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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE CIENCIAS HUHANAS E FILOSOFIA CURSO DE POS~GRADUACAO EM HISTORIA COMO ELABORAR UM PROJETO DE PESQUISA_ Ciro Flamarion $. Cardoso { ‘ 4- Identificacdo do problema, formilacdo e delimitacao do tema de pesquisa. 1m problema cientTfico a ser pesquisado surge quando, interessando-se por certa temitica ou area de estudos, o pesquisador descobre: a) com maior freqéncia u $ me Tacuna a ser preenchida, usando os quadros tedrico-metodologicos disponivaissb) ou uma faTha no campo do saber (ou seja, 0 historiador esta em desacordo com conhecimen tos ou teorias antes admitidos). 0 caminho que I¢va de um vago interesse a um tema bem formulado e delimi- tado de pesquisa pode ser lonao. No inicio, o © pesquisador podera dizer coisas c! “interessa-me a Historia das reboliées de escravos"; “gostaria de estudar algo sobre a industrializacao"; "nao me satisfazem os trabal hos existentes sobre o.cerater do Estado “sia*) @ sua atuacdo no periodo X", etc. Partindo de tais impalsos ainda mii definidos, comecara una fase de leituras tematicas e tambon histOrico-metodologicas, de sondagens de docunentacao em arquivosze biblioteces, de entrevistas com histori alors 2 siessuntos semelhantes ou acerca do mesmo periodo, etc. At R es papi gh dove sea 2 0 tema a S25, Pate de pesqui : ma_de sa: sua formulacao: sua delimitacdo; e sua justificacao. Falarems agor acca que prosidem 2 selecao de temas 2 pesqvisas, ¢ que, portanto, sdo 2 queles que sirvam para justificar, no projeto, o tema escolhido. 19) Criterio de relevancia ~ 0 tem deve ser “importante”. 0 critério que agora nos interessa tem dois aspectos: 1) relevancia social, 2) relevancia cientifi- ca. Lucien Febre afirmou corta vez que 2 HistOria @ 20 mesmo tempo a ciéncia do passado ¢ a ciéneia 40 presente: © a form pela qual o historiador atua na sua o- poca, na sua sociedade, e deve ajudar a explicar o social no presente (e, por_ isto, tuxiliar a preparacio do futuro). Assim, a escoTha de tems ae pesquisa histories deve estar. atenta as prioridades sociais do momento que se vive. Por outro: lado, existe também a relevancia cientifica: a cigncia histori- ca, como as demais, evolui, e om cada etapa redefine os objetes,conceitos, priorid2 des @ possibitidades. E evidente que isto deve ser Jevado em conta quando se selecio nar um tema a pesquisar. E verdade, tambem, que as vezes se estabelecem “modas" cien tificas cuja relevincia @ duvidoses2; ¢ préciso saber responder seletivanente Ais pros soes do meio académico, descartando a tentagao de aderir a modas que no fundo tem pod ca consisténcia, 29) Critério do viabilidade ~ Nio basta que um tema soja interessante vi lido. Também @ preciso que seja possivel pesquisa-lo com os recursos a que se tem acesso. 0 critétio de viabilidade se refere a: 1) recursos humanos; 2) fimemciamcn to ¢ recursos materiais; 3) tempo disponfvel para realizar o trabalho. Por recursos /humanos entendemos o numero de pesquisadores ¢ a sua formacao terico-metodologica ¢ tecnica. Nao € 9 mesmo escolher um tema a_ser desenvolvido por um historiador igolado, ov por uma equipo de historiadores. Nao @ possivel abordar um tema relativo a precos, salarios @ niveis de vida se nao se dispie de conhecimentos condmicos ¢ estatisticos adequados (a nao ser naturalmente, que esteja previstoum riodo de treinamento acelerado e pertinente). 2 Aqui aparece um problema freqléntéanas dissertatées de mestrado: a am bicdo desmedida. £ perfeitamente aceitave] umtipo de ambicao: o de transformar o © xercicio de pesquisa que @ a dissertacao numa verdadeira tese, bem trabalhada @ fun- danentada. Porem, 0 que acontece com frag@éncia 6 que o pesquisador novato — pois p2 pasoriaidnéadosrmedtrandos a dissertagao de mestrado 3 a sua primeira incursao 10 terreno da pesquisa pessoal com dados primarios —@ a escolha de temas que ultrapss- sam,e em muito, as suas capacidades reais no momento. £ muito melhor uma monografia. séria,aberta 2 teoria, do que um temtica vasta ¢ tedricamente anbiciose, ms “ArT realizada. Quanto 20 financiamento ¢ 20s recursos materiais, trata-se de_un fator de selecio e tambem de limitacdo. Yerbas abundantes, acesso a boas instdia¢oes e 20 apoio da assistentes e de socretaria, possibilidade de uso de computador ¢ de cons torias em estatistica, abrem caminhos que nao sao possiveis trilhar em outras conc oes. Ser ou nao ser bolsista, ter ou nao os meios de arcar com despesas relativamen te grandes de microfilmagem ot copias xerox, por exemplo, podem ser fatores de pes: E evidente, porem, que para o historiador o que mais conta, neste ponto, @ a existén Cia.e disponibilidade de uma documontacao abundanta e adequada 20 tema proposto. con dicio nao suficiente, mas necessaria para o éxito da pesquisa. Finalmente, 0 tempo: a_extensdo de um projeto depende bastante do ten- po de que se pode dispor para realizi-lo om todas 2s suas fases. 