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Fisiologia

Profa. Celena de Souza e Aline Sampaio


Sumário
12/08/2021 - Meio Interno e Homeostasia 4
Estudo da Fisiologia 4
Importância da Fisiologia para os psicólogos 4
Propriedades Emergentes 4
Metáfora das células com sociedade 4
LEC (Líquido Extracelular) - O Meio Interno das Células 4
LIC (Líquido Intracelular) 4
Sistema Circulatório - como se dá a distribuição de nutrientes pelo nosso corpo 5
Contato entre os líquidos plasma, intersticial e intracelular 5
Membrana plasmática (celular) e sua permeabilidade seletiva 5
Endotélio - a membrana do capilar / Fenestra - espaços do endotélio 6
Principais substâncias existentes dentro do plasma, intersticial e intracelular 6
Pergunta - Se não há proteína no interstício, como que a proteína passa do plasma para dentro da
célula? 6
Homeostasia 7
Valor Osmótico 7
Exemplo - Comida muito salgada 7
Quais moléculas conferem valor osmótico pro meu organismo? 8
Água no meu organismo 8
Constituintes importantes e características físicas do fluido extracelular 8
Homeostasia 9
Receptores sensoriais e a transdução - Percebendo o desequilíbrio e traduzindo para uma linguagem
que o sistema nervoso entenda 9
Classificação dos receptores segundo a natureza do estímulo 10
Mecanorreceptor 10
Nociceptor (Nocirreceptor) 10
Termorreceptor 10
Quimiorreceptor 10
Fotorreceptor 10
Os 5 Sentidos 10
Sistema de controle homeostático 10
Feedback Negativo 11
Feedback Positivo 11

19/08/2021 - Bioeletrogênese e Potencial de Ação 13


Substâncias e suas diferentes concentrações dentro e fora da célula 13
Funções da Membrana Plasmática 13
Constituição da Membrana Plasmática 13
Permeabilidade da Membrana Fosfolipídica sem Proteínas: A Importância da Proteína 15
Membranas Biológicas 15
Difusão Simples: Proteínas Transportadoras do tipo Canais de Vazamento 16
Entendendo a Permeabilidade Seletiva - Mais ou Menos Canais de Vazamento 16
As substâncias que fazem Difusão Simples sem mediação de um canal de vazamento: substâncias
que entram e saem da célula através da membrana lipídica 17
Difusão Facilitada - Proteínas Transportadoras Carreadoras 18
Proteínas Receptoras 18
Água: Mecanismos de Transporte - Osmose 20
Resumo: Mecanismos de Transporte / Transportes Ativos 21
1. Transporte Passivo 21
1.1. Difusão 21
1.2. Osmose (solvente - água) 21
2. Transporte Ativo 21
2.1. Bomba de Sódio e Potássio 21
2.2. Endocitose e Exocitose de Substâncias 22
Potencial de Ação e Potencial de Repouso 23
Potencial de Membrana ou de Repouso 23
Quantificação do Potencial da Membrana 24
Potencial de Repouso - Por que a célula é negativa? 24
Como é mantido o Potencial de Membrana? 25
Excitabilidade Celular 26
Tipos de Neurônios existentes no Sistema Nervoso 26
Os Sinais Elétricos do Sistema Nervoso 27
Resumo: Classificação baseada nas Conexões Neuronais 29
Os 3 Componentes do Sistema Nervoso Periférico: Nervos, Gânglios e Terminações Nervosas 30
Canais Comporta dependentes de Estímulo: O Potencial de Ação 30
Transmissão do Potencial de Ação 33
Potássio e Sódio fora da faixa de normalidade no nosso corpo 36
Cada um tem um limiar diferente 36

09/09/2021 - Sinapse Neuronal 38


Sinapse: Comunicação Celular 38
Sinapse Elétrica 38
Sinapses Químicas Neuronais: Processadoras de Sinais 39
Tipos de Sinapses Químicas 41
Tipos de Sinapse Elétricas e Químicas 41
Elemento Pré-Sináptico e Pós-Sináptico é um Conceito Dinâmico 42
Neurotransmissores de Alto e Baixo Peso Molecular (baixo e alto PM) 42
Exemplos Principais de Neurotransmissores de Alto e Baixo PM 43
Complexo SNARE: Como ocorre a sinapse? 44
Potencial Pós-Sináptico Excitatório (PPSE): O que ocorre no pós-sináptico? 44
Potencial Pós-Sináptico Inibitório (PPSI) 46
Receptor Metabotrópico: O 2º Mensageiro 47
Exemplos de Neurotransmissores que estão ligados a Canais Ionotrópicos 49
Exemplos de Neurotransmissores que se ligam a Receptores Metabotrópicos 49
12/08/2021 - Meio Interno e Homeostasia

Estudo da Fisiologia
Funcionamento normal do meu corpo, como deveria ser esse funcionamento se não houvesse problemas.

Importância da Fisiologia para os psicólogos


Saber identificar quando algo físico afeta o emocional e saber encaminhar o paciente, e assim fazer um
trabalho interdisciplinar mais efetivo e integrado.

Propriedades Emergentes
Só conseguimos entender o nosso organismo como um todo, não fracionando suas partes. É a relação de
suas estruturas que o faz ser o que é. Nosso corpo resulta de relações complexas não lineares entre os
diferentes componentes do corpo. Além disso, é importante integrar a forma (anatomia) à função
(fisiologia).

Metáfora das células com sociedade


As células são como vários indivíduos em sociedade, cada uma tem uma função (um papel), o momento
certo de atuar, de que maneira vai atuar, e quando ela não cumpre seu papel quando é preciso, toda a
sociedade sofre, porque as pessoas (células) dependem do trabalho umas das outras para o perfeito
funcionamento da sociedade (corpo).

LEC (Líquido Extracelular) - O Meio Interno das Células


É como se as células fossem o macarrão de uma sopa, e o caldo é o ambiente delas, o meio interno, que
é o líquido existente entre as células, que banha as células.
- Plasma: é o LEC dos vasos sanguíneos.
- Intersticial: é o LEC geral, fora dos vasos sanguíneos.

LIC (Líquido Intracelular)


Líquido existente dentro das células, que banham as substâncias que estão dentro das células.
Sistema Circulatório - como se dá a distribuição de nutrientes pelo nosso corpo
Ocorrem ramificações: aorta (artéria de grande calibre que sai do coração) > artérias (de médio calibre) >
artérias (de pequeno calibre) > arteríolas > capilares (que passa ao lado das células, trocando nutrientes
com elas).

Contato entre os líquidos plasma, intersticial e intracelular


É como se fosse um trem de carga, a partir lá que sai da aorta, e se ramifica até se tornar um capilar. O
trem (capilar - LEC plasma) só para nas certas estações. Parando lá, ele joga o produto pra fora no chão
(intersticial) e vem alguém (célula) e guarda no armazém (intracelular).

Membrana plasmática (celular) e sua permeabilidade seletiva


Revestimento das nossas células que as isolam, protegem e as delimitam. Não é tudo que, saindo do
plasma e caindo no interstício, que a célula deixa passar: tem um negócio chamado permeabilidade
seletiva - algumas coisas penetram e outras não, depende das características da substância que vai
entrar. A membrana é formada por uma dupla camada de lipídio e um monte de proteína incrustada na sua
superfície, além de ter outras coisas como carboidrato. Essas proteínas que estão na membrana
plasmática da célula e os lipídeos é o que vão acabar determinando o que a célula deixa entrar ou sair.
Endotélio - a membrana do capilar / Fenestra - espaços do endotélio
A membrana dos meus capilares NÃO É CONTÍNUA igual a membrana plasmática (da célula), ela tem
espaços. A maioria das membranas dos capilares são assim (quando for diferente será avisado). Esses
espaços são chamados de fenestra. Então é como se fosse fácil passar do plasma para o interstício, por
causa desses espaçozinhos. Mas do interstício para a célula é mais difícil por causa da membrana
plasmática.

Principais substâncias existentes dentro do plasma, intersticial e intracelular


- Dentro da minha célula (que está solto no líquido intracelular): há uma série de substâncias,
como os íons (compostos inorgânicos), que são: muito Potássio (K+), só um pouquinho de Sódio
(Na+), muito Fosfato -, muita proteína - livre, só um pouquinho de Cálcio (Ca2+). Tenho bastante
Cálcio porém elas não contam pois estão presas dentro das organelas, na somatória não conta,
pois não está solto no citoplasma da célula. Tem mais coisa na célula, mas isso é o mais
importante.
- Interstício: muito cloreto (Cl-), muito cálcio (Ca2+). Não tenho proteínas.
- Plasma: igual ao interstício, porém com proteínas.

Pergunta - Se não há proteína no interstício, como que a proteína passa do plasma para dentro
da célula?
Boa parte das proteínas no sistema digestório são quebradas em aminoácidos, que é uma molécula
pequenininha. A proteína é uma molécula enorme, não consegue passar pela fenestra. O que passa pelo
espacinho da fenestra e da membrana celular são os aminoácidos, e a célula os usa como matéria-prima
para construir ou reconstruir suas próprias proteínas. Então a proteína não passa, a própria célula constrói
pegando matéria-prima que vêm do plasma. Depende da minha alimentação.
Homeostasia
As nossas células não aceitam muitas mudanças da constituição do meu plasma e do meu líquido
intersticial, que compõem o meio interno, tem que ter os seus constituintes que não mudem muito. Se eles
alterarem muito, a célula pode sofrer. Então as minhas células são dependentes da constância do meu
meio interno para trabalhar direito. Lembrando também que os 3 líquidos estão em contato.

Valor Osmótico
Cada substância tem um valor. A soma do que está no plasma tem que ter a mesma soma do que está no
interstício que tem que ter a mesma soma do que está dentro da célula. Não importa a quantidade, e sim o
valor, o resultado, a soma do “peso” (valor osmótico) de cada uma delas. Esse valor pode variar no nosso
organismo de 280 a 300 mOsm (milésima parte de um Osm). Se isso ocorrer, o meu meio interno está em
equilíbrio, está tudo bem com o meu balanço orgânico.

Exemplo - Comida muito salgada


Imagine que você comeu uma comida com muito sal. Por isso, aumentou a quantidade de Na+ no plasma
e no intersticial, mas, nesse caso, não dentro da célula, pois a membrana plasmática barrou, porque a
célula não precisa/aceita mais Na+. A célula é sempre a que dificulta esse processo por causa da proteção
que faz a membrana plasmática, com a permeabilidade seletiva. Então por causa dessa alta ingestão de
sal, a minha osmolaridade subiu. Alguém no meu organismo percebe que meu valor está aumentando e
que vou perder o meu equilíbrio. Para consertar isso, o organismo poderia tirar água (líquido) de dentro da
célula (que é onde tem mais água em comparação ao plasma e interstício) e jogar no interstício,
concentrando o sal dentro da célula e diluindo no interstício e plasma, e assim equilibrando. Só que se isso
acontecer, a minha célula vai ficar com uma quantidade de água menor, e isso é muito ruim, porque todas
as minhas reações orgânicas acontecem no meio líquido. Se minha célula desidratar, é ruim. É um
caminho que pode acontecer, mas não é muito inteligente. O caminho bom e que geralmente acontece
(para não ocorrer uma desidratação celular) é o seguinte: o meu organismo percebe que o valor osmótico
está aumentando e que eu vou perder o equilíbrio e faz eu sentir sede. Quando o sal passa por
determinada região do meu organismo, terá lá um receptor que percebe que o sal subiu, e ele ativa minha
sensação de sede, e então eu bebo água. Essa água vai até o plasma/interstício/célula e dilui isso, faz
voltar a uma normalidade. Esse excesso de água e sal, essa dissolução, são eliminados pela urina.
Resolvido! O sal dissolvido não conta no valor osmótico. Depois dos 40 anos, o nosso rim perde 1% de
função ao ano até o resto da vida (isso sem considerar nenhum outro problema renal). Os rins dos mais
velhos não eliminam água e sal com a mesma eficiência que os jovens. Então se eu ingerir muito sal e
água e o meu rim não jogar isso fora, eu vou aumentar minha pressão, porque água dentro de vaso
sanguíneo eleva a pressão arterial. E se eu abusar muito do meu rim a vida inteira, claro que a perda de
função também será maior. Pode acontecer também de você não ingerir muito sal e ingerir muita água, ter
rins que não funcionam direito, e ter a pressão arterial alta. Nesse caso, o rim concentra a sua urina
fazendo você urinar cada vez menos, e vai ser tirada água de dentro da sua célula, desidratando-as, e a
água vai pro plasma e a sua pressão arterial sobe.
Esse processo também acontece com carnes e saladas. Quando você salga demais, ela acaba ficando
murcha (salada) ou dura (carne), sem água, justamente para equilibrar os meios, e assim as células ficam
desidratadas.

Quais moléculas conferem valor osmótico pro meu organismo?


Todos os carboidratos (açúcares), todas as proteínas e ácidos nucleicos. Lipídio NÃO, não confere valor
osmótico pra nada. Todos os sais minerais conferem. Por isso que a gente armazena lipídio, porque se a
gente armazenar proteína ou carboidrato a água ia junto, daí ia precisar de muito espaço. O lipídio vira
gordura e fica armazenado. Então tudo que eu como a mais e que não é usado, ele vira gordura (lipídio)
no meu organismo e é armazenado para não interferir nesse valor osmótico. Por exemplo, se eu comer
uma proteína ou carboidrato a mais, uma parte dela vira gordura e é armazenada. Resumindo, o que eu
não usar vira gordura, para não interferir nesse valor osmótico. Só lipídio que não interfere, e é por isso
que a gente o armazena, na barriga, na cintura, na coxa, quadril, mamas etc., no corpo todo.

