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BastosRicardoLima TCC
BastosRicardoLima TCC
ASPECTOS EMOCIONAIS,
COMPORTAMENTAIS E DO
APRENDIZADO EM ESCOLARES:
abordagens pedagógicas dirigidas à
promoção da qualidade de vida
Campinas
2009
Ricardo Lima Bastos
ASPECTOS EMOCIONAIS,
COMPORTAMENTAIS E DO
APRENDIZADO EM ESCOLARES:
abordagens pedagógicas dirigidas à
promoção da qualidade de vida
Campinas
2009
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA
BIBLIOTECA FEF - UNICAMP
Título em inglês: Emotional aspects, behavioral and learning in school: pedagogical approaches aimed at
improving quality of life.
Palavras-chave em inglês (Keywords): Emotion; Behavior; Learning; School; Quality of life.
DO APRENDIZADO EM ESCOLARES:
da qualidade de vida
Campinas
2009
Dedicatória
RESUMO
ABSTRACT
From the observations made during the professionalizing training program and taking
into consideration the importance of the development of strategies to promote health
and quality of life in the school environment, the objective of the present study is to
suggest pedagogical approaches aimed at improving the quality of life of children and
the school community, considering the theoretical and methodological proposals by
Celestin Freinet.
We have noticed the importance of forming a solid emotional and familial basis and of
developing healthy habits, at this stage, by reviewing the literature on emotional,
behavioral and learning aspects of students so as to deal with the proposals.
We have proposed strategies that enable professionals to act as physical education
professionals within the school and the community, as well as in his class. We hope
that the study will help these professionals to develop their approaches to positively
influence the quality of life of students.
LISTA DE FIGURAS
QI Quociente de Inteligência
IDH Índice de desenvolvimento humano
IDH-C Índice de desenvolvimento humano corrigido
WHOQOL-100 World Health Organization Quality of Life
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SUMÁRIO
1. Introdução................................................................................................................. 12
2. Conceitos Iniciais...................................................................................................... 13
2.1 Escola, Estrutura Familiar e Aspectos Emocionais................................................ 13
2.2 Aspectos emocionais e relações comportamentais na escola.................................. 15
2.2.1 Aspectos morfofuncionais da emoção e relação com ensino aprendizagem....... 19
2.2.2 O desenvolvimento neuromotor e sua importância para o aprendizado ............. 28
2.3 Relações entre comportamento, estilo de vida qualidade de vida........................... 32
2.4 Motivação, Abordagens Pedagógicas e Diversidade Sociocultural........................ 37
2.5 A Pedagogia Freinet através da Educação Física e da Qualidade de Vida ............ 44
3. Metodologia.............................................................................................................. 48
4. Considerações Finais................................................................................................. 50
5. Referências bibliográficas......................................................................................... 52
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1. Introdução
2. Conceitos Iniciais
ainda sim sempre havia lancheiras com guloseimas a serem consumidas. As crianças
são sempre bombardeadas com propagandas diversas que estimulam a má alimentação
em diversos ambientes, tanto midiáticos como no cotidiano. Embalagens coloridas,
brindes, e até sites de jogos, são ferramentas utilizadas pelas empresas para venderem
seus produtos.
Assim se faz importantíssima a formação da consciência destes alunos, ou seja,
dirigida às práticas saudáveis, tanto na escola como em casa no meio familiar, pois se
principalmente na família não existe uma criticidade em relação a estes hábitos esses
problemas de tornarão aumentados.
Nos estágios supervisionados realizados também percebemos, estimulados pelos
debates com os professores e colegas, que alunos que apresentaram maiores
dificuldades em relação à turma, tinham problemas na estrutura da família, sendo os
mais presentes a agressividade, instabilidades emocionais e a baixa motivação para os
estudos. Em algumas situações identificamos esses comportamentos associados à
estruturação ou manifestação de hábitos de vida pouco saudáveis.
Stratton (1994) aponta para a necessidade de distinguir “emoções” de “estados”
como fome, desejo sexual ou frustração. Porém, estes estados podem dar origem a
emoções e comportamentos como a agressividade, a qual pode indicar a presença de
uma emoção.
