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Demonstrações Financeiras Análise Financeira

Economia E Gestão (Universidade da Beira Interior)

A StuDocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


Descarregado por António Barbosa (miguel_v_barbosa@hotmail.com)
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A contabilidade e a informação económica e financeira

Ana Ralho
José Biléu Ventura
José Correia
Jorge Casas Novas
António Guerreiro
Departamento de Gestão,
Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora,
Membros do CEFAGE

Resumo:

Neste capítulo são apresentados os conceitos fundamentais, métodos e técnicas necessários à compreensão das
demonstrações financeiras de acordo com o normativo legal em vigor, assim como os instrumentos da análise
financeira e, ainda, as noções básicas da contabilidade de gestão. A abordagem adotada é simplificada dado que é
orientada para profissionais com formações em distintas áreas. O capitulo inicia-se com os objetivos, a identificação
dos utilizadores e o enquadramento normativo da informação produzida pela contabilidade financeira, seguindo-se a
apresentação dos conceitos necessários à análise financeira, técnicas e rácios, e termina com os fundamentos e as
metodologias da contabilidade de gestão. A exposição teórica é acompanhada de exemplos ilustrativos e casos
práticos exemplificativos.

Palavras-chave: Contabilidade financeira, Demonstrações financeiras, Contabilidade de gestão, Análise financeira.

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1. Introdução

A consolidação da globalização dos negócios, na entrada do século XXI, tem acentuado


a importância e a utilidade da informação financeira como ferramenta de apoio a tomada de
decisão inerente à gestão. Neste capítulo são apresentados os conceitos fundamentais
necessários a um entendimento elementar da informação produzida pelos sistemas de
informação contabilísticos de uma qualquer entidade. A compreensão desta informação é
exigida a todos os profissionais que têm de tomar decisões de gestão, sejam estas decisões do
dia-a-dia, de natureza operacional, ou com caráter mais pontual, relativas ao investimento e ao
financiamento, assumindo uma natureza estratégica. Assim, neste capitulo é adotada uma
abordagem simplificada e inteligível por qualquer profissional que necessite de recorrer à
informação contabilística e financeira no exercício da sua atividade.

O capítulo encontra-se dividido em três partes. Inicialmente são explanados os


conceitos fundamentais da contabilidade designada de financeira, e em seguida são apresentadas
técnicas elementares e rácios de análise financeira, construídos a partir da informação
contabilística e que possibilitam análises e interpretações da informação da entidade, ou mesmo
de concorrentes ou outras de referência no setor. O capítulo termina com um ponto dedicado aos
conceitos e métodos de contabilidade de gestão, fundamentais para a condução de um negócio.

A contabilidade financeira presta informação sobre a situação financeira e suas


alterações e sobre o desempenho económico, através de um conjunto de Demonstrações
Financeiras elaboradas de acordo com os normativos legais em vigor. Destina-se,
essencialmente, mas não exclusivamente, a todos os interessados na atividade de uma entidade,
mas que são exteriores à mesma, tendo determinadas caraterísticas com vista a que estes
utilizadores a compreendam e a possam utilizar efetivamente. Contudo, a contabilidade
financeira é também útil e necessária a quem gere as entidades, tendo de cumprir também com
requisitos específicos que dão sentido a esta exigência. Atualmente, são inúmeras as obrigações
a que as entidades têm de dar cumprimento, e muitas dessas obrigações estão relacionadas ou
dependentes da informação contabilística e financeira, o que acentua a importância da sua
compreensão.

A análise financeira tem como objetivo principal dar a conhecer a situação económico-
financeira de uma entidade, o que é concretizado através do tratamento e da análise das
Demonstrações Financeiras produzidas pela contabilidade financeira e de outras informações
complementares. A análise é efetuada com base num conjunto de técnicas e de indicadores que
servem para apoiar a tomada da decisão dos stakeholders, internos e externos à entidade.

A contabilidade de gestão vem evoluindo no sentido de se preocupar e orientar os seus


esforços para a criação de valor para a organização, mormente apoiando os processos de

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planeamento estratégico e operacional, de monotorização e controlo da performance e de


melhoria contínua, permitindo julgamentos informados, mas simultaneamente promovendo a
interação e a discussão entre os participantes no processo de decisão. Na perspetiva da
contabilidade de gestão, a forma, o conteúdo e a cadência de produção e divulgação da
informação é ajustada às necessidades internas da entidade.

2. A Contabilidade financeira
2.1. Objetivos e utilizadores

A Contabilidade Financeira é universalmente reconhecida como um sistema de


informação que disponibiliza informação útil à tomada de decisão, nomeadamente para avaliar a
posição financeira, ou situação patrimonial, e suas alterações, e o desempenho económico
(resultados) de qualquer Entidade1 independentemente da sua natureza jurídica e do setor de
atividade a que pertence. A informação produzida pela contabilidade financeira permite
responder a questões tais como:
• Quanto vale uma empresa?
• Qual o valor do resultado obtido no último ano?
• Quanto e a quem deve a empresa (entidade)?
• Qual o valor dos créditos concedidos aos clientes?
• Qual a estrutura de gastos da entidade?
• Como posso comparar duas entidades e escolher a que representa um melhor
investimento?

Estas são apenas algumas, entre muitas outras possíveis, das interrogações que se
colocam a qualquer empreendedor ou a qualquer pessoa que esteja interessada em investir
algum capital. Mas, para determinados profissionais, bancários, trabalhadores do fisco, gestores
de fundos de investimento, contabilistas certificados, gestores, entre outros, são perguntas que
se colocam no seu quotidiano.

A informação económica e financeira é essencialmente útil a um conjunto de


utilizadores internos e externos diversos, também designados por stakeholders, e de entre os
quais podemos destacar:
• Fornecedores - para avaliar o risco de crédito nas vendas que efectuem à
entidade e o risco de continuidade das operações com a mesma;

1
Doravante utiliza-se preferencialmente o termo entidade em vez de empresa, dado que a Contabilidade Financeira é comum a
qualquer organização, independentemente da sua natureza e forma jurídica.

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• Bancos - para avaliar o risco no reembolso de eventuais empréstimos que a


entidade solicite;
• Investidores - para decidir se devem investir ou desinvestir em tal entidade
(comprar ou vender ações, por exemplo);
• Clientes - para avaliar a estabilidade da entidade quando a mesma é um
fornecedor de tal forma importante que o seu encerramento pode colocar em
causa a normal continuidade das operações do cliente;
• Trabalhadores - para monitorizarem a estabilidade previsível do seu posto de
trabalho;
• Administração Tributária e Segurança Social - para controlar e calcular os
impostos e taxas a cobrar;
• Entidades responsáveis pela elaboração de estatísticas nacionais (Instituto
Nacional de Estatística e Banco de Portugal) - recolhem informação que as
habilite a produzir, informações estatísticas sobre a economia nacional.

2.2. Enquadramento Normativo

Devido à necessidade de existir um quadro de referência universal têm ocorrido


diversos processos de harmonização e normalização contabilísticas, quer a nível nacional, quer a
nível internacional. Estes processos são conduzidos tendo em conta orientações de diversos
organismos internacionais, nomeadamente da União Europeia e do International Accounting
Standards Board (IASB), para que a informação seja comparável à escala Europeia e mundial.
Em Portugal, a entidade responsável e interlocutora de tais processos é a Comissão de
Normalização Contabilística, que emitiu o Sistema de Normalização Contabilística (SNC) e a
Estrutura Conceptual (EC)2 em vigor desde 2010, e de aplicação obrigatória por quase todas as
entidades públicas, privadas e do setor social3
O SNC4 é composto pelos seguintes instrumentos:
• Bases para a apresentação das Demonstrações Financeira;
• Modelos das Demonstrações Financeiras (MDF);
• Código de Contas (CC);
• Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF);
• NCRF para Pequenas Entidades (NCRF-PE);
• NCRF para Microentidades (NCRF-ME);

2
Aviso nº 8254/2015, publicado no Diário da República (2 Série) nº 146, de 29 de julho de 2015.
3
Ainda que através de níveis de normalização distintos e com a criação de sistemas setoriais, como, por exemplo, para a
Administração Pública: o SNC-AP.
4
Aprovado pelo Decreto-Lei n.° 158/2009 e alterado pelo Decreto-Lei nº 98/2015, de 2 de junho.

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• NCRF para Entidades do Setor Não Lucrativo (NCRF-ESNL);


• Normas interpretativas (NI).

A Estrutura Conceptual constitui um documento autónomo que incorpora os conceitos,


métodos e critérios necessários ao exercício da prática contabilística e ao enquadramento,
análise e interpretação da informação económica e financeira produzida neste contexto, e que
constitui uma ferramenta de gestão.
Para ser efetivamente útil à tomada de decisão, a informação económica e financeira
tem que reunir um conjunto de caraterísticas qualitativas, previstas na Estrutura Conceptual do
Sistema de Normalização Contabilística: Compreensibilidade, Relevância, Materialidade,
Fiabilidade, Substância sobre a forma, Neutralidade, Prudência, Plenitude e Comparabilidade.
Não sendo crucial desenvolver aqui esta matéria, importa, contudo, chamar a atenção para três
destas caraterísticas, que são determinantes para a compreensão dos desenvolvimentos
subsequentes:
• Compreensibilidade - a informação só pode ser útil se for compreensível para
os seus utentes e, só é compreensível, se a terminologia e os critérios de
elaboração e produção da informação forem do conhecimento geral, porque
baseados num quadro de referência e num código universais;
• Comparabilidade - apenas através dos mesmos princípios a informação
financeira de diversas entidades pode ser comparável entre si e, inclusive, no
que respeita a uma mesma entidade, comparável entre anos ou períodos
distintos;
• Fiabilidade - só através de regras de aplicação geral e obrigatória, que afastem
julgamentos e preconceitos pessoais relativamente à interpretação e registo de
factos patrimoniais, é possível haver alguma garantia de que a informação
financeira produzida pelas entidades é fiável.

