Você está na página 1de 11

FACULDADE DE FILOSOFIA E TEOLOGIA PAULO VI 

TRABALHO DE HISTÓRIA DA IGREJA MEDIEVAL


ORDENS MENDICANTES - FRANCISCANOS

 
 

MOGI DAS CRUZES / SP


2022
FACULDADE DE FILOSOFIA E TEOLOGIA PAULO VI 
 

TRABALHO DE HISTÓRIA DA IGREJA MEDIEVAL


ORDENS MENDICANTES - FRANCISCANOS
 

Trabalho apresentado ao curso de Teologia


à Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo
VI, para a disciplina de História da Igreja
Medieval. 
Docente: Maria Angélica Moreira

 
  
 

 
 MOGI DAS CRUZES / SP 
2022
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por finalidade nos apresentar como surgiram as
ordens mendicantes. Apresentaremos inicialmente os antecedentes históricos,
estes antecedentes são de ordem civil e eclesiástica. Por opção metodológica
escolhemos apresentar separados os fatos de contexto histórico e de contexto
religioso. Ainda que seja muito difícil separar história civil e religiosa, sobretudo
neste tempo, o tentamos para melhor organização.
No segundo tópico, entraremos no surgimento das ordens
mendicantes e em seguida chegaremos na vida de São Francisco, na qual
gastaremos mais tempo no seu desenvolvimento. Nos dedicaremos em
apresentar uma simples bibliografia contendo os momentos mais importantes
de sua vida.
 
