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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de Antropologia Social

Disciplina HUM05045 - LEITURAS E ESCRITAS ETNOGRÁFICAS


Semestre: 2022/2
Professora: Patrice Schuch (patrice.schuch@gmail.com);
Estagiário docente: Gustavo Koetz da Rosa (gustavok.rosa@hotmail.com)

PROGRAMA DE ENSINO

Objetivos: A disciplina visa desenvolver um espaço de problematização e de exercício


do fazer etnográfico, entendido como uma atividade inventiva que implica reflexões
sobre a epistemologia, método e condições variadas de produção de teorias e dados em
Antropologia. Dada a centralidade da etnografia no modo de produção da Antropologia,
o curso focaliza as experiências e os desafios da produção etnográfica através da leitura
de etnografias clássicas e contemporâneas, focando-se na discussão de questões tais
como: o texto e os estilos etnográficos; a autoria e a autoridade antropológica; o trabalho
de campo e a escrita antropológica; a refuncionalização e ressignificação da etnografia
em contextos variados de produção. A disciplina parte do pressuposto da importância
da reversibilidade da etnografia para a formação de conhecimento em antropologia e
entende relacionalmente o processo de pesquisa e a produção de teorias e dados
antropológicos. Nesse sentido, a disciplina objetiva também exercitar de forma contínua
a produção e a experimentação de/com artefatos antropológicos variados, tais como a
descrição etnográfica em seus variados estilos, focos e contextos; o diário de campo; os
documentários etnográficos, a autoetnografia, a produção de monografias; etc.

Conteúdo Programático: 1) Antropologia e Etnografia: como produzir teorias em ação?


2) Etnografias Contemporâneas: experimentações, tensões e redimensionamentos; 3)
Experiências, Dilemas e Desafios do Fazer Antropológico.

Sistemática das Aulas: Para carga horária teórica: aulas expositivas dialogadas,
seminários com apresentação e discussão de textos, crítica textual, debate do conteúdo
da disciplina a partir de documentários; reflexões orientadas por interrogações sobre o
texto; Para a carga horária prática: observações e descrições etnográficas; crítica textual;
produção de textos com diferentes estilos narrativos; produção de diário de campo;
entrevistas e outros artefatos da produção antropológica.

Experiências de Aprendizagem: Leituras de textos; Debates em aula; Audiência em


podcasts, vídeos e vídeo-aula; exercícios orientados; seminários de apresentação de
trabalhos individuais ou em grupo; trabalho de recuperação.

Informações sobre Direitos Autorais e de Imagem: Todos os materiais disponibilizados


são exclusivamente para fins didáticos, sendo vedada a sua utilização para qualquer
outra finalidade, sob as penas legais. Todos os materiais de terceiros que venham a ser
utilizados devem ser referenciados, indicando a autoria, sob pena de plágio. A liberdade
de escolha de exposição da imagem e da voz não isenta o aluno de realizar as atividades
originalmente propostas ou alternativas; Todas as gravações de atividades síncronas
devem ser previamente informadas por parte dos professores. Somente poderão ser
gravadas as atividades síncronas propostas mediante concordância prévia dos
professores e colegas, sob as penas legais. É proibido disponibilizar, por quaisquer meios
digitais ou físicos, os dados, a imagem e a voz de colegas e do professor, sem autorização
específica para a finalidade pretendida. Os materiais disponibilizados no ambiente
virtual possuem licença de uso e distribuição específica, sendo vedada a distribuição do
material cuja a licença não permita ou sem a autorização prévia dos professores para o
material de sua autoria.

Critérios de Avaliação: Avaliação: Os alunos receberão conceitos A (ótimo), B (muito


bom), C (regular), D (insuficiente) ou FF (falta de frequência), de acordo com seu
desempenho em cada uma das seguintes atividades:

1) Participação em aula e apresentação de seminários sobre os textos do programa de


ensino (40%);

2) Entrega dos exercícios solicitados ao longo do semestre (40%);

3) Entrega do trabalho final (20%).

Atividades de Recuperação Previstas: Um trabalho individual, sobre o conteúdo da


disciplina, realizado de modo assíncrono e enviado para o email da professora
(patrice.schuch@gmail.com) e postado no Moodle.

Observações: Esta Atividade de Ensino será objeto de estágio docência para alunos de
Pós-Graduação nos termos da Resolução 09/2009 do CEPE.. Nas aulas assíncronas será
utilizada alguma das Plataformas: Google Teams, MConf e/ou o Google Meets.

