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Caderno N1 - Fisiologia
Caderno N1 - Fisiologia
Estudo da Fisiologia
Funcionamento normal do meu corpo, como deveria ser esse funcionamento se não houvesse problemas.
Propriedades Emergentes
Só conseguimos entender o nosso organismo como um todo, não fracionando suas partes. É a relação de
suas estruturas que o faz ser o que é. Nosso corpo resulta de relações complexas não lineares entre os
diferentes componentes do corpo. Além disso, é importante integrar a forma (anatomia) à função
(fisiologia).
Pergunta - Se não há proteína no interstício, como que a proteína passa do plasma para dentro
da célula?
Boa parte das proteínas no sistema digestório são quebradas em aminoácidos, que é uma molécula
pequenininha. A proteína é uma molécula enorme, não consegue passar pela fenestra. O que passa pelo
espacinho da fenestra e da membrana celular são os aminoácidos, e a célula os usa como matéria-prima
para construir ou reconstruir suas próprias proteínas. Então a proteína não passa, a própria célula constrói
pegando matéria-prima que vêm do plasma. Depende da minha alimentação.
Homeostasia
As nossas células não aceitam muitas mudanças da constituição do meu plasma e do meu líquido
intersticial, que compõem o meio interno, tem que ter os seus constituintes que não mudem muito. Se eles
alterarem muito, a célula pode sofrer. Então as minhas células são dependentes da constância do meu
meio interno para trabalhar direito. Lembrando também que os 3 líquidos estão em contato.
Valor Osmótico
Cada substância tem um valor. A soma do que está no plasma tem que ter a mesma soma do que está no
interstício que tem que ter a mesma soma do que está dentro da célula. Não importa a quantidade, e sim o
valor, o resultado, a soma do “peso” (valor osmótico) de cada uma delas. Esse valor pode variar no nosso
organismo de 280 a 300 mOsm (milésima parte de um Osm). Se isso ocorrer, o meu meio interno está em
equilíbrio, está tudo bem com o meu balanço orgânico.
2. Nociceptor (Nocirreceptor)
Quando eu tenho uma lesão, ou tomo um beliscão, por exemplo. Noci de nocivo.
3. Termorreceptor
Alterações de temperatura (calor e frio).
4. Quimiorreceptor
Alterações químicas - paladar (salgado, doce, azedo, amargo) e olfato (vários cheiros).
5. Fotorreceptor
Alterações luminosas - visão (cor, tamanho, distância, forma).
Para cada uma dessas coisas existe um receptor específico.
Os 5 Sentidos
Somestesia (tato, pressão, dor, temperatura, vibração, propriocepção), audição, paladar, olfato, visão. Não,
tato NÃO é um sentido, mas é uma das partes ou divisões da somestesia.
Feedback Negativo
Imagine a situação: estou sentado na areia da praia (40oC) e começa a subir minha temperatura (que
antes estava 36,5oC). O sol começa a esquentar meu corpo e minha temperatura começa a subir. Um
sensor percebe isso, um termorreceptor, manda essa informação, esse aviso de aumento da temperatura
para o sistema nervoso, para o centro integrador, que começa a gerar uma série de respostas para abaixar
minha temperatura, como o suor, a dilatação dos vasos sanguíneos (para eu perder calor para o meio,
tentar jogar calor para fora), a sede, moleza (porque abaixa o metabolismo). Todas essas coisas estão
acontecendo para tentar abaixar a temperatura e para ela voltar ao valor de normalidade (36,5oC).
Chamamos esse esquema de mecanismo de feedback negativo. Toda vez que a minha resposta é
contrária ao meu estímulo eu tenho um feedback negativo. Meu organismo trabalha com feedback
negativo para corrigir os meus problemas. 99% dos meus feedbacks são negativos. Se fosse o contrário -
estivesse frio e o corpo tivesse que aumentar a temperatura - eu iria tremer mais, comer mais para ganhar
energia etc. Isso também é feedback negativo, porque está indo contra o estímulo original.
