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Entrevista:

Mestre Suassuna

Recentemente, reunimo-nos à casa de Mestre Suassuna, em Parelheiros


(São Paulo) para um longo bate-papo sobre Capoeira. Estávamos lá: eu
(Astronauta), Mestre Esdras Filho, Mestre Dal e o Papagaio-de-Pirata; alguns
alunos (me lembro do Kibe, da Gema, do Muriel, do Wagner (Saroba), do Durinho,
e outros...) treinavam acrobacias no gramado que domina todo o entorno da casa
do sítio, enquanto nós conversávamos demoradamente com o Mestre. Na mesma
ocasião, o Papagaio-de-Pirata entregou ao Mestre Suassuna as perguntas enviadas
pelos visitantes de nossas páginas.

Veja, a seguir, o desenrolar da entrevista:

Capoeiradobrasil: – Mestre Suassuna, vamos começar pelo assunto que mais tem
levantado polêmicas ultimamente e que, queiramos ou não, devemos abordar
diretamente, mais cedo ou mais tarde. Temos a convicção de estarmos vivendo
um momento privilegiado da história da Capoeira, momento em que ela se
prepara para ingressar em sua fase de “maioridade”, como atividade profissional
reconhecida, como patrimônio cultural do povo brasileiro e como atividade
desportiva organizada. Ela tem hoje grandes grupos em atuação, e se expande
sem cessar pelo mundo todo...

Mestre Suassuna: – A minha preocupação maior não é com os grandes grupos, a


esportização ou a Confederação, é com os capoeiristas, aqueles que lutam
diariamente pela Capoeira. Porque, antes de existirem os grandes grupos, havia
capoeiristas espalhados por aí, tinha um aqui, outro ali, um na vila Socó, outro em
Parelheiros, digamos, dando aulas; não havia nem capoeira, direito, mas eles já
estavam lá, segurando o berimbau, ensinando. Esse pessoal todo tem que ser
valorizado, os anônimos. Não é simplesmente pra ser usado como massa de
manobra, ou ser tomado como alvo de discriminação. É esse povo quem segura,
quem sustenta a Capoeira; a Confederação ainda não fez nada por eles. Tem
capoeirista jogando aí, no meio do mato, no meio da bandidagem... mas tá na
capoeira, tá lá, ensinando a capoeira dele com muita dedicação e garra, lutando
contra todo tipo de dificuldade. Então, não é nada fácil este trabalho de
valorização deste pessoal: não dá pra largar de lado, deixar pra lá, esquecer esse
pessoal todo. Tem que ir lá, na periferia, atrás deles, reciclá-los, trabalhar com
eles, dar cursos, orientá-los em sua organização etc. Ou então, fica só fazendo
campeonato, e deixa o resto do trabalho com os outros... Uma federação
realmente importante tem que procurar esse povo, tem que dar-lhes as diretrizes,
este é o papel dela, tem que correr atrás.

Capoeiradobrasil – A capoeira sempre foi massa de manobra dos políticos, agora


chegou a hora de mudar isso: nós – capoeiristas – é que temos de fazer política, a
nossa política.

Mestre Suassuna: – O que menos me preocupa é esse negócio de campeonato,


de Olimpíada, é a Capoeira que me importa, o que ela é ou deixa de ser. A força da
Capoeira não está na esportização, na olimpização; eu penso é em torná-la tão
mais forte, por aquilo que ela é na verdade, e fazer o pessoal voltar a ela mesma,
a praticá-la como ela é mesmo, um jogo, uma atividade cheia de alegria, e não,
como estão querendo que ela seja, um festival de pancadaria e uma competição
desenfreada. Eu gostaria de saber qual é o benefício que a olimpização pode
trazer para a capoeira; qual foi, por exemplo, o benefício que ela trouxe para o
judô?

Mestre Dal: – Bom, Mestre, nesse ponto, eu tenho que discordar do senhor: a
olimpização trouxe muitos benefícios, sim, para os esportes que chegaram lá. Em
termos de divulgação, organização, reconhecimento, apoio e investimento.

Mestre Suassuna: – O que eu estou querendo é chamar a atenção para a força da


capoeira: a capoeira está ganhando força no mundo inteiro independentemente
da olimpização; eu não quero amanhã ouvir dizer que a capoeira ficou conhecida
no mundo inteiro por causa das Olimpíadas; ela é conhecida no mundo inteiro, e é
desejada, todo o mundo tem vontade de fazer Capoeira, enquanto outras
modalidades – apesar de estarem nas Olimpíadas, estão aí quase falidas.

...

Astronauta: - De qualquer forma, a Capoeira é muito mais ampla do que a sua


dimensão esportiva, simplesmente, e eu penso que ela não vai jamais se reduzir a
isso. Os atletas que vão para as Olimpíadas representam apenas um pequeno
segmento da totalidade da Capoeira. Tem muita coisa por aí...

