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CONVITE A FILOSOFIA PROLOGO Nao hd ninguém, Themison', que tenha mais meios do que tu para filosofar. Pois és muito rico, de modo que podes gastar muito nesse sentido e, além disso, gozas de certa reputagiio. Estas coisas [as riquezas] podem, entretanto, impedir a realizagdo de um ato que se escolheu como um dever. Por isso, contemplando o inforttinio des- sas pessoas’, é preciso evita-loe pensar que a feli- cidade nao consiste em adquirir sim na maneira pela qual a al podemos afirmar que nao € 0 corpo enfeitado com uma roupa magnifica que é bem-aventurado, mas aquele que tem boa satide e sérias disposigdes, mes- mo que algumas das coisas de que acabamos de falar nao estejam ao seu alcance. Do mesmo modo, se uma alma foi educada, € semelhante alma e seme- Thante homem que devem ser chamados de e nao um m homem magnificamente provido de bens exteriores, mas que nao vale nada por si mesmo. Na verdade, se um cavalo tem rédeas de ouro e apare- Thamento suntuoso, mas também defeitos, achamos. que nao vale muito; mas é quando tem sérias dispo- sigdes que lhe fazemos 0 elogio. 149 Demais « mais. com aqueles que scones quand 38 véem com seals Wen, dauisigdesterem para eles mais valor do ne 8 da lina, o que & verdadciramenten soo nia Pois assim como um homen dog fetior aos seus servi aqueles que do mais valor Que & sua natureza particu preciso consideri-los miseriveis, E as coisas so real bundancia produz mente assim, Poj a insoléncia, de educagio em conjungio engendra a loucura. Na verda dispostos no que diz respeito as a riqueza, S a supera. } assim como a faltg ‘OM muitos recursos ide, para aqueles mal S coisas da alma, nem nem a forga, nem a beleza sio bens, Mag quanto mais essas tiltimas disposigBes! superabun dam, mais gravemente e com m: So nocivas aquele que as ad Dresentes sem sabedoria, Pois a expresso “Nag da faca a uma erianga” equivale a dizer nio_ponha. muitos bens nas mos de pessoas que tém defeitos. ‘ais freqiiéncia elas iquiriu, caso estejam IL POR QUE E PRECISO FILOSOFAR Todos admitirdo que a sabedoria provém do estudoe da busca das coisas que a filosofia nos dew a capaci- dade [de estudar], de modo que, de uma maneira ou de outra, é preciso filosofar sem subtertfiigios. Hi casos em que, aceitando todos os significa dos de uma palavra, € possivel demolir a posigao Sustentada pelo adversério, fazendo referencia a cada ificado. Por exemplo, suponhamos que alguém diga que nao € preciso filosofar: pois “filosofar” tanto quer dizer “procurar se é preci 0 filosofar ou_ 150 ao”, quanto “buscar contempligao Flosotica”, mo do que esss cas atvidades so propria do ean desruie!os por completo a posi defen eee inlém do mais, hé ci8ncias que produzem todas modidades da vida e outras que usa as prim aseutsim como hi algumas que servem ¢ outres que = a nestas tillimas, a medida em que sio Daf se 6.aciGneia que tem a retdio do julgamen: to, que tsa a razdo © que.contempla.o bem em sua totaidade (isto 6, a filosofia) eapaz de usar todas as oulras e de Ihes dar prescrigBes conformes & nae tureza ~ ser preciso, de qualquer mode, filosofar, jé que 86 a filosofia contém em si o julgamento correto ea sabedoria prescritiva infalfvel. Ml. A FILOSOFIA £ A REALIZAGAO NATU- RAL DO HOMEM Entre as coisas engendradas, algumas sao engendra- das por um pensamento e por uma arte, como uma casa ou um navio (pois a causa dessas duas coisas & ‘uma arte ou um pensamento), ao passo que as ou tras 0 so nfo gragas a uma arte qualquer, mas gra- gas A natureza. Realmente, a causa dos animais ¢ das plantas é a natureza e todas as coisas desse gé- nero so engendradas em conformidade com a na- tureza, Mas algumas coisas so também engendra- das gracas ao acaso. Na realidade, todas aquelas que rio sdo engendradas nem gragas a uma arte, nem gragas 4 natureza, nem em decoréncia da neces dade, dizemos que so, na maior parte, enge das gragas a0 caso. Ist que engendrado com vistas a que possa acontecer de icaso, em conformidade um objetivo. Pois, mesmo algo bom vir também do a com © acaso € na medida em que vem do acaso, nio € bom (0 que é engendrado em conformidade com © acaso € sempre indeterminado). Mas o que é engendrado em conformidade com @ natureza certamente 0 é com vi © € sempre constituido com vistas a um objetivo melhor do que aquele produzido pela arte. Na ver- dade, nao é a natureza que imita a arte, mas é a arte que imita a natureza, ¢ aquela existe para ajudar e completar o que esta negligenciou. Pois a natureza Parece capaz de realizar algumas coisas por si mes- ma e sem precisar de ajuda alguma, mas outras di ficilmente ou de modo algum. Um exemplo imediato € 0 das géneses: niio é verdade que algumas semen- tes, em qualquer terra que caiam, germinam sem istas a um objetivo 132 0 que outras precisam, além disso. catego. 20 pass0 a 2 do cultivador? Quase do mesmo modo, al a animals dao conta, por si mesmos, de toda a ary naturez2, 20 passo que 0 homem precisa de i yara a sua preservacdo, tanto por oca- smuitas artes para @ su i de, di ao da génese primeira’, quanto mais tarde, duran- 0. ® ‘se powaata, a arte imita a natureza, é desta que decorre, também para as artes, o fato de que toda génese se produz com vistas a um objetivo. Pois ‘admitiremos que tudo 0 que € engendrado correta- mente é engendrado com vistas a um objetivo. Acon- tece que 0 que € engendrado de uma bela maneira é engendrado corretamente. E tudo 0 que é ow foi engendrado em conformidade com a natureza é ou foi engendrado de uma bela maneira, se é verdade que 0 que vai de encontro & natureza € defeituoso e contrério a0 que existe em conformidade com ela. Por conseguinte, a génese conforme a natureza se produz com vistas a um objetivo. E oque podemos ver também a partir de cada uma de nossas partes. Por