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Teoria por Adigéo Sérgio Costa” Introdugao A alusio no titulo deste artigo ao ensaio classico “Nacional por sub- ttacdo”, do critico literétio Roberto Schwarz (1987), aptesenta um objetivo duplo. Oprtimeito é metodolégico. Trata-se de relembrar a tejei¢ao de Schwarz 4 critica recorrente desde o século XIX ao cardter postico, inauténtico da cultura brasileira. Para Schwarz, a presuncio de que é possivel construir uma cultura nacional original ope, erroneamente, nacional a estrangeiro, esquecendo-se que as discusses sobre otiginalidade e a falta dela fazem parte da propria dinamica cultural e das selagdes de poder ai implicadas. ‘Transportadas para a Sociologia, as reflexes de Schwatz servem como ponto de fuga para uma teflexio sobre o sentido da producio teérica num contex- to empirico ¢ académico diferente tanto daquele no qual a Sociologia nas- ceu como daqueles nos quais as principais disputas pela hegemonia na disciplina tém lugar hoje. Tanto como na cultura, Parece-me equivoca a aspiracgio de uma teoria sociolégica particular adequada a suposta singularidade brasileira. Mais promissor, sem diivida, € 0 projeto seguido em outras regides de “desprovincializar a Sociologia”, qual seja, patticipar das discussées nucleares da disciplina para mostrar que a teoria social cuja referéncia empitica anica e exclusiva sio os padr6es de sociabilidade observaveis entre a pequena parte da populacao mundial que vive nas regides mais ricas do globo nao tem sustenta- G40 e muito menos futuro (Randeria, 2000; Chatterjee, 2008).' * Sérgio Costa & professor titular de Sociologia ¢ diretor do Instituto de Estudos Latino- Americanos da Freie Universitit Berlin, Alemanha, A expresstio desprovincializar a Sociologia se inspira em D. Chakrabarty (2000), que, sob a divisa “provincializar a Europa”, busca radicalizar e tanscendero universalismo liberal, ‘mostrando que o racionalismo e a ciéncia, antes de serem marcas culturais europeias, sio 1 26 ‘SERGIo Costa, ‘A segunda intengao do titulo é caracterizar o movimento no ambito da produgio tedrica na Sociologia brasileira que a presente contribuicio pretende apontar. A tese central defendida aqui é a de que nao existe, hoje, uma reflexao na Sociologia brasileira orientada, diretamente, para intervir nos principais debates tedricos desenvolvidos no ambito da disciplina. Nao obstante, muitos achados da investigagio sociolégica brasileira em curso implicam a revisio de algumas das premissas sobre as quais assentam as teotias aceitas como vilidas. A ideia de adigao alude, assim, a expectativa de que a teoria vai sendo implicitamente revista 4 medida que se vo acumu- lando interpretaces de fendmenos em curso € que desafiam as regularida- des descritas nas teorias socioldgicas vigentes. Este attigo se divide em trés sec6es, além de umas breves notas con- clusivas. Primeiro, discute-se a dinamica da producio teérica e alguns axio- mas teoricos largamente partilhados no ambito da Sociologia. A segunda parte representa uma tentativa de sistematizar, usando como material de referéncia attigos publicados na Revista Brasileira de Ciéncias Sociais (RBCS), a maneira como a teoria socioldgica vem sendo discutida na Sociologia brasi- eira. Por ultimo, na terceita segao, revinem-se evidéncias de que os resulta- dos de pesquisa apresentados em artigos publicados na RBCS colocam em questo alguns dos axiomas centrais da teoria sociolégica. Geopolitica do conhecimento sociolégico Com aexpressio geopolitica emprestada do vocabulitio bélico, o con- junto de autores reunidos no Grupo Modernidad /Colonialidad buscou evi- denciar, nos tiltimos anos, que a produgiio ea validagao de conhecimentos nas sociedades modernas reproduzem formas coloniais de dominacio (ver, entre outros, Dussel, 2000; Mignolo, 2000; Quijano, 2000; Walsh, 2007). A ins- pitacio que anima esses autores sao seguramente os trabalhos pioneiros de Foucault (entre outros, 1972 [1966]), os quais buscam romper o mito da neutralidade do conhecimento cientifico 20 mostrar que esses se dio no con- texto de relacdes assimétricas de dominagao € que a instituicao ciéncia nao parte de uma historia global, no intetior da qual 0 monopolio “ocidental” na defini¢ao do fodemo foi construido tanto com o auxilio do imperialismo europeu, como com a parti- cipagio direta do mundo “no ocidental”. De forma correlata, desprovincializar a Sociolo- gia implica romper com 0 eurocentrismo da disciplina, provendo-a de teorias e mérodos aptos ao estudo da sociedade mundial em seu conjunto, ‘TEoRIA Por ADIGA 27 escapa as lutas de poder presentes em outras esferas da sociedade. A novidade trazida pelas discussdes no Ambito do Grupo Modernidad/Colonialidad e que € de crucial importancia para areflexio em torno da producio teérica na Sociologia brasileira é a explicitagao dos lacos entre ciéncia, modernidade e colonialidade. Com efeito, fica evidente, nessas discuss6es, que a propria divisao de trabalho estabelecida j4 no momento fundacional das Ciéncias Sociais mo- dernas implica uma posicao subalterna 4 Sociologia ptoduzida fora da Euro- pa. Afinal, no momento em que se define que disciplinas como Sociologia e Cééncia Politica se especializariam no estudo das sociedades modernas, a saber, as da Europa Ocidental e depois a norte-americana, enquanto disciplinas como Antropologia e Etnologia se dedicariam as “demais” sociedades,institucionaliza- se também uma hierarquia nos desenvolvimentos da disciplina nas diferentes regides do mundo. Nesse movimento, atribui-se 4 Sociologia europeia e depois norte- americana 0 monopodlio de definir o que € moderno. Coube também as academias das sociedades tratadas como modernas produzir teorias ¢ indica- es para aplicacao das técnicas da investigagao sociologica. Nessa logica, as | “outras” regiGes do mundo poderiam se tornar receptoras das teorias e méto- dos sociol6gicos, depois de terem chegado, efetivamente, a modernidade, condicao necessiria para que pudessem se tornar objeto de interesse da Socio- logia (Boatca e Costa, 2010, p. 16; Hall, 1996; Wallerstein, 1996)2 A histéria de constituigdo da Sociologia como disciplina em seus vin- culos com o padtio de modemidade europeu e norte-ameticano lega d inves- tigacdo socioldgica certo partispris que distorce a andlise da