Agressividade é definida por Baron (1994) como qualquer forma de
comportamento direcionado objetivando lesionar ou machucar outro ser vivo que esteja
interessado em evitar tal comportamento. No caso, sua emoção básica é a raiva. Essa
raiva, no ambiente familiar conturbado, pode estar relacionada a situações como brigas
entre os pais, abandono, violência e descaso.
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PUTZ, R. PABST, R. Sobotta Atlas de Anatomia Humana Volume 1 cabeça, pescoço e extremidade
superior, 22ª edição revisada e atualizada, Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006
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Fig. 2: Mapa das áreas cerebrais específicas do córtex cerebral, mostrando especialmente
as áreas de Wernicke e de Broca para a compreensão da linguagem e produção da fala.2
Fig.3 Vista frontal do hipocampo em um corte frontal do encéfalo ao nível dos corpos
mamilares.3
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GUYTON, Arthur C. HALL John E. Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças 6ª edição, Editora
Guanabara Koogan, 1998
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PUTZ, R. PABST, R. Sobotta Atlas de Anatomia Humana Volume 1 cabeça, pescoço e extremidade superior, 22ª
edição revisada e atualizada, Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006
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PUTZ, R. PABST, R. Sobotta Atlas de Anatomia Humana Volume 1 cabeça, pescoço e extremidade
superior, 22ª edição revisada e atualizada, Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006
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Editora Guanabara Koogan, 1998
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PUTZ, R. PABST, R. Sobotta Atlas de Anatomia Humana Volume 1 cabeça, pescoço e extremidade
superior, 22ª edição revisada e atualizada, Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006
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juízo perfeito da situação afinal, visto que parte dessa estrutura evoluiu a partir do
sistema límbico. Ligados a este, existe uma infinidade de circuitos, o que dá a ele
grande influência nas decisões tomadas pelo córtex. Logo quando estamos dominados
por uma determinada situação que nos emociona fortemente é o sistema límbico que
está no controle.
Durante o processo evolutivo, outras duas grandes armas do sistema límbico
foram se desenvolvendo: a aprendizagem e a memória. (GOLEMAN, 1995). Este
processo possibilitou ao animal que deixasse de tomar apenas decisões automáticas. Ele
pôde aprender a selecionar a melhor opção em uma dada situação para tentar sobreviver.
Da mesma forma, quando um alimento ou alguma coisa lhe fazia mal, a situação já
poderia ser evitada por estar guardada na memória.
Apenas uma pequena parcela da das informações causam um resposta imediata.
A maior parte é armazenada para uso futuro no âmbito motor ou nos processos de
pensamento. A maior parte das informações é armazenada no córtex, porém, regiões
basais do encéfalo e talvez até mesmo da medula espinhal podem armazenar pequenas
quantidades de informações (GUYTON E HALL, 1998).
Assim podemos relacionar diversos aspectos envolvidos na relação do aluno
com a escola. A partir do momento que entendemos esta forma de funcionar do cérebro,
tornam-se imprescindíveis diversos outros aspectos para facilitar a aprendizagem.
Primeiramente, se o processo cognitivo como um todo não é formado apenas pelo
pensamento cartesiano, os aspectos emocionais estão presentes no processo de
aprendizagem, afinal, para todos é muito mais fácil aprender e prazeroso de estudar algo
que gostamos e que de fato nos traz algum significado. De fato, não é que os conteúdos
escolares têm que despertar alguma emoção nos alunos, mas devemos levar em
consideração suas experiências e relações vividas até o momento.
Da mesma forma é importante que os alunos estejam em condições emocionais
de aprender. Isso não que dizer que só é possível que ele aprenda se ele estiver em
excelentes condições emocionais, afinal existem indivíduos que são mais susceptíveis às
próprias emoções que outros. Para os indivíduos que têm mais facilidade em controlar
as próprias emoções este pode ser um facilitador. Outra questão é que na escola estamos
lidando com crianças que ainda não têm a parte cognitiva totalmente desenvolvida, por
isso se faz importante um suporte emocional do seio familiar.