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Ao falar das ordens mendicantes, e de modo especial de São
Francisco de Assis, nos será necessário contextualizar-nos um pouco no tempo
e no espaço. Entraremos no contexto histórico, social e religioso da época para
podermos entender que as ordens mendicantes não surgiram do nada e que
um São Francisco de Assis, embora tenha ouvido a voz de Deus de modo
ímpar, para que a sua vida tenha tido tanto esplendor e tanto impacto para
aquele tempo, alguns fatores contribuíram para que ele se tornasse quem foi.
1. Contexto histórico
Estamos no período da Idade Média, maior período que a história
anotou que oficialmente. Este período data desde 476, com a queda do império
romano do Ocidente, e vai até 1453 com a queda do Império Bizantino pelos
turcos-otomanos, sendo capital, Constantinopla.
Estamos falando de modo mais preciso da alta Idade Média, que vai
de 1073, que tem como Papa Gregório  VII (1073-1085), e como Imperador
Henrique IV (1056-1106); ambos protagonizaram o conflito pelas investiduras
leigas, e que em algum momento (1076) o papa excomunga o imperador por
desobedece-lo. A alta Idade Média vai até  1303, tendo como papa Bonifácio
VIII (1294-1303), e como rei da França Filipe IV, o Belo (1285-1314), que
também protagonizam um grande desentendimento sobretudo por conta de
uma cobrança exorbitante por parte do rei ao clero da França. Este é o mesmo
rei que motiva o papa Henrique X a suprimir a ordem dos Cruzados. O papa
convocou um concílio de Vienne, na França em 1311 e em 1313 suprime a
ordem dos templários;
Temos como sistema económico da época, o sistema feudal, que
surgiu no século V, com o “enfraquecimento do Estado, especialmente na
França e Itália, motivado pela invasão dos germanos, especialmente os
vikings”. Foi um sistema agrícola, que substituiu o sistema anterior de
escravidão. Neste sistema, o suserano ou senhor feudal passava parte de suas
terras ao vassalo, também nobre. Os vassalos podiam fazer o mesmo com
outro que para ele seria vassalo. Em algum momento o vassalo passava uma
pequena parte das terras aos servos da gleba, que tinham por obrigação dar
parte da colheita como impostos aos nobres. Além destes, haviam também o
clero, que por sua vês se dividia em alto e baixo clero.
Este sistema, que acompanhou toda a Idade Média e oficialmente foi
até a Revolução Francesa, no século XIII já estava em decadência, sobretudo
pelo retorno das cidades, e pelo “começo das monarquias absolutistas, das
quais a primeira foi a de Filipe IV, o Belo da França”. É importante
compreender este período, pois são Francisco, que era filho de comerciantes,
de burguês, queria enormemente alcançar o título de nobreza, e alguém que
não nascia nobre, só podia alcançar este título se se tornasse cavaleiro, e para
isso precisava ganhar alguma grande guerra. Por este motivo Francisco tinha
como grande objetivo de sua vida ser cavaleiro.
2.  Contexto religioso
O contexto religioso do século XIII era difícil, pois haviam muitas
incoerências por parte da Igreja. Desde o século X, conhecido por ser o século
de ferro, a Igreja vinha tentando restabelecer a autenticidade das origens.
Houve a reforma gregoriana, iniciada pelo papa Leão IX (1049-1054), que teve
quatro características principais: Decreto  de eleição pontifícia, que procurava
retirar das mãos dos leigos a escolha dos papas; Contra as investiduras leigas:
definia que nenhum clérigo deveria receber um cargo eclesiástico das mãos de
um leigo; Contra sacerdotes que não praticavam o celibato: o decreto exortava
os fiéis a não participarem das celebrações presididas por sacerdotes que não
observavam o celibato; Contra a simonia: contra a compra e venda de cargos
ou elementos espirituais.
Além desta reforma, tivemos a fundação da abadia de Cluny, no ano
909, por parte do monge Guilherme de Aquitânia, que inicialmente teve grande
êxito, com muitas fundações,  e no século XI, deste, surgiu o mosteiro de
Cister, tendo com expoente  São Bernardo de Claraval (1090-1053); todas
estas foram tentativas de fazer a Igreja retornar às características do início,
mas que ainda não eram suficientes, pois como sempre haviam as disputas
dos papas contra os imperadores, isso limava o prestígio da Igreja, e motivava
os membros da Igreja à não observância dos costumes eclesiásticos, que
trariam testemunho para a Igreja.
Temos ainda outro acontecimento, as Cruzadas, que possuíam
motivos religiosos e civis, empreendimento surgido no final do século XI, (1096-
1099) que inicialmente possuía motivações nobres: resgatar os lugares
sagrados, que foram tomados pelos mouros. Geralmente as Cruzadas oficiais
são contadas em número de sete ou oito. A primeira Cruzada foi a única a
alcançar este objetivo, nos entanto ao perder novamente o território da Terra
Santa para os muçulmanos, não os recuperou mais. As Cruzadas foram
perdendo suas intenções nobres e foram adquirindo finalidades mais políticas,
e desta forma os nobres se utilizaram da Igreja ´-opara alcançar fins de ordem
política e econômica; por conseguinte, foram deixando de ter êxito. O conflito
com os mouros gerou um episódio interessante na vida de São Francisco, isso
se deu na quinta Cruzada, que ocorreu de 1217 a 1219. Falaremos disso
quando tratarmos da vida de são Francisco. 
Naquele tempo, além dos perigos dos mulçumanos, que afetavam a
sociedade e a Igreja, o perigo dos hereges. Não podemos dizer diretamente
que os erros por parte do clero daquele tempo foi suficiente para que se
produzisse algumas heresias, no entanto, neste período da alta Idade Média,
surgiu na Europa grupos  heréticos de cunho maniqueísta, que tinham como
característica: contestar a autoridade da Igreja,  sua riqueza em oposição à
pobreza evangélica pregada nos Evangelhos, o monopólio da hierarquia no uso
do Evangelho, na leitura e pregação, em contrapartida com a má preparação
por parte do clero para a pregação e a fixação do alto clero pelo poder e pelo
dinheiro deram espaço para que heresias como dos Valdenses. cátaros, e
albigenses se proliferasse na Europa:

Esses conflitos geraram o que conhecemos como pior ainda: a cidade


é muitas vezes herética; a vaga das contestações heterodoxas, das
quais as dos valdenses e dos cátaros são as mais evidentes e as
mais numerosas, ameaça o cristianismo oficial. O clero secular,
insuficiente em número, instrução e bons costumes, o monaquismo
dominado pelo desprezo pelo mundo (contemptus mundi), a ideologia
da solidão e a absorção no contexto feudal são impotentes.