2.3. O período económico

Os primeiros registos contabilísticos efetuados numa Entidade correspondem ao registo


da sua constituição e dos valores patrimoniais com que inicia a sua atividade. A partir desse
momento pressupõe-se que, em regra, a Entidade funciona continuadamente, ao longo dos
vários períodos económicos.
Porém, os stakeholders têm necessidade de avaliar, periodicamente, a posição financeira
e o desempenho económico da Entidade. Assim, convencionou-se que, para a maioria das

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entidades5 , o seu ciclo de vida deve ser segmentado em exercícios económicos anuais
coincidentes, em Portugal, com o ano civil, para que no final de cada um a Entidade prepare a
informação que permita avaliar o seu desempenho económico, a sua posição financeira e as
alterações que se verificaram na posição financeira ao longo do último período de relato.
O exercício económico corresponde assim ao período de relato, o que significa que,
regra geral, pelo menos anualmente as entidades têm que prestar a informação que resulta de um
conjunto mais complexo de operações contabilísticas que culminam com a elaboração e
divulgação das Demonstrações Financeiras.

2.4. Património, fluxos e factos patrimoniais


2.4.1. Património

O Património de qualquer Entidade é composto por bens, direitos e obrigações.

• Os Bens correspondem aos elementos patrimoniais, propriedade da entidade, de que


esta pode dispor a qualquer momento, para os efeitos que entender; a maior parte deles
tem forma física. São exemplos de bens: as matérias-primas e mercadorias, o mobiliário
e o equipamento, o dinheiro em caixa ou no banco sob a forma de depósitos.
• Os Direitos são elementos patrimoniais, propriedade da entidade, imateriais ou
contingentes, de que a entidade só pode dispor mediante o cumprimento de outras
entidades; as dívidas de terceiros para com a entidade e as participações noutras
entidades são exemplos deste tipo de ativos.
• As Obrigações correspondem às dívidas da entidade para com entidades externas,
incluindo os suprimentos dos detentores do seu capital, mas excluindo as outras
operações de financiamento com aqueles, que constituam rúbricas de Capital Próprio.

Em termos de valor do património da entidade, os bens e os direitos constituem elementos


positivos, na medida em que a sua adição faz aumentar o valor do património; por sua vez, as
obrigações constituem, na mesma perspetiva, elementos negativos, na medida em que a sua
adição faz diminuir o valor do património.

Os elementos patrimoniais agrupam-se em duas massas patrimoniais: o Ativo, constituído


por bens e direitos, e o Passivo que corresponde ao conjunto das obrigações.

O Património de uma entidade pode ser analisado em termos de composição, ou seja,


natureza e quantidade dos elementos que o compõem. Porém, a medida mais comum para
avaliar o património de uma entidade é o seu valor, que implica a atribuição de valor a todos os

5
Para as entidades cotadas em bolsa há necessidade de apresentar contas em períodos intercalares.

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elementos patrimoniais ativos e passivos, e cuja soma algébrica (ativos menos passivos) nos
conduzirá ao valor do património, que é a quantia de que é necessário dispor para adquirir o
património de uma entidade, abstraindo outras valorizações de natureza subjetiva.
Esquematizamos estes conceitos na Figura 8.1.

Figura 8.1: Património: composição e valor

Passivo
Activo
Bens & Valor do Obrigações
Direitos Património (-)
(+) (€)

Em linguagem contabilística, o valor do património é designado habitualmente por Capital


Próprio, Situação Líquida ou Património Líquido.
Assim, o Capital Próprio ou a Situação Líquida correspondem à diferença entre o valor das
duas massas patrimoniais (Ativo - Passivo), e podem encontrar-se três tipos de situações
diferentes:
• Ativa quando o valor do ativo é superior ao valor do passivo;
• Passiva quando o valor do passivo supera o valor do ativo;
• Nula, hipótese teórica, quando os valores do ativo e do passivo são iguais.

Esta relação não é estática; pelo contrário, está continuamente a sofrer alterações resultantes
das operações que as empresas realizam, diariamente, que geram fluxos que vão conduzir a
alterações na composição e/ou no valor do Capital Próprio.

2.4.2. Fluxos

As operações que uma Entidade realiza com o exterior, assim como os processos de
transformação interna, dão origem, numa perspetiva contabilística, a fluxos. É possível
distinguir duas naturezas de fluxos:

• FLUXOS REAIS - associados à movimentação (compra, venda, incorporação na


produção) de bens e serviços; e,
• FLUXOS MONETÁRIOS - os que se relacionam com a movimentação de valores
monetários (dinheiro, cheques, transferências) para pagamento dos recursos
utilizados pela entidade e como recebimento das receitas geradas pela entidade.

Estes fluxos alteram a composição e, em alguns casos, também o valor do património.

No que respeita ao seu impacto na contabilidade é possível classificar os fluxos sob três
ópticas ou perspetivas distintas:

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• ÓTICA FINANCEIRA - classifica os fluxos em função de os mesmos criarem


endividamento da entidade perante o exterior ou do exterior perante a entidade.
Nesta ótica geram-se os seguintes de fluxos:
o - Despesas - são as obrigações geradas pela aquisição dos recursos ou
fatores de produção que a entidade necessita para desenvolver a sua
atividade - equipamentos, matérias-primas, mercadorias, mão-de-obra,
serviços diversos, financiamento, etc.;
o - Receitas - são os direitos resultantes, essencialmente, das vendas e/ou
prestações de serviços efetuadas pela entidade ao exterior.
• ÓTICA ECONÓMICA - classifica os fluxos na perspetiva da produção,
comercialização de bens e/ou prestação de serviços. Nesta perspetiva classificam-se
os fluxos em:
o - Gastos - relativos ao consumo e incorporação de todos os fatores, diretos
e indiretos, necessários à produção, venda de bens ou prestação de serviços;
o - Rendimentos - ocorrem aquando da obtenção dos bens ou serviços aptos
para venda ou no momento da realização da venda ou prestação de serviços.
• ÓTICA MONETÁRIA - classifica os fluxos na perspetiva do seu impacto na
tesouraria da entidade:
o - Pagamentos - saída de valores monetários da entidade e;
o - Recebimentos - entrada de valores monetários.

2.4.3. Factos patrimoniais

Qualquer movimento ou operação que modifique a composição (natureza e/ou


quantidade dos elementos patrimoniais) do património de uma entidade e/ou o seu valor é
designado por facto patrimonial, quer resulte de relações com entidades externas ou apenas de
operações internas. Os factos patrimoniais podem classificar-se em:
• permutativos - não alteram o valor do património, ou seja, a relação (ou diferença)
entre ativo e passivo após a sua ocorrência; apenas se altera a composição do
Património mantendo-se o seu valor inalterado. São exemplo de tais factos: o
recebimento de uma dívida de um cliente ou o depósito no banco de valores que
estavam em caixa;
• modificativos - alteram não só a composição como também o valor do património
da entidade face ao que era antes da sua ocorrência. Como exemplos mais comuns
deste tipo de factos, podem apresentar-se: uma venda com lucro, o processamento
de remunerações do pessoal ou o consumo de qualquer outro fator de produção.

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Os factos patrimoniais modificativos implicam, na maioria dos casos, a ocorrência de


gastos e/ou rendimentos, ou seja, conduzem a alterações no resultado da Entidade dado que este
é calculado como a diferença entre rendimentos e gastos:

Resultados = Rendimentos - Gastos

Os resultados contabilísticos de uma entidade podem ser:


• Positivos - situação em que se fala de LUCRO (Rendimentos > Gastos);
• Negativos - configuram um PREJUIZO (Gastos > Rendimentos);
• Nulos - situação que raramente ocorre (Gastos = Rendimentos).

Os resultados apurados num determinado período traduzem-se em capital próprio


adquirido do período seguinte pelo que os resultados fazem aumentar ou diminuir a situação
líquida ou valor do património, conforme sejam, respetivamente, positivos ou negativos. Esta
premissa é ilustrada no Caso prático 8.1.

Caso prático 8.1


A sociedade comercial General Shopping no ano N incorreu em Gastos no montante de
20.000 e obteve Rendimentos no valor de 30.000 .
Considerando ainda que o Capital Próprio da entidade no início do ano N era de
15.000 e que não se verificou, ao longo do ano, qualquer alteração registada diretamente na
composição e no valor do mesmo.

Questão 1. Calcule o Resultado da entidade no ano N.


Resposta: O Resultado corresponde à diferença entre Rendimentos e Gastos; neste caso o
Resultado = 30.000 - 20.000 = 10.000

Questão 2. Calcule o valor do Capital próprio no final do ano N.


Resposta: Não havendo qualquer outra alteração registada no Capital próprio (distribuição de
resultados, revalorizações,...) ao longo do ano N, o Capital próprio no fim do ano será igual ao
valor inicial acrescido dos resultados: 15.000 + 10.000 = 25.000 .

Após o apuramento de resultados, que ocorre periodicamente, ter-se-á que verificar o


equilíbrio entre o Ativo e o Passivo mais o Capital Próprio; a relação que traduz esta igualdade
designa-se por EQUAÇÃO FUNDAMENTAL DA CONTABILIDADE e é representada pela
seguinte expressão:
Ativo = Passivo + Capital Próprio

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Saliente-se que o Resultado referido anteriormente, quer no texto, quer no caso prático é
o Resultado Antes de Impostos (RAI). Sobre este poderá incidir o Imposto sobre o Rendimento
(IRC)6 o qual deve ser deduzido ao RAI para se obter o Resultado Líquido7

2.4.4. O método e a unidade de registo contabilístico (a conta)

De acordo com a Estrutura Conceptual são objetivos das Demonstrações Financeiras:

• Dar a conhecer o desempenho económico da entidade, num determinado período (o


resultado e a sua composição);
• Evidenciar a situação financeira da entidade, no final de um período, ou seja, o
valor e a composição do seu património de forma agregada.

A unidade de registo (e de informação) contabilístico dos factos patrimoniais e dos


fluxos que ocorrem nas entidades, com reflexo no seu património e nos seus resultados, é a
Conta. As contas previstas no SNC são as que constam do respetivo Código de Contas.

Cada conta tem um código numérico e um título e na mesma conta só devem ser
registados elementos que correspondam à definição dada pelo seu nome; por exemplo, na conta
Depósitos à ordem só devem ser registadas entradas e saídas de meios financeiros nas contas
bancárias, à ordem, da empresa.

As contas podem ser movimentadas a débito, quando inserimos um determinado valor


no lado do débito ou a crédito quando o valor é registado no lado do crédito.

O saldo da conta é a diferença entre o total do valor a débito e o total do valor a crédito.
O saldo corresponde ao valor da conta; por exemplo, se o saldo da conta Depósitos à ordem for
de 2.000 , isso significa que, contabilisticamente, o valor existente nas contas bancárias à
ordem, da entidade, é de dois mil euros. Se o saldo da conta de Fornecedores for de 5.000
significa que a empresa deve este valor aos seus fornecedores.
A Figura 8.2 representa graficamente a conta.