Feedback Positivo
Tenho um estímulo, é percebido por um sensor, mas a resposta torna o estímulo mais forte ainda ou o
mantém. Um exemplo clássico é a amamentação. O bebê começa com a sucção (estímulo), que promove
uma deformação da mama, e um mecanorreceptor percebe isso, manda essa informação para um centro
de controle (hipotálamo e hipófise posterior, nesse caso), que produz um hormônio chamado ocitocina, que
estimula as células da mama a se contraírem e o leite sai, e com a contração da mama o bebe suga mais
ainda, retroalimentando esse ciclo. Além disso, a sucção do bebê também estimula mais produção de leite
pras próximas vezes. Outro exemplo de feedback positivo é o parto. Quando o feto começa a ficar
apertado, ele aperta a parede do útero, que se deforma. Um mecanorreceptor percebe isso, envio para o
centro integrador, o mesmo da amamentação, esse centro libera ocitocina, que cai no sangue e vai até o
útero, fazendo-o contrair, e retroalimentando esse circuito. Então quanto mais ele chuta a parede uterina,
mais ela contrai (cada vez mais forte), e mais o bebê vai chutar. Isso só vai terminar quando o bebê for
ejetado. Por isso que a mãe com parto normal amamenta primeiro, por causa da ocitocina, que no parto
normal (na hora do parto mesmo) já começa a ser produzida, o que facilita o leite a descer.
19/08/2021 - Bioeletrogênese e Potencial de Ação
Pré-Aula: Biomembranas e seus Mecanismos de Transporte
Membranas Biológicas
Temos aqui novamente uma célula. Temos a membrana plasmática dela (em vermelho escuro -
envolvendo-a), o núcleo (que marca o material genético - DNA e RNA), algumas organelas específicas,
como lisossomo (digestão intracelular). E eu tenho na membrana dela, além de lipídio (tudo que está em
cor de rosa mais escuro), tenho inúmeros tipos de proteínas incrustadas, e por causa dessas proteínas
algumas substâncias vão conseguir entrar e sair da célula. Quais moléculas conseguem entrar e sair da
célula a partir dessas proteínas de membrana?
- Gases, como O2 e CO2 (conseguiriam entrar e sair através da membrana lipídica).
- Um pouquinho só de água (H20) [logo entenderemos como, porque a água não se dilui em lipídio,
não é fácil ela atravessar nessa dupla membrana lipídica].
Há também uma proteína (que parece uma fatia de pão azul com uma bola no topo) que recebe uma
substância e que, depois de recebê-la, ela muda a atividade celular. Veremos isso mais pra frente e
entenderemos como.
Todas as reações químicas que respondem pela minha vida acontecem em condições estáveis
(homeostase = constância do meio interno) e restritas. E as membranas, as biomembranas, das
quais a membrana plasmática (que é uma membrana biológica) ajuda a manter a homeostasia das
minhas células e dos órgãos, que são chamados organelas, que as minhas células têm.
Existem canais de vazamento para muitos íons - canais proteicos. Os canais de vazamento são utilizados
para difusão simples de substâncias que são insolúveis em lipídios. Por exemplo, os íons sódio (Na+),
potássio (K+), cloreto (Cl-), Cálcio (Ca + +). Esses canais são seletivos - cada canal passa apenas um íon
específico.
Moléculas grandes, como a glicose, geralmente usam esse método. Por serem muito grandes, um canal
de vazamento não é o suficiente, haveria um rombo na membrana para essas grandes moléculas
conseguirem passar. Então a natureza, sábia, criou essas proteínas carreadoras. Elas são absolutamente
específicas. Elas reconhecem a substância, a captam de um lado e a levam para outro lado da célula.
Podem fazer o transporte de dentro para fora ou de fora para dentro.
Proteínas Receptoras
Não fazem transporte. Não fazem difusão nem simples nem facilitada. Elas reconhecem uma substância
que meu organismo produz que se liga a ela, e no momento que essa substância se liga a ela, ela ativa
uma cascata de eventos dentro da célula que fazem a célula produzir alguma coisa que ela não produzia
antes. Por exemplo, no exemplo abaixo, a insulina se uniu a um receptor de insulina (proteína receptora de
membrana). Uma grande cascata de eventos foi desencadeada e terminou fazendo com que essa célula
produzisse uma proteína carreadora de glicose que foi incorporada à membrana.
Estamos falando dessas proteínas receptoras agora porque quando formos falar de sinapse um pouco
mais a frente veremos que nossos mecanismos sinápticos acontecem nas sinapses químicas por conta de
proteínas receptoras, proteínas que reconhecem substâncias químicas específicas e essas substâncias
não entram na célula, apenas se ligam a esta célula no esquema chave-fechadura (a chave é a insulina e
a fechadura é a proteína receptora), fazendo com que essa célula passe a trabalhar de um jeito que ela
não trabalhava antes. Vamos voltar a esse assunto um pouco mais a frente. Mas é importante saber que
essas proteínas existem.
