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BENS

 “Os bens, especificamente considerados, distinguem-se das coisas, em razão da


materialidade destas: as coisas são materiais e concretas, enquanto que se reserva para
designar imateriais ou abstratos o nome bens, em sentido estrito” (Caio Mário da Silva
Pereira);
 Para Silvio Rodrigues, coisa seria gênero e bem seria espécie: “Coisa é tudo que existe
objetivamente, com exclusão do homem”, já “bens são coisas que, por serem úteis e raras,
são suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico”;

PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES DOS BENS


 Quanto à TANGIBILIDADE. Os primeiros podem ser objeto de contrato de compra e
venda, mas os segundos somente se transferem por contrato de cessão, e não podem, em
teoria tradicional, ser adquiridos por usucapião, nem ser objeto de tradição – pois isso
implicaria a entrega da coisa (GAGLIANO & PAMPLONA FILHO). Dividem-se em:
o Bens corpóreos, materiais ou tangíveis são aqueles bens que possuem existência
corpórea, podendo ser tocados. Ex: uma casa, um carro.
o Bens incorpóreos, imateriais ou intangíveis são aqueles com existência
abstrata e que não podem ser tocados pela pessoa humana. Ex: direitos autorais,
propriedade industrial, fundo empresarial, hipoteca, penhor,entre outros.
 Quanto à MOBILIDADE:
o Bens imóveis (artigos. 79 a 81 do CC) – não podem ser removidos ou
transportados sem a sua deterioração ou destruição. Dividem-se em:
 Bens imóveis por natureza ou por essência: são formados pelo solo e
tudo quanto se lhe incorporar de forma natural (art. 79). Abrangem o
solo com sua superfície, o subsolo e o espaço aéreo. Tudo o que for
incorporado é imóvel por acessão. Ex: uma árvore que nasce
naturalmente;
 Bens imóveis por acessão física industrial ou artificial – formados por
tudo o que o indivíduo incorpora permanentemente ao solo, não podendo
removê-lo sem a sua destruição. Têm origem em construções e
plantações, situações em que ocorre a intervenção humana. Não
perdem o caráter de imóveis, segundo o art. 81:
 As edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua
unidade, forem removidas para outro local;
 Os materiais provisoriamente separados de um prédio para nele
se empregarem.
 Bens imóveis por acessão física intelectual – tudo o que foi empregado
intencionalmente para a exploração industrial, aformoseamento e
comodidade. Foram imobilizados pelo proprietário, construindo uma
ficção jurídica, sendo tratados como pertenças (bens móveis
incorporados a imóveis);
 Bens imóveis por disposição legal – são considerados como imóveis
para que possam receber melhor proteção jurídica. São constituídos,
segundo o art. 80, por:
 O direito à sucessão aberta;
 Os direitos reais sobre os imóveis, caso da hipoteca, como regra
geral, e do penhor agrícola, excepcionalmente.
o Bens móveis (arts. 82 a 84 do CC): podem ser transportados sem resultar na
deterioração/destruição da destinação econômico-social. Dividem-se em:
 Bens móveis por natureza ou essência: são os bens que podem ser
transportados sem qualquer dano, por força própria ou alheia;
 Quando puder ser transportado por força própria, denominam-se
semoventes;
 Materiais destinados a uma construção, enquanto não
empregados, conservam sua mobilidade sendo, por isso,
denominados bens móveis propriamente ditos.
 Bens móveis por antecipação são bens que eram imóveis, mas foram
mobilizados por uma atividade humana.
 Ex: árvore cortada, que se transforma em lenha. Colheita de uma
plantação.
 A segunda parte do 84 determina que, em caso de demolição, os
bens imóveis podem ser mobilizados, ocorrendo a antecipação.
 Bens móveis por determinação legal: são os que a lei determina, como
a previsão que consta no art. 83 do CC, envolvendo:
 Os direitos reais e as ações respectivas que recaiam sobre bens
móveis, caso do penhor, em regra;
 As energias com valor econômico, como é o caso da energia
elétrica;
 Os direitos pessoas de caráter patrimonial e respectivas ações,
caso dos direitos autorais.
 Quanto à FUNGIBILIDADE:
o Resulta essa classificação da individualização do bem, ou seja, de sua quantidade
e da sua qualidade especificadora. Podem ser:
 Infungíveis/personalizados/individualizados: não podem ser
substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e qualidade.
 Bens imóveis são sempre infungíveis;
 Ex: veículos, por possuírem grande complexidade e
características próprias que lhes são importantes para fins