As ações desencadeadas no ambiente familiar tendem a se repetir por toda a vida
do indivíduo quando vividas e repetidas desde a infância. Segundo (GOLEMAN, 1995)
25
advindas de, por exemplo, o recebimento de uma notícia agradável ou não Falcão
(1989).
O autor traz ainda duas formas de encararmos a aprendizagem: pelo processo
cumulativo ou integrativo. No processo cumulativo cada item aprendido é acrescentado
ao anterior, ou seja, presume-se que para aprender um determinado conceito se faz
necessário ter um conceito anterior aprendido. No processo integrativo cada item
aprendido, antes de trazer um acréscimo, cria uma mudança ou reestruturação do
repertório, ou seja, cada novo conteúdo que é aprendido dá nova perspectiva ao sujeito.
Há também a classificação da aprendizagem de acordo com a complexidade dos
sujeitos em todos os seus aspectos, classificados como produtos cognitivos, afetivos e
motores (FALCÃO, 1989). Para exemplificar, o autor traz o exemplo de um indivíduo
que entende os prejuízos do cigarro, e está convencido deles, porém não consegue parar
de fumar, assim a aprendizagem ocorreu apenas no nível cognitivo e afetivo e não no
motor. Neste caso, não são desprezados os efeitos químicos do cigarro, porém o foco
está nos efeitos comportamentais.
Segundo Falcão (1989), durante seu processo, a aprendizagem gera produtos:
• Os produtos cognitivos da aprendizagem são advindos de novas
informações, como dados, datas, fatos, sendo estes os mais trabalhados
na escola.
• Os produtos afetivos caracterizam-se por aqueles que conseguem
“afetar” um sujeito, ou seja, variam conforme a susceptibilidade afetiva
de cada indivíduo. Existem pessoas mais ou menos afetivas, o que varia
de acordo com seu suporte emocional. Neste âmbito situam-se
sentimentos, atitudes e valores. Muitos destes produtos são escolhidos
conforme o sentimento que ele lhe oferece, seja de prazer ou desprazer,
por exemplo, você toma banho porque você se sente bem limpo.
• Os produtos motores são os diretamente observáveis pelos outros. Na
escola o aluno pode, para o professor, parecer prestar a atenção, porém o
mesmo pode estar completamente abstraído. No âmbito motor, ou
precisamente psicomotor estão os chamados automatismos que são
constituídos por hábitos ou habilidades, podendo ser caracterizados
como higiênicos, esportivos, sociais e a habilidade um domínio de uma
determinada técnica.
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GUYTON, Arthur C. HALL John E. Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças 6ª edição,
Editora Guanabara Koogan, 1998
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GUYTON, Arthur C. HALL John E. Fisiologia Humana e Mecanismos das Doenças 6ª edição,
Editora Guanabara Koogan, 1998
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em sua família, que em muitos casos pode ser bastante peculiar, ou então, mesmo que
ela não saiba matemática a criança já vem com certa bagagem seja, por exemplo, dividir
doces ou brinquedos.
Notamos que o confrontamento de idéias no mundo acadêmico geral ocorre
entre um desenvolvimento biológico de estruturas e funções pré-determinadas
biologicamente ou um desenvolvimento derivado da aquisição de comportamentos,
influenciada pelo ambiente social do indivíduo Tani (2000). Porém outras correntes
mais atuais já consideram esta mescla do componente biológico e as experiências
vivenciadas. Valsiner (1997). Atualmente os conceitos, tanto científicos quanto
pedagógicos, adotam um olhar menos cartesiano, considerando o indivíduo de uma
maneira mais holística, assim como no esporte, a exemplo do futebol, que já não
considera o atleta como um ser apenas físico que tem que possuir capacidade e
habilidades. As novas correntes de treinamento futebolístico, por exemplo, encaram, em
maior grau na Europa, a importância do desenvolvimento cognitivo do atleta frente
resolução de situações problema e de como treiná-lo para atingir este objetivo dentro
desta complexidade (LEITÃO, 2009).