Nesta imagem, vemos que a glicose precisa de uma proteína que a transporte, que chamamos de Glut4, a
proteína que transporta, que faz difusão facilitada de glicose. A gente tem 6 tipos de Glut já conhecidos.
Um deles é chamado Glut4, que é o que está presente nos meus músculos, tecido adiposo, e é através
dele que o açúcar consegue sair do líquido extracelular e entrar para dentro da célula. Só que para ele ser
formado eu preciso da insulina. A insulina é uma molécula enorme, é uma proteína, é uma molécula
formada por muitos aminoácidos. Se um aminoácido sozinho já precisa de uma proteína como a glicose
precisa para entrar na célula, a insulina não consegue penetrar nas nossas células. Como que ela atua
então? Ela se liga a um receptor específico para ela, que é uma proteína da membrana das minhas
células, específica para insulina (só reconhecem insulina), e na hora que ela se liga aqui, minha célula
desencadeia uma cascata de eventos intracelulares enorme, N enzimas participam disso (não precisamos
conhecer essa cascata toda, se fosse medicina essa cascata seria toda detalhada), consegue produzir um
transportador de glicose que incorpora na membrana para que a glicose consiga entrar. Então a maioria
das células do meu corpo precisa da insulina para colocar a glicose para dentro, porque é a insulina que
determina a produção dessa proteína transportadora de glicose. Daí o problema do indivíduo que tem
diabetes, que vai ter dificuldade desde a proteína reconhecer a insulina (se for diabetes tipo 2), ou vai ter
dificuldade de produzir a insulina (se for diabetes tipo 1). Uma coisa que é legal saber é que os meus
neurônios não precisam da insulina para produzir transportador de glicose. O Glut dos meus neurônios é
de um outro tipo, e os neurônios sabem produzir transportador de glicose sem precisar da insulina. Então
os indivíduos que têm diabetes não tem problema quanto a captar glicose pelos neurônios. Eles não vão
sofrer falta de açúcar no sistema nervoso mesmo sendo diabético, porque o neurônio só gosta de açúcar
como fonte de energia. Se não fosse assim, o diabético ia morrer, porque o neurônio dele não ia conseguir
captar energia de nenhuma outra molécula do organismo, mas a natureza inteligente fez com que os meus
neurônios consigam produzir carreadores de glicose (açúcar) sem precisar da insulina. Aliás, pro diabético
o que faz mal é o excesso de açúcar, porque os neurônios podem acabar captando uma quantidade maior
do que eles precisam, uma vez que eles não precisam da insulina para carregar glicose para dentro da
célula. Mas os neurônios ainda precisam da insulina - a insulina no sistema nervoso é um fator de
crescimento neuronal, de manutenção do neurônio, chamamos de fator trófico (é um fator de crescimento).
Alguns autores entendem que indivíduos diabéticos não tratados podem ter problemas neuronais
importantes, inclusive o próprio Alzheimer, pela falta que a insulina vai fazer no sistema nervoso. Não para
o açúcar, mas para esse outro efeito que a insulina tem lá nos neurônios.
Uma metáfora que podemos fazer da imagem (da insulina que atua como ativador da produção da
proteína carreadora para transportar glicose) é um seguinte: é como se você não conseguisse entrar na
minha casa, mas você tivesse a chave da porta mas você não conseguisse entrar, não passasse pela
porta, mas você fica lá fora com a porta aberta gritando “olha, fulano, faça isso, beltrano, faça aquilo”,
dando as ordens, e as coisas funcionam aqui dentro mesmo sem você entrar.
A água também é um mecanismo de transporte passivo - não gasta energia para acontecer. Para a água
entrar para dentro do meu organismo, eu preciso de um canal de vazamento, para entrar dentro das
minhas células. Esse canal de vazamento para a água é chamado de aquaporina. É também específico -
só deixa passar água. No entanto, a água é danada. Ela é super importante, ela vai para o meu líquido
intracelular (40% da minha água corporal está dentro das células, lembram?). Ela pode entrar junto com o
sódio, com a glicose, com aminoácido, potássio, então naqueles canais de vazamento ou nas proteínas
carreadoras para substâncias osmoticamente ativas a água pode entrar junto também. Quando é a
substância que está “caminhando”, estamos falando em difusão simples ou facilitada, quando é a água
(solvente) que está caminhando, falamos em osmose.