sociedade mundial moderna em suas miltiplas e distintas configuragGes regionais, Por sua centralidade para a disciplina e pela importincia para o argumento desenvol- vido neste texto, destacam-se e descrevem-se muito brevemente trés desses axiomas problematicos da disciplina: a interpretacao eutocéntrica da moder- nidade, a compreensio formalista da politica e do Estado modernos, a con- cepgao essencialista do sujeito moderno. Fabio Wanderley Reis (1991) mostra que essa légica colonial tem uma contrapartida intemano Brasil, na medida em que se atribui ao centro-sul do pais o papel de desenvolver areflexiio mais abstrata, enquanto as demais regides tratam de seus problemas regionais. O autor isoniza essa pretensa divisio de trabalho coma frase: “Paris pensa o mundo, Sio Paulo pensa o Brasil, Recife pensa o Nordeste”. a Serato Cosra Interpretagado eurocéntrica da modernidade A convicgao de que a histéria moderna representa a continua ¢ heroica ocidentalizacio do mundo, isto é, a expansao das instituicdes, das formas culturais de vida e modelos de sociabilidade surgidos na Europa Ocidental a partir do século XVIII para todas as regides do planeta acompanha a Sociolo- gia desde o ber¢o. Dessa conviccao, deriva-se uma orientacio metodolégica que persiste, de algam modo, ainda hoje, qual seja, assumir as normas sociais, as estrututas ¢ os valores encontrados nas sociedades denominadas ocidentais como 0 parametro universal que define 0 que so sociedades modernas. As- sim, sob a lente da Sociologia, as especificidades das sociedades “nfo ociden- tais” passama figurar como auséncia c incompletude em face do padrfio modemo, depreendido exclusivamente das “sociedades ocidentais”. Essa metodologia que compara implicitamente os desenvolvimentos observados na Europae, depois, nos Estados Unidos, aceitos como padrio, com as c6pias necessariamente imperfeitas da modernidade nas demais re- gides do mundo, foi levada ao paroxismo pela teoria da modernizacio. Essa corrente de pensamento surgida nos Estados Unidos no periodo pés-guer- ra dominou o debate macrossociolégico das tiltimas seis décadas em todo 0 mundo. Conforme a esclarecedora sistematizacio de Knébl (2001, p. 32 ss), os fundamentos basicos da teoria da modernizacao sao: (1) Amodetnizacio se inicia na Europa com a Revolugio Industrial e alcanga a partir dai todo o mundo. (2) Ainda que a modernizacio scja tratada como um fendmeno glo- bal, seus pressupostos estrutural-funcionalistas levam a escola da modernizagao a estudar os processos modernizantes, exclusivamen- te, no ambito das sociedades nacionais, tratadas como totalidades fechadas. A modernizacao € vista, assim, como um processo enddgeno, linear e uniforme, nao se levando em conta nem a in- sergao global das sociedades nacionais, nem os distintos padres de modernizacao observados nos diferentes paises? O tratamento das sociedades nacionais como unidades de andlises fechadas é uma limita- do propria nao apenas da teotia da modemizacio, mas das principais teotias sociologicas. Em parte a cegueira para as interdependéncias entre desenvolvimentos nacionais e globais, referida no debate contemporineo como nacionalisme metadoligio, se deve a0 proprio processo de institucionalizacio das Ciéncias Sociais ocorrido prioritariamente no Ambito nacional. Para uma abrangente reconstrucio desse debate, ver Chernillo (2010). ‘Teoria por ADICAO 2 (3) Amodetnizagio implicaa transicao entre dois polos tratados como antitéticos: tradi¢ao e modernidade. A transi¢So da tradi¢o A mo- dernidade é tratada também como um fendmeno que abrange os diferentes campos da vida social, de sorte que a modemizagio eco- nOmica (industrializagao, progresso tecnolégico etc.) se faz acom- panhar da modernizagao social (secularizacio, individualizagao) ¢ politica (democratizagao). Nas sociedades do chamado Terceiro Mundo imperam valores patticulatistas e funcionalmente difusos que bloqueiam a moder- nizagao. Nas sociedades da Europa Central e América do Norte, por contraste, vigoram valores universalistas, seculares e orienta- dos a produtividade e 4 competicao, favorecendo o desenvolvi- mento. fi Desde os anos 1960, alguns pressupostos da teoria da modernizacio passaram a ser colocados em questao. Assim, a ilusio do desenvolvimento endégeno, observado e analisado no ambito de uma tinica sociedade, € desautorizada pela teoria da dependéncia (Cardoso e Faletto, 1969) que mostra de maneira itrefutavel que o bem-estar de algumas sociedades e a pobreza de outras sao fendmenos que se condicionam mutuamente. Nao obstante, as outtas premissas que constituem o nticleo metodolégico da teoria da modernizacio, qual seja, a compreensio de que o padrio moderno € 0 europeue, depois, o norte-americano, sio reproduzidas irrefletidamente pela teoria da dependéncia e, mais tarde, pelo grosso das teotias sociais mais populares sobre a globalizacao como a teoria da modernizacio reflexiva de Giddens (1991) e Beck (1997) eas reflexes sobre a constelacio pés-nacional de Habermas (1998) — para uma critica ver Costa (2006a). A partir de meados dos anos 1990, a interpretacio eurocéntrica da mo- demnidade prdpriaas teorias macrossociolégicas dominantes vem sendo criticada de forma contundente e consistente segundo, principalmente, duas perspectivas distintas: 0 enfoque das modernidades miiltiplas ¢ os estudos pés-coloniais. Pelo enfoque das modernidades miiltiplas (Eisenstadt, 2000), a modernizacio nao é um processo linear e uniforme, mas diverso, isto é,a modetnizacio segue cursos diferentes no ambito dos distintos eixos civilizatdrios nos quais a moder- nidade global se desenvolve. Mesmo admitindo que a Europa constituio berco do nticleo cultural que define a modernidade, Eisenstadt e seus seguidores mos- tram que o programa cultural moderno pode assumir formas sociais e politicas 30 ‘SéRcio Costa completamente diversas, dependendo de sua materializagao concreta nos dife- rentes contextos regionais.