exemplo, se tu refletires sobre a palpebra, verds que ela nfo foi engendrada em vio, mas para ajudar os olhos, a fim de lhes proporcionar Tepouso e de proibir que neles entre algo que os agri- 4a. 0 objetivo pelo qual uma coisa foi engendrada é, Portanto, © mesmo que aquele pelo qual ela deveria serengendrada: por exemplo, se um navio devesse set engendrado com vistas a um transporte maritimo, € também por essa razio que ele foi engendrado. Acontece que os animais fazem parte das coisas que foram engendradas naturalmente, sem exeesio elhores € os mais hon- alguma, ou pelo menos os m¢ eee rosos’, Pois nfo faz nenhuma diferenga 4 153 mais daqui de ume biaixo, de modo que esti ela foi engendrado por natureza e em conform, com a natureza que ele ade Assim sendo, de toda aS coisas, a realizagio sempre melhor [do que a propria coisa}, pois todas as coisas engendradas so engendradas com vistas a sua realizagio e 0 objetivo visado é melhor, ¢ até mesmo, de todas as coisas, é a melhor, Além disso, arealizagio atural & 0 que se realiza naturalmente em iiltimo lugar na ordem da génese, quando a gé nese se efetua continuamente, Por isso € que, antes de tudo, 0 que pertence ao corpo humano é 0 que aleanga a reali ), em seguida o"que pertence A alma (ou seja que a realizagao do melhor vem sem- pre, de qualquer forma, no fim da génese), A alma, portanto, vem depois do corpo ¢ 0 que, entre as qualidadesdaralima, vem em timo lugar é a sabe- doria, Pois vemos que esta & naturalmente.a tltima coisa a ser engendrada nos homens. E & por esse motivo que a velhice faz valer os seus direitos ape- nas com esse bem. E, portanto, uma certa sabedoria {que é, em conformidade com a natureza, nossa rea- lizagio, e exercer a sabedoria é 0 objetivo iltimo pelo qual fomos engendrados. Por conseguinte, se fomos engendrados, é claro que existimos também para exercer a sabedoria e para nos instruir: Entre 0 que existe, para qué, portanto, a nature- zae a divindade nos engendraram? Interrogado so- bre isso, Pitgoras respondeu: “Para contemplar 0 céu.” E ele mesmo declarava ser um contemplador da natureza ¢ ter vindo A vida com esse objetivo. Isa ue Anaxagoras, interroga- ein H te vista do qual deveriamos ‘9 objetivo em dh sobre 0 Oendrados e viver, dew a. essa pergunts cescoller ser Cn «para contemplar 0 céu ¢ 0 que a soguite FSP" a lua ¢ 0 sol”, como se todo ass uae algu ss ergo esse raciocinio ~ dizer belamente que todo homem Pitigoras ser ara conhecer e contemplar. Mas foi feito por Dee Pee temos de conhecer € 0 COS- nto a saber s¢ 0 que — quanto a ralquer outra natureza, € 0 que Ser, mos Ou do examinat mais 2 frente. Por ofa i830 vida Piessomo primeira conclusfo. B, realmente, a scotia é, em conformidade com a natureza, eS ee entio, de todas as coisas, exercer th sabedoria seré a melhor. : Por conseguinte, & preciso realizar as outras coi- sasi! com vistas aos bens engendrados em si mes- ‘mos, €, entre estes tltimos, é preciso realizar os do, corpo com vistas aos da alma, depois realizar a vi tude com vistas & sabedoria, pois esta 0 que hi de, mais elevado. fle conte: OS resto no tives Dai ~ pelo IV. DE ACORDO COM A PROPRIA NATURE- ZA, A FILOSOFIA E A ATIVIDADE MAIS DIGNA DE SER ESCOLHIDA PELOS HO- ‘MENS ‘A natureza como um todo, como se fase doa de azo, nada produz ao acaso. Pelo contrério, produz tudo com vistas a um objet as artes “se preocupou mais c tivo do que. ii es da nature ‘pois estas, tod tacdes Como o homem € naturalmente constituido de alma 155 € corpo e uma vez que a alma é supetio € como sempre o inferior esta a servigo do supe, rior, 0 corpo também existe com vistas & alma, Mas emo-nos de que na alma hi uma parte racios nal uma parte icaciona, isto 6, inferior, de mode que a parte irracional existe com vistas & parte cional. E lembremo-nos de que a inteligéncia fica na parte racional, de modo que a demonstragio leva necessariamente & conclusio de vistas 2 inteligéneia, 20 corpo, slo visbes das coi que a operaga sual consiste em ver as coisas vis to, com vistas 2 inlelecedo ¢ A intel , portan- que toda pelos homens, se é verdade, em primeiro lugar, que todo resto & dig- no de ser escolhido com vistas 8 alma, em segun- 0 do melhor, E repitamos ‘68 que sito dignos de ser Passo que os que Fundam 0 ¢ nento sobre $outros assuntos se assemelhiam a mulheres eseravas, Gcorre que por toda a parte © que é digno de escolhido por si mesmo & perior ao que s6 & dig to de ser escolhido por outras coisas, porque 0 que € livre & também superior ao que niio & Qt n © pensamento, dda que o agente Ihes ponha na base o luero © as leve a cabo nesse sentido, ele, mes mente ido nossas a im, cer umento, Com certeza, ele pre- is do corpo como de un servidor & também est “gue 0 pens 156 s aso, [Mas geraimente realiza essa 0 ac berana, mesmo que @ expos! sigencia € sot gies om a ages soja realizada tendo 0 corpo rte pensamentos, 08 dig- sao mais Mas as contemplagées so honrosas em entre elas, €o saber da inteligéncia que scolha, enquanto os pensamentos rela- si mesmas € § digno de escolh nents rela ti sree sabedoria iio honrosos gragas as agoes [de- tiv i torrente dees). Assim send, © Bom € 0 a soe nas atividades contemplativas referentes jidades contemplativas. a ari pelo qual diferimos dos outros ani- mais 56 brilha nesse tipo de vidal’, em que, dizfa- mos, nada é devido ao acaso ou sem grande valor. Na verdade, mesmo que haja, neles também, peque- nos rasgos de razio e de sabedoria, eles nio partici- pam de modo algum do saber contemplativo. J4 no que se refere as sensagées ¢ &s impulsdes, o homem G inferior, em exatidio e forga, a varios animais. V. A FILOSOFIA & POSS{VEL Desse modo, portanto, somos capazes de aprender as cigncias que tratam do que & justo ¢ lucrativo, ‘bem como aquelas que tratam da natureza ¢ do res- to da verdade, ¢ & muito facil demonstrar isso. Na verdade, o anterior é sempre mais passivel de conhecimento do que o posterior, e 0 que € me- Ihor por natureza, mais passivel de conhecimento do que 6 menos bom. Pois a ciéneia tem por objeto mais. 157 o determinad e © ordenado do que os seus conte Fios, e mais as causas do que os efit que © bem & mais determinado ¢ ordenado do mal, do mesmo modo que um homem enquadags Emais determinado e ordenado do que um homem: com defeitos, pois entre eles ha, necessa rente, a mesma diferenca, E 0 anterior & mais eausa do que 9 posterior, pois se 0 primero (o anterior] & supa. mido, é suprimido aquele cuja substancia depend dele: as linhas sio suprimidas se sio suprimidos o¢ nimeros, ocorrendo 0 mesmo com as superticies se as linhas so suprimidas, com os volumes se as st. Perficies sfo suprimidas, e com aquilo a que cha. ‘amos sflabas se as letras s20 suprimidas Conseqiientemente, se é verdade que a alma é melhor do que o corpo (na verdade, ela & por natu. feza mais apta para govemar) e que, para 0 corpo, existem artes e sabedorias, a saber, a medicina e 2 sindstica (pois as consideramos cigncias’e afirma- mos que alguns as adquiriram), é evidente que existe também, para as almas e as virtudes da alma, um cuidado e uma arte, e que somos capazes de aprende. los, jé que existem cuidados e artes igualmente para realidades que ignoramos mais e que so mais diff- ceis de conhecer'*, © mesmo se dé com as coisas da natureza. £ preciso, efetivamente, que haja uma sabedoria das ‘Causas ¢ dos elementos, bem antes da sabedoria das coisas que deles procedem. Pois estas nao contam entre as realidades supremas e no é delas que as realidades primeiras's naturalmente procedem, mas €manifestamente das realidades primeiras por elas que as outras coisas sfio engendradas e constitufdas, 158 ca verdade, quer seja 0 fog0, 0 a, 0 nimero ox Na ver rezas as caulsas das OUtTaS Cosas € ante utes mac nfo € possivel conhecer nenhuma riores @ ois coisas se se ignoram as primeiras. Pois, sts i eriamos uma palaVra, se ignordssemos as sflabas, ” ; tetmssim sendo, no que conceme A existéncia de a cigncia da verdade e da virtude da alma, bem - a raziio pela qual somos capazes de aprendé- « . fa, o que acabamos de dizer bastard. VL A FILOSOFIA E 0 MAIOR DOS BENS. Mas se a filosofia é 0 maior dos bens, bem_como aquele que ultrapassa em vantagens todos os outros, € evidente que.o ¢ pelas razdes seguintes, Todos nos, realmente, admitimos que deve governar o mais sério € 0 melhor por natureza, e que a s6 a lei deve ser governante ¢ soberana, Ocorre que ela é uma certa sabedoria, ou seja, um raciocinio proveniente da. sabedoria, - 7 Aléin disso, que regra ou que determinagio mais, exata do que seja um bem pode haver para nés, a ni ser a que escolhe 0 sébio? Pois tudo o que ele escolhe, na medida em que ele o escolhe em con- formidade com a ciéncia, é bom ¢ o contrétio, mau. Mas como todos os homens escolhem, antes de tudo, 0 que é conforme as suas proprias aualidades (de fto, 0 justo escothe viver na justgso tempe- ante, na temperanga...), € do mesmo none i © sibio escotherd antes de tudo exereer a sabedi- ta, pois essa a obra de someon carci Por isso é evidente que, de acordo con 159 to que se impde soberanamente, a sabedoria & 9 melhor dos bens. E possfvel observar a mesma coisa mais clarae mente pelo que se segue. Exercer a sabedoria © oo. hecer sio em si coisas dignas de ser escolhidas pelos homens (pois nao é posstvel viver como ho. mens sem elas), e também dtil para a vida. Na verdade, nfo nos advém bem algum que nio seja realizado depois que tenhamos calculado e operado conformemente & sabedoria, VII. A FILOSOFIA E VANTAJOSA EM SI Mas esforgar-se para ver que toda Jao |, bem como para ver fe que ignora por completo a que ponto o bem ¢ 0 necessirio estdo separados desde o principio. Pois eles diferem o maximo possivel. Efetivamente, en- tre as coisas sem as quais é imposs{vel viver, aque- las que amamos por outras coisas devem ser cha- madas de coisas necessérias e causas auxiliares, a0 Passo que aquelas que amamos por si mesmas, quando realmente nada mais delas sairiam, & pre. ciso chamar de coisas soberanamente boas. Porque isto no € digno de ser escolhido por aquilo e as- im sucessivamente (progredindo assim, vamos a0 infinito!), mas paramos em alguma parte. E, por- tanto, de todo ridiculo procurar em toda coisa algo além da coisa em si, ou seja, um lucro, e pergun- {ar: “Pois entio, que Iucramos com isso?”, “Que utilidade tem?”. Porque realmente, repetimos isso, um individuo que age assim nao se parece em nada com aquele que sabe 0 que é belo e bom, 160 tampouco com aquele que fax a distingSo entre a auxilia. ei dizemos tudo 0 que hi de Seria possivel ver que diz Verdadeiro se alguém nos transportasse em mat mento, por exemplo, para as‘ilhas dos Bem- enturados. Poi Kindo precisariamos de nada e nio aveFramos vantagem de nenhuma outra coisa: s6 smo hoje dizemos ser a vida livre. Mas se isso é verdade, como rio se sentria envergonhado, ¢ com razfio, aquele de nés que, tendo a oportunidade de mora nas ilhas dos Bem-aventurados,fosse inca paz de o fazer por sua propria culpa? Nao é, por- tanto, desprezivel a recompensa que os homens cobtém da ciéncia! E tampouco € pequeno o bem que cla engendra! Na realidade, do mesmo modo que, como afirmam 0s poetas que detém 0 saber, no Hades recebemos as gratificagdes da justiga, nas ithas dos Bem-aventurados deveriamos receber, pa- rece, as da sabedoria. Portanto, nfo é de modo algum estranho que esta nfo parega nem util nem vantajosa. Pois nio afi mamos que ela é vantajosa, mas sim boa, e nio convém escolhé-la por outra coisa, mas por ela em si mesma, Na verdade, fazemos a viagem ao Olimpo buscando 0 mesmo espeticulo, anda que ano deva haver nada mais (pois em si