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CARLOS MAGNO Se RES © seus Cavaleiros : Pept ce La80 GAPITULO IT A HISTORIA DE ROLANDO 'A mani que o Rei Carlos Magno mais amava, era Borie: J ramaito amével, ¢ linda, e boa; esperavs Carles Mag: Ze" sila com tin dos nobres senhores de sua torr®, wea eigum principe — quich wm rei estrimgeite, Pols fra digna das maiores honras SatBerta amer 0 jvem Conde Blew, Bre wm Ts es Jebre linhagem, mes pobre; ¢ Carlos Magno, che god naire Timaaea eonsentimento part semelhante et eset atmo ane om 9 enor J £6 8 fees Sm nase gue onde Oe AEE Quando o rei soube disto, sea furor bo eo ie Nites; sou da Cérte o jovem par. nee is pro- déles, Proibiu que alguém Ihes prestasse auxilio ou oe férto de qualquer natureza. EB chegou a conseguir Papa a excomunhio dos desabedientes. : af nados @ desesperades; n&0 abla 9 ase havi ef em ni e safram pelas estradas ® pedir. Assim el ee AN emouleramse aun every ee A HISTORIA DE ROLANDO da cidade de Sutri. Foi nessa caverna que Ihes nasceu um filho: era um menino, ¢ chamarat-no Rolando. Compadecido, 0 povo da cidade levou-thes alimentos © roupas para o nené. Mas Milano nfo se conformava e dis- se A sna mulher: — Nao posso me sujeitar mais tempo a yiver de es- molas. Vou para longe, para algum pais longinguo, ¢ ser- virei sob as ordens de algum soberano estrangeiro, que no tenke médo de Carlos Magno, Conquistarei assim um lar para ti e para 0 nosso nené. Chorou Berta amargamente, mas nfo The pediu que nfo Fosse, porque enquanto estivesse em alguma terra sujei- ta a Carlos Magno, teriam de viver escondidos, para que © rei nfo se vingasse, fazendo eair sbbre éles 0’ seu furor. Disse pois Mileno adeus a sua mulher ¢ partiv, Mas niio chegou a ir longe, porque a morte o colhew, aZogando- se a0 airavessar um rio, Esta noticia prostrou Berta em imeusa dor, Parecia que ia morzer de tristeza, Mas eom o tempo ela recon- siderou, pensando no filhinio; voltou para o peanenino t8da a sua termura, e sua mégoa foi se apaziguando. Creseeu Rolando; tornow-se alto ¢ forte, ¢ de nobre porte. Tinha os olhos extraordindriamente parecidos com os de Carlos Magno; Yimpidos, brithantes ¢ azuis; ¢ tdo penetrantes como 0s do faleéo, © Governador de Sutri tinka easado com outra irma do Carlos Magno, © tinka também um filho, da idade de Rolando; chamava-se Olivério, Eram ambos da mesma altura; cram igaalmente fortes; tinhem o mesmo porte altivo; tinham ambos os mesmos olhos aznis, as mesmas faces rosadas. Todos 0s que os viam juntos’ admirevam- se da semellianga — pois ninguém podia imaginer que erain primos. O fato é que nem © proprio Rolando 0 st- bia; nunca sua mie The dissera que era sobrinko daquele poderoso Rei Carlos Magno, de quem ouvia contar tan- tas histécias maravilhosas, Temia ela que 0 conbecimen- to do sen naseimento pndesse atrair algun perigo sobre fa eabega do menino, 8 CARLOS MAGNO E SEUS CAVALEIROS J& as roupas de Rolando estavam esfarrapades, mas todos os meninos da cidade gostavem déle, ¢ em partiou- lar dois filhos de mercadores que foram a vaverna. le. varthe algnmas roupas. Um levou uma veste vermelha; © outro uma branca E, das duas, a mie conseguiu arran- Jarthe uma ttinica Néo tardou que Rolando chegesse a ser o capitio dos rapazes; mas Olivério também aspirava a dase piste, De, safiow entio Rolando para uma luta, em que pudessem provar qual dos dois era o mais forte e destro, logo, 0 itis apco pars a lideranga. O Ingar escolhide para a juste foi um campo fora da cidade; foram muitas pessoas as sistir A lute, mas Rolando nada disso w Borta, Chegando ao sitio, ambos os rapazes tiraram as tou pas exteriores © postaram-se fronte a frente — dlho con tra 6lho, pé contra pé. De