Resumo: Mecanismos de Transporte / Transportes Ativos
1. Transporte Passivo
Ocorre sem gasto de energia externa (ATP) ao sistema e a favor do gradiente eletroquímico, ou seja, do
positivo para o negativo, ou a favor de um gradiente de concentração, ou seja, da onde tem mais para
onde tem menos. O transporte passivo ocorre sempre para equilibrar as forças do soluto, da substância,
para igualar sódio, potássio etc.
1.1. Difusão
Transporte de moléculas ou íons (soluto).
a) Simples (substância / soluto / sólido): quando a substância é lipossolúvel, atravessando em
qualquer ponto da membrana, ou quando tem canais de vazamento, daí é uma difusão
simples mediada por proteína.
b) Facilitada (substância / soluto / sólido): quando tem para ela proteínas carreadoras.
Tanto a simples quanto a facilitada são substâncias, íons, indo da onde tem mais para onde tem menos.
Na difusão simples, eu tenho moléculas pequenas que ou atravessam a membrana lipídica porque são
lipossolúveis ou têm canais de vazamento, e a difusão facilitada precisa obrigatoriamente de uma proteína
carreadora e é para moléculas maiores como glicose, aminoácidos, que precise de alguém que o carregue
para dentro da célula.
2. Transporte Ativo
Há o gasto de energia (na forma de ATP - a moeda energética do meu organismo, tudo que eu como que
não é armazenado, mas que eu vou usar como fonte de energia vai virar ATP) e ocorre contra um
gradiente de concentração, isto é, as substâncias serão deslocadas de onde estão pouco concentradas
para onde sua concentração já é alta. Há gasto de energia pois vai contra as forças de concentração. O
principal tipo de transporte ativo é a bomba de sódio e potássio.
Na imagem abaixo eu tenho um neurônio pseudo-unipolar (1), que está ligado ao meu sentido
somestésico. Pega informação de tato, pressão, temperatura, dor da minha pele ou do meu meio interno,
como informação da minha pressão arterial, dos movimentos peristálticos que o meu intestino faz, de uma
víscera que é estirada, ou de uma lesão, de uma inflamação, ou de uma alteração de oxigênio, de gás
carbônico, de glicose etc. Ou seja, pega informações que vem ou da minha pele (tato, pressão,
temperatura, propriocepção etc.) ou do meu meio interno e leva essas informações para o meu sistema
nervoso central, que é a medula espinal ou tudo que está dentro do crânio.
Já os meus neurônios bipolares (um corpo, 2 polos) [2] pega informação do paladar, olfato, visão e
audição, e leva para o sistema nervoso.
Os meus neurônios sensoriais ou aferentes (1 e 2 - pseudo-unipolar e bipolar) conduzem informação da
periferia em direção ao SNC (sistema nervoso central). Os pseudo-unipolares (1) levam informações
somestésicas e os bipolares (2) visão, audição, paladar e olfato.
Contudo, quando uma informação quer sair do ‘centro’ (SNC) e ir para a periferia, quem faz isso são
neurônios multipolares. São neurônios eferentes (dos centros nervosos para a periferia).
Se eu estivesse falando dessas informações aqui (audição, paladar, olfato, visão, tato, pressão,
temperatura, dor da face etc.), todas elas vão entrar direto dentro do encéfalo já, depois veremos em que
região. Mas novamente, aferência entra, aí dentro do SNC um monte de neurônio para interpretar/analisar,
depois sai por uma via eferente. O circuito é sempre esse.
Ao longo do meu axônio inteiro, e só no meu axônio, a gente tem um outro tipo de canal comporta, é um
canal comporta dependente de voltagem. Esse canal vai se abrir quando a célula atingir o limiar. Então na
hora que a célula sai de -70mV e chega a -55mV, por exemplo, os canais comporta dependentes de
voltagem específicos para sódio que existem no axônio que estavam fechados vão se abrir, e vão permitir
que o sódio entre para dentro da célula. Eu estava aqui (-70mV), cheguei no limiar (-55mV), e nesse
momento, serão abertos canais comporta dependentes de voltagem específicos para o sódio e ele vai
entrar de monte, e a célula vai ficando cada vez menos negativa, passa do 0 e vai se tornando positiva, de
tanta carga elétrica que ela está ganhando, de tanto sódio carregado positivamente que ele está
ganhando. Os meus canais de sódio estão fechados em -70mV, vão se abrir quando atingir o limiar e vão
ficar abertos 1 milésimo de segundo (1s dividido por 1000). Quando a célula atingir uma determinada
voltagem positiva, por exemplo, +35mV, isso 1 milésimo de segundo depois, esses canais vão se fechar e
vão ficar inativos. É diferente só de fechado, o formato é diferente, e daqui a pouco entenderemos a
importância disso. E eles vão ficar inativos até a célula voltar em -70mV.
