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Psique Ed163 @revistavirtualbr Set2019
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Organização
BLUMAR
CONGRESS & EVENTS
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Associação médica Brasileira
Boa leitura!
CAPA
É preciso
ser notado
24
A importância de ser
especial numa sociedade
que valoriza a ostentação
da felicidade para se
SHUTTERSTOCK E FREEPIK
22/08/2019 16:44
CAPA163.indd 1
MATÉRIAS
08 O que há por
trás da fofoca
Para a Psicologia, o
comportamento de falar dos
48 outros pode revelar mais sobre
o autor do que sobre a vítima
ENTREVISTA
Caroline Arcari revela que mais
de meio milhão de mulheres são
TDAH em pauta
vítimas de violência sexual no Brasil, Um transtorno de difícil
diagnóstico, mas que ainda
52
e as estatísticas de tratamento
são irrelevantes para esse número carrega muitos rótulos, como a
generalidade com que é tratado
SEÇÕES
05 NA REDE
06 NEUROCIÊNCIA
Querido mestre
16 IN FOCO
18 PSICOPOSITIVA A personalidade do educador
20 PSICOPEDAGOGIA é um dos fatores que mais
22 RECURSOS HUMANOS 56 influenciam na aprendizagem, pois
trata de dois temas controversos:
32 COACHING
34 LIVROS Psicologia e Educação
46 PSICOLOGIA JURÍDICA
Expectativa e ansie
64 DIVÃ LITERÁRIO iê
doss
fazendo confundir
tempos estão nos
Como os novos a. Ambos os
patológica
76 PERFIL
sem expectativas, mas é preciso
80 EM CONTATO
tomar cuidado para não gerar o
82 PSIQUIATRIA FORENSE
fenômeno da ansiedade patológica
SHUTTERSTOCK
a 35
psique ciência&vid
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30/08/2019 13:08
na rede por Nicolau José Maluf Jr.
N
o dicionário, o significado do adjetivo “sociá- de relação carregadas de desrespeito e ódio até inclusive (ou
vel” é: “próprio para viver em sociedade; que tende principalmente) nas redes.
para a vida em sociedade. De convívio agradável; É verdade que, do ponto de vista sociológico, as redes sociais
civilizado, urbano, afável: caráter sociável e retiraram dos grandes meios de comunicação a hegemonia da
generoso. Que consegue viver socialmente, seguindo regras “informação” – colocada entre aspas – e isso não deixa de ter
e práticas de convivência”. um aspecto meritório, benigno, na onda da valorização da orga-
Vendo esse conceito, pode-se dizer que as redes são mesmo nização espontânea da sociedade civil opondo-se à dependên-
sociáveis? A resposta obviamente é não. cia exclusiva dos meios institucionais como gerenciadores das
Uma postagem recente no Twitter é útil e vale a pena demandas e necessidades da sociedade.
reproduzi-la: Mas há também um ciclo pernicioso: posturas e manifesta-
“...Leitor pergunta como seguir saudável nesta maré de obs- ções esdrúxulas de entes públicos são toleradas e defendidas em
curantismo. Sugiro a sabotagem: ler literatura, assistir a bons redes sociais. Os defensores aprovam agressões e preconceitos
filmes, frequentar exposições de arte, ir à roda de samba, dan- na forma e conteúdo, e o fazem usando não somente linguagem
çar forró, amar. Cultivar subversiva alegria. Contra a pulsão de virulenta, mas também favorecendo estigmatizações. Isso, por
morte, só a anarquia da felicidade...” sua vez, legitima o ente público. As redes tornam-se assim “ins-
Mesmo não concordando que exista pulsão de morte, en- titutos de pesquisa” cotidianos.
tendo o que ele propõe e quer dizer. Estaríamos vivendo tem- Assim se forma o “novo normal”, em que o ódio e a into-
pos sombrios. E seguindo a narrativa, podemos inferir que o lerância tornam-se lugares-comuns. Não é “direita-esquerda”,
antídoto “alegria e felicidade” diga respeito também às formas “conservador-progressista” o elemento central, portanto.
Obviamente as redes sociais não agem por conta própria
elas mesmas, e sua manipulação fornece poder quanto à pro-
dução de subjetividades só equiparado à propaganda na Ale-
manha nazista.
Mas é novamente a relação de causalidade que é coloca-
da em questão. Seria raso e ingênuo pensar que a virulência
manifesta nas redes é simplesmente consequência. Assim como
seria raso e ingênuo adotar um conceito como o da pulsão de
morte, que seria uma espécie de “pecado original” constituinte
do psiquismo, como explicação para a espontaneidade das ma-
nifestações de virulência.
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL
Efeitos psicológicos
da NUTRIÇÃO
ESTUDO DE
LONGA DURAÇÃO
ACOMPANHA
EFEITOS
PSICOLÓGICOS
SUBJETIVOS
DOS HÁBITOS
NUTRICIONAIS IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL
PROBLEMA DE
SAÚDE PÚBLICA
Caroline Arcari diz que não
há como negar que a violência
sexual está relacionada à
construção histórica e social
sobre o controle e poder exercidos
pelos homens sobre o gênero
feminino, a partir da organização
social da propriedade
Por Lucas Vasques Peña
U
m dos fenômenos sociais que mais pre- trabalho junto à instituição já formou mais de 20
ocupa é a violência sexual contra crian- mil educadores em diversos municípios brasileiros
ças e adolescentes. Atualmente, existe e seus projetos beneficiaram mais de 250 mil alunos
na sociedade brasileira um amplo con- da rede pública desde 2006.
senso no sentido de se considerar essa questão uma Escritora do livro Pipo e Fifi, seus trabalhos já fo-
violação à dignidade sexual desses sujeitos e um ram premiados pela Unicef, Fundação Abrinq e Save
tipo de violência com consequências significativas the Children. É também consultora na área de Edu-
nas esferas física, sexual, comportamental, psico- cação Sexual e Enfrentamento da Violência Sexual
lógica e cognitiva, atentando contra o direito de Infantojuvenil para instituições públicas e privadas
crianças e adolescentes ao desenvolvimento de de educação, saúde e promoção social.
uma vida saudável. No livro A Conversa sobre Gênero na Escola, publi-
Na avaliação de Caroline Arcari, no entanto, para cado pela Wak Editora e organizado pelo educador
o enfrentamento do problema ainda há um percur- sexual Marcos Ribeiro, Caroline coloca em seu capí-
FOTO DO ENTREVISTADO: DIVULGAÇÃO/ DEMAIS: SHUTTERSTOCK
so que, recentemente, começou a tomar forma nas tulo “Empoderamento de meninas e masculinidades
áreas de saúde pública, assistência social, educação positivas”, entre outras questões, que a existência de
e outros setores. diferenças entre meninos e meninas não é um pro-
Caroline é pedagoga e educadora sexual. Fun- blema, mas sim quando as diferenças de socialização
dadora e atual presidente do Instituto Cores, seu entre ambos resultam em desigualdades sociais.
de saúde pública, assistência social, encontros sexuais e comportamentos ria das vezes praticadas por pessoas
educação e outros setores. Segundo que abrangem aliciamento sexual, conhecidas, no ambiente intrafami-
a Organização Mundial da Saúde, linguagem ou gestos sexualmen- liar, para a satisfação sexual do adulto
outro lado, os papéis sociais atribuí- questões de gênero, a incidência des- outras formas por
dos à mulher como f igura amorosa, se tipo de violência contra mulheres e
frágil, afetiva e cuidadora camuf lam a meninas é resultado das relações de- essa hierarquização
www.portalespacodosaber.com.br psique ciência&vida 11
dermos a origem da violência sexual. timento de coletividade e das ref lexões lescentes. Também se refere à preven-
Os estereótipos vigentes são os alicer- sobre seus direitos. É fundamental que ção primária a promoção de palestras,
ces que sustentam relações abusivas, as meninas tenham acesso a espaços of icinas, campanhas, eventos e ações
cação sexual aparece como estratégia impostas pelos ção e proposição de leis mais severas
podem completar o ciclo do enfrenta-
de prevenção primária. Já a prevenção
secundária prevê resposta imediata padrões sociais mento da violência sexual.
A capacidade
do perdão
DA MESMA
FORMA COMO
DEVEMOS
OBEDECER AS
NECESSIDADES
DO CORPO
ENFERMO,
TEMOS QUE
RESPEITAR O
TEMPO E O
PROCESSO DA
MÁGOA EM
DIREÇÃO DE
PERDOAR O
OUTRO E A
SI MESMO
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL
2016.
machucada por respeito a si próprio.
Nesse processo, não há muito
Michele Müller é jornalista, pesquisadora, especialista em Neurociências,
espaço para empatia. Em um nível Neuropsicologia Educacional e Ciências da Educação. Pesquisa e aplica
biológico básico, um organismo in- estratégias para o desenvolvimento da linguagem. Seus projetos e textos
timidado se contrai, se fecha, em estão reunidos no site www.michelemuller.com.br
uma reação de fuga ou luta que é
P
ara alcançarmos uma vida aproveitam suas forças e permitem e que, por isso mesmo, são capazes
mais feliz em sociedade, di- que você perca a autoconsciência e de elevar os nossos níveis habituais
versos estudos psicológicos merg ulhe no que está fazendo. de felicidade, saúde e bem-estar.
examinaram como ajudar o Nos tempos presentes, os motivos Para tanto, diversos tipos de doa-
próximo é capaz de afetar o nosso principais para o envolvimento em ção são possíveis – tempo, trabalho,
bem-estar. Existe uma correlação ações f ilantrópicas são a proteção e a atenção, conhecimento e, claro, re-
entre os benef ícios aproveitados por crença na necessidade de tomar res- cursos materiais.
quem recebe ações f ilantrópicas e, ponsabilidade social pelo bem-estar Em um trabalho intitulado “Gas-
de modo correspondente, aqueles comunitário da sociedade. Esse tipo tos pró-sociais e felicidade”, as psicó-
recebidos por quem age de modo de ação social, portanto, representa logas Elizabeth Dunn e Lara Aknin,
generoso e altruísta. uma ponte entre preocupações indi- juntamente com Michael Norton, da
A origem etimológica da palavra viduais e coletivas. É um caminho Harvard Business School, encontra-
“f ilantropia” é o termo grego philan- para que as pessoas conectem seus ram uma relação positiva consisten-
tropia, que signif ica “amor à huma- interesses aos dos outros, liguem-se te entre os chamados gastos “pró-
nidade”. Esse comportamento faz a suas comunidades e envolvam-se -sociais” e o bem-estar. Realizada
parte da história humana, uma vez com a sociedade em maior escala, em 136 países, com níveis de rique-
que a cooperação social em larga sempre por meio de iniciativas de in- za e contextos culturais diversos, a
escala foi o que permitiu que os gru- divíduos e grupos para os quais esse pesquisa revelou que indivíduos que
pos humanos prosperassem e che- envolvimento não é obrigatório. recentemente haviam feito doações
gássemos ao estágio evolutivo atual. Alinhado a isso, o modelo de a instituições de caridade relataram
Nesse contexto, a motivação ação e bem-estar da Psicologia Po- maior bem-estar subjetivo, mesmo
para o altruísmo e a f ilantropia são sitiva apresenta implicações ricas considerando diferenças individuais
as chamadas “ações virtuosas”, que, para a teoria f ilantrópica. O dr. de renda.