Figura 8.2: Representação gráfica da conta


Deve (débito) Título (Crédito) Haver
Debitar Creditar
Inscrever uma quantia no lado do Inscrever uma quantia no lado
débito do crédito

No SNC as contas estão agrupadas por classes. Existem 8 classes de contas, conforme
apresentadas na Tabela 8.1. Sem prejuízo de uma consulta às Notas de Enquadramento

6
Incluindo em muitos casos a derrama (imposto municipal).
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No caso prático considerámos a não existência de IRC; se houvesse tributação o valor a considerar seria o RL, e não o RAI.

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constantes do Código de Contas, para obter informação mais completa, inclui-se, na tabela, uma
breve apresentação do conteúdo de cada classe.

Tabela 8.1: Classes do SNC


Classes Conteúdo
Classe 1 - Meios Serve para registar os meios financeiros líquidos que incluem quer o dinheiro quer
financeiros líquidos depósitos bancários, bem como cheques e outros meios de pagamento recebidos e que
não tenham sido ainda depositados.
Classe 2 - Contas a Esta classe destina-se a registar as dívidas a receber ou a pagar resultantes de
receber e a pagar operações relacionadas com clientes, fornecedores, pessoal, Estado e outros entes
públicos, financiadores, acionistas e outros devedores e credores. Incluem-se, ainda,
nesta classe, os acréscimos e os diferimentos (para permitir o registo dos gastos e dos
rendimentos nos períodos a que respeitam) e as provisões.
Classe 3 - Inventários e Esta classe inclui os inventários:
ativos biológicos • Detidos para venda no decurso da atividade da entidade;
• No processo de produção para essa venda; ou
• Na forma de materiais consumíveis a serem aplicados no processo
de produção ou na prestação de serviços.
Classe 4 - Investimentos Esta classe inclui os bens detidos com continuidade ou permanência e que não se
destinem a ser vendidos ou transformados no decurso normal das operações da
entidade, quer sejam de sua propriedade, quer estejam em regime de locação
financeira. Compreende os investimentos financeiros, as propriedades de investimento,
os ativos fixos tangíveis, os ativos intangíveis, os investimentos em curso e os ativos
não correntes detidos para venda.
Classe 5 - Capital, Nesta classe registam-se os fundos próprios da entidade, quer os que lhe foram
reservas e resultados disponibilizados pelos sócios ou acionistas, quer os gerados por ela própria (resultados,
transitados e outros) e retidos.
Classe 6 - Gastos Esta classe inclui os gastos relativos ao período, a maior dos quais resulta do
consumo/utilização de fatores de produção.
Classe 7 - Rendimentos Inclui os rendimentos respeitantes ao período.
Classe 8 - Resultados Esta classe destina-se a apurar o resultado líquido do período, podendo ser utilizada
para auxiliar à determinação do resultado integral, tal como consta na Demonstração
das Alterações no Capital Próprio.

No geral, as contas das classes 1, 3 e 4 são contas do Ativo, a classe 2 inclui contas
cujos saldos representam dívidas a receber (direitos), outras que representam dividas a pagar
(obrigações), provisões (obrigações de montante e vencimento incertos), que são contas do
Passivo, e as contas de acréscimos e diferimentos, que analisaremos noutro ponto mais adiante
deste capítulo. Os saldos das contas da classe 5 e da conta que representa o Resultado líquido do
período são contas de Capital Próprio. Os saldos das contas da Classe 7 representam os
Rendimentos e os da Classe 6 traduzem os Gastos, obtidos ou incorridos no período, e servem
para o apuramento do Resultado, representado na Classe 8.

O método de registo contabilístico dos factos patrimoniais nas contas é o chamado


método digráfico ou das partidas dobradas, que implica o registo de cada facto patrimonial em
duas ou mais contas, uma(s) a débito e outra(s) a crédito, sendo que o valor total registado a
débito tem que ser sempre igual ao total registado a crédito.

As regras de movimentação das contas são sintetizadas na Tabela 8.2. O saldo inicial
corresponde ao valor da conta no início de cada período e a coluna Saldos representa o saldo

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habitual nas contas (devedor, quando o total dos débitos é superior ao total dos créditos, ou
credor quando acontece o inverso).

Tabela 8.2: Movimentação das contas e natureza dos saldos


Movimentação normal Saldos
Débito Crédito Devedor Credor
Activo Saldo inicial Reduções X
Aumentos
Passivo Reduções Saldo inicial X
Aumentos
Capital Próprio Reduções Saldo inicial X
Aumentos
Gastos Aumentos Reduções X
Rendimentos Reduções (a) Aumentos X
Resultados Diminuições Aumentos X X
(a) Movimentos efetuados a título excecional.

Em regra, as contas do Ativo apresentam saldo devedor e as contas do Passivo e do


Capital Próprio apresentam um saldo credor; estes saldos são apurados periodicamente e
transitam para o período seguinte. As contas de gastos têm saldos devedores e as de
rendimentos saldos credores; os seus saldos são transferidos periodicamente para as contas de
resultados, ficando assim as contas de gastos e rendimentos saldadas no final de cada período
económico.

2.5. Situação financeira e desempenho económico

A situação financeira da entidade, num determinado momento, é representada no


Balanço composto pelo Ativo, Passivo e Património Líquido ou Capital Próprio8 da entidade.

No Ativo os elementos são apresentados por ordem crescente de liquidez, ou seja, em


primeiro os elementos com menor liquidez (os que mais dificilmente se podem transformar em
meios financeiros líquidos) - o ativo não corrente - até terminar com os meios financeiros
líquidos, os valores em Caixa e Bancos.

No Passivo a ordem de apresentação dos elementos é a ordem crescente de


exigibilidade, do menos exigível para o mais exigível, pelo que aparecem primeiro as
obrigações a pagar no médio e longo prazo (passivo não corrente) e, em seguida, as obrigações a
liquidar no curto prazo (passivo corrente), ou seja no prazo de 12 meses.

No Capital Próprio, os elementos são apresentados por ordem cronológica de


constituição, isto é, primeiro o elemento mais antigo, o capital com que a entidade é constituída
até ao mais recente, o resultado líquido apurado no período a que respeita o Balanço.

No que respeita ao conteúdo de cada um dos membros do Balanço, é comum identificar:

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Em alguns tipos de entidades utilizam-se outras expressões com significado similar, como, por exemplo, Fundos Patrimoniais nas
entidades do setor não lucrativo.

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• no 2º membro, as ORIGENS DE FUNDOS, próprias e alheias, ou seja, as fontes de


financiamento onde se obtém os meios necessários ao funcionamento da Entidade;

• no 1º membro, as APLICAÇÕES DE FUNDOS, ou seja, bens e direitos que resultam


da aplicação dos fundos obtidos, quer internamente (próprios) quer externamente (alheios).

O desempenho económico da entidade num determinado período é apresentado na


Demonstração dos Resultados (DR).

Quer o Balanço, quer a DR são, obrigatoriamente, elaboradas com referência a 31 de


dezembro de cada ano, reportando-se, respetivamente, à situação naquela data e ao desempenho
nos doze meses precedentes.

No SNC estão previstos dois modelos de DR:

• POR NATUREZAS - que visa evidenciar a natureza dos rendimentos e dos gastos da
entidade que contribuíram, e em que medida, para a formação do resultado. Este modelo é
obrigatório para todas as entidades.
• POR FUNÇÕES - que apresenta a contribuição de cada função da entidade para a
formação do resultado. Este modelo é facultativo.

As demonstrações financeiras aqui referidas serão apresentadas com maior detalhe na


secção seguinte.

2.6. O relato financeiro

O relato financeiro, ou prestação de contas, é o resultado final de um processo que


começa no registo contabilístico dos factos patrimoniais no Diário da Entidade, que
esquematizamos na Figura 8.3. Nesta secção vamos descrever e explicar as diferentes
componentes do relato financeiro.
Os factos patrimoniais dão origem à emissão de documentos, que são classificados de
acordo com o Código de Contas da Entidade para, posteriormente serem lançados no sistema
informático, no Diário, por ordem cronológica, e no razão, por conta; mensalmente são emitidos
Balancetes e no final do período são elaboradas as Demonstrações Financeiras.

Anualmente todas as Entidades estão obrigadas a prestar contas através da divulgação


das demonstrações financeiras que evidenciem a sua situação patrimonial ou posição financeira,
as alterações nesta e o seu desempenho económico ou resultados, ou seja, efetuar o Relato
Financeiro. Há determinadas entidades que, voluntariamente ou por obrigação estatutária ou
legal, fazem relatos em períodos inferiores, os chamados relatos intercalares.

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Figura 8.3: O processo contabilístico


Factos Patrimoniais

Documentos

Classificação de acordo
com o código de contas

Lançamento no sistema
informático

Diário ordem cronológica

Razão sistemático por


contas

Balancetes de
verificação mensais

DR, Balanço,
Demonstração alterações
Capital próprio.
Demonstração de Fluxos
de Caixa e Anexo

O relato financeiro pode variar de acordo com a dimensão e o setor a que a entidade
pertence e, consequentemente, com o normativo contabilístico aplicável. Há, porém, três
elementos comuns, qualquer que seja o normativo aplicável, em termos de obrigatoriedade de
apresentação, ainda que com estruturas algo distintas: o Balanço, a Demonstração dos
Resultados (por Naturezas) e o Anexo. A estes juntam-se, para algumas entidades, a
Demonstração das Alterações no Capital Próprio, a Demonstração dos Fluxos de Caixa e, ainda
que facultativa, a Demonstração dos Resultados por Funções. Os modelos oficiais destas
demonstrações financeiras estão previstos nos normativos contabilísticos aplicáveis, pelo que
aqui se reproduzirão apenas alguns exemplos, abreviados, das mesmas.

Embora não seja uma demonstração financeira, existe um elemento de informação a


partir do qual se obtém as demonstrações financeiras e que é muito importante para
determinados utilizadores dado que apresenta um maior detalhe da informação financeira, pelo
que iremos começar por este elemento: o Balancete.

Todas as demonstrações financeiras são apresentadas em termos comparativos, ou seja,


comparam os valores do período ou do momento a que se referem com os valores homólogos do
ano anterior.

Balancete

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O Balancete é um quadro resumo, recapitulativo de todas as contas movimentadas desde


o início do ano, onde consta o total dos valores movimentados a débito e o total dos valores
movimentados a crédito, bem com a diferença entre ambos, o saldo da conta. O Balancete não
é uma Demonstração Financeira, é um mapa auxiliar muito útil à construção do Balanço e da
Demonstração de Resultados. A Figura 8.4. exemplifica a parte inicial de um Balancete.

