANTOS, Sandra Regina Rodrigues dos. O Sertão Maranhense no Contexto da
Balaiada: conflitos e contradições. In: III Simpósio de História do Maranhão
Oitocentista. São Luís, 2011, p. 1-14.
SILVEIRA, Carlos Henrique Pinto da. A Irmandade da Misericórdia: disputas pelos
ritos fúnebres e urbanização em São Luís na segunda metade do século XIX. Revista
Outros Tempos. vol. 5, n. 6, dez. 2008 - Dossiê Religião e Religiosidade. p. 33-53.
SOARES, Mariza de Carvalho. Religiosidade e espaço urbano. In.____. Devotos da
cor: identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira. 2000. p. 131-161.
SOARES, Márcio de Sousa. A promessa da alforria e os alicerces da escravidão na
América portuguesa. In. GUEDES, Roberto. (Org.) Dinâmica Imperial no antigo
regime português. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011. p. 35-50.
SOUZA, Maria de Mello e. Reis negros no Brasil escravista: história da festa de
Coroação de Rei Congo. Belo Horizonte: UFMG. 2006.
THOMPSON, E.P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
THORNTON, John. A África e os africanos na formação do mundo atlântico (1400-
1800). Trad. de Marisa Rocha Mota. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
YOUNG, Robert. Desejo Colonial: hibridismo em teoria, cultura e raça. São Paulo:
Perspectiva, 2005.
63