Você está na página 1de 18

ART. 550.

A atual redação provém do Dec.-Lei n.º 38/2003, de 8 de março.


2. Quando se aplicar a regra geral do n.º 2 do art. 543.º, e o devedor não esco-
lher dentro do prazo, o credor apenas poderá, parece, formular pedidos altema-
tivos (art. 553.°, CPC), só se lhe permitindo a escolha na fase executiva, nos ter-

mos do art. 714.º, CPC. Trata—se de regime diverso do anterior, mais económico,
mas não mais protetor do credor.

ANA PRATA

ARTIGO 549.“ - Escolha pelo credor uu por terceiro


à acolha que o credor ou terceiro deve efetuar é aplicável o disposto no
artigo 542.º.

l. A remissão aqui consagrada respeita à declaração de escolha e seu(s)


desu'natário(s). Quanto ao momento da respetiva eãcácia, v. anotação a0 art.

S42.º.

Mas a remissão, quando a escolha caiba ao credor e ele a não faça “dentro
2.

do prazo estabelecido ou daquele que para o efeito lhe for fixado pelo devedor”,
implica que a faculdade se devolva ao devedor.
3. E, seja o credor ou terceiro a escolher, a escolha eficaz é irrevogável.

ANA PRATA

SECÇÃO VI - Obrigações pecuniárias

Bibliografia geral: A. VAZ SERRA, “Obrigações pecuniárias” in BM] n." 52, 1956, pp. 5
a 337; MANUEL DE ANDRADE, “Obrigações pecuniárias” in RL] n.º 77, 1944, pp. 17 a 20,
33 a 36, 49 a 52, 65 a 67, 81 a 83, 225 a 228, 241 a 244, 353 a 357; I. BAPTISTA MACHADO,
“Nominalismo e indexação” in RDES n.º 24, 1977, pp. 49 a 77; FRANCISCO MENDES Con-
REIA, Maeda bancária e cumprimento. O cumprimento das obrigaçõespecuníárias através de servi-
ços depagamenta, Coimbra, Almedina, 2017 (no prelo).

SUBSECÇÃU I- obrigações de quantidade

ARTIGII 550.“ - Princípio nominalista

O cumprimento das obrigações pecuniárias faz—se em moeda que tenha


curso legal no Pais à data em que for efetuado e pelo valor nominal que a
moeda nesse momento tiver, salvo estipulação em contrário.

705

Codlgo Civil Anotada — volume (Ana Prehflndd 705


l
29/05/17 18:43
mmo 11 -
TÍTULO I
— DAs OBRIGAÇOES EM GERAL

1. Obrigações pecuniárias são as que, tendo por objeto uma prestação em


dinheiro, visam proporcionar ao credor o seu valor. É neste que reside o inte—

resse do credor. O que se entrega só corresponde à prestação devida se e na


medida em que incorpore esse valor. Assim, não são verdadeiras obrigações de
entrega de coisa. Quando estas existam, o que sucede, p. ex., quando alguém se
vincula a entregar certas moedas especificas a um numismata, a obrigação não
é pecuniária. A obrigação pecuniária é uma obrigação genérica. Pode mesmo
afirmar-se que é a mais genérica das obrigações. É um tem'um genus, entre as
prestações de dare e defacere, correspondendo-lhe uma modalidade de ação exe-
cutiva própria: a ação para pagamento de quantia certa (arts. 724.º e ss., CPC), a
que se opõem as ações para entrega de coisa certa (arts. 859.º e ss., CPC) e para
prestação de facto (arts. 868.º e ss., CPC).
Também não é uma obrigação pecuniária a obrigação cuja prestação não se
defina (ainda) pela ãxação de uma quantia em dinheiro, antes se reportando
diretamente à disponibilização do valor económico de uma outra realidade, a
liquidar mais tarde. É o caso, p. ex., da obrigação de indemnizar, quando ainda
se desconhece o valor dos danos, apenas se sabendo que a indemnização cor-

responderá à medida da diferença entre a situação do lesado com e sem os


danos (art. 566.º, n.º 2). A dívida de valor terá, mais cedo ou mais tarde, de ser
liquidada, p. ex., por via de uma sentença, convertendo—se então em obrigação
pecuniária. Só então passarão a ser-lhes aplicáveis o princípio do curso legal e o
princípio nominalista consagrados no preceito em análise.
De entre as obrigações pecuniárias, a subespécie economicamente mais
expressiva de longe, a das obrigações de quantidade, cujo conteúdo apenas
é,

é definido pela indicação da quantia em dívida, sem se determinar as espécies


monetárias com que a prestação pode ser feita. Se, além da quantia ou, em vez da
quantia, se estabelece a espécie monetária a ser usada como meio de pagamento
ou o respetivo metal, a obrigação pecuniária é em moeda especifica. Esta pode
ter curso legal no nosso país e/ou no estrangeiro, e pode ainda não ter curso
legal em parte alguma (v. os arts. 552.° a 558.°).
As referências legais a “moeda” ou a “dinheiro” podem assumir dois sentidos
distintos: (í) medida de valor; (ii) meio de pagamento. Quando neste preceito

se faz referência a0 cumprimento “em moeda” (etc.), o termo é usado apenas


como meio de pagamento. Quando o preceito refere o “valor nominal que a
moeda nesse momento úvelº', esta já releva também enquanto medida de valor.
Quando, p. ex., o art. 566.°, n.° 1, determina que, na obrigação de indemnizar,
a indemnização é fixada “em dinheiro”, o termo é usado apenas com o senu'do
de medida de valor; quando o n.º 1 do art. 623.“ faz referência a0 “depósito de
dinheiro”, o que está em causa já é o dinheiro enquanto meio de pagamento.

1706

Codigo Civil Amhdo — volume I (Ana Prah).lndd 706 29/05/17 18:43



ART. 550.“

2. O preceito em análise regula o modo de cumprimento das obrigações


pecuniárias. Nele estão consagrados dois princípios: (i) o princípio do curso
legal (Lª parte); e(ii) o princípio nominalista (2.“ parte). Decorre do primeiro

que só vale como cumprimento o pagamento que tenha por objeto “moeda que
tenha curso legal” em Portugal à data em que é feito. Tem curso legal a moeda
a que o Estado reconheça função liberatória genérica, ou seja, cuja aceitação
enquanto meio de pagamento de obrigações pecuniárias seja obrigatória para

todos, tendo a sua rejeição pelo credor como consequência a constituição em


mora (art. 813.°).

