Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Clima e Estrategia Internacional COP27
Clima e Estrategia Internacional COP27
estratégia
internacional:
Novos rumos
para o Brasil
Ideias para discussão
Adriana Abdenur
Izabella Teixeira
Jaques Wagner
Pedro Abramovay
Prefácio:
Celso Amorim
novembro de 2022
Sobre o documento
O documento “Clima e estratégia internacional: novos
rumos para o Brasil”, resultado de consultas com 70 atores
de diversos setores, aponta caminhos para uma estratégia
que alie ação climática ao desenvolvimento inclusivo e
sustentável, assim como a defesa do multilateralismo e de
uma governança global justa e efetiva.
Resumo Executivo 7
Para além do desmatamento: uma nova visão para a Amazônia e outros biomas
ameaçados 28
Governança 66
Clima e estratégia internacional
Prefácio
O presente documento, construído com base em dezenas de consultas com atores de diversos
setores da sociedade brasileira, fornece insumos para que o clima tenha centralidade na
estratégia de inserção internacional do Brasil. Mais especificamente, o texto traz três
colocações essenciais. O clima não é mais um nicho, tem de ser transversal inclusive no
plano internacional. Nesse sentido, o documento mostra como o clima pode ser incorporado
em iniciativas de cooperação internacional, seja no plano bilateral, regional ou global. Em
segundo lugar, o documento convida a pensar como a atuação internacional deve refletir
e alimentar políticas domésticas. Defende, por exemplo, uma concepção de transição
justa e soberana construída a partir das peculiaridades do contexto brasileiro, permitindo
que o Brasil se posicione sobre um tema que, nos espaços globais, tem sido pautado
predominantemente pelos países industrializados. Por fim, o texto reforça a necessidade de
retomarmos os canais de diálogo entre a sociedade civil e o Estado para debate e formulação
da política externa. Esse processo se beneficiará do fato de que as organizações, institutos
e universidades brasileiras que trabalham com o tema do clima nunca estiveram tão bem
capacitados e coordenados para prover conhecimentos e inovações.
Com isso, o documento serve de convite para se pensar um Brasil mais justo e uma governança
global mais democrática, que faça uso do multilateralismo e da cooperação internacional
para enfrentar de maneira mais eficaz os desafios contemporâneos comuns, incluídos
aqueles impostos pelas mudanças climáticas.
Celso Amorim
5
Clima e estratégia internacional
Resumo Executivo
7
Clima e estratégia internacional
8
Clima e estratégia internacional
defesa de uma ordem global multipolar, a começar por uma Cúpula sobre a
democrática e justa, lastreada no respeito Amazônia, passando pelo G20, o IBAS, o
ao direito internacional e que atenda as BRICS e, possivelmente, uma nova COP
demandas, realidades e prioridades dos do clima. Essa sequência de grandes
países em desenvolvimento, inclusive no eventos internacionais representa uma
que diz respeito ao clima e meio ambiente. oportunidade para pautar as agendas
Em ambas vertentes, a doméstica e a de diversos espaços multilaterais,
internacional, a tomada de decisão deve chegando em 2026 com uma estratégia
levar em conta o conceito de justiça internacional renovada e bem consolidada.
climática: o reconhecimento de que, Será essencial que o Brasil defina temas
embora as mudanças climáticas constituam prioritários para cada espaço, de forma a
um problema global, seus efeitos não avançar, progressivamente, uma agenda
são sentidos da mesma forma por todos, multilateral ampla, coerente e propositiva
inclusive em termos de geografia, gênero na direção de uma ordem global multipolar.
