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MISSÃO DA AMIB

“Promover a boa prática


e o desenvolvimento da
Medicina Intensiva Brasileira”

Apoio
M EM BROS DA DIRETORIA DA AM IB
BIÊNIO – 2002/2003
President e: Jairo Constante Bitencourt Othero (RS)
Vice-President e: Jefferson Pedro Piva (RS)
1º Secret ário: Luiz Alexandre Alegretti Borges (RS)
2º Secret ário: José M aria da Costa Orlando (SP)
1º Tesoureira: M arcelo M oock (SP)
2º Tesoureiro: Odin Barbosa da Silva (PE)

Conselho Consult ivo e Fiscal Depart am ent os e Com it ês


Renato Giuseppe Giovanni Terzi
Fernando Osni M achado Choque
Cid M arcos Nascimento David
M aurício da Rocha e Silva
Com issões Com it ê Nacional de Pesquisa
Cursos e Event os Suzana Lobo
Cid M arcos Nascimento David
Cont role de Infecções
Defesa do Exercício Profissional
Roberto Lúcio de Gusmão Verçoza Nilton Brandão
Ética Emergência
Eduardo Juan Troster Paulo André Jesuíno Santos
Form ação do Int ensivist a Enfermagem
M irella Cristine Oliveira Denis Faria M oura Júnior
Pediat ria
Norberto Antônio Freddi Fisiot erapia
M arta Cristina Pauleti Damasceno Getúlio
Cont role de Qualidade
M arcos Freitas Kníbel Hemodinâmica
Tít ulo de Especialist a Constantino José Fernandes Jr.
Rosa Goldstein Alheira Rocha Humanização
Raquel Pusch de Souza Oliveira
Publicações
José Oliva Proença Filho Inform át ica
Bolet im Odin Barbosa da Silva
Rosane Sônia Goldwasser Terapia Nut ricional
RBTI Sérgio Henrique Loss
Gilberto Friedman
Reanimação
Clínicas Brasileiras André M ansur de C. Guanaes Gomes
Renato Giuseppe Giovanni Terzi
PROAM I Ventilação
Cleovaldo Tadeu dos Santos Pinheiro Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho
Edit ores
José Maria C. Orlando
Médico Intensivista - Hospital Municipal do Jabaquara, São Paulo - SP

Diretor Técnico do Hospital Geral de Pedreira - Associação Congregação


de Santa Catarina, São Paulo - SP

Diretor-Secretário da AMIB, Biênio 2002-2003

Rodolfo Milani Jr.


Médico Intensivista - Hospital Heliópolis, São Paulo - SP

Professor Assitente - Disciplina de Clínica Médica da FMUSP

Rotinas em Medicina Intensiva Adulto é uma publicação da AMIB - Associação de Medicina Intensiva Brasileira,
com apoio de Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A.
AMIB – Rua Domingos de Morais, 814 Bloco II Conj. 23 – São Paulo, SP – CEP 04010-100,
Tel: (11) 5575-3832 – www.amib.com.br
Projeto e Produção Gráfica: MWS Design (11) 3399-3028 - www.amws.com.br
Tiragem: 5 mil. Os artigos aqui publicados são de responsabilidade de seus autores.
Correspondências devem ser enviadas à AMIB.
Consult ores
Bruno Caramelli
Instituto do Coração - Incor - HCFMUSP
São Paulo/SP

Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho


Hospital das Clínicas – FMUSP
São Paulo/SP

Décio Diament
Instituto de Infectologia Emílio Ribas
São Paulo/SP

Flavio Monteiro de Barros Maciel


Hospital Municipal do Jabaquara
São Paulo/SP

José Paulo Cadeira


HCFMUSP
São Paulo/SP

Lígia Fruchtengarten
Hospital Municipal do Jabaquara
São Paulo/SP

Marcelo Moock
Hospital Geral de Pedreira
São Paulo/SP

Renato Scotti Bagnotori


Instituto do Coração - Incor - HCFMUSP
São Paulo/SP

Rosa Goldstein Alheira Rocha


Hospital Samaritano
São Paulo/SP

Sérgio Graff
Secretaria Municipal da Saúde
São Paulo/SP
Colaboradores
Aguinaldo Bicalho Ervilha Júnior José Ramos Martins
Alberto Luiz Fernandes dos Santos José Roberto Carvalho Diener
Aleksander de Azevedo Dantas Juarez de Paula
Alessandra Athayde Laert de Oliveira Andrade Filho
Alexandre Serafim Leandro Taniguchi
Almiro Cavalcante Rocha Neto Leonora Scherer
André Albuquerque Lucas Vieira
André Luiz Martins Guedes Luis Henrique Del A. Tarragô Carvalho
Andréa Bezerra de Melo da Silveira Luiz Antonio de Azambuja
Antonio Carlos Mugayar Bianco Luiz Henrique Lorea de Lorea
Antonio Carlos Penteado Borges Marcelo Britto Passos Amato
Arnaldo Duarte Lourenço Marcelo da Costa Maia
Bruno da Costa Rocha Marcelo Moock
Carlos Broncher Marcos Freitas Knibel
Carlos Jardim Maria Beatris Torres Miranda
Carmen Sílvia Valente Barbas Maria de Fátima Mora Filippini
César Augusto Lemos Maria do Carmo Manfredini Elisbão
Claiton Saccoi Ferreira Maria Rosenete S. D’Este
Darlan Martins Lara Maurício de Nassau Machado
Deluana Cunha Moleta Maxwell Goulart Barreto
Desanka Dragosavac Miguel Angel Sicolo
Domingos Leonardo Cerávalo Murillo Soares Tatagiba
Eduardo Borges Omar de Tarso Gomes Bedin
Eduardo Leite Orlando Jorge Gomes Conceição
Élcio Tarkieltaub Oswaldo Soares Beppu
Emerson Fracarolli Patrícia Lovate
Fabiano Pinheiro Paula Fernanda da Mata
Fátima Barbosa Cordeiro Paulo Antônio Chiavone
Firmino Haag Ferreira Junior Paulo César R. Carvalho
Flávio Monteiro de Barros Maciel Paulo José Bertini
Francisco Antônio Duarte Jr Pedro Caruso
Frederico Leon Arrabal Fernandes Pedro Ernesto Caron
Giancarlo Sanches Rafael Olivé Leite
Gilberto Costa Gomes Redimir Goya
Guilherme de Paula Pinto Schettino Reinaldo Valeriano C. Pizzol
Humberto Alves de Oliveira Rogério Ribeiro da Silveira
Irinei Melek Sandro de Figueiredo
Ivan Lopes S. Thiago Filho Sílvia de C. Jardin
Jairo Paiva Simone da Silva Afonso
João Bosco Médici Carvalho Simone Naomi Sato
José Antônio Abrantes Sônia Ferraz de Andrade Miranda
José Carlos Bachettini Jr Valter Ferreira da Silva
José Maria da Costa Orlando Volnei Martins Castanho
Nossa “Aldeia” cont inua crescendo...
... e não vamos desist ir at é a AM IB ficar do
“ Tam anho do Brasil” !
Delírio de grandeza? Mais uma promessa para cair no vazio, como tantas outras a que
nós brasileiros já nos habituamos a não dar credibilidade?
Não! Trata-se a rigor de uma imposição dos nossos tempos. Na era da globalização nós
temos duas opções: ou estamos dentro ou fora da Aldeia Global. Neste contexto – marca
registrada do início do novo século – a AMIB se auto-imputou a missão de unificar todos
os “dialetos intensivistas” falados em nosso país. Isso mesmo, o projeto Beira de Leito é
uma espécie de sânscrito, uma língua universal que chega para facilitar o diálogo entre os
praticantes da Medicina Intensiva.
É bom esclarecer, no entanto, que oferecer diretrizes gerais no preparo de um “menu”
que possa ser apreciado por todo o território nacional, não significa proibir que cada
gourmet dê seu próprio toque pessoal. Os temperos de preferência individual, local ou
regional não são proscritos e poderão ser utilizados, desde que não comprometam a ca-
racterística básica e essencial de cada “prato”. Ou dito de outra forma, os sotaques conti-
nuarão a existir, desde que não se enclausurem em dialetos próprios e pouco compreensíveis
para os demais interlocutores.
Enganam-se, porém, aqueles desavisados ou com intenções de impor regras inflexíveis,
com o objetivo velado (e comercial?) de cercear a liberdade de opção de cada UTI na
adoção ou não destes protocolos. Trata-se, a bem da verdade, de recomendações técnicas
elaboradas à luz do conhecimento médico-científico atualmente disponível, todavia sem a
pretensão arrogante de oferecer a melhor – ou ainda pior! – a única abordagem terapêutica
aceitável frente à determinada entidade clínico-nosológica. A Medicina é uma arte que
avança com a liberdade para criar novas alternativas. Chegar ao mesmo destino final –
benefício do paciente – é perfeitamente possível, ainda que trilhando caminhos diferentes.
A fim de minimizar experiências pessoais, a AMIB tomou o cuidado de convidar represen-
tantes de diferentes UTIs Brasileiras a darem suas contribuições para o mesmo tema. Em
seguida as rotinas foram submetidas à revisão por parte de consultores com reconhecida
vivência prática em determinadas áreas da Medicina Intensiva. O próximo passo foi nova
“depuração” dos textos pelos editores responsáveis. Finalmente, o texto resultante foi sub-
metido à consulta publica no site da AMIB. As contribuições recebidas foram, mais uma
vez, submetidas ao crivo dos consultores.
Imperfeições? Equívocos? Divergências? Críticas? Sim, apesar desse processo de filtra-
ção cuidadoso, elas surgirão com certeza, tão logo a publicação esteja finalizada. Motivos
para desmerecê-la? Pelo contrário, nossa intenção é mesmo expor essa obra e deixá-la
mobilizar mais e mais opiniões da comunidade intensivista nacional.
Só assim seremos capazes de absorver novas e valiosas contribuições para o seu gradual
aprimoramento.

José Maria da Costa Orlando


Rodolfo Milani
Editores
Roche: com prom isso com a Qualidade
Com sede em Basiléia, Suíça, a Roche, fundada em 1896, é uma empresa multinacional do
segmento farmacêutico. Está presente em mais de 150 países e conta, hoje, com aproximada-
mente 62.000 funcionários. Seu objetivo é atingir a liderança por meio da excelência em tudo o
que faz, sendo superior em inovação, rapidez e crescimento.

Investe anualmente 18% de seu faturamento total em pesquisas e possui um histórico de


pioneirismo na criação e desenvolvimento de produtos farmacêuticos em diferentes áreas
terapêuticas, produtos esses que têm transformado e trazido maior alento à vida de milhões
de pessoas.

A Roche Farmacêutica acredita que o futuro do cuidado com a saúde está em manter o foco
no indivíduo. Ao buscar soluções criativas e inovadoras, que considerem as necessidades médi-
cas ainda não atendidas, e ao oferecer aos pacientes medicamentos científica e clinicamente
diferenciados e inovativos, a Roche demonstra seu compromisso com a saúde, o bem-estar e a
qualidade de vida do Homem.

Roche no Brasil
A Roche está no Brasil desde 14 de março de 1931 e tem sua sede administrativa em São
Paulo, no Bairro do Jaguaré e a fábrica de medicamentos no Rio de Janeiro, em Jacarepaguá.

Seu parque industrial no Brasil está entre os mais modernos do mundo, e, em termos
tecnológicos, (sistemas de produção e controle de qualidade), é comparado àqueles mantidos
pelo Grupo na Europa, Japão e Estados Unidos. A partir do ano 2000, a nossa fábrica de
medicamentos em Jacarepaguá recebeu um investimento da ordem de US$ 70 milhões para
ampliar suas linhas de produção. Com a reforma, que deve estar concluída em 2004, a
capacidade instalada passará das atuais 80 milhões de unidades/ano para 150 milhões de
unidades anuais.

Nas últimas 7 décadas , a Roche Farmacêutica lançou no mercado local diversos medica-
mentos de alta tecnologia, resultado de sua pesquisa e desenvolvimento próprios. A Roche
Brasil conta com mais de 1400 funcionários e consolida seu lugar de destaque no País e na
América Latina, mantendo sua posição de liderança no mercado farmacêutico brasileiro.

Essa liderança não só diz respeito à tecnologia, mas também ao compromisso que a Roche
tem com a saúde. Projetos com o intuito de informar e educar a classe médica são ações
embasadas nesse compromisso. Assim, o patrocínio ao projeto UTI-Beira-de-Leito caracteriza
o apoio que a Roche vem dando às atividades de Educação Médica Continuada.

“Os conceitos emitidos são de responsabilidade dos autores e não refletem


necessariamente a opinião de Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A.”
ÍNDICE
(Alfabét ico)
Acesso Arterial ................................................................................................................................................. 1
Analgesia em UTI ........................................................................................................................................... 5
Angina Instável (AI) e Infarto Agudo do M iocárdio sem Supradesnivelamento
de Segmento ST (IAM SSST) ............................................................................................................... 11
Asma Severa ................................................................................................................................................. 13
Bloqueio Neuromuscular em UTI ................................................................................................................. 15
Botulismo ...................................................................................................................................................... 18
Bradiarritmias - Distúrbios da Condução Atrioventricular .............................................................................. 19
Candidíase Sistêmica .................................................................................................................................... 21
Choque Cardiogênico .................................................................................................................................... 23
Coma M ixedematoso ................................................................................................................................... 25
Cricotireotomia .............................................................................................................................................. 27
Cuidados com o Doador de Órgãos .............................................................................................................. 28
Dengue .......................................................................................................................................................... 30
Derrame Pleural ............................................................................................................................................ 32
Dissecção Aórtica ........................................................................................................................................... 34
Dobutamina ................................................................................................................................................... 36
Dopamina ...................................................................................................................................................... 37
Drogas Vasoativas ......................................................................................................................................... 38
Edema Agudo Pulmonar Cardiogênico .......................................................................................................... 39
Encefalite por Toxoplasma ............................................................................................................................. 41
Encefalopatia Hepática .................................................................................................................................. 43
Febre Amarela ............................................................................................................................................... 46
Fibrilação Atrial .............................................................................................................................................. 48
Fibrilação Ventricular ..................................................................................................................................... 50
Flutter Atrial ................................................................................................................................................... 51
Hemoptise M aciça ........................................................................................................................................ 53
Herpes Zoster ................................................................................................................................................ 55
Hipertensão Intracraniana ............................................................................................................................. 57
Infarto Agudo do M iocárdio com Supradesnivelamento de Segmento ST ................................................... 60
Infecções Relacionadas a Cateteres ............................................................................................................. 63
Insuficiência Respiratória Aguda na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica .................................................. 68
Intoxicação por Barbitúricos .......................................................................................................................... 70
Intoxicação por Benzodiazepínicos ............................................................................................................... 72
Intoxicação por M onóxido de Carbono ........................................................................................................ 73
Intoxicações por Inseticidas Carbamatos ...................................................................................................... 75
Intoxicações por Inseticidas Organofosforados ............................................................................................. 77
Intoxicações por Raticidas Cumarínicos ........................................................................................................ 81
Isolamento em UTI - Normas ....................................................................................................................... 83
Leptospirose .................................................................................................................................................. 90
Malária .......................................................................................................................................................... 93
Marca-Passo Transvenoso ............................................................................................................................. 97
Marca-Passo Transcutâneo Temporário .......................................................................................................... 98
Meningite Criptocócica .................................................................................................................................. 99
M eningites Virais e Bacterianas .................................................................................................................. 101
Monitorização Ventilatória ........................................................................................................................... 106
M orte Encefálica: Diagnóstico ..................................................................................................................... 108
Nitroglicerina ............................................................................................................................................... 111
Nitroprussiato de Sódio ............................................................................................................................... 112
Norepinefrina, Bitatrarato de ...................................................................................................................... 113
Obstrução das vias aéreas superiores ........................................................................................................ 114
Pacientes Neutropênicos ............................................................................................................................. 115
Punção Venosa Profunda ............................................................................................................................ 117
Reposição Volêmica no Choque .................................................................................................................. 119
Sedação em UTI ......................................................................................................................................... 121
Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e Lesão Pulmonar Aguda (LPA) .............................. 125
Síndromes Aspirativas ................................................................................................................................. 128
Suporte Nutricional do Paciente Crítico ....................................................................................................... 130
Suporte Ventilatório Não-Invasivo .............................................................................................................. 133
Taquiarritmias Cardíacas ............................................................................................................................. 135
Taquicardia Ventricular Sustentada ............................................................................................................. 137
Taquicardias com QRS Estreito ................................................................................................................... 139
Terapia Nutricional na Insuficiência Renal .................................................................................................. 141
Terapia Nutricional na Insuficiência Respiratória ......................................................................................... 144
Terapia Nutricional na Sepse I .................................................................................................................... 146
Terapia Nutricional na Sepse II ................................................................................................................... 147
Terapia Nutricional na Insuficiência Hepática .............................................................................................. 149
Tétano ......................................................................................................................................................... 151
Torsades de Pointes .................................................................................................................................... 154
Traqueostomia ............................................................................................................................................. 155
Traqueostomia Percutânea .......................................................................................................................... 157
Tratamento das Reações Transfusionais...................................................................................................... 159
Uso de Hemoderivados .............................................................................................................................. 161
ÍNDICE
(Áreas de Int eresse)
Cardiologia
Angina Instável (AI) e Infarto Agudo do M iocárdio sem Supradesnivelamento de
Segmento ST (IAM SSST) ........................................................................................................... 11
Bradiarritmias - Distúrbios da Condução Atrioventricular ................................................................... 19
Choque Cardiogênico .......................................................................................................................... 23
Dissecção Aórtica ................................................................................................................................. 34
Edema Agudo Pulmonar Cardiogênico ............................................................................................... 39
Fibrilação Atrial .................................................................................................................................... 48
Fibrilação Ventricular ........................................................................................................................... 50
Flutter Atrial ......................................................................................................................................... 51
Infarto Agudo do M iocárdio com Supradesnivelamento de Segmento ST ....................................... 60
M arca-Passo Transcutâneo Temporário ............................................................................................... 98
M arca-Passo Transvenoso .................................................................................................................... 97
Punção Venosa Profunda ................................................................................................................... 117
Reposição Volêmica no Choque ........................................................................................................ 119
Taquiarritmias Cardíacas ................................................................................................................... 135
Taquicardia Ventricular Sustentada ................................................................................................... 137
Taquicardias com QRS Estreito ......................................................................................................... 139
Torsades de Pointes ........................................................................................................................... 154
Droga s Va soa t iva s
Dobutamina ......................................................................................................................................... 36
Dopamina ............................................................................................................................................ 37
Drogas Vasoativas ............................................................................................................................... 38
Nitroglicerina ...................................................................................................................................... 111
Nitroprussiato de Sódio ..................................................................................................................... 112
Norepinefrina, Bitatrarato de ............................................................................................................ 113
Hem at ologia
Tratamento das Reações Transfusionais ........................................................................................... 159
Uso de Hemoderivados ..................................................................................................................... 161
Int oxica çõe s Exóge na s
Intoxicação por Barbitúricos ................................................................................................................ 70
Intoxicação por Benzodiazepínicos ..................................................................................................... 72
Intoxicação por M onóxido de Carbono .............................................................................................. 73
Intoxicações por Inseticidas Carbamatos ........................................................................................... 75
Intoxicações por Inseticidas Organofosforados .................................................................................. 77
Intoxicações por Raticidas Cumarínicos ............................................................................................. 81
M et abolism o
Coma M ixedematoso ......................................................................................................................... 25
Encefalopatia Hepática ........................................................................................................................ 43
M olést ias Inf ecciosas
Botulismo ............................................................................................................................................. 18
Candidíase Sistêmica ........................................................................................................................... 21
Dengue ................................................................................................................................................ 30
Encefalite por Toxoplasma .................................................................................................................. 41
Febre Amarela ..................................................................................................................................... 46
Herpes Zoster ....................................................................................................................................... 55
Infecções Relacionadas a Cateteres ................................................................................................... 63
Isolamento em UTI - Normas ............................................................................................................ 83
Leptospirose ......................................................................................................................................... 90
M alária ................................................................................................................................................ 93
M eningite Criptocócica ........................................................................................................................ 99
M eningites Virais e Bacterianas ........................................................................................................ 101
Pacientes Neutropênicos .................................................................................................................... 115
Tétano ................................................................................................................................................ 151
Neurologia
Hipertensão Intracraniana ................................................................................................................... 57
M orte Encefálica: Diagnóstico .......................................................................................................... 108
Pneum ologia
Asma Severa ....................................................................................................................................... 13
Derrame Pleural ................................................................................................................................... 32
Hemoptise M aciça ............................................................................................................................... 53
Insuficiência Respiratória Aguda na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica ...................................... 68
M onitorização Ventilatória ................................................................................................................ 106
Obstrução das vias aéreas superiores .............................................................................................. 114
Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) e Lesão Pulmonar Aguda (LPA) .................. 125
Síndromes Aspirativas ....................................................................................................................... 128
Suporte Ventilatório Não-Invasivo .................................................................................................... 133
Procedim ent o
Traqueostomia Percutânea ................................................................................................................ 157
Traqueostomia ................................................................................................................................... 155
Acesso Arterial ....................................................................................................................................... 1
Cricotireotomia .................................................................................................................................... 27
Sedação, Analgesia e BNM
Analgesia em UTI ................................................................................................................................. 5
Bloqueio Neuromuscular em UTI ....................................................................................................... 15
Sedação em UTI ................................................................................................................................ 121
Suport e Nut ricional
Suporte Nutricional do Paciente Crítico ............................................................................................. 130
Terapia Nutricional na Insuficiência Hepática ................................................................................... 149
Terapia Nutricional na Insuficiência Renal ........................................................................................ 141
Terapia Nutricional na Insuficiência Respiratória .............................................................................. 144
Terapia Nutricional na Sepse I .......................................................................................................... 146
Terapia Nutricional na Sepse II ......................................................................................................... 147
Tra nspla nt e s
Cuidados com o Doador de Órgãos .................................................................................................... 28
Procedimentos Acesso Art erial 1

CONSULTOR: ralmente ao tendão flexor carpo radial (ob-


Marcelo Moock servado facilmente à manobra de flexão da
mão sob uma resistência). Possui duas pe-
COLABORADOR: quenas veias satélites (medial e lateral), e em
Bruno da Costa Rocha – Hospital Iguatemi – seu curso terminal a AR se anastomosa for-
São Paulo, SP mando o arco palmar profundo (APP). O
APP é produto também da circulação termi-
I NDICAÇÃO nal da artéria ulnar (AU), sendo ambas res-
ponsáveis pela perfusão da mão. No entanto
1. Monitoração da Pressão Arterial (PAM) a AU é dominante na formação do APP em
de modo invasivo: 90% dos indivíduos, em 95% dos casos
• Monitorização em vigência de drogas anastomosa-se com a AR.
vasoativas
• Cirurgia em pacientes de risco ASA 3 e 4 Teste de Allen: Tem como objetivo testar
• Cirurgia Cardiovascular e toráxica a perviedade do arco palmar profundo à
• Neurocirurgia complexa oclusão da AR. A princípio verifica-sepresença
do pulso radial e a projeção da AU que se
2. Colheita de gasimétrica arterial/exames de encontra medialmente ao tendão flexor co-
laboratório mum superficial. Eleva-se a mão acima do
3. Monitorização gasimétrica continua cotovelo, solicita-se que a feche com vigor.
4. Acesso para técnicas de hemodiálise Com a força oclui-se ambos pulsos, o pacien-
(femoral) te então abaixa e abre a mão rapidamente
5. Passagem de Balão Intra-aórtico (BIA) observando-se o tempo de enchimento capi-
(exclusivamente femoral-se por punção) lar (TEC) ao liberar a oclusão sob a artéria
6. Cateterismo cardíaco (inclusive trans- ulnar. Com:
radial) TEC<5 segundos – Pérvio APP até para
dissecção e ligadura da AR;
TEC<15s – Pérvio porém seguro apenas
V IAS DE ACESSO PREFERENCIAIS para punção transcutânea
TEC>15s – Não deverá ser manipulada a
Artéria radial AR.
Artéria pediosa
Artéria femoral Notas:
Artéria branquial/axilar (exceção) • A mão deverá estar aquecida ao teste.
Artéria ulnar (exceção) • Pode ser feito Teste de Allen modificado
utilizando-se oximetria de pulso sob os
A) A RTÉRIA RADIAL (AR) mesmos parâmentros.
• Não é factivel em estado de choque.
Anatomia: A AR é ramo terminal da ar-
téria branquial, tendo sua origem na fossa Técnica
antecubital. Segue profundamente no ante- • Preferencialmente na mão não domi-
braço pelo canal muscular mais externamen- nante
te formado pelo músculo supinador longo e • Realiza-se teste de Allen
internamente pelos músculos pronador re- • Posicionamento da mão com deflexão de
dondo e palmar maior, e durante seu trajeto 60 graus com coxim posteriormente
mais superficial de aproximadamente 5-8 cm • Imobilização é fundamental
medialmente ao radio (apófise estilosa) late- • Paramenteação cirúrgica (gorro, mascara,
2 Acesso Art erial Procedimentos

avental, luva, etc) Nota A onda de pulso pode estar alterada,


• Assepsia com solução iodada ou clorada além de problemas no sistema, por suboclusão
• Anestesia local com lidocaína 1 ou 2% proximal ou distal, diminuindo e aumentando
sem vasoconstrictor (até o espraiamento as ondas de pulso respectivamente. A
do anestésico por vezes há perda transitó- delaminação intimal e a presença de trombos
ria do pulso) também são fatores relacionados.
• Incisão puntiforme na pele sob o ponto
de punção (lâmina de bisturi no. 11 ou Complicações: O índice de oclusão da
com um bisel de agulha) artéria radial é em torno de 10%, com dura-
• Escolha do catéter e seu tamanho ção de cateterização de 72h em média com
• Posicionamento do catéter a 30 graus em Gelco 20. A oclusão é geralmente devido à
sentido cefálico trombose por manipulação, múltiplas tenta-
• Puncionado a artéria progressão do catéter tivas de punção, material utilizado, e é dire-
conforme o material tamente proporcional ao diâmetro do catéter,
• Conexão com sistema de mensuração sendo idiopaticamente maior em homens. No
(“domus” - monitor) entanto, é rara a oclusão ter manifestações
• Flash com solução heparinizada a 1% e clínicas. Pode haver necrose digital distal
manutenção mesmo em vigência de APP dominante pela
• Calibragem do sistema AU, nestes casos atribui-se à microem-
• Verificação da onda de pulso bolização e má perfusão sistêmica.
• Fixação com ponto Nylon 4-0 ou curativo
• Novamente verificação da onda de pulso Nota: Outro detalhe importante deve-se
após curativo (muito comum haver amor- a facilidade com que a AR tem espasmo,
tecimento da curva com curativos muito dificultante no processo de identificação do
oclusivos!) pulso principalmente após manipulação. Este
fato deve-se a presença de uma túnica média
Gelco/Angiocath®/Abocath® - Técni- com disposição em camadas de miócitos jus-
ca de catéter sobre agulha. Pode-se progredir tapostos formando uma arquitetura densa e
em direção ao pulso (30 a 45 graus de incli- com menor tecido conectivo.
nação) e ao refluxo de sangue arterializado
inserir o catéter; ou transfixando-se ambas as
paredes da artéria e ao retirá-lo delicadamente B) A RTÉRIA PEDIOSA (AP)
observar o refluxo de sangue inserindo o
catéter sobre a agulha. Uma manobra útil Anatomia: A AP encontra-se situada na
após o catéter encontrar-se no lúmen da ar- face anterior do pé, sendo ramo da artéria
téria é horizontalizá-lo (10 a 15 graus) antes tibial anterior, tem seu início após o ligamen-
de introduzir na artéria. Em geral os núme- to anular anterior. Possui trajeto superficial e
ros 18, 20 e 22 são os mais utilizados para tem a aponeurose superficial e a pele anteri-
adultos. ormente. Emite três ramos terminais não é
dominante em relação à circulação terminal.
Gelco com guia – Técnica identical à Em paralelo o nervo tibial anterior acompa-
descrita acima no entanto após refluxo de nha a AP.
sangue progride-se o guia que usualmente já
se encontra conectado ao sistema. Técnica específica:

Técnica de Seldinger – conforme descri- • Identificação do pulso! (Muitas vezes im-


to em acesso venoso central. possível devido à hipotemia, choque, e
Procedimentos Acesso Art erial 3

doença arterial obstrutiva crônica) • Anestesia local


• A anesthesia local criteriosa (O procedi- • Escolha do material
mento em geral é doloroso e em contra- • Posicionamento do catéter em 45 graus
partida muita infiltração local impossibi- • Progressão do catéter conforme a técnica
litará a identificação “a posteriore” do empregada (preferencialmente Técnica de
pulso) Seldinger)
• Imobilização do pé em posição neutra • Rotina de checagem descrita para AR em
• A seguir conforme descrito para AR caso de medida da pressão arterial média
(PAM)
Complicações: Isquemia e necrose digi- • Fixação com sutura de fio de Nylon 3-0
tal distal são raros assim como lesão nervosa. ou 4-0

Nota: Preferencialmente escolher catéte- Notas:


res menos calibrosos n 20 ou 22; ou optar • Utilização preferencialmente de catéteres
pela Técnica de Seldinger (existe material de menor diâmetro, e que possibilitem a
específico para punção em artérias de menor técnica de Seldinger. Para acesso vascular
caliber), por vezes difícil devido à necessida- em caso de passagem de catéter de diálise
de de delicada manipulação ao progredir o fio ou BIA, deverá ser disponível material para
guia ser afetada pelo pequeno calibre da arté- punção constando de agulha, fio guia,
ria ou movimento indesejado do paciente. dilatadores e catéter (em geral calibrosos
8F a 12F). Sendo portanto mandatório os
princípios da Técnica de Sendinger, o qual
C) A RTÉRIA FEM ORAL COM UM (AFC) evitará maior lesão arterial.
• O uso de gelcos especiais para acesso
Anatomia: A AFC situa-se profundamen- femoral, pode ser utilizado, lembrando que
te na região inguinofemoral. Ramo da artéria geralmente possuem 18F ou 20F e vem
ilíaca externa que após cruzar o ligamento com fio guia acoplado.
inguinal denomina-se AFC, situa-se lateral- • A utilização de Intracath deve ser evita-
mente a veia femoral e medialmente ao nervo do devido a maior injúria arterial; nestes
femoral. (método neumônico VAN). Tem casos optar pelo Intracath infantile (cor
uma extensão de aproximadamente 5 a 8 cm. verde).
Ao passar posteriormente ao triângulo de
Scarpa bifuca-se originando as artérias femoral Complicações: Sangramento, pseudo-
superficial e profunda. aneurisma e fístula arteriovenosa são mani-
festações distintas de mesma etiologia- lesão
• Técnica específica: arterial.
• Identificação do pulso (por vezes não sen- A isquemia distal ocorre numa incidên-
do possível devido à fatores adversos como cia significativa em catéteres de maior diâ-
obesidade, baixo DC, anasarca, doença metro (principalmente BIA), tem como im-
arterial obstrutiva crônica entre outros, portante etiologia anatômica a suboclusão/
pode-se obter sucesso com a punção até oclusão dos ramos femorais, devido a uma
anatomicamente dirigida ou “as cegas”) punção muito baixa (próxima a bifurcação)
• Localização 2-3 cm abaixo da prega ou punção seletiva das artérias femoral su-
inguinal, no terço medial entre a espinha perficial ou profunda.
ilíaca antero superior e o pubis.
• Paramentação cirúrgica rigorosa Nota: Preferencialmente manter a
• Assepsia com solução iodada ou clorada PAM<80 mmHg à retirada de catéter em
4 Acesso Art erial Procedimentos

posição femoral e deverá ser solicitado dis- ceção pois é de difícil palpação do pulso (me-
positivo autoestático de compressão local, nos de 15% em algumas series), e eventual-
permanecendo in loco por uma hora. mente pode estar associado à oclusão da ar-
téria radial ipsilateral já manipulada e por-
D) A RTÉRIA BRANQUIAL tanto potencializando o défict de perfusão
pelo arco palmar profundo.
Poderá ser puncionada em casos de exce-
ção, pois se trata de artéria de importância
dominante no membro superior, e principal- COM PLICAÇÕES GERAIS
mente em adultos uma eventual lesão (trom-
bose em até 25% em algumas séries de mani- • Infecção
pulação para CATE) evolui usualmente de • Trombose arterial
forma benigna, mas pode adivir isquemia • Embolia periférica
importante e até gangrena. • Lesão nervosa
• Isquemia distal
E) ARTÉRIA ULNAR • Hemorragia
• Pseudoaneurisma
Digno de nota esta possibilidade de ex- • Fístula arteriovenosa
Sedação, Analgesia e BNM Analgesia em UTI 5

CONSULTOR: ternativas farmacológicas e várias técnicas para


Rosa Goldstein Alheira Rocha empregá-las. Embora nem todas estas técni-
cas de analgesia sejam executadas em toda
I NTRODUÇÃO extensão pelo intensivista (instalação de cate-
Analgesia no paciente grave é definida ter epidural ou subaracnoídeo, por exemplo),
como diminuição ou ausência de sensações sua participação é fundamental para a condu-
dolorosas ou estímulos desagradáveis. Os pa- ção do procedimento, avaliação de sua eficácia
cientes graves na UTI têm dor e desconforto e controle de potenciais complicações. O mé-
provocados tanto pelas condições clínicas ou dico intensivista deve estar familiarizado com
cirúrgicas que o levaram até esse ambiente as técnicas correntes de analgesia e, particular-
como pelos procedimentos invasivos, quase mente, conhecer suas potenciais complicações.
sempre necessários.
Cateteres para monitorização, medicação e AVALIAÇÃO DA DOR
terapia nutricional, drenos, equipamentos para A dor deve ser avaliada antes e depois do
ventilação não invasiva, tubo traqueal, cuidados tratamento, para que se julgue a eficácia do
de enfermagem (curativos) e fisioterápicos (aspi- tratamento administrado e a adaptação ao
ração traqueal), fazem parte da extensa lista de mesmo.
situações relacionadas às sensações desagradá- O mais importante critério para avaliação
veis para o indivíduo gravemente enfermo. A dor é o relato do paciente, não obstante na Tera-
inadequadamente ou não tratada altera o ritmo pia Intensiva, muitas vezes se torna impossí-
de sono, levando a agitação e desorientação. Em vel obter informações diretas através de inter-
resposta a agitação sobrevém à taquicardia, au- rogatório. Quando aplicável, o interrogatório
mento do consumo de oxigênio pelo miocárdio deve contemplar:
e persistência da resposta catabólica. O risco de • Intensidade
complicações pulmonares também aumenta se • Caráter
a dor persiste e bloqueia ou prejudica os movi- • Região, órgão ou sistema comprometido(s)
mentos respiratórios. • Duração e padrão de ocorrência
O aparecimento de dor é melhor evitado • Etiologia
com a prescrição preventiva de analgésicos, A informação do paciente é a forma mais
formas de controle do tipo “se necessário” não confiável de avaliação da sintomatologia do-
trazem nenhum benefício podendo aumentar lorosa, geralmente ela não é possível e o acom-
sua intensidade. A administração EV contí- panhamento das modificações comporta-
nua ou “de horário” devem ser preferidas. A mentais (movimentos, expressão facial e pos-
via endovenosa requer doses menores que a tura) e fisiológicas (frequência cardíaca e res-
intramuscular. A terapêutica contínua da dor piratória, pressão arterial). Contudo tais si-
torna necessária a suspensão por um período nais podem levar a má interpretação na medi-
diário (despertar diário), para permitir da que estão presentes em situações clínicas
titulação mais adequada dos analgésicos. específicas de, por exemplo, hipóxia ou hipo-
volemia. A capacidade de comunicação do
I NDICAÇÕES indivíduo doente e os protocolos empregados
A aplicação de rotinas simplificadas de pela equipe no acompanhamento da dor e te-
analgesia é geralmente dificultada pela com- rapêutica analgésica são os determinantes da
plexidade dos problemas clínicos e a varieda- eficácia da avaliação.
de de situações, o que torna necessário indivi-
dualizar o tratamento. Por exemplo, a dor pós- AGENTES
operatória pode ser melhor controlada com 1. Opióides
intervenções preventivas Existem diversas al- A morfina e a fentanila são os principais
6 Analgesia em UTI Sedação, Analgesia e BNM

agentes utilizados, quando a analgesia essa última forma, é a disponível para admi-
sistêmica é considerada no tratamento da dor nistração parenteral.
aguda intensa do paciente grave. Há grande A analgesia obtida com 120 mg de codeína
variação das necessidades individuais de morfi- por via subcutânea equivale àquela conseguida
na A injeção epidural traz analgesia prolonga- com 10 mg de morfina. Seu uso contra-indica-
da, sem bloqueio motor ou instabilidade circu- do nos casos em que existem elevação da pres-
latória. A morfina difunde-se amplamente no são intracraniana ou dependência de drogas.
LCR, por isso, pode atingir centros respirató-
rios, provocando depressão respiratória tardia. 2. Antiinflamatórios não hormonais (AINEs)
Na instabilidade hemodinâmica, a Considerados a baixa potência e os efeitos
fentanila é preferencialmente indicada e, uma colaterais, esses analgésicos não são indicados
vez que diferentemente da morfina não pro- rotineiramente no tratamento prolongado de
voca liberação de histamina. A fentalina tem dor aguda (intensa) em pacientes graves em
maior volume de distribuição e menor vida Terapia Intensiva.
média de eliminação que a morfina e promove Sua administração prolongada associa-se a
intensa depressão respiratória. Seus meta- complicações expressivas, como disfunção
bólitos são inativos. Embora possa agir rapi- plaquetária, hemorragia digestiva e insuficiência
damente, tem eliminação prolongada, sobre- renal. A ação analgésica é mais efetiva em casos
tudo após grandes doses ou em injeção contí- de dores de pequena ou moderada intensidade
nua. A tolerância desenvolve-se rapidamente gerada por afecções viscerais, tegumentares,
e exige elevação progressiva da posologia, de musculares e articulares e inflamatórias. A asso-
intensidade moderada. ciação com medicamentos morfínicos é vantajo-
Alfentanila, sufentanila e remifentanila têm sa, pois tem locais e mecanismos de ação dife-
rápido início de ação e duração mais curta rentes, permitindo a utilização de doses meno-
que o fentanil. Isto reduz a possibilidade de res de ambas as drogas. Não existem estudos que
acúmulo em infusão prolongada e permite rá- comprovem que a combinação de um AINES á
pida reversão do efeito se interrompida a ad- outro proporcione analgesia superior que cada
ministração. A remifentanila não tem sido es- um isoladamente.
tudada amplamente em pacientes graves.
Outro opióide amplamente empregado na 3. Clonidina
prática médica, a meperidina ou petidina, face Imidazolínico, agonista parcial α2-
ao seu potencial de toxicidade, não é recomen- adrenérgico com efeito analgésico, sedativo,
dada para uso prolongado em pacientes graves. hipnótico, ansiolítico. Associa-se a hipotensão
Por outro lado, opióides menos potentes arterial e bradicardia, mas não parece poten-
como buprenorfina e nalbufina e tramadol são cializar os efeitos depressores respiratórios dos
opções justificadas no tratamento de dor agu- opióides.
da. Vale ressaltar, que o tramadol não altera a
atividade motora do esfincter do ducto biliar FÁRM ACOS UTILIZADOS
e ainda, retarda minimamente o trânsito
grastrointestinal. Morfina
A codeína é um derivado opióide, agonista • Farmacocinética: Início de ação - EV: cer-
m, usado para alívio da dor moderada, sofre ca de 1 min; IM: 5 min, SC: até 30 min,
desmetilação hepática sendo transformada em Oral e epidural: até 60 min. Pico de efei-
morfina, o que pode contribuir para a ação to: intravenosa: entre 5 e 20 min,
terapêutica. intramuscular: até 90 min, subcutânea:
Encontra-se disponível sob a forma de sais até 90 min, oral: 60 min, epidural ou raqui:
de sulfato e fosfato, por sua hidrossolubilidade até 90 min. Duração da ação: cerca de 4
Sedação, Analgesia e BNM Analgesia em UTI 7

horas; após injeção epidural, até 24 h. T1/ tardo do esvaziamento gástrico, Ileo,
2 a 1,65 min, b 180 min. Eliminação: he- Risco de efeitos adversos aumentado em
pática e renal. insuficiência renal, Rigidez torácica,
• Posologia: Injeção intravenosa (4 a 5 min): Convulsões (nor-meperidina): dose má-
2,5 a 15 mg. Injeção intramuscular ou xima diária, 1 g (20 mg.kg-1).
subcutânea: 2,5 a 20 mg. Injeção intra-
venosa contínua: 2 mg.h-1 Via oral: 10 a Buprenorfina
60 mg a cada 4 horas. • Farmacocinética: Início de ação: intra-
• Efeitos adversos: Miose, Bradicardia venosa <1 min; intramuscular 15 min,
(vagal), Hipotensão ortostática, Hista- Pico de efeito: intravenosa 5 a 20 min;
minoliberação, Depressão respiratória (tar- intramuscular, 1 hora, Duração da ação 6
dia, após injeção espinhal), Náuseas, vô- horas, Eliminação hepática e renal.
mitos, íleo, espasmo vias biliares, reten- • Posologia: EV,IM, SL: 0,3 a 0,6 mg (6 a
ção urinária, Efeito prolongado em insufi- 12 mcg.kg-1), a cada 6 ou 8 horas. Efeitos
ciência renal. adversos: Miose, prurido, Depressão res-
piratória, Pode precipitar abstinência (ati-
Fentanila vidade antagonista), Náusea, vômitos,
• Farmacocinética: Início de ação < 1 min obstipação, Resistente à naloxona.
após injeção intravenosa; epidural ou raqui,
4 a 10 min. Duração de ação: 30 a 60 min Nalbufina
após injeção intravenosa; espinhal, 1 a 2 • Farmacocinética: Início de ação 2 min,
horas. Eliminação hepática. Metabolismo hepático.
• Posologia: Injeção intravenosa, 25 a 100 • Posologia: Injeção intravenosa ou
mcg. (0,7 a 2 mcg.kg-1) . Injeção intra- intramuscular, 10 mg (a cada 3 ou 6 ho-
venosa contínua 50 a 500 mcg.h-1. ras), Injeção intravenosa contínua, 0,02 a
• Efeitos adversos: Miose, Bradicardia, Ri- 0,15 mg.kg-1.h-1.
gidez muscular (tronco; injeção rápida), • Efeitos adversos: Efeito “teto” para
Rápido desenvolvimento de tolerância, analgesia (0,15 mg.kg-1) e depressão res-
Depressão respiratória, Náuseas, vômitos, piratória (0,45 mg.kg-1), Náuseas, vômi-
íleo, espasmo vias biliares, retenção tos, íleo, espasmo vias biliares, retenção
urinária, Prurido após injeção espinhal, urinária, Reversão do efeito de opióides
Efeito prolongado em cirrrose. (atividade antagonista). Pode precipitar
abstinência em pacientes sob uso crônico
Meperidina de opióides.
• Farmacocinética: Início de ação: intra-
venosa, < 1 min; intramuscular, até 5 min. Tramadol
Pico de efeito: intravenosa, até 20 min; • Farmacocinética: Bem absorvido (90%)
intramuscular, até 50 min. Duração da após administração oral. Pico de concen-
ação: intravenosa ou intramuscular, 3 a 6 tração sérica: 2 horas. Metabolismo he-
horas. Metabolismo hepático. pático e eliminação renal.
• Posologia: Injeção intravenosa (lenta) 25 • Posologia: Via oral: 50 a 500 mg.dia-1,
a 100 mg (0,5 a 2 mg.kg-1) a cada 3 ou 4 Injeção intravenosa 100 mg a 400 mg.dia-
horas. Intramuscular 50 a 150 mg (1 a 3 1
lenta ou diluída.
mg.kg-1) a cada 3 ou 4 horas, Injeção • Efeitos adversos: convulsões, diaforese e
intravenosa contínua, 25 mg.h-1. taquicardia transitória (sobretudo após in-
• Efeitos adversos: Euforia, Miose, De- jeção endovenosa rápida), náuseas, vômi-
pressão miocárdica e respiratória, Re- tos e constipação.
8 Analgesia em UTI Sedação, Analgesia e BNM

Acetaminofen (Paracetamol) Associação com outros AINEs aumenta o


• Farmacocinética: Início de ação: 30 risco de nefrotoxicidade e efeitos adversos
minutos.Duração de ação 4 a 6 horas. gastro-intestinais.
• Posologia: Adultos: 500 mg a 1000 mg 3 a
4 vezes por dia. Dexmedetomidina
• Efeitos adversos: Hepatotóxico - • Farmacocinética: Inicio de ação até 6 mi-
Hepatoxicidade grave em alcoólatras nutos, Meia vida de eliminação 2 horas.
crônicos mesmo em doses terapêuti- • Posologia: 1mcg/ Kg em 10 a 20 minutos
cas, Hipersensibilidade, Administração EV seguido de 0,2 a 0,7 mcg / Kg/ h EV
com alimentos retarda a administra- contínuo.
ção, Barbitúricos, hidantoína e carba- • Efeitos Adversos: Bradicardia e hipotensão
mazepina aumentam o potencial de especialmente na presença de hipovolemia
hepatotoxicidade, Pode interferir com e tônus adrenérgico exacerbado.
medidads de glicemia em fitas rea-
gentes. Metaemoglobinemia. Monitorização da Analgesia
A dor aguda caracteriza-se por forte in-
Ketoprofeno tensidade e curta duração e pode ser avaliada
• Farmacocinética: Pico de ação: 2 a 4 ho- em escalas, que traduzem uma de suas carac-
ras. Duração de ação 4 a 6 horas. terísticas (a intensidade). Citam-se como
• Posologia: Adultos; 75 mg 3 vezes ao dia exemplos, as escalas analógica visual, numéri-
ou 50 mg 4 vezes ao dia, Dose máxima: ca, descritiva verbal e numérica verbal.
300 mg/ dia em 3 a 4 vezes. Analógica Visual - é validada para várias
• Observações: Ligação alta ás proteínas populações de pacientes, provavelmente mais
plasmáticas, Metabolização hepática, Eli- utilizadas na atualidade. Ela pode ser vertical
minação renal. É dialisável. ou horizontal, mas não deve ser mudada du-
rante a avaliação e pacients idosos podem ter
Tenoxicam dificuldade com ela.
• Farmacocinética: Pico de ação: 120min,
Metabolismo hepático, excreção biliar e Escala analógica visual
renal.
• Posologia: EV, VO,VR 20 mg ao dia (dose --------------------
única). 0 10
• Observações: Analgésico, antiinflamatório --------------------
e antipirético, Inibidor da agregação Ausência de dor Pior dor imaginável
plaquetária. Gastralgia, pirose (lesão da
mucosa gástrica). Numérica Verbal - Atribui valores numéri-
cos (0 a 10) à intensidade da dor. Também vali-
Diclofenaco de sódio dada e usada na avaliação de dor pós-operatória
• Farmacocinética: Duração de ação: 4 a 6 em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca,
horas, Eliminação hepática e renal. pode ser mais aplicável no paciente grave.
• Posologia: Injeção intravenosa, 25 a 100
mg a cada 8 horas. Dose diária máxima Escala numérica verbal
200 mg. 0 = ausência de dor
• Observações: Analgésico, antiinflamatório 10 = pior dor imaginável
e antipirético. Broncoespasmo, Hemor-
ragia digestiva (lesão da mucosa gástrica), A forma mais adequada de avaliação de
Miólise (injeção intramuscular profunda). dor dependerá do tipo de indivíduo enfermo,
Sedação, Analgesia e BNM Analgesia em UTI 9

sua habilidade ou capacidade de comunicar- Bloqueio epidural lombar


se e dos protocolos empregados pelo grupo de Pode ser intermitente ou contínuo (o úl-
assistência. timo é preferível). Indicado no tratamento da
dor no pós-operatório e no trauma da região
TÉCNICAS DE ANALGESIA inferior do abdomen, retroperitoneo, pelve e
extremidades inferiores, insuficiência vascular
Analgesia preventiva aguda.
Deve produzir suficiente bloqueio dos es- Coagulopatia e infecções no local da pun-
tímulos nociceptivos durante o procedimen- ção são contraindicações absolutas desta téc-
to cirúrgico até o pós-operatório precoce. São nica. Entre as complicações estão a punção
empregados anestésicos locais, opiópides e do espaço subdural, infecção e retenção
antiinflamatórios não esteróides. urinária.

Analgesia balanceada Analgesia controlada pelo paciente (PCA)


Consiste na associação de anestésicos lo- Titulação do analgésico em função da ne-
cais, opióides e AINEs (usualmente os dois cessidade individual. Permite que o tempo
primeiros administrados a nível espinhal), entre o aparecimento da dor e seu controle
visando potencializar o efeito desejado, redu- seja significativamente diminuido.
zir doses e minimizar efeitos secundários.
Plano terapêutico
Analgesia local ou regional 1. Interrogar (sempre que possível) sobre as
No tratamento da dor aguda perio- seguintes características da dor
peratória, pode diminuir resposta ao estresse - Intensidade
e riscos de tromboembolismo pulmonar, com- - Caráter
plicações pulmonares, problemas cardio- - Região, órgão ou sistema comprometido (s)
vasculares pós-operatórios, aumentando - Duração e padrão de ocorrência
significativamente o alívio da dor e diminuin- - Etiologia
do o consumo de opióide. 2. Informar ao paciente (sempre que possível)
- Do potencial de sua doença para dor
Bloqueio epidural torácico - Sobre como comunicar suas necessidades
Proporciona rápido início da analgesia e de acordo com os meios adequados (esca-
permite a redução das doses tanto de anesté- las de avaliação)
sicos locais como de opióides. - Dos objetivos da terapêutica analgésica
Analgesia pós-operatória em toracotomias 3. Prescrição que permita titulação da droga
e procedimentos de abdomen superior. Dor empregada e clara quanto aos objetivos
severa secundária a pancreatite aguda (região terapêuticos
torácica baixa). Fraturas múltiplas de coste- 4. Preferir administração contínua EV ou em
las. Está contraindicado na recusa do pacien- doses programadas
te, infecção da área de punção, distúrbios da 5. Escolher método de avaliação adequado a
coagulação e hipovolemia. cada paciente (escalas, alterações de com-
portamento ou parâmetros fisiológicos)
Bloqueio intercostal 6. Avaliação da dor e resposta a terapêutica
Produz analgesia efetiva com mínima de- analgésica a intervalos regulares
pressão respiratória central e disfunção 7. Quando a opção são os opióides: Fentanil
ventilatória, indicado na fratura de costelas. e morfina
Pneumotoráx e hipotensão são complicações 8. Inicio de ação rápido e instabilidade
relatadas. hemodinâmica: Fentanil
10 Analgesia em UTI Sedação, Analgesia e BNM

9. Terapia intermitente: Morfina risco de sangramento digestivo e distúrbios


10. Terapia adjunta aos opióides, casos sele- pépticos, estando liberados apenas sob acom-
cionados, tempo reduzido e acompanha- panhamento rigoroso e em algumas situações.
mento rigoroso: AINEs Novas alternativas como a dexmede-
11. Estabelecer terapêutica sedativa se ne- tomidina, podem vir a tornar-se interessantes
cessário. no tratamento da dor aguda de intensidade
moderada quando a depressão respiratória é
CONCLUSÕES indesejável.
Todo paciente grave deve receber tratamen- Embora a analgesia seja indiscutivelmen-
to rápido, efetivo e adequado da sintomatolgia te necessária, e somente após a mesma ser
dolorosa que venha a desenvolver. instituída é que se passa a pensar em ansiólise
Essa abordagem é geralmente obtida com ou sedação, muitas vezes o desconhecimento
técnicas de analgesia regional ou sistêmica, farmacológico e o temor do aparecimento de
que utilizam analgésicos opióides. efeitos adversos, levam a sub-utilização de
Com a solução da agressão tecidual re- drogas e a sofrimentos desnecessários.
duz-se a intensidade do estímulo álgico, e es-
tes agentes podem ser substituídos por técni- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
cas mais simples e outros fármacos menos 1. Amaral JL, Joaquim MRG, Rodrigues GR, Sakata
RK. Analgesia in Sedação, Analgesia e Bloqueio
potentes. Neuromuscular em UTI, Clínicas Brasileiras de
Algumas técnicas não são completamente Medicina Intensiva(2); 47,1996.
familiares ao intensivista, mas isso só faz 2. Amaral JL et al. Recomendações da Associação de
aumentar a necessidade de informação sobre Medicina Intensiva Brasileira sobre Analgesia,
Sedação e Bloqueio Neuromuscular em Terapia
as mesmas, par que aos menos se possa moni- Intensiva,1999.
torizar a terapêutica anti-álgicas 3. Jacobi J. et al. Clinical Pratical Guidelines for
Antiinflamatórios não esteróides tem res- sustained use of sedatives and analgesics in the
critically ill adult. Crit Care Med (30);119,2002.
trições amplas neste tipo de paciente, pelo alto
Cardiologia Angina Inst ável (AI) e Infart o Agudo do M iocárdio sem 11
Supradesnivelament o de Segment o ST (IAM SSST)

CONSULTORES: como de alto risco para morte ou IAM não fatal.