Ao longo do meu axônio eu também tenho canais comporta dependentes de voltagem específicos para
potássio (K+). Eles estarão fechados quando a célula estiver em repouso, e estarão totalmente abertos
quando os canais de sódio (Na+) se tornarem inativos. Nesse exemplo que estamos usando, +35mV, e
vão ficar abertos até a célula chegar no repouso. Eles só podem ficar fechados ou abertos, eles não tem o
estado inativo (o do potássio).
Estava em repouso, dei um estímulo (ex.: encostei no meu braço), abri canais comporta dependentes de
estímulo, o sódio começou a entrar muito (só ele por enquanto) e atingiu o limiar. Atingir o limiar é ter uma
voltagem que eu preciso para abrir canais comporta dependentes de voltagem, pro sódio e pro potássio.
Primeiro para o sódio, abriu, o sódio entra muito e 1 milésimo de segundo depois ele fecha e fica inativo. E
aí se abrem os canais de potássio e agora o potássio sai, porque tem muito dentro, e a célula volta ao seu
valor de repouso (isso está mostrado no gráfico da imagem anterior a anterior). Os meus canais de sódio
são rápidos - a célula está com o canal fechadinho, atingiu a voltagem limiar, por exemplo, -55mV, os
canais de abrem, e se abrem rapidamente (atingiu, abriu) e o sódio começa a entrar que nem um maluco
para dentro da célula. O canal estava fechado, ele abriu, e entra entra entra sódio. Atingiu -55mV, os
canais de potássio também vão começar a se abrir - a voltagem para abrir os 2 é o limiar. Só que o canal
de potássio é lento, ele abre devagar, por isso o potássio só vai começar a sair e conseguir sair quando ele
estiver aberto, por isso o potássio só vai conseguir sair quando o canal do sódio já estiver fechado. Pensa
que eu tenho 2 portas aqui em casa, e tenho uma mesma chave para abrir as 2 portas, só que no
momento que eu enfio a chave na fechadura (que é a voltagem -55mV nesse caso) ela escancara e as
pessoas já começam a passar por ela rapidamente, mas a mesma chave que abre a segunda porta abre
uma porta que está raspando, abrindo bem devagarinho, e as pessoas só vão conseguir passar por ela
depois de um tempo, já dando tempo da primeira porta se fechar.
Tudo que você é, sem nenhuma exceção, é uma troca iônica de sódio por potássio. Você só sente
qualquer coisa porque o seu neurônio troca sódio por potássio nesse mecanismo rapidíssimo. Essa
linguagem binária, simples, da troca de sódio por potássio, é a linguagem que o meu sistema faz, é isso
que transforma o toque no meu braço em um entendimento que isso ocorreu lá no meu cérebro, mesmo
que eu não esteja enxergando.
Sabe por que eu amo música? Porque os neurônios que captam a informação auditiva transformam essa
informação num potencial de ação, que é essa troca de sódio por potássio, levam isso lá pro cérebro e
ativam uma área de prazer, que troca sódio por potássio, me deixando felizinho. O mesmo se eu não
gostasse de música, a diferença é que ativaria uma região de desprazer lá na área do sistema nervoso.
Tudo, sem nenhuma exceção, é troca de sódio por potássio. E se isso bagunça, a meleca é grande!
Agora vamos para a imagem abaixo. Eu estou aqui, na extremidade (esquerda) do meu neurônio
pseudounipolar, a minha célula estava em repouso (em -70mV), foi ativada, o potencial de membrana (de
ação) começou a mudar. O meio externo (líquido extracelular - LEC) estava positivo e o líquido intracelular
negativo. Muito potássio dentro, muito sódio fora. Fui lá e estimulei. Abriu o canal comporta dependente de
estímulo para o sódio (Na +) e começou a entrar. No momento que atinge o limiar, eu vou abrir canais
comporta dependentes de voltagem para o sódio, e ele vai entrar para dentro da célula, cada vez mais, e a
célula vai ficando cada vez menos negativa (gráfico subindo). Chamamos esse processo de
despolarização. Quando a célula atinge uma determinada voltagem, mais ou menos +35mV (isso nesse
exemplo - topo do gráfico), deu tempo de abrir canais de potássio, e agora o potássio sai e a célula volta a
ficar negativa. Ela volta pros -70mV, mas ela não está em repouso ainda, porque tem muito sódio dentro e
muito potássio fora da célula. Para ela voltar ao repouso e estar pronta para ser estimulada novamente, a
bomba de sódio e potássio, que não parou de funcionar em nenhum momento (mas agora os canais de
sódio e potássio já fecharam) vai conseguir por a casa em ordem, vai reestabelecer o meu repouso.