e raça. Portanto, mais esforços e recursos
devem ser empenhados para a promoção da O documento foi elaborado a partir de
mitigação e adaptação climática de forma a 70 consultas bilaterais realizadas com
garantir os direitos das pessoas, populações tomadores de decisão e outros atores de
e países mais vulneráveis à mudança do todos os setores — órgãos governamentais,
clima. No plano internacional, isso requer sociedade civil, setor privado, finanças
calibrar o princípio das responsabilidades e organizações internacionais — em
comuns porém diferenciadas (consagrado diferentes regiões do Brasil. O texto será
na Rio 92, e que determina que os países lançado no Brazil Climate Action Hub,
desenvolvidos devem arcar com os espaço idealizado e administrado pela
custos maiores para o desenvolvimento sociedade civil na 27a Conferência das
sustentável) de forma a pleitear a expansão Partes da Convenção-Quadro das Nações
da cooperação climática, sem torná-lo Unidas sobre Mudança do Clima (COP27), a
um escudo contra a adoção de posturas ser realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito,
responsáveis no enfrentamento da crise. em novembro de 2022.
Ao mesmo tempo, será essencial combater
o negacionismo climático que se encontra Após quatro anos de forte retração do Brasil
profundamente enraizado na América nos debates e iniciativas internacionais,
Latina e Caribe por uma extrema-direita inclusive na área de clima, e de promoção
altamente organizada, inclusive de forma de um projeto negacionista, anti-ambiental
transnacional, e que constitui grave ameaça e anti-direitos humanos, a COP27 servirá de
à democracia e aos direitos humanos no palco para que um novo ciclo brasileiro seja
Brasil e na região. anunciado. Esperamos que o documento
sirva como convite para um debate
Entre 2023 e 2026, o Brasil pode sediar qualificado sobre quem deve ser o Brasil
uma série de conferências internacionais, na área do clima e política internacional.
9
Clima e estratégia internacional
10
Clima e estratégia internacional
11
Clima e estratégia internacional
12
Clima e estratégia internacional
13
1
Pano de fundo: turbulência
geopolítica e transformação
da ordem global
Clima e estratégia internacional
1 Os últimos anos no Brasil e no mundo foram de aprofundamento da desigualdade, o que foi intensificado com a pandemia
de covid-19. A nível internacional, de acordo com o relatório do World Inequality Lab (https://wir2022.wid.world/),
desde 2019 há um visível processo de concentração de renda. No Brasil, a ampliação da desigualdade e da pobreza vem
acompanhada da expansão da fome. De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da
Pandemia da Covid-19 no Brasil, 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, um aumento de 70% no número de pessoas
em insegurança alimentar grave desde 2020. Fonte e mais informações: https://bit.ly/3NFj0Bl.
15
Clima e estratégia internacional
16
2
A crise do multilateralismo e
da integração regional
Clima e estratégia internacional
A crise do multilateralismo e da
integração regional
Grandes movimentos tectônicos da ter desempenhado papel importante na
geopolítica ocorrem justamente em um resposta à crise financeira internacional
momento em que o multilateralismo de 2009, já vinham perdendo fôlego como
enfrenta uma crise de legitimidade, com espaços de coordenação entre as maiores
ampla erosão da ordem global cooperativa economias do mundo —, correm o risco de
e baseada no respeito ao direito serem ainda mais debilitados por disputas
internacional e à Carta da ONU. A eleição políticas, em especial em torno da Rússia.
de Donald Trump à presidência dos Estados Por fim, espaços de governança liderados por
Unidos em 2016 inaugurou um período de países do Sul Global também encontram-se,
ataques contundentes às Nações Unidas em grande medida, enfraquecidos, inclusive
e demais organizações multilaterais que devido aos impactos desproporcionais
compõem a governança global — retórica da pandemia de Covid-19 sobre suas
que inclui o negacionismo climático e que economias, que enfrentam altas taxas
continua sendo propagada por governos e de inflação, redução do crescimento e
grupos de extrema-direita em diferentes aumento do endividamento, entre outros
regiões do mundo, do Sudeste Asiático à efeitos. Divergências políticas entre
Europa e América Latina. membros e rivalidades extrarregionais,
como tentativas de contenção da ascensão
Esses desafios políticos se somam a da China por parte de outras potências
gargalos práticos enfrentados pelas mundiais, além das reações à recente
instituições multilaterais, incluindo a invasão da Ucrânia pela Rússia, também
recente incapacidade de assegurar a minam a eficácia de canais de cooperação
distribuição equitativa, solidária e justa de e coordenação política Sul-Sul outrora
vacinas, de tratamentos e de equipamentos eficientes, tais como o G7, o BRICS (Brasil,
necessários para o enfrentamento da Rússia, Índia, China e África do Sul) e o
pandemia de Covid-19. Além disso, as IBAS (Índia, Brasil e África do Sul).