* De forma ainda mais radical e definitiva, os estudos pés-coloniais, com © conceito de modernidade entrelacada (entangled modemit)), mostram que fenémenos como o colonialismo e a escravidio modema acoplaram, de ma- neira iniludivel e inseparavel, as diferentes regides do mundo desde os ptimordios da Era Moderna. Nesse contexto, a presuncao da precedéncia europeia na experimentacio da modernidade é ela mesma parte da historia da construgo das relacdes de poder assimétricas que marcam a modernida- de. Os estudos pés-coloniais mostram que a modernidade, diferentemente da forma como é representada na historiografia, nas Ciéncias Sociais e nos relatos politicos, nao é fendmeno nacional ou regional, mas sim, desde sua origem, um fendmeno global (ver, entre outros, Conrad e Randeria, 2002; ‘Therborn, 2003; Bhambra, 2010). Compreensao formalista da politica e do Estado modernos A concepgio do Estado e da politica propriamente sociolégica, por- tanto distinta das definicGes filos6ficas precedentes, foi cunhada original- mente por Weber (1922) no livro clissico Economia e sociedade. De acordo com seu conceito, o Estado se define pelo monopdlio do uso legitimo da violéncia em determinado tertitorio. A politica, por sua vez, é definida se- gundo a perspectiva estatal, uma vez que compreende, fundamentalmente, as disputas das elites por cargos e fungGes no ambito do Estado. Outro importante legado de Weber a Sociologia Politica é sua distin- ao dos tipos de dominagio politica, a saber, a dominacao racional ou legal, a dominagio tradicional e a carismatica. A dominagio legitimada racional ou legalmente € tomada como a forma moderna por exceléncia de governo e enfoque das modernidades miiltiplas vem inspirando importantes estudos no campo da Sociologia histérico-comparativa (p. ex., Kndbl, 2007). Nao obstante, esse enfoque vem também merecendo criticas por nao abandonar a primazia cronolégica e ontol6gica da Europa na definicio do programa moderno (Spohn, 2006). Com algumas variagdes, a critica & interpretagio eurocéntrica da modemidade elaborada no ambito dos estudos pés-coloniais aparece refletida, na América Latina e Estados Uni- dos, no trabalho do grupo Modernidad/Colonialidad referido anteriormente. Essas con- tribuicdes so mencionadas comumente como estudos decoloniais (ver Kult, 2009; para ‘uma critica importante aos estudos decoloniais, ver Domingues, 2009). ‘Teoria Por ADICAO 21 encontra desenvolvimentos nas teorias sociolégicas subsequentes. Trata-se aqui de analisat as condi¢des para que se forme, no Ambito do tertitétio controla- do por um Estado nacional detetminado, uma comunidade politica integra da por lacos impessoais de solidariedade e habilitada a escolhet e sustentar um governo legal e legitimo (Brunkhorst, 2002). A imagem weberiana de um Estado definido pelo monopélio do uso legitimo da violéncia em determinado tetrit6rio é reproduzida sem grandes variagGes na América Latina no ambito das teorias da transicio e, depois, da consolidagaio democratica, as quais influenciam diretamente a produgao soci- ol6gica sobre a democratizacao na tegiao. As teorias da transi¢ao democritica definem a democracia como o momento em que as regras do jogo politico tém poder imperativo sobre a vontade dos atores individuais de sorte a teinstaurar a incerteza dos resultados das disputas politicas (O’Donnel, Whitehead e Schmitter, 1986). Ao perceberem que, a despeito do restabeleci- mento das instituicGes e regras democtaticas, as relacdes politicas na América Latina continuavam regidas pelo autoritarismo, os tedricos da transicio bus- caram, no dimbito das teorias da consolidacfo democritica (Mendez, O’Donnell € Pinheiro, 2000; O'Donnell, 2007), cortigir sua perspectiva. A énfase nesse momento se volta para as deficiéncias do Estado de diteito, buscando-se res- saltar as fragilidades do Estado na América Latina para fazer valer alei e garan- tir plenos direitos a todos seus cidadios. Nesse contexto, surgem conceitos como democracias defeituosas, Estados fracassados e cidadania truncada, su- getindo, implicitamente, a referéncia a um tipo-ideal de Estado e politica no Ambito dos quais nao haja fissuras entre as leis e a vida social. A partir dos debates contempordneos no campo da Sociologia Politica internacional, podem ser apontados problemas variados nessa maneira de in- terpretar a democratizacao. Inicialmente, cabe destacar que as teorias da teoria da transicao e da consolidacio, seguindo o legado da teoria da modernizagio, sio matcadas pelo endogenismo, isto é, tratam as transformacées da politica e do Estado nacionais sem levar em conta as constri¢ées e possibilidades impos- tas pelas disputas de poder no ambito da politica mundial, quais sejam, o papel das organizacGes multilaterais, a pressao de atores transnacionais, seja no campo econdémico, seja no ambito da sociedade civil etc. Levando em conta tais fatores, mais adequado parece ser se referir nado a Estados falidos, mas, como sugere Shalini Randeria (2003) para o caso do Estado indiano, a Esta- dos astutos (canning states), os quais se mostram capazes de reagit 4s presses externas privilegiando setores da populacio ¢ penalizando outros. IAM SeRGIo Costa Um problema adicional é 0 elitismo dessas teorias. Inspiradas nos pro- cessos de constituicao da sociedade civil europeus, elas supunham que a de- mocratiza¢ao implicava, sobretudo, a alternancia das elites estabelecidas, Pretensas portadoras de valores democriticos, n0 poder. Nao dispdem, assim, de instrumentos para explicar a importincia de novos atores sociais, como as associacées de vizinhos, grupos indigenas ou afrodescendentes no processo de democratizacao (Boatca e Costa, 2010, p. 22). Concepgao essencialista do sujeito moderno Em distingZo ao sujeito cartesiano definido por uma identidade autocentrada e constitufda pela razio, proprio as concep¢6es iluministas anteriores 4 Sociologia, o conceito de sujeito que se torna canénico na So- ciologia é, conforme Stuart Hall (1992, p. 275), aquele que define 0 sujeito moderno como constituido em suas relacdes com [--] “outros com significacio”, os quais transmitem ao sujeito valores, significados e simbolos — a cultura — dos mundos que ela/ele habita, [4] © sujeito continua tendo uma esséncia interna nuclear, qual seja, um “eu verdadeito”, mas fotmado e modificado em continuo diflogo com mundos culturais “externos” e com as identidades que tais mun- dos oferecem, G. H. Mead, C. H. Cooley ¢ os interacionistas simbélicos foram as figuras centrais no desenvolvimento dos contornos de um sujeito que se constitui a partir de suas relagdes com o mundo social (Hall, 1992). Essa concepcao é ainda hegeménica na Sociologia e esta no centro de obras importantes, de ampla circulacao internacional e que sio a base da formagao em teoria sociolégica oferecida das universidades no apenas no Brasil — ver, por exemplo, Habermas (1981, 1996), Giddens (1984, 1991), ‘Touraine (1995). Dessa concep¢ao detivam-se também categorias-chave para ramos diversos da Sociologia como os conceitos de identidade cultural, identidade coletiva, os quais igualmente supdem um sujeito (individual ou coletivo) que, mesmo desempenhando papéis diversos na sociedade, preserva algo como um micleo ontolégico estavel que confere consisténcia e coeréncia a esse sujeito. IRIA POR ADICAO. 