Você está na página 1de 8

Exercícios - Cálculo IV - Aula 13 - Semana

16/11 - 20/11
Séries de Fourier: revisão e aprofundamento

1 Coecientes de Fourier- Caso geral


De forma geral, podemos estudar séries de Fourier para funções denidas
num intervalo simétrico qualquer f : [−L, L] → R, para algum L > 0.
Análogo ao caso anterior, podemos provar que os coecientes de Fourier
são dados por
Z L
1 nπx
an = f (x) cos( )dx para todo n ≥ 0,
L −L L

e
Z L
1 nπx
bn = f (x) sin( )dx para todo n ≥ 1.
L −L L

Neste caso a série de Fourier associada à f ca

a0 P+∞ nπx nπx


) + +∞
P
s(x) = + n=1 an cos( n=1 bn sin( ).
2 L L

Observe que no caso especial em que L = π reobtemos os coe-


cientes e a série de Fourier estudados anteriormente.

2 Extensões par e ímpar de funções


Dada f : [0, L] → R uma função, para algum L > 0.
Denição. Denimos a extensão par de f no intervalo [−L, L] por
(
f (x), 0 ≤ x ≤ L
g(x) =
f (−x), −L ≤ x < 0

Denição. Denimos a extensão ímpar de f no intervalo [−L, L] por


(
f (x), 0 ≤ x ≤ L
g(x) =
−f (−x), −L ≤ x < 0

1
Exercício. Dada f : [0, L] → R uma função, verique que sua extensão
par (resp. ímpar) é uma função par (resp. função ímpar) no intervalo
[−L, L].

Exercício. Considere f : [0, 2] → R, f (x) = x−x2 cujo gráco segue abaixo.


y axis
0.5

0.0 x axis

-0.5

-1.0

-1.5

-2.0
-2 -1 0 1 2

Figure 1: gráco de f em [0, 2]


(
x − x2 , 0 ≤ x ≤ 2
Sua extensão par é a função g(x) = . Por
−x − x2 , −2 ≤ x < 0
cálculo direto é fácil vericar que de fato f (−x) = f (x), para todo x ∈ [−2, 2].
A parte na cor vermelha no gráco abaixo representa a parte da extensão par
de f no intervalo [−L, 0]. Todo o gráco (cores preta e vermelha) representa
a extensão par de f no intervalo simétrico [−L, L].
y axis
0.5

0.0 x axis

-0.5

-1.0

-1.5

-2.0
-2 -1 0 1 2

Figure 2: gráco de g em [−2, 2]

Exercício. Considere f : [0, 3] → R, f (x) = x + 1.


y axis
4

0
-3 -2 -1 0 1 2 3

Figure 3: gráco de f em [0, 3]


(
x + 1, 0 ≤ x ≤ 3
Sua extensão ímpar é a função h(x) = . É fácil
x − 1, −3 ≤ x < 0

2
vericar que de fato h(−x) = −h(x), para todo x ∈ [−2, 2]. Veja gráco da
extensão ímpar de f abaixo.
y axis
4

0 x axis

-2

-4
-3 -2 -1 0 1 2 3

Figure 4: gráco da extensão ímpar h em [−3, 3]

Exemplo. Considere a função f (x) = x + 1, x ∈ [0, 2]. Encontre:


1) Uma série de f que só tenha cossenos;
2) Uma série de f que só tenha senos.
Resp. Para resolver esses problemas vamos lembrar que a série de Fourier
de uma função, digamos h, num intervalo simétrico pela origem [−L, L] é
a nπx nπx
dada por s(x) = 0 + +∞ ) + +∞ ). Além disso, se
P P
n=1 an cos( n=1 bn sin(
2 L L
a função h for par no intervalo [−L, L] a série de Fourier é constituida só de
cossenos pois os bn = 0, para todo n ≥ 1, e se a função h for ímpar segue que
a série é constituida só de senos pois an = 0, n ≥ 0.
Em vista da observação acima, para resolver o problema 1) vamos con-
siderar a extensão par de f no intervalo
( [−2, 2], veja gráco abaixo, que é
x + 1, 0 ≤ x ≤ 2
dada por g : [−2, 2] → R, g(x) = .
−x + 1, −2 ≤ x < 0

y axis
3.0

2.5

2.0

1.5

1.0

0.5

0.0
-2 -1 0 1 2

Figure 5: extensão par de f (x) = x + 1 em [−2, 2].

