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Ayahuasca, Budismo e Meditação

Gentil, o iconoclasta
Professor do Departamento de Matemática da UFRR
(gentil.iconoclasta@gmail.com)

27 de junho de 2019

O meu pensamento quis aproximar-se dos


problemas do espı́rito pela via de uma diversa
experimentação de caráter abstrato, especu-
lativo, resultante das conclusões de processos
lógicos da mais moderna fı́sico-matemática.

(Pietro Ubaldi)

Resumo

Este artigo traz uma inusitada relação


entre a bebida sagrada ayahuasca, a filoso-
fia budista e a meditação; ademais, sugere
uma nova aplicação para a ayahuasca dentro
do universo da espiritualidade. Bem como
defende a tese de que é possı́vel sim a tão
almejada iluminação com o auxı́lio deste consagrado enteógeno.
Nota: Para baixar o pdf dos meus livros e artigos: https://goo.gl/DVWQxz

Assim como o microscópio e o telescópio são instrumentos de pesquisa


do biólogo e do astrônomo, defendemos a tese de que a ayahuasca pode ser
um instrumento de pesquisa dos cientistas ligados às ciências cognitivas.

1
1 Uma perspectiva sobre a Ayahuasca
Ayahuasca: O Yagé ou Ayahuasca, é uma bebida sagrada (enteógeno)
feita através do cozimento de um cipó (Banisteriopsis Caapi) e das folhas
de um arbusto (Psicotria Viridis). A Ayahuasca, também conhecida como
o Vinho da Alma (Aya = Alma, Huasca = Vinho/Idioma Quechua − Perú e
Bolı́via), é utilizada de forma sacramental em diversos grupos religiosos com
o objetivo de se atingir um estado ampliado de consciência.
O vocábulo “enteógeno”, significa literalmente “manifestação interior
do divino”, uma outra forma de nos referirmos à ayahuasca.

(Plantaç~
ao própria Gentil & Patrı́cia/Mudas cedidas por Hélio Brito Frota)

Uma oportuna analogia


Com o objetivo de explicitar uma importante caracterı́stica da aya-
huasca é que faremos uma analogia: Na fı́sica existe uma experiência na
qual um prisma ao receber uma luz branca a decompõe em um espectro de
frequências, “as sete cores do arco-ı́ris ” , assim:

Vermelho
Alaranjado
Amarelo
Luz Branca Verde
(Mente)
Azul
Anil
Violeta
− Ayahuasca

Pois bem, em nossa analogia a luz branca corresponde à ayahuasca, o


prisma corresponde à mente humana.

2
Veja, todas as cores estão “escondidas dentro” da luz branca, agora só
serão manifestas na presença de um anteparo, no caso o prisma. Em nossa
analogia tome “cores” como sendo as experiências possı́veis com a aya-
huasca. Logo, as experiências possı́veis com a ayahuasca são idiossincráticas,
isto é, vão depender do “conteúdo de sua mente”, a ayahuasca em si é neutra.
Vejamos uma analogia equivalente: se você expõe um CD à luz branca,
esta se decompõe nas cores do arco-ı́ris, assim:

− CD (Prisma/Mente) Vermelho
Alaranjado
Amarelo
Luz Branca Verde
Azul
Anil

7−→
Violeta
− Ayahuasca
− Experi^
encias possı́veis com a ayahuasca

Em termos de analogia, podemos considerar a ayahuasca como um reflexo


do Absoluto (ou Consciência Pura), por conseguinte também se constitui em
um “Oceano de Potencialidades”, é um canal de manifestação do divino.

O Absoluto contém tudo o que é


passı́vel de ser experiênciado, mas, sem o Ayahuasca
experienciador, essas coisas são o mesmo Mente
que nada. Aquilo que torna possı́vel a ex-

periência é o Absoluto, o que a torna atual Deleta
é o Ser. (Maharaj) a mente
Experiências

A minha experiência com a ayahuasca corresponde a deletar a mente,


quando não mais existirão pensamentos. É a experiência do Vazio budista.
Quando Buda atingiu, alguém lhe perguntou: “O que você atingiu?”
Ele riu e disse: “Não atingi nada, pois o que atingi sempre esteve comigo.
Pelo contrário, perdi muitas coisas; perdi meu ego, meus pensamentos, mi-
nha mente. . . Perdi tudo o que costumava senti que possuı́a; perdi meu corpo,
pois costumava achar que era o corpo. Perdi tudo isso e agora existo como
puro nada. Mas essa é a minha aquisição.” (Buda/Osho)

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1.1 Algumas informaçoes adicionais sobre a Ayahuasca
No YouTube existem muitas informações desencontradas sobre a Aya-
huasca. As pessoas, não raro, relatam suas próprias experiências como se
estas esgotassem o universo de possibilidades com a ayahuasca.
As experiências são únicas − cada indivı́duo tem a sua − e não se
repetem − um mesmo indivı́duo nunca terá a mesma experiência duas vezes
−, tudo se passa como nos sonhos: são únicos e não se repetem exatamente.
Conto com mais de trinta anos neste universo, nunca tive exatamente a
mesma experiência duas vezes.
E quanto a possibilidades de mal estar, vômitos, diarréia, etc.? Sim,
isto pode acontecer − não com todos −, a ayahuasca possui propriedades
purgativas, ela limpa o organismo para depois trabalhar. Entretanto, ela
limpa onde precisa ser limpo, caso contrário não. Por exemplo, não como
carne de espécie alguma há mais de dez anos, tenho certos cuidados com
minha alimentação; quando bebo a ayahuasca não sinto o menor desconforto,
é como se eu estivesse tomando água.
A quem interessar possa, a seguir listamos alguns vı́deos confiáveis sobre
a ayahuasca.
Nota: Santo Daime, UDV (Uni~ ao do Vegetal) e Barquinha são religiões
ayahuasqueiras − Utilizam a ayahuasca (chá) em seus rituais religiosos.

