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Wim Wenders A PaisAGEM URBANA TRADUGAG DE Maunicio SAnTaNa Dias Nao sou arquiteto nem urbanista, Se hg alguma ‘coisa que me autorize a thes falar © me qual afaré-lo seri o fato de que, além de cineasta, sou um viajante que vu muitos lugares, que viveu ¢ trabathou em diferentes cidades do mundo, que fixou sua cdmera diante de numeronas paisagens especialmente liante de paisagens urbanas, mas também no campo, perto de fronteiras, sob cruamentos de autopistas ou no deserto, O cinema ¢ uma cultura urbana, Nasceu no Final do século XIX c se expandiu com as grandes metrépoles do mundo, © cinema ¢ as cidacles cresceram juntos ¢ se tornaram adultos juntos. O filme & a testemunha desse desenvolvimento que transformou as cidades tranqiiilas da virada do século nas cidades de hoje, em plena explosio, Hebris, onde vivem milhies de pessoas 0 filme testemunhou as cestruigiies das duas guetras mundiais. O filme viw os arranha-céus ¢ os guctos engrossarem, viu os ricos cada ver mais rivos ¢ os pobres, mais pobres cinema ¢ 0 espelho adequado das cidades do século XX ¢ doy homens que ai vivem. Mais ‘que outras artes, 0 cinema é um documento histérico do nosso tempo, Esta que chamam de sétima arte € capaz, como nenhuma outra arte, de aprender a esséncia das coisas, de captar 0 lima ¢ ¢ 0s fatos do seu tempo, de exprimir suas esporangas, suas angiistias ¢ scus desefos ‘numa linguagem universalmente compreensivel O cinema & também diversio, © a “diversio” é, por exceléncia, uma necessidade do cidadio: a cidade teve que inventar o cinema para mio morret de tédio, O cinema se funda na cidade reflete a cilade. “A paisagem urbana sob a ética das imagens”... Eu gostaria de me deter um pouco ra palavra “imagens”. “Imagem” nio & seguramente um conceite muito claro € Uunivoco, cle pode querer dizer todo tipo de coisas, algumas completamente abstratas ¢ ‘outras bem coneretas. “A imagem da cidade” desenhada pelo cinema ao longo de sua histéria & algo hem diverso da imagem efetiva de nossas, cidades contempordneas. “As cidades sob 0 Angulo das imagens"... Tudo parcee em movimento, em plena mudanga, “Todos voe’s sabem a que ponto as cidades muxlaram. Todos vocés saber, por exemplo, a que ponto Téquie mudou ao longo dos cem, cingitenta, até dos dltimos dez anos. Estas mudancas parecem se acclerar, © nés nos habituamos tio hem a elas quanto 3 rapide com {que ovorrem. Mas nio é $6.0 nosso meio urbane «que muda: “as imagens” também madam Pode-se até mesmo constatar que as imagens e as cidades conheceram um desenvolvimento A paisagem urbane Wie Wenders semelhante, talvez paralelo. Muito tempo atrés, cs homens rabiscavam desenhos nas paredes de suas cavernas. Eles gravavam na pedra ou cscreviam na arcia. Mais tarde, eles aprenderam. 4 pintar sobre outras superficies, sobre as cipulas das igrejas ou sobre telas. Durante muito tempo, a realidade s6 pide ser representada pela pintura, Cada imagem era tmica; era necessirio plantar-se diante de uma tela ou visitar uma igreja caso se quisesse contemplar uma desses ‘obras. Depois, com a invengio da imprensa, as, imagens puderam ser reproduzidas ¢ postas em circulagio — sob a forma de gravuras ou de reprodugées de desenhos. No século XIX, este desenvolvimento deu um grande salto. Com a invengio da fotografia

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