O caminho para combater essas heresias foi o da instauração do


tribunal das Santas Inquisições, que embora tenha sido oficializado em 1231
pelo Papa Gregório IX, contudo, teve a sua origem no século XII antes mesmo
da instauração deste tribunal. O povo e o rei já possuíam ações violentas conta
os hereges, e a Igreja assumir essa função tinha como um dos objetivos tornar
o julgamento mais justo, ou menos injusto, sendo o bispo da diocese o juiz
ordinário das questões de possível heresia.
2.  ORDENS MENDICANTES
Chegamos no século XIII, e percebemos o fenômeno do surgimento
das ordens mendicantes como os franciscanos (1206), os dominicanos na
Europa (1209), Itália e França e os carmelitas no Oriente (1021); sendo que
com sua expulsão (1229) de lá pelos mulçumanos, vieram a se instalar na
Europa. Tivemos também a ordem de santo Agostinho, que inicialmente eram
eremitas e em 1256, o papa Alexandre IV os une como ordem dos agostinhos.
1. Surgimento das ordens mendicantes
Como principal propagador deste estilo mendicante temos São
Francisco de Assis. Na verdade, antes de surgir de um desejo tácito de seus
fundadores de fundar essas ordens, surgiu da experiencia de uma vida simples
com o objetivo de dar testemunho.  Mas antes de nos aprofundarmos na vida
de Francisco propriamente tal, veremos dois fatores que foram importantes
para a fundação das ordens mendicante.

As ordens mendicantes surgem no século XIII. Receberam


essa designação desde essa época porque a sua maneira de
subsistir pelo peditório e não pela recepção de dízimos e de
proventos de tipo feudal impressionaram os contemporâneos.
A mendicidade — que eles praticam de uma maneira diferente
dos “verdadeiros” mendigos — é um “valor” e um
comportamento discutidos no século XIII. As duas principais
ordens mendicantes são a ordem dos irmãos pregadores [...]
fundada pelo espanhol Domingos de Calaruega (ap. 1170-
1221, canonizado em 1233) e a ordem dos irmãos menores
[...], fundado pelo italiano Francisco de Assis (1181-1226,
canonizado em 1228).

É importante entender que ate o século treze só tínhamos dois tipos


de vida religiosa: os monges e os cônegos regulares. E a partir do surgimento
de uma nova configuração social, as comunas ou cidades, entre os feudos,
naturalmente surgiu a necessidade de um estilo de vida religiosa que
alcançasse a evangelização destes que ali residiam:

A nova sociedade urbana precisa de um apostolado novo. Esses


novos apóstolos serão os irmãos mendicantes. Mas antes de se
instalarem nas cidades, as novas ordens tiveram sérios problemas a
resolver. Tendo beneficiado desde muito cedo do apoio da cúria
romana e dos príncipes laicos — Branca de Castela e S. Luís, por
exemplo, favoreceram-nos muito —, foram com muita frequência
sustentados pelos bispos e puderam, no conjunto, triunfar com
bastante facilidade sobre a hostilidade do clero paroquial que via
neles — com justa razão — concorrentes.

Outro fator foi o da necessidade de alcançar a novos lugares, a


necessidade de evangelização dos pagãos, que ficou por parte dos
mendicantes essa tarefa. Tanto franciscanos como dominicanos ficaram
responsáveis por esse apostolado. Como os mendicantes se sobressaiam aos
cônegos diocesanos no quesito de testemunho e capacidade intelectual,
facilmente foram aceitos pela Igreja para cumprir essa função mais missionária.

