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Cee men em ee te) ensaios, artigos de revisio, artigos tedricos e ‘empiricos, resenhas e videos relacionados 3s temiticas de polticas pablicas. Cre ee Re eee ote trabalhos inéditos e originais, nacionais ou eee ee Pablicas, resultantes de pesquisas cientificas e Dect aed ee ee ey Pe ee es Td isponibilizar gratuitamente o conhecimento ee eon ag pee BOLETIM DE CONJUNTURA BOCA ‘Ano IV | Volume 10 |N° 30 | Boa Viste | 2022 htpworjokes.com biboca Issn 2675-1488 hips:ido\org0 528 /zenodo 6547567 BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca PSICOLOGIA INFANT AIMPORTANCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANCA Kalrylene Leite do Nascimento’ Francisleile Lima Nascimento” Resume © eixo principal deste trabalho discute a base teérica do brincar, refletindo sobre a problematica acerca da violagio do brinear, tendo como objetivo apresentar o que ¢ o brincar. O texto analisa as principais abordagens do desenvolvimento infantil, destacar 0 que é e como ocorre a estrutura¢ao da psicologia infantil e identificar desejos e fantasias que a crianga comunica através da brincadeira, baseando-se em tebricas e estudiosos da area. Este artigo foi estruturado por meio de uma pesquisa deseritiva e bibliogrifica com abordagem qualitativa. A metodologia propiciou analisar diversas. fontes bibliogréficas por meio do uso do método hermenéutico e exploratério, utilizando a coletas de dados a partir de informagdes obtidas pela pesquisa bibliogréfica publicada na base de dados, Scielo e PEPSIC. A proposta do trabalho tende a contribuir xno conhiecimento de profissionais e académicos dessa verteate, trazendo dados que os possam amparar diante de algo to eligenciado que é o brincar ua inféucia. Palavras-chave: Brincar, Desenvolvimento Infantil, Psicologia Infantil a qualitative approach. The methodology made it possible to analyze several bibliographic sources through the use of Keywords: Child Development; Child Psychology. Play INTRODUCAO brincar é parte constituinte do cotidiano de toda crianga compreendendo todas suas fases de desenvolvimento, pois o brincar possibilita a crianga desenvolver seu imaginério, concebendo ¢ construindo sua realidade. brincar contribui no proceso de aprender a pensar, estimulando a imaginaglo e a sua inteligéncia. Logo, o desenvolvimento infantil passa pelo universo dos jogos e brincadeiras que slo excelentes oportunidades de mediaglo entre 0 prazer e 0 conhecimento historicamente constituido, onde o brincar é natural e faz parte do desenvolvimento humano (GIRARDI; SILVA; SOUZA, 2004). 1 Graduada em Psicologia pela Faculdade Cathedral (CATHEDRAL). E-mail: lopestelrv@ gmail com a Deseavalvimento Regional da Amazinia pela Universidade Federal de Roraima (UFRR). E-mail: lcile_lina(@hotmail com BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca Partindo d sse prineipio, a relevancia do tema parte da problematica acerca da violagio do brincar, que tem crescido cada vez mais nos iiltimos anos, afetando gravemente a estrutura psicolégica da crianga que nao brinca Essa pesquisa tem como objetivo apresentar o que é o brincar, analisar as prineipais abordagens do desenvolvimento infantil, destacar 0 que & e como ocome a estruturagio da psicologia infantil e identificar desejos e fantasias que a crianga comunica através da brincadeira, baseando-se em teéricos e estudiosos da area. O estudo do tema tende a contribuir no conhecimento de profissionais e académicos dessa vertente, trazendo dados que os possam amparar diante de algo tio negligenciado que é 0 brinear na infincia. E desta forma, compreender a importincia do brincar no desenvolvimento da crianga Para atin: ir 0s objetivos deste estudo, foi realizada uma pesquisa do tipo bibliogrifica basica, uma vez que nio teve por finalidade a resolugo imediata de um problema. A vantagem em adotar esta modalidade de pesquisa consiste na possibilidade de uma maior cobertura espacial do fendmeno a ser investigado preliminarmente. Para compor o Referencial Tedrico, foi realizada uma ampla pesquisa em titulos de referéncia na Biblioteca da Faculdade Cathedral, Universidade Federal de Roraima e Palicio da Cultura acerea do tema “A importineia do brincar na estruturagio do desenvolvimento da erianga” (GIL, 2008). As palavras-chave Desenvolvimento Infantil, Brincadeira, Estruturagio Psiquiea desta eo pesquisa serviram como critério de incluso, As demais foram descartadas da selego do estudo, Apés a delineagio do estudo, uma busca aprofundada foi realizada acerca do tema. O objeto desta pesquisa foi composto por artigos cientificos que foram publicados na base de dados, Seielo e PEPSIC. 0 critério de inclusio contemplou os artigos cientificos correlatos & questio norteadora deste estudo que &: Qual a importincia do brincar no desenvolvimento infantil? Diante disto, todos os demais casos foram excluidos do estado. © método de coleta de dados foi o de levantamento direto no acervo das bibliotecas e sites especificos. A natureza da pesquisa foi qualitativa e 0 método de abordagem utilizado foi 0 dedutivo, pois a proposta do estudo concerne melhor clarear o fenémeno de forma a partir do geral para o especifico. Os métodos de procedimento que serio adotados para o tratamento dos dados coletados foram comparativos (MARCONT; LAKATOS, 2003). Sendo assim, a pesquisa faz uma abordagem teérica sobre a cultura da primeira infincia, discutindo o que é ser crianca, bem como refletindo sobre a primeira inffncia e a cidade, dando destaque a cidade de Boa Vista-RR como a capital da primeira infancia. Em seguida, a pesquisa faz uma contextualizagio breve do histérico da cultura do brincar e da psicologia infantil ressaltando os beneficios da brincadeira no proceso de desenvolvimento infantil. Por fim, sio apresentadas as consideragdes finais mostrando a contribuigio da pesquisa no conhecimento de profissionais BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca académicos dessa