Na escola, profissionais atualizados incorporam estes conceitos e, através das
aulas de educação física, consideram ser possível e recomendado que os alunos
vivenciem atividades que estimulem a resolução de situações problema. A união do
aumento da bagagem motora e melhora da cognição podem formar um aluno mais
completo e com maior potencial de aprendizado.
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Qualidade de vida é um termo recente que tem sido muito em empregado tanto
no meio acadêmico quanto pelo público em geral. É um conceito que tenta definir uma
área que está em formação e é relativamente grande, pois, apresenta estudos diversos
com profissionais de várias áreas, sendo também polissêmica (GONÇALVES E
VILARTA, 2004).
Diversas teorias foram desenvolvidas para delinear o conceito de qualidade vida,
porém, o fato é que existem mais estudos sendo realizados e a área ganha um corpo
teórico cada vez mais denso e definido. Além do conceito de Qualidade de Vida,
confrontamos em nossas pesquisas bibliográficas outro conceito também importante,
definido como o “modo de vida” que consiste nas necessidades básicas para a
subsistência de uma população como saneamento, renda e serviços Dutz & Rocha
(2002).
A partir desta, outras duas expressões se articulam referenciando a dinâmica
sócio-econômica de produção, circulação e consumo de bens. Assim temos que
Condições de Vida são fatores mais gerais na sociedade que influem na vida da
população como acesso aos serviços básicos, educação, saúde, empregabilidade. Estilo
de vida corresponde às particularidades dos indivíduos como tomada decisões pessoais,
ou também a um grupo amigos e famílias que possuem normas próprias, hábitos e
valores diferentes Buss (2000). No presente estudo situaremos as reflexões no âmbito
do estilo de vida, a partir das observações de comportamentos individuais de alunos, e
da influência da família neste processo.
O estilo de vida é composto por diversos fatores. As adaptações biológicas e
culturais que os indivíduos experimentam durante toda a vida resultam em mudanças
comportamentais, que por sua vez, podem influir na saúde e bem estar geral.
Comportamentos estes, que são moldados desde os primeiros anos de vida
(GONÇALVES e VILARTA, 2004).
Principalmente, em comunidades periféricas, este estilo de vida tornar-se
potencialmente agravante devido a vários fatores. Condições bastante comuns em
comunidades carentes são a baixa escolaridade dos pais, violência, família
desestruturada e precárias condições de ensino. Estes por sua vez, propiciam um
33
A análise dos temas das questões que compõem o WHOQOL -100 permite que
se perceba que este já é um instrumento que considera o estilo de vida, com condições
de avaliar as especificidades dos grupos e as individualidades de cada sujeito. Afinal as
pessoas são diferentes e possuem valores e necessidades diferentes. O instrumento ainda
não representa o ideal em mensuração de qualidade de vida, porém, já apresenta um
avanço considerando o estilo de vida dos indivíduos tentando delinear suas
particularidades.
Os estudos demonstram certa relativização histórica e sociocultural da Qualidade
de Vida. Historicamente, uma determinada sociedade pode apresentar parâmetros
diferentes conforme sua evolução econômica ou tecnológica. O aspecto social
influencia na medida em que ele delimita a construção, a hierarquia e manutenção das
classes sociais ou não, influenciando, assim, a qualidade de vida de seus indivíduos. Do
ponto de vista cultural a percepção de qualidade de vida é modificada, pois está
diretamente relacionada com as necessidades destes indivíduos (GONÇALVES E
VILARTA, 2004). Logo, uma complexidade de fatores tem de ser levada em conta ao
se tentar mensurar Qualidade de Vida. Entendemos também que muitos deles não são
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fáceis de serem contabilizados. Outro ponto importante é que muitos destes fatores não
são estáticos e mudam conforme a sociedade e os indivíduos que a compõem.