A cidade é pagã, há que convertê-la. Pior ainda: a cidade é muitas


vezes herética; a vaga das contestações heterodoxas, das quais as
dos valdenses e dos cátaros são as mais evidentes e as mais
numerosas, ameaça o cristianismo oficial. O clero secular, insuficiente
em número, instrução e bons costumes, o monaquismo dominado
pelo desprezo pelo mundo (contemptus mundi), a ideologia da solidão
e a absorção no contexto feudal são impotentes. A nova sociedade
urbana precisa de um apostolado novo. Esses novos apóstolos serão
os irmãos mendicantes. Mas antes de se instalarem nas cidades, as
novas ordens tiveram sérios problemas a resolver. 

2. Vida de São Francisco


São Francisco nasceu entre 1181 e 1182 na cidade de Assis, Itália,
filho do comerciante Pedro de Berdadone e dona Pica de Bernadone. Conta-se
a história, que ao ser batizado, Francisco recebe o nome de João, e quando
seu pai volta da França, de ter comprado tecido, dá a ele o nome de Francisco,
talvez por isso seu pai lhe deu o nome de Francisco, pois esse nome próprio
não era muito comum na época.
Jovem entusiasta, destemido, de caráter jovial, fazia amigos com
facilidade, era alguém que os outros facilmente gostavam de estar perto.
Talvez por isso desde jovem era boêmio e gostava de festas. Como seu pai
tinha boa situação econômica, ele não se preocupava muito com a vida e
desfrutava de sua juventude, entregando-se às facilidade comuns da época.
Nem o maior dos sábios imaginava a conversão radical que este homem
realizaria depois. 

Francisco era desses indivíduos que são populares com todos em


qualquer caso, e sua impulsividade sem malícia como Trovador e
mentor da moda francesa fazia dele uma espécie de caudilho
romântico entre os jovens da cidade. Desperdiçava dinheiro em
extravagâncias e benevolências, de um modo nato numa pessoa que
nunca na vida compreendera exatamente o que era o dinheiro. Isto
enchia o coração materno de um misto de satisfação e exasperação,
ao ponto de ela dizer, como diria qualquer esposa de negociante: “Ele
é mais um príncipe do que nosso filho”.

Como quase todo jovem daquela época que se preze, Francisco


tinha o desejo de ser nobre, para isso precisava vencer alguma batalha e
tornar-se cavaleiro. Francisco Tinha esse como um de seus principais sonhos,
e não tardou para aventurar-se em alguma batalha. Se instala uma guerra
entre Assis e Perugia. Era muito comum essas guerra podemos dizer entre
castas ou comunas, pois era quase um hobby naquela época os senhores
feudais declararam guerra entre si. “A guerra tinha estalado entre Assis e
Perúsia. É atualmente moda dizer-se, com espírito satírico, que essas guerras
não se declaravam, mas se processavam indefinidamente entre os estados-
cidades da Itália medieval”.
E Francisco foi sem medo para a guerra, sendo que não lhe saiu
muito bem, e logo em uma das primeiras batalhas, foi preso e ficou refém dos
perugianos. Esse acontecimento lhe serviu para refletir um pouco sobre sua
vida, seu comportamento e sobre o que ele realmente queria. E em um sonho,
ele escutou uma voz: “Francisco, a quem quereis servir, ao servo ou ao
Senhor?” E despertando do sonho, ficou com aquela frase na cabeça e o
desejo servir ao senhor, embora ainda não identificasse quem era esse senhor,
e nem lhe passasse por sua cabeça servir a Deus, pois lhe era cômoda a sua
vida:
Ele nada tinha daquele senso primitivo da sua vocação, que tem sido
o apanágio de alguns santos. A sua ambição de fama como poeta
francês teria muitas vezes cedido a primazia ao seu desejo de
adquirir fama como soldado. Ele nascera bom; foi capaz da bravura
normal infantil; contudo, demarcara a linha da bondade e bravura
muito próximo de onde a maioria dos meninos a teria demarcado; por
exemplo, ele sentia o horror humano da lepra, da qual poucos
indivíduos normais sentiram necessidade de envergonhar-se. Tinha
amor ao aparato vistoso e brilhante, inerente ao sabor heráldico dos
tempos medievais, e parece ter sido inteiramente uma figura festiva.

