Você está na página 1de 7

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ
FACULDADE DE LINGUAGEM LÍNGUA PORTUGUESA

Curso: Graduação em Letras – Habilitação em Língua Portuguesa (Cametá)


Disciplina: Morfologia do Português
Professora: Larissa da Costa Arrais
Discentes: Luciane Oliveira de Carvalho
Jackeline Guimaraes Oliveira

Cametá/Pará
2022
185
FORMAÇÃO E CLASSES DE PALAVRAS

BASÍLIO, M a r g a r i d a . Teoria Lexical. São Paulo: Editora Ática, 2007.

O texto compõe-se de sete pontos destacados, escritos de forma simples e clara, assim
distribuídos: 1) Classes de Palavras, 2) O critério Semântico, 3) O Critério Morfológico, 4)
O C r i t é r i o S i n t á t i c o , 5) A Conjunção dos Critérios, 6) Critérios de Classificação
e Processos de Formação. Esses são pontos abordados ao longo do texto ainda acompanhados
de boa exemplificação e de sustentação teórica com elementos do léxico brasileiro e do estudo
da Morfologia.

Margarida Basílio aborda a formação de palavras a partir de uma posição


questionadora. Seus principais questionamentos repousam sobre a motivação que o falante tem
para formar novas palavras e sobre a aceitação de determinadas combinações em detrimento de
outras. Para a autora a formação de novas palavras a partir da combinação de morfemas já
existentes justifica-se pelo princípio da economia linguística, e vai além com um novo olhar
além da gramáticas normativas. Novas unidades são assim formadas, a partir do uso dos
critérios semântico, morfológico e sintático, em uma palavra em uma outra classe gramatical
ou quando há a necessidade de alteração semântica sem mudança de classe.

1) Classes de Palavras, — Nos estudos linguísticos as classes de palavras são definidas por
critérios semânticos, sintáticos e morfológicos, no entanto, as gramáticas normativas se
utilizam de critérios na classificação de palavras que se diferem quanto a sua estrutura
morfológica. A teoria do estruturalismo descritivo se estabelece dentro de um critério único
morfológico e funcional, já na teoria gerativa se define em termos de propriedades sintáticas.
Deve-se ter em mente que a definição de classes de palavras é mais complexa do que demostra
ser e se diferenciam de uma língua para outra. Por isso, nota-se que há a necessidade de uma
abordagem mais adequada quanto aos processos de formação de palavras dentro da língua
portuguesa.

186
2) O Critério Semântico, — Dentro do critério semântico existem as classificações de palavras:
substantivo, adjetivo, verbo e etc. Há muitas definições de substantivo, na gramática tradicional
o substantivo é designado como aquilo dá sentido aos seres, já o adjetivo acompanha o
substantivo ele não se define por si só, pois sua função, de acordo com a gramática tradicional,
é atribuir propriedades para o substantivo.
No entanto, o adjetivo desempenha um papel crucial de permitir ao substantivo um número
ilimitado de especificações, ou seja, o substantivo pode possuir vários adjetivos, mas que só
possuem significado semântico unido ao substantivo como exemplo na palavra “carro” que é
um substantivo temos:

(1) carro
A) caro, barato, precioso, usado;
B) velho, novo, grande, pequeno;

Quanto ao verbo é definido como aquilo que exprime ações, estados ou fenômenos.
Essas definições não são suficientes dentro quadro semântico, pois os substantivos também
expressam estados ou ações, assim faz-se necessário acrescentar uma definição morfológica em
virtude das variações flexionais que caracterizam o verbo que ocorrem dentro do discurso.

3) O Critério Morfológico, — No critério morfológico, a atribuição de palavras é feita tendo


base nas categorias gramaticais e suas manifestações dos mecanismos de concordância. A
diferença entre substantivo e adjetivo nessa categoria se dá a partir do gênero e número dos
adjetivos, assim por exemplo temos:

(2) Todas as filhas de João são pequenas.

O gênero e o número de todas, as, e pequenas decorrem do fato de filhas, o substantivo, ser
feminino e plural. Por tanto, nesse exemplo o substantivo e o adjetivo apresentam a mesma
categoria de flexão, a função gramatical de concordância é diferente tornando uma classe
diferente da outra, já a classe dos verbos é a que possui destaque, pois apresenta maior
caracterização morfológica e flexiona em tempo/modo e número/pessoa.

4) O critério sintático, — As classes de palavras também são definidas pelo critério sintático,
atribuindo palavras as classes de acordo com as posições estruturas e funções que podem
exercer na estrutura sintática. Uma possibilidade de caracterização, é a posição do núcleo
diante dos determinantes, como os artigos demonstrativos e possessivos ou modificadores com
os sintagmas e adjetivos.
Assim, a diferença crucial que diferencia o adjetivo de determinantes que acompanham o
substantivo é que um aponta e estabelece relações e o outro caracteriza e especifica. Já o verbo
é difícil definir em termos sintáticos, ao definir o verbo como núcleo do predicado a ocorrência
do verbo caracteriza o predicado como verbal.