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori
ESTRATIFICAÇÃO CLÍNICA DE RISCO
COLABORADORES: Os pacientes que preenchem critérios diag-
Antonio Carlos Mugayar Bianco, UTI Hospital nósticos de AI / IAMSSST devem ser estrati-
Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP ficados com relação ao risco de morte e IAM
Luiz Antonio de Azambuja,Rafael Olivé Leite, não fatal, com finalidades prognóstica e terapêu-
Reinaldo Valeriano C. Pizzol, Irmandade da tica (estratégias diferentes nos diferentes grupos
Santa Casa de Misericórdia de Itapeva. Itapeva, SP de risco).
José Antônio Abrantes, Luiz Henrique Lorea de
Lorea, Irmandade da Santa Casa de Misericórdia Alto risco (presença de pelo menos um dos se-
de Pelotas. Pelotas, RS – Hospital FOB - Funda- guintes):
ção Ouro Branco • Sintomas isquêmicos se agravando nas últi-
mas 48h;
INTRODUÇÃO • Dor em repouso prolongada (>20 min) e
Principal causa de internação em unidades contínua;
de emergência nos Estados Unidos; • Edema pulmonar associado à isquemia, so-
Em geral resultam da rotura de placa pro de insuficiência mitral agravado ou re-
aterosclerótica e uma seqüência de eventos que cente, terceira bulha, estertores, hipotensão,
levam à redução do fluxo sanguíneo coronariano bradicardia ou taquicardia e/ou idade > 75
e conseqüente sofrimento miocárdico. anos;
Fazem parte de um espectro da mesma do- • Alterações dinâmicas do segmento ST no
ença cuja diferenciação se faz evolutivamente, a ECG (>0,05mV), bloqueio de ramo esquer-
partir da constatação de elevação sérica dos do recente ou taquicardia ventricular sus-
marcadores de necrose miocárdica. tentada;
• Elevação acentuada dos marcadores de
APRESENTAÇÃO CLÍNICA necrose miocárdica;
Três formas principais de apresentação: • troponinas (TnT ou TnI > 0,1ng/ml).
1. Angina de repouso - geralmente prolonga-
da, > 20 minutos; Risco intermediário (qualquer um, na ausência
2. Angina de início recente, pelo menos classe dos critérios para alto risco):
funcional III (mínimos esforços); • IAM ou revascularização miocárdica prévi-
3. Angina progressiva - mais freqüente, maior os, doença cerebrovascular ou periférica e/
duração ou limiar mais baixo para ou uso prévio de AAS;
desencadeamento. • Angina em repouso (>20min), ausente na
O paciente se queixa de um desconforto em apresentação, com probabilidade alta ou
região retroesternal ou epigástrica em aperto, moderada de doença coronariana. Angina
pressão, peso ou queimação. Geralmente apre- em repouso (<20min) ou aliviada com re-
senta irradiação para o membro superior esquer- pouso ou nitrato SL;
do, região cervical, ombro ou dorso. Podem exis- • Idade > 70 anos;
tir sintomas associados como dispnéia, náuseas, • Ondas T invertidas no ECG (>0,2mV) e/ou
vômitos e/ou sudorese. ondas Q patológicas;
Habitualmente o exame físico é pobre. En- • Elevação discreta dos marcadores de necrose
tretanto achados como edema agudo dos pul- - troponinas (TnT 0,01- 0,1ng/ml).
mões, piora ou surgimento de sopro de
regurgitação mitral, terceira bulha, hipotensão Baixo risco (qualquer um destes, sem achados de
e/ou bradicardia, podem caracterizar o paciente risco alto ou intermediário):
12 Angina Inst ável (AI) e Infart o Agudo do M iocárdio sem Cardiologia
Supradesnivelament o de Segment o ST (IAM SSST)

• Angina de início recente, classe III ou IV disfunção grave de ventrículo esquerdo. Uti-
(Canadian Cardiolgy Society), nas últimas lizar diltiazem 60mg VO três vezes ao dia
duas semanas, sem dor prolongada (>20min) ou verapamil 80-120mg VO 3x ao dia;
de repouso, mas com probabilidade mode- G) Administrar AAS 200mg VO imediatamen-
rada ou alta de doença coronariana; te e continuar indefinidamente em dose di-
• ECG normal ou inalterado; ária. Em caso de hipersensibilidade ao AAS
• Marcadores de necrose miocárdica ou intolerância gastrintestinal maior, utili-
negativos. zar clopidogrel, na dose de 75mg VO, diari-
amente (atenção: em caso de cirurgia de
ABORDAGEM TERAPÊUTICA revascularização miocárdica programada,
suspender o uso do clopidogrel 5 a 7 dias
AI Risco Intermediário ou Alto E Iamssst: antes);
A) Repouso no leito, sob monitorização contí- H) Iniciar anticoagulação com heparina de bai-
nua do ECG - detecção de isquemia e/ou xo peso molecular SC (ex: enoxaparina 1mg/
arritmias; kg a cada 12h) ou heparina não fracionada -
B) Administrar oxigênio sob a forma de cateter bolus IV de 5000UI, seguido de 1000UI/h
de O2 3l/min, na presença de hipoxemia, sob infusão contínua com o objetivo de man-
para manter SaO2>90%; ter valores de TTPA entre 1,5 a 2 vezes o
C) Dinitrato de isosorbida 5mg SL, em caso de controle laboratorial (50 a 70s);
apresentação com dor precordial, seguido I) Inibidores da glicoproteína IIbIIIa estão in-
de Nitroglicerina IV, na dose de 10mg/min, dicados na ausência de contra-indicações e
com incrementos de 10mg/min a cada 5 nos pacientes de alto risco. O tirofiban deve
minutos até melhora sintomática, redução ser administrado IV na dose de 0,4mg/kg/
da PAS ou aumento da freqüência cardíaca min por 30 minutos, seguida de infusão con-
(>10% do basal). Não utilizar os nitratos na tínua de 0,1mg/kg/min por 48h a 96h;
presença de PAS<100 ou se o paciente usou • Concomitante ao uso dos inibidores da
Sildenafil nas últimas 24h; GPIIbIIIa, preferir a heparina não fracionada;
D) Sedação e analgesia aos pacientes com dor • O abciximab só deverá ser utilizado como
isquêmica, refratários à terapêutica. Utilizar pré-tratamento para intervenção coronariana
sulfato de morfina IV, 1 a 5mg. Benzo- percutânea ou quando iniciado na sala da
diazepínicos de horário, caso não haja con- hemodinâmica;
tra-indicação; J) Indicações de cateterismo de emergência:
E) Betabloqueadores: primeira dose deve ser isquemia persistente e/ou instabilidade
administrada IV, na presença de dor hemodinâmica. A estratégia invasiva preco-
precordial e ausência de contra-indicações. ce (cateterismo nas primeiras 24 a 48h) deve
Utilizar metoprolol 5mg IV, sob infusão lenta ser considerada nos pacientes com qualquer
(1 a 2 min), a cada 5 minutos, até completar um dos indicadores de alto risco: isquemia
dose máxima de 15mg ou efeitos desejados recorrente, marcadores de necrose elevados,
(freqüência cardíaca 55 a 60bpm e/ou redu- instabilidade clínica, taquicardia ventricular
ção da PAS). Iniciar atenolol 25mg - 50mg sustentada, revascularização miocárdica pré-
VO a cada 12 horas, 15 minutos após a via ou angioplastia percutânea nos últimos
última administração IV, ou propranolol 6 meses.
10mg VO a cada 8 horas, titulando a dose;
F) Antagonistas dos canais de cálcio (derivados AI Risco Baixo:
não-dihidropiridínicos) devem ser adminis- Investigação através de testes não-invasivos
trados na presença de contra-indicações ao desencadeadores de isquemia - não necessitam
uso dos betabloqueadores e na ausência de de Terapia Intensiva.
Pneumologia Asm a Severa 13

CONSULTOR: Xantina
Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho • Aminofilina oral - 200 mg VO 6/6 h
• Aminofilina endovenosa 240 mg / 10
COLABORADORES: mL / 1 amp
André Albuquerque, Carmen Sílvia Valente - Ataque 5 - 6 mg/kg de peso (usuário
Barbas, Carlos Jardim, Eduardo Borges, crônico 2,5 a 3 mg/kg)
Eduardo Leite, Frederico Leon Arrabal - Manutenção 15 mg/kg/24 h (fumantes
Fernandes, Guilherme de Paula Pinto Schettino, 22 mg/kg/24 h)
Marcelo Britto Passos Amato, Pedro Caruso -
Unidade de Terapia Intensiva - Respiratória. Corticoesteróide
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina • Hidrocortisona 1 amp - 100 / 300 / 500 mg
da Universidade de São Paulo - Ataque 300 mg EV bolus
Giancarlo Sanches, José Ramos Martins - - Manutenção 100 a 200 mg EV 6/6 h
Unidade de Terapia Intensiva Hospital Univer-
sitário de Maringá • Metilprednisolona 1 amp - 125mg
- Ataque 125 mg EV bolus
1. PACIENTES A LTO RISCO - Manutenção 40 a 80 mg EV 6/6 h

• Crise anterior com risco de vida 3. I NDICAÇÕES DE V ENTILAÇÃO M ECÂNICA


• Intubação prévia por broncoespasmo
• Crise grave apesar de tratamento com • Piora da obstrução apesar do tratamen-
broncodilatadores e corticóides to clínico adequado
• Tratamento inadequado • Pico de fluxo expiratório < 100 L/min e
• Falta de adesão ao tratamento em declínio
• Retirada recente de corticóides • Incapacidade de falar
• Pulso paradoxal ascendente ou em
2. TRATAM ENTO FARM ACOLÓGICO declínio no paciente exausto
• Rebaixamento do estado de consciência
Broncodilatadores • Ausência de murmúrios vesiculares (tó-
rax silencioso)
• Formoterol inalatório 2,5 mg (10 go- • Hipercapnia (PaCO2 > 45 mmHg)
tas) diluído em 2 a 4 mL a cada 20 mi- • Hipoxemia (PaO2 < 60 mmHg ou SaO2
nutos, espaçar doses conforme melhora < 90%)
clínica • Fadiga da musculatura respiratória
• Salbutamol inalatório 5 mg (20 gotas) • Respiração paradoxal, alternância
diluído em 2 a 4 mL a cada 20 minutos, tóraco-abdominal
espaçar doses conforme melhora clínica
• Salbutamol injetável 1mL (500 mcg) 4. PARÂM ETROS VENTILATÓRIOS
- 8 mcg/Kg SC 4/4 h ou 5 mcg/min
EV (aumentar para 10 mcg/min con- • Tubo traqueal com grande calibre (maior
forme resposta clínica e freqüência ou igual a 8)
cardíaca) • PEEP entre 5 e 10 cmH2O ou 80% do
• Brometo de ipatrópio 250 a 500 mcg auto-PEEP (calculado pela manobra de
(20 a 40 gotas) diluídos em 2 a 4 mL a pausa expiratória)
cada 20 minutos, espaçar doses confor- • Iniciar FIO2 1 e baixar rapidamente
me melhora clínica objetivando SaO2 ≅ 95%
14 Asm a Severa Pneumologia

Tabela 1. Regulagem do vent ilador m ecânico na crise de asm a aguda


Parâm et ro Valor preconizado
1. Volume corrente 5-8 ml/Kg
2. Freqüência respiratória 8-12/min
3. Fluxo inspiratório (em volume controlado) 50-100 L/min
4. Pico de pressão (em volume controlado) < 50 cmH2 O
5. Pressão de platô < 30 cmH2 0
6. Relação I:E < 1:2 (1:3; 1:4; 1:5… )

Procurar obter-se: - Deterioração hemodinâmica


- Dificuldade para disparar o ventilador -
• pH > 7,2 aumenta o esforço do paciente
• PaCO2 > 40 e < 90 mmHg • Barotrauma
• PaO2 > 80 e < 100 mmHg - Hipoxemia
• PEEP total (PEEP < 15 cmH2O
- Deterioração hemodinâmica
+ auto PEEP)

8. D ESM AM E
5. EXAM ES COM PLEM ENTARES
• Gasometria arterial Tabela 2. Desm am e do pacient e
• Radiografia de tórax asm át ico do vent ilador m ecânico
• Hemograma completo 1. FIO2 < 40%
• Bioquímica 2. PEEP < 5 cmH20
3. pH > 7,3 e < 7,5
6. CUIDADOS ADICIONAIS 4. Broncoespasmo controlado
• Iniciar ventilação com paciente em
5. Resistência das vias aéreas < 20 cmH20/L/s
sedação profunda e, quando necessário,
6. Retirar curarização e depois a sedação
bloqueio neuro-muscular
• Evitar a aspiração freqüente de secreção 7. Desmame em PSV ou tubo T
• Evitar a instilação de água destilada na 8. Manter com máscara de venturi, inalação com
β2-agonista e corticosteróide endovenoso
cânula (usar soro fisiológico)
pós extubação
• Ventilação com gases halogenados ou com
mistura helio/oxigênio para broncoes-
pasmo refratário (medida de exceção) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
III Consenso Brasileiro de Asma. Jornal de Pneumologia
Volume 28 - Suplemento 1 - Jun 2002
7. COM PLICAÇÕES II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Jornal de
• Auto - PEEP Pneumologia Volume 26 - Número 2 - Mai 2000
Sedação, Analgesia e BNM Bloqueio Neurom uscular em UTI 15

CONSULTOR: dam a administração dos agentes blo-


Rosa Goldstein Alheira Rocha queadores, uma vez que estes fármacos
são desprovidos de ação analgésica e
D EFINIÇÃO sedativa.
Bloqueio neuromuscular (BNM) é a in- 2. Avaliação de eventual malefício que possa
terrupção total ou parcial da transmissão en- ser provocado por efeito adverso do agen-
tre a terminação nervosa motora e a placa te escolhido. A concomitância de doença
motora e se traduz clinicamente por paralisia cardiovascular limita a utilização de BNM
ou fraqueza muscular. Pode resultar da ação vagolíticos (p.ex pancurônio).
de drogas que interfiram com a síntese de 3. Avaliação de disfunções orgânicas, princi-
Acetilcolina (Ach), dificultem liberação de Ach palmente hepática e renal, que tornam
ou atuem nos receptores nicotínicos (como recomendável a administração de cisa-
os bloqueadores neuromusculares e os anes- tracúrio e atracúrio.
tésicos locais). 4. A administração dos BNM em “bolus” é
O BNM é empregado para induzir relaxa- potencialmente vantajosa em relação à
mento muscular, condição necessária em vári- administração contínua, exceção feita ao
as situações. As drogas responsáveis por estas cisatracúrio e atracúrio por sua curta du-
modificações na resposta neuromotora deter- ração de ação. Desse modo pode-se ava-
minam inibição da ativação do complexo re- liar nível de bloqueio, analgesia e limitar
ceptor-canal iônico da placa motora e são de- as complicações relacionadas ao bloqueio
nominadas bloqueadores neuromusculares. excessivo e prolongado.
5. Avaliação diária do nível de bloqueio
I NDICAÇÕES clinicamente e por monitorização da
A intubação traqueal é indicação unâni- resposta ao estímulo elétrico (TOF).
me, entretanto, em algumas outras situações Nível de bloqueio ajustado em uma a
pacientes internados em Terapia Intensiva po- duas respostas.
dem beneficiar-se de bloqueio neuromuscular. 6. A descontinuação da administração de
A administração de BNM deve, entretanto, BNM deve ser feita o mais precocemente
ser alternativa apenas quando outros modos possível quando estão sendo utilizados
de terapêutica tenham sido tentados (opióides corticóides.
e/ou sedativos): 7. Instituir profilaxia para Trombose Venosa
• Adaptação à ventilação mecânica: preve- Profunda e lesões de córnea.
nir assincronia, bloquear ciclos espontâ- 8. Detectar o aparecimento de taquifilaxia,
neos, otimizar trocas gasosas e facilitar a para a modificação do agente em uso.
inversão de relação respiratória
• Manejo da Hipertensão intracraniana FÁRM ACOS UTILIZADOS
• Controle de espasmos musculares: os
BNM evitam as contraturas muscula- Succinilcolina:
res associadas ao tétano, “overdose”, e • Farmacocinética: Início de ação: 1 a 2 min,
convulsões, sem tratar o mecanismo Duração. 2 a 4 min, Metabolização
determinante. plasmática, excreção (inalterada) renal
(10%).
PLANO TERAPÊUTICO • Posologia: Injeção intravenosa, 1 a 2
A utilização dos bloqueadores neuro- mg.kg-1.
musculares deve seguir alguns passos: • Efeitos adversos: Fasciculações, mialgia, Au-
1. É imprescindível que a analgesia adequa- mento da pressão intra-ocular e intra-
da e a seguir a sedação profunda antece- gástrica, Elevação do K+ sérico, acentua-
16 Bloqueio Neurom uscular em UTI Sedação, Analgesia e BNM

da em hiperpotassemia, lesões teciduais • Efeitos Adversos: Duração da ação prolon-


extensas e em situações associadas a atrofia gada em idosos, insuficiência renal e he-
muscular, Hipertermia maligna, rigidez de pática. Hipotensão arterial (vasodi-
masseter e miólise aguda (miopatias), latação), taquicardia e/ou aumento do
Arritmias cardíacas. tono broncomotor em função de libera-
• Observações: Efeitos colaterais limitam sua ção de histamina.
utilização às situações que exigem
intubação rápida. Rocurônio:
• Farmacocinética: Início de ação: 1 a 3 min,
Pancurônio: Duração 15 - 40 min, Metabolismo e
• Farmacocinética: Início de ação: 2 a 2,5 excreção hepática.
min, Duração 100 a 130 min, Excreção • Posologia: Injeção intravenosa, 0,6 a 1,2
(inalterada) renal (80%); metabolizado no mg.kg-1
fígado (20%) em derivados ativos. • Efeitos Adversos: Efeitos hemodinâmicos
• Posologia: Injeção intravenosa, 0,06 a 0,1 mínimos, Duração da ação prolongada em
mg.kg-1, Injeção intravenosa contínua, insuficiência hepática.
0,02 a 0,03 mg.kg-1.h-1.
• Efeitos Adversos: Duração da ação prolon- Vecurônio:
gada em insuficiências renal e/ou hepáti- • Farmacocinética: Início de ação: 2,5 a 3
ca, Taquicardia (efeito vagolítico) e au- min, Duração intermediária, T1/2 65- 75
mento da pressão arterial, Liberação de min, Metabolismo (5 a 10%) hepático;
histamina, rash cutâneo, broncoespasmo excreção hepática (25 a 50%) e renal
e hipotensão arterial. (35%).
• Posologia: Injeção intravenosa, 0,08 a 0,1
Atracúrio: mg.kg-1.
• Farmacocinética: Início de ação: 2 a 3 min, • Efeitos Adversos: Efeitos hemodinâmicos
Duração 20 min, Metabolizado no plas- mínimos, Duração da ação prolongada em
ma (hidrólise e degradação de Hoffmann) insuficiências hepática e/ou renal.
• Posologia: Injeção intravenosa, 0,3 a 0,5
mg.kg-1; manutenção 0,1 a 0,2 mg.kg-1 Cisatracúrio:
conforme necessário; Injeção intravenosa • Farmacocinética: Início de ação: em mé-
contínua, 2 a 15 mcg.kg-1.min-1. dia 2 min, Duração média: T1/2 22- 29
• Efeitos Adversos: Hipotensão arterial (vaso- min, Metabolizado no plasma (hidrólise e
dilatação), taquicardia e/ou aumento do degradação de Hoffmann)
tono broncomotor em função de libera- • Posologia: Injeção intravenosa 0,15 a 0,4
ção de histamina (associada à injeção mg.kg-1.
rápida). • Efeitos Adversos: Efeitos hemodinâmicos
mínimos.
Mivacúrio:
• Farmacocinética: Início de ação: 2 a 2,5 M ONITORIZAÇÃO
min, Duração, 2 a 3 min, Metabolizado A Avaliação tátil, visual ou eletrônica do
no plasma (hidrólise pela colinesterase tônus muscular do paciente em particular ou
plasmática). combinadas são freqüentemente utilizadas
• Posologia: Injeção intravenosa (lenta, 15 a para acompanhamento do grau de bloqueio.
30 segundos), 0,15 a 0,2 mg.kg-1, Injeção A estimulação de nervo periférico, reali-
intravenosa contínua, 5 a 30 mcg.kg- zada pelo “Train of Four” (Seqüência de Qua-
1.min-1. tro Estímulos), é ainda o método de mais fácil
Sedação, Analgesia e BNM Bloqueio Neurom uscular em UTI 17

execução. Consiste na aplicação de 4 estímu- decúbito, lesão nervosa por compressão e úl-
los tetânicos seqüenciais. A abolição de 1 ou 2 ceras de córnea
respostas indica bloqueio neuromuscular
(BNM) suficiente (SCCM). O número de res- CONCLUSÕES
postas que indiquem nível adequado de blo- Os bloqueadores neuromusculares (BNM)
queio é influenciado pelas condições gerais do inibem a transmissão do estímulo nervoso para
paciente, e a escolha do “melhor nervo” a ser fibra muscular, não exercendo atividade anal-
monitorizado pela facilidade de acesso, e a gésica ou sedativa. Torna-se, portanto, funda-
intensidade de respostas a serem considera- mental assegurar analgesia e sedação, antes e
das. Quando o paciente não apresenta ne- durante o bloqueio neuromuscular.
nhuma resposta, reduz-se a posologia. A monitorização clínica ou da resposta à
estimulação elétrica permite o ajuste de dose
COM PLICAÇÕES para produção do efeito desejado.
Ao indicar o bloqueio neuromuscular é As complicações inerentes à paralisia pro-
necessário pesar os potenciais benefícios e ris- longada, a utilização de agentes sedativos/anal-
cos associados a essa intervenção. Tem havido gésicos mais potentes e com mais proprieda-
um crescente desestímulo ao uso prolongado de, tornam a indicação de uso de BNM restri-
de bloqueadores neuromusculares na UTI tas a determinadas situações, tais como adap-
provavelmente pelos relatos de quadros de pa- tação a modos controlados de ventilação me-
ralisia após a suspensão dos BNM. Essas situ- cânica e menos freqüentemente controle de
ações são associadas à eventuais interações espasmos musculares.
medicamentosas desses agentes com anestési- Na maioria dos casos de pacientes graves ,
cos locais, aminoglicosídeos, quinidina, o pancuronio pode ser utilizado e naqueles
diuréticos, ou à desnutrição, disfunções hepá- indivíduos com siginificativa disfunção hepá-
tica e renal ou distúrbios metabólicos graves tica ou renal, atracúrio e cisatracúrio tornam-
subjacentes. se as opções terapêuticas.
Independente do tipo de BNM adminis-
trado pode desenvolver-se taquifilaxia que REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
obriga a escolha de outro agente se o bloqueio 1. Amaral JL, Rodrigues RC. Bloqueio Neuromuscular
in Sedação, Analgesia e Bloqueio Neuromuscular em
ainda é necessário. O bloqueio neuromuscular UTI, Clínicas Brasileiras de Medicina Intensiva(2);
induzido por agentes não despolarizantes pode 121,1996.
ainda ser acentuado na presença de Miastenia 2. Amaral JL et al. Recomendações da Associação de
Gravis, Distrofias, Esclerose Lateral Amio- Medicina Intensiva Brasileira.
3. Sobre Analgesia, Sedação e Bloqueio Neuromuscular
trófica, Esclerose Múltipla, Poliomielite. A em Terapia Intensiva,1999.
imobilidade pode ainda acarretar atrofia mus- 4. Murray MJ. et al. Clinical Guidelines for sustained
cular, miosite ossificante (ossificação hetero- neuromuscular blockade in the adult critically ill
patient. Crit Care Med (30);142,2002.
tópica), tromboembolismo, escaras de
18 Bot ulismo Moléstias Infecciosas

CONSULTOR: 3- Exames laboratoriais inespecíficos


Décio Diament • Hemograma: leucocitose com neutrofilia.
• Líquor: aumento discreto de proteínas e
COLABORADOR: glicose.
Redimir Goya, Hospital São Francisco, Fran-
cisco Beltrão, PR 4- Diagnóstico diferencial
• Intoxicações alimentares por outros agen-
I NTRODUÇÃO tes: salmonelose, shigelose, estafilococcia,
Bacillus cereus, etc.
É uma doença causada pelas exotoxinas • Intoxicações exógenas: pesticidas agríco-
neurotrópicas A, B e E do Clostridium las, glutamatos, atropina, beladona,
botulinum, um bacilo Gram-positivo anae- curare, favas, cogumelos, etc.
róbio esporulado e flagelado, que pode conta- • Doenças neurológicas: poliomielite,
minar alimentos ou ferimentos. A doença, se meningoencefalites, polineurites infecci-
não tratada em terapia intensiva, invariavel- osas ou tóxicas ou metabólicas, síndrome
mente leva ao óbito por paralisias musculares de Guillain-Barré, acidentes vasculares
e insuficiência respiratória aguda. cerebrais, miastenia gravis.
• Acidentes ofídicos e aracnídeos, intoxica-
DIAGNÓSTICO ções por peixes, triquinelose.

1- Quadro clínico TRATAM ENTO


• Período de incubação: duas horas a cinco
dias; média de 12 a 36 horas. 1- Tratamento específico
• Pródromos: cefaléia, alterações visuais, • Soro heterólogo anti-botulínico polivalente:
sonolência, vertigens, síncope, sensação 100.000 a 300.000 UI por dia por três a
de pálpebras pesadas, astenia, adinamia, cinco dias, por via intravenosa.
miastenia, dispnéia, náuseas, vômitos, • Antibioticoterapia: penicilina G cristali-
dores abdominais, anorexia, pirose e rara- na, 10 a 20 milhões de unidades intraveno-
mente, diarréia. samente por sete a 10 dias. A eficácia não
• Período de estado: paralisias de pares é comprovada.
cranianos, principalmente do II e III pa- • Desbridamento cirúrgico de feridas
res; insuficiência respiratória por parali- infectadas.
sia muscular; disfagia, disfonia e disartria; • Reduzir a absorção da toxina através de
boca seca, paresia gastrintestinal, dimi- lavagem gástrica e intestinal.
nuição das secreções digestivas e obsti-
pação intestinal; debilidade muscular com 2- Tratamento de suporte
predomínio da musculatura proximal e • Evitar agentes contendo magnésio, que
nucal - a cabeça pende para frente; pode piorar a ação da toxina.
taquicardia e parada cardíaca súbita; • Hidratação e controle do equilíbrio
atonia vesical. eletrolítico.
• Ventilação mecânica.
2- Diagnóstico laboratorial específico • Traqueostomia precoce.
• Detecção da toxina no sangue ou LCR • Antibioticoterapia das infecções secundárias.
através de teste imunoenzimático. • Corticóides: somente nos casos de insufi-
• Injeção do sangue suspeito no peritônio ciência supra-renal aguda por lesões das
de camundongos: observar o óbito do ani- glândulas ou nos casos de reações alérgi-
mal em até cerca de 48 horas. cas à soroterapia.
Cardiologia Bradiarrit mias - Dist úrbios da 19
Condução Atrioventricular

CONSULTORES: bach) = TIPO MOBITZ I (os bloqueios


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori ocorrem acima do feixe de His);
• BAV de alto grau (p.ex. 3:1 ou 4:1) -
COLABORADOR: TIPO MOBITZ II. Em geral o impulso
Antonio Carlos Mugayar Bianco, UTI Hospi- conduzido tem um QRS alargado e o
tal Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP sítio de bloqueio é mais baixo (abaixo do
Hospital Iguatemi, São Paulo, SP nó AV). ECG caracterizado por PR cons-
tante com onda P subitamente não
I NTRODUÇÃO conduzida.
Bradiarritmias e bloqueios de condução
são achados eletrocardiográficos comuns. BAV de terceiro grau:
Muitas dessas arritmias são assintomáticas e • Também conhecido como BAV total;
não necessitam terapia específica, enquanto • Pode ser adquirido ou congênito, sendo
outras oferecem risco elevado aos pacientes que o adquirido em geral ocorre por volta
necessitando de tratamento imediato; da sétima década, acometendo principal-
Tanto influências autonômicas quanto mente homens;
doenças intrínsecas do sistema de condução • Achado eletrocardiográfico: total disso-
cardíaco podem levar a bradicardia. As ciação atrioventricular.
síndromes coronarianas agudas, em especial,
podem afetar o sistema de condução do cora- APRESENTAÇÃO CLÍNICA
ção e produzir bradicardias - desde a O BAV de primeiro grau em geral não
bradicardia sinusal até o bloqueio atrio- produz sintomas;
ventricular (BAV) total; BAV de segundo grau: dificilmente pro-
Este protocolo aborda os distúrbios da duzirá sintomas, entretanto pode progredir
condução atrioventricular e seu manejo para o BAVT, principalmente nos seus graus
terapêutico. mais avançados;
Dependendo da freqüência do ritmo de
CLASSIFICAÇÃO escape ventricular, pacientes com BAV de ter-
ceiro grau podem apresentar fadiga intensa e
BAV de primeiro grau: síncope;
• Caracteriza-se pelo prolongamento do Achados no exame físico: variações na
intervalo PR acima de 0,20 s; amplitude de pulso e ondas de grande ampli-
• Pode ser uma variante do normal em 0,5% tude na pulsação venosa do pescoço (ondas a
de indivíduos adultos assintomáticos; em canhão - contração atrial contra valva
• Na maioria das vezes é causado por degene- tricúspide fechada).
ração idiopática do sistema de condução.
ABORDAGEM TERAPÊUTICA
BAV de segundo grau: Pacientes com BAV de primeiro grau e
• Caracteriza-se pela falência de condução Mobitz I raramente necessitam terapia espe-
ventricular de um ou mais estímulos atriais; cífica. Deve ser sempre afastada influência de
• O ritmo pode ser descrito pelo número substâncias ou medicamentos que bloqueiem
de ondas P relacionadas a um complexo a condução atrio-ventricular que, uma vez
QRS (p.ex. BAV de segundo grau 3:1); suspensos, possam reverter o quadro.
• Graus menores de BAV (p.ex. 4:3 ou 3:2) Marcapasso permanente é indicado para os
- intervalos PR variáveis com progressivo BAV Mobitz II e de terceiro grau;
aumento e retorno ao normal após estí- A) Abordagem inicial do paciente: acessar vias
mulo bloqueado (fenômeno de Wencke- aéreas, administrar oxigênio - cateter de
20 Bradiarrit mias - Dist úrbios da Cardiologia
Condução Atrioventricular

O2, acesso venoso, monitorização cardía- 4. Epinefrina IV em infusão contínua 2-


ca do ritmo, oxímetro de pulso, pressão 10mg/kg;
arterial não invasiva e realizar ECG de 12 C) Na ausência de sinais e sintomas de insta-
derivações; bilidade ou após a administração das me-
B) Bradicardia importante (<60bpm) + si- dicações acima descritas, avaliar ECG:
nais e sintomas de instabilidade? • BAV de segundo grau Mobitz II ou BAVT?
1. Administrar atropina 0,5 a 1,0mg IV em - SIM: Preparar paciente para marcapasso
bolus: transvenoso (considerar o marcapasso
- Reduz o bloqueio AV devido a hipervago- transcutâneo como “ponte”);
tonia, mas não por isquemia do nó AV; - NÃO: observar
- Mais útil para o BAV na presença de IAM
inferior que no IAM anterior; CONSIDERAÇÕES FINAIS:
- Não melhorará a condução infra-nodal - BAVT como complicação de IAM inferi-
portanto não melhorará BAV de terceiro or é geralmente temporário (no máximo até 2
grau; semanas);
- Não é efetiva em corações transplantados Já o BAVT decorrente do IAM anterior
- denervados; usualmente necessita de marcapasso perma-
2. Instalar marcapasso transcutâneo, se dis- nente;
ponível; O BAVT congênito muitas vezes tem rit-
3. Dopamina IV 5 a 20mg/kg/min - para mo de escape com freqüência ventricular ele-
aumento da FC; vada, sem necessitar implante de marcapasso.
Moléstias Infecciosas Candidíase Sist êm ica 21

CONSULTOR: lomas. Muitos pacientes desenvolvem quadro


Décio Diament clínico de sepse e choque séptico indistinguível
daquele observado nas infecções bacterianas.
COLABORADOR:
Aguinaldo Bicalho Ervilha Júnior, Hospital 3- Exames laboratoriais
Luxemburgo, Belo Horizonte, MG • Hemoculturas: quando positivas devem
ser interpretadas como causa da sepse.
I NTRODUÇÃO • Culturas de urina e secreções devem ser
A candidíase sistêmica ou disseminada é colhidas. Sua interpretação é difícil, pois a
um dilema clínico importante, pois muitos presença de Candida sp nem sempre signi-
pacientes de risco têm hemoculturas negati- fica doença, mas meramente colonização.
vas e não são identificados adequadamente na • Detecção de antígenos e anticorpos: alta
vigência do problema, enquanto que outros incidência de resultados falso-negativos.
têm o fungo isolado em espécimes onde habi- • Biópsias de órgãos afetados.
tualmente faz parte da flora local, como es-
carro, urina, fezes e pele, tornando difícil a Tratamento
interpretação dos exames microbiológicos. 1- Remover cateteres intravenosos suspeitos
e não usar o mesmo local para passagem
D IAGNÓSTICO do novo cateter, nem usar guia.
2- Antifúngicos: todos os pacientes com
1- Fatores de risco candidemia devem ser tratados, pois a
• Neoplasias: mais freqüente nas leucemias letalidade da doença pode chegar a 40%.
agudas. • Anfotericina-B deoxicolato (ABD -
• Imunodepressão: por doença, como AIDS Fungison®): indicada para todos os casos
ou autoimunidade ou como conseqüên- de pacientes graves, com instabilidade
cia de tratamentos, como quimioterapia, hemodinâmica e os neutropênicos febris.
corticóides, etc. As doses variam de 0,5 a 1 mg/kg/dia em
• Transplantes: devido à imunossupressão. dose única diária por via intravenosa.
• Grandes cirurgias: abdominais, cardiovas- • Anfotericina-B coloidal (ABCD - Am-
culares, etc. phocyl®) e anfotericina-B lipossomal
• Grande queimado. (Ambisome®): as formulações lipídicas da
• Insuficiência hepática. anfotericina são utilizadas nos pacientes
• Antibioticoterapia de largo espectro. que apresentam intolerância à ABD ou
• Nutrição parenteral. naqueles que são portadores de doenças
• Ventilação mecânica. limitantes ao uso da ABD, como insufici-
• Cateteres intravenosos. ência renal. Apesar de menos tóxicas, as
formulações lipídicas são muito mais ca-
2- Quadro clínico ras. As doses de ABCD são de 3 a 4 mg/
É muito variável e depende dos órgãos e kg/dia e do Ambisome de 3 a 5 mg/kg/dia
sistemas atingidos. Os envolvimentos mais fre- em dose única diária por via intravenosa.
qüentes são de rins, cérebro, miocárdio e • Fluconazol (Zoltec®): indicado nos casos
olhos; nos imunodeprimidos graves há estáveis e de menor gravidade. Espécies
envolvimento hepatoesplênico. Outros locais de Candida não-albicans podem ser resis-
atingidos com menor freqüência são os pul- tentes, como a C. kruzei e C. glabrata. A
mões, trato gastrintestinal, pele e órgãos dose é de 400 a 800 mg/dia ou 10 a 12
endócrinos. As manifestações clínicas decor- mg/kg/dia, divididos em duas doses a cada
rem da formação de microabcessos e granu- 12 horas, por via intravenosa inicialmen-
22 Candidíase Sist êm ica Moléstias Infecciosas

te. Posteriormente pode ser passada por é de 150 mg/kg/dia dividida em quatro
via oral. doses a cada seis horas. Não é disponível
• Itraconazol (Sporanox®): indicado somen- comercialmente no Brasil e só pode ser
te nos casos mais leves, pois só pode ser obtida por importação.
utilizado por via oral/enteral. A dose é de • Outros antifúngicos: estão em fase de es-
200 a 400 mg/dia por via oral ou sonda tudo a caspofungina (Cancidas ®) e o
enteral. Sua absorção é imprevisível nos voriconazol, ambos bastante promissores
casos mais graves de sepse. A formulação no tratamento de infecções por Candida
para aplicação intravenosa não está dis- sp em diversas situações clínicas, como
ponível para uso comercial. AIDS e imunodeprimidos. Estes medica-
• 5-Fluorocitosina (Ancotil® ou Anco- mentos ainda não foram liberados para
bon®): pode ser adicionada a anfotericina- uso comercial com esta indicação, estan-
B para efeito sinérgico, mas só pode ser do restritos ao tratamento da aspergilose
usada por via oral/enteral e resulta em resistente a anfotericina-B.
efeitos colaterais importantes, como de- 3- Tratamento de suporte: semelhante ao apli-
pressão medular e diarréia. Seu uso deve cado nos casos de sepse e choque séptico
ser reservado a casos selecionados. A dose de outras etiologias.
Cardiologia Choque Cardiogênico 23

CONSULTORES: revascularização miocárdica.


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori - Depressão miocárdica na sepse.

COLABORADORES: DIAGNÓSTICO
Omar de Tarso Gomes Bedin – Policlínica Clinicamente os pacientes se apresentam
Santa Amália S.C. Ltda hipotensos (PAS<90mmHg), oligúricos
Antonio Carlos Mugayar Bianco – UTI Hospi- (<20ml/h), com perfusão periférica ruim,
tal Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP torporosos e/ou agitados (por baixa perfusão
cerebral) e pele úmida e pegajosa. Podem apre-
I NTRODUÇÃO/CONCEITO sentar ou não congestão pulmonar associada,
Corresponde a uma das mais graves com- tendo implicações terapêuticas;
plicações do IAM, com uma incidência apro- O diagnóstico hemodinâmico é obtido por
ximada de 6 a 7%; meio da inserção do cateter de artéria pulmo-
A síndrome do choque cardiogênico é nar (Swan-Ganz) pelos critérios menciona-
definida como incapacidade do coração em dos acima, na presença de uma resistência
manter fluxo sanguíneo adequado aos teci- vascular sistêmica bastante elevada.
dos, resultando em deficiência metabólica,
mesmo em repouso, com conseqüente hipóxia EXAM ES COM PLEM ENTARES
tissular na presença de adequado volume 1. Radiografia de tórax - congestão pulmo-
intravascular; nar/cardiomegalia.
Hemodinamicamente traduz-se por al- 2. Eletrocardiograma - sinais de sobrecarga
guns parâmetros: 1) Pressão arterial de câmaras esquerdas/arritmias/isquemia
sistólica baixa (<90mmHg ou valor 30 miocárdica.
mmHg abaixo do valor basal por um pe- 3. Gasometria arterial - hipoxemia intensa,
ríodo mínimo de 30 minutos); 2) Diferen- retenção de CO2 pode indicar falência res-
ça arteriovenosa de oxigênio elevada piratória e necessidade de intubação
(>6ml/dl); 3) Queda do índice cardíaco orotraqueal.
(<2,2 l/min/m2 ). 4. Enzimas cardíacas (troponina, CKMB) -
sugestivas de isquemia miocárdica.
ETIOLOGIA 5. Ecocardiograma - avaliar função ven-
Ocorre em pacientes com disfunção tricular e possíveis complicações do IAM.
ventricular esquerda acentuada e quando cer- 6. Outros exames - alterações metabólicas,
ca de 40% da massa ventricular é comprome- anemia, sinais de infecção.
tida em função do IAM:
- Infarto agudo do miocárdio (VE e/ou VD). ABORDAGEM TERAPÊUTICA INICIAL
- Complicações mecânicas no pós-IAM: - Monitorizar o ritmo cardíaco, oximetria
Insuficiência mitral; CIV; Ruptura de pa- de pulso, obter acesso venoso (na emergência
rede livre. dar preferência a um acesso periférico, deven-
- Aneurisma de VE. do ser trocado por um acesso central assim
que a compensação inicial seja alcançada).
• Outras causas: Administrar O2 - manter SO2 > 90%.
- Miocardites.
- Estágios finais de miocardiopatias. AUSÊNCIA DE CONGESTÃO PULM ONAR CLÍNICA
- Obstruções na via de saída do VE (Esteno- Considerar a administração de volume -
se aórtica avançada, Cardiomiopatia hiper- utilizar solução salina isotônica, com quan-
trófica). tidade e velocidade de infusão de acordo
- Pós-operatório imediato de cirurgia de com os parâmetros clínicos (ausculta pul-
24 Choque Cardiogênico Cardiologia

monar, saturação de oxigênio no sangue 0,2mg a 0,4mg (p.ex. choque cardiogênico


periférico). com FA de alta resposta ventricular, dese-
jando efeito inotrópico e controle da fre-
Presença de sinais e sintomas de choque qüência cardíaca);
• PAS < 70mmHg: Iniciar Noradrenalina e/ou
em infusão IV contínua 0,5 mg/min, titu- 3. Vasodilatadores - recomenda-se o uso de
lando a dose, de acordo com resposta clí- nitroprussiato de sódio IV na dose de 0,1
nica. a 5mg/kg/min, titulando a dose conforme
• PAS > 70 mmHg e < 90mmHg: Dopamina o efeito hemodinâmico. Atenção: somen-
- administrar IV de maneira contínua na te administrar nos pacientes com PA esta-
dose de 5 a 20 mg/kg/min; ou Dobutamina bilizada em níveis de PAS superiores a
- IV, contínua na dose de 5 a 20 mg/kg/min. 100mmHg. Para o desmame dos vaso-
dilatadores IV, iniciar doses baixas de
Ausência de sinais e sintomas de choque inibidor da ECA (captopril 6,25mg VO a
• PAS > 90mmHg: Iniciar com Dobutamina cada 6 a 8 horas) e titular conforme a
na dose de 5 a 20 mg/kg/min. resposta clínica e hemodinâmica;
e/ou
Presença de congestão pulmonar clínica 4. Nitroglicerina - uso principal nos casos de
• PAS < 70mmHg - Iniciar Noradrenalina congestão pulmonar associada - vide pro-
IV, contínua; 0,5 mg/min, titulando a tocolo de edema agudo dos pulmões.
dose, de acordo com resposta clínica;
• PAS > 70 e < 90mmHg - Iniciar Dopa- Medidas adicionais:
mina IV, contínua, na dose de 5 a 20 mg/ 1. Passagem de cateter de Swan-Ganz para
kg/min monitorização hemodinâmica invasiva;
• PAS > 90mmHg - Iniciar Dobutamina IV, e/ou
contínua, na dose de 5 a 20 mg/kg/min 2. Balão intra-aórtico - aumenta a PAM, débi-
to cardíaco (em torno de 10 a 20%) e
Após estabilização da pressão arterial perfusão coronariana, reduzindo a pós-car-
Considerar o uso de: ga. Esta medida serve como uma “ponte”
1. Diuréticos - recomenda-se o uso de para procedimentos específicos como: ci-
furosemida IV na dose de 0,5 a 1,0 mg/kg rurgia de revascularização miocárdica, tra-
de peso, observando resposta clínica e tamento cirúrgico da valva mitral e de shunts
hemodinâmica; cardíacos ou transplante cardíaco. ATEN-
e/ou ÇÃO à contra-indicação absoluta: insuficiên-
2. Digital - deslanatosídeo C, IV, na dose de cia aórtica acentuada e dissecção de Aorta.
Metabolismo Com a M ixedem at oso 25

CONSULTOR: - reflexos tendinosos profundos diminuídos


Flávio Monteiro de Barros Maciel
2) Laboratorial:
CONCEITO - anemia
- hiponatremia
É o estado final de uma deficiência severa - hipoglicemia
do hormônio tireoidianos, situação em que o - aumento dos níveis séricos de colesterol e
paciente desenvolve falência de múltiplos de creatina-fosfoquinase (CPK) em torno
órgãos, podendo evoluir para coma e até de 500UI/L, podendo ser encontrados
mesmo morte. valores maiores que 1.000UI/L
- gasometria arterial apresenta retenção de
ETIOLOGIA CO2 e hipoxemia
- T4 total e T4 livre diminuído e TSH au-
A exata prevalência do coma mixedema- mentado
toso é desconhecida. Ocorre mais em mulhe-
res e idosos com hipotireoidismo subjacente e 3) Exames Complementares (ECG):
um ou mais fatores precipitantes sobrepostos. - bradicardia sinusal
- bloqueio cardíaco de vários graus
FATORES DE RISCO - achatamento de onda T

- exposição prolongada ao frio TRATAM ENTO


- infecção
- trauma O tratamento precoce e agressivo do
- cirurgia coma mixedematoso reduz significativamen-
- Infarto Agudo do Miocárdio te a taxa de mortalidade.
- Insuficiência Cardíaca Congestiva A) Medidas Gerais e de Suporte
- Embolia pulmonar - monitorização contínua da FC, PA PVC,
- Acidente Vascular Cerebral temperatura interna, pressão capilar pul-
- Insuficiência respiratória monar
- Hemorragia gastrintestinal - aquecimento do paciente de forma pas-
- Drogas com efeito depressor sobre o Sis- siva
tema Nervoso Central (sedativos e nar- - suporte ventilatório adequado
cóticos) - reposição de sangue de forma lenta
- reposição de sódio
D IAGNÓSTICO - corrigir hipotensão com SF0,9% caute-
losamente
1) Clínico: - administrar todas as drogas por via
- hipotermia (moderada a severa) endovenosa, pois a absorção tecidual e
- bradicardia pelo tubo gastrintestinal está muito dimi-
- hipoventilação nuída no hipotireoidismo severo.
- hipotensão
- derrame pericárdico B) Drogas:
- ascite - Tiroxina endovenosa (T4) – ATAQUE –
- íleo adinâmico 300 a 500 mcg ‘em bolus‘ em torno de 5
- convulsões minutos: MANUTENÇÃO –50 A 100
- estupor mcg por dia, até que o paciente inicie a
- coma medicação por via oral.
26 Com a M ixedem at oso Metabolismo

- Hidrocortisona – 200 a 400 mg por dia, PROGNÓSTICO


dividido em 3 a 4 vezes
No início, o coma mixedematoso apre-
COM PLICAÇÕES sentava péssimo prognóstico com mortalida-
de próxima de 100%, atualmente o prognós-
Fatores que estão relacionados a um mau tico é melhor, e a mortalidade é variável de 0
prognóstico: a 45%.
- idade avançada
- temperatura inferior a 34º C LEITURA RECOM ENDADA
- hipotermia persistente no terceiro dia de
tratamento - KNOBEL, E.: Condutas no paciente grave – 2ª edição.
ATHENEU, vol I: 506-509, 1999.
- freqüência cadíaca inferior a 44 bpm - BHASIN,S & TOM, L.: CHAPTER 32: Endocrine
- infecção problems in the critically ill patient – 594,595.
- Infarto Agudo do Miocárdio durante o - PARSONS E WEINER-KRONISK: Segredos em Tera-
tratamento pia Intensiva, 321,322.
Procedimentos Cricot ireot omia 27

CONSULTOR: TÉCNICA
Flávio Monteiro de Barros Maciel
1. Realizar uma breve assepsia e anti-sepsia
COLABORADORES: local;
Domingos Leonardo Cerávalo – UTI/ Hospi- 2. Anestesiar o local a ser puncionado com
tal Univ. (HU/UNOESTE) de Presidente 2mL de lidocaina a 2%.
Prudente (SP) 3. Identificar e apresentar a membrana
José Carlos Bachettini Jr, Luiz Henrique cricotireóide; palpar a fúrcula esternal
Lorea de Lorea – Santa Casa de Misericórdia 4. Fixar as cartilagens tireóides e cricóide com
de Pelotas (RS) – UTI Geral de Adultos a aplicação de uma discreta pressão digi-
Laerte de Oliveira Andrade Filho – Hospital tal com o polegar e o indicador.
Iguatemi, São Paulo - SP 5. Puncionar a membrana cricotireóide, ini-
cialmente direcionando-se a agulha per-
D EFINIÇÃO pendicularmente, até que se alcance as vias
aéreas; aplicar pressão negativa ao êmbolo.
É a designação da estomia conseguida atra- 6. A aspiração de ar significa penetração na
vés da punção da membrana cricotireóide com a traquéa.
utilização de uma agulha de grosso calibre. Sen- 7. Inclinar e introduzir em aproximadamente
do particularmente útil no atendimento de cri- 2cm o conjunto (agulha introdutora + ca-
anças menores de 12 anos por permitir ventilá- teter de teflon) no sentido crânio-caudal;
las de forma adequada por período de até 45 8. Empurrar suavemente o catéter para baixo;
minutos, até se obter preparo da intubação ou 9. Conectar um equipo de soro secionado
realização da cricotireotomia cirúrgica. de aproximadamente 10cm;
10. Colocar um adaptador de cânula endo-
I NDICAÇÕES traqueal infantil á outra extremidade do
equipo de soro;
Utilizada quando manobras básicas (ele- 11. Conectar o conjunto ao ressucitador ma-
vação do mento, tração da mandíbula, aspira- nual (AMBU) ; ofertar O2 suplementar
ção, cânula de Guedel) e avançadas (ventila- 12. Observar ausculta e insuflação pulmonar
ção pré-intubação, intubação endotraqueal, para verificar se a ventilação é adequada
cricotireoidostomia por punção cirúrgica) para
desobstrução das vias aéreas superiores, falha- PRECAUÇÕES E COM PLICAÇÕES:
rem em mantê-la patente ou permeável, ou
quando existe uma condição para sua utiliza- Acúmulo de CO2
ção, de imediato, como, por exemplo, na ocor- Perfuração da parte posterior da traquéa,
rência de lesão buco-maxilo-facial grave, as- perfuração esofágica
sociada à lesão de coluna cervical com pacien- Enfisema sub-cutâneo e mediastinal
te em apnéia. Ventilação inadequada, hipoxemia, morte
Aspiração de sangue, hematomia, lesão da
M ATERIAL tireóide

Intracath (agulha + cateter) LEITURA RECOM ENDADA


Seringa de 20 ml Mori, Newton Dji. Cricotireoidostomia e trauma. In:
Eguipo de soro BIROLINI D., UTIYAMA E.;STEINMAN E.; Cirurgia de
Ambu Emergência, 1ª. ed. São Paulo: Atheneu, 1993. p . 376-378
Fonte O2, lidocaína 2%
28 Cuidados com o Doador de Órgãos Transplantes

CONSULTOR: LEM BRETES


José Paulo Ladeira O óbito é constatado no momento do
diagnóstico de morte encefálica.
CUIDADOS NA M ANUTENÇÃO DO DOADOR DE ÓRGÃOS Causas mais freqüentes de ME: Trau-
1. Acessos vasculares adequados (preferen- matismo crânio-encefálico/Acidentes vas-
cialmente centrais) culares cerebrais / Encefalopatia Anóxica /
2. Tratamento da Hipotensão Tumor cerebral primário.
• Reposição volêmica vigorosa, com Prova calórica: injeção de 50 ml de solu-
cristalóides ou colóides; preferencial- ção salina ou água gelada no conduto auditivo
mente ringer-lactato. externo, na busca de ausência de movimentos
• PVC entre 8 e 10 cm H2O oculares (nistagmo horizontal em direção ao
• Dopamina se necessário (preferencial- estímulo na resposta normal).
mente até 10 µg/Kg/min); a dobutamina Teste da Apnéia: ventilar o paciente com
pode ser utilizada para suporte ino- FiO2 de 100% por um tempo mínimo de 10
trópico adicional. minutos, após os quais coleta-se gasometria
3. Controle metabólico arterial basal. Não hiperventilar em exagero
• Reposição eletrolítica conforme neces- (PaCO 2 <28 mmHg). Logo a seguir des-
sário (hipocalemia é o distúrbio mais conecta-se o paciente do ventilador, manten-
freqüente) do-se oferta de O 2 por cateter pelo tubo
• Reposição de Bicarbonato de Sódio na traqueal a 10 l/min. A observação contínua à
acidose metabólica beira do leito durante pelo menos 10 minutos
• Hiperglicemia severa deve ser tratada deve confirmar a ausência de movimentos res-
com insulina para minimizar a perda de piratórios; neste momento, uma segunda
volume por diurese osmótica. gasometria arterial deve ser coletada, sem o
4. Controle da Hipotermia ventilador. O critério de apnéia será positivo
• Calor irradiante (focos de luz sobre tó- se obviamente não houver movimentos respi-
rax/abdome) ratórios e a PaCO2 for maior que 60 mmHg
• Infusão e ventilação aquecidas (37-40º C) na segunda gasometria. Interrompe-se o teste
• Cobertor térmico caso haja movimentos respiratórios ou se hou-
5. Ventilação mecânica ver bradicardia severa, hipotensão ou assis-
• Volume corrente de 10 ml/Kg tolia, isto é, não apnéia ou não condições de
• Ajustar FR para manter PaCO 2 em tor- confirmar ME.
no de 40mmHg Doadores vítima de morte violenta, após
• Peep: 5cm H2 O a retirada dos órgãos, deverão ser autopsiados
• Menor FiO 2 para manter pO 2 em Instituto Médico Legal, onde será preen-
> 80mmHg chido o Atestado de Óbito; pacientes com
6. Uso regular de antibióticos profiláticos morte natural terão o Atestado de Óbito pre-
ou terapêuticos enchido no próprio hospital.
7. Manter Hb . 10g/dl A Parada cardíaca no potencial doador
8. Manter proteção ocular com gaze ume- deve ser tratada habitualmente, pois, quando
decida revertida, o órgão poderão ser retirados.
9. Coleta dos seguintes exames: hemo- Em geral, não devem ser considerados
grama, tipagem ABO e Rh, uréia, potenciais doadores cadáveres:
creatinina, eletrólitos, gases arteriais, ra- • Portadores de alguma insuficiência orgâ-
diografia do tórax (com PEEP de 5) e nica que comprometa o funcionamento
culturas, anti-HIV, HbsAg, anti-HCV, de órgão e tecidos que possam ser doados,
sorologia para CMV, Chagas e Lues. como insuficiências renal, hepática, car-
Transplantes Cuidados com o Doador de Órgãos 29

díaca, pulmonar, pancreática e medular; tumores restritos ao sistema nervoso cen-


• Portadores de infecções transmissíveis pelo tral, carcinoma baso-celular e carcinoma
órgão transplantado, como soropositivos de cérvix uterino in situ;
para HIV, Chagas, Hepatites B e C e as • Doenças degenerativas crônicas com ca-
demais contra-indicações para sangue e ráter de transmissibilidade.
hemoderivados. As sorologias para estas As córneas podem ser retiradas até 6 ho-
doenças devem ser realizadas o mais breve ras após a parada cardíaca, não sendo neces-
possível; quando não disponível na insti- sário o diagnóstico de morte encefálica; a
tuição, a equipe de captação providencia- retirada das córneas não necessita de ambi-
rá os exames; ente hospitalar, podendo ser retirada no do-
• Diagnóstico de Sepse ou Insuficiência de micílio ou no necrotério por profissional aci-
Múltiplos Órgãos e Sistemas; onado pela Central de Notificação e Capta-
• Portadores de neoplasias maligna, exceto ção de Órgãos.