1.1) Entrevista Bia Labate a respeito da UDV, Baquinha e Santo Daime


(Parte 1)
https://www.youtube.com/watch?v=66U55nRvLxw

1.2) Entrevista Bia Labate a respeito da UDV, Santo Daime e Barquinha


(Parte 2)
https://www.youtube.com/watch?v=9xRDiLohZEo

2) Ciclo de Palestras: As Propriedades Misteriosas da Ayahuasca - Palestra


1 (na ı́ntegra)
https://www.youtube.com/watch?v=eZeZok4SCrI

3) Leo Artese - Depoimento sobre Ayahuasca


https://www.youtube.com/watch?v=NnakAXy Spo

4) Ayahuasca, segurança e pesquisa biomédica


https://www.youtube.com/watch?v=WqxFVmnGXgM

5) Ayahuasca, Expansão Da Consciência


https://www.youtube.com/watch?v=70eAtTuTN-I

6) Beatriz Labate - Ayahuasca Shamanism in the Amazon and Beyond


https://www.youtube.com/watch?v=91Ycc7QNPsA

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2 Três de minhas experiências com a Ayahuasca
Meu primeiro contato com a ayahuasca deu-se em 1986 (contava eu com
26 anos) na UDV (União do Vegetal/Boa Vista-RR) e minha frequência às
reuniões acontecia de modo esparso. Em 1993 fui residir na cidade de Medi-
aneira (Paraná), uns dois anos depois tive a oportunidade de participar de
uma sessão em Curitiba (UDV). Em 1996 fui residir em Florianópolis onde
ainda frequentei algumas reuniões na UDV; em seguida conheci a outra das
grandes religiões ayahuasqueiras, o Santo Daime, em Floripa, propriamente.
Frequentei algumas reuniões e em 1998 retorno novamente a Boa Vista; em
1999 vou morar em Brası́lia onde novamente tive a oportunidade de visitar
o Santo Daime. Retorno em 2000 e em 2002 conheço − através do Hélio −
o Santo Daime em Manaus-AM. Em minha residência (Boa Vista-RR) abri
“um ponto” do Santo Daime ao mesmo tempo que decidi cultivar as duas
plantas, jagube e rainha (como são conhecidas no Santo Daime), matéria
prima da ayahuasca; hoje em dia tanto participo de rituais no Santo Daime
como faço meus próprios trabalhos com ayahuasca, por sinal sou feitor deste
sacramento. (ver imagens, p. 2)
Atualmente existem no Brasil (e no exterior) centenas de grupos usuários
da ayahuasca, realizando os mais diversos tipos de trabalhos; isto é, com fi-
nalidades e objetivos especı́ficos. Eu, particularmente, vejo com bons olhos
toda esta diversidade e pluralidade; seria muito monótono se houvesse no
mundo apenas um gênero de música. Digo, a pluralidade deve existir justa-
mente para atender as diferentes necessidades dos indivı́duos, com um pouco
de raciocı́nio (não precisa muito) não é difı́cil concluir que não existem duas
pessoas iguais no universo; por conseguinte nem sempre as necessidades, in-
teresses e graus evolutivos são os mesmos.
Nota: A ayahuasca é também conhecida como Vegetal pela UDV e por
Daime pelo Santo Daime. Quando queremos desvincular este sacramento
de qualquer religião em particular, o chamamos simplesmente de ayahu-
asca; este nome não é próprio (não é marca registrada) de nenhuma religião.
Por sinal, no Brasil existem inúmeros grupos que fazem uso da ayahuasca
desvinculada de quaisquer religiões organizadas, podemos chamá-los “neo-
ayahuasqueiros” − dentre os quais me incluo.
Ainda a tı́tulo de informação, as duas plantas (matéria prima da ayahu-
asca) são conhecidas na UDV como mariri (o cipó) e chacrona (a folha); no
Santo Daime como jagube (o cipó) e rainha (a folha).
Dentre as “n” experiências que já tive no universo ayahuasqueiro rela-
tarei a seguir apenas três delas que são as que têm maior relevância para o
contexto do presente ensaio, isto é, com o tema da Consciência.
A bem da verdade, encontrei o relato destas três experências esquecidas
em um “baú”, agora decidi colocá-las em um artigo a tı́tulo de registro; mas
até hoje (2019) muitas outras experiências veem se somar a estas.

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2.1 encia 1
Experi^ (25.12.2008): Intensidade de Consciência

Tenho por certo que não apenas dentro de um trabalho espiritual mas
também em circunstâncias outras da vida podemos passar por experiências
preciosas e − no momento − não darmos a devida importância, por uma
questão de desconhecimento “na área”. É como se topássemos com uma
pedra preciosa (um diamante, por exemplo) e a “chutássemos para o lado”,
por acharmos que aquilo não é de nenhum valor. Foi precisamente o que
ocorreu comigo na presente experiência.
Participava eu de um trabalho com ayahuasca∗ quando em dado mo-
mento sentir a necessidade de me dirigir à sala ao lado (de onde ocorria a
cerimônia) e me sentar em uma cadeira, foi quando então senti um forte
zumbido na cabeça e uma intensa “Consciência puramente contemplativa”,
ao que me pareceu, esta intensa Consciência era sustentada pelo intenso
zumbido. Neste estado havia uma completa ausência de pensamentos (ou
sentimentos). O diferencial deste meu estado era justamente a intensidade
de consciência; para efeitos de comparação, e para que eu me faça melhor
entender, imagine que nossa consciência normal corresponda ao “brilho”
(potência) de uma lâmpada incandescente de 60w, na minha experiência
senti como se (na minha mente) houvesse acendido uma lâmpada de 600w
− esta era a potência de minha nova consciência; conclusão: assim como
as estrelas do céu se diferenciam em brilho (potência, intensidade) de igual
modo se dá com os diversos nı́veis de consciência.
Pois bem, a princı́pio me surpreendir pelo estado em que me encontrava,
todavia não me ocorreu nenhuma interpretação para o mesmo, ou seja, não
sabia o que fazer; a duração foi longa (20 minutos?) foi quando decidi −
ainda dentro da experiência − retornar para o salão de cerimônias, o meu
estado de “Supraconsciência” foi amanaindo aos poucos até desaparecer.
Após a experiência passei os dois dias seguintes curioso a respeito de
algum possı́vel significado para a mesma, foi quando por acaso (?) me de-
parei com a seguinte passagem de um livro:

CONSCIÊNCIA CÓSMICA
Vamos agora dar outro passo em nossa exploração
do universo in-formado: um passo que vai além da
consciência associada com os organismos vivos.
Não poderia o próprio cosmo ser dotado de algum tipo
de consciência? [. . .] Sir Arthur Eddington observou que
“o material do universo é material mental [. . .] a fonte e
a condição da realidade fı́sica”. [. . .]
Há, entretanto, abordagens positivas que podemos adotar. De inı́cio,

Dia 25.12.2008, Trabalho de Natal/Santo Daime.

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mesmo que não possamos observar diretamente a consciência no vácuo, po-
demos tentar um experimento. Podemos entrar num estado alterado de
consciência e nos identificar com o vácuo, o nı́vel mais profundo e mais fun-
damental da realidade. Supondo que sejamos bem-sucedidos (e os psicólogos
transpessoais nos dizem que em estados alterados as pessoas podem se iden-
tificar praticamente com qualquer parte ou aspecto do universo), será que
experimentarı́amos um campo fı́sico de energias flutuantes? Ou experimen-
tarı́amos assim como um campo de consciência cósmico? [. . .]
Stanislav Grof descobriu que em estados de consciência profundamente
alterados, muitas pessoas experimentam um tipo de consciência que lhes
parece ser a do próprio universo. Essas experiências, as mais notáveis obti-
das em estado alterado, vêm à tona em indivı́duos que estão comprometidos
com a busca por apreender os terrenos supremos da existência. Quando es-
ses buscadores se aproximam da realização de seu objetivo, suas descrições
daquilo que eles consideram ser o princı́pio supremo da existência são incri-
velmente semelhantes. Eles descrevem o que experimentam como um imenso
e insondável campo de consciência dotado de inteligência e de poder criador
infinitos. O campo de consciência cósmica que eles experimentam é um es-
tado de vacuidade cósmica − um vazio.
− Fonte: Laszlo, Ervin. A ciência e o campo Akáshico: uma teoria integral
de tudo. Ed. Cultrix, 2008. (grifo nosso) (p. 124)

É isso o que eu estou tentando dizer desde cedo! Apenas fazendo um


adendo − a partir de minha própria experiência −, ao que se afirma:
O campo de consciência cósmica que eles experimentam é um estado de va-
cuidade cósmica − um vazio.

Isto é verdade, apenas que, quando a


potência da experiência é intensa o “experi-
mentador” desaparece, “como se fosse uma
estátua de gelo frente ao Sol”.
Pelo ao menos um pesquisador sério levou
a sério esta Consciência a que me refiro:

Ervin László (Budapeste, Hungria, 1932)


é um filósofo da ciência e teórico de sistemas.
Autor de mais de 400 artigos e 74 livros tradu-
zidos para 20 idiomas. Em 2004 e em 2005, foi
nomeado para o Prémio Nobel da Paz. É titu-
lar do mais alto grau da Sorbonne (Doutorado),
foi agraciado com quatro Ph.Ds honorários e
numerosos prêmios e distinções.

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2.2 Experiência 2 (09.08.2009): Quem Sou Eu?

Nesta experiência após a ingestão do sacramento me deitei em um


colchão onde, após alguns minutos de “atenção” aos pensamentos, conse-
gui eliminá-los (ressetá-los). Entrei em um estado de pura Consciência; em
minhas “entradas” neste nı́vel de Consciência trata-se de uma Consciência
puramente (integralmente) contemplativa, no qual não existe “nada”, exceto
pura contemplação (observação, atenção) sem nenhum pensamento, senti-
mento ou julgamento.
Pois bem, ao me encontrar neste “estado de vacuidade” dei por falta
de “mim”; digo, não conseguia me “encontrar” uma vez que o que havia,
repito, era pura consciência contemplativa; foi quando me fiz (ou me foi
sugerida) a pergunta: Quem Sou Eu?
Em resposta a esta pergunta o máximo que consegui obter foi a res-
posta: Um somatório de experiências∗ .
Embora no momento, digo, após sair desta experiência eu não tenha
dado a devida importância à mesma† uns dois dias depois lembrei-me do
filme e do livro “Quem somos nós? ” que eu havia visto e lido há tempos
atrás. Achei que este tı́tulo tinha algo a ver com minha “despretensiosa”
pergunta da experiência. Comprei o livro “Quem somo nós? − A descoberta
das infinitas possibilidades de alterar a realidade diária” e o li novamente.
Para minha surpresa li (página. 3):
O sábio indiano Ramana Maharshi declarou aos discı́pulos que o cami-
nho para a Iluminação pode ser resumido na frase: “Quem sou eu?”
Achei muita coincidência e a partir daı́ resolvi levar mais a sério, digo,
dá maior crédito às minhas experiências e a me interessar com mais entusi-
asmo pelo tema da Consciência.
Lê o livro “Quem somos nós?” a partir da plataforma desta minha nova
experiência me proporcionou uma abertura de visão, uma nova compreensão
do seu conteúdo; apenas para contextualizar gostaria de citar uma passa-
gem que está em perfeita harmonia (consonância, ressonância) com minha
experiência; digo, minha experiência me dá subsı́dios não apenas para com-
preender como também corroborar o que vem a seguir:
− Tal como todas as células do corpo se inter-relacionam para produzir
um organismo funcional, também as redes neurais se associam para produzir
aquela entidade que pensamos ser nossa personalidade. Todas as emoções,
lembranças, conceitos e atitudes estão neurologicamente codificados e inter-
conectados, resultando no que se chama ego, filho do homem, eu inferior, o
humano, a personalidade. (Livro “Quem somos nós?”, p. 151)