à luz da f ilosof ia aristotélica, podem Martin Seligman, “pai” da Psicolo- No nível psicológico, os pesqui-
ser sucintamente explicadas como gia Positiva, invoca essas conexões sadores pontuam que a doação vo-
atividades conscientes e voluntárias com frequência, a ponto de def inir a luntária de recursos f inanceiros tem
que visam um bem maior e que ex- sua área de estudos como uma ten- ligação com a teoria da autodeter-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ACERVO PESSOAL
pressam a excelência humana. Ações tativa de mover a Psicologia do ego- minação, desenvolvida por Edward
virtuosas são comumente def inidas cêntrico para o f ilantrópico. L. Deci e Richard M. Ryan. Seg un-
pela literatura da Psicologia Positiva Essa é a essência da contribuição do essa teoria, o bem-estar humano
como gratif icações, excelências ou que def ine os objetivos altruístas – depende da satisfação de três ne-
atividades de f low (f luxo), aquelas cujos benef ícios se estendem, tam- cessidades básicas: relacionamento,
que envolvem você completamente, bém, a toda uma cadeia de pessoas, competência e autonomia, as quais
vremente.
Por trás disso está também a
ideia de que o bem-estar de um in- Flora Victoria, presidente da SBCoaching Training, mestre em Psicologia Positiva
divíduo depende intrinsecamente do Aplicada pela Universidade da Pensilvânia, especialista em Psicologia Positiva aplicada ao
coaching. Autora de obras acadêmicas de referência, Ganhou o título de embaixadora
bem-estar dos seus relacionamentos
oficial da Felicidade no Brasil por Martin Seligman. É fundadora da SBCoaching Social.
e da comunidade em que ele resi-
Escola: ESCOLHA
fundamental
DA PRÉ-ESCOLA À UNIVERSIDADE, PARA ALCANÇAR O
SUCESSO PROFISSIONAL NÃO BASTA UM DIPLOMA NA PAREDE
COMO NOS TEMPOS DE NOSSOS AVÓS. HOJE É PRECISO
RENOVAR CONSTANTEMENTE CONHECIMENTOS E PRÁTICAS
E
m meio ao segundo semestre na pré-escola, muitos pais buscam, tecnologia, a formação acadêmica de
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL
do ano, são abertas as matrí- nesta época do ano, orientações para qualidade é um fator decisivo para o
culas para o próximo ano le- fazer a opção de escola que melhor se acesso bem-sucedido às oportunida-
tivo em praticamente todas as adapte à educação acadêmica que de- des prof issionais, pessoais e sociais
escolas. Seja porque procuram uma sejam para seus f ilhos. das crianças e jovens adultos. Como
nova opção educacional, ou porque Nos dias de hoje, frente a um a constante atualização também é in-
está na hora da sua criança ingressar mundo globalizado e dependente da dispensável para atender as exigências
MODELO MENTAL
MUITO SE QUESTIONA SOBRE QUAL O MELHOR PERFIL
COMPORTAMENTAL PARA GERAR RESULTADOS POSITIVOS. O
CUIDADO COM O GERENCIAMENTO DO QUE SE PENSA IRÁ
REFLETIR EM EMOÇÕES MAIS ADEQUADAS À PRODUTIVIDADE
S
eja no ambiente prof issional mos e como respondemos. Com isso gera uma maior tranquilidade para o
ou pessoal, todos desejam ter já podemos destacar dois perf is de planejamento a longo prazo e etapas
sucesso no que fazem, mas pensamento recorrente e como isso para a realização dos projetos.
nem sempre é isso que ocor- pode ref letir negativamente ou não Quem está ou esteve submer-
re. Falhas, erros e fracassos podem no dia a dia: abundância e escassez. so em uma economia instável com
ser associados a uma imensa gama de Quem teve experiência de vida histórico de bruscas mudanças no
variáveis, que vão desde o ambiente dentro de uma base econômica está- cenário pode desenvolver um per-
externo (mercado, condições econô- vel pode estabelecer com facilidade f il voltado para a escassez, tornan-
micas, necessidades dos clientes) até um pensamento voltado para a abun- do dif ícil um planejamento sólido e
a atmosfera psicológica que envolve dância. Os recursos e custos podem tranquilo para longo prazo, criando
os agentes que praticam as ações. ser calculados com meses de antece- o imediatismo nas ações em busca
Sabemos que as palavras que dência sem muitas surpresas, o que de retorno rápido.
ecoam em nossas cabeças, o famoso O detalhe importante é que isso
self talk, são responsáveis pelo estado pode ser alterado de acordo com a
de ânimo. O monólogo interno é resul- A EXPERIÊNCIA vontade e esforço de cada um. No
tado de muitos fatores, como: memó- DE VIDA E A entanto, quem está dentro de um es-
rias marcantes, conteúdo absorvido, tado de ânimo por muito tempo –
interpretação dos estímulos externos INTERPRETAÇÃO em qualquer perf il possível – muitas
e reações a sintomas endógenos. Ou DELA SÃO vezes pensa que “é assim” ao invés
seja: também estamos à mercê de mui- de ter a consciência de que “está
tas possibilidades sobre as quais não
ESTRUTURAS assim”. Somos capazes de mudar e
temos, de fato, muito controle. FRASAIS QUE FICAM nos adaptar diante das demandas
Podemos destacar alguns aspec- cotidianas e com o gerenciamento
tos e como trabalhar – de dentro
RICOCHETEANDO interno podemos ir além. Basta, ini-
para fora – a busca pela excelência NA MENTE DE cialmente, reconhecer se existe essa
no nivelamento emocional. Não é fá- necessidade.
TODOS NÓS.
cil, mas pode se tornar natural com Qualquer um que esteja no mo-
PODEMOS DESTACAR
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR
ser muito apurada. Mantra pessoal: que conhecidos. Caso isso seja uma rença nos resultados de vida prof is-
método criado pelo psicólogo francês novidade para você basta fazer uma sional e também pessoal.
Émile Coué e aprimorado nos últimos
anos. Absolutamente simples! Monte, O prof. dr. João Oliveira é doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos
do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão:
de forma assertiva, um pequeno tex- Relacionamento em Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!;
to de incentivo. Grave no seu próprio Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente
celular e escute várias vezes ao dia. Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise
Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).
O mantra criado pelo Coué, para ter
A importância
em ser
IMPORTANTE
Deixar marcas, ser notado, não passar em
branco, ser alguém especial... por que isso
é tão essencial e essa necessidade tem
crescido tanto numa sociedade que valoriza
até a ostentação da felicidade?
Por Carla Daniela P. Rodrigues
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
A
mar e ser amado são O amor é o A criança quer chorar, gritar, expres-
necessidades inerentes sar livremente seus sentimentos e até sua
à humanidade, somos alimento da agressividade, mas precocemente é re-
seres sociáveis e, como alma. Amor é primida em seus atos, para ser apreciada
tais, temos o desejo de e amada. Ela deve se comportar para ser
pertencimento a um grupo e de compar- preenchimento, aceita e querida e assim pode ir apren-
tilhar amor. Necessidade essa que nasce,
fundamentalmente, na infância e nos
transbordamento, dendo a ter a necessidade de aprovação
externa sobre os seus comportamentos.
acompanha no decorrer da vida. alegria. Quando Ela percebe, ou sente, que existe um pa-
O amor é o alimento da alma. Amor estamos cheios drão para “acessar o amor do outro” e,
é preenchimento, transbordamento, cada vez que ela não consegue alcançar
alegria. Quando estamos cheios de de amor genuíno esse padrão em suas experiências, se sen-
amor genuíno e realmente consegui- te insegura e frustrada, dando início ao
mos nos amar, esse amor transborda
e realmente processo das neuroses.
e atinge o outro, assim como preen- conseguimos O amor deixa de ser algo entendido
che a vida e tudo que se faz! É o que como natural, inerente, incondicional,
dizem as escrituras sagradas em “amar
nos amar, esse para ser visto como algo a ser conquis-
o próximo como a ti mesmo”. Quan- amor transborda tado, ou seja, surge a necessidade de “se
do se pratica o amor, a vida se torna fazer amado”.
leve, colorida. Ele é o combustível da
e atinge o outro, Dessa forma, de acordo com essas
vida, o sentimento que dá sentido ao assim como primeiras experiências infantis e con-
que somos e ao que fazemos. Quem é forme as frustrações com estas vão cres-
cheio de amor genuíno, amor-próprio,
preenche a vida cendo, a autoestima vai diminuindo,
consegue amar o outro de forma in- criando-se uma lacuna entre o querer e
condicional. Ter amor ao que faz traz tar à infância para começar a entender o conseguir ser amado.
felicidade e uma sensação de paz e de esses processos. O amor-próprio diminui gradativa-
completude na vida. Segundo Freud, a criança ao nas- mente frente às inseguranças surgidas.
De acordo, porém, em como se cer se depara com uma sociedade neu- Sem amor-próprio o amor ao outro se
dão as primeiras experiências em com- rótica e vai se moldando aos poucos, torna um processo dificultoso, árduo.
partilhar amor, ainda na tenra infância, tornando-se mais e mais sensível a Sem o amor-próprio não há como se
outros sentimentos podem nascer e essa neurose. valorizar e o conhecimento de si mesmo
comprometer fundamentalmente a for-
ma como iremos ressignificar esse senti-
mento futuramente. Se essas experiên-
cias forem negativas, sentimentos como
frustração e baixa autoestima surgirão,
determinando os relacionamentos futu-
ros e a visão sobre o amor.