33 Para a caractetizacio do sujeito moderno conta também uma distin- que se torna paradigmatica para a Sociologia, entre as marcas pessoais coletivas que sio adquiridas (achieved), como a identidade profissional ou Inutal e aquelas que sfio adscritas (adseribed) como sexo ouraca. Conforme distingao, [.] 0 ser humano moderno adquire ¢ escolhe ativamente sua identida: de pessoal enquanto seu predecessor nas sociedades supostamente tradicionais nem mesmo conhece a problemitica da formagio identitiria jé que ele seria socialmente determinado. (Wagner, 1999, p, 58; tradugao minha) Alguns desenvolvimentos teéricos observados, sobretudo, a partir s anos 1970 desafiam essa concepgio de sujeito da Sociologia. Trata-se i, sobretudo, das discussdes estabelecidas no campo do pés-estruturalis- 10 € que mostram que a ideia de um sujeito duradouro e anterior aos nexos iscursivos de produgao de sentido é equivoca. Para os pés-estruturalistas, a sa¢io de que possuimos uma identidade unificada que nos acompanha : toda a vida nos é provida por uma “narrativa do se”, por meio da qual ‘se ressignifica o conjunto de nossas experiéncias a partir de um fio de coe- réncia e continuidade (Hall, 1992). As interpretacGes pds-estruturalistas descartam qualquer possibilida- de de um sujeito, seja individual, seja coletivo, anterior a politica. Por isso, €m contraposi¢ao as construgées identitdrias homogeneizadoras, preferem tratar da ideia da diferenca, articulada, contextualmente, nas lacunas de sen- tido entre as fronteiras culturais. Ou seja, a diferenca é construfda no pro- ‘cesso mesmo de sua manifestacao, ela nao é uma entidade ou expressio de um estoque cultural acumulado, é um fluxo de representagées, atticuladas ad hoc, nas entrelinhas das identidades externas totalizantes e essencialistas — anacao, a classe operaria, os negtos, os migrantes etc. (Costa, 2009). ‘Também aquela distingZo central entre marcas adquiridas ¢ marcas adsctitas, as primeiras supostamente tipicas das sociedades ¢ dos sujeitos modernos, as tltimas préptias as sociedades pré-modernas, foi posta em questo pelas pesquisas nos campos do género, da etnicidade, da imigragio edo racismo. Esses estudos mostram que nio ha nenhum tipo de evolugio linear das sociedades que leve ao paulatino desaparecimento das adscticdes na época moderna. Essas continuam sempre relevantes e so menos ou mais determinantes conforme o lugar que ocupem nos conflitos politicos em cur- 34 ‘SeRcio Costa so. Nesse contexto, adscricées raciais ou étnicas ou relativas a género nao sao residuos de épocas nao modetnas, mas sim marcas permanentemente ressignificadas, performatizadas e reinterpretadas a partir de seus nexos com posicgGes e interesses em disputa. A presente viruléncia dos conflitos etnonacionalistas na Europa contemporanea exemplifica de maneira lapi- dar como é falaciosa a crenca de que adscrigdes so préprias a sociedades pré-modernas (ver, por exemplo, Haritaworn, 2010). Debate tedrico na Revista Brasileira de Ciéncias Sociais Antes de entrar na andlise do tema desta secao, cabe responder a uma pergunta até agora adiada: o que se entende propriamente porteoria social? A resposta nfo é simples, uma vez que a propria definicio do que € teoria divide os partidarios das distintas correntes tedricas. Nao obstante, é neces- sario que exista algum denominador comum entre essas varias posicdes que nos permita afirmar que diferentes /eorias conformam a teoria social classica ou contemporanea. Em busca desse denominador comum, Joas e Knébl (2004, p. 37) constataram que no nticleo das teorias sociais em diferentes épocas est a tentativa de responder a trés questdes centrais: (1), Que € 0 agit social? (2) Que éa ordem social? (3) O que define a mudanea social? As respostas a essas trés perguntas sao, obviamente, inteiramente di- vetsas quando se compara, por exemplo, as solugdes oferecidas por Durkheim, Habermas, Bourdieu ou pelos tedricos da escolha racional. Con- tudo, o fato de todas essas correntes tedricas buscarem uma formulagio generalizavel e fundamentada de acordo com os cnones da disciplina para as trés perguntas anteriores permite classifica-las como teoria social. Essas trés perguntas possibilitam, ademais, distinguir, pelo menos conceitualmente, teoria social de diagnéstico de época. A primeira refere-se ao tratamento de temas especificos em uma época determinada, sem a pre- tensio de estabelecer postulados gerais. Parte-se de evidéncias que nfo de- correm necessariamente de investigagdes empiricas, segundo os métodos cientificos. A elaboragao de uma teotia social, por sua vez, requer 0 uso sis- Feitas essas consideracdes, podemos Passar 4 anilise da relacio entre a iologia ea Teoria Social no Brasil. Um estudo detalhado da maneira como se dia formacio e 0 uso de tas na Sociologia brasileira exigiria, seguramente, um Ptojeto de investiga- Primeito, buscow-se ter uma imagem geral sobre quem sao os ted; cos da Sociologia mais lidos pelos cientistas Sociais brasileitos recentemen- te. Para tanto, Computou-se o ntimero de titulos de diferentes autores citados A concentragio do levantamento em uma tinica revista representa uma iniludivel limita- sao da amostra selecionada. Nao obstante, se se leva ext conta que a RBCS é, muito Fipvavelmente, o espaco de publicacio mais competitvo das Giéncias Sociais brasileiras e, hh INNA THT Temenos 36 SeRcio Costa A Tabela 1 mostra os representantes da teoria sociolégica mais citados pelos cientistas sociais brasileiros.’ Chamam a atencao a baixa frequéncia de _ autores brasileiros entre os dez mais citados—apenas dois — ea forte influéncia de Pierre Bourdieu, que mereceu mais mengdes que dois dos fundadores da Sociologia — Weber e Durkheim —em conjunto. Quando se observa 0 com- portamento das mengées ao longo do tempo nota-se que, descontadas as vatiagdes minimas, o quadro € bastante estavel pata os doze anos considera- dos, isto é, 0 ntimero de menc6es a todos os autores se distribui de maneira bastante regular ao longo de todo o tempo. “Tabela | - Niimero de referéncias bibliogréfcas por autores maiscitadosmna RBCS, 1998-2009* Numero de referéncias bibliogriificas por autores mais citados na RBCS, 1998-2009* Kno 2009 | 2008 2007 2006 | 2005 D004] 2003 2002 | 2001 2000 1999] 1998 Total ‘Autor Beck Bourdiea Durkh dm Elias Fernandes Foucault Freyre Giddens “Haber mas ‘Weber is 5 i is 17 2a 14 24 36 39, * Form considerados niimeros de ttulos de trabalhos citados nas respectivas bibliografias de todas as segies da evista, incluindo-se tesenhas ¢ eventuais secdes especiais. Como ne tabela aparecem os dez autores mais citados, autores centrais da Sociologia, como Simmel (13 mendes), Parsons (10 mendes), Mauss (10 mengGes), Marx (7 ‘mengdes), Luhmann (7 menges) ¢ outros como Latour (11 mengGes), F. H. Cardoso (11 mengdes) e Bauman (11 citagées) nfo foram istados. O levantamento foi feito por Fernando dos Santos Baldraia Souza, aluno do Master Estudos Latino-Americanos Interdisciplinares da Freie Universitat Berlin. ‘A anilise dos artigos, de algum modo vinculados a discussao tedrica, publicados nas 72 edigdes da revista, revela dimensdes importantes dos vincu- Jos da Sociologia brasileira com 0 debate tedrico. A primeira constatacao impor- Seguramente cabe discussio se todos os autores listados na tabela sio mesmo teéricos da Sociologia. Os trabalhos de U. Beck, por exemplo, sio frequentemente considerados um diagnéstico da modernidade tardia, por no apresentarem o rigor de uma teoria nem buscarem responder diretamente as trés questdes sugeridas por Joas e Knibl, conforme discutido anteriormente (ver Costa 2006a, p. 50). Também no caso dos autores brasileiros listados, Gilberto Freyre e Florestan Femandes, cabe naturalmente perguntar se as inter- pretagdes da sociedade brasileira que apresentam tém efetivamente o sta#urde teoria social ‘ousse se trata de interpretagdes de uma Sociedade particular. Na forma como sfio menciona- das e utilizadas nos attipos da RBCS examinados, as teses tanto de Beck comode Fernandes ¢ Freyre sio tratadas, de maneira geral, como postulados tedticos. Dai a mengo dos trés somes na tabela. A POR ADICAO 37 diz respeito a frequéncia com que trabalhos teoricos sio publicados na - Em praticamente todas as edi¢Ges encontram-se um ou mais artigos icados a discussao tedrica. Junte-se a isso nimeto considerivel de dossiés los a correntes ouautotes especificos. Igualmente destacavel é a phuralidade Orica. Histo representados em artigos da revista basicamente todos os auto- e correntes relevantes da Sociologia, como a lista a seguir, que nao é exaus- mas ilustrativa, evidencia: i) teoria critica (ntimeros 1, 29, 35); it) neofuncionalismo (nimeros 4, 33); iil) marxismo (ntimeros 63, 71); iv) escolha racional (ntimero 6, 45, 11,12, 45); y) E, Durkheim (ntimeros 6, 57); vi) M. Weber (niimeros 6, 37, 38, 57, 65, 68); vilT. Parsons (ntimeros 6,22); vii) etmometodologia¢ interacionismo simbélico (ntimetos 11, 15, 68); ix) pés-modernismo (ntimeros 25, 32); x) G, Simmel (ntimeros 27, 38); xi) feminismo (ntimetos 62, 67); xii) N, Luhmann (ntimero 38); xiii) P. Bourdieu (nimero 56); xiv) pés-colonialismo (numeros 60, 71); xv) neo-hegelianos (mtimeros 60, 70); xvi) A. Gramsci (ntimeto 62); xvii) modernidades miltiplas (nimero 59); xviii) antiutilitarismo (ntimero 66). As contribuig6es relacionadas com a teoria social publicadas na revista correspondem, em parte, a tradugao de artigos expressivos de tedticos estran- geiros (ver, entre outros, Przeworski, 1988; Elster, 1990; Featherstone, 1994; Wagner, 1996; Alexander, 1997; Eder, 2003). Entre os trabalhos de autores brasileiros publicados, identificam-se basicamente trés formas de apresenta- ho da discussao testica. A primeira e mais frequente sio contribuicdes que comentam uma dimensio ou aspecto especifico da obra de um tedtico clissi- 38 Sércio Costa co ou contemporineo (p. ex.: Paixfio, 1989; Ortiz, 1989; Reis, 1989; Waizbort, 1995; Martins, 2004; Oliveira, 2006; Pierucci, 2008). A segunda forma de relacao com a teoria sociolégica, sobretudo con- temporfnea, encontrada nos artigos da revista, sio estudos bibliograficos da literatura disponivel num campo teérico especifico (p. ex.: Springer de Freitas, 1990; Costa, 2006b; Martins, 2008; Hamlin, 2008) ou sobre determinado conceito Oliveira, 1997; Santos, 1998; Domingues, 2002). Por tiltimo, cabe destacat 0 esforco de muitos autores em discutir a teoria sociolégica disponivel com vistas a construit um matco analitico para estudar questdes empiricas relacionadas com o Brasil ou a América Latina @eato Filho, 1991; Sales, 1994; Reis, 1995; Souza, 1998; Guimaraes, 2002; Schneider, 2003; Tavolaro, 2005; Feres Junior, 2006) * Os artigos publicados so, como era esperado, contribuigdes de exce- lente qualidade cientifica e tém papel fundamental ao, de um lado, difundir o debate internacional no Brasil, de outro, ajustar e traduzir teorias as con- digdes € aos termos da sociedade brasileira. Nao obstante, nao é dificil cons- tatar que nenhum dos trabalhos remete a uma teoria social propria, na medida em que 0s artigos nfo se inserem num corpo de enunciados generalizaveis que apresentem respostas proprias ¢ originais as trés pergun- tas a teoria ja referidas” Igualmente, parece-me possivel afirmar que ne- nhum dos trabalhos publicados fornece uma contribuigao genuina as correntes te6ricas nas quais se inserem, entendendo-se como tal 0 acréscimo oua corre- cio de um postulado importante de tais teorias que seja, ademais, reconheci- do pelos pares, internacionalmente. 