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1. A Ordem Que Veio da Pedra A Experiéncia de Rilke Comego por apresentar um exemplo estético para comentar o fend- meno das tensGes verticais e 0 seu papel na reorientagao da confusa existéncia dos homens modernos: 0 famoso soneto de Rainer Maria Rilke, “Archaischer Torso Apollos” [Torso Arcaico de Apolo", que abre 0 ciclo Der Neuen Gedichte Anderer Teil (Novos Poemas, Segun- da Parte] de 1908. A conveniéncia de comegar com um texto poético — além do facto de ter ido buscar a Rilke o titulo deste livro — esté em que este tipo de texto, porque pertence ao campo artistico, € me- nos suscetfvel de provocar aqueles reflexos antiautoritarios que hoje de ‘maneira quase compulsiva se produzem perante afirmagées enunciadas de forma dogmética ou proferidas do alto — “Mas que significa hoje 0 alto!” A criagdo estética, e apenas ela, ensinou-nos a expor-nos a uma forma de autoridade no escravizante, a uma experiéncia no repressiva da diferenca hierérquica. A obra de arte pode mesmo — a nés, trénsfu- gas da forma — “dizer” ainda qualquer coisa, porque manifestamente no encarna a intengdo de nos coagir. “La poésie ne s‘impose plus, elle s‘expose."! Aquele que se exp6s € a0 expor-se se provou a si mesmo, ganha uma autoridade evidente em si propria. No espaco de simulagao estética, que & ao mesmo tempo a sala de urgéncias onde se joga 0 éxito € 0 fracasso do produto artistico, a superioridade desprovida de poder das obras pode afetar observadores que de resto tém todo 0 cuidado em io ter nenhum senhor, antigo ou novo, acima deles. O poema “Torso” de Rilke € especialmente apropriado para colocar a questio da fonte da autoridade, pois constitui uma experiéncia sobre 0 deixar-se-dizer-algo. Como se sabe, Rilke, sob a influéncia de Auguste 1 Paul Celan, Gesammelte Werke in sieben Banden, vol. 3, Frankfurt 1983, p. 181. “ Peter Sotersi otin, de ues fo scraper ete 1905 € 1906 Men, aa te ptta gens sexi sims. dos sexy afar a pion conan 6 a OEE *\| ‘ida pelo “primada da objeto". pathos protomodero de dar a provi ‘de a abet sem oreprodurit“eimeste ozass aa a ke a0 conceit do Goema-com)— com iso gos, condi, soa eis mana oda a auton Tal 36 post sere a ica sna: eum com on es mei ike conde us psig 1 ea nmeme, patti ser eset como a “ansormasso do ap Seemenngen on: gt). “0 Se prosnddo¢ inguagen dink Heidegger — o-que nvenendo me sucess Se ied tase es cgi Ca ne lees ao aS ss i Ya amet Pe nf Se lepine. ale ane vei a Nome rsp a es gsm, em ate i ie xm tos ex 1 gu nggem puso seat eT mina, Onde eign wie ir ante, Fone [wa] ool cet ene alos sp ma Feet Stet pope as omen Se an curr sen ele Neen ee cece hate — egies pn eget owns a ee cron ute rica om eae ae eee emo pe ume eet aaa ee a cemenagen guna pe Se a cyosa in socio e eso rs ate lSatctae ree nar epost ana = penton enter coe Serer ee maar ccutenaie cha ur ‘pln sar ‘Tens de Madar de Vids A Com estas indicates alg lends exboinos um gato las esbhos um gto dentro do qa eros ear me rev usd pcm Toa Pare do pinepiode qr ooo dg saan Soca deve encaroma “co” ing] nse eminent dtr, em da perepesen, tr ect tm eo sont, Pe bape ikea i apie jet ais een wate Cit nina so sme nae Yu ete So ‘nati’ Artin cota mem const, tad gue er om rman do apne ¢ ‘eis do tuo precedente bru da are mode Conc objet gute ss meso com ators edo on ge se oblicn asi meu com to oer ‘TORSO ARCAICO DE APOLO No contecerot cae nasa onde iam madras a pupae Maiti ue osu oar a pense Sepratad, esac bo. Poi no send asin ho Perera a coda do eto cect, nem no eve {ore as ances haver oso que coe par agelecen da rocriago, Asim nl end rn dsfome ecu poet caida da ranspurcte oavesa ds omios eo inva come ple defer en exper por todo adore pont onde le eno wea. Tes de maar atu i ‘Quem numa primeira tra tena ecolio algo de mais defo comprecnde 0 Seguin: 0 pocma tata duma perfeigso — uma peti ‘fo que parece tanto mas imperiosae miseriosa quanto se ata da Derfelgo dum fragmento, Podesesupor que Rilke expine também 2 gk, ade be at, Dewi dr Mak Peter Sltesi, % some nee Es o seu agradecimento a Rin, AP deperarano se ati. pet sgeamin tecnica Se erent i kt ecm jini aw weg cle es yo Pa ‘Perfetn &0 qe artcula Um movimento ed ‘on mr 4 [coe Sr remot en oe Seneca i eur occ pS oe an ee eae ee ee betty ‘Sree on ce eo Se ects Sa ea ic a sate iin a Er igre ae eet te Toe epee eet ce Been a Sa eneneeree _ kro et en Oe | emenspensimperatvas — por raxdes que decorrem em tima and ‘antes excessos técnicos. Apés este deslocamento, “ser perfeito” ganha hase aac cesap nese emanate eee ; aaa Jk neins;os nutildos, os hibridos formulam algo que as usuais format [cement go eccertae uy ee eo mete ‘ieee rare Coser ones | do que os seus conterpordneos, pos a nossa capacidade de percesin mais do gue ade nenbuma ou gerago anterior & nossa, est anes sind fot saqueata pela conversa fada dos compos sem macula. Com ex indcagdes deer ter fead claro como fendmeno > ser-se-intempsdo-d-alto encama num artfaetoesttico, Par 8 com Preensio duma expergeia-apeo det tipo no € necessrio, de m- “Tens de Mudar de Vida ” mento, concondar com a hipéteseadmiida por Rilke de que 0 torso que le canta a requis dum esttua dum deus — os curadores da época ‘opinavam que era de Apolo, Nio & de exelir completamente que um elemento duma reverénca Jugend pel cultura tena desempenhado lum papel na expergnea da escultura feta pelo poeta: Rilke teria en contrado o modelo ral durante uma visa 20 Louvre e, tanto quanto se sabe, nfo era uma obra de arte arcaica, mas uma pega da épocaclssica da estat grega.O que o poeta tem a dizer sobre o tors do suposio ‘Apolo, no entanto, € mais do que wma nota sobre uma visita sala ds amtiguidades. Par o ator ado € importante que coisa moste um deus extnto pelo gual poderam interesar-se os letados das humanisticas, {has antes Fcio de que o des na podra representa um anefacto-coisa ‘oe continua a emits, Deffntam-nos aq com um testemuno da ‘maneira como a recente ontologia da mensagem suplanta a teologas ‘uadicionais. Nea, o propio Ser, comparado com Deus — 0 foo

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