Talvez esse seja um caminho para
começarmos a entender, olhando para a
atual sociedade, os motivos pelos quais
as pessoas buscam incessantemente se-
rem notadas e admiradas, para se senti-
rem valorizadas e amadas. É preciso vol-
abundantes.
ser visto: a internet. detrimento aos valores morais e éticos,
As redes sociais proporcionam a é cada vez maior a ostentação no plano
vitrine para o mundo. Nela, qualquer material, principalmente por jovens e
Sem amor-próprio
não há como
se valorizar, e o
conhecimento
de si mesmo
passa a ser um
referencial no
“reconhecimento
externo”. Se
alguém diz que
você é bom, você
se sente bom, e
Chamar a atenção do outro passa a ser a tentativa de preencher a lacuna que surgiu lá trás, às vezes até
mesmo na infância
se diz que não é
bom, sente-se
para saber mais deprimido
A NECESSIDADE PATOLÓGICA situações simuladas, demonstraram que
EM SER O CENTRO DAS ATENÇÕES consideravam pessoas que quebravam
regras e pessoas rebeldes mais poderosas
O transtorno da personalidade histriônica ocorre, geralmente, no início da vida
adulta e se caracteriza por um comportamento extremamente exibicionista
e dependente da aprovação alheia. O portador do transtorno apresenta baixa
do que as outras.
Nesse sentido, na busca incessante
pelo olhar do outro e por holofotes, vale
tolerância à frustração, entende que o universo gira ao seu redor, adora aplausos
chamar a atenção de todas as formas,
e holofotes. É capaz de entrar em depressão se perceber que não foi devida-
incluindo pelo lado negativo. Assim, in-
mente reconhecido. Nos relacionamentos, quer ser tratado como celebridade,
disciplina, rebeldia, vandalismo são, na
buscando sempre ser o centro das atenções, usando fala dramática, exageros
verdade, pedidos de atenção, de alguém
e preocupações com a aparência física. É al-
que quer gritar: “estou aqui, eu
tamente sugestionável e age muitas ve-
existo, quero ser notado, mas
zes de forma inadequada, sedutora e
provocadora. Estima-se que de
não tenho nada de bom a
1,5% a 3% da população tenham
oferecer”!
o transtorno, mais comum em Esse fenômeno ex-
mulheres. Algumas comorbida- plica alguns casos de
des a esse transtorno são: per- atos de indisciplina
sonalidade antissocial, borderline, em sala de aula, vanda-
narcisista, transtorno depressivo e lismo e rebeldia de crian-
distimia (um tipo de depressão, tris- ças, adolescentes e adultos
teza). Pessoas com esse transtorno são teatrais, que se sentiram um dia vítimas
dramáticas e expressam suas emoções de forma de abandono e desamor, viveram um
exagerada. Buscam constantemente a aprovação dos outros sobre o que fazem sentimento de rejeição, que perderam
o amor-próprio, a capacidade de con-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
ESFERAS de influência
COACHING DE VIDA PODE AJUDAR A PREENCHER
AS LACUNAS EM NOSSOS PLANOS MESTRES E ESCLARECER
O CAMINHO DE ONDE ESTAMOS E PARA ONDE
QUEREMOS IR. NÃO É PARA OS FRACOS DE CORAÇÃO
É
possível treinar a vida? É útil próprios motivos e objetivos e auxiliá- desviar do curso e está relacionada
ter alguém para dizer como -los a encontrar o melhor caminho para às nossas “esferas de influência”. A
viver a vida? Eu não sou ca- cada um. É um plano de ação que per- ideia por trás das esferas de influên-
paz de buscar o melhor ca- mite que você use suas habilidades para cia é que existem três possibilidades
minho sozinho? Essas são perguntas fazer as melhores escolhas, facilitando distintas que podemos atravessar nas
que muitas pessoas fazem a si mes- o crescimento pessoal e profissional. idas e vindas da vida: coisas que po-
mas quando se questionam a respei- Existem diversos temas e questões demos controlar, coisas que podemos
to da utilidade ou da importância de através dos quais precisamos transitar influenciar e coisas que não podemos
fazerem coaching, o que faz sentido, para fortalecer nossas escolhas e faci- influenciar, agora ou nunca.
dada a incompreensão geral do que litar o alcance de nossas metas. Uma Embora saibamos que não há nada
é o coaching de vida e, também, de questão essencial para que direcione- sob nosso absoluto controle, muitas
como acontece esse processo que ca- mos nossa vida de forma mais clara vezes há pelo menos uma variável so-
pacita os clientes a criarem uma vida e precisa é refletirmos sobre uma das bre a qual ainda temos controle direto
mais satisfatória. muitas ameaças que tendem a nos – nossas atitudes e comportamentos.
Segundo John Wooden, o sucesso Mesmo quando sob enorme pressão
vem de saber que você fez o melhor ou quando nos sentimos presos, sem-
para se tornar o melhor que é capaz EXISTEM TRÊS pre temos escolha. Essa escolha passa
de ser. O coaching não é terapia ou POSSIBILIDADES pela consciência sobre nossas crenças,
aconselhamento, que associa um que filtram a forma como percebemos
profissional de saúde mental a um
DISTINTAS a realidade. A nossa crença em espí-
cliente que busca orientação sobre o QUE PODEMOS ritos, por exemplo, filtra a maneira
bem-estar. Não é mentoria nem trei- como vemos e compreendemos certos
ATRAVESSAR: COISAS
namento, em que um profissional é acontecimentos. Estarmos conscientes
acompanhado por um profissional QUE PODEMOS disso e buscarmos outras oportunida-
mais experiente. É uma parceria entre CONTROLAR, COISAS des de leitura e interpretação nos ofe-
o coache e o cliente, projetada para recem maior possibilidade de controle
QUE PODEMOS
IMAGENS: FREEPIK E SHUTTERSTOCK E ACERVO PESSOAL
ajudar o segundo a explorar suas op- sobre nossas atitudes. O preço dessa
ções, focar em seus objetivos e criar INFLUENCIAR liberdade de escolha reside no desa-
um plano de ação personalizado. pego da necessidade de estarmos sem-
Coaches não dão aos seus clientes
E COISAS QUE pre certos. Não ter medo de encarar
uma lista de opções para escolher ou NÃO PODEMOS nossa falibilidade é libertador porque
um rigoroso conjunto de passos a se- nos permite mudar de perspectiva ao
guir, em vez disso eles pretendem aju-
INFLUENCIAR, analisar uma situação ou acontecimen-
dar seus clientes a descobrirem seus AGORA OU NUNCA to, o que flexibiliza nosso olhar para a
Abre-se, aqui, a necessidade de refle- dialética da vida, um movimento per- concentrar a energia naquilo que po-
tirmos sobre o ato de influenciar. manente. Dizia que uma semente deve demos, ao menos, influenciar.
Todos nós influenciamos e somos
influenciados em função de nossa na-
tureza gregária. Somos animais sociais Júlio Furtado é professor, palestrante e coach. É graduado em
Psicopedagogia, especialista em Gestalt-terapia e dinâmica de grupo.
e, como tais, não temos autonomia É mestre e doutor em Educação. É facilitador de grupos de desenvolvimento
existencial. Existimos em função de humano e autor de diversos livros. www.juliofurtado.com.br
outros e precisamos legitimar nossas
DEIXA A VIDA
ME LEVAR?
Como os novos tempos estão nos fazendo confundir
expectativa com ansiedade patológica. Ambos os
sintomas têm como principal comorbidade a depressão
Por Fabiola Salustiano
SHUTTERSTOCK
V
ocê já ouviu, leu ou falou PARA SABER MAIS
para si mesma(o) algo
desse tipo? Se já, eu pre-
ciso, por meio de com- SIGNIFICADO DO SÍMBOLO YIN YANG
provação científica, mostrar a você
que essa vertente de pensamento
(que está em voga com força total) U ma das demonstrações de como somos afetados pela dualidade é o signi-
ficado do símbolo Yin Yang. Ocidentais descrevem esse símbolo como se
representasse certo e errado, luz do bem e escuridão do mal, o que difere total-
vai contra a natureza humana. Afi-
nal, somos seres desejantes e a au- mente do real significado desse símbolo milenar. O conceito tradicional sustenta
sência do desejo nos adoece. que Yin e Yang representam a relação oposta mais básica de tudo. É a lei objetiva
E o que o desejo tem a ver com da natureza, a origem da mudança do movimento de todas as coisas e a lei básica
“expectativa”? Simples, são sinônimos. da compreensão humana das coisas. O conceito de Yin e Yang originou-se da
E por que “desejar, almejar, ansiar” visão natural do antigo povo chinês. Os antigos observavam vários fenômenos
são caraterísticas que passaram a ser vis- naturais opostos e conectados na natureza, como céu e terra, sol e lua, dia e noi-
te, frio e calor, homens e mulheres, para cima e para baixo etc., e foram resumidos
tas como “politicamente incorretas”?
de uma maneira filosófica. O conceito de Yin Yang fala sobre os opostos comple-
E por que ambicionar algo ou
mentares, a comunhão dos opostos e não o duelo ou a hegemonia.
criar grande expectativa ganharam
essa conotação ruim? Será que isso se
explica se observarmos as diferenças
entre as gerações? com o objetivo de não adoecer como empáticas que as da geração X, mas se
A geração X é provavelmente a que sua geração anterior fez. as ideologias dessa geração são tão fan-
mais engloba o público que está lendo Pensar em si mesmo é visto como tásticas por que eles são os mais adoeci-
este artigo, que são adultos entre 39 e “egoísmo”, sucesso tem que ser coleti- dos desde os Baby Boomers, que eram a
58 anos. Somos a geração que teve que vo e o bem-estar do todo vem antes do geração pós-guerra?
