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"gindrome de Panico: Uma Escuta psicanalitica*® Riva Satovscm ScHWaRTZMaN AC longo das ultimas décadas, o diagnéstico de Sindrome de Panico tem designado um leque de transtornos emocionais Cuja expressdo central é um aumento de ansiedade. A abordagem medicamentosa que oferece alivio para o sofrimento mais agudo em tais transtornos é uma associagao de ansiolitico e antidepressivo. Seu aparecimento na literatura Psiquidtrica data da década de 1960, e sua definigao como entidade no- sologica distinta de outras manifestagdes de ansiedade surgem em 1980.” As pesquisas lideradas por Donald Klein® tiveram peso decisivo para o femanejamento na classificagao dos distirbios psiquicos cuja caracteristica Principal é a ansiedade, ao diferenciar essa sindrome de outras, tomando como base sua Tesposta ao tratamento, segundo o método de dissecgao far- macolégica. De acordo com aquele autor — e com tantos outros que confir- mam 06 resultados de seu trabalho"! ~, a boa resposta dessa sindrome aos icamentos ministrados por um periodo minimo de seis meses justifica "Wo apenas a diferenciago diagnéstica, mas também, frequentemente, a omvictdo de se tratar de uma questo médica, apesar de sua suposta causa Nao estar esclarecida. “o so : Peete texto foi publicado na Prcurs, Revista de Psicandlis, ano Ik n. 18,12. semeste de 1987, . ia 4, jul/ago, Tsun. AW. Caracterizacto do distro de Panico, Jornal rosie de Piqua v. 36,08 ju/ag * a le wy. De Sitade por A, W, Zuardi, ler Janet £2®™Pl0 de autor brasileiro F. Lotufo Neto. Tratamento da Sindrome de Pénico Mrasileirg, ‘de Psiquiatria, Rio de Janeiro, Vol. 37, n.2, mar/abr. de 1988. WwW Digitalizado com CamScanner ne slise: Um espace de interlocucag pricandli idade € univers ani steve presente q, de panico, que esteve pres le form, go da noes is meios de comunicagio nio eg cia in, setente hd mais teMPO on especializada, nao tem hoje © espaco gue = ei bém na literal stuais aparigdes na imprensa no notin "Ve on ‘a mesma formula: a sindrome é apresentada a de novo, mas er ‘da da descrigéo de seus sintomas mais Marcantes, doena, acompa fe o controle destes exige intervengao medicamenios, entao afirmado eee com depoimentos de pessoas que sé Viram se, reforgando-se oa do com o uso de temédios, com ou sem alguma ajuda sofrimento ™m Por outro lado, a literatura psicanalitica que trata da sindrg. Pei oentado novos e valiosos ngulos na discussao d. me tem a séo de sofrimento. ‘ intervengao medicamentosa é de grande aj : rapes Lasers de ansiedade. Possibilita, a a ee forma limitada, a manuten¢o de suas atividades cof. — Nés, psicanalistas, por outro lado, continuamos convocados a0 trabalho de elucidacao do sentido desses transtornos. Devemos também trabalhar com a hipétese de uma relacao entre o momento singular da his- toria de cada um daqueles que sao surpreendidos pela ansiedade agudae o surgimento da crise de ansiedade. Se examinarmos com cuidado a enumeragao dos sintomas da sindro- me de panico proposta pelo DSM III, ao estabelecer os critérios para 0 seu diagnéstico,* teremos ainda mais razo Para nao deixarmos essa “doenca” de lado. Vejamos: lessa expres. 1. Respiracao curta (dispneia) ou sensag3o de sufocamento. 2.Tonturas, sensacdo de fraqueza ou desmaio. 3. Palpitagdes ou frequéncia cardiaca acelerada (taquicardia). 4. Tremores ou estremecimento, 5. Suores, 6. Sufocagio, a a ou desconforto abdominal. . : oon nalizagéo ou desrealizacao, . Torpor ou seng, énci i ie a a de dorméncia (parestesias). 