Água no meu organismo


60% é água. Ela é dividida em:

Constituintes importantes e características físicas do fluido extracelular


A tabela mostra os principais constituintes do plasma e os valores de normalidade (o valor perfeito ideal) e
as faixas de normalidade. Vamos trabalhar bastante com o sódio (Na+), potássio (K+) e glicose (C₆H₁₂O₆),
que provavelmente vamos acabar guardando os valores deles.
Homeostasia
É o organismo manter-se estável, em equilíbrio dinâmico. Não é só o equilíbrio osmótico, é o equilíbrio
geral do corpo - como também o equilíbrio térmico. É o equilíbrio do meio interno. Seria muito fácil ficar
equilibrado se não fossemos um organismo aberto, mas trocamos várias informações com o meio, como
energia, informação (algo que nos assusta afeta todo nosso corpo, por exemplo) e matéria, que podem
quebrar meu equilíbrio.

Receptores sensoriais e a transdução - Percebendo o desequilíbrio e traduzindo


para uma linguagem que o sistema nervoso entenda
Em um sistema aberto, o balanço de massa requer uma entrada igual à saída. Para manter o nível
constante a saída deve ser igual a entrada. Por isso, para manter o corpo equilibrado, o corpo criou os
receptores sensoriais para perceberem que uma variável está saindo do equilíbrio. Esses receptores
realizam a transdução - transformam estímulos (um tipo de energia) numa linguagem que o sistema
nervoso entende para tomar providências. Por exemplo, a sede - receptor sensorial percebeu o excesso
de sódio no sangue e estimulou um neurônio, transformando numa informação que o sistema nervoso
entende, que é a sede. Receptores sensoriais, que realizam essa transdução, podem ser neurônios
(alguns tipos específicos) e células especiais, como o bastonete e o cone, que ficam na retina. Eles
transformam informação luminosa numa linguagem que faz o sistema nervoso entender forma, cor,
movimento etc.

Classificação dos receptores segundo a natureza do estímulo


1. Mecanorreceptor
Detectam informação mecânica, que causa uma mudança de forma, uma deformação, que ocorre, por
exemplo, sempre que nos movemos. Informações de tato, pressão, vibração, propriocepção (organismo
tem percepção corporal dele mesmo - a gente sabe, mesmo sem ver, quanto movemos a mão, o pé, etc.),
audição (que é o som batendo na minha orelha que faz vibrar).

2. Nociceptor (Nocirreceptor)
Quando eu tenho uma lesão, ou tomo um beliscão, por exemplo. Noci de nocivo.

3. Termorreceptor
Alterações de temperatura (calor e frio).

4. Quimiorreceptor
Alterações químicas - paladar (salgado, doce, azedo, amargo) e olfato (vários cheiros).
5. Fotorreceptor
Alterações luminosas - visão (cor, tamanho, distância, forma).
Para cada uma dessas coisas existe um receptor específico.

Os 5 Sentidos
Somestesia (tato, pressão, dor, temperatura, vibração, propriocepção), audição, paladar, olfato, visão. Não,
tato NÃO é um sentido, mas é uma das partes ou divisões da somestesia.

Sistema de controle homeostático

Um estímulo qualquer, como o sódio


(Na+), tem que ser percebido por
um quimiorreceptor (alteração de
sódio é alteração química), gerando
um sinal de entrada que vai chegar
numa área do sistema nervoso (um
centro integrador), vai fazer eu sentir
sede (que é o meu sinal de saída),
eu tomo água e corrijo o excesso de
sal. O meu organismo sempre vai
trabalhar desse jeito.

Feedback Negativo
Imagine a situação: estou sentado na areia da praia (40oC) e começa a subir minha temperatura (que
antes estava 36,5oC). O sol começa a esquentar meu corpo e minha temperatura começa a subir. Um
sensor percebe isso, um termorreceptor, manda essa informação, esse aviso de aumento da temperatura
para o sistema nervoso, para o centro integrador, que começa a gerar uma série de respostas para abaixar
minha temperatura, como o suor, a dilatação dos vasos sanguíneos (para eu perder calor para o meio,
tentar jogar calor para fora), a sede, moleza (porque abaixa o metabolismo). Todas essas coisas estão
acontecendo para tentar abaixar a temperatura e para ela voltar ao valor de normalidade (36,5oC).
Chamamos esse esquema de mecanismo de feedback negativo. Toda vez que a minha resposta é
contrária ao meu estímulo eu tenho um feedback negativo. Meu organismo trabalha com feedback
negativo para corrigir os meus problemas. 99% dos meus feedbacks são negativos. Se fosse o contrário -
estivesse frio e o corpo tivesse que aumentar a temperatura - eu iria tremer mais, comer mais para ganhar
energia etc. Isso também é feedback negativo, porque está indo contra o estímulo original.
Feedback Positivo
Tenho um estímulo, é percebido por um sensor, mas a resposta torna o estímulo mais forte ainda ou o
mantém. Um exemplo clássico é a amamentação. O bebê começa com a sucção (estímulo), que promove
uma deformação da mama, e um mecanorreceptor percebe isso, manda essa informação para um centro
de controle (hipotálamo e hipófise posterior, nesse caso), que produz um hormônio chamado ocitocina, que
estimula as células da mama a se contraírem e o leite sai, e com a contração da mama o bebe suga mais
ainda, retroalimentando esse ciclo. Além disso, a sucção do bebê também estimula mais produção de leite
pras próximas vezes. Outro exemplo de feedback positivo é o parto. Quando o feto começa a ficar
apertado, ele aperta a parede do útero, que se deforma. Um mecanorreceptor percebe isso, envio para o
centro integrador, o mesmo da amamentação, esse centro libera ocitocina, que cai no sangue e vai até o
útero, fazendo-o contrair, e retroalimentando esse circuito. Então quanto mais ele chuta a parede uterina,
mais ela contrai (cada vez mais forte), e mais o bebê vai chutar. Isso só vai terminar quando o bebê for
ejetado. Por isso que a mãe com parto normal amamenta primeiro, por causa da ocitocina, que no parto
normal (na hora do parto mesmo) já começa a ser produzida, o que facilita o leite a descer.
19/08/2021 - Bioeletrogênese e Potencial de Ação
Pré-Aula: Biomembranas e seus Mecanismos de Transporte

Substâncias e suas diferentes concentrações dentro e fora da célula


Aqui nós temos uma célula, contornada por uma
membrana plasmática (em vermelho), com seu meio
líquido (citoplasma - em branco) e o seu núcleo
(círculo vermelho). No citoplasma, temos o líquido
intracelular (LIC), que tem uma quantidade de
substâncias dissolvidas aí.
Separado do LIC intracelular, temos o líquido
extracelular (o líquido intersticial), que banha essas
células e o plasma.
Como vimos anteriormente, temos fora da célula, no
líquido extracelular, uma grande quantidade de sódio
(Na+) (142 mEq/L), enquanto dentro da célula existe
uma quantidade de sódio bem pequena (10 mEq/L).
Potássio (K+) tem só um pouquinho fora da célula. E
assim, sucessivamente, diferentes substâncias
aparecem em concentrações diferentes, fora e dentro
da célula.
A glicose dentro da célula vai ser transformada em
energia ou gordura (nesse caso é depositada num
tecido adiposo).

Funções da Membrana Plasmática


Essa membrana plasmática (em vermelho) tem diferentes funções. Uma delas vamos trabalhar bastante e
é o que veremos a seguir.
● Isola o meio interno (LEC - intersticial e plasma) do LIC;
● Regular as trocas com o meio interno. Ela é quem vai permitir que algumas coisas consigam entrar e sair
da célula, e é por isso que dizemos que nossa membrana plasmática tem permeabilidade seletiva.
● Determina uma comunicação entre o LIC e LEC, ou seja, em função de atividades que podem acontecer
na membrana (ainda fora da célula), podem alterar a atividade celular.
● Suporte estrutural - ajudam a manter a forma da célula. Cada célula tem um formato em função das
características da sua membrana.

Constituição da Membrana Plasmática


Do ponto de vista químico, essa membrana é formada por lipídios (os cotonetes em laranja) e por
diferentes tipos de proteínas. Eu tenho incrustado na minha membrana plasmática diferentes tipos de
proteínas. Essas verdes (estes túneis), da esquerda, se prestam a transporte; essas do meio (azuis com
minhoca amarelo e vermelha), que são proteínas estruturais; proteínas que se prestam a receber
substâncias (a de pau azul e bola vermelha); proteínas que podem ser enzimas (ponta da direita). Na
membrana existem diferentes tipos de proteínas.
Uma membrana plasmática é fundamentalmente composta, de qualquer célula do meu corpo, por lipídeos
e proteínas, que separam o LIC do LEC.
Na representação de baixo, eu tenho novamente a representação do LIC (azul clarinho) e do LEC (azul
escuro, banhando os 2 lados da célula). Pra vermos novamente que a constituição intra e extracelular é
diferente. Por exemplo, fora da célula há pouco potássio (K+), muito sódio (Na+) e cálcio (Ca+) e Cloreto
(Cl--), bem pouquinho de magnésio (Mg + +). Dentro da célula (no LIC), muito potássio, pouco sódio e
cálcio e cloreto, mais magnésio que no LEC e também temos os ânions (os - dentro da célula, ou seja,
dentro do LIC), que são proteínas que têm carga elétrica negativa, e que estão presentes dentro da célula
mas não presentes no líquido intersticial (LEC - no caso está representando só o intersticial). As minhas
células e o meu meio interno são carregados, podendo ter mais negatividade ou positividade. O potássio é
o íon com carga elétrica positiva, o sódio também, o cálcio também, o cloreto tem carga elétrica negativa.
É isso que significa os sinais de + ou - à frente desses diferentes íons orgânicos. As proteínas têm carga
elétrica negativa e por isso elas são chamadas de proteínas aniônicas.
Lembra que eu falei que se eu somar tudo que eu tenho no LIC (azul clarinho) vou chegar a um valor
osmótico que tem que dar o mesmo da soma do que eu tenho no LIC (azul escuro). A célula tem que estar
equilibrada. Embora a quantidade das substâncias não sejam as mesmas, e nem as substâncias o sejam.
Uma outra característica de todas as regiões do meu organismo é que o meio interno das nossas
células tem mais substâncias carregadas negativamente do que positivamente, enquanto o meio
externo tem mais substâncias carregadas positivamente do que negativamente. Dizemos que o
interior das nossas células são negativas se comparados ao exterior que são positivos. Essa eletricidade
que nossas células têm por conta das cargas elétricas dos diferentes íons é medida em mV (milivolt). Por
exemplo, a célula da figura (azul claro) tem -80 mV, ou seja, essa célula é 80 vezes mais negativa que
dentro, se comparada ao seu líquido extracelular. Cargas elétricas opostas se atraem, então essas cargas
elétricas acabam se acumulando em torno da membrana, pois positivo e negativo vão se atrair. Voltaremos
a essa discussão posteriormente com mais cuidado. Por hora, devemos entender que a membrana das
minhas células têm essas características, que elas separam o LEC do LIC e que o LEC e o LIC,
embora possuam a mesma osmolaridade, possuem substâncias diferentes, e que no meio interno
da célula eu tenho mais substâncias carregadas negativamente e no meio externo da célula mais
substâncias carregadas positivamente (no líquido extracelular, que compõe o meu meio interno).
Permeabilidade da Membrana Fosfolipídica sem Proteínas: A Importância da
Proteína
Vamos imaginar que as nossas células não tivessem proteína na membrana plasmática, que elas só
tivessem lipídio (isso não acontece, é só um exercício de imaginação). Se as minhas células só tivessem
lipídios, só conseguiriam entrar pra dentro da célula ou dela sair substâncias que se dissolvessem
(diluíssem) em lipídio. E todo mundo aqui que já lavou uma panela engordurada sabe o quanto é difícil que
as coisas se dissolvam no lipídio. O lipídio não é uma molécula que tem solubilidade. Então, se as minhas
membranas das células de todo meu corpo fossem apenas de lipídio eu não conseguiria colocar pra dentro
da célula glicose, que é super importante para a energia; aminoácidos, que são a matéria prima para eu
sintetizar proteína (não vivemos sem proteína intracelular); não conseguiria colocar pra dentro da célula
nenhum íon carregado (nem cálcio, nem sódio, nem cloreto, nada ia conseguir entrar!). Só iam conseguir
penetrar nas células os gases, como oxigênio (O2), gás carbônico (CO2), etanol (álcool, que se dilui em
lipídio consegue entrar em qualquer célula do organismo), os anéis benzênicos (substâncias, por exemplo,
a base de colesterol, nossos hormônios formados a partir do colesterol como estrogênio e progesterona, a
testosterona) - esses, por conta das suas características bioquímicas conseguiriam penetrar, pois eles são
formados a partir do colesterol e têm anel benzênico na sua estrutura. A água (H20), essencial para
nossas células, entraria numa quantidade extremamente pequena (iremos entender posteriormente como
e por onde, mas no geral eu também não conseguiria colocar água para dentro da célula).
Tudo isso para entender a importância da membrana celular não ter apenas lipídios, dela ter também
proteínas incrustadas na sua estrutura.