vertente, trazendo dados que mostram a importineia do brincar e as que negligenciam © brincar na infineia, BREVE HISTORICO DA CULTURA DO BRINCAR No portugués o termo brincar significa distrair-se com jogos infantis, entreter-se, representar papéis ¢ demais definigdes. Neste sentido, trazendo para o contexto de desenvolvimento infantil, podemos definir o brincar como a pega chave para que a erianga possa construir sua experiéneia com o mundo e consigo mesma (FANTACHOLI, 2011). Brincar, de acordo com o dicionario Ferreira (2010) significa “divertir-se, recrear-se, entreter- se, distrair-se, folgar’. A brincadeira deve ser presente na vida da crianga, pois ¢ uma forma de commnicar-se consigo mesma e com o mundo. Historicamente, a brineadeira sempre fez parte do desenvolvimento infantil, correspondendo as necessidades ¢ a evolugdo de cada época, permitindo que a crianga se descubra e ensaie as habilidades que lhes serio exigidas ao longo da vida. A criatividade é a experimentagdo da crianga, é a forma como ela grita as manifestagdes de todos os aspectos do seu eu (WINNICOT, 1975). oe A brincadeira é a verdadeira i agem da crianga, porém, ela tem necessidade de espaco e liberdade para desenvolver-se. Nessa perspectiva, percebe-se que a principal fungdo do brinear ¢ o papel que a crianga assume, é 0 que ela se propde diante dos obsticulos e expectativas colocados por ela mesma (CRESPO, 2016). A brincadeira é uma necessidade basica da crianga defendida por lei como um dos principios fundamentais. Pode-se dizer que essa é a marea da infincia, é esse um dos primeiros momentos que se identificam as priticas comportamentais que é extraida por determinada cultura (MORAES, 2012), A brincadeira se instala na crianga em todas as formas de manifestagdes. Ainda bebé ela inicia brincando através do seu provesso de desenvolvimento, onde passa a identifiear sons, cores, barulho, descobrindo gradativamente o seu proprio corpo. Percebe-se que essa ¢ a propria linguagem da crianga, onde sua necessidade de desenvolvimento se relaciona intimamente com a brineadeia (CARVALHO, 2016). Furia (2016) compara a necessidade do brincar com o instinto animal, colocando como questio. os animais cagadores que, ainda filhote, tem como brincadeita a propria caga, onde a luta faz parte de seu ensaio de sobrevivéncia, Segundo Winnicott (1971; 1975) ha uma vinculagdo do presente, passado e futuro na atividade criativa. Essa relacao traz um sentimento de continuidade da existéncia. E essa experiéncia da o sentido de uma vida digna. ano I, vo. 10, BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca CULTURA DA PRIMEIRA INFANCTA: 0 QUE E SER CRIANG! Para compreendermos o contexto cultural da primeira infincia, tomna-se fundamental entender 0 fator ser crianga, Segundo Brentani er ai. (2014) 0 Comité Cientifico do Nucleo Ciéncia Pela Infancia define a primeira infiincia como A primeira infincia compreende a fase dos 0 a0s 6 anos e é um period crucial no qual ocorre 0 desenvolvimento de estruturas e circuitos cerebrais, bem como a aquisigio de capacidades fundamentais que permitirao © aprimoramento de habilidades futuras mais complexas (BRENTANI ef al, 2014, p. 01). Sendo assim, ser crianga compreende o periodo da primeira infineia, onde ocorte o processo de desenvolvimento e aprendizagem da crianga (Figura 1) Figura 1 - Primeira Infancia - fase de desenvolvimento infantil Desenvvimenta: Constructo e aquisicao Pepa eee ere Aprendizagsm. Proceso de Constucao, aquisicaoe la-Se de um conceito amplo au eee ce connect. engloba cresmenta e maturagso ern ratica do exercicio de aprender | lee seteere rere eens Fonte: BRENTANT et al. 2014). ages proprias. Partindo desse principio, compreende-se que a privacdo da primeira infincia anula ou interrompe parcial ou total 0 processo de desenvolvimento infantil, sendo fundamental que esse periodo da vida da crianga seja assegurado para que a mesma possa se desenvolver por completo (RAYANE; SOUSA 2018). Nesse sentido, em termos legais, O Marco Legal da Primeira Infancia e o Estatuto da Crianga e do Adolescente (ECA, 1990), vem para assegurar criangas e adolescentes. 0 Marco Legal da Primeira Infancia tem como proposta, projetos que assegure os mesmos desde a fase primaria até os 6 (seis) anos ano I, vo. 10, BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca de idade, © 0 ECA ampara criangas ¢ adolescentes até os 18 anos de idade. Sao leis que propde caminhos para a implementago de politicas publicas para o desenvolvimento da crianga (BRASIL, 1990; BRASIL, 2016). Dentre elas o direito de ter um cuidador em casa, de ser prioridade nas politicas publicas desse Pais, o direito ao lazer e ao brinear: Lei u® 13.257/2016 no art. 5°, Constituem areas prioritirias para as politicas piblicas para a primeira infancia a sate, a alimentagto e a nutricdo, a educacdo infantil, a convivéncia familiar © comunitéria, a assisténcia social 4 familia da crianga, cultura, o brincar © 0 lazer [..] (BRASIL, 2016, p 2), Nessa perspectiva, o Estatuto da Crianga e do Adolescente (ECA) menciona que: Art. 4° E dever da familia, da comunidade, da sociedade em geral e do poder piblico assegurar com absoluta prioridade, a efetivacao dos direitos referentes a vida, & said, & alimentagao, & educagio, ao esporte, ao lazer, fi profissionalizagio, cultura, & dignidade, ao respeito, liberdade e & convivéncia familiar e comunitéria (BRASIL, 1990) Conforme Loro (2016), prot se insere € 0 bergo de seu desenvolvimento € nao é apenas da aleada dos pais, mas de todo um contexto cultural, Tanto o ECA como o Marco Legal da Primeira Inffincia vém para assegurar a liberdade, satide, seguranca, ou seja, um viver digno. E imprescindivel que essa fase experimente do lazer para um crescimento saudavel. Os responsaveis que infringirem essas normas poderdo softer penalidades. ional, Nesse sentido, as Ciéneias Sociais induzem cada vez mais a busca pela formagao profi pelos interesses financeiros, exigindo das criangas a ocupagdo