Sendo g uma função par no intervalo simétrico [−2, 2] sua série de Fourier
será dada só por cossenos. Além disso, como g(x) = f (x) no intervalo [0, 2],
para nalizar o problema basta considerar a série de g no intervalo [0, 2].

3
a0 P+∞ nπx
Em vista da discussão acima, considere agora s(x) = + n=1 an cos( )+
2 L
nπx
) a série de Fourier de g (extensão par de f ) em [−2, 2].
P+∞
n=1 bn sin(
L
Como L = 2 segue que
a0 P+∞ nπx nπx
) + +∞
P
s(x) = + n=1 an cos( n=1 bn sin( ).
2 2 2
Sendo g uma função par segue que bn = 0, n ≥ 1.
Vamos encontrar agora os coecientes de Fourier an , n ≥ 0.
Z 2 Z 2 Z 2
1 2
O coeciente a0 = g(x)dx = g(x)dx = (x + 1)dx = 4.
2 −2 2 0 0
| {z }
pois g é par

Agora para n ≥ 1 temos que


Z 2 Z 2 Z 2
1 nπx nπx nπx
an = g(x) cos( )dx = g(x) cos( )dx = (x + 1) cos( )dx.
2 −2 2 0 2 0 2
Z 2 Z 2 Z 2
nπx nπx nπx
Contudo, (x + 1) cos( )dx = x cos( )dx + cos( )dx.
0 2 0 2 0 2
| {z } | {z }
(I) (II)
A integral (II) é zero! (verique os detalhes). Para resolver a integral
(I) podemos fazer intergração por partes e a primitiva é:
Z
nπx 2x nπx 4 nπx
x cos( )dx = sin( ) + 2 2 cos( ) + C.
2 nπ 2 nπ 2
Logo,

Z 2
2 0, n par
nπx 4
x cos( )dx = 2 2 [cos(nπ) − 1] = 8 .
0 2 π n 0
− , n ímpar.
π 2 n2
De volta aos coecientes an obtemos que para todo n ≥ 1,

Z 2
nπx 0, n par
an = (x + 1) cos( )dx = 8 .
0 2 − , n ímpar
π 2 n2
Portanto, a série de Fourier de f só de cossenos no intervalo [0, 2] ca
+∞ (2n−1)πx
8 X cos( 2 )
s(x) = 2 − 2 .
π n=1 (2n − 1)2

Isso resolve a parte 1) do problema.


Para resolver a parte 2) vamos considerar h : [−2, 2] → R a extensão
ímpar de f no intervalo [−2, 2] que é dada por
(
x + 1, 0 ≤ x ≤ 2
h(x) = .
x − 1, −2 ≤ x < 0

4
Neste caso os coecientes de Fourier an = 0, n ≥ 0, e os coecientes
Z 2 Z 2
1 nπx nπx
bn = h(x) sin( )dx = )dx, em que na última in-
h(x) sin(
2 −2 2 0 2
nπx
tegral foi usado o fato que o produto h(x) sin( ) é uma função par no
2
intervalo [−2, 2].
Utilizando propriedade da soma de integrais temos,
Z 2 Z 2 Z 2
nπx nπx nπx
bn = (x + 1) sin( )dx = x sin( )dx + sin( )dx.
0 2 2 2
|0 {z } |0 {z }
(III) (IV)

Fazendo novamente integração por partes segue que


Z
nπx 2x nπx 4 nπx
x sin( )dx = − cos( ) + 2 2 sin( ) + C.
2 πn 2 nπ 2
Logo, a parte (III) ca
Z 2
nπx 4(−1)n+1
x sin( )dx = . A parte (IV) ca
0 2 nπ
Z 2
nπx 2(−1)n+1 + 2 6(−1)n+1 + 2
sin( )dx = , e o coeciente bn = .
0 2 nπ nπ
Portanto, analogamente ao caso anterior, a série só de senos de f no
intervalo [0, 2] ca

+∞
1 X (6(−1)n+1 + 2) nπx
s(x) = sin( ).
π n=1 n 2

Exercício. Considere a função f (x) = x − x2 , x ∈ [0, 2]. Encontre:


1) Uma série de f que só tenha cossenos;
2) Uma série de f que só tenha senos.
Exercício. Considere a função f (x) = xπ − x2 , x ∈ [0, π]. Encontre:
1) Uma série de f que só tenha cossenos; (Dica: veja video aula)
2) Uma série de f que só tenha senos (Dica: veja video aula)

3 Espaço vetorial com produto interno


Seja V um espaço vetorial real.
Denição. Um produto interno em V é uma função h , i : V × V →
R, (→−
u ,→−
v ) 7→ h→−
u ,→

v i, que associa a cada par de vetores → −
u ,→
−v ∈ V, um

− →

número real denotado por h u , v i, de modo que as seguintes condições sejam
satisfeitas para todo →
−u ,→
−v ,→

w ∈ V e λ ∈ R:
1) h→
−u +→ −
v ,→

w i = h→
−u ,→
−w i + h→

v ,→

w i (propriedade distributiva na soma);
2) h→

u ,→

v i = h→

v ,→

u i (propriedade comutativa);

5
3) hλ→

u ,→

v i = h→

u , λ→

v i = λh→

u ,→

v i;


4) h→

u ,→

u i ≥ 0, e h→

u ,→

u i = 0 se e somente se →

u = 0.

p a norma ou
Dado um espaço vetorial com produto interno denimos
comprimento de um vetor →

u , e denotamos, por k→

uk= h→

u ,→

u i.
Diremos também que dois vetores → − v de V são ortogonais se
u e →

h u , v i = 0. Neste caso denotaremos por u ⊥ →

− →
− →
− −
v.
Exercício. Mostre que num espaço vetorial V com produto interno vale
a desigualdade de Schwarz: para todo → −
u ,→−
v ∈ V : |h→−
u ,→

v i| ≤ k→

u kk→

v k.

− →

(Dica: veja que para todo t ∈ R temos que k u − t v k ≥ 0.)
2

Exercício. Mostre que num espaço vetorial V com produto interno vale a
desigualdade triangular: para todo →
−u ,→

v ∈ V : k→−
u +→−v k ≤ k→
−u k + k→

v k.
Considere o intervalo I = [−L, L], para algum L > 0 e o espaço vetorial
das funções integráveis em I , Fint (I) = {f : I → R, f é integrável}.
Z L
Dados f, g ∈ Fint (I), dena hf, gi := f (x)g(x)dx.
−L
Z L
Exercício. Mostre que hf, gi := f (x)g(x)dx é um produto interno
−L
em Fint (I).
Considere I = [−π, π] e A = {1, sin(x), cos(x), sin(2x), cos(2x), . . . , sin(nx), cos(nx), . . .}, n ∈
N . Vamos vericar que em A os vetores são dois a dois ortogonais. Para isso

resolva o seguinte exercício:


Exercício. Mostre que para todo n, m ∈ N∗ temos que:
Z π Z π
a) h1, cos(nx)i = cos(nx)dx = 0, b) h1, sin(mx)i = sin(mx)dx = 0,
−π −π
Z π
c) se n 6= m então hcos(nx), cos(mx)i = cos(nx) cos(mx)dx = 0,
−π
Z π
d) se n 6= m então hsin(nx), sin(mx)i = sin(nx) sin(mx)dx = 0,
−π
Z π
e) para todo n, m : hcos(nx), sin(mx)i = cos(nx) sin(mx)dx = 0.
−π

Além disso, para todo n ≥ 1,


Z π
segue que k cos(nx)k = hcos(nx), cos(nx)i =
2
cos2 (nx)dx = π, e
−π
Z π
k sin(nx)k2 = hsin(nx), sin(nx)i = sin2 (nx)dx = π.
−π

Logo, k cos(nx)k = k sin(nx)k = π.
Portanto, se denotarmos as funções trigonométricas da família A por

6
fn (x) = cos(nx), n ≥ 0, e gm (x) = sin(mx), m ≥ 1, o exercício acima mostra √
que fn (x) ⊥ gm (x), para todo n ≥ 0 e m ≥ 1. Além disso, k cos(nx)k = k sin(mx)k = π, n, m ≥
1.