Conteúdo:
1. Apresentação da disciplina (23/11)
Apoio:

DELEUZE, Gilles (1993). “A Literatura e a Vida”. In: Crítica e Clínica. SP, Editora 34,
1997, p.11-16.

BLOCO I: Antropologia e Etnografia: como produzir teorias em ação?

2. O Clássico dos Clássicos: Malinowski e a construção do etnógrafo como “herói”


(30/11) – SEMINÁRIO 1
CLIFFORD, James. “Sobre a automodelagem etnográfica: Conrad e Malinowski”. In: A
Experiência Etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro, Editora da
UFRJ, 1998, p. 100-131.

MALINOWSKI, Bronislaw. (1922). “Prólogo”, “Introdução”. In: Os Argonautas do Pacífico


Ocidental. São Paulo, Coleção os Pensadores, Ed. Victor Civita, 1984, (p. 1-8 e 14-34).

Apoio:
CONRAD, Joseph (1902). Coração das Trevas. SP, Companhia das Letras, 2008

3. O Surrealismo Etnográfico e as Etnografias Surrealistas (07/12) – SEMINÁRIO 2


CLIFFORD, James. “Sobre o Surrealismo Etnográfico”. In: A Experiência Etnográfica.
Antropologia e Literatura no Século XX. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1999, p. 121-162.

ROLANDE, Josinelma. “Poesia Etnográfica: Só o ESPÍRITO DE RAÇA nos une!”. In:


Ayé Revista de Antropologia: Dossiê as contribuições de intelectuais negras para as ciências
humanas e sociais. v.03, nº1, 2021, p. 136-147.

4. EXERCÍCIO 1 (ATÉ 4 PESSOAS) – ENTREGA e APRESENTAÇÃO (14/12)


EXERCÍCIO 1 (até 4 pessoas): Produzir um artefato etnográfico surrealista, no sentido evocado por James
Clifford (máximo 3 páginas). A justaposição de cenas/cenários/personagens pode ser realizada pelo
aluno(a) a partir de trechos de literatura, arte, filmes, material de pesquisa, arquivos, fotos, etc, de modo a
compor sua produção.

5. As Etnografias como “Ficções”: Clifford Geertz e a reconfiguração da escrita


antropológica (21/12) - SEMINÁRIO 3
GEERTZ, Clifford. “Um Jogo Absorvente: Notas sobre a Briga de Galos Balinesa”. In: A
Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, 1989, p. 278-321.

CAPRANZANO, Vincent. “O dilema de Hermes: o disfarce da subversão na descrição


etnográfica”. In: CLIFFORD, James e MARCUS, George. A Escrita da Cultura: poética e
política da etnografia. Ed. UERJ/Papéis Selvagens, 2016, p. 91.123.

Apoio:
GEERTZ, Clifford. (1988). “Estar lá: a antropologia e o cenário da escrita”. In: Obras e
Vidas: o antropólogo como autor. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2002, p. 11-39.

6. As etnografias experienciais, interpretativas, dialógicas e polifônicas (18/01) –


SEMINÁRIO 4
CLIFFORD, James. “Sobre a autoridade etnográfica”. In: A Experiência Etnográfica.
Antropologia e Literatura no Século XX. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1999, p. 17-62.

7. A Autoridade etnográfica em foco, desigualdades e legitimidades na produção do


conhecimento em antropologia (25/01) – SEMINÁRIO 5
CALDEIRA, Teresa Pires do R. "A presença do autor e a pós-modernidade em
Antropologia". In: Novos Estudos do CEBRAP. n 21, julho 1988.
CALDEIRA, Teresa Pires do R. (2021). Desigualdade e Legitimidade: problematizando
a produção de conhecimento social. Tempo Social, 33(3), 21-45, 2021.

Debate com Gustavo Koetz da Rosa sobre o campo de sua pesquisa, desigualdades e
legitimidades na produção de conhecimento.

Apoio:
CALDEIRA, Teresa. "Uma incursão pelo lado 'não respeitável' da pesquisa de campo".
Ciências Sociais Hoje, 1. Trabalho e cultura no Brasil. Recife, Brasília, CNPq ANPOCS,
1981.

SCHUCH, Patrice. “Antropologia com Grupos Up, Ética e Pesquisa”. In: SCHUCH,
Patrice; VIEIRA, Miriam S.; PETERS, Roberta (Org.). Experiências, Dilemas e Desafios do
Fazer Etnográfico Contemporâneo. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010, p. 29-48.