Tecidos e Órgãos que podem ser doados:


Ór gão/Tecido Tem po m áxim o para ret irada Tem po m áxim o para
preservação ext racorpórea
Córneas 6 horas após PC* 7 dias
Osso s 6 horas após PC Até 5 anos
Pulm ões Antes da PC 4 a 6 horas
Coração Antes da PC 4 a 6 horas
Fígado Antes da PC 12 a 24 horas
Rins Até 30 minutos após PC Até 48 horas
Pâncreas Antes da PC 12 a 24 horas
10. * PC: Parada Cardíaca

TELEFONES ÚTEIS sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo


humano para fins de transplante e tratamento, e dá
Central Nacional de Transplantes: outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,
(61) 365-2379 (plantão 24 horas) n.º 123, p.13739, 01 julho 1997. Seção 1.
Sistema Nacional de Transplantes: 2. BRASIL. Lei n.º 9.434 - Dispõe sobre remoção de
(61) 315-2021 órgãos, tecidos e partes do corpo para fins de trans-
plante e tratamento e dá outras providências. Diário
Assoc. Brasileira de Transplantes de Oficial da União, 04/02/97.
Órgãos (ABTO): (11) 283-1753 3. BRASIL. Medida Provisória n.º 1.718, de 06 de
Outubro de 1998.
4. BRASIL. Portaria nº 905. Estabelece normas sobre
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: funcionamento das Comissões Intra-Hospitalares de
1. BRASIL. Decreto Lei n.º 2.268, de 30 de junho de
Transplante. Ministério da Saúde. 16 de agosto de
1997. Regulamenta a Lei n.º 9.934, que dispõe
2000.
30 Dengue Moléstias Infecciosas

CONSULTOR: cipalmente entre o terceiro e sétimo dia


Décio Diament da doença.
- A contagem de plaquetas é um dos critéri-
I NTRODUÇÃO os clínicos para caracterizar FHD e usual-
Dengue é uma doença usualmente be- mente ocorre antes do choque
nigna, causada por vírus RNA, do grupo dos - A elevação do hematócrito é indicativo de
Flavivírus, transmitida por mosquitos do gê- extravasamento de líquido do intravascular
nero Aedes e caracterizada por quadro clíni- por aumento da permeabilidade capilar.
co de início súbito com febre alta, dores mus- - Elevação das enzimas hepáticas são co-
culares intensas, sonolência e prostração, muns na dengue, porém são mais elevados
cefaléia, exantema máculo-papular ou na FHD.
petequial Esta forma é conhecida como den- A síndrome do choque da dengue é defi-
gue clássico (DC). Quando incide pela se- nida pelos mesmos critérios da dengue
gunda vez numa pessoa pode determinar for- hemorrágico associados a hipotensão arterial.
ma grave denominada dengue hemorrágico As formas graves são graduadas de acordo com
(DH) no qual predomina lesões cutâneas a tabela 1.
petequiais, purpúricas ou equimóticas, po-
dendo vir acompanhada de outros fenôme- Tabela 1: Est rat ificação da gravida-
nos hemorrágicos (epistaxe, hemoptise, de da dengue hem orrágico*
hematêmese, melena, etc) associado ou não Dengue Choque Grau I Febre, sintomas constitucio-
à síndrome de choque. O período de incuba- nais inespecíficos e prova do
ção varia de 3 a 14 dias. laço positiva* *
Grau II Grau I + sangrament os
D IAGNÓSTICO CLÍNICO E LABORATORIAL DA DENGUE cutâneos espontâneos ± ou-
tros sangramentos
O diagnóstico da dengue clássico deve ser
Grau III Choque, com taquicardia,
suspeitado em todo paciente que apresente os hipotensão, pele fria e pega-
seguintes sintomas e sinais: josa e agitação
• febre elevada de início abrupto; Grau IV Choque profundo com pres-
• cefaléia de forte intensidade acompanha- são não mensurável e ausên-
da de dor retrorbitária; cia de pulsos
• mialgias e artralgias; * De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A presença de hemoconcentração e plaquetopenia dife-
• exantema e hemorragias cutâneas; rencia a dengue hemorrágico da dengue clássico e de outras
• prova do laço é positiva (na maioria dos febres hemorrágicas.
* * Prova do laço: insuflar o esfignomanômetro numa ex-
casos); tremidade do paciente até atingir a pressão arterial mé-
• exames laboratoriais inespecíficos: dia, entre a sistólica e a diastólica e manter por até cinco
leucopenia e plaquetopenia. minutos ou quando positivo. A prova é considerada posi-
tiva quando aparecem três ou mais petéquias numa área
O dengue hemorrágico é definido como: de um centímetro quadrado. A prova pode ser falso-nega-
• febre; tiva nos casos de choque profundo.
• manifestações hemorrágicas (pelo menos
a prova do laço positiva); Diagnóstico diferencial: deve ser feito com
• plaquetopenia (<100.000 plaquetas/ a gripe, rubéola, sarampo e meningococcemia.
mm3); Outras doenças como a malária, febre tifóide,
• hemoconcentração (aumento de 20% ou leptospirose, hepatite, sepse e erlichiose po-
mais no hematócrito e evidências objetivas dem ter quadro clínico similar. As febres
de aumento da permeabilidade capilar); hemorrágicas, especialmente a febre amarela,
• Diagnóstico precoce da FHD: podem se confundir com as formas mais gra-
- Duração da doença: o choque ocorre prin- ves de dengue hemorrágico.
Moléstias Infecciosas Dengue 31

D IAGNÓSTICO LABORATORIAL ESPECÍFICO - hematócrito > 50%


Isolamento viral no sangue - na fase aguda. - contagem de plaquetas < 50.000/mm3
Disponível somente em laboratórios especia- - evidências de sangramentos diferentes
lizados, onde há o cultivo do vírus em linha- de petéquias
gens de células de mosquito com identificação 4.2- Reposição volêmica: de acordo com
do vírus por imunofluorescência direta ou indi- protocolo desenvolvido pela Organização
reta. Esta técnica é sensível e específica. Mundial da Saúde (OMS) que recomenda
Inoculação intracerebral em camundon- infusão inicial de solução de glicose a 5% com
gos recém-nascidos: técnica lenta, de baixa solução salina fisiológica na dose de 10 a 20
sensibilidade e cara. ml/kg de peso, infundidos rapidamente. A se-
Sorologia: métodos clássicos, como a ini- guir a infusão deve ser mantida na dose de 10
bição da hemaglutinação, fixação do com- a 20 ml/kg por hora até a recuperação dos
plemento, neutralização e ELISA-IgG po- sinais vitais e normalização do débito urinário.
dem ser utilizadas, mas requerem duas amos- A seguir a reposição de fluídos deve seguir o
tras, sendo a primeira na fase aguda e a se- balanço entre perdas e ganhos. A administra-
gunda após 15 a 20 dias, quando se espera ção de colóides pode normalizar a pressão
que os títulos de anticorpos subam pelo me- arterial mais rapidamente, em especial nas
nos quatro vezes o valor da primeira amos- crianças. Deve-se levar em conta que a admi-
tra, significando soroconversão de primo- nistração excessiva de volume pode induzir a
infecção ou resposta de memória numa se- edema pulmonar e conseqüente insuficiência
gunda infecção. Métodos que detectam respiratória. A monitorização da reposição de
anticorpos da classe IgM são preconizados fluídos deve ser monitorizada pelos mesmos
atualmente. O teste MAC-ELISA de captu- critérios clássicos utilizados no tratamento do
ra de IgM é o mais utilizado por ser simples, choque hipovolêmico. No caso específico da
rápido e eficaz. Com este teste 80% dos pa- FHD, a medida do hematócrito tem sido em-
cientes são positivos com cinco dias de evo- pregada com sucesso na avaliação da reposi-
lução da doença e 99% com 10 a 20 dias. A ção hídrica, considerando a diminuição do
IgM anti-dengue pode ser detectada até dois hematócrito para 40% como meta a ser
meses após início do quadro clínico. alcançada nos casos de hemoconcentração
Outros métodos: “Western-Blot” e a rea- bem documentada. A interrupção da admi-
ção em cadeia da polimerase (RT-PCR) ainda nistração endovenosa de fluidos deve ser
estão em fase experimental e parecem bastan- suspensa quando o indivíduo tiver normaliza-
tes promissores no futuro. do seus sinais vitais, hematócrito e débito
urinário.
TRATAM ENTO 4.3- Transfusão de sangue e derivados:
1. Não há nenhuma terapêutica específica monitorar a hemoglobina (hemoconcen-
contra o vírus da dengue. tração) e transfundir de acordo com a necessi-
2. Hidratação oral nos casos leves. dade. Nos casos de plaquetopenia severa
3. Analgésicos e antitérmicos: recomenda- (<10.000 plaquetas/mm3) e sangramento
mos o acetaminofen e a dipirona. Evitar o deve-se proceder à transfusão de plaquetas.
uso de ácido acetil-salicílico e antiinfla- 4.4- Complicações: Encefalopatia e in-
matórios não hormonais (favorecem os suficiência hepática são complicações pouco
fenômenos hemorrágicos e induzem a freqüentes, mas que podem ocorrer na FHD
síndrome de Reye nas crianças). e estão associadas à alta mortalidade. Con-
4. Medidas de suporte: vulsões e icterícia são manifestações indi-
4.1- Hospitalização: cadoras de gravidade e devem ser tratadas
- quando a PA < 90/60 mm Hg convencionalmente.
32 Derram e Pleural Pneumologia

CONSULTOR: de todo hemitórax e derrames septados e pode


Flávio Monteiro de Barros Maciel ser utilizado como guia para a taracocentese.

COLABORADORES: AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA SISTÊMICA


César Augusto Lemos, Sônia Ferraz de Andrade Hemograma, coagulograma, proteínas to-
Miranda - Hospital Infantil Joana de Gusmão tais e frações, Desidrogenase lática (DHL)

CONCEITO AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA LOCAL


A obtenção de amostra do fluído pleural
É um estado patológico caracterizado por determinará a natureza da efusão:
acúmulo de líquido (sangue, plasma, pus, ou linfa) 1. Proteínas, glicose, pH, DHL, densidade,
no espaço pleural, decorrente de um desequi- lipídios, citologia total e específica
líbrio da pressão coloidosmótica e ou hidrostática 2. Bacterioscopia e Cultura com TSA para ger-
dos capilares pulmonares da pleura pariental mes comuns e outros como M. tuberculosis
(sistêmicas) e da pleura visceral (pulmonares), (pesquisa de BAAR) e bactérias anaeróbicas.
ou ainda alteração da permeabilidade capilar, 3. Outros exames mais específicos como pes-
pleural, podendo levar à insuficiência respirató- quisa de células neoplásticas.
ria de graus variados.
TÉCNICA DE PUNÇÃO PLEURAL
AVALIAÇÃO CLÍNICA - Sedação/acesso vascular/ oxigenioterapia
- Contenção do paciente/ Anti-sepsia de todo
A sintomatologia depende dda velocidade o hemitórax
de instalação do derrame pleural, extensão do - Determinação do sítio de punção – No 5º ou
mesmo e condição mórbida (atual e prévia) 6º EIC na linha axilar média na borda superi-
associada.Ocorre tosse, dor torácica ventilatório- or da costela ou punção guiada sob ultra-
dependente, dispnéia com tiragens intercostais e sonografia.
diafragmáticas, gemência, ortopnéia, taquipnéia, - Observar caracteres macroscópicos do líqui-
diminuição do murmúrio vesicular do lado do do e encaminhar para avaliação complemen-
derrame pleural, macidez à percussão local, di- tar laboratorial
minuição do frêmito tátil e em estado mais gra- - Solicitar Rx Tórax após procedimento
ves desvio do mediastino com sinais de hipóxia
tecidual (cianose, palidez, sudorese, má perfusão). Complicações Punção Pleural: Hemotórax
(laceração arterial), pneumotórax, punção inad-
AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR vertida (pulmão, fígado, baço, rim).

RX TÓRAX ANTERO-POSTERIOR E DECÚBITO Biopsia Pleural (indicações específicas)


LATERAL (COM RAIOS HORIZONTAIS)
Todos os pacientes deverão realizar; pode se CLASSIFICAÇÃO
observar: Borramento dos seios costofrênicos e Após obtenção e avaliação laboratorial da
ou cardiofrênicos, opacificação do tórax alarga- amostra do líquido pleural, classificar fluido como:
mento dos septos intterlobares e desvio contra-
lateral do mediastino (em grandes coleções). TRANSUDATOS
Proteínas abaixo de 3 gr/dL
ULTRA-SONOGRAFIA DHL < 2/3 do nível sérico
Atualmente é um exame muito valioso, pois Relação proteínas pleural/ sérica < 0,5
não é invasivo e permite observar presença de Relação DHL pleural/ sérica < 0,6
derrames pequenos, derrames com opacificação Densidade < 1016
Pneumologia Derram e Pleural 33

Glicose = plasmática - Anti-sepsia, anestesia ampla de todos os pla-


pH entre 7,4 – 7,5 nos com lidocaína a 1%,
Leucócitos < 1000/mm3 (>%linfócitos) - Incisão 1,5 a 2 cm com divulsão dos planos
Raras hemácias com pinça hemostática curva.
- Penetração da cavidade pleural rente a borda
Exemplos: Insuficiência cardíaca congestiva, superior da costela inferior,
síndrome nefrótica, hiperhidratação, cirrose, - Colocação de dreno tubular multifenestrado,
glomerulonefrites, hipoalbuminemia, pericardite, mais usado em nosso meio, no quinto ou
diálise peritonial, obstrução de veia cava superi- sexto espaço intercostal na linha axilar média
or, cateter mal colocado de subclávia, etc. e fixação do mesmo.
- O líquido aspirado será encaminhado para
EXSUDATOS exame.
Proteínas acima de 3 gr/dL - Colocação de dreno associado a um interme-
DHL > 2/3 do nível sérico diário em sistema fechado sob selo de água
Relação proteínas pleural/ sérica > 0,5 (válvula unidirecional), com ou sem aspira-
Relação DHL pleural/ sérica > 0,6 ção contínua, a ser considerada em situações
Densidade > 1016 especíicas (hemotórax, pus muito espesso e
Glicose < plasmática fístula broncopleural).
pH < 7,3
Leucócitos > 1000/mm3 (purulento) ou COMPLICAÇÕES E I NTERCORRÊNCIAS DA DRENAGEM PLEURAL
Muitas hemácias (sanguinolento)
- Hemotórax (sangramento) – principalmente
Exemplos: infecções pleuropulmonares quando paciente apresenta algum distúrbio
(empiemas, pneumonias, abcesso subfrênico), da coagulação
trauma (ruptura de esôfago, hemotórax, - Pneumotórax por lesão pleural e no pulmão
quilotórax) embolia ou infarto pulmonar, tuber- com a agulha ou o próprio dreno.
culose, neoplasias, colagenoses (artrite reu- - Lesão de diafragma e vísceras abdominais
matóide, sarcoidose, lupus, vasculites, poli- - Obstrução do dreno
serosites), pancreatiles, infarto pulmonar, etc. - Espessamento pleural que pode levar a restri-
ção da expansibilidade pulmonar, necessita-
ABORDAGEM TERAPÊUTICA do de intervenção cirúrgica toracoscópica para
- Identificação e Tratamento da Causa Básica debridamento
(antibioticoterapia, Insuficiência Cardíaca).
- Drenagem Peural (toracocentese evacuadora) PROGNÓSTICO

INDICAÇÕES Vai depender da causa básica


Derrame Pleural hipertensivo (volumoso)
ou associado com pneumotórax RECOMENDAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Derrame Pleural Infeccioso (exsudato) Carvalho, Werther Brunow de; Hirschheimer, Mário Roberto;
Matsumoto, Toshio – Terapia Intensiva Pediátrica – Segunda
TÉCNICA Edição. Capítulo 112, Punção e Drenagem Pleural e
Pediátrica-João Alíssio Juliano Perfeito, SergioTomaz Schettini.
- Sedação/ acesso vascular/ oxigenioterapia Zimemmam, Jerry J. – PhD, MD; Fuhrman, Bradley P.- MD –
- Decúbito Dorsal com coxim no hemitórax Pediatric Critical Care – Second Edition – Chapter 16 –
contra-lateral e o membro do mesmo lado Diagnostic and Therapeutic Centeses – Thomas B. Rice;
Stephen P. Pontus,Jr
elevado, com antebraço posicionado na nuca, Respiratory Tract in Children – 6th Edition – SECTION III
objetivando-se o alargamento dos espaços Disorders of the Pleura, 389, 17 Air and Liquid in the Pleural
intercostais. Space, 389 Mark Morttgomery, M.D., F.R.C.P
34 Dissecção Aórt ica Cardiologia

CONSULTOR: - ENVOLVIMENTO DA AORTA AS-


Marcelo Moock CENDENTE (TIPO A) – inclui os tipos
I e II de De Bakey
COLABORADOR: - ENVOLVIMENTO DA AORTA DES-
Andréa Bezerra de Melo da Silveira – Hospi- CENDENTE (TIPOB) – inclui tipo III
tal Iguatemi. São Paulo, SP de De BARKEY

I NTRODUÇÃO A dissecção é considerada aguda se tem


menos de duas semanas de evolução e crônica
A dissecção aórtica é um quadro grave se evolui em um tempo superior.
causado pelo laceração da túnica íntima, le- A incidência desta patologia é maior no
vando à formação de um falso canal dentro sexo masculino, em hipertensos de meia ida-
da túnica media da aorta. O sangue no falso de. No sexo feminino é associado ao último
canal pode retornar para a luz verdadeira trimeste gestacional.
através de uma segunda laceração na túnica Tipicamente, a dissecção da aorta resulta
íntima ou fluir para tecidos periaórticos, em súbita e grave dor torácica e de acordo com
através da ruptura da túnica adventícia. O sua orientação a dor pode irradiar-se para o
caminho que assume a dissecção é impre- dorso e/ou região epigástrica. Déficits de pulso
visível: superior e retrogrado à válvula aórtica e sinais neurológicos podem ocorrer e uma dis-
e artérias coronárias ou anterógrado à aorta secção próxima pode gerar insuficiência aórtica.
abdominal ou ambos. As manifestações Alargamento do mediastino no Rx tórax pode-
hemodinâmicas e achados clínicos depen- rá ser encontrado, porém um achado normal
dem da via assumida pela dissecção. A mai- não exclui o diagnóstico. Um ecocardiograma
oria das dissecções surge na aorta ascenden- transesofágico ou Tomografia Computadorizada
te, alguns centímetros acima da implanta- deve ser obtido imediatamente diante de uma
ção da válvula aórtica ou na aorta descen- suspeita de dissecção aórtica.
dente toráxica, logo após a origem da arté-
ria subclávia esquerda na região do ligamen- TRATAM ENTO
to arterioso. A hipertensão arterial desem-
penha importante papel na maioria dos ca- O tratamento de emergência inclui
sos, porém a síndrome de Marfan também betabloqueadores e controle dos níveis
predispões os pacientes a dissecção aórtica. pressóricos. Abordagem cirúrgica imediata
geralmente está indicada nas dissecções
CLASSIFICAÇÃO E Q UADRO CLÍNICO proximais (tipo A). Nas dissecções tipo B não
complicadas o tratamento conservador é a
A classificação mais prática é aquela pro- melhor escolha inicial.
posta por Daily e cols., baseada no curso clí- A seguir, (Tabela) abordaremos algumas
nico e prognóstico em que os pacientes são diferenças encontradas nos quadros de
divididos em dois grupos: aneurisma e dissecção aórticos.
Cardiologia Dissecção Aórt ica 35

Tabela – Dissecção de Aort a X Aneurism a de Aort a


Aneurisma de Aorta Dissecção de Aorta
ETIOLOGIA Aterosclerose Hipertensão arterial
Síndrome de M arfan
Necrose cística da túnica média
Coarctação aórtica
Trauma
LOCALIZAÇÃO Geralmente abdominal (entre Tipo I – Aorta toráxica ascendente
artérias renais e bifurcação proximal até aorta descendente
aórtica) Tipo II – confinado à aorta toráxica
ascendente
Tipo III (tipo B) – início na aorta
descendente com extensão distal
Tipo A = I+ II
Tipo B = III
Manifestações clínicas Homens idosos geralmente Dor toráxica intensa, súbita lancinante;
assintomáticos até a ruptura de acordo com a localização da
Plenitude ou pulsações dissecção pode irradiar-se para o dorso
abdominais, dor no dorso ou ou abdomen. Oclusão de ramos da
epigástrico, que piora logo aorta podendo causar AVC ou
antes da ruptura isquemia da medula espinhal, de
membros, mesentérica ou renal.
Envolvimento da raiz da aorta
causando insuficiência valvar ou
ruptura para dentro do pericárdio com
tamponamento cardíaco
EXAM E FÍSICO M assa abdominal pulsátil Hipertensão
Embalos periféricos Pulsos assimétricos
Doença vascular periférica Déficits neurológicos
Insuficiência aórtica
Choque hipovolêmico
LABORATÓRIO Ultra-sonografia ou TC Rx tórax: alargamento do mediastino
abdômen Ecocardiograma Transtoráxico e
transesofágicoTC ou ressonância
nuclear magnéticaAngiografia pode
ser necessária para definição da
anatomia cirúrgica.
TRATAM ENTO Assintomático e menor que 4 Controle dos níveis pressóricos
cm – Tratamento clínico (Betabloqueadores e Nitroprussinato
Sintomático, crescente ou de sódio)Dissecção tipo:
maior que 5 cm – Tratamento A – Tratamento cirúrgico
cirúrgico B – Complicada: tratamento cirúrgico
B – Não-complicada:
Tratamento conservador com
estabilização clínica
36 Dobut am ina Drogas Vasoativas

CONSULTOR: FARM ACODINÂM ICA


Marcelo Moock Catecolamina sintética que estimula re-
ceptores beta 1 adrenérgicos. Tem ação
COLABORADOR: inotrópica. Na dose terapeûtica reduz a Re-
Firmino Haag Ferreira Junior, Hospital Geral de sistência Vascular Sistêmica (pós-carga) e re-
São Matheus - Manoel Bifulco, São Paulo, SP duz as pressões de enchimento do Ventrículo
Esquerdo
• Classificação Farmacológica: Adrenérgico
ß1 Agonista FARM ACOCINÉTICA
• Classificação Terapêutica: Inotrópico • Absorção: Início da ação em 2 minutos.
Dura até 10 minutos.
APRESENTAÇÃO • Distribuição: Ampla.
Injetável: Ampolas de 20 mL com 250 mg. • Metabolismo: Inativada no fígado
(metilação).
I NDICAÇÕES, VIAS E DOSES (A DULTOS E CRIANÇAS) • Excreção: Bile e Urina.
Inotrópico: 2,5 a 10 mcg/kg/mim. Excep-
cionalmente até 40mcg/kg/min. CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS
Via intravenosa, em infusão contínua. Ajuste a volemia antes de administrar
Diluição recomendada para adultos: dobutamina; use bomba de infusão; certifi-
que-se sobre a qualidade do acesso venoso,
SG5% 230mL
não misture na mesma linha de infusão com
Dobutamina (Dobutrex® ) 020mL 1mg/mL bicarbonato, heparina, hidrocortisona,
Tot al 250m L cefalosporinas e penicilina.
Drogas Vasoativas Dopam ina 37

CONSULTOR: nérgicos e alfaadrenérgicos. Efeitos dependen-


Marcelo Moock tes das doses. Doses baixas a moderadas deter-
minam efeito inotrópico e aumento do fluxo
• Classificação Farmacológica: Adrenérgico renal e mesentérico. Doses elevadas determi-
• Classificação Terapêutica: Inotrópico e nam aumento da resistência vascular sistêmica
vasopressor (efeito alfaadrenérgico) e aumento do inotro-
pismo (efeito betaadrenérgico).
APRESENTAÇÃO
Injetável: Ampolas de 10 mL com 50 mg. FARM ACOCINÉTICA
Indicações, Vias e Doses (Adultos e • Absorção: Início da ação em 5 minutos.
crianças) Dura até 10 minutos.
Aumento do fluxo renal: 1 a 2 mcg/kg/min • Distribuição: Ampla. Não cruza a barrei-
Inotrópico: 2,5 a 10 mcg/kg/mim ra hemato-cefálica
Vasopressor: > 10 mcg/kg/min • Metabolismo: Inativada no fígado e plas-
Via intravenosa em infusão contínua. ma pela mono amino oxidase. Cerca
25% se transforma em nor adrenalina.
Diluição recomendada para adultos: • Excreção: Urina.

SG5% 200mL CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS


Dopamina (Revivan® ) 50mL 1mg/mL Ajuste a volemia antes de administrar
dopamina; use bomba de infusão; certifique-
se sobre a qualidade do acesso venoso. Em
FARM ACODINÂM ICA caso de extravasamento infiltre no local 10
Precursor imediato da nor adrenalina esti- mL de salina com 10 mg de fentolamina, usan-
mula os receptores dopaminérgicos, betaadre- do agulha fina.
38 Drogas Vasoat ivas Drogas Vasoativas

CONSULTOR: uso de inotrópicos é indicado. Naqueles que


Marcelo Moock apresentam IC acima deste valor, mas perma-
necem com sinais de má perfusão (oligúria, BE
COLABORADORES: alargado, lactato alto, SvO2 baixo, VO2 bai-
Leandro Taniguchi, Médico Assistente - UTI da xo), o uso de inotrópicos também é indicado.
Disciplina de Emergências Clínicas Norepinefrina e dopamina são vaso-
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina pressores de primeira linha eficazes. Em cho-
da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP que séptico, dar preferência à norepinefrina,
Lucas Vieira, Hospital Iguatemi. São Paulo, SP pois dopamina pode ter efeitos indesejáveis
como taquicardia e imunossupressão.
OBJETIVOS Dopamina em dose “renal” não é efetiva
Manter pressão arterial adequada e em reverter ou prevenir disfunção renal e/ou
perfusão tecidual quando a reposição volêmica mesentérica, sendo seu uso com tal intuito
adequada não consegue fazê-lo. desencorajado, seja isolado ou em associação.
Dar suporte inotrópico para otimização Em pacientes sépticos com uso de dro-
do débito cardíaco conforme necessário. gas vasoativas por mais de 48 horas, o uso
de corticóides é indicado (100 mg de
TIPOS DE DROGAS VASOATIVAS E M ONITORIZAÇÃO hidrocortisona de 8/8 horas EV por cinco
A terapia vasopressora não deve ser ini- dias). Se após cinco dias não houver respos-
ciada a não ser que o paciente esteja com a ta, retirar a medicação. Se houver diminui-
volemia ajustada. O uso de vasopressores pode ção das drogas vasoativas, baixar para 50
ser necessário de forma transitória, mesmo mg 8/8 horas por mais 4 dias e depois para
com a volemia não adequada, quando ocorrer 25 mg 8/8 horas por mais quatro dias e por
hipotensão importante. fim retirar a medicação.
Pressão arterial deve ser o objetivo da te- Quando acessar DO2 e VO2, procurar
rapia vasopressora e a restauração de perfusão avaliar por métodos diretos para se evitar er-
adequada o critério de efetividade. Em geral, ros por acoplamento matemático.
PAM acima de 60-65 mmHg em um paciente Não ter como objetivo valores pré-defini-
ressuscitado do ponto de vista volêmico é o dos de DO2 e VO2, mas avaliar cada caso,
adequado. pois forçar uma estratégia rotineira de aumen-
Em pacientes com IC baixo (menor que tos da oferta do oxigênio tem resultados
3l/min/m2) apesar de pré-carga otimizada, o conflitantes e até lesivos.
Cardiologia Edem a Agudo Pulm onar Cardiogênico 39

CONSULTORES: batimento de asa do nariz);


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori Sinais de liberação adrenérgica - sudorese
profusa, taquicardia, hipertensão arterial, pa-
COLABORADORES: lidez cutânea e ansiedade;
Omar de Tarso Gomes Bedin, Policlínica A ausculta pulmonar é variável: estertores
Santa Amália S.C. Ltda crepitantes difusos, roncos e sibilos;
Antonio Carlos Mugayar Bianco – UTI Hos- Saída de secreção rósea espumosa pelas
pital Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP vias aéreas;
Outros achados que podem ajudar a es-
I NTRODUÇÃO/CONCEITO clarecer a etiologia e/ou o diagnóstico dife-
O Edema Agudo Pulmonar Cardiogênico rencial do EAP: presença de dor torácica com-
(EAP) representa uma das principais causas patível com insuficiência coronariana, galope
de insuficiência e/ou desconforto respiratório cardíaco (terceira bulha), sopros cardíacos,
que motivam a procura de unidades de emer- desvio do íctus (representando aumento da
gência ou de terapia intensiva. área cardíaca).
Caracteriza-se pelo acúmulo anormal de
fluidos no compartimento extravascular dos EXAM ES COM PLEM ENTARES
pulmões, decorrente de um desequilíbrio nas O diagnóstico é sempre clínico e não deve
forças de Starling e aumento da pressão atrasar as medidas terapêuticas.
hidrostática capilar pulmonar. 1. Radiografia de tórax - congestão pulmo-
Resulta em hipoxemia, aumento do esfor- nar/cardiomegalia.
ço respiratório, diminuição da complacência 2. ECG - sinais de sobrecarga de câmaras
pulmonar e alteração da relação ventilação/ esquerdas/arritmias/isquemia miocárdica.
perfusão. 3. Gasometria arterial - hipoxemia intensa,
retenção de CO2 pode indicar falência res-
ETIOLOGIA piratória e necessidade de intubação
Isquemia coronariana. orotraqueal.
Emergência hipertensiva. 4. Enzimas cardíacas (troponina, CKMB) -
Disfunções valvares agudas: Insuficiên- sugestivas de isquemia miocárdica.
cia mitral aguda (rotura de cordoalha; 5. Outros exames - alterações metabólicas,
disfunção de músculo papilar, endocardite anemia, sinais de infecção.
infecciosa), Insuficiência aórtica aguda (trau-
ma fechado; dissecção aguda de aorta; ABORDAGEM TERAPÊUTICA
endocardite infecciosa).
Insuficiência cardíaca congestiva crônica Medidas de Primeira Linha
descompensada por: arritmias; infecções; ane- A. Posicionamento do paciente - sentado com
mia; interrupção de medicação; sobrecarga os membros de preferência pendentes (di-
hidro-salina; crise hipertensiva. minuição da pré-carga e trabalho respira-
tório).
D IAGNÓSTICO B. Oxigenoterapia - oferecer frações crescen-
Deve ser clínico e imediato para o pronto tes com o objetivo de manter SO2 > 90%.
início do tratamento. C. Acesso venoso periférico.
História de dispnéia de início ou piora D. Monitorização.
súbitos; E. Administrar dinitrato de isosorbida 5mg,
Intenso desconforto respiratório, ta- via sublingual, a cada 5 minutos, até 15mg
quipnéia e uso de musculatura acessória (tira- e se a PAS > 90mmHg.
gem intercostal, retração de fúrcula e F. Morfina 1 a 3mg EV a cada 5 minutos -
40 Edem a Agudo Pulm onar Cardiogênico Cardiologia

monitorar nível de consciência, freqüên- C. Disfunção ventricular esquerda e PAS


cia respiratória e pressão arterial. 70 a 100mmHg = Dobutamina 2 a
G. Furosemida: 0,5 a 1mg/kg via intravenosa; 20m/kg/min.
aplicar o dobro da dose após 20 minutos, D. Sinais e sintomas de choque e PAS 70 a
se necessário; em caso de uso do diurético 100mmHg = Dopamina 2,5 a 20m/kg/
nas últimas doze horas, aplicar o dobro da min.
dose tomada; em caso de insuficiência re- E. Considerar ventilação não invasiva com
nal - aplicar 100 a 200mg. pressão positiva em vias aéreas na hipo-
xemia refratária.
Medidas de Segunda Linha F. Considerar intubação orotraqueal e ven-
A. Evidências de isquemia miocárdica e PAS tilação invasiva nas condições abaixo:
> 100mmHg = Nitroglicerina IV 5m/min - Hipoxemia refratária e acidemia por
até 200m/min. acidose respiratória progressiva;
B. Emergência hipertensiva, na ausência de - Rebaixamento do nível de consciência;
isquemia miocárdica, ou disfunções - Fadiga de musculatura respiratória;
valvares agudas como insuficiência mitral - Presença de IAM com supra de ST, com o
ou aórtica = Nitroprussiato de Sódio IV intuito de reduzir consumo de O2 e permi-
0,5 a 5m/Kg/min. tir intervenção hemodinâmica mais segura.
Moléstias Infecciosas Encefalit e por Toxoplasm a 41

CONSULTOR: imunoperoxidase é aplicada.


Décio Diament Detecção do DNA do parasita por PCR:
ainda experimental, mas já testada com suces-
I NTRODUÇÃO so em vários tipos de tecidos e fluídos
A encefalite por toxoplasmose ocorre prin- corpóreos.
cipalmente em indivíduos imunocom- Sorologia: os métodos sorológicos são
prometidos, sendo a principal causa de lesão largamente utilizados para o diagnóstico e
do SNC em pacientes com AIDS no Brasil. acompanhamento de pacientes acometidos
Outras imunodeficiências, congênitas ou ad- de toxoplasmose. Entretanto, problemas de
quiridas, também podem cursar com sensibilidade e especificidade são observa-
neurotoxoplasmose e seu desenvolvimento dos e resultados falso-positivos e falso-ne-
resulta da reativação de parasitas latentes pre- gativos são freqüentes. Boa parte da popu-
sentes nos tecidos, inclusive no cérebro. A in- lação tem anticorpos antitoxoplasma
fecção primária se dá geralmente na infância e circulantes no plasma em títulos relativa-
os cistos de Toxoplasma gondii ficam latentes mente altos, o que dificulta o diagnóstico
no organismo, sendo reativados quando há ainda mais. Além disso, indivíduos imuno-
queda da imunidade. comprometidos podem apresentar reações
de fraca intensidade ou mesmo não apre-
D IAGNÓSTICO sentar produção de anticorpos, tornando a
sorologia inútil. Infecções recentes geral-
1 - Clínico mente apresentam títulos elevados de
Alterações do nível de consciência, desde anticorpos da classe IgM. Todavia, estes
desorientação e agitação até coma, passando anticorpos podem ficar em circulação por
por alterações psiquiátricas. períodos prolongados, de até dois anos,
Paresias, hemiparesias e comprometimen- trazendo mais um empecilho ao diagnóstico
to de pares cranianos; sinais cerebelares e da doença na fase aguda. O teste da avidez
extrapiramidais. A evolução é focal e subaguda de anticorpos da classe IgG pode ser de valia
em 58 a 89% dos casos e pode ser de início nestas situações, pois um resultado mostran-
abrupto, com convulsões e hemorragia cere- do baixa avidez sugere que a infecção é re-
bral em cerca de 15 a 25% dos indivíduos cente. A dosagem de anticorpos antitoxo-
afetados. plasma no LCR, quando positiva, sugere in-
Anormalidades da fala, convulsões, fecção do SNC, desde que acompanhada do
cefaléia, fraqueza e queda do estado geral quadro clínico e radiológico típico.
acompanham o quadro. Muitas vezes não é possível estabelecer o diag-
Doença de base com imunodepressão: nóstico específico e o paciente acaba sendo tratado
AIDS, neoplasias, etc. empiricamente, com base nos achados clínicos,
exames inespecíficos e radiológicos. Se houver res-
2 - Laboratorial específico posta terapêutica em duas a três semanas de trata-
Isolamento do T. gondii em cultura de mento, com 90% de redução das lesões, o diag-
células ou inoculação em camundongos: re- nóstico fica estabelecido pela prova terapêutica.
quer laboratório capacitado a realizar cultu-
ras de células ou com biotério. Geralmente 3 - Exames inespecíficos
estes métodos estão restritos a poucos labora- Hemograma: incaracterístico.
tórios de referência e não estão disponíveis Tomografia computadorizada de crânio:
para uso rotineiro. apresenta lesões tumorais, única ou múltiplas,
Biópsias e anatomia patológica: melhores com efeito de massa e captação anelar de con-
resultados são obtidos quando a técnica da traste, localizadas principalmente em núcleos
42 Encefalit e por Toxoplasm a Moléstias Infecciosas

da base e transição cortico-subcortical. a 100mg/dia VO +


Líquor: inespecífico com pleiocitose leve Ácido folínico: 10 a 20mg/dia VO
a moderada a custa de linfócitos, com au- por três a seis semanas.
mento de proteínas, geralmente sem
hipoglicorraquia. 2 - Supressivo ou manutenção para imuno-
Outros: bioquímica sérica, contagem comprometidos:
de linfócitos CD4 e CD8, sorologia para Sulfadiazina: 0,5 a 1g VO 6/6 horas +
HIV, etc. Pirimetamina: 25 a 50mg/dia VO +
Ácido folínico: 10 a 25mg/dia VO
4 - Diferencial por tempo indeterminado.
Abcesso ou granuloma cerebral.
Neoplasias cerebrais. 3 - Alternativas à sulfadiazina:
Linfoma do SNC. Claritromicina: 1g VO ou IV 12/12 horas.
Doença de Chagas. Azitromicina: 1,2 a 1,5g/dia VO.
LEMP. Dapsona: 100mg/dia VO.
Atovaquona: 750mg VO 12/12 horas.
TRATAM ENTO Estes medicamentos devem ser utilizados
em conjunto com a pirimetamina e o ácido
1 - Indução ou ataque: folínico.
Sulfadiazina: 1 a 1,5g VO 6/6 horas (má-
ximo = 8g/dia) ou 4 - Corticóides: para pacientes com edema
Clindamicina: 600mg VO ou IV 6/6 ho- cerebral e hipertensão intracraniana. A
ras (até 4,8g/dia) + dexametasona pode ser usada nas doses
Pirimetamina: 200mg VO no 1º dia e 50 habituais.
Metabolismo Encefalopat ia Hepát ica 43

CONSULTOR: • Encefalopatia persistente:


Rosa Goldstein Alheira Rocha Os déficits neurológicos não revertem
totalmente
COLABORADOR: • Encefalopatia mínima ou subclínica:
Maria Rosenete S. D’Este Mais frequente. Pouco evidente em exa-
mes clínicos por suas anormalidades
D EFINIÇÃO cognitivas moderadas sendo somente re-
Disfunção do sistema nervoso central, conhecidas através de testes
potencialmente reversível, devida a insufi- psicométricos ou neurofisiológicos.
ciência hepática que pode instalar-se nas
falências agudas ou crônicas. D IAGNÓSTICO
• História de doença hepática prévia, agu-
FISIOPATOLOGIA da ou crônica
Substâncias nitrogenadas provenientes • Existência de fatores predisponentes
do intestino atuam de modo adverso nas • História prévia de encefalopatia hepáti-
funções cerebrais. Estes componentes que ca
chegam a circulação sistêmica como resul- • Avaliação do grau de disfunção hepática
tado de diminuição da função hepática ou e possíveis alterações circulatórias
“shunts” porto sistêmicos, ao atingirem o (trombose, shunt portal espontâneo,
cérebro modificam os neurotransmissores, Shunt intrahepático transjugular
responsáveis pela consciência e comporta- portosistêmico)
mento. • Sinais clínicos
A amônia, principal substância relacio- “Asterix”
nada á patogênese da encefalopatia hepáti- “Fetor hepaticus”
ca, é liberada por rins e músculos, alcan-
çando níveis maiores na veia porta. Em he- OBSERVAÇÃO
patites agudas fulminantes, níveis de amô- O diagnóstico de etiologia hepática para
nia sérica maiores que 200mcg/dL tem sido encefalopatia é diagnóstico de exclusão.
associadas a risco elevado de herniação ce-
rebral. Não há correlação entre a amonia D IAGNÓSTICO D IFERENCIAL
sérica e o nível de consciência, porém a O diagnostico diferencial faz-se com:
amonemia se correlaciona bem com o nível • Desordens metabólicos
de amônia no liquor. • Infecções
• Doenças vasculares cerebrais
A SPECTOS CLÍNICOS • Lesões cerebrais com efeito de massa
Apresenta-se mais comumente como de-
senvolvimento de um estado confusional EXAM ES DIAGNÓSTICOS
agudo que evolui para encefalopatia aguda. Eletroencefalograma
A encefalopatia aguda pode sobrepor-se tan- Imagem
to a quadros de falência hepática fulminan- Punção lombar (quando a
te quanto a quadros crônicos (cirróticos). sintomatologia sugere irritação meníngea)
A encefalopatia pode apresentar-se se- Testes neuropsicologicos
guindo diversos subtipos: Amonemia (útil na avaliação inicial se
• Encefalopatia recurrente: existe dúvida quanto a presença de doença
Manifestação de encefalopatia em paci- hepática)(O seguimento com amonemia não
entes cirróticos na ausência de fatores substitui a avaliação seriada do nível de
predisponentes. consciência e não é determinado se existe
44 Encefalopat ia Hepát ica Metabolismo

relação entre amônia sanguínea e edema • Medicação psicoativa (benzodiaze-


cerebral) pínicos, opioides)
• Constipação
CLASSIFICAÇÃO • Piora aguda da função hepática em pa-
Dois critétios são os mais comumente cientes com cirrose (hepatite alcoólica,
usados: trombose de veia porta)
C. Manejo nutricional
West Haven • Restringir proteínas na encefalopatia
Estágio 0 aguda
Ausência de alterações detectáveis • Evitar ao máximo períodos de restrição
comportamentais ou de personalidade protéica e retornar assim que possível
Estágio 1 objetivando 1,2 g / kg /dia (entre 1g a
Falta de conhecimento básico, encurta- 1,5g)
mento do período de atenção, • Suplementação de Zinco
hipersonia ou insonia, inversão do pa- • Considerar o uso de aminoácidos de ca-
drão de sono, asterix detectável deia ramificada no hepatopata crônico
Estágio 2 que aumenta a tolerância a proteína
Letargia ou apatia, desorientação, com- D. Redução da carga de nitrogênio do in-
portamento inapropriado, fala testino
empastada Asterix claro • Limpeza intestinal (ponto fundamental)
Estágio 3 para a redução dos níveis de amônia
Desorientação. Comprometimento bi- intraluminal e da colonização
zarro, semi-estupor ou estupor. Asterix bacteriana. As drogas preferíveis são os
geralmente ausente dissacarídeos não absorvíveis (lactulose),
Estágio 4 que podem apresentar como efeitos
Coma colaterais: flatulência, cólicas, diarréia
acentuada (desidratação/ hiper -
Escala de Glasgow natremia). A dose recomendada é de 45
Tratamento ml VO de h/h até acontecer evacuação,
A . Cuidados de suporte quando se faz ajuste da dose para dois a
Fundamentais durante todas as fases da três episódios. Na encefalopatia crôni-
encefalopatia hepática e envolvem uma ca não há necessidade da dose horária
equipe multiprofissional inicial. A antibioticoterapia é alternati-
• Prevenção de quedas va aos dissacarideos:
• Considerar intubação traqueal Neomicina 3 a 6 g/dia VO por 1 a 2 semanas
• Terapia nutricional adequada Neomicina 1 - 2 g/ dia VO crônicos
B. Identificação e remoção dos fatores de Metronidazol 250 mg duas vezes
risco
• Sangramento digestivo (observação das Drogas que afetam a neurotransmissão
características das fezes e/ou aspecto de O flumazenil pode ser empregado na
drenagem da SNG) dose de 1mg EV em “bolus” em pacientes
• Infeções (peritonite espontânea (ascite), com encefalopatia e suspeita de uso de BZD
pneumonia) e a bromocripitina 30 ml 2 x VO crônicos
• Disturbios hidroeletrolíticos (insuficiên- sem resposta a outras terapêuticas
cia renal, alcalose metabólica, hipopo-
tassemia, desidratação e uso indiscri- Manejo da circulação esplâncnica
minado de diuréticos) Oclusão das colaterais porto sistêmicas
Metabolismo Encefalopat ia Hepát ica 45

por técnicas radiológicas, somente em cen- • Evitar medicação psicoativa


tros com experiência e quando as outras
medidas falharam Pacientes candidatos a transplante
Aqueles pacientes candidatos a trans-
Pacientes crônicos plante devem ser encaminhados a “Centros
Em pacientes com cirrose hepática, sob de Transplante” após o primeiro episódio
risco de novos episódios de encefalopatia: de encefalopatia de qualquer tipo
• Controlar potenciais fatores
precipitantes fazendo: profilaxia de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
sangramento de varizes de esôfago, 1. Blei AT, Córdoba J and The Practice Parameters
Committee of the American College
peritonite espontânea Gastroenterology. Hepatic Encephalopathy - Practice
• Uso criterioso de diuréticos Guidelines. Am J Gastroenterol 2001; 96: 1968.
46 Febre Am arela Moléstias Infecciosas

CONSULTOR: • hemorragias: petéquias, gengivorragia e


Décio Diament epistaxe
• eritema na pele e congestão de conjuntivas
COLABORADOR:
Miguel Angel Sicolo – Casa de Saúde São 2- Período de intoxicação: reaparecem os sin-
Lucas – Natal – RN tomas.
• febre
I NTRODUÇÃO • prostração
É uma doença viral febril aguda causada • náuseas, vômitos, hematêmese, melena,
pelo vírus da febre amarela, que é um Arbovírus hemorragias diversas
(arthrpod-borne virus) e pertence a família • icterícia
Flaviviridae, constituída de vírus envelopados • desidratação, choque
cujo material genético é o RNA. A transmis- • oligúria ou anúria
são é feita pela picada de mosquitos do gênero • coma
Haemagogus sp nas regiões de selva, no chama- • disfunção de múltiplos órgãos (letalidade
do ciclo silvestre. No ciclo urbano, os vetores = 20 a 50% em sete a 10 dias)
são mosquitos do gênero Aedes sp, principal- • disfunção hepática: elevação das
mente o Aedes aegypti, que também transmite transaminases - AST [TGO] > ALT
o dengue. A doença é caracterizada por [TGP], fosfatase alcalina e bilirrubinas,
envolvimento hepático, renal e miocárdico e custa de bilirrubina direta
fenômenos hemorrágicos, resultando em ele- • coagulograma: aumento do tempo de
vada letalidade. O período de incubação é protrombina, diminuição do fibrinogênio,
curto, de três a seis dias. fator VIII e presença de produtos de de-
gradação da fibrina, sugerindo coagulação
DIAGNÓSTICO intravascular disseminada
Será considerado suspeito todo paciente • insuficiência renal em geral é oligúrica e a
residente ou procedente de região endêmica anúria precede o óbito. A urina pode apre-
com quadro clínico sugestivo e que não tenha sentar proteinúria elevada
sido vacinado. • coração: aumento de câmaras e presença de
Formas clínicas: infecção sub-clínica, qua- arritmias diversas, como extrassístoles atriais
dros benignos não-específicos ou doença gra- e ventriculares, distúrbios de condução e
ve com envolvimento hepatorrenal e anormalidades do segmento S-ST, com on-
coagulopatia. das T elevadas ao eletrocardiograma. Pode
ocorrer bradicardia, hipotensão arterial e
FORM AS GRAVES - EVOLUÇÃO BIFÁSICA: choque, com acidose metabólica secundária
1- Período de infecção: dura em torno de três a hipoperfusão tecidual
ou quatro dias e pode ser seguido de um • alterações do nível de consciência: desde
breve período de remissão de 24 a 48 horas. leve agitação até coma. O líquor apresen-
• início abrupto ta aumento das proteínas sem aumento
• febre alta de células, sugerindo edema cerebral por
• pulso “lento” (sinal de Faget) distúrbio metabólico. Podem ocorrer he-
• mal-estar morragias cerebrais e meníngeas
• cefaléia • complicações: superinfecções bacterianas
• fotofobia 3- Convalescência: caracterizada por fadiga
• mialgias e artralgias intensa que pode durar semanas e alguns
• anorexia, náuseas e vômitos pacientes permanecem ictéricos por tem-
• agitação, irritabilidade e tonturas po mais longo, de até meses.
Moléstias Infecciosas Febre Am arela 47

D IAGNÓSTICO Diagnóstico diferencial


• hepatites virais e tóxicas
Diagnóstico específico • malária grave
• isolamento viral em culturas de sangue e • leptospirose
outros materiais inoculados em células de • febre tifóide
linhagem mamífera ou de insetos. • febre Q
• inoculação intracerebral em camundon- • outras febres hemorrágicas virais (dengue
gos jovens também pode ser utilizada. hemorrágico, febre por Arenavírus [Sabiá],
• Sorologia para detecção de anticorpos, Ebola e febre de Lassa e similares, não
ainda é o meio diagnóstico de eleição. A costumam cursar com icterícia)
detecção de IgM através de ensaio • febre amarela mais branda deve ser dife-
imunoenzimático sugere o diagnóstico na renciada de outras arboviroses e da gripe
fase aguda. A subida dos títulos de
anticorpos IgM e IgG durante a evolução TRATAM ENTO
da doença confirmam o diagnóstico. O tratamento da febre amarela é sinto-
• exame anatomopatológico do fígado, rins mático. Não existem evidências da eficácia do
e linfonodos também pode ser utilizado, tratamento antiviral específico com ribavirina
uma vez que as alterações patológicas são em doses altas ou interferon-gama.
altamente sugestivas. Pode-se detectar Os quadros leves e moderados devem ser
antígenos virais nos tecidos utilizando-se tratados sintomaticamente enquanto que os
anticorpos específicos revelados por quadros mais graves devem ser tratados em
imunofluorescência ou imunoperoxidase. regime de terapia intensiva, com suporte res-
As biópsias de fígado e outros órgãos não piratório, hemodinâmico e metabólico. Mes-
são recomendadas devido ao alto risco de mo com os modernos recursos de terapia in-
ocorrerem hemorragias fatais. tensiva existentes atualmente a letalidade ain-
da é alta. Os pacientes graves devem receber
Exames complementares inespecíficos suporte nutricional, hidratação, correção dos
• hemograma com plaquetas distúrbios hidro-eletrolíticos e ácido-basicos,
• coagulograma reposição volêmica adequada nos casos de
• uréia e creatinina choque e drogas vasoativas quando indicado.
• eletrólitos As hemorragias podem ser tratadas com trans-
• transaminases, fosfatase alcalina, gama-GT fusões de glóbulos e plasma fresco. A ventila-
• gasometria arterial e lactato ção mecânica e a diálise devem ser aplicadas
• proteínas totais e frações nos casos de insuficiência respiratória aguda e
• urina I renal, respectivamente.
48 Fibrilação At rial Cardiologia

CONSULTORES: pacientes com tromboembolismo pulmonar e


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori em pacientes com novo episódio de AVC
tromboembólico, com taxas relatadas entre
COLABORADORES: 10 a 40% neste último caso.
Antonio Carlos Mugayar Bianco, UTI Hospi-
tal Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP EXAM ES COM PLEM ENTARES
Valter Ferreira da Silva, Policlínica Santa 1) ECG:
Amália, São Paulo, SP • Atividade atrial caótica, ausência de onda
Almiro Cavalcante Rocha Neto, Hospital P e presença de ondas de fibrilação (f );
Geral de Táipas - Katia de Souza Rodrigues, • Freqüência atrial em torno de 400 a
São Paulo, SP 700bpm, com resposta ventricular em tor-
no de 120 a 180bpm, na ausência de tra-
I NTRODUÇÃO tamento medicamentoso;
Fibrilação Atrial (FA) é a arritmia susten- • Ritmo ventricular irregular.
tada mais comum, ocorrendo em 0,4% a 1,0%
da população geral. - Na presença de 2) Exames conforme suspeita clínica:
cardiopatia estrutural chega a ser 5 a 10 vezes • enzimas cardíacas - isquemia;
mais freqüente; • dímero D / cintilografia V/Q - TEP;
Sua prevalência aumenta com a idade, afe- • hemograma - infecções associadas;
tando cerca de 10% da população acima dos • ECO - cardiomiopatia hipertrófica,
80 anos; pericardite;
FA crônica apresenta risco para tromboem- • Sangue - alterações metabólicas/hidro-
bólismo, principalmente em idosos. eletrolíticas;
• radiografia de tórax - DPOC;
APRESENTAÇÃO CLÍNICA E ETILOGIA • hormônios tireoideanos, entre outros.
Indivíduos assintomáticos - impossível
detectar época do aparecimento, tendo im- A BORDAGEM TERAPÊUTICA
plicações terapêuticas; A) Pacientes com instabilidade hemodinâmica
Sintomas comuns: palpitações taquicár- - proceder a cardioversão elétrica imedia-
dicas arrítmicas, fadiga, dispnéia, pré-síncope ta, caso duração da arritmia < 48 horas;
e sudoreses; B) Pacientes estáveis - três objetivos princi-
Sintomas menos freqüentes: comprome- pais: controlar a resposta ventricular,
timento hemodinâmico grave, dor precordial, minimizar o risco tromboembólico e res-
edema agudo dos pulmões e síncope; taurar e manter o ritmo sinusal. Atenção
Variabilidade na característica (timbre e para causas reversíveis ou condições
intensidade) da primeira bulha. predisponentes que tratadas possam re-
Mais comumente associada com hiper- solver a FA (hipoxemia, anemia, hiperten-
tensão arterial sistêmica, doença cardíaca são, ICC, hipocalemia, hipomagnesemia,
valvar, ICC, doença coronária e cirurgias car- tireotoxicose);
díacas (risco de 35 a 50%); Controle da resposta ventricular: trata-
Outras associações encontradas: dro- mento inicial recomendado para todos os pa-
gas, doença pulmonar obstrutiva crônica, cientes em FA, clinicamente estáveis, com
hipertireoidismo, infecções, distúrbios me- FC>120bpm, a despeito de sua duração.
tabólicos, síndrome de Wolf Parkinson
White, pericardites e cardiomiopatia Função ventricular esquerda preservada
hipertrófica; (FE>40%):
Pode estar associada na apresentação de 1. Beta-bloqueadores: administrar meto-
Cardiologia Fibrilação At rial 49

prolol IV 5mg lentamente, repetindo a + manutenção VO 200 a 400mg/dia;


cada 5 minutos, total de 15mg ou efeitos ou
desejados atingidos. Manter com atenolol 3. Procainamida: infusão contínua IV de 20mg/
25 a 50mg VO 12/12h ou propranolol min até supressão da arritmia, aparecimen-
120 a 240mg/dia; to de hipotensão, aumento da duração do
ou QRS > 50% do basal ou dose total de 17mg/
2. Antagonistas dos canais de cálcio: a) kg. Em situações de emergência uma dose
Verapamil 2,5 a 5,0mg IV lentamente. de 50mg/min pode ser administrada até a
Doses adicionais de 5 a 10mg podem ser dose total de 17mg/Kg (evitar no QT pro-
administradas a cada 15 a 30 minutos até longado e Torsades de pointes).
dose total de 20mg; b) Diltiazem 0,25mg/ ou
kg IV, seguido de uma segunda dose de 4. Quinidina - 400mg VO, seguido de
0,35mg/kg. Ambos são inotrópicos nega- 200mg VO a cada hora até 5 doses. Ad-
tivos, mas o diltiazem promove menor ministrar digitálico juntamente com a pri-
depressão miocárdica que o verapamil; meira dose.
ou (preferencialmente 1 ou 2)
3. Digital: lanatosídeo 0,8 a 1,6mg em 1 a 4 Duração da FA < 48 horas, FEVE < 40%:
doses fracionadas, administradas IV len- 1. Considerar cardioversão elétrica;
tamente. Cuidado nos bloqueios ou
atrioventriculares (contra-indicado) e na 2. Amiodarona IV.
insuficiência renal. Pode-se continuar o
controle com digoxina 0,25mg VO 1x ao Duração da FA > 48 horas ou desconhecida,
dia. função cardíaca normal ou deprimida:
1. NÃO proceder a cardioversão elétrica, a
Função ventricular esquerda deprimida menos que adequadamente anticoagulado
(FE<40%): (de maneira efetiva por no mínimo de 3
1. Digoxina: na dose de 0,25mg VO 1x ao semanas);
dia; 2. Anticoagular com warfarina VO por 3 se-
ou manas -> proceder cardioversão elétrica -
2. Diltiazem: dose especificada acima; > anticoagular com warfarina por mais 4
ou semanas;
3. Amiodarona (cuidado na administração ou
em pacientes com FA > 48h pela possibi- 3. Iniciar anticoagulação com heparina IV -
lidade de reversão para ritmo sinusal): > realizar ecocardiograma transesofágico
administrar IV 150mg em 10 minutos, para afastar a presença de trombos
seguido de 1mg/min em 6 horas e 0,5mg/ intracavitários -> realizar cardioversão elé-
min após esse período. trica dentro de 24h -> anticoagular por
mais 4 semanas.
Reversão para ritmo sinusal:
Duração da FA < 48 horas, função cardíaca nor- ATENÇÃO: na presença de síndrome de
mal: pré-excitação ventricular (WPW), o uso dos
1. Considerar cardioversão elétrica; seguintes antiarrítmicos está contra-indicado:
ou adenosina, beta-bloqueadores, antagonistas
2. Amiodarona IV (dose especificada acima) dos canais de cálcio e digoxina.
50 Fibrilação Vent ricular Cardiologia

CONSULTORES: desfibrilador - DESFIBRILE até 3 vezes,


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori se necessário (200J - 300J - 360J). Verifi-
que após cada choque o ritmo, sem afas-
COLABORADOR: tar as pás do paciente;
Antonio Carlos Mugayar Bianco – UTI Hos- E) Ritmo após os 3 primeiros choques:
pital Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP • Assistolia -> continue RCP e siga orienta-
ções do ACLS;
I NTRODUÇÃO • Atividade elétrica sem pulso -> continue
- Ritmo ventricular caótico, sem atividade RCP e siga orientações do ACLS;
elétrica organizada e ausência de débito • Retorno da circulação espontânea -> ad-
cardíaco; ministrar amiodarona IV 300mg em bolus +
- A maioria dos pacientes que colapsam em infusão contínua até 2,2g IV nas 24h OU
parada cardiorespiratória apresenta este lidocaína 1.0 a 1.5mg/kg IV em bolus +
ritmo no momento zero. Deve ser pron- infusão contínua 1 a 4mg/min por 24 horas;
tamente reconhecido e tratado, tendo em • FV persiste -> vide item F;
vista que, a cada minuto em FV, a proba- F) Intube o paciente tão logo possível, obte-
bilidade de desfibrilar o paciente de volta nha acesso venoso, monitorize-o com ele-
a um ritmo capaz de perfusão diminui cerca trodos e administre drogas apropriadas,
de 2% a 10%. Dez minutos em FV repre- continuando medidas de RCP:
sentam, portanto, uma expectativa de • Epinefrina 1mg IV em bolus, repetir a cada
sobrevida próxima a zero; 3 a 5 minutos até retorno da circulação
- Geralmente é precedida pela taquicardia espontânea;
ventricular. Todas as condições e fatores ou
de risco discutidos para TV são aplicáveis • Vasopressina 40U IV, dose única, apenas
à FV. 1 vez;
G) Faça novas tentativas de desfibrilação, com
APRESENTAÇÃO CLÍNICA 1 choque de 360J por vez, a cada 30 a 60
- O paciente vítima de FV se apresenta em segundos;H) Persistindo o ritmo de FV,
parada cardiorespiratória: inconsciente, considerar drogas antiarrítmicas:
com ausência de pulsos centrais e de mo- • Amiodarona - 300mg IV em bolus, po-
vimentos respiratórios; dendo repetir novo bolus de 150mg em
- A monitorização ou ECG mostrarão au- caso de recorrência;
sência de atividade elétrica ventricular or- e/ou
ganizada. • Lidocaína - 1.0 a 1.5mg/kg IV em bolus.
Pode-se repetir em 3 a 5 minutos até dose
ABORDAGEM TERAPÊUTICA máxima de 3mg/kg;
A) Diagnóstico paciente não responde, não e/ou
respira e está sem pulso; • Magnésio (em caso de hipomagnesemia) -
B) Chamar por ajuda imediata e desfibrilador; 1 a 2g IV em bolus;
C) Iniciar manobras de ressuscitação cardio- e/ou
pulmonar (RCP - massagem cardíaca e • Procainamida - 30mg/min em FV refratá-
promover ventilação e proteção adequa- ria, com dose máxima de 17mg/kg.
da de vias aéreas) até conectar o I) Continuar com tentativas de desfibrilação
desfibrilador; após cada droga e/ou após cada minuto
D) Fibrilação ventricular identificada no de RCP.
Cardiologia Flut t er At rial 51