Membranas Biológicas
Temos aqui novamente uma célula. Temos a membrana plasmática dela (em vermelho escuro -
envolvendo-a), o núcleo (que marca o material genético - DNA e RNA), algumas organelas específicas,
como lisossomo (digestão intracelular). E eu tenho na membrana dela, além de lipídio (tudo que está em
cor de rosa mais escuro), tenho inúmeros tipos de proteínas incrustadas, e por causa dessas proteínas
algumas substâncias vão conseguir entrar e sair da célula. Quais moléculas conseguem entrar e sair da
célula a partir dessas proteínas de membrana?
- Gases, como O2 e CO2 (conseguiriam entrar e sair através da membrana lipídica).
- Um pouquinho só de água (H20) [logo entenderemos como, porque a água não se dilui em lipídio,
não é fácil ela atravessar nessa dupla membrana lipídica].
Há também uma proteína (que parece uma fatia de pão azul com uma bola no topo) que recebe uma
substância e que, depois de recebê-la, ela muda a atividade celular. Veremos isso mais pra frente e
entenderemos como.

Todas as reações químicas que respondem pela minha vida acontecem em condições estáveis
(homeostase = constância do meio interno) e restritas. E as membranas, as biomembranas, das
quais a membrana plasmática (que é uma membrana biológica) ajuda a manter a homeostasia das
minhas células e dos órgãos, que são chamados organelas, que as minhas células têm.

Difusão Simples: Proteínas Transportadoras do tipo Canais de Vazamento


Para eu ter transporte de diferentes substâncias através das minhas células, eu preciso que as
substâncias ou sejam lipossolúveis (se diluam em lipídios). Já foi mostrado que pouquíssimas substâncias
são lipossolúveis. O que eu faço para transportar o resto? As outras substâncias que precisam entrar e
sair da célula e que não são lipossolúveis. Um dos jeitos é através da chamada Difusão Simples,
mediada por proteína. Essas proteínas são chamadas Transportadoras do tipo Canais de Vazamento,
alguns autores a chamam de Permeases.
As proteínas que são canais de vazamento são esses túneis ou funis verdes (da frente). Essas proteínas
ficam incrustadas na membrana e por conta da sua morfologia (forma), elas formam um canal por onde
substâncias podem entrar ou sair da célula. Só que esses canais de vazamento são absolutamente
específicos. Eu tenho canais de vazamento para o sódio, nesse canal só passa sódio. Eu tenho canais de
vazamento para o potássio, nesses canais só passa potássio. Para cada íon que vai penetrar na minha
célula ou sair da minha célula, eu preciso de um canal de vazamento para ele. Os meus íons não são
lipossolúveis, como vimos anteriormente. Pros meus íons como sódio, potássio, cálcio, cloreto, conseguir
entrar e sair da célula eles precisam de um canal de vazamento específico para eles, senão eles não
conseguem fazer esse percurso de ir e vir para dentro das minhas células.

Entendendo a Permeabilidade Seletiva - Mais ou Menos Canais de Vazamento


Essa imagem é o corpo celular de um neurônio, a membrana plasmática que o reveste, e estou mostrando
que na membrana plasmática deste neurônio tem alguns poucos canais de vazamento para o sódio (Na+)
e muitos canais de vazamento pro potássio (K+). Isso significa que, como dentro da célula tem muito
potássio e fora tem pouco, o potássio tende a fugir da célula e ele consegue fazer isso por esses canais de
vazamento. Fora da célula tem muito sódio, dentro da célula tem bem pouquinho. O sódio consegue entrar
na célula por esses canais de vazamento específicos para ele (canais vermelhos, na imagem). Só que,
olhando para a imagem, eu posso dizer com certeza que a membrana das minhas células, todas do
corpo (mas como exemplo deste neurônio), tem mais permeabilidade ao potássio (K+) do que ao
sódio (Na+), pois tem muito mais canais de vazamento pro potássio do que pro sódio.
As substâncias iônicas carregadas (positiva ou negativamente) conseguem entrar e sair da célula por
difusão simples mediada por proteína, que são canais de vazamento. A quantidade de canais de
vazamento que eu tenho numa célula para uma determinada substância vai me dizer se ela é mais
permeável ou menos permeável àquela célula.

Existem canais de vazamento para muitos íons - canais proteicos. Os canais de vazamento são utilizados
para difusão simples de substâncias que são insolúveis em lipídios. Por exemplo, os íons sódio (Na+),
potássio (K+), cloreto (Cl-), Cálcio (Ca + +). Esses canais são seletivos - cada canal passa apenas um íon
específico.

As substâncias que fazem Difusão Simples sem mediação de um canal de


vazamento: substâncias que entram e saem da célula através da membrana
lipídica
- Gases: Oxigênio, dióxido de carbono
- Ácidos graxos e hormônios esteróides (testosterona, progesterona, estrógeno - vêm do colesterol)
Difusão Facilitada - Proteínas Transportadoras Carreadoras
É um outro tipo de transporte, de difusão: difusão facilitada. Nela, também temos uma proteína de
membrana, mas ela não é um canal de vazamento. Ela pega a substância a ser transportada do lado em
que a concentração dela está maior, muda sua configuração, e essa substância passa para a região onde
a concentração dela é menor. Por exemplo, é o modo usado para transportar glicose. A glicose encontra
para ela uma proteína transportadora, ou carreadora específica, que a reconhece, essa proteína se abre e
permite a passagem da glicose, do LEC pro LIC, onde ela será usada.

Moléculas grandes, como a glicose, geralmente usam esse método. Por serem muito grandes, um canal
de vazamento não é o suficiente, haveria um rombo na membrana para essas grandes moléculas
conseguirem passar. Então a natureza, sábia, criou essas proteínas carreadoras. Elas são absolutamente
específicas. Elas reconhecem a substância, a captam de um lado e a levam para outro lado da célula.
Podem fazer o transporte de dentro para fora ou de fora para dentro.

Proteínas Receptoras
Não fazem transporte. Não fazem difusão nem simples nem facilitada. Elas reconhecem uma substância
que meu organismo produz que se liga a ela, e no momento que essa substância se liga a ela, ela ativa
uma cascata de eventos dentro da célula que fazem a célula produzir alguma coisa que ela não produzia
antes. Por exemplo, no exemplo abaixo, a insulina se uniu a um receptor de insulina (proteína receptora de
membrana). Uma grande cascata de eventos foi desencadeada e terminou fazendo com que essa célula
produzisse uma proteína carreadora de glicose que foi incorporada à membrana.
Estamos falando dessas proteínas receptoras agora porque quando formos falar de sinapse um pouco
mais a frente veremos que nossos mecanismos sinápticos acontecem nas sinapses químicas por conta de
proteínas receptoras, proteínas que reconhecem substâncias químicas específicas e essas substâncias
não entram na célula, apenas se ligam a esta célula no esquema chave-fechadura (a chave é a insulina e
a fechadura é a proteína receptora), fazendo com que essa célula passe a trabalhar de um jeito que ela
não trabalhava antes. Vamos voltar a esse assunto um pouco mais a frente. Mas é importante saber que
essas proteínas existem.

Nesta imagem, vemos que a glicose precisa de uma proteína que a transporte, que chamamos de Glut4, a
proteína que transporta, que faz difusão facilitada de glicose. A gente tem 6 tipos de Glut já conhecidos.
Um deles é chamado Glut4, que é o que está presente nos meus músculos, tecido adiposo, e é através
dele que o açúcar consegue sair do líquido extracelular e entrar para dentro da célula. Só que para ele ser
formado eu preciso da insulina. A insulina é uma molécula enorme, é uma proteína, é uma molécula
formada por muitos aminoácidos. Se um aminoácido sozinho já precisa de uma proteína como a glicose
precisa para entrar na célula, a insulina não consegue penetrar nas nossas células. Como que ela atua
então? Ela se liga a um receptor específico para ela, que é uma proteína da membrana das minhas
células, específica para insulina (só reconhecem insulina), e na hora que ela se liga aqui, minha célula
desencadeia uma cascata de eventos intracelulares enorme, N enzimas participam disso (não precisamos
conhecer essa cascata toda, se fosse medicina essa cascata seria toda detalhada), consegue produzir um
transportador de glicose que incorpora na membrana para que a glicose consiga entrar. Então a maioria
das células do meu corpo precisa da insulina para colocar a glicose para dentro, porque é a insulina que
determina a produção dessa proteína transportadora de glicose. Daí o problema do indivíduo que tem
diabetes, que vai ter dificuldade desde a proteína reconhecer a insulina (se for diabetes tipo 2), ou vai ter
dificuldade de produzir a insulina (se for diabetes tipo 1). Uma coisa que é legal saber é que os meus
neurônios não precisam da insulina para produzir transportador de glicose. O Glut dos meus neurônios é
de um outro tipo, e os neurônios sabem produzir transportador de glicose sem precisar da insulina. Então
os indivíduos que têm diabetes não tem problema quanto a captar glicose pelos neurônios. Eles não vão
sofrer falta de açúcar no sistema nervoso mesmo sendo diabético, porque o neurônio só gosta de açúcar
como fonte de energia. Se não fosse assim, o diabético ia morrer, porque o neurônio dele não ia conseguir
captar energia de nenhuma outra molécula do organismo, mas a natureza inteligente fez com que os meus
neurônios consigam produzir carreadores de glicose (açúcar) sem precisar da insulina. Aliás, pro diabético
o que faz mal é o excesso de açúcar, porque os neurônios podem acabar captando uma quantidade maior
do que eles precisam, uma vez que eles não precisam da insulina para carregar glicose para dentro da
célula. Mas os neurônios ainda precisam da insulina - a insulina no sistema nervoso é um fator de
crescimento neuronal, de manutenção do neurônio, chamamos de fator trófico (é um fator de crescimento).
Alguns autores entendem que indivíduos diabéticos não tratados podem ter problemas neuronais
importantes, inclusive o próprio Alzheimer, pela falta que a insulina vai fazer no sistema nervoso. Não para
o açúcar, mas para esse outro efeito que a insulina tem lá nos neurônios.
Uma metáfora que podemos fazer da imagem (da insulina que atua como ativador da produção da
proteína carreadora para transportar glicose) é um seguinte: é como se você não conseguisse entrar na
minha casa, mas você tivesse a chave da porta mas você não conseguisse entrar, não passasse pela
porta, mas você fica lá fora com a porta aberta gritando “olha, fulano, faça isso, beltrano, faça aquilo”,
dando as ordens, e as coisas funcionam aqui dentro mesmo sem você entrar.

Água: Mecanismos de Transporte - Osmose


A água entra na célula em pequena quantidade atravessando uma membrana lipossolúvel (diluível em
lipídios) [imagem acima] ou através de uma proteína transportadora do tipo canal de vazamento (abaixo a
esquerda). Além disso, a água tem canais específicos para ela chamados de aquaporina (forma mais
importante - abaixo à direita).

A água também é um mecanismo de transporte passivo - não gasta energia para acontecer. Para a água
entrar para dentro do meu organismo, eu preciso de um canal de vazamento, para entrar dentro das
minhas células. Esse canal de vazamento para a água é chamado de aquaporina. É também específico -
só deixa passar água. No entanto, a água é danada. Ela é super importante, ela vai para o meu líquido
intracelular (40% da minha água corporal está dentro das células, lembram?). Ela pode entrar junto com o
sódio, com a glicose, com aminoácido, potássio, então naqueles canais de vazamento ou nas proteínas
carreadoras para substâncias osmoticamente ativas a água pode entrar junto também. Quando é a
substância que está “caminhando”, estamos falando em difusão simples ou facilitada, quando é a água
(solvente) que está caminhando, falamos em osmose.
Resumo: Mecanismos de Transporte / Transportes Ativos
1. Transporte Passivo
Ocorre sem gasto de energia externa (ATP) ao sistema e a favor do gradiente eletroquímico, ou seja, do
positivo para o negativo, ou a favor de um gradiente de concentração, ou seja, da onde tem mais para
onde tem menos. O transporte passivo ocorre sempre para equilibrar as forças do soluto, da substância,
para igualar sódio, potássio etc.
1.1. Difusão
Transporte de moléculas ou íons (soluto).
a) Simples (substância / soluto / sólido): quando a substância é lipossolúvel, atravessando em
qualquer ponto da membrana, ou quando tem canais de vazamento, daí é uma difusão
simples mediada por proteína.
b) Facilitada (substância / soluto / sólido): quando tem para ela proteínas carreadoras.

Tanto a simples quanto a facilitada são substâncias, íons, indo da onde tem mais para onde tem menos.
Na difusão simples, eu tenho moléculas pequenas que ou atravessam a membrana lipídica porque são
lipossolúveis ou têm canais de vazamento, e a difusão facilitada precisa obrigatoriamente de uma proteína
carreadora e é para moléculas maiores como glicose, aminoácidos, que precise de alguém que o carregue
para dentro da célula.

1.2. Osmose (solvente - água)


Passagem de solvente (água).

2. Transporte Ativo
Há o gasto de energia (na forma de ATP - a moeda energética do meu organismo, tudo que eu como que
não é armazenado, mas que eu vou usar como fonte de energia vai virar ATP) e ocorre contra um
gradiente de concentração, isto é, as substâncias serão deslocadas de onde estão pouco concentradas
para onde sua concentração já é alta. Há gasto de energia pois vai contra as forças de concentração. O
principal tipo de transporte ativo é a bomba de sódio e potássio.