Na escola, o estilo de vida do aluno tem uma “via de mão dupla” com seu
comportamento. Um estilo de vida é influenciado pela cultura da comunidade e da
família incluindo seus valores e regras. Logo, esse ambiente pode ter um grande peso
em seu comportamento na escola, inclusive em sua agressividade e motivação para os
estudos. Assistimos todos os dias, nos jornais, comunidades com grandes problemas e
famílias conturbadas, além da forma como propiciam o desenvolvimento de tais
comportamentos sendo que estes ambientes são decisivos na manutenção ou interrupção
dos mesmos.
O impacto do ambiente no desenvolvimento infantil já é um campo bem
estudado, com pesquisas demonstrando que, principalmente com crianças adotadas
originadas de famílias pobres e desestruturadas e depois inseridas em família com boas
condições psicoemocionais e com renda de classe média, na maioria dos casos, há um
aumento do QI da criança em relação à mãe biológica (BEE, 2003).
O comportamento se relaciona com as emoções e com os estados emocionais
(STRATTON, 1994). Além disso, o comportamento traz intrinsecamente relações com
estes estados ou emoções, ou seja, muitas vezes o comportamento pode ser explicado
por uma emoção ou estado emocional do indivíduo, porém, em muitos casos o próprio
indivíduo não tem consciência da relação entre seu comportamento e suas emoções ou
estados emocionais, logo, uma criança terá, relativamente, uma menor percepção destes
fatores que um indivíduo adulto, pois a criança em geral nem entende os motivos de sua
agressividade, ou mesmo não vê razão em aprender na escola quando não recebe
estímulos para tal.
A escola, por situar-se geralmente na mesma comunidade onde o aluno estuda,
partilha dos mesmos problemas e com profissionais capacitados tem como intervir
diretamente por conhecer mais a fundo a cultura local podendo, assim, tentar solucionar
estas questões. O fato é que em um ensino público como o paulista que tem possui boas
instituições, mas grande parte têm inúmeros problemas de investimento e estrutura,
além dos professores desestimulados, muitas vezes não têm preparo e nem recursos para
fazer tais intervenções.
Ao profissional de Educação Física é extremamente indicado ter estes
conhecimentos, pois em sua aula o trabalho com o corpo e as atividades que exigem
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consiste em trabalhar com o nível de desenvolvimento real que nada mais é do que a
dificuldade da tarefa na qual o indivíduo consegue resolver situações problema sem
ajuda, considerando o nível de desenvolvimento potencial que é onde o aluno precisa da
orientação de um adulto ou companheiro para a resolução, ou seja, ele tem potencial
para resolver o problema, mas ainda não o faz sozinho (DANIELS, 1994).
Outra abordagem relaciona-se à condição onde o aluno que consegue cumprir a
tarefa tem sua motivação aumentada por reforços sociais, o mesmo ocorrendo com o
professor tanto pela satisfação do desenvolvimento de seu aluno como pelo resultado
positivo de seu trabalho o que torna o processo de ensino-aprendizagem uma via de mão
dupla.
Fica clara a importância dos pais neste processo e mais do que isso, o educar, dar
amor aos filhos, mostrar presença e ensinar valores. A importância da família é
significativa e importante conforme nos mostra Figueira (2000) que na área de educação
física estudou as relações entre a percepção e influência da família, escola e os amigos
na prática de atividades físicas em 198 adolescentes de Santo André e São Bento do
Sapucaí ambas no estado de São Paulo. O questionário aplicado na coleta dos dados
abarcou hábitos familiares relacionados à atividade física, transporte, espaço e
interferências de diferentes grupos no incentivo à prática da atividade física. Nos
resultados foi apontada maior influência dos pais no processo, apesar da decisão pessoal
parecer ser o fator mais forte, ou seja, dentre os grupos nos quais os adolescentes
conviviam o familiar era o que exercia maior influência na decisão de praticar ou não
uma atividade física, conclui o autor, o que nos remete à valorização dos hábitos
familiares na sociedade, sendo ainda a escola, um local importante na formação do
comportamento dos alunos.