Mestre Suassuna: – Pra você ter uma idéia, lá no Capoeirando deste ano, 2001,
tinha cursos mais dirigidos para essa linha marcial, de competição, a capoeira que
uma vez eu chamei de “clonada”, porque joga todo mundo igualzinho um ao
outro; tinha até um cara dando curso só de saltos. E tinha o pessoal da capoeira
mais lúdica, mais tradicional, a chamada Angola, o Cláudio, o Jogo de Dentro. Pois
o curso destes últimos lotou de gente. Aí, eu dizia pra Mestre Decânio: “Aí, olha aí
onde é que eles estão ganhando, aí, é na Capoeira”; Mestre Decânio comentou:
“É, aqui é capoeira, e lá não é!...” e eles devagarzinho, vão penetrando e vão
vingando, eles não estão aí pra saltar, fazer acrobacia, eles estão aí pra jogar
capoeira, ensinar capoeira, e estão aprendendo a valorizar o seu próprio trabalho.
Então, o tal interesse pela capoeira marcial, dura, sem criatividade, que é
característica dos campeonatos, não desperta todo esse interesse como pode
parecer, não, é um interesse parcial.
Mestre Dal: – Mas vai crescer, não há dúvida, são os novos alunos que têm um
grande interesse nisso, eles sonham com as Olimpíadas...

Mestre Suassuna: – É, concordo, o progresso é irreversível, mas é preciso estar


atento, preservar a capoeira. Eu gosto de ouvir Mestre Decânio, porque ele, em
poucas palavras, fala muito!

Astronauta: - Isso, Mestre Suassuna: Conte-nos sobre o Mestre Decanio!...

Mestre Suassuna: - O Dr. Decanio treinou capoeira com o Mestre Bimba até uma
certa época, nós o conhecemos, e depois ele parou, foi exercer a profissão de
médico, foi ser diretor de hospital. Então, a fase posterior, da capoeira
desgovernada, se espalhando para o Brasil inteiro, ele não acompanhou. Aí,
quando o chamaram de volta, ele veio num momento em que todo o mundo
precisava dele, veio para recuperar, para promover o resgate da capoeira de
Bimba e de toda aquela época, com toda a técnica que andava deturpada, os
princípios que estavam esquecidos.

Mestre Esdras Filho: – Suassuna, você conhece capoeira mais do que todos nós
aqui; você sabe que a Regional acabou. Com a morte do Mestre Bimba, a Regional
não existe mais, ela foi transformada...

Mestre Suassuna: – Mas mesmo com ele vivo, os alunos já estavam jogando tudo
diferente...

Mestre Esdras Filho: – Pouca gente, hoje, conhece e joga a capoeira Regional...
Mestre Suassuna: – É, até mesmo Itapoan, modernizou a Regional. Mestre
Deputado é o que se mantém mais próximo.

Mestre Esdras Filho: – Pois então: a capoeira Regional morreu; a Angola, ainda
está aí, mas também, não é mais a Angola do tempo de Pastinha; então, o que eu
quero dizer é: Mestre Suassuna, você sabe muito mais do que nós todos aqui o
que é capoeira; o cara jogar com o outro a mais de um metro de distância, já não
é mais capoeira! É outra coisa.

Mestre Dal: – É um divorciado do outro...

Mestre Suassuna: – É acrobacia, é circo...

Mestre Esdras Filho: – Agora, tem gente que tenta preservar a Angola, mas já não
é mais aquela Angola de antigamente, jogada na sua época; eu vi você e Brasília
jogando Angola, vi Canjiquinha, vi Gato Preto...

Mestre Suassuna: - Olha, tá faltando é quem se preocupe realmente com a


Capoeira. Tem muita gente, inclusive que trabalha com Educação Física, e que é
totalmente contra isso tudo que está aí, a olimpização, a esportização, a
regulamentação e a legislação em vigor; mas a capoeira se expande em todas as
direções, ela é muito forte, e multifacetada, e não é esta ou aquela opinião que
vai dominar: ninguém é dono da capoeira, nem eu nem ninguém.

Dal: - A Capoeira vai crescer como esporte também e, como todos os outros
esportes, vai ser explorada, com interesse, com mídia, como negócio, isso é uma
realidade.

Astronauta: - O futebol de várzea, a “pelada”, não deixaram de existir depois do


crescimento do futebol como esporte profissional...

Suassuna: - Nem vai acabar; o prazer do cara jogar bola na praia, etc.

Astronauta: - Como a capoeira, ela não vai acabar...