11. Dor ou de calor) ou calafrios. bens Mesias 950 Channon, Ra; ae * Davis, 1M. Psiquiatria — diagnéstico e tratamento. Porto Ale!” Digitalizado com CamScanner Cattandre Pereira Francs J An Ceci _ rvatho (orgs.) sicanalistas atentos aos escri i necro quea descrigéo acima coincide ea yee ee — tada por ele em 1895, 20 Propor uma diferencias Ae a a quadro neurdtico que ele chamou q een se sabe, essa denominagao diagnéstica teve vida au ee ‘Aoentender que sua causa seria uma Pratica sex jalmente 0 coito interrompido 4 pena. Ua hipétese causal is a ideia que dela se deduzia era a me ts anticoncepcionais seguros, 9 ome tate ets contrario disso 0 que se constata hoje. Ainda assi discutido. A descri¢éo de uma crise aguda muito assustadora ie vilida. © que se pode hoje entender dela? — Aneurose de angustia fala do transi Para Freud, j4 naquela época, o f, ciéncia psiquica, em consequéncia da qual su ormais’. Essa insuficiéncia é o diferenciador entre “Psiconeuroses” ‘| | ‘Neuroses Atuais”. Nas primeiras, existe a possibilidade de utilizaggo de recursos psiquicos quando hé um aumento de pressio interna, Nas outras, issonio existiria. O mecanismo da producéo de um sintoma psiconeurético logo ocu- Pou muito do trabalho inicial da construgéo metapsicolégica psicanaliti- a. Seu movimento é hoje mais que conhecido: o retomo de un, ecaleado infantil sexual, numa solugéo de compromisso com a censura, O sintoma éaresultante desse compromisso. E justamente na impossibilidade de se ‘eorter a um mecanismo dessa natureza que algo somatico eclode. Outra diferenca crucial entre as Psiconeuroses e os transtornos psiquicos que se GPressam no corpo € a fonte de excitacao. Na psiconeurose, o aumento intrapsiquica, mesmo quando toma por ocasiao algum evento da vida atual, nutre-se de algo antigo, recalcado. O fator contempora- eo da construcao psiconeurética sé tem valor na medida em que, como NPresentaco, evoca e se associa as (antigas) representacdes recalcadas. Nos tre psicossomaticos, os eventos atuais tém uma forga muito inaior: eles sensibilizam um detonador psiquico interno, produzindo um qumento de tensfio que ndo encontra representagGes com a ‘lar uma ligagéo, dificultando entio o restabelecimento do eq} td. Sobre os critérios para destacar da neurastnia ng inde parcels ‘eurose de Angustia’. In: Edicdo Standard Brasileira das amund Freud, Rio de Janel: Imago, 1976. “ 5. Op. ct, _ ng Digitalizado com CamScanner universidade : istingue a construcao de um sintom, psiquico. Aquilo ave eeaemne psicossomitico parece ter een tico da on razodvel. O que precisa ser Soe mais ilezas das muitas expressdes som aticas de tensdes - walidades¢ intensidades diversy, tig ifestagoes de q 7 i i aie diferencas. A sindrome de panicg Umea aaa hoje, transcorridos mais de cem anos de trabalho , si ne ara que se possa promover a co, conhecimento sour eae aa sabemos serem decorrenes nam paiquica, Sio especialmente importantes, nessq gi "a aoe territrios de expansio da investigagao psicanaliticy O estudo dos transtornos psicossomaticos, em Ue algo cordem psiquica faz uma lesao ou uma alteracao funciona} = cesta oo 2. A investigagéo dos movimentos originarios constroem o aparelho psiquico, onde ocorre o verso: sobre 0 apoio do autoconservative (corpé: 0 psiquico. Elas sao mani dois grat a. que instalam, e Movimento in. EO), constrbige Tomo como referéncia essas duas vertentes da Pesquisa contem. poranea em psicandlise para discutir, com a ajuda de algumas de suas importantes formulagées, a especificidade das manifestagdes somaticae. psiquicas da sindrome de panico. Dentre as alternativas de abordagem psicanalitica dos transtomesps- cossomaticos, o trabalho de Pierre Marty é reconhecidamente importan- te. Esse autor francés, que integra um grupo de clinicos pesquisadores em atividade desde a década de 1950, privilegia em seu trabalho o enfoque econémico. Esse é o enfoque que oferece recursos indispensaveis