repente, como se umn 6, pensa. mento os dominasse, saltaram ap mesto tempo e atra- carara-se, Iutando csforeudamente para abater tun ao outro, Mas nenhum » consegaiu. Lutaram assim por mui. to tempo, qual de baixo, qual de cima, vira daqui, vira Gali, fazendo ambos uso de tida a sua forga, recorren- do a todos os truques que sabiam — mas neuhum pide Veneer o outro. Comegarain o combate com o sol alto no eéa, ¢ hora do ereptisculo ainda io tinham acabado, J4 @ respiragio Thes safa do peito sibitante; ja Jhes pares cia que o coragdo is estalar, e nio havia’ veneido, ‘nom vencedor. Entio, os que assistiam ao torneio bradaram — Basta! Basta! Assim vio se matar ambos! Ja vi mos que sto iguaimente valentes! Mas, naquele meso instante, Rolando modificou a maneira de atecur, e segurou Olivério pele eintura, dei- > Mais tarde, quanée Rolando entrou para a cavalarle, fescotnen suas céres: brarco e vermolho, Dislam que en leas Dranga aa roupa que fira felta como fates dos Minos ‘doa ‘mercadores, A MISTORIA DR ROLANDO * tando-0 a0 — Basta! Rendo-met HEH Sottou-o Reluudo, e sibos levantaran-se, B Olivério diee “ibs 0 mais forte, Moreces a liderangal! = Nie’ —"retracon Rolando, — Foi por acaso que to veuei, Gavernaremos. juntos, H todos os outros rapazes soltaram brados de alegre, enquanto os dois contclores se vestiam, -Abragaramae @ safrain juntos, E desde éase dia igou-or uma amizeda profiuda, tase to forte como 0 amor fraternal. Ami Bade que drow tia @ vide, sen jamais mudar nem dk Ininair, até o dia cm que worreram ambos no mesmo fampo de. batathn an Muha Rola, vatho, dez anos, Seu tio, © Ret Carlos, toraruse tle fans, tio poderoso, que ia empreender toma viagem a Roa, para ser all eorondo imperador pe- Jo préprio Papa ; i Strada de Roma passava pela Cidade de Sutri, ¢ 0 ref in anon tna hte eo ea do. gowersador, 400 de phado. ste devia ire ao encontro, fora da cidade, fs meninoy sairans também so campo, para ver & che mda io rele seu soyhito, eNVinhann todow A cA¥Alo, @ ora a verdade um espetic iio, © apertando.o de modo que le nfo po- culo extraordindrio. ; Rolando foi com os rapaves, mas estava sdrinko, afas- tado dos ontros, quwnudo pussiwa Carlos Magno, e julgoa ver ne olhay qe ¢ rei Ihe dirigiv maa expresséo de bon- dade — io era apenas inn olbar passageiro, nao, 0 menino corre a dizer a sua mie: — Fy vio Rei Carlos Magno, seamie! E_parecen.ane que ée me olhon como se me conhecesse... 8 0 homem mais majestoso ye hi no mundo! Oh! Que bom se et pudesse ser um cavaleiro, © eavalgar a seu lado! Ou tm Paladino... Como eu gostaria de servi-lo! Berta disse entio em vor baixa: CARLOS MAGNO 1b SEUS CAVALBIROS — file deve, na verdade, ser amado ¢ servide, pésto que seja cruel, injusto e severo! Rolando, que nem dera tino do que ela, disia conti- uot: ee Mamie, tu me contaste que o papai era um enya: leiro, e de nobre linhayem. Por que entio mio hei de ir # Cérlos Magno, dizerlhe quem sou, © que desejo muito fervilof... Talver, assim éle me mandasse come pajem para algoma easa importante, © en chezayse wn dia a ser eayaleiro também, © a guerrear ao lado dele nas batalhas! Berta respondett-lle: ‘Bscuta, mien filko: & minis desenvolvido © mais ae jnizado do que os rapazes da twa inde, Vou contarste a Zora uma coisa qne ignoras, Mas, antes, promete-me que Sumea dive a mingném que von te revelt, @ que o conservarés em segrido. Prontamente prometen Rolando, eurioso de saber qe segrédo era ésse, Diseethe Berta que aguéle roi 2 quem le tanto dese- java servir, era irmio dela, Contow-lhe cong ela ¢ sem ma Mo bem-emado tinham aide expulos de Corte; © ners roulhe 2 morte do pai. E, por fim, disse-the ainda: ee Vés agora por que nio deveris jamais ir & presen. qe do