Ou seja, naquele momento como eu ainda me identificava com meu ego conclui que
eu era o somatório de todas as minhas experiências de vida.

Desconfiei que a pergunta chave: “Quem Sou Eu?” era por demais tola, para ser
levada a sério.

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2.3 Experiência 3 (16.08.2009): O Segredo do Universo
Desejo deixar registrado aqui uma experiência que tive ontem (domingo,
com respeito à Consciência.
16.08.2009)

Com uma certa regularidade tomo um sacramento por nome de Ayahu-


asca, após a ingestão me deito em um colchão para meditar∗ ; após cerca de
uns 40 minutos lutando contra os pensamentos, que teimavam em manter
a primazia da mente, consegui ressetá-los; a princı́pio senti como se esti-
vesse de súbito sido lançado em um campo de gravidade nula (sem nenhuma
influência de matéria) o que me causou um certo desconforto; foi quando
me estabeleci num estado de pura consciência contemplativa, de onde me
veio a sensação de perda da individualidade pois me sentir imerso em um
oceano de Consciência dentro do qual sou um mero foco de consciência
e no qual não ocorre nenhuma espécie de pensamento ou julgamento por
parte da mente, por sinal mente já não existia mais. Quando digo oceano
de Consciência é porque tenho a sensação de que todo o Universo é uma
única Consciência e mais, neste estado não sentimos o corpo e as funções
fisiológicas; não existem sentimentos de espécie alguma, não existe matéria
apenas pura Consciência. De modo que podemos inferir que a essência do
Universo é Consciência, energia e matéria são subprodutos.
Não imagine o leitor que a consciência a que me refiro seja aquela que
é comum, digo, que todos os homens experimentam: um anjinho soprando
no seu ouvido quando você está prestes a aprontar uma das suas, nada a
ver! A diferença é que a consciência a que me refiro é tão somente contem-
plativa, não existe o concurso do pensamento como na “outra” consciência.
Reitero: A “outra” consciência necessita do pensamento como veı́culo para
manifestar-se, enquanto que a legı́tima consciência não tem nada a ver com
pensamento, é independente. A Consciência independe de suporte material,
é uma “substância” mais sutil (etérea) que a própria energia.
Um outro ponto digno de nota é quanto a duração da experiência, a
mesma se estendeu por um perı́odo considerável de algumas horas (umas
três horas, estimo). Mesmo eu conversando por algum tempo o estado se
mantinha; claro, ressalvando o fato de que o pensamento se manifesta tendo
o cérebro como suporte, nada existe fora do oceano de Consciência (nem
mesmo a matéria), este é Oniabrangente, o pensamento é um estado mais
denso, por assim dizer, que a Consciência.
Pelo fato de esta ter sido (em ordem cronológica) a terceira das ex-
periências penso que a vivência das duas anteriores se somou a esta de
formas que o grande diferencial desta foi que, pela primeira vez, eu com-
preendia a importância (corolários) da experiência que estava vivenciando.
Lembro que eu, amiúde, exclamava:

Esta é apenas uma das propriedade do chá, me facilita − e muito − atingir um estado
de meditação. Uma outra é me fazer bailar (dançar) sob um sensı́vel êxtase.

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“meu Deus que fantástico! ” . . . “meu Deus que fantástico! ”
O quê era fantástico? Na segunda experiência me fiz a pergunta:
“Quem sou eu?”, e agora eu compreendia a profundidade, importância (e
corolários) desta pergunta.
Ora, se eu passo a vida inteira imaginando que “eu” era eu e, num
átimo, compreendo que “eu” não sou eu, isto não é extraordinário?
A este respeito conclui que vivi “iludido” todos estes longos anos . . . isto
por si só é fantástico . . . mas ainda não é tudo! Segundo, o que é mais
fantástico ainda, eu não apenas não era o “Gentil” como era . . . quem?
. . . uma fagulha da mesma essência de Deus!

Pois bem, sem saber o que fazer com minhas experiências fui levado a
pesquisar paralelos em livros. Encontrei uma perfeita harmonia entre mi-
nhas experiências e algumas das literaturas budistas, em particular como
interpretadas pelo mı́stico Osho.
Dentre o espectro de minhas experiências destacarei as relacionadas ao
vazio. Enfatizo: fui levado a focar no tema do vazio − a dar prioridade ao
vazio − não a partir de leituras, de teorias, mas, ao contrário, a experiência
do vazio é que me levou à literatura a respeito do tema.
O vazio que decorre da meditação, como entendo, significa “não mente”,
isto é, ausência de mente, ausência de pensamentos, de sentimentos, julga-
mentos, etc. Um estado de “pura consciência meramente contemplativa”.
Quando não há ondulações no lago da consciência, a consciência
serve apenas como um espelho refletindo tudo isso − as estrelas, as
árvores, os passáros, as pessoas, tudo isso −, simplesmente reflete isso,
sem nenhuma distorção, sem nenhuma interpretação, sem carregar con-
sigo seus preconceitos. (Osho/Zen/Cultrix)