part que se discuta, dentro de um mesmo enquadre conceitual, manifest $es psicopatolégicas que sio diferentes entre si e que sugerem falhas Be construcao do aparelho psiquico, E também o enfoque que abreape stbilidade de esclarecimento de niveis pobres de funcionamento psiqui®s aquém daqueles dos sintomas neuréticos. Marty, yese ar ieee €m trabalho denominado “Génese das doengas graves °° ficalmere va74° &m psicossomética”® diz. que podemos sepa co dats Setores da economia humana: o setor do pensamet S ‘ages, ce Via somatica. Os acontecimentos que nos env ” Mas igualmente Satisfagdes e prazeres) provor™ da aco ha ; i oot? LP. Genes de, ?sjchosomati oe maladies graves ot criteres de gravité em psychosomatique Reve chanalyse. Paris, n.1, p, 5-23, 1991. Digitalizado com CamScanner fe: Um espace de intert ~ « peicandlise: Um eapag: locusag A Cassandra Pereira Fransa J Ana Cecilia Carvalho (orgs.) X citagoes- Temos que responder a essas excitagdes de intensidades varia- seis, para que um equilibrio Necessdrio seja restabelecido, Quando “mui- jntensas, renovadas e excessivas acumulando-se em estados de tensio, classe tornam insuportaveis para os sistemas funcionais que elas atingem, aisquer que sejam eles, e desorganizam esses sistemas, impedindo-os de fancionar. A iss0 corresponde a nogéo de traumatismo”.* Essa defini¢so econdmica de trauma no aparelho Psiquico, central no estudo das lesées icossomiaticas, ¢ a mesma que foi elaborada Por Freud no “Projeto para uma Psicologia Cientifica”””e depois retomada em Além do principio do pra- zer® De acordo com ela, as somatizacées resultam de um excedente de excitagdo que, nao encontrando outra via de escoamento, agride o corpo: Frequentemente conjugadas entre si, duas vias, e apenas duas, oferecem-se para o escoamento das excitagdes: aquela da atividade mental e a da ativi. dade sensério-motriz. Apoiados nessa tiltima, estabelecem-se, pelo menos em parte, 0s nossos comportamentos. Quando, por diferentes razées, essa duas vias encontramse indisponiveis, séo os aparelhos somaticos que res- pondem & excitacao, Isso se constitui no principio das somatizagies* Em convergéncia com diregées que jé haviam sido apontadas e nao desenvolvidas por Freud, o estudo dos transtornos psicossomaticos revela que € 0 corpo que sofre quando um excedente de excitago nao encontra melhor solugao. A pergunta que decorre naturalmente dai é a de se saber como e por que certas pessoas dispdem de mais recursos que outras para a questo do excesso de excitago intrapsiquica. Ou saber por que, em deter- minado momento da vida, uma pessoa sucumbe a um transtomno psicos- somitico, sendo que anteriormente havia demonstrado capacidade para ‘superar presses, e o que faz com que dessa vez seus recursos se mostrem insuficientes. Ou ainda, numa perspectiva genética, como é que se faz a Construcao do aparelho psiquico, tal que certos tipos de transtorno somé- tico indicam as falhas dessa construcdo, as quais afetam algumas pessoas Mais que outras, Uma abordagem rica dessas questées ¢ feita por Silvia Bleichmar, &m seu livro A fundagio do inconsciente — destinos da pulsio, des nos do Sujeito® no qual, trabalhando na elaboracao de uma teoria das origens, Mary 8p cit, p68, ” Freud, s, Projeto para uma Psicologia Cientifica. In: E58, vol. 1. Rio de Janeiro: Imago, 1976. ™ Freud, . Alem do principio do prazer, £5B. vol. XVIll.Rio de Janeiro: Imago, 1976. * May. Op.ct 6 Meta, S.A fundagdo do inconiclnte -destinos de pukto, desis do sujet Pot Alege: Aes eas, 1994, m1 Digitalizado com CamScanner TeANSTRONS siise: Um espace de interlocucio sicandlise: ee P universidad daquilo que é ° fundante do PSiquismy ectiva que considera © inconsciente nig i as como um produto da inicios