rei, nem solicitar seus Favores, nem revelar de mor Go algam quem é&t ‘Rolando tinha o rosto incendido; fuzilavam-the de eé- Jera of olhios; cerravit as mvion cum tanta Targa, que o8 nds dos dedos estavam brancos. “keabando a narracio, Bevia chorow: niio por si_mes- moa, mas por se maridd worto, ¢ pelo fill, que cinka do Fiver naquela pebra, Max Rolando dizia entredentes: "*F Neste momento o Fei se banqueteiw li, com o yover- nador; e M1, que é sta frm, nem seqier tens um de pio duro para mater a fome: Mas confia em Fis a tua parte no festim, mivha wie! Quando ia. soir da caverna, Berta segurow-o, dizendo: Que vais Fazer, meu filo?! Nada que nao’ deva fazer, mamie... 4 A HISTORIA DB ROLANDO pre Desprenden-se com delicadera das mifos de Berta ¢ saiv, encaminhardo-se para o castelo do governador. Entrou ¢ {01 até o silio onde Carlos Magno se banque: teava, tendo eo redor muitos cavaleiros, © damas rick monte vestidas, ‘Rolando mio Ihes den atengio, Atcavessou 0 salio, chegou diaute do rei ¢ disse: SE'Minha mie tem fone, ¢ nto & justo que fique 9s sim em jejum, enqnanto vés aqui tendes tio graude a Dundéneia, que até deisais restos, B, dizendo isto, tiron © bocado que estava diante do ei, pean tambént na taga cheia de vinho, ¢ dea volta. Mie os qhe estavam ali gritaram e ergneram-se par prendé-lo, Impedit-os, porém, Carlos Magn — Deixem 9 menino! H que The viora repentinamente A meméria, ao ver © anening, wm sonho que tivera algum tempo antes, No s0- he ouvira sua irma Berta chamiclo, ¢ pareceusthe que fh vor era de quem se achava om grande afligho. Ouvin~ Go, sentira que todo © seu antigo amor pela irma res: snrgira, ¢ comecira 2 procuriela, mnas pio a eneontrara em parte alguma, Entio apareeera wi menino, que die sera, pegando-the na mii = Vem comigo que te levaret onde esté tua irmé Ber- ta; ela & minha mae No southo, seguit.o Carlos Magno, ¢ com éle chegou & uma grata, oneontrande alia ima ® chorar, Pareceu The que o coracio se The despedacava de pena, ¢ gritou: ‘— Borta! Berta! Mas no soliar ésse grito, despertara, Bra tndo sembo. .- ‘Ora, 0 menino que vira vim sonko cra tio parecido com aggéle que acubava de sair dali, que nao permitia que fo prendessem. Antes ovslenow aos seus Servos que Of fenrssom, sein gue éle o8 visi, ¢ verifieassem se ere de fa- fo para a mic que levava 0 vinho ¢ os alimentos que The varrebatara, B se assim fésse, queria que trouxessem ambos, nie «Tillie, 3 sii presenga, 10 com brutalidade, fisistiu Sle, mus tratandoos com deferéacia ¢ xespelto. { 2 CARLOS MAGNO E SEUS CAVALEIROS Assim fizeram os servidores do rei. Segniram Rolando, mas As ovultas, de modo que éle de nada desconfion. Vi- yam-no entrar’ mma caverna, onviram que felava com alguém, que Ihe respondie, Entraram por sna ves, ¢ vi yam que Rolando tinha posto os alimentos que trouxera na frente de sua mie, mas quie esta desatara a chorar, sem tocar néles. O menio insistia eom a mie para que cor esse mas ndo conseguia convencéla. E elt chorava e chorava; © o8 servos do rei nio adivinhavam que aquela mie aflita era a irmi do rei Rolando, ao ver aquéles homens, pensou que vinham para Jhes fazer mal; pegon logo numa vara ¢ aprontou se para defender six mde, Disseram-lhe enti of servos ao rei so que vinkam: tinham ordem de levi-lo, ¢ sua ma- mie também, a presence de sew amo; e que iste nfo hes queria fazer mal algam, antes desejava protegélos. Trangiiiizou-se com isto o coragio de Rolando; mas sua mie assustou-se, Assalton-a o reetio de que Carlos ‘Magno, descobrindo quem ela cra, se irritosse, Mas I vantou-se, e vestinse o melhor que pode, para se spre sentar no rei, Tevaram-na pois, ¢ a0 seu fillio, ao eastelo, B quan do Carlos Magno a vin, reconhecendo.a_imediatamente, estendeu-lhe