Imagina o seguinte: você está na porta das Casas Bahia, vai ter liquidação, e junto com você do lado de
fora está aquele monte de gente. Aí abre uma portinha pequena, e tem uma pessoa lá na porta que deixa
entrar/passar algumas pessoas, e daí entra 3 e ele joga 2 pessoas que estavam lá dentro há bastante
tempo. Entrou mais uns 3, ela joga pra fora mais 2 pessoas que já estavam lá há algum tempo. E aí dentro
das Casas Bahia nunca fica lotado, mas de repente alguma coisa acontece e a porta escancara, e daí todo
mundo que estava do lado de fora vai entrar. Você acha que a pessoa que está lá na porta, mesmo que
não pare de trabalhar, vai conseguir empurrar todo mundo para fora? Não! Ela só vai conseguir na hora
que eu conseguir abaixar a porta de novo, e deixar só os canais de vazamento ali de novo. Eu fechar
esses canais comporta todos de uma vez.
Como os meus canais de potássio são lentos para abrir, eles também são lentos para fechar. E às vezes
as minhas células podem até perder mais potássio e ficarem mais negativas do que elas estavam quando
a brincadeira começou, porque ele pode demorar um pouquinho para fechar. Se isso acontece, dizemos
que a nossa célula hiperpolariza - se ela fica mais negativa que no repouso. Então no repouso ela está
polarizada. Quando entra sódio (Na+) ela despolariza. Quando sai potássio (K+) ela repolariza.
Despolarização + repolarização = potencial de ação. É a língua que o meu sistema nervoso fala. É o
que meu axônio conduz, é o potencial estímulo elétrico.
Eu vou despolarizando o começo e quando esse efeito dominó acontece eu já vou repolarizando esse
começo, e assim sucessivamente, por isso é importante que entendamos que o meu canal e sódio
dependente de voltagem tem um período inativo, porque se ele não tivesse um período de inatividade meu
potencial não iria caminhar nesse sentido (linha vermelha feita pela professora), porque o sódio daqui ia
abrir o canal daqui de trás e lá da frente também, e daí a coisa ia ficar embolada aqui. Como é que eu
garanto que eu só vou abrindo o canal que está na frente? Eu garanto que só vou abrir o canal que está na
frente porque o canal de sódio aqui de trás tem 3 estágios - ele está fechado, ele abre e depois ele fica
inativo. Então, como ele fica inativo, eu só posso abrir o canal que está na frente, eu não posso abrir ele de
novo. Por isso é importante saber que ele tem 3 estágios.
Na imagem abaixo, temos: eu estou em repouso, vim aqui (primeira seta vermelha feita pela professora) e
dei um estímulo, saí do repouso e caminhei até o limiar - canais comporta dependentes de estímulo. Agora
abri canais comporta dependentes de voltagem, primeiro de sódio. O sódio entrou, entrou e entrou e eu
despolarizei a célula (subida do gráfico). Os canais ficaram inativos. Potássio saiu, saiu, saiu, eu
repolarizei a célula (descida do gráfico). Os canais de potássio se fecharam, os de sódio deixaram o
estágio inativo e se fecharam, a minha bomba consegue por tudo de volta no lugar. Se eu der um estímulo
enquanto a célula está aqui (no meio da subida/descida - entrada de sódio/saída de potássio),
respondendo ao primeiro, ela não consegue reagir, porque ela está reagindo ao primeiro estímulo.
Chamamos isso de período refratário absoluto - enquanto eu estou reagindo ao primeiro potencial de
ação, eu não consigo reagir ao próximo, porque ele já está muito ocupado. Mas se eu estou aqui, próximo
do repouso, quando os canais já estão todos fechadinhos, e eu der um novo estímulo e ele for mais forte
que o primeiro, eu posso conseguir fazer um novo potencial de ação. O melhor e mais fácil de acontecer é
quando o repouso se estabelecer, mas quando ele está tendendo ao repouso, praticamente lá, o estímulo
mais intenso pode gerar uma nova resposta. Esse é o período refratário relativo.
