transformar em mania. Ocorrendo, ela pode surgir de modo leve ou configurar estados de alteração regular entre fases melancólicas e maníacas bastante marcadas, indicativas de uma insanidade circular (psicose maníaco-depressiva). Enquanto o modelo econômico normal da melancolia é o luto, o da mania é a alegria, a exultação ou o sentimento de triunfo. Casos em que o ego vê-se liberado repentinamente de um grande dispêndio de energia psíquica que vinha sendo aplicado, e que agora não é mais necessário. Por exemplo: está-se preocupado com uma prova e, ao realizá-la, a energia finalmente liberada é experimentada pelo ego como sentimento de alegria e de júbilo. Ocorre que na mania, assim como na melancolia, o que o ego dominou e sobre o qual triunfou segue inconsciente para ele. A observação da mania nos estados alcoólicos dá uma pista nesse sentido: as toxinas suspendem, momentaneamente, a energia dispendida pelo ego para atender às exigências do superego (Eu Ideal), que o mantém em estado de repressão, deixando o sujeito maníaco (o que erroneamente se interpreta como “alegria”). O que permite dizer que, na melancolia, o ego sucumbe ao superego (Eu Ideal) e na mania, triunfa sobre ele. É preciso lembrar que o ego do melancólico representa para ele o objeto perdido e que, portanto, o que é atacado pelo seu superego não é o ego em si mas o objeto com o qual ele está identificado, conforme viu-se em aula. Daí ser a mania o triunfo do sujeito frente ao objeto perdido. É o exemplo daquelas pessoas que não realizam o luto por uma separação ou perda e se tornam maníacas, ligando-se freneticamente a muitas pessoas e dizendo que estão bem melhor sozinhas. O que, em termos psicanalíticos, deve ser interpretado como o ego triunfando sobre o objeto que foi perdido, medida que serve para negar a dor e o estado de dependência afetiva da pessoa amada. A partir desta premissa freudiana é que Melanie Klein considerou a defesa maníaca como sendo a saída patológica da posição depressiva.
Textos em que Freud trata direta ou indiretamente do tema
da mania:
● Totem e tabu (1913)
● Sobre o narcisismo: uma introdução (1914) ● Luto e melancolia (1915) ● Psicologia das massas e análise do eu (1921) ● O eu e o isso (1923) ● O humor (1927) ● A dissecação da personalidade psíquica (1933)
Referência de outros autores que abordam o tema:
● Melanie Klein - Contribuições à psicogênese dos estados
maníaco-depressivos (1934) ● Hanna Segal - A posição depressiva. IN: Introdução à obra de Melanie Klein (1975) ● Karl Abraham - Notas sobre as investigações e o tratamento psicanalítico da psicose maníaco-depressiva e estados afins. IN: Teoria psicanalítica da libido: sobre o caráter e o desenvolvimento da libido. (1970) ● Jacques Lacan - Seminário livro X: a angústia (2005) ● Jacques Lacan - Televisão. IN: Outros escritos (1974)