Atualmente a moeda com curso legal em Portugal é o euro (€), conforme o


disposto nos Regulamentos (CE) n.° 1103/97, de 17 de junho de 1997, e n.° 974/
/98, de 3 demaio de 1998. De acordo com o art. 2.º do Regulamento n.° 974/98,
o euro tomou-se “a moeda dos Estados-membros participantes” em 1 de janeiro
de 1999. A partir de então passou a fimcionar como medida de valor. No entanto,
só em 1 de janeiro de 2002 entraram em circulação notas e moedas expressas em
euros, só então passando estas a ter curso legal nos vários Estados-membros,
incluindo Portugal (arts. lO.° e 11.º).

3. Tradicionalmente, entendia—se que, na falta de lei especial ou estipulação


das partes em sentido distinto, só a enUega de espécies monetárias, i.e. moedas
e notas, seria qualificével como cumprimento de uma obrigação pecuniária, cor-
respondendo tudo o mais — p. ex. um depósito ou uma transferência bancária,

um pagamento através de cartão de débito ou de crédito ou mesmo a entrega


de um cheque — a uma dação em cumprimento (art. 837.º) ou, no último caso, a
uma daçãopro solvendo (art. 840.°). Atualmente esse entendimento já será dificil
de sustentar, salvo porventura no que respeita ao cheque, sendo de preferir o
entendimento que àquelas espécies monetárias acrescenta a “moeda bancária”,
que corresponde aos saldos mobih'záveis por clientes de bancos, entre os meios
de pagamento genericamente aceites para cumprir uma obrigação pecuniária.
Especialmente relevante, neste contexto, é o disposto no art. 798.º, n.º 2, do
CPC, segundo o qual “[c]onstitui entrega de dinheiro o pagamento por cheque
ou transferência bancária”.
São aínda de referir as normas fiscais constantes do art. 63.°-C da Lei Geral
Tributária, segundo o qual “[o]s sujeitos passivos de RC, bem como os sujei-
tos passivos de IRS que disponham ou devam dispor de contabilidade orga-
nizada, estão obrigados a possuir, pelo menos, uma conta bancária através da
qual devem ser, exclusivamente, movimentados os pagamentos e recebimentos
respeitantes à atividade empresarial desenvolvida” (n.° 1); e “[o]s pagamentos
respeitantes a faturas ou documentos equivalentes de valor igual ou superior
a € 1000 devem ser efetuados através de meio de pagamento que permita a

707

Codigo CMI Anotada — volume (Ana Prata)]ndd


l 707 29/05/17 18:43
LIVRO n -
TÍTULO I — DAS OBRIGAçóEs EM GERAL

identiâcaçãodo respetivo destinatário, designadamente transferência bancária,


cheque nominative ou débito direto” (n.º 3). O próprio Estado também se vin—
culou inequivocamente a aceitar moeda bancária para pagamento de todas as
prestações tributárias (art. 40.º, n.º l, da Lei Geral Tributária).
A ressalva constante da parte final do preceito em análise esclarece que as

partes, no uso da sua autonomia, podem estipular o meio ou meios de paga-


mento admitidos para satisfação de uma obrigação pecuniária, com exclusão dos
demais. O preceito reconhece implicitamente à parte ou partes em beneficio
de quem o meio foi acordado o direito de recusarem um pagamento feito com
inobservância de tais estipulações.
Segundo o princípio nominalista, o cumprimento de uma obrigação pecu-
4.

niária faz-se pela entrega do valor nominal da moeda ao tempo do cumprimento.


Ou seja, um euro é um euro, independentemente das ªutuações no seu valor de
troca. O princípio pode sofrer alguns desvios, decorrentes, quer da autonomia

privada — a esu'pulação em contrário a que se refere a parte final do preceito (v.,


p. ex., o disposto no art. 1077.º, n.º 1) —, quer de lei especial (v. o disposto no art.
551.° e, p. ex., no art. 1077.º, n.º 2).

A superveniência de grandes ªutuações no valor de troca da moeda pode


conduzir, em situações mais drásticas, à aplicação do instituto da alteração de
circunstâncias (art. 437.°).

MARGARIDA LIMA REGO

ARTIGO 551.° -Atua|ização das obrigações pecuniárias


Quando a lei permitir a atualização das prestações pecuniárias, por vir-
tude das Hutuações do valor da moeda, atender—se-á, na falta de outro crité—
rio legal, aos indices dos preços, de modo a restabelecer, entre a prestação e
a quantidade de mercadorias a que ela equivale, a relação existente na data
em que a obrigação se constituiu.

l. O preceito contém um regime supletivo, a aplicar aos casos em que uma


lei especial permite uma atualização das prestações pecuniárias sem indicar o

critério. Está em causa a correção do valor de tais prestações em função das flu-
tuações de valor, da inHação ou deHação que se faz sentir entre o momento
i.e.

em que a quantia devida é inicialmente fixada e o momento em que o seu paga-


mento é realizado.
0 critério que a lei fornece é o da aplicação dos índices de preços no consu-
midor periodicamente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (acessí—

\708

Codigo Civil Anotada — volume (Ana Rataflndd 708


I
29/05/17 18:43
ART. 552.“

veis em www.ine.pt). O objetivo da divulgação de tais índices é o de permitir o


estabelecimento de uma correspondência entre os bens que uma dada quantia
poderia pagar em certa data e o montante necessário para adquirir os mesmos
bens numa data diferente.
2. A atualização do valor de uma obrigação pecuniária modifica o conteúdo
da obrigação, não se confundindo com a eventual constituição, na esfera do
devedor, de uma nova obrigação — p. ex. uma obrigação de juros, que, quando
surge, acresce à respetiva obrigação de capital (v. anotação aos arts. 559.º a 561.º).

