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Ordens Mendicantes e Franciscanismo
Ordens Mendicantes e Franciscanismo
MOGI DAS CRUZES / SP
2022
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por finalidade nos apresentar como surgiram as
ordens mendicantes. Apresentaremos inicialmente os antecedentes históricos,
estes antecedentes são de ordem civil e eclesiástica. Por opção metodológica
escolhemos apresentar separados os fatos de contexto histórico e de contexto
religioso. Ainda que seja muito difícil separar história civil e religiosa, sobretudo
neste tempo, o tentamos para melhor organização.
No segundo tópico, entraremos no surgimento das ordens
mendicantes e em seguida chegaremos na vida de São Francisco, na qual
gastaremos mais tempo no seu desenvolvimento. Nos dedicaremos em
apresentar uma simples bibliografia contendo os momentos mais importantes
de sua vida.
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Ao falar das ordens mendicantes, e de modo especial de São
Francisco de Assis, nos será necessário contextualizar-nos um pouco no tempo
e no espaço. Entraremos no contexto histórico, social e religioso da época para
podermos entender que as ordens mendicantes não surgiram do nada e que
um São Francisco de Assis, embora tenha ouvido a voz de Deus de modo
ímpar, para que a sua vida tenha tido tanto esplendor e tanto impacto para
aquele tempo, alguns fatores contribuíram para que ele se tornasse quem foi.
1. Contexto histórico
Estamos no período da Idade Média, maior período que a história
anotou que oficialmente. Este período data desde 476, com a queda do império
romano do Ocidente, e vai até 1453 com a queda do Império Bizantino pelos
turcos-otomanos, sendo capital, Constantinopla.
Estamos falando de modo mais preciso da alta Idade Média, que vai
de 1073, que tem como Papa Gregório VII (1073-1085), e como Imperador
Henrique IV (1056-1106); ambos protagonizaram o conflito pelas investiduras
leigas, e que em algum momento (1076) o papa excomunga o imperador por
desobedece-lo. A alta Idade Média vai até 1303, tendo como papa Bonifácio
VIII (1294-1303), e como rei da França Filipe IV, o Belo (1285-1314), que
também protagonizam um grande desentendimento sobretudo por conta de
uma cobrança exorbitante por parte do rei ao clero da França. Este é o mesmo
rei que motiva o papa Henrique X a suprimir a ordem dos Cruzados. O papa
convocou um concílio de Vienne, na França em 1311 e em 1313 suprime a
ordem dos templários;
Temos como sistema económico da época, o sistema feudal, que
surgiu no século V, com o “enfraquecimento do Estado, especialmente na
França e Itália, motivado pela invasão dos germanos, especialmente os
vikings”. Foi um sistema agrícola, que substituiu o sistema anterior de
escravidão. Neste sistema, o suserano ou senhor feudal passava parte de suas
terras ao vassalo, também nobre. Os vassalos podiam fazer o mesmo com
outro que para ele seria vassalo. Em algum momento o vassalo passava uma
pequena parte das terras aos servos da gleba, que tinham por obrigação dar
parte da colheita como impostos aos nobres. Além destes, haviam também o
clero, que por sua vês se dividia em alto e baixo clero.
Este sistema, que acompanhou toda a Idade Média e oficialmente foi
até a Revolução Francesa, no século XIII já estava em decadência, sobretudo
pelo retorno das cidades, e pelo “começo das monarquias absolutistas, das
quais a primeira foi a de Filipe IV, o Belo da França”. É importante
compreender este período, pois são Francisco, que era filho de comerciantes,
de burguês, queria enormemente alcançar o título de nobreza, e alguém que
não nascia nobre, só podia alcançar este título se se tornasse cavaleiro, e para
isso precisava ganhar alguma grande guerra. Por este motivo Francisco tinha
como grande objetivo de sua vida ser cavaleiro.
2. Contexto religioso
O contexto religioso do século XIII era difícil, pois haviam muitas
incoerências por parte da Igreja. Desde o século X, conhecido por ser o século
de ferro, a Igreja vinha tentando restabelecer a autenticidade das origens.
Houve a reforma gregoriana, iniciada pelo papa Leão IX (1049-1054), que teve
quatro características principais: Decreto de eleição pontifícia, que procurava
retirar das mãos dos leigos a escolha dos papas; Contra as investiduras leigas:
definia que nenhum clérigo deveria receber um cargo eclesiástico das mãos de
um leigo; Contra sacerdotes que não praticavam o celibato: o decreto exortava
os fiéis a não participarem das celebrações presididas por sacerdotes que não
observavam o celibato; Contra a simonia: contra a compra e venda de cargos
ou elementos espirituais.
Além desta reforma, tivemos a fundação da abadia de Cluny, no ano
909, por parte do monge Guilherme de Aquitânia, que inicialmente teve grande
êxito, com muitas fundações, e no século XI, deste, surgiu o mosteiro de
Cister, tendo com expoente São Bernardo de Claraval (1090-1053); todas
estas foram tentativas de fazer a Igreja retornar às características do início,
mas que ainda não eram suficientes, pois como sempre haviam as disputas
dos papas contra os imperadores, isso limava o prestígio da Igreja, e motivava
os membros da Igreja à não observância dos costumes eclesiásticos, que
trariam testemunho para a Igreja.