CONSULTORES: te um bloqueio atrioventricular com condução


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori 2:1 (ondas F sobrepostas aos complexos QRS
ou ondas T). Nesta situação, considerar mano-
COLABORADOR: bras ou medicações para diminuir a resposta
Antonio Carlos Mugayar Bianco – UTI Hospi- ventricular, através do bloqueio do nó AV e
tal Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP conseqüente aparecimento das ondas do flutter:
A) Manobras vagais: massagem de seio
I NTRODUÇÃO carotídeo e manobra de Valsalva. Cuida-
• É a segunda taquiarritmia atrial mais co- dos na massagem - sempre pesquisar a pre-
mum. Corresponde a um ritmo instável sença de sopros carotídeos, que contra-
que geralmente reverte para ritmo sinusal indicam tal procedimento; nunca fazer dos
ou fibrilação (FA) espontaneamente; 2 lados ao mesmo tempo.
• Incidência em torno de 0,4 a 1,2%, em B) Adenosina - pode ser administrada 6 mg
ambiente hospitalar; IV em bolus, seguido de 12 mg IV em
• Significado clínico: geralmente relaciona- bolus caso não houver resposta na primei-
do à sua associação com a FA (com todos ra tentativa. Verapamil, diltiazem e beta-
os fatores de risco para a FA) ou à sua asso- bloqueadores também podem ser utiliza-
ciação com elevada resposta ventricular. dos com a mesma finalidade;
C) Eletrodo transesofágico - complexos
A PRESENTAÇÃO CLÍNICA E CLASSIFICAÇÃO atriais muito maiores no ECG, facilitan-
• A apresentação clínica depende da pre- do o diagnóstico;
sença de cardiopatia estrutural, a freqüên- 1) ECG
cia ventricular e a condição clínica geral • Ondas em forma de “dentes de serra”, clas-
do paciente; sicamente negativas nas derivações inferi-
• Indivíduos assintomáticos - impossível ores (típico);
detectar época do aparecimento, tendo • Morfologia, polaridade e duração de ci-
implicações terapêuticas; clos constantes;
• Comum a associação com outros estados • Ausência de linha de base isoelétrica;
patológicos, como na FA; • Resposta ventricular pode ser irregular,
• Classifica-se em: devido a graus variáveis de bloqueio
1) Típico: o mecanismo de reentrada se atrioventricular (2:1, 4:1, etc...).
dá em um sentido anti-horário dentro do 2) Exames conforme suspeita clínica (como
átrio direito (ondas F negativas em D2, na FA)
D3, AVF); • enzimas cardíacas - isquemia;
2) Atípico: reentrada no sentido horário • dímero D / cintilografia V/Q - TEP;
(ondas F positivas em D2, D3, AVF); • hemograma - infecções associadas;
3) Tipo I: pode ser terminado com estí- • ECO - cardiomiopatia hipertrófica,
mulos rápidos de marcapasso atrial pericardite;
(overdrive suppression) e tem freqüência • Sangue - alterações metabólicas/
atrial em torno de 240 a 340 bpm, na hidroeletrolíticas;
ausência de drogas; • radiografia de tórax - DPOC;
4) Tipo II: não é terminado por overdrive • hormônios tireoideanos, entre outros.
suppression e tem freqüência atrial em torno
de 340 a 430 bpm, na ausência de drogas. ABORDAGEM TERAPÊUTICA
• A abordagem terapêutica é muito seme-
D IAGNÓSTICO/EXAM ES COM PLEM ENTARES lhante à da FA, inclusive com relação às
O diagnóstico pode ser difícil quando exis- indicações de anticoagulação (vide proto-
52 Flut t er At rial Cardiologia

colo de FA); ser submetidos a tal procedimento caso


• A cardioversão elétrica, entretanto, é a tenham obtido insucesso durante a
terapia mais efetiva e preferível para o cardioversão elétrica:
flutter atrial. O choque deve ser iniciado a) Confirmar que os ventrículos não estão
com baixas correntes (50J) obtendo-se sendo estimulados nem capturados com fre-
boas taxas de reversão; qüência menor de estímulo (teste inicial);
• Overdrive suppression deve ser considerado b) Estimular o átrio com uma freqüência
como primeira opção para todos os paci- 10 a 20 bpm mais rápida que a freqüência
entes com fios de marcapasso atrial basal do flutter;
epicárdicos após cirurgia cardíaca. Pa- c) Após a captação atrial, aumentar a fre-
cientes com eletrodo esofágico ou qüência do marcapasso até o desapareci-
marcapasso transvenoso também podem mento das ondas F.
Pneumologia Hem opt ise M aciça 53

CONSULTOR: ção) precoce dentro das primeiras 24 horas:


Flávio Monteiro de Barros Maciel - Exames específicos: pesquisa de BARR,
citológico de escarro, TC de tórax,
COLABORADORES: ecocardiograma, ANCA e outros de acor-
Deluana Cunha Moleta, Simone da Silva do com a suspeita clínica.
Afonso, Maria Beatris Torres Miranda -
Hospital Santa Casa de Porto Alegre TRATAM ENTO

I NTRODUÇÃO/CONCEITO 1. Considerar causa, função pulmonar, re-


cursos disponíveis e experiência local.
Expectoração de 600 ml ou mais de san- 2. Prioridades: proteção do pulmão não
gue em 24-48 horas. Ocorre em 3 a 10% de sangrante, ventilação, controle do san-
todos pacientes com hemoptise. É potenci- gramento e estabilização hemodinâmica.
almente fatal, dependendo da etiologia, 3. Medidas de suporte: repouso, sedação,
magnitude do sangramento e da aspiração não usar antitussígeno, lateralização com
de sangue. o pulmão sangrante em posição inferior,
entubação (TOT ³ 8,5 – facilita a
D IAGNÓSTICO D IFERENCIAL broncoscopia), ventilação mecânica se ne-
cessário.
Hemoptise (aspiração e expectoraçãode 4. Proteção do pulmão não sangrante:
sangue de outra fonte que não o trato respi- lateralização, entubação seletiva, tubo de
ratório inferior), epistaxe hematêmese, in- duplo lúmen (tubo de Carlen).
fecção por Serratia marcescens, hemoptise fic- 5. Controle do sangramento: tampo-
tícia. namento brônquico (cateter com balão
posicionado por broncoscopia) ponte
CAUSAS COM UNS DE HEM OPTISE M ACIÇA para arteriografia ou cirurgia; terapia com
laser ou eletrocautério para lesão de
Neoplásticas, bronquiectasia, infeccio- mucosa identificada pela broncoscopia,
sas (tuberculose, pneumonia necrotizante), se disponível; questionável: uso de solu-
vasculares, miscelânia (corpo estranho, te- ção salina gelada, epinefrina 1:20.000
rapia anticoagulante).estenose mitral tópica.
6. Embolização da artéria brônquica; tra-
A VALIAÇÃO CLÍNICA tamento cirúrgico; tratamentos clínicos
específicos; correção de coagulopatias,
A) História: Determinar freqüência, tempo carticóide, imunossupressores.
de evolução, idade, história de tabagis-
mo, trombose venosa profunda prévia. RECOM ENDAÇÕES
B) Exame Físico: Pesquisar telangectasia,
equimoses, petéquias, estertores pulmo- 1. Estabilizar e então realizar broncoscopia
nares, sopro cardíaco, sinais de trambose precoce
venosa, flebite, pulsação transmitida para 2. Se o sangramento persiste: arteriografia e
cânula de tranqueostomia. embolização:
C) Exames Complementares: 3. Paciente muito instável: tamponamento
- De rotina. Hemograma, provas de coa- brônquico, tubo de duplo lúmen;
gulação, Eletrocardiograma, gasometria 4. Tratamento cirúrgico de emergência em
arterial, Rx tórax; paciente muito instável, só quando não
- Broncoscopia rígida (maior poder de aspira- puder ser evitado.
54 Hem opt ise M aciça Pneumologia

COM PLICAÇÕES DE PROCEDIM ENTOS COM UNS NA UTI 2. Ruptura iatrogênica da artéria pul-
monar por cateter de Swan-Ganz:
1. Fístula traqueoarterial: 0,7% das
traqueostomias, pico entre a primeira e a se- Conduta: tamponamento brônquico,
gunda semana do procedimento. entubação seletiva pode ser tentada.
Oclusão do vaso rompido com o balonete
Conduta: hiperinflar o bolonete, fazer do cateter pode ser útil. Tracionar 5 cm com
pressão para baixo no topo da cânula, cha- o balonete desinflado, insuflar 2 ml de ar
mar o plantão cirúrgico, levar o paciente para então permitir que o balonete progrida até
o centro cirúrgico, colocar um tubo além da o ramo rompido.
ponta da cânula já na presença da equipe
cirúrgica habilitada. Garantir mais de um bom
acesso venoso.
Moléstias Infecciosas Herpes Zost er 55

CONSULTOR: 2- Exames laboratoriais específicos


Décio Diament • Sorologia: vários métodos, como ELISA
e hemaglutinação, estão disponíveis, mas
I NTRODUÇÃO são de pouca valia nos casos de reativação
A infecção pelo herpesvírus Varicela- ou nos imunodeprimidos graves.
Zoster resulta em dois tipos de quadro • Isolamento do vírus em cultura de se-
clínico: a catapora, que é a infecção pri- creção vesicular: é demorado, trabalho-
mária e o herpes zoster, que resulta da so e dispendioso e somente está dispo-
reativação do vírus latente no organismo. nível em poucos laboratórios de refe-
A catapora é freqüente na infância e tra- rência. Apesar disso, é um método mui-
ta-se de doença extremamente contagio- to útil nos casos de pacientes
sa, que se manifesta por exantema bolhoso imunodeprimidos, no diagnóstico dife-
generalizado. O herpes zoster é mais co- rencial com outras viroses que podem
mum em idosos e imunodeprimidos, tam- cursar com exantema vesicular.
bém é contagioso e se manifesta • Esfregaço de secreção de vesículas
localizadamente, com exantema bolhoso (Tzanck): tem baixa sensibilidade
que segue o trajeto de feixes nervosos e (60%), mas quando positivo é diag-
com muita dor nos locais afetados. nóstico.
• Pesquisa do vírus em secreção vesicular
D IAGNÓSTICO por microscopia eletrônica: também é
1- Quadro clínico demorado, trabalhoso e dispendioso e
• Mais freqüentemente localizada nas regi- somente está disponível em poucos la-
ões torácica e lombar. boratórios de referência.
• Início como exantema máculo-papular • PCR: ainda experimental e não dispo-
com posterior evolução para vesículas e nível comercialmente.
bolhas e posteriormente para pústulas e
crostas. Caracteristicamente existem le- 3- Diferencial
sões em várias fases evolutivas numa mes- • Herpes simples disseminado
ma área. • Coxsackieviroses (grupo A: doença mãos-
• Erupção bolhosa unilateral seguindo o tra- pés-boca, herpangina)
jeto de dermátomos. • Impetigo
• A dor no dermátomo afetado precede o
exantema em 48 a 72 horas. TRATAM ENTO
• A dor é neurítica, de forte intensidade • O tratamento antiviral está indicado para
e pode persistir mesmo após o desapa- pacientes com risco de desenvolver com-
recimento do exantema em até 50% plicações, como os recém-nascidos pre-
dos pacientes com mais de 50 anos de maturos, crianças com broncodisplasia
idade, caracterizando a neurite pós- pulmonar e outras doenças crônicas
herpética. debilitantes, os imunodeprimidos em ge-
• Complicações: ceratite, glaucoma, ral de qualquer etiologia e os idosos. Pa-
iridociclite, síndrome de Ramsay-Hunt, cientes de terapia intensiva podem de-
meningoencefalite, mielite transversa, pa- senvolver quadros de herpes zoster na
ralisia motora flácida, síndrome de vigência do episódio que provocou a
Guillain-Barré, miosite, disseminação do internação, como por exemplo,
exantema e cronificação (em politrauma ou grande cirurgia, e também
imunodeprimidos graves com VZV resis- devem ser tratados.
tente ao aciclovir). • Medicamentos antivirais:
56 Herpes Zost er Moléstias Infecciosas

Drogas Dose p/ adult os Doses pediát ricas


Aciclovir 800 mg VO 4/4 h 10 a 16 mg/kg/dose VO
5 vezes/dia/7 a 10 dias 5 vezes/dia/7 a 10 dias
ou ou
30 mg/kg/dia IV em 3 doses 30 mg/kg/dia IV em 3 doses
8/8h/7 a 10 dias 8/8h/7 a 10 dias
Valaciclovir 1g VO 8/8h/7 a 10 dias Não disponível
Fam ciclovir 500mg VO 8/8h/10 dias Não disponível

• Corticóides: a prednisona pode ser utili- antidepressivos tricíclicos podem ser úteis
zada concomitantemente ao aciclovir, vi- nos casos de neuralgia persistente.
sando melhorar o quadro doloroso. Os • Suporte vital: deve ser instituído nos ca-
pacientes devem receber inicialmente sos de complicações graves, como
60mg/dia/7dias, seguidos de 30mg/dia/ pneumonite intersticial ou
7dias e 15mg/dia/7dias. Com este esque- meningoencefalite.
ma há substancial melhora da qualidade • Isolamento: de contato, respiratório e pre-
de vida, com menos dor e com baixa inci- cauções universais.
dência de complicações. • Medidas profiláticas: vacinação,
• Outros medicamentos para dor, isto é, anal- imunoglobulina anti-VZV e quimio-
gésicos narcóticos e não-narcóticos, devem profilaxia com aciclovir (40mg/kg/dia até
ser usados conforme a necessidade. Os 10 dias após a exposição).
Neurologia Hipert ensão Int racraniana 57

CONSULTOR: Pressão Intra-Craniana (PIC)


José Paulo Ladeira
HIPERTENSÃO I NTRA-CRANIANA (HIC)
COLABORADORES: Causas
Rogério Ribeiro da Silveira, Marcos Freitas 1. Edema (citotóxico / vasogênico)
Knibel, Hospital de Clínicas Mário Lioni. Rio 2. Hiperemia (resposta normal ao trauma
de Janeiro, RJ de crânio)
Carlos Broncher, Hospital Municipal de Cam- 3. Lesões traumáticas com efeito de massa
po Limpo. São Paulo, SP a) Hematoma extradural
b) Hematoma subdural
CONCEITOS GERAIS c) Hemorragia intraparenquimatosa
1. Teoria de Monro-Kellie: a soma de todos d) Corpo estranho (Ex: projétil de arma
os volumes dos compartimentos intracra- de fogo)
nianos (sangue venoso, arterial, tecido ce- e) Fratura com afundamento de calota
rebral, líquor, hematoma extradural etc.) é craniana
constante; qualquer variação em um destes 4. Hidrocefalia (por obstrução absorção ou
volumes é compensada pela variação opos- drenagem de líquor)
ta de outro volume; quando isto não ocor- 5. Hipoventilação (vasodilatação cerebral)
re, a pressão intracraniana irá subir. 6. Encefalopatia hipertensiva
2. Os volumes mencionados estão conti- 7. Trombose de seio venoso
dos em uma caixa inelástica (o crânio) 8. Estado de Mal Epiléptico
3. A pressão se distribui igualmente em
toda a caixa craniana (embora se admi- Tríade de Cushing
ta que exista variação) Bradicardia/hipertensão/irregularidade
4. Pressão de Perfusão Cerebral (PPC): respiratória;
diferença de pressão entre a Pressão Presente em 33% dos casos de HIC.
Arterial Média (PAM) e a Pressão Intra-
Craniana (PIC); valores normais de M ONITORIZAÇÃO DA PIC
PPC > 50 mmHg; lembrar que a PAM Indicações
em questão é aquela cujo valor é obti- 1. Trauma de crânio grave (Glasgow ≤ 8)
do zerando-se o transdutor ao nível do com um dos identificadores abaixo:
forame de Monro (pressão média da a) Tomografia de crânio alterada (hema-
artéria carótida interna). tomas epi/subdurais ou intraparen-
5. Auto-regulação cerebral: mecanismo quimatosos, apagamento das cisternas da
autonômico de controle vascular que per- base, e edema cerebral).
mite apenas pequenas variações no fluxo b) Tomografia de crânio normal e um dos
sanguíneo cerebral, mesmo quando ocor- fatores abaixo.
rem grandes variações da PAM; este me- • Idade > 40 anos.
canismo é perdido no trauma de crânio • PA sistólica < 90 mmHg.
grave, tornando o doente dependente ba- • Postura de descerebração/decorticação
sicamente da PAM para manutenção do uni/bilateral.
FSC em valores normais. 2. AVC hemorrágicos com escala motora de
Glasgow < 4.
Valores norm ais
3. AVC isquêmicos de todo o território da
Idade Valores Normais Artéria Cerebral Média.
Adultos < 10-15 mmHg 4. Hemorragia Subaracnóidea com
Crianças 1-7 mmHg hidrocefalia.
58 Hipert ensão Int racraniana Neurologia

5. AVC cerebelar com hidrocefalia. 5. Evitar constrição cervical com colares


6. Encefalite herpética com escala motora cervicais ou fixações de cânulas traqueais;
de Glasgow < 4. manter o pescoço alinhado e sem
7. Síndrome de Reye. hiperextensão ou flexão, evitando
8. Disfunções sistêmicas múltiplas com altera- acotovelamento das jugulares.
ção do nível de consciência onde as ações 6. Evitar hipotensão (PAS< 90mmHg), ad-
terapêuticas possam ser deletérias para a PIC ministrando volume/vasopressores.
(ex: SARA com níveis da PEEP elevados). 7. Controlar hiperglicemia.
9. Depois da retirada cirúrgica de lesões com 8. Controlar a hipertensão, se necessário;
efeito de massa importante. utilizar nitroprussiato de sódio nos não
taquicárdicos e beta-bloqueadores
Contra-indicações Relativas (labetalol/esmolol) nos taquicárdicos.
1. Paciente acordado. 9. Ventilar o doente mantendo pCO2 entre
2. Coagulopatias; se a monitorização da PIC 35-40 mmHg.
for necessária, corrigir os distúrbios da co- 10. Sedação conforme necessário (morfina/
agulação (plasma, plaquetas, etc.); optar fentanila/midazolan/pancurônio).
por monitorização subdural ou epidural. 11. Tomografia de crânio para descarte de
causa cirúrgica de HIC.
Descontinuação da Monitorização da PIC
1. Valores normais de PIC após 48-72 h da Medidas específicas
colocação do monitor e evolução contro- Adotadas progressivamente, caso o con-
lada da lesão. trole da PIC não tinha ocorrido com as medi-
das anteriores:
Complicações da Monitorização da PIC 1. Aumento da sedação.
1. Infecção: mais freqüente nos cateteres 2. Drenagem de 3-5 ml de líquor se cateter
intraventriculares. intraventricular de PIC.
2. Hemorragia: mais freqüente com cateter 3. Manitol 0,25-1mg/Kg dose de ataque; ma-
intraparenquimatoso. nutenção a cada 6 horas com 0,25 mg/Kg;
3. Obstrução ou mau funcionamento: mais aumentar a dose caso persista a HIC e
freqüente com PIC > 50 mmHg. osmolaridade plasmática < 320; pode ser
4. Mau posicionamento: mais freqüente com intercalado com Furosemida 20mg de 6/6h.
o cateter subdural. 4. Hiperventilação mantendo pCO2 30-
35mmHg.
TRATAM ENTO DA HIPERTENSÃO I NTRACRANIANA 5. Corticóides nos casos de edema cerebral
Objetivos vasogênico (tumores/abscessos).
1. Manter PIC < 20-25mmHg. 6. Considerar tomografia de crânio para des-
2. Manter PPF > 70 mmHg (evitar hipotensão). carte de causa cirúrgica da HIC e Eletroen-
cefalograma para descarte de Estado de Mal
Medidas gerais Epiléptico com o causa da HIC.
Devem ser utilizadas rotineiramente para Medidas discutíveis
tratamento da HIC e manutenção da PIC em São atitudes terapêuticas que envolvem
valores normais. risco na sua aplicação ou que não demonstra-
1. Elevar a cabeceira entre 30-45º. ram benefício comprovado.
2. Aplicar bloqueadores H 2 ; evitar 1. Coma barbitúrico: pode ocasionar
Cimetidina se Fenitoína for utilizada. hipotensão e deve ser reservado para HIC
3. Controle agressivo da febre. refratária.
4. Acesso venoso central e cateter de PAM. • Tiopental: ataque com 5mg/Kg em 10
Neurologia Hipert ensão Int racraniana 59

min; manutenção por 24h com 5mg/Kg/ 30mmHg); monitorizar SvjO2.


h;após este período, diminuir dose para 3. Hipotermia: pode determinar queda no
2,5mg/Kg/h novos bolos de 2.5mg/Kg para débito cardíaco, pancreatite, plaqueto-
controle adicional da PIC; ajustar a dose penia; algum benefício demonstrado na
para controle da PIC; monitorização com encefalopatia anóxica.
eletroencefalograma necessária. 4. Craniotomia descompressiva: consulta
2. Hiperventilação mais intensa (pCO2 25- com neurocirurgião.
60 Infarto Agudo do M iocárdio com Cardiologia
Supradesnivelament o de Segment o ST

CONSULTORES: parâmetros como a freqüência cardíaca,


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori pressão arterial sistêmica presença de B3
e estertores pulmonares ou sinais de baixo
COLABORADORES debito cardíaco. O exame físico inicial
Antonio Carlos Penteado Borges, UTI Hospi- serve também como base para a suspeita de
tal Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP complicações mecânicas futuras - insufici-
Antonio Carlos Mugayar Bianco, UTI Hospi- ência mitral e comunicação interventricular.
tal Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP
Paula Fernanda da Mata, Aleksander de D IAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Azevedo Dantas, Maurício de Nassau Ma- • Pericardite (a dor se modifica com a pos-
chado, Hospital de Base de São José do Rio tura, ECG com alterações difusas da
Preto, São José do Rio Preto, SP – Hospital repolarização ventricular);
FOB - Fundação Ouro Branco • Miocardite (início mais insidioso e geral-
mente associada a uma síndrome viral);
I NTRODUÇÃO • Dissecção aguda de aorta (dor muito in-
• O IAM é a principal causa de mortes no tensa com irradiação para o dorso,
mundo Ocidental apesar dos avanços assimetria de pulsos periféricos. Atenção:
em seu tratamento (Unidades Coro- extensão proximal da dissecção no óstio
narianas e trombólise). Atualmente apre- da coronária pode levar a IAM
senta taxa de mortalidade em torno de concomitante, particularmente de parede
8 a 10%; inferior);
• É importante o rápido reconhecimento • Tromboembolismo pulmonar (dispnéia
clínico desta entidade, com os seguintes súbita associada à dor torácica, sem evi-
objetivos: 1) Reduzir a necrose miocárdica; dência de congestão pulmonar);
2) Prevenir eventos cardíacos maiores • Doenças do trato gastrintestinal (úlcera
(morte, IAM não fatal e necessidade de perfurada, p.ex.).
revascularizações miocárdicas de urgên-
cia); 3) Tratamento adequado da fibrilação EXAM ES COM PLEM ENTARES
ventricular - principal responsável pela 1) ECG (critérios diagnósticos)
mortalidade nas primeiras horas do IAM. • Supradesnivelamento do segmento ST >
1mm em duas ou mais derivações que ex-
APRESENTAÇÃO CLÍNICA plorem a mesma parede com infradesni-
• Sintomas clássicos: desconforto precordial, velamento do ST em parede contralateral;
subesternal em aperto, pressão ou • Bloqueio de ramo esquerdo novo ou
queimação, de forte intensidade com irra- presumivelmente novo;
diação para o MSE, dorso, ombros e/ou 2) Marcadores bioquímicos de Neclose
região cervical/mandíbula. O desconfor- Miocárdica (CK-MB ou troponina):
to é semelhante ao quadro anginoso, po- Obs: Não se justificam as dosagens de
rém mais intenso, com maior duração (em TGO e DHL
geral superior a 20 minutos) e sem alívio • Colher após 6 horas do início dos
com o repouso ou o uso de nitroglicerina; sintomas
• Sintomas associados: sudorese, dispnéia, • Curva característica de elevação e
palpitações, pré-síncope, náuseas e/ou descenso caracteriza o IAM;
vômitos; • Dosar seriadamente até normalização;
• O exame físico é de grande importância 3) RX de tórax:
para o diagnóstico diferencial e estra- • Diagnóstico diferencial (p.ex. alargamen-
tificação de risco, com a observação de to de mediastino);
Cardiologia Infarto Agudo do M iocárdio com 61
Supradesnivelament o de Segment o ST

4) Ecocardiograma: ras (Atenção: para indicação de reperfusão,


• Deverá ser realizado, preferencialmen- não é necessária a presença de dor duran-
te, nas primeiras 24h do IAM; te a avaliação inicial do paciente).
• Na fase aguda poderá auxiliar no diag- • Critérios diagnósticos do ECG preenchi-
nóstico em casos duvidosos (p.ex. BRE de dos;
início indeterminado, para avaliar altera-
ção de contração segmentar); Indicação de CATE de emergência?
5) Outros exames: • Contra-indicação ao uso de trombolíticos;
• Bioquímica completa (função renal) e • Instabilidade hemodinâmica ou elétrica;
hemograma. • Dissecção de Ao + IAM;
• CATE indisponível: utilizar fibrinólise, sal-
A BORDAGEM TERAPÊUTICA vo contra-indicações absolutas;
• Falência da terapia trombolítica (resgate).
Tratamento geral imediato: Angioplastia pode ser empregada como
A) História clínica dirigida incluindo possí- alternativa ao uso de fibrinolíticos, desde
veis contra-indicações para trombólise, si- que possa ser realizada em até 90 minutos
nais vitais e exame físico; após admissão hospitalar, por operadores
B) Repouso absoluto, monitorização cardía- e centros experientes. Seria superior a te-
ca, acesso venoso periférico calibroso; rapia fibrinolítica quanto a melhora no
C) ECG de 12 derivações: fluxo coronariano, a taxa de sucesso, a
• ECG seriados serão necessários: após taxa de reoclusão e a isquemia pós-
término da trombólise, mudança nos sin- reperfusão.
tomas ou arritmias detectadas na
monitorização; H) Trombólise:
• IAM inferior: realizar derivações direi- • Administrar estreptoquinase 1500000 UI,
tas (V3R e V4R) para afastar IAM de VD diluída em 100ml de SF0.9%, IV, em 1
e derivações dorsais (V7 e V8); hora. Em caso de hipotensão, diminuir a
D) Oxigênio: administrar a todos os pacien- velocidade de infusão, adotar posição de
tes - cateter nasal a 3l/min nas primeiras 2 Trendelenburg, infundir SF0.9% IV (cui-
a 3h. Continuar o uso em caso de dado se congestão presente) e considerar
hipoxemia (SaO2<90%); drogas vasoativas;
E) AAS - 200 a 300mg macerados VO (mas- • Alternativa: rTPA IV, utilizado na forma
tigar e engolir para início de ação mais acelerada (15mg em bolus; 0,75mg/kg em
rápida); 30 minutos (máx: 50mg) e 0,5mg/kg nos
F) Nitrato - Dinitrato de isosorbida SL 60 minutos subseqüentes (máx: 35mg);
(5mg) ou nitroglicerina spray (0,4mg) -
afastar espasmo coronariano. Seguir com Critérios de reperfusão após trombólise:
uso IV, salvo contra-indicações (IAM de • Redução do supra de ST >50% em rela-
ventrículo direito com hipotensão); ção ao ECG de entrada até 60minutos
G) Morfina - 1 a 3mg IV para alívio da dor e após término da trombólise;
conseqüente diminuição da descarga sim- • Melhora total da dor após início da
pática. Atenção aos efeitos colaterais trombólise;
(hipotensão e rebaixamento do nível de • Pico de CKMB precoce (até 12h da pri-
consciência); meira medida - início da infusão do
trombolítico);
Reperfusão indicada? • Arritmias de reperfusão (ritmo idio-
• Duração dos sintomas > 20min e < 12ho- ventricular acelerado, bradiarritmias com
62 Infarto Agudo do M iocárdio com Cardiologia
Supradesnivelament o de Segment o ST

FC<55bpm e aparecimento de BAV na qüência cardíaca do paciente < ou = a 60


ausência de beta-bloqueadores); bpm (cuidado com IAM inferior pela ocor-
rência de bloqueios AV por vagotonia).
Tratamento adjuvante: C) Antagonistas dos canais de Cálcio - utili-
A) Heparina IV - no IAM tratado com rTPA, zar verapamil ou diltiazem nos pacientes
deve ser administrada por 48h. Dose de com contra-indicação ao uso dos beta-
bolus juntamente com o bolus do bloqueadores, desde que não exista
trombolítico (manter o TTPA entre 1,5 e disfunção ventricula esquerda.
2x o basal); D) Inibidores da ECA - iniciar de rotina em
B) Beta-bloqueadores - manter FC entre todos os pacientes com sinais clínicos e/
55 e 60bpm. Infusão de metoprolol IV ou radiológicos de disfunção ventricular
5mg a cada 5 minutos (dose máxima de esquerda. Só não utilizar no IAM peque-
15mg). Em seguida qualquer dos beta- no, sem disfunção de VE comprovada pelo
bloqueadores orais disponíveis pode ser ECO ou radioisótopos. Iniciar com dose
utilizado, no sentido de manter a fre- baixa, titulando-a depois.
Moléstias Infecciosas Infecções Relacionadas a Cat et eres 63

CONSULTOR: microrganismos. Cateteres de Teflon ®,


Décio Diament poliuretano e silicone são menos propensos a
colonização. Contribuem também para a ocor-
I NTRODUÇÃO rência de ICSRC a trombogenicidade dos ma-
As infecções da corrente sangüínea relacio- teriais usados nos cateteres e a capacidade dos
nadas a cateteres (ICSRC) são causa impor- microrganismos de produzir biofilme na super-
tante de morbidade e letalidade de infecções fície do plástico.
nosocomiais. A grande maioria dos acessos ve-
nosos é feita através da utilização de cateteres DIAGNÓSTICO
venosos periféricos, cujo risco de provocar
ICSRC é baixo. Entretanto, devido ao grande 1- Clínico
número de cateteres periféricos utilizados, o As manifestações clínicas são pouco
número de ICSRC causadas por eles é alto, confiáveis para estabelecer o diagnóstico das
mas de baixa gravidade em sua maioria. As ICSRC, devido a sua baixa sensibilidade e
ICSRC mais graves em geral são relacionadas especificidade. A presença de febre e calafrios é
ao uso de cateteres venosos centrais, especial- sensível, mas pouco específica, enquanto que a
mente aqueles que são instalados em pacientes presença de inflamação ou pus no local de in-
de terapia intensiva, onde a incidência de ICSRC serção é específica, mas pouco sensível. Cultu-
é mais elevada, devido ao maior tempo de per- ras de sangue positivas para estafilococos
manência, maior colonização com flora hospi- coagulase negativos, S. aureus ou Candida sp,
talar e maior manipulação. Muitos cateteres na ausência de qualquer fonte identificável de
são instalados durante situações de urgência, infecção, é altamente suspeita de ICSRC.
quando as técnicas de Anti-sepsia e assepsia
podem ser menos rigorosas. A incidência de 2- Laboratorial
ICSRC nos Estados Unidos varia entre 2,9 a • Culturas dos cateteres: devem ser realiza-
11,3/1.000 cateteres-dia nas unidades de tera- das somente se houver suspeita de ICSRC,
pia intensiva, com mortalidade atribuída vari- utilizando técnicas quantitativas ou semi-
ando de 12 a 25% e gerando custos elevados ao quantitativas para o segmento da ponta (±
sistema de saúde. 5 cm) ou do subcutâneo. Culturas qualita-
Os principais patógenos envolvidos são: tivas em meio líquido não são recomenda-
estafilococos coagulase negativos (37%), das. Para cateteres de artéria pulmonar
Staphylococcus aureus (13%), enterococos (Swan-Ganz), além da ponta do cateter,
(13%), bacilos Gram-negativos aeróbios deve-se cultivar a ponta do introdutor, onde
(14%), Pseudomonas aeruginosa (4%) e Candida há melhor chance de recuperação do mi-
sp (8%). crorganismo causador da infecção. As cul-
As ICSRC decorrem da colonização da turas semiquantitativas com >15 UFC ou
parte externa e/ou da parte interna dos catete- quantitativas com > 102 UFC, acompa-
res. A colonização externa é proveniente da nhadas de sinais locais ou sistêmicos de
migração de bactérias da pele, presentes no lo- infecção são indicativas de ICSRC.
cal de inserção e a colonização interna vêm da • Hemoculturas: devem ser colhidas duas ou
contaminação dos conectores (“hub”). Rara- três amostras de hemoculturas, sendo que
mente pode ocorrer contaminação do cateter pelo menos uma de veia periférica e uma
por via hematogênica ou a ICSRC pode ser do cateter. O valor preditivo positivo é de
causada pela substância utilizada na infusão. 63% e 73% para culturas de cateteres e
As ICSRC costumam ser mais freqüentes sangue, respectivamente; o valor preditivo
com o uso de cateteres de polivinil ou negativo é de 99% e 98%, respectivamen-
polietileno, nos quais há maior aderência dos te. Portanto, culturas obtidas através de
64 Infecções Relacionadas a Cat et eres Moléstias Infecciosas

cateteres, quando positivas requerem in- TRATAM ENTO


terpretação clínica, mas um resultado ne-
gativo é praticamente excludente para 1- Antibioticoterapia empírica
ICSRC. Depende de vários fatores, como gravidade
• Hemoculturas quantitativas: são preco- do caso, fatores de risco para infecção, micror-
nizadas nos casos de cateteres os quais ganismos associados com o cateter, etc. Nos
não se deseja remover, devido a dificulda- hospitais onde há alta prevalência de estafi-
de de acesso venoso. São feitas coletas de lococos resistentes à oxacilina, a vancomicina é
amostras de sangue periférico e do cateter a droga de primeira escolha para cobertura de
e quando a amostra do cateter é positiva Gram-positivos. Quando a prevalência de re-
com contagem de colônias cinco a 10 ve- sistência à oxacilina for baixa ou inexistente,
zes maior que a contagem na amostra do utiliza-se a oxacilina. A cobertura de Gram-
sangue periférico, considera-se alta a pro- negativos deve incluir a P. aeruginosa e os
babilidade de ICSRC. Para cateteres antimicrobianos de escolha devem ser as
tunelizados de longa permanência consi- cefalosporinas de terceira geração com ativida-
dera-se altamente provável de ser ICSRC de anti-Pseudomonas, como a ceftazidima ou
resultados iguais ou maiores que 100 UFC/ cefalosporinas de quarta geração, como a
ml, sem comparação com a hemocultura cefepima ou cefpiroma. Outros antimicrobianos
periférica. podem ser utilizados, conforme o conhecimento
• Análise diferencial de tempo para positivar dos padrões de resistência bacteriana de cada
de hemoculturas periféricas versus do ca- instituição. Para a cobertura empírica contra
teter: este método utiliza a monitoração fungos a escolha recai sobre a anfotericina-B.
radiométrica ou fluorimétrica do cresci- O fluconazol deve ser evitado como primeira
mento bacteriano em hemoculturas escolha, devido a ocorrência de cepas de Candida
automatizadas e compara o diferencial no não-albicans resistentes a este medicamento. A
tempo para obter resultado positivo de duração da terapia é estimada inicialmente em
hemoculturas qualitativas, colhidas do 10 a 14 dias para casos não complicados, onde
cateter e de veia periférica. Culturas de há somente bacteremia. Nos casos complica-
sangue obtidas através do cateter que fi- dos, onde há trombose séptica, endocardite,
cam positivas duas horas ou mais antes osteomielite ou focos infecciosos metastáticos,
das culturas obtidas simultaneamente do a duração da terapia deve ser mais prolongada,
sangue periférico são indicativas de por quatro a seis semanas no mínimo, podendo
ICSRC, com sensibilidade de 91% e atingir oito semanas nos casos mais graves.
especificidade de 94%. A vantagem deste
método é que não é necessário realizar 2- Remoção do cateter
culturas quantitativas. Além disso, mui- • Cateteres venosos periféricos: devem ser
tos laboratórios de hospitais dispõem de removidos e a ponta enviada para cultura
sistemas automatizados para hemo- semiquantitativa, após coleta de hemo-
culturas, o que facilita sua implantação. culturas, conforme descrito anteriormen-
Entretanto, requer monitoramento cons- te, antes do início da antibioticoterapia
tante dos tempos para positivação das empírica.
hemoculturas. • Cateteres venosos centrais não-tunelizados:
• Culturas dos líquidos de infusão: devem se houver infecção grave sistêmica acom-
ser realizadas quando houver suspeita de panhada eritema ou pus no local de inser-
contaminação, sempre acompanhadas de ção ou ainda se houver sepse de origem
hemoculturas e eventualmente de culturas indeterminada, o cateter deve ser removi-
do cateter. do e enviado para cultura após a coleta de
Moléstias Infecciosas Infecções Relacionadas a Cat et eres 65

hemoculturas, conforme descrito anterior- o cateter deve ser removido e a antibio-


mente, antes do início da antibioticoterapia ticoterapia deve ser instituída por no míni-
empírica. No caso de cateteres trocados mo sete a 10 dias. A reinserção ou
com guia, se houver infecção do cateter reimplantação deve ser realizada somente
removido, o novo cateter deverá ser remo- após o início da antibioticoterapia apro-
vido e outro cateter deverá ser implantado priada e da obtenção de hemoculturas ne-
em outro local. O cateter poderá ser man- gativas ou, se for possível, após o término
tido em alguns casos em que não há evi- da terapia antimicrobiana.
dência de persistência da ICSRC ou se o • Terapia intraluminal ou instilação local de
microrganismo infectante é o estafilococo antimicrobianos na luz do cateter
coagulase negativo e não há suspeita de (“antibiotic lock therapy”): a resposta a esta
complicações locais ou metastáticas. Nos modalidade terapêutica é mais provável de
casos de ICSRC por S. aureus, a probabili- acontecer nas infecções do lúmen interno
dade de desenvolvimento de endocardite do cateter, principalmente quando o mi-
bacteriana é considerável e recomenda-se a crorganismo causador for o estafilococo
realização de ecocardiografia transesofágica coagulase negativo. Estas infecções intra-
(ETE) quando possível, visando detectar luminais são mais freqüentes nos cateteres
vegetações em valvas cardíacas; se a ETE com mais de duas semanas de permanên-
não for disponível ou for contra-indicada, cia. As recorrências acontecem porque os
e a ecocardiografia transtorácica não reve- antimicrobianos, nas concentrações utili-
lar vegetações, a duração da antibio- zadas, não conseguem matar os microrga-
ticoterapia deve ser definida individualmen- nismos dentro do biofilme. A terapia
te para cada paciente. Nos casos de ICSRC intraluminal não funciona nas infecções
comprovada que não apresentam melhora extraluminais, ou seja, nas infecções do tú-
após a retirada do cateter e três dias de nel ou da bolsa subcutânea. Esta terapia
antibioticoterapia eficaz e com sinais de deve ser usada em conjunto com a
bacteremia ou fungemia persistentes, de- antibioticoterapia sistêmica, pois a proba-
vem ser extensivamente avaliados para a bilidade de salvar o cateter é maior que
possibilidade de trombos sépticos, endo- com qualquer das duas terapias sozinhas.
cardite ou infecção metastática. Pacientes Esta técnica é indicada nos cateteres de
febris portadores de valvopatias cardíacas longa permanência, cuja remoção precisa
ou neutropenia cujo cateter apresentar cul- ser evitada a todo custo, devido a dificul-
tura positiva para S. aureus ou Candida sp, dade de obtenção de acesso venoso nos
sem evidência de sepse ou bacteremia, de- pacientes que usam este tipo de cate-
vem ser monitorados com maior freqüên- terização. A solução de antimicrobiano é
cia e devem ter as hemoculturas colhidas. instilada no cateter de forma a preencher
• Cateteres de longa permanência tunelizados todo seu lúmen (cerca de 2 a 5 ml); o cate-
ou implantados: estes cateteres devem ser ter é fechado e a solução lá permanece pelo
removidos somente nos casos complica- período que o cateter não é utilizado, como
dos. Nos casos não complicados pode-se por exemplo, durante a noite, por 12 ho-
tentar salvar o cateter com antibio- ras. A solução de antibiótico é usada na
ticoterapia sistêmica associada à instilação concentração de 1 a 5 mg/ml associada a
local de antimicrobianos na luz do cateter 50 a 100 unidades de heparina. A
(“antibiotic lock therapy”) por duas sema- vancomicina é usada na concentração de 1
nas, desde que não haja infecção do túnel a 5 mg/ml, a gentamicina de 1 a 2 mg/ml e
ou da bolsa subcutânea. Nos casos com a ciprofloxacina de 1 a 2 mg/ml. A solução
infecção do túnel ou da bolsa subcutânea, deve ser removida antes da utilização do
66 Infecções Relacionadas a Cat et eres Moléstias Infecciosas

cateter para infusões. A duração da terapia da flora bacteriana da pele.


intraluminal em geral é de duas semanas. • Curativos: quando houver sangramento o
curativo deve ser feito com gaze estéril. A
3- Prevenção das ICSRC utilização de curativos transparentes de
• Controle de qualidade e educação conti- poliuretano não reduz o risco de infecção
nuada: padronização de procedimentos, em relação a gaze estéril e esparadrapo.
monitorização contínua e treinamento são Todavia, os curativos transparentes permi-
fundamentais para se obter redução das tem visualizar o local da inserção, são im-
taxas de ICSRC. Equipes especializadas em permeáveis, permitindo o banho e reque-
cateteres podem ser de grande valia neste rem menos trocas.
processo. A redução do número de enfer- • Filtros de infusão: reduzem a incidência de
meiras aumenta o risco de ICSRC. flebite, mas não há dados sobre a redução
• Local da inserção: as extremidades inferio- da incidência de ICSRC. Não são reco-
res de pacientes adultos são propensas a mendados na rotina diária e somente de-
maior risco de flebite e infecção, assim como vem ser utilizados em situações específicas.
as veias do braço e do punho infectam mais • Cateteres impregnados com anti-sépticos
que as veias das mãos. Em adultos, catete- ou antimicrobianos: estes cateteres podem
res femorais e jugulares têm maior risco de reduzir a incidência de ICSRC e conse-
infecção que aqueles implantados nas veias qüentemente, reduzem também o custo
subclávias. Nos pacientes pediátricos a do tratamento das ICSRC, apesar de ter
cateterização femoral tem risco de compli- um custo de aquisição mais elevado. Os
cações mecânicas e infecciosas praticamente cateteres podem ser revestidos de
igual ao das outras localizações. clorexidina e sulfadiazina de prata,
• Tipo de material: cateteres de Teflon, rifampicina e minociclina, platina e prata
silicone ou poliuretano são menos suscep- ou somente prata. O revestimento pode
tíveis a colonização que os cateteres de ser somente externo ou externo e interno,
polivinil ou polietileno. Agulhas metálicas sendo este último tipo o preferido. Por exem-
tem as mesmas taxas de colonização que os plo, há cateteres revestidos com clorexidina
cateteres de Teflon, mas apresentam maior interna e externamente e sulfadiazina de prata
probabilidade de complicações mecânicas. somente na parte externa. Até o momento,
• Anti-sepsia e assepsia: para a inserção de não há relato de colonização por microrga-
cateteres curtos em veias periféricas é sufi- nismos resistentes a esta combinação. En-
ciente lavar as mãos e usar luvas, como tretanto, nos cateteres revestidos com
parte das precauções universais, associado minociclina e rifampicina, pode ocorrer re-
à assepsia local e técnica asséptica na mani- sistência a qualquer dos dois antimicro-
pulação do cateter. A implantação de cate- bianos, apesar desta combinação ser bastan-
teres centrais deve ser feita com técnica te eficaz na redução de risco de ICSRC.
asséptica rigorosa, constando de lavagem Estes cateteres devem ser usados somente
de mãos com sabão anti-séptico, uso de quando há real necessidade de reduzir a in-
máscara, gorro, avental estéril e luvas esté- cidência de ICSRC e quando os procedi-
reis, limpeza da pele com anti-séptico, co- mentos padrão para prevenção tenham sido
locação de campos estéreis e manipulação implantados e rigorosamente seguidos pela
asséptica do material. A Anti-sepsia da pele equipe de profissionais envolvidos.
deve ser feita com álcool a 70%, povidina a • Profilaxia antimicrobiana sistêmica: não há
10% ou clorexidina a 1% ou 2%, sendo estudos que suportem o uso desta prática e
que esta última é preferida por apresentar ela não deve ser feita rotineiramente.
melhores resultados em termos de redução • Uso tópico de antimicrobianos e anti-sép-
Moléstias Infecciosas Infecções Relacionadas a Cat et eres 67

ticos: o uso tópico, sobre o local de inser- cas rotineiras e o critério é clínico. Os cu-
ção, de pomadas contendo povidina ou rativos devem ser feitos pelo menos diaria-
mupirocina reduz a incidência de ICSRC. mente ou sempre que estiverem soltos ou
No entanto, podem aparecer microrganis- molhados. Os equipos podem ser trocados
mos resistentes a mupirocina, como por a cada 72 horas, salvo se houver contra-
exemplo a Candida sp. Além disso, este indicação médica. As soluções parenterais
medicamento pode alterar o material plás- não têm tempo determinado de goteja-
tico do cateter e por isso deve ser usado mento ou troca, exceto medicamentos com
com cuidado. A povidina pode provocar prazo estabelecido pelo fabricante. Solu-
reações alérgicas na pele. Pacientes porta- ções lipídicas não devem gotejar por mais
dores de S. aureus nasal, cujo risco de ad- de 12 horas e soluções de nutrição
quirir ICSRC é maior, podem ter este risco parenteral com lipídios não devem exceder
reduzido com o uso de ungüento nasal de 24 horas. Hemoderivados devem gotejar
mupirocina. em no máximo quatro horas.
• Profilaxia com antimicrobianos intra- • Cateteres arteriais periféricos: não há reco-
luminais (antibiotic lock prophylaxis): o mendação de troca rotineira nem de tem-
uso da instilação de solução de vancomicina po de permanência. Os curativos devem
associada a heparina e ciprofloxacina no ser diários ou quando estiverem molhados
lúmen do cateter tem sido proposto e al- ou soltos. Os equipos e transdutores de-
guns estudos clínicos demonstraram sua vem ser trocados a cada 72 horas. A solu-
eficácia em reduzir o risco de aquisição de ção de lavagem deve ser trocada junto com
ICSRC. Porém, como o uso de vancomicina o equipo (72 horas).
é fator de risco independente para a aquisi- • Cateteres venosos centrais (inclui catete-
ção de enterococo resistente a vancomicina, res de artéria pulmonar, hemodiálise e ca-
esta prática não é recomendada na rotina. teteres inseridos perifericamente): a troca
• Anticoagulantes: a utilização de heparina rotineira não é recomendada. Os curativos
intraluminal ou sistêmica reduz o risco de com gaze devem ser trocados cada 48 ho-
trombose do cateter, mas não reduz o risco ras e os transparentes a cada sete dias, ou
de aquisição de ICSRC. A warfarina em quando estiverem molhados ou soltos. Os
dose baixa (1 mg/dia) também reduz a in- equipos podem ser trocados a cada 72 ho-
cidência de trombose de cateter de longa ras, exceto as soluções lipídicas, nutrição
permanência, mas sua utilização implica parenteral e hemoderivados, cuja troca deve
em complicações (sangramentos). Catete- seguir as recomendações descritas acima.
res revestidos de heparina e cloreto de • Cateteres umbilicais: não há recomenda-
benzalcônio também reduzem o risco de ção para trocas rotineiras. Os equipos po-
trombose, mas não está claro ainda se há dem ser trocados a cada 72 horas, exceto
impacto significativo na incidência de hemoderivados, soluções lipídicas e nutri-
ICSRC. ção parenteral, que devem seguir as reco-
mendações acima.
4- Recomendações para troca de cateteres,
curativos, equipos e soluções parenterais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
• Cateteres venosos periféricos: Em adultos, 1. O’Grady NP, Alexander M, Dellinger EP, et. al.
Guidelines for the Prevention of Intravascular
as trocas devem ser feitas com intervalos de Catheter-Related Infections. MMWR, 2002, 51(RR-
72 a 96 horas. Cateteres inseridos na ur- 10): 1-29.
gência devem ser trocados em até 48 horas. 2. Mermel LA, Farr BM, Sherertz RJ, et. al. Guidelines for
the Management of Intravascular Catheter-Related
Em pediatria não há recomendação de tro- Infections. Clin. Infect. Dis., 2001, 32(5): 1249-72.
68 Insuficiência Respirat ória Aguda na Doença Pneumologia
Pulmonar Obst rut iva Crônica

CONSULTOR: - Manutenção 100 a 200 mg EV 6/6 h


Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho • Metilprednisolona 1 amp - 125mg
- Ataque 125 mg EV bolus
COLABORADORES: - Manutenção 40 a 80 mg EV 6/6 h
André Albuquerque, Carmen Sílvia Valente
Barbas, Carlos Jardim, Eduardo Borges, 2. EXAM ES COM PLEM ENTARES
Eduardo Leite, Frederico Leon Arrabal • Gasometria arterial
Fernandes, Guilherme de Paula Pinto • Radiografia de tórax
Schettino, Marcelo Britto Passos Amato, • Hemograma completo
Pedro Caruso - Unidade de Terapia Intensiva - • Bioquímica
Respiratória. Hospital das Clínicas da Faculda-
de de Medicina da Universidade de São Paulo 3. V ENTILAÇÃO N ÃO I NVASIVA
Élcio Tarkieltaub, Francisco Antônio Duarte Indicações
Jr, Fátima Barbosa Cordeiro, Simone • DPOC descompensada
Naomi Sato - Unidade de Terapia Intensiva - • Sinais de insuficiência respiratória aguda
Adulto. Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio • Paciente consciente e colaborativo
Corrêa Netto • Reflexo de tosse presente
• Estabilidade hemodinâmica
1. TRATAM ENTO FARM ACOLÓGICO
Broncodilatadores Técnica
• Formoterol inalatório 2,5 mg - 10 gotas • Decúbito elevado
diluídas em 2 a 4 ml a cada 20 minutos, • Orientar o paciente
espaçar doses conforme melhora clínica • Escolher a melhor interface (máscara) de
• Salbutamol inalatório 5 mg - 20 gotas acordo com o tamanho
diluido em 2 a 4 mL a cada 20 minutos, • BIPAP:
espaçar doses conforme melhora clínica - EPAP inicial de 5 cmH2O e IPAP de 10
• Salbutamol injetável 1mL - 500 mcg - cmH2O - Titular pressões de acordo com
8mcg/Kg SC 4/4 h ou 5 mcg/min EV (au- o conforto do paciente, volume corrente
mentar para 10 mcg/min conforme res- obtido e melhora clínica
posta clínica) - FIO2 suficiente para manter saturação
• Brometo de ipatrópio 250 a 500 mcg - 20 próxima de 95%
a 40 gotas diluídos em 2 a 4 mL a cada 20 - Considerar sucesso se houver melhora
minutos, espaçar doses conforme melho- do padrão ventilatório, queda da freqüên-
ra clínica cia respiratória e da PaCO2 e manutenção
da SaO2 em 30 a 45 min
Xantina
• Aminofilina oral - 200mg VO 6/6 horas Complicações
• Aminofilina endovenosa 240 mg / 10 mL • Escape excessivo de ar pela máscara (cui-
/ 1 amp dado com os olhos)
- Ataque 5 - 6 mg/kg (usuário crônico 2,5 • Rebaixamento do estado de consciência
a 3 mg/kg) • Vômitos, broncoaspiração e aerofagia
- Manutenção 15 mg/kg/24 h (fumantes • Lesões de face, sinusite e otite
22 mg/kg/24 h)
4. V ENTILAÇÃO I NVASIVA
Corticoesteróide Indicações
• Hidrocortisona 1 amp - 100 / 300 / 500 mg • Falência da ventilação não invasiva
- Ataque 300 mg EV bolus • Hipoxemia (PaO 2 < 55 mmHg) ou
Pneumologia Insuficiência Respirat ória Aguda na Doença 69
Pulmonar Obst rut iva Crônica

hipercapnia (PaCO2 >50 mmHg com pH • PEEP + auto PEEP < 15cmH2O
< 7,30) refratárias • Pico de pressão < 50 cmH2O
• Acidose grave • Pressão de platô < 35 cmH2O
• Rebaixamento do estado de consciência • Iniciar FIO2 100%, reduzir progressiva-
• Instabilidade hemodinâmica mente objetivando SaO2 > 90%
• Perda dos reflexos de proteção da via aérea
Complicações
Parâmetros ventilatórios • Auto - PEEP
• Tubo traqueal com grande calibre (diâ- • Deterioração hemodinâmica
metro ≥ 8) • Barotrauma
• Modo controlado por no mínimo 12 h
• Volume corrente 8 mL/Kg Desmame
• Baixa freqüência respiratória - 8 a 12 ipm • FIO2 < 40 %, PEEP < 5 cmH2O, pH
• Altos fluxos inspiratórios > 50 L/min entre 7,3 e 7,5
• Relação I:E menor que 1:2 (1:3 - 1:5 ou • Retirar bloqueio neuro-muscular e depois
menos, para evitar auto - PEEP) a sedação
• PEEP entre 5 e 10 cmH2O ou 85% do • Desmame em PSV ou tubo T
auto-PEEP calculado pela manobra de • Manter ventilação não invasiva após
pausa expiratória desmame
Figura. Suport e vent ilat ório na agudizadação da DPOC

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: I Consenso Brasileiro de Doença Pulmonar Obstrutiva Crô-


II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. Jornal de nica. Jornal de Pneumologia Volume 26 - Suplemento nº 1 -
Pneumologia Volume 26 - Número 2 - Mai 2000 Abr 2000
70 Int oxicação por Barbit úricos Intoxicações Exógenas