30) Criterio da originalidade - Cada atividade concreta de pesquisa ¢2 ve contribuir com algo novo 20 corpo do saber. 0 critério de originalidade se cumpre de duas maneiras: 1) trabaThendo sobre temas 2inda nao pesquisados (0 que permite pre encher Tacunas do conhecémento); 2) ou pesquisando temas ja estudados: 2) com docu -~ mentacio radicalmente renovada;-b) partindo de enfoques teorico-metodologicos distii tos; ¢) rebatenda teses anteriormente aceitas. 49) Criterio do interesse pessoal 0 pesquisador tem melhor rendimento 20 trabalhar acerca de assuntos que The interessam. Convém, pois no projets de pes~ quis, especificar 2 natureza e a origem do interesse pessoal sobre o tem que s2 pra pos. 2- Os objetivos do projeto Um segundo item do projeto de pesquisa deve ser o enunciado dos objeti vos da mesma. Estes podem ser de varins tipos: 1) cientificos; 2) pedagdgicos (um: 1s sertacdo de_mestrado, por exemplo, @ um exercicio de pesquisa e visa 4 obtencac de un titulo académico); 3) outros: 9 projuto de Historia pode ser parte de outro maior n» qual intervam socidlogas, antrapologos, qederafos, ctc., ou pode estar voltado pare alqum tipo de atuacto posterior (embora isto ocorra raramente). Qs objetives devem ser expostos brevemente e com muita clareza, E pre ciso que mesmo um ni. especialista, av 10-los, entenda o que o autor se propse. 3- As hipsteses de trabalho (ou heuristicas) Una vez claramente formulads © delimitado o tema 2 pesquisar, 2 pos- quisador normilmente o fraciona em aspects, om problemas merores. para viabilizwr_2 sua solugio efétiva. A cad uma das questoes colncatas se dara uma_resposta_orovis ria, inventada com apoio em alqum teoria: a hipotese. As vezes he uma hindtese con trad, acompanhada de alqums hinoteses subsitiarias Um hipstese cientificn dave cumrir cam dois requisites principai- 1) ser uma proposicro de carater acral (ou saja’ universal - aplicavel a todos os «3 $08 = ou particular - aplieavel a um parte ‘s casos - mas nunca singular, quor ‘i - zor, aplicavel a um casi unico); 2) ser verificavel com a tocumentacio ¢ os mato" s disponiveis. “Os caminhos que contuzem 35 hip zes um hipdtese surge cm) ponto mt generalizaci 2 jartir de_um serie de datos ow fitos). HA tambom muitos oxemp 1%, fa Historia da ciencia, le hipoteses sugeri‘as por analogias mtemticas ou sonsori ais (assim, a hipotese ondulatoria i luz f2i sugerida a Huyghens pela conte) r¢° das ontas do mar). E inclusive de ousiches filosoficas confuzin4) 2 hipoteses: a con- cepea> de um realidade contra litiria, caracterizada nor contradigses dialeticas; ou °§ san bastante variaveis. As > chegada “> um corrente_inferencial in‘utiva (u -3 por oposicies bindrias comlcnentares, otc. , sii i ‘Sins que podem levar ® formla¢ia Ye hipateses cientificas. De fato, a srigem destas nao importn, deste que cumraacom os requisitgs ja mencionains, ¢ estejan bem formuladss (o que se ‘escobre pelo seu 2 xame Togico). Nao G_possivel, de fato, ensinar a inventar hipiteses. 0 mecanism, men tal correspondente & mal conhecido. inclusive. Pote-se, porem, fazer algumas indica- Goes nornativas gerais: aa : pe 19) um pesso previo & formlacao e hipSteses € a identificacao e or namento dos fatores pertinentes a analise (ou ‘as variaveis, se se tratar de uma p, quisa quantificada); 20) a hi um fator (por exompc do relativo aos vincul. tase nao deve ser uma afirmacio de contelido emirico sobre > produgio X aumentou durante > perioto Y"), @ sim um enunc entre fatores ou-variaveis (por exemplo: “a produgao X mentou durante ¢ periods Y devido 2 incitféncia tos fatores A,B,C...N"s naturalmente, & preciso também especificar com> inci ‘om tais fatores)y por isto, pote ser util ten tar formular as hinsteses como enunciadas leqais (comp:"se, e somente s@.., enfam. ou: "para todo X, Sendo X... © ocorren‘o que_..., entao,..". elc.)5 30) as hipoteses