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4.3 CARACTERISTICAS DO ESTADO: SOBERANIA, NACIONALIDADE, FINALIDADE Vistos os elementos constitutivos do Estado, deles se depreendem as ca- racteristicas do Estado: a soberania, a nacionalidade ea finalidade. Ausente alguma destas caracteristicas, nao haverd propriamente Estado, pois este sera imperfeito. Faltando a soberania nao havera governo auténtico do Estado, se faltar a nacionalidade nao havera um povo definido e se faltar a CONCEITO DE ESTADO, ELEMENTOS CONSTITUTIVOS E CARACTERISTICAS 51 finalidade estara ausente o bem comum enquanto objetivo precipuo e caracte- rizador do Estado. Caracteristicas do Estado Soberania Nacionalidade Finalidade - 0 bem comum 4.3.1 Asoberania ‘A questao da Soberania sera abordada no proximo capitulo. Mas, em sintese, podemos assim definir a soberania do Estado como sendo a autode- terminacdo de seu governo, sem depender de poténcias estrangeiras, quer no campo politico, econdmico ou cultural. Soberano € 0 Estado cujo governo faz suas proprias leis, administra segundo as necessidades da populagao, julga de acordo comajustica que resolve concretamente 0s problemas juridicos e sociais em seu territorio. Adiante serao estudadas em detalhe questoes relacionadas a soberania. Alguns autores, como 0 Professor José Geraldo Brito Filomeno, conside- yam a soberania, ao invés do governo, como elemento constitutivo do Estado. Outros ainda, como o Professor Dalmo Dallati, consideram a soberania como um quarto elemento. Sob 0 nosso ponto de vista, a soberania consiste em uma caracteristica que se depreende da conjugacao dos trés elementos do Estado e, portanto, seria redundante considerar que o Governo deva ser soberano. E possivel, entretanto, verificarmos ao longo da histéria alguns casos de Estados com governos nao soberanos que nao deixaram de ser Estados, como por exemplo, o Afeganistao, quando da instituicao de seu governo provisério pelos EUA apés a invasao de 2002. 43.2 Nacionalidade Anacionalidade é a caracteristica que define um povo. Divide-se em dois critérios, os primarios, que sao 0 jus soli e 0 jus sanguinis; e o secundario, que consiste no processo de naturalizacao. Os critérios de nacionalidade primarios ou origindrios consideram seus detentores cidadaos natos daquele Estado. O jus soli estabelece a na- 52 | TEORIA GERAL DO ESTADO E CIENCIA POLITICA cionalidade a partir do local de nascimento do individuo. O jus sanguinis utiliza como parametro para a nacionalidade a ascendéncia do individuo ou consanguinidade. O critério primario do jus soli € adotado pela maioria dos paises, inclu- sive pelo Brasil,’ que expressa bem tal critério no art. 12,1, a, da CF/1988, ao estabelecer que: sao brasileiros natos “os nascidos na Reptiblica Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes nao estejam a servico de seu pais”. Acerca da nacionalidade originaria, podem-se suscitar algumas questoes relevantes: Admita-se, por hipotese, um individuo nascido em um pais no qual é valido ocritério do jus soli para definir sua nacionalidade, cujos progenitores tenham nacionalidade definida segundo o critério do jus sanguinis. Neste contexto, 0 individuo sera alcancado pelos dois critérios, de modo a possuir duas nacio- nalidades. Nessa situac4o, caso um dos paises (aquele onde nasceu ou aquele onde nasceram seus pais) nao permitaaduplanacionalidade, 0 individuo devera optar por um dos paises para estabelecer sua nacionalidade. Outra questao interessante para a doutrina, mas nunca para o sujeito sob essas circunstancias, seria 0 caso de um individuo nascido em um pais que utilize ocritério do jus sanguinis para definicao da nacionalidade, sendo que seus pais provenham de um pais sob o critério do jus soli. Nesta situacao, 0 individuo nao seria beneficiado por nenhum critério de nacionalidade e, portanto, nao possuiria cidadania,sendo considerado, dessa maneira, apatrida, que, segundoa definicao da Organizacao das Nacoes Unidas - ONU da Convengao do Estatuto dos Apatridas assim os define em seu primeiro artigo € paragrafo: “Art. 1.°: Definicdo do termo ‘apatrida’: 8 1.° Aos efeitos da presente Convencao, 0 termo ‘apatrida’ designara toda pessoa que nao seja considerada seu nacional por nenhum Estado, conforme asua legislacao.” Essa Convencao busca minimizar os efeitos do nao reconhecimento da nacionalidade de alguém. Ocritériosecundario de nacionalidade, disposto no art. 12, II, da CF/1988, édo qual resulta o de naturalizacdo. Para tanto, implicam-se dois fatores basicos: avontade do naturalizado e a aquiescéncia do Estado. 3. Embora a regra seja o critério jus soli, é possivel observar algumas excecoes acerca da nacionalidade que serao estudadas especificamente em Direito Constitucional. CONCEITO DE ESTADO, FLEMENTOS CONSTITUTIVOS E CARACTERISTICAS 53 43.3. Afinalidade do Estado - 0 bemcomum O elemento final do Estado deve ser — naquele territdrio em que determi- nado povo vive sob 0 governo do Estado — atingir como fim o bem comum, que consiste no conjunto das condigdes para que as pessoas. individualmente ow associadas em grupos, possam atingir seus objetivos livremente esem prejuizo dos demais. O bem comum pode ser desconfigurado quando o Estado, de meio ou jnstrumento para atingir bem comum, se torna fim em simesmo, assumindo formas totalitarias em que as pessoas Se sacrificam pelo Estado, social e econo- micamente e nada recebem dele que justifique suas exigencias tributarias ou imposigoes legais. A arbitrariedade sempre foi considerada, tanto que Aristo- teles, no séc. II a.C., ja classificava os governos em bons ou maus, conforme o bem comum fosse procurado ou nao. ‘Alem de Aristoteles, © contratualista Jean-Jacques Rousseatt acreditava que a garantia do homemao seu bem maior, qual seja, a vida, nao significava apenas uma garantia piolégica, mas sim uma forma deassegurar a existéncia digna da pessoa, @ fim deatingiro bem comum.

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