BLOCO II – Etnografias Contemporâneas: experimentações, tensões e


redimensionamentos

2.1. Etnografias:

8. Etnografia, Intersubjetividade e Experimentação (01/02) - EXERCÍCIO 2 -


individual

EXERCÍCIO 2: Escolha um trecho de uma etnografia, de sua livre escolha, apresente e comente à luz da questão:
como produzir teorias antropológicas em ação? (máximo 3 páginas). Apresentação em aula e debate.

GOLDMAN, Márcio. “Os tambores dos mortos e os tambores dos vivos. Etnografia,
antropologia e política em Ilhéus, Bahia. REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO PAULO,
USP, 2003, V. 46 Nº 2.

Mol, Anemmarie. Mol, Annemarie (2002). The body multiple: ontology in medical practice.
Durham, North Carolina: Duke University Press (cap. traduzido)

9. Etnografias de uma Vida: Esperanza e Catarina (08/02) - SEMINÁRIO 6


BEHAR, Ruth. “Prólogo: Víbora que Habla”. In: Cuéntame Algo Aunque Sea una Mentira:
las Historias del la Comadre Esperanza. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 2009.

BIEHL, João. 2005. “A vida cotidiana das palavras: a história de Catarina”. Cadernos da
APPOA. Porto Alegre, nº 140, 2005, p. 14-29.

Apoio:
BIEHL, João. “Antropologia do devir: psicofármacos – abandono social – desejo”. In:
Revista de Antropologia. Vol. 51, n. 2. SP, USP, 2008, p. 413-449.

GOODY, Jack. “Da Oralidade à Escrita – reflexões antropológicas sobre o ato de narrar”.
In: MORETTI, Franco (org.). Romance 1: A cultura do romance. São Paulo, CosacNaify,
2009, p 35-68.
KUNDERA, Milan (1986). “Primeira Parte: a herança depreciada de Cervantes”. In: A
Arte do Romance. SP, Companhia das Letras, 2009.

2.2. Artefatos Antropológicos:

10. Diário de Campo (15/02) – EXERCÍCIO 3 - individual


BONETTI, Aline e FLEISCHER, Soraya. “Diário de Campo: (sempre) um experimento
etnográfico-literário?”. In: BONETTI, Aline e FLEISCHER, Soraya (Orgs). Saias Justas e
Jogos de Cintura. Ilha de SC, Editora Mulheres/EDUNISC, 2007, p. 9-40.

BONETTI, Aline. “O Rei está Nú! O Diário de Campo Cru e a Exposição das
Etnografias”. In: SCHUCH, Patrice; VIEIRA, Miriam S.; PETERS, Roberta (Org.).
Experiências, Dilemas e Desafios do Fazer Etnográfico Contemporâneo. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2010, p. 165-176.

FONTANARI, Ivan Paolo de F. “Nú, em Público: o diário de campo fora de lugar”. In:
SCHUCH, Patrice; VIEIRA, Miriam S.; PETERS, Roberta (Org.). Experiências, Dilemas e
Desafios do Fazer Etnográfico Contemporâneo. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010, p.
145-156.

MALINOWSKI, Bronislaw (1967). Um diário no Sentido Estrito do Termo. Rio de Janeiro:


Ed. Record, 1997.

VIEIRA, Miriam S. “Diário de Campo numa Instituição de Justiça”. In: SCHUCH,


Patrice; VIEIRA, Miriam S.; PETERS, Roberta (Org.). Experiências, Dilemas e Desafios do
Fazer Etnográfico Contemporâneo. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010, p. 157-164.

Discussão dos trechos de diário de campo e seus estilos narrativos.

11. Feriado de Carnaval (22/02/3023)

12. A Etnografia de Rua: caminhada etnográfica em local a ser definido (01/03) –


EXERCÍCIO 4: COLETIVO
Apoio: ECKERT, Cornelia e ROCHA, Ana Luiza. Etnografia de rua e câmera na mão.
Revista Eletrônica Studium. http://www.studium.ar.unicamp.br/oito/2.htm?=

EXERCÍCIO 4: Produzir um texto coletivo a respeito da caminhada etnográfica.

Bloco III: Experiências, Dilemas e Desafios do Fazer Antropológico

13. Antropologia e seus Espelhos: problematizações (08/03)


DA SILVA, Vagner Gonçalves et alli. A Antropologia e Seus Espelhos. SP. USP, 1994.

DA SILVA, Vagner Gonçalves.”Política das Citações: outras academias, outros escritos”,


“Construindo Textos, Tecendo Tradições”, “Etnografias Domésticas”, “Das Folhas ao
Mel Proibido de Oxóssi”, “Escudos e Fugas: na contramão da representação” e “O
Antropólogo e sua Magia”. In: O Antropólogo e sua Magia. SP, Ed. da USP, 2000, 140-184.