“absorver” o advento da internet e que próprio bem-estar. Apesar de toda liberdade de ex-
tinha como principais características Para que ganhar tanto dinheiro se pressão, a ansiedade teve suas vertentes
a ambição, o desejo por sucesso, in- não tem tempo para seus filhos? ampliadas na geração Y: vigorexia, or-
dependência financeira e crescimento Como posso consumir algo que torexia, lesões por repetição de exercí-
pessoal. Somos a geração que mistu- prejudica a camada de ozônio? cios, gordofobia, dismorfia corporal,
rou trabalho e prazer, que colocou de Por que toda minoria não pode ter além das boas e velhas ansiedades (ago-
vez a mulher no mercado de trabalho a mesma voz da maioria? rafobia, pânico, ansiedade social gene-
de forma eficaz e competitiva. Infeliz- Por que não podemos pensar da ralizada, entre outras).
mente, também somos a geração que mesma forma, tendo como objetivo Por que as ideias da geração Y eram
inaugurou o termo workaholic – vicia- erradicar preconceitos, guerras, desi- tão melhores que as nossas e seus resul-
do em trabalho. gualdades? tados estão sendo tão negativos? Por
Já a geração Y (entre 22 e 38 anos) Qualquer indivíduo que promova que o objetivo de esvaziar a mente a
se moldou com “outra pegada”, em que algo que afete o coletivo é um péssimo ponto de não gerar expectativa alguma
a individualidade dá lugar ao coleti- exemplar de ser humano e deve pagar sobre nada fez desta a geração mais an-
vo, com ideais pautados em diminuir por isso. siosa de todos os tempos?
cargas de estresse e deixar legados que Por esse recorte podemos levan- Uma outra hipótese não se relacio-
contribuam para um mundo melhor, tar a hipótese do porquê qualidades na com o duelo de gerações. Ela tem
que eram vistas como virtudes cami- início ainda na década de 1940, quan-
nham hoje para uma espécie de pur- do Suzuki Daisetsu publica, em inglês,
Fabiola Salustiano é psicóloga cognitivo- gatório social. a primeira obra sobre zen budismo a
-comportamental e da terapia do esquema, ser difundida no Ocidente (Zen and
socióloga, especialista em Sexologia pela Consenso? Japonese Culture, 1938). Muitos foram
O
Faculdade de Medicina do ABC-SP, neurocientista
com publicações pelo Laboratório de bservando essas duas gerações os adeptos americanos a se mudarem
Neurociências da PUC-Rio (Lanec), Ms em podemos chegar a algum con- para China, Tibete e Japão, em busca
Psicologia Social pela UCP RJ, docente em cursos senso de evolução entre uma e outra? da “boa nova”, que prometia o sonho
SHUTTERSTOCK
à ansiedade afetam 9,3% (18.657.943) das pessoas que vivem no Brasil. nal ele tem que agir antes que algo possa
ameaçar a sobrevivência desse indivíduo.
ALFA Estar preparado Possuo Mudar Fundir com 2017, que o Brasil é o país mais ansioso
para “ser” uma autonomia o que foi o mundo e deprimido do mundo. Os dados são
orgânica herdado alarmantes. O suicídio é hoje a segunda
neurotransmissores REFERÊNCIAS
A polêmica em torno do conceito de estresse. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex
trabalharão para que t&pid=S1414-98931999000300005
SHUNRYU, Suzuki. Mente Zen, Mente de Principiante. Editora Palas Athena, 2018.
o organismo não OMS. Relatório 2017 sobre liderança do Brasil em casos de ansiedade e depressão.
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5354:aumenta-o-
está em perigo numero-de-pessoas-com-depressao-no-mundo&Itemid=839
N
ão criar expectativas é “como a vida deveria ser” ou “o que os mente, a paixão nos invade por com-
um conselho comumen- outros deveriam fazer”. Mas nem sem- pleto: mal conseguimos nos con-
te oferecido, sobretudo pre a vida e as outras pessoas seguem centrar no trabalho ou no estudo.
para quem está come- esse roteiro sonhado. Lembranças dos encontros recentes,
çando um relacionamento afetivo ou Quanto mais altas as expectati- imaginação vívida de cenas futuras,
iniciando a vida profissional vas, maior o risco de tudo terminar mergulho no estado de total encanta-
Isso é possível? Não! Mas é pos- em frustração, desilusão, decepção, mento, tudo gira ao redor do desejo de
sível tomar consciência dessas expec- raiva e revolta. Há pessoas que brigam estar juntos. Há pessoas que se viciam
tativas e ajustá-las, observando o que com a vida e até com Deus: “Eu não na paixão, sem conseguir sair dessa
a vida e os outros na realidade podem mereço isso”, “Por que nada dá certo etapa, que não costuma durar muito
nos oferecer. comigo?”, “Nada do que eu espero tempo, pois não resiste aos testes da
As expectativas brotam de nos- acontece”. As altas expectativas são realidade. No entra e sai dos relacio-
sos desejos e necessidades e colocam inatingíveis, são construídas com uma namentos apaixonados, sucedem-se
nosso olhar no futuro. A imaginação nuvem de esperança e de ilusão, de ciclos de entusiasmo e decepção, e um
dá corpo às expectativas: há pessoas pensamentos mágicos, sem raízes na grande vazio de amor.
que mergulham em devaneios, imagi- realidade prática. Há casos de “amor à primeira vis-
nando em detalhes o futuro sonhado, Ouvi de uma mulher amargurada ta” que resultam em relacionamentos
compartilhando a vida com uma pes- com o fim do relacionamento: “Eu es- duradouros e felizes. Mas, para isso, é
soa maravilhosa ou tendo uma car- perava que ele fosse tudo para mim: preciso evoluir do estado de paixão
reira de grande sucesso profissional. marido, irmão, amigo, companheiro para construir o amor. Muitos rela-
Nossos desejos criam um roteiro de de todas as horas”. Dá para algum ser cionamentos não se sustentam por-
humano preencher tantos buracos de que, ao vestir o outro com as nossas
carência afetiva? Querer que os ou- fantasias, mal conseguimos percebê-
Maria Tereza Maldonado é psicóloga e
professora de cursos on-line. É mestre em
tros ajam como gostaríamos é esperar -lo como realmente é. Ao projetar
Psicologia pela PUC-Rio, onde lecionou mais dos outros do que de nós mes- no outro a esperança de que vá satis-
no Departamento de Psicologia. Escritora, mos. Frustração na certa! fazer nossas necessidades de amor e
tem mais de 40 livros publicados sobre proteção, não percebemos quando a
relações familiares, desenvolvimento pessoal
e construção da felicidade e do bem-estar, A realidade pessoa não pode ou não está dispos-
com mais de um milhão de exemplares
J á conheci pessoas que viveram o ta a oferecer tudo o que desejamos.
SHUTTERSTOCK
vendidos. Site: www.mtmaldonado.com.br chamado “amor à primeira vista”, Como diz a letra de Coração Leviano,
que, na verdade, é a paixão. Tipica- de Paulinho da Viola: “Ah, coração,
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teu engano foi esperar por um bem de E quando a desilusão é muito in- Histórias vividas
um coração leviano que nunca será
de ninguém”.
As expectativas irreais nutrem o
tensa ou as decepções se sucedem, o
sofrimento é profundo e até desalen-
tador. Em Modinha, Tom Jobim con-
T iago, 8 anos, esperava ansiosa-
mente a visita de Miguel. Queria
propor uma brincadeira nova que ele
autoengano e podem resultar em ca- fessa: “Ai, não pode mais meu coração havia criado e imaginou que o amigo
minhos perigosos, como acontece nos viver assim dilacerado, acorrentado a ficaria entusiasmado. Porém, Miguel
casos de relacionamentos abusivos, uma ilusão que é só desilusão”. Desse não se interessou. Frustrado e aborre-
em que a pessoa se agarra à crença de modo, há quem se feche na solidão, cido, Tiago cruzou os braços, sentou-
que seu amor e dedicação poderão descrente da possibilidade de cons- -se no canto do sofá e anunciou que
mudar o outro. “Ele tem um tempe- truir uma boa parceria. não queria brincar de coisa alguma.
ramento forte, mas é ótima pessoa”, Mas a vida flui e, muitas vezes, nos Na gravidez do primeiro filho,
“quando a gente se casar ele vai ficar surpreende. Como descreve Johnny Ana desejava muito ter um parto nor-
mais calmo”. Com isso, os comporta- Alf em Céu e Mar: “Minha vida é uma mal. Para isso, preparou-se com cuida-
mentos violentos nos momentos de ilha pequenina flutuando no oceano do, buscou informações, frequentou
destempero emocional são tolerados na aventura de viver”. Modulando as um grupo de gestantes, treinou res-
e perdoados, na esperança de que haja expectativas e abrindo os canais da in- piração e relaxamento, escolheu um
uma mudança no futuro próximo. No tuição e da percepção sutil podemos obstetra adepto do parto humaniza-
entanto, é preciso ter muito cuidado acolher melhor o que a vida nos apre- do, contratou uma doula para acom-
com nossas escolhas: é fácil a gente se senta e deixar, ainda nas palavras des- panhá-la no processo. No entanto, o
SHUTTERSTOCK
iludir, achando que podemos trans- se compositor, “que o inesperado faça trabalho de parto não evoluiu bem e
formar quem não quer se modificar. uma surpresa”. foi preciso fazer uma cesárea. O bebê
sobre sexualidade, percepção de risco antes do tempo previsto ou apresen- consequências de escolhas ruins. Os
e autoproteção nas redes sociais, mas, ta dificuldades especiais é enorme. pais que aprendem a respeitar essas
apesar disso, a adolescente permitiu O luto pela perda do bebê idealiza- decisões e demonstram curiosidade
Ansiedade na vida
F altavam três anos para Suzana se
aposentar. Alfredo, seu marido,
já estava aposentado, e eles haviam
conseguido fazer uma reserva finan-
ceira confortável para concretizar
seus planos de viajar pelo mundo. No A partir das experiências de cada pessoa com os pais, há a construção de expectativas em relação a
entanto, Alfredo apresentou sinais da como agir com os filhos
doença de Alzheimer, que evoluiu ra-
pidamente. O futuro sonhado não se Para quem não construiu outro projeto de
concretizou, e o planejamento da vida vida, a expectativa de se sentir feliz com o
dos dois precisou ser refeito.