Suassuna: - Olha, o tempo que eu tenho pela frente pra curtir a capoeira, agora...
eu tô deixando o que eu sei pra alguns alunos meus, alguma coisinha... ó, meu
filho, isso é assim, é assado, e tal, e agora vou pra casa, pois eu vou morrer ali pra
2040, com cento e poucos anos..., até lá eu vou perturbar pra caramba, vou
chatear mesmo, pra cacete; então, quando eu morrer, aí vocês fazem da capoeira
o que quiserem, faz Olimpíada, mas, eu sei, e gosto da capoeira; mudar a capoeira
e querer transformá-la... é a mesma coisa que dar o seu sobrenome a um filho
que não é seu, ou dar o seu filho pra receber o sobrenome de outro. As
transformações que estão fazendo na capoeira, é tudo uma besteira, ninguém
está realmente preocupado com a capoeira, está faltando quem de fato se
preocupe com ela; a capoeira é uma guerreira, eu me preocupo com o meu
trabalho, a capoeira que eu aprendi, e não dependo do reconhecimento de USP,
nem de ninguém (aliás, a USP foi a primeira a me desprezar, você se lembra disso,
Astronauta); eu me reconhecendo, me olhando no espelho e me reconhecendo, já
tá muito bom. Basta dizer que a Bahia, agora, reconheceu o Mestre João Pequeno,
como cidadão, deram-lhe a chave da cidade, e coisa e tal, mas no outro dia o
governo tomou dele o espaço que tinha, sua academia, o João Pequeno, com
oitenta e tantos anos... é uma sacanagem! Então, eu sou uma pessoa preocupada
com a capoeira, vivo de capoeira, não estou preocupado com quem está ou não
está fazendo sucesso, todo mundo tem direito ao seu sucesso, cada um com sua
capoeira. A capoeira é alegria, é bom-humor, não é esse negócio de competição, é
espontaneidade. E realmente, tem lugar pra tudo isso: campeonatos,
competições, shows, brincadeira, aplicações terapêuticas, ...na verdade ela é tão
rica que eu não acho que é uma confederação que vai ter capacidade de tomar
conta da Capoeira, de tão rica que ela é; ela tem que ter várias confederações,
várias entidades, ela é uma sapiência popular, é lúdica, então você acha que é
uma federação ou confederação que vai organizar a capoeira? No dia em que
organizarem a capoeira, ela vai estar totalmente... perdida; a capoeira é
totalmente desorganizada, ela é expressão de um povo, é um papo de bar, tem mil
faces, tem advogado, tem médico, tem professor de educação física, tem
vagabundo, tem de tudo, então tem que ter mil entidades pra apoiar a capoeira,
não é tomar conta dela, porque ela é maior que tudo isso. Uma confederação tem
que ser um ponto da apoio para os capoeiras que a procuram, tem que ser uma
alavanca, para o fraco, para o forte, para o que está lá no meio do mato, na
cadeia, seja aonde for.

Mestre Dal: – Concordo, Suassuna, a capoeira existe por si só, sobrevive a todas as
tentativas de destruí-la ou de controlá-la, mas alguém tem que cuidar desse lado
institucional dela, e se não formos nós, os próprios capoeiristas, esse lado vai ficar
nas mãos de pessoas despreparadas para fazer esse trabalho.

Suassuna: – Olha aqui, Astronauta, o seu pai, uma vez, fez uma música, sobre os
“almofadinhas”, eu inclusive ia gravar essa música, mas perdi, ele predizia que dali
a alguns anos os “almofadinhas” iam querer ser os pais da capoeira, e então a
música dizia que não, que não ia ter pai coisa nenhuma, porque vagabundo não
tem pai, e a capoeira é vagabunda, é vadia! Ela é como um riacho, uma água que
corre e vai tomando a forma que for preciso, dependendo do caminho. Não vai ter
pai, cheio de anel, cheio de diploma, não. Eles não sabem nem a linguagem da
capoeira; se eu pedir: ”faça aí uma munganga de capoeira”, ele não vai nem saber
o que é; então, ele diz assim, com voz empolada: “a armada é um giro axial, massa
x aceleração, não sei o quê...” (risada geral), eu digo: pô, meu, é assim que o cara
vai ensinar a armada??? Ó, eu estive agora, outro dia, num batizado aqui do
Colônia, aqui, no Marsilac, eu vi a capoeira ali, espontânea, os caras dando coice
pra lá, pulando pra cá, e eu disse: “ó, isso é capoeira!” Aí, o cara do meu lado
disse: “Mas não tá desarrumada, não, mestre?” E eu disse: “Não, nós é que
estamos arrumadinhos demais” (risada geral).

Suassuna: – A capoeira mudou muito, a gente tem que estar acompanhando.


Outro dia, o Papagaio de Pirata aqui me trouxe uma pergunta de um rapaz, que
dizia: "- Como seus alunos conseguiram uma capoeira tão ágil e volumosa, já que
o sr. é um mestre antigo?" Ora, eu respondo, é porque eu tô acompanhando a
capoeira, eu tô acompanhando o pensamento de um povo, o que é que o povo tá
querendo. Eu estou me adaptando, a capoeira de São Paulo, eu e Brasília, nós
adaptamos a capoeira ao sistema do paulista. Mestre Bimba, uma ocasião, falou
que o paulista nunca ia aprender capoeira; no entanto, hoje, nós não podemos
aplicar isto nem ao americano; essa menina aqui, a Gema, está lá, ajudando a dar
aula, e joga uma capoeira pra baiano nenhum botar defeito, tá ali se integrando;
isto, por um lado, porque culturalmente, é mesmo o baiano que sabe capoeira. Na
prática, na técnica de execução dos movimentos, na disciplina e dedicação, aí tem
o paulista, o carioca, o mineiro; então, tá aí essa mistura de capoeira. Você vai lá
em Nova York e vê lá aluno do João Grande jogando, você não sabe se é
americano ou se é baiano; assim como você vê hoje o japonês jogando futebol e
às vezes dá um couro nos brasileiros. Então, em síntese, eu acho que o ser
humano é igual em todo lugar, é só uma questão cultural, a diferença.