4 Convergência de séries numéricas


Uma aplicação interessante desses resultados é a famosa identidade abaixo,
que em particular nos ajuda a encontrar valores de convergência de algumas
séries numéricas.
Identidade de Parseval. Seja f : [−π, π] → R com série de Fourier
a0 P+∞
+ n=1 an cos(nx) + +∞ n=1 bn sin(nx). Então,
P
f (x) =
2
+∞
1 π a20 X 2
Z
2
f (x) dx = + (an + b2n ).
π −π 2 n=1

Para uma aplicação deste resultado vamos lembrar que na lista de exercí-
cios da Aula 12 mostramos que a série de Fourier da função f : [−π, π] → R,
+∞
π 2 X 4(−1)n
f (x) = x é f (x) =
2
+ cos(nx). Logo, os coecientes de Fourier
3 n=1
n2
2 4(−1)n
são a0 = π 2 , an = e bn = 0, para n ≥ 1.
3 n2
+∞
1
Exemplo. Encontre o valor de convergência da série
X
4
.
n=1
n
Resp. Aplicando a identidade de Parseval para a função acima, obte-
mos que
π +∞
1 π 4 a20 X 2
Z Z
1 2
f (x) dx = x dx = + (an + b2n ).
π −π π −π 2 n=1
Z π π
x5

2 4 16
Segue disto que x4 dx = = π 5 , a20 = π 4 , a2n = 4 , n ≥ 1.
−π 5 −π 5 9 n
+∞
1 π 4
Z
2 4 2 4 1
Juntando obtemos que
X
x dx = π = π + 16 .
π −π 5 9 n=1
n4
+∞
1 2 4 2 4 4 1 1 8 4
Disso segue que 16
X
4
= π − π = 2π ( − ) = π .
n=1
n 5 9 5 9 45

Portanto,
+∞
X 1 π4
4
= .
n=1
n 90

Observação. A identidade de Parseval pode ser provada no contexto mais


geral de série de Fourier de funções f : [−L, L] → R. Neste caso o resultado
é:

7
Identidade de Parseval (Caso geral). Seja L > 0 e f : [−L, L] → R
a nπx nπx
com série de Fourier f (x) = 0 + +∞ ) + +∞
P P
n=1 an cos( n=1 bn sin( ).
2 L L
Então,
L +∞
a2 X 2
Z
1
f (x) dx = 0 +
2
(an + b2n ).
L −L 2 n=1

Exercício. Considere f : [−2, 2] → R, f (x) = x3 − 4x (note que f é


função ímpar). Encontre:
1) a série de Fourier de f (x).
+∞
1
2) Aplique a identidade de Parseval para encontrar
X

n=1
n6

5 Polinômio de Fourier da função


Neste ponto vamos considerar novamente as funções do tipo f : [−π, π] → R.
Denimos o polinômio de Fourier de ordem k de f por
k
a0 X
Fk (x) = + [an cos(nx) + bn sin(nx)],
2 n=1
Z π Z π
1 1
em que an = f (x) cos(nx)dx, n ≥ 0, e bn = f (x) sin(nx)dx, n ≥ 1
π −π π −π
são os coecientes de Fourier de f .
Análogo ao caso de séries de potências, podemos mostrar que o polinômio
de Fourier de ordem k é a melhor aproximação de f, no seguinte sentido: dado
c
outro polinômio trigonomêtrico digamos Pk (x) = 0 + kn=1 [cn cos(nx) +
P
2
dn sin(nx)], em que agora {cn }kn=0 e {dn }kn=1 são sequências reais quaisquer,
então Z π Z π
|f (x) − Fk (x)|2 dx ≤ |f (x) − Pk (x)|2 dx.
−π −π

Exemplo. Mostramos também na Aula 12 que para f (x) = x em [−π, π]


+∞
2(−1)n+1
a série de Fourier é dada por f (x) = sin(nx). Disso segue que os
X

n=1
n
polinômios de Fourier de ordem 2 e 3 de f são dados por F2 (x) = 2 sin(x) −
2
sin(2x) e F3 (x) = 2 sin(x) − sin(2x) +
sin(3x).
3
Exercício. Para f (x) = x2 em [−π, π] encontre:
1) os polinômios de Fourier de ordem 3 e 4.
2) utilize algum software para fazer o gráco desses polinômios e compare
com o gráco da própria função em [−π, π].

Você também pode gostar