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Por que sofro tanto?

Entenda o que é a
compulsão da repetição do trauma
Você se sente como um ímã para problemas? Seja na área
pessoal/relacional, acadêmica ou profissional? Parece não conseguir
levar a vida de uma forma harmoniosa e sem drama?

Você atrai, com grande frequência, pessoas difíceis ou se coloca em


situações que prejudicam a sua saúde emocional?

Na compulsão da repetição do trauma, o cérebro da vítima fica “preso”


no modo resolução.

Caso tenha se identificado e tenha uma história de trauma da infância –


como é o caso de filhos e filhas de mães narcisistas – pode estar sob a
influência de um de seus efeitos mais marcantes: a compulsão da
repetição do trauma. Neste artigo, aprenderá o que é, porque
acontece e como superar esta tendência.

A compulsão da repetição do trauma

A compulsão da repetição do trauma compreende uma estratégia de


defesa que faz com que a vítima “recrie e, repetidamente, reviva o
trauma nas suas vidas presentes” (Levy, 1998).

Na prática, esta inclinação é observada, primeiramente, na alta


ocorrência de abuso de quem sofreu o trauma da infância, por exemplo.

Na minha prática como conselheira do trauma e de filhos e filhas de


pais tóxicos, este fato mostra-se bastante óbvio, já que o abuso e a
negligência que sofreram com a mãe narcisista e o pai facilitador
tendem a se repetir na idade adulta e fora do ambiente familiar.

Este fenômeno é tão comum que, para a população leiga, parece ser um
“vício” ou “amor” pelo drama.
Embora aparentem ser atos conscientes e refletir uma escolha da
vítima, são de natureza altamente involuntária, pois correspondem a
estratégias de enfrentamento disfuncionais resultantes de uma
tendência hipervigilante e neurobiologia alterada pelo
trauma.

Mestre do seu trauma?

Quando um evento adverso ocorre em nossas vidas, é natural


despendermos grande energia para tentarmos compreendê-lo para
que possamos integrá-lo, cognitivamente, além de aprendermos com a
experiência para que a probabilidade de ocorrer novamente seja
reduzida.

Ruminar acerca do trauma também tem um efeito emocional positivo,


pois nos ajuda a aceitá-lo e sentirmo-nos em paz com o ocorrido,
facilitando o crescimento pós-traumático.

Quem já levou um fora de um(a) namorado(a), sabe como refletir acerca


do relacionamento e das possíveis razões deste desfecho tem, muitas
vezes, um efeito calmante.

Conversar com o(a) ex para entender o que aconteceu revela-se, em


certos casos, fundamental para o processo curativo da ferida
emocional.

Este mecanismo é muito eficiente, pois está no centro dos nossos


mecanismos de equilíbrio emocional, defesa e autopreservação.

Em tais casos, tornar-se mestre do seu trauma reflete o uso de


estratégias de enfrentamento saudáveis e tem um efeito produtivo na
sua vida.

Em outros cenários, contudo, este mecanismo é usado de forma


obstinada, inconsciente e disfuncional.

No contexto de filhos e filhas de mães narcisistas, por exemplo, tende a


não resultar na resolução e superação do trauma, mas na sua
perpetuação.
Isso se deve ao fato de que o abuso e a negligência que sofrem nas
mãos de uma mãe narcisista e pai facilitador é um problema sem
solução.

Porque o problema não pode ser corrigido tampouco resolvido, já que


ambos raramente admitem o efeito que têm sobre os filhos e melhoram
a sua atitude, o cérebro da vítima fica “preso” no modo
resolução, até que consiga solucioná-lo, de alguma forma.

tornam-se
Sob a influência de tal configuração cognitiva, 
escravos cegos de tais forças e gravitam
na direção de pessoas e situações que
replicam as do trauma da infância, para
que consigam resolvê-lo, aprender com o
mesmo e reduzir a probabilidade de se
repetir.
No entanto, continuar a expor-se ao abuso e à negligência,
repetidamente, tem o efeito contrário, não de aperfeiçoamento, mas de
retraumatização, além de trazer mais desapontamentos e
destruição de autoestima.