MARGARIDA LIMA REGO

SUBSECÇÃO Il
- Obrigações de moeda específica

ARTIGO 552." -Va|idade das obrigações de moeda específica


O curso legal ou forçado da nota de banco não prejudica a validade do
ato pelo qual alguém se comprometa a pagar em moeda metálica ou em
valor dessa moeda.

l. As obrigações em moeda espedfica são uma subespécie das obrigações


pecuniárias em que o devedor se vincula, não apenas a pagar ao credor uma
quantia em dinheiro, mas também a usar certa espécie monetária como meio de
pagamento e/ou como medida de valor. Compreende duas modalidades disfln-
tas: (i) as obrigações com pagamento em moeda especifica; e (ii) as obrigações

no valor de certa moeda especíúca. Na primeira, as partes determinam um paga-


mento em determinada moeda metálica, excluindo, como meios de pagamento,
quer as notas, quer a moeda bancária; na segunda, estipulam o pagamento de
uma quantia indexada ao valor intrínseco da referida espécie monetária à data
do pagamento (distinto do respetivo valor nominal).
Podem as partes, p. ex., determinar que certo pagamento será feito em libras
de ouro, com ou sem a indicação da quantia em dívida expressa em moeda cor-
rente. Não obstante a denominação “moeda especifica”, nesta subespécie das
obrigações pecuniárias, a especiúcação deve ser feita apenas quanto ao género,
não podendo a especiâcação da moeda a usar como meio de pagamento ser tão
concreta que a obrigação deixe de ser qualíâcável como uma obrigação gené-
rica. Assim, se a obrigação for de entrega de certas libras em ouro, e não de
quaisquer libras em ouro, tratando-se então de uma obrigação especifica e já não
de uma obrigação genérica, já não poderá aplicar-se a essa obrigação o reg'me
das obrigações pecuniárias.

709

Codlgo Civil Anotada — volume | (Ana Prem).lndd 709 29/05/17 18:43


Lrvxo 11 -
TÍTULO 1 — ms OBRIGAÇOBS EM GERAL

O regime das obrigações em moeda especíãca aplica-se, quer às obrigações


expressas em euros, quer ‘as obrigações em moeda com curso legal apenas no
estrangeiro (art. 558.º).
A principal preocupação subjacente a esta subespécie das obrigações pecu-
niárias é a de minimizar o risco de desvalorização monetária, já que em caso de
perdas drásticas de valor de troca as moedas manteriam ao menos o seu valor
intrínseco, correspondente ao valor do metal de que são feitas, que é indepen-
dente do seu valor facial, ou convencional. Atualmente, a figura terá reduzida

expressão prática.

MARGARIDA LIMA REGO

ARTIGO 553.º- Obrigações de moeda específica sem quantitativo expresso em moeda corrente
Quando for estipulado o pagamento em certa espécie monetária,
o pagamento deve ser feito na espécie esu‘pulada, existindo ela legal-
mente, embora tenha variado de valor após a data em que a obrigação foi
constituída.

l. O preceito anterior enuncia dois tipos de obrigações em moeda espe-


cifica: (i) as obrigações com pagamento em moeda especifica; e (ii) as obriga-

ções no valor de certa moeda especifica. Se as partes esu'pulam um pagamento


feito em certa espécie monetária sem indicar uma quanu'a em moeda corrente,
p. ex. cinquenta libras de ouro, entende-se que foi fixado o segundo desses tipos,
devendo o pagamento ser feito com a entrega de cinquenta libras de ouro inde-
pendentemente das flutuações de valor que as mesmas venham a sofier. Parte-
-se do pressuposto de que, se as partes delimitaram desse modo relativamente

invulgar o conteúdo da sua obrigação, há de ter sido precisamente por deseja-


rem usar a dita moeda especifica, não apenas como meio de pagamento, mas
também como medida de valor.
Ia assim não será se as partes fazem acompanhar a estipulação do pagamento
em certa espécie monetária de uma indicação do seu valor em moeda cor-

rente: p. ex. um pagamento de £ 1000 em libras de ouro, ou mesmo de € 1000


mediante a entrega de x libras de ouro. Nesse caso, presume-se que as partes se
vincularam a uma obrigação em moeda especifica do pn'meiro tipo, usando a
moeda especifica apenas como meio de pagamento, e cristalizando-se a quantia
a pagar em cumprimento da obrigação no valor que aquela moeda especifica
tinha no momento da contratação, que será o valor que as panes indicaram em
moeda corrente (art. 554.º). A presunção é ilidível, nos termos gerais (n.º 2 do
art. 350.°).

710

Codigo CMI Anotada — volume (Ana Pram).lndd 710


I
29/05/17 18:43
ART. 555.“

Este tipo já não tem subjacente, de forma tão evidente, uma preocupação
com o risco de desvalorização monetária, antes podendo ser um meio de fazer
face, p. ex., a uma preocupação do devedor de exonerar—se realizando o paga-

mento em espécie monetária de que disponha em excesso, atendendo às neces-

sidades, ou a que tenha maior facilidade de acesso.

MARGARIDA LIMA REGO

ARTIGG 554." - obrigações de moeda específica ou de certo metal com quantitativo expressd
em moeda corrente
Quando o quantitativo da obrigação é expresso em dinheiro corrente,
mas se estipula que o cumprimento será efetuado em certa espécie mone-
tária ou em moedas de certo metal, presume—se que as partes querem vin-
cular-se a0 valor corrente que a moeda ou as moedas do metal escolhido
tinham à data da estipulação.

V. a anotação a0 art. 553.°.

ARTIGO 5555'- Falta da moeda estipulada


1. Quando cumprimento em determinada espécie
se tiver estipulado o
monetária, em certo metal ou em moedas de certo metal, e se nâo encon-
trem as espécies ou as moedas estipuladas em quanddade bastante, pode
o pagamento ser feito, quanto à parte da divida que não for possível cum-
prir nos termos acordados, em moeda corrente que perfaça o valor dela,
segundo a cotação que a moeda escolhida ou as moedas do metal indicado
tiverem na bolsa no dia do cumprimento.
2. Se as moedas estipuladas ou as moedas do metal indicado não tiverem

cotação na bolsa, atender-se-à ao valor corrente ou, na falta deste, ao valor


corrente do metal; a esse mesmo valor se atenderá, quando a moeda, devido
à sua raridade, tenha atingido uma cotação ou preço corrente anormal,
com que as partes não hajam contado no momento em que a obrigação se
constituiu.