Papagaio de Pirata: - Essa observação me faz lembrar a pergunta da Nádia, lá da


Alemanha, que pergunta: "Prezado Mestre Suassuna: Aqui na Alemanha, ouvi
falar muito do 'jogo do miudinho'. Até agora não tive a possibilidade de ver esse
jogo. A minha pergunta, então, é: onde posso conseguir informações sobre ele?
Como o sr. descreveria este jogo?
Agradeço antecipadamente pela resposta. Axé!"

Suassuna: - É, o Miudinho é como a capoeira Regional, hoje: todo mundo tá


jogando a perna pra lá e pra cá, nem é a Regional, nem é Angola, mas é uma
capoeira; é claro, não é porque Mestre Bimba morreu que ninguém ia mais fazer
capoeira: teve que desenvolver, assim como já desenvolveram até o Miudinho.
Hoje, tem muita gente fazendo movimentos do Miudinho, que foi um resgate que
eu fiz da capoeira antiga, desenvolvi esses movimentos, dentro de seqüências que
só na minha academia existem, tem muita gente dando cursos de Miudinho,
movimentos do Miudinho, mas não é o Miudinho, como tem muita gente dando
curso de capoeira Regional, mas não é a Regional. Então, eu resgatei a capoeira
antiga, melhorei, dei uma performance mais adequada para a época de hoje, e
procurei trabalhar a movimentação no sentido de ver o limite do corpo humano,
no Miudinho, que é jogado num espaço pequeno, de 2 metros de diâmetro, no
máximo, obrigando os capoeiristas a se entrelaçarem, passando um pelo espaço
do outro, sem se tocarem, sem se ofenderem física ou moralmente.

Mestre Esdras Filho: - Suassuna, sobre isso, eu queria fazer mais uma pergunta: o
Miudinho pode ser comparado, tem semelhança, tem algo a ver com o “Jogo de
Dentro” de Angola?

Mestre Suassuna: - Bom, em primeiro lugar, o Miudinho não pode ser considerado
uma luta na capoeira; é um desenvolvimento dos movimentos plasticamente
bonitos que há na capoeira, movimentos que foram esquecidos, tragados pela
violência da capoeira, pela força dos atletas, que ficaram muito “turbinados” na
prática da capoeira, a influência exagerada do culto ao corpo, ao “bombadão”,
então, enquanto outros estavam desenvolvendo o lado mais violento da capoeira,
eu achei mais interessante desenvolver esse lado da arte, tentando descobrir e
desafiar os limites da maleabilidade do corpo humano; o Miudinho é o Jogo-de-
Dentro aperfeiçoado, com variantes, coisas que eu introduzi ou desenvolvi, com
meus alunos; é um jogo onde você desenvolve a sua capacidade não exatamente
de luta, ou de malícia, mas de realizar movimentos, pra você sentir o que o seu
corpo poderia fazer ali; nem a violência, nem a malícia são a meta do Miudinho; é
um jogo para ser trabalhado como uma poesia, sem ofensa.

Papagaio de Pirata: - Vamos repetir a pergunta do Cláudio:

"Certamente, a capoeira jogada hoje não é a do tempo de outrora, e, pelas fitas


que vejo, a capoeira antiga era meio rústica, sem uma estética elaborada,
certamente era mais mandingueira, mais leal; no entanto, se era belicosa como a
de hoje, não sei, tenho minhas dúvidas. Numa entrevista, vi um certo mestre dizer
que não existiu capoeira mais belicosa do que a de outrora...

Então, pergunto ao sr.:

- Como vê essa capoeira jogada hoje?

- Como seus alunos conseguiram uma capoeira tão ágil e volumosa, já que o sr. é
um mestre antigo?

- O que acha da capoeira do Recôncavo da Bahia, em especial a da cidade de


Santo Amaro da Purificação?

Axé, Grande Mestre!"