2.1. Bomba de Sódio e Potássio


Temos uma grande quantidade de sódio no nosso líquido extracelular. No nosso líquido intracelular temos
uma grande quantidade de potássio. Os pontos azuis são potássio (estão em grande quantidade dentro da
célula) e os vermelhos são todos sódio (estão em grande quantidade fora da célula). E na membrana da
minha célula eu tenho uma proteína transportadora carreadora, como na difusão facilitada, só que agora
ela vai contra o gradiente - ele vai contra a corrente, da onde tem pouco sódio para onde tem muito e da
onde tem pouco potássio para onde tem muito, por isso há gasto de energia (ATP). Essa proteína tem 2
locais, que chamamos de 2 sítios ativos: um lugar onde o sódio (Na+) pode se ligar e um lugar onde o
potássio (K+) pode se ligar. Então há bastante sódio fora da célula e ele quer entrar na célula. Ele não
entra muito pois tem poucos canais de vazamento para ele, mas um pouquinho entra. O que o potássio
(azul) quer fazer: fugir da célula. Tem canal de vazamento pra ele e ele foge. Então devagarinho o sódio
(Na+) entra e o potássio (K+) sai, mas isso não pode acontecer porque eu tenho que manter a célula em
equilíbrio, e ela estar em equilíbrio é ter muito sódio (Na+) fora e muito potássio (K+) dentro. Por isso a
natureza criou a bomba de sódio e potássio. Ela pega 2 potássios (K+) que escaparam, que se ligam no
sítio ativo pro potássio, pega 3 sódios (Na+) que conseguiram entrar, que se ligam no sítio ativo pro sódio,
e gastando energia ela bombeia o sódio de volta para fora e o potássio lá pra dentro. Ela pega 3 sódios
que conseguiram entrar, 2 potássios que conseguiram sair e ela gira, devolvendo os sódios para fora e os
potássios para dentro. Para fazer isso ela gasta energia. O sódio tende a entrar por difusão e o potássio
tende a sair por difusão, mas para compensar essa tendência do sódio de entrar e do potássio de sair
temos a bomba, que pega o sódio que entrou e joga pra fora e o potássio que saiu e joga pra dentro. 3
sódios (Na+) pra fora e 2 potássios (K+) pra dentro.
Temos mais permeabilidade ao potássio (K+) porque temos muito mais canais de vazamento pra ele. Isso
vale para todas as células do meu corpo. Então é muito mais fácil pro potássio entrar e sair (fugir) da
célula também. Se nada fosse feito, devagarinho o sódio ia entrando e o potássio ia saindo, e daqui a
pouco estava tudo bagunçado, e isso não pode acontecer - o sódio tem que ficar fora e o potássio dentro.

2.2. Endocitose e Exocitose de Substâncias


Algumas células do meu organismo têm a competência de levar dentro dela moléculas maiores, como
proteínas, às vezes levam uma bactéria para dentro dela. Esse mecanismo chamamos de endocitose.
Como é que a minha membrana consegue fazer isso? Ela consegue fazer isso porque ela se envagina. A
substância penetra dentro, daí a membrana se fecha e forma um vaculuzinho com a substância que eu
queria trazer para dentro da célula. Quando a gente tem uma envaginação de membrana, dizemos que
essa endocitose foi do tipo pinocitose. Então eu trouxe para dentro da célula uma substância grande que
precisava entrar que não está vindo para dentro da célula por canal de vazamento, ou proteína carreadora
ou por ser lipossolúvel. Às vezes, ao invés de fazer uma pinocitose (uma invaginação, reconhecendo a
substância - sim, ela tem que reconhecer a substância, trazendo-a para dentro), a célula pode emitir
prolongamentos e abraçar a substância. Esses prolongamentos são chamados de pseudópodes (falsos
pés), e quando eles fazem isso e abraçam a substância estamos fazendo uma fagocitose. Tanto a
pinocitose e a fagocitose são mecanismos da endocitose.
Podemos também fazer o contrário: jogar para fora das nossas células uma molécula maior ou
simplesmente uma molécula que eu quero por pra fora e não tem para ela um canal de vazamento, ou
uma proteína carreadora.
Então nesse tipo de transporte pela membrana, que a gente coloca moléculas maiores para dentro da
célula, não são todas as células que fazem isso. Por exemplo, se um vírus me invadir eu espero que as
minhas células de defesa envolvam (“engulam”) o vírus numa membrana, façam endocitose, levem ele
envolvido por uma membrana para dentro da célula para destruí-lo, e depois joguem os restos para fora da
célula por exocitose. Veremos casos de endocitose e exocitose não de agentes patológicos, mas não são
todas as células do meu organismo que conseguem fazer esse mecanismo e a gente vai estudar nas
próximas aulas situações normais em que as células realizam esse meio de transporte e qual a
importância dele para a nossa vida.
Potencial de Ação e Potencial de Repouso
É a linguagem que o sistema nervoso central fala com a gente. Para isso, precisamos revisitar conceitos
que teoricamente tivemos lá no 2º grau, e que vamos rever aqui com a roupa que a fisiologia precisa dele,
que são os principais mecanismos de transporte através da membrana. A aula prática também vai
trabalhar com esses mecanismos de transporte para que eles fiquem bem consolidados.

Aula: Bioeletrogênese e Potencial de Ação

Potencial de Membrana ou de Repouso


Já sabemos que as minhas células têm uma série de substâncias dentro delas que não sei iguais, pelo
menos em questão de quantidade, às substâncias que estão no líquido extracelular. Sabemos que dentro
da célula tem muito potássio e fora tem pouco, e que fora da célula tem muito sódio e dentro tem pouco.
Outra coisa: no interstício não há proteínas. As proteínas que estão dentro da célula são produzidas pela
célula a partir de matéria-prima. As minhas células têm uma grande quantidade de proteínas que
chamamos de proteínas aniônicas. Elas são chamadas assim pois elas têm carga elétrica negativa
(ânion). As moléculas do meu corpo são carregadas positiva ou negativamente, o potássio por exemplo
tem carga elétrica positiva (K+), o sódio também (Na+), o cloreto tem carga negativa (Cl--) etc. Moléculas
com carga elétrica positiva são chamadas de cátions e com carga elétrica negativa de ânions. Então temos
dentro das nossas células uma grande quantidade de proteínas com carga elétrica negativa (aniônicas).
Essas proteínas nascem nas células e morrem também dentro dela, elas não conseguem atravessar a
membrana porque elas não tem canal de vazamento pra elas, elas não se diluem em lipídio, não tem
proteína carreadora, elas vão viver a vida inteira lá dentro, trancadas dentro das células. Vida triste.
Por conta das substâncias que eu tenho dentro e fora da minha célula, sabemos que dentro das células eu
tenho uma maior quantidade de substâncias com carga elétrica negativa e uma das grandes responsáveis
por isso é a presença dessas proteínas, e do lado de fora da minha célula, no líquido intersticial, eu tenho
uma grande quantidade de moléculas carregadas positivamente. Então estabelecemos aqui uma
diferença elétrica entre o líquido intracelular e o extracelular (intersticial). Todas as células do meu
organismo, sem exceção, tem mais substâncias carregadas negativamente dentro e mais
substâncias carregadas positivamente fora. Como negativo e positivo se atraem, as substâncias
negativas são atraídas pelas positivas, mas esse casal feliz não consegue se encontrar porque no
meio dele tem a membrana plasmática. Essa diferença elétrica se estabelece ao redor da minha
membrana, e por isso essa diferença elétrica é chamada de potencial de membrana ou potencial de
repouso. Posso usar essas 2 expressões.
Essa diferença de carga elétrica entre o lado interno e externo da membrana celular pode ser medida em
mvolts (a milésima parte de 1 Volt).
Quantificação do Potencial da Membrana
Se eu pegar um voltímetro e colocar em qualquer tomada da minha casa, eu vou saber se a minha casa
tem 110V, ou 220V, vou saber a voltagem que a minha tomada tem. Temos também um aparelho chamado
osciloscópios. Se a gente coloca um eletrodo desse aparelho dentro das células e outro aparelho (outro
eletrodo) fora da célula, esse osciloscópio mede essa diferença de voltagem, e é em milivolt. Então por
exemplo um neurônio - botei um microeletrodo dentro da célula e um fora, liguei isso no meu voltímetro e
eu verei que esse neurônio tem, por exemplo, uma voltagem de -70 mV. A gente tem neurônios que a
diferença de voltagem vai de -30 até -90 mV, e todas as células do meu corpo têm uma diferença de
voltagem, ou seja, o meio interno (da célula - LIC) de todas elas é mais negativo que o externo (LEC),
sempre. O que varia é a voltagem, que pode ser medida. No exemplo anterior, o meu meio interno é 70
vezes mais negativo que o meio externo. Então isso pode ser medido, em mV, porque é energia elétrica.

Potencial de Repouso - Por que a célula é negativa?


Por que as minhas células são assim? Negativas dentro, positivas fora. Tem um motivo.
- Motivo #1 - Ânions não difusíveis (proteínas): por conta desses ânions (proteínas) que não se
difundem, não saem da célula. Elas estão em grande quantidade dentro da célula e são todas
negativas, e acabam determinando que a minha célula seja negativa.
- Motivo #2 - Escape de K+: a minha célula é permeável ao potássio (K+), então o potássio tende a
fugir da célula, porque tem muitos canais de vazamento para ele. E o potássio é um íon com carga
elétrica positiva. Toda vez que um potássio foge para fora da célula, porque ele se difunde, vai da
onde tem mais (célula) para onde tem menos (fora) por conta dessa diferença de concentração.
Como ele é um íon com carga elétrica positiva, quando ele foge, a célula perde íon positivo e isso
ajuda a célula a ser negativa.
- Motivo #3 - Menor permeabilidade da membrana ao Na+: o sódio quer entrar na célula, porque
fora tem muito e dentro tem só um pouquinho. Se a membrana fosse muito permeável ao sódio, ela
deixava muito sódio entrar, e o sódio tem carga elétrica positiva. Então se ele entrasse, ele ia levar
carga positiva para dentro da célula e talvez a minha célula não conseguisse mais ficar negativa.
Ou seja, essa menor permeabilidade ao Na+ ajuda a célula a ser negativa.
- Motivo #4 - Bomba de Na+/K ATPase eletrogênica: como se tudo isso não bastasse, todas as
células do meu corpo têm, sem exceção, uma bomba de sódio/potássio, e essa bomba funciona
desde a hora que a célula nasce até a hora que ela morre. Ela não para, se ela parar eu me lasco,
porque a célula vai morrer. Essa bomba gasta energia e joga 3 sódios que conseguiram entrar para
fora e 2 potássios que fugiram para dentro. Observem que ela tira 3 íons positivos e traz de volta 2
íons negativos. Então ela põe mais carga positiva para fora do que para dentro. Por isso essa
bomba de sódio/potássio é também denominada ATPase, pois gasta ATP (energia), e eletrogênica,
porque ela gera (gênese) uma diferença elétrica. Ela põe 3 íons positivos para fora enquanto
coloca 2 íons positivos para dentro. Se a bomba parasse de funcionar, o sódio (Na+), que é
osmoticamente ativo, mesmo que devagar, ia entrando na célula aos poucos. Se ele começar a
entrar e eu não bombear ele pra fora, eu arrasto água para dentro da célula, e aí a célula pode
estourar. Então o sódio entra e a bomba já joga ele para fora rapidamente, para não permitir aquela
alteração de osmolaridade. A bomba mantém a homeostase do líquido intra e extracelular.
Todos esses eventos juntos ajudam a minha célula a ser negativa dentro e positiva fora.

Como é mantido o Potencial de Membrana?


A bomba mantém meu potencial de membrana, ela mantém a homeostasia de todas as células do meu
organismo. Esse potencial, depois de gerado, é mantido pela ação da bomba - 3 sódios para fora, 2
potássios para dentro, 3 sódios para fora, 2 potássios para dentro e assim vai, durante toda a vida da
célula.
Excitabilidade Celular
Os meus neurônios e meus músculos (cardíaco, liso, estriado-esquelético etc.) são excitáveis. Só
neurônio e músculo são assim. O que isso significa? Eles possuem a capacidade de alterar esse potencial
de membrana, ou seja, dessa coisa da célula ser negativa dentro e positiva fora. Essa capacidade de
alterar o potencial de membrana é o que os torna tão especiais. Hoje trabalharemos neurônios, outro dia
olharemos para o músculo, mas os dois são excitáveis, e conseguem alterar esse potencial de membrana
ou de repouso, gerando o que chamamos de potencial de ação.

Tipos de Neurônios existentes no Sistema Nervoso


1. Pseudo-Unipolar: unipolar pois ele tem um corpo (esse círculo “pra fora” dele), onde estão todas
as organelas que uma célula tem. Desse corpo nasce um prolongamento que chamamos de
axônio, que se divide em 2 lados (a partir do corpo para esquerda até a extremidade e a partir do
corpo para a direita até a outra extremidade). Ele é conhecido como unipolar porque parece que ele
tem 2 polos, mas na verdade saindo do corpo (bola azul) só tem um. Esse tipo de neurônio está
presente em todo meu sistema somestésico (tato, pressão, temperatura, dor, vibração,
propriocepção etc) - todos esses meus sentidos são percebidos por neurônios pseudo-unipolares.
Esses neurônios conseguem transformar um estímulo do ambiente numa linguagem que o meu
sistema nervoso entenda, que é o meu potencial de ação.
2. Bipolar: um corpo onde estão todos os órgãos que mantém esse neurônio vivo (bola azul) e 2
prolongamentos partem desse corpo, um axônio (esquerda) e um dendrito (direita), que se ramifica,
mas que saiu do corpo foi só um. Então bipolar = 2 polos, saindo do corpo do neurônio. Esses
neurônios bipolares são sensoriais também, estão ligados aos meus sentidos, mais
especificamente visão, audição, paladar e olfato. Então meus neurônios pseudo-unipolares
respondem pelo meu sentido somestésico e meus neurônios bipolares respondem a visão,
audição, paladar e olfato.
3. Multipolar: ele tem um corpo (círculo azul claro e grande) com muitos prolongamentos saindo dele.
Esses prolongamentos são chamados dendritos (à direita) e ele tem um axônio (à esquerda). Todo
neurônio tem somente um axônio, mas ele pode não ter nenhum dendrito (como é o caso do
pseudo-unipolar), um único dendrito (mesmo que se ramifique, como é o caso do bipolar) ou muitos
dendritos (multipolar). Os meus neurônios multipolares estão presentes dentro do meu encéfalo
(tudo que fica dentro do crânio) ou dentro da minha medula-espinal (sistema nervoso central) ou
estão presentes na saída das informações do sistema nervoso.
- Onde está cada tipo de neurônio?: Os pseudo-unipolares estão presentes na entrada do
sistema nervoso, são sensoriais ou aferentes; os bipolares também são sensoriais ou
aferentes; e os multipolares ou estão dentro do sistema nervoso ou estão na saída das
informações do sistema nervoso, sendo portanto eferentes ou motores.

