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OUTROS LIVROS DE INTERESSE ALEX CALLINICOS A Vinganga da Hist6ria (© MARXISMO E AS REVOLUCOES DOLESTE EUROPEU PERRY ANDERSON O Fim da Historia DE HEGEL A FUKUYAMA GEORGES DUBY A Histéria Continua A Idade Média na Franca DE HUGO CAPETO A JOANA D'ARC : a PETER BURKE Bs A Fabricacao do Rei ‘A CONSTRUGAO DA IMAGEM 7 ie io ey D. PUBLICA DE LUIs xIV NORBERT ELIAS O Processo Civilizador VOL. 1: UMA HISTORIA DOS COSTUMES _ VOL. 2: FORMAGAO DO ESTADO E CIVILIZACAO — A Sociedade dos Individuos Caro a HENRY MECHOULAN Dinheiro e Liberdade ‘AMSTERDAM NO TEMPO DE SPINOZA coy Jorge Zahar Editor ‘iu eiinal Hisoire des ides politiques “Tago sucorzad de prima eg frances publicads em 1962 por Presses Universities de France, de Pai, Fangs, riccolegso Mémenos Tan, dsgida por Maurice Duverger Copyright © 1982, Peses Universities de France Copyright © 1985 a edigfo em lingua portoguese: Joege Zaha Eate Lid rue México 31 sobeljs 20031-144 Ri de Janeio, tek: @1) 240-0226 fan (21) 2625123 mal jue@zahaccom be site: wurezahaccombr “Todos 0 its reservados. ‘A teprodegio no-autorizad desta plas, no 140 nem parte consti volo do copyright (Le 9.610) (CiP-Besit, Culogagios-fonte Sinica Nocona do Etre de Lives, RU. (C497 Hits ds das polices / Pango Chitele, OtivierDubarel, Evelyne Pisier-Kouchner, trada- {o, Carlos Neon Couinbo, Ric de Jans: Forge ‘aera, 2000 Tiadugto de: Wistie des idées politiques ISBN: 85.7110-152-9 1. Citi pola ~Hista, 2 Bstado, [Do asl, Ovi, 1980-1 isier-Kouchnes, Eveype, UL Two, cpp - 32009 coz cpu - 320091) Apresentagao Esta historia das idéias politicas apresenta deliberadamente um caréter particular. N&o tendo como objeto um saber pritico, estrita- mente delimitado, nao poderia’ ser uma justaposigio de fichas memo- técnicas sobre os grandes autores ou as obras principais, Ao contrério — e precisamente para responder a0 objetivo da colegio,’ mas respei- tando ao mesmo tempo a matéria de que trata —, ndo seria preferivel adotar ‘alguns tragos habitualmente reservados aos manuais? Nenhum plano detalhado, mas um conjunto redigido, apoiado em citagdes, lon- gas quando necessério; ndo uma sucesso de informagées, mas uma reflexio de conjunto.... ‘© apoio mais eficaz da meméria 6 a compreensiio: para compre- ender, pot exemplo, 0 bolchevismo, seré que basta saber que Trotski, originariamente manchevique, aproximou-se de ‘Lenin, e que, ambos tnarxistas, ditigiram com éxito uma insurreiggo em 1917? Nao é mais dull descobrir que, em 1905, Trotski adotou uma concepetio ditatorial a revolugdo, defendendo 20 mesmo tempy wma orgauizagio demo- critica do partido, enquanto Lenin defendia um partido militarizado, mas uma “ditadura democrética"? E que, em 1917, Trotski aderiu & concepeio leninista do Partido e Lenin & concepgéo trotskista da revo- luge? Que 0 acordo, portanto, de um lado © de outro, foi feito em torno da escotha da “soluggo ditatorial”, em detrimento da “solugio democrética"? Isso nfo pode ser exposto sem referéncia aos textos + Tratase da colegio “Mémetites Themis", publicada por Presses Universitaires de France, Paris, (N. dp T.) 6 HISTORIA DAS