Um mestre diz que aquele que falar de Deus através de qualquer semelhança,
fala de modo simplório Dele. Mas falar de Deus através do ‘Nada’; é falar
dele corretamente. Quando a alma unificada entra na total auto-abnegação,
encontra Deus como um Nada. (Zen budismo)

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3 Qual o objetivo da meditação?
3.1 O que somos nós? − nossa essência, o que é?
Não somos nem matéria nem A mente não é você, é outro. Você
energia, nem corpo nem mente. é apenas um observador.
(Maharaj) (Osho)

Tenho visto vários vı́deos no YouTube sobre meditação. Não raro, a


preocupação inicial dos instrutores é sobre a “posição mais confortável para
se meditar, respiração, etc.”; dificilmente encontramos um vı́deo no qual se
declara de inı́cio qual o objetivo da meditação, onde se quer chegar?
Para que se compreenda qual o objetivo da meditação precisamos antes
responder a uma pergunta: O que é o ser humano? O que somo nós?
Normalmente o ser humano se identifica com o corpo e a mente, a mente
é produto de muitos fatores, em poucas palavras é uma construção social.
Vejamos uma analogia, quando chegamos ao mundo podemos nos ver como
uma tela em branco, assim:

Tela em branco

− Um pássaro nascido em
uma gaiola n~
ao tem a
consci^
encia de que está
preso.

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A tela em branco na qual o seu desenho (identidade) será pintado é o
que denominaremos de Consci^ encia Pura, é o que você é em essência; a
Consciência Pura não é matéria nem energia. Ao nascer embora não tenha-
mos uma identidade formada, no entanto, somos conscientes, temos uma
Consciência. Pois bem, o seu retrato (identidade, ego) será pintado por
vários “artistas”, dentre eles, seus pais, colegas de escola, religiões, internet,
televisão, etc. Para reforçar o presente contexto, sugerimos a leitura − na
ı́ntegra − do artigo que se encontra no endereço

http://misticismonaturalmn.blogspot.com/2017/06/consciencia-abordagem-
de-osho-1-parte.html?m=1

CONSCIÊNCIA -
A ABORDAGEM DE OSHO
(1a PARTE)

Nota: Releia o último parágrafo


da página 8: Tal como todas as
células do corpo . . .

Posto isto, para que que se compreenda qual o objetivo da meditação


faremos uma analogia. Na fı́sica existe uma experiência na qual um prisma
ao receber uma luz branca a decompõe em um espectro de frequências, “as
sete cores do arco-ı́ris ” , assim:

Prisma
Vermelho
Alaranjado
Amarelo
Luz Branca Verde
(Mente)
Azul
Anil
Violeta
− Consci^
encia Pura

Pois bem, em nossa analogia a luz branca corresponde ao Oceano de


Consciência Pura (ou Universal), o prisma corresponde à mente humana.

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Veja, todas as cores estão “escondidas dentro” da luz branca, agora só
serão manifestas na presença de um anteparo, no caso o prisma.
Vejamos uma analogia equivalente: se você expõe um CD à luz branca,
esta se decompõe nas cores do arco-ı́ris, assim:

− CD (Prisma) Vermelho
Alaranjado
Amarelo
Luz Branca Verde
Azul
Anil
Violeta
− Consci^
encia Pura − Mente (Matrix, pris~
ao)

Pois bem, o objetivo da meditação é anular o prisma (mente) e retornar


à luz branca, assim:
Oceano de Luz.

A meditação elimina
o prisma (mente)
Luz Branca
e conduz o mı́stico ×
de volta ao Oceano.

O objetivo da Meditação é apagar o desenho da tela em branco, p. 11.


Neste estado não existe mente, portanto não existem pensamentos na
mente. Vejamos ainda uma outra ilustração:

Um segundo prisma colocado após o


primeiro consegue somar todas as cores ob-
tendo a luz branca de volta. Desta pers-
pectiva, isto é, neste estado de Consciência ência
C onsci
Pura não existem pensamentos, nem um p e ns
ame
único sequer. Nota: Já vi vários vı́deos → Mente ntos →
nos quais os instrutores de meditação afir- Buda deleta
mam ser impossı́vel silenciar por completo a mente.
a mente. A explicação é simples: eles próprios nunca conseguiram.

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Ainda com o intuito de reforçar o fato de que é possı́vel sim se eliminar
os pensamentos, veja:
Quando Buda atingiu, alguém lhe perguntou: “O que você atingiu?”
Ele riu e disse: “Não atingi nada, pois o que atingi sempre esteve comigo.
Pelo contrário, perdi muitas coisas; perdi meu ego, meus pensamentos, mi-
nha mente. . . Perdi tudo o que costumava senti que possuı́a; perdi meu corpo,
pois costumava achar que era o corpo. Perdi tudo isso e agora existo como
puro nada. Mas essa é a minha aquisição.” (Buda/Osho)

De uma outra fonte independente:

− Sri Nisargadatta Maharaj (EU SOU AQUILO, p. 207)

Observando incansavelmente, tornei-me vazio


e, nesse vazio, tudo voltou a mim, exceto a mente.
Sinto que perdi a mente de forma irrecuperável.

E, ademais, temos o meu próprio testemunho; em estado de meditação


profunda consigo eliminar a mente e os pensamentos por horas seguidas. A
propósito, o que me dá segurança para abordar um tema tão pouco compre-
endido − complexo e abstrato − como esse, é a minha própria experiência.