de todo o seu tempo com atividades que Ihes fardo aleangar 0 “sucesso”, deixando de forma secundaria o que é fundamental para um desenvolvimento saudivel, estruturado e feliz (LOPES, 2008). Conforme Lydia Hortelio (2014) 0 ser bumano foi violentado da sua capacidade de ser gente Essa afirmagio abre varias questdes, pois, ¢ preciso reestruturar a importincia das coisas, principalmente do brinear na infaneia, que é onde a vida se inicia PRIMEIRA INFANCIA E 0 AMBIENTE A primeira infancia é considerada a fase de desenvolvimento do ser humano que compreende a faixa etaria entre 0 aos 6 anos, onde a crianga se desenvolve e aprende através da interagio socivespacial (BRENTANI ef ai., 2014). Para compreender esse periodo da vida humana, a ciéneia faz uso da psicandlise que se preocupa em estudar o sujeito desde o nascimento até o alcance da maturidade na ano I, vo. 10, ger a inflincia é responsabilidade de todos. O espaco que a crianga 8 BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca adolescéncia, acompanhando as transformagdes que 0 crescimento e as experiéneias propdem, a partir da relagdo do sujeito com o meio (OLIVEIRA: FULGENCIO, 2010) Segundo Carvallio (2016) desde 0 momento em que a crianga nasce, ela jé tem contato com a brincadeira, ela surge da forma mais genuina no contato mae-bebé, onde a mie brinca com o tom de voz, a0 dar carinho, trocar a fialda, através do cheiro, entre outros. Logo, o desenvolvimento infantil relaciona-se intimamente com essa fase de descobertas e de explorago de um mundo de fantasia que & proprio da crianga, Emergindo no universo imaginério da mesma pode-se entender a forma mais profunda, pois, é nesse universo de fantasia que existe a relagio mais intima e genvina da erianga com o meio (CARVALHO, 2016). Sendo assim, se a crianga nasce, cresce e se desenvolve em um ambiente hostil, ndo privada dos seus direitos, como os que tangem o Artigo 227 da Constituiggo Federal, nfo teri um desenvolvimento completo E dever da familia, da sociedade e do Estado assegurar& crianga, a0 adolescente ¢ a0 jovem, com absoluta priridade, o direito & vida, a saide. § alimentacio, & educacio, a0 lazer, & profissionalizacao, a cultura, & dignidade, ao respeito, a liberdade ¢ a convivéncia familiar © eo comunitéria, além de colocé-los a salvo de toda forma de negligencia, discriminacto, exploragao, violencia, enueldade e opressao (BRASIL, 1988). Cabe ressaltar, segundo a Rede de Acio Politica pela Sustentabilidade (RAPS), que no Brasil que mais de 50% dos municipios ndo oferecem um ambiente sadio as criangas privando de seus direitos basivos, onde cerea de 42% das criangas e adolescentes entre 0 e 14 anos encontram-se abaixo da linha da pobreza, sem mencionar que pela falta de saneamento basico aproximadamente 2 criangas morrem por dia no Brasil em razdo de diarreia, ¢ 2,8 millides de criangas esto fora da escola, bem como cerea de 79 mil criangas de S @ 9 anos trabalham para ajudar na renda familiar (RAPS, 2020) Conforme Winnicott (2005) esse cendrio brasileiro usurpa a primeira infincia e os impulsos criativos da crianga desaparecem por serem forgados por uma realidade externa que a priva de se desenvolver. Portanto, a erianga tem capacidade, e deve vivenciar um mundo criativo, porém, s6 se toma possivel se o ambiente reforgar esses estimulos. Essa fase € promissora no desenvolvimento da crianga, tendo a participagio ativa da mie, adaptando-se as necessidades basicas ¢ exercendo os papéis necessirios para o desenvolvimento criativo que necessita de um espaco e convivio social faverivel. Sendo assim, deve-se ressaltar que a vinculagao familiar & importantissima para esse processo, pois através dessas experiéneias primérias, que a erianga aprende a relacionar-se com o mundo. A realidade intensifiea os estimulos eriativos e propde uma extensio muito maior para que a crianga BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca evolua como ser humano, mas para isso necessita de uma cidade que Ihe oferesa condigdes para seu desenvolvimento humano de qualidade que requer a seguranga dos seus direitos basics (RAPS, 2020), BOA VISTA/RR - RORAIMA ~ BRASIL: CAPITAL DA PRIMEIRA INFANCIA A cidade de Boa Vista é a capital do Estado de Roraima. Possui aproximadamente 112 km? de extensdo de area urbana, e uma populacao de aproximadamente 332.020 habitantes (IBGE, 2019) (Mapa 1). Mapa 1 - Loealiza Geografica do municipio de Boa Vista-RR MAPADELOCALZAGAO ' DoWUNICiIODE BOR VISTA Legends ©. ms ene Fonte: Wanderley (2020). Situada 4 margem direita do Rio Branco, a cidade encontra-se sob o clima tropical umido do tipo A e subtipo Aw, (classificagao de Koppen), com estacao chuvosa concentrada nos meses de verdo (abril a setembro) e invemno seco (outubro a margo), com phuviosidade média anual em tomo de 1800 mm e temperatura média anual de 27,4 °C (RIBEIRO, 2008; SANDER er al., 2012), Em 1944, Boa vista foi oficialmente declarada Capital do Territério Federal do Rio Branco, nome modificado para Territério Federal de Roraima por meio da Lei n° 4182 de 13 de dezembro de 1962, por solicitagio de Valério Caldas de Magalhies, que resolveu eliminar a comparagio com a Batata er BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca capital do Acre, também de nome Rio Branco. A Constituigao Federal de 1988 extinguiu o titulo de territorio, transformando-o no Estado de Roraima (BARROS, 1995; FOLHA DE BOA VISTA, 2008), Na data da eriagio do Territério do Rio Branco havia menos de 16 mil pessoas residentes e se resumia apenas a cidade de Boa Vista, Catrimani jamais foi instalado, dando lugar para Caracarai, segundo municipio do Territério, que s6 seria eriado em 1955 (STAEVIE, 2011). Na época da criagdo do Territério Federal do Rio Branco, a cidade de Boa Vista era formada pelos seguintes baitros: Porto da Olaria (Francisco Caetano Filho ou Beiral), R6i-Couro (Sao Pedro), Caxanga (denominagio dada ao igarapé que corta a area atrés do Quartel da Policia Militar, na Rua Professor Diomedes), a