Mestre Suassuna: - É, eu já respondi um pedaço dessa pergunta, né? (Na página


Serviços, a do Papagaio de Pirata) Agora, em relação a essa questão da violência,
eu vou acrescentar: existe uma diferença entre a capoeira ser violenta e ser
agressiva. São coisas diferentes. A capoeira era violenta, porque era cheia de
armações, cheia de astúcia, e o bote fatal era muito rápido; agora, hoje, ela é
agressiva, a violência está escancarada, já tá estampado no rosto do capoeirista
que ele quer lhe pegar. A violência era dissimulada, o sujeito iludia e levava o
outro à armadilha; a capoeira de hoje expressa a intranqüilidade, a insegurança do
capoeirista; ele agride escancaradamente porque não confia em si mesmo. Por
exemplo, o caso do revide imediato: se você tá jogando, às vezes, com um aluno, e
ele te dá uma pegada, uma rasteira, se você ainda não é competente, você agride,
no corpo-a-corpo, na base da porrada, a capoeira se torna violenta, é um temor.
Porque o capoeirista, acima de tudo, tem que ser uma pessoa que é agredido sem
agredir, é ofendido sem ofender, ele sai e depois dá a resposta. Hoje, a capoeira se
perde um pouco nesse aspecto. O capoeira irrita sem se irritar, na mandinga, na
ginga, ele irrita o outro, debocha o outro. Ela perdeu na sua essência, na
dissimulação; o que ela ganhou: ganhou na técnica, na força, e na agressão.

Papagaio: - E sobre a outra parte da pergunta: “Como seus alunos conseguiram


uma capoeira tão ágil e volumosa... etc.”?

Mestre Dal: - Sim, porque apesar de seus alunos não praticarem essa capoeira
agressiva que está por aí, é inegável que eles também lutam, não se tem notícia
de que eles apanham nas rodas em que enfrentam outros capoeiristas. Como é
que o senhor conseguiu isso, a capoeira que é arte mas sobrevive no meio da luta,
da violência, mantendo a sua identidade?

Mestre Suassuna: - É aquilo que eu disse: a agressividade é diferente da violência.


A agressividade é a invasão. Outra coisa é a arte da ilusão, você fazer a sua
armação e de repente, no momento exato, soltar o lance rápido e violento sobre o
outro. A agressividade é você invadir o direito do outro, é jogar o jogo do forte
contra o fraco, o “anabolizado”, o forte que vai pra bater. Mas a capoeira, ao
contrário, nasceu da luta do fraco contra o forte. A capoeira nasceu pra irritar o
outro, e não pra ser irritado. O capoeirista que se deixa irritar pelo outro é um
incompetente, é uma pessoa incapacitada para jogar capoeira. Ele que pratique
outras modalidades. Pra ele, a capoeira não é o objetivo principal. Se fosse, ele
saberia sair na manha, aplicar uma queda, e então dizer "tchau, amanhã lhe
vejo..." Agora, meus alunos, desde o Luiz Medicina, nunca foram preparados para
expor essa agressividade que está aí. Veja, o próprio Medicina, ele não é nem
nunca foi um capoeirista de invadir ou atacar a integridade moral ou física de
ninguém. Ele é um capoeirista, e todos os meus alunos; lá, no sul da Bahia, todos
jogam capoeira com educação e respeito.

Mestre Dal - E não tem nenhum registro de que alguém tenha suplantado Luiz
Medicina na Capoeira...

Mestre Suassuna: É, eu digo: é sorte minha tê-lo como aluno, porque ele já nasceu
capoeirista. Ele transmite lá a capoeira dele, e nunca ninguém foi desafiá-lo ou
desrespeitá-lo... Aliás, Astronauta, você recebeu lá um e-mail desaforado, de um
aluno do grupo Abadá, né?

Astronauta: - É, mestre, mas não sabemos ao certo: ele assinava JURUPEMBA


ABADÁ não sei de quê, mas se dizia pertencente ao MUZENZA... e desafiava a
gente para uma "roda de pau", e disse que nosso mestre é muito velho, e nos
chamou de "bando de viadinhos"...

Mestre Suassuna: - Então, você diz a esse cara que Suassuna só responde ao
Mestre do Abadá, ou seja lá qual for o grupo dele; esse cara que escreveu não
merece nem a resposta. Não precisa. A capoeira da Cordão de Ouro, e o
Miudinho, estão em foco porque estão incomodando o mundo todo.
Astronauta: - Bem, eu respondi com aquela frase que o senhor disse agora há
pouco: que ele abandonasse a capoeira, porque não tem nada a ver com o que ele
quer, e que ele fosse para o vale-tudo, se ele gosta de pau e de trocar porrada, era
mais inteligente, pois no vale-tudo ele ainda podia ganhar algum dinheiro, mas
que ele deixasse a capoeira em paz, para os capoeiristas.

Mestre Suassuna: - Sim, diga isso a ele, mas também que Suassuna só fala com o
mestre dele. Ele que passe essa mensagem ao seu mestre.

Papagaio de Pirata: - A pergunta da Juliana é polêmica: "Nos toques de Banguela,


Iuna, Santa Maria, Amazonas, Idalina, Lamento, há canto? E o hino da Capoeira, é
Iúna ou Amazonas?"