os braces, Invado em lagrimas, — Berta tam- ém tornon a chornr, mas desta vez de alegria —~ ¢ ta- do foi perdoado entre ambos. Ordenon entio o rei que thes fossem fornceidas rou pas adequadas i sua categoria; © levott a irmi ¢ 0 s0- brinho consigo para Roma, Assim viram ambos a, sit eoroagio, ‘Também Olivério foi a Roma: eavalgava ao lado de Rolando, contente cont a felieidade do_ primo, Carlos Magno, de volta i. Francs, Ievou Berta ¢ Ro- tando, O menino foi adestrado om tidas a8 coisas que de- ye aprender um rapez de alta linhagem. Foi crescendo sempre amado do rei —e nem a seu proprio filho Car- inhos, herdeiro do trono de Franca, éle amon mais do que a0 filho de sua ima, Berta também viveu sempre uo A HISTORIA DE ROLANDO a palicio, ¢ velo a casar mais tarde eom o Conde Ganelio, conselheiro ¢ amigo do impersdor. ‘Sou filho velo a ser, coin o tempo, o mais afamado Par ladin de toda a Franga; sempre estimado de todos — grandes ¢ hamilies, Isto, porém, 6 foi anos mais tarde, fonndo Rolando jf se tivha adestrado em todos os deve- tes de pajem, e de eseudeire, e finalmente, nos de ea- vale. z B, # tudo into, era sempre Olivério seu amigo mais que- ido, e chegon a ainizade dos dois primos a dar origem A um Tiffo, corrente nagueles tempos: “THe amigos, co- mo Rolaudo © Olivérie."” CARLOS MAGNO ¢ seus Cavaleiros™™ Pepa de Lede CAPITULO XXVIII A BATALHA DE RONCESVALES ‘Mansita ¢ seus conselheiros também tinham deixado as planicies, Mal cafra noite, no die da partida de Carlos Magno, j& um grande exéreito de sarracenos marcheva para Roncesvales. Iam no maior siléneio — e eram du- zentos mil homens que se movimentavam no vale Reinaldo, seus capities © mais seus homens de armas preparavem-se alegremente pare seguir 0 imperador, por- que cada um déles pensava no seu lar ¢ nos bem-anados que la deixara, Rolando s6 pensava numa modesta ¢ linda jovem, cha mada Hilda, a quem ameva e com quem pretendia’ casar assim que voltasse & Franga, ‘Chegaram a um sitio de onde podiam ver a passagem de Roneesvales, ¢ — ate horror! — estava apinhada. de guerreiros. Eram tio numerosos que suas lances pareciam as hastes da relva na primavera: havia milhares e mi- Thares! Olivério, que segula sempre ao lado de Rolando, gri- toulhe: — Olha, Rolando! Olha li! Nunca os guerreiros de Mar- sila se apresentaram em miimero tio grande. Nem mesmo quando tinkam pela frente todo exército de Carlos Maz- no! & obra de Ganeléo,.. % éste o seu plano para dar ‘cabo de ti ¢ de todos os tous amigos... O traidor! — H verdade, meu amigo — retrncoucthe Rolando — Mas, em ver disso, ae nos daré oportunidade de aleangar gloria tio grande como ninguém 0 conseguin até hoje! Nos- fos homens vio descansar um pouco, depois desceremos pa- ra oair sdbre as hostes pags. A BATALHA DE RONCESVALES — Nao — retrncon Olivério — isso seria loneura, Bo: endo, Somos, ac tode, apenas vinte rm homens, ¢ ali no wale esto pelo menos duzentos mil sirracenos,.. Ouve ret! canselho, camarada: tora n tia trompa para qne Car Ios Magoo volte, Assim poderemos desbaratar completa- nionte 0 exéreito pagia, Se io o fizeres, estanios perdidost Mus Rolando responden, impaviente = Nunea pedi socorro a ningném, e ni seri agora que 0 farei, Qnanto mens gente tivermos, maior seré @ nossa glirin. Be por que havens de verificarathes 0 mie moro agora? Teremos tempo de conti-los depois de mor- tos... Tnterveio, entio o bom Arechispo Turpin. — Muitos vio morrer hoje... mas seri uma morte nobro! Sain e andon pur entre os horns, pedindo-thes que se ajocthassein ® confessassent sens peeades; absolveuos a todos. Por fim disse: a antes qiie, mioitecn, muitos de v6s estareis uo pa ais: ali haverd ma eoroa de mirtir para eada wm. Rolando também andava, no sen grande cavalo de guer- ya, Bridadeottro, polo mein de sons homens. Pendiadhe go lado a Durindowa, cue jamais Ihe falhara, ¢ trazia na nifio 2 sua Tanca de ouro, Bradava.thes — Que ningwém poupe vidas hoje! Cada homem deve sontiese recompensado mitands infigis Ordenou-me Car- Jos Magno que tommsse conta de todos, mas vés 0 fareis methor do que et, Nto previso gritar: “Coragem!"” Direi apenas: “Para a glirin da Franca ¢ do nosso imperador!”