CONSULTOR: ceder o nível sérico de fenobarbital, a iden-


Sérgio Graff, Lígia Fruchtengarten tificação qualitativa por Cromatografia em
Camada Delgada poderá ser útil para
COLABORADOR: elucidar o diagnóstico, sobretudo nos co-
Alessandra Athayde, Hospital Pedreira, São mas de causa desconhecida.
Paulo - SP
TRATAM ENTO GERAL
I NTRODUÇÃO O vômito não está indicado devido ao
Os Barbitúricos, particularmente o potencial de depressão do SNC.
Fenobarbital, são largamente utilizados nos A Lavagem Gástrica poderá ser realizada
dias de hoje no tratamento e controle de nas primeiras horas após a ingestão com especi-
crises convulsivas. Nos anos 50 e 60 em vir- al atenção para prevenir aspiração pulmonar.
tude de seu uso como sedativo e indutor do O carvão ativado deverá ser administra-
sono, esta classe de medicamentos foi res- do na dose de 1 g/kg em crianças e 50 g em
ponsável pela morte de uma série de pesso- adultos diluídos numa proporção de 1:7 ou
as e artistas famosos particularmente por 1:8 em água, em doses repetidas à cada 4 ou
tentativa de suicídio. 6 horas por pelo menos 48 ou 72 horas,
dependendo da dose ingerida e da resposta
SUBSTÂNCIAS ENVOLVIDAS clínica do paciente.
Embora existam vários barbitúricos dis- Associar laxante salino tal como Sulfato
poníveis no mercado, as intoxicações mais de Sódio ou de Magnésio visando manter o
freqüentes por este grupo de fármacos são trânsito intestinal normal, uma vez que o
as causadas por ingestão intencional ou aci- fenobarbital é um inibidor do peristaltismo
dental de Fenobarbital (Gardenal®). intestinal.
A diurese forçada com diuréticos não é
D IAGNÓSTICO mais utilizada, entretanto a alcalinização
Sinais como Nistagmo, disartria, ataxia, urinária com bicarbonato de sódio visando
fraqueza, depressão respiratória e coma são manter o pH urinário entre 7 e 8 pode ser
comumente encontrados na intoxicação útil na eliminação do fenobarbital, mas ape-
barbitúrica. Menos freqüentemente, pode- nas nos casos graves. Administrar 1 mEq/kg
mos encontrar hipotensão e hipotermia. O de bicarbonato de sódio inicialmente.
início dos sintomas dá-se geralmente entre Monitorizar e corrigir possíveis distúrbios
1 a 2 horas após a ingestão. A ingestão metabólicos e hidroeletrolíticos.
concomitante de álcool e outros depressores Apenas nos casos muito graves onde
do SNC pode aumentar a toxicidade e a houver coma profundo com depressão res-
gravidade do quadro. piratória, a hemodiálise ou hemoperfusão
deverá ser indicada, pois apesar de muito
EXAM ES LABORATORIAIS eficaz na remoção de barbitúricos é um pro-
A dosagem de fenobarbital sérico é o cesso invasivo e de risco.
melhor exame a ser realizado. Geralmente
níveis em torno de 2 a 3 mg/dL (ou 20 -30 TRATAM ENTO ESPECÍFICO
mcg/mL) estão geralmente associados a de- Não há antídoto específico para os
pressão do SNC, enquanto que níveis em barbitúricos. Em casos onde houver suspeita
torno de 8 mg/dL ( 80 mcg/mL ) estão qua- de associação com benzodiazepínicos, a pro-
se sempre associados ao coma de maior ou va terapêutica com o Lanexat® poderá ser efe-
menor intensidade. tuada, e nos casos de suspeita de associação
Nos casos em que não for possível pro- com opióide poderá ser utilizado o Narcan®.
Intoxicações Exógenas Int oxicação por Barbit úricos 71

M ONITORAM ENTO/A COM PANHAM ENTO SEGUIM ENTO PÓS-ALTA


Muitas vezes o paciente faz uso tera- Como a freqüência de tentativas de sui-
pêutico de barbitúricos para controle de cídio é muito elevada nas intoxicações por
crises convulsivas, e nesses casos é recomen- barbitúricos, recomenda-se manter o pa-
dado que se mantenha um controle do nível ciente sob supervisão de equipe de saúde
sérico de fenobarbital, visando ajustar a dose mental após a alta hospitalar.
terapêutica que deverá ser mantida após a
intoxicação.
72 Int oxicação por Benzodiazepínicos Intoxicações Exógenas

CONSULTORES: meia-vida de eliminação é o que diferencia


Sérgio Graff, Lígia Fruchtengarten os compostos de ação curta daqueles de ação
prolongada.
INTRODUÇÃO O esvaziamento gástrico portanto, através
Os Benzodiazepínicos são sedativos hipnóti- da indução de vômitos ou lavagem gástrica so-
cos largamente utilizados como tranqüilizantes, mente estarão indicados nas ingestões recentes
ansiolíticos, miorrelaxantes e anticonvulsivantes. (primeiras uma ou duas horas).
As principais circunstâncias que podem levar a Nestes casos proceder a lavagem gástrica e
casos de intoxicações envolvem as tentativas de em seguida administrar o carvão ativado (1 g/kg
suicídio, acidentes com crianças, erro de dosagem de peso para crianças e 50 g para adultos), associ-
na administração terapêutica e automedicação, ado a laxantes salinos como o sulfato de sódio ou
além de situações de violência. As intoxicações magnésio na dose de 25 g.
por este grupo de medicamentos particularmente Suporte Respiratório (Ventilação com pres-
nas tentativas de suicídio esta na maioria das ve- são positiva, entubação nos casos mais graves).
zes associada à outras drogas, principalmente o Suporte hemodinâmico e nutricional.
álcool etílico cuja associação potencializa os efei-
tos depressores podendo resultar em coma grave TRATAMENTO ESPECÍFICO
com depressão respiratória. O Flumazenil (Lanexat®) é o antagonista es-
pecífico dos benzodiazepínicos. Está indicado
SUBSTÂNCIAS ENVOLVIDAS sobretudo nos casos graves com coma mais pro-
Diazepam: Dienpax fundo e depressão respiratória como aqueles cau-
Clonazepam: Rivotril sados por diazepínicos de ação curta como o
Flurazepam: Dalmadorm flunitrazepam e o midazolam.
Flunitrazepam: Rohypnol Está também indicado como prova tera-
pêutica nos diagnósticos diferenciais onde o
DIAGNÓSTICO paciente poderá informar dados valiosos sobre
Os principais sintomas da intoxicação a intoxicação.
diazepínica, envolvem graus variáveis de depres- Dose inicial: 0,3 mg EV a cada 60 segundos
são do Sistema Nervoso Central indo desde sono- (dose máxima 2 g), até obter o efeito. Após,
lência até o coma. Nos casos graves (altas doses e poderá ser ministrado em infusão contínua de
administração pela via endovenosa) os sintomas 0,3 a 0,4 mg/hora.
podem incluir coma profundo com depressão res-
piratória, bradicardia, hipotensão arterial. M ONITORAMENTO/ACOMPANHAMENTO
Para a maioria dos pacientes, uma vez que o
EXAMES LABORATORIAIS fármaco é metabolizado e eliminado, a depressão
O principal exame realizado é a identificação do SNC reverte-se, e o paciente estará normal em
da substância em material biológico (sangue, uri- algumas horas ou dias.
na e aspirado gástrico) por cromatografia ou iden- Conforme o paciente tiver condições de
tificação qualitativa em urina por contatar, é imprescindível a avaliação e posterior
imunofluorescencia polarizada (TDX®). Estes acompanhamento por Equipe de Saúde Mental.
exames são importantes no diagnóstico diferenci-
al dos casos graves. SEGUIMENTO PÓS-ALTA
Nenhum seguimento em especial deverá ser
TRATAMENTO GERAL adotado nos casos em que o paciente se recupera
Os benzodiazepínicos de um modo geral sem seqüelas, à não ser acompanhamento por
são substâncias rapidamente absorvidas pelo serviço de saúde mental nos casos de ingestões
trato gastrintestinal após sua ingestão. A intencionais por tentativa de suicídio.
Intoxicações Exógenas Int oxicação por M onóxido de Carbono 73

CONSULTORES: DIAGNÓSTICO
Sérgio Graff, Lígia Fruchtengarten Os efeitos agudos podem ser classificados
de acordo com o nível de concentração
I NTRODUÇÃO sangüínea da carboxihemoglobina (COHb),
O Monóxido de Carbono é um gás inco- a saber.
lor, inodoro, e com densidade próxima a do
ar. É produzido na decomposição incompleta Toxicidade Leve
de toda substância que contenha átomos de Níveis de 10 a 30% de COHb produzem
carbono como incêndios, gases vulcânicos, dor de cabeça temporal pulsátil, tontura e
cigarro e principalmente aquecedores de água dispnéia.
ou de ambientes mal regulados.O gás domés-
tico não contém mais CO, entretanto o Toxicidade Moderada
monóxido pode ser produzido durante sua Níveis de 30 a 50% de COHb produzem
queima. dor de cabeça severa, fraqueza, tontura, náu-
seas, vômitos, perda da consciência,
SUBSTÂNCIAS ENVOLVIDAS taquicardia e taquipnéia.
É produzido na decomposição incomple-
ta de toda substância que contenha átomos Toxicidade Severa
de carbono como incêndios, gases vulcânicos, Níveis de 50 a 80% de COHb produzem
cigarro e principalmente aquecedores de água perda da consciência, convulsão, coma, para-
ou de ambientes mal regulados. da respiratória e morte.
A baixa oxigenação dos tecidos (hipóxia
M ECANISM O DE AÇÃO TÓXICA tecidual) em nível do sistema nervoso central
Os efeitos do CO na saúde humana e aparelho cardiovascular provoca distúrbios
são conseqüência da sua capacidade de se metabólicos e fisiológicos, com o aparecimento
combinar irreversivelmente com a dos sintomas acima descritos.
hemoglobina, dando lugar à formação da
carboxihemoglobina. O transporte de oxi- EXAM ES LABORATORIAIS
gênio pelo sangue, desde os pulmões até os Determinar o nível de COHb na admis-
tecidos, assegurado pela oxihemoglobina são do paciente e repetir a cada 2 ou 4 horas
(hemoglobina combinada com o oxigênio) até que o paciente permaneça assintomático
fica desta forma comprometido devido à ou os níveis retornem ao normal.
ocupação do centro ativo da hemoglobina Manter monitoração cardíaca, eletrólitos,
pelo CO, composto que possui uma afini- CPK, gasometria arterial. O oxímetro de pul-
dade para se combinar com a hemoglobina so não é uma estimativa realista da saturação
200 vezes superior à do oxigênio. Os dife- de oxihemoglobina.
rentes níveis de carboxihemoglobina po-
dem provocar diferentes tipos de efeitos TRATAM ENTO GERAL
nos indivíduos afetados, tais como dificul- Retirar imediatamente o paciente do lo-
dades respiratórias e asfixia. A transforma- cal, interromper a fonte de exposição, leva-lo
ção de 50% da hemoglobina em carboxihe- para respirar ar puro.
moglobina pode levar à morte. A porcen- Evitar respiração boca a boca pelo risco
tagem de carboxihemoglobina formada de- de intoxicação do socorrista por CO, utilizar
pende da taxa inicial de carboxihemo- ambu para este fim.
globina (ex. fumante), do tempo de expo- Se possível colher sangue para dosagem
sição, da concentração de CO no ar inala- de carboxihemglobina antes de iniciar a admi-
do e da ventilação do indivíduo. nistração de oxigênio a 100%.
74 Int oxicação por M onóxido de Carbono Intoxicações Exógenas

A concentração de COHb nem sempre refle- diazepam em adultos ou 10 mg em crianças.


te bem a severidade do quadro. De um modo Pacientes com sinais de aumento da pres-
geral, qualquer paciente encontrado inconscien- são intracraniana deverão ser hiperventilados
te, convulsionando, com alterações de ECG e/ou com 100% de oxigênio visando manter o
acidose metabólica deverá ser tratado como uma pCO2 arterial entre 25 e 30 mmHg.
intoxicação severa por monóxido de carbono, in-
dependentemente da concentração de COHb. TRATAM ENTO ESPECÍFICO
Considerar a utilização de oxigênio O único tratamento é administração de
hiperbárico nos pacientes graves (com coma, oxigênio normo ou hiperbárico, visando di-
convulsões e isquemia miocárdica). Também minuir a meia vida do CO.
considerar seu uso em mulheres grávidas. Ins-
tituir a terapia hiperbárica tão logo seja possí- M ONITORAM ENTO/ACOM PANHAM ENTO
vel, idealmente dentro de 6 a 8 horas. Tomografia computadorizada ou resso-
O controle das convulsões deverá ser rea- nância magnética deve ser considerada se os
lizado com Diazepam EV (adultos: 5 a 10 mg, sintomas neurológicos persistirem.
repetidos a cada 10 ou 15 minutos se necessá-
rio; crianças: 0,2 a 0,5 mg/kg repetidos à cada SEGUIM ENTO PÓS- ALTA
5 minutos se necessário). Uma vez normalizados os níveis de carboxi-
Considerar a utilização de Fenobarbital hemoglobina, e se não há seqüelas neurológicas o
se as crises não cessarem após 30 mg de paciente poderá receber alta definitiva.
Intoxicações Exógenas Int oxicações por Inset icidas Carbam at os 75

CONSULTORES: resultando em salivação, sudorese, lacri-


Sérgio Graff, Lígia Fruchtengarten mejamento, aumento de secreção brônquica,
bradicardia, miose, vômitos e diarréia.
I NTRODUÇÃO As manifestações nicotínicas resultam da
Os pesticidas Carbamatos inibidores das ação da acetilcolina nos gânglios simpáticos e
colinesterases são um grupo de produtos larga- placas mioneurais, com sintomas de taquicardia,
mente utilizados como agrotóxicos e insetici- hipertensão, midríase, fasciculações, fraqueza
das de uso doméstico. Especial atenção deve muscular, hiporreflexia, que podem evoluir para
ser dada ao fato de existirem agrotóxicos paralisia de músculos respiratórios, insuficiên-
ditiocarbamatos que não são inibidores da cia e parada respiratória.
colinesterase como o Thiram, Ziram e outros. Os sintomas de SNC incluem desde sinto-
mas leves e inespecíficos como agitação, labilidade
SUBSTÂNCIAS ENVOLVIDAS emocional, cefaléia, tontura, confusão mental, até
Os principais compostos são representa- sintomas mais graves como ataxia, convulsões,
dos pelos carbamatos de uso agrícola como coma e depressão cárdio-respiratória.
Aldicarb e Carbofuran e os de uso doméstico As causas mais freqüentes de óbito nas in-
como Propoxur, Carbaril e outros. Recente- toxicações por inibidores de colinesterases são
mente no Brasil, o principal responsável por a insuficiência respiratória, broncoaspiração ou
intoxicações em adultos e crianças tem sido o infecções pulmonares secundárias.
Aldicarb, numa utilização clandestina como A estrutura química e a dose dos inibidores
raticida (uso não autorizado) e com o nome de colinesterases são as características que in-
popular de “chumbinho” devido às suas carac- fluenciam a gravidade da intoxicação e o tra-
terísticas físicas (não confundir com intoxica- tamento. A estrutura química do inseticida
ção pelo metal chumbo). determina a velocidade para a inativação ou a
reativação espontânea da enzima. Nos casos
M ECANISM O DE AÇÃO TÓXICA de exposição intencional por tentativa de sui-
As colinesterases são enzimas encontradas cídio, são esperadas doses maiores do insetici-
nas sinapses colinérgicas no sistema nervoso da do que as doses observadas nas exposições
central, periférico e autônomo. A inibição da acidentais ou ocupacionais. Os produtos des-
enzima resulta em acúmulo excessivo do tinados ao uso agrícola, em geral, apresentam
neurotransmissor acetilcolina nas sinapses e de- maiores concentrações do princípio ativo e
termina o aparecimento das manifestaçãos clí- podem potencialmente causar intoxicações
nicas da intoxicação: a síndrome colinérgica. mais graves.

DIAGNÓSTICO EXAM ES LABORATORIAIS


O diagnóstico da intoxicação é feito basi- A dosagem de colinesterase sanguínea
camente pela sintomatologia colinérgica que (plasmática e eritrocitária) é o indicador bioló-
se inicia após minutos ou horas dependendo da gico de exposição e o indica.
dose absorvida e que inclui manifestações
nicotínicas e muscarínicas. TRATAM ENTO GERAL
Os sinais e sintomas observados nas intoxi- Nos casos graves, sobretudo em tentativas
cações agudas resultam da ação da acetilcolina de suicídio, o paciente entra na unidade de
em receptores colinérgicos muscarínicos, emergência comatoso, convulsionando, e o tra-
nicotínicos e em SNC. tamento geral deverá ser instituído.
As manifestações muscarínicas envolvem Aspiração das vias aéreas.
principalmente a árvore brônquica, as glândulas Entubação orotraqueal e ventilação mecâ-
salivares e sudoríparas, o coração e as pupilas, nica se necessário.
76 Int oxicações por Inset icidas Carbam at os Intoxicações Exógenas

Descontaminação cutânea (a maioria dos tratamento inicial deve ser bastante agressivo
organofosforados é líquido e podem contami- nas intoxicações graves, utilizando doses altas
nar a pele, ou mesmo os vômitos podem conta- de atropina.
mina-la). Considerar o desaparecimento da hiperse-
O esvaziamento gástrico através de vômito creção, principalmente a hipersecreção
ou lavagem gástrica poderá ser realizado nas brônquica, como parâmetro para diminuir ou
primeiras horas após a ingestão caso o paciente espaçar as doses de atropina. Após o desapare-
já não tenha apresentado vômitos abundantes cimento de secreções, reduzir a dose da atropina
(o que é freqüente uma vez que a maioria dos progressivamente e/ou aumentar os intervalos
produtos contém solventes ou surfactantes) com de administração.
especial atenção para prevenir aspiração pul- Evitar a atropinização excessiva, tentar di-
monar. minuir a dose de atropina antes do apareci-
O carvão ativado deverá ser administrado mento de midríase ou outros sinais antico-
na dose de 1 g/kg em crianças e 50 g em adultos linérgicos.
diluídos numa proporção de 1:7 ou 1:8 em água, Não utilizar infusão endovenosa contínua,
em doses repetidas a cada 4 ou 6 horas por pelo por aumentar o risco de intoxicação atropínica.
menos 48 ou 72 horas, dependendo da dose Teste terapêutico com atropina para con-
ingerida e da resposta clínica do paciente. firmar diagnóstico de sindrome colinérgica pode
Associar laxante salino tal como Sulfato de ser usado em doses baixas de 0,01mg/kg, ou
Sódio ou de Magnésio visando manter o trân- 0,5 a 1mg para adultos.
sito intestinal normal, apenas se o paciente já Apresentação: sulfato de atropina, ampo-
não estiver apresentando diarréia (manifesta- las com 0,25 mg.
ção comum nas intoxicações por inibidores das
colinesterases). M ONITORAM ENTO/ACOM PANHAM ENTO
A infusão de bicarbonato de sódio é útil, O monitoramento e critério de alta hospi-
uma vez que as intoxicações graves costumam talar, deverá ser feito utilizando-se a dosagem
cursar com acidose metabólica com diminui- de atividade das colinesterases, bem como a
ção do bicarbonato sérico. evolução clínica.
Nos casos de tentativas de suicídio a avali-
TRATAM ENTO ESPECÍFICO ação e acompanhamento por Equipe de Saúde
O antídoto recomendado para o tratamento Mental são imperiosas.
das intoxicações causadas por carbamatos
inibidores de colinesterases é a atropina. SEGUIM ENTO PÓS-ALTA
A atropina age como um bloqueador dos É importante, sobretudo em se tratando
receptores muscarínicos, evitando a ação da de trabalhadores que manipulam os produtos,
acetilcolina acumulada nas sinapses. É um anta- que os mesmo se mantenham afastados ou tra-
gonista competitivo e o medicamento de esco- balhem protegidos nas semanas seguintes à in-
lha para as manifestações muscarínicas e do SNC. toxicação, pois mesmo exposições relativamente
A dose de atropina para adultos é de 1 a 4 baixas a inibidores da colinesterase podem
mg/dose, em crianças 0,01 a 0,05 mg/kg/dose, reagudizar o quadro.
aplicar EV, repetir e/ou aumentar a dose pro- Os casos de tentativa de suicídio deverão
gressivamente a cada 15 a 30 minutos, confor- receber acompanhamento por equipe de saú-
me a gravidade das manifestações clínicas. O de mental.
Intoxicações Exógenas Int oxicações por Inset icidas 77
Organofosforados

CONSULTORES: As manifestações clínicas de organo-


Sérgio Graff, Lígia Fruchtengarten fosforados e carbamatos são similares, mas os
carbamatos têm um efeito de inibição de
COLABORADOR: colinesterases mais curto. Mesmo assim, al-
Alberto Luiz Fernandes dos Santos, Irmanda- guns carbamatos como o Aldicarb, podem re-
de da Santa Casa de Misericórdia de sultar em quadros clínicos extremamente gra-
Guaratinguetá, Guaratinguetá, SP ves nas primeiras 24 h.

I NTRODUÇÃO SUBSTÂNCIAS ENVOLVIDAS


Os ORGANOFOSFORADOS são po- Uma série de produtos inseticidas de uso
tentes inibidores de colinesterases. São muito agrícola, veterinário e doméstico está dispo-
utilizados como inseticidas de uso doméstico, nível no mercado. Entre eles os mais comuns
na agricultura e no controle de vetores em são de uso agrícola Parathion, metamidofós,
saúde pública - no Brasil e em outros países clorpirifós e monocrotofós, de uso doméstico
em desenvolvimento. A disponibilidade des- e veterinário são o DDVP, Clorpirifós
tes produtos no ambiente doméstico favorece Malathion entre muitos outros.
as intoxicações acidentais, mas estes agentes
também têm sido utilizados de forma inten- M ECANISM O DE AÇÃO TÓXICA
cional em tentativas de suicídio e em armas A inibição da enzima resulta em acúmulo
químicas. excessivo do neurotransmissor acetilcolina nas
As colinesterases são enzimas encontra- sinapses e determina o aparecimento das
das nas sinapses colinérgicas no sistema ner- manifestaçãos clínicas da intoxicação: a
voso central, periférico e autônomo. SÍNDROME COLINÉRGICA.
Os sintomas de SNC incluem desde sin- Os sinais e sintomas observados nas into-
tomas leves e inespecíficos como agitação, xicações agudas resultam da ação da acetil-
labilidade emocional, cefaléia, tontura, con- colina em receptores colinérgicos mus-
fusão mental, até sintomas mais graves como carínicos, nicotínicos e em SNC.
ataxia, convulsões, coma e depressão cárdio- As manifestações muscarínicas envolvem
respiratória. principalmente a árvore brônquica, as glân-
As causas mais freqüentes de óbito nas dulas salivares e sudoríparas, o coração e as
intoxicações por inibidores de colinesterases pupilas, resultando em salivação, sudorese,
são a insuficiência respiratória, broncoaspi- lacrimejamento, aumento de secreção
ração ou infecções pulmonares secundárias. brônquica, bradicardia, miose, vômitos e di-
A estrutura química e a dose dos inibidores arréia.
de colinesterases são as características que in- As manifestações nicotínicas resultam da
fluenciam a gravidade da intoxicação e o tra- ação da acetilcolina nos gânglios simpáticos
tamento. A estrutura química do inseticida e placas mioneurais, com sintomas de
determina a velocidade para a inativação ou a taquicardia, hipertensão, midríase, fasci-
reativação espontânea da enzima. Nos casos culações, fraqueza muscular, hiporreflexia,
de exposição intencional por tentativa de sui- que podem evoluir para paralisia de múscu-
cídio, são esperadas doses maiores do insetici- los respiratórios, insuficiência e parada res-
da do que as doses observadas nas exposições piratória.
acidentais ou ocupacionais. Os produtos des-
tinados ao uso agrícola, em geral, apresentam DIAGNÓSTICO
maiores concentrações do princípio ativo e O diagnóstico da intoxicação é feito basi-
podem potencialmente causar intoxicações camente pela sintomatologia colinérgica que
mais graves. se inicia após minutos ou horas dependendo
78 Int oxicações por Inset icidas Intoxicações Exógenas
Organofosforados

da dose absorvida e que inclui manifestações (plasmática e eritrocitária) é o indicador bioló-


nicotínicas e muscarínicas. gico de exposição. Sua inibição abaixo de 70%
Os sinais e sintomas observados nas into- do valor normal sugere que o paciente esteja
xicações agudas resultam da ação da acetil- intoxicado e deva ser afastado da exposição.
colina em receptores colinérgicos musca- Entretanto, à não ser em casos de sintomatologia
rínicos, nicotínicos e em SNC. aguda franca onde a atividade encontra-se muito
As manifestações muscarínicas envolvem inibida, uma dosagem isolada pode não ter va-
principalmente a árvore brônquica, as glân- lor diagnóstico devido à vários fatores que po-
dulas salivares e sudoríparas, o coração e as dem influir na sua dosagem.
pupilas, resultando em salivação, sudorese,
lacrimejamento, aumento de secreção brôn- TRATAM ENTO GERAL
quica, bradicardia, miose, vômitos e diarréia. Nos casos graves, sobretudo em tentati-
As manifestações nicotínicas resultam da vas de suicídio, o paciente entra na unidade
ação da acetilcolina nos gânglios simpáticos de emergência comatoso, convulsionando, e
e placas mioneurais, com sintomas de o tratamento geral deverá ser instituído.
taquicardia, hipertensão, midríase, fas- Aspiração das vias aéreas.
ciculações, fraqueza muscular, hiporreflexia, Entubação orotraqueal e ventilação me-
que podem evoluir para paralisia de múscu- cânica se necessário.
los respiratórios, insuficiência e parada res- Descontaminação cutânea (a maioria dos
piratória. organofosforados é líquida e podem contami-
Os sintomas de SNC incluem desde sin- nar a pele, ou mesmo os vômitos podem con-
tomas leves e inespecíficos como agitação, tamina-la).
labilidade emocional, cefaléia, tontura, con- O esvaziamento gástrico através de vômi-
fusão mental, até sintomas mais graves como to ou lavagem gástrica poderá ser realizado
ataxia, convulsões, coma e depressão cárdio- nas primeiras horas após a ingestão caso o
respiratória. paciente já não tenha apresentado vômitos
As causas mais freqüentes de óbito nas abundantes (o que é freqüente uma vez que a
intoxicações por inibidores de colinesterases maioria dos produtos contém solventes ou
são a insuficiência respiratória, broncoaspi- surfactantes) com especial atenção para pre-
ração ou infecções pulmonares secundárias. venir aspiração pulmonar.
A estrutura química e a dose dos inibidores O carvão ativado deverá ser administrado
de colinesterases são as características que in- na dose de 1 g/kg em crianças e 50 g em adul-
fluenciam a gravidade da intoxicação e o tra- tos diluídos numa proporção de 1:7 ou 1:8
tamento. A estrutura química do inseticida em água, em doses repetidas à cada 4 ou 6
determina a velocidade para a inativação ou a horas por pelo menos 48 ou 72 horas, depen-
reativação espontânea da enzima. Nos casos dendo da dose ingerida e da resposta clínica
de exposição intencional por tentativa de sui- do paciente.
cídio, são esperadas doses maiores do insetici- Associar laxante salino tal como Sulfato
da do que as doses observadas nas exposições de Sódio ou de Magnésio visando manter o
acidentais ou ocupacionais. Os produtos des- trânsito intestinal normal, apenas se o pacien-
tinados ao uso agrícola, em geral, apresentam te já não estiver apresentando diarréia (mani-
maiores concentrações do princípio ativo e festação comum nas intoxicações por inibi-
podem potencialmente causar intoxicações dores das colinesterases).
mais graves. A infusão de bicarbonato de sódio é útil,
uma vez que as intoxicações graves costumam
EXAM ES LABORATORIAIS cursar com acidose metabólica com diminui-
A dosagem de colinesterase sanguínea ção do bicarbonato sérico.
Intoxicações Exógenas Int oxicações por Inset icidas 79
Organofosforados

TRATAM ENTO ESPECÍFICO firmar diagnóstico de sindrome colinérgica


Os antídotos recomendados para o trata- pode ser usado em doses baixas de 0,01mg/
mento das intoxicações causadas por kg, ou 0,5 a 1mg para adultos.
inibidores de colinesterases são: a atropina e Apresentação: sulfato de atropina, ampo-
as oximas. las com 0,25 mg.
A atropina age como um bloqueador dos
receptores muscarínicos, evitando a ação da Pralidoxima
acetilcolina acumulada nas sinapses. É um anta- Considerar a associação da pralidoxima
gonista competitivo e o medicamento de esco- com a atropina em pacientes com manifesta-
lha para as manifestações muscarínicas e do SNC. ções clínicas moderadas à graves, após iniciar
As oximas têm capacidade de reativar a a atropinização com as doses apropriadas, sem
acetilcolinesterase inibida pelos agentes resultar em melhora clínica significativa de-
anticolinesterásicos, antes que esta ligação se pois das primeiras horas de tratamento.
torne irreversível pelo processo de aging ou As oximas aceleram a reativação das
envelhecimento. Vários fatores podem alterar colinesterases inibidas por organofosforados,
o resultado e a eficácia do tratamento com as conforme foi observado em diversos estudos
oximas, incluindo: a dose e a estrutura quími- experimentais e relatos clínicos de tratamen-
ca do inseticida que causou a intoxicação; o to de pacientes intoxicados.
tempo decorrido para o início do tratamento A forma de administração da pralidoxima
em relação à exposição; a dose e a forma de mais apropriada é a infusão endovenosa con-
administração da oxima; e, a manutenção de tínua, devida suas características cinéticas.
um nível sérico de oxima adequado para o Administrar dose inicial de 400 mg EV, segui-
tratamento da intoxicação. da de infusão endovenosa contínua de 200-
500 mg/h; em crianças, dose inicial de 20-50
Atropina mg/kg EV, seguida de infusão endovenosa con-
A dose de atropina para adultos é de 1 a 4 tínua de 10-20 mg/kg/h.
mg/dose, em crianças 0,01 a 0,05 mg/kg/dose, O início do tratamento deve ser o mais
aplicar EV, repetir e/ou aumentar a dose pro- precoce possível em relação à exposição e deve
gressivamente a cada 15 a 30 minutos, con- ser mantido preferencialmente até 12 h após
forme a gravidade das manifestações clínicas. o desaparecimento dos sintomas colinérgicos.
O tratamento inicial deve ser bastante agres- Apresentação: mesilato de pralidoxima
sivo nas intoxicações graves, utilizando doses (Contrathion ®) é o único reativador de
altas de atropina. colinesterases disponível comercialmente no
Considerar o desaparecimento da hiper- Brasil, frasco ampola com 200 mg.
secreção, principalmente a hipersecreção
brônquica, como parâmetro para diminuir ou M ONITORAM ENTO/ACOM PANHAM ENTO
espaçar as doses de atropina. Após o desapa- O monitoramento e critério de alta hos-
recimento de secreções, reduzir a dose da pitalar, deverá ser feito utilizando-se a dosa-
atropina progressivamente e/ou aumentar os gem de atividade das colinesterases, bem como
intervalos de administração. a evolução clínica.
Evitar a atropinização excessiva, tentar Nos casos de tentativas de suicídio a ava-
diminuir a dose de atropina antes do apareci- liação e acompanhamento por Equipe de Saú-
mento de midríase ou outros sinais anti- de Mental são imperiosas.
colinérgicos. Duas síndromes podem ocorrer após a
Não utilizar infusão endovenosa contínua, melhora do quadro do paciente.
por aumentar o risco de intoxicação atropínica. Síndrome Neurotóxica Intermediária :
Teste terapêutico com atropina para con- Quadro raro que ocorre após uma intoxica-
80 Int oxicações por Inset icidas Intoxicações Exógenas
Organofosforados

ção aguda grave e caracteriza-se por uma pa- anos. O tratamento é apenas de suporte.
ralisia flácida dos músculos do pescoço e om-
bros inicialmente que ocorre em torno do SEGUIM ENTO PÓS- ALTA
quinto dia pós-intoxicação e que evolui com Em muitos casos, a alta hospitalar precede a
paralisia progressiva da musculatura inter- normalização dos níveis de colinesterases. Nes-
costal e diafragmática levando a insuficiência tes casos é importante o acompanhamento des-
respiratória. O tratamento consiste no su- tes pacientes com dosagens periódicas da ativi-
porte ventilatório e medidas gerais. A dade das colinesterases até sua normalização.
sintomatologia pode durar várias semanas e É importante, sobretudo em se tratando
a mortalidade é elevada. de trabalhadores que manipulam os produ-
Síndrome Neurotóxica Tardia: Ocorre tos, que os mesmo se mantenham afastados
raramente, em torno do vigésimo dia pós-in- ou trabalhem protegidos nas semanas seguin-
toxicação grave com inibição significativa da tes à intoxicação, pois mesmo exposições re-
atividade das colinesterases. É ocasionada pela lativamente baixas a inibidores da colinesterase
inibição da estearase neurotóxica, o que leva a podem reagudizar o quadro.
fraqueza, parestesias e paralisias sobretudo dos Os casos de tentativa de suicídio deverão
membros inferiores com desmielinização receber acompanhamento por equipe de saú-
axonal. A recuperação pode levar semanas ou de mental.
Intoxicações Exógenas Int oxicações por Rat icidas Cum arínicos 81

CONSULTORES: ou de pequena quantidade é assintomática,


Sérgio Graff, Lígia Fruchtengarten porém podem apresentar alteração la-
boratorial.
COLABORADOR: O aparecimento de outros sintomas pode
Darlan Martins Lara, Hospital de Caridade indicar associação com outro agente tóxico
de Carazino, Carazino, RS ou a ingestão de outros raticidas consideradas
ilícitas ou de venda proibida (“chumbinho”,
I NTRODUÇÃO inseticidas organofosforados e carbamatos,
Os raticidas permitidos pela legislação arsênico, fluoracetato de sódio, etc).
brasileira são apenas os derivados cumarínicos O uso de warfarin como anticogulante
anticoagulantes, sempre apresentados na for- oral no primeiro trimestre da gravidez resulta
ma de iscas nas apresentações granulada, pó, no aparecimento de malformações e uma
pellets ou blocos parafinados. Síndrome específica. A exposição no último
Outros raticidas são proibidos no Brasil, trimestre de gravidez pode resultar em he-
embora especial atenção deva ser dada para morragias fetais e maternas.
as formulações líquidas (geralmente produ-
tos clandestinos à bases de arsênico ou EXAM ES LABORATORIAIS
fluoracetato) e pós e granulados (também Controle de Tempo de Protrombina e
clandestinos à base de estricnina ou car- Atividade de Protrombina nos três primeiros
bamatos) e que não deverão ser tratados con- dias ou até normalização (Normal TP= 13
forme este protocolo, mas sim com trata- segundos e AP=100%).
mento específico. Não há correlação entre nível sérico de
Warfarin e alterações de TP, portanto esta ava-
SUBSTÂNCIAS ENVOLVIDAS liação não é utilizada em casos de intoxicação.
Os maiores representantes deste grupo Controle de Hb e Ht nos casos graves
envolvem o próprio Warfarin, o Brodifacoum, com sangramento.
Coumatetralil, Bromadiolone, Clorofacinona,
difacinona. TRATAM ENTO GERAL
Descontaminação gastrintestinal geralmen-
M ECANISM O DE AÇÃO TÓXICA te é desnecessária principalmente nas ingestões
Os anticoagulantes cumarínicos inibem acidentais em crianças, quando a dose ingerida é
a síntese hepática de protrombina e a produ- muito pequena. Dose única de carvão ativado
ção dos fatores de coagulação dependentes pode ser utilizada. A lavagem gástrica pode ser
de Vitamina K (fatores de coagulação II, VII, realizada nos casos de ingestão de doses muito
IX e X). elevadas e precocemente após a exposição.
Após a ingestão de grandes quantidades Nos casos graves com sangramento de
de cumarínicos, a inibição da protrombina múltiplos órgãos, pode ser necessária a repo-
ocorre aproximadamente após 24 h ou após sição sanguínea através de transfusão de san-
48 h nos agentes de ação prolongada. gue total ou plasma.

D IAGNÓSTICO TRATAM ENTO ESPECÍFICO


Dor abdominal pode ocorrer inicialmen-
te, seguida de manifestações clínicas de Antídoto
coagulopatia: hematomas, equimoses, sangra- Vitamina K1 , Kanakion® (Ampola com 1
mento gengival, epistaxe, hemoptise, hema- ml =10 mg)
túria, hematêmese e melena. Dose: 0,3 a 0,6 mg / kg de peso/ dose. Em
A maioria dos casos de ingestão acidental adultos usar 10 a 20 mg / dose. Repetir a cada
82 Int oxicações por Rat icidas Cum arínicos Intoxicações Exógenas

8 ou 12 h, até normalização do TP. Adminis- SEGUIM ENTO PÓS- ALTA


trar EV lentamente na velocidade de 1 mg / Em muitos casos de ingestão de raticidas
min ou IM. cumarínicos, o TP permanece dentro dos ní-
veis normais durante as primeiras 12 horas
M ONITORAM ENTO/ACOM PANHAM ENTO não necessitando de tratamento com Vitami-
Manter acompanhamento clínico e con- na K1. Nestes casos a alta hospitalar poderá
trole de TP no mínimo até o terceiro dia após ser dada desde que o paciente possa retornar
a ingestão ou até normalização do TP. Poderá em 72 horas para novo controle.
ser necessário um período de observação mui- Em casos de intoxicações com alteração
to maior, variando de dias até semanas, nos do TP corrigida com Vitamina K1, após a alta
casos envolvendo cumarínicos de ação pro- hospitalar novo exame deverá ser realizado
longada. após 1 semana.
Moléstias Infecciosas Isolam ent o em UTI - Norm as 83

CONSULTOR: e as respectivas precauções e medidas de iso-


Décio Diament lamento estão listadas na TABELA I.

COLABORADOR: 1- PRECAUÇÕES PADRÃO


Orlando Jorge Gomes Conceição, Hospital e Constitui a síntese dos conceitos ante-
Maternidade São Luiz, São Paulo, SP – riores de Precauções Universais e Isolamen-
CCIH, Hospital Bandeirantes, São Paulo, SP to de Substâncias Corpóreas (BSI). Define-
– Hospital e Maternidade Angelina Caron. se como cuidados a serem tomados no trato
Campina Grande do Sul, PR com todos os pacientes, independente do
diagnóstico, para evitar a transmissão de mi-
I NTRODUÇÃO crorganismos por sangue, fluídos corporais,
O objetivo destas normas é prevenir a secreções e excreções, pele não íntegra e
transmissão de microrganismos ou doenças mucosas, durante manipulação e/ou expo-
infecciosas entre pacientes, profissionais de sição aos mesmos. Deve ser mantido duran-
saúde e visitantes. Vem de longo tempo a te toda a internação. As Precauções Padrão
preocupação com a disseminação de doen- deverão ser mantidas mesmo com a adoção
ças infecciosas refletida no surgimento de de outra Medida de Precaução.
hospitais específicos para tratamento des- As medidas a serem tomadas na aplica-
sas doenças. Posteriormente, em hospitais ção das precauções padrão são:
gerais surgiram as unidades de “Isolamen-
to”. Na década de 70, o Center for Disease • Lavagem das mãos;
Control (CDC) elaborou medidas relacio- • Uso de luvas (estéreis e não estéreis e de
nadas a categorias de isolamentos chegando borracha);
no ano de 1985, em decorrência da AIDS, • Uso de avental, de tecido, descartável
na proposta que definia como “Precauções ou impermeável (se necessário);
Universais” (PU) os cuidados com sangue e • Uso de máscaras, óculos, protetor facial
fluídos corpóreos. Em 1987, o CDC pro- e botas (se necessário);
põe um sistema alternativo, chamado de • Descontaminação, limpeza e desinfec-
“Isolamento de Substâncias Corpóreas” (BSI ção de artigos contaminados;
- Body Substance Isolation), para proteger • Cuidados com materiais perfuro - cor-
o profissional de saúde da transmissão de tantes;
patógenos pelo sangue e diminuir a trans- • Cuidados com roupas contaminadas;
missão de bactérias multirresistentes no am- • Quarto privativo (se necessário).
biente hospitalar. No início de 1996 o CDC Os equipamentos de proteção individual
publicou novo documento objetivando sim- (EPI) mencionados deverão ser utilizados de
plificar o entendimento e aplicação dos cui- acordo com os riscos de exposição das mãos,
dados com transmissão, adotando os ter- mucosas, roupa, etc, de quem cuida.
mos Precauções Padrão e Precauções baseadas
na transmissão. 2- PRECAUÇÕES BASEADAS NA TRANSM ISSÃO

PRECAUÇÕES P ADRÃO E M EDIDAS DE I SOLAM ENTO 2.1- Precauções de contato


As precauções e medidas abaixo descritas
deverão ser aplicadas por médicos, enfermei- É uma categoria de cuidados indicada
ras, técnicos ou auxiliares de enfermagem, para pacientes colonizados ou infectados por
pessoal do serviço de hotelaria do hospital, microrganismos causadores de doenças
nutricionistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogas, infecto-contagiosas encontrados no sangue,
psicólogas e visitantes. As doenças infecciosas secreções ou excreções, e transmitidos por
84 Isolam ent o em UTI - Norm as Moléstias Infecciosas

essas vias de maneira direta ou indireta ou ciente deverá usar máscara cirúrgica.
até mesmo pele íntegra como no caso de • Manter coletor com saco plástico de cor
colonização por microrganismo multirresis- padronizada, para o descarte de roupas
tente ou de importância epidemiológica. As utilizadas no quarto do paciente em pre-
medidas a serem adotadas são: cauções.

• Lavagem das mãos; 2.3- Precauções respiratórias por aerossóis


• Uso de luvas em todo o contato com o
paciente; Esta categoria de cuidados é instituída
• Uso de avental: quando existir risco de para a prevenção da transmissão de doenças
contaminação da roupa no contato com por via respiratória, através de partículas
o paciente e/ou utensílios e roupas que que transportam microrganismos menores
entraram em contato com o mesmo; que 5 microns, que por serem consideradas
• Quarto privativo: indicado para evitar leves, formam aerossóis que ficam suspensos
risco de contaminação cruzada entre pa- no ar, com grande risco de serem inalados.
cientes. Na impossibilidade também
pode ser feito restrição ao leito ou en- • Lavagem das mãos;
fermaria; • Quarto privativo: é necessário e deve
• Transporte de pacientes o mais restrito ser mantido com portas fechadas (o ide-
possível; al é quarto com pressão negativa, siste-
• Limpeza de artigos e superfícies diaria- ma de ventilação com 6 a 12 trocas de
mente; ar por hora, saída do ar apropriada ou
• Equipamentos e artigos de uso exclusi- filtro HEPA);
vo ou desinfecção dos mesmos antes de • Máscara N-95: deve ser usada por todas
utilizá-los em outros pacientes; as pessoas ao entrar e durante a perma-
• Manter coletor com saco plástico de cor nência no quarto;
padronizada, para o descarte de roupas • Transporte de pacientes: restrito e, se
utilizadas no quarto do paciente sub- absolutamente necessário, colocar más-
metido às precauções. cara cirúrgica no paciente.
• Manter coletor com saco plástico de cor
2.2- Precauções respiratórias por gotículas padronizada, para o descarte de roupas
utilizadas no quarto do paciente em pre-
Esta categoria de cuidados é instituída para cauções.
prevenir a transmissão de doenças através de
via respiratória por gotículas. Nestas doenças 2.4- Precaução de contato e gotículas
as partículas são transportadas por gotículas
maiores que 5 microns, que são consideradas Destina-se a prevenir doenças que são
pesadas e depositam-se nas superfícies. As transmitidas por contato direto ou indireto
medidas de isolamento são as seguintes: com sangue, secreções ou excreções e ao mes-
mo tempo por via respiratória por partículas
• Lavagem das mãos; maiores que 5 microns, que são consideradas
• Todas as pessoas que tiverem contato pesadas e se depositam nas superfícies.
com o paciente, a uma distância menor
que um metro, deverão utilizar máscara • Lavagem das mãos;
cirúrgica; • Uso de luvas em todo o contato com o
• Transporte do paciente o mais restrito paciente;
possível e, quando imprescindível, o pa- • Uso de avental: quando existir risco de
Moléstias Infecciosas Isolam ent o em UTI - Norm as 85

contaminação da roupa no contato com tro HEPA);


o paciente; • Máscara N-95, deve ser usado por to-
• Quarto privativo: indicado para evitar risco das as pessoas ao entrarem e durante a
de contaminação cruzada entre pacientes; permanência no quarto;
• Limpeza de artigos e superfícies diaria- • Luvas: devem ser usadas sempre que se
mente; tiver contato com o paciente;
• Equipamentos e artigos de uso exclusi- • Transporte de pacientes: restrito e, se
vo ou desinfecção dos mesmos; absolutamente necessário, colocar más-
• Manter coletor com saco plástico de cor cara cirúrgica no paciente.
padronizada, para o descarte de roupas
utilizadas no quarto do paciente em pre- 2.6- Isolamento reverso
cauções.
• Máscara cirúrgica: deverá ser usada por Não é mais utilizado, pois o mecanismo
todas as pessoas que tiverem contato de desenvolvimento de infecções em paci-
com o paciente, à uma distância menor entes imunodeprimidos se dá por fatores
que um metro. endógenos na maioria das vezes. Porém,
• Transporte do paciente o mais restrito deve-se reforçar as Precauções Padrão, com
possível e, quando imprescindível, o pa- grande ênfase na intensificação da lavagem
ciente deverá usar máscara cirúrgica. das mãos e uso do álcool na forma de gel.
Não devem ser escalados funcionários com
2.5- Precaução de contato e respiratória por processos infecciosos respiratórios ou de
aerossóis qualquer outra natureza para o atendimen-
to destes pacientes, assim como se deve ori-
É instituída na prevenção de doenças entar para que não recebam visitas com pro-
transmitidas pelo contato direto ou indire- cessos infecciosos respiratórios.
to com sangue, secreções ou excreções e ao
mesmo tempo por via respiratória por par- 3- I NSTRUÇÕES GERAIS
tículas menores que 5 microns, que formam A implantação das precauções baseadas
aerossóis e ficam suspensos no ar. no mecanismo de transmissão deverá ser feita
conforme orientação do SCIH/CCIH e do
• Lavagem das mãos; médico assistente ou equipe médica respon-
• Uso de avental: quando existir risco de sável pelo caso, sempre de comum acordo. A
contaminação da roupa no contato com notificação das precauções deverá ser feita ao
o paciente; ser detectada a necessidade da sua implanta-
• Limpeza de artigos e superfícies diaria- ção. Deverão ser avisadas a enfermeira de plan-
mente; tão do setor, os serviços de nutrição, hotelaria,
• Equipamentos e artigos de uso exclusi- enfermagem, fisioterapia, etc. A enfermagem
vo ou desinfecção dos mesmos; responsável pelo plantão deverá orientar os
• Manter coletor com saco plástico de cor acompanhantes conforme a categoria de pre-
padronizada, para o descarte de roupas caução adotada. Caso o Laboratório avise di-
utilizadas no quarto do paciente em pre- reto no setor sobre a ocorrência de agentes
cauções. multirresistentes em culturas dos pacientes, e
• Quarto privativo: é necessário e deve não for possível contato imediato com o
ser mantido com portas fechadas (o ideal SCIH/CCIH, a enfermagem poderá colocar
é quarto com pressão negativa, sistema o paciente em Medidas de Precauções de
de ventilação com 6 a 12 trocas de ar Contato até confirmação ou não pelo SCIH/
por hora, saída do ar apropriada ou fil- CCIH. Pacientes colonizados por agentes
86 Isolam ent o em UTI - Norm as Moléstias Infecciosas

multirresistentes ou de significância clínica ou orientações sobre a máscara N95 devem ser


epidemiológica permanecerão em Precauções dadas aos acompanhantes, devendo ser utili-
de Contato até a alta, ou de acordo com a zada por todas as pessoas durante todo o pe-
orientação do SCIH/CCIH. As culturas de vi- ríodo de permanência dentro do quarto.
gilância se referem a coletas de secreção nasal, Aventais não estéreis podem ser utilizados
“swab” perianal e, se possível, de material de por até seis horas pela mesma pessoa. Caso
origem onde cresceu o agente multirresistente. saia do quarto, retirá-lo e mantê-lo de forma
Poderão ser realizadas semanalmente até sua que não haja contaminação da face que entra
negativação para o microrganismo em questão. em contato com o corpo do usuário. Estes
No caso das Doenças de Notificação deverão ser identificados. Os aventais devem
Compulsória, a enfermagem e o médico res- ser de mangas longas com punho e traspassa-
ponsável deverão notificar o SCIH para que dos.
possa ser efetuada a notificação compulsó- As visitas deverão ser em número restrito,
ria ao Centro de Vigilância Epidemiológica. orientadas pelo enfermeiro de plantão e proi-
Nos casos de meningite de qualquer bindo a entrada de crianças.
etiologia, deverá ser instituída a Precaução A coleta de roupa suja nos quartos com
Respiratória por Gotículas até que o resul- Precauções por Transmissão devem ser feitas
tado parcial do líquor descarte os agentes em saco plástico de cor apropriada, que deve
etiológicos Haemophilus influenzae e ser fechado no quarto, antes de ser transpor-
Neisseria meningitidis (meningococo). tado para a sala de roupa suja.
Os EPI’s a serem utilizados nos pacientes A coleta de resíduos dos quartos deverá
em precauções deverão ficar dentro do quar- ser feita em recipientes ou coletores apropria-
to, próximos à porta, exceto nas Precauções dos, fechados e recolhidos em saco plástico
Respiratórias por Aerossóis, quando ficarão branco, caracterizando-os como resíduo
do lado externo, próximos à porta do quarto. infectante.
Devem ser retirados após utilização, na saída Material da Nutrição: a louça será lavada
do quarto e desprezados no recipiente de resí- em máquina com temperatura de 55ºC, com
duos ou coletor dentro do quarto, que deverá detergente, para haver a termo-desinfecção,
estar próximo à porta. conforme recomendado pelo CDC. O reco-
Auxiliares de limpeza deverão realizar a lim- lhimento dos utensílios dos quartos em Pre-
peza do quarto em Precauções Por Transmis- caução por Transmissão deverá ser feito por
são por último e, ao término, dirigir-se ao ex- último. Nos quartos submetidos a Precauções
purgo, lavar os equipamentos de limpeza e la- Respiratórias por Aerossóis, a entrega e reco-
var as luvas de borracha, secá-las e passar álcool lhimento de bandejas poderá ser feita pela
70%. Quando for possível, individualizar os equipe de enfermagem que já dispõem da
equipamentos só para este quarto. Nas Pre- máscara N95, não necessitando assim, da en-
cauções de Contato, especialmente por agen- trada da copeira no quarto.
tes multirresistentes, utilizar sempre avental. Esfignomanômetros, estetoscópios e ter-
A máscara ou respirador N95 é de uso mômetros deverão ser de uso exclusivo até tér-
individual e pode ser utilizada por até sete mino da indicação da Precaução. A desinfec-
dias, desde que obedecidos, rigorosamente, ção do termômetro é feita através da lavagem
os seguintes critérios: não dobrar para não com água e sabão seguida de aplicação de álco-
quebrar as fibras do filtro; não molhar; guar- ol a 70%. Os estetoscópios são desmontados e
dar em saco plástico identificado com nome desinfetados com álcool a 70%. Os esfigno-
do usuário; quando totalmente saturado, o manômetros são desinfetados com álcool a 70%,
respirador N95 causa intensa dificuldade res- sendo que a braçadeira deverá ser encaminha-
piratória, devendo ser efetuada sua troca. As da para lavagem se estiver muito suja.
Moléstias Infecciosas Isolam ent o em UTI - Norm as 87

Tabela I - Tipo e duração de precauções para as diversas doenças


Doença Duração
Abcesso Drenante P. Contato Durante a doença
-Drenagem não contida pelo curativo P. Padrão
-Drenagem contida pelo curativo
AIDS com sangramento P. Contato Duração do Sangramento
Adenovírus em lactente e pré-escolar P. R. Gotículas + P. Contato Durante a doença
Amebíase P. Padrão –
Antraz (cutâneo e pulmonar) P. Padrão –
Ascaridíase P. Padrão –
Aspergilose P. Padrão –
Bactérias P. Contato Até a alta ou de acordo com
o SCIH, após análise de cul-
Multirresistentes (infecção ou colonização) turas de vigilância.
Botulismo P. Padrão –
Brucelose P. Padrão –
Candidíase P. Padrão –
Caxumba P. R. Gotículas Até 09 dias após início da
tumefação
Cisticercose P. Padrão –
Cit omegalovirose (neonat al ou P. Padrão –
imunossuprimido)
Conjuntivite P. ContatoP. Padrão Durante a doença
- Viral ou Hemorrágica
- Bacteriana
Coqueluche P. R. Gotículas 05 dias após início do trata-
mento
Cólera P. Contato Durante a doença
Dengue P. Padrão –
Diarréia Infecciosa P. Contato Durante a Doença
Difteria P. Contato Terapêutica eficaz + 2 cultu-
- Cutânea P. R. Gotículas ras negativas em dias dife-
rentes
- Faríngea
DST (cancróide; Gonorréia; Granuloma P. Padrão Durante a doença
inguinal; Linfogranuloma venéreo; Sífilis
com lesão: cancro duro ou úlcera na sífilis
primária ou secundária; uretrites;
Condiloma
Endometrite Puerperal P. Padrão –
Enterocolite Necrotizante P. Padrão –
Enterocolite por Clostridium difficile P. Contato Durante a doença
Eritema infeccioso (Parvovírus B19) P. R. Gotículas Durante a doença
88 Isolam ent o em UTI - Norm as Moléstias Infecciosas

Doença Duração
Escabiose P. Contato 24 horas após início do trata-
mento
Febre Amarela P. Padrão –
Febres P. Contato Durante a doença
Hemorrágicas (Lassa, Marburg e Ebola)
Furunculose estafilocócica em crianças P. Contato Durante a Doença
Febre Tifóide em criança em uso de fral- P. Contato Durante a doença
das ou incontinente < 6 anos
Gangrena Gasosa P. Padrão –
Gonorréia P. Padrão –
Hanseníase P. Padrão –
Hepatite A P. Padrão –
Hepatite A (criança em uso de Fralda ou P. Contato Durante a internação
incontinente)
Hepatite B e C P. Padrão –
Hepatites com sangramento P. Contato Duração do sangramento
Herpes Simples P. Padrão –
Mucocut. recorrente
Herpes Simples P. Contato At é t odas as lesões em
Mucocut. disseminado crostas
Herpes Simples Neonatal P. Contato At é t odas as lesões em
crostas
Herpes Zoster P. Padrão –
Localizado em imunocompetente
Herpes Zoster P. R. Aerossóis + At é t odas as lesões em
Localizado em imunossuprimido ou dis- P. Contato crostas
seminado
HIV Positivo P. Padrão –
Impetigo P. Contato Durante a doença
Infecções Entéricas: Clostridium difficile, P. Contato Durante a doença
E. coli enteropatogênica, Campylobacter,
Cólera)
Infecções por Haemophilus influenzae P. R. Gotículas 24 horas após início do trata-
tipo B: faringite, pneumonia e sepse mento
Infecções Estreptocóccicas: faringite, P. R. Gotículas 24 horas após início do trata-
pneumonia e escarlatina em crianças mento
Infecções Virais: Adenovírus, Influenza e P. R. Gotículas Durante a doença
Rubéola não congênita
Legionelose P. Padrão –
Leptospirose P. Padrão –
Lesõ es Necr ó t i cas secu n d ár i as a P. Contato 24 horas após início do trata-
vasculit e (Ex.: M eningococcemia c/ mento
necrose)
Moléstias Infecciosas Isolam ent o em UTI - Norm as 89

Doença Duração
Malária P. Padrão –
Meningites P. R. Gotículas 24 horas após início do
- Haemophilus influenzae P. R. Gotículas tratamento
- Neisseria meningitidis (meningococo) P. Padrão 24 horas após início do
- Demais bacterianas, fúngicas e virais tratamento

