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Para honrar a sua raiva

Michele Engelke 8th novembro 2019 3 Comments Não categorizado

Embora seja instrumental para o nosso senso de valor e autoproteção,


a raiva é uma das emoções mais incompreendidas.

Crianças e mulheres, especialmente, são criticadas por possuírem-na e


expressarem-na, como se a raiva nunca tivesse mérito ou aplicação na
sua experiencia.

É através desta emoção, contudo, que o corpo mobiliza a energia para


reavermos a nossa autoestima, por exemplo, bem como respeitarmos
os nossos limites ou nos defendermos, seja de forma física ou verbal.

A raiva também ajuda a equilibrar a tristeza e o medo e a fazer com que


reavemos o controle sobre uma situação ou até de nós mesmos. ]

Um corpo humano, cuja raiva tenha sido condicionada a ser reprimida,


torna-se vulnerável ao abuso, à negligência e a uma grande variedade
de problemas de ordem física, psicológica/emocional e relacional.

Apesar da conexão com a raiva ser tão fundamental para garantir o


nosso bem-estar, a atitude de ignorância em relação a ela é tão grande
que achei pertinente usar o meu blog para ajudar a esclarecer para
desmitificá-la e humanizá-la. Este artigo, portanto, tem o intuito
de honrar a sua raiva.

A conexão com a raiva é fundamental para garantir o nosso bem-estar

“Sentir raiva da mãe é feio”

Você não precisa ter uma mãe narcisista para ter ouvido esse
comentário em sua infância. Se como a maioria de nós, tiver recebido
uma educação rígida e que reflita uma atitude de imaturidade e
negligência emocional, aprendeu, desde pequeno, a negligenciar as
emoções negativas como propósito prático e, por isso, não devem ser
toleradas.

Também aprendeu que deve sentir-se envergonhado e culpado por


possui-las, as quais só são válidas se justificadas por um argumento
objetivo e se aprovadas por outras pessoas.

A sua raiva, portanto, assim como tristeza, surpresa, medo, nojo e


vergonha sentidos, deve ser racionalizada e aceita por terceiros para
que tenha valor.

Esta atitude errônea e inflexível de racionalização e consequente


desumanização das emoções negativas, embora mantida por pais bem-
intencionados, compromete a nossa integridade e habilidade de nos
desenvolvermos de forma saudável e operarmos satisfatoriamente em
todas as áreas de nossas vidas.  

“Quem expressa a raiva é fraco, descontrolado”

Embora sufocar a raiva, fazer um esforço tremendo para controlar as


emoções negativas e negar a sua existência seja visto como um sinal
de força e equilíbrio, negligenciar as próprias emoções é, na realidade,
uma atitude imatura e impensada de quem não monitora a própria
experiência, seja de forma interna ou externa, para compreender o
efeito que os seus atos tem em si e nas outras pessoas.

A raiva, mesmo quando reprimida pela cultura de excesso de


racionalização, fica armazenada no corpo e extravasa, até de forma
inconsciente, em contextos diversos.

Por não ser respeitada e aceita socialmente, a raiva tende a ser a


emoção negativa que sofre mais descolamento, ou seja, mecanismo de
defesa que faz com que lidemos com emoções negativas através de
uma pessoa ou circunstância menos ameaçadoras, ou que nos deixa
mais à vontade para a sentirmos e a expressarmos.

A tendência de descarregar a raiva nos filhos e agir de modo agressivo-


passivo, ambos comportamentos típicos de genitores tóxicos, tais como
da mãe narcisista, são exemplos clássicos de como o esforço para
negá-la é infrutífero e desemboca em problemas sérios de
relacionamento e, até, em abuso e trauma.

A raiva acumulada

Caso tenha sido vítima de abuso narcisista, a probabilidade que sofra


de raiva acumulada é muito grande, já que se trata de um dos efeitos
mais comuns do trauma do desenvolvimento. Quem sofre de raiva
acumulada tende a apresentar, entre outros, os seguintes sintomas:

• alta reatividade

• irritabilidade, falta de paciência

• hipervigilância

• tristeza

• sentir-se usado, desvalorizado, baixa autoestima

• sarcasmo, desejo de criticar e ferir o outro com palavras, agressividade


passiva

• ver a vida como uma batalha, os outros como inimigos ou pessoas que
querem se aproveitar de você ou humilhá-lo  

• levar tudo para o lado pessoal

• problemas do sono

• armouring: rigidez nos músculos dos ombros, costas, pescoço e


mandíbula

• dores de cabeça

• fadiga
• aumento da pressão sanguínea

• problemas gastrointestinais

Se se identifica com o dito acima, recomendo abordar o seu problema


de raiva acumulada o quanto antes através de uma atitude proativa,
consciente e responsável, já que tem o potencial de afetar a sua saúde,
a qualidade de vida e relacionamentos de uma forma dramática. 

Você tem direito a sua raiva

Como ser humano, você tem total direito de sentir o que for.

Ninguém tira este direito de você, independente do argumento


(incluindo, “Mas ela é sua mãe”), já que a sua experiência subjetiva
consiste em um direito universal seu.

Assim como você não precisa justificar o seu valor para tê-lo, todas as
suas emoções não precisam ser explicadas para que adquiram
relevância e sejam honradas, basta existirem para que,
automaticamente, sejam merecedoras de sua atenção.

É claro que honrar a sua raiva não lhe dá permissão para abusar dos
outros livremente. Se você só consegue expressar a raiva de forma
polarizada e disfuncional, ou seja, reprimindo-a ou expressando-a de
forma extrema, precisa reavaliar o seu estilo e aprender formas
saudáveis de lidar com ela. 

Aprender a comunicar a sua insatisfação de forma assertiva, não


violenta e polida, revela-se essencial para quem deseja conectar-se
com a raiva de maneira autêntica e produtiva.

Honrando a raiva do filho e filha de mãe narcisista

Passar anos sendo humilhado, rejeitado e ignorado por uma mãe


narcisista, abusiva, egoísta e egocêntrica, enquanto se é negado o
direito de sentir-se mal em relação a tudo isso, é enfurecedor.
Tornar-se adulto e dar-se conta disso e, ainda, não ter o direito de
validar essa raiva, mais ainda.

Para encerrar com este ciclo de negligência e dependência emocional


(para compreender o que é a dependência emocional e como superá-la,
recomendo o meu curso online, “A dependência emocional”), é vital que
comece a honrar a sua raiva neste momento e de forma autônoma,
mesmo que ninguém a sua volta esteja disposto a fazê-lo.

Só você tem o poder de transformar a sua vida e o relacionamento que


tem com as emoções. Para beneficiar-se de uma conexão saudável
com a raiva, faça dela a sua melhor amiga e aprenda a processá-la e
observá-la, sem julgamento.

Quando acolhe todas as partes de si, está praticando o amor-próprio de


dentro para fora. Se necessita de ajuda para mudar o relacionamento
com a raiva, recomendo o meu curso online “Como fazer o luto da mãe
narcisista de forma orgânica”.

Neste curso, você aprenderá a reconectar com o corpo e a processar a


raiva resultante de seu trauma de forma saudável.   

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