Mestre Suassuna: - Xii, isso é muito confuso. Cada mestre diz uma coisa diferente.
Não há canto. Mestre Bimba cantava em alguns poucos toques. Há, sim, para cada
toque um tipo de jogo, uma expressão diferente de jogo (embora Mestre Bimba
quase nunca aplicasse isso, o toque dele é São Bento Grande, é Iuna...).
Amazonas, Idalina, Santa Maria, cada um dos mestres dizia que tem um jogo
diferente, nuns é jogo de faca, noutros é jogo de floreio, etc... a Iúna era jogo de
mestres e formados - e hoje é a aspirina da capoeira (risos), todo mundo toca e
joga Iuna só pra acalmar a roda de capoeira, quando a coisa tá "pegando", e não é
nada disso...

Papagaio de Pirata: - E na Iuna, é só o berimbau ou tem acompanhamento?

Mestre Suassuna: - Acompanhamento de percussão, só, o pandeiro, porque na


Regional não tem atabaque, Bimba não queria.

Astronauta: - É, ele dizia que o pandeiro é o atabaque da capoeira.

Papagaio de Pirata: - O Mariano Kwenha, angolano radicado na Inglaterra, quer


saber sobre o Capoeirando 2001, como é que esteve, como é que foi; o Mestre
poderia falar um pouco a respeito disso?

Mestre Suassuna: - Olá, Mariano, infelizmente você não esteve lá este ano, e deve
ter feito falta a muita gente; foi um sucesso, a cada dia está melhor. Para falar a
verdade, eu não quero nem que melhore, pra não estragar. Eu não quero que vá
muita gente, pra não massificar. Quero pessoas como você, que se preocupa com
a qualidade do evento, quero os amigos do Suassuna, do Gato, do Peixinho, do
Jogo-de-Dentro, do Cláudio... este ano teve dança afro, maculelê, puxada de rede,
teve luau; no ano que vem, além disso tudo nós vamos fazer candomblé, uma
porção de coisas interessantes, vamos ampliar e ligar as nossas raízes lá, a cultura
afro-brasileira. Aí na Inglaterra, oriente-se com o pessoal do Mestre Gato. E, da
Cordão de Ouro, tem o Poncianinho, que está em Londres... Mas eu gostaria
muito de conhecê-lo, Mariano.

Mestre Dal: É, taí, um africano que quer conhecer a capoeira tal como ela é!

Mestre Suassuna: Bom, eu não sou historiador, mas creio que a capoeira nasceu
aqui, desenvolvida pelos escravos...

Mestre Dal: - Mestre Suassuna, a globalização da vida se tornou uma realidade,


ela atinge a economia, a informação, as relações, e fatalmente vai atingir a
capoeira também, como aliás já atingiu, a capoeira está no mundo todo; e tem o
aspecto cultural da capoeira, que nós todos queremos preservar, então eu
pergunto: no Japão, em Israel, na Rússia etc., os caras não viveram o histórico-
cultural que nós vivemos, pra estar preocupados com a libertação do negro, com a
ritualística da Capoeira, é outra realidade cultural, como o sr. acha que isto vai
refletir na capoeira, será que o fato de viver outra realidade cultural vai influenciar
o desenvolvimento da capoeira, como ela vai se adaptar a outras culturas, que
não viveram a escravidão, a rebeldia, o "capitão do mato"...?

Mestre Suassuna: - É, esse é um problema do capoeirista, a gente tem que fazer


um trabalho para que todos estes povos se adaptem à capoeira como ela é, ao
sistema cultural nosso; claro, nós vamos ensinar os golpes, os movimentos, mas
vamos levar também o "pacote cultural" junto, a história, os rituais, a música, os
tipos de jogos, tudo isso tem que ser levado também, e eles vão ter que assimilar,
à maneira deles, como eles acharem que pode ser.

Mestre Dal: - Porque em Tóquio, houve há pouco tempo um debate, e o Mestre


Gladson, que estava presente, nos contou que estava em uma roda, lá, um mestre
cantava ao som do berimbau, e aí pula um aluno no meio da roda, interrompe o
mestre, sem o menor respeito pela ritualística; Mestre Gladson perguntou pelo
porquê daquilo, e obteve do aluno a seguinte resposta: "Aqui, não tem essa, não
precisa nem de berimbau tocando, porque nós não temos nada a ver com a
cultura de vocês, aqui é o Japão...

Mestre Suassuna: - Não, isso não é capoeira. Nós temos uma música que diz: "Pé
pu á, pé pu á; vô jogá capoeira, pé pu á". Eles, lá, estão jogando o pé pro ar, não a
capoeira. De Capoeira, mesmo, ele não entende nada. É por isso que eu digo, eu
aprendo todo dia com Mestre João Grande. Ele, hoje, quando é convidado, diz:
não, eu não vou até aí, dar curso coisa nenhuma, a menos que você me pague -
US$ 1000, no mínimo. Ora, se vocês acham que é um direito cultural de vocês,
jogar a capoeira que vocês querem, dar salto mortal pra lá e pra cá..." ...eu,
quando era jovem, ouvia rock na maior das alturas, mas hoje, não; detesto a
barulheira! Mas não posso determinar o que é que esses meninos vão ouvir... tá
na idade deles. Quando eles realmente quiserem capoeira, terão capoeira.