“Nós residimos em nosso cérebro”


Na edição da Revista Veja de 4 de julho de 2012, o cientista Francis
Crick − o mesmo que descobriu a forma de hélice dupla da mólecula da
vida, o DNA − proferiu:

Você, suas alegrias e tristezas, suas memórias e ambições, sua


noção de identidade e seu livre-arbı́trio nada mais são do que a interação
de um vasto conjunto de células nervosas . . . (Francis Crick)

Traduzindo, digamos que nossa identidade (ego) é como se fosse um ar-


quivo codificado quimicamente no cérebro. (ver p. 8)
O que corre por nossa conta é a afirmativa de que podemos apagar
esse arquivo. Sendo ainda mais explı́cito: podemos deletar nossa mente,
quando então perderemos nosso ego, passamos a funcionar num estado de
Consciência Pura. Esse “novo” estado vem sendo anunciado por milênios
através de mı́sticos do Oriente, e agora confirmado por esse autor que
vos fala. O essencial dos meus livro foi escrito a partir da plataforma da
Consciência Pura, na qual não existe mente, não existem pensamentos, não
existe um “eu”. Esse estado é o que no budismo se denomina por Satori.

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Em nossa analogia do Prisma tudo se passa assim:

− Construç~
ao social
− Consci^
encia Pura
Luz Branca
− Mente
7−→

− Ego: esse desenho é


“Voc^
e” (sua ess^
encia) é isto!
um arquivo armazenado no
cérebro, não é sua essência!

Nota: As aspas no “Voc^


e” se deve a que no estado de Consciência Pura, a
bem da verdade, deixamos de existir; é um estado sem identidade, sem um
“eu”. Sem um “eu” ou sem um “Eu Supremo”, não importa, só existe o
Vazio, o Nada.

Na meditação profunda apagamos o de-


senho que encontra-se armazenado na mente
− segundo Crick, ademais, ver final p. 8
−, e retornamos ao nosso estado original:
Consciência Pura. Simplesmente deixamos
de existir, como egos, como indivı́duos.

Uma gota de orvalho escorrendo


da folha de lótus para dentro do oce-
ano. . . Você pode pensar que a pobre
gota está perdida, perdeu sua identi-
dade. Mas olhe de um outro ponto de
vista: a gota se tornou o oceano. Ela não perdeu nada, tornou-se vasta.
Tornou-se oceânica. (Osho)

CONSCIÊNCIA -

A ABORDAGEM DE OSHO

(1a PARTE/2a PARTE)

(ver p. 12)

http://ventosdepaz.blogspot.com/2016/02/um-buda-vive-alem-da-mente-osho.html?m=1

15
Adendo: Computação em nuvem
A afirmação a seguir de Maharaj: (EU SOU AQUILO, p. 207)

Observando incansavelmente, tornei-me vazio


e, nesse vazio, tudo voltou a mim, exceto a mente.
Sinto que perdi a mente de forma irrecuperável.

é confirmada por Buda no diálogo ao


lado. A questão que nos interessa en-
fatizar é: pode-se viver sem a mente,
num estado de Consciência Pura? −
viver sem a mente implica viver sem

pensamentos, é isto possı́vel? (ver p. 3)

Ou isto é possı́vel ou estes dois mestres insignes estão blefando (men-


tindo). Eu, particularmente, fico com a primeira opção. A razão de minha
escolha é que eu mesmo já vivenciei este estado em meditação profunda.
Enfatizando, defendo a tese de que é possı́vel se viver sem mente e sem
pensamentos, em um estado de Consciência Pura! No inı́cio de minhas me-
ditações com a ayahuasca eu necessitava de um “esforço” para entrar nesse
estado, hoje − decorridos mais dez de anos − meu cérebro já está progra-
mado, mesmo eu conversando sou conduzido a esse estado de Vacuidade.
Uma coisa é se ter uma experiência, outra bem distinta é interpretá-la. Eu
próprio me indagava: como pode ser, sinto que eu não existo ao mesmo
tempo que estou entabulando uma conversa, como pode ser isto? − sen-
tia que as informações não estavam sendo acessadas em minha mente, pois
mente já não existia. Vejamos o que a ciência tem a nos dizer a esse respeito:

A MEMÓRIA FICA REALMENTE NO CÉREBRO?


Atualmente há cientistas analisando a proposição de que as lem-
branças não estão realmente armazenadas no cérebro. Descobriu-se que
se for removida uma parte do cérebro onde parecia estar localizada uma
lembrança, ela ainda pode persistir! Onde ela está armazenada? Talvez
em algum lugar na escala de Planck, ou no que algumas pessoas chama-
riam de “registros akáshicos”. O cérebro pode ser apenas um instrumento
para buscar essas lembranças dentro do universo. Ele pode ser o arma-
zenamento local, o disco local em relação ao disco rı́gido cósmico onde
todas as lembranças estão armazenadas.
(Do livro Quem somo nós? − A descoberta das infinitas possibilidades de
alterar a realidade diária/p. 135)

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“Computação em nuvem”
A Computação em nuvem (cloud computing) é uma tecnologia que per-
mite acesso remoto a programas (softwares), arquivos e serviços por meio
da internet.