dificuldades enfrentadas pela ONU para
prevenir ou resolver conflitos armados Na América do Sul especificamente, o
de maneira duradoura, explicitadas nos enfraquecimento da integração regional
últimos anos pelas guerras na Síria e, mais resulta não apenas de diferenças
recentemente, na Ucrânia, enfraquecem a políticas entre Estados, mas também
credibilidade da organização e ressaltam da falta de lideranças comprometidas
a necessidade de reforma do Conselho de com a cooperação internacional. A falta
Segurança, cujo modo de operação tem de confiança mútua atual se reflete no
se mostrado obsoleto para exercer de subaproveitamento ou, até mesmo, no
maneira eficaz a função de manter a paz e sucateamento dos espaços de cooperação,
a segurança internacionais. incluindo o Mercosul e a Unasul. E novas
iniciativas, tais como o Acordo Regional
Ao mesmo tempo, arranjos outrora ágeis, sobre Acesso à Informação, Participação
tais como o G7 e o G20 — que, apesar de Pública e Acesso à Justiça em Assuntos
18
Clima e estratégia internacional
19
3
Uma nova diplomacia
climática
Clima e estratégia internacional
21
4
Desgastes do negacionismo
climático
Clima e estratégia internacional
Além de causar enorme destruição alarde não apenas entre outros Estados —
ambiental e minar o bem-estar dos para os quais o Brasil de Bolsonaro fechou
brasileiros, o governo Jair Bolsonaro as portas a favor de uma submissão cega
levou o Brasil — historicamente, um país a Washington durante a administração
proativo e construtivo nos debates globais de Donald Trump — mas também entre os
— a perder credibilidade e espaço no plano segmentos da sociedade que valorizam
internacional. Ao promover o desmonte cada vez mais a proteção do meio ambiente
das instituições federais encarregadas da e a ação climática. Ao mesmo tempo, os
proteção ambiental; ao atacar os órgãos ataques ao multilateralismo e o rompimento
que produzem dados, ciência e pesquisa; com princípios da Constituição que regem
ao se esforçar para legalizar crimes como a política externa brasileira colocaram o
a grilagem de terras públicas, o garimpo Brasil na contramão da integração regional
ilegal e a exportação de madeira extraída e da cooperação internacional. É urgente
ilegalmente; ao alimentar o negacionismo que essa realidade seja modificada e que
climático; ao fazer vista grossa às violações uma estratégia sólida e a longo prazo seja
de Direitos Humanos, incluídos os ataques elaborada.
violentos aos defensores sócio-ambientais; e
ao desmantelar mecanismos de cooperação A retração do Brasil nos debates globais
internacional pela proteção ambiental, como e na cooperação internacional se dá
o Fundo Amazônia, a atual gestão rompeu justamente em um momento em que
parcerias e laços de confiança que o Brasil a emergência climática se aprofunda.