Para entender como isso funciona na prática, seguem alguns exemplos


de compulsão da repetição do trauma em filhos e filhas de mães
narcisistas:

•Insistir em reparar o relacionamento com a mãe abusiva, “curá-la” de


seu narcisismo ou “aprender a lidar com ela” (desenvolvendo,
supostamente, uma tolerância ao abuso)

•Ter uma história de relacionamentos disfuncionais com


pessoas emocionalmente imaturas, negligentes e, até, abusivas,
enquanto tenta “ajudá-las” (tendência codependente)
•Valorizar (inconscientemente) profissões ou ambientes de trabalho
que possuem ou até glamorizam uma cultura de bullying e
negligência emocional

•Forçar-se a expor-se a situações difíceis , que a façam


sentir-se mal e funcionam como gatilhos de seu trauma para
“aprender a lidar”

Livre de compulsão, livre de trauma  

A compulsão da repetição do trauma envolve crenças e


comportamentos rígidos mantidos de forma impensada.

Quando os seus atos tornam-se hábitos que raramente são


questionados ou reavaliados de modo consciente, você opera
em piloto automático e perde a conexão com o presente
e o próprio bem-estar.

passa a vida
Como uma marionete do seu trauma da infância,
tentando solucionar um problema sem solução,
desperdiçando precioso tempo e energia de vida.

Caso queira readquirir o controle sobre si própria e,


finalmente, libertar-se desta compulsão, seguem 5
dicas de como erradicar a compulsão da repetição do
trauma:

•Torne-se superconsciente de suas verdadeiras motivações de


vida: observe os seus pensamentos, relacionamentos e suas atitudes
com a cautela de quem está em processo de cura de uma longa
história de trauma e, por esta razão, apresenta uma tendência à
compulsão da repetição do trauma.

•Traga o obscuro à superfície e analise-o com muita maturidade e


objetividade, resistindo a tendência de agir somente baseado em
reflexos, intuições e emoções fortes.
•Pare de forçar-se a sofrer para, supostamente, “aprender” com o
ocorrido: você não aprende somente com a dor ou com os eventos
adversos de sua vida, mas, também, através de pessoas, experiências
e coisas boas, bem como de forma adulta, consciente e centrada.
Chega de sofrimento. Comece a praticar a
autopreservação de maneira consciente e proativa.

•Reavalie o verdadeiro papel dos seus relacionamentos e o efeito que


têm em você: se o seu amigo/parceiro amoroso não respeita as suas
emoções, usa o seu ouvido como penico e não mostra interesse
nenhum em você, por que insiste neste relacionamento? Isso é amor
Reconecte-se com
ou uma reencenação do seu trauma?
os sentimentos, concentre-se em quem lhe
faz bem e pare de sabotar a sua felicidade.
•1- Aprenda a valorizar-se: questione as crenças rígidas que não a
favoreçam e fazem com que acabe sempre em ambientes e
relacionamentos disfuncionais.

•2- Celebre a paz, o amor e o respeito em todas as áreas de sua vida e


cultive-os nos lugares e com as pessoas certas.

•3- Se necessita de mais ajuda para atingir este objetivo, recomendo a


leitura do meu segundo livro, Filhas de Mães Narcisistas, Conhecimento Cura.

•4- Não tolere abuso, seja de quem


for: pare de tentar justificar o abuso e
comece a defender o seu bem-estar.

5- Aceite quando uma pessoa é abusiva


e/ou tem o hábito de ignorar as suas emoções e distancie-se dela


ou mude a dinâmica do relacionamento, drasticamente.

•6- Concentre-se em pessoas que a tratam com respeito e fazem-na


sentir-se vista, adulta e relevante.  O meu livro Prisioneiras do
Espelho, Um Guia de Liberdade Pessoal para Filhas de Mães
Narcisistas contém dicas superpráticas de como cortar o contato com
a mãe narcisista.

Referência:

Levy, M. S. (1998). A Helpful Way to Conceptualize and Understand


Reenactments. J Psychother Pract Res 7(3): 227–
235. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3330499/

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