IDEIAS POLITICAS © a0 contedido das argumentagSes, que sio eles mesmos funglo do contexto hist6rico, © presente trabalho se esforca para sistematizar de modo claro as principais doutrinas que marcaram 0 desenvolvimento do pense- mento politico, Blas sio agrupadas em capitulos cujos titulos ja so significativos das emergéncias conceituais que desempenharam um papel decisivo no devir politico das sociedades. Ele constitui nfo um resumo, mas um condensado do manual de Histéria do pensamento politico da colegio “Thémis”, cujo segundo tomo foi publicado em julho de 1981 sob o titulo As concepgées politicas do século XX* ¢ cujo pri- meio tomo seré publicado sob 0 titulo As concepcées politicas cldssi- cas ¢ modernas. Evocar em quatrocentas péginas a histéria das idéias politicas, de Platio a Mao Zedong ¢ de Aristételes a Foucault, cons- titui um desafio que s6 pode ser tentado com fundamento nas duas mil péginas do’ citado manual: portanto, seré freqlientemente neces- sirio a0 leitor preocupado em aprofundar o$ pontos expostos neste trabatho remeter-se & referida Histéria do pensamento politico. Poder fazé-lo tanto mais facilmente na medida em que esse livro adota o mesmo eixo geral de reflexéo: a problemética da constituigdo do Es (ado, j& que o Estado tornou-se a refecéncia primordial das diversas concepedes.politicas. ‘Assim como o manual, esta obra se esforca para subordinar a cronologia & légi¢a, pondo assim em evidéncia o fato de que os grandes textos politicos sf0, 20 mesmo tempo, inventdes, construgées auténo- mas, © respostas aos problemas postos pelo tempo em que foram es- critos. Na verdade, esse memento comporta dez capitulo, Bd. brasileira: Zaher Bditores, Rio de Janeiro, 1983, (N. do T) Sumario Capitulo Capitulo ITO PRINCIPE-ESTADO GRNESE DO PENSAMENTO POLITICO: Os CONCEITOS FUNDAMENTAIS 1. A Cidade Grega sees 5 ‘A. Cidade como lugar natural Ja sociedade dos hhomens; A demoerscia (Merédoto, Tucidides); Saber © Poder (Plato); © cidadio na Cidade (Acitbtees) © Império Romano ceveeeeees ‘As virtudes republicanss (Cicero); O imperium 3. © Monotefsmo: a Cristandade € 0 Islé ... A Cidade de Devs e a Cidade dos homens (San to Agostinho, Maomé); Poder espiritual © poder temporal: auetorltas/potertas (Santo” Tomés de Aquino, Yon Khaldun); Rumo 20 Estado laico © A atiea profana (Marstio de Padua). 1. Do Principe Soberano © Estado como fundacdo absolute (Maquiavel) Os dois reinos e a espada temporal (Lutero « Cal vino); O Estado em questi (Thoms More, E. de La Bostic); O Estado como poténcia sobe- ana Jean Bodin, 2. Do Fundamento da Soberania: o Dircito Na- tural © as Teorias do Contrato 4 Grécio, 0 “Descartes da politics”: © Estado con. featualy Hobbes: © Deus mortal e seu’ times; 2 48 10 Capitulo VIL_© ESTADO-FORGA 1 Capitulo VINA. NACAO-ESTADO 1 HISTORIA DAS IDEIAS POLITICAS Um sistema de dominssio politics, Refleror e ideologies (Bernstein): 0 Eade, hese: ‘onla revesida de coerglo (Gramsci; 0 srome: Climo leninismo: Allhuser e Poulateae, A Génese do Estado Socialista . ‘A extigso do Estado A revolusdo. bolcheviue (Plekhanov, Trotski, Lenin): A teorie eniiste. do. porte (Lukses, Trotski, Lenin); A