havia construído ao longo do último século. Hoje, é amplamente reconhecido que,
Ao mesmo tempo, a retração na cooperação longe de representarem ameaça isolada,
internacional — fonte importante de as mudanças climáticas agravam todos
trocas, parcerias e inovações nas políticas os principais desafios enfrentados pela
públicas — acabou por minar a soberania humanidade, incluídas a erradicação
nacional, na medida em que reduziu a da fome e pobreza e o desenvolvimento
capacidade de negociação do país. Os novos sustentável. A elevação do nível dos mares,
picos no desmatamento e nas queimadas, a acidificação dos oceanos, as alterações
especialmente na Amazônia e no Cerrado, nos padrões pluviais, o agravamento das
provocaram forte reação negativa, tanto no secas, a desertificação e a intensificação
Brasil quanto fora do país4. dos eventos climáticos extremos, entre
outros fenômenos, já reduzem a produção
A política anti-ambiental, negacionista e a disponibilidade de alimentos,
e desumana do governo Bolsonaro causa interrompem meios de subsistência,
4 Sobre o desmonte institucional ambiental, a ampliação de crimes ambientais e a ampliação da violência contra defensores
sócio-ambientais durante o governo Bolsonaro, ver “Brasil: 100 dias de destruição”, relatório produzido pelo Observatório
do Clima (disponível em: https://bit.ly/3sT07Bt), “Crimes ambientais como crime organizado: a extração ilegal do ouro na
Amazônia”, relatório estratégico da Plataforma CIPÓ (disponível em: https://bit.ly/3h7CLp3).
23
Clima e estratégia internacional
24
5
Resgatando a credibilidade
internacional
Clima e estratégia internacional
26
Clima e estratégia internacional
por uma estratégia de longo prazo. A uma nova coalizão entre Brasil, República
descarbonização rumo a uma economia Democrática do Congo e Indonésia (BIC),
de baixo carbono é um dos elementos com o potencial de agregar novos membros
centrais dessa estratégia. Uma das no futuro, ofereceria um espaço para que
primeiras medidas deve ser anunciar uma países em desenvolvimento que enfrentam
Contribuição Nacionalmente Determinada desafios semelhantes no que concerne
(NDC) mais ambiciosa e acompanhada de às áreas de floresta possam compartilhar
estratégia crível e transparente de redução experiências para a promoção de cadeias de
de emissões. O Brasil também deve retomar a produtos florestais livres de desmatamento
cooperação bilateral com países parceiros e e mobilizar apoio por recursos voltados às
fomentar o aprimoramento de mecanismos áreas de floresta tropical. O lançamento da
de captação de doações para investimento coalizão BIC enviaria uma forte mensagem
internacional em ações de enfrentamento de que as soluções para as florestas
ao desmatamento e de preservação da tropicais devem ser encabeçadas por países
biodiversidade, comunicando, inclusive, a tropicais, mesmo que alianças com países
intenção de reativação imediata do Fundo ricos sejam necessárias para assegurar
Amazônia. Todas essas ações, assim a idoneidade do comércio internacional
como outras detalhadas mais adiante no em commodities que pressionam essas
presente documento, serão fundamentais florestas.
não apenas para resgatar a credibilidade
política, mas também para atrair novos Em todos esses espaços, é necessário
investimentos à região. enfatizar uma nova visão da soberania
nacional -- uma “soberania com
O Brasil deve, ainda, demonstrar responsabilidade”-- que contrasta com
liderança para criação de novos arranjos a perspectiva do atual governo: mais
cooperativos, por exemplo, em torno da especificamente, será necessário promover
proteção das florestas, junto a outros a ideia de que, quando construída com
países em desenvolvimento que possuam respeito, a cooperação internacional é um
biomas semelhantes, em consonância instrumento essencial no fortalecimento
com a Declaração de Líderes de Glasgow da soberania brasileira, pois amplia as
sobre Florestas e o Uso da Terra. Por capacidades do país de negociação nos
último, é importante que o Brasil espaços internacionais.
retome seu engajamento propositivo e
construtivo nos fóruns multilaterais e em
negociações globais sobre clima e meio
ambiente, inclusive nas COPs sobre clima
e biodiversidade, enfatizando que a agenda
climática vai bem além da mitigação. Do
ponto de vista da cooperação Sul-Sul com
países de fora da região, iniciativas como
27
6
Para além do
desmatamento: uma nova
visão para a Amazônia e
outros biomas ameaçados
Clima e estratégia internacional
5 Mais informações e dados sobre a Amazônia Legal podem ser encontrados no relatório da Amazônia 2030, disponível
em: https://bit.ly/3U4BH3S.