Praca da Bandeira e o Centro (FOLHA DE BOA VISTA, 2008). Em 09 de Iulho de 1890, Boa Vista passou a condigio de cidade, sendo criado 0 recém- municipio de Boa Vista. Em meados dos anos 50, tormou-se a capital do enti Tervitério Federal de Roraima. As mudangas estruturais do tragado urbanistico da cidade devem-se ao engenheiro Darey Aleixo Derenusson, que dirigiu uma equipe dos mais conceituados especialistas em urbanismo, esgotos sanitirios, pluviais, abastecendo de gua, energia elétriea com sua rede distribuidora (MAGALHAES, 1986) meados de 1830 por Inicio Lopes Ma ales. A abundancia de gua, os campos naturais e os buritizais, que decoravam a paisagem local, foram ideias para a pecudria. Boa Vista é a capital do Estado de Roraima e esta localizada a margem direita do Rio Branco, Cidade planejada com ruas largas e avenidas amplas todas se dirigindo para o centro. Sua rea territorial é de 5.711, 9Km? (MAGALHAES, 1986) Segundo Pavani e Moura (2006), relatam que Derenusson tragou Boa Vista no periodo de 1944 a 1946, provavelmente inspirado nas cidades de Belo Horizonte e Goiania, em um formato de leque, no qual a capital roraimense se destaca pela forma radial Boa Vista, capital do Estado de Roraima, situado ao extremo Norte do Brasil, tornou-se nos liltimos anos uma cidade modelo para o Pais, ao implementar um Plano de Politicas Publicas de investimentos na Primeira Infincia, para assegurar os direitos das criangas no sentido de estimuld-las através das experiéncias, relagdes, interagdes com as pessoas e o meio ambiente, para que as mesmas se tomem adultos mais preparados emocionalmente e psicologicamente no futuro (G1, 2019). Segundo declaragao da ex-prefeita Tereza Surita na abertura do Férum Nacional da Primeira Infancia realizado em Boa Vista em 2019, Boa Vista ¢ considerada atualmente a “capital da Primeira Infancia” (G1, 2019). ‘Nés temos hoje uma politica publica de Primeisa Inffiucia imtegrada entre Satide, Educacdo, Social, Comunicagao, Finangas muitos parceiros, que trazem © conhecimento e nds colocamos em pratica dentro dos equipamentos piblicos: Casa Mae, Pré-Infincias, UBS"s, Atencio a0 Pré- Natal (Gi, 2019). A cidade de Boa Vista comegau como uma fazenda, a “Fazenda Boa Vista”, fimdada em 3 BOLETIM DE CONJUNTURA vwor.oles.com.br/boca © Plano de Politicas Piblicas de investimentos na Primeira Infancia prevé atendimentos as mies e filos com marcagio e acompanhamento de todas as consuiltas, exames e procedimentos médicos (Figura 2). Figura 2 - Servigo de assisténeia as mies ¢ filhos da Primeira Infancia em Boa V! Fonte: Prefeitura de Boa Vista, Gl (2019). Boa Vista como Capital da Primeira Infancia tem promovido desde 2013 um proceso de o6 desburveratizagtio ao acesso & educagdo, onde a prefeitura assegura a crianga antes mesmo do seu nascimento, matricula efetiva e vaga nas creches e nas escolas para todo o pablico infantil até seis anos de idade, garantido que os mesmos tenham possibilidade de iniciar o Ensino Fundamental (Figura 3) Figura 3 - Servigos oferecidos na drea da Educacio da Primeira Infancia em Boa Vista-RR ) Na rea da assisténcia social, 0 Plano de Politicas Publicas de investimentos na Primeira Infancia criou a chamada Universidade do Bebé, ofertando os servigos de acesso a profissionais e informagdes sobre o desenvolvimento psicossocial integral das criangas, direcionado as gestantes, novas fot BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca mies ¢ seus familiares que participam de oficinas de musicalizagao, coral, leitura, entre outras atividades que favorecem o desenvolvimento infantil (Figura 4) Figura 4 - Servigos oferecidos na érea da Assisténcia Social da Primeira Infancia em Boa Vista-RR Fonte: Prefeitura de Boa Vista, Gl (2019), Pode-se destacar ainda dentro do Plano de Politicas Pblicas de investimentos na Primeira Infineia em Boa Vista, 0 projeto de acolhimento, que consiste na implantagdo do “Caminho da Primeira Infineia”, projeto inovador que vem colorindo ruas, muros, além de trazer calgadas interativas em uma Area ‘mapeada, que contempla o bairro Nova Cidade, zona Oeste da Capital (Figura 5) Figura 5 - Caminho da Primeira Infancia em Boa Vista-RR. fot BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca Outra novidade que ganhou grande relevancia e publicidade, sio os espagos tematicos como a Selvinha Amuzénica no Complexo Ayrton Senna, Praga do Mirandinha, e o Parque do Rio Branco, Conforme se observa na Figura 6, 0 Plano de Politicas Piblicas de investimentos na Primeira Infancia em Boa Vista, tem buseado contemplar de forma integral os direitos bisicos de protegdo © seguranga a primeira infaincia que compreende o direito & vida, a satide, & alimentagdo, & educagdo, ao lazer, & profissionalizagio, @ cultura, 4 dignidade, ao respeito, a liberdade e 4 convivéncia familiar e comunitaria, Dessa forma, Boa Vista se destaca no cenério nacional como modelo de implantagao do primeiro Curriculo Infantil do Brasil que atende as definigdes da Base Nacional Comum Curricular, para melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento pleno infantil (Figura 6). Figura 6 - Servico na area da assisténcia social da Primeira Infancia em Boa Vista-RR Selva Amazinica no Compleno da Praca Ayrton Sema BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca PSICOLOGIA INFANTIL: OS BENEFICIOS DA BRINCADEIRA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANCA A crianga, ao brinear, ela também ensaia sua relagdo com o mundo, treinando as habilidades que a vida ird Ihe exigir. Para que a brincadeira acontega, a crianga precisa escolher, negociar, esperar, aprender, se organizar, entender, e nesse momento € apresentado a ela, parte de seu desenvolvimento (FURIA, 2016) Segundo o filme/documentirio Tarja Branca (2020), brincar é um ato que rompe tempo e 0 espago, desenvolvendo uma outra dimensio, formando uma conexio de vinculo entre 0 EU e o mundo. Brincando, a erianga esté entregue por inteira, respondendo a sua propria vida e