Meningococcemia P. R. Gotículas 24 horas após início do
tratamento
Mononucleose P. Padrão –
Pediculose P. Contato 24 horas após início do
tratamento
Peste P. PadrãoP.R. Gotículas 03 dias após início do
- Bubônica tratamento
- Pneumônica
Pneumonias: P. R. Gotículas + Durante a doença
- Adenovírus P. Contato 24 horas após início do
- H. influenzae em lactentes e crianças P. R. Gotículas tratamento
- Meningocóccica P. R. Gotículas 24 horas após início do
- Mycoplasma (atípica primária) P. R. Gotículas tratamento
- Estreptocóccica A em lactentes P. R. Gotículas Durante a doença
- Outras P. Padrão 24 horas após início do
tratamento
Poliomielite P. Padrão –
Raiva P. Padrão –
Rotavírus em incontinente ou em uso de P. Contato Durante a doença
fraldas
Rubéola P. Contato Durante a internação
- Congênita
- Não Congênita P. R. Gotículas Durante a doença
Salmonelose P. Padrão –
Sarampo P. R. Aerossóisa Durante a doença
Shiguelose P. Padrão –
Sífilis P. Padrão –
Síndrome da Pele Escaldada P. Contato Durante a doença
Síndrome Guillain - Barré P. Padrão –
Tétano P. Padrão –
Tifo endêmico e epidêmico P. Padrão –
Toxoplasmose P. Padrão –
Tracoma P. Padrão –
Tricomoníase P. Padrão –
Tuberculose P. R. Aerossóis Até 3 amostras neg. de BAAR
- Pulmonar ou Laríngea P. Padrão no escarro + Terapêutica Eficaz
- Extra pulmonar ou Mantoux (PPD) > ou
igual 5 mm s/ evidência de D. pulmonar –
ou laríngea atual
Úlcera de pressão c/ drenagem abundante P. Contato Durante a Doença
Varicela P. R. Aerossóis + P. Contato Até todas as lesões formarem
crostas
Vírus Sincicial Respiratório P. Contato Durante a doença
90 Lept ospirose Moléstias Infecciosas

CONSULTOR: nhados de coma por meningoencefalite,


Décio Diament distúrbios hemorrágicos, insuficiência re-
nal aguda, miocardite, choque e insufici-
COLABORADORES: ência respiratória aguda por síndrome da
Maria do Carmo Manfredini Elisbão, Hospi- angústia respiratória (SARA) e hemorra-
tal Regional do Norte do Paraná da Universi- gia pulmonar.
dade Estadual de Londrina. Londrina, PR • Ictéricas: apresentam todos os sintomas e
Maria de Fátima Mora Filippini e Sandro de sinais das formas anictéricas, porém, sem
Figueiredo, Hospital e Maternidade Saúde de São definição clara de fases e sempre acompa-
Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo, nhados de disfunções orgânicas, como
SP – Hospital de Pedreira. São Paulo, SP hepatopatia com icterícia, insuficiência
renal aguda, SARA, hemorragias diversas,
I NTRODUÇÃO distúrbios hidro-eletrolíticos (hipo-
A leptospirose é uma zoonose causada pela calemia), acidose láctica, choque, miocar-
espiroqueta Leptospira interrogans, que possui dite e arritmias cardíacas, coma, infecções
diversos sorogrupos, subdivididos em sero- secundárias.
vares. É transmitida ao homem através do
contato com água contaminada por urina de Definição de caso suspeito
animais infectados, principalmente os roedo- • Indivíduo que apresente sinais e sintomas
res e os cães, assim como pelo contato com a de processo infeccioso inespecífico com
urina, sangue ou secreções contaminadas. antecedentes epidemiológicos sugestivos
Caracteriza-se por vasculite generalizada e nas nos últimos trinta dias anteriores à data
formas mais graves pode resultar em choque de início dos primeiros sintomas.
séptico e disfunção de múltiplos órgãos e sis- • Indivíduo com febre de início súbito,
temas. A infecção pode ser assintomática ou mialgias, cefaléia, mal estar e/ou prostra-
cursar com quadros leves até formas mais gra- ção, associados a um ou mais dos seguin-
ves, de elevada letalidade. tes sinais e/ou sintomas: sufusão conjun-
tival ou conjuntivite, náuseas e/ou vômi-
DIAGNÓSTICO tos, calafrios, alterações do volume
Período de incubação: de 5 a 15 dias (ex- urinário, icterícia, fenômenos hemorrá-
tremos: de 1 a 24 dias) gicos e/ou alterações hepáticas, renais e
vasculares compatíveis com leptospirose
Formas clínicas ictérica (Síndrome de Weil) ou anictérica
• Anictéricas: bifásicas, com período inicial grave.
de leptospirosemia, com febre, mialgias,
cefaléia, conjuntivite, náuseas, vômitos, Considera-se como antecedentes
diarréia, hepatomegalia, esplenomegalia, epidemiológicos sugestivos:
exantema, distúrbios mentais, tosse, etc. • Exposição a enchentes, lama ou coleções
Após cerca de uma semana há defer- hídricas potencialmente contaminadas.
vescência por três dias e a doença recru- • exposição a esgoto e fossas.
desce, na chamada fase imune, onde os • atividades que envolvam risco ocupacional
sintomas são similares e acrescidos de lo- como coleta de lixo, limpeza de córregos,
calizações, como meningoencefalite, trabalho em água ou esgoto, manejo de
uveíte, etc. animais, agricultura em áreas alagadas,
• Anictéricas graves: apresentam os sinto- dentre outras.
mas e sinais das formas anictéricas, po- • presença de animais infectados nos locais
rém, com quadros mais graves e acompa- freqüentados pelo paciente.
Moléstias Infecciosas Lept ospirose 91

Exames laboratoriais específicos vada. Podem ocorrer elevações maiores


Culturas nos casos de miocardite com arterite
1. Sangue: em meios específicos (Fletcher ou coronariana e isquemia miocárdica.
EMJH), semeando 1 gota no 1º tubo, 2 • Líquor: pleiocitose a custa de polimor-
no 2º e 3 no 3º. O meio deve estar a fonucleares, com elevação das proteínas e
temperatura ambiente e após a semeadu- glicose normal ou pouco diminuída.
ra deve ser encaminhado ao laboratório • Urina I: proteinúria, leucocitúria e
de referência local também em tempera- hematúria. Sódio e potássio urinários ele-
tura ambiente (cerca de 26 a 29ºC). vados, com FeNa+ e FeK+ elevados.
2. Urina e líquor: semear 1 tubo. • ECG: arritmias diversas, como fibrilação
Sorologia: o método de triagem é a atrial, extrassístoles atrias ou ventriculares,
Soroaglutinação Macroscópica (SAT). Se bloqueios de ramos, sinais de isquemia
for positiva, confirma o caso. Se for nega- miocárdica.
tiva, antes do 7º dia de evolução da doen- • RX de tórax: aumento da área cardíaca,
ça, não descarta e requer segunda amostra infiltrados intersticiais e/ou alveolares, até
para confirmação. Os testes confirmatórios algodonosos; derrame pleural.
são a Soroaglutinação Microscópica
(MAT - requer duas amostras com inter- Diagnóstico diferencial
valo de 2 semanas) e o ELISA-IgM. Formas anictéricas: gripe, febre tifóide,
Outros: a visualização em campo escuro malária, hantavirose, dengue, sepse, toxoplas-
não é realizada rotineiramente pelos labo- mose, meningoencefalites, febres hemorrágicas
ratórios de referência. A PCR para Leptos- virais, pneumopatias intersticiais, tuberculo-
pira interrogans só é realizada experimen- se, febre reumática.
talmente em laboratórios centrais de refe- Formas ictéricas: hantavirose, febre ama-
rência, para pesquisa e não está disponível rela, malária por P. falciparum, hepatites,
na rotina. colecistites e colangites, síndrome hepatorre-
nal, sepse, intoxicações exógenas.
Exames laboratoriais inespecíficos
• Hemograma com plaquetas: anemia, TRATAM ENTO
leucocitose ou leucopenia com neutrofilia Específico: deve sempre ser feito com
e desvio à esquerda, plaquetopenia. VHS antimicrobianos. Os esquemas terapêuticos
aumentado. são descritos a seguir.
• Coagulograma: aumento do TS, TC e TP;
hiperfibrinogenemia. CIVD infrequente. Penicilina G cristalina:
• Uréia e creatinina: elevadas nos casos de IRA. 1.000.000 U IV 6/6 h para adultos
• Sódio: hipo ou hipernatremia. 100.000 U/kg/dia para crianças.
• Potássio: em geral, hipocalemia ou nor-
mal. Hipercalemia infrequente. Ampicilina:
• Gasometria arterial: acidose metabólica e 1 g IV 6/6 h para adultos
alcalose respiratória; acidose mista. 100 mg/kg/dia para crianças.
• Transaminases: pouco elevadas, cerca de
3 a 5 vezes os valores de referência. Tetraciclina:
• Fosfatase alcalina e gama-GT: pouco elevadas. 500 mg VO 6/6 h para adultos
• Bilirrubinas: elevadas a custa de bilirrubina não utilizar em crianças menores que 9 anos.
direta.
• CPK: elevada. Doxiciclina:
• CK-MB: em geral normal ou pouco ele- 100 mg VO 12/12 h para adultos somente.
92 Lept ospirose Moléstias Infecciosas

Outros: nica precoce, com utilização de PEEP está


A L. interrogans é sensível a vários indicada.
antimicrobianos, como cloranfenicol, cefalos- Insuficiência renal: após correção da
porinas, etc. Quando houver necessidade de volemia, se persistir a oligúria, tentar estímu-
tratar um caso empiricamente como sepse, lo com 80 a 100 mg de furosemida IV. Se não
não é necessário acrescentar um antimi- houver resposta, iniciar procedimento dialítico
crobiano específico para leptospirose, pois precocemente.
certamente os antibióticos comumente usa- Miocardite: suporte inotrópico com
dos nestes esquemas atuarão contra a dobutamina, além de outras medidas habitu-
espiroqueta. ais, como restrição hídrica.
Choque: tratar como choque séptico, com
Inespecífico: uso precoce de noradrenalina e outras drogas
Reposição volêmica e hidratação: preferen- vasoativas, conforme a necessidade.
cialmente orientada por PVC ou monito- Outros: suporte nutricional enteral ou
rização hemodinâmica invasiva. Evitar exces- parenteral, transfusões de sangue e deriva-
so de oferta hídrica, que pode piorar o quadro dos se necessário e outras medidas de su-
pulmonar. Usar colóides e dar atenção especi- porte vital são indicadas. Não é necessário
al aos níveis plasmáticos de potássio, que po- o isolamento do paciente. Recomenda-se a
dem necessitar de correção mesmo na vigên- aplicação das precauções universais, como
cia de IRA. o uso de luvas na manipulação de sangue e
Insuficiência respiratória: ventilação mecâ- secreções.
Moléstias Infecciosas M alária 93

CONSULTOR: orgânicas (renal, respiratória, cardiocirculatória)


Décio Diament e choque. Alguns pacientes podem apresentar a
febre biliosa hemoglobinúrica, caracterizada por
INTRODUÇÃO urina e fezes negras, choque e insuficiência renal
É uma doença parasitária não contagiosa, de aguda, desencadeada por quinino ou outras dro-
evolução crônica com surtos de agudização e pe- gas, frio e esforço físico. As complicações mais
ríodos de latência, causada por protozoários do temidas da malária por P. falciparum são a malária
gênero Plasmodium sp. Existem quatro espécies: cerebral e os quadros de disfunção de múltiplos
P. vivax, P. malariae, P. falciparum e P. ovale, sendo órgãos e choque. Muitos pacientes apresentam
que este último não existe no Brasil, ficando res- hipoglicemia, principalmente os casos de
trito à África. A principal via de transmissão se dá parasitemias elevadas e as gestantes, assim como
pela picada da fêmea do mosquito Anopheles sp no aqueles tratados com quinino.
homem e Culex sp em outros animais. As espécies Febre quartã: causada pelo P. malariae, que
mais freqüentes são o A. darlingi, A. aquasalis, A. tem ciclos mais lentos, de 72 horas e dá febre a
albitarsis, A. bellator e A. cruzii. Outras vias de cada três dias, caracterizada por acessos curtos,
transmissão são a transplacentária, a transfusional com duração de 3 a 4 horas e de menor intensida-
e a acidental em laboratório. de, com periodicidade de 4 dias ou menos. Estes
casos podem ser acompanhados de síndrome
DIAGNÓSTICO nefrótica com relativa freqüência.
Formas crônicas: febre intermitente, icterícia
Quadro clínico e hepatoesplenomegalia, máscara palúdica, secun-
Todos os pacientes apresentam quadro de dária a deposição de pigmentos biliares na face e
início súbito, com febre, calafrios e sudorese, se- distúrbios multiorgânicos.
guido de intervalos de assintomáticos e anemia e Síndrome da Esplenomegalia Tropical: casos
esplenomegalia. O diagnóstico é eminentemente crônicos de malária com quadro de
clínico e epidemiológico, devendo ser suspeitado hepatoesplenomegalia crônica e volumosa acom-
sempre em indivíduos que freqüentaram áreas panhada de hipergamaglobulinemia, hemólise,
endêmicas. A definição de caso suspeito pode au- pancitopenia e síndrome nefrótica.
xiliar no diagnóstico: quadro febril sem outro di- Outras formas clínicas: Malária congênita se
agnóstico definido; permanência em área de trans- dá pela transmissão perinatal de trofozoítos, sen-
missão nos últimos 14 meses; malária nos últimos do que os sintomas fetais podem aparecer até 30
3 anos; transfusão de sangue ou derivados nos dias após o parto. A transmissão de malária pode
últimos 3 meses. ser acidental, transfusional e experimental. Os to-
Febre terçã benigna: ciclos esquizogônicos xicômanos também estão sujeitos a infecção quan-
do P. vivax a cada 48 horas, gerando febre em do compartilham seringas com indivíduos doen-
dias alternados, a cada 48 horas ou dupla a tes. Estas formas de transmissão, por não resulta-
cada 24 horas, dependendo se há mais de uma rem em infecção hepática ou tecidual, tem evolu-
inoculação. A febre dura cerca de 4 a 8 horas, ção autolimitada e mais curta e geralmente não
acompanhada de calafrios, náuseas, vômitos, recrudescem nem cronificam. Infecções pelo P.
delírios e diarréia. A evolução é de semanas ou falciparum resultam em quadros graves e óbitos.
meses, com recidivas por 2 ou 3 anos se não
for tratada adequadamente. Exames específicos
Febre terçã maligna: ciclos do P. falciparum a Gota espessa: corada com Giemsa. Algumas
cada 48 horas ou menos, com febre diária ou em vezes é possível visualizar os parasitas em lâminas
dias alternados. febre prolongada, por 12 horas de hemograma, mas a probabilidade de vê-los é
ou contínua e quadro clínico grave, com icterícia, maior na gota espessa. O exame deve ser feito a
coma, fenômenos hemorrágicos, insuficiências cada seis ou 12 horas nas primeiras 48 horas ou
94 M alária Moléstias Infecciosas

até ser positivo e depois diariamente. A primeira • hepatoesplenomegalias e síndromes ictéricas


lâmina costuma ser positiva em 95% dos casos. O
número de eritrócitos parasitados deve ser Indicadores prognósticos
quantificado e a espécie deve ser identificada para 1. Clínicos para mau prognóstico:
que o tratamento correto possa ser instituído e • coma profundo, convulsões, ausência de re-
monitorado. A gota espessa, apesar de trabalhosa, flexos corneanos, rigidez de descerebração
demorada e dependente de treinamento específi- • disfunções orgânicas
co, ainda é a técnica de eleição para o diagnóstico • hemorragia retiniana
da malária. Outras colorações, usando técnicas • crianças menores de três anos
de fluorescência são disponíveis, mas são menos 2. Laboratoriais:
sensíveis, não permitem a identificação da espécie • hiperparasitemia (> 5% ou > 250000/mm3)
e requerem microscópio de fluorescência e trei- • esquizontemia periférica
namento específico, o que limita sua viabilidade. • leucocitose (> 12000/mm3)
Sorologia: disponível comercialmente e ba- • hematócrito menor que 20% ou hemoglobina
seia-se no uso de anticorpos monoclonais anti- menor que 7,1 g/dl
HRP-2 de P. falciparum. Apesar de sensíveis e • glicemia menor que 40 mg/dl
específicos, estes testes permitem somente o diag- • hipoglicorraquia
nóstico de malária por P. falciparum e podem dar • uréia maior que 200 mg/dl ou creatinina maior
resultados falso-positivos na presença de fator que 3,0 mg/dl
reumatóide, o que torna seu uso limitado. • elevação do lactato plasmático ou liquórico
Outros métodos: ainda pouco disponíveis ou • elevação maior que três vezes o valor normal
experimentais. das transaminases
• reação em cadeia da polimerase (PCR) • elevação de gama-GT
• detecção de desidrogenase láctica parasitária • antitrombina III baixa
através de imunocromatografia ou ensaio
imunoenzimático. TRATAM ENTO ESPECÍFICO (TABELA 1)
O tratamento específico da malária2, 5, 6 se faz
Exames complementares úteis com medicamentos que agem em diferentes fases
no monitoramento da doença: do ciclo vital parasitário. Os esquizonticidas
• Hemograma: anemia hemolítica, leucocitose hemáticos, como o quinino, mefloquina,
ou leucopenia e neutrofilia sem eosinofilia e cloroquina, amodiaquina (4-aminoquinoleínas),
plaquetopenia nos casos mais graves sulfadoxina-pirimetamina, tetraciclinas e
• Coagulograma: coagulopatia de consumo por clindamicina matam os parasitas nos eritrócitos,
vasculite ou mesmo coagulação intravascular enquanto que os esquizonticidas teciduais e
disseminada. gametocidas, como a primaquina (8-amino-
• Bilirrubinas e transaminases: elevadas nos ca- quinoleína) e a pirimetamina, matam parasitas no
sos mais graves. fígado e outros tecidos. Outras drogas, como o
• uréia e creatinina: elevadas nos casos com proguanil e o cicloguanil são esporonticidas e agem
acometimento renal. no ciclo do mosquito após terem sido sugadas
• Urina I: proteinúria e hematúria. junto com o sangue em que estão diluídas. Aten-
• Glicemia: hipoglicemia, principalmente nos ção especial deve ser dada aos indivíduos com
casos de malária grave. parasitemias elevadas (mais de 2% de hemácias
parasitadas ou 100000 parasitas/ml). Parasitemias
Diagnóstico diferencial de 10% ou mais podem requerer exangüineo-
• outras doenças febris transfusão, principalmente em crianças. Entre-
• comas nos casos de malária cerebral tanto, em adultos este procedimento tem viabili-
• sepse e D.M.O.S. nos casos graves dade limitada.
Moléstias Infecciosas M alária 95

Tabela 1: Trat ament o específico da malária


Trat am ent o da Esquem a t erapêut ico Observações
m alária por:
P. vivax Cloroquina ou Amodiaquina Primaquina é contra-indicada para gestan-
P. malariae 1º dia - 600 mg ou 10 mg/kg em crianças, tes e crianças menores de 6 meses de idade.
P. ovale em doses únicas diárias após refeição M ulheres grávidas devem receber a
2º dia - 450 mg ou 7,5 mg/kg primaquina após o parto.
3º dia - idemPrimaquina, 15 mg/dia/14 dias
(0,25 mg/kg/dia). em dose única diária após
refeição.
P. falciparum Esquem a I (área endêm ica): Não utilizar tetraciclinas em gestantes e
Infecções leves ou Sulfato de Quinino - 15 a 30 mg/kg/dia VO crianças com menos de 8 anos; optar por
moderadas sem (max.: 1,5g), por 3 a 4 dias clindamicina.
complicações Associado a Nas gest ant es usar Esquema I com
Tetraciclinas - 0,75 a 1,5 g/dia VO por 7 dias Clindamicina.
(hemácias Ou
parasitadas < 2% ou Doxiciclina - 50 a 100 mg/dose 12/12 h por Recrudescências: Quinino + Tetraciclinas
parasitemia 7 dias ou Clindamicina. Acompanhar por 6 se-
< 100.000 Ou manas.
trofozoítos/mm 3) Clindamicina - 20 mg/kg/dia, 6/6 ou 12/12 Malária mista: outros plasmódios são
h por 7 dias. sensíveis aos esquemas descritos.
Esquem a II (fora da área endêm ica): Mefloquina: tomar cuidado com vômitos.
Mefloquina - 20 mg/kg em dose única (0,75
Primaquima para eliminar gametócitos
a 1 g).
persistentes, após o desaparecimento
Associado a
das formas assexuadas.
Primaquina, 15 mg/dia/14 dias (0,25 mg/
kg/dia). em dose única diária após refeição.
P. falciparum Esquem a I (derivados da Corrigir as doses de Quinino na IRA e pas-
Infecções severas e Art em isinina): sar para VO sempre que possível.
complicadas Artesunato (IV), 60 mg/dose p/ adultos nos O quinino pode provocar reações tóxicas,
tempos 0, 4, 24 e 48 h, ou 1,5 mg/kg p/ conhecidas como cinchonismo, consistin-
crianças do de zumbido, diminuição da acuidade
Ou auditiva, cefaléia, náuseas, dor abdomi-
nal, visão turva e alterações nas cores.
Artemether (IM) dose de ataque de 160 mg Outras reações adversas ao quinino são
(2 ampolas) p/ adultos ou 3,2 mg/kg p/ cri- a depressão miocárdica, arritmias cardí-
anças no 1º dia e manutenção de 80 mg acas, hipotensão arterial, convulsões,
(adultos) ou 1,6 mg/dose (crianças) por hemólise, insuficiência renal, hepa-
mais 4 dias (total de 5 dias). totoxicidade, alergias e hipoglicemia.
Complementação (após a última dose de Pacientes graves devem ser encaminha-
artemisinina), nas áreas endêmicas com dos para a U.T.I. e as gestantes devem ser
tetraciclinas ou clindamicina e fora das áre- monitoradas para hipoglicemia, sendo
as endêmicas com mefloquina. recomendado o Esquema II. Quando não
Esquem a II: há quinino disponível, a quinidina pode
ser utilizada, na dose de 6,0 mg/kg a cada
Cloridrato de Quinino - 15 a 30 mg/kg/dia,
8 horas por 3 a 7 dias (máximo de 400
8/8 h, 3 a 4 dias (1 a 2 mg/ml de SG5% ou
mg/dose para adultos). A quinidina é po-
SF 0,9%, em 4 h)
tencialmente cardiotóxica e deve ser ad-
associado a ministrada com cuidado, pois pode pro-
Clindamicina - 20 mg/kg/dia, 12/12 h, 7 vocar prolongamento do intervalo QT,
dias. assist olia, arrit mias vent riculares,
Complementação com Primaquina (14 taquicardia paroxística, bloqueios car-
dias). díacos e hipotensão arterial.
96 M alária Moléstias Infecciosas

TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES angústia respiratória deverá ser tratada


1. Malária cerebral: os pacientes devem ser com a administração de oxigênio e venti-
tratados em regime de terapia intensiva lação mecânica com pressão expiratória
como qualquer outro casos de coma. Deve- positiva, tal qual em outras patologias. A
se dar atenção especial às vias respiratóri- hiperhidratação deve ser evitada e a
as e ao tratamento das convulsões. Não é monitorização da pressão venosa central
recomendado o uso de corticosteróides (PVC) ou da pressão capilar pulmonar
no coma malárico, pois podem piorar a (PCP) são recomendadas.
evolução. Outros agentes antiinfla- 7. Choque: a hipovolemia deve ser corrigida
matórios também são contra-indicados. com expansores, de preferência colóides
O manitol deve ser evitado. (hidroxietilamido, dextram, albumina). A
2. Anemia: as transfusões devem ser evitadas monitorização da PVC ou da PCP são
e são recomendadas somente nos casos de recomendadas para guiar a reposição
anemia extrema, com hematócrito inferi- volêmica. Nos casos de choque refratário
or a 20% ou hemoglobina menor que 5,0 à reposição volêmica, recomenda-se o uso
g/dl. de drogas vasoativas. A noradrenalina tem
3. Insuficiência renal aguda (IRA): uma vez preferência devido ao seu efeito vaso-
descartada a presença de hipovolemia, a constrictor potente. A associação de
IRA em geral vai requerer tratamento dobutamina pode ser necessária nos casos
dialítico, principalmente na presença de de suspeita de falência cardíaca.
oligo-anúria. A hiperhidratação deve ser 8. Fenômenos hemorrágicos: transfusões de
evitada, devido ao risco de levar ao edema plasma fresco, fatores da coagulação e de
pulmonar. Tanto a diálise peritonial como plaquetas podem ser necessários. Nos ca-
a hemodiálise podem ser utilizadas, mas sos de redução da atividade de pro-
esta última tem preferência nos casos mais trombina, a vitamina K, na dose de 10 mg
graves. IV pode ser utilizada.
4. Hipoglicemia: deve ser suspeitada sempre 9. Gestação: nas gestantes o quadro clínico
nos casos graves e na presença de coma, geralmente é mais grave e além das com-
principalmente nos indivíduos tratados plicações já descritas pode ocorrer abor-
com quinino e em gestantes. Caso não to, parto prematuro e óbito fetal. O
seja possível verificar a glicemia e havendo monitoramento dos batimentos cardíacos
suspeita clínica, administrar 50 ml IV de fetais e das contrações uterinas deve ser
glicose a 50% (1 ml/kg para crianças) em instituído juntamente com as outras me-
“bolus” e manter a seguir uma infusão de didas de tratamento descritas anterior-
glicose a 5 ou 10%. Outros “bolus” po- mente. A presença de sofrimento fetal pode
dem ser necessários uma vez que a demandar a cesárea. As gestantes devem
hipoglicemia pode voltar a ocorrer duran- receber tratamento anti-malárico confor-
te a evolução. me descrito anteriormente, evitando-se o
5. Distúrbios hidro-eletrolíticos e ácido-bá- uso de tetraciclinas.
sicos: a desidratação e hipovolemia po- 10. Infecções secundárias: sua detecção deve
dem levar ao aparecimento de acidose ser precoce, através de exames de imagem
láctica e distúrbios do sódio e outros e coleta de culturas. A antibioticoterapia
eletrólitos, que devem ser corrigidos da empírica segue os mesmos princípios do
maneira habitual. tratamento da sepse e outras infecções
6. Edema agudo de pulmões: a síndrome da graves.
Cardiologia M arca-Passo Transvenoso 97

CONSULTOR: lidocaína a 2%
Marcelo Moock • Punção da Veia - jugular interna, subclávia,
femoral ou dissecção da jugular externa,
I NDICAÇÕES basílica ou umeral
1- Bradiarritmias com prejuízo hemo- • Introdução (fácil) do guia metálico flexí-
dinâmico vel em J de pelo menos 1/3 do compri-
• Bradicardia Sinusal mento
• Bloqueio Átrio-Ventricular (BAV) do 1º • Retirada cuidadosa da agulha de punção,
grau conservando o guia
• BAV do 2º grau • Pequena incisão, com bisturi, na pele jun-
• BAV Total to ao sítio de entrada do guia
• Colocação do introdutor, através do guia,
2- Bradiarritmias sem prejuízo hemo- no local da incisão
dinâmico • Retirada cuidadosa do guia, conservando
• BAV do 2 º grau tipo II o introdutor
• BAV Total • Colocação do eletrodo através do
introdutor
TÉCNICA • Monitorização do ECG através do ele-
• Informe o paciente trodo até se obter a morfologia de blo-
• Aplique oxigênio, monitorize a oximetria queio completo do ramo esquerdo, ou
e o ECG visualização pela radioscopia
• Lavagem cuidadosa das mãos • Fixar o eletrodo
• Paramentação Cirúrgica: gorro e máscara. • Aferir a localização do eletrodo através do
Avental e luvas estéreis. Rx de Tórax
• Limpeza da pele da região da punção • Quando o eletrodo está bem posicionado,
• Assepsia com álcool iodado ou PVPI a geração de corrente com baixa amperagem
• Infiltração do sítio da punção com é suficiente para estimular o miocárdio.
98 M arca-Passo Transcut âneo Tem porário Cardiologia

CONSULTOR: TÉCNICA
Marcelo Moock • Reconhecer o ritmo cardíaco e avaliar a
gravidade
COLABORADOR: • Preparar e informar o paciente
Arnaldo Duarte Lourenço, UTI da Santa • Acesso venoso
Casa de Santos. Santos, SP • Administrar oxigênio
• Instalar os monitores de ECG e Oximetria
I NDICAÇÕES • Instalar os eletrodos:
• Bradicardias com prejuízo hemodinâmico anterior- à esquerda, próximo ao ictus
sem resposta à abordagem farmacológica cordis
• BAV 2º grau MOBITZ II posterior- atrás do anterior à esquerda da
• BAVT coluna torácica
• Conectar os eletrodos ao gerador de pulso
M ATERIAIS • Ajustar a freqüência para 60 a 100
• Eletrodos nas pás batimentos por minuto
• Gerador de pulso • Ajustar a potência entre 20 a 200 jaules
• Conectores das derivações • Aferir a eficácia através da palpação do
• Sedativos e Analgésicos pulso ou da medida da pressão arterial
• Suplementação de oxigênio • Sedação e Analgesia
• Oximetria de pulso • Providenciar a instalação de marca-passo
• Monitor de ECG transvenoso
• Acesso Venoso
• Material de Reanimação COM PLICAÇÕES
• Contração muscular esquelética dolorosa
Moléstias Infecciosas M eningit e Cript ocócica 99

CONSULTOR: • Detecção de antígeno capsular cripto-


Décio Diament cócico: é feita através de aglutinação de
partículas de látex sensibilizadas com
I NTRODUÇÃO anticorpos anticapsulares do C. neofor-
A criptococose é uma micose profunda mans. Detectam antígenos circulantes no
causada pelo fungo Cyptococcus neoformans, um plasma e no líquor em cerca de 90% ou
saprófita encontrado abundantemente na na- mais dos pacientes com meningite
tureza, principalmente nas fezes dos pássaros, criptocócica ou criptococose extra-
como os pombos. A infecção geralmente é meníngea.
adquirida por inalação de aerossóis contendo • Biópsias e anatomia patológica: podem
o fungo. Na maior parte das vezes, o C. ser feitas em lesões granulomatosas.
neoformans fica latente no organismo, cau-
sando doença por reativação frente a uma di- 3- Diferencial: deve ser feito com processos
minuição da imunidade. inflamatórios subagudos e crônicos do
SNC e com processos expansivos.
D IAGNÓSTICO • Outras micoses profundas: paraco-
1- Clínico: quadro característico de menin- ccidioidomicose, histoplasmose, etc.
gite ou meningoencefalite. • Meningite tuberculosa.
• Início agudo ou insidioso. • Meningoencefalites virais.
• Alteração do nível de consciência, de • Tumores cerebrais.
leve desorientação ou agitação até coma • Neurosífilis, brucelose e eventualmente,
profundo. meningites bacterianas.
• Hipertensão intracraniana, com cefaléia • Neurotoxoplasmose.
intensa e persistente, vômitos, papiledema • Sarcoidose.
e sinais de herniação cerebral.
• Inflamação meníngea, com rigidez nucal TRATAM ENTO
e sinais meníngeos e febre alta. 1- Pacientes sem AIDS
• Sinais de localização, com paresias fo- • Primeira escolha: anfotericina-B
cais ou hemiparesias. deoxicolato (Fungison), 0,3 a 0,4 mg/kg/
• Convulsões focais ou generalizadas. dia IV + 5-fluorocitosina (Ancotil ou
• Localizações extra-meníngeas podem Ancobon), 150 mg/kg/dia divididos em
ocorrer em qualquer órgão, mas acome- doses de 6/6 horas VO, por seis semanas.
tem principalmente os pulmões e a pele. A dose total de anfotericina-B deve atin-
gir cerca de 1g, podendo chegar até 2,5 a
2- Laboratorial 3g nos casos com gemulação persistente.
• Líquor: pleiocitose discreta a moderada a A anfotericina intratecal ou intraven-
custa de linfomononucleares, por vezes com tricular raramente é indicada devido às
eosinorraquia; as proteínas estão elevadas potenciais reações tóxicas desta modali-
e a glicose é baixa; há hipertensão liquórica. dade terapêutica.
O exame direto pode revelar leveduras, mas • Em caso de toxicidade da 5-fluo-
estas são melhor evidenciadas no exame rocitosina: anfotericina-B sozinha nas do-
com tinta da China. As leveduras devem ses de 0,5 a 0,7 mg/kg/dia IV por no míni-
ser contabilizadas, assim como deve ser mo 10 semanas.
anotado quantas apresentam gemulação, • Alternativa: fluconazol, 200 a 800 mg/
que indica multiplicação ativa. A cultura dia IV ou VO.
deve ser feita em meios apropriados para 2- Pacientes com AIDS
fungos (Sabouraud e outros). • Primeira escolha: anfotericina-B sozi-
100 M eningit e Cript ocócica Moléstias Infecciosas

nha na dose de 0,7 mg/kg/dia IV por no manitol e corticóides nas lesões com efei-
mínimo 10 semanas, seguida de to de massa, a drenagem liquórica através
fluconazol, 200 mg/dia VO como manu- de punções diárias ou derivação liquórica
tenção e profilaxia de recaídas. externa deve ser instituída, pois a
• Alternativas: associar 5-fluorocitosina hiperprodução de líquor é um dos meca-
(100 mg/kg/dia) ou trocar para fluconazol nismos preponderantes na fisiopatologia
nas doses de 200 a 400 mg/dia. Doses da hipertensão intracraniana da meningi-
maiores, de 800 a 2000 mg/dia podem ser te criptocócica. A acetazolamida associa-
excepcionalmente utilizadas nos casos que da à dexametazona ajudam a diminuir a
não respondem às doses habituais e que produção de líquor. Derivações ventriculo-
tenham intolerância a anfotericina-B. A peritoniais devem ser feitas mais tarde,
associação de fluconazol com 5- nos casos de hipertensão intracraniana
fluorocitosina não é melhor que o persistente e quando houver controle da
fluconazol sozinho e pode resultar em infecção. A pressão intracraniana deve ser
toxicidade. mantida abaixo de 18 cm/H2O e sua
• Anfotericina lipossomal (Ambisome) e monitorização, assim como a pressão de
anfotericina-B coloidal (Amphocyl): po- perfusão cerebral, devem ser medidas, ser-
dem ser utilizadas nos casos de toxicidade vido como guias da terapêutica.
a anfotericina-B deoxicolato. Entretanto, • Outras medidas de terapia intensiva de-
sua eficácia não foi comprovada. vem ser instituídas conforme a necessidade
e incluem: sedação, ventilação mecânica,
3- Suporte vital controle da volemia, nutrição enteral,
• Medidas de controle da hipertensão analgesia, profilaxia da hemorragia digesti-
intracraniana: além da hiperventilação, va, prevenção de úlceras de decúbito, etc.
Moléstias Infecciosas M eningit es Virais e Bact erianas 101

CONSULTOR: estado geral e sinais de irritação meníngea,


Décio Diament como rigidez nucal e sinais de Laségue, Kernig
e Brudzinsky; síndrome da hipertensão
INTRODUÇÃO intracraniana, com cefaléia, vômitos em jato,
As meningites são caracterizadas por inflama- papiledema e alteração do nível de consciên-
ção nas meninges, isto é, na dura-máter, pia-máter cia, taquicardia ou bradicardia, hipertensão
e aracnóide, membranas que envolvem o SNC. arterial, hiperventilação, sudorese; sinais de
Podem ser agudas ou crônicas, sendo que as pri- localização neurológica, com paresias e para-
meiras são definidas como síndrome de início em lisias de pares cranianos e outros feixes nervo-
horas ou poucos dias e são causadas por vírus e sos, convulsões.
bactérias; enquanto que as segundas caracteri- • Procurar lesões de pele, como exantemas,
zam-se pelo início mais arrastado ou mesmo insi- manifestações hemorrágicas - petéquias,
dioso, sendo causadas por micobactérias, fungos sufusões, e sinais de vasculite, como livedo
e parasitas. Os agentes infecciosos alcançam o reticular.
SNC através da via hematogênica ou por propa- • Avaliar o estado hemodinâmico e respi-
gação retrógrada de trombos venosos infectados ratório.
em veias emissárias. • Detalhar o início dos sintomas: quadro
Os principais agentes causadores das meningi- gripal, otite, parotidite, diarréia, sinusite,
tes virais são os enterovírus, o vírus da caxumba, os faringite, etc. e sua evolução, se insidiosa, len-
arbovírus e os herpesvírus tipo I e II. Outros vírus, ta ou rápida, alteração do estado mental, pre-
como HIV, adenovírus, coriomeningite linfocitária, sença de complicações clínicas, como oligúria
influenza, parainfluenza e sarampo também po- e outras.
dem causar quadros meníngeos agudos. • Verificar a presença de fatores predispo-
Os principais agentes etiológicos das menin- nentes: traumatismo craniano, imunode-
gites bacterianas agudas são: Neisseria meningitidis, pressão por doença ou drogas, próteses (deri-
Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, vação liquórica), fístulas liquóricas, focos
S. agalactiae, Listeria monocytogenes, Gram-negati- parameníngeos (otite, mastoidite, sinusite),
vos entéricos, estafilococos, Ricketsias, Leptospiras, etc. quadros respiratórios crônicos (tuberculose,
A freqüência varia conforme a idade, a doença de neoplasias, infecções fúngicas).
base, o uso de medicação imunodepressora, pre- • Determinar se há uso prévio de antimicro-
sença de procedimentos invasivos e próteses, bianos, que podem alterar a evolução clínica
fístulas liquóricas e focos inflamatórios e modificar o quadro liquórico, negativando
parameníngeos. as culturas e alterando a citologia.
As meningites são sempre graves e propensas • Pesquisar contato com animais, incluindo
a comprometimento sistêmico, como sepse e com- ratos, répteis e insetos (carrapatos, mosqui-
plicações potencialmente letais ou incapacitantes, tos, etc.).
como convulsões, infartos cerebrais, edema e hi- • Pesquisar contato com substâncias quími-
pertensão intracraniana. As seqüelas são freqüen- cas e venenos, visando afastar a hipótese de
tes e muito vaiadas, indo desde surdez e retardo intoxicação exógena.
do desenvolvimento neuropsicomotor até paresias,
paralisias e coma vigil. As meningites requerem 2- Laboratorial
tratamento intensivo imediato. • Líquor: deve ser obtido por punção lombar,
entre L4 e L5 ou suboccipital, se possível
DIAGNÓSTICO com raquimanometria. Devem ser realizados
1- Clínico o exame químico (proteínas, glicose, lactato)
• Sintomas e sinais principais: síndrome in- e citológico total e diferencial, além de
fecciosa, com febre e comprometimento do bacterioscopia, culturas e prova do látex ou
102 M eningit es Virais e Bact erianas Moléstias Infecciosas

contraimunoeletroforese para meningococos, de punção, a instituição da terapia deverá ser


pneumococos e hemófilos. Novas punções empírica e baseada na faixa etária e nas cir-
podem ser necessárias nos casos de evolução cunstâncias do caso (fatores predisponentes,
grave e devem ser precedidas de avaliação epidemiologia, clínica). O tempo de tratamen-
neurológica e tomografia de crânio. to varia de sete a 14 dias, sendo mais curto
• Prova do látex no sangue. nos casos menos graves e na meningite
• Obter outras culturas: hemoculturas e de meningocócica e mais prolongado nas menin-
outros focos. Culturas para isolamento viral gites pneumocócicas e indeterminadas (cul-
podem ser feitas nos casos suspeitos de me- tura negativa). Os esquemas terapêuticos empí-
ningites virais. ricos são descritos nas tabelas I e II abaixo.
• Sorologias para vírus diversos, sífilis,
cisticercose e esquistossomose. 2- Suporte
• Tinta da China e látex para criptococose. • Antiinflamatório: a dexametasona (4 mg
• Outros exames de sangue: hemograma com IV 6/6h para adultos e 0,15 mg/kg 6/6 h
plaquetas, coagulograma, glicemia, uréia e para crianças) deve ser dada no casos de
creatinina, eletrólitos, transaminases, meningites purulentas, de preferencia 30
gasometria arterial, etc. minutos antes das doses dos antibióticos,
visando reduzir a inflamação liquórica, que
3- Métodos de imagem e gráficos é agravada pelos produtos resultantes da
• Tomografia de crânio com e sem contraste: morte bacteriana. Seu uso pode reduzir a
sempre que possível, a tomografia de crânio incidência de surdez.
deve ser feita antes da punção liquórica, vi- • Medidas para reduzir a pressão intracraniana
sando afastar lesões com efeito de massa, mas (PIC): casos selecionados vão requerer a in-
este exame deve necessariamente preceder o trodução de dispositivos de medida da PIC
líquor nos casos que apresentem papiledema para monitorização. As medidas padrão, como
ou sinais de localização, como comprometi- elevação da cabeceira a 30º, hiperventilação,
mento de pares cranianos e paralisias. manitol, corticóides e barbitúricos devem ser
• Eletroencefalograma: pode ajudar no diag- aplicadas conforme o necessário.
nóstico da meningoencefalite herpética, quan- • Anticonvulsivantes: devem ser introduzi-
do aparece lesão bitemporal. dos nos casos que apresentam convulsões ge-
• RX de crânio: deve ser feito nos casos de neralizadas ou focais em dose plenas e por
trauma de crânio, visando localizar fraturas, vezes em associação. As convulsões devem
mas pode ser dispensado nos casos que tive- ser evitadas devido aos danos que podem cau-
rem tomografia. sar ao SNC, principalmente nos casos com
• Outros: RX de tórax, ecocardiograma, PIC elevada. O uso profilático de
ultrassom, Doppler transcraniano, resso- difenilhidantoina está indicado nos casos que
nância nuclear magnética, angiografia ce- não convulsionaram.
rebral, etc. • Profilaxia de gastrite e hemorragia digestiva
com inibidores H1 ou de bomba de prótons.
TRATAMENTO • Suporte nutricional enteral ou parenteral
1- Específico precoce.
A introdução imediata da terapia • Sedação e ventilação mecânica nos casos
antimicrobiana deverá ser baseada no resulta- com alterações no nível de consciência.
do da bacterioscopia e dos testes rápidos para • Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e
detecção de antígenos bacterianos. Se os re- ácido-básicos.
sultados forem negativos ou se houver demo- • Sintomáticos: antitérmicos, analgésicos, se-
ra na obtenção do líquor ou contraindicação dativos, antieméticos, etc.
Moléstias Infecciosas M eningit es Virais e Bact erianas 103

3- Complicações semanas ou mais ou se infecta, gerando


• Abcesso cerebral: quando bem formado empiema subdural, deve ser drenada ci-
e localizado, pode ser retirado por cirur- rurgicamente.
gia. Os abcessos múltiplos e em formação • Hidrocefalia: derivação ventricular ex-
devem ser tratados com antibióticos por terna durante a fase aguda e derivações
via sistêmica. internas posteriormente se o problema
• Arterite: Antiinflamatório (corticóides) e persistir.
manutenção da pressão de perfusão cerebral. • Ventriculite: pode requerer derivação
• Coleção subdural: em geral regride es- externa, principalmente nos casos com di-
pontaneamente. Quando persiste por duas latação e hipertensão intracraniana.

Tabela I - Terapia em pírica das m eningit es bact erianas agudas (purulent as)
Faixa et ária/fat or Agent es Ant im icrobianos Alt ernat ivas
predisponent e et iológicos de 1ª escolha
0 - 30 dias (recém- Streptococcus agalactiae Ampicilina + 1- Ampicilina +
nascidos) Gram-negativos Ceftriaxona ou gentamicina ou
entéricos Cefotaxima amicacina
Estafilococos 2- Vancomicina +
ceftazidima
Listeria monocytogenes
3 meses a 5 anos Haemophilus influenzae Ceftriaxona ou 1- Ampicilina +
Meningococo, Cefotaxima Cloranfenicol
pneumococo 2- Vancomicina +
ceftriaxona ou
cefotaxima
5 a 50 anos Pneumococo, Ceftriaxona ou 1- Ampicilina
meningococo Cefotaxima 2- Vancomicina +
Ceftriaxona ou
Cefotaxima
3- Meropenem
Mais de 50 anos ou Pneumococo, Listeria, Ampicilina + 1- Associar
alcoolismo ou doença Gram-negativos Ceftriaxona ou vancomicina
debilitante Cefotaxima 2- Meropenem
Imunodeficiências Listeria, Gram-negativos Ampicilina + 1- Vancomicina +
celular em qualquer Ceftazidima Ceftazidima
idade 2- Vancomicina +
M eropenem
Neurocirurgia ou Pneumococos, Vancomicina + 1- Vancomicina +
trauma de crânio ou estfilococos, Gram- Ceftazidima ou M eropenem
derivações negativos, P. aeruginosa Cefepima
ventriculares
Abcesso cerebral Pneumococos, Ceftriaxona ou 1- associar
estreptococos, Cefotaxima + vancomicina
estafilococos, Gram- Metronidazol 2- Meropenem
negativos, anaeróbios
104 M eningit es Virais e Bact erianas Moléstias Infecciosas

Tabela II - Terapia antimicrobiana nas meningites conforme o agente etiológico isolado


Sit uação M icrorganism os Ant im icrobianos Alt ernat ivas Duração da
Clínica de prim eira t erapia (dias)
e scolha
Meningites Bacilos Gram- Ceftriaxona Ceftazidima ou 14-21
bacterianas negativos cefepima ou
entéricos. aztreonam ou
meropenem
Borrelia burgdorferi Penicilina cristalina Ceftriaxona ou 14
cloranfenicol
Haemophilus Ceftriaxona Cefepima ou 10-14
influenzae M eropenem
Listeria Ampicilina ± SM X/TM P* ou 21
monocytogenes aminoglicosídeo penicilina cristalina
± aminoglicosídeo* *
Neisseria Penicilina cristalina Ceftriaxona 7-10
meningitidis ou ampicilina
Pseudomonas Ceftazidima ou M eropenem ± 21-28
aeruginosa Cefepima ± aminoglicosídeo* *
aminoglicosídeo* *
Staphylococcus Vancomicina Linezolida? 21
aureus (oxa-resis-
tentes
Staphylococcus Oxacilina Vancomicina 21
aureus (oxa-sensível)
Staphylococcus Vancomicina ± Linezolida? 21
coagulase negativa rifampicina
Streptococcus aga- Ampicilina + Ceftriaxona ou 14-21
lactiae (Grupo B) aminoglicosídeo* * vancomicina
Streptococcus Penicilina cristalina Vancomicina 10-14
pneumoniae ou ampicilina ou
ceftriaxona
Treponema Penicilina cristalina Ceftriaxona ou 10-14
pallidum cloranfenicol
Meningoencefalite Brucella sp Doxiciclina + SMX/ Quinolona + 42
por brucelose TM P* + rifampicina ou
rifampicina SM X/TM P* +
gentamicina
Menigoencefalite Nocardia asteroides SM X/TM P* ou Sulfonamidas ou 21 a 42
por Nocardia sulfonamidas M eropenem +
amicacina ou
ceftriaxona +
amicacina
Meningoencefalite Mycobacterium Isoniazida + Etambutol 6 meses a 1 ano
tuberculosa tuberculosis Rifampicina + Estreptomicina
Pirazinamida Ofloxacina
Etionamida
Moléstias Infecciosas M eningit es Virais e Bact erianas 105

Sit uação M icrorganism os Ant im icrobianos Alt ernat ivas Duração da


Clínica de prim eira t erapia (dias)
e scolha
Meningoencefalites Aspergillus sp Anfotericina B ou Anfotericina B Indeterminado
fúngicas Itraconazol lipossomal ou
caspofungina.
Candida sp Anfotericina B Fluconazol ou Indeterminado
Itraconazol
Criptococcus Anfotericina B ou Anfotericina B ± 6 a 10 semanas
neoformans Fluconazol 5’fluorcitosina ou
Anfotericina B
lipossomal
Histoplasma Anfotericina B Itraconazol Indeterminado
capsulatum
Paracoccidioides SM X/TM P* ou Fluconazol ou Indeterminado
brasiliensis sulfadiazina itraconazol ou
anfotericina B
Meningoencefalites Acanthamoeba sp Anfotericina B ± Fenotiazínicos? ou 14-21
parasitárias rifampicina artesunato?
Angiostrongilus Mebendazol ou 7-14
cantonensis ou A. tiabendazol
costaricensis
Cysticercus Praziquantel Albendazol 10-30
cellulosae
Naegleria fowleri Anfotericina B ± Fenotiazínicos? ou 14-21
rifampicina artesunato?
Toxoplasma gondii Sulfadiazina + Clindamicina + 21-42 ou mais
pirimetamina + pirimetamina +
ácido folínico ácido folínico
Trypanosoma cruzi Benzonidazol Nifurtimox 80
Meningoencefalites Citomegalovírus Ganciclovir Foscarnet 14
virais Herpes simples Aciclovir 14-21
tipo I ou II
Varicella-zoster Aciclovir 14-21
106 M onit orização Vent ilat ória Pneumologia

CONSULTOR: platô e PEEP).


Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho • Oximetria de pulso: indica a saturação de
hemoglobina pelo O2. Pode e deve ser
COLABORADORES: mantida de forma contínua. Sua interpre-
André Albuquerque, Carmen Sílvia Valente tação depende da curva de dissociação da
Barbas, Carlos Jardim, Eduardo Borges, oxihemoglobina. Sofre influência da
Eduardo Leite, Frederico Leon Arrabal perfusão, de esmaltes, anemia,
Fernandes, Guilherme de Paula Pinto luminosidade do ambiente, arritmias etc.
Schettino, Marcelo Britto Passos Amato, • Capnografia: avalia os níveis de CO2 no ar
Pedro Caruso – Unidade de Terapia Intensiva expirado. Pode ser mantida continuamen-
- Respiratória, Hospital das Clínicas da Facul- te. Informa a concentração final de CO2
dade de Medicina da Universidade de São (end tidal). Sua representação gráfica au-
Paulo, São Paulo, SP xilia a interpretação dos resultados.