29
Clima e estratégia internacional
30
Clima e estratégia internacional
6 Neste documento, seguimos o conceito de justiça climática discutido no livro “Quem precisa de Justiça climática no
Brasil?” (Disponível em: https://generoeclima.oc.eco.br/lancamento-quem-precisa-de-justica-climatica-no-brasil/). O
livro aponta que o conceito, consagrado no Acordo de Paris de 2015, está intimamente ligado a questões de equidade
e responsabilização, com ênfases marcadas em raça, gênero e geografia (norte x sul). Consta no livro que: A justiça
climática propõe que as mudanças climáticas sejam analisadas e combatidas com o viés da responsabilização daqueles
que efetivamente deram causa ao desequilíbrio constatado e que possuem mais condições de enfrentá-las - principalmente
países e empresas do Norte Global -, evitando-se, assim, a socialização dos ônus climáticos e a privatização dos bônus.
Em outras palavras, significa que aqueles que, historicamente, se beneficiaram e se desenvolveram com as emissões de
gases de efeito estufa acumulados até hoje na atmosfera não podem compartilhar com os demais a responsabilidade pelos
prejuízos e impactos das mudanças climáticas”.
31
7
A defesa da transição justa
e soberana
Clima e estratégia internacional
33
Clima e estratégia internacional
34
Clima e estratégia internacional
35
Clima e estratégia internacional
36
8
O Brasil nas Conferências
das Partes (COPs)
Clima e estratégia internacional
Desde o princípio do regime global climático, Além disso, o contexto planetário mudou de
o Brasil desempenha um papel propositivo forma considerável. A ciência mostra que a
e construtivo nas negociações sobre meio crise climática agravou-se, representando
ambiente, muitas vezes sendo visto como hoje um problema existencial para a
líder entre países em desenvolvimento. humanidade. Mais do que nunca, é preciso
Sediou, em 1992, a primeira Conferência que todos os países emissores aumentem
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente suas ambições climáticas, tanto em
e Desenvolvimento (Eco-92) e a Rio+20, termos de mitigação quanto de adaptação,
realizadas no Rio de Janeiro em 1992 e 2012. mesmo que os países industrializados
Participou ativamente das negociações em tenham responsabilidade maior devido
torno do Protocolo de Kyoto, firmado em às suas emissões cumulativas. Por isso,
1997, da Agenda 2030 de Desenvolvimento o Brasil, como economia emergente e
Sustentável e do Acordo de Paris, em em coerência com um novo modelo de
2015. Além disso, desempenhou papel desenvolvimento sustentável, ambiciona
fundamental na construção dos Objetivos estabelecer, sem mais retrocessos, uma
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da trajetória inclusiva de neutralização de
Agenda de Adis Abeba para o Financiamento emissões e de descarbonização da sua
do Desenvolvimento Sustentável. Em economia. É fundamental, portanto, que
2015, o Brasil foi o primeiro país em o país anuncie, de maneira célere, uma
desenvolvimento a assumir, em sua NDC, NDC mais ambiciosa, acompanhada de um
com o compromisso de redução absoluta plano de redução de emissões passível de
de emissões de gases de efeito estufa no monitoramento pela sociedade brasileira
agregado da economia. e internacional.