1. Em rega, extinguindo-se o objeto de uma obrigação, esta extingue-


-se também, por impossibilidade (art. 790.º). Distintamente, na hipótese em
apreço, pesou na escolha da solução legal a natureza pecuniária da obrigação,
que não deixa de o ser embora as partes hajam esu'pulado mais do que apenas a

711

Codlgo CM] Anotada - volume l (Ana Prata)]ndd 711 29/05/17 18:43


LIVRo n -
TÍTULO I — DAS OBRIGAÇOES EM GERAL

respetiva quantia em dinheiro,


entendendo-se que, precisamente por se tratar
de uma obrigação pecuniária, o desaparecimento da espécie monetária ou da
moeda estipulada não dariam azo à extinção da obrigação, antes à conversão do
respetivo valor, com o pagamento em moeda corrente.
Para a aplicação deste reg'me não se em'ge a extinção da espécie monetária
ou da moeda ou a sua em'stência em quantidade insuficiente, sendo
estipulada,
bastante, aparentemente, uma demonstração de que o devedor, justificada-
mente, não conseguiu obtê-la em quantidade suficiente para com ela cumprir a
obrigação. Se assim não fosse, não se compreenderiam as referências à respetiva
cotação em bolsa, já que uma moeda inexistente, pelo simples facto de não exis-
tir, deixaria de ser cotada em bolsa.

2. O critério da conversão é o da cotação em bolsa à data do cumprimento

(n.º 1) ou, não sendo a moeda cotada em bolsa, o seu valor corrente, ou, na sua

falta, o valor corrente do respetivo metal (n.º 2, l.“ parte). O critério não muda,
ainda que o valor atinja níveis anormais e imprevisíveis para as partes (n.º 2, 2.‘

parte); a verifiquem os pressupostos do instituto da alteração de


menos que se
circunstâncias, caso em que se aplicará o respetivo regime (art. 437.º).

MARGARIDA LIMA REGO

ARTIGO 556.“ — Moeda específica sem curso legal

Sempre que a espécie monetária estipulada ou as moedas do metal


l.

estipulado nâo tenham já curso legal na data do cumprimento, deve a pres-


tação ser feita em moeda que tenha curso legal nessa data, de harmonia
com a norma de redução que a lei tiver estabelecido ou, na falta de determi-
nação legal, segundo a relação de valores correntes na data em que a nova
moeda for introduzida.
2. Quando o quantitativo da obrigação tiver sido expresso em moeda
corrente, estipulando-seo pagamento em espécies monetárias, em certo
metal ou em moedas de certo metal, e essas moedas carecerem de curso
legal na data do cumprimento, observar-se-á a doutrina do número ante—
rior, uma vez determinada a quantidade dessas moedas que constituía o
montante da prestação em divida.

l. O preceito trata de situações em que a espécie monetária ou as moedas


do metal aquando da estipulação, o perderam
estipulado, tendo curso legal
entre esse momento e o momento do cumprimento da obrigação. Regulam—se
os casos, quer das obrigações no valor de certa moeda especifica (n.° 1), quer das
obrigações com pagamento em moeda espedfica (n.° 2). Em ambos, estabelece—

712

Dodge Civil Anoiado—volume (Aru Prah).lndd 712


I
29/05/17 18:43 |

'
ART. 557."

-se que a obrigação deve ser cumprida em moeda com curso legal ao tempo do
cumprimento, defim'ndo-se como critério de conversão supletivo a relação de
valores entre ambasmoedas na data de inU'odução da nova moeda. Ou seja,
as
em ambos se opera uma atualização da quanda em dívida com efeitos à data de
innodução da nova moeda, passando a partir daí a vigorar o princípio nomina-
com a consequente cristalização da quantia em dívida, o que, pelo menos
lista,

no primeiro caso, configura uma modiãcação superveniente, ex lega, da reparti-

ção negocial do risco de desvalorização monetária.


2. O preceito é por vezes invocado a propósito das obrigações pecuniárias
estipuladas em escudos e que devam ser pagas em euros, embora, em rigor, ape-
nas deva aplicar—se às obrigações em moeda especíãca, e não a todas as obriga-
ções pecuniárias esu'puladas em escudos, incluíndo as obrigações de quantidade
em que o escudo é apenas usado como medida de valor, na ãxação da quanu'a em
dinheiro. Da conversão dos escudos em euros trata o Regulamento n.º 2866/98,
de 31 de dezembro de 1998, que fixou a taxa de conversão em 200,482 (art. Lº).

MARGARIDA LIMA REGO

ARTIGO 557.°—Cumprimenta em moedas de dois nu mais metais ou de um entre vários metals


No caso de se ter convencionado o cumprimento em moedas de um
1.

entre dois ou mais metais, a determinação da pessoa a quem a escolha per-


tence é feita de acordo com as regras das obrigações alternativas.
Quando se estipular o cumprimento da obrigação em moedas de
2.
dois ou mais metais, sem se fixar a proporção de umas e outras, cumprirá
o devedor entregando em partes iguais moedas dos metais especificados.

O preceito invoca a estipulação do cumprimento, alternativo ou cumula-


l.

tivo, com moedas de dois ou mais metais (p. ex, ouro e/ou prata). O n.º 1 trata a

hipótese de cumprimento com um de entre uma pluralidade de metais, reme-


tendo para o regime das obrigações alternativas (arts. 543.° a 549.º). Esse regime
ser-lhes—ia diretamente aplicável ainda que nada se dissesse a esse respeito, pois
a obrigação é, neste caso, verdadeiramente alternativa. Em regra a escolha cabe
ao devedor (art. 543.°, n.° 2).

2. O n.° 2 regula a hipótese de cumprimento, cumulativamente, com moedas


de dois ou mais metais, estabelecendo, supletivamente, uma regra de igualdade,
à semelhança do que sucede em vários outros contextos em que a lei resolve
uma necessidade de escolha seguindo a via salomónica (v., p. ex., os arts. 516.º,

5343, 1354.º, n.º 2, l403.°, n.° 2, e 1404.°).

MARGARIDA LIMA REGO

713

Codlgo CMI Anulado — volume l (Ana Prah).lndd 713 29/05/17 18:43


Lrvxo 11 ~
TÍTULO 1 — DAS omuGAqOEs EM GERAL

SUBSECÇÃO III
- Obrigações em moeda estrangeira

ABTIEO 558.“ -Termos do cumprimento


l. A estipulação do cumprimento em moeda com curso legal apenas no
estrangeiro nâo impede o devedor de pagar em moeda com curso legal no
País,segundo o câmbio do dia do cumprimento e do lugar para este esta-
belecido, salvo se essa faculdade houver sido afastada pelos interessados.
2. Se, porém, o credor estiver em mora, pode o devedor cumprir de

acordo com o câmbio da data em que a mora se deu.