Na imagem abaixo eu tenho um neurônio pseudo-unipolar (1), que está ligado ao meu sentido
somestésico. Pega informação de tato, pressão, temperatura, dor da minha pele ou do meu meio interno,
como informação da minha pressão arterial, dos movimentos peristálticos que o meu intestino faz, de uma
víscera que é estirada, ou de uma lesão, de uma inflamação, ou de uma alteração de oxigênio, de gás
carbônico, de glicose etc. Ou seja, pega informações que vem ou da minha pele (tato, pressão,
temperatura, propriocepção etc.) ou do meu meio interno e leva essas informações para o meu sistema
nervoso central, que é a medula espinal ou tudo que está dentro do crânio.
Já os meus neurônios bipolares (um corpo, 2 polos) [2] pega informação do paladar, olfato, visão e
audição, e leva para o sistema nervoso.
Os meus neurônios sensoriais ou aferentes (1 e 2 - pseudo-unipolar e bipolar) conduzem informação da
periferia em direção ao SNC (sistema nervoso central). Os pseudo-unipolares (1) levam informações
somestésicas e os bipolares (2) visão, audição, paladar e olfato.
Contudo, quando uma informação quer sair do ‘centro’ (SNC) e ir para a periferia, quem faz isso são
neurônios multipolares. São neurônios eferentes (dos centros nervosos para a periferia).

Os Sinais Elétricos do Sistema Nervoso


Na primeira imagem abaixo (à esquerda), temos um corte transversal da minha medula espinal (aquilo que
fica dentro do canal vertebral). A minha medula espinal é cilíndrica, como uma garrafa de água, e você
corta ela no meio horizontalmente (transversal) - olhando por cima. Portanto, a parte (“aresta”) mais perto
de você é a dorsal e a do outro lado é ventral. A professora faz uma metáfora com a tampa de uma garrafa
cilíndrica - a aresta da frente é a parte dorsal, a superfície da tampa é o transversal e o outro lado da
aresta oposto ao seu é o ventral.
Explicando o esquema abaixo: alguma coisa tocou na minha pele do pé, por exemplo. Toque no pé é
somestesia, é percebido por um neurônio pseudo-unipolar. Esse neurônio tem essa extremidade (imagem:
1 - Receptor Sensorial), está lá na minha pele, e aqui eu tenho um receptor mecanossensível (em
vermelho) que vai perceber que objeto tocou na minha pele. Um neurônio pseudo-unipolar percebeu isso.
Essa informação vai caminhar pelo sistema nervoso central e vai entrar na minha medula espinhal.
Aqui (imagem direita, do neurônio pseudounipolar) é a extremidade que está lá na minha pele (parte de
cima do neurônio). Isso vai caminhar e ir em direção ao meu sistema nervoso central. Da extremidade que
está lá na minha pele (parte de cima do neurônio), vai caminhar e ir até meu sistema nervoso central pelo
axônio, um só axônio comprido que sai do “pé” e vai até a medula. Nesse exemplo, o axônio vai do pé até
a medula (até as costas).
Esse neurônio aqui (imagem: 1 - Receptor Sensorial) é um neurônio sensorial ou aferente, porque ele vai
perceber que algo tocou no meu pé, e ele é pseudounipolar, pois ele está pegando uma informação
cinestésica.
Agora, esse neurônio sensorial (o azul, ainda da imagem 1 - Receptor Sensorial) vai conversar com o
vermelhinho (que está na medula espinal na imagem), que é multipolar, porque dentro do meu sistema
nervoso central (medula, encéfalo) eu só tenho neurônios multipolares, eu não tenho de outro formato.
Este neurônio multipolar então vai entender o que aconteceu e organizar uma resposta. Então, no caso do
exemplo da imagem, ele vai dizer assim: “tire o objeto do seu pé antes que ele fure seu pé”. E aí a
resposta também vem por um neurônio multipolar eferente (também chamado de motor - o vermelho
comprido na imagem), que vai chegar até a musculatura do meu pé e fazer ele sair de cima desse objeto.
Resumidamente: os neurônios pseudounipolares percebem os estímulos e levam essa informação para o
sistema nervoso; os neurônios multipolares identificam/interpretam o que está acontecendo, isso quando
eles estão dentro do sistema nervoso e, saindo do sistema nervoso, trazem uma resposta e vão em
direção a periferia. Perceberam que interessante: o corpo do neurônio pseudounipolar (azul na imagem)
não está perto da pele, está bem pertinho da minha medula espinhal, entrando em um buraquinho entre
uma vértebra e outra e ficando protegido por esses ossos. E o corpo dos neurônios multipolares
(vermelho) também estão protegidos, estão dentro do sistema nervoso. Isso é super importante, porque se
eu lesar o corpo de um neurônio, ele morre, mas se eu lesar o axônio dele e o corpo se manter intacto,
esse neurônio cresce de novo, se regenera. A natureza é tão sábia que não deixou corpo de neurônio
dando sopa por aí, super protegeu eles dentro do meu sistema nervoso central, ou mesmo estando fora
protegido pelos ossos, pelas minhas vértebras. Então o multipolar também tem osso protegendo, pois se
está dentro do sistema nervoso tem os ossos do crânio e os da vértebra (a medula está protegida pelas
vértebras e o meu encéfalo protegido pelo crânio). Os ossos protegem tanto os bipolares e
pseudounipolares quanto os multipolares.
Todas as informações que entram no meu sistema nervoso do pescoço para baixo entram pela parte
dorsal na medula espinhal, e todas as informações que saem saem pela parte ventral.

Se eu estivesse falando dessas informações aqui (audição, paladar, olfato, visão, tato, pressão,
temperatura, dor da face etc.), todas elas vão entrar direto dentro do encéfalo já, depois veremos em que
região. Mas novamente, aferência entra, aí dentro do SNC um monte de neurônio para interpretar/analisar,
depois sai por uma via eferente. O circuito é sempre esse.

Resumo: Classificação baseada nas Conexões Neuronais

Neurônios pseudounipolares e bipolares são sensoriais ou aferentes. Neurônios motores ou eferentes


conduzem a informação lá do sistema nervoso central à periferia (tudo que não está dentro do sistema
nervoso, o que está fora - sistema nervoso periférico) e são todos multipolares. E dentro do sistema
nervoso eu também tenho neurônios multipolares, mas agora eles são chamados de associativos ou
interneurônios, porque eles vão ligar a aferência (azul na imagem anterior, não essa) à eferência (vermelho
que volta).
Os 3 Componentes do Sistema Nervoso Periférico: Nervos, Gânglios e
Terminações Nervosas
O sistema nervoso central é formado pela medula espinhal e pelo encéfalo. O sistema nervoso periférico é
o que está fora da medula espinhal e do encéfalo, e ele é formado por nervos, gânglios e terminações
nervosas. São essas 3 coisas que formam meu sistema nervoso parte periférica.
Quem é o nervo? Da minha mão, do meu pé, da minha barriga, da minha cabeça, de qualquer lugar, não
sai só um tipo de neurônio, sai um monte. São todos pseudounipolares, mas saem um monte, porque sai
neurônio para sentir tato, neurônio que sente pressão, sente temperatura, cada um é absolutamente
específico. Do meu SNC também sai um monte para a periferia, porque eu tenho um monte de músculo.
Nervos são conjuntos de axônios - 1 nervo é um monte de axônio junto.
O que é um gânglio? Nervos são conjuntos de axônios fora do sistema nervoso, fora. Um gânglio é um
conjunto de corpos de neurônio (o ‘gordinho’) fora do SNC.
E a terminação nervosa é o que está lá na pele ou lá no meu músculo, que recebem/captam os estímulos.
Então, resumidamente, meu SNC (Sistema Nervoso Central) são todas as estruturas que estão dentro da
minha medula espinhal e dentro do meu encéfalo, guardado pelos ossos do crânio e pelas vértebras. SNP
(Sistema Nervoso Periférico) são nervos (conjuntos de axônios), gânglios (conjuntos de corpos de
neurônios) e terminações nervosas (extremidade do neurônio que parecem raiz de árvore - no
pseudounipolar é o dendrito [extremidade de cima], no multipolar não, pois os dendritos são os que partem
do corpo).
Por exemplo, no caso dos sintomas do COVID-19, quando deixamos de sentir o olfato e o paladar, está
ocorrendo a morte de neurônios bipolares. Para a nossa sorte, os corpos de neurônios estão protegidos e,
se eles não são afetados, quando eu me livro da infecção eu consigo regenerar os axônios e o olfato e o
paladar retornam. Tem gente que demora meses para voltar.

Canais Comporta dependentes de Estímulo: O Potencial de Ação


Aqui em cima eu tenho um neurônio pseudounipolar. Embaixo dele, eu tenho aquele desenho da página
anterior. Essa extremidade (à esquerda - as terminações) do meu neurônio pseudounipolar é quem está na
periferia, o mais perto da pele, para captar os estímulos, sentindo o toque. Essa informação vai caminhar e
vai até o meu SNC. Vamos ver como ela sai daqui e chega lá.
A imagem de baixo (com vários Na+ e K+) é uma dessas terminações (uma das “raízes da árvore”)
ampliada. Temos então, nessa ampliação, a membrana dessa região, dentro o meio líquido e o citoplasma
dela e vemos o começo do axônio. O que eu tenho nessa região que outras células do meu corpo não tem
e que neurônios tem que o tornam uma célula excitável? Eu tenho aqui canais comporta dependentes de
estímulo. O que são eles? São proteínas que atravessam a membrana, igual os canais de vazamento.
Tudo aqui que eu contei para vocês antes (canais de vazamento, as carreadoras, bomba de sódio e
potássio etc.) tem aqui também, no neurônio inteiro. Agora eu vou por o que mais ele tem além de tudo
aquilo. Proteínas, que são chamadas de Canais Comporta porque elas têm uma portinha que as mantém
fechadas (imagem de cima à direita), e elas são dependentes de estímulo, porque quando um estímulo é
dado sobre esta região (da extremidade esquerda do neurônio pseudounipolar, as raízes da árvore) desse
neurônio, essa portinha se abre, e na hora que essa porta se abre ela permite que o íon sódio (Na+) entre
para dentro do meu neurônio. Então ele é um Canal Comporta dependente de estímulo, ele é específico,
para estímulo mecânico, como por exemplo, encostei no meu braço, minha pele dá uma deformada, e
nesse momento os neurônios que estão aí embaixo, que tem canais comporta dependentes de estímulo se
abrem todos, e vão permitir que o sódio que está em grande quantidade fora da célula comece a entrar pra
dentro dela. Então os canais estavam fechados, eu dei o estímulo, e os sódios começaram a passar por
esses canais (imagem de cima da direita, canal aberto pelo estímulo) e entrar para dentro da minha célula
para o meu líquido intracelular (LIC), começou a entrar um monte de sódio. A bomba de sódio e potássio
está aí, mas está entrando tanto sódio que ela não dá conta de jogar tudo para fora. Entra mais do que ela
consegue pôr para fora.
Vamos imaginar que a diferença intra e extracelular dessa célula fosse de -70 mV. O potencial de
membrana ou de repouso dela era de -70 mV, aí eu fui lá e dei um estímulo nela, um estímulo mecânico
por exemplo, abri canais comporta dependentes de estímulo pro sódio, e ele começou a entrar dentro
dessa célula, e como ele é um íon positivo, a célula foi ficando menos negativa. Foi de -70 para -65, para
-50, até que, por exemplo, ela atingiu um valor que chamamos de valor limiar, que é o estímulo mínimo
capaz de causar uma resposta. O que acontece se a célula atingir o seu limiar de excitabilidade? Aqui é
um exemplo, cada neurônio tem um limiar de excitabilidade diferente. Deste aqui, por exemplo, é de -55
mV. Então veio um estímulo nesta região (por exemplo, toquei no meu braço), abriu canais comporta
dependentes de estímulo, começou a entrar sódio aqui para dentro e toda essa região foi ficando menos
negativa. No momento que a célula chegar num valor limiar o que é que vai acontecer?