expectativas. Essa é a verdadeira linguagem da alma e da vida. Ao se relacionar com a brincadeira a crianga esté vulnerdvel as experiéncias do mundo, pois na atividade livre ela desenvolve sua capacidade de ser gente. Nesse sentido, Loro (2016) fala de dois tipos de brincadeiras, sendo eles: © Brinear Livre ¢ 0 Monitorado. Esses dois tipos a serem apresentados a seguir, fazem parte do desenvolvimento cognitivo e social da crianga. A Brincadeira Livre é a propria crianga que determina o que quer, colocando todos os seus desejos, ditando as proprias regras e as desenvolvendo de acordo com o seu interesse. Na 36 Brineadeira Monitorada, existem regras e normalmente sfo ditadas por um adulto. Tanto o brincar livre quanto 0 monitorado sio importantes para erianga por apresentar a ela oportunidades de entender © funcionamento do mundo. No primeiro, a crianga experimenta © seu proprio EU em aco, colocando a prova os proprios desejos e ensaiando suas habilidades. No segundo, a crianga tende a seguir regras colocadas por outras pessoas, onde elas aprendem um pouco sobre a sua capacidade e doagio social (LORO, 2016). Furia (2016) ressalta que a brincadeira surge como fungdo biolégica no ser humano. Colocar em pauta a importincia de aumentar o tempo do Brincar Livre. Afirma que o brincar livre é supervisionado por um adulto, mas ele parte da crianga, A necessidade de haver 0 aumento do tempo para o brincar livre € importantissimo, pois o poder de autonomia da crianca ¢ desenvolvido nesse ‘momento de forma leve e sutil. A crianga necessita de conforto e seguranga para conhecer as facetas da vida de uma forma segura. Segundo o Brasil (1998) a principal funedo da brincadeira é o papel que a crianga assume. Ao se relacionar com outros papéis a crianga se depara com a realidade de forma menos complexa. Ha uma espécie de substituigao das agdes da realidade com o mundo criativo da crianga, Winnicot (1975) em sua obra O Brincar e a Realidade, compreende a brincadeira como 0 uso |, uma necessidade bas ca de viver, indicando satide no desenvolvimento psiquico da crianga ee BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca Considera o brinear como uma relagao psiquica do mundo intemo e externo do sujeito. A ctiagao é 0 proprio eu, 0 seifé descoberto e construido, A criatividade & a experimentagdo da crianga e a forma como ela grita as manifestagdes de todos os aspectos do eu. Essa é a verdadeira linguagem da crianga, ela precisa de espago, relaxamento € liberdade, Se dessa forma for constituido o brincar, a crianga formard sua verdadeira identidade e/ou o self de uma forma saudavel. Tanto a crianga como o adulto, experimentam da tranquilidade e confianga tendo base na atividade eriativa (WINNICOT, 1975). Segundo Ciccone (2013), ao falar de criatividade ¢ teoria do amadurecimento, Winnicott compreende a agressividade e como parte do desenvolvimento da crianga. A agressividade se apresenta através da frustrago, mas também é vista como fonte de energia e um mecanismo de defesa que faz parte da natureza humana, das forgas biolégicas do ser Para Winnicott (1975) é através da compreensio criativa que o individuo tem os impulsos de viver. A criatividade leva experiéneias de uma vida saudavel. Para ele essa relagdo do mundo real com a capacidade criativa causa uma espécie de submissio, podendo também se tornar algo doentio e limitado. A criatividade constitui um estado saudivel e a submissio é o eixo para uma vida adoecida Brincando a erianga organiza as habilidades exigidas ao longo da vida como menciona 3 Lebovici e Diatkine (1988): A cetianga que nao brinca, nao se aventura em algo novo ¢ desconhecido. Se a0 contritio, é capaz de brincar, de fautasiar, de souhar, esté revelando ter aceito © desafio do crescimento, a possibilidade de curar, de tentar ¢ atriscar para progredir ¢ evoluir (LEBOVICI: DIATKINE. 1988, p. 14). A brincadeira € uma necessidade bisica para que a crianga desenvolva os papéis sociais & individuais. Ela propde a crianca o poder de escolha, negociagao, tomada de decisio, criar, imaginar, sonhai guir regras ¢ ete. A crianga que tem esse direito violado tem uma declinagao no crescimento € tera habilidades limitadas ao longo da vida, possibilitando 0 aumento de transtornos emocionais (CARVALHO, 2016). Winnicott (1999) contextualiza a relagio matemo-infantil como agonias primitivas ou impensiveis, por se tratar de uma comunicago nao verbal, das impressdes resultantes dessa relagao. Utilizando a fantasia, o bebé cria a mae para poder descobri-la e & uma relagao dual onde a participagao da mie faz parte do desenvolvimento do bebé, através da forma que ela se apresenta a ele, 0 cheiro, a identificagdo, os olhares, corpos, que o leva ao seio. A mie espera por sua descoberta mesmo que de forma inconsciente. ee BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca Fantasia é um termo que foi utilizado primeiramente por Sigmund Freud (1897) que teve como ponto de partida o estudo da histeria com Breuer, para 0 desenvolvimento de sua obra acerca da fantasia. Essa palavra, na origem grega, significa “phantasma”. Para a psicanélise, a mesma é definida como “a vida imaginéria do sujeito € a maneira como ele representa para si mesmo sua histéria ou a historia de suas origens” (RODINESCO, 1998, p. 223). Para Winnicott (1982) 0 mundo real tem uma funcio extraordinéria em toda a capacidade cognitiva e/ou criativa da crianga. Desta forma, compreende-se a importineia da nutrigéo de um ambiente saudaivel para a estruturagdo psiquica do ser humano, Parte da estruturagdo psiquiea da crianga estard submetida ao contexto das relagdes primdrias que o sujeito esta inserido. A angistia também se apresenta na brincadeira infantil, visto que ela é correspondente a realidade vivida pelo sujeito. Tanto a agressividade como a angiistia se apresentam de diferentes formas ¢ tém uma forte relagao com o desenvolvimento emocional da crianga. Pois, elas brincam para aprender a dominar seus impulsos ¢ emogdes que