da vida, mi culty. lesde eal lagéo sexualizante com o semelhante ¢, fun. terior roduto do recalcamento origindrio, que oferen, E tagdes inscritas nos primeiros tempos a te do originario, en i trata justamente a “Persp Ela se posicion: como existente d ta fundado no in! mo jamentalmente com on topos definitivo as represen tal sexualizagao”.” ‘Além disso, ela estd de acordo com Jean Laplanche ao afirmar que. lem » 4o origindria onde se deve buscar a origem da pugs E do lado eonrae Cas pia ae eae seja submetian, ee aeasko representacional e econémica, que da origem 0 objeto-fonte, apatir do fato de que a mde propde mensagens desqualificadas, com "yy sentido ignorado a si mesma” porque so subtraidas a seu préprio egy que sao efeito de seu prdprio inconsciente — inconsciente cujas inscrigies pulsantes a prépria mae desconhece.® Essa autora tece, a partir da clinica com criangas, uma articulagao en- tre as manifestacdes de sofrimento e a metapsicologia psicanalitica, mos- trando, ela também, que quando a psicandlise é convocada Para responder transtornos que esto aquém da possibilidade de construgao de um {sintoma psiquico, o ponto de vista econémico é uma Perspectiva privile- jgiada. Também ela trabalha com a compreensao de que a dor (psiquica) "é Oefeito da irrupgao de quantidades hi tivos pantalha”® do aparelho psiqui . Transcendendo © nivel da mera constatacao do que seja uma expe- Hencia traumatica, Bleichmar teoriza sobre as condigdes de possibilidade de sua irrupgio, localizando-as, em seus primordi : Primordios, nas tarefas da mater: ipertroficas que perfuram os disposi- ico. ’ Pols provém de seu inconsciente. Numa outra face - , que Ginn xj maternagem atua a partir de um narcsism adulto), Na e 'ece © beb& como um ser humano (separado 40 Xpressac ees 2h da desse Teconhecimento, a mae promove, ju ¢ Vinculagdo daquela gua yenePe*AIS dados ao bebé, mocios de conten? cola eau taco, Construindo saidas Para que seja evitada Bue a niveis dolorosos, Simplificando: 6a mée que" ° Blelchmar§ pie p.9, s Bleichmar, s. Op, ct P. 23, © Bleichmar, 5, cit, p 7 Digitalizado com CamScanner Cassandra Pereira Franca / Ana Cecilia Carvalho (orgs.) S. BLeicumae srocola 2 excitagao interna no bebé e também quem Prové a construgéo ‘canais para 0 seu apaziguamento, Em tom de brincadeira, a autora diz que, num bebé, as situacdes trau- maticas, aquelas produtoras de transtornos das funcdes do corpo, ocorrem ando a mae é suficientemente ma: nessas circunstancias, ela cumpre a fungio de excitagao, mas no a de ligacao dessa excitagdo, deixando sem tia o restabelecimento do equilibrio interno do bebé. A pesquisa de transtomos das mais diversas funcSes vitais em criancas muito pequenas mostrou, ja hd algum tempo, que é na relacdo da maternagem que se deve buscar a fonte da insénia, da asma, do mericismo, etc. Isso estd fartamente documentado no trabalho de pediatras franceses, que data da década de 19706 O acréscimo que Silvia Bleichmar constr6i é a demonstracio, na pratica clinica, de que se encontra nos gestos concretos da maternagem olugar onde inicialmente se efetiva — ou nao ~ a criagio de vias de esco- amento para o excedente pulsional produzido pelos cuidados maternos cotidianos: A eclosao de quaisquer transtomnos no corpo, indicativa de um au- mento de excitagao intrapsiquica, denuncia um desequilibrio: ha uma sen- sibilidade interna que responde a algo indutor daquele aumento de excita~ so, sem que o segundo tempo dessa pulsagao responda a altura. Essas duas vertentes em expansao da pesquisa psicanalitica serao liteis nesta discussao da sindrome de panico. Tendo ela como marca defi- nidora um conjunto de transtornos fisicos, deve mesmo ser abordada pelo trabalho psicanalitico que focaliza