Figura 8.4: Balancete


Código Designação Débitos do Créditos do Débitos Créditos Saldo Saldo
período período acumulados acumulados devedor credor
11 Caixa 50,00 20,00 100,00 100,00 0,00 0,00
12 Depósitos à 120,00 40,00 250,00 150,00 100,00 0,00
ordem
… … … … … … … …
Total 2.500,00 2.500,00 10.000,00 10.000,00 300,00 300,00

Neste exemplo podemos retirar algumas ilações como sejam a inexistência de meios de
pagamento em Caixa e a existência de 100 euros em depósitos bancários.

Os Balancetes são elaborados mensalmente e a partir do Balancete do mês de dezembro,


com algumas regularizações de contas que se fazem habitualmente nesse período, é possível
obter a Demonstração dos Resultados por Naturezas. Após os registos contabilísticos relativos
ao apuramento de Resultados obtém-se o Balancete Final, a partir do qual se pode construir o
Balanço.

Demonstração dos Resultados por Naturezas

Esta demonstração financeira evidencia o valor e a natureza (lucro ou prejuízo) do


resultado da entidade, identificando a natureza dos rendimentos e dos gastos que contribuíram
para a sua formação. É a demonstração financeira que relata o desempenho económico da
entidade, num determinado período.

Os gastos e os rendimentos considerados na Demonstração dos Resultados devem ser


reportados ao período a que aquela se refere. Porém, ocorrem situações em que o pagamento ou
recebimento e/ou a documentação de suporte são emitidos ou referem-se a um período distinto,
o que implica procedimentos contabilísticos específicos, como previsto no Regime do
Acréscimo, que permitem reconhecer os gastos e os rendimentos nos períodos a que
efetivamente se referem, independentemente do período em que é emitido o respetivo
documento. Estas situações são apresentadas um pouco mais adiante neste capítulo.

Na Figura 8.5 apresenta-se um exemplo de uma Demonstração dos Resultados. O valor


de cada uma das linhas de Gastos e de Rendimentos é obtido a partir do saldo da respetiva
conta.

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Figura 8.5: Demonstração dos Resultados


N-1 N
Vendas e serviços prestados 1.796.850 1.946.186
- Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas 613.825 563.425
- Fornecimentos e serviços externos 472.165 401.430
- Gastos como pessoal 559.638 628.225
+ Outros rendimentos e ganhos 46.508 37.138
- Outros gastos e perdas 132.478 175.253
Resultado antes de depreciações, gastos de financiamento e impostos 65.252 214.991
- Gastos / reversões de depreciação e de amortização 123.058 132.873
Resultado operacional (antes de gastos de financiamento e impostos) -57.806 82.118
- Juros e gastos similares suportados 5.315 3.374
Resultado antes de impostos - 63.121 78.744
- Imposto sobre o rendimento do período 849 20.070
Resultado líquido do período -63.970 58.674

No exemplo apresentado na figura anterior podemos encontrar diversas informações


importantes, desde logo o resultado líquido de cada período, que apresenta uma evolução
positiva; passou de um resultado negativo (prejuízo) de 63.970 no ano N-1 para um lucro de
58.674 no ano seguinte. Contudo, quanto a outras rubricas, como os Fornecimentos e serviços
externos (FSE) apenas é possível observar a evolução do valor global e o seu peso relativo nas
Vendas e prestações de serviços.
O primeiro resultado apresentado é também designado por EBITDA9 e representa o
resultado da atividade operacional da entidade, antes dos gastos não desembolsados relativos às
amortizações e às depreciações. Em seguida, é apresentado o resultado operacional, que
representa o lucro ou prejuízo apurado no ciclo de exploração normal da entidade. Este
resultado acrescido de eventuais juros e rendimentos similares obtidos e deduzidos de juros e
gastos similares suportados dá origem ao resultado antes de impostos (RAI). Ao RAI há que
deduzir a estimativa de IRC para calcular o Resultado líquido do período.

Balanço

O Balanço apresenta a posição financeira ou situação patrimonial da entidade, num


determinado momento. No primeiro membro - o Ativo - constam as aplicações de fundos da
entidade e no segundo membro as origens dos meios financeiros que permitiram tais aplicações;
dessa forma, o segundo membro é composto por duas secções distintas: o Capital Próprio (os
meios disponibilizados pelos detentores da entidade e os meios gerados por ela própria através
de resultados, de valorizações patrimoniais, de transferências de terceiros sem contraprestação,
nomeadamente doações e subsídios a fundo perdido) e o Passivo (obrigações/dividas da
entidade para com terceiros).

9
Do inglês: Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization - EBITDA

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O Ativo é desagregado em Ativo não corrente e Ativo corrente; o primeiro inclui os


elementos patrimoniais que, de uma forma simplificada, não são «transformados» em meios
financeiros no decurso do ciclo operacional normal da entidade (se inferior a um ano, considera-
se esta unidade temporal), como é o caso dos equipamentos e edifícios utilizados pela entidade
para desenvolver a sua atividade, ou que não estejam detidos essencialmente com a finalidade
de serem negociados. Os restantes elementos patrimoniais ativos - como as matérias primas, as
mercadorias e outras matérias consumíveis e as dívidas de clientes - são considerados no Ativo
corrente. De forma similar, o Passivo divide-se em Passivo não corrente e em Passivo corrente,
incluindo-se no primeiro, e também simplificada, apenas as dívidas da entidade que são
exigíveis pelos credores num período superior a um ano.

Na Figura 8.6 apresenta-se um exemplo de um Balanço.


Figura 8.6: Balanço
N-1 N
Ativo
Ativo não corrente
Ativos fixos tangíveis 810.386 911.309
Outros ativos financeiros 2.883 2.688
Total do ativo não corrente 813.269 913.997
Ativo corrente
Inventários 795.205 899.751
Ativos biológicos 324.221 347.760
Clientes 702.674 408.749
Estado e outros entes públicos 65.983 11.841
Outras contas a receber 119.422 116.601
Caixa e depósitos bancários 15.414 88.678
Total do ativo corrente 2.022.919 1.873.380
Total do ativo 2.836.188 2.787.377

N-1 N
Capital próprio e passivo
Capital próprio
Capital realizado 750.000 750.000
Outros instrumentos de capital próprio 1.046.974 1.043.163
Reservas 384.550 384.550
Resultados transitados -602.046 -666.017
Resultado líquido do período 58.674 -63.971
Total do capital próprio 1.515.507 1.570.370
Passivo
Passivo não corrente
Financiamentos obtidos 723.674 723.674
Passivos por impostos diferidos 4.143 5.025
Total do passivo não corrente 727.817 728.699
Passivo corrente
Fornecedores 314.935 210.999
Estado e outros entes públicos 21.070 22.775
Acionistas/sócios 26.881 32.875
Financiamentos obtidos 115.000 39.109
Outras contas a pagar 114.978 182.550
Total do passivo corrente 592.864 488.308
Total do passivo 1.320.681 1.217.007
Total do capital próprio e do passivo 2.836.188 2.787.377

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O Balanço deve refletir, em todo e qualquer momento, o equilíbrio da equação fundamental


da contabilidade, pelo que o total do Ativo deverá ser igual ao total da soma entre os valores do
Capital Próprio e do Passivo.

Saliente-se que o RESULTADO LÍQUIDO DO PERÍODO é a única rubrica que consta


quer do Balanço quer da Demonstração de Resultados, estabelecendo a ligação entre estas duas
Demonstrações Financeiras.
Para garantir a imagem verdadeira e apropriada das Demonstrações Financeiras, são
utilizadas determinadas contas que permitem, por um lado aproximar o valor dos ativos do seu
valor atual, ou de mercado, e por outro contribuir para um Resultado liquido do período mais
completo e verdadeiro. Os saldos destas contas são valores diminutivos das contas de ativo e,
em simultâneo, são gastos do período. Estes gastos do período não implicam pagamentos, ou
seja, são GASTOS NÃO DESEMBOLSÁVEIS, que contribuem para o cálculo do Resultado
líquido. Em seguida, descrevemos, dois dos tipos de contas com estas caraterísticas:

• PERDAS POR IMPARIDADE - representam eventuais perdas de valor em ativos (em


dívidas de clientes de cobrança duvidosa, em inventários cujo valor estimado de venda
seja inferior ao seu custo de aquisição, em ativos não correntes cujo valor de mercado
seja inferior ao seu valor contabilístico). As situações que dão origem ao registo destas
perdas podem ser revertidas e por isso não se consideram como uma perda definitiva,
daí a utilização destas contas que representam perdas potenciais. O saldo destas contas é
deduzido ao saldo da conta do Ativo a que estão afetas; por exemplo, se as dívidas de
clientes ascendem a 10.000 (registadas na conta Clientes c/c) mas está registado na
conta Perdas por imparidade acumuladas (em clientes) o montante de 1.000 , o valor
evidenciado no Balanço como dívidas de clientes será de 9.000 .
• AMORTIZAÇÕES E DEPRECIAÇÕES - traduzem, por um lado, o desgaste que os
Ativos Fixos Tangíveis (depreciações) e os Intangíveis (amortizações), bens e direitos
da classe 4 - Investimentos, sofrem ao longo do tempo, quer pela sua utilização, quer
pela evolução tecnológica, quer por outros efeitos alheios à empresa. Por outro lado,
este desgaste ao ser considerado como gasto do período, implica a repartição do valor
de aquisição dos ativos não correntes ao longo da sua vida útil, período durante o qual
estes ativos contribuem para formar o rendimento da entidade. Por exemplo, se o valor
de aquisição de um determinado equipamento for de 4.000 e este ativo tiver uma vida
útil de 4 anos, poderá ser depreciado anualmente em 1.000 /ano, durante esse período
de tempo. No Balanço o valor do ativo corresponderá ao seu valor contabilístico (Custo
de aquisição menos depreciações anuais já registadas), ano após ano, e na
Demonstração dos Resultados será reconhecido um gasto anual de 1.000 .

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O valor de cada uma das rubricas do Balanço é obtido a partir do saldo da respetiva conta e,
em alguns casos, estes valores são líquidos de imparidades, depreciações e amortizações.