Mestre Dal: - Nessa mesma palestra, em Tóquio, foi apresentado um trecho de um


filme que está passando no Japão, sobre a Yacuza, a máfia japonesa, e ela está
usando a capoeira e os capoeiristas (eles estão tendo aulas com capoeiristas) para
formar novas maltas - é o lado marginal da capoeira sendo usado lá.

Mestre Suassuna: - Pois é, é como eu já disse, a Capoeira é rica em diferentes


aspectos, tem a bandidagem, também... e aí, a FICA, onde é que entra?

Mestre Esdras Filho: - Pra mim, ela não entra em lugar nenhum, nessa questão; o
Karatê, o Kung Fu, o Aikidô, também são utilizados por essas máfias japonesas,
não tem nada a ver.

Mestre Suassuna: - Ela entra, sim, por que ela não breca o filme? Proibe!

Mestre Esdras Filho: - Ah, é? Mas onde é que fica o direito de expressão do cara
que faz o filme? É outro assunto, não tem nada a ver!

Mestre Suassuna: - Mas tem o seguinte: a Capoeira não tem que fazer plataforma
para a Igreja Universal, não, meu caro, a Capoeira foi má, ela é má, ela vem para a
guerra, ela briga de todos os lados, ela é competição, ela é também jogo, axé,
cultura, é brinquedo, é esporte, tudo isso, e é malandragem. E a FICA, onde é que
fica? (risos) Tem uma pergunta: Você vai lá nos Estados Unidos, o cara tem
duzentas lutas, lá, se quiser o cara pega o outro e dá um nó, ou quebra ele todo,
mas não é isso o que eles querem. Eles querem é a Capoeira, eles querem o jogo
da Capoeira, a mandinga, tanto é que ela tá mais forte, agora, lá, você vê: quem
foi pra lá, no começo, Jelon, Boneco, etc., mas quem tá lá mais forte: é João
Grande! Com toda a idade dele. Agora, tem que ver: a Capoeira é jogo, é dança, é
luta, é da guerra e é da paz, é da cultura, da música, é uma porção de coisas; o
cara quer usá-la pra porrada, use!

Mestre Esdras Filho: - Não, mas aí já não é Capoeira!

Mestre Dal: - É, concordo! o valor agregado, o cultural é que é o diferencial.


Senão, o cara pode fazer qualquer luta, que é a mesma coisa.

Mestre Suassuna: - O que está havendo é que esses meninos, hoje, eles estão
pulando, saltando, e fazendo um monte de acrobacias, pula pra cá e pra lá, mas,
chega na hora de julgar a capoeira deles, você vê, e aí, de zero a dez, você dá nota
3, só. Porque o cara não está jogando Capoeira, está é numa confusão danada...

Mestre Esdras Filho: - Hoje não tem mais Capoeira Angola nem Regional.

Mestre Suassuna: - Não, meu filho, tem, sim!

Mestre Esdras Filho: - Não, eu acho que não. Não tem mais quem preserve a
Capoeira Regional. Nem Gato, nem Acordeon, nem Itapoã.
Mestre Suassuna: - Não, mas pra mim, é como diz João Pequeno: "Capoeira não
tem duas, não. Capoeira é uma só!"

Mestre Esdras Filho: - Então, é isso! O que existe hoje? É uma capoeira moderna,
diferente, muito mais que a Regional e a Angola. Tem, tem gente que cultiva a
Angola, pra preservar o conhecimento da Angola, e tem quem faça isso com a
Regional; mas, você entra na roda, pra jogar capoeira, é outra coisa, não é nem
Angola, nem Regional que se joga, ninguém sabe o que é, é contemporânea,
moderna, sei lá...

Mestre Dal: - É miscigenada...

Mestre Esdras Filho: - Tanto é assim que ela não tem escola; não tem um Bimba,
um Pastinha...

Mestre Suassuna: - Não, não, mas tem! Você não está viajando pelo mundo, como
eu estou, e não está vendo, não está acompanhando. Eu digo: vamos viajar, vamos
ver uma capoeira lá em Santo Amaro. Tem capoeira Angola, tem Regional, em
Santo Amaro da Purificação etc.

Mestre Esdras Filho: - Mas, eu pergunto: quem é que está jogando Capoeira
Angola, aqui, hoje?