mais diretamente o transito psiquismo- “corpo. E 0 que tentarei mais adiante. Antes, a crise de panico deve ser escutada. Ela é abordada, por exemplo, no todo das somatizagées, num conti- nUo, onde se sugere que sua diferenca em relaco a tais somatizacées seria 440 somente quantitativa. Esse é 0 caso da citagao de , feita em artigo recente por Flavio C. Ferraz®: "(...) para os especialistas em psicos- ica'também ¢ habito de dar muita atencao a descompensagao que re- Presenta a neurose de angustia, pelo que ameaca prefigurar para 0 futuro "@ordem das somatizacées”. oo ‘Concordo que h4 muito na sindrome de panico que coin« Maniestagées mais gerais dos transtomos psicossomaticos. Ambos decor "em de uma insuficiéncia psiquica e produzem alteragSes no corpo. Blelchmay, 8: Gp cit, p. 38. 2et Fain, Soule, M cringe seu cmp: pscosomatca da rine * Editores, 1981, : Paulo, 1996. Fett, Fc. Das neuroses atuais &psicossométice. Percuso,n-16, 580 infancia. Rio de Janeiro: 123 Digitalizado com CamScanner spago de interlocucao ade e Paicandtise: Um espace de int ‘ Universidade th manifestacdes da doenga se fazem por meio de uma sintoma ambos as | gia padronizada; nko’ i ‘ a i hd nelas nada que equivalha a singularidade cae a i ‘ambém em ambos, os fatores deta, SE eerie a enna Apesar de tudo isso, on are ae oe ey Minha hipstese € que hd ai uma questan .” . oe ee almente porque, em seus produtos finais, 4. -” Fee a iene de panico mantém uma diferenca crucial: chy 7 I! ae prio nfo Jesa nenhum tecido ou érgao nem ameaga nenhuma fun.s, e | vital. Comparadoa um transtorno psicossomatico, 0 panico acarreta Muito 2 || menos perigo; sua violencia é muito menor. A crise aguda de panico produz, naquele que a softe, um mal-eay como se fosse uma crise circulatéria (um ataque cardiaco? um derrame y 1 cerebral?), sem, contudo, sé-lo. Em seu aspecto “pseudo”, em sua drama. 2 || eicidade, evocaria uma crise histérica, diferenciando-se dela, como ja ding | | de forma exaustiva, na pobreza de sua construcao psiquica. Nio havent, na crise de panico uma expressio singular, deve-se buscar, para a sus ., vestigacao, alguma outra via de acesso. Proponho dois caminhos que se mostraram promissores em minha escuta clinica: 1. as circunstancias que envolvem a eclosao da primeira crise; 2. afantasia muito frequente entre os “doentes”, & qual darei o nome de “fantasia de anonimato”. A primeira crise As crounstancias, ° Susto e muitos pequenos detalhes que estiveram Lsari ee da Primeira crise de panico mantém-se vivos na me- papers paps ara muitos deles, por um longo tempo, a vida ova crise acaba eae © depois dela. © medo do surgimento de uma : luzindo uma fobia secundaria, acompanhada de vi- A intensidade do medo 0 nivel de impedi- de pani jan i aa atividades cotidianas do doente wiea 1S hi livro publicado por Gugu Keller. conseguir sair de casa na com, ee be de Seus estudos e trabalho ¢ 33° tigdo de sua primeira Aas 'panhia da mae, Cito alguns trechos da des- de 1986. Eu tinha entao 21 anos. Aquele era mals de mien em Mogi das Cruzes, cidade onde more! adolescéncia e fiz muitos amigos. Por volta d® © Keller, G. Sing rome de panico. S40 Pai, Ed. Globo, 1995, Digitalizado com CamScanner nove horas da noite, deixei a casa de -me em Mogi, € dez minutos depois ear"? “i Onde costumava hospedar- era muito estranho. Sem sal sensacao de vazio, Estou certa de que os sofredores de crigao de Keller. Outro fator que os une é aise os surpreende como algo vindo nao toda vida em que, pelo menos em api Panico se identificam com a des: © sentimento de que a eclosio da se sabe de onde, em um momen- aréncia, nao passavam por nenhum problema maior. A escuta analitica de algumas pessoas diagnosticadas como doentes do