Após muitos anos trabalhando tempo livre pode resultar em tédio, por não
em horário integral e nem sempre em
empregos satisfatórios, muitos con-
saber o que fazer com tanta liberdade
tam os dias para se aposentar, sonhan-
do em ter tempo livre de obrigações. outras pessoas. Além disso, é preci-
Mas, para quem não construiu outro so cultivar a paciência para entender
projeto de vida, a expectativa de se a lentidão de alguns processos para
sentir feliz com o tempo livre pode desenvolver habilidades que pode-
resultar em tédio, por não saber o que rão nos conduzir a áreas atraentes de
fazer com tanta liberdade. trabalho. Érico, um adolescente de 16
Ocasionalmente, somos surpreen- anos, queria montar um grupo musi-
didos quando acontece algo que “su- cal de sucesso, e criou a expectativa
perou nossas expectativas”: “Depois Manipulação de que poderia ser um ótimo guitar-
de amargar três anos desempregada, Exercitar o pensamento crítico frente à rista em pouco tempo. Esperar resul-
nunca sonhei que eu pudesse ganhar manipulação da propaganda enganosa tados rápidos é frustração na certa!
tanto dinheiro trabalhando com pro- pode nos proteger contra a tentação Aprender a tocar um instrumento,
dutos digitais!”. Isso nos mostra como de criar falsas expectativas de conseguir falar fluentemente outros idiomas e
é importante manter a mente aberta resultados milagrosos sem precisar fazer muitas outras coisas dependem de
e alerta para acolher o que a vida esforço: “emagreça cinco quilos em duas tempo, dedicação e persistência para
semanas comendo tudo o que quiser”,
oferece, prestar atenção às oportu- não desanimar diante das dificulda-
fotos de “antes e depois”, promessas de
nidades que surgem e se dispor a que tal serviço “vai mudar sua vida”. Essa
des que encontramos.
aprender coisas novas que possam é uma forma de expectativa negativa, já “O que posso fazer de melhor
abrir caminhos promissores, mes- que não se baseia em algo possível ou com o que a vida me apresenta?” é
mo quando, no início, seja preciso real (se considerarmos tempo, esforço a pergunta-bússola que poderá nos
superar muitos. guiar na construção do equilíbrio
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
Assédio moral O
assédio moral não pode ser considera-
do um fenômeno da atualidade. Des-
de que surgiram as primeiras relações
de trabalho já podia ser observado o
assédio moral. O que pode ser chamado de atual é
ESSE COMPORTAMENTO É O a forma como as pessoas passaram a reagir diante
desse fenômeno; foi a partir da década de 1980
ESCOAMENTO DA INTEGRIDADE que passou a ser visto como problema social e ato
PSICOLÓGICA DO INDIVÍDUO E ilícito a ser combatido justamente por suas conse-
quências danosas. Isso mostra que buscar ajuda,
NÃO PODE SER CONSIDERADO informação e denunciar abusos indicam saúde
mental e evitam maiores efeitos negativos.
UM FENÔMENO DA ATUALIDADE,
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ARQUIVO PESSOAL
FOFOCA ,
tão antiga quanto fazer fogo
I
O que o hábito magine a seguinte cena: ain-
da é hora do expediente, você
Compartilhar e falar da vida alheia
pode trazer grandes prejuízos para a
de falar sobre os faz uma pausa para tomar um vida de alguém. Recentemente, uma
café. Aparece um colega e vo- produção da Netfl ix, intitulada 13
outros diz sobre cês logo começam a comentar Reasons Why, mostrou a história de
amenidades e, quando percebem, es- uma adolescente que se suicida após
nós mesmos. tão falando sobre alguém. Imaginou? uma sucessão de desventuras e abor-
Compartilhar Se você teve facilidade para formar
essa imagem mental é porque, com
dou, também, como o fato de ela ter
virado assunto entre as rodas de ami-
e falar da vida certeza, você já passou por isso e nem
se deu conta que estava fazendo fofo-
gos da escola colaborou para a decisão
de tirar a própria vida. Obviamente, a
alheia podem ca. Afinal, é normal comentar sobre
a vida dos outros, não é? Na verdade,
produção tem suas porções de exagero,
que são peculiares às obras de entrete-
trazer grandes pode ser comum, mas normal não de- nimento, mas é inegável como há uma
veria ser. inspiração de vida real para o roteiro.
prejuízos para a Por mais que pareça uma atitude
dessas perguntas, como também vai mos perceber que esse hábito está se o nosso ou significasse nosso fra-
saber um ou dois exemplos de histó- ligado à necessidade de aceitação. casso) é outra maneira de dar espaço
rias reais. A fofoca gera curiosidade, que por à fofoca. Nesse caso, além de dimi-
psique ciência&vida 49
é outra maneira de dar espaço à fofoca ber que fez uma fofoca. Na medida
do possível, é sempre positivo tentar
reverter uma situação e não colocar
nuir o mérito do outro, ainda pode- brias ou não conseguiremos evoluir. em maus lençóis as vítimas da maledi-
mos, deliberadamente, prejudicá-lo. Assumir que diminuímos outras cência. O primeiro passo, talvez, seja
pessoas por inveja pode parecer as- pedir desculpas, esclarecer os fatos e
Carências sustador, mas é um exercício para tomar cuidado para não cair na cilada
A realidade
do TDAH
É um transtorno
complexo e difícil de
ser diagnosticado, pois,
inclusive, não existem
exames físicos que
o detectem, sendo o
mesmo identificado por
rica observação clínica
O TDAH é um transtorno
do neurodesenvolvimento
Por Priscila Romero e tem como principais
características
a desatenção, a
hiperatividade e a
impulsividade
O
transtorno do déficit de gista José S. Schwartzman chama aten- podem rastrear o transtorno; den-
atenção com hiperati- ção para o comportamento dissimulado tre eles destacamos: Child Behavior
vidade está classificado que o indivíduo com TDAH pode apre- Cheklist (CBCL); Escala Conners
pelo Manual Diagnósti- sentar dentro de um consultório, frente a (Brasil, validada por Barbosa, 1997);
co e Estatístico de Trans- um profissional desconhecido. Além dis-
tornos Mentais (DSM-5), da Associação so, não há exames físicos que o detectem,
Priscila Romero é especialista em
Americana de Psiquiatria (2014), como sendo o mesmo identificado por rica ob-
Orientação Educacional e Pedagógica,
um transtorno do neurodesenvolvimento. servação clínica. Por isso, a necessidade Educação Especial na Perspectiva da
Tem como principais características: de- de um profissional experiente (neurope-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
me notificações do DSM-V. mares –, dentre outros. sentado, parado ou calado quando pre-
Deficiências nutricionais e senso- ciso, dedicar-se a mais de uma atividade
riais (visão e audição), epilepsia, trans- e não terminá-las ou executá-las sem
psique ciência&vida 53
Aprendizagem
INFLUENCIADA
Abordar a questão da personalidade
dos professores é algo delicado,
pois lida com dois temas que são
controversos e polêmicos, além de serem
áreas distintas: a Psicologia e a Educação
Por André Codea
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
E
u acredito que todos nos Por que será que determinados professores
lembramos de algum
professor (ou alguns conseguem ministrar suas aulas, são
professores, se você pu- queridos pelos alunos, têm bom rendimento
der falar no plural) que
tivemos em nossa trajetória. Mas com a turma e outros não conseguem ter o
pelo menos um foi especialmente mesmo resultado? Qual será o segredo?
memorável? A resposta para esta per-
gunta nunca é simples e, como ocorre cuja tarefa é, entre outras tantas, tante indisciplinados e normalmen-
com a maioria das coisas, requer uma analisar o trabalho de colegas pro- te causam muitos problemas para
análise multifatorial. fessores e sugerir mudanças em os professores ministrarem suas
Eu entendo que uma das pos- prol da aprendizagem do aluno. aulas, em certos casos até impedin-
síveis respostas está na persona- do; o rendimento da turma é baixo,
lidade do professor. No entanto, Situação comum com raras exceções, e há uma gran-
falar sobre personalidade e sobre
professor é algo delicado, pois
abordamos dois temas que são
E stamos em uma escola pública
hipotética, no centro de uma
grande metrópole, aqui no Brasil.
de probabilidade de um alto índice
de reprovação. A direção já tentou
várias estratégias junto aos alunos
controversos e também que são Nesta escola, que enfrenta os típi- e aos professores, mas as respostas
de áreas distintas, a Psicologia e cos problemas de qualquer insti- não são satisfatórias.
a Educação, muito embora estas tuição de ensino, há uma questão Nesse quadro pouco anima-
áreas sejam intercambiáveis. Para intrigante. Há uma turma de 8º dor para os professores da escola
dar conta da árdua tarefa, em par- ano do ensino fundamental, entre pública hipotética, há uma exce-
te, a análise que farei será reali- outras duas turmas de mesma esco- ção. Uma professora. Ela consegue
zada com base em alguns autores laridade, que apresenta uma grande ministrar suas aulas nesta turma,
selecionados e, em outra parte, a dificuldade para seus professores. e bem. Nos dias em que ela minis-
partir de minha experiência pes- É uma turma dispersa, com grande tra suas aulas, há poucas faltas. O
soal, tanto na figura de professor número de faltas de alunos; estes, rendimento, com ela, é bem me-
quanto na figura de gestor escolar, em sua quase totalidade, são bas- lhor do que a média dos demais
professores nas respectivas disci-
plinas. Os alunos a adoram, e não
reclamam nem mesmo quando ela
solicita um tempo vago (pela falta
de outro professor) para reforçar
algum conteúdo que vê necessá-
rio. Essa professora se preocupa
com a turma como um todo e com
problemas em particular de alguns
alunos, que são com ela divididos.
A direção, ocasionalmente, ao pas-
sar pelo corredor de um andar da
escola, tem a sua atenção chamada
para duas situações possíveis: ou a
sala da professora está em comple-
to silêncio – e ao abrir a porta o di-
retor se depara com todos quietos,
fazendo deveres, copiando do qua-
dro ou ouvindo uma explicação –
ou a sala está uma completa alga-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK
REFERÊNCIAS
BOZGEYIKLI, Hasan. Big Five Personality
Traits as the Predictor of Teachers’
Organizational Psychological Capital. Journal
of Education and Practice, v. 8, n. 18, 2017.
CODEA, André Luiz de Britto Teles.
Quando o professor tem dificuldades para escutar os alunos, para dialogar, ele está permitindo Neurodidática – Fundamentos e Princípios. Rio
que sua personalidade influencie negativamente na ação docente de Janeiro: Wak, 2019.
FATEMI, Mohammad Ali; SAZEGAR, Zeinab.
Robert McCrae e Paul Costa elencaram The Relationship between Teachers’
Personality Traits and Doing Action Research.
cinco componentes da personalidade Journal of Applied Linguistics and Language
Research, v. 3, Issue 1, p. 144-154, 2016.
em sua teoria dos cinco fatores: FONTANA, David. Psicologia para Professores.