Redação dada pelo DL n.º 343/98, de 6 de novembro, com entrada


1. em
vigor em 1 de janeiro de 1999.
Redação original:

“1. A estipulação do cumprimento em moeda estrangeira não impede o deve-


dor de pagar em moeda nacional, segundo o câmbio do dia do cumprimento e do
lugar paxa este estabelecido, salvo se essa faculdade houver sido afastada pelos
interessados.
2. Se, porém, o credor estiver em mora, pode o devedor cumprir de acordo com o
câmbio da data em que a mora se deu.”

2. O preceito regula a estipulação — cuja licitude implicitamente admite — de


obrigações pecuniárias em moeda estrangeira, também denominadas obriga-

ções valutárias. É usual distinguir-se entre as obrigações valutárias proprio sensu,


que seriam aquelas em que a moeda estrangeira funciona simultaneamente
como medida de valor e como meio de pagamento, não podendo o credor em'g'r
moeda local nem o devedor impor o cumprimento em moeda local; e as obri-
gações valutárias improprio sensu, em que a moeda estrangeira fimciona apenas
como medida de valor, sendo a quantia em dívida fixada em moeda es eira

e podendo o pagamento ser feito em moeda local. Este é um expediente fi'e-


quente em países de moeda fraca ou muito flutuante.
Em Portugal, a regra supleu'va consagra um regime misto, a meio caminho
entre as obrigações valutárias proprio e improprio sensu. Continua a valer o princí-
pio do curso legal, pelo que o credor,embora só possa exigir ao devedor o paga-
mento em moeda estrangeira, não pode impor-lhe um pagamento em moeda
estrangeira, sendo forçado a aceitar um pagamento em euros. Ao devedor per-
e'

mitido cumprir indistintamente em moeda estrangeira ou em euros, assim se


consagrando legalmente uma obrigação com faculdade alternativa. Se o devedor
decidir pagar em euros, o câmbio é calculado na data do cumprimento.
Sendo este um reg'me supletivo, permite-se o seu afastamento, sendo de
aconselhar que quem queira vincular um devedor a pagar em moeda estrangeira

714

Codgo CM! Amhdo—volume (Ana Habflndd 714


I
29/05/17 18:43
l
ART. 558.“

o estipule de forma clara, afastando expressamente a faculdade alternativa, não


sendo suficiente a mera estipulação de um pagamento em moeda estrangeira
para que a obrigação seja tratada como uma obrigação valutária proprio sensu.
O mesmo se diga de quem pretenda estipular uma obrigação valutária impro-
prio sensu, que terá de clarificar que o meio de pagamento será em moeda local
(euros).
Em caso de mora do credor, o devedor que pague em euros pode optar entre
o câmbio na data em que a prestação é realizada e o câmbio da data em que a
mora se deu (art. 813.°).

3.Em abstrato, as obrigações valutárias são qualiãcáveis, quer como obriga-


ções de quantidade, quer como obrigações em moeda especifica. Em concreto,
além do disposto neste preceito ser-lhes-á ainda aplicável o regime de umas ou
de outras, consoante o caso.
4.Quer a epígrafe desta subsecção, quer o preceito em apreço foram altera-
dos aquando da transição do escudo para o euro, pois o euro também tem curso
legal no esuangeiro, podendo suscitar-se a dúvida sobre se seria ou não uma
moeda estrangeira. Assim, as referências a “moeda estrangeira” foram substituí—
das pela expressão “moeda com curso legal apenas no estrangeiro”, pelo referido
DL n.º 343/98, de 6 de novembro, para que não restassem dúvidas de que este
preceito não abrange as obrigações pecuniárias fixadas em euros.
O reg'me em análise também não se aplica às obrigações em moeda estran-
geira às quais a lei portuguesa não seja aplicável. Em rigor, só serão qualiãcá-
veis como valutárias as obrigações em moeda disu'nta da que tem curso legal
na ordem jurídica que as regula, e não todas e quaisquer obrigações em moeda
esuangeira. Se, p. ex., alguém abre uma conta bancária na Suíça, sendo o con—
trato de abertura de conta governado pela lei suíça, o seu direito ao saldo não
gera na esfera do banco uma obrigação valutária, na perspetiva da ordem jurídica
portuguesa. Assim, morrendo o titular da conta e sendo a sua sucessão regulada
pela lei portuguesa, não deve o direito a0 saldo que integra a herança do de cujus
ser tratado como emergindo de uma relação obrigacional valutária, não se lhe
aplicando o disposto no art. 558.°.

5. Não há dúvida de que quer as obrigações de quantidade, quer as obriga-


ções em moeda especifica, seguem a modalidade de execução para pagamento
de quantia certa, quando expressas em euros (arts. 724.º e ss., CPC). Discute-se
se essa será a modalidade mais adequada à execução de tais obrigações, quando
o pagamento possa ou deva ser feito em moeda estrangeira. O problema não se
põe nos casos em que a moeda estrangeira apenas é usada como medida de valor,
e não como meio de pagamento, ou nos casos em que o credor pode optar por
exig'x o pagamento em euros.

Codigo Civil Anotada - volume I (Ana Prate).lndd 715 29/05/17 18:43


mmo 11 - TÍTULO I — DAS OBRIGAÇOES BM GERAL

Conceptualmente, nada impediria a sujeição das execuções para pagamento


em moeda esuangeira à mesma modalidade de ação a aplicar às restantes obri-
gações pecuniárias. Contudo, a nossa ação para pagamento de quantia certa não
foi pensada para esses casos, não contemplando essa possibilidade. Assim, sem-

pre que não se reconheça ao credor o direito de impor um pagamento em euros,


tem-se entendido ser aplicável a modalidade de execução para entrega de coisa
certa (arts. 859.º e ss.,CPC), embora convertível em execução para pagamento
de quantia certa, em euros (art. 867.º CPC).
MARGARIDA LIMA REGO

SECÇÃO VII -0brigações deiuros

Bibliografia: A. VAZ SERRA, “Obrigação de juros” in BM] n.º 55, 1956, pp. 159 a 170;
]. SIMõBs PATRÍCIO,
“As novas taxas de juro no Código Civil" in BM] n.“ 305, 1981,
pp. 13 a 77; F. Comm DAs NEVES, Manual dasjuros. Estudojurídíco de utilidade prática,

‘3.“ ed., Coimbra, Almedina, 1989.