panico, porém, autoriza-me a afirmar que a eclosio da | primeira crise ocorre num momento especialmente dificil de suas vidas, 0 qual, no entanto, nao era reconhecido como tal. Tentarei explicitar 0 que pude observar num caso clinico, focalizando nele a instalagao da doenga. “Antecipo desde j4 que minha observacao me leva a pensar que ela surge tum momento de ruptura de um tipo de rede protetora de afe- luente nos portadores da sindrome de panico, e que também se faz Presente no caso clinico que discutirei mais adiante. A fantasia do anonimato ._Escolho esse nome para um tipo de fantasia que, eee ed SWva dos doentes de panico, aparece neles com grande ee uma con- Seorréncia da primeira crise. Trata-se do medo, mescla serdo socorridos antecipatéria de que se passarem mal na rua nie SNS Por ninguém, Mesmo quando a experiéncia vivi sentimento de que © * fantasia continua a atormenté-los, revelando um se possa recorrer em puro & desabitado de pessoas confidveis, 8 quem S Pr A : 4 mais adiante, Necessidade. Como se vera mais a i Digitalizado com CamScanner slise: Um espago de interlocucs, e Psican. iversidade uni anico, onde domina imento do panico, i feitamente NO todo do sofri meio onde ninguém me conhece » Mu. ital fs entre estar perdido inguém me reconhece. No desampay SeMtings \ re aie 0 da cr: Ito, em um lugal ido como objeto Privilegiado de. ct angst éa de néo casa, para junto das pessoas mais. a angus ndo ser das pessoas m Mor HS Prox —e Dai a urgéncia de voltar para Proxima a Tania més de outubro, dizendo estar er Tinia prose My més de dezembro anterior, data des, ae mento médico ae acctise, que reconhego como tipica, com emo, crise de Pte detalhes, Estava em uma grande loja, fazendo compras pap, enela juando comegou a passar mal com os sintomas tipicos do Panico, tendo que recorrer 4 ajuda de uma pessoa estranha para achar um taxie casa. ae que se seguiram a do relato inicial, Tania ocy me informar sobre a ocorréncia, entre uma sessao e outra, dos crise ou de novas crises completas, bem como repete o relato da primeira crise. E assim que se tece 0 comeco de nossa aproximacao, no clima de inseguranca e medo provocado pelo sobressalto do Panico. Seu cotidiano estd muito afetado; nao tolera ficar sé e 0 cumprimento de suas exige a monitoracq constante do namorado. Aos poucos, oftendendo a solicitagdes minhas)nosso trabalho vai-se ampliando e se enriquecendo, Passando a incluir observagées concemen- tes as circunstancias em que as crises ocorrem. Desenvolve-se também a Producio de ee easees Para cada um dos muitos elementos que com Sere patts da lembranca da primeira arise Seguimos ai as recomend: fare Fi a © trabalho com os sonhos: na medida do possivel,cada | Assim como og mae Tetomado e desdobrado €m suas associagdes a lembranca da Reet um caminho Privilegiado Para o inconsciente io de presses que se de panico condensa a histéria da meee as cs a 4 Tuptura do dique protetor interno a : Psiquicas que, nesse Momento, si lado. Ela toma o lugar das produge*s Sh 0, Sao insufici analise de Tania durow a1 oe _. cade foi perdendo importing euns 2M0S & © motivo inicial da buse i trarno Portancia até desaparecer de sua fala. Esta pass” a 42 vida amorosa, as tue™"® 40 sofrimento neursticn coccimos eae, desapareceram, Antecipando uma Caer le de panico daqueles que se SY ipa-se em sinais de atividades ajuda nig ni? to do panico. Inicialmente, Tani Digitalizado com CamScanner r2 Pereira Franca) Ans cee * Carvalho (orgs, 6 ‘l arvalho (orgs.) ja aquele momento nenhuma ote Nao acontecia nada que jg = “rs40 especial, nenhuma acontec nio se razio paray sdrsmepoces NBO tivesse processady noe — ou que, segundo seu ine que seu trabalho associatiy te n° due apresentarei da- © produziu é ines