conduzem a esses sentimentos. A crianga que nao vivencia essa experiéncia tera dificuldades em lidar com as suas emogdes na vida adulta (CICCONE, 2013). Segundo o dicionirio de Psicanilise escrito por Elisabeth Roudinesco (1997), a palavra desejo 6 um termo da filosofia que designa, a disposigao, a necessidade, o apetite, ou seja, qualquer forma de & atrago espiritual ou sexual sentida pelo corpo e pela alma, Freud na teoria do inconsciente, diz que o desejo nada mais ¢ que a resposta de anseios do inconsciente. O desejo tem uma forte ligagio com 0 sonho e a fantasia. De acordo com Freud (1976) as eriancas reproduzem aspectos da vida real através do brincar, sendo persuadidas pelos seus desejos, onde os anseios inconscientes sio revelados e a erianga ¢ capaz de explorar seus instintos Nos estudos sobre o brinear e as relagdes intrapsiquicas, pode-se observar ess s concepgdes claramente. A crianga ao imaginar ¢ fantasiar, faz uso de seu objeto de desejo, que esta intimamente relacionado com seus instintos inconsciente. Em suas brincadeiras, as criangas repetem padres de uma vida real e so dominadas pelos seus desejos (CARVALHO, 2016). Freud (1920) foi o primeiro psicanalista a falar da atividade hidica. Em sua obra Além do Principio do Prazer, ele confirma através da experiéneia com seu neto, que a erianga brineando experimenta da fantasia, criando um mundo proprio onde expressa seus desejos. Segundo Freud, 0 brincar tem um efeito de prazer que ele chama de catarse, pois esse efeito propde A crianga a liberaclo de sentimentos negativos e/ou recalcados que tena relago a eventos traumaticos. Conforme Dias (2006), Freud afirma que 0 objeto da pulsio é 0 objeto do desejo. O objeto é inconstante e indeterminado e € por intermédio dele que gira a pulsio. Brincando a crianca revela 0 BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca prazer da autoridade, fazendo uma negociagao, por hora se colocando como sujeito e por outra como objeto. dades € Klein (1931) percebeu em seus atendimentos que as criangas simbolizam suas ai fantasias, através do brincar. Ela compara os jogos infantis com os sonhos dos adultos (contetidos latentes do inconseiente), onde no lidico é possivel analisar a fantasia inconsciente. A crianga comunica processos intrapsiquicos para 0 exterior. Ela utiliza o brincar como técnica de trabalho, onde observa os conflitos inconscientes, essa técnica se estabelece na observagdo da relagao do mundo interno da crianga, Essa investigagio foi promissora ao se tratar de desenvolvimento emocional infantil, pois permite um olhar diferenciado para a maturidade da crianga e suas experiéneias. Para Vygotsky er al, (2006) brincar é satisfazer us desejos que niio podem ser satisfeitos em primeira instancia, A crianga é capaz de realizi-los, pois o brinquedo € um universo imaginario. Baseado nessa teoria, criangas em fases primérias utilizam a imaginagdo da forma mais profunda, elas tém uma habilidade extraordindria em transportar essa fantasia para o momento da brincadeira. Dentro da teoria da associacao livre, observa-se o potencial da crianga, Cita-se 0 exemplo: a0 utilizar uma tapinha de garrafa nas mios, a crianga é capaz de transformar em um avido, um carro, uma arma, pois esse é 0 momento mais gemuino da criatividade do sujeito. Cada fase exige um padrio de comportamento e/ou de conduta que “deve” ser comespondida, porém, no momento que a crianga alcanga a maturidade, as regras socioculturais vio se tomando mais rigidas, inibindo a forga da imaginagio que a crianga tem, mas possibilitando o desenvolvimento da funcionalidade do mundo real (NAVARRO, 2009) brincar como ferramenta no processo do desenvolvimento da crianga deve ser entendido de forma mais aprofundada, principalmente numa década que é inftingida pela tecnologia, velando o olhar dos adultos para essa fase que é de extrema importincia para a forma (CARVALHO, 2016). 0 psiquiea do ser humano Nessa perspectiva, Santos (2001) ressalta que: [...] © brincar ¢ uma atividade permanente na inffincia, ou seja, as criancas brineam ¢ exploram. as coisas, os objetos o tempo inteiro, por esta razlo priorizam a ludicidade no espace escolar. As cantigas de rodas, os bambolés, brincadeiras com cordas, histérias com fantoches ou cutras brincadeiras. Oportunizam também a organizagao espacial, nogdes de quantidades, a existéncias, de regras © a interagdo entre as crianeas. [..] Oportunizam no somente essas, mas outras brincadeiras tradicionais como amarelinha lengo atrés, competicdo com bonecas € outras (SANTOS, 2001, p. 109). Contribuindo Cunha et al. (2018) apud Santos (2001, p. 197) comenta que ee BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca [..1] Os brinquedos so importantes, pois eles so por natureza um convite a brincar, so também agentes de socializacio: por através deles, a crianca interioriza valores ¢ crengas. Sendo instrumentos de insereao social, contém ordens veladas © padides de comportamentos (SANTOS, 2001. p. 197). E relevante salientar que os brinquedos e brincadeiras niio se trinjam apenas a fungdo que se resume em brincar, mais sim um instrumento para a crianga interagir com a outra e socializar no mundo que as ceream, aprendendo a cumprir regras, limites e tendo uma compreensio de vivéneia em grupo, para que se tornem no futuro setes participativos ¢ cooperativos (SILVA, 2011). brincar como atividade livre e espontinea, faz com que a crianga aprenda brincando, pois a socializagio dos seus conhecimentos com os colegas, permite que ela se desenvolva de uma maneira prazerosa, pois o brincar é uma necessidade bisiea assim como é a nutrigdo, a saiide, a habitagdo e a educagao (ALENCAR, 2016), Nessa percepedo, Carvalho (2016) meneiona que Froebel afirma que o brinear contribui para educar e desenvolver a crianga, ou seja, 0 brincar possibilita a crianga desenvolver suas habilidades. Mas, a crianga necessita de orientagdo para seu desenvolvimento, pois o sentido da vida de uma crianga 6 a brincadeira, logo, brincando