Considerando a partir de uma abordagem crítico-reconstrutiva os atos que, no contexto da
crise constituinte venezuelana, levaram à convocação da Assembleia Constituinte de 2017, bem como a forma como se desenvolveram os seus trabalhos, afirma-se a existência de um deficit de legitimidade nesse processo com base nos seguintes argumentos a) A convocação se deu “de cima para baixo”, a partir de uma decisão do Poder Executivo em meio uma profunda desintegração social; b) Os argumentos usados em decretos pelo Poder Executivo para convocar e balizar as eleições da Constituinte, bem como os fundamentos existentes nas sentenças do Tribunal Supremo de Justiça que declararam a sua constitucionalidade, incorreram em contradição performativa a medida em que invocavam dispositivos constitucionais e institutos jurídicos ao mesmo tempo em que pervertiam o seu sentido e lhes negavam vigência; c) O contexto e a forma como se deu a convocação do processo constituinte fez com que expressiva parcela da cidadania (simpática ou opositora à Revolução) considerasse o processo como fraudulento e, consequentemente, se opusesse a ele. Isso explica a alta abstenção nas eleições e o fato do Gran Polo Patriótico ter obstido 100% das cadeiras do colegiado; d) O proceder da Assembleia Constituinte, que ao longo de seus trabalhos se dedicou a intervir nos Poderes constituídos e a produzir textos e atos normativos de vigência imediata, conjugado com o fato dela ter encerrado suas atividades sem ter apresentado uma proposta de novo texto constitucional confirma o seu uso estratégico por parte do governo como forma de solucionar seu conflito com a Assembleia Nacional, de maioria opositora.