No entanto, Francisco foi acometido por uma doença misteriosa, e o


jovem comunicativo e boêmio que era, começou a ficar introspectivo e calmo.
Ainda estava com os amigos, porém aquilo já não lhe agradava.
Gradativamente foi se afastando de todos, foi ficando em silêncio e esboçando
uma certa oração: “E assim, desde aquele dia, começou a considerar a si
mesmo como vil e a desprezar as coisas que antes tinha admirado e amado”. A
partir deste momento foi tomado de uma súbita conversão, começou a ler o
Evangelho que sua mãe lhe deu, e passou a seguir sem interpretações tudo o
que estava lá escrito. Vendeu todas as coisas e deu aos pobres.
Estando em oração diante da Igreja de São Damiao, adormeceu, e
durante o sono sonhou com uma voz que lhe disse: “vai e reconstrói a minha
Igreja”; ao acordar e ver aquela Igreja em ruinas imaginou que fosse a igreja
física. Foi à loja de seu pai, pegou todos os tecidos de seu pai e vendeu para
com o dinheiro reconstruir a igreja. Seu pai descobriu, lhe prendeu no
calabouço de sua casa. Sua mãe lhe solou e seu pai apelou para o bispo que o
julgasse.
Foi feito o julgamento na praça da cidade, o pai dizendo que o filho
tinha ficado louco, pediu ao bispo que obrigasse a Francisco a devolver o
dinheiro, que o fez. Francisco não só devolveu o dinheiro, mas despojou-se de
suas vestes e disse: “Até agora chamei a Pedro Bernadone meu pai. Mas,
porque decidi servir a Deus, devolvo-lhe o dinheiro, que atormenta a sua alma
e toda a roupa que dele recebi. De agora em diante quero dizer: Pai nosso que
estais no céu”. A partir daquele momento Francisco cortou o vínculo com seu
pai e aprofundou cada vez mais os laços de amizade com Deus, seu Pai.
Francisco começou a estar com os pobres da época, que eram os
leprosos, pessoas que por ter pegado lepra eram obrigados a se afastar da
sociedade. E Francisco buscava a estes; ia nas cidades e vilarejos em busca
de pão e comida, e levava para os pobres, partilhava com eles. Não se
cansava de levar o pão e o amor para os excluídos da sociedade.

[...]existia na cristandade medieval um estado intermédio entre o dos


clérigo se o dos leigos: tratava-se dos penitentes, isto é, de fiéis que
optavam por renunciar à vida mundana sem, no entanto, passarem a
fazer parte das ordens. Esses convertidos (ou conversos) levavam
uma existência ascética e consagravam-se à oração e às obras de
beneficência. Francisco adoptou este estilo de vida que começava
então a conhecer um certo êxito em Itália: vestido com um hábito de
eremita, dedicou-se à reparação de pequenas igrejas em minas na
periferia de Assis, rezando e meditando diante dos grandes crucifixos
pintados sobre madeira que ali se encontravam.

Pouco a pouco foram se juntando a Francisco algumas pessoas, os


dois primeiros eram seus amigos no século, o primeiro foi Bernardo e o
segundo foi frei Pedro que era padre; logo depois foram chegando mais e mais
frades. Quando Francisco viu, já eram doze os seus companheiros. Em 1206
foram morar junto à Igreja da “Porciúncula, igrejinha também reformada por ele,
onde construíram o primeiro convento (hoje a Porciúncula está dentro da
Basílica Santa Maria degli Angeli em Assis, Itália)”.

Em breve se lhe juntaram alguns companheiros originários da cidade:


Bernardo de Quintavalle, Pedro Cattani, Gil, Filipe, Ângelo e Silvestre.
Este último era um sacerdote que se agregou em pé de igualdade
com os outros à nova “fraternidade dos penitentes de Assis” de que
Francisco era o chefe e o animador. O grupo instalou-se em cabanas
de pedra seca, em Rivo Torto, na planície pantanosa situada em nível
inferior em relação às muralhas da cidade. Mas um camponês
desalojou-os ao ir ali instalar o seu burro.