Mestre Suassuna: - Aqui? Ninguém! O que eu estou querendo dizer é que a


Capoeira se mede não é pelo canto, pelos saltos mortais etc. É pela capacidade
que o cara tem de agüentar este ou aquele tipo de jogo, e saber dar a resposta
certa; cante Angola, cante Regional, na hora do aperto, se ele vai pra luta-livre,
pro agarramento, então não é Capoeira. Não é Capoeira porque ele se deixou
irritar pela irritação do outro. O capoeirista é manhoso, ele é uma cobra, ele tá
armando o seu circo, e não vai se precipitar; assim como esse aqui vem pra me
agarrar, e eu não sei nada, ele pode me agarrar e eu saber jiu-jitsu, e aí eu vou dar
um "quebra-pescoço" nele e matar ele ali mesmo. Então, o capoeirista não vem
pra agarrar ninguém. É a arte do desagarramento, a arte do fraco contra o forte, é
a cobra, o bote da cobra. Ora, por que é que o Mestre Bimba ensinava o
galopante? Porque é o golpe que mais irrita o adversário; dá o golpe, e já espera o
cara vir pra cima, irritado, pra agarrar, e aí, o bote, tome-lhe pontapé. O cara que
vem pro agarramento não é capoeira. O capoeirista, você bate o tapa na orelha
dele, ele ginga de lá, se arruma, e vem no prumo dele; porque, se eu lhe dou um
tapa na orelha e lhe espero com uma faca escondida, aqui, você vem louco pra
cima, eu lhe dou uma facada. Antigamente, era assim; hoje, se você dá o tapa, o
cara vem pra cima irritado, aí você agarra, ele agarra, num "cata-corumba" (risos)
e fica naquilo...

Mestre Dal: - Tudo bem, mas hoje, você fala pros alunos, critica esse negócio do
agarramento, do "cata-corumba", e ele diz: "Mas, espera aí, o Mestre Bimba, em
1930, criou uma luta, diferente da capoeira tradicional, introduziu novidades, por
que é que a dele pode, e hoje, o jiu-jitsu, não pode?"

Astronauta: - É, é o caso do Grupo Topázio, do Mestre Dinho...

Mestre Dal: - Pois, então, o Bimba criou uma luta, que era outra coisa, misturava
elementos do savate, do box, do judô, do batuque; hoje, o cara criou o "cata-
corumba", por que é que não pode?

Mestre Suassuna: - O Dinho, por exemplo, eu dou a minha mão a ele, porque o
Dinho não nomeia como Capoeira a luta dele, e sim Capojitsu; ele assumiu o que
está fazendo, é Capoeira com Jiu-jitsu, ele assumiu, ao contrário desse monte de
babacas aí que pensa que está jogando capoeira. Então, é Capojitsu, é outra
modalidade.

Vocês devem é ouvir o Decanio sobre isso, e o que ele diz que Mestre Bimba
dizia: "Burro é o capoeirista que se deixa agarrar; mais burro ainda é o que
agarra."

O capoeirista, hoje, é burro, é ultra-burro: ele chega num lugar e vê um cara


grandão, deste tamanhão, e ele, pequeno, aí ele quer encarar aquele grandão, só
porque o mestre dele disse que ele é um bravo, um campeão, e que ele tem que ir
lá e pegar o grandão. Mas não é nada disso, o certo é você sair, se esquivar, não
quero nada com isso, etc. Se o grandão quer lhe pegar, você diz que não, não
quero nada disso, o que é isso, deixa disso, até o cara se distrair, abaixar a guarda
e ficar desprevenido; quando ele bobear, quando estiver convencido de que você
não quer brigar, aí... PÁÁÁ, a porrada fatal; e o capoeirista pega a sua trouxinha,
um abraço, já fui, até amanhã. Isso é o capoeirista, manhoso, traiçoeiro, perigoso.
Rapaz, eu já vi o capoeirista ser provocado, desafiado pra brigar, e aí conversar,
convencer o cara de que não quer brigar, e ainda pagar uma cerveja pro cara, aí,
quando o cara tá bebendo, PÁÁÁ, quebrar o copo na boca dele, e aí virar as costas
e dar no pé, fui; é a malandragem da capoeira! Câmara Cascudo dizia isso, que
todo brasileiro é capoeira, tem essa malandragem. Hoje em dia é que eles ficaram
burros...

Mestre Dal: Mas a pergunta continua a mesma: Por que o Mestre Bimba pôde
introduzir modificações na luta, e o cara do jiu-jitsu, hoje, não pode?

Mestre Suassuna: - Porque você não pode desvirtuar os princípios da luta. A


capoeira nunca foi e nem pode ser uma luta de imobilização; Mestre Bimba
inovou, mas não transformou em luta de imobilização. Não é do espírito, da
essência da capoeira.
Mestre Dal: - Pois é, nós sabemos disso, mas o leigo, o aluno novo que não sabe
disso, ele quer saber, ele quer ir para a Olimpíada, etc. São questões
importantíssimas para o futuro desenvolvimento da Capoeira.

Mestre Suassuna: - Mas é por isso que eu brigo tanto contra a Confederação, pois
ela é que deveria estar fazendo isso, esclarecendo, elucidando essas diferentes
vertentes da Capoeira, a de competição, que vai para a Olimpíada, a de show, de
espetáculo, e a capoeira mesmo, o jogo, a verdadeira...

...e o papo rolou até à noite, com muita animação, porque quando os
capoeiristas se reúnem pra falar sobre sua arte, sua paixão, eles não querem mais
parar, não há quem controle isso...

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