contratuais, por exemplo.
 Fungíveis: podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
quantidade e qualidade, segundo o art. 85 do CC/2002;
 Bens móveis são, em sua maioria, fungíveis.
 Obs: mútuo é o negócio que se refere ao empréstimo de coisas fungíveis
(empréstimo de consumo), enquanto o comodato é o contrato de
empréstimo gratuito de coisas infungíveis (empréstimo de uso).
 Quanto à CONSUNTIBILIDADE, segundo o art. 86, os critérios para dizer se o bem é
ou não consumível são:
o Se o consumo do bem implica em destruição imediata, a consuntibilidade é
física, ou de fato, ou, ainda, fática;
o Se o bem pode ser ou não objeto de consumo, ou seja, se pode ser alienado, a
consuntibilidade é jurídica ou de direito.
 O bem pode ser, ao mesmo tempo, consumível e inconsumível, uma vez que dois são os
critérios para a classificação, totalmente distintos.
o Bens consumíveis: são bens móveis, cujo uso importa na destruição imediata da
própria coisa (consuntibilidade física), bem como aqueles destinados à alienação
(consuntibilidade jurídica);
 Exemplo: bem consumível do ponto de vista fático ou físico e
inconsumível do potno de vista jurídica é a garrafa de bebida famosa
clausulada com a inalienabilidade por testamento (art. 1.848 do
CC/2002);
 Exemplo: bem inconsumível do ponto de vista físico ou fático e
consumível do ponto de vista jurídico é o automóvel.
o Bens inconsumíveis: são aqueles que proporcionam reiteradas utilizações,
permitindo que se retire a sua utilidade, sem deterioração ou destruição imediata
(inconsuntibilidade física), bem como aqueles que são inalienáveis
(inconsuntibilidade jurídica).
 Quando à DIVISIBILIDADE
o Bens divisíveis: podem se partir em porções reais e distintas, formando cada qual
um todo perfeito;
 Art. 87: “São os que se podem fracionar sem alteração na sua substância,
diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam”;
 Ex: sacas de cereais, que podem ser divididas sem qualquer destruição;
 Art. 88: “Os bens naturalmente divisíveis podem tonar-se indivisíveis
por determinações da lei ou por vontade das partes”, garantindo a
autonomia privada e a imposição legal;
o Bens indivisíveis: não podem ser partilhados, pois deixariam de formar um todo
perfeito, gerando desvalorização ou perda das qualidades essenciais do todo.
Possui diversos tipos:
 Indivisibilidade natural: caso de uma casa térrea, bem imóvel, cuja
divisão gera diminuição do seu valor, ou o relógio de pulso;
 Indivisibilidade legal ou jurídica: caso da herança, que é indivisível até
a partilha, por força do princípio da saisine. Também são exemplos a
hipoteca e as servidões;
 Indivisibilidade convencional: quando dois proprietários de um boi
convencionam que o animal será utilizado para reprodução, o que retira
a possibilidade de sua divisão.
 Quanto à INDIVIDUALIDADE
o Bens singulares ou individuais: art. 89 do CC – “São singulares os bens que,
embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais”;
 Podem ser simples (quando suas partes componentes encontram-se
ligadas naturalmente/ uma árvore, um cavalo) ou compostos (quando a
coesão de seus componentes decorre do engenho humano (um avião, um
relógio);
 Ex: Livro, boi, casa, etc.
o Bens coletivos: são constituídos por várias coisas singulares, consideradas em
conjunto e formando um todo individualizado. Podem decorrer de uma união
fática ou jurídica:
 Universalidade de fato – conjunto de bens singulares, corpóreos e
homogêneos, ligados entre si pela vontade humana e que tenham
utilização unitária ou homogênea, podendo ser objeto de relações
jurídicas próprias.
 Segundo o art. 90: “Constitui universalidade de fato a
pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa,
tenham destinação unitária. Parágrafo único. Os bens que
formam essa universalidade podem ser objeto de relações
jurídicas próprias”. Ex: biblioteca (livros), pinacoteca (quadros).
 Universalidade de direito – conjunto de bens singulares, tangíveis ou
não, a que uma ficção legal, com o intuito de produzir certos efeitos, dá
unidade individualizada.
 Segundo o art. 91: constitui universalidade de direito o complexo
de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor
econômico. Ex: patrimônio, herança de determinada pessoa,
espólio, massa falida, etc.
 Enunciado 288 do CJF/STJ preceitua que, para a configuração da
universalidade, não é necessário que o bem pertença à mesma pessoa.
 Problema: não seria necessário que o bem fosse homogêneo?