mesma a contemplacdo € superior a uma grande quantia de dinheiro). Do mesmo modo que quando contemplmos a repre sentagbes donsfacas no buseamosreceber algo da parte dos stores (pel conti, ns 8 paenmes ns escoTherimos mits ontosepeteulos de p= feréncia a uma grande quanta de dinero Pos entdo! Da mesma forma, devemos hon 161 Contemplago do Todo do que todas sas quee parecem titeis, Po e.um Indo, tevar muito vistas & contemp Theres e escra & de outro ta 8 Outras coi. ois ilo se deve, supono, Asério as viagens feitas com lagio de homens que imit ‘08, OU que combatem e ido, no acreditay gratuitamente a natureza e fam mu dever contemplar a verdade dos seresi VII. A FILOSOFIA & TAMBEM va} PARA A VIDA H NTAIOSA (UMANA id também, ‘am das virtudes da alma e que preten: amentos sobre a felic tado, idem dar ensi- idade € a infelicidade do Es- brecisam muito mais de filosofia Na verdade, nas outras artes (a: foi partindo da natureza que descob ‘ss instrumentos, como na constr mo, a régua, 0 con dos & gua, segund &p en Ss dos artesios) Ico 0 fio-de-pru- mamos empresta- 205 Talos do sol. E & julgando © esses instrumentos que verificamas o que 4 SRSs%. suficientemente reto e liso, Pois « go testo modo, 6 homem politica deve ter 2 poipria natureza e da ver. MPasso, que ton ale SeTOS cTItSHiOs tirados ez c, segundo os quais ele julga 0 que 6 justo, o een ‘0 que é lucrativo... E, realmente, assim eee primeito caso” ot insiromemen em ea distinguem entre todos, também a lei ris bela a quo ¢ insiaurada na walor confers : natureza, tert, nfo € posivel que aquele que no filo- sofou nem conheceu a verdade seja capaz de faz lo, Nas outras artes, as pessoas alcangam um certo nivel de saber tomando emprestados os instrumen, tos € 0s cdlculos mais exatos, nio as prOprias reali. dades primeiras, mas ds realidades segundas, tercei- ras, ou enésimas,e tiram seus raciocinios da expe. rigncia. Mas € ao fildsofo, s6 a ele entre tock cabe a imi os, que aco a partir das préprias realidades exa- tas, pois é destas que ele é contemplador, e nio das imitagoes. 44, portanto, que ndo é um bom construtor aque- Te que nao usa nem régua nem nenhum outro ins- trumento desse tipo, mas que se remete a outras construgées, do mesmo modo também, sem diivida, Se alguém estabelece leis para os Estados ou se exer. e atividades (politicas] olhando e imitando outras atividades ou Constituigdes humanas (as dos lace- deménios, dos cretenses ou de outros Estados desse tipo), nao é um bom legislador nem um bomem Sétio. Pois no possivel que a imitagio do que nio belo seja bela, nem que aquela do que nio é divi- No € estavel por natureza seja imortal ¢ estével. No entanto, claro esté que, entre os artesos, 0 flésofo €0 nico cujas leis sio estveis,e as atividades retas . ry ele, eftivaments, vive com oon vot dos para a natureza e para o divino e, aexempl 103 Us fom timoneiro [que se orienta peas estrelas), £6 depois de arrimar os prineipios de sua vide nas ue ele se lanca e vive por si mesmo. Esta cigncia [a sabedoria] é, portant, Plativa, mas nos permite ser artestos de conformidade com ela. E como a visio: i: dutora nem artes’ de coisa trabalho é jul contem- tudo em io € pro- seu nico S Visiveis), nos ajuda enor. is, sem ela, esta- 'zados). Da mesma que, embora a cigncia seja femplativa, exercemos milhares de atividades em conformidade com ela: captamos determinadas coi. S25 fugimos de outras e, de maneira geral, adquir. Mos, gragas a ela, todos os bens. Aquele que quiser examinar cuidadosamente essas questées no deve, portanto, esquecer que tudo © que € bom e vantajoso para a vida humana esta NO Uso € na ago € no apenas no conhecimento, Pois nao ficamos siios aprendendo a conhecer ag coisas que produzem a satide, mas aplicando-as a0 nosso corpo. Do mesmo modo, no ficamos ricos Conhecendo a riqueza, mas adquirindo uma grande fortuna. E 0 que € 0 mais importante de tudo: nao Jevamos uma vida boa conhecendo alguns seres, mas agindo bem. Pois nisso consiste ser verdadeiramen- te feliz. Por conseguinte, também a filosofia, se verdade que ela vantajosa, deve ser ou o exerci. cio de boas atividades, ou uma coisa atividades, alguma (pois Igar e mostrar todas as coisas mite agir gracas a ela e ‘memente em nossas atividades (poi riamos quase totalmente imobili maneira, claro esté con- Util para essas Nio se deve, portanto, fugir da filosofia, se é verdade que a filosofia 6, como todos nés acredita. 164 aquisigao e uso do saber, e que o saber esta ws oe maiores bens. Thmpouco se deve, pelo di. ciety. navegat rumo as colunas de Hércules e cor tos. E proprio de um escravo desejar ardentemente viver sem viver bem (intelectual e moralmente fa- Jando}, seguir as opinides do valgo em vez de que- rerque ovulgosiga as nossas, ede procurar dineiro sem dar a minima atengo ao que é belo. Acerca da vantagem e da importincia da coisa (a filosofia), julgo que essa demonstragio é suficiente. IX. A FILOSOFIA E FACIL DE APRENDER. ‘Além disso, de que a sua aquisigéo & muito mais fécil do que a dos outros bens, podemos nos con- vencer pelo que se segue. Na verdade, o fato de que os que filosofam nao recebem dos homens nenhum salario pelo qual eles se dariam a todo esse trabalho, o fato também de que depois de ter dado as outras artes uma grande dianteira, eles [os filésofos], no entanto, em pouco tempo, assumiram a lideranga da corrida com exati dio, eis o que me parece um sinal da facilidade da filosofia, E ainda 0 fato de que todos se sentem em casa com a filosofia e de que querem consagrar-se a ela, deixando todo o resto para trds, no & pequemo tes- temunho de que a sua freientgdo vem acompe tempo. Além disso, 0 seu uso neimene istinto de todes os cuts. Porque, pars nela op rar, no precisamos de instrumento alg 165 Jocais [particulares), amas, Em qualquer tupar dey mundo habitida