O trabalho aponta inúmeros outros estudos que corroboram com este, o que nos
leva à reflexão que a maior participação dos filhos tanto nas aulas de Educação Física,
como nos estudos, possa ser influenciado pelo apoio familiar. Crianças que não tem pais
ativos no processo têm mais dificuldade de agregar valor à prática sendo, muitas vezes,
esses alunos aqueles que nunca querem participar das aulas de Educação Física.
Em contraponto observamos em outra disciplina de estágio (Estágio
Supervisionado I – Faculdade de Educação), sendo o estágio propriamente realizado
com uma turma de 3º ano do ensino médio de Campinas, o Colégio Progresso, onde
foram obtidas outras impressões. O Colégio Progresso situa-se em uma região de classe
39
média alta de Campinas sendo que a maioria de seus alunos e clientes estão na mesma
faixa econômica.
Para a disciplina de estágio foi elaborado um questionário que tentava delimitar
os motivos da alta qualidade de ensino do Colégio Progresso materializado no segundo
lugar na classificação do MEC para Campinas e região. Com o questionário e muitas
conversas, observamos que além de dispor de uma situação econômica confortável, a
maioria dos alunos tinha pais com alto grau de escolaridade e participação em seu
processo educativo. Muitas vezes foram relatados pais que incentivavam a leitura e
faziam atividades juntos, além de acompanhar o progresso nos estudos.
Notamos, nos alunos, um perfil realmente diferenciado não só econômica, como
culturalmente. Todos demonstraram grande bagagem de conhecimento e educação.
Percebemos muita cumplicidade entre eles, visto que muitos ali, se estivessem em
escola com mais problemas como a que eu e muitos de nós estudamos, estes seriam
marginalizados como obesos, “nerds”, ou mesmo sem capacidade de participar das
aulas de Educação Física, porém, eram tratados como iguais e com grande respeito.
Essas impressões da turma realmente foram corroboradas durante todo o estágio. Em
conversas, alguns demonstraram ter bons valores e sempre buscavam o melhor para o
grupo. Não observamos fatos ou relatos referentes a drogas, sendo que, o hábito
deletério mais evidente em nossas observações foi a má alimentação durante os
intervalos.
Assim não podemos julgar a vida de diversos alunos por apenas este recorte,e
em todas as classes sócias temos todos os tipos de famílias, mas em uma família com
uma situação econômica estável podem ser melhores as chances de pais com maior
preocupação, conhecimento e tempo para dar esta bagagem emocional e
comportamental a seus filhos. Além do mais, estes filhos podem, desde cedo, presenciar
hábitos e modelos de conduta adequados. Existe também um direcionamento familiar
associado à boa bagagem cultural, onde estes alunos são orientados e influenciados,
desde a infância, para assumir bons empregos e por isto recebem desde cedo uma
excelente educação.
Quanto aos hábitos, sabemos que existem certas barreiras na implantação de
projetos devido à dificuldade de mudança dos mesmos. Segundo Stratton (1994), com
uma leitura através da perspectiva da psicologia behaviorista (comportamental), o
hábito é uma seqüência aprendida de estímulo - resposta. Para a psicologia cognitiva o
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Um fator importante é abrir espaço para que os alunos tragam o universo deles
com relação ao tema para aula, pois sabemos que hoje em dia, por inúmeros exemplos,
que a realidade do professor às vezes é muito diferente da realidade dos alunos. As
mídias de comunicação, as novas tecnologias, as mudanças sociais e as próprias
mudanças que a juventude imprime para se distanciar são exemplos que itens que
aumentam este distanciamento. A adesão às novas tecnologias é um campo onde eles
sempre consideram ter um domínio maior que o professor, tornando este um local
teoricamente “exclusivo” dos jovens como programas de comunicação e sites de
relacionamento. A criação de gírias que contrapõe a formalidade que exige a instituição
cria muitas vezes um linguajar específico daquele grupo, e que os demais que não fazem
parte deste, apresentam certa dificuldade de entendimento, excluindo de certa forma os
professores ou os que não são considerados membros do grupo. Ou mesmo o fato de
taxarem o professor desatualizado e fora de contexto podem desfocar a atividade, logo
este feedback da cultura da turma é importantíssimo para que alunos e professores
falem a mesma língua.