ARTIGO 559.“ -Taxa de iuro


l. Os juros legais e os estipulados sem determinação de taxa ou quan—
titativo são os fixados em portaria conjunta dos Ministros da Justiça e das
Finanças e do Plano.
2. A estipulação de juros a taxa superior à fixada nos termos do número
anterior deve ser feita por escrito, sob pena de serem apenas devidos na
medida dos juros legais.

Redação original:

“1. São de cinco por cento ao ano os juros legais e os estipulados sem determina-
ção de taxa ou quantitativo.
2. A esn'pulação de juros a taxa superior deve ser feita por escrito, sob pena de
serem apenas devidos na medida dos juros legais.”

Redação atual dada pelo DL n.º 20 0—C/80, de 24 de junho, com entrada em


vigor em 29 de junho de 1980.
l. Os juros são os frutos civis de uma obrigação de capital (art. 212.”, n.° 2).

Não pode qualificar—se genericamente as obrigações de juros como uma moda-


lidade de obrigações pecuniárias porque, muito embora a grande maioria das
obrigações de capital, e respetivos juros, respeitem a dinheiro, conceptualmente

716

Codigo CNH Anotada — volume (Ana


l Prah).lndd 718 29/05/17 18:43
ART. 559.“

as obrigações de capital, bem como as de juros, incluem obrigações de presta-


ção de coisas fungíveis de outra natureza (p. ex. feijões). O dinheiro ou outras
coisas fungíveis representam o rendimento do capital. Sâo uma contrapartida
devida pela utilização de capital alheio durante certo período de tempo, sendo
o montante em regra previamente fixado sob a forma de uma percentagem do
capital por cada período de tempo que passa, usualmente um ano. Ou seja, não
há obrigação de juros sem uma obrigação de capital. Mas as duas obrigações são
autónomas (art. 561.º).
O preceito regula a Exação das taxas aplicáveis (i) aos juros legais; e (ii) aos
juros fixados sem determinação de taxa ou quantitativo. Juros legais são, como
o nome indica, os devidos por simples decorrência da lei. Opõem-se-lhes os
juros convencionais, ou decorrentes de estipulação das partes (a terminologia é
usada, p. ex., na a]. d) do art. 310.° ou no n.º 2 do art. 814.º). As partes podem fixar
em que estes correriam, e podem
taxas superiores à dos juros legais, nos casos
também determinar a constituição de obrigações de juros onde elas não existi-
riam, com ou sem a âxação das respetivas taxas. É apenas a este último caso que
se aplica a taxa supletiva a que se refere o n.º 1.

A regra que impõe a forma escrita à âxação de taxas de juro superiores a essa,
constante do n.º 2, aplica—se, quer aos casos em que correriam juros legais, quer
àqueles em que não correriam. Em ambos os casos, a inobservância da forma
escrita gera nulidade (art. 220.º), reduzindo-se a cláusula de Exação dos juros
à sua coincidência com a taxa supletiva referida no n.º 1 (tendo aplicação o dis-
posto no art. 292.“).

2. Eflstem diferentes modalidades de obrigações de juros, que importa dis-


u'nguir. Antes de mais, os juros constituem a retribuição habitual de quem dis-
ponibiliza capital a ouvem em virtude de um contrato de mútuo ou similar (art.

1145?). Estes são os juros remuneratórios. Diferentes destes são os juros mora-
tórios, que, subsidiariamente, constituem a indemnização por mora do devedor
no cumprimento de uma obrigação pecuniária (art. Há no processo de
806.º).

constituição destes últimos um desvalor associado ao incumprimento de uma


obrigação que é alheio aos primeiros. Esse desvalor é partilhado por outros juros
indemnizatórios que possam constituir-se em virtude, já não de mora, mas de
incumprimento definitive de uma obrigação, pecuniária ou de outra natureza,
de que haja resultado uma indisponibilidade temporária de dinheiro. Há ainda
a referir os juros compulsórios, que são os consagrados no n.° 4 do art. 829.°-A.

Finalmente, há a referir outra modalidade de juros que, não envolvendo pro-


priamente um desvalor, visa compensar outras privações temporárias de capital:
os juros compensatórios, de que são exemplo os que acrescem às obrigações de
reembolso do gestor de negócios, do mandatário ou do depositário por despesas

717

- volume
'

Codigo CM] Anotada | (Ana Prata)]ndd 717 29/05/17 18:43


LIVRO n «
TÍTULO I
— DAS OBRIGAÇOES EM GERAL

feitas, respetivamente, por conta do dono do negócio, do mandante ou do depo-


sitante (Lª parte do n.º 1 do art. 468.°; c) do art. 1167.°; b) do art. 1199.°).
As diferentes modalidades de juros terão, por vezes, um tratamento distinto.
Se o devedor de juros realizar um pagamento insuficiente sem discriminar a
que título o faz, a prestação “presume-se feita por conta, sucessivamente, das
despesas, da indemnização, dos juros e do capital” (art. 785.°, n.° l). Resulta do
disposto neste preceito que, de entre as diversas modalidades de juros, terão
precedência as de natureza indemnizatória, devendo esta referência legal aos
juros interpretar-se restritivamente, dela se excluindo as referidas modalidades,
que, naturalmente, partilham o seu lugar próprio na hierarquia com as restantes
prestações de cariz indemnizatório.
3. O preceito, na sua redação original, fixava em 5% a taxa de juros legais
e a taxa de juros supletivamente aplicável às obrigações civis. O DL n.º 200-
C/80, de 24 de junho, eliminou a referência às taxas concretamente aplicáveis
a tais obrigações, remetendo a sua ãxação para portaria conjunta dos Ministros
da ]usu'ça e das Finanças. Viviam-se tempos de alguma instabilidade, tendo-se
compreendido que, não só a taxa de 5% já deixara de se adequar aos níveis de
inHação que se faziam sentir, como a própria cristalização da respetiva taxa no
CC deixara de fazer sentido. Fixada inicialmente em 15%, a taxa viria a subir até
aos 23%, onde se manteria entre 1983 e 1987, vindo depois a descer, gradual-
mente, ate' se fixar nos atuais 4%, em vigor desde 1 de maio de 2003 por efeito

da Portaria n.º 291/03, de 8 de abril.