GORDON, Cesar. “Prefácio: a bola dentro da tora” e HIPARIDI TOP’TIRO. Auwê


Xavante. “Uma Outra Apresentação: pesquisador e pesquisado”. In: VIANNA,
Fernando de Luiz Brito. Boleiros do Cerrado. Índios Xavantes e o Futebol. SP,
Annablume/FAPESP?ISA, 2008, p. 9-14 e 15-16.

CAMPOS, Richard et al. “A luta é constante”: do movimento Aquarela da população de


rua ao movimento nacional da população de rua do RS. In: p. 183-198.

INTEGRANTES e COLABORADORES. “A gente mudou a história: experiências e


olhares do Jornal Boca de Rua. P. 199-

Apoio:
FONSECA, Claudia. “O Anonimato e o Texto Etnográfico: dilemas éticos e políticos da
etnografia ‘em casa’”. In: SCHUCH, Patrice; VIEIRA, Miriam S.; PETERS, Roberta (Org.).
Experiências, Dilemas e Desafios do Fazer Etnográfico Contemporâneo. Porto Alegre: Editora
da UFRGS, 2010b, p. 205-226.

EVANS-PRITCHARD, E. “Introdução”. In: Os Nuer. SP, Ed. Perspectiva, 2007, p. 5-21.

MALUF, Sonia. “A Antropologia reversa e ‘nós’: alteridade e diferença”. In: Ilha. Vol.
12, número 1, 2010.

14. A Etnografia em Colaboração: muito além da escrita (15/03)


RAPPAPORT, Joanne - Más Allá de la Escritura: la epistemología de la antropología en
colaboración. In: Revista Colombiana de Antropología. Vol. 43. 2007, p. 197-229.

KOPENAWA, Davi e ALBERT, Bruce. ―Prólogo, ―Palavras dadas, Palavras de Omama‖,


―Postscriptum – Quando eu é um outro (e vice-versa)‖. In: ____ A queda do céu —
Palavras de um xamã yanomami‖. São Paulo, Companhia das Letras, 2015, p. 43-53; 63-
66; 499-511; 512-549.

Apoio:
SOARES, Luis Eduardo; MV Bill e ATHAYDE, Celso. Cabeça de Porco. Ed. Objetiva, 2005.

15. Autoetnografia (22/03)


GAMA, Fabiene, "A autoetnografia como método criativo: experimentações com a
esclerose múltipla", Anuário Antropológico [Online], II | 2020, posto online no dia 28 maio
2020.

SANTOS, Gisele F. dos. Gisele. Políticas deficientes, pessoas públicas: uma


autoetnografia “brocada”. TCC em Antropologia Social, 2021, UFRGS.

16. Ética, Ciência e Etnografia Pública (29/03) – EXERCÍCIO 5 (EM DUPLAS)


SCHUCH, Patrice. “Antropologia pública: a ética da inquietude no trabalho de Didier
Fassin”. In: DINIZ, Débora (org.) Didier Fassin entrevistado por Débora Diniz. RJ, Ed.
UERJ, 2016.
Apoio:
FONSECA, Claudia. “Que ética? Que ciência? Que sociedade?”. In: FLEISCHER, Soraya
e SCHUCH, Patrice (Orgs). Ética e Regulamentação na Pesquisa Antropológica. Brasília,
Letras Livres/Editora da UnB, 2010a, p. 39-70.

EXERCÍCIO 5 (EM DUPLAS): Pesquisar e apresentar na aula um artefato de etnografia


pública (blog, livro, poadcast, página no instagram, vídeo, site, etc, analisando o material
em termos de conteúdo, forma e modos de interlocução com o “público”. Trazer o link para
apresentar e escrever até 2 páginas sobre o artefato e sua análise.

17. Apresentação dos Trabalhos Finais (05/04) –INDIVIDUAL):

OPÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE TRABALHOS FINAIS:

Opção 1: Produção de um artefato antropológico, utilizando-se dos recursos analíticos da disciplina, bem como da
livre inspiração para produção de “coisas novas” sobre temática de interesse (em texto: máximo 5 páginas;
produção fílmica: máximo 20 min.);

Opção 2: Análise crítica de uma etnografia brasileira recente, a partir dos recursos analíticos discutidos na
disciplina (máximo 5 páginas).

18. Prova de Recuperação (12/04)

19. Entrega das notas (19/04)

Chega mais perto e contempla as palavras.


Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?”

Carlos Drummond de Andrade, Procura da Poesia

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