Há também o contexto político-econômico de um Brasil multicultural e cheio de
desigualdades que permite dentro da mesma escola alunos com realidades literalmente
antagônicas. Escolas nas quais temos alunos de classe média e média alta que têm
acesso a cursos extracurriculares, educação, lazer, possivelmente uma base familiar
sólida, como também alunos da periferia que moram em bairros violentos, com altos
índices de assassinatos e tráfico de drogas, não possuem os mesmos acessos e que estão
buscando uma vida melhor na ascensão social.
Uma proposta interessante seria estruturada por momentos em aulas específicas
por um determinado tempo, pois pelo que já foi apresentado de estímulo e hábito até
aqui, entendemos que para que haja mudança, um único estímulo teria que ser muito
forte para surtir efeito, assim uma estratégia de manter estímulos periódicos pode
permitir aos alunos estarem sempre engajados num propósito, sem que o mesmo caia no
esquecimento.
44
Fig.10 Freinet9
9
Disponível em www.freinet.org acesso em 10/11/2009 as 16h44 min.
45
Motivado por suas vivências ruins na escola, Celéstin Baptistin Freinet, nascido
em 1896 na França, teve, desde esta época, aguçado seu desejo de reforma, assumindo a
profissão de professor. Em 1924 criou uma cooperativa com professores da aldeia onde
residia e foi de lá que surgiu o movimento denominado Escola Moderna. Neste mesmo
ano inicia as correspondências interescolares, sendo esta, uma de suas técnicas
pedagógicas. Seus métodos traziam grande desconfiança, principalmente pelo enorme
número de correspondências trocadas, sendo esta, a razão pela qual foi exonerado e em
1935 fundou sua própria escola.
Talvez o pilar central da pedagogia Freinet seja a cooperação. O autor também
considerava a escola muito teórica e distante do cotidiano das crianças. Para Freinet, a
experiência era parte importante do processo de aprendizagem do aluno e, com
constante observação, percebia o momento de intervir e fomentar o desejo de aprender
de deles. Neste processo havia trabalhos em pequenos grupos sempre estimulando a
cooperação, criando até mesmo um conselho de classes para discutir atividades,
materiais e responsabilidades (ELIAS, 1998).
Através dos objetivos dos parâmetros curriculares nacionais de educação física
propostos pelo MEC notamos um alinhamento com sua pedagogia já no primeiro
tópico:
(BRASIL, 1998)
3. Metodologia
o período. Eles não possuíam aula de educação física específicas, já que era apenas uma
professora para todo o processo.
No primeiro semestre de 2009, o estágio foi feito no Colégio Progresso. Trata-se
de uma escola particular situada na região central de campinas, e seus alunos são de
classe média alta a alta. A turma consistia em alunos do terceiro ano do ensino médio
sendo por volta de 25 alunos.
No segundo semestre de 2009 a quarta e última disciplina de estágio foi realizada
na Escola Estadual Carlos Araújo Pimentel da Diretoria Leste de campinas. Nesta
escola não se tratava de uma turma específica, mas sim de cinco, que eram as turmas
que a professora de educação física lecionava durante o período da manhã de um dia da
semana. As turmas tinham em média 30 alunos Por sala.
50
4. Considerações Finais
Ser professor para além das questões pedagógicas não é apenas ensinar
conteúdos. É um espelho de um modelo social a ser seguido, de um agente que pode
atuar em prol do bem estar das pessoas do meio em que vive. Inúmeras questões
estruturais têm de ser resolvidas para que este profissional tenha plenas condições de
trabalhar, pois, espera-se que suas aulas realmente passem, além de conteúdos, bons
sentimentos e emoções a seus alunos.
“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam
sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós."
5. Referências:
BUSS, P.M. Promoção da saúde e Qualidade de Vida Ciência Saúde Coletiva, vol. 5
2000
CERVO, A.L. BERVIAN, P.A. Metodologia Científica. São Paulo, Ed. Mc Graw,
1975.
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