Por sua vez, os juros moratórios aplicáveis aos créditos de natureza comercial
que variam todos os semestres, segundo o disposto no art.
estão sujeitos a taxas
102.° do CCom e as als. a) e b) do art. 1.º da Portaria n.° 277/2013, de 26 de agosto,

e que estão indexadas à taxa de juro aplicada pelo Banco Central Europeu à sua
mais recente operação principal de refinanciamento efetuada antes do 1.° día de
janeiro ou de julho, de 7% (§ 3) ou de 8% (§ 5), consoante os casos.
acrescidas
Nos últimos tempos, a base tem—se mantido nos zero pontos percentuais, cor-
respondendo as taxas resultantes da aplicação destes critérios, respetivamente,
a 7% e a 8%.
4. A indexação das taxas de juro é também um método muito frequente de
estipulação convencional de taxas variáveis. Um dos índices de referência mais
populares no mercado monetário da zona euro é o Euribor (acrónimo de Eum-
pean Interbank OfleredRate). Indica a taxa de juros média dos empréstimos inter-
bancários sem garantia da zona euro, considerando as taxas dos 32 principais
bancos europeus, com exclusão dos valores extremos (os 15% mais altos e os 15%
mais baixos). Em'stem diferentes taxas Euribor, consoante o prazo do emprés-
timo, que pode ir de uma semana a um ano. Quanto maior o prazo, maior a taxa.

718

Codgo Civl Anotada — vdume l (Ana Prata)]ndd 718 29/05/17 18:43


ART. 559.°-A‘

Desde 2014 que as taxas Euribor se têm mantido em valores negativos, sus-
citando várias dúvidas e dificuldades de aplicação, em tais circunstâncias, das
disposições legais ou convencionais que remetem para as taxas Euribor.
5. Os juros prescrevem no prazo de cinco anos (al. d) do art. 310.º).

MARGARIDA LIMA REGO

ARTIGII 559.º-A- Juros usurárins

É aplicável o disposto no artigo ll46.° a toda a estipulação de juros ou


quaisquer outras vantagens em negócios ou atos de concessão, outorga,
renovação, desconto ou prorrogação do prazo de pagamento de um crédito
e em outros análogos.

1. Disposição aditada pelo DL n.º 262/83, de 16 de junho, com entrada em


vigor em 21 de junho de 1983.
2. Quando Jesus chegou a Jerusalém para a celebração da Páscoa e viu o
Templo de Herodes repleto de banquinhas de comerciantes e cambistas, Jesus
expulsou—os do templo (João 2:13-17 e Mateus 21:12-13). No nosso ordenamento
jurídico, bom como nos restantes ordenamentos de influéncia católica, já são

ténues os vestígios do juízo de desvalor que em tempos justificara a qualiãcação


de toda a cobrança de juros como usurária, e sua consequente proibição (pecunia
nonpotestpecuniamparere), que atualmente ainda encontramos, designadamente,
nos sistemas de direito islâmico. A história deste instituto ajuda a compreender
a especial preocupação reguladora dos limites a partir dos quais deve entender-
-se que os juros se tornam usurários. Entendeu-se criar um regime especial de
proibição da usura, que acresce, neste domínio, às regras gerais sobre negócios
usurários constantes dos arts. 282.º a 284.º.
O DL n.º 262/83 alterou o regime da usura com vista a alargar o conceito e
o respetivo campo de aplicação (v. a anotação ao art. 282.º). A reforma cumpriu
um objetivo de uniãcação do regime da usura, que passou a aplicar-se, indistin-
tamente, a todos os juros convencionais, sejam eles de cariz civil ou comercial,
bem como, muito amplamente, a toda a estipulação de vantagens em negócios
de crédito ou análogos. O essencial do regime, no que respeita à obrigação de
juros, consta agora do art. 1146.º, para onde remetem, quer o preceito em apreço,
quer o § 2 do art. 102.“ CCom (v. a anotação a0 art. 1146.°).
O art. 1146? estabelece limites percentuais máximos para os juros conven-
cionais, ressalvando, no entanto, a aplicabilidade, a toda a convenção de juros,

das regras gerais sobre negócios usurários constantes dos arts. 282.º a 284?.

MARGARIDA LIMA REGO

719

Codigo Civíl Anotada — volume l (Ana Prata)]ndd 719 29/05/17 18:43


LIVRO u TÍTULO I — DAS OBRIGAÇOES EM GERAL
-

ARTIGO 560." —Anatocismo


Para que os juros vencidos produzam juros é necessária convenção
l.

posterior ao vencimento; pode haver também juros de juros, a partir da


noúâcação judicial feita ao devedor para capitalizar os juros vencidos ou
proceder ao seu pagamento sob pena de capitalização.
2. Só podem ser capitalizados os juros correspondentes ao período

mínimo de um ano.
3. Não são aplicáveis as restrições dos números anteriores, se forem con-

trárias a regras ou usos particulares do comércio.

1. Anatocismo é a cobrança de juros sobre O preceito não o proíbe,


juros.

apenas impondo requisitos de admissibilidade e um período mínimo de um ano


para a capitalização dos juros (n.º 2). Esta consiste na conversão de uma dívida
de juros em dívida de capital, que se soma ao capita] já em dívida, para efeitos de
futuro cálculo de juros.
São requisitos de admissibilidade: (i) convenção das partes posterior ao ven-
cimento da obrigação de juros que constituiria a base de novo cálculo de juros;
ou (ii) uma notiúcação judicial do devedor exigindo o pagamento dos juros ou
a sua capitalização (n.“ 1). Sobre as notificagées judiciais avulsas, v. os arts. 256.”