Então você está contando para a gente que pode ser que eu não perceba alguns estímulos? É muito
pouco provável que isso aconteça, porque se o meu neurônio for assim, tiver uma bainha de lipídio
chamado mielina, se ele for assim o neurônio mielínico, a velocidade com que isso que eu demorei a aula
inteira para explicar para vocês como acontece é uma velocidade igual a 120m em 1s. E qual é o nosso
tamanho? Quem é muito alto chega a 2m. Tudo isso acontece, no neurônio inteiro, numa velocidade de
120m em 1s. Eu nem pus a mão na chapa quente, já tirei a mão e já estou xingando quem deixou aquilo
aquecido lá. E se o neurônio não é envolvido por essa bainha de mielina, se ele é amielínico (neurônio da
esquerda na imagem de fundo preto abaixo), ele é mais lerdinho. Qual é a velocidade se ele está assim?
De 0,5 a 2m por segundo. É muito rápido também.
Na imagem de cima na direita, eu vou despolarizando e já venho regularizando atrás, ao longo do axônio.
Isso é muito rápido, mesmo! A maioria dos neurônios do meu organismo são mielinizados, ou seja, tem
rápida velocidade.
Potássio e Sódio fora da faixa de normalidade no nosso corpo
Se eu tiver um excesso de sódio, por exemplo, eu vou ter muita força para ele entrar nos meus neurônios,
e essa muita força pode gerar um aumento de estabilidade neural tão importante que pode acabar
estabelecendo um quadro de convulsão, por exemplo. Se a gente tem muito potássio, como ele é um íon
intracelular, se eu tenho excesso dele dentro da célula, eu posso retardar a atividade, porque ele vai ter
mais dificuldade para sair. Ele sai porque fora da célula tem pouco, mas se tiver muito, ele vai ter
dificuldade para sair. Então eu vou ter dificuldade de repolarizar a célula. Isso é muito sério, mais pro
músculo cardíaco, porque eu posso ter uma parada cardíaca, por exemplo. Por isso, sempre um concerto
que o médico faz quando você está no hospital, toda hora dosando como é que está seus íons sódio,
potássio e tal para tentar manter isso dentro da faixa de normalidade, porque as células excitáveis, como
músculo e neurônio, vão sofrer muito se a gente sair fora daquela faixa de normalidade de sódio e
potássio. Eles (os médicos) vão tentar ou te dar íon ou te dar líquido para diluir, diurético, para manter você
na faixa de normalidade. Sair da faixa é um risco e o nosso organismo não sobrevive muito tempo fora
dessa faixa, porque eu vou afetar esses processos por demais. Se entrar muito sódio para dentro do
neurônio, eu posso convulsionar e como o sódio arrasta água, o neurônio pode demasiar, lisar, e daí
babou, acabou, é irreversível. Por isso manter essas coisas no padrão é extremamente importante. Sódio
e potássio é tudo, manter eles dentro do padrão é mais tudo ainda. Veremos mais íons importantes nas
próximas aulas.
Sinapse Elétrica
Como é que eu sei que é uma sinapse elétrica que eu tenho representado na imagem abaixo? Nela eu
tenho um neurônio pré-sináptico (um neurônio que está antes da sinapse - sinapse é o contato), e um
neurônio pós-sináptico (neurônio que está depois do contato). Tenho também canais (em roxo na imagem)
comporta dependentes de voltagem. Os canais comporta dependentes de voltagem do neurônio
pré-sináptico estão tão próximas dos canais comporta dependentes de voltagem do neurônio pós-sináptico
que eles se tocam e formam o que chamamos de junção comunicante - é como se eu tivesse um canal
só. Então no momento que a comporta do pré-sináptico é aberta por uma alteração de voltagem, a
comporta do pós-sináptico também será aberta por essa alteração de voltagem, de tal sorte que o
potencial de ação que está caminhando aqui (riscos em vermelho feito pela professora - entra sódio, saí
potássio, entra sódio, sai potássio…), quando chega no canal comporta (em roxo) e abre um canal de
sódio, vai também abrir o canal de sódio no neurônio pós-sináptico, e a informação vai simplesmente
passar do pré para o pós-sináptico, como se eu estivesse num neurônio só, como se eu não tivesse um
espaço entre um neurônio e outro. Isso acontece (como se eu não tivesse um espaço entre um neurônio e
outro) porque esse espaço, que chamamos de fenda sináptica, ele é tão pequeno que o neurônio está
praticando tocado no outro, eles são separados por 3 a 3,5 nm.