* ‘Brewew bem alto sua lance de oure, ¢ scus homens res- pondramlhe soltand o grito de guerra — Montjoie! Montjnict ‘Todos éles sentinm, naquele momento, que amaver mais fa Rolando do que a pripria vide, Ouvindo aquéle brado, lf no vale, os sarracenes treme ran, emborn fissem em niimero tin elovade, — Avante! — breton Rolando, H, a @ste brado, a vetaguarda desveu para o vale como CARLOS MAGNO 1 SRUS CAVALBIROS om furacdo, A frente ia Rolando, com seu estandarte bran- eo flutuando acima da cabeca, ‘Entre os sarracenos havia cingtienta que tinkam jura- do matar Rolando antes que a qualquer outro; ésses, veo: doo & frente, cercaram-no. Mes 0 cavaleiro matou logo fqinze déles com sta langa, ¢ materia mais se cla mio fe quebrasse na sue mio. Tirou entio a espada, a Durin- ana, ¢ com ola foi eeifando, eeifando, até que os sobr: Viventes recuaram, assustades. Cercavam-no agora de lon- ge, temerosos, mas ansiando por ataei-lo novamente, Nia fousavam, porém, aproximar-se, pois temiam a Durindana. B, 20 redor déle, smontoavamse endiveres. Coda tum dos que formavam a retaguarda vendera eara a vida, antes de csir, Onde vm déles assentava o pé, fir. muava-o ali e nfo recuava min sé passo: resistia, ou caia no Tugar que escolhers, B todos cles combatiam diriginds rombarias ao inimigo. "Aeima de todo aquéle elamor, erguiase a vor do Arce- bispo Turpin: P jouvado sejn Deus! Como combate a retaguarda! Nao muito Jonge, Rolando aviston Olivério, que combe- tin com o puto da ance, porae haste se havin par- tide. = Tira @ espada, Olivério! — bradow ale, — Basa lan- a 36 nilo prestal ‘Nias Olivério respondewthe, enérgieamente: —Enquanto restar uma lasea néo a largarei. Hoje as armas sfo precioses! Jé tivham eafdo centenas de ambos os Iados; mas pa- a enda cavaleiro cristfo erem mais de vinte sarracenot que morriam, ¢, afinal, tdda a hoste pag seabou por fu- gir. Marsile, tremendo’ de furor, bradava “L'Adiante! Adiante! Deitem’ abaixo deses ches de cris tios, até que nfo fique nenbumt ‘Mins, nem assim conseguia que seus homens agtientassen, Vieram entho, do lado dos mortos, sons agudos de trom- etna; novas tropas comecaram a descer das alturas para ¢ os serracenes. E & isto, os que tinham voltado as A BATALHA DE RONCESVALES ‘contes criaram alma nova ¢ voltaram a enfrentar of fran: « : 5 ‘Olhando a0 redor, ¢ vendo quantos dos seus tinham.j6 eafdo, Rolando sentin o coracio despedagar-se, Bradou enfio para o sew amino ee Giivério, vai entretendo o jnimigo enquanto eu toco ninha trompa para chamar Carles Magno. TiNagora 6 muito tarde! — disse o outro com amargu: ya, Hi muito tarde, mex Rolando! Se tivesses tocado bé Thais tempo, muitus mulheres que Ii na France a ert ho- va sio vidas, seriam ainda espésas, Muitas Igrimas te- Ham sido poupadas; Carlos Magno teria ainda a sua re tegnarda — ea Pranea seu Rolando! ‘Mes nesse montento, 0 Areebispo Turpin gritor. Nao percas tempo penséndo no que poderia ter si do, Rolando! Toun a tua trompat Cerles Magno vira, cet tamente, muito tarde para sélvarnos, mas poderé ao me nos vingar nossa morte... Rolando ergneu entio a trompa e tirou dela am spélo formidavel, 0 som econ nas montanhas ¢ repercutiu ea- da vez mais longe, até chegar aos ouvides de Carlos