Com vista a cumprir com um dos pressupostos subjacentes à elaboração das Demonstrações
Financeiras definido na estrutura conceptual, o Regime de Acréscimo - «os efeitos das
transações e de outros acontecimentos são reconhecidos quando eles ocorram (e não quando
caixa, ou equivalentes de caixa sejam recebidos ou pagos), sendo registados
contabilisticamente e relatados nas demonstrações financeiras dos períodos com os quais se
relacionam» - estão previstas, no Código de Contas, as contas de ACRÉSCIMOS E
DIFERIMENTOS, onde se registam determinados factos patrimoniais que ocorrem num
período e que são suscetíveis de ser relatados nas Demonstrações Financeiras do período a que
respeitam:
ACRÉSCIMOS - onde se registam as contrapartidas dos rendimentos e gastos a
reconhecer no exercício, ainda que não exista documentação vinculativa, e cujo
recebimento ou pagamento só ocorra no período ou períodos seguintes. Estas contas
representam valores a receber, ativos, e valores a pagar, passivos.
DIFERIMENTOS - compreendem os gastos e os rendimentos que devem ser
reconhecidos em períodos posteriores apesar do documento vinculativo ser emitido no
período em que se efetua o relato financeiro e, consequentemente, o respetivo
pagamento/recebimento ser devido no exercício corrente. Também neste caso ocorre o
registo de valores que representam direitos, ativos, e obrigações, passivos.

No Balanço estas contas constam do Ativo ou do Passivo, correntes, consoante o seu saldo
seja devedor ou credor, respetivamente. Em grande parte dos casos, os saldos destas contas são
regularizados durante o período económico seguinte, e só voltam a ser movimentadas aquando
do encerramento do exercício, no âmbito das operações de regularização necessárias ao
apuramento do Resultado líquido do período.

Demonstração de Fluxos de Caixa

A Demonstração de Fluxos de Caixa (DFC) é tratada pela Norma Contabilística e de Relato


Financeiro 2 e é uma demonstração financeira que complementa a ótica financeira do Balanço e
a ótica económica da Demonstração de Resultados, com a ótica monetária.

Esta demonstração relata os recebimentos e pagamentos, entradas e saídas de meios


monetários, ocorridos num determinado período numa Entidade. A DFC apresenta-se
organizada por atividades:

a) Atividades operacionais - as que constituem o objeto principal da entidade e das quais


resultam recebimentos, essencialmente de vendas e prestações de serviços, e pagamentos
relacionados com a compra de bens e serviços.

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b) Atividades de investimento - compreendem os pagamentos relacionados com a compra de


ativos não correntes e os recebimentos relacionados com a alienação deste tipo de ativos, bem
como os provenientes de subsídios ao investimento, de juros e rendimentos similares e de
dividendos.
c) Atividades de financiamento - incluem os recebimentos provenientes de financiamentos
obtidos, de constituição ou reforço de capital ou de outras prestações dos detentores do capital
da entidade, bem como de doações em numerário. Consideram-se nestas atividades os
pagamentos relacionados com a amortização de financiamentos obtidos, os juros e gastos
similares e os dividendos pagos, e ainda eventuais reduções de capital ou de outras rubricas de
capital próprio que impliquem a devolução de dinheiro aos detentores da entidade.

Na Figura 8.7 apresenta-se um exemplo de uma Demonstração de Fluxos de Caixa.

Figura 8.7: Demonstração de Fluxos de Caixa


N-1 N
Fluxos de caixa das atividades operacionais
Recebimentos de clientes 1.646.902,00 2.006.771,00
Pagamentos a fornecedores 1.250.903,00 1.240.778,00
Pagamentos ao pessoal 455.594,00 544.254,00
Caixa gerada pelas operações -59.595,00 221.739,00
Pagamento/recebimento do imposto sobre o rendimento -11.683,00 210,00
Outros recebimentos/pagamentos 68.530,00 212.450,00
Fluxos de caixa das atividades operacionais (A) -2.748,00 434.399,00
Fluxos de caixa das atividades de investimento
Pagamentos respeitantes a:
Ativos fixos tangíveis 57.899,00 293.198,00
Recebimentos provenientes de:
Ativos fixos tangíveis 9.120,00 11.254,00
Outros ativos 0,00 74,00
Fluxos de caixa das atividades de investimento (B) -48.779,00 -281.870,00
Fluxos de caixa das atividades de financiamento
Recebimentos provenientes de:
Financiamentos obtidos 830.000,00 1.009.109,00
Outras operações de financiamento 30.037,00 0,00
Pagamentos respeitantes a:
Financiamentos obtidos 815.000,00 1.085.000,00
Juros e gastos similares 5.352,00 3.374,00
Outras operações de financiamento 260,00 0,00
Fluxos de caixa das atividades de financiamento (C) 39.425,00 -79.265,00
Variação de caixa e seus equivalentes (A +B+ C) -12.102,00 73.264,00
Caixa e seus equivalentes no início do período 27.516,00 15.414,00
Caixa e seus equivalentes no fim do período 15.414,00 88.678,00

Em suma, a contabilidade financeira produz, através da elaboração e divulgação das


demostrações financeiras, informação útil à tomada de decisão, destinada sobretudo aos
utilizadores externos à Entidade. As informações sobre a situação financeira, as suas alterações
e o desempenho económico, plasmadas nas Demonstrações Financeiras divulgadas

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periodicamente, servirão de base à análise financeira realizada por diferentes decisores e


servindo distintas finalidades.
No próximo ponto deste capítulo são apresentados um conjunto de conceitos e técnicas
necessários à realização da análise financeira de uma qualquer Entidade.

3. Análise financeira

3.1. Objetivos e âmbito

A Análise Financeira tem como objetivo principal o tratamento e a análise das


Demonstrações Financeiras produzidas pela Contabilidade Financeira e de outras informações
complementares, de modo a dar a conhecer a situação económico-financeira de uma empresa.
Esta análise é efetuada com base num conjunto de técnicas e de indicadores, mapas e pareceres
que servem para a tomada da decisão dos stakeholders, internos e externos à empresa, tais como
acionistas, gestores, bancos, Estado, fornecedores, funcionários, entre outros.

Para realizar um diagnóstico financeiro, e emitir um parecer sobre o desempenho, além dos
documentos internos da empresa, devem analisar-se o setor, dados macroeconómicos e outras
informações que possam ser importantes para a contextualização da empresa. A informação da
Central de Balanços do Banco de Portugal (https://www.bportugal.pt/page/central-debalancos),
onde é possível consultar dados agregados por setor, região ou dimensão, é crucial para uma
análise comparativa da empresa em análise. Também os indicadores médios do setor permitem
avaliar e comparar o desempenho da empresa em relação a empresas semelhantes. A análise
deve ser efetuada numa base temporal de 3 a 5 anos e, apesar de incidir sobre informação do
passado, permite perceber como está o presente da empresa e planear o seu futuro.

A análise e interpretação dos documentos financeiros, centra-se nos seguintes tópicos:


• o equilíbrio financeiro;
• a solvabilidade;
• a rendibilidade;
• o crescimento;
• o risco;
• a criação de valor.

Nos subcapítulos seguintes, serão apresentados os diferentes documentos financeiros que


são utilizados na Análise Financeira, bem como os vários indicadores (ou rácios) e outras
técnicas de análise. Por último, será elaborado um breve estudo de caso.

3.2. Da informação contabilística à informação financeira

3.2.1. O Balanço funcional

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A Análise do Balanço permite identificar os saldos das contas que têm maior peso e assim
perceber quais são as que têm maior impacto na estrutura do balanço do período, análise
vertical. Uma análise temporal de Balanços sucessivos permite conhecer a evolução dos saldos
das contas e, eventualmente, analisar situações críticas para a empresa, análise horizontal.

Além da análise horizontal e vertical, a Análise Financeira estuda os diferentes ciclos da


empresa: operacional (ou de exploração), de investimento e de financiamento, este último
subdivide-se em operações de capital e operações de tesouraria.
O ciclo de exploração está relacionado com as atividades operacionais da empresa e divide-
se em necessidades cíclicas (sobretudo relativas aos clientes e aos inventários) - ativo corrente
de exploração; e em recursos cíclicos (essencialmente os fornecedores) - passivo corrente de
exploração10.
O ciclo de investimento está relacionado com o Ativo Não-Corrente, e o ciclo de
financiamento com as operações de capital, nomeadamente os capitais próprios e o passivo não
corrente ou capital alheio estável. Por fim, as operações de tesouraria dizem respeito ao ativo e
passivo corrente que não são de exploração. Podemos esquematizar a ligação entre os ciclos e as
aplicações e origens de fundos constantes do Balanço da seguinte forma:

Figura 8.8: Ciclos da empresa no Balanço


Ciclo Ciclo
Aplicações Origens
Investimento Ativo Não-Corrente Capital Próprio Financiamento:
Passivo Não-Corrente Operações de Capital
Operacional Necessidades Cíclicas Recursos Cíclicos Operacional
Financiamento: Tesouraria Ativa Tesouraria Passiva Financiamento:
Operações de Operações de
Tesouraria Tesouraria

A passagem do Balanço Contabilístico para o Balanço Funcional implica correções,


ajustamentos e reclassificação de algumas contas. Poderão ser várias as alterações a que o
Balanço está sujeito, assim, por exemplo, se a empresa tiver em armazém um stock que já não
tem valor comercial, esse valor deve ser corrigido e retirado de inventário, assumindo-se a perda
e, consequentemente a diminuição do capital próprio, por via da diminuição do resultado.

Um aspeto muito importante do Balanço Funcional é a análise do equilíbrio financeiro


através do cálculo do FUNDO DE MANEIO (FM). O Fundo de Maneio11 é calculado pela
seguinte expressão:

10
Existem mais rubricas a considerar nas necessidades cíclicas e recursos cíclicos, mas o detalhe será apresentado na Tabela do
Balanço Funcional.

11
Não confundir este conceito, com outro vulgarmente conhecido para fundo de maneio, que se refere a dinheiro disponível para
fazer face às despesas correntes.

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Fundo de Maneio = Capitais Próprios + Passivo Não-Corrente -


Ativo Não-Corrente

O FM baseia-se no princípio de que o investimento nos ativos deve ser financiado em


função do tempo que se espera que esses ativos estejam na empresa, o que significa, por
exemplo, que um cliente (um valor relativo a uma dívida a receber) deve ser financiado por um
passivo corrente, enquanto um equipamento básico deve ser financiado por capitais permanentes
(capitais próprios + passivo não-corrente). No entanto, como alguns ativos correntes podem não
ser facilmente transformáveis em liquidez, para a maioria das empresas12 parte do ativo corrente
deve ser também financiado por capitais permanentes. Nesta situação, o FUNDO DE MANEIO
será superior a 1.