em que fi cINOW © Pensamento, de it verdadle como se ef lod a partes, alcanganos estivesse pres Port ArAMOs que 4 Filosofia vel, qu vior dos bens © que & f ‘ulquitida, Por isso, merece, por todas es que 4 ela nos consagremos com ardor Me, 10, demons é port fil de se rari XA BILOSOFIA i, Di, MAIS DIGNA Did 1s TODAS AS COISAS, A SOLMA Aléin disso, una di nos 0 compe tnt pover & panies ¢ nutta 6 povernadas na wih 4 oMtta & submetict como un instiumente Acontece que sempre © uso do que & povernado {ite ¢ um instrumento est4 subordinad aquele que governit © que us uma parte da a He qui ina & a Fazio ~ 6 exatamente em conformidade com a natureza, go- AS coisas que nos dizem respeito —, a0 Passo que a outra segue e tem por natureza ser gos Yernala, come que qualquer coisa esté bem dis. Posta quando isso se df conformemente & sua pro= bria virlude, Pois 0 fato de ter aleangado essa virtu de € um bem © Equando o que hi de mais importante, de mais Soberano e de mais hontoso possui sua virtude, que {udo esti bem dlisposto. Por conseguinte, & a virtue de natural daquilo que é naturalmente melhor, que € a melhor. Acontece que & melhor aquele que, em conformidade com a natureza, € mais apto para Sovernar e mais adequado a dirigir, como homem fm relagio aos outros animais. Por isso, aalma é 16 melhor do que 0 corpo (porque mais apta para yo ema) ¢, na alma, € melhor o que possui rari © pensmento Na verdad, € isso que comand e que profbe, que diz se & preciso ou nio agi ‘Assim sendo, qualquer que seja a virtude dessa 1c, cla é necessariamente, dentre todas, a 1 digna de escolha para todos [os seres} em per para nds (em particular]. realmente, podemos sustentay, julgo eu, que nds mesinos somos 56 ou sobretudo essit parte ‘Além do mais, quando 6 que constitui a obra natural de cada coisa (nao por coincidéncia, mas, com si) € realizado da mais bela forma que exista, 6 pre- cis dizer que tal coisa também & um bem, acein como colocar a vitude como prinepio na quad de de supremamente soberana, em conformidade com a qual toda coisa rea < al e A ess propria obra, Ocorre que sio méltiplas diversas as operagies daquilo que & composto e constituido de partes, ao passo que, daquilo que ¢ simples por natureza e cuja substincia niio consiste numa relagio com qualquer outra coisa, s6 ha, necessariamente, uma tinica vi tude soberana, Se, portanto, o homem é um animal simples e se 4 sua substncia & ordenada em conformidade com raziio © com a inteligéncia, sua obra & nada mais nada menos do que a mais exata verdade e 0 verda- dciro julgamento sobre os seres. E se é compos de capacidades mips, ent claro que par nue le que reaizanaturalmentevéias cots, € sempre a melhor delas que € sua propria obs: ren Blo, a obra do méticoéa sae eee Se ere a aaa ord pa ‘chamar de melhor obra do pensamento, 167 pensante de nossa alma, a y Portanto, a obra mais soberan: Essa obra, 0 pensamento conformidade com a ciéncia, aciéncia maxima. Acontec soberana desta é a contemy duas coisas que existem um: da por causa da outra, send: escolha aquela gracas A qual a outra é igualmente digna: por exemplo, o prazer & mais digno de ser escolhido do que as coisas prazerosas, ¢a saiide mais do que as coisas sis. Pois diz-se que as coisas Prazerosas ¢ as coisas sis so produtoras, respecti_ vamente, do prazer e da satide. Ora, no que diz respeito & sabedoria, que afir- mamos ser a capacidade do elemento mais sobera- no em nés, ndo ha nada que seja mais digno de escolha do que ela, quando julgamos um estado [da alma] comparativamente a um outro. Porque a par- te cognitiva, separada ou em composicao [com as outras partes}, é melhor do que a alma como um todo, e a sua cigncia é virtude. Portanto, nenhuma das chamadas virtudes parti- culares & a obra dessa ciéncia; pois essa ciéncia € melhor do que todas [as virtudes], a0 passo que a realizagao produzida é sempre superior & ciéncia que 4 produz. Nesse sentido [no sentido do que é produ- zido], nenhuma virtude da alma é obra sua, tampou- £0 0a felicidade. Na verdade, se fosse produtora de outras coisas, seria diferente das coisas produzidas, como a arquitetura é diferente da casa, porque no € ‘uma parte da casa. No entanto, a sabedoria é uma Parte da virtude ¢ da felicidade; pois afirmamos que a felicidade vem dela ou se confunde com ela. rerdade. A verdade ¢, wt dessa parte da alma @ executa em geral em mais precisamente com *€ que a realizacio mais lagio. Na verdade, de i € digna de ser escolhi- lo melhor e mais digna de 168. Por conseguinte, também de acordo com esse raciocinio, € impossivel que ela seja uma cigncia produtora. Pois a realizagio deve ser melhor do que aquilo que € engendrado [visando atingir essa reali. zagio}. Ora, ndo hé nada melhor do que a sabedoria (exceto se for uma das coisas que dissemos [a rea- lizagdo € a felicidade], mas nenhuma destas é uma obra diferente dela). Portanto, € preciso afirmar que essa ciéncia é contemplativa, visto que a sua reali- zago nao pode ser uma produgao. Assim sendo, exercer a sabedoria e contemplar €a obra da virtude, e, entre todas as coisas, é a mais digna de escolha para os homens, do mesmo modo que ver 0 é, igualmente, julgo eu, para os olhos: é 0 que escolheriamos ter, mesmo que disso s6 resul- tasse a virtude em si. Demais a mais, se amamos uma coisa por causa de uma [propriedade] que coincide com ela, é claro que desejaremos mais aquela & qual essa proprieda- de pertence mais. Por exemplo, se acontecer de al- guém ter de escolher entre passear porque é saudé- vel e correr porque 0 € ainda mais, ¢ se isso estiver ao seu alcance, ele escolherd antes correr, e 0 esco- Iheria mais répido ainda se soubesse [ que é mais saudavel]. Por conseguinte, se a opinio verdadeira se assemelha & sabedoriae se ter opinides verdadei- ras € digno de escolha por isso