PRESIDENTE ELEITO, LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, E A EQUIPE DE TRANSIÇÃO DO NOVO GOVERNO
No dia 17 de novembro de 2022, lideranças indígenas que compõem o Parlamento
Indígena do Brasil (Parlaíndio), reuniram-se em assembleia virtual para debater a situação política do país e buscar consenso sobre as principais pautas e prioridades de políticas públicas para os povos indígenas do Brasil. As lideranças também decidiram enviar esta carta de apoio ao novo governo e apresentar propostas que garantam os direitos constitucionais dos povos indígenas brasileiros, bem como indicar nomes de lideranças tradicionais que poderão integrar a equipe de transição e o futuro governo Lula.
As lideranças do Parlaíndio Brasil presentes na assembleia ressaltam a importância
da criação do Ministério dos Povos Originários, porém, entendem que a criação da pasta não é uma solução, mas um ponto de partida para que estratégias discutidas durante as conferências de Saúde Pública e Educação Indígena e na própria PNGATI – Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas, por exemplo, sejam adotadas, cumprindo papel inter e transdisciplinar e contribuam para a abertura de espaço e melhorias da qualidade de vida para os povos indígenas.
Os líderes acreditam também que existem muitos candidatos ao posto de Ministro,
mas que exista “pouco Ministério para tantos povos''. Os povos indígenas celebram a ampliação da presença indígena no Congresso Nacional e confiam no compromisso de Sônia Guajajara, Célia Xakriabá e Juliana Cardoso em defender os direitos dos povos indígenas no âmbito do Congresso Nacional. Entre os nomes divulgados, até o momento, para liderar o novo ministério várias lideranças presentes na assembleia manifestaram seu reconhecimento e apoio a deputada federal Joênia Wapichana mas destacaram que outras lideranças do Parlamento Indígena também estão aptas a participar da equipe de transição e da equipe do Executivo do Presidente Lula em diferentes Ministérios e não apenas no Ministério dos Povos Originários.
Os representantes do Parlamento Indígena chamam também a atenção para que,
mesmo a partir da criação da pasta, sejam mantidos os outros organismos protetivos dos indígenas em seus ministérios de origem, como é o caso da FUNAI e da SESAI vinculadas aos ministérios da Justiça e da Saúde, respectivamente. Além disso, destacaram a importância do incentivo aos diálogos interministeriais para que, em parceria com o Congresso Nacional, seja possível implementar um número crescente de políticas públicas voltadas para os povos indígenas no âmbito de diversos ministérios e órgãos públicos afins a questão indígena.
Os integrantes do parlamento ressaltam ainda que a questão principal no presente
momento é pensar e planejar todos os instrumentos protetivos aos direitos dos povos indígenas e apontaram a necessidade da criação de secretarias para povos indígenas em Ministérios que afetam prioritariamente os povos indígenas, a exemplo dos Ministérios do Meio Ambiente, da Educação, da Cultura, do Esporte, a fim de que as diretrizes e políticas públicas sejam contempladas de maneira transversal e articulada com o Ministério dos Povos Indígenas.
A seguir, as principais pautas priorizadas pelo Parlamento Indígena do Brasil:
1. Fortalecimento das estruturas e saneamento dos quadros da FUNAI e SESAI com reforço imediato em seus orçamentos para 2023 que foram sucateados nos últimos anos e a profissionalização dos quadros destes órgãos hoje aparelhados por militares e indicações de políticos ruralistas e evangélicos;
2. Homologação imediata das terras indígenas com processos concluídos e
estudos para demarcação de novos territórios – imediato arquivamento da PEC 215/2000;
3. Projetos que visem preservar os biomas Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica,
Pampa e Caatinga e demais áreas de proteção ambiental do Brasil;
4. Lançamento de uma ação nacional de reflorestamento dos territórios
indígenas degradados com protagonismo indígena, com recursos do Fundo Amazônia e de outros organismos internacionais
5. Contra o Marco Temporal – PL 490/2007;
6. Proibição imediata do arrendamento de terras indígenas para atividades
agroflorestais e agropecuárias, bem como qualquer atividade econômica predatória ou que viole o usufruto exclusivo dos povos indígenas sobre os recursos naturais presentes em seus territórios; arquivamento da PEC 187/2016 e revogação da instrução normativa conjunta Funai/Ibama 01/2021;
7. Contra a grilagem de terras – PL 2633/2020;
8. Contra a mineração, geração de energia hidrelétrica, exploração de petróleo
e gás e agricultura em larga escala nas Terras Indígenas – PL 191/2020;
9. Fortalecimento e autonomia do movimento indígena em nível comunitário,
local, regional e nacional;
10.Participação direta dos povos indígenas no centro dos debates sobre
mudanças climáticas globais; 11.Criação de cotas preferenciais para indígenas nos concursos públicos federais, sobretudo para a FUNAI e SESAI, assegurado equilíbrio de gênero, nos termos da Lei nº 12.990/14;
12.Cumprimento das normativas da Lei 11.645/2008 que torna obrigatório o
estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nas escolas de nível médio e fundamental de todo o Brasil e incentivo a aquisição de obras de autores indígenas para distribuição na rede de ensino público no Brasil;
13.Participação de profissionais indígenas nas equipes dos ministérios como
educação, cultura, saúde, esporte, meio-ambiente, entre outros órgãos afins a questão indígena;
14.Definição de políticas públicas para os indígenas que vivem em contexto
urbano e regulamentação da auto declaração indígena para efeito de vagas nas universidades;
15.Atualização, aprimoramento e fortalecimento das políticas públicas de
promoção e proteção da diversidade das expressões culturais tradicionais, materiais e imateriais dos povos indígenas, com prioridade para a reativação e fortalecimento da “Artíndia” e a direção do Museu do Índio no Rio de Janeiro por profissional indígena, em caráter inédito como implementação de protagonismo indígena voltada à autonomia, geração de renda e trabalho digno em prol dos povos indígenas, nossas comunidades e organizações.
A missão institucional do Parlamento Indígena do Brasil, atualmente composto por
70 lideranças representativas de 40 povos indígenas, é dar voz e visibilidade política às lideranças indígenas tradicionais e profissionais representativas dos povos originários do Brasil, por meio da criação de uma assembleia permanente de lideranças com pauta centrada na defesa dos direitos constitucionais indígenas, na conservação e preservação da biodiversidade e na construção coletiva e encaminhamento de políticas públicas destinadas a todos os povos indígenas do país.
Plenamente identificados com essa missão, as lideranças do Parlamento Indígena
citadas abaixo vêm manifestar seu apoio ao novo governo e apresentar as pautas acima com vistas a colaborar na definição das prioridades de ação do novo governo, bem como indicar alguns nomes de lideranças que poderão contribuir na formulação das políticas públicas pelo novo governo do presidente Lula que iniciará um novo ciclo em 2023.
Entre as lideranças que participaram da assembleia virtual do Parlamento
Indígena, em 17 de novembro de 2022, estavam presentes: Álvaro Guarani Kaiowá; Francisco Piyãnko Ashaninka; Nedina Yawanawá; Daniel Munduruku; Fernanda Kaingáng; Joaquim Maná Huni Kuī; Aruã Pataxó, Marize Guarani; Clóvis Marubo; Amauri Bhepnhoti Kayapó; Genilda Kaingang; Ninawá Huni Kuī; Chirley Pankará; Marcos Apurinã; Carlos Doethyró Tukano; Kretã Kaingang; Marcio Bororo; Edson Kayapó; Erlis Karipuna.