Mag- no, que estava seutado entre seus conselbeiros, muito lone ge dali. = Bseutem! — disse dle. — fa trompa de Rolando! Nowa gente esti.combatendo! Mas Ganclio loze aendia wo Nio. sire! Nao! Bo vento que comegou @ soprar en- tre os pinheires. “soow mais uma vez, 14 uo fonginquo campo de batalbs, o som da trompa, To potente era o sbpro que Rolando ‘emitia, que suas veias se intumesciam como cordas @ pax eeia-ine que a cebeca ia estalar. ‘E de ovo o oavia Carlos Magno, 1 a mais de trinta téguas de disthncie. MeN agora tenho certeza — bradou éle — de que 6 & trompa de Rolando! B éle e seus homens se cham em grande perigo, sento nfo chameria. ee SRolando 6 muito orgulboso para retroceder disnte CARLOS MAGNO EB SEUS CAVALEIROS do perigo — disse Ganclio — ow para pedir soeorro, Com certera anda eagando, pois son trompa é de raga, Que dit vertido havie de ser'se Carlos Magno voltasse com seu exéreito para ajular o paladino a eacer lebres No campo ce. batalha talver restissen ala homens em condigges de suster ume espada, Combatizm sem e+ perangas, mas deuodadamente, Rolando fora ferido, sangreva, mas assim mesmo dcitava abuixo todos os que se aproximavam, como um sexador que ecifa, Nao mu to afastado estava Olivério, ferido miais gravemente que sev. amigo. Mal podia ja emptmhar a arma, Vino Rolan- Go, e vorrea pata o seu Indo, mas, antes de aleancar 0 camarada, viu-o transpassado por ma azagaia, Fol um golpe mortal, mas sempre emptnhando @ espada, e quusse sem folego, ée ainda soltow mais wna ver o brado: — Montjoie! Montjoie? B, justamente no momento em que o amigo chegava ao pé dale, Olivério aia ‘Holmido exguenco carinhossmente, mas Olivécio nio pa- aia velo: um golpe o cegars. Pensando que era wm ini- migo quem 0 torava, erguen com dificukdade a espada ¢ abatewa sébre Rolando. Bste gritoudhe: Meu querido amigo! Nao sou inimigo, nfo! Sou Ro- lando! Ai de mim! Creio que estis mal — Nio te vejo, mas é a tna vor, Rolando, Mew amigo querido, nio te ferit B fol chorando que Rolundo the respouden: — Nao, meu_amigo, ndo me feriste = Gragas a Deus! Gragas the dou também porque ests aqui, 20 pé de mim, na minka dltima hora, ‘Dizendo iste, exorregor dos bragos de Rolando e ex pirou. Para Rolando foi um golpe terrivel; nau via mais a nhum motivo para emar a vida, que The parecia agora diosa. Othou ao redor e viu qne apenas dois dos seus ho- mens ainda combatiam: os outros estavam mortos. Basses dois eram o Areebispo Turpin e o mais uobre dos homens, © Conde (ualtério de Bay, A BATALHA DE RONCESVALES Chamon-os. Vieram ambos, sempre combatendo, € 08 trés se colocaram costas contra costas, de modo que cada tum déles protegia os outros dois, Bram apenas trés, mat Gali a poteo os corpos dos mortos formavam uma barrie ada em térn0 déles, Vinte Aaqueles inimigox foram derri- ados pelo Conde Rolando, seis pelo Conde Gualtério cineo pelo arcebi Mes eis que uns quarenta mil pages corriam j4 para ales, a passo de earga. 0 Conde Gualtério cain sob as pa- tas dos cavalos; Turpin foi clerribado ¢ morto, Sé Rolan- do vivia ainda, posto que horrivelmente ferido e muito enfraquecido pela perda de sangue. Entdo, mais uma vez — x tiltima! — ergueu éle a trom- ‘pa e soprou, mas o som era agora mais fraco. "Ainda assim, chegou aos ouvidos de Carlos Magno; ¢ imperador bradow Outra vez a trompa de Rolando! B éle xem divide cot feride, pois mal se pode onviclo! Depressal A toda pressa! Nao poupeis os eavalos, corre a socorré-lo! Saltaram no dorso dos cavelos todos os guerrciros, ¢ Carlos Magno tomow-lhes a dianteira H retrovederam a té- da pressa para Roneesvales. Os clarins iam soltendo suas notas altas ¢ elaras, como se dissessem — Coragem! Corazem, Rolando! Ai vai 0 sovorrot Ouviram