mesmo, ou sea, na medida em que é algo que se assemelha & sabedoria pela verdade, mas se essa tltima propriedade [a verdade] pertence mais & sabedoria, ento exercer a sabedoria ser mais digno de escolha do que ter opinises verdadeiras. . . Pademais, se amamos exerce a visio Lies {sso testemunha suficientemente que ( ma, 169 homens amam supremamente exercer comhecé-la, Pois 0 que eles amam, amando viver, é exercer a sabedoria € © conhecimento. Na verdade, s6 hon. Tam a vida pela sensacdo e sobretudo pela visio, De fato, eles parecem realmente adorar essa capacida. de no mais alto grav, pois, comparada com as ou. tras sensagdes, ela é totalmente como uma ciéncia Entretanto, € pelo fato de sentir que a vida se dlistingue da auséncia de vida, o que quer dizer que a vida se define pela presenca e pela capacidade da sensagio, e que uma vez arrebatada esta, nio v; mais a pena viver, como se, com a sensac: ria vida fosse amebatada. Na sensacdo, a capacidade da visio é diferente, Porgue ela é @ mais segura, ¢ € por isso também que aescolhemos mais do que qualquer outra. Mas toda sensacao € capacidade de conhecer por meio do corpo: por exemplo. a andi som por meio dos ouvidos. Se, poranto, a vida € digna de escolha gracas & sensaco, ¢ se a sensagao é um certo conhecimento, a sabedotia ¢ ale 0. a pro- jo tem a sensacdo do escolhemos também a vida porque, gracas a alma spaz de conhecer. le duas coisas, sna de escolha aquela & qual per- Por conseguinte, s coisas, mais do de escolha « sabedoria, rans (mestra] da verdade. E por homens perseguem a sabedoria acima de tudo, XI. A VERDADEIRA FELICIDADE CONSISTE, NA FILOSOFIA. Agora, é preciso dizer que aqueles que escolheram a vida em conformidade com a inteligéncia, também vivem com o maximo de prazer, e 0 que se segue 0 demonstraré claramente. Parece que se diz “viver” em dois sentidos: con- forme & capacidade e conforme & operacdo, Afirma- mos, efetivamente, que os que veer sio os animais que possuem a visio © que so naturalmente capa- zes de ver, ainda que de olhos fechados, bem como 0s que usam essa capacidade e projetam a sua visio {num objeto}. Ocorre 0 mesmo com “ser sébio” ou “conhecer”: com isso queremos dizer tanto “usar” e “contemplar”, quanto “ter adquirido a capacidade [de saber ou de conhecer}” e “ter a ciéncia”, Se, portanto, distinguimos a vida da auséncia de vida pelo fato de sentir, ¢ se “sentit” se diz em dois sentidos — soberanamente € fazer uso das sensagoes, ¢, diferentemente, ser capaz de fazé-lo (6 justamen- te por isso que, parece, afirmamos que mesmo aquele que esta adormecido sente) -, & claro que “viver” ‘se dird também em dois sentidos. Pois devemos afir- mar que € 0 individuo acordado que vive verdadei- ra € soberanamente e que aquele que esté dormindo (s6 vive) porque é capaz de passar por esse tipo de movimento, segundo o qual dizemos que ele est acordado ou que sente uma ou outra coisa. Quando, portanto, dizemos de dois seres que eles so, cada qual, idénticos em alguma coisa, mas que Gizemos tal coi de um pelo fato de que ele pro- re (algo), admitiremos que a este i Se aly roan m diremos que aquele que usa a ia 6 mais sabia do que aguee que a possui, ¢ que aguele que proje- visio [num objeto 18 mai S capaz de projetita E realmente, As coisas para as quis $6 hi umn no apenas de acordo com ambém de aeorlo com o fato dle que uma 6 anterior ea outa posterior. Por exem- plo, afirmamos que a saride & um bem maior do que coisas sis, © que uma coisa naturalmente di de ser escolhida por si mesma & maior também do que aquilo que a produz, Todavia, vemos que 0 nome [bem] no & atribuido a essas duas coisas no sentido estrto, porque eada uma & um bem, 20 p so que se trata aqui de coisas vantajos: virtude®. E preciso, portanto, afirmar que o individuo acor- dado vive mais do que aquele que esté dormindo, ¢ gue aquele cuja alma opera vive mais do que aque- le que 86 a possui. Pois é por causa do primeiro que afirmamos que 0 segundo também vive, porque o segundo & capaz de softer e de produzir [alguma coisa] a0 modo do primeiro Usamos uma coisa, qualquer uma, quando, sen- do capazes de uma tinica coisa, fazemos a mesma passar a ato, e quando, sendo capazes de varias coisas, fazemos passar a ato a melhor delas, Por ‘exemplo, usamos flautas s6 ou prineipalmente quan do as tocamos (pois raciocinamos verdadeiramente 4a mesma maneira noutros contextos em que apare- cem as palavras “uso” ou “operagio"). E por iss0 que devemos afirmar que aquele que usa comreta- ‘mente (uma coisa] a usa mais. Na verdade, 0 ob- dlo- que aguele que nome, dizemos a superioridade, mas e ali da m odode usar naturais [de uma coisa] jetivo ¢ 0 ele que Se aca cipal da alma é pen obra finica ou principal da alma é p Agora, # obfa t raeiocar, Por isso simples & fel para to- Jos fizeroseguinteracioeio: est mais vivo aquele * pensa corretamente € mais do que todos aquele do que exeree a sabedoria © que contempla em conformidade com a mais exata cigneia, Por isso, ¢ ‘esse momento € a essas pessoas ~ Aquelas que cexercem a sabedoria e os sibios ~ que é preciso atribuir a vida realizada, ‘Todavia, se para todo animal a vida é exatam te o mesmo que a existéncia, entio & dbvio que 6 0 sibio que, denire todos, existira no mais alto grau e 6 mais soberanamente, e, mais do que em qualquer outro momento, quando estiver com mios d obra e quando estiver contemplando o ser mais passivel de conhecimento™ Além disso, a operacio realizada e sem entraves tem em si mesma seu gozo, de modo que a opera- io contemplativa € a mais prazerosa de todas. Demais a mais, hé uma diferenca entre “beber tudo sentindo prazer" ¢ “beber com prazer”. Pois nada profbe que alguém que ndo tem sede ou que nio esta diante de uma bebida que o regozija, nao sinta alegria ao beber, ndio porque beberia, mas por- {que no