 O próprio enunciado da lei prevê a pertinência subjetiva, no
caput do art. 90.
 Quanto à DEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO A OUTRO BEM (bens reciprocamente
considerados)
o Bens principais (ou independentes): existem de maneira autônoma e
independente, de forma concreta ou abstrata. Exercem função ou finalidade não
dependente de qualquer outro objeto;
 Art. 92: “Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou
concretamente”.
o Bens acessórios (ou dependentes): sua existência e finalidade dependem de um
outro bem, denominado bem principal;
 Art. 92: “acessório aquele cuja existência supõe a do principal”.
 Princípio da gravitação jurídica: o bem acessório segue o principal,
salvo em disposição especial em contrário.
o São bens acessórios:
 Frutos – têm sua origem no bem principal, mantendo a integridade deste,
sem a diminuição da sua substância ou quantidade. Quanto à sua origem:
 Frutos naturais: decorrentes da essência da coisa principal,
como as frutas produzidas por uma árvore;
 Frutos industriais: decorem de uma atividade humana, caso de
um material produzido por uma fábrica;
 Frutos civis: são oriundos de uma relação jurídica ou econômica,
de natureza privada, também denominados rendimentos, caso de
aluguel de imóveis, juros de capital, dividendo de ações.
Quanto à forma em que eventualmente se encontram:
 Frutos pendentes – são aqueles que estão ligados à coisa
principal, e que não foram colhidos;
 Frutos percebidos – são os já colhidos do principal e separados;
 Frutos estantes – são aqueles frutos que foram colhidos e
encontram-se armazenados;
 Frutos percipiendos – são os que deveriam ser colhidos, mas não
foram;
 Frutos consumidos – são frutos colhidos que não existem mais.
 Produtos: são os bens acessórios que saem da coisa principal,
diminuindo a sua quantidade e substância. Percebe-se que é discutível a
condição de acessório dos produtos, eis que são retirados ou destacados
da própria coisa principal. Ex: pepita de ouro retirada de uma mina.
 Pertenças: são bens destinados a servir um outro bem principal, por
vontade ou trabalho intelectual do proprietário.
 Previstas no art. 93: “São pertenças os bens que, não
constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro,
ao uso, ao serviço, ou ao aformoseamento de outro”;
 Maria Helena Diniz: servem para conservar ou facilitar o uso ou
prestar serviço ou, ainda, a servir de adorno ao bem principal,
sem ser parte integrante;
o Conserva sua individualidade e autonomia, mas possui
uma subordinação econômico-jurídica;
o Art. 94: “Os negócios jurídicos que dizem respeito ao
bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o
contrário resultar da lei, da manifestação da vontade, ou
das circunstâncias do caso”.
 Partes integrantes: são os bens acessórios que estão unidos ao bem
principal, formando com este último um todo independente. São
desprovidas de existência material própria, mesmo mantendo sua
integridade.
 Ex: lâmpada em relação ao lustre, lente em uma câmera
filmadora.
 Benfeitorias: são os bens acessórios introduzidos em um bem móvel ou
imóvel, visando a sua conservação ou melhora da sua utilidade;
 Necessárias: são essenciais ao bem principal, tem por fim
conservar ou evitar que o bem se deteriore. Ex: a reforma do
telhado de uma casa;
 Úteis: aumentam ou facilitam o uso da coisa, tornando-a mais
útil. Ex: instalação de uma grade na janela de uma casa;
 Voluptuárias: são as de mero deleite, de mero luxo, que não
facilitam a utilidade da coisa, mas apenas formam mais
agradável o uso da coisa. Ex: construção de uma piscina em uma
casa;
o Benfeitorias não são acessões. Aquelas são
incorporações introduzidas em outro bem imóvel, pelo
proprietário, possuído e detentor;
o Benfeitorias: são introduzidas por quem não é
proprietário. Art. 97: “Não se consideram benfeitorias
os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem
sem a intervenção do proprietário, possuidor e detentor”
 Quanto ao titular do domínio:
o Bens particulares ou privados – são os que pertencem às pessoas físicas jurídicas
de Direito privado. Art. 98: “aqueles não pertencentes ao domínio público, mas
sim à iniciativa privada, cuja disciplina interessa, em especial, ao Direito Civil”.
o Bens públicos ou do Estado – pertencem a uma entidade de direito público
interno, como no caso da União, Estados, Distrito Federal, Municípios, entre
outros (art. 98 do CC).

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