O armazenamento de dados é feito em serviços que poderão ser acessados


de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, não havendo necessidade de
instalação de programas ou de armazenar dados.
O correio eletrônico é um exemplo disto pois seus email’s juntamente
com arquivos ficam armazenados remotamente para que você possa acessá-
los de qualquer lugar do mundo − onde se tem acesso à internet.
Pois bem, podemos conjecturar que o Universo já traz em si esta pos-
sibilidade de “computação em nuvem”.
Esta é mais uma analogia pela qual pretendemos justificar: O cérebro
pode ser apenas um instrumento para buscar essas lembranças dentro do
universo. Ele pode ser o armazenamento local, o disco local em relação ao
disco rı́gido cósmico onde todas as lembranças estão armazenadas. (p. 16)
Ademais, relevante ao contexto é a afirmação do cientista Ervin Laszlo:
“A informação dentro de um sistema é mais fundamental do que a
matéria, energia, espaço e tempo. A informação é a única coisa no Uni-
verso que não pode ser destruı́da.” (ver imagem, p. 7)

Quando os nervos alcançarem elevado grau de resistência e vibratili-


dade, é possı́vel uma unipolarização tão intensa, uma focalização racional-
espiritual tão veemente que todos os objetos do ambiente fı́sico-mental,
sem excluir o próprio sujeito, deixem de existir. Percepções sensitivas e
pensamentos intelectuais são eclipsados pela claridade da intuição racional-
espiritual. A intensidade “100” reduz a “0” a extensidade. O homem
cruza a fronteira das quantidades externas e atinge a zona da qualidade in-
terna, estado esse que se chama êxtase ou samadhi. Para todos os efeitos
fı́sico-mentais do plano horizontal, esse homem “morreu” [. . . ] A unipolari-
dade é, por assim dizer, um “suicı́dio”, uma morte da consciência sensorial
intelectiva, condição necessária para o nascimento da consciência racional-
espiritual. (H. Rohden/O espı́rito da filosofia oriental/p. 112)

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4 Refutando mestres contrários à Ayahuasca
Tenho visto e lido alguns mestres − por exemplo, Waldo Vieira, Divaldo
Franco e Raul Teixeira, ambos do espiritismo kardecista − se posicionarem
contra a ayahuasca e a considerarem uma droga como “outra qualquer”. O
argumento clássico desses mestres resume-se em dois, contidos na citação a
seguir∗
Com certeza, existem infinitas maneiras de acordar deste sono.
Mesmo substâncias como o peiote e a mescalina podem dar uma vaga
noção do aspecto ilusório da “realidade”. No entanto, uma droga não
pode proporcionar um despertar pleno, simplesmente porque esse desper-
tar é dependente de uma substância externa e, quando acaba o efeito da
mescalina, a experiência acaba junto.

No que diz respeito à “droga” ayahuasca afirmo que isto é uma inver-
dade. Primeiro que ela não fornece uma “vaga noção”; segundo, considero
o argumento de que “a experiência acaba junto” uma falácia, um sofisma;
pela simples razão de que toda experiência “acaba junto”; se você come uma
banana “a experiência acaba junto”, se você faz sexo “a experiência acaba
junto”, etc. Por outro lado, “a experiência acaba junto” mas o aprendi-
zado fica. Por exemplo, em um livro meu já relatei uma experiência dez
dias depois do acontecido.
Ademais, um erro pueril cometido por esses mestres é o de que:
“No entanto, uma droga não pode proporcionar um despertar pleno,
simplesmente porque esse despertar é dependente de uma substância ex-
terna”.
Perguntamos: no Universo o que é “interno”? o que é “externo”?. A
propósito, veja o seguinte† :
O fato estranho é que todas as forças de fora estão dentro do
homem. Essa tradicional divisão entre o mundo de fora e o mundo de
dentro é simples recurso da nossa mente analı́tica, ou melhor, da nossa
ignorância. Na realidade, não há nenhum fora e nenhum dentro, que
são modos lógicos de conhecer, e não fatos ontológicos de ser. A Rea-
lidade é uma só, absoluta, indivisı́vel. (Huberto Rohden)

O princı́po ativo da ayahuasca (DMT) é produzido no cérebro humano.


Como se vê, a posição desses “mestres” não apenas é tendenciosa como,
ademais, fruto de ignorância − segundo o Professor Rohden.

Do livro: “O que faz você ser um Budista? ” do mestre Dzongsar Jamyang (Editora
Pensamento), página 95.

Huberto Rohden/O espı́rito da filosofia oriental, p. 125/ 3 a edição/ Mar-
tinClaret.

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Via de regra, os “mestres” que são contra a ayahuasca são prisioneiros
de alguma tradição, de alguma ideologia. Nesse contexto, levo muito a sério
o seguinte pensamento do Mestre Osho:
Se você tem alguma ideologia para se definir, você não é livre. Liberdade
significa nenhuma definição. (Osho)

Daqui deduzimos como um simples corolário que os “mestres” ligados


a muitas instituições, eles próprios não são livres, por esposarem alguma
ideologia.
O leitor fará bem em desconfiar; isto
é, ver com bastante reservas − ou ainda,
ponderar por diversos ângulos − os argu-
mentos de todo escritor, conferencista, dou-
tor em filosofia, doutor em teologia, etc., se
este estiver confinado em alguma gaiola re-
ligiosa, pois, obviamente, seus “movimen-
tos” estarão limitados por alguma espécie
de teto. - Toda religião é uma prisão

Ademais − e não menos importante −, é óbvio que a postura desses


“mestres” pode ser vista como uma espécie de “reserva de mercado”, se
eles falarem bem da ayahuasca como um veı́culo legı́timo − como de fato
ela é −, certamente eles correrão o risco de perder alguns de seus discı́pulos;
não estou conjecturando, já vi isto acontecer.

No que diz respeito à minha relação com a ayahuasca, eu a utilizo


como um instrumento de pesquisas; assim como um biólogo se utiliza do
microscópio, ou um astrônomo do telescópio, de modo análogo utilizo a
ayahuasca; o resultado − após vários anos −, o leitor pode verificar em mi-
nha produção cientı́fica, a qual pode ser constatada no seguinte endereço:

https://goo.gl/DVWQxz
Toda esta produção acadêmica, não parece ser a de alguém que passou
mais de trinta anos de sua vida consumindo uma “droga”.