Ao longo do meu axônio inteiro, e só no meu axônio, a gente tem um outro tipo de canal comporta, é um
canal comporta dependente de voltagem. Esse canal vai se abrir quando a célula atingir o limiar. Então na
hora que a célula sai de -70mV e chega a -55mV, por exemplo, os canais comporta dependentes de
voltagem específicos para sódio que existem no axônio que estavam fechados vão se abrir, e vão permitir
que o sódio entre para dentro da célula. Eu estava aqui (-70mV), cheguei no limiar (-55mV), e nesse
momento, serão abertos canais comporta dependentes de voltagem específicos para o sódio e ele vai
entrar de monte, e a célula vai ficando cada vez menos negativa, passa do 0 e vai se tornando positiva, de
tanta carga elétrica que ela está ganhando, de tanto sódio carregado positivamente que ele está
ganhando. Os meus canais de sódio estão fechados em -70mV, vão se abrir quando atingir o limiar e vão
ficar abertos 1 milésimo de segundo (1s dividido por 1000). Quando a célula atingir uma determinada
voltagem positiva, por exemplo, +35mV, isso 1 milésimo de segundo depois, esses canais vão se fechar e
vão ficar inativos. É diferente só de fechado, o formato é diferente, e daqui a pouco entenderemos a
importância disso. E eles vão ficar inativos até a célula voltar em -70mV.
Ao longo do meu axônio eu também tenho canais comporta dependentes de voltagem específicos para
potássio (K+). Eles estarão fechados quando a célula estiver em repouso, e estarão totalmente abertos
quando os canais de sódio (Na+) se tornarem inativos. Nesse exemplo que estamos usando, +35mV, e
vão ficar abertos até a célula chegar no repouso. Eles só podem ficar fechados ou abertos, eles não tem o
estado inativo (o do potássio).
Estava em repouso, dei um estímulo (ex.: encostei no meu braço), abri canais comporta dependentes de
estímulo, o sódio começou a entrar muito (só ele por enquanto) e atingiu o limiar. Atingir o limiar é ter uma
voltagem que eu preciso para abrir canais comporta dependentes de voltagem, pro sódio e pro potássio.
Primeiro para o sódio, abriu, o sódio entra muito e 1 milésimo de segundo depois ele fecha e fica inativo. E
aí se abrem os canais de potássio e agora o potássio sai, porque tem muito dentro, e a célula volta ao seu
valor de repouso (isso está mostrado no gráfico da imagem anterior a anterior). Os meus canais de sódio
são rápidos - a célula está com o canal fechadinho, atingiu a voltagem limiar, por exemplo, -55mV, os
canais de abrem, e se abrem rapidamente (atingiu, abriu) e o sódio começa a entrar que nem um maluco
para dentro da célula. O canal estava fechado, ele abriu, e entra entra entra sódio. Atingiu -55mV, os
canais de potássio também vão começar a se abrir - a voltagem para abrir os 2 é o limiar. Só que o canal
de potássio é lento, ele abre devagar, por isso o potássio só vai começar a sair e conseguir sair quando ele
estiver aberto, por isso o potássio só vai conseguir sair quando o canal do sódio já estiver fechado. Pensa
que eu tenho 2 portas aqui em casa, e tenho uma mesma chave para abrir as 2 portas, só que no
momento que eu enfio a chave na fechadura (que é a voltagem -55mV nesse caso) ela escancara e as
pessoas já começam a passar por ela rapidamente, mas a mesma chave que abre a segunda porta abre
uma porta que está raspando, abrindo bem devagarinho, e as pessoas só vão conseguir passar por ela
depois de um tempo, já dando tempo da primeira porta se fechar.
Tudo que você é, sem nenhuma exceção, é uma troca iônica de sódio por potássio. Você só sente
qualquer coisa porque o seu neurônio troca sódio por potássio nesse mecanismo rapidíssimo. Essa
linguagem binária, simples, da troca de sódio por potássio, é a linguagem que o meu sistema faz, é isso
que transforma o toque no meu braço em um entendimento que isso ocorreu lá no meu cérebro, mesmo
que eu não esteja enxergando.
Sabe por que eu amo música? Porque os neurônios que captam a informação auditiva transformam essa
informação num potencial de ação, que é essa troca de sódio por potássio, levam isso lá pro cérebro e
ativam uma área de prazer, que troca sódio por potássio, me deixando felizinho. O mesmo se eu não
gostasse de música, a diferença é que ativaria uma região de desprazer lá na área do sistema nervoso.
Tudo, sem nenhuma exceção, é troca de sódio por potássio. E se isso bagunça, a meleca é grande!

Agora vamos para a imagem abaixo. Eu estou aqui, na extremidade (esquerda) do meu neurônio
pseudounipolar, a minha célula estava em repouso (em -70mV), foi ativada, o potencial de membrana (de
ação) começou a mudar. O meio externo (líquido extracelular - LEC) estava positivo e o líquido intracelular
negativo. Muito potássio dentro, muito sódio fora. Fui lá e estimulei. Abriu o canal comporta dependente de
estímulo para o sódio (Na +) e começou a entrar. No momento que atinge o limiar, eu vou abrir canais
comporta dependentes de voltagem para o sódio, e ele vai entrar para dentro da célula, cada vez mais, e a
célula vai ficando cada vez menos negativa (gráfico subindo). Chamamos esse processo de
despolarização. Quando a célula atinge uma determinada voltagem, mais ou menos +35mV (isso nesse
exemplo - topo do gráfico), deu tempo de abrir canais de potássio, e agora o potássio sai e a célula volta a
ficar negativa. Ela volta pros -70mV, mas ela não está em repouso ainda, porque tem muito sódio dentro e
muito potássio fora da célula. Para ela voltar ao repouso e estar pronta para ser estimulada novamente, a
bomba de sódio e potássio, que não parou de funcionar em nenhum momento (mas agora os canais de
sódio e potássio já fecharam) vai conseguir por a casa em ordem, vai reestabelecer o meu repouso.
Imagina o seguinte: você está na porta das Casas Bahia, vai ter liquidação, e junto com você do lado de
fora está aquele monte de gente. Aí abre uma portinha pequena, e tem uma pessoa lá na porta que deixa
entrar/passar algumas pessoas, e daí entra 3 e ele joga 2 pessoas que estavam lá dentro há bastante
tempo. Entrou mais uns 3, ela joga pra fora mais 2 pessoas que já estavam lá há algum tempo. E aí dentro
das Casas Bahia nunca fica lotado, mas de repente alguma coisa acontece e a porta escancara, e daí todo
mundo que estava do lado de fora vai entrar. Você acha que a pessoa que está lá na porta, mesmo que
não pare de trabalhar, vai conseguir empurrar todo mundo para fora? Não! Ela só vai conseguir na hora
que eu conseguir abaixar a porta de novo, e deixar só os canais de vazamento ali de novo. Eu fechar
esses canais comporta todos de uma vez.
Como os meus canais de potássio são lentos para abrir, eles também são lentos para fechar. E às vezes
as minhas células podem até perder mais potássio e ficarem mais negativas do que elas estavam quando
a brincadeira começou, porque ele pode demorar um pouquinho para fechar. Se isso acontece, dizemos
que a nossa célula hiperpolariza - se ela fica mais negativa que no repouso. Então no repouso ela está
polarizada. Quando entra sódio (Na+) ela despolariza. Quando sai potássio (K+) ela repolariza.
Despolarização + repolarização = potencial de ação. É a língua que o meu sistema nervoso fala. É o
que meu axônio conduz, é o potencial estímulo elétrico.

Transmissão do Potencial de Ação


Entrou sódio (Na +) por canais comporta dependentes de voltagem porque eu atingi o limiar. O sódio
começou a entrar. O sódio que entra muda a voltagem da célula? Como está num meio líquido (LIC, no
caso), esse Na+ pode migrar para alguma extremidade da célula (sair do centro), mudando a voltagem da
célula nessa extremidade, abrindo canais dependentes de voltagem. O Na+ que entra abre o canal da
frente, e quanto mais sódio entra, mais canais vão abrindo e meu axônio inteiro vai se tornando positivo.
Quanto mais sódio entra, mais canais abrem, e mais sódio entra, e mais canais abrem até que os canais
se inativam - é um exemplo de feedback positivo.
Outra coisa: eu não preciso despolarizar o axônio inteiro para ir regularizando. Isso já vai acontecendo
junto, concomitantemente. Pense na seguinte metáfora: coloquei um monte de dominó de pé, aí eu fui lá e
dei um toquinho no primeiro dominó. O primeiro derruba o segundo, que derruba o terceiro, que derruba o
quarto e assim vai. Esses são os meus canais de sódio de abrindo - o sódio que entra abre o próximo, o
sódio que entra abre o próximo. Só que eu não preciso derrubar todos os dominós que tem no jogo. Eu
posso ir derrubando os dominós e já levantando os que estão aqui atrás, para dar um outro toquinho nele
e estar pronto para começar de novo, como está mostrado no esquema abaixo.

Eu vou despolarizando o começo e quando esse efeito dominó acontece eu já vou repolarizando esse
começo, e assim sucessivamente, por isso é importante que entendamos que o meu canal e sódio
dependente de voltagem tem um período inativo, porque se ele não tivesse um período de inatividade meu
potencial não iria caminhar nesse sentido (linha vermelha feita pela professora), porque o sódio daqui ia
abrir o canal daqui de trás e lá da frente também, e daí a coisa ia ficar embolada aqui. Como é que eu
garanto que eu só vou abrindo o canal que está na frente? Eu garanto que só vou abrir o canal que está na
frente porque o canal de sódio aqui de trás tem 3 estágios - ele está fechado, ele abre e depois ele fica
inativo. Então, como ele fica inativo, eu só posso abrir o canal que está na frente, eu não posso abrir ele de
novo. Por isso é importante saber que ele tem 3 estágios.
Na imagem abaixo, temos: eu estou em repouso, vim aqui (primeira seta vermelha feita pela professora) e
dei um estímulo, saí do repouso e caminhei até o limiar - canais comporta dependentes de estímulo. Agora
abri canais comporta dependentes de voltagem, primeiro de sódio. O sódio entrou, entrou e entrou e eu
despolarizei a célula (subida do gráfico). Os canais ficaram inativos. Potássio saiu, saiu, saiu, eu
repolarizei a célula (descida do gráfico). Os canais de potássio se fecharam, os de sódio deixaram o
estágio inativo e se fecharam, a minha bomba consegue por tudo de volta no lugar. Se eu der um estímulo
enquanto a célula está aqui (no meio da subida/descida - entrada de sódio/saída de potássio),
respondendo ao primeiro, ela não consegue reagir, porque ela está reagindo ao primeiro estímulo.
Chamamos isso de período refratário absoluto - enquanto eu estou reagindo ao primeiro potencial de
ação, eu não consigo reagir ao próximo, porque ele já está muito ocupado. Mas se eu estou aqui, próximo
do repouso, quando os canais já estão todos fechadinhos, e eu der um novo estímulo e ele for mais forte
que o primeiro, eu posso conseguir fazer um novo potencial de ação. O melhor e mais fácil de acontecer é
quando o repouso se estabelecer, mas quando ele está tendendo ao repouso, praticamente lá, o estímulo
mais intenso pode gerar uma nova resposta. Esse é o período refratário relativo.

Então você está contando para a gente que pode ser que eu não perceba alguns estímulos? É muito
pouco provável que isso aconteça, porque se o meu neurônio for assim, tiver uma bainha de lipídio
chamado mielina, se ele for assim o neurônio mielínico, a velocidade com que isso que eu demorei a aula
inteira para explicar para vocês como acontece é uma velocidade igual a 120m em 1s. E qual é o nosso
tamanho? Quem é muito alto chega a 2m. Tudo isso acontece, no neurônio inteiro, numa velocidade de
120m em 1s. Eu nem pus a mão na chapa quente, já tirei a mão e já estou xingando quem deixou aquilo
aquecido lá. E se o neurônio não é envolvido por essa bainha de mielina, se ele é amielínico (neurônio da
esquerda na imagem de fundo preto abaixo), ele é mais lerdinho. Qual é a velocidade se ele está assim?
De 0,5 a 2m por segundo. É muito rápido também.
Na imagem de cima na direita, eu vou despolarizando e já venho regularizando atrás, ao longo do axônio.
Isso é muito rápido, mesmo! A maioria dos neurônios do meu organismo são mielinizados, ou seja, tem
rápida velocidade.
Potássio e Sódio fora da faixa de normalidade no nosso corpo
Se eu tiver um excesso de sódio, por exemplo, eu vou ter muita força para ele entrar nos meus neurônios,
e essa muita força pode gerar um aumento de estabilidade neural tão importante que pode acabar
estabelecendo um quadro de convulsão, por exemplo. Se a gente tem muito potássio, como ele é um íon
intracelular, se eu tenho excesso dele dentro da célula, eu posso retardar a atividade, porque ele vai ter
mais dificuldade para sair. Ele sai porque fora da célula tem pouco, mas se tiver muito, ele vai ter
dificuldade para sair. Então eu vou ter dificuldade de repolarizar a célula. Isso é muito sério, mais pro
músculo cardíaco, porque eu posso ter uma parada cardíaca, por exemplo. Por isso, sempre um concerto
que o médico faz quando você está no hospital, toda hora dosando como é que está seus íons sódio,
potássio e tal para tentar manter isso dentro da faixa de normalidade, porque as células excitáveis, como
músculo e neurônio, vão sofrer muito se a gente sair fora daquela faixa de normalidade de sódio e
potássio. Eles (os médicos) vão tentar ou te dar íon ou te dar líquido para diluir, diurético, para manter você
na faixa de normalidade. Sair da faixa é um risco e o nosso organismo não sobrevive muito tempo fora
dessa faixa, porque eu vou afetar esses processos por demais. Se entrar muito sódio para dentro do
neurônio, eu posso convulsionar e como o sódio arrasta água, o neurônio pode demasiar, lisar, e daí
babou, acabou, é irreversível. Por isso manter essas coisas no padrão é extremamente importante. Sódio
e potássio é tudo, manter eles dentro do padrão é mais tudo ainda. Veremos mais íons importantes nas
próximas aulas.