ela reproduz situagdes coneretas se pondo no papel. De acordo com Klassmann (2013), © brincar possibilita as criangas estabelecerem relacdes e logicas, a construirem novos conceitos, a reforcarem suas habilidades sociais, desenvolvendo suas expressdes orais ¢ corporais, bem como reduzindo a agressividade, Sendo assim, a ludicidade é de suma importincia para o desenvolvimento fisico, afetivo, intelectual e social da crianga, pois integra a mesma na sociedade e no meio, contribuindo para que o aluno construa seu proprio conhecimento. Conforme Santos (2010), as metodologias liidicas baseadas no construtivismo de Vygotsky e Piaget tém um importante papel no desenvolvimento cognitivo da crianca contribuindo na construgao do seu proprio conhecimento. Fazendo relevancia importincia sobre a brincadeira para. o desenvolvimento da crianga, Kishimoto (2002) enfatiza que a crianga ao brinear desenvolve com mais facilidade os processos de decodificagaio e percep¢do criando para si uma linguagem simbolica que lhe permite fazer uma leitura do meio que o cerea. Partindo dessa concep¢do de Kishimoto (2002), Redin (2000) afirma que: ‘A crianga que joga, esti reinventando grande parte do saber humano, Além do. valor incoutestivel do movimento intemo ¢ extemo para os deseavolvimentos fisicos, psiquicos ¢ motor. E além do tateio, que ¢ a maneira privilegiada de contato com o mundo, a erianga sadia ‘passui a capacidade de agir sabre o mundo e os outros através da fantasia, da imaginagio e do simbélico, pelos quais o mundo tem seus limites ultrapassados: a crianga cria 0 mundo e a natureza, a forma € o transforma e, neste momento, ela se cria e se transforma (REDIN, 2000, p. 64) BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca Dentro contexto infantil Pinto ¢ Lima (2003) destacam os seguint s aspectos do jogo ressaltando que: ‘A brincadeira © 0 jogo so as melliores maneiras de a crianga comunicar-se, sendo um instrumento que ela possui para relacionar-se com outras eriangas. E através das atividades hnidicas que a crianga pode conviver com os diferentes sentimentos que fazem parte da sua realidade interior. Ela iré aos poucas se conhecendo melhor e aceitando a existéncia dos out estabelecendo suas relagdes sociais (PINTO; LIMA, 2003, p. 5). Considerando que as eriangas por meio do proceso de mediagao das relagdes com 0 meio constroem sua gama de conhecimentos. O jogo dentre as atribuigdes que englobam o desenvolvimento humano, tem a fungio de promover a socializagao eriando condigdes para o processo de aprendizagem, sendo assim de grande relevancia para 0 processo de ensino e aprendizagem (SANTOS, 2014). Partindo dessa dtica Kishimoto (1993) menciona que: 0s jogos tém diversas origens ¢ culturas que sao transmitidas pelos diferentes jogos ¢ formas de jogar. Este tem fang’ de construire deseavolver uma convivéncia entre as criangas estabelecendo regras, critétios © sentidos, possibilitando assim, um convivio mais social © democracia, porque enquanto manifestacio espontinea da cultura popular, os jogos tradicionais tém a funcio de perpetuar a cultwa infantil ¢ deseavolver formas de couvivéncia social (KISHIMOTO, 1993, p. 15), Dessa forma, Vy jotsky ef al, (2006) afirma que as interagdes promovem avancos naquilo que a erianga é capaz de realizar com a ajuda dos outros, ou seja, no desenvolvimento poteneial. Sendo assim, 0 brincar conforme o Referencial Curricular, exerce um papel de interago que permite a crianga, possibilidades de desenvolvimento ¢ aprendizagem individuais e sociais, pois sua formagio se di através da interac&io com o meio ¢ a interagao com a emogio (BRASIL, 1998). CONSIDERACOES FINAIS Buscando responder ao objetivo de apresentar uma base tedrica sobre o brincar, analisando as principais abordagens sobre o desenvolvimento infantil, bem como destacando o que é e como ocorre a estruturagio psiquica, de maneira a identificar os desejos e fantasias que a crianga comuniea através da brincadeiza, a presente pesquisa mostra que o brincar € uma necessidade basica com variadas finalidades no desenvolvimento infantil, indi ando satide no desenvolvimento psiquico da crianga Conforme as literaturas analisadas, o brinear no sentido hidico é 0 termo mais compreendido nos tiltimos anos na edueagio infantil, porém, com o avango da tecnologia e outros fatores sociais complexos, ha uma séria declinagdo na evolugdo da capacidade criativa da erianga, ee BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca Diante dos fatores citados anteriormente, nota-se um distanciamento social que vem submetendo os vinculos, a afetividade, a capacidade do desenvolvimento de uma vida saudavel e feliz. 0 fato é que as pessoas andam tristes. E essa tristeza que se generalizou durante séculos, tem adoecido pessoas e apresentado transtomos que nao se sabem a origem. Talvez, a solugdo de muitos problemas sociais, esté associada em compreender as fases de desenvolvimento das eriangas como sujeitos brincantes, Dessa forma, as pesquisas sobre o brincar, apresentada pelo autor Winnicott, deixa claro que 0 brincar compreende que o mundo real tem uma fungdo importante na capacidade cognitiva da crianga. Nesse sentido, ao buscar entender a estruturago psiquica da crianga no ato de brincar, destaca- se a importincia da nutrigdo de um ambiente saudavel para a estruturagio psiquiea do ser humano. Parte dessa estruturagio psiquica estard submetida ao contexto das relagdes primarias que © sujeito esta inserido. Ou seja, as primeiras experimentagdes do mundo s4o através da brincadeira e essas experiéncias determinam a capacidade de vineulo, interaedo, afeto, confianga, autonomia e, sobretudo a prevencio de possiveis transtomnos. Com relagdo, a0 identificar os desejos e fantasias que a crianga comunica através da brincadeira, a pesquisa mostra que, para a crianga, o brincar traz a compreensio da vida e de seus 8d impulsos de viver, ¢ hé uma forte influéncia do seu meio sociocultural, tendo entio, o poder de