1 - I NTRODUÇÃO/CONCEITO 3.2 - Índices de oxigenação:


A monitorização é a avaliação contínua • Relação PaO2/FIO2 trata-se do índice
das funções fisiológicas de determinado órgão mais simples e fácil de ser aplicado. Tem
ou sistema e tem como objetivo orientar e valor diagnóstico e de seguimento.
avaliar as intervenções terapêuticas. • Fração de Shunt: (Qs/Qt) é o índice pa-
drão. Para ser calculado necessita que o
2 - I NDICAÇÕES paciente tenha um cateter em artéria pul-
As indicações e a freqüência da monito- monar (aceita-se em átrio direito com res-
rização ventilatória são eminentemente clíni- salvas) e que seja mantido sob oxigênio
cas. No caso, todos os pacientes sob suporte puro (FIO2 = 1) por menos 15 a 30 minu-
ventilatório devem ser monitorizados conti- tos. {Qs / Qt = CcO2 - CaO2 / CcO2 -
nuamente. Como existem diversas modalida- CvO2} Cc corresponde ao conteúdo capi-
des de monitorização, a escolha deve basear- lar (ideal), Ca ao conteúdo arterial e Cv
se no principal processo fisiopatológico en- ao venoso. Os conteúdos de oxigênio são
volvido na doença em questão. obtidos pela soma da quantidade de O2
dissolvido no plasma (0,0031 x PO2) com
3 - M ODOS DE M ONITORIZAÇÃO VENTILATÓRIA a quantidade de O2 ligado à hemoglobina
A monitorização ventilatória pode forne- (1,34 x Hb x Sat). Deve se aplicar os dados
cer dados de dois domínios que devem ser obtidos nas gasometria arterial, venosa mis-
avaliados no paciente com afecção respirató- ta e ideal (saturação hemoglobina de 1 e
ria em terapia intensiva: trocas gasosas e me- PaO2 = PAO2 - pressão alveolar de O2).
cânica respiratória. • Gradiente ou diferença alvéolo-arterial
[P(A-a)O 2]: indica distúrbio na relação
3.1 - Trocas gasosas: entre ventilação alveolar ( VA’) e
• Gasometria arterial: é a técnica padrão perfusão sangüínea capilar (Q’). Em ar
para avaliar as trocas gasosas. Informa a ambiente, P(A-a)O 2 normal é menor
PaO2 e a PaCO2, além do pH. Para uma que 10 mmHg e respirando O2 puro,
correta interpretação, é fundamental co- menor que 100 mmHg.
nhecermos as condições nas quais a amos-
tra de sangue foi coletada, ou seja, a forma 3.3 - Mecânica respiratória:
de ventilação aplicada: modo, volume cor- Aplicando-se o modo volume controlado
rente, FIO2, freqüência respiratória, fluxo (sugere-se volume corrente de 500 mL e PEEP
inspiratório e pressões no sistema (pico, de 5 cmH2O), com o paciente bem tranqüilo,
Pneumologia M onit orização Vent ilat ória 107

pouca ou nenhuma atividade da musculatura • Pressão Platô é a pressão de equilíbrio do


respiratória, onda de fluxo quadrada (V’ cons- sistema na fase inspiratória, ou seja, repre-
tante, sugere-se 30 ou 60 L/min) e pausa senta o ponto no qual a pressão na via
inspiratória de 2 s, é possível decompor a pres- aérea representa a pressão alveolar. É me-
são observada nas vias aéreas em seus compo- dida ao final da pausa inspiratória (2 s).
nentes resistivo e elástico. Uma pressão platô aumentada indica maior
• Resistência do sistema respiratório - cal- possibilidade de hiperdistensão alveolar.
culada como a relação entre pressão e flu- • Auto-PEEP: Indica a presença de uma pres-
xo [R = (PPICO - PPLATÔ) / Fluxo]. são expiratória não observada na análise
Está elevada (> 10 cmH 2 O/L/s) por direta do manômetro de pressão ao final
broncoespasmo, secreção, rolhas na câ- de uma expiração, ou seja, é a pressão de
nula ou tubo de diâmetro estreito. equilíbrio do sistema na fase expiratória,
• Complacência estática do sistema respi- representa o ponto no qual a pressão na
ratório - calculada como a relação entre via aérea representa a pressão alveolar.
volume e pressão [C = VT / (PPLATÔ - Dessa forma, é medida com a aplicação de
PEEP)]. Está reduzida (< 40 mL/cmH2O) pausa expiratória longa, superior a 4 se-
em situações de preenchimento alveolar gundos. A medida encontrada indica a
ou infiltração intersticial, além de proces- PEEP existente além da determinada no
sos que acometam a parede torácica ventilador.
108 M ort e Encefálica: Diagnóst ico Neurologia

CONSULTOR: 2. A causa do coma seja conhecida e estabelecida;


José Paulo Ladeira 3. Paciente esteja sem hipotermia (Tempe-
ratura = 35º C);
No Brasil, a Lei Federal Nº 9434/97, tam- 4. Paciente esteja sem uso de drogas
bém chamada de Lei dos Transplantes, regula- depressoras do Sistema Nervoso Central;
mentou as questões associadas à Disposição 5. Paciente esteja sem hipotensão arterial.
Post Mortem de Tecidos, Órgãos e Partes do Respeitadas estas condições, o paciente
Corpo Humano para fins de Transplante, dos pode ser submetido aos exames clínicos e sub-
critérios para Transplante com Doador Vivo e sidiários.
das Sanções Penais e Administrativas pelo não
cumprimento da mesma. Esta lei foi regula- CRITÉRIOS A SEREM OBSERVADOS PARA DETERM INAÇÃO
mentada pelo Decreto Nº2268/97 que esta- DE M ORTE ENCEFÁLICA
beleceu também o Sistema Nacional de Trans- 1. A morte encefálica (ME) deve ser caracte-
plantes e as Centrais de Notificação, Capta- rizada através de exames clínicos e com-
ção e Distribuição de Órgãos. Também foi plementares durante intervalos variáveis
determinado nesta lei que os critérios neces- de tempo, próprios para determinadas fai-
sários para o diagnóstico de morte encefálica xas etárias.
deveriam ser definidos pelo Conselho Federal 2. Os dados clínicos e dos exames comple-
de Medicina. Esta mesma lei determinou a mentares quando da determinação da ME
doação presumida dos órgãos de todo o cida- deverão ser registrados no Termo de De-
dão, salvo vontade expressa em vida registra- claração de Morte Encefálica (ver abai-
da em documento pessoal. Esta lei buscava xo). As instituições hospitalares poderão
aumentar o número de doações, independen- fazer acréscimos a este termo, que deve-
temente da vontade dos familiares. Em virtu- rão ser aprovados pelo Conselho Regio-
de da polêmica gerada em torno desta medi- nal de Medicina de sua região, sendo ve-
da, em 2001 a Lei Nº 10.211 extinguiu a do- dada supressão de qualquer um de seus
ação presumida determinando que a doação itens.
com doador cadáver só ocorreria com autori- 3. A ME deve ser conseqüência de processo
zação familiar, independentemente do desejo irreversível e de causa conhecida.
em vida do potencial doador. 4. Os parâmetros clínicos a serem observa-
O Conselho Federal de Medicina, através dos para constatação de ME são: coma
da Resolução Nº 1480/97, determinou os cri- aperceptivo com ausência de qualquer ati-
térios necessários para o diagnóstico de morte vidade motora supra-espinal e apnéia.
encefálica. 5. Os intervalos mínimos necessários entre
as duas avaliações cínicas para a determi-
POTENCIAL D OADOR CADÁVER nação de ME são definidos por faixa etária,
É todo paciente em Morte Encefálica conforme tabela abaixo:
(ME); não é necessário registro por escrito da
Faixa Et ária Int ervalo ent re as
vontade em vida do doador, pois a família sem-
avaliações clínicas
pre se manifesta na realização ou não da doa-
ção, autorizando-a por escrito quando a mes- De 7 dias até 48 horas
2 meses incompletos
ma for ocorrer.
De 2 meses até 24 horas
1 ano incompleto
CRITÉRIOS PARA A REALIZAÇÃO DO PROTOCOLO DE
M ORTE ENCEFÁLICA De 1 ano até 12 horas
2 anos incompletos
1. Paciente com identificação e registro hos-
pitalar; Acima de 2 anos 6 horas
Neurologia M ort e Encefálica: Diagnóst ico 109

6. Após a realização do 2º exame clínico com deve ser feita pelo telefone para a Central
resultado compatível com ME, os exames de Notificação, Captação e Distribuição
complementares serão realizados. Estes de Órgãos do seu Estado, informando
deverão mostrar de forma inequívoca a au- nome, idade, causa da morte e hospital
sência de atividade elétrica cerebral ou au- onde se encontra o potencial doador.
sência de atividade metabólica cerebral ou
ausência de perfusão sanguínea cerebral. M odelo de Term o de Declaração de
7. Os exames complementares serão utiliza- M ort e Encef álica
dos de acordo com a faixa etária, confor- (Res. CFM 1.480 - 08/08/97)
me tabela abaixo: Nome: ______________________________
RG Hospitalar: ________________________
Faixa Et ária Ex a m e s Idade: ________________ (Anos/M eses/Dias)
Com plem ent ares
Data de Nascimento: ____ / ____ / _____
De 7 dias até 2 EEGs com intervalo
Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )
2 meses incompletos de 48 horas entre um
e outro Cor: ( ) Branca ( ) Negra ( ) Amarela
De 2 meses até 2 EEGs com intervalo de Pai: ________________________________
1 ano incompleto 24 horas entre um e outro M ãe: _______________________________
De 1 ano até Qualquer um dos exames
2 anos incompletos citados; se EEG, serão
necessários 2 exames
com intervalo de A. Causa do Coma
12 horas entre um e outro A.1 Causa do Coma:_________________
Acima de 2 anos Qualquer um dos exames A.2 Causa que devem ser excluídas durante o
citados exame
a) Hipotermia ( ) Sim ( ) Não
b) Uso de drogas depressoras do SNC
( ) Sim ( ) Não
8. O termo de declaração de Morte
Encefálica, após preenchido e devidamen-
Se a resposta for SIM a qualquer um dos
te assinado, deverá ser arquivado no pron-
itens acima, interrompe-se o protocolo.
tuário do doente, assim como os resulta-
dos dos exames complermentares utiliza-
B. Exame Neurológico
dos na determinação da ME.
ATENÇÃO: verifique o intervalo mínimo
9. Depois de constatada e documentada a
exigível entre as avaliações clínicas constantes
ME, o Diretor Clínico da instituição hos-
na tabela abaixo:
pitalar ou a quem for delegado (médico
do doente, médico plantonista da UTI ou
o médico da equipe de captação de ór-
gãos), deverá comunicar tal fato aos res- Faixa Et ária Int ervalo ent re as
avaliações clínicas
ponsáveis legais do paciente e à Central
de Notificação, Captação e Distribuição De 7 dias até 48 horas
2 meses incompletos
de Órgãos que estiver vinculada a unida-
de hospitalar onde o mesmo se encontra- De 2 meses até 24 horas
va internado. Esta notificação é compulsó- 1 ano incompletos
ria, independente da vontade dos familia- De 1 ano até 12 horas
res ou da condição do potencial doador se 2 anos incompletos
tornar um doador efetivo. A notificação Acima de 2 anos 6 horas
110 M ort e Encefálica: Diagnóst ico Neurologia

Elem ent os do D. Exame Complementar (Indicar o exame


Exa m e Re sult a dos realizado)
Neurológico 1. Angiografia Cerebral,
1º Exam e 2º Exam e 2. Cintilografia Radioscópica,
Coma aperceptivo ( ) Sim ( ) Sim 3. Doppler Transcraniano,
( ) Não ( ) Não 4. Monitorização da Pressão Intra-craniana,
Pupilas fixas e ( ) Sim ( ) Sim 5. Tomografia Computadorizada com
arreativas ( ) Não ( ) Não Xenônio,
Ausência de reflexo ( ) Sim ( ) Sim 6. Tomografia por Emissão de Fóton,
córneo-palpebral ( ) Não ( ) Não 7. EEG,
Ausência de reflexos ( ) Sim ( ) Sim
8. Tomografia por Emissão de Pósitron,
óculo-cefálicos ( ) Não ( ) Não 9. Outros (citar).
Ausência de resposta ( ) Sim ( ) Sim
às provas calóricas ( ) Não ( ) Não REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução
Ausência de reflexo ( ) Sim ( ) Sim 1.480/97 - Critérios de Morte Encefálica. Diário Ofici-
de tosse ( ) Não ( ) Não al da União, p. 18227, 21/08/97.
2. BRASIL. Decreto Lei n.º 2.268, de 30 de junho de
Apnéia ( ) Sim ( ) Sim
1997. Regulamenta a Lei n.º 9.934, que dispõe sobre
( ) Não ( ) Não a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano
para fins de transplante e tratamento, e dá outras pro-
vidências. Diário Oficial da União, Brasília, n.º 123,
C. Assinatura dos Exames Clínicos p.13739, 01 julho 1997. Seção 1.
(Os exames deverão ser realizados e assi- 3. BRASIL. Lei n.º 9.434 - Dispõe sobre remoção de ór-
gãos, tecidos e partes do corpo para fins de transplante
nados por profissionais diferentes, os quais não e tratamento e dá outras providências. Diário Oficial da
poderão ser integrantes da equipe de remoção União, 04/02/97.
e transplante) 4. BRASIL. Medida Provisória n.º 1.718, de 06 de Outu-
bro de 1998.
5. BRASIL. Portaria nº 905. Estabelece normas sobre fun-
1º Exam e cionamento das Comissões Intra-Hospitalares de Trans-
Data ____ / _____ / ____ plante. Ministério da Saúde. 16 de agosto de 2000.

Hora ____________ h
Nome do Médico ______________________
CRM _______________________________
Endereço ____________________________
Fone _______________________________
Assinatura ___________________________
2º Exam e
Data ____ / _____ / ____
Hora ____________ h
Nome do Médico ______________________
CRM _______________________________
Endereço ____________________________
Fone _______________________________
Assinatura ___________________________
Drogas Vasoativas Nit roglicerina 111

CONSULTOR: de 200mcg/min.(Vazão de 60mL/H)


Marcelo Moock
FARM ACODINÂM ICA
COLABORADOR: Aumenta a produção de óxido nítrico com
Emerson Fracarolli redução da disponibilidade de cálcio e relaxa-
mento predominante das veias. Em doses ele-
• Classificação Farmacológica: Nitrato vadas age nas artérias. Diminui pré e pós car-
• Classificação Terapêutica: Antianginoso e gas, diminui a tensão da parede do ventrículo
vasodilatador esquerdo, diminui o consumo de oxigênio do
miocárdio.
APRESENTAÇÃO
Solução injetável 5mg/ml; ampolas com 5 FARM ACOCINÉTICA
e 10 ml. • Absorção: Início rápido, efeito residual de
2 minutos após a interrupção.
I NDICAÇÕES, V IAS E D OSES • Distribuição: Ampla.
Venodilatador, Anti anginoso • Excreção: Urinária, conjugado.
Via intravenosa
Diluição recomendada para adultos: CONTRA -INDICAÇÕES E PRECAUÇÕES
Pacientes com cardiopatia hipertrófica
SG5% 240mL obstrutiva, pericardite e infarto do ventrículo
Tridil ® 10 mL 200mcg/mL direito.

CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS
Dose: Iniciar com 15mcg/min, ajustando Pacientes podem desenvolver cefaléia, ru-
em cotas de 10 a 15 mcg, até a dose máxima bor facial, hipotensão e meta-hemoglobinemia.
112 Nit roprussiat o de Sódio Drogas Vasoativas

CONSULTOR: FARM ACODINÂM ICA


Marcelo Moock Produtor de óxido nítrico. Induz a forma-
ção de GMP cíclico com redução da disponi-
COLABORADORES: bilidade de cálcio e relaxamento da muscula-
Jairo Paiva, Hospital de São Marcos, São tura vascular. Redução da pré e pós cargas.
Paulo,SP
Juarez de Paula, Hospital Regional de Assis, FARM ACOCINÉTICA
Assis, SP • Absorção: Início da ação em 2 minutos.
Dura até 2 minutos.
• Classificação Farmacológica: Vasodilatador • Distribuição: Ampla.
• Classificação Terapêutica: Antihipertensivo • Metabolismo: Inativada no fígado em
tiocianato.
APRESENTAÇÃO • Excreção: Renal
Injetável: Ampolas de 2 mL com 50 mg.
CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS
I NDICAÇÕES, VIAS E DOSES (A DULTOS E CRIANÇAS) 1. Proteger o produto da luz.
Vasodilatador venoso e arterial: iniciar com 2. Administrar com bomba de infusão.
0,25 mcg/Kg/Min
Via intra venosa em infusão contínua.
Diluição recomendada para adultos:
SG5% 248mL
Nipride® 2mL 200mcg/mL
Tot al 250m L
Drogas Vasoativas Norepinefrina, Bit at rarat o de 113

CONSULTOR: to da resistência vascular periférica . Decorre


Marcelo Moock aumento da pressão arterial média e diminui-
ção do fluxo para pele, músculo território
• Classificação Farmacológica: adrenérgico esplâncnico e renal.
• Classificação Terapêutica: vasopressor e Efeito inotrópico: ação direta nos recep-
inotrópico tores cardíacos beta 1.

APRESENTAÇÃO FARM ACOCINÉTICA


Solução injetável 1mg/ml; ampolas com 4 ml. • Absorção: Início rápido, efeito residual de
2 minutos após a interrupção.
I NDICAÇÕES V IAS E D OSES • Distribuição: Tecido nervoso simpático
Sustentar a pressão arterial • Excreção: Urinária, conjugado.
Via intravenosa
Adultos: Iniciar com 0,05µg/Kg/min e ti- CONTRA -INDICAÇÕES E PRECAUÇÕES
tular o efeito até 1mcg/kg/mim Pacientes com trombose mesentérica, pa-
Crianças: Idem. Dose máxima 2mg/kg/ cientes hipovolêmicos, pacientes em uso de
min IMAO e antidepressivos tricíclicos.
Diluição recomendada para adultos:
CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS
SG5% 150mL
Ajuste a volemia antes de administrar nor
Levophed® 16 mL 0,1mg/mL adrenalina; use bomba de infusão; certifique-
se sobre a qualidade do acesso venoso. Em
FARM ACODINÂM ICA caso de extravasamento infiltre no local 10
Efeito vasopressor: ação direta nos recep- mL de salina com 10 mg de fentolamina, usan-
tores alfa adrenérgicos determinando aumen- do agulha fina.
114 Obst rução das vias aéreas superiores Pneumologia

CONSULTOR: A BORDAGEM TERAPÊUTICA


Flávio Monteiro de Barros Maciel
O objetivo traduz-se pelo imediato
COLABORADORES: restabelecimento de uma via aérea pérvea.
João Bosco Médici Carvalho, Gilberto Costa Embora algumas vezes simples manobras como
Gomes - UTI Geral Hospital Universitário/ mudança de decúbito, uso da cânula de Guedel
Urcamp, Bagé, RS ou aspiração de secreções possam resolver as
obstruções mais simples, na grande maioria
CONCEITO das vezes, temos que recorrer a procedimetos
mais agressivos como intubação oro ou
A obstrução das vias aéreas tem como con- nasotraqual e traqueostomia.
seqüente alteração fisiopatologia a hipo- O uso de corticoesteróides em obstrução
ventilação alveolar, instalando-se assim a por edema de glote pode ser tentado, mas na
hipoxemia e hipercarbia, podendo em situa- maioria das vezes a intubação oro ou nasotra-
ções extremas levar á parada cardiorres- queal ou traqueostomia serão necessários. É
piratório e óbito. importante salientar que a oxigenioterapia,
mesmo que restabelecendo a saturação de
AVALIAÇÃO CLÍNICA hemoglobina, jamais deve substituir uma via
aérea bem pérvea, principalmente quando há
Por tratar-se se síndrome clinica, que qua- o risco de fadiga muscular.
se sempre requer atuação imediata, uma su-
cinta anamnese, seguida de uma rápida, mas I NTUBAÇÃO ENDOTRAQUEAL
bem orientada ectoscopia, nos dará uma boa
orientação das medidas a serem tomadas. As cânulas tranqueais podem ser inseridas
através do nariz ou pela boca. A via nasal é
D ADOS DA ANAM NESE preferida para intubar pacientes acordados e
cooperativos, enquanto a via oral é preferida
Pós-operatório imediato; pós-extubação em pacientes comatosos ou não colaborativos
endotraqueal, pós-retirada de cânula de ou quando uma intubação imediata for neces-
tranqueostomia, vômitos, Acidente Vascular sária. O diâmetro da cânula traqueal não deve
Cerebral, Traumatismo Crânio Encefálico, ser inferior a 7mm, dando-se preferência às
traumatismo de face, anafilaxia, obstrução cânulas de 8mm (em adultos).
de orofaringe pela base da língua ou secre-
ções, etc. TRAQUEOSTOM IA

D ADOS DE EXAM E FISICO Apesar de haver muita controvérsia de qual


é o momento mais oportuno para realizar uma
Acordado, cooperativo, torporoso, co- traqueostomia, consenso atual favorece a abor-
matoso, dispnêico, cornagem, tiragem, res- dagem de que havendo pequena probabilida-
piração paradoxal, cianose, taquicardia, de de extubação na semana seguinte a
hipotensão. intubação endodraqueal, deve-se realizar a
traqueostomia. Encerrando devemos enfatizar
a importância da laringotraqueobroncospia no
diagnóstico etiológico e topográfico de mui-
tas obstruções das vias aéreas superiores.
Moléstias Infecciosas Pacient es Neut ropênicos 115

CONSULTOR: zada concomitantemente. Muitas vezes,


Décio Diament o cateter é a única via de coleta disponível
e as culturas devem ser obtidas dele se não
COLABORADOR: for possível puncionar uma veia. Outra
Patrícia Lovate opção é a punção arterial, mas ela deve ser
evitada devido aos riscos de sangramento
I NTRODUÇÃO e infecção.
Pacientes neutropênicos são aqueles que • Culturas de outros materiais: escarro, uri-
tem menos de 500 neutrófilos/mm3 de sangue na, fezes, líquor, líquidos cavitários e ou-
periférico ou menos de 1.000 células/mm3 com tros materiais suspeitos devem ser coletados
previsão de queda para menos de 500/mm3 e cultivados.
em curto espaço de tempo, cerca de uma a • Anatomia patológica: materiais de biópsias
duas semanas após a aplicação de devem ser extensivamente examinados e
quimioterapia citorredutora. Mais da metade cultivados.
destes pacientes vão desenvolver febre por • Métodos imunológicos: a detecção de
volta da segunda ou terceira semanas após o antígenos virais, bacterianos e fúngicos por
início da quimioterapia. As principais portas meio de reações imunológicas deve ser feito
de entrada para os agentes infecciosos são o se houver disponibilidade e suspeita clíni-
trato digestivo, devido a lesão de mucosa ca. Por exemplo, a detecção de antígenos
provocada pelos quimioterápicos e a pele, por de Streptococcus pneumoniae no LCR é
causa de lesões decorrentes de procedimentos de grande valia no diagnóstico da menin-
invasivos. gite pneumocócica.
• Métodos de detecção de material genéti-
D IAGNÓSTICO co: com o advento das técnicas de ampli-
ficação do DNA e RNA microbianos tem
1- Clínico sido possível detectar vários germes atra-
Devido a neutropenia, estes pacientes apre- vés de PCR ou reações similares. Todavia,
sentam pouca ou nenhuma supuração em res- a maioria destas técnicas ainda é experi-
posta a infecções. Muitas vezes, os sinais in- mental e poucas são disponíveis para o
flamatórios são escassos ou ausentes e a única uso rotineiro. No futuro próximo será
manifestação apresentada é dor no local afe- possível diagnosticar vários tipos de infec-
tado. Estes locais são freqüentemente as gen- ções utilizando esta abordagem.
givas, a faringe, o esôfago, os pulmões, o períneo • Outros exames inespecíficos: hemograma
e o ânus, o fundo de olho, a pele, os locais de com plaquetas, coagulograma, uréia,
inserção de cateteres e o tecido periungueal. creatinina, transaminases, etc.
Os sintomas são sutis e relacionados aos ór-
gãos afetados. Outros sintomas e sinais im- 3- Diagnóstico por imagem: tem papel pri-
portantes são a febre, o choque e as insufici- mordial na localização do foco infeccioso
ências orgânicas, principalmente a insuficiên- e devem ser extensivamente utilizados.
cia respiratória aguda e a coagulopatia. Tratamento
1- A antibioticoterapia empírica deve ser ins-
2- Laboratorial tituída o mais breve possível para todos os
• Hemoculturas: devem ser coletadas três pacientes que apresentem febre (T >=
amostras para bactérias e fungos de veias 37,8°C axilar ou 38,3°C oral/retal) e
periféricas, observando os cuidados habi- neutropenia, pois a progressão da infec-
tuais de Anti-sepsia e assepsia. A coleta de ção pode ser rapidamente fatal.
sangue de cateter suspeito pode ser reali- 2- Determinar o risco de gravidade da infec-
116 Pacient es Neut ropênicos Moléstias Infecciosas

ção. As características abaixo delimitam vidade contra estafilococos e enterococos


os casos de baixo risco, que poderão ser multi-resistentes devem ser usados criterio-
tratados por via oral: samente e de acordo com os testes de sen-
• Contagem de neutrófilos e/ou monócitos sibilidade. Dentre estes destacam-se a
>= 100/mm3. linezolida e a dalfopristina/quinupristina.
• RX de tórax normal. • Cobertura para anaeróbios: somente se o
• Testes de função hepática e renal normais. foco infeccioso for relacionado a visceras
• Duração da neutropenia <= 7 dias ou re- ou tecidos onde haja flora anaeróbia. As
solução esperada em < 10 dias. combinações ticarcilina/clavulanato ou
• Ausência de infecção na inserção de cate- piperacilina/tazobactama e os carbapenens
ter. tem boa atividade anti-anaeróbia. Outros
• Evidências de recuperação da medula óssea. antimicrobianos que podem ser associa-
• Neoplasia em remissão. dos são a clindamicina e o metronidazol.
• Febre < 39°C (oral). • Os esquemas propostos devem ser reavaliados
• Bom estado geral e ausência de alterações da em três a cinco dias e modificados conforme o
consciência, dor abdominal e co-morbidades. resultado das culturas ou evolução clínica.
Estes pacientes geralmente podem ser tra- • Antifúngicos: devem ser introduzidos em
tados fora do ambiente de terapia intensiva e caso de não haver melhora após três a
podem receber antimicrobianos por via oral. cinco dias de tratamento. A droga de pri-
O esquema de tratamento para adultos é a meira escolha é a anfotericina-B. Entre-
combinação de ciprofloxacina com amoxa- tanto, algumas autoridades recomendam
cilina/clavulanato, embora outros esquemas o fluconazol, com a ressalva que este medi-
similares tenham sido propostos. camento não é ativo contra algumas espé-
3- Pacientes de risco elevado são aqueles que, cies de Candida não-albicans (C. glabrata,
além de não se encaixarem nos critérios C. kruzei, etc.) e outros fungos, como o
acima, tem instabilidade hemodinâmica e Aspergillus sp. A anfotericina-B, devido a
disfunções orgânicas, o que os torna can- sua toxicidade, pode ser utilizada na forma
didatos a tratamento intensivo. A antibio- de soluções lipídicas, como a anfotericina
ticoterapia empírica é feita primordial- coloidal (Amphocyl) ou a lipossomal
mente por via intravenosa. Os esquemas (Ambisome). Outros antifúngicos como o
são os seguintes: itraconazol e a caspofungina podem ser
• Monoterapia: cefepima ou cefpiroma ou utilizados, principalmente nos casos de
ceftazidima ou carbapenem (imipenem ou infeções por Aspergillus sp.
meropenem). • Antivirais: não há indicação para seu uso
• Combinações: cefepima ou cefpiroma ou empírico e somente devem ser prescritos
ceftazidima ou carbapenem (imipenem ou quando há evidências clínicas e labora-
meropenem) ou penicilina anti-pseu- toriais de infecções virais.
domonas (ticarcilina/clavulanato ou 4- Fatores estimuladores de colônia: não são
piperacilina/tazobactama) com amino- recomendados rotineiramente, pois seu
glicosídeo (amicacina, tobramicina, uso não diminui a morbidade nem a
gentamicina, netilmicina). letalidade das infecções nos neutropênicos
• Vancomicina ou teicoplanina: pode ser febris. Seu único benefício é reduzir o tem-
acrescentada aos esquemas descritos se no po de granulocitopenia. Podem ser indi-
hospital ou comunidade houver alta cados em casos selecionados, quando hou-
prevalência de estafilococos resistentes a ver demora na recuperação da medula ou
oxacilina. Outros antimicrobianos com ati- piora da neutropenia.
Cardiologia Punção Venosa Profunda 117

CONSULTOR: 1- Veia jugular interna - Acesso posterior


Marcelo Moock • Localiza-se posterior e lateralmente à ar-
téria carótida
COLABORADOR: • Prefira o lado direito
Bruno da Costa Rocha, Hospital Iguatemi, • Decúbito dorsal, Trendelenburg, com a
São Paulo, SP cabeça virada para o lado oposto
• Insira a agulha no bordo posterior do
I - A CESSOS músculo esternocleidomastoídeo, 5cm
1. Veia jugular interna acima da clavícula, ou logo abaixo do cru-
2. Veia subclávia zamento da veia jugular externa com o
3. Veia femural esternocleidomastoídeo
• Aponte a agulha para o mamilo contra
II - D ESCRIÇÃO DA TÉCNICA DE SELDINGUER (P/ QUAL- lateral
QUER ACESSO) • Incline a agulha a 15 graus do plano fron-
tal
• Informe o paciente • Avance a agulha cerca de 5-7cm até aspi-
• Aplique oxigênio, monitorize a oximetria rar sangue
e o ECG • Complicações: 5 A 20% - pneumotórax,
• Lavagem cuidadosa das mãos, Para- hemotórax, punção da artéria, hematoma
mentação Cirúrgica: gorro e máscara. , fístula arteriovenosa, embolia aérea,
Avental e luvas estéreis. quilotórax etc.
• Limpeza da pele da região da punção,
Assepsia com álcool iodado ou PVPI 2- Veia jugular interna - Acesso central
• Infiltração do sítio da punção com • Prefira o lado direito
lidocaína a 2% • Decúbito dorsal, Trendelenburg, com a
• Punção da Veia cabeça virada para o lado oposto
• Introdução (fácil) do guia metálico flexí- • Identifique o triângulo formado pela cla-
vel em J de pelo menos 1/3 do compri- vícula e os bordos esternal e clavicular do
mento esternocleidomastoídeo
• Retirada cuidadosa da agulha de punção, • Palpe o pulso carotídeo. Note que a veia
conservando o guia jugular interna é posterior e lateral à arté-
• Pequena incisão, com bisturi, na pele jun- ria carótida
to ao sítio de entrada do guia • Insira a agulha entre o centro e o ápice do
• Introdução, através do guia, do dilatador triângulo. Aponte a agulha para o mamilo
no sítio da punção ipsilaterlal. Incline a agulha a 45 graus do
• Retirada cuidadosa do dilatador, conser- plano frontal. Tente permanecer paralelo
vando o guia e lateral à artéria carótida
• Intodução do catetér através do guia, Re- • Avance cerca de 2-3 cm
tirada do guia • Complicações: 5 A 20% - pneumotórax,
• Avaliar a saída de sangue do catetér por hemotórax, punção da artéria, hematoma
aspiração ou drenagem gravitacional , fístula arteriovenosa, embolia aérea,
• Iniciar a infusão ou ocluir a linha com quilotórax etc.
solução heparinizada
• Suturar o catetér na pele para fixação 3- Veia subclávia - Acesso infraclavicular
• Curativo • Posicione a cabeça do paciente em 15
• Aferir a localização do catetér através de graus negativos (Trendelenburg)
Rx • Vire a cabeça do paciente para o lado opos-
118 Punção Venosa Profunda Cardiologia

to ao da punção palpação da crista ilíaca e da protuberância


• Coloque um coxim vertical entre as do púbis.
escápulas • Acesse a região situada caudalmente ao
• Puncione a pele na junção dos terços ligamento inguinal
medial(interno) e médio da clavícula • Palpe o pulso da artéria femoral abaixo do
• Dirija a agulha raspando o periósteo da ligamento inguinal e delimite o seu traje-
face inferior da clavícula, paralela ao pla- to
no frontal • A veia femoral é paralela à artéria ,cerca
• Avance cerca de 3 a 5cms em direção a de um cm, na direção medial
fúrcula esternal • Puncione a pele dois cms abaixo do liga-
• Utilize a técnica de Seldinguer mento inguinal
• Incline a agulha 45 graus do palno frontal
4- Veia femoral e aponte na direção cefálica
• Paciente em decúbito dorsal com as per- • Avance cuidadosamente até a entrada de
nas levemente abduzidas sangue na seringa
• Delimite o ligamento inguinal, através da • Utilize a técnica de Seldinguer
Cardiologia Reposição Volêm ica no Choque 119

CONSULTOR: M ONITORIZAÇÃO DA REPOSIÇÃO VOLÊM ICA


Marcelo Moock • A reposição volêmica deve ser titulada se-
gundo parâmetros clínicos mensuráveis
COLABORADOR: como frequência cardíaca, débito urinário,
Leandro Taniguchi, Médico Assistente - UTI pressão arterial média e outros passíveis
da Disciplina de Emergências Clínicas – Hospi- de serem medidos.
tal das Clínicas da Faculdade de Medicina da • Monitorizar o paciente de forma invasiva
Universidade de São Paulo. São Paulo, SP e precoce sempre que necessário. Situa-
ções de hipoperfusão geralmente necessi-
OBJETIVOS tam de acesso venoso central para admi-
• Restaurar perfusão tecidual e normalizar nistração de volume, drogas vasoativas e/
o metabolismo oxidativo. ou mensuração da PVC e de uma linha
• Corrigir hipovolemia absoluta e/ou rela- arterial invasiva para mensuração real, fi-
tiva. dedigna e constante da pressão arterial,
• Melhorar débito cardíaco através do au- para coleta de GASA com lactato e para
mento da pré-carga. mensuração da variação da pressão de
pulso quando indicada.
ADM INISTRAÇÃO • Manter PAM maior que 60-65 mmHg de
• Bôlus de volume pré-determinado em in- início ou maior de acordo com a necessi-
fusão rápida (10-15 minutos no máximo). dade e/ou situação prévia (HAS).
• Manter PVC pelo menos acima de 10
TIPO DE REPOSIÇÃO mmHg, pois valores menores estão asso-
• Não há diferenças em termos de mortali- ciados à instabilização hemodinâmica se
dade ou incidência de edema pulmonar em submetidos à pressão ventilatória positi-
relação ao uso de colóide ou cristalóide. va. Lembrar que pacientes que estão ade-
Quando cristalóide ou colóide são usados quadamente ressuscitados do ponto de
em expansão para os mesmos níveis de pres- vista volêmico geralmente não apresen-
sões de enchimento, ambos são igualmente tam alteração no débito cardíaco com au-
efetivos em restaurar a perfusão tecidual. mentos do PEEP.
• Devido aos altos custos dos colóides e à • Em pacientes sépticos e entubados, a va-
falta de literatura corroborando sua utili- riação respiratória da pressão de pulso é
zação, os cristalóides são preferíveis. um método simples para se predizer a res-
• Apesar da maior formação de edema peri- posta volêmica, sendo que nesse grupo,
férico com o uso de cristalóides, tal efeito ela seria o método com melhor sensibili-
é subjetivo e não parece acarretar altera- dade e especificidade.
ção no metabolismo oxidativo muscular • Durante monitorização hemodinâmica,
ou intestinal. dar preferência para os “indicadores dinâ-
• Reposição com cristalóides geralmente micos” (variação respiratória da PAD, va-
necessita de 2-4 vezes mais volume que riação respiratória da pressão arteria
com colóides para se alcançar o objetivo. sistólica e da pressão de pulso, variação
• A utilização de hidroxietilstarch 6% em respiratória da velocidade sanguínea
pacientes com sepsis grave ou choque sép- aórtica) em relação aos “indicadores está-
tico foi um fator de risco independente ticos” (PVC, PAPO, VDFVD, área
para insuficiência renal aguda. diastólica final do VE). A literatura de-
• Hb entre 7-9 g/dl pode ser permitido sem monstra maiores valores preditivos posi-
repercussão ao paciente crítico na maior tivo e negativo para os primeiros, além da
parte dos casos. existência de valores limite.
120 Reposição Volêm ica no Choque Cardiologia

• A PAPO é um bom valor para se avaliar a • A mensuração do lactato é um índice de


pressão hidrostática a que o capilar pul- perfusão tecidual global a ser medido na
monar está submetido e para se predizer gasometria arterial. Apresenta valor prog-
edema pulmonar, mas não para se avaliar nóstico; porém, no choque séptico, sua
reposição volêmica. Calcular a PAPO medida nem sempre se correlaciona com
transmural para se reduzir o erro. hipoxemia tecidual ou má perfusão.
• A mensuração da PvcO2 e da SvcO2 pode • A mensuração do BE na gasometria arte-
ser utilizada para avaliação evolutiva. Po- rial é outro índice de perfusão a ser valori-
rém, ela apresenta valor quando seus va- zado, desde que não haja insuficiência re-
lores estão baixos (SvcO2<60%). nal ou ácidos fixos externos na circulação.
Sedação, Analgesia e BNM Sedação em UTI 121

CONSULTOR: ansiólise e amnésia anterógrada além de


Rosa Goldstein Alheira Rocha terem efeito anticonvulsivante. Os
benzodiazepínicos diferem entre si por
COLABORADORES: suas características farmacodinâmicas e
Desanka Dragosavac, da Associação Congre- farmacocinéticas. São antagonizados
gação Santa Catarina, São Paulo - SP pelo flumazenil, entretanto seu uso ro-
Irineu Melek, do Hospital Angelina Caron, tineiro após administração por tempo
Campina Grande do Sul - PR prolongado, pode precipitar sindrome
de retirada. As doses utilizadas devem
N ÍVEIS DE SEDAÇÃO ser menores que 0,5 mg para produzir
I - Mínima(ansiólise): O paciente responde pouco efeito de retirada. A curta meia
normalmente aos comandos verbais. As vida de eliminação do flumazenil asso-
funções cognitivas podem estar compro- cia-se a risco de re-sedação principal-
metidas, porém as funções ventilatórias mente com uso de benzodiazepínicos
e hemodinâmicas não são afetadas. de longa duração.
II - Moderada(sedação consciente): O pa- 3. Barbitúricos: Tem efeitos no Sistema
ciente responde aos comandos verbais Nervoso Central, coração e pulmões que
com ou sem estimulação tátil. Ventila- são semelhantes qualitativamente aos
ção adequada e hemodinâmica mantida benzodiazepínicos, mas tem maior mag-
III - Profunda: O paciente não desperta po- nitude.
rém reage á estimulação dolorosa. Pode 4. Propofol: Agente anestésico geral
não manter via aérea patente e ventila- intravenoso que em doses mais reduzi-
ção expontânea, a função hemodinâmica das é sedativo potente com ação
pode estar mantida amnéstica mínima. Possui ação anticon-
IV - Anestesia: O paciente não desperta, vulsivante, embora mioclonias tenham
sequer com estimulação dolorosa, não sido observadas. O propofol é veicula-
é capaz de manter via aérea patente, do em emulsão de lípides, o que limita a
necessita de assistência ventilatória me- velocidade de infusão a 4 mg.kg-1.h-1.
cânica, a hemodinâmica pode estar ins- Considerar o propofol no balanço
tável. calórico: 1 ml = 0,1 g de gordura ou
cerca de 1 kcal.
I NDICAÇÕES 5. Cetamina: Produz um estado de disso-
Os sedativos são geralmente necessári- ciação no qual o paciente parece des-
os como adjuntos no tratamento da ansie- perto mas não reage a dor ou ao chama-
dade e agitação e ainda para facilitar a ven- do verbal.
tilação mecânica, produzir relaxamento 6. Butirofenonas: As butirofenonas, halo-
muscular e sono. peridol e droperidol, estão indicados no
tratamento da agitação e delírio.
A GENTES 7. Alfa Agonistas Centrais: A clonidina tem
1. Opióides: Os opióides produzem sido empregada no tratamento da
analgesia ao mesmo tempo que são fun- sindrome de abstinência alcóolica na
damentais na estratégia terapêutica que UTI. A dexmedetomidina, agonista alfa
busca a sedação consciente, não produ- 2 adrenérgico com uma relação alfa1:
zem amnésia e são associados à vários alfa 2 mais de setes vezes a da clonidina,
efeitos colaterais. foi recentemente aprovado para uso por
2. Benzodiazepínicos: Fármacos de uso ro- até 24 horas. É sedativo, hipnótico,
tineiro em UTIs. Produzem sedação, ansiolítico e analgésico reduzindo a ati-
122 Sedação em UTI Sedação, Analgesia e BNM

vidade simpática. Não produz depres- maiores de 2 a 20 mg a cada 1 a 8 horas.


são respiratória significativa e o pacien- • Efeitos Adversos: Depressão respirató-
te desperta rapidamente atendendo or- ria, confusão, excitação paradoxa, após
dens com facilidade. Pode facilitar a administração prolongada, a recupera-
intubação traqueal, e procedimentos ção pode tomar vários dias. Trom-
para os quais normalmente é necessária boflebite, dor à injeção.
sedação consciente. Seu papel como
agente sedativo em pacientes graves ain- Midazolam:
da requer maiores estudos. • Farmacocinética: Início de ação: 1 a 3
min. Duração: 1 a 4 horas. Metabolis-
RECOM ENDAÇÕES G ERAIS mo hepático.
• Para sedação contínua de curta dura- • Posologia: 0,03 a 0,3 mg.kg-1 EV em
ção: Midazolam e o propofol. “bolus” seguida de 0,012 a 0,6 mg.kg-
• Para sedação prolongada: Diazepam, 1.h-1 EV contínuo. Efeitos Adversos:
midazolam e propofol. Efeitos hemodinâmicos discretos.
• Para o tratamento do delírio e da agitação Hipotensão arterial em idosos. Depres-
em pacientes graves submetidos a trata- são respiratória, sobretudo se associado
mento intensivo: Haloperidol (isolada- a opióides. Metabolismo prejudicado
mente ou associado aos diazepínicos). em insuficiência hepática ou renal. In-
• Para sedação e analgesia, sem depressão res- terrupção da administração associada a
piratória: Dexmedetomidina (até 24 horas) manifestações de abstinência
• Em sedação para ventilação artificial, ge-
FÁRM ACOS UTILIZADOS ralmente usado associado a opióides (mor-
Fentanila: fina 5 a 50 mg.h-1ou fentanil, 0,05 a 0,5
• Farmacocinética: Início de ação < 1 min mg.h-1, alfentanila, 0,25 a 2,5 mg.h-1
após injeção intravenosa; Duração de ou sufentanila, 0,01 a 0,1 mg.h-1).
ação 30 a 60 min. Eliminação hepática.
• Posologia: 25 a 100 mcg. (0,7 a 2 Propofol:
mcg.kg-1) EV ou 50 a 500 mcg.h-1 EV • Farmacocinética: Início de ação 40 se-
contínua. gundos. Duração 2 a 4 min, 180 a 720
• Efeitos adversos: Miose, Bradicardia min. Metabolismo hepático.
(vagal), Rigidez muscular (tronco; inje- • Posologia: Sedação intravenosa 0,3 a 3
ção rápida), Rápido desenvolvimento de mg.kg-1.h-1
tolerância, Depressão respiratória, Ná- • Efeitos Adversos: Dor ao início da inje-
useas, vômitos, íleo, espasmo vias ção em veia superficial. Depressão
biliares, retenção urinária, Efeito pro- cardiovascular e respiratória.
longado em cirrrose, Associação com • Recomenda-se redução progressiva da
diazepínicos aumenta o risco de depres- velocidade de infusão para evitar des-
são cardiorespiratória pertar brusco.
• Em sedação para ventilação artificial, ge-
Diazepam: ralmente usado associado a opióides (mor-
• Farmacocinética: Rápido início de ação, fina 5 a 50 mg.h-1ou fentanil, 0,05 a 0,5
eliminação prolongada, metabolismo he- mg.h-1, alfentanila, 0,25 a 2,5 mg.h-1
pático ou sufentanila, 0,01 a 0,1 mg.h-1).
• Posologia: Sedação consciente, 1 a 10
mg (0,2 a 0,3 mg.kg-1) EV, repetidas Cetamina:
conforme necessário. Tétano: doses • Farmacocinética: Pico de ação: endove-
Sedação, Analgesia e BNM Sedação em UTI 123

nosa, em 1 min; intramuscular/retal de A VALIAÇÃO DA SEDAÇÃO


5 a 20 minutos. Avaliações freqüentes da sedação ou agi-
• Metabolismo hepático tação podem facilitar a titulação dos seda-
• Posologia: 2 a 6 mg.kg-1 IM, 0,25 a 0,5 tivos ao plano terapêutico determinado.
mg.kg-1 EV, 6 a 10 mg.kg-1 VO e VR. O objetivo deste plano dependerá pri-
0,5 a 1 mg.kg-1 h-1 E V contínuo mariamente do doença e das intervenções
• Efeitos Adversos: Taquicardia, bra- diagnosticas ou terapêuticas requeridas.
dicardia, hipertensão arterial, hipo- O ajuste adequado da sedação é conse-
tensão arterial. Depressão respiratória, guido com a monitorização consistente sub-
apnéia, laringo-espasmo. Movimentos jetiva ou objetiva da resposta ao estimulo,
clônico-tônicos, alucinações, pesadelos o que pode ser feito através de escores ou
e delírios. Aumento da pressão intrao- medidas de resposta comportamental.
cular, diplopia, nistagmo. A escala de Ramsay é a mais comumente
utilizada na clinica:
Haloperidol:
• Farmacocinética: Início de ação: paren- Escala de Ramsay
teral, até 30 min; oral, até 2 horas. Pico 1. Ansiedade e /ou agitação.
de ação: parenteral, até 45 min; oral, 2. Tranqüilidade , cooperação e orientação.
até 4 horas. Duração da ação: até 38 3. Responsividade ao comando verbal.
horas. 4. Resposta franca à estimulação auditiva
• Posologia: 0,5 a 10 mg IM ou EV (agita- intensa ou compressão da glabela.
ção leve a intensa); manutenção, 2 a 10 5. Resposta débil à estimulação auditiva
mg 2 a 8 horas. intensa ou compressão da glabela.
• Via oral 0,5 a 2 mg a cada 8 ou 12 horas 6. Irresponsividade
(em crianças, apresentação líquida 0,05
a 0,15 mg.kg-1 ao dia). Injeção intrave- PLANO TERAPÊUTICO
nosa contínua, 20 a 30 mg.h-1. 1. Analgesia Efetiva, Controle de causas
• Efeitos Adversos: Taquicardia, hipo- clínicas reversíveis de agitação
tensão ou hipertensão arterial. Laringo- (hipoxemia, hipoglicemia, hipotensão).
espasmo, bronco-espasmo. Potencializa 2. Otimização do ambiente (informação,
ação depressora de sedativos e opióides. diminuição de ruído etc).
Reações extrapiramidais. Risco de efei- 3. Individualização do objetivo da sedação
tos adversos maior em idosos. Síndrome (reverter agitação aguda?, permitir des-
neuroléptico-maligna pertar rápido ou avaliação neurológi-
• Indicado no tratamento da agitação e ca?).
delírio. 4. Escolha do agente.
5. Avaliação regular do nível de sedação
Dexmedetomidina: com documentação sistemática.
• Farmacocinética: Inicio de ação até 6 6. Titulação diária da dose (diminuição do
minutos, Meia vida de eliminação 2 efeito sedativo prolongado).
horas 7. Retirada gradual (20 a 25% da dose)
• Posologia: 1mcg/ Kg em 10 a 20 minu- em situações de doses altas por tempo
tos EV seguido de 0,2 a 0,7 mcg / Kg/ h igual ou maior que sete dias (prevenir
EV contínuo abstinência).
• Efeitos Adversos; Bradicardia e hipotensão 8. Avaliação sistemática da presença de de-
especialmente na presença de hipovolemia lírio e do padrão de sono do paciente
e tônus adrenérgico exacerbado. para terapêutica direcionada.
124 Sedação em UTI Sedação, Analgesia e BNM

CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


A agitação e a dor são comuns no paci- 1. Amaral JL, Rodrigues GR, Alheira RG, Nunes M.
Sedação in Sedação, Analgesia e Bloqueio
ente grave. A resposta á agressão aguda cau- Neuromuscular em UTI, Clínicas Brasileiras de Me-
sa uma tremenda resposta neuro hormonal dicina Intensiva(2); 75,1996.
com elevação das catecolaminas, cortisol, 2. Amaral JL, Rodrigues GR, Alheira RG, Moritz R,
glicose, ADH e proteínas de fase aguda Brauner JS, Nunes M. Farmacologia Clínica dos Agen-
tes Usados em Sedação in Sedação, Analgesia e Blo-
(posgra) e conseqüente taquicardia, hiper- queio Neuromuscular em UTI, Clínicas Brasileiras
tensão, aumento do consumo de O2, reten- de Medicina Intensiva(2); 95,1996.
ção hídrica e comprometimento da respos- 3. Amaral JL et al. Recomendações da Associação de
Medicina Intensiva Brasileira.
ta imune. 4. sobre Analgesia, Sedação e Bloqueio Neuromuscular
Os objetivos primordiais da sedação e em Terapia Intensiva,1999.
analgesia são aliviar a ansiedade e a dor e 5. Jacobi J. et al. Clinical Pratical Guidelines for
atenuar a resposta ao estresse. O uso apro- sustained use of sedatives and analgesics in the
critically ill adult. Crit Care Med (30);119,2002.
priado das drogas envolvidas requer um en-
tendimento completo das indicações, me-
tabolismo e efeitos colaterais e técnicas de
monitorização.
Pneumologia Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo 125
(SDRA) e Lesão Pulmonar Aguda (LPA)

CONSULTOR: • SARA/LPA primária: quando a lesão


Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho desencadeante do processo for de origem
pulmonar (aspiração, infecção pulmonar,
COLABORADORES: quase-afogamento, inalação de gases tóxi-
André Albuquerque, Carmen Sílvia Valente cos etc.)
Barbas, Carlos Jardim, Eduardo Borges, • SARA/LPA secundária: quando a lesão
Eduardo Leite, Frederico Leon Arrabal desencadeante for de sítio extra-pulmo-
Fernandes, Guilherme de Paula Pinto nar (sepse de foco não pulmonar,
Schettino, Marcelo Britto Passos Amato, politrauma, politransfusão, pancreatite
Pedro Caruso, Unidade de Terapia Intensiva - aguda, pós circulação extracorpórea,
Respiratória. Hospital das Clínicas da Faculda- CIVD etc.)
de de Medicina da Universidade de São Paulo Clinicamente apresenta-se com dispnéia
Maxwell Goulart Barreto, Murillo Soares de instalação rápida, infiltrado difuso à radio-
Tatagiba, André Luiz Martins Guedes, Ivan grafia de tórax, diminuição da complacência
Lopes S. Thiago Filho, INTENSIBARRA - do sistema respiratório e hipoxemia refratária
Centro de Terapia Intensiva de Barra Mansa. por aumento do shunt pulmonar.
Barra Mansa, RJ Apesar do avanço tecnológico e do co-
nhecimento mais detalhado da fisiopatologia
CONCEITO da síndrome, poucas terapêuticas testadas fo-
A síndrome da angústia respiratória agu- ram capazes de mudar a mortalidade. Talvez
da (SARA) e a lesão pulmonar aguda (LPA) os corticosteróides na fase proliferativa (após
são condições de espectro e etiologia bastan- o sétimo dia de ventilação) tenham algum efei-
te heterogêneas mas que apresentam como to benéfico. A adoção de estratégia ventilatória
desfecho comum um infiltrado inflamatório protetora tem se mostrado eficaz em reduzir a
pulmonar com alteração da permeabilidade mortalidade.
capilar e conseqüente extravasamento e
acúmulo de material proteináceo nos alvéo- TRATAM ENTO DE SARA/LPA
los com formação de edema pulmonar não
hidrostático. Segundo o consenso europeu/ Geral
americano adotado atualmente, seu diagnós- Poucas terapêuticas se mostraram real-
tico caracteriza-se por: mente eficazes:
• Identificação precoce, diagnóstico adequa-
LPA SARA
do e tratamento específico do(s) fator(es)
Inst alação Aguda Aguda desencadeante(s) são medidas imprescin-
Oxige na çã o PaO2 /FIO2 PaO2 /FIO2 díveis.
< = 300 < = 200 • Apesar de não haver evidências que favo-
RX de Tórax Infiltrados Infiltrados reçam uma oferta de O 2 (DO 2 )
bilaterais bilaterais supranormal, deve-se atentar para a ma-
Pw edge < = 18 mmHg < = 18 mmHg nutenção de uma DO2 adequada, com o
controle sendo feito pelos níveis de PvO2
Pwedge = pressão de oclusão da artéria pul- e lactato, além da correção de fatores que
monar (<= 18 mmHg e/ou ausência de sinais causem um aumento do consumo de O2
clínicos de insuficiência ventricular esquerda e/ou como febre, dessincronia paciente-
ecocardiograma que comprove a ausência de ventilador,por exemplo.
disfunção de ventrículo esquerdo) • Deve-se evitar balanços hídricos muito
Apesar das diversas etiologias, podemos positivos, sendo recomendada a manuten-
classificá-las simplificadamente em: ção de uma Pwedge < 16 a 18 mmHg ou
126 Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo Pneumologia
(SDRA) e Lesão Pulmonar Aguda (LPA)

a mínima capaz de manter uma DO2 ade- e aumentar a complacência da caixa


quada torácica. Em alguns caos especiais é ne-
• A vigilância infecciosa nestes doentes deve cessário o uso de bloqueadores neuro-
ser rigorosa principalmente porque a musculares para conseguir uma melhor
concomitância de pneumonia associada à ventilação porém, o uso deve ser criterioso
ventilação mecânica (VM) e SARA/LPA e pelo menor tempo possível para se evi-
pode chegar a até 55% .Uma vez que os tar suas complicações ( p. ex.: miopatia).
critérios diagnósticos de pneumonia asso- • A PEEP deve ser calculada preferencial-
ciada à VM podem ser mascarados pelas mente usando-se a curva PxV, sendo o
alterações secundárias à SARA, muitas ajuste feito 2 cm H2O acima do primeiro
vezes é necessária a realização de lavado ponto de inflexão da curva (Pflex-inf). Caso
bronco-alveolar para a identificação de não se defina claramente o Pflex-inf, deve-
novos patógenos pulmonares. se deixar a PEEP em valores empíricos
• A terapia nutricional destes doentes deve acima de 10 cmH2O, geralmente próxi-
ser feita preferencialmente por via enteral, mo a 16 cmH2O.
reservando-se a nutrição parenteral aos • Em serviços onde não for possível a reali-
pacientes com contra-indicações ao uso zação da curva PxV, devemos usar um dos
da via enteral. Qualquer que seja a via métodos a seguir:
utilizada deve-se evitar sobrecarga calórica. 1. Após recrutamento máximo, partir de
• Até o momento não há evidências que indi- uma PEEP de 25 cmH2O, decrescendo
quem o uso rotineiro de vasodilatadores de 2 em 2 cmH2O usar a menor PEEP
pulmonares (por exemplo o óxido nítrico), capaz de manter a saturação de O2 >90%
assim como é controverso o uso de mantendo-se a mesma FIO2.
corticosteróides e em que fase da doença 2. Utilizar a técnica da melhor compla-
usá-lo.Outras terapêuticas antiinflamatórias, cência estática (Cest), elevando-se a PEEP
anti-oxidantes e imunomoduladoras estão de 2 em 2 cmH2O optandp pelo último
em estudo ainda não podendo ser trans- valor de PEEP antes da Cest começar a
feridas para a prática clínica. cair.
• Volume corrente <ou = a 6 mL/Kg de
V ENTILAÇÃO M ECÂNICA peso ideal, respeitando-se sempre uma pres-
• Não há até o momento estudos que indi- são de platô < 35 cmH2O. Se necessário
quem diferença entre ventilação contro- para a manutenção desta pressão pode-
lada a volume ou a pressão. Desta manei- mos diminuir o volume corrente a até 4
ra, deve-se usar o método com o qual ti- mL/Kg.
ver maior familiaridade. • Frequência respiratória deve ser mantida
• Altas frações inspiradas de O2 (> 60%), preferencialmente entre 12 e 20 movimen-
pressão média de via aérea alta, hiper- tos/minuto.
distensão alveolar, abertura e fechamento • O uso de volumes correntes baixos pode
constantes dos alvéolos entre os ciclos res- acarretar um aumento da PaCO2, que
piratórios são situações que compro- deve ser mantida entre 40 e 80 mmHg e
vadamente pioram a lesão pulmonar já controlando-se para que o pH seja maior
existente e que devem ser evitadas através que 7,2 (hipercapnia permissiva). Casos
da estratégia ventilatória utilizada (estra- especiais podem tolerar pH mais baixo,
tégia protetora). no entanto esta técnica deve ser utilizada
• O paciente deve estar sob sedação contí- com cautela em coronario e cardio-
nua para se evitar esforços respiratórios, miopatias (pelo aumento do trabalho car-
melhorar a interação paciente/ventilador díaco) e situações que predisponham a
Pneumologia Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo 127
(SDRA) e Lesão Pulmonar Aguda (LPA)

anóxia e /ou edema cerebral. 80 durante o processo. Devemos supender


• Nos centros com material adequado e ex- o processo de desmame e voltar a níveis
periência, a remoção do CO2 traqueal mais altos de PS na ocorrência de uma das
pode ser tentada através de técnicas alter- seguintes situações: FR/Vt > 80, Sat.O2 <
nativas como a insuflação de gás traqueal 90%, instabilidade cardiovascular, agita-
(TGI),naqueles pacientes com valores de ção ou uso da musculatura acessória evi-
PaCO2 > 80 mmHg ou nos casos com dente. SIMV ou VAPSV também pode-
contra-indicação relativa ao aumento da rão ser usados como método de desmame
PaCO2. desde que respeitados os mesmos parâ-
• Em casos de hipoxêmia refratária às medi- metros clínicos. O uso de tubo T não é
das já citadas e em centros com fisiotera- recomendado.
pia e enfermagem treinados pode-se ten- • Somente após a redução da PS a valores
tar a colocação do paciente em posição mínimos (8 a 10 cmH2O) é que recomen-
prona (por pelo menos 6 horas/dia). damos a redução da PEEP, que deverá ser
• Nos pacientes com ventilação otimizada, feita de 2 em 2 cmH2O, numa velocidade
utilizando-se de “PEEP ideal”, em que máxima de 6 cmH2O a cada 24 horas.
ainda seja necessário o uso de FIO2 >50%, Quando a PEEP < 10 cmH2O, pequenos
deve-se tentar a inversão da relação I:E. acréscimos no Vt são aceitáveis (6 a 8
Neste caso, devemos sempre usar a venti- mL/Kg) e o desmame deverá prosseguir
lação controlada a pressão, procedendo a utilizando-se os critérios usuais para
inversão da relação através do aumento extubação.
do tempo inspiratório de maneira gradual • Devido à gravidade da doença e às diver-
e deixando a relação I:E no máximo em sas complicações hemodinâmicas que al-
3:1.A monitorização do auto-PEEP é im- gumas estratégias ventilatórias podem oca-
perativa devendo-se, se necessário, redu- sionar (p. ex.: hipercapnia permissiva, ven-
zir a PEEP extrínseca como maneira tilação com relação invertida, PEEP alta)
compensatória.A desinversão da relação devemos ser liberais na utilização de
só deverá ser iniciada quando o paciente monitorização invasiva.
estiver necessitando de FIO2 < 50%. • Outras estratégias ventilatórias ou de
• Quando o paciente estiver com a relação manejo da troca gasosa como a ventilação
I:E em 1:2 e necessitando de FIO2 < 50% de alta frequência, ventilação não invasiva,
poderemos iniciar o processo de desma- cálculo da PEEP por tomografia de
me. Recomendamos a adoção do método impedância, ventilação líquida parcial,
de pressão de suporte (PS) com a redução retirada de CO2 por circulação extra-
gradativa dos níveis de pressão e a corpórea e reposiçào de surfactante ainda
monitorização clínica constante tendo estão em estudo ou carecem de compro-
como principal guia a relação frequência vação científica, não sendo indicados para
respiratória (FR)/volume corrente (Vt) uso rotineiro e estando além dos objeti-
que deverá permanecer sempre abaixo de vos deste texto.
128 Síndrom es Aspirat ivas Pneumologia

CONSULTOR: que. Podem ser observadas broncoes-


Flávio Monteiro de Barros Maciel pasmo, secreação traqueal sanguinolenta
e congestão pulmonar.
COLABORADOR: • Infecção pleuro-pulmonar: os sintomas ge-
Alexandre Serafim - UCI Pediátrica do Hospi- ralmente incluem febre, infiltrados pulmo-
tal Materno-Infantil de Brasília, DF nares progressivos e sputum purulento.