a 258.º do CPC.
Subjacente a este regime também está o princípio da proibição da usura que
enforma o regime para que remetia o art. 559.°-A.
2. Estas restrições não se aplicam quando, excecionalmente, existam “regras
ou usos particulares do comércio” que as afastem (n.º 3). Estão em causa, fun-
damentalmente, os usos bancários. Em regra, os usos não constituem fonte de
direito, apenas sendo relevantes quando haja disposição legal que os torne juri-
dicamente atendíveis (art. 3.º). É o caso deste art. 560.°, n.° 3.
3. Estas restrições também não se aplicam quando estejam em causa dife-
rentes modalidades de juros. Se, num contrato de mútuo oneroso, o mutuário se
constituir em mora no cumprimento da sua obrigação de juros remuneratórios
(art. 1145.°, n.° 1), naturalmente que se constitui na sua esfera uma obrigação
de juros moratórios (art. 806.°). Literalmente, está em causa uma cobrança de

juros sobre juros. No entanto, há que pensar que os juros remuneratórios são
uma contraprestação como outra qualquer. Se numa compra e venda o atraso
no pagamento do preço vence juros, porque não o atraso na remuneração do
empréstimo do capital num contrato de mútuo? A ratio da proibição está na con-
denação da usura e é a essa luz que o preceito deve ser interpretado, não devendo
servir de apoio à conclusão de que não seriam indemnizáveis os danos decorren-
tes de um atraso no cumprimento de uma obrigação de juros remuneratórios.

720

Çdgo UW Anotada — volume | (Ana Hamflndd 720 29/05/17 18:43


ART. 561.º

4. Diferente da cobrança de juros sobre juros é a aplicação de diversas taxas


de juros à mesma obrigação de capital. Transitando em julgado uma sentença
condenatória num um pagamento em dinheiro, passam a ser devidos juros com-
pulsórios em acréscimo a eventuais juros moratórios. Ambas as taxas se aplicam
ao capital, e não aos juros (art. 829.º—A, n.º 4).

MARGARIDA LIMA REGO

ARTIGO 561.“ —Autonomia du crédito de juros


Desde que se constitui, o crédito de juros não fica necessariamente
dependente do crédito principal, podendo qualquer deles ser cedido ou
extinguir-se sem o outro.

l. Na sua génese, a obrigação de juros é acessória da obrigação de capita],


dependendo o nascimento daquela da em'stência e vigência desta. No entanto,
a partir do momento da sua consu'tuição, o direito de crédito goza de uma certa
autonomia relativamente à obrigação de capital.
A autonomia não é total. Designadamente, se o credor der quitação do capi-
tal sem ressalvar a subsistência da obrigação de juros, aplica-se a presunção de
cumprimento da obrigação de juros (art. 786.º, n.° 1), presunção que é ih'dível,

nos termos gerais (art. 350.“, n.° 2), limitando-se a inverter o ónus da prova do
cumprimento, que caberia ao devedor (art. 3423, n.º 2). O preceito é explícito
quanto à acessoriedade da obrigação de juros, referindo-se aos juros ou “outras
prestações acessórias” (art. 786.º, n.º 1).

Não bem como do artigo em análise,


obstante, retira—se daquele preceito,
a possibilidade de a obrigação de juros subsistir com relativa independência
da obrigação de capital, pois que, mesmo perante um documento de quitação
que nada ressalve, bastaria ihdir a presunção de cumprimento da obrigação de
juros, demonstrando a sua sobrevivência à obrigação de capital. Em todo o caso,
a imputação de um pagamento, pelo devedor, ao cumprimento de uma obriga-
ção de capital quando aínda subsista a respetiva obrigação de juros carece do
consentimento do credor (art. 785.º, n.º 2). Supletivamente, o pagamento é pri-
meiro imputado aos juros e só depois da sua extinção será imputado ao capital
(art. 785.°, n.° 1).

O preceito em análise faz referência, quer à possibilidade de extinção autó-


noma de qualquer uma das obrigações, de juros ou de capital, quer à sua possi-
bilidade de transmissão autónoma (v. os arts. 577.º a 588.°).
2. Os juros são uma contrapartida devida pela utilização de capital alheio
durante certo período de tempo. O tempo é um elemento essencial à constitui-

721

Codlgo CMI Anohdo — volume I (Ana Prata)]ndd 721 29/05/17 18:43


Lrvno n TÍTULO 1 — DAS omuGAQOEs EM GERAL
-

ção de uma obrigação de juros: estes vão nascendo, ao correr do tempo, salvo se
as partes estipularem um regime distinto para a sua génese.
Dependendo o nascimento dos juros da passagem do tempo, e pressupondo
estes que durante esse tempo existe um capital em uso por determinado sujeito,
o devedor dos juros, e que deverá transitar para a esfera de outro sujeito, o cre-
dor dos juros, se por algum motivo se antecipa o reembolso do capital, deixam
de ser devidos juros relativamente ao tempo ainda não decorrido, nâo se lhes
aplicando o disposto no art. 781.° (neste sentido, v. o ac. ST] 7/2009, de 5-5-09).

MARGARIDA LIMA REGO

SECÇÃD Vlll— Obrigação de indemnização

Nota sobre a secção em geral: O CC optou por regular a obrigação de indem-


nizar unitariamente, com independência da sua fonte. Esta pode provir de respon-
sabilidade extraobrigacional subjetiva (arts. 483.º a 488.°), pelo risco (arts. 499.° a

510.º), por ato lícito (p. ex., 339.°, n.” 2), de responsabilidade obrigacional subjetiva
(arts. 798.º, 799.º, 801.º a 806.º e 808.º), objetiva (arts. 800.º e 807.º), de responsabi-

lidade pré-contratual (art. 227.º) ou pós—contratual (art. 762.º, n.° 2).

ANA PRATA

ARTIGO 562." — Princípio geral


Quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação
que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação.

Este artigo caracteriza o objeto da obrigação de indemnizar: tudo quanto


for necessário para repor o lesado na situação em que ele estaria se não tivesse
ocorrido o evento danoso.

ANA PRATA

ARTIGO 563.“ - Nexo de causalidade


A obrigação de indemnização só existe em relação aos danos que o
lesado provavelmente não teria sofi'ido se não fosse a lesão.

l. Apesar de a letra da lei ser muito pouco clara, é posição quase pacifica na
doutrina (sem a acolher completamente, p. ex., Luís M. Teles Menezes Leitão,

722


Çodgo M Anotado—volume (Ana Pruthdd 722
|
29/05/17 18:43

Você também pode gostar