São Paulo: Loyola, 1998.
extroversão, neuroticismo, socialização, GUILLÉN, Jesús C. Neuroeducación em el Aula:
conscienciosidade (ou capacidade de de la Teoria a la Práctica. Barcelona: Amazon
Fulfillment, 2017.
realização) e abertura a experiências MARTINS, Lígia Márcia. “A personalidade do
professor”. Trabalho apresentado na 33ª
Reunião Nacional da Anped. Caxambu/MG,
Mas a grande questão que se você não é a mesma pessoa que há out. 2010.
impõe agora é: temos então que mu- cinco anos. Mesmo que sutilmen-
TOMŠIK, Robert; GATIAL, Viktor. Choosing
dar nossa personalidade para ter- te, seus interesses provavelmente teaching as a profession: influence of big
mos sucesso na ação docente? Não mudaram, e a forma como você lida five personality traits on fallback career.
creio que se trate disso, até porque com as pessoas também. Problems of Education in the 21st Century, v.
76, n. 1, 2018.
vimos que a personalidade envolve A ref lexão sobre nós mesmos
características relativamente per- transformadas em ações, e sobre WEINTEN, Wayne; DUNN, Dana S.; HAMMER,
Elisabeth Yost. Psychology Applied to
manentes, embora também sejam como podemos equalizar nossas Modern Life: Adjustment in the 21st Century.
possivelmente mutáveis. De fato, questões pessoais e nossa personali- 12. ed. Boston: Cengage Learning, 2016.
A
existência pode ser um “prefiro tinha, à sua frente, uma janela que lhe “Prefiro não fazer”: uma frase que
não existir”, quando estamos permitia enxergar apenas um muro. afirma e nega ao mesmo tempo. Ela
limitados por um “muro” que Um dia, Bartleby nega-se a fazer qual- contém a antinomia que compõe a nos-
nos separa de uma vida criati- quer outra atividade diferente de apenas sa psique. Essa dimensão em que toda
va, para nos transformar em um instru- copiar. E, tempos depois, nem essa tarefa unidade é separada pela consciência,
mento mecânico e assim atender as am- ele quer fazer, mas não abandona o es- em opostos irreconciliáveis. O muro é
bições de outros homens. critório. Sempre questionado pelo patrão um não. Um não à formação tribal dos
Bartleby, o Escriturário: uma Histó- sobre a razão desse seu comportamento, humanos, que ainda imaginam muros
ria de Wall Street, publicado em 1853, é apenas repete a frase: “Prefiro não fazer”. para separar países, ideologias, orien-
uma novela do escritor americano Her- A falta de um motivo que atenda a algu- tação sexual e outras diferenças dentro
man Melville, que ficou conhecido pela ma lógica deixa o narrador encabulado, de uma só raça. Um muro que separa
sua obra Moby Dick. A história é narra- tentando entender o que está oculto. Esse um homem extraviado da vida, de ou-
da por um advogado, que relata as suas oculto, por sua vez, é a alma de outro ser tro, criativo, capaz de encantar-se com a
memórias sobre o estranho caso de um algo que só se revela por meio da lingua- existência e transcender qualquer limite.
dos seus funcionários, chamado Bartleby, gem enigmática das metáforas, ou por “Prefiro não fazer”. Afinal, o que é a
uma pessoa do tipo que parece oferecer meio daquilo que nos afeta. Sobre esse vontade livre? Uma personalidade, em
sua vida em sacrifício para levar o outro rapaz, o que obteve como informação foi seus diversos aspectos, não age sem a
a compreender sua própria humanidade. que antes ele trabalhava nos correios, in- intervenção do que lhe é inconsciente.
Em seu escritório, localizado na Wall cinerando as cartas que não chegavam ao Experiências esquecidas, mas guarda-
Street, o advogado mantinha dois fun- seu destino. das pelos afetos, funcionam como um
cionários encarregados de copiar docu- O psiquiatra C. G. Jung, um cientista cimento, que vai unindo os elementos
mentos, além de um office boy de 12 anos. empírico, aprendeu e nos ensinou sobre que se associam por suas similarida-
Enquanto um dos seus funcionários era a natureza humana observando as ma- des e contiguidades, como um verda-
produtivo pela manhã e à tarde se tor- nifestações da loucura. Foi assim que ele deiro complexo de registro de nossas
nava histriônico, com resultados pífios descreveu de que é feita a matéria dos experiências e suas emoções. Podemos
em suas atividades, o outro só conse- nossos sonhos. Reduzir a rica história de dizer que a vontade humana pode inter-
guia produzir à tarde e também reagia Bartleby a um diagnóstico psiquiátrico ferir, até certo ponto, no comportamen-
IMAGENS: SHUTTERSTOCK, DIVULGAÇÃO E ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR
de forma neurótica. Com o aumento empobreceria a compreensão desse re- to final das pessoas, mas Jung põe em
da produtividade, o patrão contrata um trato de nós mesmos, pois essa história é dúvida a existência dessa vontade livre
novo funcionário, o Bartleby, para ser o uma metáfora sobre a vida. que pensamos ter.
terceiro copista. Bartleby, antes de ser copista, incine-
Bartleby deixa seu chefe contente, rava as cartas que não chegavam ao seu
uma vez que é o primeiro a chegar e o Bartleby, o Escriturário: destino. Assim como essas correspon-
último a sair. Cumpre, de forma metódica uma História de dências, também podemos não chegar
e eficiente, o seu trabalho monótono de Wall Street ao destino que nascemos para cumprir.
copiador. Instalado próximo ao patrão, Autor: Herman Melville Nem sempre compreendemos o muro
Editora: L&PM
para servi-lo em situações emergenciais, que separa as expressões subjetivas da
Páginas: 96
deuses estavam por toda parte e tudo o quem não conhecemos. Queremos ser que estamos envelhecendo, deixando
que permanecia em mim se animava lá aceitos, alimentamo-nos de likes e não de enxergar o sorriso dos nossos entes
fora. Com a evolução, o Eu precisou des- percebemos quando estamos perdendo queridos, antes que se tornem fotos de
se muro, que separa o que escondemos a noção de nossa singularidade e respei- recordação nesses mesmos instrumen-
do outro, o privado, e criamos uma outra to pelo que verdadeiramente somos. tos de separação.
personalidade para ser mostrada do ou-
tro lado do muro, o que pode ser público.
No lado público, inventamos uma Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano.
máscara para ocultar, muitas vezes, o É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia.
carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br
que não compreendemos em nós mes-
psique ciência&vida 65
Capricho
nas sutilezas
BIG LITTLE LIES MOBILIZA AS
PESSOAS, ESPECIALMENTE SOBRE
A FORÇA DAS MULHERES E SEU
COTIDIANO COM EXIGÊNCIAS
BEM DISTINTAS. É UM ROTEIRO
IGUALMENTE ACESSÍVEL AO
FEMININO E AO MASCULINO
N
ão foi surpresa que a série foi altamente indicada e pre-
miada, cogitando uma segunda temporada de Big Little
Lies – A Mentira é a Amizade. Mesmo tendo a história
original do livro, se encerrado com a minissérie. Essa pas-
sou então para a categoria de seriado, com possíveis continuações.
A princípio, para os fãs do livro e que se encantaram com a
produção, com essa continuação talvez não fosse possível manter
o mesmo nível, mas nada que uma boa equipe de roteiro, super-
visionada pela autora e com uma adição ao elenco, não tornasse
viável. A série retorna em sua segunda temporada mantendo o fô-
lego e um bom enlace com o espectador. As “cinco de Monterey”
continuam capturando a atenção e compondo boas tramas. Sem
se afastar da história da primeira temporada, o enredo se mantém
bem alinhavado e em um fio lógico que se sustenta com maestria.
Ganha a grande presença de Meryl Streep, que é introduzida nessa
temporada como a mãe (Mary Louise Wright) do falecido Perry
Wright (Alexander Skarsgård). Além da sempre prazerosa possibi-
lidade de ver a atuação da atriz, a personagem vem acrescentar ao
roteiro maior aprofundamento e consistência, dando um passado
à violência que gerou toda a trama. Acreditem ou não, é possível
odiar Meryl pela sua personagem. O que torna toda a temporada
muito ambígua, porque somos sempre inclinados a idolatrar tudo
o que ela faz. E como faz tão bem, sua personagem se torna tão
IMAGENS: DIVULGAÇÃO E SHUTTERSTOCK
RAÍZES FAMILIARES
Muitos são os pontos que a nova temporada sublinha, os
mais evidentes seriam: a violência como fruto de uma história de
agressões, como as famosas teias e raízes familiares que carrega-
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FEMINILIDADE ROUBADA
Foi muitíssimo comentado pela crí-
tica especializada e nas redes sociais o
quanto Laura Dern teria arrebatado o
público nessa segunda temporada, e o
fato é que ela realmente dá um show de
interpretação e sua história na trama foi
valiosa. Aliás, Renata é a personagem
que rouba a cena na temporada. Laura
Dern tem sido apontada como principal
destaque e suas cenas são as melhores.
Há quem diga que conseguiu desbancar
IMAGENS: DIVULGAÇÃO E SHUTTERSTOCK
muito bonitas e lançam esperança aos de- ao convencional papel social reservado à feminino e ao masculino.
sesperançados no amor contemporâneo.
Bonnie, de certa maneira, completa Big Little Lies. ANO DE PRODUÇÃO: 2019. DIREÇÃO: Andrea Arnold.
essa história com a insistência do quanto DURAÇÃO: 347 minutos. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos. GÊNERO: Drama,
suspense. PAÍS DE ORIGEM: EUA
é preciso revelar para que haja uma liber-
dade verdadeira. Não há amarras mais
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Saúde mental
no convívio familiar
A FAMÍLIA É UM SISTEMA EM QUE SE ESPERA
QUE TODOS ESTEJAM APTOS A DESENVOLVER SUAS
FUNÇÕES. COMO LIDAR COM A RUPTURA DESSA
ENGRENAGEM QUANDO HÁ ALGUMA DISFUNÇÃO?
O
que significa ter saúde cialmente quando o grau de gravidade la criança trabalhosa agora é um adulto
mental? O que significa da doença mental torna o indivíduo in- com pais mais envelhecidos e frágeis.