Cada vez se juntaram mais irmãos, e aquilo que era para ser a
aventura de um só homem, pela força de seu testemunho, ganhou uma
proporção que nem ele nem ninguém daquela época imaginou. Em 1212,
Francisco foi junto ao papa Inocêncio III pedir aprovação eclesiástica, que a
recebeu de forma oral. Sua ordem cresceu e se espalhou rapidamente por toda
a Europa e, foram por muito tempo a ordem que mais enviava missionários
para todo o mundo. 
Em 1212 também se juntou a Francisco uma jovem, Clara de Assis
(1193-1253). Clara de nome e mais clara ainda de virtudes, ela quis seguir
seus passos. Na verdade, ela seguia passos mais profundos, nas pegadas de
Francisco, ela via os de Cristo. Ela é atraída pelo ideal de vida de Francisco,
também passa por uma conversão e abraça radicalmente o Evangelho.
 Pelo formato que a vida religiosa possuía naquele tempo, ela foi
privada de se missionária. No entanto, ela estando no claustro revolucionou o
claustro pois solicitou ao papa Inocêncio III privilégios, enquanto que naquele
tempo os mosteiros pediam privilégios de riqueza, para poder ter mais terras,
Santa Clara pediu o privilegio de pobreza. E de fato conseguiu do papa este
importante “privilégio da Pobreza”, que garantia a Clara e as suas irmãs
continuar vivendo em extrema pobreza, e confiando somente na divina
Providência. Ela pedia que ninguém as impedisse de serem pobres.
Ela foi abadessa pobre de um mosteiro pobre; instruía mais pelo
exemplo do que por palavras. Foi modelo para toda a Igreja, renovou a vida
contemplativa e monástica, defendendo a pobreza e a fraternidade tão cara a
ela.
Clara foi a Santa mais importante da Idade Média, primeira mulher a
escrever uma Regra de Vida na Igreja. Teve forças para lutar e defender os
ideais franciscanos, inclusive depois da morte de São Francisco, impedindo
que o Carisma se perdesse. 
Temos um outro fato importante da vida de São Francisco, que foi
seu encontro com o Saladino, chefe dos mulçumanos. Entre 1217 e 1219
houve a quinta Cruzada. Naquele tempo, o chefe dos mulçumanos estava no
Egito, e por isso os cruzados foram em direção ao Egito para guerrear com os
mulçumanos. Francisco sabendo da guerra sentiu-se impelido a ir em direção à
guerra, mas com o objetivo de alcançar paz. Não foi sozinho, mas
acompanhado de irmão Iluminatto, um dos primeiros a entrar na ordem. Foram
em direção ao sultão, que o recebeu e, vendo sua sabedoria e simplicidade lhe
deu ouvidos e ambos conversaram e enriqueceram-se mutuamente com a
troca de experiencias:

O Sultão parece ter se sensibilizado já que o deixou falar. O


encontro dos dois homens resultou em que colocassem em
comum as ideias que um se fazia do outro e de sua religião. Al-
Kamil logo se deu conta que tal personagem desarmado e
vestido de maneira tão curiosa não era um cruzado, mas um
homem de Deus e Francisco não encontrou no Sultão o
perseguidor que esperava. Tudo se passou mesmo de uma
maneira desconcertante para os dois protagonistas, o que
constituiu a razão pela qual esse face a face se revestiu de
importância histórica e não cessou de fascinar os espíritos ao
longo dos séculos.