As sinapses elétricas no meu sistema nervoso acontecem principalmente na vida intrauterina (são bem
comuns e importantes para o desenvolvimento do SNC nessa vida intrauterina) e na vida extrauterina elas
acontecem em alguns poucos lugares: entre as células da glia (células que, junto com neurônios, compõe
o tecido neural); entre neurônios de várias regiões encefálicas - Oliva inferior, Cerebelo, Medula Espinal,
Hipocampo, Tálamo, Retina etc. São pouquíssimas as sinapses na nossa vida extrauterina dentro do SN
que são sinapses elétricas. Veremos sinapses elétricas entre os músculos lisos, por exemplo, entre a
musculatura cardíaca etc. Mas no SN, que é o ponto da aula de hoje, sinapses elétricas acontecem muito
na vida intrauterina e na vida extrauterina elas praticamente inexistem.
Todo neurônio, sem exceção, secreta um único tipo de neurotransmissor de baixo peso molecular. Por
exemplo, o neurônio que secreta Glutamato só tem Glutamato. O neurônio que tem Noradrenalina como
neurotransmissor de baixo peso molecular só sabe secretar Noradrenalina. É um tipo só de
neurotransmissor de baixo peso molecular, que normalmente dá nome ao neurônio. Por exemplo, neurônio
noradrenérgico, serotoninérgico etc - significa que ele secreta este neurotransmissor. O mesmo neurônio
que secreta, por exemplo, Glutamato, pode secretar vários tipos diferentes de neurotransmissores de alto
peso molecular. Então quando estamos lá no terminal axonal, aquelas vesículas sinápticas contém um
único tipo de neurotransmissor de baixo peso, e os grânulos de secreção podem ter diferentes tipos de
neurotransmissores de alto peso molecular.
Na imagem abaixo eu tenho a mesma coisa que na anterior: eu tenho um terminal pré-sináptico, com
muita mitocôndria (1 - círculo verde com cobrinha preta), com vesículas contendo neurotransmissores (2),
com canais comporta dependentes de voltagem para o cálcio (6). Deixa o autoreceptor de feedback (3) pra
lá por enquanto, não trabalharemos com ele agora. Temos também a fenda sináptica (4). Quando um
potencial de ação chega aqui no fim (no terminal pré-sináptico), ele abre canais comporta dependentes de
voltagem para o cálcio (6), o cálcio entra, determinando a aproximação do neurotransmissor à fenda, a
exocitose dele, ele se liga a um receptor ionotrópico (5), vai abrir um canal para que entre para dentro da
célula um íon, por exemplo o íon sódio. Percebam que o neurotransmissor não entra, ele só se liga no
canal - ele vai abrir para entrar um íon para dentro da célula no neurônio pós-sináptico. A medida que vai
entrando sódio dentro dessa célula, ela vai ficando cada vez menos negativa, e isso agora chamamos de
PPSE, porque eu não estou no primeiro neurônio (lembra na aula passada que foi dito que até chegar no
limiar, quando se trata do primeiro neurônio (do neurônio sensorial) a gente chamava de potencial de
receptor ou gerador ou até mesmo potencial graduado, aqui vamos chamar de PPSE - Potencial
Pós-Sináptico Excitatório. Se eu atingir o limiar de excitabilidade agora, eu terei o potencial de ação bonito
no meu neurônio pós-sináptico (B) - despolariza, repolariza - que vai se propagar ao longo desse neurônio
inteirinho.
No esquema abaixo, vemos o potencial de ação, que é o impulso nervoso, chegando, abrindo canais de
cálcio (em verde), o cálcio entrando para dentro da célula, promovendo a ativação das enzimas que fazem
a exocitose do neurotransmissor, o neurotransmissor se ligando a canais ionotrópicos ou metabotrópicos,
e determinando, em uma sinapse excitatória, por exemplo, a ativação desse neurônio ou, numa sinapse
inibitória, uma inibição desse neurônio, gerando PPSE ou PPSI.
Exemplos de Neurotransmissores que estão ligados a Canais Ionotrópicos
- Denominados receptores ionotrópicos
- Participam amplamente da transmissão rápida
- A ligação do ligante e a abertura do canal ocorrem em milissegundos
- Alguns exemplos: nAch (receptor nicotínico para Acetilcolina), GABAa