187
5) A conjunção dos Critérios, — Teoricamente as propriedades sintáticas, semânticas e
morfológicas parecem ser independentes uma da outra, no entanto, as palavras não se
comportam desse jeito constata-se que as propriedades sintáticas, semânticas e morfológicas se
relacionam entre si.

6) Critérios de Classificação e processos de Formação, — Quando descrevemos processos de


formação de palavras, utilizamos as classes de palavras de forma natural. Uma das principais
funções do processo de formação é transferir uma palavra ou uma classe para outra: derivando
verbos de adjetivos ou substantivos, adjetivos de verbos ou substantivos e substantivos de
adjetivos ou verbos.

Portanto, os aspectos abordados no texto são fundamentais e necessários para a boa


comunicação oral e escrita, assim como sua aplicabilidade na construção de vocábulos e como
base para fundamentações teóricas eficientes. Basílio também optou por não problematizar a
definição de palavra e de morfema, entretanto, o livro é bastante pertinente para leitores que
desejam iniciar seus estudos em morfologia, pois a autora, além de não fazer uso de termos
técnicos sem o devido esclarecimento, apresenta uma visão bem ampla dos processos de
formação de palavras.
Ao apresentar passo a passo, os diferentes processos, conceitos e abordagens no que se diz
respeito à estrutura e formação das palavras, a autora revela o verdadeiro mistério da
construção de novos vocábulos na língua portuguesa. O texto é de linguagem simples e clara,
bastante informativo, sendo indicado para estudantes do ensino médio, pré-universitários e
universitários que ainda não dominam as técnicas da formação de palavras, abordadas nesse
texto.

ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. São Paulo: contexto 2000.

INTRODUÇÃO À MORFOLOGIA

A gramatica greco-latina reconheceu na palavra características de três tipos: (a) semântica, (b)
morfológicas e (c) sintáticas. A semântica nos deu definições como o substantivo é a palavra que
nomeia os seres, ou como questões acerca de quais os elementos que podem ser suprimidos do
enunciado mantendo-se uma estrutura com significado. A morfologia deu o reconhecimento de
que o nome pode flexionar-se em gênero, número e caso, mas não em modo ou voz. Sintáticas
como identificação de que o nome, mas não o verbo, pode funcionar como sujeito além de
questões variadas acerca dos fenômenos de concordância e regência.

Uma palavra pode ser formada apenas por um fonema e vale por uma frase. O problema pode ser
inserido nas seguintes preposições: ainda que a gramatica tradicional determine uma ordenação
com base no tamanho das unidades frase, palavra e fonema para chegar à definição de palavra, o
que os fatos da língua exibem que é em termos de tamanho tais unidades não se diferenciam,
uma vez que podem ser idênticas, ou seja, um mesmo elemento da língua pode representar
diferentes unidades.

188
A questão de saber se os processos morfológicos se aplicam sobre palavras, sobre pedaços de
palavras (afixo, radical. Base, etc.) ou se em ambos, dependendo do processo morfológico, está
indiretamente ligada ao problema de definição de palavra. É possível notar que gramatica
tradicional não questiona se a unidade significativa da morfologia realmente é a palavra,
começando pelo fato da palavra pertencer à alguma classe, exigência que não pesa sobre os
pedaços de palavra.

O filosofo Aristóteles faz distinção entre duas classes o “nome” e o “verbo”, as duas classes são
portadoras de significado. Nome e verbo se distinguem-se pela ausência ou presença do tempo, o
filosofo reconhece ainda a conjunção e o artigo como elementos da elocução que não lhes
reconhece significado, porém atuam como uma espécie de cimento na formação da proposição
simples, ou seja, são aquelas que declaram algo sem o uso dos conectivos.
Nesse aspecto, não faz sentindo incluir a conjunção ou artigo no conjunto formado pelo nome e
pelo verbo como esclarece Baratin (1989, 20) “um elemento que une partes de um conjunto não
pode ser ele mesmo uma parte desse conjunto, porque seria, ao mesmo tempo o que une e o que
é unido: seria contraditório”.

Vários pensadores atribuíram uma quantidade para as classes, porem a tradução latina e Donato
atribuiu oito classes são elas: nome, pronome, verbo, advérbio, particípio, conjunção, preposição
e interjeição. As principais partes do discurso na tradição greco-latina da antiguidade, isto é,
aquelas essenciais na construção de uma proposição, são o nome e o verbo, que representam o
argumento e o predicado mais simples. O nome designa os seres, tem caso, mas não tempo ou
modo, o verbo indica as ações executadas ou sofridas pelos seres. O particípio, ao contrário do
que se faz atualmente.