desaparecer os estinmulos criativos se nao forem reforgados pela realidade do sujeito. Diante disso, pereebe-se 0 quanto o ambiente é fundamental para o desenvolvimento ¢ compreensio de mundo do individuo, ao reforgar a liberdade criativa a crianga tem a experiéneia de plenitude e atinge os mais complexos interesses pelo que se é Para isso, a pesquisa ressalta as observagdes de Duarte acerea do Brinear Livre e o Brinear Monitorado, evidenciando a importineia das duas vertentes, tendo pontos relevantes ¢ muito especifico na contribuiggo de cada um. A crianga que por sua vez tem a possibilidade de brincar de forma monitorada, também desenvolve algumas habilidades individuais e coletivas, porém, 0 monitoramento das atividades Itidicas pode apresentar limitagdes criativas, pois dessa forma a crianga tende a corresponder as expectativas proposta por uma outra pessoa, Ainda que exista a importancia social em realizar essas atividades, hd um contraponto no que diz respeito ao se/f apresentado por Winnicott, onde ele define a criagdo como o proprio eu Com relagio a apresentar uma base tedrica sobre 0 brincar, 0 estudo frisa a compreensio do Brincar Livre, abordado pelos autores Fernanda Furia, Duarte e Daniel Becker, mostrando que hi una relevincia absurda acerca da importineia do tempo livre da crianga, O adulto em sua maioria tem uma ee BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca tendéncia central em ditar o tempo inteiro as regras, estabelecendo as criangas 0 que irfo fazer, a que horas, o que vao comer, vestir, estudar. Acreditam firmemente que isso trard 0 sucesso necessétio. Nessa perspectiva, vale ressaltar que a sociedade exige um padrio onde o ser humano & instruido a gerar renda, sendo tratado desde 0 nascimento como maquinas que nao param de trabalhar, € ainda que seja importante apresentar um camino “promissor” em tenmos financeizos e intelectuais, as pessoas tém esquecido a sua capacidade de ser gente a partir do momento que vestem a pelicula de obrigagées soviais. No contririo, a brincadeira vem como ruptura dessa prisio mental que o mundo oferece. A crianga quando brinca de forma livre, ela deseja exatamente aquele momento que esti vivenciando e todo o seu instinto criativo é agugado. A forga que o brincar livre tem no processo de desenvolvimento da crianga, nem as regras sociais, nem as escolas, tampouco a brincadeira ditada, tem capacidade de aleangar Sobre os termos de legalidade apontados pelo Estatuto da Crianga e do Adolescente - ECA ¢ 0 Marco Legal da Primeira Infineia, a pesquisa mostra que a crianga é assegurada por lei 0 direito a0 brincar, 0 que se percebe impacto social que isso causa, O amadurecimento social da crianga acontece a partir das suas interagdes e da utilizagao das regras e experimentagdes desses papéis, porém, submeter 6 se as regras da brineadeira direciona a crianga a um caminho promissor dentro da sua propria linguagem, que é o brincar. Criangas brineantes experimentam 0 mundo ¢ isso é tio sério quanto ir 4 escola aprender matemitica Esses estimulos entregues 4 crianga na infincia tém um papel importantissimo na contribuigio social. Pesquisas cientificas mostram qudo inteligentes sfo os adultos que tiveram infincia brincante, onde puderam produzir seus proprios brinquedos brincadeiras, onde tiveram acesso a liberdade criativa, pintura, teatro e a poucos recursos, onde a imaginagdo era obrigada a atuar para ter seus desejos correspondidos. Essas mesmas criangas sio as que iro produzir coisas extraordindrias no futuro, pois em sua infincia, agugou seu estimulo criativo. Nesse sentido vale ressaltar a contribuigo da autora Femanda Firia, que ao assemelhar o brincar infantil com o instinto animal, constata que a brincadeira é tio essencial quanto se manter vivo. Brincando a crianga afirma a propria vida, Diante disso, observa-se a poética de vida que 0 liidico oferece. Viver é a experimentagio da alma, & afirmagio de que a vida vale a pena ser vivida. Nesse ponto, cabe reforgar a catarse apresentada por Freud, onde a criagdo expressa um mundo de desejo. Freud em toda sua experigneia e estudos acerca de desejos e fantasias aponta questdes valiosas que percorreram séculos e séculos sobre a necessidade do brincar ¢ como isso impacta nas BOLETIM DE CONJUNTURA www. loles.com.br/boca respostas do se/f do individuo, ou seja, a forma que ele enxerga a realidade vivida e experimentada por ele, mesmo que fantasiosa Logo, a pesquisa evidencia pelas literaturas que realidade a experimentagio da vida sio expressadas nitidamente na comunicagio da crianga através da brincadeira, ela vivencia um mundo imerso que ¢ escolhido por ela mesma, O lirismo da fantasia é a alma que a erianga veste ao escolher sua propria danca, ¢ onde ela se comunica. Ou seja, brincar é satisfazer seus desejos. Diante desses resultados € compreensdo acerca do tema, questiona-se: Nao seria inerente a0 brincar que desenvolvemos a nossa capacidade de ser gente? A seriedade que a vida tem quando imersa no improviso, fantasia e criagio, tem mostrado a plenitude de ser © que se & Brincadeiras sio perturbadoras quando tidas inacabadas. Transtomos tem se apresentado sutilmente, como bandeja na nossa atualidade. Do contririo, se a crianga ¢ capaz de brincar, revela aceitar o desafio da vida e do erescimento, a possibilidade de errar, de tentar e arriscar para evoluir. Dessa forma, pode-se definir 0 brincar como o ato de afirmagao da vida, nesse sentido, para Lydia Hortelio a solugio de muitos problemas da sociedade est em criancas brincantes. Afirma que uma sociedade doente é a que no da a cerianga 0 seu devido valor. REFERENCIAS ALEN em sala de aula (Trabalho de Conelu: 2016. AR, G. S. B. Ludicidade no Processo de Aprendizagem: relato de professores sobre o hidico 10 de Curso de Graduagao em Psicologia). Joao Pessoa: UFPB, BARROS, N. C. C. Paisagens e Tempo na Amazonia Setentrional: estudo de ocupacao pioneira na América do Sul. 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