Cada um tem um limiar diferente


Imagine que a temperatura da minha casa está 23ºC. Eu estou com uma blusinha e estou morrendo de
calor. Só não fui ligar o ar condicionado porque eu não queria interromper a aula, mas eu estou
transpirando. Meu marido acabou de passar aqui do lado com blusa de lã. Por que será que eu estou com
calor e ele com frio? O que faz essa percepção desse ambiente de 23ºC ser diferente para mim e para
ele? O que acontece é que eu tenho um limiar muito alto para frio. Tem que cair muito a temperatura para
os meus neurônios de frio serem acionados. Meu marido tem um limiar para frio pequeno - 23ºC estimula
os neurônios de frio dele e ele sente frio. Porém, 23ºC estimula os meus neurônios de calor e eu sinto
calor. Claro que eu estou usando ATP, estou em atividade, estou ativo, mas ele está ativo também,
trabalhando também.
Aí eu vou tomar vacina. A pessoa que está atrás de mim na fila pergunta para mim se doeu, e eu respondo
que não, que foi só um toquinho. Daí a pessoa toma a vacina e faz um escândalo, grita e cai dura de dor.
Qual é a diferença? Eu sou super corajosa e ela é covardona? Ou será que nós temos limiares para dor
diferentes? Se eu não atingir o limiar, o neurônio não percebe aquela informação. Para perceber
informação, eu tenho que atingir o limiar para abrir e trocar o sódio por potássio e tal.
Imagine a seguinte situação: você tem um cachorro na sua casa. Daqui a pouco o cachorro corre lá na
porta, começa a abanar o rabo e latir. Um segundo depois, a porta se abre e chega alguém que mora na
sua casa que o seu cão gosta. Você não ouviu a pessoa, os passos dela na calçada, não percebeu, mas o
seu cão percebeu, porque ele tem um limiar auditivo muito menor que o seu. Então ele escuta coisas que
você não consegue escutar, porque aquele som não atinge o seu limiar de excitabilidade.
Só percebemos aquilo que atingimos o limiar. O limiar varia de pessoa para pessoa, e pode ser alterado
inclusive pelo aprendizado. Na nossa próxima aula teórica, eu vou mostrar como isso pode se dar. Por
exemplo, se eu mudar de uma região muito fria para uma muito quente eu posso elevar o meu limiar e
depois quando eu voltar pra região mais fria, aquela temperatura (por exemplo 23ºC), em relação ao lugar
de calor, vai fazer frio pra mim. É um processo que é um pouquinho demorado, não é imediato, mas
conseguimos alterar limiar por alteração por aprendizado, pela plasticidade do sistema nervoso, mas não é
de um dia para o outro. Agora, situações emocionais podem interferir nisso e no semestre que vem será
mostrado como isso é possível. Emoção pode alterar o seu limiar, você pode ficar mais sensível. As
pessoas que não sentem dor nenhuma tem ausência de receptores nociceptivos, elas não têm neurônios
que transformam estímulos nocivos em dor, é uma patologia super séria. Agora, tem pessoas que têm
limiar para dor muito alto - elas sentem, mas tem que ter um processo mais grave para que elas sintam
dor, não é qualquer coisinha que desencadeia dor. Aí o limiar é mais alto, são coisas diferentes.
Está vendo na imagem abaixo - o estímulo não atingiu o limiar, esse neurônio não foi incomodado. Eu não
tenho meio potencial de ação, isso não é um potencial de ação. Na hora que eu atinjo o limiar, o potencial
acontece em sua plenitude. Se eu atinjo o limiar, ele acontece inteiro, no axônio todo. Se eu não atingir o
limiar, o neurônio nem sabe que foi incomodado. A gente chama isso de estímulo subliminar - abaixo do
limiar.
09/09/2021 - Sinapse Neuronal
Nós temos sinapses entre neurônios, que é o que vamos começar a discutir aqui. Temos também sinapses
entre neurônios e músculos, chamada de sinapse neuromuscular. Temos sinapse entre neurônio e
glândula. Veremos tudo isso ao longo do curso. Nessa pré-aula, falaremos sobre a neuronal.

Sinapse: Comunicação Celular


Local de contato entre neurônio e célula alvo. Na imagem abaixo, vemos um terminal neuronal fazendo
sinapse com outro terminal neuronal. Sinapse é a região de contato. Neurônios fazem sinapse com
diversas estruturas, chamadas estruturas-alvo, com outro neurônio, com glândula, com tecido epitelial,
com músculo cardíaco, liso, estriado etc. Neurônios fazem contato com N estruturas do meu organismo, e
esse contato chamamos de sinapse.
Até a década de 50, a gente não sabia como esse processo acontecia, e alguns autores diziam que esse
processo era químico, outros diziam que era elétrica. Na década de 50, então, é que se conheceu
efetivamente que a gente tinha tanto sinapses químicas quanto sinapses elétricas.

Sinapse Elétrica
Como é que eu sei que é uma sinapse elétrica que eu tenho representado na imagem abaixo? Nela eu
tenho um neurônio pré-sináptico (um neurônio que está antes da sinapse - sinapse é o contato), e um
neurônio pós-sináptico (neurônio que está depois do contato). Tenho também canais (em roxo na imagem)
comporta dependentes de voltagem. Os canais comporta dependentes de voltagem do neurônio
pré-sináptico estão tão próximas dos canais comporta dependentes de voltagem do neurônio pós-sináptico
que eles se tocam e formam o que chamamos de junção comunicante - é como se eu tivesse um canal
só. Então no momento que a comporta do pré-sináptico é aberta por uma alteração de voltagem, a
comporta do pós-sináptico também será aberta por essa alteração de voltagem, de tal sorte que o
potencial de ação que está caminhando aqui (riscos em vermelho feito pela professora - entra sódio, saí
potássio, entra sódio, sai potássio…), quando chega no canal comporta (em roxo) e abre um canal de
sódio, vai também abrir o canal de sódio no neurônio pós-sináptico, e a informação vai simplesmente
passar do pré para o pós-sináptico, como se eu estivesse num neurônio só, como se eu não tivesse um
espaço entre um neurônio e outro. Isso acontece (como se eu não tivesse um espaço entre um neurônio e
outro) porque esse espaço, que chamamos de fenda sináptica, ele é tão pequeno que o neurônio está
praticando tocado no outro, eles são separados por 3 a 3,5 nm.
As sinapses elétricas no meu sistema nervoso acontecem principalmente na vida intrauterina (são bem
comuns e importantes para o desenvolvimento do SNC nessa vida intrauterina) e na vida extrauterina elas
acontecem em alguns poucos lugares: entre as células da glia (células que, junto com neurônios, compõe
o tecido neural); entre neurônios de várias regiões encefálicas - Oliva inferior, Cerebelo, Medula Espinal,
Hipocampo, Tálamo, Retina etc. São pouquíssimas as sinapses na nossa vida extrauterina dentro do SN
que são sinapses elétricas. Veremos sinapses elétricas entre os músculos lisos, por exemplo, entre a
musculatura cardíaca etc. Mas no SN, que é o ponto da aula de hoje, sinapses elétricas acontecem muito
na vida intrauterina e na vida extrauterina elas praticamente inexistem.

Sinapses Químicas Neuronais: Processadoras de Sinais


A maioria das sinapses do nosso SNC e SNP são químicas. Elas são processadoras de sinais.
Na sinapse química, eu tenho um elemento pré-sináptico (neurônio à esquerda). Nas sinapses químicas, o
meu elemento pré-sináptico é obrigatoriamente um axônio. Na sinapse elétrica eu não preciso que o
elemento pré-sináptico seja uma axônio - qualquer porção do neurônio pode ser um elemento
pré-sináptico. Na sinapse química não: o elemento pré-sináptico tem que ser, obrigatoriamente, um axônio,
e a região final desse axônio, que chamamos de telodendro, porque é nessa região final do neurônio que a
gente guarda as estruturas que a gente precisa para que a sinapse aconteça. Que estruturas são essas?
Precisamos de neurotransmissores, que ficam guardados nessas bolsinhas (na imagem abaixo, bolinhas
em vermelho circundados por um círculo preto) que podem ser chamadas de vesículas sinápticas ou de
glândulas de secreção, já já eu diferencio isso para vocês.
Precisamos de canais comporta dependentes de voltagem, que estão nessa região periférica, para o
cálcio (além dos canais comporta dependentes de voltagem para o sódio e potássio, que estão ao longo
do axônio todo - o “cabo” na imagem - e determinam o potencial de ação), e precisamos de mitocôndria,
que não está presente na imagem abaixo mas que existe em grande quantidade no terminal axonal (fim do
neurônio - periferia), que vai fazer a sinapse. Aí nós temos uma fenda sináptica (o espaço entre 2
neurônios - em amarelo na imagem), que é bem maior que na sinapse elétrica: 20 a 50 nm, preenchida
com LEC. E depois eu tenho um elemento pós-sináptico, onde há um outro tipo de canal chamado canais
comporta dependentes de ligantes (retângulo branco na imagem), que se encontram nos dendritos (sim,
no elemento pós-sináptico pode ser dendrito, não preciso necessariamente ser axônio), no corpo do
neurônio e também ainda nos axônios, mas não ao longo dele, apenas na região final dele (na região de
telodendro) ou lá na zona de gatilho do axônio que falamos na aula passada. Ao longo do axônio eu não
tenho esse tipo de canal comporta dependente de ligantes.
A sinapse química vai depender da liberação dessas substâncias químicas na fenda sináptica que vão se
ligar aos receptores que estão na membrana pós-sináptica, para que o potencial de ação aconteça nesse
neurônio pós-sináptico depois. Vamos discutir esse processo com bastante cuidado a partir de agora.
Tipos de Sinapses Químicas
As sinapses químicas sempre acontecem, obrigatoriamente, com o terminal de um axônio (região de
telodendro) e com o dendrito do neurônio pós-sináptico (A) ou com o corpo ou soma do meu neurônio
pós-sináptico (B) ou com o próprio axônio (C), mas do próprio axônio só em 2 lugares - ou na região de
telodendro (como mostra na imagem C) ou na região de cones de implantação (mostrado pelo cursor da
professora, o ponto vermelho). Ao longo do axônio eu não tenho sinapses.
A sinapse A chama Axodendrítica (axônio conversando com dendrito); a B chama Axossomática (axônio
conversando com soma); e a C chama Axoaxônica (axônio fazendo sinapse com axônio). Esses são os 3
tipos principais de sinapses neuronais químicas.

Tipos de Sinapse Elétricas e Químicas


1 - Sinapse Química Axodendrítica
4 - Sinapse Química Axossomática
2 - Sinapse Química Axoaxônica (no começo do axônio - lembrando que só pode ser no começo ou fim,
nunca ao longo dele)
3 - Sinapse entre 2 dendritos - Sinapse elétrica: ela não é química, porque na sinapse química eu preciso
sempre do terminal axonal (que parece um chuveirinho na imagem) do elemento pré-sináptico estabeleça
sinapse com qualquer uma dessas partes do elemento pós-sináptico.
Elemento Pré-Sináptico e Pós-Sináptico é um Conceito Dinâmico
Um mesmo neurônio pode ser pré e pós-sináptico, depende somente da relação com determinado
neurônio. Por exemplo, na imagem abaixo o neurônio laranja é pós-sináptico de outro (que só está
mostrando o terminal axonal) mas, em relação ao verde, o laranja é pré. Agora, quando o verde faz
sinapse com o roxo, o verde, nessa relação, passa a ser o pré. Então pré e pós são conceitos dinâmicos -
depende de quem está passando a informação (pré) e de quem recebe (pós).

Neurotransmissores de Alto e Baixo Peso Molecular (baixo e alto PM)


Na imagem abaixo eu tenho um neurônio, a direita é a região final do axônio dele - região de telodendro
(que parece um chuveirinho), e nessa região vocês podem observar várias bolsinhas lipoproteicas, cheias
de neurotransmissores, que são chamadas de vesículas sinápticas. Tenho também bolsinhas maiores,
também cheias de neurotransmissores, que são chamadas de grânulos de secreção. A diferença é que
os neurotransmissores, que são moléculas que chamamos de baixo peso molecular, ficam guardadas no
terminal pré-sináptico em vesículas sinápticas, e neurotransmissores de alto peso molecular (peptídeos,
proteínas) ficam armazenados dentro de grânulos de secreção. Os neurônios de baixo peso molecular
podem ser sintetizados lá no corpo do neurônio e daí migrar até o terminal pré-sináptico, onde eles ficam
armazenados, ou eles podem ser produzidos aí mesmo no terminal pré-sináptico. Os neurotransmissores
de alto peso molecular precisam obrigatoriamente serem sintetizados no corpo do neurônio, porque eles
precisam do retículo endoplasmático rugoso (REr) e do aparelho de Golgi para serem sintetizados e
depois eles migram para o terminal pré-sináptico onde eles ficam armazenados.
Esse fluxo de substâncias dentro do axônio é possível porque ele é preenchido por citoplasma, que é meio
líquido, então o neurônio consegue conduzir as substâncias que ele produz no corpo até o terminal para
ficar lá armazenado.No terminal pré-sináptico (periferia do neurônio, que parece um chuveirinho na
imagem) eu também teria mitocôndrias. Elas não estão aparecendo nesse slide, mas além de terem
vesículas sinápticas e grânulos de secreção, há também as mitocôndrias, que são organelas que
sintetizam energia (ATP).
Exemplos Principais de Neurotransmissores de Alto e Baixo PM
➤ De baixo peso molecular - Moléculas simples que ficam armazenadas em vesículas sinápticas
● Moléculas que têm origem em um única aminoácido, como Glutamato, a Glicina e o GABA (Ácido
gama-aminobutírico);
● A Acetilcolina, que do ponto de vista químico é uma Colina;
● As Catecolaminas, do ponto de vista bioquímico, como a Dopamina, Adrenalina, Noradrenalina,
Serotonina. Todos neurotransmissores de baixo peso molecular.