afirmativas sao mai: Uteis do que as negatives, Dor-dar lugar a uma verificacac substantiva (as negativas sdo consideradas valivas se naa de monstra que 30 falsas)*_ = 49) as hipsteses tevem ser formiladas com clareza e conci#s#o- nao» 2 conseguir, revela_uma falha no manejo da base tedrica da qual se quer derivar 2 hip: tese, ou que o proprio tema ou os fatores pertinentes nao estao claramente delimit dos; 59) a Histiria @ 0 estudo da dindmica no tempo das socielades humanas (Pierre Vilar): por isto, om Historia muitas das hipoteses fecundas se referem 2 m- dancas no tempo (o proprio Vilar disse certa vez que, mais do que a riqueza e 2 pore Za, 0 higtoriador estula vs enriquecimentos ¢ empobrecimentos: o mesmo se aplic® tras tenaticas); = S z _ 69) a Histdria hoje nao se baseia ja om fatos inicos ¢ irrepetiveis" .2 sim uma viséo estrutural d2 totalidade social e te cada um dos seus niveis: isto ce ve ser recordado ao formular hipoteses relativas a causalidade ou determines. A hipotese e 0 instrumento central to processo de pesquisa. Age comsum critério de pertinencia, que permite ao_pesquisador ‘leci-tir que documentos e que See servense Guile na. por isso, © util mesmo quando a verificacio demnstrar ques falsa, forcando 2 sua modificacao ou abanion>. Assim, a formulacao atequada de hipdteses @ essencial para que 0 projeta de pesquisa seja fecundo. 4 0 quadro tedrico Todo processo de pesquisa parte de uma base tedrica implicita ou expli cita. Evidentenente, & mito melhor explicitar 9 quatro tedrico utilizaio, pois sobr2 © que fica implicito nao se pote exercer qualquer tipo de controle. Conn a formilact das hipoteses dopente bastante fas escolhas em materia de teoria, se se preferir @ possivel inverter, na redacan do projet, 2 ordem que 2qui seguimos, expondo 9 qua- Gro tearico antes de formilar e justificar as hipiteses. Deve-se notar tambem, que nio se espera que 9 autor do projet tenha a cbrigagio ou a pretensa» Je “tar aula” de tenria 1 quem eventualmente devera Julgar a pertinencia e viabilidyk de tal projets (nels contrario, quando 9 tenta, a leiture 4o mesm pode tornar-se altamonte irritante). 0 que se pede @ que 9 pesquisador Ff mule clara ¢ sucintamente suas opcoes em mteria vie teoria, Tigando~as ao toma e hipoteses. 5~ Fontes e metodologia © que se quer, aqui, nay G um Tista de fontes, @ sim uma tipologia ts fontes , & ipolog (principalmente as primarigs ou tiretas), cia explicagses acerca da sua pertingncia em relacao ag tem e as hipoteses. Por iss»,mos qo antes de realizar cabalmente a coleta de dados,@ preciso proceder a uma somizgem d {ou intivets) disponivel. Se se quiser, pode para coda um. explicitar os tipos de clusive tomar hiprtes que servirto 3 su> v2" Quanto lidade de tem? «: documentacio disponis>7 diversos metscos quo cacao breve ¢ muladas , pari aimonte: 1) da exposicao erudite secre fo arsrecites Gacttinto a5 cas), @ Sim do una o: ke cate vorificar as hipoteses que foram io (Gps preciso, Som david, FOF -68 BH Lom definidas, mas ei for eaeit feast do terps que se pretende empresar cm cada ? eiaboracaa do projeto. 0 melhor ¢ elabors 1) Nodificacies no prod para atendor 2 erie 2) Colata do dads 3) Andlise e process: dos dados 4) Redacao 5) Correcies co texto o datilografia 7- Bibliogratta Deve c artians e livros pertinentes ao tema, mas tanbaa gqueles que forsr ntns de apain tesricns e mtodoligicns. 0 mthor @ dividir as car's Gs ov 3 categwias ¢ tomiticas, dentro de cada grups, sar-see8 8 orien ati Sobroncmes dos ruteres. io wisgiveis ve um bibliografia de projeto: 1) fi etndiTogica: 3) bras gerais as forem necessarias). 5 tema (ou que > inciuim) 4) <2 8- Conclusiy Muitos pr jetos do pesuqisa <39 rediaidos por imasigno instituct mal. £ importante, porem, que quisndor aproveite a oportunidade para elaborar ala, quo The soja Util, quo poss)_afetivamonty qwiar + execusan dx pesquisa em quest». Un projets nay &, om princiyi 1, um decurento muito Tongo. Deve der su- ficiente, porem, para que tedas as’ justifi: itivis. bipitesese dectsies diversas # quem claratente fom? Em princTni>, a parte relativ: 7 justificativa d> tem - sobrotudy_ se for necessaria uma breve recensao biblingr fier para monstrar em que + projet» or ginal -.2 a das hizctoses (que 6 precie’ J 'stificar com os conhecimentos ja dis. vote) $h9 98 que exiqea mior desonvalvina lo da redacio.

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