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Alargar horizontes, ver o mundo noutra perspectiva

Vivemos num mundo diversificado! Todos nós o percebemos, quando temos a


capacidade de olhar simplesmente para fora de nós mesmos e de ver tudo o que está
para além do nosso próprio umbigo. Esta diversidade contempla-se muito mais
complexamente quando deixamos o nosso pequeno contexto e nos abrimos a uma
realidade maior, seja no nosso país, ou no estrangeiro, seja na nossa cultura ocidental,
seja na multiplicidade e na riqueza de culturas que constituem o planeta que habitamos.
Esta diversidade é contemplada muitas vezes como um dom e como uma riqueza, mas
também tantas outras com desconfiança ou como um perigo, porque nos questiona, nos
desinstala e nos confronta com o medo que temos de sair das nossas zonas de conforto e
de aceitar aquilo que nos aparece como diferente.
Como cristãos católicos fomos também habituados a pensar a catolicidade dentro de
uma certa uniformidade. Desta forma é muito fácil entender a Igreja como uma
realidade massificada e monolítica, que se concretiza da mesma maneira, seja em
Portugal, seja na China. Esta perspetiva fez, muitas vezes, com que uma certa rigidez se
instalasse nos nossos corações e por conseguinte dentro das nossas comunidades cristãs,
sobretudo, nas europeias. Contudo, a realidade desafia-nos a pensar as coisas de uma
outra maneira. É verdade que, como católicos, partilhamos a mesma fé, que assumimos
a mesma doutrina, que encontramos no Papa, o sucessor de S. Pedro, um sinal visível da
unidade. Esta conceção, “unificada” em Cristo, tem a beleza de nos fazer sentir
católicos e irmãos em qualquer lugar do mundo. No entanto, não podemos deixar de
contemplar a beleza que encontramos quando somo capazes de perceber que a unidade
da Igreja se encarna de maneiras diversas, de acordo com os contextos em que esta é
chamada a existir. Assim, o ser cristão na China, no Brasil, na Nigéria, ou em qualquer
um dos países da Europa, não se vive da mesma maneira. Isto não é em si mesmo um
mal ou um bem, mas é uma realidade.
Por isso mesmo, o Papa Francisco afirmou várias vezes que a Igreja é uma realidade
poliédrica, isto é, que contempla em si mesma uma diversidade de perspetivas que,
longe de a enfraquecerem, a tornam mais rica e mais forte. Contra uma perspetiva
monolítica e absoluta que impõe uma doutrina ou uma ideologia, o Papa afirma a
necessidade de que a Boa Nova do Evangelho possa falar em cada realidade e ser
portadora de Jesus Cristo a cada contexto do nosso mundo. Isto não significa relativizar
a Revelação de Deus, nem o papel do magistério da Igreja que nos ajuda a clarificar o
sentido dessa mesma revelação, mas compreender que hoje, no aqui e no agora da nossa
existência, o Senhor Jesus, como fez com os discípulos de Emaús, continua a fazer-se
presente para nos ajudar a compreender os acontecimentos da História, a para se sentar
connosco à mesa. Assim, somos desafiados a escutar, em primeiro lugar Jesus que,
como Palavra Incarnada, continua a comunicar-se a cada um de nós, dentro da
comunidade cristã; somos desafiados a escutar os acontecimentos do mundo em que
vivemos, fazendo deles uma história de salvação através da qual Deus fala à
humanidade; somos desafiados a escutar também a voz da Igreja que tem como missão
interpretar em cada tempo os sinais que o seu Senhor envia, de forma a continuarmos a
crescer como comunidade a caminho da plenitude.
Esta capacidade de escutar, põe-nos na condição de ouvintes atentos que abrem o
coração ao diálogo com o outro e, numa atitude de verdadeira empatia, faz-nos capazes
de caminhar juntos em direção a Deus, fonte, origem e meta da nossa peregrinação
sobre esta terra.
Assim, a diversidade é um dom de Deus que nos enriquece, que nos complementa e que
nos faz alargar horizontes, de forma a que possamos ter uma perspetiva sempre e cada
vez mais ampla da Verdade que é Jesus Cristo, que hoje continua a querer fazer-nos
viver e crescer na unidade.

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