mesmo momento isso coincide [para ele] com © fato de que, uma vez sentado, ele contempla ou € contemplado. Afirmaremos, portanto, que esse in- ividuo sente prazer e que bebe sentindo prazer, mas nao que sente prazer porque bebe, nem que bebe com prazer. Do mesmo modo, diremos que 0 andar, fo estar sentado, 0 aprendizado, ou qualquer outro usa bela © exatamente, 173 movimento, sic agradaveis ou dolorosos, no por. Gque 0 fato de sentir dor ou alegria coincide com a presenga desses movimentos, mas porque sentimos dor ou alegria pelo fato da sua presenga. Do mesmo modo ainda, ditemos que € prazerosa 1 vida cuja presenca é prazerosa para aqueles que a possuem, € que vivem prazerosamente, nio para todos aos quais hé [simples] coinci ver e gozar, mas sim para aqueles aos quais o pré- prio fato de viver é prazeroso € que gozam do pra- zer da vida, iE essa a sazio pela qual atribuimos a vida ao individuo acordado em vez de aquele que esti dor- rmindo, e aquele que exerce a sabedoria em vez. de Aquele que dela é desprovido, jé que também afir- mamos que o prazer da vida € 0 prazer engendrado pelo uso da alma, pois é essa a verdadeira vida. Por conseguinte, se ha varios usos da alma, 0 mais soberano de todos & com certeza exercer a sabedoria 0 maximo possivel. Portanto, est claro que o prazer engendrado pelo exercicio da sabedo- Tia ¢ da contemplagdo € necessariamente, s6 ou a titulo principal, aquele que decorre da vida. Assim sendo, é s6 ou sobretudo aos filésofos que cabe viver prazerosamente e regozijar-se verdadeiramente. Na realidade, a operagdo das intelecgdes mais verdadei- ras, aquela que se nutre dos seres mais reais e que conserva sempre de modo permanente a perfei rocebida {de tais seres}, é, de todas [as operagdes}, ‘a mais eficaz em relagio 2 alegria , ig 288 prees0 mo apenas raciocinae a par- 8 partes da felicidade, mas também voltar a subir mais alto ¢ estabelecer a mesma conclusio a Partir da integridade dessa felicidade, digamos en- 4 .sma forma que 0 ato ja mes nente que, da P " nado com a felicidad, Me om 0 Faro de que tems di jas OU defeitos. Pois todas as coisas sere pias plo conjunto dos Womens, devem seF ©31 am a Felicidade, outras porque S80 umes oe te 's coisas que nos fazem entes; e, entre as a decorrentes; © x ; mes argumas sfio necessérias a0 paso que OW felizes. & tras, prazerosas™ | ‘chrocamos, portanto, como principio que 2 feli- jdnde 6a sabedoria e uma espécie de saber, ou bem riude, ou ainda a maior alegria, ou até mesmo icitam expli to AP fa est relaciO de filoso! também rela sigaes seri avil {sso tudo junto. . ‘Ora, se & a sabedoria, é claro que 86 aos filéso- fos cabera 0 gozo de uma vida feliz. E se é uma virtude da alma ou da alegria, isso também s6 a eles aber, ou a eles mais do que a todos os outros. Pois a virtude & 0 que ha de mais soberano em nés, € a sabedoria 0 que ha de mais agradavel quando com- paramos todas as coisas uma por uma. Do mesmo ‘modo, ainda que digamos que todas essas coisas juntas so idénticas a felicidade, deveremos entio determinar esta como 0 exercicio da sabedoria. Assim sendo, devem filosofar todos aqueles que forem disso capazes. Pois € essa a realizagio da vida boa, ou, de todas as coisas, quando as encaramos uma por uma, a que € mais a causa (da vida boa) para as almas. ‘Ademais, no parece mal esclarecer nossa pro- posigao, partindo do que aparece visivelmente a todos. Portanto, é ébvio que ninguém escolheria viver mesmo que tivesse 0 méximo de fortuna e de poder ‘advindo dos homens, mas ndo gozasse mais do exer- 175 com ess efelo da sabedoria, ou sej j ees ee {cio da sabedoria, ow seja, estivesse love et, POO I le © eral Se ae eae p20 PA eG ote mos er violentos prazeres, como ulgons eapfritas pone’ Hes 0 200 go 8 Mpg ela ose 40 UE fas punamn 0 9 tempo liana. Pec lmac'g de oe ' geajo anata d apres apovido dee cr ore nie pen a destnece» €O ANE Ee aye naturaimente oe é tudo, Ocorre que 0 contério da deméncia éa ater nfo F go passo AU per 0 ao. EPO 180 doria, © que dos dois contrivios,€ precisa fusir do were © passe de come ais de vero um e escolher 0 outro cpa eas : " aquelen Z preciso honrar no orig tina. que danse OM afirmammos que & Prem 1 oe Smee eae Gisol e a Wade ALOT que & preciso venerar Pat & fugit da doenga, é necessério escolhera 8 isto & a F \ meri angie mes aancee fa a satide, Dess mais alle E causas dos maiores bens. Ja que eles ao que me parece, ainda em conformidade me como as C3 n a gue cee raciocfnio, a sabedoria parece, dente t my eats parece» Je oxercermos a sabedor A 5 : ‘wo ainda que nos rezozijamos visio. E por esse MOU’ Jom o que nos é familiar — quer se trate de coisas, e que chamamos de “ami- ‘Tudo isso mostra, portan- das as coisas, a mais digna de escolha, mas nio devido a outra coisa que coincidira com ela. Na verdade, mesmo que tvéssemes tudo, mas fsemos quer se trate de home aleijados e doentes na parte que exerce a sabedori, ' gos” os que conhecettne a vida nao seria digna de ser escolhiida; pois nio ee itidamente, que aquilo que € passive! de conhe- festo ¢ evidente, € digno de ser ama- haveria vantagem alguma para os outros bens. cimento, manit ue é passivel de conhecimento © Conseqiientemente, siio todos os homens, na do. Mas, se © 4 medida em que tém a sensagiio de exercer a sabe- nitido é digno de ser amado, entéo estd claro tam- doriae aes capazes de gozar da coisa, que acre- bém que 0 conhecimento a sabedoria deverao a i ee a € nada e & por essa razio igualmente 0 ser. er realizar a vida na embri- ‘Além do mais, assim como no que tange fortu- oe : na, 0s homens no @ adquirem de forma idéntica para Sains e motivo que dormir é uma viver ¢ para viver feliz, no que tange & sabedoria ‘a, mas nao digna de escolha, igualmente, s6 precisamos dela, penso eu, para vi- ver belamente. Desse modo, pademos perdoar 0 ainda que admitamos que todos os prazeres estiio presentes naquele que dorme, pois as imagens do sono so errOneas, a0 passo que a da vigilia sto verdadeiras. Na verdade, estar dormindo e estar scordado no diferem em nade, a nfo ser pelo fato le que estando acordada, a alma esté em geral no verdadeiro, enquanto aquele que dorme est sem- a felicidade, mas vulgo por agir assim. Pois ele que! ia capaz senio de fica satisfeito mesmo que nao sej viver. Todavia, para aquele que cré que nao ¢ preci- so suportar viver de qualquer maneira, éridfculo nao 5 sentir sofrimento algum e nao levar muito seriamente ae coisas a sério para adguirir esse tipo de sabedo- ria que conheceré a verdade. 