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CONVITE PARA O CHA Virginia Coeli Passos de Albuquerque (Letras - UFES) im, assim, e nada mais” Enmore a fumaga e a neblina de wma tarde de dezembro, Ai tens montada a cena - como deverd ser vista = Assim: ‘Pertence a t toda esta tarde’, ‘Sempre estou certa de que entendes ‘Meus sentimentos. sempre certa de que o sentes Certa de que, na outra borda do abismo, aleances tua mao Es invulnerdvel, no tons 0 caleanhar de Aguile. Vaisem frente quando triunfas, Podes dizer: aq mutos fara Masque tenho eu, que tno en, meu caro, Para dr-te que possasreccher de mim? Amizade esimpatia apenas De quem sé quase chega ao fm da vie Estarei semtada agai, servindo ché aos amigos. Retrato de wma senhora, TS. Eliot, 62" Atrevida, convido-os para um eh. No como quem os convida para um bate-papo informal sobre a vida de uma senhora, nem para registrar os acontecimentos que rolam no nosso dia-a-dia, mas, para além do exterior, “wocar figurinhas” sobre a Poesia, Ela - esse sujeito de quem agora vou comentar, aos nossos sentidos pode assemelhar-se a um objeto de leitura, mas essa dimensdo una nao exclui os demais sentidos, para aquém do interior. Também aspecto bidimensional vai ser observado quando a Poesia registra letras em repouso, cuja significagao vem como luz mediada pelo Poeta. Ao ser ouvida, nos convida 8 palavra conduzida pelo fio da Imagem. De um ponto negro sobre a folha branca saem sons de um recital: Metodiosa mais do que harpa, durea ‘mais do que ouro. MAIS DO QUE MAIS Safo de Lesbos, 297 «2 letra vaca em cantaros. em cantos de sereias de papel: outra ituminagdo ndo poderia the dar. Por afrontamento do dese jo, Insisto na maldade de escrever ‘mas ndo sei se a deusa sobe & superficie (01 apenas me castiga com seus wives Da amurada deste barco, quero tanto os seios da sereia. NADA, ESTA ESPUMA Ana. 673 (© mundo tridimensional que a imagem nos revela se fixa pela letra quando em nossa ‘meméria (no mundo das aparéncias) as imagens interiores estalam a0 sabor do Poeta Othamos um quadro (bidimensional) a perspectiva esté presente do ponto de vista do regardeur que nos transmite atrdimensGo, seduzindo pela expressdo da Arte. Da mesma forma a Poesia nos assombra por sua vida tridimensional, Cria sujeits de sua perspectiva, revelados na signiticagao dos momentos localizados, espacializados, em texto como este: Movin cnratriment por dso en rao emas ston ‘porn dane repo nae vl ar Conte devard mee Bema a ccmen arma puna o prawn Ao que ela teria cantestado, nao, desconversando, na beira do andaime ainda descoberto: - Eu também, preciso de alguém que sé me ame Pura preguica, nao se movia nem um passo. Bem se sabe que ali ela ndo presia. E ficaram assim, por mais de hora, «tomar chi, quase na borda, ‘thos nos olhas, e quase testa a testa. AVENTURA NA CASA ATARRACADA Ana c.,374 ‘Cena de filme em cémera lent, percepgao imagétca ali vista pela Poesia, Cena com som «pessoas, que me falam de um local bia do abismo, em equiibrio pessoa, desafiando 4 queda da subjetvidade, A altura provoca ceta vertigem quando, ao olhar de cima 6 se ola abaixoe nfo se vé lado fo do equlirista — 0 outro — solidério na sensagao de vertgem. Eu vi essa cena no texto: nem antes nem depois, Esse carter historico da cena, habitada na Imagem, lembra a Fotografia. Também ai o spectrum permanece como algo visto, o referente colado no texto, como viu Barthes, tembora me distancie de seu ponto de vista em relagao 4 fiecionalidade do texto, sendo porque & Poesia recorta também um local no Imaginario que por hipotese é o Vivo, quem sabe 0 vivido que promoveu a referéncia do Poeta, Se aquela cena serecorta, sea linguager tenta imprimir na folha o instante recortado pelo Poeta e fixa a estranheza da cena, entio wat pode-se mesmo na fies driblar 0 spectator, falando que é fic¢do aquilo que foi real, que cexistiu no passado. As trucagens fotograficas existentes em laborat6rio ndo autenticam 0 real, trapaceiam ¢iludem 0 spectator, porém o texto nao ¢ trapaga. ¢ Poesia. E.0 momento ‘que a Imagem registrou no foi ficgdo, foi recorte na tentativa de demonstrar a percepe20 do Poets (operator) que nos dé.a esséncia do texto, para além da Fotografia. "(.) a Fotografia, por sua vez, (..) ndo inventa: & a prépria aulentificaedo; (..)" Barthes, 129)° Barthes, neentanto, nfo observou que o texto poético, apesar desera linguagem denatureza ficcional, pode demonstrar a realidade minima que a Fotografia nfo pode captar. Eu queria até mesmo saber ver, ‘e num movimento redondo ‘como as ondas ‘que me circundavam , invisivels, ‘abragar com as retinas ‘cada pedacinho de matéria viva Eu queria (55) perceber 0 invislumbravel ‘no levissimo que sobrevoava, Eu queria

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