No entanto, nos últimos anos as ambições Uma atuação mais proativa por parte de
climáticas do Brasil retrocederam (no um eventual novo governo eleito — não
caso do desmatamento) ou estagnaram; apenas com autoridades de outros países,
o país fechou sua participação na COP26 mas também com a sociedade civil e o setor
(Glasgow) com o mesmo compromisso privado — deve ter como base não apenas
assumido em Paris há sete anos — ou seja, o Acordo de Paris, mas também outros
mantendo o mesmo nível de ambição de compromissos assumidos desde então. Em
2015. Dado o objetivo de manter o aumento Glasgow, por exemplo, o Brasil apresentou
da temperatura do planeta em até 1,5°C diretrizes para a agenda estratégica
comparado a níveis pré-industriais, esse voltada à neutralidade climática, como a
patamar não condiz com o potencial do meta de zerar o desmatamento ilegal até
Brasil de contribuir para a ação climática 2028; restaurar e reflorestar 18 milhões de
e com o compromisso assumido de hectares de florestas até 2030; alcançar,
adotar metas de redução de emissões em 2030, a participação de 455 a 50%
progressivas. das energias renováveis na composição da
matriz energética; recuperar 30 milhões
38
Clima e estratégia internacional
39
Clima e estratégia internacional
40
Clima e estratégia internacional
41
Clima e estratégia internacional
42
9
A cooperação internacional
e Sul-Sul
Clima e estratégia internacional
44
10
O clima como a base para a
integração na América Latina
e Caribe
Clima e estratégia internacional
46
Clima e estratégia internacional
47
Clima e estratégia internacional
ambiente e direitos humanos com o objetivo a construção da vida digna. Com estes
de construir uma democracia ambiental países, o Brasil pode avançar em políticas
regional, contando com o Mecanismo não apenas de cooperação bilateral, com
Público Regional e com a Conferência das ênfase nas agendas de transição energética
Partes, mecanismos fundamentais para e de extrativismo sócio-ambientalmente
garantir a participação da sociedade civil responsável, mas também podem na
na agenda e atualizar a agenda climática. revitalização dos organismos regionais
Por isso, além de sua ratificação urgente de integração. Nas ruas, nas urnas e nos
pelo Congresso Nacional, é fundamental gabinetes, o clima é de mudança.
que o acordo seja utilizado pela política
externa brasileira como um instrumento No entanto, a América do Sul ainda sofre
para ampliar a cooperação e coordenação com a falta de financiamento para a
regional no avanço da agenda climática e implementação de políticas públicas. Se,
dos direitos humanos na América Latina. durante a onda rosa, o projeto de integração
Por exemplo, Escazú deve ser mobilizado física e infraestrutural foi capitaneado pelo
para fomentar a cooperação regional para Brasil e financiado predominantemente
prevenção, monitoramento e resposta a pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
fluxos migratórios associados às mudanças Econômico e Social (BNDES), hoje o cenário
climáticas, com foco na produção de dados é outro. A ausência de bancos regionais
transparentes e atualizados e na proteção, com condição de financiar os projetos,
acesso à justiça e garantia de direitos seja por escassez de recurso ou falta de
e de pessoas deslocadas. O espaço de planejamento climático — e o desmonte
Escazú também pode ser alavancado para da construção do Banco do Sul, um dos
lançar uma iniciativa regional de educação grandes projetos propostos pelos setores
ambiental e climática, com o objetivo de progressistas durante a chamada onda rosa
combater o negacionismo e conscientizar a — ampliaram a lacuna entre demandas e
população da América Latina e Caribe aos recursos para lidar com a crise climática na
impactos da crise ecológica e a importância região. Será necessário, portanto, recorrer
da busca por soluções colaborativas. à cooperação com atores de fora da região,
tanto no plano bilateral quanto em termos
A região vive um novo momento político. de agências de desenvolvimento.