5 Artigos importantes publicados na revista por cientistas sociais brasileiros de diferentes disciplinas apresentam uma reflexio original e importante sobre a globalizacio (Leis, 1995; Cardoso de Oliveira, 2000; Ortiz, 2001). Se se parte dos critétios desctitos anteriormente pata distinguir teoria de diagnéstico de época, fica evidente que essas contribuigdes sio diagnésticos de época sem apresentar nem o estatuto e, parece, nem a pretensio de set teotia social. Podet-se-ia objetar que o problema é de extensio, ou seja, a constatagio nfo surpreende, na medida em que uma teoria social no cabe em um artigo. O ponto que se levanta aqui, contudo, é outro. Em nenhum dos artigos tedricos da revista péde ser identificada a refeténcia a uma teoria prépria, sob as lentes da qual um problema especifico é tratado. ‘Apenas para efeito de compatagio, ver os artigos mencionados de Elster (1990) ou Alexander (1997), que claramente se inserem no corpo de uma teoria propria maior. TEoRIA Por ADICAO 39 Formagao da teoria nas franjas da pesquisa empirica? A constatagao com a qual se encerrou a se¢io anterior confirma, a prin- cipio, os termos da geopolitica do conhecimento sociolégico descritos na | primeira seco deste artigo: a Sociologia brasileira é consumidora de teorias que sao produzidas na Europa ou na América do Norte sem levar em contaa dinamica da modernidade nas demais regides do mundo. Nao obstante, o |) exame do conjunto da producao brasileira refletida nos trabalhos publicados | na RBCS deixa entrever outros desenvolvimentos que petmitem matizar a | imagem unilateral da Sociologia brasileira como consumidota de teorias pou: | co aplicaveis a tealidade do pais. Conforme a hipotese que orienta a Ppfesente contribuic¢do, trata-se de um conjunto de trabalhos que, mesmo que nao desafiem, explicitamente, as teorias hegeménicas, oferecem resultados que imp6em a revisio de algumas das categorias estruturantes da teoria sociolégi- acontempordnea, revelando como é estreita a base de observacao empirica sobre a qual esto fundadas. Essa reconstrucio da teoria sociologica nao vem se dando, prioritariamente, no ambito de uma discussio especializada em teoria, mas a partir de varios subcampos da Sociologia, cujos novos achados impOem uma revisio profunda das premissas tedricas estabelecidas, Outra constatacao importante diz respeito ao fato de que os trabalhos fecentes nao sao orientados pela busca de uma singularidade brasileira; articu- Jam-se com pesquisas similares desenvolvidas em diferentes partes do mundo. | Permitam-me demonstrat essa hipotese através de exemplos de artigos publicados na RBCS, que, de algum modo, colocam em xeque aqueles trés axiomas ainda hegeménicos na teoria social j4 desctitos: a interpretagio eurocéntrica da modernidade; a compreensio formalista da politica e do Estado modetnos;a concepgio essencialista do sujeito moderno. Exemplos de trabalhos publicados na RBCS que refutam a interpreta 40 eurocéntrica da modernidade encontrados sio um ensaio da antropéloga Paula Montero (1994) sobre magia, um artigo sobre negtitude (Pinho, 2005) €um debate com o pensamento social brasileiro (Tavolaro, 2005). Esses trabalhos mostram, por diferentes vias, que a visio dual que opée tradigao € modernidade ¢ vincula a precedéncia de cada um dos polos da dicotomia a diferentes regiGes do mundo ignora que a disputa entre esses dois termos é, ela *° O artigo de Maia (2009) dialoga também, a partir dos estudos pés-coloniais, com autores ¢ teses centrais no campo do pensamento social brasileiro, Seus argumentos contra uma leitura eurocéntrica da modernidade brasileira so, contudo, menos elaborados que os de Tavolaro, 40 ‘SERGIO Costa mesma, um ttaco central da hist6ria e da politica modernas. Isso fica evidente na maneira como Montero trata a magia. A autora mostra que opor magia e modernidade é ignorar que a magia, como pratica cultural, é significada e ressignificada nos contextos sociais em que ela esta presente. Afinal [.] 0s elementos culturais no sio, neles mesmos, pelas suas caracteris- ticas prdprias, nem arcaicos nem modernos, nem puramente racionais nem puramente mfgicos. Seu sentido depende do contexto especifico em que estio inseridos. Isto € tanto mais verdade quanto me parece ser possivel demonstrar que, na conjuntura contemporinea da sociedade brasileira, a magia se tomou “modem”. (Montero, 1994, p. 82) Tavolaro, por sua vez, dialoga com autores classicos e contempora- neos do pensamento social brasileiro para mostrat que tanto a atribuicao ao Brasil de uma modernidade singular, como prefetia Florestan Fernandes, quanto a ideia de semimodernidade ou modernidade perifética, ainda em uso pela nova geracao de socidlogos brasileitos, sao equivocas. Segundo ele, as formas de sociabilidade encontradas no Brasil ptecisam set, todas elas, interpretadas como expresso de uma ] modernidade entendida como um tipo de sociabilidade muttfacetada, consti- tuida ao longo de disputas comtingentes entre projetos, interesses e visbes de mando num contexto erecentemente globalizada, (Tavolaro, 2005, p. 18; gtifos no original) O trabalho de Patricia Pinho, ao discutir as relag6es entre a cons- truco da negritude nos Estados Unidos e no Brasil, chamaaatengao para 0 evolucionismo que marca muitos dos estudos sobre antirracismo, Para a autora, nao faz sentido acreditar que as formas como se atticula a identi- dade negra nos Estados Unidos sao mais avancadas que as brasileiras pelo fato de que a sociedade norte-ameticana é supostamente mais moderna que a brasileira. Para ela, o que se chama de cultura negra é uma constru- cao global que nao tem um centro Unico. A autora mostra, assim, que a modernidade tem formas diversas de materializacao nos distintos contex- tos, fato que tem [. dissociado modernidade de ocidentalizacio, rejeitando 0 mono- polio ocidental sobre a modernidade e retirando o programa cultu- EORIA POR ADIGAO a ral ocidental do posto de epitome da modernidade. Da mesma ma- neira, é possivel dissociat a modernidade ou, n0 nosso caso, a negritude moderna, do monopélio estadunidense sobre a negritude. @inho, 2005, p. 44) Esses exemplos revelam que, mesmo que nao se apresentem como disputas no campo do debate macrossociolégico contemporaneo, contri- buicgdes de autores brasileitos jogam por terra algumas de suas premissas nucleares, como a dicotomia tradicional/moderno, 0 nacionalismo metodolégico ea atribuicio 4 Europa e aos Estados Unidos da precedéncia ‘ontolégica sobre o moderno. No que concerne ao segundo ponto, qual seja, a ruptura com a visio formalista do Estado, cabe destacar artigo de Duarte et.al. (1993). Mesmo Feconrendo ao conceito equivocado de modemidacls petifeticas, os autores pat- tem da critica foucaultiana ao Estado liberal-disciplinador pata