Temos ainda outro acontecimento, as Cruzadas, que possuíam
motivos religiosos e civis, empreendimento surgido no final do século XI, (1096-
1099) que inicialmente possuía motivações nobres: resgatar os lugares
sagrados, que foram tomados pelos mouros. Geralmente as Cruzadas oficiais
são contadas em número de sete ou oito. A primeira Cruzada foi a única a
alcançar este objetivo, nos entanto ao perder novamente o território da Terra
Santa para os muçulmanos, não os recuperou mais. As Cruzadas foram
perdendo suas intenções nobres e foram adquirindo finalidades mais políticas,
e desta forma os nobres se utilizaram da Igreja ´-opara alcançar fins de ordem
política e econômica; por conseguinte, foram deixando de ter êxito. O conflito
com os mouros gerou um episódio interessante na vida de São Francisco, isso
se deu na quinta Cruzada, que ocorreu de 1217 a 1219. Falaremos disso
quando tratarmos da vida de são Francisco.
Naquele tempo, além dos perigos dos mulçumanos, que afetavam a
sociedade e a Igreja, o perigo dos hereges. Não podemos dizer diretamente
que os erros por parte do clero daquele tempo foi suficiente para que se
produzisse algumas heresias, no entanto, neste período da alta Idade Média,
surgiu na Europa grupos heréticos de cunho maniqueísta, que tinham como
característica: contestar a autoridade da Igreja, sua riqueza em oposição à
pobreza evangélica pregada nos Evangelhos, o monopólio da hierarquia no uso
do Evangelho, na leitura e pregação, em contrapartida com a má preparação
por parte do clero para a pregação e a fixação do alto clero pelo poder e pelo
dinheiro deram espaço para que heresias como dos Valdenses. cátaros, e
albigenses se proliferasse na Europa:
Cada vez se juntaram mais irmãos, e aquilo que era para ser a
aventura de um só homem, pela força de seu testemunho, ganhou uma
proporção que nem ele nem ninguém daquela época imaginou. Em 1212,
Francisco foi junto ao papa Inocêncio III pedir aprovação eclesiástica, que a
recebeu de forma oral. Sua ordem cresceu e se espalhou rapidamente por toda
a Europa e, foram por muito tempo a ordem que mais enviava missionários
para todo o mundo.
Em 1212 também se juntou a Francisco uma jovem, Clara de Assis
(1193-1253). Clara de nome e mais clara ainda de virtudes, ela quis seguir
seus passos. Na verdade, ela seguia passos mais profundos, nas pegadas de
Francisco, ela via os de Cristo. Ela é atraída pelo ideal de vida de Francisco,
também passa por uma conversão e abraça radicalmente o Evangelho.
Pelo formato que a vida religiosa possuía naquele tempo, ela foi
privada de se missionária. No entanto, ela estando no claustro revolucionou o
claustro pois solicitou ao papa Inocêncio III privilégios, enquanto que naquele
tempo os mosteiros pediam privilégios de riqueza, para poder ter mais terras,
Santa Clara pediu o privilegio de pobreza. E de fato conseguiu do papa este
importante “privilégio da Pobreza”, que garantia a Clara e as suas irmãs
continuar vivendo em extrema pobreza, e confiando somente na divina
Providência. Ela pedia que ninguém as impedisse de serem pobres.
Ela foi abadessa pobre de um mosteiro pobre; instruía mais pelo
exemplo do que por palavras. Foi modelo para toda a Igreja, renovou a vida
contemplativa e monástica, defendendo a pobreza e a fraternidade tão cara a
ela.
Clara foi a Santa mais importante da Idade Média, primeira mulher a
escrever uma Regra de Vida na Igreja. Teve forças para lutar e defender os
ideais franciscanos, inclusive depois da morte de São Francisco, impedindo
que o Carisma se perdesse.
Temos um outro fato importante da vida de São Francisco, que foi
seu encontro com o Saladino, chefe dos mulçumanos. Entre 1217 e 1219
houve a quinta Cruzada. Naquele tempo, o chefe dos mulçumanos estava no
Egito, e por isso os cruzados foram em direção ao Egito para guerrear com os
mulçumanos. Francisco sabendo da guerra sentiu-se impelido a ir em direção à
guerra, mas com o objetivo de alcançar paz. Não foi sozinho, mas
acompanhado de irmão Iluminatto, um dos primeiros a entrar na ordem. Foram
em direção ao sultão, que o recebeu e, vendo sua sabedoria e simplicidade lhe
deu ouvidos e ambos conversaram e enriqueceram-se mutuamente com a
troca de experiencias:
AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. História da Igreja - Idade Média: séculos
VI ao XV. 5ª ed. Lorena: Cléofas, 2021.