divedara do. prolearado: 0 Es. tado « © Revolusdo, © ortatecimento do Esti, De Lenin a Sain (Trou, ZhdOror, Stale. A. erica do selhniomo (Luxemburg. Trot Diilon);, A desetliniapo (Kruscher, Foglia); Dissidencas ‘A Direita Contra-Revolucionéria: do Nacio- nalismo 20 Racismo © nactonatsno. inept (Mauer) prttasciss (Drumont, Maurras, Vs Fascisimos/Nazismos: InterpretagSes ‘A exoliazio culturalsts; A expliszio pelo tel lidério Glannah Areadt, Friedrich); A expicacio econdimiea (Betisbelm, Guerin, Poulanss); A cexplcagic psiquea Reich, Horkhimer, Fromm); ‘At explingies socildpeas (Lipset, Moore) A Bivideologia: do Darwinistuo Social & So ciobiotogia oon E © darwinismo weial (Daria, Taine, Le Bon); © biothistoricismo (Lint, Gobineau, Rosembets): A socibioiogl, 0s Impérios Imperatimos © colonialism (Disraei, Spencer. © sociaVinternacionaiime, Mors @ a nopto: A Segunda. Invernceional ¢ a superetimopio da quettdo social (Litem 213 236 2 246 263 210 270 Capitulo SUMARIO u burg, Kawusky): A uperesimopio. da Stalin). ‘As Novas Nagées ... : 283 A identdade A identidede perdite: 0 oV'enagio. (Céssre, Fa nom): A wtidade reencontrad:. 98 sclidavida (Guevara, Senghor); A identdeds nova: 2 iis increta rota, ‘A fute armoce, © princpioviolencia: A guerra popular (Meo Ze dong); 0 Joauitme. (Castro Guever). © pore! A primesio de idelogie (NArumak, Kadhall Cue Sere, Mao); Popalismas (Perdm, Nesser. Cau} © retigoo Do judsltmo eo sonia (Herat: Do tld a ie ‘mismo (Afghani, Khomeini, Kashel?) Terctira Inerasconal: a questso politica (Lenin IX © ESTADO-CIENTISTA .......- sat 1 Uma Ciéncia da Sociedade ......e.ce00. 320 CGitncia © sociedad; Durkheim ov a explcasio social; Max Weber ou a necesidae, do sagrado Villedo Pareto ou a propaganda pelo fat; Eric Well ou polities dy razio, ‘A Citneia como Forga Social ..- 3 ‘A ongenizagio do trabalho (Taye); Lenin © 0 so. dos exrentes: J. K. Galbraith: "Onde voce Irabalha?"; A ideologin teenabusoertis, Os juristas, 0 direito © 0 Bstado-Cientista .. 341 [Léon Dugut: o soeorre dx sciaogin; Hans Ket sen: 9 Dirsto, 0 Estado ¢ » norma; Pashukanis & Viens: degoneresne’a do. teoris. mart do dist, As Teorias do Estado-Cientista 1-2... 346 Deutsche Easton: a pilotagem sitémics; Ray ‘mond Aron: a teotla da sociedade induneaky A “Escola” de Frankfurt: » contestapio do Estado ica 2 Capitulo Indice Analitico © Onoméstico X © ESTADO EM QUESTAO . 1 HISTORIA DAS IDBIAS POLITICAS ‘A Queso do Totalarisme 1 enfoque liberal: © totalitarisme como acidente superado (Strlod, Aron); Inveatgnges_rla (© fotalitarmo como. vrtulidade permanente Reich, Arend). A Questo da Histéria : Sobee a tirania (Siause-Kojive); Comunisme © sentido da histria (Sartre/Merlesu-Poaty); Oe truturasmo ea dissolugio da histéla, (Lévi- Straus); A hitéris indeterminads (Cartorads), A. Questio do Poder ... Rebeliges Freud Marcuse); O poder come 6 Wepia Foucault; As megamdquinas do poder (De- use Guetta); Nilismos (Lyotard, Baudrillard), A Questio do Estado . Por que a obeditnci? (La Bodie, Lert, Clas tres); As armadihas da teologia (Legendre): A di- vids om face do divine (Gauche); Seniio. © Tibetade Lefont). 