mostrar que 0 modelo de construgio e andlise da cidadania, tomado das experiénciaseuropeias € dos Estados Unidos, no pode set transportado sem mediagées para socie- dades como a brasileira. A contribuicio analisa a expetiéncia de um projeto social no Morro da Coroa, Rio de Janeiro, mostrando que a difusio dos Valores liberais por meio da institucionalidade estatal e também da sociedade civil gera dinfimicas locais de “conversio” que retraduzem os projetos universalistas. Rompem, assim, com a imagem formalista do Estado e da cidadania para mostrar que as fronteiras entre Estado e sociedade sio negoci- adas cotidianamente e que a cidadania niio corresponde (apenas) a uma for- mula juridica, mas a um campo de disputas sociais € politicas. Outros artigos impdem também uma revisio da distingao dualista entte legalidade e ilegalidade, bem como ilustram uma iniludivel ampliacio do espaco da politica contemporineo. Lopes Jtinior (2009), por exemplo, estuda o crime organizado, partindo de referéncias teéricas ligadas 4 nova Sociologia Econémica ¢ 4 anilise de redes, e mostra que: [..] a melhor apreensio do ctime organizado € aquela que o tome como um processo situado em um continuum que vai da atividade legal até o evento delituoso [e nfo como] [.] um monstro monolitico, como se ele fosse sempre a expressio do oposto daquilo que se realiza nas transagSes sociais cotidianas. (Lopes Jiniot, 2009, p. 54) 42 Sercio Costa O artigo € ilustrativo para a area dos estudos sobre a violéncia, que constituem campo privilegiado para mostrar que a concep¢ao de um Estado formalista definido a partit do monopédlio do uso legitimo da violéncia nao se aplica ao caso brasileiro. Aqui, o uso da violencia € objeto de permanentes negociagdes com atores diversos (ver Adorno, 2002). ‘A investigagiio de Oro (2003, p. 58) sobre a relacio entre a Igreja Uni- versal do Reino de Deus ¢ a politica partidaria, por sua vez, mostra que um. dos pontos de partida elementares da Sociologia Politica desde Weber, qual seja, a premissa de que os processos de secularizacao e diferenciagio modernos Jevam inevitavelmente & separacio entre as esferas da politica, da moral e da religio, perde, nesse caso, seu sentido. O exercicio do voto pelos seguidores da Igteja é a um s6 tempo um ato moral, religioso € politico: O gesto de votar adquire o sentido de um rechaco do mau presente na politica € sua substituicio pelo bem, ou seja, por pessoas convertidas 20 evangelho, por “verdadeitos cristios”, por “homens de Deus”. (Oro, 2003, p. 58) Em outras areas de estudo, indica-se, ademais, que aquela visio endogenista e elitista da politica, segundo a qual as disputas politicas envol- vem as elites estabelecidas e tm como alvo o Estado nacional, precisa ser revista. No campo da Sociologia do Meio Ambiente, por exemplo, Viola (2002) mostra que, quando se trata de questdes do clima, a unidade de anilise politica relevante nao € o Estado nacional, mas 0 regime mundial do clima. Os estudos nas areas dos movimentos sociais (Cardoso, 1987); Costa, 1997; Debert e Gregori, 2008), por sua vez, indicam a emergéncia de uma, pluralidade de atores politicos que nao disputam, simplesmente, os recursos do Estado. Eles buscam definir a compreensiio mesma do que € a politica € qual deve set a natureza da regulacao estatal. Nesse campo, as antropdlogas Debert ¢ Gregori (2008) estudam as relagdes entre os movimentos de mu- Ihetes € a legislaco penal relativa a agressfio doméstica ¢ chegam a constatacdes que pata nossos objetivos aqui sao particularmente relevantes. Primeiro, mostram que é idealizada a imagem recorrente na literatura de que, nas sociedades curopeias e norte-americanas, 0 Estado de direito ga- rante igualdade plena. Indicam também que, no caso brasileiro, mesmo um. campo formalizado e pesadamente institucionalizado como o sistema juti- dico representa um espago de negociacao entre 0 Estado e os movimentos sociais. Nesse contexto, os movimentos sociais influenctam, 4s vezes mais, as Teor por ADICKO 43 vezes menos, a natureza da aco estatal. As autoras indicam, assim, que o proprio objeto de regulacao da a¢ao do Estado, no caso estudado, € objeto de disputas de interpretacio entre os diferentes agentes envolvidos. A regulagio Pelalei, portanto, nao é um processo formal de aplicagao de normas escritas ‘como acteditam os tedricos da consolidacio democratica, mas resultado de uum conflito de interpretacdes e justificacio do qual participam atores estatais ‘endo estatais: Estamos chamando atengio nfo s6 para o fato de que a igualdade perante a lei jamais foi alcangada por alguma nagio, como também que a propria definigio de igualdade e de acesso a justica constitui Proceso aberto as disputas € aos poderes diferenciais entre os atores sociais. (Debert e Gregori, 2008, p. 176) Por fim, gostaria de nomear dois exemplos de artigos publicados na RBCS que refutam a nocio essencialista de sujeito cristalizada na Sociologia. O primeiro deles (Piscitelli, 2007) estuda mulheres brasileiras vinculadas ao “mer- cado do sexo” em diferentes paises europeus. A pesquisa revela que a distingao centre caracteristicas pessoais ou coletivas adscritas e adqpitidas no fazem aquio menor sentido. Mostra também que é inadequado imaginar que se trata de Sujeitos reflexivos com uma identidade estavel sob a qual tém controle e domi- ‘io. Sujeitos e identidades se formam e se transformam, nesse caso, permanen- femente, conforme as expectativas do mercado erético e as imagens e fantasias (tacializadas) sobre a suposta sexualidade brasileira que circulam nos diversos paises europeus. Nesse contexto, formam-se “identidades” que variam confor- me a destinac&o das mulheres na Europa: Nos processos migratotios de nativas que supostamente corporificam a “sexualidade tropical” para os paises do Norte, porém, as imagens corporais € as priticas sexuais envolvidas no consumo sexual nao se mantém estiveis. Nesse deslocamento de contextos, as convengdes que permeiam a corpotalidade sio re-significadas, atingindo de diver- sas maneiras as brasileiras que se inserem no mercado do sexo na Europa, em paises cujas relagdes histéricas com o Brasil sio diferen- tes, (Piscitelli, 2007, p. 23) Um segundo e ultimo exemplo bastante ilustrativo da ruptura com as concepcoes de sujeito individual € coletivo, caracterizado