Esse é sempre um conto inusitado. Não se sabe ao certo se de fato


aconteceu, mas entrou para a história sobretudo pelo que representou, que foi
a possibilidade do diálogo, de pessoas diferentes poderem conversar
amigavelmente. Podemos dizer que São Francisco inaugurou lá atrás o que
para nós hoje dizemos ser o diálogo interreligioso. Isso se deu porque
Francisco se focou no que podia unir-nos e não no que podia separar-nos.
Esse fato até hoje é usado por nós como exemplo de possibilidade de
fraternidade universal.
CONCLUSÃO
São Francisco morreu cedo, em 1226, com apenas 44 anos. A
influência do de Francisco e do franciscanismo na história até hoje se vê, se
percebe se sente. Ele, sendo um homem simples, que escolheu um caminho
de pobreza e de não se apegar a nenhum título que não fosse o de o irmão
menor, marcou época, é recordado até hoje por muitos e, é responsável pela
conversão de muitos a Cristo:

Quando se tenta defini-la em termos abstratos, a mensagem de


S. Francisco reduz-se a algumas fórmulas que podem parecer
bastante banais. Ele não foi, com efeito, nem um grande
teólogo, como Santo Agostinho, por exemplo, nem um
pensador profundo como S. Tomás de Aquino, nem sequer um
teórico da vida espiritual como um S. Bernardo ou um Inácio de
Loiola. Este leigo que escrevia um latim rugoso e cheio de
italianismos não deixou uma obra importante, mas um
testemunho: o de um homem que quis viver o Evangelho à
letra e ser uma testemunha do amor de Deus no seio do
mundo. Não há aparentemente nisso nada de originai.

Essa foi a influencia de São Francisco e das ordens mendicantes na


história. Até hoje essas ordens seguem sua missão; quem sabe o caráter de
pobreza radical já não se veja com tanta propriedade, contudo o caráter
evangelizador ainda é muito presente nas ordens mendicantes, como os
franciscanos, dominicanos e carmelitas. E o que mais nos impressiona é que
até os dias de hoje se vê conversões a partir do testemunho de São Francisco
e destes santos fundadores e ainda hoje há jovens que se dispõe a deixar tudo
para seguir os passos de Jesus ao estilo de Francisco. 
REFERÊNCIAS

LENZENWEGER, Josef; STOCKMEIER, Peter; BAUER, Johannes B.; AMON,


Karl; ZINHOBLER, Rudolf, História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola,
2006. 

ANGÉLICA, Maria, 8. A fundação das ordens mendicantes. Apostila da aula.

_________. 7. As Heresias e a Inquisição.

_________. 5. A reforma gregoriana.

AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. História da Igreja - Idade Média: séculos
VI ao XV. 5ª ed. Lorena: Cléofas, 2021.

CHESTERTON, G. K. São Francisco de Assis. 1ª ed. São Paulo: Eclesiae,


2014.

GUIMARÃES, Frei Almir. São Francisco e o Sultão IV.  Disponível em:


htps://franciscanos.org.br/carisma/sao-francisco-e-o-sultao-iv.html#gsc.tab=0
Acesso em: 09 nov. 2022, às 15:33h.
GOLF, Jackes le. As ordens mendicantes. In BERLIOZ, Jacques. Monges e
Religiosos na Idade Média. Lisboa: Terramar. 1994.

GOMES, Fabio Cesar. Espiritualidade clariana: A pobreza como não


apropriação na Regra de Santa Clara. Disponível em:
<https://franciscanos.org.br/carisma/a-pobreza-como-nao-apropriacao-na-
regra-de-santa-clara.html#gsc.tab=0> Acesso em: 06 nov. 2022, às 22:22.

LE GOLF, Jackes. As ordens mendicantes. In BERLIOZ, Jacques. Monges e


Religiosos na Idade Média. Lisboa: Terramar. 1994.

ROPS, Daniel. A igreja das catedrais e das cruzadas. São Paulo:1993


Quadrante. p. 185.

TEIXEIRA, Frei Celso Márcio. Fontes Franciscanas e Clarianas: I Celano, 2ª


ed. Petrópolis: Vozes, 2008, n. 2, 3.

VALCHÉS, André. S. Francisco de Assis. In BERLIOZ, Jacques. Monges e


Religiosos na Idade Média. Lisboa: Terramar. 1994.

Você também pode gostar