“ser normal”? Quando essa capacitado para amar e trabalhar. Va- Os principais impactos que podemos
questão foi feita a Sigmund mos utilizar o conceito de Freud para citar podem ser financeiros, uma vez que
Freud ainda no século XIX, ele respon- comentar essa matéria, pois, apesar de os tratamentos e medicamentos têm alto
deu: “normal é a pessoa capaz de amar parecer reducionista e simplório, resume custo, somado a uma queda de receita,
e trabalhar”. muito bem o que acontece com o indiví- pois alguém que poderia estar no merca-
A partir dessa resposta de Freud duo e seus familiares. do de trabalho é escolhido pela família
podemos imaginar o quanto a doença Sendo a família um sistema, também para cuidar do membro que necessita de
mental pode impactar o ciclo familiar. A é um ciclo hierárquico. Vamos refletir atenção e vigilância.
família é um sistema como se fosse uma sobre alguns exemplos. Se a pessoa com As famílias que não possuem recur-
engrenagem, na qual os membros pos- doença mental é uma criança, ela preci- sos buscam apoio na rede pública, e a
suem funções, missões e expectativas de sa de duplo cuidado. Além dos cuidados maior queixa que recebemos é que nem
futuro, ou seja, se espera que todos es- naturais do ser criança, o tempo da fa- sempre há eficácia, porque as consultas
tejam aptos a desenvolver suas funções mília é dedicado às visitas médicas, tera- possuem intervalos grandes entre uma e
esperadas para cada idade e que amem pias, medicação. Em geral um membro outra, e a impossibilidade de arcar com
não só os seus parentes, como tenham paralisa suas atividades laborais para o custo dos remédios.
empatia pelas pessoas que não fazem cuidar, sem nenhum prazo objetivo de A inversão da hierarquia familiar
parte da família, mas que ocupam um quando essa situação vai terminar. também é algo muito comum, pois,
lugar de importância em nossas vidas. Na adolescência não é muito diferen- quando são os filhos que cuidam dos
São os colegas de escola, amigos, vizi- te, pois o adolescente tende a querer a pais, esse filho fica descoberto da prote-
nhos e até parentes distantes. Pode não sua independência e liberdade para ir à ção familiar e muitas vezes, mesmo sem
haver amor, mas há afeto e empatia. rua sem companhia, frequentar festas e maturidade e condições adequadas, cui-
Pensemos agora em uma família que eventos, mas nem sempre isso é possível. da de quem deveria cuidar dele.
possui algum membro com uma questão A decorrência é a revolta do adolescente O estresse familiar acontece pelos
que interfere e atrapalha a homeostase e mais tensão dentro de casa. comportamentos antissociais, impul-
da casa. São inúmeros os casos. Parentes Na fase adulta, quando a medicação sos, precisar vigiar por quase 24 horas
IMAGENS: SHUTTERSTOCK/ ACERVO PESSOAL
com depressão, ideação suicida, bipo- não faz o efeito desejado do sujeito poder a pessoa com ideação suicida, vigiar os
laridade, distimia, psicose, esquizofre- ter autonomia e empatia, a vida incapa- remédios para evitar abusos e cumprir
nia, dependência química de qualquer citante permanece imobilizando um ou os papéis familiares que pertenceriam
ordem, transtornos de personalidade e vários membros da família para cuidar a quem está doente.
tantas outras questões que tensionam e sempre. Temos uma situação de conge- Em famílias com mais de qua-
atingem diretamente as famílias, espe- lamento do tempo, pois parece que aque- tro membros, encontramos também a
A
síndrome de burnout é um ria atenção médica imediata devido ao tiadas, individualistas, competitivas até
estado emocional e de estres- risco de suicídio. consigo mesmas, as ideias de produção
se crônico que vem acome- Geralmente o diagnóstico é reali- desenfreada tomam conta do sujeito
tendo muitos profissionais, zado por profissional de saúde mental, que trava verdadeiras lutas internas e
principalmente das áreas da saúde, que pode ser o psicólogo e/ou psiquia- externas para dar conta das exigências
IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL
educação, assistência social, policiais e tra. É feito a partir dos sintomas apre- capitalistas. Hoje, se vale o que se tem,
agentes carcerários, mulheres que en- sentados, a história pessoal e a contex- e aquele que não tem vai tentar conse-
frentam jornadas duplas, entre outras tualização atual. O tratamento é por via guir de qualquer forma, vale até tirar a
profissões que lidam com altas cobran- medicamentosa e psicoterapia. Mesmo vida humana por causa de um celular.
ças e pressões constantes de produ- para os pesquisadores da área da saúde O ser humano está se desumanizan-
ção. Estudos realizados apontam que que tratam a síndrome, a sua etiologia é do, está no processo de coisificação, se
J
Dippel teve uma ohann Conrad Dippel nasceu no Cas-
vida tumultuada, telo de Frankenstein em 1673, em
muitas vezes Darmstadt, Alemanha. Na época, o
se metendo em
lugar estava sendo usado como um
confusão por
suas opiniões
albergue para inválidos e feridos da guerra
contestadas franco-holandesa, onde seu pai, um rigo-
roso pastor luterano, buscou refúgio por
causa das intensas perseguições religiosas
de então. Portanto, Dippel cresceu em meio
a pessoas em sofrimento: mutilados, ampu-
tados, feridos e muitas mortes. E esse fato
será determinante em sua vida. A obsessão
do pai por dogmas da sua religião obrigou
a família a passar longos períodos de jejum
e penitência, alguns tão duros que provoca-
ram a morte do filho mais novo. O pai de-
terminou que Johann fosse pastor como ele
e o matricula, com 9 anos, em uma escola de
formação religiosa para iniciar seus estudos.
Morou toda a infância e adolescência
no mesmo castelo e, por gostar muito do
lugar, acrescentou por um período de tem-
po “von Frankenstein” em sua assinatura.
Enquanto estava na Universidade de
Giessen estudando Teologia, ganhou re-
putação por ser confrontador, mal-humo-
rado e antissocial.
Esse comportamento lhe rendeu pou-
cos amigos, que admiravam sua disposição
em entrar em desacordo, e muitos inimigos,
que desprezavam sua vontade de sempre
ENIGMÁTICA
sua vida e em seus estudos como cientista.
Envolveu-se em uma exaltada dispu-
ta com o pregador da Corte Reformada,
Conrad Broeske, com quem compartilha-
do século XVIII
va a esperança da necessidade urgente de
renovação da cristandade, mas com visões
totalmente diferentes do que seria essa
renovação. Broeske o acusava de ser um
teólogo desvairado, sem base para susten-
AUTOR DESCONHECIDO/WIKIMEDIA COMMONS
do livros sobre religião com esse nome) e esforços a todos os tipos de experimentos composto alquímico que seria a fonte da
também Ernst Christoph Kleinmann (pu- científicos, baseados amplamente em “tex- juventude eterna e da imortalidade.
blicando livros sobre alquimia e outros as- tos ocultistas” que começou a compilar Com a ruptura com os dogmas religio-
suntos). Acredita-se que utilizava pseudô- com meticulosidade obsessiva. sos, surge uma angústia existencial profun-
nimos porque sua imagem pública havia Quando morou em Bergstrasse (na Ale- da em Dippel, que o faz dedicar anos em
se deteriorado e especula-se que o fato de manha), praticou exclusivamente a alqui- busca de uma resposta para sua incerteza
Johann Conrad Dippel nasceu no Castelo para comprar o castelo, então propriedade
de Frankenstein em 1673, em Darmstadt, da família Von Breuberg. Os proprietários
Alemanha. Na época, o lugar estava sendo que já o conheciam ficaram sensibilizados
usado como um albergue para inválidos e
com seu estado emocional e permitiram
feridos da guerra franco-holandesa
que ele voltasse a residir em uma parte iso-
lada do castelo e montasse seu laboratório
em um dos porões.
Usou fórmulas “geradas pelos delírios
e alucinações místicas” para encontrar a
imortalidade, as tentativas tornaram-se
cada vez mais extremas e desconexas.
Os últimos anos de sua vida são uma
A RELÍQUIA
“Ele é o Proust da língua portuguesa”, afirmou
o jornal The New York Times ao se referir a Eça de
Queirós. Assim como o escritor francês, o mais
importante romancista português do século XIX
trabalha sua narrativa a partir da observação das
vidas interior e exterior de seus personagens, sem
perder o olhar crítico dos valores e costumes, da
política e da religião. Com a obra A Relíquia, ele
concorreu ao prêmio D. Luis da Academia Real de
Ciências. Em 1887, época da publicação do livro,
Eça já entendia que seu tempo era consumido
pelas incertezas da inteligência e angustiado pelos
tormentos do dinheiro. Como um verdadeiro
clássico, ele continua atual.
Livro: A Relíquia
Número de páginas: 180
Editora: Lafonte
DESAFIOS DA ADOLESCÊNCIA
Todos sabemos o verdadeiro estrago que o período da adolescência pode causar. Trata-se
realmente da fase mais difícil da vida do ser humano. Não sou apenas eu quem diz isso. Já
li e assisti diversos especialistas falando sobre o tema. Talvez o motivo principal seja o fato
de ser um momento de transição entre a infância e a vida adulta, que envolve uma infi ni-
dade de mudanças: biológicas, cognitivas e socioemocionais. O artigo que saiu no número
162 da Psique mostra que o processo biológico abrange mudanças físicas no corpo do
indivíduo; o processo cognitivo se refere a alterações no pensamento e na inteligência e,
por último, o socioemocional, que traz mudanças nos relacionamentos com as pessoas, na
emoção, na personalidade e nos contextos sociais. Ou seja, são muitas novidades na vida
de uma pessoa que ainda não está totalmente formada.
29/07/2019 13:46
Plínio Sartori, por e-mail
CAPA162_aprovada.indd 1
NOTÍCIA
ACONTECE
MUNDO, APONTA OMS tória da humanidade é tentar en-
tender o cérebro. Af inal de contas,
A ansiedade é um dos principais se trata de um sistema complexo e
problemas da vida moderna e o
dinâmico, dizem os especialistas.