353 384 361 370 384 395 CAPITULO 1 Génese do Pensamento Politico: Os Conceitos Fundamentais 1, A cidade grega Uma das fonts prinepais do. pensamento pol fea cultural mediterranco-européia é, sem neahuma diva, a civili- acho grega_clissica; a outca fonte si0 os texiog sagradot. do. povo jnduico © sua reativasao pela cristandade ¢ o Isla (ef, adiante, 1. 3) Entre os produtos marcantes do que € chamado de “milagre rego” (para designar 0 conjunto das invengSes_insttucionais, lite ras, artistas, centicas, teGricas, téenicas), o mais earacterfstco € ‘essa forma politica original que € a Pélis, a Cidade, Quando essa se constituia durante o_sfeulo Vi_a.C, as orgaizagbes poltico-scisis tradicionais cram, na_civilizacaa da Hélade, realezas de tipo feu onde predominavam grandes famflias — of “bem na exerciam sua autoridade politica, religiosa, juridica ‘ore um pequeno povo de agricultoné, artesfos e pescadores; ©, lerras bdrbaras,vastos impétios comandados por um déspt unka uma dominagdo absolute, apoiado em casts mi Aotais¢ téenico-adminisratives. Durante a época “feudal” da Grécia, volentos coafitos opunham, ‘por um lado, as grandes familias entre si, e, por outro, esas #3 popl lasses dos campos ¢ das cidades (eidedes-que jam se tornaado cada ver mais numerosas ¢ aivas). Estes conflites tomaram-se tio-violentos gue, em visios territ6ros, a= partes envolvidas concordaram em soli citar 8 um personagem, repulide por sua-tbedorin-©seu-desintecesse, fi Foi 0 quo ocorteu em Alea Dracéas Sélon, sucessivamen te, foram encarregados de enunclar os principios ordenadores das rela- 4 HISTORIA DAS IDELAS POLITICAS Bes entre 05 membros da eoletividade: Esses Jegisladores_(nomoteias) fssumem a tarefa, menos_dz_insiauracuma_constinisio, do que de defini os enuneiados fundameatais conbecidos de todos, determinando com preciso a partiipagio. de cada um ia defesa ena gesfo das GuestOes comuns ‘da. Cidade, a¢_instineiae—de~ondo~devem._provit ss Ses que eoeven a elidade, «sicapen doc conion a iodo dos_cimes.e. dot Pals, vegrascostumciras, no mais dat vers deixadas & interpre: tagdo de ‘ribunais_que julgum em segredo, sho substtuldas por textos ‘laros lblicose-a leis, Deve-te suliaba 0 falo de que a obra esen- tial de Drain foi exigic.que_os.juizes. 1ornassem_publicamente-co- ‘hesidos os argumentos que lesitimavam, suas sentencas. E, em meados de teilo TV aC, quando o bistoriador Hecddoto_quee expi trie da Grécia sobte os Blsbaros, quando. das as, ‘le fe em evidencia a supeioridade doe cidadios combalentes, que HAO tem outro senhor além da Lel € que comandam a si mesmos, em homem-e-lo..ém_outras molvacts ‘A Lei como prigeipio de organizagho polica e socal conczbida como Yexto elaborado por um ot mais homens guiados pela reflexio, Seeita pelos que serdo objeto de sua aplicagio, alvo de-um resprito gue-nfo exclvi. mouliicagSes minuciosamente- controladas._esta 6 pro- Yavelmente a invengdo politica mais aotGria da. Grécia clissica; & ela que_empresta sua alma & Cidade, quer essa seja democtitica, © PRINCIPE-ESTADO a pressfo moral iniqua. Comega_a Reforma: defendida pelos principes ¢

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