ei lugar, porque omito pes * é Inevitavelmente distorcid: Pra do sigilo. Além disso, subtver: ooemasoes © troco outras em densagao 4 posteriori, fazendo-me coautore de ae i Nee apdelidade & sua fala estésuficientemente proses cue ot Mesmo assim, Tania chegava aquele final de ano Tuma situa i ir pparenterente, tudo permanecia como antes, Mantinhs prion een ‘de muitos anos com Pedro, na mesma troca confidvel desi ies as tarefas do dia a dia, sem nenhum entusiasmo afetivo, fees qontinuava a ser 0 depositario de seu Projeto de um futuro oe Sere! data nunca firmada. Ao mesmo tempo, mantinha sua Ij cos anos com Joao, homem casado que, age a c ele sim, parecia despertar afte interesse sexual. Desta ligacio, Tania dizia para si meses ees apenas uma aventura, algo para equilibrar a monotonia do namoro com Pedro. Nada sério ou que merecesse preocupacio. Sendo Jodo casado, des- deo inicio a combinagao entre eles era a de que seus encontros ficassem definidos dentro das fronteiras da conveniéncia de Protegao de seu casa- mento. Uma combinagéo sem muitas palavras e que ela obedecia, natu- ralmente, com compreensao. Esse envolvimento amoroso duplo ocupava quase todo o seu tempo e atengo disponiveis, fora das horas de trabalho. Sua familia, a quem se sentia ainda muito ligada, continuava morando na cidade do interior em que nascera e de onde viera ha mais de dez anos para estudar e trabalhar. Os pais e irmaos eram muito importantes e pre- sentes em seu afeto, mas separados de seu cotidiano. Tania trabalhava h4 muitos anos numa mesma empresa, onde até al- gum tempo, antes daquele final de ano, sentia-se aceita e recompensada Pelo convivio dos colegas, e relativamente aera em teres Profs tais. Naquele ano,’a empresa passara por modificagdes que havi : blcado ¢ troca de seu es eZ convivio mais imediato, obrigando-a a trabalhar sob a chefia de uma pessoa de seu desagrado. a, Eu, como ouvinte privilegiada de seu trabalho eee ae {wero ressaltar que, sem que Tania pudesse eer vs no 0 dest= qmseu empenho em negar, Conver Paracas de sustnta(S0 OH ment Agil dos vin sroteca 7 Gade muita evidente ou externamente detectavel we i basica, conti- *u caso amoroso e seu trabalho, que eram a sua refet wo entanto, Uma Tavam aparentemente no mesmo lugat- Pre] ‘mpestade. am 7 Digitalizado com CamScanner ddade ¢ Paicandlise: Um espace de interlocucag Universidade € Crescia nela, d le modo oculto, a constatagao da falta de Sentido Sua relagao com Pedro; seus encontros, cada vez mais dominados, Pela Totin, irigéo amorosa, apesar de prosseg,,. tina, esvaiavamse de guava Toe de casamento, Com Joao as eeutem conversas 4 resPei oliumavamse. Ela ligava-se a ele, may v7° ras de um impasse avolumay isténci cae hutengao da propria possibilidade de existéncia da relacio, co da pouca importancia desta, € nem de longe Pensava em expressar qual. quer desejo que ndo fosse condizente com seus limites, tal como defini desde o comego. Insisto em que nada dessas dificuldades aMorosas = conscintementereconhecida por Ténia. Ou melhor: 0 fatos eran sin? conhecidos, mas nao a sua importancia. . Um aumento de tensao estica os fios frégeis da rede nia em sua vida afetiva, e constitui-se no detonador da cise. Ela hay; comprado um presente de Natal para Jodo. Pensara entio em convencég 2 marcarem um encontro especial, ainda naquele més de dezenor uma comemoraco antecipada eprivada da data. Mais uma ver seo, ts palavias ele levow-a a compreender que no disporia de tena isso.O fim de ano é uma época muito cheia de compromissos. Alen fe Natal é uma festa da familia. O isolamento afetivo recente mo trabalho er, ve-entio, como catalisador adicional da eclosdo que ocoreu, somente

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