na Sociologia 44 ‘SeRGIo Costa comumente como portador de uma identidade estavele continua ao longo do tempo, é oferecido pelo artigo de Franga (2006). Influenciada pelos estu- dos de géneto pés-estruturalistas, a autora estuda as tensdes € aliangas no inte- tior do movimento e dos contextos de interagio entre gays, lésbicas, bissexuais € transgéneros em Sio Paulo e mostra que as formas de apresentagio dos diferentes atores se modificam conforme as constrigSes ¢ possibilidades ofere- cidas por um contexto especifico. Com relagio as formas de organizaciio po- litica do movimento, a autora constata: ‘A emergéncia de novos atores reivindicando-se como constituintes do sujeito politico do movimento — como atesta a recente organizacio de travestis, transexuais e bissexuais ~ evidencia a fragilidade de perspec- tivas teéticas que lidam com as identidades coletivas como elementos estiveis e internamente homogeneos. Esses processos, fornecidos pelo movimento em geral ¢ pelo mercado segmentado, devem set compre- endidos como parte de um contexto mais amplo, exigindo uma abor- dagem dos arranjos de poder que dé conta do dinamismo com que se alternam posigdes de “superioridade” ¢ “infetioridade” € da possibili- dade de que um mesmo ator social protagonize telagdes em que apa- rece simultaneamente como “dominante” ou “subordinado”, a depender do referencial adotado. (Franca, 2006, p. 105) Dessa maneira, os estudos destacados imp6em a necessidade de rever as concepgées de sujeito centrado e reflexivo, assim como de identidades estaveis € coetentes, que, conforme ja se mostrou, correspondem ainda ao nticleo da nogiio sociolégica de sujeito. Os sujeitos nos exemplos destacados se configu- ram em contextos de sentido especifico. Nao apresentam uma existéncia como sujeito anterior a tais contextos, mas se constituem com esses. Consideragées finais O exame dos artigos de natureza tedrica publicados na RBCS em | suas 72 edicdes, de junho de 1986 a fevereiro de 2010, leva a um balango | peculiar da produgio tedrica brasileira, Entre os artigos pesquisados no se | encontrou um tinico trabalho de cientista social brasileiro que fosse orienta- | do por uma teoria propria ou que buscasse modificar ou ampliar parte || significativa das teorias As quais se referem. Trata-se de revises da biblio- | grafia internacional e/ou de esforcos de discutir tal bibliografia a luz. dos pto- ' cessos de informacio observados no Brasil. RIA POR ADICKO 5 Se se considera que as publicagdes da revista so uma amostra tepresen- | da produgao da Sociologia brasileira nos tiltimos anos, pode-se afirmar -s2¢ 0 socislogos brasileitos assumem resignadamente uma Posicao subordi- | ‘Pada na geopolitica mundial do conhecimento sociolégico, limitando-se a licar teorias ¢ técnicas de investigacio surgidas na Europa e Estados Unies | Essa autoimposta abstinéncia tedrica prtovoca inquietacdes, sobretudo ‘quando se leva em conta que as teorias aplicadas no Brasil apresentam pressu- Postos pouco compativeis com at tidade brasileira. Caberia, segura- mente, perguntat as tazes pelas quais nao surgiram, ainda, no pais uma critica contundente ao eurocentrismo das Ciéncias Sociais, a exemplo do que fize- fam os estudos subalternos na india ou o grupo Modernidad/Colonialidad =m outras regiGes da América Latina, A busca de fesposta aessa questo nos levaria, certamente, a reconstruir 0 proceso de institucionalizacio e profissio- naliza¢ao das Ciéncias Sociais no pais ocorrido durante o regime militar. Nes- Se momento, por boas e més razdes, estabeleceuse um Consenso epistemoldgico que desautorizou qualquer tipo de esforco de elaboracio ted- fica que pudesse parecer especulativa ou no fundada diretamente em tesulta- dos empiticos. O interesse da presente contribuicio, contudo, nao esteve voltado para buscar uma resposta a essa pergunta. Optou-se aqui por outra visada sobre as relagdes entre a Sociologia brasileira e a teoria social, qual seja, avaliar em que medida as interpretacdes de fendmenos estudados em dife- Tentes subareas pdem em questiio Premissas sobre as quais se assentam a Sociologia contemporinea. Dessa avaliagao depreende-se a tese central des- te artigo: nas franjas da Pesquisa empitica, a Sociologia brasileita vem prto- duzindo avangos tedricos importantes — pelo menos potencialmente. Destaque-se que trabalhos provindos da 4rea da antropologia tm também aptesentado uma contribuicio significativa Pata esses avancos tedricos. Pela propria natureza muito especializada da Sociologia brasileira ¢ pela baixa legitimidade institucional da reflexao tedrica no pais, nao é dese esperar que esses avan¢os fragmentérios, em algum momento, sejam rearticulados num matco tedrico geral que pudesse ser estendido a outras tegides do mundo e viessem a integrar 0 corpo das teorias sociolégicas aceitas, Mais provavel é que esses achados serio, como jAest&o sendo, acumu- lados e retransmitidos no interior dos diversos campos de investigagao e até mesmo na comunicacio entre as varias areas, consolidando Pperspectivas novas para entender velhos € novos problemas. Seguramente serio encon- Pe Sexcio Costa tradas formas mais precisas para designar esse tipo de producio teética, nas franjas da pesquisa empitica. Enquanto nao apatece nome melhor, serve 0 (quase) Obvio: teoria por adigéio. Referéncias bibliograficas ADORNO, Sérgio. Monopélio estatal da violéncia na sociedade brasileira contempo- tinea. In: MICELI, Sérgio (Org). 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Catalogagao da Publicagao Servigo de Biblioteca e Documentagtio Faculdade de Filosofia, Letras ¢ Ciéncias Humanas da Universidade de Sto Paulo H811 Horizontes das ciéncias sociais no Brasil: sociologia / Coordenador geral Carlos Benedito Martins; Coordenador de ‘rea Heloisa Helena T, de Souza Martins. ~ ‘Sto Paulo : ANPOCS, 2010. 496 p. Coletinea co-editada pelo Instituto Ciéncia Hoje, Editora Barcarolla e Discurso Editorial. Outros volumes que compGem esta coletinea: Antropologia e Cincia poitica ISBN 978-85-98233-55-0 (Barcarolla) 1. Ciéncias sociais ~ Brasil. 2. Sociologia ~ Teoria, 3. Sociologia ~ Brasil 1, Martins, Carlos Benedito. II. Martins, Heloisa Helena T. de Souza, 21+. cop 300 301 : L BARCARGLLA isaursedieccial Editora Barcarolla Ltda Av. 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