➤ De alto peso molecular - armazenados em grânulos de secreção


● Encefalina; Substância P; Ocitocina.

Todo neurônio, sem exceção, secreta um único tipo de neurotransmissor de baixo peso molecular. Por
exemplo, o neurônio que secreta Glutamato só tem Glutamato. O neurônio que tem Noradrenalina como
neurotransmissor de baixo peso molecular só sabe secretar Noradrenalina. É um tipo só de
neurotransmissor de baixo peso molecular, que normalmente dá nome ao neurônio. Por exemplo, neurônio
noradrenérgico, serotoninérgico etc - significa que ele secreta este neurotransmissor. O mesmo neurônio
que secreta, por exemplo, Glutamato, pode secretar vários tipos diferentes de neurotransmissores de alto
peso molecular. Então quando estamos lá no terminal axonal, aquelas vesículas sinápticas contém um
único tipo de neurotransmissor de baixo peso, e os grânulos de secreção podem ter diferentes tipos de
neurotransmissores de alto peso molecular.

➤ Neurotransmissores que são produzidos e imediatamente liberados e atuam, não ficando


armazenados dentro de vesículas
● Endocanabinóides - promovem calma no SN. São a base de lipídio, conseguindo atravessar a célula
tranquilamente sem ficar armazenado.
● Gás - óxido nítrico
Complexo SNARE: Como ocorre a sinapse?
Aqui temos um terminal pré-sináptico (na imagem em amarelo escuro), uma região de telodendro
(ramificação terminal do axônio). Nele, há essas bolinhas de fundo branco com balinhas roxas, que são as
vesículas sinápticas e as balinhas são os neurotransmissores. Aí nessa região do telodendro eu tenho
também grânulos de secreção e mitocôndrias, mas não estão presentes nesta imagem, porque o foco
agora é outro. Vamos ver agora como se estabelece uma sinapse.
Nesse terminal pré-sináptico aconteceu o potencial de ação: entrando sódio, saindo potássio, entrando
sódio, saindo potássio (riscos vermelhos da professora), e essa célula está despolarizando e
repolarizando. Quando essa despolarização, essa alteração de voltagem, chega aqui na região de
telodendro, além de abrir canais de sódio dependentes de voltagem e de potássio dependentes de
voltagem, ela também abre canais de Cálcio dependentes de voltagem. E aí como eu tenho mais cálcio
fora da célula do que dentro, como eu abro canais de cálcio, o cálcio entra, e ele vem do interstício (LEC)
para o LIC. E assim que ele entra nessa célula, ele vai ativar, vai se ligar a um complexo de enzimas. São
muitas enzimas, dezenas. O cálcio vai ativar esse complexo de enzimas que é chamado de Complexo
SNARE. Esse complexo SNARE, quando o cálcio se liga a ele e ativa esse complexo, ele vai fazer com
que as vesículas contendo neurotransmissores e os grânulos de secreção contendo também
neurotransmissores se aproximem da membrana do meu neurônio pré-sináptico que está voltado para a
fenda sináptica, se liguem a essa membrana e proteínas de ancoragem e joguem para fora o
neurotransmissor, ou seja, o conteúdo que estava dentro da vesícula.
Depois que eu esvaziei a vesícula, essa membrana se solta, essa vesícula fica vazia aqui dentro, e a
membrana plasmática se funde aqui, permitindo assim a saída dos neurotransmissores, “abrindo os
portões” da célula. Então eu faço a exocitose, jogando para fora o neurotransmissor. E aí o
neurotransmissor vai atravessar a membrana e se ligar ao canal comporta dependente de ligante. O
meu neurotransmissor não vai entrar nesse neurônio pós-sináptico, ele vai apenas se ligar a um canal
comporta dependente de ligante. Eu já vou contar para vocês o que ele faz nesse neurônio pós-sináptico.

Potencial Pós-Sináptico Excitatório (PPSE): O que ocorre no pós-sináptico?


Nas imagens de cima, vemos o terminal pré-sináptico com as vesículas e grânulos de secreção contendo
neurotransmissores (A); o potencial de ação chegou aqui no final e abriu canais de cálcio dependentes de
voltagem, o cálcio entrou e ativou as vesículas sinápticas e os grânulos de secreção que se colocaram
aqui na membrana e jogaram aqui para fora o seu conteúdo (B). O neurotransmissor pode se ligar a esse
receptor (na imagem parece um pimentão verde), que é um canal comporta dependente de ligante, e
temos 2 tipos diferentes de canal comporta dependente de ligante, e um deles é o canal comporta
dependente de ligante ionotrópico. Na imagem de baixo à direita (que parece um pimentão vermelho), o
neurotransmissor se liga ao canal comporta, o canal está fechado, e assim que o neurotransmissor se liga
a esse canal comporta ele se abre, podendo permitir a entrada do neurotransmissor específico. Vamos
imaginar que esse neurotransmissor seja, por exemplo, acetilcolina. Ela se liga ao receptor dela, ela abriu
o canal comporta dependente de ligante acetilcolinérgico ionotrópico, permitindo que o íon sódio, por
exemplo, entrasse para dentro dessa célula. Percebam que o neurotransmissor não entra, ele só se liga ao
canal comporta dependente de ligante, o que abre o canal e permite a passagem de íon, como por
exemplo o sódio. Se permitir a passagem de um íon, por exemplo, o sódio, esse neurônio pós-sináptico vai
começar a ter íon sódio entrando para dentro dessa célula e vai começar a sair do repouso e se dirigir ao
limiar de excitabilidade. Se entrar sódio suficiente aqui, nesse meu terminal neurônico pós-sináptico, para
eu abrir canais de sódio dependentes de voltagem, eu gerei aqui um potencial de ação. Se entrar uma
quantidade de sódio que excite esse neurônio até que chegue o potencial de ação, ou seja, até que eu
chegue ao limiar para que eu tenha o potencial de ação. Essa entrada de sódio que está excitando esse
neurônio, que pode ou não chegar a um limiar, chamamos de PPSE - Potencial Pós-Sináptico
Excitatório. Essa sinapse é uma sinapse elétrica excitatória porque ela promoveu no neurônio
pós-sináptico o potencial pós-sináptico excitatório.
Então o neurotransmissor se ligou, abriu um canal comporta dependente de ligante ionotrópico (ionotrópico
porque ele permite a entrada de um íon na célula), esse íon (como por exemplo o sódio) entrou na célula,
a célula estava em repouso e caminhou em direção ao limiar de excitabilidade. Gerei aqui um PPSE -
Potencial Pós-Sináptico Excitatório. Se eu chegar no limiar de excitabilidade eu vou abrir canais comporta
dependentes de voltagem e eu terei, então, nesse momento, o potencial de ação.

Na imagem abaixo eu tenho a mesma coisa que na anterior: eu tenho um terminal pré-sináptico, com
muita mitocôndria (1 - círculo verde com cobrinha preta), com vesículas contendo neurotransmissores (2),
com canais comporta dependentes de voltagem para o cálcio (6). Deixa o autoreceptor de feedback (3) pra
lá por enquanto, não trabalharemos com ele agora. Temos também a fenda sináptica (4). Quando um
potencial de ação chega aqui no fim (no terminal pré-sináptico), ele abre canais comporta dependentes de
voltagem para o cálcio (6), o cálcio entra, determinando a aproximação do neurotransmissor à fenda, a
exocitose dele, ele se liga a um receptor ionotrópico (5), vai abrir um canal para que entre para dentro da
célula um íon, por exemplo o íon sódio. Percebam que o neurotransmissor não entra, ele só se liga no
canal - ele vai abrir para entrar um íon para dentro da célula no neurônio pós-sináptico. A medida que vai
entrando sódio dentro dessa célula, ela vai ficando cada vez menos negativa, e isso agora chamamos de
PPSE, porque eu não estou no primeiro neurônio (lembra na aula passada que foi dito que até chegar no
limiar, quando se trata do primeiro neurônio (do neurônio sensorial) a gente chamava de potencial de
receptor ou gerador ou até mesmo potencial graduado, aqui vamos chamar de PPSE - Potencial
Pós-Sináptico Excitatório. Se eu atingir o limiar de excitabilidade agora, eu terei o potencial de ação bonito
no meu neurônio pós-sináptico (B) - despolariza, repolariza - que vai se propagar ao longo desse neurônio
inteirinho.

Potencial Pós-Sináptico Inibitório (PPSI)


Nessa próxima imagem, temos basicamente a mesma coisa, novamente, porém, uma outra sinapse.
Agora uma sinapse que ao invés de causar um Potencial Pós-Sináptico Excitatório (PPSE), ela causa um
Potencial Pós-Sináptico Inibitório. O potencial de ação chega no terminal pré-sináptico, abre canais para
cálcio, o cálcio entra, libera um neurotransmissor, e na imagem, por exemplo, ele está liberando um GABA.
O neurotransmissor GABA é o principal neurotransmissor inibitório do meu SN, e ele vai se ligar a
receptores ionotrópicos pra ele e abrir um canal iônico para a entrada de Cloreto (Cl-) dentro da célula, e
como Cl - é um íon negativo, ao invés da célula se aproximar do limiar ela se afasta do limiar de
excitabilidade. Então essa célula (pós-sináptica), mais negativa, não gera potencial de ação, ela fica
inibida, e então temos um Potencial Pós-Sináptico Inibitório.
Neurotransmissor se ligou (bolinha em azul na imagem da direita), abriu um canal e agora ao invés de
permitir a entrada de um íon positivo (porque o neurotransmissor se ligou a um canal específico para ele e
abriu, então, o canal para o íon negativo), permite a entrada de cloro (Cl -) para dentro da célula, e o
cloreto deixa essa célula mais negativa, hiperpolarizando a célula, afastando portanto a célula do seu
limiar de excitabilidade. Então ao invés de ter um potencial pós-sináptico excitatório, temos um potencial
pós-sináptico inibitório.
Durante a aula conversaremos sobre as vantagens de ter potenciais pós-sinápticos inibitórios.
Receptor Metabotrópico: O 2º Mensageiro
Além de receptores ionotrópicos, onde o receptor é o próprio canal iônico, que permite a passagem direta
de um íon positivo ou negativo pela membrana, determinando PPSE ou PPSI, temos um outro tipo de
canal comporta dependente de ligante chamado receptor metabotrópico.
O receptor metabotrópico funciona da seguinte forma: o neurotransmissor (NT) se liga ao receptor e não
abre imediatamente um canal iônico. Ele ativa 2ºs mensageiros que estão ligados a esse receptor. Na
maioria das vezes o segundo mensageiro é uma proteína chamada Proteína G, e esse 2º mensageiro é
que acaba abrindo o canal iônico para gerar um PPSE ou um PPSI nessa membrana. Mas não é só isso
que acontece: esse 2º mensageiro também ativa cascatas de eventos intracelulares que mudam a
atividade desse neurônio de ponto de vista morfológico. Faz o neurônio produzir coisas que até então ele
não produzia, como o crescimento de axônio, mais dendrito, uma nova proteína de membrana etc. Então
temos aqui um receptor metabotrópico, que interfere no metabolismo da nossa célula.
A gente tem neurotransmissores que atuam tanto em canal ionotrópico como em canal metabotrópico,
como por exemplo a acetilcolina, e temos neurotransmissores que só atuam em receptores metabotrópicos
como por exemplo a noradrenalina.
Então, seguindo a imagem abaixo, o potencial de ação chegou, entrou cálcio, liberou neurotransmissor.
Ele pode atuar no canal ionotrópico, permitindo a entrada de um íon para dentro da célula, gerando um
PPSE ou um PPSI, ou pode atuar num receptor metabotrópico. O receptor metabotrópico não é um canal
iônico, ele vai ativar o 2º mensageiro e este que vai abrir um canal iônico, permitindo a passagem de um
íon e gerando PPSE ou PPSI, e vai ainda ativar eventos intracelulares que vão mudar o metabolismo
desse neurônio, fazendo com que o neurônio produza coisas que antes ele não produzia, antes dessa
estimulação ele não produzia.
Na imagem da direita eu tenho, por exemplo, acetilcolina. Lembra que eu disse para vocês que a
acetilcolina pode atuar tanto em receptores ionotrópicos quanto em receptores metabotrópicos.

No esquema abaixo, vemos o potencial de ação, que é o impulso nervoso, chegando, abrindo canais de
cálcio (em verde), o cálcio entrando para dentro da célula, promovendo a ativação das enzimas que fazem
a exocitose do neurotransmissor, o neurotransmissor se ligando a canais ionotrópicos ou metabotrópicos,
e determinando, em uma sinapse excitatória, por exemplo, a ativação desse neurônio ou, numa sinapse
inibitória, uma inibição desse neurônio, gerando PPSE ou PPSI.
Exemplos de Neurotransmissores que estão ligados a Canais Ionotrópicos
- Denominados receptores ionotrópicos
- Participam amplamente da transmissão rápida
- A ligação do ligante e a abertura do canal ocorrem em milissegundos
- Alguns exemplos: nAch (receptor nicotínico para Acetilcolina), GABAa

Exemplos de Neurotransmissores que se ligam a Receptores Metabotrópicos


- Proteínas G são proteínas de membrana com 3 subunidades (ABY). Quando ativadas, ativam
outras proteínas efetoras (segundos mensageiros).
- As ações são mais lentas, mais duradouras e diversificadas.
- Exemplos: mAch (metabotrópicos - receptores muscarínicos para acetilcolina) a (alfa) e B (beta)
adrenérgico (ionotrópicos - receptores para adrenalina e noradrenalina). Vamos conversar muito
sobre isso em outras aulas do curso.

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