176 1 177 XII. CONCLUSAO E PERORACAO Poderemas chegar & mesma conclusio a partir day consideragées seguintes, se contemplarmos a vids hhumana & pena tuz, Veremos, efetivamente, que ag Goisas que parecem grandes aos homens no pas. sam de pintura em trompe-loeil. Dat dizermos be. Jamente que o homem nao é nada e que nada de hhumano ¢ estével. Pois a forga, a grandeza, a be. leza sio derrisérias e sem 0 minimo valor. E a beleza s6 parece ser assim porque nio vemos nada com exatidio, ois se fossemos capazes de um olhar penetran- te, como era 0 caso, dizem, de Lincew**, que via através das paredes ¢ das drvores, quando um indi. viduo nos pareceria suportével a visio, quando nos seria suportavel ver de que coisas ruins” ele é cons. titufdo? As honras ¢ as glérias, que invejamos mais do que todo o resto, esto cheias de indescritivel futilidade. Pois para aquele que observa qualquer uma das realidades eternas € uma estupidez levar essas coisas a sério. E que hé de durdvel ou perma- nente entre as coisas humanas? Mas por causa, acho eu, da nossa fraqueza e da brevidade da mo isso parece muito. Quem, portanto, pondo os olhos nessas coisas, se julgaria feliz ou bem-aventurado, qual de nos, ue, desde o comego, fomos naturalmente constitu dos (assim como o afirmam os celebradores dos ri {08 inicidticos) como se estivéssemos todos destina- dos a uma punigao? Pois é bem isso que dizem, Sob inspiragdo divina, os Antigos: eles afirmam que 4 alma purga uma punigdo e que vivemos para ex. iar grandes pecados* » mes- 178 a subjugagdo da alma pelo corpo parece de Point algo como isto: assim como, de fato, os Cae ogra ‘que afirmam, em geral torturam erusc0% eros ligando os mortos a0s vivos face a seus Prnembro contra membro, assim também a fare arece esticadne colada em todo os membros al 0. See asain oe: hemes re to, Es aos homens, exceto esta tnica coisa dig- na de ser levad a sic: o que hé em nds deinte- Tigncia e de sabedoria. Na verdade, dente as coi sas que sd0 nossas, esta parece ser a tnica imortal, a sinica divina. E porque somos eapazes de putcipar dessa ca- pacidade, a vida, embora miserdvel e dificil por natureza, foi, entretanto, disposta minuciosamente para que o homem, comparado com os outros seres, areca um deus. i “Pols a inteligéncia é em nés o deus”, e ainda: “A vida mortal tem uma parte divina”. Assim sen- do, portanto, é preciso filosofar, ou irembora daqui de baixo dando adeus a vida, visto que todo o resto parece um amontoado de futilidades e frivolidades.. Notas 1 Rel de uma cidade de Chip, lis dexanio 20 aual Aste tree o eu Prep 2. Das queso es oa ue 5: nares pea do omen 63 ess suaalmo, pa ¢ dvd aio qlee singe anima Te ques a fsa lea 5. Por ctl ste. 6: Socamente 179 7. Aristteles acrescenta essa preciso cconsidere como objetivo da medicina a do jetivo da arquitetura a demoli sa. Na verdade, a arte tem um objetivo na medida em que & eausa por si meng do que ela pro, mas no quando € a causa disso por ene cidncia, Por exerpo, a medicina, que € arte de cura, 6 por si mesma eausa da sade, de modo que, nesse caso, podemeg mum objetivo, que &, precisamente a saidle rrncia de um erro do meédico, causa da doenga Tadavin para evitar que se ENED, OU COMO ob. de uma} lambém pode ser nesse illimo eas, $6 & causa por ncia eno por si mest, pois iio {em por objative a doen 8. Isto 60 9, Trata-se dos homens, Aristéeles responde ‘lkima frase do pargrafo, a uma abjegso levanitad na frase 162 esa; como muitos animais, tales. a mesmo aumaior parte, si0 bras, violentos, destuidores, seria poss). vel pensar que eles foram engendrads “contra a natures", ©, portanto, por acaso. O Estagitita pretende mosiese que essa objego nfo invalida o seu racioefnio, pois mesmo que isso seja verdade, isso no ocorre com o homens, que 60 melhor ¢ ‘o:mais honroso de todos os a Podlemos dizer que aqui, © na 10, Foram engendrados “por natureza” todos os seres na- lurais (inclusive os abortados os monstros), por oposigao 20$ objelos artficais; mas s6 os que foram engendrados em. cconformidade com o plano da natureza podem ser chamados de engendrados “em conformidade com a nalureza”. 11, As coisas exteriores, por oposigdo aos bens préprios ou interiores. 12, Provavelmente uma alusio a uma passagem perdida do Protrepticus que precedia esta, 13. A vida contemplativa 14, Aristoteles pensa aqui, sem diivida, no culto aos douses. 15, Trata-se das causas primeiras ou dos primeiros prncf- pios de todas as coisas, que variam de fil6sofo para filésoo. 16. Alusio aos primeiros prinefpios admitidos respecti- vamente por Heréclto (0 fogo), Anaximenes (0 at) e Pitsigoras (ondimero). As “outras naturezas”, nas quas ele também pen- 8, slo, sem divida, as quatro “raizes” ou elementos (0 fog0, © ar, a fgua e a terra) de Empédocles e as Idéias de Plato, 180 a assistir, mais ficamos salisfeitos, pois vamos a eles ease Nas arles dos artesTos, oo a sadide, s6 siio hens num sentido segundo ou derivado, aa ‘num graw mais elevado, eee bom nivel econdmico, 21. As visceras. cado original, foi o que disse ora Hermotime, ora 181

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