"Como futuros advogados elaborem uma tese de defesa reafirmando o

conceito amplo de miserabilidade a par de preceitos constitucionais para fins

de fruição dos serviços da assistência social"

Sabe-se que a redação do art. 20, §3º da Lei 8.742/93 estabeleceu como
“incapaz” a pessoa responsável por prover a manutenção da pessoa portadora de
deficiência ou idosa, ou a família cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ do
salário mínimo. Apesar de o STF ter entendido pela constitucionalidade do
dispositivo mencionado (ADI 1.232-1/DF), uma série de decisões judiciais
manifestaram-se em sentido contrário aos critérios objetivos estabelecidos pela lei,
senão vejamos.
É de se destacar, primeiro, a edição de uma série de leis que estabeleceram
critérios amplos para a concessão de outros benefícios sociais, como a Lei do Bolsa
Família (Lei 10.836/2004), do Bolsa Escola (10.219/01) e o Programa Nacional de
Acesso à Alimentação (Lei 10.686/03). Portanto, mudanças fáticas e jurídicas
resultaram na modificação do entendimento do STF quanto à objetividade dos
critérios.
A Constituição Federal quer que o benefício seja garantia da manutenção da
pessoa com deficiência ou idosa que não tenha ninguém por si. Ao fixar em 1/4 do
salário mínimo o fator discriminante para a aferição da necessidade, o legislador
elegeu discrimen inconstitucional porque deu aos necessitados conceito diferente de
bem-estar social daquele previsto na Constituição.
Quantificar o bem-estar social em valor inferior ao salário mínimo é retroceder
em termos de direitos sociais. A ordem jurídica constitucional e infraconstitucional
não pode retroceder em termos de direitos fundamentais (vide o princípio do não
retrocesso social previsto na Constituição Federal).
Portanto, o conceito de miserabilidade aplicado à análise da fruição de
serviços da assistência social deve ser o amplo, capaz de abarcar, para além da
renda per capita familiar de ¼ do salário mínimo, outros meios de prova que
demonstrem a miserabilidade do cliente, expressa na situação de absoluta carência
de recursos para a subsistência.