As NECESSIDADES EM FUNDO DE MANEIO (NFM) correspondem à diferença


entre as necessidades cíclicas e os recursos cíclicos e referem-se às necessidades de
financiamento do ciclo de exploração. Se as NFM forem positivas, significa que o ciclo de
exploração tem que ser financiado por capitais permanentes ou por tesouraria passiva. Se as
NFM forem negativas, situação em que os recursos cíclicos financiam a totalidade das
necessidades cíclicas, pode significar uma de duas situações: a empresa tem poder negocial e
consegue pagar tarde aos fornecedores (por exemplo os hipermercados); ou a empresa está com
problemas de liquidez e não consegue pagar aos fornecedores.

Por último, a TESOURARIA LÍQUIDA (TL) obtém-se através da diferença entre o


Fundo de Maneio e as Necessidades em Fundo de Maneio. A TL pode ser
positiva, negativa ou nula e é o resultado de várias conjugações entre o FM e as NFM. Uma
Tesouraria Líquida negativa pode revelar problemas de liquidez e pouco equilíbrio financeiro da
empresa. Apresenta-se de seguida a estrutura do Balanço Funcional:

12
Ver-se-á nos rácios de liquidez, que existem setores da economia em que é normal o passivo corrente financiar o ativo no
corrente (por exemplo, os hipermercados).

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Tabela 8.3. Balanço funcional (1)


N-1 N
Capital Próprio (CP)
Capital realizado
Reservas e resultados transitados
Outros componentes de capital próprio
Total do capital próprio
Capitais Alheios Estáveis (CAE)
Provisões
Financiamentos obtidos
Responsabilidades por benefícios pós-emprego
Passivos por impostos diferidos
Outras contas a pagar
Total dos capitais alheios estáveis
Capital Permanente (CP + CAE)
Ativo Não-Corrente (ANC)
Ativos fixos tangíveis
Ativos intangíveis
Propriedades de investimento
Ativos biológicos
Participações financeiras – Met.Equiv.Patr.
Participações financeiras - outros métodos
Acionistas/sócios
Outros ativos não-correntes
Ativos por impostos diferidos
Investimentos Financeiros
Total do ativo não corrente
Fundo de Maneio (FM = Cap. Permanente – ANC)
Necessidades Cíclicas (NC)
Inventários
Ativos biológicos
Clientes
Adiantamento a fornecedores
Estado e outros entes públicos (IVA)
Total das necessidades cíclicas
Recursos Cíclicos (RC)
Fornecedores
Adiantamentos de clientes
Estado e Outros Entes Públicos (IVA)
Total dos recursos cíclicos
Necessidades em Fundo de Maneio (NFM = NC - RC)
Tesouraria Liquida (TL = FM - NFM)

De modo a completar a informação do Balanço Funcional, deve calcular-se a Tesouraria


Líquida pela diferença da Tesouraria Ativa e Tesouraria Passiva. Os valores que devem ser
considerados na Tesouraria Ativa são os saldos das contas do ativo corrente que não sejam de
exploração (operacionais) e os da Tesouraria Passiva são os saldos das contas do passivo
corrente que não sejam de exploração (operacionais), ou seja, são os saldos das contas do Ativo
Corrente e do Passivo Corrente que não constem das Necessidades Cíclicas ou dos Recursos
Cíclicos.

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Tabela 8.4. Balanço Funcional (ii)


N-1 N
Tesouraria Ativa (TA)
Accionistas/sócios
Outras contas a receber
Estado e Outros Entes Públicos (IRC, SS, outros)
Diferimentos
Activos financeiros detidos para negociação
Outros activos financeiros
Activos não-correntes detidos para venda
Outros activos correntes
Caixa e depósitos bancários
Total da Tesouraria ativa
Tesouraria Passiva (TP)
Accionistas/sócios
Financiamentos obtidos
Outras contas a pagar
Estado e Outros Entes Públicos (IRC, SS, outros)
Diferimentos
Passivos financeiros detidos para negociação
Outros passivos financeiros
Passivos não-correntes detidos para venda
Outros passivos correntes
Total da Tesouraria Passiva
Tesouraria líquida (TL = TA - TP)

O valor apurado da Tesouraria Líquida, nesta segunda parte do Balanço Funcional, tem
que ser igual ao valor apurado na primeira parte.

3.2.2. A Demonstração dos Resultados

A análise da Demonstração dos Resultados (DR) consiste, essencialmente, no estudo


dos valores das rúbricas, quer horizontalmente quer verticalmente, desta demonstração
financeira. Esta análise deve ser complementada com o cálculo das percentagens, do peso
relativo e/ou da variação de um período para o outro, como se exemplifica em seguida:

Figura 89. Análise da DR (1)


Demonstração de Resultados por Natureza Ano N-1 Ano N Variação
Vendas e serviços prestados 890.000 940.000 6%
- Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas 460.000 510.000 11%
- Fornecimentos e serviços externos 120.000 180.000 50%
- Gastos como pessoal 190.000 210.000 11%
Resultado antes de depreciações, gastos de financiamento e impostos 120.000 40.000 -67%

25

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Figura 8.10. Análise da DR (ii)


Ano N-1 Ano N
Demonstração de Resultados por Natureza Valor % Valor %
Vendas e serviços prestados 890.000 940.000
- Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas 460.000 52% 510.000 54%
- Fornecimentos e serviços externos 120.000 13% 180.000 19%
- Gastos como pessoal 190.000 21% 210.000 22%
Resultado antes de depreciações, gastos de financiamento e impostos 120.000 13% 40.000 4%

Pode constatar-se, na Figura 8.10, que apesar do volume de negócios (vendas e serviços
prestados) ter aumentado 6%, o aumento dos gastos foi superior proporcionalmente, o que levou
a uma diminuição do Resultado antes de depreciações, gastos de financiamento e impostos. Na
Figura 8.10, onde é apresentado o peso de cada um dos gastos no volume de negócios, é fácil
perceber que no segundo ano os gastos têm maior peso no volume de negócios, o que origina
um Resultado antes de depreciações, gastos de financiamento e impostos menor. Ainda com
base na Demonstração dos Resultados poderão ser estimados outros indicadores que serão
tratados num outro ponto posterior deste capítulo.

3.2.3. A Demonstração de Fluxos de Caixa

A análise da Demonstração de Fluxos de Caixa também se baseia nos três ciclos da


empresa implicando o estudo de cada uma das actividades: operacional, investimento e
financiamento.
Esta demonstração possibilita a análise da capacidade que uma Entidade tem de gerar
meios financeiros que permitam liquidar as suas obrigações. Porém, além de avaliar essa
capacidade em termos globais interessa ao utilizador desta informação avaliar a origem dos
fundos gerados. É desejável que sejam as atividades operacionais a gerar os meios financeiros
de que a entidade necessita para desenvolver a sua atividade. A obtenção de fundos
significativos a partir das atividades de investimento e de financiamento deve ocorrer, apenas,
pontualmente.
As atividades de investimento geram meios financeiros aquando da renovação de ativos
não correntes da entidade, e as atividades de financiamento podem gerar meios monetários
quando exista necessidade de implementar decisões estratégicas de expansão da atividade da
entidade, por exemplo.
Se uma empresa não conseguir gerar dinheiro suficiente com a sua atividade
operacional e tiver necessidade de se endividar para cobrir as necessidades dessa atividade,
poderá ser um indício de problemas de liquidez na empresa. Já uma situação de aumento de
pagamentos de atividades de investimento deve ser acompanhada por um aumento de
recebimentos da atividade de financiamento, quer seja através de capitais próprios ou capitais
alheios

26

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Apesar da apresentação desta demonstração não ser obrigatória para todas as empresas,
a construção da Demonstração de Fluxos de Caixa é essencial para a compreensão da origem e
das aplicações dos meios financeiros da empresa, e, deste modo, para o apoio à tomada de
decisão.

3.3. O método dos rácios

O método dos rácios é uma das principais técnicas utilizadas na análise financeira, uma
vez que permite transformar a informação retirada das Demonstrações Financeiras num
conjunto de indicadores económico-financeiros.

A análise da situação económico-financeira com base nos rácios pode basear-se em


informação de um determinado período, ou de vários períodos consecutivos, e pode ser
comparativa permitindo uma análise com outras empresas ou com valores médios do setor e/ou
dimensão (micro, pequena, média ou grande dimensão). Esta análise comparativa permite
posicionar a empresa, em análise, face ao setor e classificar o rácio de positivo ou negativo. Por
exemplo, um rácio de 20% para um determinado setor ou período pode ter um impacto positivo,
mas para outro setor ou período pode ter um impacto negativo.

Uma empresa poderá ter rácios inferiores aos do setor por razões estratégicas, por
exemplo, se pretender entrar num mercado novo, ou conquistar quota de mercado, poderá
assumir margens inferiores e assim alcançar os seus objetivos.

É fundamental que a análise dos rácios seja contextualizada e ter em consideração


informações complementares dos sócios/gestores de modo a esclarecer alguma dúvida.

As Instituições Financeiras são uma das principais entidades externas a analisar os


rácios das empresas com vista à tomada de decisão sobre as condições de concessão, ou não, de
financiamento. Nas situações em que existe um excessivo endividamento, rentabilidades baixas
ou negativas e baixa solvabilidade é provável que a empresa não consiga obter financiamento. A
análise dos rácios é também utilizada aquando da seleção das empresas aos apoios comunitários,
a aprovação das candidaturas está sujeita ao cumprimento de determinados critérios para os
rácios.
Apresentar-se-ão, em seguida, os rácios mais utilizados na análise das empresas,
agrupados de acordo com a referência da Central do Balanços do Banco de Portugal.

Rácios de estrutura financeira

Permitem analisar a capacidade financeira da empresa em liquidar as suas obrigações,


verificando o grau de dependência financeira face a terceiros.

27

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• AUTONOMIA FINANCEIRA - avalia a percentagem de capital próprio na


empresa em relação ao total do balanço. Um rácio muito baixo, significa que a
empresa está muito dependente de capitais alheios (passivo).
ó
Autonomia financeira =
ó

• ENDIVIDAMENTO - avalia a percentagem de passivo no total do balanço da


empresa. Este rácio complementa o rácio da Autonomia Financeira e a soma
dos dois terá que ser, necessariamente, igual a 1. Uma empresa com um
endividamento muito elevado representa um risco elevado e poderá significar
que existem problemas de sobre-endividamento.