Brasil comprova a tese. Levanta-
Compreender seu funcionamento
mento realizado pela Organização
é uma atividade que atrai pesquisa-
Mundial da Saúde (OMS) aponta
que o país está em primeiro lugar dores desde que o mundo é mundo,
no ranking de pessoas ansiosas no talvez porque permita diversas aná-
mundo: são 18,6 milhões de bra- lises e sínteses, relacionadas com
sileiros, o que representa 9,3% da diferentes abordagens. Na minha
população, que convivem com o infância ouvia sempre que “o ser
transtorno. O estudo de 2019 indica, humano não usa nem 10% da capa-
ainda, que a ansiedade é a segunda cidade do seu cérebro”. Mas parece que essa informação não procede. Estudos
condição mental, depois da depres- recentes e aprofundados demonstraram que usamos todo o nosso cérebro para
são, com maior incidência de inca- qualquer pensamento ou ação, conforme publicado na edição 162 da Psique. Por-
pacidade na maioria dos países ana-
tanto, “os indicadores de que determinadas regiões cerebrais estão relacionadas
lisados. A OMS revelou, também,
a pensamentos específ icos mostram diferenças sutis em relação à totalidade de
que o Brasil ocupa a liderança de
sinapses neuronais ocorrentes, para qualquer pensamento”, diz o artigo.
outro ranking, quando o assunto é
o tempo de convivência com a inca-
Simone Oliveira, por e-mail
pacidade provocada por transtornos
psicológicos. O novo trabalho, que VIOLÊNCIA CONTRA POPULAÇÃO LGBTQIA+
analisou os efeitos e as consequên- Estarrecedores os dados divulgados pela Psique, em sua edição de número 162:
cias dos transtornos mentais nas o Brasil é o país onde se registram os maiores índices de violência contra a cha-
Américas, apontou que não é ape- mada comunidade LGBTQIA+. É, de fato, impressionante. Imagino que tenha
nas o brasileiro no continente que relação com a onda de intolerância às diferenças que vem tomando conta do país.
sofre com os transtornos de ansie- A abordagem da entrevista com a prof issional Mariana de Camargo Penteado foi
dade. O Paraguai, por exemplo, foi bem interessante, pois ela revelou a importância da participação do psicólogo
eleito recentemente uma das nações junto a esse segmento da população. Ela diz que “a atuação do psicólogo deve
com maior índice de felicidade do
sempre se basear na defesa dos direitos humanos. A comunidade LGBTQIA+
mundo. Entretanto, os paraguaios
é uma das pautas centrais dessas discussões. A prática deve, portanto, visar a
ocupam a segunda colocação no rol
promoção de direitos, a laicidade, o combate à patologização e a crítica aos
de países mais ansiosos, segundo a
OMS. Ele é seguido por Chile, Ar- processos de naturalização das questões de gênero”. Isso deveria ser ouvido por
gentina e Colômbia. algumas autoridades no país.
Tereza Corrêa, por e-mail
80 psique ciência&vida
ção do espaço público transforma a pró- de todo tipo de mal-estar, o “novo espíri-
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pria vida em formas de condomínio, com to do capitalismo” impede as pessoas de GRANDES, MÉDIAS E PEQUENAS AGÊNCIAS E DIRETOS
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regulamentos, síndicos e muros. Estes são reconhecerem a aspiração de liberdade,
REPRESENTANTES Interior de São Paulo: L&M Editoração,
os temas do livro do psicanalista Christian apresentando um novo sintoma social bra- Luciene Dias – Rio de Janeiro: Marca XXI, Carla Torres, Marta
Pimentel – Santa Catarina: Artur Tavares – Regional Brasília:
Dunker, que recebeu o título Mal-estar, So- sileiro. Entrevista completa, publicada na Solução Publicidade, Beth Araújo.
frimento e Sintoma: a Psicopatologia do Brasil edição 114, pode ser conferida no site www.
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ACONTECE
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CURSO ABORDA ENTREVISTA FORENSE COM CRIANÇAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA INDÚSTRIA GRÁFICA LTDA.
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O município de Santa Rosa, no Rio Grande do entrevistas investigativas com crianças. O cur-
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que oferece o melhor suporte para conduzir (51)3573-3012 / (51)99416-6378. Albino; Fabiola Salustiano; Gabriela Sayago; Lucas Vasques
Peña; Maria Tereza Maldonado; Priscila Romero. REVISÃO:
Jussara Lopes. COLUNISTAS: Anderson Zenidarci; Carlos
São Paulo; Denise Deschamps; Dayse Serra; Eduardo J.
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CONSELHO EDITORIAL Oliveira; Júlio Furtado; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf;
Michele Muller; Nicolau José Maluf Jr.; Renata Bento. O
AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia KARIN DE PAULA, psicanalista, doutora pela PUC-SP, professora Conselho Editorial e a Redação não se responsabilizam pelos
Clínica pela USP. Professora no IJBA e na Escola Bahiana de e supervisora clínica universitária e do CEP, autora do livro artigos e colunas assinados por especialistas e suas opiniões
Medicina e Saúde Pública, Salvador, BA. $em? Sobre a Inclusão e o Manejo do Dinheiro numa Psicanálise, e neles expressas.
de vários outros artigos publicados.
ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro, autora de livros e artigos científicos, LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP,
parecerista de diversas revistas e responsável técnica do com pós-graduação em Psicoterapia Cognitiva Construtivista. FALE CONOSCO
Instituto de Psicologia Fenomenológico-Existencial do RJ. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia
DIRETO COM A REDAÇÃO
Positiva e Comportamento. Atua em clínica e consultoria.
ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta cognitiva psique@escala.com.br
pelo Institute of Psychiatry, Universidade de Londres. Diretora LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da PUC-
do Instituto de Terapia Cognitiva (ITC), atua em clínica, faz SP. Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. PARA ANUNCIAR
treinamento, consultoria e pesquisa. Presidente honorária, ex- anunciar@escala.com.br
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ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor em MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia SP/RIBEIRÃO PRETO: (16) 3667-1800
Ciências na área de Neurofisiologia da Memória e Atenção pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em RJ: (21) 2224-0095
pela Universidade de São Paulo, onde também é professor no Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em RS: (51) 3249-9368
curso de Biociência e coordena o Laboratório de Ciências da Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP. BRASÍLIA: (61) 3226-2218
Cognição no Instituto de Biociências. SC: (47) 3041-3323
MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de
CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em ASSINE NOSSAS REVISTAS
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doutor em Saúde Mental pela Unicamp, pós-doutorado em Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga www.assineescala.com.br / (11) 3855-2117
Saúde Mental pela Universidade de Barcelona-Espanha, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HCFMUSP e
professor associado de Psicologia da Universidade Federal de supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia Hospitalar VENDA AVULSA REVISTAS E LIVROS
Uberlândia. Autor de Aids e Exclusão Social. em Ortopedia. (11) 3855-1000
DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela Universidade ATACADO REVISTAS E LIVROS
Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia Escolar e Paulista, psicanalista, consultora editorial do programa de (11) 3855-2275 / 3855-1905
do Desenvolvimento Humano, ambos pela USP. Pesquisadora entrevistas da FNAC e membro correspondente do Espaço atacado@escala.com.br
na área da Psicologia Moral e Evolutiva. Professora Moebius de Psicanálise de Salvador (BA).
universitária. LOJA ESCALA
PEDRO F. BENDASSOLLI é editor da GV Executivo, psicólogo Confira as ofertas de livros e revistas
DENISE GIMENEZ RAMOS é coordenadora do Programa de graduado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e www.escala.com.br
Estudos Pós-Graduados da PUC-SP e membro da Sociedade doutor em Psicologia Social pela USP. É também professor da
Brasileira de Psicologia Analítica. Fundação Getulio Vargas e da ESPM. ATENDIMENTO AO LEITOR
De seg. a sex., das 9h às 18h. (11) 3855-1000
ou atendimento@escala.com.br
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N
ão é raro pessoas acharem que
por meio da observação da assi-
natura é possível reconhecer tra-
ços da personalidade do assinan-
te. Será verdade? Não e sim. Não porque
a assinatura, isoladamente, costuma ter
poucos elementos de análise, e a maioria
das firmas normalmente é estabelecida na
adolescência e pouco se modifica ao longo
da vida, automatizando-se, ou seja, a pes-
soa assina automaticamente.
Por outro lado, o exame atento da as-
sinatura e da escrita pode revelar aspectos
interessantíssimos para o perito, normal-
mente quando se trata de perícias póstumas
retrospectivas, por exemplo em casos de ta retoques e, o que é muito importante, se Há ainda outro tipo, que consiste em
anulação de testamento, quando o testador é falso ou verdadeiro. colocar a matriz e o papel suporte sobre
falece e os herdeiros descontentes alegam, Nesse ponto, os falsários estão cada vez um vidro e, por baixo do conjunto, uma
em juízo, insanidade mental do testador. mais aprimorados. Hoje usa-se o computa- luz forte. Dessa forma a imagem da fir-
O perito deve, nessas horas – além dor para a falsificação de firmas, e os mé- ma verdadeira será vista por transparên-
de examinar vários elementos, como o todos são deveras variados. Porém, ainda se cia, permitindo a sua recobertura direta
conteúdo do testamento, as causas da veem falsificações manuais, algumas bem- com caneta. E tem a dita imitação livre,
morte do testador, possíveis tratamentos -feitas. Existem vários tipos de ardil. Todos ou exercitada, quando o falsário repro-
psiquiátricos pregressos (quais remédios exigem uma matriz, ou seja, uma assinatura duz muitas vezes a firma da vítima, a fim
foram ingeridos etc.) –, observar a assina- que tenha sido feita pela vítima. Uma forma de automatizá-la até ficar satisfeito com
tura aposta na ata das últimas vontades, a simples de copiá-la é colocando essa matriz o resultado.
fim de surpreender anormalidades gráfi- sobre o documento a ser produzido, inse- Porém, se o perito for experiente e tiver
cas, as chamadas grafopatologias. rindo, entre as duas peças, folha de papel outras assinaturas verdadeiras para analisar
Lembremos que a escrita manual é a carbono, calcando sobre a matriz uma ponta e comparar, a farsa sempre vai aparecer.
impressão de pequenos movimentos psico- dura e deslizante, a fim de marcar o docu- Hoje em dia, com os recursos digitais, em
motores do indivíduo no papel, o que vale mento falso. Após, cobre-se o debuxo (papel que se tem variadas ferramentas de análise
ARQUIVO PESSOAL/ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL
dizer, são gestos gráficos, os quais podem marcado pelo carbono) com tinta e apagam- caligráfica, é fácil descobrir a fraude.
ser devidamente analisados. -se as marcas do carbono com uma borracha
Entre os dados que se observam é macia. Outro método é usar a ponta dura e Guido Arturo Palomba
preciso atentar para o traço, se é forte ou deslizante sobre a matriz, pressionando-a é psiquiatra forense e
membro emérito da
fraco, vigoroso ou trêmulo, hesitante ou fortemente. Terminando esse ato, no papel
Academia de Medicina
resoluto, rápido ou lento, alinhado ou de- suporte ficará o sulco da firma transferida, de São Paulo.
salinhado, indeciso, oscilante, se apresen- que será coberto por tinta.
Nasias
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