os sarracenos aquelas clariuadas e assustaram- se. _ B 0 exército de Carlos Magno que esté voltando — disse Marsila, — E se éle cheya a apauhar-nos aqui, e& temos todos perdidos! Toca a retirar! Mas, antes, aba tamme aguéle franco chamado Rolando, Se no fésse éle, estarfamos a esta hora salvos, ¢ bem longe daquit Foram entio escalhidos qatrocentos dos mais bravos, de téda a hoste sarracena para matar Rolando. ‘Aproximaram-se, mas nenhum_déles se animava a cho gardhe ao alcanes da espada! Diziam uns aos outros: — Nao, aquéle gaeereiro ninguém pode matar! Gntdo um eravou a langr no Bridadeouro, varando-o de lado @ ludo, Cain o execleute cavalo, arrastande consi+ # go 0 ginete, que fieou préso debaixo dale, Atordoado com a queda, Rolando ficou ali, im6vel. Pois nem assim ousa- ‘vam 08 saracenos aprosimar-se muito, Pararam a alguma istincia, olhando-o. Depois, vendo-o assim tem movi- mento, disseram: — Agora sim, esté morto! Bo Rei Marsila e thda a sua hoste apressaram-se a stir do vale da morte, chemado Roncesvales, Delia algum tempo o eavaleiro recobrou os sentidos. Othow em rode ¢ viw que os sarracenos tinham abandonado © campo, Tinha’ ainda na mio a espada; receou.que éles voltas- sem e The arrancassem @ sua Durindana depois de morte — porque bem sabia que estava morrendo. Anelou entéo para o resto de forges que ainda tinha, © pésse a bater com a espada contra uma pedra que Ihe ficava ao aleance. Batou repetidas vézes, mas nao pode quebréla, Apenas lescava_a roche, Compreendeu entio que néo era vonta- de de Dens que a Durindona fésse destrufda: escondew-a Aebaixo do corpo, de modo que ningném pudesse vé-la, EB expirou, De cima dos morres vinhe descendo, com o estrondo do trovao, 0 exéreito de Carlos Maco, neidenie qnando se tinhem pésto a caminho, Mas parou ali, ndo continuon a descer para o ocaso, de modo que 80 chegarem a um eérro que dominava o destiladeiro, bri- Thava ainda o bastante para ituminer o campo de batalha, pisto que com uma lic pélida ¢ melanetlice. Olhou o imperador para baixo e viu os mortos inume rhveis — eristios e surracenos — que jaziam no vale, Sol- tou entio um grito formidével: — Ai da minha retaguarda! Ai do mev nobre Rolaa- ao! Nem um, nem um s6 eseapon com vide! R, toreendo as mor pose a chorai * Disse entio 0 Duque de Neymes: — Sire, vamos deseer ao eempo de batalba e procurar. ‘Talver nem todos esteiam mortos!.. assim fizeram. Mes nem um tinico, dos milhares que ali jasiom, estava vivo. Virem o Arcebispo Turpin, Oli vério, e, perto déste, Rolando, Ente redabrou 0 pranto re o corpo de Rolando, lemen~ tando-se desesperadamente, — Quem dera fésse eu quem aqui estivesse em Iu gar de Rolando! E todos os que o cereavam choravam com éle $6 no se lamentava 0 Conde Ganelao, Parade ali per- to, olhava para tudo uquilo, palide como um morto, Olha- ve para o corpo de Rolando, depois para a multidde inu- meravel de mortos estendidos no campo; depois, de novo eontemplava o cadiver de Rolando © Duque de Naymes falou entdo ao impersdor: = Sire, nfo pereus tempo en lamentagies. Na verde de, grande é a nossu dor, mas agora sé intiteis as légri- mus. Nem todo 0 nosso desespéro poderia restituir & vide os que morreram... Mas podemos viugi-los! "assim 6! — bridou Carlos Magno, — Ainda pode- mos vingé-lost Brguewse, ¢, vendo o Conde Ganclio nti, imbvel ¢ Livi- do, gritowlhe LE"Poste tu, Ganelio, quem atraigoou minha retaguar- da! Poste tu quem, no men sonho, quebraste a minha lan- f@ de freixo! B agora todos dtes mortes elamam por vin- gange — vingenga, tanto de ti como dos sarrecenos! B ordenou que Ganclio fosse vigiado severamente até que chegassem & France, e pudessem submeté-lo ao julga- mento dos pares. "depois todos montoram — todos, menos Ganelio ¢ sna sentinela — ¢ seguiram em perseguicéo dos fugitivos. ‘Aleangando-os, maturamnos sem dé nem piedade. Mar- sila ¢ seu consslheir0, Blancandrino, foram enforcados em uma érvore, ‘Entrou entio o sol, e caiu a noite sobre a terra. No dia seguinte, de madrugada, Carlos Magno e seus.” homens tornaram tw campo; levantaram o corpo de Ro- Jando e viram a espada debaixo déle, Disse entio 0 impe- rador: “OARLOS MAGNO # SAS CAPALEIROS —Nenhuma outra mio do mundo empunbarh esta es pada, Na morte, como na vida, cla pertecerd a Rolan- do, Seré enterrada com éle Foram entio enterrados os cristios mortos. Mas os corpos de Rolando ¢ dos outros paladinos mio; ésses fo- ram frieeionados com vinhos ¢ ungiientos, para que a mor- te n&o os alterasse, E, conduzides em earrétas, acompa- nharam o exéreito de volta a Pitria H, ainda cheio de tristeza, dizia Cerlos Magno: — Como hei de enetrar meu povo quando chegarmos Franga? Como hei de dizer-Ihe que Rolando, a quem ama- ya mais que a todos os outros, esti marto? Que eaiu, com tda a minha retaguarda, num campo de batalha de Es. panhat E ninguém achava palavras que pudessem conforticlo Atravessaram os Pireneus, Entrara de novo o exéreito em Franga, ¢ grande multidio saiu ao encontro dos guer- reiros. Vinham todos cantando, dangando e trazendo flo- res para espalhar ne cho por onde tinham de passar as hhostes vitorioses. ‘Mas, a0 saberem que morrera Rolando, imensa tristeza — tristera como munca se vird — se apoderou de todos Chegou Carlos Magno a Aix, e, no paliicio, também tudo foram tristezas ¢ ligrimes. Hilda, a noiva de Rolan- €o, ignorava tndo, porque nivguém tink eoragem de lho Gizer. Chegou pois ao pelécio, radiante de amor e de ale- etia, certa de quie ia ver o noivo, e perguntou ao guarda: Onde esti Rolando? Esti com 0 imperador! Ninguém sabia o que havia de responder; afinal, wm dd- Jes disse: i 0 imperador esti no sal de auditncias; ele te dint tudo. {Um tanto surprésa da maneira por que The felavam, EF nko se deteve, contudo, muito tempo a pensar nisso. $6 Pe. Rolando the ceupava a mente, ke Chegou a0 salio de audiéncias onde estava Carlos Mag- no, féz-lhe a devida reveréueia, e passou o olhar pelo se ao, ansiosa; depois perguuton-lhe = Onde esti teu sobrinhot Onde esté meu noivot Entilo levamiou.se o imperador ¢ veio ao sen encontro, Gizendo tristemente — Rolando niio esti aqui; nfo tormaris a vélo, pois (st morto! Mas morrew nobremente, no campo de’ bata- eufrentande os espanhdis, e deixando 0 eho junea- do ‘de pawdos mortos, Uma palidea mertal eobriu o resto da jovem: — Naw! Nio pode ser! — exclamon, — Rolando, 0 a hubre, © auethor, 0 mais brave dos peladinos... pode estar mortu! Nao pode ser! ~ Conindo, minha filha, essa é a vordade! Bu ea Frans hnteima o lementamos, © nde sé a le como a ti tam. Nao! Nao A mogn reelinon a cabeca sibre o ombro de Carlos Mag- no, dizendo em vor baixa: io posso snportar ist mus conio nde foi possivel ent hio posse, nfo passe siporttr a vide Ble tinha_prometido ter com éle, porque m_ Rolando, F. deslieando por entre os brages do imperador, cain estendida no eho, Julgande-a apenns desmisinda, enrvos-se Carlos Magno pra ergnéla, Viu, porém, que Hilda estava morta. Chamow entio. ay camareiras, que vieram correndo, @ eautregou-lles o corpo da donzela, 0 qual foi depos, por ferdiom sa, levado. axa tm convent, Durante toda @ Aoi tw as fevirws oraram pela sun alsa, ¢ subiram para o alto niuvens de ingens cs. E grande foi o des: isto do impor © corp de Tiles foi sepntiado no Indo do altar, © o8 Francos choraram, mip sé polo paladino dos paladinos, mas tambéa por ayuelt «iter ra porte wonite © mara

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