Endividamento =
ó

• ESTRUTURA DO ENDIVIDAMENTO - fornece informação sobre a


percentagem do passivo corrente em relação ao total do passivo da empresa. No
limite, este rácio poderá ser igual a 1. Um endividamento corrente excessivo
pode conduzir a empresa a um sufoco financeiro, com dívidas a vencerem a
curto prazo.
!
Estrutura do endividamento =

• SOLVABILIDADE - reflete a capacidade da empresa para fazer face às suas


obrigações de médio e longo prazo; compara os capitais próprios investidos
pelos sócios/acionistas com os capitais alheios concedidos pelos credores. Um
rácio superior a 1 representa pouco risco para os credores, uma vez que os
capitais próprios são suficientes para fazer face às obrigações.
ó
Solvabilidade =

• COBERTURA DOS ATIVOS NÃO-CORRENTES - reflete a capacidade dos


Capitais Permanentes (Capital Próprio mais Passivo Não-Corrente) financiarem
o Ativo Não-Corrente. Este rácio está relacionado com o conceito de Fundo
Maneio, explicado no ponto 3.2.1. Sempre que o rácio é superior a 1, o Fundo
Maneio será positivo.

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Cobertura dos ativos não correntes


ó + !ã !
=
( !ã !

Rácios de liquidez

Permitem avaliar a capacidade da empresa para cumprir as suas obrigações correntes com
base nos ativos correntes. A liquidez refere-se à capacidade de transformar os ativos em meios
líquidos, sendo o dinheiro o ativo com maior liquidez.

• LIQUIDEZ GERAL - determina a capacidade da empresa fazer face aos seus


compromissos correntes. Na maioria dos casos, este rácio deve ser superior a 1,
uma vez que o ativo corrente deve cobrir a totalidade do passivo corrente e a
empresa, de preferência, deve ter uma margem de segurança. No entanto,
existem algumas situações em que o rácio da liquidez geral é inferior a 1 e isso
não significa problemas de liquidez. Por exemplo, os Hipermercados recebem a
pronto pagamento e pagam em prazos muito dilatados e existe uma grande
rotação dos stocks, o que origina um passivo corrente superior ao ativo corrente.
Esta situação é comum neste setor e, por si só, não revela pouca liquidez:
( !
Liquidez geral =
!

• LIQUIDEZ REDUZIDA - ao Ativo Corrente são subtraídos os valores do


Inventário e dos Ativos Biológicos Correntes, ou seja, permite a análise da
liquidez da empresa sem os ativos correntes com menor grau de liquidez. Os
valores dependem muito de setor para setor, uma vez que existem setores em
que os inventários têm maior peso do que noutros setores.
Liquidez reduzida
( ! − .! !á − ( 0 ó1 !
=
!

• LIQUIDEZ IMEDIATA - compara os meios financeiros líquidos, Caixa e


Bancos, com o passivo corrente. Um valor muito elevado pode significar que a
empresa tem muito dinheiro disponível, parado, ou seja, improdutivo, ou que
tem um passivo corrente muito reduzido, apostando, eventualmente, em capitais
próprios e/ou passivo não corrente.
2 3 ó 0 ! á
Liquidez imediata =
!

29

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Rácios de financiamento

Permitem completar a análise efetuada com base nos rácios de estrutura financeira através
de um estudo mais profundo dos capitais alheios, analisando-se o custo do endividamento e o
seu impacto nos resultados da empresa.

• PESO DO PASSIVO REMUNERADO - mede a percentagem de


financiamentos obtidos em relação ao passivo total. No passivo podem existir
credores que são remunerados, por exemplo as instituições financeiras, e
credores que não são remunerados, por exemplo os fornecedores.
Peso do passivo remunerado =
6! ! 7 ! 0 3 ( ! !ã ! )
=

• CUSTO DOS FINANCIAMENTOS OBTIDOS - compara o valor dos juros


suportados com o valor dos financiamentos obtidos.
Custo dos financiamentos obtidos =
:; ; 3
=
6! ! 7 ! 0 3 ( ! !ã ! )

• JUROS SUPORTADOS/EBITDA13 - compara os juros suportados com os


resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações.
:; ; 3
=
<=.>?(

Rácios de rendibilidade

Comparam os resultados gerados pelas empresas com os recursos utilizados e permitem


analisar a capacidade da empresa em remunerar os seus investidores e a sua eficiência.

• RENDIBILIDADE DOS CAPITAIS PRÓPRIOS - avalia a remuneração dos


investidores.
A ; 3 íC; 3 3 í 3
Rendibilidade dos capitais próprios =
ó

13
EBITDA = Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, ou seja, é o Resultado antes de Juros, Impostos,
Depreciações e Amortizações.

30

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• RENDIBILIDADE DO ATIVO - avalia a eficiência e capacidade de gestão


dos ativos da empresa, na produção dos resultados operacionais antes das
depreciações e amortizações.
<=.>?(
Rendibilidade do ativo =
(

• RENDIBILIDADE DA VENDAS - analisa a relação entre o resultado


operacional e o volume de negócios, ou seja, o resultado obtido por cada
unidade monetária vendida.
A ; 3 !
Rendibilidade das vendas =
D ;7 3 ! 1ó

Rácios de atividade

Compreendem os indicadores de atividade de gestão no que concerne a recebimento de


clientes, pagamentos a fornecedores e gestão de stocks.
• PRAZO MÉDIO DE RECEBIMENTO (PMR) - Determina o nº. de dias que a
empresa leva, em média, a receber dos clientes.
!
Prazo médio de recebimento = . 365
D ;7 3 ! 1ó 7 .D(

• PRAZO MÉDIO DE PAGAMENTO (PMP) - determina o nº. de dias que a


empresa leva, em média, a pagar aos fornecedores.
6 ! 3
Prazo médio de pagamento = . 365
7 6J< 7 .D(

• PRAZO MÉDIO DO INVENTARIO (PMI) - determina o nº. de dias, em


média, que os inventários e ativos biológicos correntes permanecem na
empresa.
Prazo médio de inventário
.! ! á 0 ó1 !
= . 365
KDK

Rácios de risco

Permitem avaliar o risco operacional e financeiro da empresa e conhecer o impacto que a


variação de 1% nas vendas tem nos resultados operacionais ou nos resultados antes de impostos.

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• GRAU DE ALAVANCA OPERACIONAL (GAO) - mede a variação nos


resultados operacionais provocada por uma dada variação nas vendas. Por
exemplo, se o GAO for igual a 2, significa que a variação de 1% nas
vendas, irá provocar uma variação de 2% nos resultados operacionais.
Grau de alavanca operacional14
D ;7 3 ! 1ó − KDK − 6J<
=
A ; 3 !

• GRAU DE ALAVANCA FINANCEIRO (GAF) - mede o risco financeiro


derivado dos encargos do endividamento. Por exemplo, se o GAF for igual
a 2, significa que a variação de 1% nos RO, irá provocar uma variação de
2% nos Resultados Líquidos.
A ; 3 !
Grau de alavanca financeiro =
A ; 3 ! 3 7

• GRAU COMBINADO DE ALAVANCA (GCA) - representa a capacidade


da empresa utilizar os gastos (custos) fixos, tanto operacionais como
financeiros, para aumentar o efeito da variação das vendas no Resultado
Antes de Imposto. É um instrumento de medida de risco global da empresa,
uma vez que inclui o risco económico e o risco financeiro.
D ;7 3 ! 1ó − KDK − 6J<
Grau combinado de alavanca =
A ; 3 ! 3 7

A Análise Financeira, ao tratar e analisar a informação contabilística da empresa,


permite identificar os pontos fortes e fracos e corrigir e aperfeiçoar aspetos financeiros no
futuro. É uma ferramenta de suporte à tomada de decisões dos gestores e dos Stakeholders,
contribuindo para a criação de valor da empresa.

3.4. Estudo de caso

Tendo como base o Balanço, a Demonstração dos Resultados e a Demonstração dos


Fluxos de Caixa apresentados nas figuras 8.5, 8.6 e 8.7 no subcapítulo 2, elaborar-se-á uma
análise financeira de uma empresa agro-industrial.

3.4.1 Análise económico-financeira

14
O mais correto seria o cálculo da margem bruta (volume de negócios - gastos variáveis). Não havendo informação sobre quais
são os gastos variáveis e os fixos, assume-se que além do Custo das Mercadorias Vendidas e Matérias Consumidas (CMVMC),
todos os Fornecimentos e Serviços Externos (FSE) são variáveis.

32

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Enquadramento

A empresa em análise possui uma vinha e produz vinho, estando classificada no CAE
01210 (Viticultura) e, considerada pela sua dimensão, é uma Pequena Empresa15. Nos dois anos
de análise, o PIB cresceu 0,9% e 1,5% respetivamente, o que demonstra que foram anos de
crescimento económico.
Nos anos em análise, a empresa possuía 29 e 33 trabalhadores em N - 1 e N.

Análise da Demonstração dos Resultados

A empresa conseguiu uma dupla melhoria de N - 1 para N ao conseguir aumentar o volume


de negócios em 8% e diminuir o custo com matérias em 8%. O Custo das Mercadorias Vendidas
e Matérias Consumidas (CMVMC) representava 34% do volume de negócios em N - 1 e passou
a representar 29% em N. Além de conseguir incrementar as vendas, conseguiu comprar e/ou
produzir mais barato em N. Os Fornecimentos e Serviços Externos (FSE) também registaram
uma diminuição em N, enquanto que os Gastos com o Pessoal, os Outros Gastos e as
Depreciações aumentaram em N e os outros rendimentos diminuíram. Estas variações
conjugadas fizeram com que o Resultado Operacional passasse de negativo em N - 1 a positivo
em N.
Relativamente à atividade financeira a empresa conseguiu diminuir os juros suportados. O
imposto sobre o rendimento, como seria esperado, aumentou e o Resultado Líquido, que era
negativo em N – 1, passou para positivo em N.
Pode constatar-se pelo Gráfico 8.1 o que foi referido na análise e salientar o bom
desempenho económico-financeiro da empresa.

Gráfico 8.1. Evolução dos rendimentos, gastos e resultado líquido


2500000
Ano N-1
1983324
1843358 1901164 1901206 Ano N
2000000

1500000

1000000

500000
58674
0
Rendimentos Operacionais Gastos Operacionais Resultado Liquido
-63970
-500000

Análise do Balanço

15
Possui menos de 50 trabalhadores e o volume de negócios ou o balanço não excedem os 10 milhões de euros e não está
classificada como Microempresa.