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4.1 . . . a nı́vel de pós graduação
Simplesmente proferir as palavras “o açúcar é doce” não produz a
experiência, mas se for degustado, descobre-se que o seu sabor é doce. Do
mesmo modo, simplesmente proferir a palavra “vacuidade” não produz
a experiência, mas através da meditação o seu sabor é experienciado.
(Maitreya)

Ensinamentos como os do Mestre Osho e de Sri Nisargadatta Maharaj é


o que eu chamo de “a nı́vel de pós-graduação”, são altamente abstratos (pelo
ao menos os mais profundos deles), esses ensinamentos são incompreensı́veis
no plano da mente, há que se transcender a mente.

Jesus ou Buda?

Pós-graduaç~
ao

Graduaç~
ao

Ensino − Justamente por ser a nı́vel


Médio de pós-graduaç~
ao é que os
ensinamentos budistas est~ ao
Ensino acima da capacidade de
fundamental compreens~ao da massa crist~ a.

O estado de vacuidade, referido por Maitreya na


frase em epı́grafe, é o além da mente de Buda. Pois
bem, minhas experiências com a ayahuasca não ape-
nas me possibilitam compreender estes ensinamentos
altamente abstratos, como, ademais, discernir quais
mestres já “experimentaram o açucar” − isto é, mes-
tres verdadeiramente iluminados − daqueles que são
apenas teóricos, isto é, nunca tiveram a experiência
legı́tima da vacuidade, do estado de não-mente. Em
muitas situações se dá o seguinte dilema: Ou você
utiliza a ayahuasca e experimenta o “açucar”, ou
passa dez, quinze anos meditando em um mosteiro e, mesmo assim, correndo
o risco de não saborear o estado de vacuidade. É o que tenho constatado
lendo artigos e vendo vı́deos de alguns mestres apenas teóricos.

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Quando as religiões e teologias tornam-se desnecessárias
Nosso objetivo aqui será exibir uma plataforma (perspectiva, referen-
cial) a partir da qual todas as religiões e teologias deixam de ter qualquer
significado ou importância. Vamos novamente invocar o ilustre cientista
Você, suas alegrias e tristezas, suas memórias e ambições, sua
noção de identidade e seu livre-arbı́trio nada mais são do que a interação
de um vasto conjunto de células nervosas . . . (Francis Ckick/ver p. 8)

Como já salientamos a sua identidade (ego) é um arquivo armazenado


na mente, visto pela mente, ou ainda: uma projeção da mente. Observe:

− Construç~
ao social
− Consci^
encia Pura
Luz Branca
− Mente
7−→

− Ego: esse desenho é


Voc^
e (sua ess^
encia) é isto!
um arquivo armazenado no
cérebro, não é sua essência!

Pois bem, tudo o que existe − religiões, teologias, rituais, etc. −,


são demandas (necessidades) do ego; se você conseguisse, ao menos por
um momento, apagar esse arquivo e retornar à sua verdadeira essência,
a Consciência Pura, as demandas do ego − por exemplo, a necessidade
de “salvação”, vida após a morte, felicidade, etc. − tornar-se-iam desne-
cessárias (deixariam de existir), veja:
• Nisto consiste a Iluminaç~ ao!
− Consci^ encia Pura − Construç~ao social
Delete o ego!
Luz Branca
× ×
− Mente
7−→

− Ego: O centro falso,


Neste referencial, n~
ao existindo todas as necessidades sur-
ao existe nenhuma necessidade!
ego n~ gem nesse referencial (falso)
- Enquanto você estiver medindo tudo em relação a seu corpo-alimento, vai existir
seu relacionamento com o mundo externo, bem como a necessidade de executar
rituais ou alcançar alguma coisa. Depois que isso se vai, você não consegue mais
dizer que é hindu, cristã ou budista. Essas são as tradições impostas à mente-corpo.
Mas como você já não é mais a mente-corpo, elas não são mais válidas.
(Sri Nisargadatta Maharaj/ ALÉM DA LIBERDADE, p. 117)

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5 Referências adicionais
Complementando o conteúdo deste artigo a seguir algumas sugestões.

5.1 Sobre meditação


MEDITAÇÃO SIGNIFICADO (OSHO)
https://www.youtube.com/watch?v=g-HKcURN1v0
A seguir o artigo: A Única Meditação Que Existe: Observar

https://www.osho.com/pt/read/osho/vision/the-only-meditation-there-is-watching

5.2 Um novo Deus para uma nova humanidade


Como entendemos, todos os Deuses surgiram de uma colaboração entre
o Absoluto e o homem, conforme expresso no seguinte pensamento do sábio
indiano Sri Nisargadatta Maharaj − Com a expressão “um Novo Deus ”
estamos querendo dizer “uma nova compreensão do que seja Deus”.

O Absoluto contém todo o experiênciável.


Ma sem o experimentador, essas coisas são
como nada. Aquilo que faz a experiência
Absoluto
possı́vel é o Absoluto. Aquilo que a faz atual (‘Nada’)
é o Ser. (Maharaj) Mente
Novo
Um mestre diz que aquele que falar de
Homem Deus
Deus através de qualquer semelhança, fala Deleta
de modo simplório Dele. Mas falar de Deus a mente
Deuses
através do ‘Nada’; é falar dele corretamente.
Quando a alma unificada entra na total auto-abnegação, encontra Deus como
um Nada. (Zen budismo)

−Deus, a não mente! : https://www.youtube.com/watch?v=jOSeaCKOE2U


−El Vacio y la No Mente : https://www.youtube.com/watch?v=XtEkgTezB1k
− Livros:
• O Deus Quântico (Um Deus pra homem nenhum botar defeito, mesmo que
esse homem seja um ateu) : https://goo.gl/DVWQxz
• Teologias Não Euclidianas (Deus sob o escrutı́nio de um matemático)

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Você também pode gostar