Além de novos governos progressistas
no poder, surgem também conteúdos Em todos esses espaços de cooperação,
programáticos inovadores, inclusive na um fator cada vez mais palpável na
área climática. As eleições de Gabriel Boric, configuração geopolítica da região é a
no Chile, e de Gustavo Petro, na Colômbia, crescente rivalidade entre a China e os
foram precedidas (e orientadas) por Estados Unidos. Na agenda climática,
amplas manifestações que reivindicavam, é especialmente importante que a
entre diversas outras coisas, uma relação região esteja politicamente coordenada
menos predatória para a natureza para para negociar com ambos atores,
48
Clima e estratégia internacional
49
11
A cooperação com
parceiros africanos e
asiáticos
Clima e estratégia internacional
51
Clima e estratégia internacional
Mobilizar o Novo Banco dos BRICS (NDB) multiétnicas, que também são lideranças
e garantir que a instituição seguirá regionais em seus respectivos continentes,
elevados padrões socioambientais em poderia ser reformulada como um “IBAS do
seus investimentos será essencial para o clima”, centrado na cooperação climática e
financiamento de tais iniciativas. Além ambiental em temas como biodiversidade,
disso, o Brasil deve explorar laços de energias renováveis e gestão de recursos
cooperação em infraestrutura sustentável, hídricos, mas tendo como elemento central
políticas industriais verdes e digitalização a proteção dos oceanos, posto que a coalizão
inclusiva, complementando esforços já inclui um forte componente marítimo
nos quais o Brasil já possui tradição (até hoje, tocado pelas três Marinhas) e
na sua cooperação Sul-Sul, tais como considerando que os três países possuem
saúde, educação, ciência e programas de regiões costeiras gigantescas.
transferência de renda.
Nossas parcerias estratégicas, como a
A ampliação dos acordos comerciais, África do Sul e os PALOPs, devem ser
seja no plano bilateral (como os acordos revitalizadas estrategicamente. Os termos
de complementação econômica) seja de cooperação em transição energética
via acordos por blocos e organizações justa da África do Sul com Estados
regionais, devem necessariamente Unidos, Reino Unido, Alemanha e União
contar com cláusulas ambientais. Já que Europeia podem servir de inspiração para
as relações entre o Brasil e África são o caminho brasileiro. Deve haver, também,
pautadas em agendas centrais para clima prioridade na construção de novas agendas
e meio ambiente, é fundamental garantir com os países do Golfo da Guiné, espaço
cláusulas ambientais que tracem metas estratégico para cooperação securitária
atualizadas ligadas à descarbonização e com o Brasil em função da expansão da
à adaptação. Neste sentido, os acordos de pirataria na região e região chave para a
cooperação e facilitação de investimentos cooperação política.
(ACFI), desde que formulados de forma
responsável, podem ser instrumentos No Oriente Médio, tanto o Egito quanto
importantes. os Emirados Árabes — que sediarão,
respectivamente, a COP27 e a COP28,
No plano político, a África do Sul, sinalizam sua intenção em reforçar seus
especificamente, tem sido e deverá laços de cooperação na área climática.
continuar sendo parceira essencial do Com o primeiro — maior destino para
Brasil para avançar pautas caras ao Sul exportações comerciais do Brasil na região
nos debates globais sobre clima, muitas — será possível diversificar para além das
vezes em triangulação com a Índia (ou, trocas comerciais e explorar a cooperação
dependendo do tema, por meio da geometria em áreas de interesse comum no âmbito do
mais ampla do BASIC). A colaboração clima, tais como o combate à desertificação
entre essas três grandes democracias e a soberania alimentar. Com os Emirados
52
Clima e estratégia internacional
53
Clima e estratégia internacional
54
12
A cooperação em clima com
os países industrializados
Clima e estratégia internacional
56
Clima e estratégia internacional
57
13
O Sul, o clima e a
governança global
Clima e estratégia internacional
59
Clima e estratégia internacional
60
Clima e estratégia internacional
61
Clima e estratégia internacional
62
14
O Brasil possui plena
capacidade para resgatar e
ampliar o seu legado
Clima e estratégia internacional
64
Clima e estratégia internacional
65
15
Governança
Clima e estratégia internacional
Governança
67
Clima e estratégia internacional
68
Sobre a CIPÓ
Créditos
https://plataformacipo.org