33

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O Ativo da empresa diminui 2% de N- 1 para N, sobretudo devido ao ativo corrente, o qual


diminuiu 7%. O ativo não corrente aumentou, o que significa que a empresa fez investimentos
em N. Relativamente ao Capital Próprio, este registou um aumento de 4% devido ao aumento
que o Resultado Líquido registou. O Passivo diminuiu, o que significa que a empresa está a
conseguir pagar as dívidas, não aumentando o seu endividamento. Saliente-se a diminuição dos
fornecedores em 33% e os financiamentos obtidos correntes em 66%. O Passivo não corrente
manteve-se estável.

Em seguida, construiu-se o Balanço Funcional da empresa.


Tabela 8.5: Balanço funcional
N-1 N
Capital Próprio (CP)
Capital realizado 750.000 750.000
Reservas e resultados transitados -217.496 -281.467
Outros componentes de capital próprio 1.046.974 1.043.163
Resultado Liquido do Período -63971 58674
Total do capital próprio 1.515.507 1.570.370
Passivo não corrente (PNC)
Provisões
Financiamentos obtidos 723.674 723.674
Responsabilidades por benefícios pós-emprego
Passivos por impostos diferidos 4.143 5.025
Outras contas a pagar
Total do passivo não corrente 727.817 728.699
Capital Permanente (CP + PNC) 2.243.324 2.299.069
Ativo Não-Corrente (ANC)
Ativos fixos tangíveis 810.386 911.309
Ativos intangíveis
Propriedades de investimento
Ativos biológicos
Participações financeiras – Met.Equiv.Patr.
Participações financeiras - outros métodos
Acionistas/sócios
Outros ativos não-correntes
Ativos por impostos diferidos
Investimentos Financeiros 2.883 2.688
Total do ativo não corrente 813.269 913.997
Fundo de Maneio (FM = Cap. Permanente – ANC) 1.430.055 1.385.072
Necessidades Cíclicas (NC)
Inventários 795.205 899.751
Ativos biológicos 324.221 347.760
Clientes 702.674 408.749
Adiantamento a fornecedores
Estado e outros entes públicos 65.983 11.841
Total das necessidades cíclicas 1.888.083 1.668.101
Recursos Cíclicos (RC)
Fornecedores 314.935 210.999
Adiantamentos de clientes
Estado e Outros Entes Públicos (IVA) 21.070 22.775
Total dos recursos cíclicos 336.005 233.774
Necessidades em Fundo de Maneio (NFM = NC - RC) 1.552.078 1.434.327
Tesouraria Liquida (TL = FM - NFM) -122.023 -49.255

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N-1 N
Tesouraria Ativa (TA)
Accionistas/sócios
Outras contas a receber 119.422 116.601
Estado e Outros Entes Públicos (IRC, SS, outros)
Diferimentos
Activos financeiros detidos para negociação
Outros activos financeiros
Activos não-correntes detidos para venda
Outros activos correntes
Caixa e depósitos bancários 15.414 88.678
Total da Tesouraria ativa 134.836 205.279
Tesouraria Passiva (TP)
Accionistas/sócios 26.881 32.875
Financiamentos obtidos 115.000 39.109
Outras contas a pagar 114.978 182.550
Estado e Outros Entes Públicos (IRC, SS, outros)
Diferimentos
Passivos financeiros detidos para negociação
Outros passivos financeiros
Passivos não-correntes detidos para venda
Outros passivos correntes
Total da Tesouraria Passiva 256.859 254.534
Tesouraria líquida (TL = TA - TP) -122.023 -49.255

Numa primeira análise pode constatar-se que o Fundo de Maneio diminuiu, sobretudo
porque o aumento do investimento não foi acompanhado, em proporções semelhantes, por
capitais permanentes. Apesar do Fundo de Maneio ser muito elevado, a empresa apresenta
necessidades cíclicas superiores e os recursos cíclicos são muito reduzidos. Esta necessidade de
financiamento do ciclo de exploração deve-se tipicamente às caraterísticas do setor que, em
regra, apresenta valores de inventários e ativos biológicos correntes, muito elevados. Um aspeto
menos positivo é o facto de o valor do saldo de clientes ser muito elevado. Contudo, saliente-se
que este valor diminuiu significativamente de N - 1 para N.

Para conseguir uma Tesouraria Líquida positiva, a empresa poderia tentar converter os
financiamentos bancários correntes em não correntes e negociar com alguns credores de forma a
converter algumas contas a pagar correntes em não correntes, ou seja, tentar aumentar os prazos
para a liquidação das suas obrigações.

Análise da Demonstração de Fluxos de Caixa

A empresa apresentou em N-1 uma variação de caixa e seus equivalentes negativa,


significando que saiu mais dinheiro da empresa do que entrou. Em N reverteu esta situação e
conseguiu ter um saldo positivo. A grande diferença residiu nas atividades operacionais cujo
valor foi negativo em N-1 e positivo em N. Esta situação poderá explicar-se pelo aumento das
vendas ou por uma gestão mais eficaz de cobranças, como se constatou no balanço funcional, os

35

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valores a receber de clientes diminuíram significativamente. Nas atividades de investimentos,


verifica-se um aumento do investimento em N financiado pelas atividades operacionais. Esta
justificação deve-se ao facto de nas atividades de financiamento, em ambos os anos, existirem
recebimentos e pagamentos idênticos de valores elevados, mantendo-se o endividamento estável
nos dois anos.

Análise dos rácios

Apresentam-se vários rácios, considerando que a taxa de IVA praticada nas vendas e nas
compras e, em média, nos FSE foi de 13%, e que o valor das compras de N-1 foi de
613.912,50 e em N de 691.509,74 .
Tabela 8.6: Rácios
N-1 N
Rácios de Estrutura Financeira
Autonomia Financeira (CP / (Passivo +CP)) 0.53 0.56
Endividamento (Passivo / (Passivo + CP)) 0.47 0.44
Estrutura do Endividamento (PC / Passivo) 0.45 0.40
Solvabilidade (CP / Passivo) 1.15 1.29
Rácios de Liquidez
Liquidez Geral (AC / PC) 3.41 3.84
Liquidez Reduzida ((AC - Inventários - At. Biológicos) / PC) 1.52 1.28
Liquidez Imediata (Caixa e DB / PC) 0.03 0.18
Rácios de Financiamento
Peso do Passivo Remunerado (Financ. Obtido / Passivo) 0.64 0.63
Custo do Financiamento Obtido (Juros suport. / Financ. obt.) 0.006 0.004
Juros suportados /EBITDA 0.08 0.02
Rácios de Rentabilidade
Rentabilidade do Capital Próprio (RL / (CP)) -0.04 0.04
Rendibilidade do Activo (EBITDA / Ativo) 0.02 0.08
Rentabilidade das Vendas (RO / (V + P5)) -0.03 0.04
Rácios de Atividade
Prazo Médio de Recebimento (dias) - PMR 126 68
Prazo Médio de Pagamento (dias) - PMP 92 62
Prazo Médio de Inventário (dias) - PMI 666 808
Rácios de Risco
Grau de Alavanca Operacional (GAO) -12.30 11.95
Grau de Alavanca Financeiro (GAF) 0.92 1.04
Grau de Combiando de Alavanca (GCA) -11 12

Da análise dos rácios, constata-se que a empresa, de um ano para o outro, diminuiu a
sua dependência dos capitais alheios, reforçando os capitais próprios (aumento da autonomia
financeira e diminuição do endividamento), e que ocorreu uma diminuição do peso do passivo
corrente. No que concerne à liquidez, a empresa apresenta valores elevados, não apresentando,
assim, sinais de falta de liquidez. O peso dos financiamentos obtidos no total do passivo é
elevado em ambos os anos, mas, em contrapartida, o custo é muito reduzido (0,4% em N). Os
rácios de rendibilidade demonstram o efeito do resultado líquido negativo em N-1, passando a
positivo em N. A empresa está a receber e a pagar mais cedo, o que reforça a existência de
liquidez. No entanto, o período de permanência dos inventários na empresa é muito elevado

36

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(superior a 2 anos). Pelas caraterísticas do setor (vinho), poderá ser normal; no entanto, dever-
se-ia procurar junto dos gestores uma explicação para o aumento deste rácio.

Pelo facto de o resultado operacional ser negativo, o GAO apresenta-se também


negativo em N-1, passando, em N, a positivo. De qualquer modo, nos dois anos a empresa é
muito sensível a uma variação de 1% das vendas (irá variar -12% ou +12% nos resultados
operacionais). O GAF é pouco sensível, uma vez que os juros suportados são muito reduzidos.
O GCA é influenciado essencialmente pelo GAO, sendo que a atividade financeira tem pouca
expressão nesta empresa.

Considerando que para as pequenas empresas do sector, em N, a média da autonomia


financeira é de 0,44, a rendibilidade dos capitais próprios é de 0,04, o volume de negócios é de
835.000 e o resultado líquido é de -73.000 , verifica-se que a empresa em análise está acima
dos indicadores do setor.

Conclusões

O ano N-1 não foi favorável à empresa. Foi um ano em que suportou um custo de produto
muito elevado e não conseguiu obter lucro. Apesar de ter uma autonomia financeira e rácios de
liquidez positivos, ao nível da rendibilidade a empresa apresentou rácios negativos.

No ano N a empresa recuperou ao nível económico, aumentando as vendas e as margens,


obtendo um resultado líquido positivo, que representa 3% do volume de negócios. Também ao
nível do balanço, a empresa registou várias melhorias, quer ao nível da diminuição do saldo de
clientes, quer ao nível da diminuição do passivo. Saliente-se que neste período de redução de
dívida, a empresa aumentou o seu investimento (ativo não corrente). Relativamente aos rácios,
existe uma melhoria de quase todos os indicadores, quer ao nível da estrutura financeira, da
liquidez, do funcionamento e do risco. A empresa reforçou a autonomia financeira, aumentou os
rácios de liquidez, diminuiu o custo de financiamento, diminui os prazos de pagamento e
recebimento e diminuiu o risco operacional.

Pela análise elaborada, pode constatar-se que a empresa apresenta solvabilidade, liquidez, é
rentável, está em equilíbrio financeiro e está a criar valor.
Em suma, a empresa tem um bom desempenho económico e uma sólida situação financeira.

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Descarregado por António Barbosa (miguel_v_barbosa@hotmail.com)

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