“é preciso compreender oito partes da oração de maneira unânime, pois alguns afirmaram que
são duas; outros, que são cinco, nove, outros, dez (um número maior, ninguém ainda imaginou);
as oito são de fato reconhecidas por todos os grandes especialistas. As causas da fixação dessas
conheceremos em outro lugar, entretanto, alguém deve estar errado, pois, sendo oito partes da
oração, como encontramos oração completa de duas, por exemplo, ‘homem corre’.
(Saphonii Patriarchae Alexandrini, Excerpta, p 375)

O que existe de fato é a oração particular, a significativa, o enunciado que depende de um


contexto que pode ser mínimo, mas que apresenta realidade linguística, o que importa, então, é o
uso.
O texto nos mostra duas classes as abertas e fechadas. A classe aberta compreende em quatro
tipos de palavras, são elas: nome, verbo, adjetivo e advérbio. Ao contrario da classe aberta, a
classe fechada é composta por dezesseis classificações, são elas: profanas (pronome pro-adjetivo,
pro-adverbio, proverbio pro-oraçâo e pro-sentença), elementos qu-, marcadores, determinantes,
classificadores, auxiliares, cópulas, predicadores, conjunções, complementizadores,
relativizadores e adverbializadores, preposições, posposições, ideofones, interjeições.
Independente do numero de classe todas as línguas tem uma estrutura.

189
A gramáticas tradicionais tiveram boa parte de seus estudos voltados para as palavras lexicais,
além disso possuem maior número de palavras dentro das línguas carregam grande significado
gerando um novo vocabulário (conjugação e declinação). As palavras funcionais tem assumido
um grande papel, devido aos estudos da sintaxe, o surgimento da nomenclatura variada se tornou
um obstáculo para aqueles que estudam línguas através dos estudos tradicionais, pois os
elementos pertenciam a uma única classe na descrição tradicional.

Dentro da classe morfológica estão os marcadores que mostram uma relação gramatical, em
virtude do paralelo que se faz entre os morfemas, em línguas como português algumas palavras
funcionais identificam construções que expressam flexão, além disso há os termos marcador de
modo e de polidez, um indica a atitude do falante com relação ao ouvinte solicitando algo, como
por exemplo por favor, por gentileza.; o outro é um tipo especifico de vocabulário para se dirigir
a alguém de alto nível de instrução como você, V. Exᵃ, Dr. Antonio e etc. Temos ainda nesta
categoria, temos o artigo definido que pressupõe o que será nomeado, denominamos algumas
classificações para as formas; (a) formas próprias da intimidade, (b) formas usadas no tratamento
de igual para igual (ou de superior para inferior) e que não implica intimidade, (c) formas
chamadas de ‘reverencia’, ‘de cortesia’, por sua vez repartidas por uma série muito variada de
níveis, correspondente a distancias entre os interlocutores.

Os determinantes são representados pelos artigos como o, um, e demonstrativos, como este, esse,
aquele são determinantes, artigos e demonstrativos são determinantes referenciais eles se
destacam de dois outros tipos, os quantificadores e os possessivos, os auxiliares são verbos que
expressam o tempo, modo, aspecto, voz dos verbos lexicais. Copulas são palavras que expressam
a relação entre um sujeito e um predicado nominal, em algumas linguagens se distingue-se a
copula dos predicadores porque estes são utilizados quando não há sujeito claramente expresso
nas palavras.
Alguns casos que ocorrem no português brasileiro e em outras línguas como funcionam como
auxilio gramatical como os auxiliares que são verbos que expressam o tempo, modo, aspecto dos
verbos lexicais que acompanham; cópulas e predicadores são palavras que expressam a relação
entre e sujeito e predicado nominal como os verbos ser, estar, andar, parecer, continuar... As
conjunções são palavras que unem elementos que por si só dão a significação global e
significação dos constituintes como a conjunção subordinativas composta pelos completizadores,
complementadores e adverbializadores.
O grupo dos ideofones contem palavras onomatopeicas que em diferentes línguas funcionam
como nome, verbo, adjetivo ou adverbio que formam classes fechadas. No caso dos verbos, a
cadeia sonora reproduz os realizados por uma ação; no caso dos nomes, imita vozes de animais:

Ideofones Verbais
Axem ‘espirrar’
We ‘vomitar’

Ideofones nominais
Ahoo’ahoo ‘jaguar’

190
Por tanto, o texto escrito por Maria Carlota Rosa permite compreender, ao longo do
texto, as considerações dos estudos morfológicos. Este viés, contribui para a formação e
a busca intelectual fornecendo ao leitor as informações a respeito de teorias métodos
empregados no estudo da “palavra”, em outros momentos das reflexões sobre a
linguagem. Dessa maneira, o texto cumpre o papel não só de servir de manual como
manual de introdução linguística, como de fornecer ao estudante informações precisas e
úteis acerca dos estudos morfológicos.

191

Você também pode gostar