CONCEITO EXAM ES COM PLEM ENTARES

Aspiração é o resultado da disfunção da Radiografia de tórax: na obstrução agu-


deglutição durante o seu estado oral, faríngeo da podem ser observados atelectasia lobar ou
ou esofagiano. As manifestações mais comuns de todo um pulmão; hiperinsuflação do lobo
da aspiração pulmonar são a pneumonia quí- afetado; eventualmente algum grau d edema
mica, infecção pleuropulmonar e obstrução pulmonar. Na pneumonia química há três
aguda de vias aéreas. padrões principais: consolidação extensa
bilaterial; pequenas sombras alveolares dis-
AVALIAÇÃO CLINICA seminadas; opacidades irregulares diferentes
dos padrões anteriores.
1. Reconhecer os fatores de risco. Altera-
ção do estado de consciência, disfagia, dis- Hemograma, eletrólitos, gasometria. Na
túrbios da deglutição, refluxo gastro- pneumonia química há hipoxemia, acidose
esofágico, obstrução intestinal, vômitos, son- respiratória, febre e leucocitose precoces.
dagem gastro-intestinal. Antes de iniciar antibióticos devem ser
2. Há três diferentes síndromes colhidas culturas apropriadas

• Obstrução das vias aéreas: material Broncoscopia: é diagnóstica e terapêuti-


particulado em grandes quantidades ou ca nos casos obstrutivos e de aspiração de
corpos estranhos podem levar à sufocação. corpo estranho. É contra-indicada nas pneu-
A aspiração de corpos estranhos ocorre monias químicas.
principalmente abaixo dos três anos de
idade e é a principal causa de óbito por Tomografia computadorizada de tórax:
acidente em crianças com menos de um pode ser útil nos casos de diagnóstico difícil
ano de idade. Tosse é o primeiro sintoma de aspiração de corpo estranho.
de aspiração de corpo estranho. Podem se
seguir dispnéia dor torácica, febre, náusea A BORDAGEM TERAPÊUTICA
e vômitos. Ao exame podem se observar
sibilos, MV assimétrico e redução da en- 1. Cada síndrome aspirativa envolve um
trada de ar. tipo específico de lesão pulmonar. O trata-
• Pneumonia química: ocorre após aspira- mento inicial das síndromes é, no entanto, o
ção de material ácido ou contendo pe- mesmo:
quenas partículas sólidas em grande quan-
tidade. Os sintomas mais severos e o pior • Reconhecimento precoce dos sinais sin-
prognóstico ocorrem quando se associam tomas de aspiração. Se obstrução das vias
as duas condições acima (Síndrome de aéreas proceder a manobra Heimlich ou
Medelson). As manifestações apreceram golpe no dorso e compressões torácicas
após duas a cinco horas e incluem cianose, conforme recomendado pelo SAVP.
dispnéia, taquipnéia, taquicardiaca e cho- • Manutenção da via aérea através de suc-
Pneumologia Síndrom es Aspirat ivas 129

ção traqueal, intubação endotraqueal ou, associada a inibidor de beta-lactamase e cefa-


se necessário, traqueostomia. losporinas de segunda ou terceira geração.
• Oxigenação adequada
• Reconhecimento das complicações de as- 6. Complicações: Abscesso pulmonar –
piração (p. ex., infecção, SDRA) requer antibioticoterapia prolongada e even-
tualmente drenagem cirúrgica ou lobectomia.
2. Na aspiração de corpo estranho, se Empiemas – necessitam de drenagem e são
não é possível a remoção por broncoscopia melhor abordados atualmente com video-
está a indicada a toracotomia. toracoscopia. Alguns pacientes evoluem com
bronquiolite abstrutiva crônica ou granu-
3. Na pneumonia química, pode ocorrer lomatose pulmonar.
hipotensão grave. Realizar ressuscitação
volêmica, caterização central e monitorizar PREVENÇÃO
PVC. A mortalidade é elevada: 16% óbito
imediato, 24% óbito tardio e 60% recupera- Evitar sedação e/ou analgésica excessivas;
ção. Um terço dos casos evolui para SDRA. manter pacientes em ventilação mecânica, com
Surfactante e óxido nítrico são opções tera- distúrbios da deglutição ou RGE com cabe-
pêuticas com benefício a ser comprovado. ceira elevada entre 30 e 45º; evitar sondagem
gástrica nos pacientes em que ela não for ne-
4. A pneumonia infecciosa ocorre em cessária (risco de 5, 7% de aspiração).
menos da metade dos pacientes. Não usar
antibióticos profiláticos. Aguardar dois a três LEITURA RECOM ENDADA
dias antes de iniciar terapêutica antiinfecciosa. 1. Joseph PR. Antibiotics for the treatment of aspiration
Exceções: pacientes imunocomprometidos, pneumonia. Arch Pediatr Adolesc Med 152 (2), 207-
com obstrução intestinal ou aspiração de 208, 1998.
material reconhecidamente infectado. 2. Lomotan JR, Georege SS, Brandstetter RD. Aspiration
pneumonia. Strategies for early recognition and
prevention. Postgrad Med 102 (2), 229-231. 1997.
5. Antibióticos: 59% das infecções são 3. Miller FR, Eliachar L. Managing the aspirating patient.
por anaeróbios e 31% por flora mista Am J Otolaryngol 15(1), 1-17. 1994.
4. Russin SJ, Adler AG. Pulmonary aspiration. The three
(anaeróbios). Nos pacientes associam-se syndromes. Postgrad Med 85(1), 155-1611 1989.
Staphylococcus aureus e bacilos gram-negati- 5. Shifrin RY, Choplin RH. Aspiration in patients in critical
vos. O antibiótico inicial pode ser clinda- care units. Radiol Clin North Am 34(1), 83-96. 1996.
micina ou penicilina G. Nos pacientes hospi- 6. Tiejten PA, Karner RJ. Aspiration emergencies. Clin
Chest Med 15(1), 117-135. 1994.
talizados adicionar um aminoglicosídeo. 7. Vilinskas J, Roberts MP. Aspiration syndromes: clinical and
Opções alternativas incluem uma penicilina experimental observations. AORN J 16(1), 74-79, 1972.
130 Suport e Nut ricional do Pacient e Crít ico Suporte Nutricional

CONSULTORES: dominal crescente ou diarréia acima de


Rosa Goldstein Alheira Rocha, Jose Paulo 1000mL/dia. Na presença de distensão, a di-
Ladeira eta deve ser descontinuada. Se não for en-
contrado causa infecciosa para a diarréia,
COLABORADORES: agentes antidiarréicos podem ser tentados.
Fabiano Pinheiro – UTI - Disciplina de Dieta elementar deve ser reservada para
Emergências Médicas. Hospital das Clínicas da pacientes com disfunção severa na absorção
Faculdade de Medicina da Universidade de do intestino delgado. Na impossibilidade de
São Paulo. São Paulo, SP se utilizar o trato digestivo por período aci-
Sílvia de C. Jardin – Hospital Montreal. ma de sete dias, dieta parenteral se torna
Osasco, SP recomendada.

I NTRODUÇÃO D OSAGEM E M ONITORIZAÇÃO DE SUBSTRATOS


Desnutrição proteico-calórica é comum Gasto energético basal pode ser inferido,
em pacientes críticos. Avaliação do estado multiplicando-se 25 kcal pelo peso ideal do
nutricional, entretanto, baseia-se em critéri- paciente. A fórmula de Harris-Benedict, além
os de acurácia aquém do ideal, sendo o mais de menos prática, tem se demonstrado mais
adequado a utilização de um score de critéri- imprecisa. Posteriormente, assim como em
os (parâmetros clínicos e antropométricos, determinadas populações com maior risco
dosagem de proteínas, resposta imune, etc), de complicações, cálculo através de calo-
quando se deseja avaliar determinado indiví- rimetria indireta pode ser de grande valia no
duo. Mesmo assim, todos estes critérios apre- ajuste da dieta.
sentam inconvenientes quando utilizados em O gasto usual de proteínas pode ser esti-
pacientes críticos tendo sido, além disso, mal mado entre 1,2 a 1,5 g/Kg/dia. Proteína deve
avaliados nesta população. Desta forma, em ser reduzida da dieta quando o balanço
todos os pacientes graves, medidas apropria- nitrogenado for superior a 100mg/dl ou na
das para se evitar deficiência de substratos e presença de encefalopatia hepática, associa-
para se reverter as já existentes, devem ser da a hiperamonemia. Uma dieta parenteral-
iniciadas sem demora, caso estes não tenham padrão apresenta uma relação entre calorias
perspectiva de reassumir ingestão oral não-proteicas e proteicas em torno de 150:1.
satisfatória por período superior a 7 dias. No paciente crítico, devido ao seu alto
catabolismo e intolerância frequente a gor-
V IA DE ADM INISTRAÇÃO duras e glicose, uma relação de 100 a 120:1 é
A via enteral é sempre a preferida, quan- indicada. Conforme o paciente melhora, tal
do funcional. Resíduo gástrico deve ser che- relação deve ser aumentada. Outra situação
cado rotineiramente e quando maior do que em que uma relação mais baixa parece apro-
200 mL, demanda manejo da dieta (altera- priada, é quando uma quantidade significati-
ção da velocidade de infusão, concentração, va de calorias está sendo absorvida por diálise
quantidade, etc), suplementação com dieta ou administrada na forma de medicações
parenteral ou infusão além do ângulo de (propofol, por exemplo).
Treitz. Agentes que promovem aumento da Não mais do que 15 a 30% do total de
motilidade gástrica (eritromicina, meto- calorias deve ser prescrito como gorduras.
clopramida, etc) podem ser tentados. O iní- Na presença de intolerância, isto pode ser
cio da administração da dieta não requer pre- diminuído para até 2% a 4%, administrados
sença de ruídos hidro-aéreos, tampouco de como ácidos graxos essenciais.
flatos ou fezes. Avaliação se torna necessária, O restante do total de calorias deve ser
por outro lado, na presença de distensão ab- administrado como carboidratos (30 a 70%
Suporte Nutricional Suport e Nut ricional do Pacient e Crít ico 131

do total). A velocidade máxima de oxidação quando a 20%.


da glicose é de 5g/kg/dia. Na transição de dieta parenteral para
Repôr eletrólitos e elementos-traço. enteral, quando o paciente demonstrar acei-
Pacientes devem receber em torno de tação de um terço a metade do volume dese-
25mL/kg de peso de água para se evitar desi- jado, a infusão da nutrição parenteral pode
dratação, além do necessário corrigí-la, quan- ter sua velocidade de infusão reduzida para a
do presente. metade. Quando o volume total for atingi-
Quociente respiratório acima de 1, em do, a dieta parenteral poderá ser desligada.
geral, indica overfeeding. Cálculo do balan-
ço nitrogenado deve, idealmente, ser realiza- RECOM ENDAÇÕES
do semanalmente. Níveis de triglicérides de- • Pacientes severamente desnutridos que
vem ser mantidos abaixo de 500mg/dl. Do- serão submetidos a cirurgia eletiva apre-
sagem dos níveis séricos de albumina e sentam benefício, quanto à administra-
transferrina não são utéis para se avaliar ade- ção pré-operatória de nutrição parenteral
quação da dieta dos pacientes em UTI. (melhor cicatrização e menor número de
Complicações associadas à dieta enteral complicações infecciosas). O mesmo não
incluem pneumotórax, mau posicionamento se aplica para pacientes com desnutrição
da sonda, infecção, náuseas, vômitos, diar- moderada ou leve, que apresentaram mai-
réia, distúrbios da motilidade gástrica, desi- or número de complicações.
dratação e distúrbios eletrolíticos. • Pacientes cirúrgicos com anastomose no
Complicações associadas à dieta paren- cólon parecem se beneficiar com intro-
teral incluem pneumotórax, mau posicio- dução de dieta enteral precoce (primei-
namento do cateter, infecção e trombose ve- ros 4 dias), apresentando menor incidên-
nosa. cia de infecção, não tendo sido notado
Aconselha-se começar a dieta pelos prin- complicações mais frequentes na cicatri-
cípios básicos acima descritos, ajustando-a zação da ferida desta população. - Paci-
conforme necessário. Infusão contínua é o entes bem nutridos com cirurgia de trato
método preferido em pacientes críticos. A digestivo alto, entretanto, não parecem
infusão deve, em geral, ser iniciada de forma ter tal benefício. Introdução de dieta
lenta (10 a 25mL/h), sendo tal volume au- enteral precoce deve levar em conta a
mentado também em 10 a 25mL, a cada 6 viabilidade da anastomose e o risco de
horas, dependendo do tempo de jejum (con- fistulização.
siderado prolongado, quando maior do que • Pacientes que aceitam parcialmente die-
2 semanas). Sinais de intolerância devem ser ta enteral, devem ter suas necessidades
manuseados, inicialmente, com diminuição complementadas por via parenteral, após
da velocidade de infusão. Dieta parenteral tentativas de progressão infrutíferas. Vo-
pode ser iniciada numa taxa de 40 a 50mL/h, lume gástrico residual (VRG) deve ser
aumentando-se a mesma taxa a cada 6 horas. monitorizado rotineiramente, três vezes
Pausa noturna de 6 horas é recomendado. por dia (manhã, tarde e noite), em paci-
Quando dieta parenteral é descontinuada, entes recebendo dieta enteral.
deve ser inicialmente diminuído a velocida- • Todos os pacientes recebendo dieta
de de infusão para 40 a 50mL/h por 6 horas, enteral, devem ser mantidos em decúbito
podendo depois ser interrompida. elevado a 30°.
Infusão parenteral de emulsões lipídicas • Porcentagem de dieta recebida em relação
não necessitam de aumento ou diminuição ao total prescrito, deve ser monitorizada.
progressivos na sua administração, não de- • Pacientes que estão recebendo menos do
vendo exceder uma velocidade de 60mL/h, que 80% do prescrito, em três dias con-
132 Suport e Nut ricional do Pacient e Crít ico Suporte Nutricional

secutivos, devido a exames, procedimen- nalmente.


tos ou outras causas não relacionadas a • Fórmulas especiais para nefropatas não
intolerância da mesma, devem ter apresentam benefícios. Diálise peritoneal
suspensa a pausa noturna, passando a remove aminoácidos, frequentemente
receber infusão contínua em 24 horas. numa taxa de 40 a 60g/dia. Hemodiálise
Pacientes que necessitem de volume de e hemofiltração também o fazem, numa
infusão superior a 75ml/h, também po- taxa de 3 a 5g/hora.
dem se beneficiar de suspensão da pausa • Pacientes obesos devem ter sua dieta cal-
noturna. culada, através de seu peso ideal para a
• A presença de ruídos hidro-aéreos, flatos altura.
ou evacuações não são necessários para • Pacientes desnutridos devem ter dieta
se iniciar dieta enteral. calculada através do peso atual. Após 7
• Mensuração do balanço notrogenado é a 10 dias, os requerimentos nutricionais
útil para se acertar dosagem de proteínas podem ser calculados com base no peso
e, idealmente, deve ser realizado sema- ideal.
Pneumologia Suport e Vent ilat ório Não-Invasivo 133

CONSULTOR: EQUIPAM ENTO/M ATERIAL


Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho A) Ventilador de Pressão Positiva ou Gera-
dor de Fluxo Contínuo (CPAP)
COLABORADORES: B) Interfaces Paciente-Ventilador: máscaras
André Albuquerque, Carmen Sílvia Valente faciais e nasais
Barbas, Carlos Jardim, Eduardo Borges,
Eduardo Leite, Frederico Leon Arrabal TÉCNICA
Fernandes, Guilherme de Paula Pinto A) Decisão de intubação oro-traqueal deve
Schettino, Marcelo Britto Passos Amato, ser feita antes de iniciar a ventilação não-
Pedro Caruso, Unidade de Terapia Intensiva - invasiva (VNI)
Respiratória, Hospital das Clínicas da Faculda- B) Explicar técnicas e vantagens ao paciente
de de Medicina da Universidade de São Paulo, C) Escolher um ventilador que atenda às ne-
São Paulo, SP cessidades do paciente. Naqueles com
Oswaldo Soares Beppu, Hospital São Paulo, represamento de ar (por exemplo DPOC),
UNIFESP, São Paulo, SP recomenda-se uso de dois níveis de pres-
Paulo Antônio Chiavone, Hospital Santa são
Isabel, São Paulo, SP D) Fixar manualmente a máscara inicialmen-
te, deixando no modo assistido. Nas pri-
I NDICAÇÕES meiras 24 h, a máscara de escolha deve ser
a facial
A) Insuficiência Respiratória Aguda hiper- E) Ajustar pressão (normalmente < 25
cápnica cmH2O de Ppico) e/ou volume corrente
• agudização da DPOC (normalmente 8 a 10 mL/Kg)
• doenças neuromusculares F) Quando em pressão de suporte, iniciar
• pós-extubação com IPAP geralmente de 10 a 15 cmH20,
• agudização Fibrose Cística, particular- e no caso de CPAP 10 cmH2O
mente quando com acidose respiratória G) Ajustar PEEP ou EPAP menor possível,
(pH < 7,35) e secreção pulmonar não buscando SaO2 > 92% e FIO2 < 60%. Na
abundante DPOC, usar de 5 a 8 cmH2O quando
• trauma caixa torácica com hipoxemia, não se disponibiliza da medida do auto-
apesar da analgesia e suplementação de O2, PEEP
mas não deve ser usada rotineiramente H) Fixar a máscara confortável ao paciente,
• asma (?) apesar de não existirem estudos permitindo vazamentos que não compro-
que dêem suporte a essa indicação, em metam a eficácia do modo ventilatório
situações mas quais o tratamento clínico utilizado
tiver iniciado, com o paciente bastante I) Ajustar alarmes
colaborativo e com uma equipe bem fa- J) Reavaliação clinica e gasométrica cons-
miliarizada com o método, este pode ser tante na primeira hora, vendo especial-
tentado (preferencialmete num ambiente mente PaCO2 e pH
de UTI). K) Utilizar o maior tempo possível, princi-
B) Insuficiência Respiratória Aguda Hipo- palmente nas primeiras 24 horas
xêmica
• edema pulmonar cardiogênico FALÊNCIA DA VNI
• lesão pulmonar aguda, principalmente Considera-se como falência:
quando já se tem hipercapnia A) piora da condição clínica, sem alívio dos
C) Desmame sintomas
• retirada precoce da prótese traqueal B) sem melhora gasométrica, com aumento
134 Suport e Vent ilat ório Não-Invasivo Pneumologia

da PaCO2 e/ou diminuição pH B) instabilidade hemodinâmica e arritmias


C) necessidade de FIO2 > 60% C) angina instável
D) desenvolvimento de novos sintomas ou D) pacientes susceptíveis a vômitos ou com
complicações como pneumotórax, reten- importante distensão abdominal
ção secreção, erosão nasal E) pneumotórax não tratado
E) intolerância ou falência de sincronização F) paciente muito secretivo*
com ventilador
F) deteriorização do estado de consciência Relativas:
G) aumento da freqüência respiratória ou per- A) paciente não cooperativo
sistência da FR ³ 35 B) pós-operatório trato digestivo alto
H) instabilidade hemodinâmica C) necessidade de sedação
I) arritmias graves D) hipoxemia importante
J) isquemia miocárdica
K) distensão abdominal COM PLICAÇÕES
A) necrose facial
CONTRA-INDICAÇÕES B) aspiração de conteúdo gástrico
C) hipoxemia transitória
Absolutas: D) distensão abdominal
A) trauma face ou cirurgia vias aéreas su- E) barotrauma
periores F) ressecamento nasal, oral e de conjuntiva
Cardiologia Taquiarrit m ias Cardíacas 135

CONSULTORES: isquemia podem produzir regiões no co-


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori ração que conduzam o estímulo de ma-
neira não homogênea, favorecendo o apa-
COLABORADOR: recimento de arritmias.
Antonio Carlos Mugayar Bianco – UTI Hos-
pital Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP ABORDAGEM GERAL DAS TAQUIARRITM IAS
A) Abordagem inicial do paciente: acessar vias
I NTRODUÇÃO aéreas, promover ventilação adequada,
As taquiarritmias cardíacas ocorrem por checar pulsos, acessar sinais vitais, exame
distúrbios na formação e/ou condução do es- físico, monitorizar ritmo e oximetria de
tímulo cardíaco: pulso, obter acesso venoso e realizar ECG
de 12 derivações;
1. Distúrbios de formação do impulso:
B) Paciente instável clinicamente (sinais e sin-
• Alterações na automaticidade: tomas importantes decorrentes da alta fre-
i.. Normal: freqüência elevada de disparos qüência cardíaca, em geral > 150bpm -
de células automáticas normais (nó AV ou hipotensão, sudorese, confusão mental,
sistema His-Purkinje) devido à isquemia, dor torácica, choque, congestão pulmo-
distúrbios metabólicos ou manipulação nar e IAM) -> preparar para cardioversão
farmacológica (p.ex. taquicardia sinusal elétrica imediata;
inapropriada). • Deixar preparado: material de intubação
ii. Anormal: descarga de focos latentes ou e aspiração;
ectópicos que assumem o ritmo sob con- • Pré-medicar sempre que possível -
dições de isquemia ou manipulação analgesia e sedação;
farmacológica (p.ex. ritmo idioventricular • Cardioversão sincronizada: Taquicardia
acelerado) ventricular (TV), Taquicardia Paroxística
Supra-ventricular (TPSV), Fibrilação
• Atividade deflagrada - refere-se à ativida- Atrial, Flutter Atrial;
de de marcapasso de células cardíacas, de- • Em geral flutter e TPSV respondem com
pendente de oscilações no potencial de doses baixas: iniciar com 50J;
membrana: • Atenção para a necessidade de re-sincro-
i. Potenciais precoces: ocorrem antes da nizar após cada choque;
repolarização miocárdica - responsável • Tratar TV polimórfica como fibrilação
pela formação das arritmias ventriculares ventricular;
da Síndrome do QT longo e “Torsades de
pointes”, provocadas por antiarrítmicos C) Paciente clinicamente estável -> identificar
das classes I e III, descarga simpática e um dos quatro tipos de arritmias abaixo:
hipóxia • Fibrilação atrial/Flutter atrial: seguir mo-
ii. Potenciais tardios: ocorrem após a delos de protocolo específicos;
repolarização do tecido cardíaco - • Taquicardia ventricular: seguir protocolo
taquicardia atrial por atividade deflagrada específico;
e arritmias na intoxicação digitálica • Taquicardia com QRS estreito: tentar di-
agnóstico específico através de informa-
2. Distúrbios de condução do estímulo: o ções clínicas, manobra vagal e/ou adenosi-
modelo clássico é o de reentrada, que cons- na (vide protocolo específico) - Taquicardia
titui a maior causa de taquicardia atrial/Taquicardia atrial multifocal/
ventricular no Ocidente. Cicatrizes ou Taquicardia paroxística supra-ventricular;
136 Taquiarrit m ias Cardíacas Cardiologia

• Taquicardia com QRS largo - Origem - Função cardíaca preservada:


desconhecida: 1. Cardioversão elétrica, ou
- Tentar diagnóstico específico com infor- 2. Procainamida - infusão de 20mg/min IV até
mações clínicas e/ou eletrodo atrial; supressão da arritmia, hipotensão grave, pro-
- Taquicardia supra ventricular? (vide pro- longamento do QRS maior que 50% do basal
tocolo específico) ou dose total de 17mg/kg. NÃO administrar
- Taquicardia ventricular? (vide protocolo no QT longo e “Torsades de pointes”, ou
específico) 3. Amiodarona - dose de ataque de 300mg IV
- Taquicardia de origem desconhecida - em 1 hora, seguida de manutenção: 600 a
vide item D. 900mg nas 24h, em infusão contínua;

D) Taquicardia com QRS largo de origem - FE < 40% ou ICC clínica:


desconhecida, com paciente clinicamente 1. Cardioversão elétrica, ou
estável: 2. Amiodarona IV.
Cardiologia Taquicardia Vent ricular Sust ent ada 137

CONSULTORES: ciada da taquicardia supraventricular com con-


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori dução aberrante, bloqueio de ramo ou altera-
ções morfológicas do QRS secundárias a alte-
COLABORADOR: rações metabólicas (p.ex. hipercalemia) ou
Antonio Carlos Mugayar Bianco – UTI Hospi- presença de marcapasso:
tal Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP - Critérios de brugada: - análise por pas-
sos do ECG. Em caso de positividade de
I NTRODUÇÃO UM dos critérios, trata-se de taquicardia
A morte súbita cardíaca se dá mais ventricular.
freqüentemente em consequência de 1. Ausência de complexos RS de V1 a V6?
taquiarritmias ventriculares, chegando a qua- 2. Intervalo entre início do R e nadir do S >
se 50% dos casos 100ms em 1 derivação precordial?
Taquicardia ventricular sustentada é defi- 3. Existe dissociação atrioventricular em
nida como taquiarritmia formada por com- qualquer derivação do ECG? (mais com-
plexos QRS de origem ventricular, numa fre- plexos QRS que ondas P)
qüência > 100 bpm e que dure mais de 30 4. Critérios morfológicos concordantes nas
segundos. derivações V1/V2 e V6?*

A PRESENTAÇÃO CLÍNICA * Critérios morfológicos:


• A apresentação clínica pode variar e de- Tipo bloqueio de ramo esquerdo:
pende de alguns fatores: estado clínico do V1/V2 - entalhe no ramo descendente da onda S?
paciente, freqüência cardíaca e presença Início de R ao nadir de S > 70ms?
de cardiopatia estrutural; Duração de R > 30ms?
• Alguns pacientes podem se apresentar sem V6 - Padrão qR ou qS?
sintomas;
• Outros podem se apresentar com queixas Tipo bloqueio de ramo direito:
de palpitações taquicárdicas com ou sem V1/V2 - R puro/monofásico?
sinais de baixo débito cardíaco, síncope e Padrão qR ou RS?
até morte súbita; V6 - Razão R/S < 1?
• É comum a associação de doença isquê- qS ou qR?
mica do coração com taquicardia ven-
tricular - na maioria das vezes tem carac- ABORDAGEM TERAPÊUTICA
terística polimórfica com intervalo QT A) Paciente apresenta sinais de instabilidade
normal. Portanto, na presença de TV hemodinâmica? - proceder cardioversão
polimórfica desconfiar sempre de isque- elétrica imediata (seguir protocolo de abor-
mia miocárdica, devendo-se investigá-la dagem geral das arritmias);
e tratá-la; B) Paciente clinicamente estável - pode ser
• Tem como característica eletrocar- tentado inicialmente tratamento com me-
diográfica uma regularidade na freqüência dicamentos, de acordo com a função
e na aparência morfológica. Entretanto, ventricular esquerda do paciente:
pode se apresentar como polimórfica (p.ex.
“Torsades de pointes” Função de VE normal:
• vide protocolo específico) e com alguns 1) Procainamida - infusão contínua IV de
batimentos de captura e fusão. 20mg/min até supressão da arritmia, apare-
cimento de hipotensão, aumento da dura-
D IAGNÓSTICO DIFERENCIAL ção do QRS > 50% do basal ou dose total
A taquicardia ventricular deve ser diferen- de 17mg/kg. Em situações de emergência
138 Taquicardia Vent ricular Sust ent ada Cardiologia

uma dose de 50mg/min pode ser adminis- bolus. Repetir 0,5 a 0,75mg/kg IV a cada 5
trada até a dose total de 17mg/Kg (evitar no a 10 minutos com dose máxima de 3mg/
QT prolongado e “Torsades de pointes”); kg. Após reversão indicada terapia de ma-
ou nutenção por 24h com a dose de 1 - 4mg/
2) Amiodarona - administrar IV 150mg em min (em bomba de infusão contínua);
10 minutos, seguido de 1mg/min em 6 e/ou
horas e 0,5mg/min após esse período - 4) Considerar cardioversão elétrica.
dose máxima 2,2g nas 24h. Após reversão,
tratamento de manutenção do ritmo Função de VE < 40%:
sinusal com 900 a 1200mg IV em bomba 1) Amiodarona - IV, na dose preconizada acima;
de infusão contínua nas 24horas; ou
ou 2) Lidocaína - IV na dose preconizada acima;
3) Lidocaína - administrar 1 a 1,5mg/Kg (cada e/ou
ml da lidocaína a 20% tem 20mg) IV em 3) Cardioversão elétrica.
Cardiologia Taquicardias com QRS Est reit o 139

CONSULTORES: ondas de ativação atrial, tornando o diag-


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori nóstico difícil. O examinador deve lançar
mão de algumas estratégias:
COLABORADORES: 1. Adenosina - 6 mg IV em bolus, com o
Paulo José Bertini, Hospital Cruzeiro do Sul, objetivo de causar BAV transitório e iden-
Osasco - São Paulo tificar ondas de ativação atrial; e/ou
Marcelo da Costa Maia - Hospital Santa 2. Manobra vagal - massagem do seio
Luzia de Brasilia carotídeo, com o mesmo objetivo acima
descrito;
I NTRODUÇÃO Obs: Tais medidas podem cessar a arritmia,
• Pacientes que apresentam taquicardia com principalmente nos casos de taquicardia
QRS estreito (< 0,12 segundos) e ausên- paroxística supraventricular - TRN ou TAV.
cia de sinais ou sintomas de instabilidade • Taquicardia juncional: complexos QRS
hemodinâmica são abordados neste pro- com duração normal, presença de disso-
tocolo; ciação atrioventricular, com freqüência
• Todos os esforços devem ser feitos para ventricular maior que a freqüência atrial;
identificação do tipo de arritmia, antes do • Taquicardia por reentrada nodal: ondas P
tratamento adequado; geralmente “escondidas” dentro do com-
• A taquicardia por reentrada nodal (TRN) plexo QRS ou visíveis na forma de pseudo-
e taquicardia atrioventricular (TAV) (via r’ em V1 e/ou pseudo-s em D2,3 e AVF. O
acessória oculta) são as causas mais co- segmento RP é curto (<100ms);
muns de taquicardias paroxísticas supra- • Taquicardia atrioventricular: ondas P es-
ventriculares, correspondendo a cerca de tão freqüentemente inscritas no segmen-
90% de todas essas taquicardias. Outras to ST ou onda T, com segmento RP longo
que fazem parte do diagnóstico diferenci- - em geral > 100ms;
al: taquicardia juncional e taquicardia • Taquicardia atrial: morfologia ou eixo da onda
atrial multifocal. P diferente do ritmo sinusal, geralmente rit-
mo atrial regular exceto nas taquicardias atriais
A PRESENTAÇÃO CLÍNICA automáticas que podem ter um período de
• Em geral, ocorrem em corações estrutu- “aquecimento” com maior freqüência. Seg-
ralmente normais; mento RP longo (>100ms).
• A TRN parece ser mais comum em paci-
entes adultos jovens do sexo feminino; ABORDAGEM TERAPÊUTICA
• O paciente se queixa de palpitação
taquicárdica, sensação de mal estar e sen- A) Taquicardia juncional:
sação de batimentos no pescoço (princi- Função de VE normal: Não realizar cardioversão
palmente na TRN) - possivelmente rela- elétrica
cionada à contração simultânea de átrios • Amiodarona - administrar IV 150mg em
e ventrículos; 10 minutos, seguido de 1mg/min em 6
• A duração das crises é variável, algumas horas e 0,5mg/min após esse período; ou
vezes de curta duração, sem requerer tra- • Beta-bloqueadores - administrar meto-
tamento de emergência. prolol IV 5mg lentamente, repetindo a
cada 5 minutos, total de 15mg ou efeitos
D IAGNÓSTICO desejados atingidos; ou
• ECG: taquicardia regular com QRS es- • Antagonistas dos canais de cálcio - a)
treito, FC em torno de 150 a 200bpm; Verapamil 2,5 a 5,0mg IV lentamente. Doses
• Muitas vezes é difícil a visualização das adicionais de 5 a 10mg podem ser adminis-
140 Taquicardias com QRS Est reit o Cardiologia

tradas a cada 15 a 30 minutos até dose total • Amiodarona.


de 20mg; b) Diltiazem 0,25mg/kg IV, segui- C) Taquicardia paroxística supraventricular:
do de uma segunda dose de 0,35mg/kg.
Função VE normal
Função de VE < 40%: Não realizar cardioversão • Antagonistas dos canais de cálcio (vera-
elétrica pamil ou diltiazem) ou adenosina - (6 mg
• Amiodarona - doses habituais. IV em bolus); ou<
B) Taquicardia atrial multifocal: suspen- • Beta-bloqueadores; ou
der digital em uso (arritmia freqüente nas • Digoxina; ou
intoxicações digitálicas) + correção dos • Cardioversão elétrica; ou
distúrbios hidroeletrolíticos: • Considerar procainamida, amiodarona e
sotalol.
Função VE normal: Não realizar cardioversão
elétrica Função VE < 40%: Não realizar cardioversão
• Antagonistas dos canais de cálcio/beta- elétrica
bloqueadores/amiodarona. • Digoxina; ou
• Amiodarona; ou
Função VE < 40%: Não realizar cardioversão • Diltiazem.
elétrica
Suporte Nutricional Terapia Nut ricional na Insuficiência Renal 141

CONSULTOR: número)
Rosa Goldstein Alheira Rocha B) Perda de nutrientes
C) Bioincompatibilidade das membranas
I NTRODUÇÃO dialíticas (ativação de complemento)
A função renal, pode estar comprometida
aguda ou crônicamente. Indivíduos sem lesão Utilização diminuída de nutrientes
prévia, podem desenvolver insuficiência renal • Doenças concomitantes(sepsis, insuficiên-
aguda, em situações de choque, infecção, trau- cia hepática)
ma, obstrução, drogas e certas glomerulo- • Resistência á insulina e ao hormônio do
nefrites. Naqueles que já são portadores de crescimento
doença renal, pode haver exacerbação do qua-
dro de base e conseqüente agudização. Suplementação inadequada
Ambas as situações, que tem prognósticos • Necessidades reais mal avaliadas
e etiologias diferentes, vão merecer atenção • Efeitos colaterais da suplementação (au-
específica nos pacientes internados em Uni- mento dos produtos de degradação
dades de Terapia Iintensiva. protéica)
• Receio de sobrecarga hídrica, hiperli-
OBJETIVOS demia, alterações eletrolíticas
• Limitar o catabolismo protéico e a perda Os métodos padrão são usados como ín-
de massa magra. dices do estado nutricional neste grupo de
• Prevenir a super hidratação. pacientes, muito embora eles possam não ser
• Minimizar o acúmulo de nitrogênio no aplicáveis.
sangue. Assim a albumina, a uréia e creatinina,
bem como a pré-albumina e a transferrina
GASTO ENERGÉTICO devem ser vista com restrições.
Indivíduos sãos e aqueles acometidos de Métodos como a antropometria e a
IRA tem praticamente o mesmo gasto bioimpedância corpórea tornam-se invalidados.
energético.
O grau de catabolismo associado á insufi- N ECESSIDADES NUTRICIONAIS
ciência renal aguda (IRA), é que modifica o A uremia aumenta a gliconeogênese e a
gasto energético. degradação protéica. O aumento de cate-
Situações de maior catabolismo são aque- colaminas, corticóides adrenais, glucagon e
las relacionadas á traumas e infecções e com hormônios paratireoideianos parece estar re-
menor catabolismo ás drogas nefrotóxicas e lacionados ao aumento da liberação de
meios de contraste. aminoácidos do músculo. A reposição de pro-
teínas deve prever este aumento do cata-
A VALIAÇÃO N UTRICIONAL bolismo protéico.
O estado nutricional dos pacientes com
falência renal está associado a: M ONITORIZAÇÃO DA TERAPIA N UTRICIONAL
O equilíbrio de nitrogênio pode ser
Catabolismo aumentado monitorizado através da uréia. Dois métodos
• Sem relação com diálise são usados com base no aparecimento de uréia,
A) Etiologia da IRA o nitrogênio uréico (UNA) e taxa de cata-
B) Presença de Uremia bolismo protéico(PCR). Entretanto nenhum
C) Uso de Corticosteróides dos dois métodos tem confiabilidade, sem
• Relacionado à dialise coleta completa de urina, ingestão aproxima-
A) Inadequação (Início, freqüência e damente igual ao gasto ou níveis modestos de
142 Terapia Nut ricional na Insuficiência Renal Suporte Nutricional

proteinúria, situações inversas ás que frequen- protéica.


temente se associam á falência renal A diálise peritonial provoca perdas de 9 g
Podemos calcular o UNA pela fórmula: de proteínas e 4 g de aminoácidos, situação
agravada quando associa-se peritonite.
UNA(g/dia)= NUU(g/dia) +NUD(g/dia)+ Por sua vez a hemodiálise resulta em per-
ACUC(g/dia) da de 1 a 2 g de aminoácidos por hora
Sugere - se uma reposição de 1 a 1,2 g de
UNA = Taxa de aparecimento do Nitrogênio proteína/ Kg/dia durante a hemodiálise e 1 a
ureíco 1,3 g de proteína/ kg/dia durante a diálise
NUU = Nitrogênio ureíco urinário peritonial.
NUD = Nitrogênio ureico do dialisado A contribuição calórica do dialisado deve
ACUC = Alteração do “pool” de uréia corpórea ser considerada no planejamento das necessi-
Existe um correlação direta entre a UNA, dades energéticas. Quando empregada conti-
e a excreção total de nitrogênio, portanto nuamente (CAPD), proporciona absorção de
poderemos calcular o balanço nitrogenado, cerca de 500 a 770 calorias por dia. No modo
com a seguinte fórmula: intermitente (DPI), o dialisado contribui com
390 a 860 calorias.
BN (g/dia) = ND ( g/dia) - UNA ( g/dia)-
NNN (g/dia) Micronutrientes
As exigências de micronutrientes para os
BN = balanço nitrogenado pacientes em IRA não foram definidas.
ND = nitrogênio da dieta Vitaminas hidrossolúveis devem ser suple-
UNA = nitrogênio ureíco mentadas nos indivíduos em reposição
NNN = excreção de nitrogênio não ureíco dialítica.
Oligoelementos como zinco, cromo,
PLANEJAM ENTO N UTRICIONAL selênio, etc, dependem do rim para sua
A classificação da insuficiência renal agu- excreção e portanto, devem ser prescritos com
da feita pela estimativa do catabolismo cautela.
protéico, facilita o cálculo da ingestão calórica
e o percentual de proteínas, nas situações es- Formulações
pecíficas de cada paciente. Os pacientes em IRA devem receber
IRA não catabólica - (UNA< 5g/dia) aminoácidos essenciais (AAE). Nos indivídu-
Recomendação 0,5 a 0,6g/kg/dia de pro- os em estágio moderadamente catabólico ou
teínas quando se tenta protelar a terapia de reposi-
IRA moderadamente catabólica - (UNA 5 - ção dialítica, os aminoácidos essenciais pare-
10g/dia) cem ser fonte protéica suficiente.
Recomendação 0,8 a 1,0g/kg/dia de pro- Arginina, glutamina, histidina, serina,
teínas taurina, cisteina e tirosina, aminoácidos con-
IRA hipercatabólica - (UNA>10g/dia) dicionalmente essenciais, precisam ser supri-
Recomendação 1,0 a 1,8g/kg/dia de pro- dos durante o “estresse”, especialmente no
teínas paciente com insuficiência renal. :
O aporte protéico deve ser maior em pa-
cientes com função renal residual, perda seve- CONCLUSÃO
ra ou em tratamento dialítico. Naqueles em Pacientes com formas severas de IRA são
que não se instalou diálise, o nitrogênio uréico geralmente hipermetabólicos e podem desen-
é reduzido ou se espera um recuperação rápi- volver desnutrição protéico-calórica rapida-
da da função renal, deve se fazer restrição mente se não receberem suporte nutricional
Suporte Nutricional Terapia Nut ricional na Insuficiência Renal 143

adequado. A magnitude do catabolismo, os rapia de reposição dialítica no cálculo do


deficits de nitrogênio e no balanço energético e aporte protéico.
a suplementação nutricional podem desempe-
nhar um papel no prognóstico destes pacientes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Terapia Nutricional no Paciente Grave, 2001 eds David
CM, Koterba E, Monte JCM, Ribeiro P, Alheira Rocha
RECOM ENDAÇÕES RG. Situações Especiais, 168.
• Distinguir entre doença crônica e aguda 2. Webster NR, Galley HF. Nutrtion in the critically ill
na primeira, existem adaptações(como por patient. J.R. Coll. Surg. Edinb. 45: 373,2000.
exemplo na manipulação de água e 3. August D, Teitelbaum D, et al. Guidelines for the use
of parenteral and neteral nutrition in adult and pediatric
eletrólitos) e as alterações metabólicas não patients. JPEN 26(1): 78 SA, 2002.
ocorrem agudamente. 4. Kratka R, Shuler C, Wolfson M. Nutrition in
• Considerar o equlíbrio hídrico e prover hemodialysis and peritoneal dialysis patients. In:
Nissenson AR, Fine RN, Gentile DE, eds. Clinical
eletrólitos para a normalização dos níveis Dialysis, ed 2. Norwalk: Conn, Appleton & Lange, 1990:
séricos. 350-365.
• Pacientes em IRA devem receber uma 5. Kopple JD. Nutritional management of acute renal
mistura de AA esenciais e não essenciais. failure. In: Proceedings of the 17th congress of the
american society for parenteral and enteral nutrition.San
• Levar em conta grau de catabolismo e te- Diego: Scientific Program Book, 1993.
144 Terapia Nut ricional na Suporte Nutricional
Insuficiência Respirat ória

CONSULTOR: naqueles que por se desestabilizarem ou so-


Rosa Goldstein Alheira Rocha frerem alguma lesão, desenvolvem insuficiên-
cia respiratória. .A degradação protéica deve
COLABORADORES: ser evitada com a adequada ingestão calórica,
Irinei Melek, Pedro Ernesto Caron, Hospital contudo quantidades excessivas de calorias
de Maternidade Angelina Caron. Campina poderão levar á um aumento na produção de
Grande do Sul, PR dióxido de carbono, com uma maior sobre-
José Maria da Costa Orlando, Marcelo Moock, carga imposta a uma fisiologia já alterada.
Flávio Monteiro de Barros Maciel, Hospital
Geral de Pedreira. São Paulo, SP OBJETIVOS DA TERAPIA N UTRICIONAL
• Prover as necessidades calóricas.
I NTRODUÇÃO • Prevenir a perda muscular.
Complicações pulmonares e insuficiência • Corrigir o comprometimento respiratório.
respiratória são freqüentes após trauma e ci- • Evitar a produção excessiva de CO2.
rurgias, além de serem fatores concomitantes
a uma série de patologias comumente encon- REQUERIM ENTOS N UTRICIONAIS E ESTRATIFICAÇÃO DOS
tradas em Unidades de Tratamento Intensivo. N UTRIENTES
Em indivíduos portadores de doenças pul- 25 a 30 Kcal/Kg/dia, com eventuais ade-
monares obstrutivas crônicas (DPOC), há quações para estresse e atividade.
distrofia muscular causada pela má nutrição Macronutrientes
proteico-calórica e as alterações no metabo- Proteínas - 0,8 a 1,2 g/kg/dia
lismo dos carbohidratos e do drive respirató- Lipídeos - 50% total das calorias não
rio, tendo implicações nos cuidados clínicos, protéicas
quando agudamente torna-se necessária a ven- (Nível sérico de triglicerídeos tolerável 300
tilação mecânica. a 400mg)
A má-nutrição, tem sido associada ao au- Carbohidratos - 50% total das calorias
mento da suscetibilidade ás infecções, pro- não protéicas.
longamento do tempo em ventilação mecâni- O excesso de calorias e o de aporte de
ca e aumento da mortalidade. Esta relação carbohidratos deve ser evitado para prevenir a
está presente tanto nas formas agudas como produção excessiva de CO2 e minimizar as
crônicas de falência respiratória. Pacientes com eventuais dificuldades no desmame de venti-
doença pulmonar crônica, habitualmente são lação mecânica
profundamente mal nutridos, consequência da
doença ou fator associado a mesma. Equilíbrio hidro-eletrolítico
O hipermetabolismo, está frequentemen- O controle da administração de fluídos tam-
te associado aos quadros pulmonares crôni- bém deve ser rigoroso nesses pacientes (SIRS,
cos, relacionados em parte ao aumento do miocardiopatia e outras situações associadas)
trabalho respiratório. A reposição de potássio, cálcio, magnésio
No comprometimento respiratório agu- e fósforo séricos, é fundamental na terapia
do resultante do trauma ou sepse, o estado nutricional na insuficiência respiratória, pois
hipercatabólico existente , leva agudamente à sua depleção compromete significativamente
desnutrição. Estudos em ratos, demonstraram a função dos músculos respiratórios
que essa desnutrição aguda ocasionaria dimi-
nuição dos níveis de surfactante pulmonar. COM PLICAÇÕES
Prover um suporte nutricional adequado, Esteatose hepática, a colestase e a estados
é portanto de suma importância, em pacien- hiperosmolares por excesso de aporte de
tes que já possuam disfunção pulmonar ou carbohidratos (glicose).
Suporte Nutricional Terapia Nut ricional na 145
Insuficiência Respirat ória

Aumento do coeficiente respiratório difi- cuidadosamente em pacientes com insufi-


cultando o desmame ventilatório. ciência respiratória.

RECOM ENDAÇÕES GERAIS CONCLUSÃO


Pacientes com DPOC ou SARA estão sob A má-nutrição pode ser tanto causa como
risco nutricional e devem ser avaliados e sub- consequência de falência respiratória e o su-
metidos a terapia nutricional criteriosa. cesso do tratamento dos pacientes acometi-
A reposição energética deve estar limitada a ou dos por essa disfunção dependerá de terapia
ser menor que o gasto energético estimado. nutricional agressiva e apropriada.
Fórmulas enterais com acidos graxos
omega 3 podem ser benéficos em pacientes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
com SARA. 1. Terapia Nutricional no Paciente Grave, 2001 eds David
CM, Koterba E, Monte JCM, Ribeiro P, Alheira Rocha
O uso rotineiro de formulações modifica- RG. Situações Especiais, 156.
das para carbohidratos e gorduras não é ne- 2. Webster NR, Galley HF. Nutrtion in the critically ill
cessário. patient. J.R. Coll. Surg. Edinb. 45: 373,2000.
Formulações concentradas podem ser úteis 3. August D, Teitelbaum D, et al. Guidelines for the use
of parenteral and neteral nutrition in adult and pediatric
em pacientes com SARA. patients. JPEN 26(1): 88 SA, 2002.
Nível de fosfato deve ser monitorizado
146 Terapia Nut ricional na Sepse I Suporte Nutricional

CONSULTOR: • Sempre que possível medidos por calo-


Rosa Goldstein Alheira Rocha rimetria

COLABORADOR: Requerimentos nutricionais


Sílvia de C. Jardin, Hospital Montreal. Osasco, SP Proteina 2 a 3 g/kg/dia
Lipidio 30 a 50% do VCT
I NTRODUÇÃO Glicidio 30 a 50% do VCT
Nos pacientes queimados as alterações
metabólicas são semelhantes àquelas des- A SPECTOS GERAIS
critas para os demais estados hipercata- Prevenir hipotensão e hipoperfusão.
bólicos. Quanto maior o comprometimen- Reposição eletrolítica deve seguir controles
to tissular maior o grau de hipercatabo- séricos (Na, K,Mg, Ca).
lismo. Manter o paciente em ambiente
Em relação a abordagem nutricional do aquecido(há evidencias de que isto diminui o
paciente queimado, alguns aspectos peculia- gasto energético).
res merecem atenção: Prevenir infeções tópica.
• Necessidade de recuperação tissular im- Desbridamento cirúrgico precoce.
portante (superfície queimada) - Risco alto
de infecção (perda da barreira cutãnea, RECOM ENDAÇÕES GERAIS
infeção relacionada ao cateter) Pacientes com queimaduras de segundo e
• Perdas elevadas de minerais e terceiro graus estão sob alto risco de desnutri-
micronutrientes (fosfato, magnésio, zin- ção e devem ser abordaddos com planejamen-
co, vitaminas A e C) to nutricional criterioso.
• Tempo prolongado de internação em UTIs A reposição calórica deve contemplar o
• Maior tempo de dependência de Terapia grau de hipercatabolisno associado ao grau de
Nutricional. lesão pela queimadura.
Na avaliação da gravidade da queimadura Pacientes com queimaduras extensas de-
devem ser considerados: vem receber alto teor protéico para permitir
Extensão e Profundidade da área queimada cicatrização adequada.
Idade do paciente O uso rotineiro de nutrientes específicos
Doenças ou lesões associadas (arginina, glutamina, acidos graxos omega 3,
oxandrolona etc) não tem papel na terapia
GASTO ENERGÉTICO nutricional.
• Estimado por fórmula :40 a 70 cal/ Kg / A terapia enteral é preferível sempre que
dia possível e deve ser iniciada precocemente em
• Harris Benedict: GEB corrigido por fator queimados moderados/severos.
de acordo com extensão da queimadura A terapia parenteral deve ser iniciada quan-
Moderado: 1,5 do a enteral não é possível ou quando o paci-
Grande Queimado: 1,5-1,8 ente não for capaz de atingir os requerimen-
Queimadura maciça: 1,8 -2,2 tos nutricionais em quatro a cinco dias.
• Currieri. Mais utilizada e adequada pela
faixa etária REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
0-1 anos: GEB + (40 X % SCQ) 1. Terapia Nutricional no Paciente Grave, 2001 eds David
CM, Koterba E, Monte JCM, Ribeiro P, Alheira Rocha
1-3 anos: GEB + (40 X % SCQ) RG. Situações Especiais, 152.
4-15 anos: GEB + (40 X % SCQ) 2. August D, Teitelbaum D, et al. Guidelines for the use
16- 59 anos: 25 Kcal/ Kg + (40 X % SCQ) of parenteral and neteral nutrition in adult and pediatric
> 60 anos: 20 Kcal/ Kg + (40 X % SCQ) patients. JPEN 26(1): 88 SA, 2002.
Suporte Nutricional Terapia Nut ricional na Sepse II 147

CONSULTOR: Por calorimetria indireta.


Rosa Goldstein Alheira Rocha Nota: Evitar oferta calórica elevada pois além
de não reverter o intenso hipercatabolismo, asso-
COLABORADOR: cia-se a complicações importantes (hiperglicemia,
Sílvia de C. Jardin, Hospital Montreal. Osasco, SP aumento da produção de CO2).

I NTRODUÇÃO ESTRATIFICAÇÃO DE NUTRIENTES


Dentre os pacientes internados em Uni-
dades de Terapia Intensiva um número signifi- 1. Proteinas
cativo tem SRIS(Sindrome da Resposta Infla- Objetivos:
matória Sistêmica), desencadeada por trauma Aporte protéico priorizado.
ou sepsis. Da interação entre os mediadores 15 a 20% do Valor Calórico Total(VCT)
liberados na SRIS e os hormônios contra-re- ou a 1,5g a 2,5 g/ Kg /dia(pacientes com fun-
guladores, resultam hipermetabolismo e ção renal normal).
hipercatabolismo, caracterizados pelo aumento Relação calorias não protéicas e nitro-
do gasto energético de repouso (GER) e pela gênio(proteína) - 100:1.
proteólise acelerada. Aminoácidos de cadeia ramificada não me-
A elevação das catecolaminas e do lhoram o prognóstico em pacientes sépticos.
glucagon, parece mediar a estimulação da pro-
dução de glicose, da mesma forma que as 2. Lípideos
citocinas TNF e IL1. Além disto, pacientes Objetivos:
sépticos podem desenvolver resistência á ação Reposição de calorias e ácidos graxos.
periférica da insulina, diminuindo a captação 25 a 30% do VCT.
da glicose, pelos músculos esqueléticos e Úteis para controlar hiperglicemia e
adipócitos hipercapnia.
A lipólise, aumentada pelo estímulo das Triglicerídeos de cadeia longa relaciona-
catecolaminas á lipase, fará aumentar os áci- dos a imunossupressão (Ação sobre Sistema
dos graxos livres(AAL), em muitos casos, há reticuloendotelial, neutrófilos).
também hipertrigliceridemia. Privilegiar misturas de Triglicerídeos de
Além disso nas fases iniciais da resposta ao cadeia longa (TCL) e Triglicerídeos de cadeia
estresse, são sintetizadas glicoproteínas média (TCM)(evidências de melhora em
hepáticas(proteínas de fase aguda),diminuindo parâmetros hemodinãmicos e gasométricos).
a produção de albumina. As proteínas de fase
aguda podem ser classificadas como: Além dis- 3. Carbohidratos
so nas fases iniciais da resposta ao “stress”, são Objetivos:
sintetizadas glicoproteínas hepáticas(proteínas Repor calorias.
de fase aguda),diminuindo a produção de 50 a 60% do VCT.
albumina. Não exceder 5mg/Kg/min (taxa de oxida-
ção máxima de glicose).
REQUERIM ENTOS NUTRICIONAIS Evitar hiperglicemia.
Objetivo: Manutenção da massa celular Insulinoterapia (aumenta o “clearence” e
Quantificação: não a oxidação).
Pode ser calculado:
Através da fórmula de bolso (25 a 30 Kcal/kg) 4. Micronutrientes e Vitaminas
Pela fórmula de Harrison-Benedict (Gas- Objetivos:
to Energético Basal - GEB) Repor necessidades diárias.
Ou medido: Não corrigir eventuais alterações de Zin-
148 Terapia Nut ricional na Sepse II Suporte Nutricional

co, Cobre e Ferro, que podem ser efeitos po- • Estado de hidratação (perdas e ganhos
sitivos da resposta inflamatória. ponderais).
• Balanço Nitrogenado.
5. Glutamina • Alterações do quadro clínico.
Objetivos: O TGI regula a absorção de eletrólitos e
Reposição das reservas depletadas na minerais, o que permite tornar a moni-
sepsis e trauma. torização dos parâmetros laboratoriais nos
Melhora prognóstica e índice de compli- pacientes em nutrição enteral, mais esparsa
cações. do que naqueles pacientes em nutrição
Disponível par administração endovenosa parenteral. Geralmente são obtidos dados
ou enteral. basais e o acompanhamento será feito de acor-
0,3g/Kg/ dia. do com estado do paciente.

6. Arginina COM PLICAÇÕES


Uso muito polêmico em pacientes sépticos. • Mais relacionadas a terapia nutricional
parenteral
7. Taurina, Nucleotídeos, carnitina Hiperglicemia
Potencial uso em situações de estresse. Esteatose e colestase hepática
Estados hiperosmolares
8. Ácidos graxos w 6 : Ácidos graxos w 3 • Relacionados a terapia nutricional enteral
Relação de 3:1 a 10:1. Diarréia
Constipação
M ONITORIZAÇÃO Distensão abddominal
A avaliação nutricional, deve seguir-se o Vômitos
acompanhamento diário/semanal do paciente.
Ressalte-se porém, que todos os parâmetros CONCLUSÕES
para avaliação nutricional são alterados pela do- A sepse é uma condição frequente em pa-
ença de base, sendo difícil isolar os efeitos da des- cientes graves. A terapia nutricuional adequa-
nutrição daqueles da afecção. Além de não haver da ás demandas peculiares desses pacientes
dados científicos que comparem estes parâmetros parecem ser o manejo mais apropriado.
entre si, os mesmos foram, em sua maioria, avali- Novas perspectivas vem sendo descor-
ados como preditivos de riscos clínicos tinadas com o emprego de imunomoduladores
O acompanhamento deve contemplar: na terpia nutricional dos pacientes sépticos.
• Intolerância.
• Sinais de disfunções orgânicas (antes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
inexistentes). 1. Terapia Nutricional no Paciente Grave, 2001 eds David
CM, Koterba E, Monte JCM, Ribeiro P, Alheira Rocha
• Tratamentos farmacológicos concomitantes. RG. Situações Especiais, 147.
• Alterações bioquímicas. 2. Hawker FH. How to feed patients with sepsis. Curr
• Ingestão calórica. Opinion Crit Care; 6: 247,2000.
Suporte Nutricional Terapia Nut ricional na 149
Insuficiência Hepát ica

CONSULTOR: N ECESSIDADES N UTRICIONAIS


Rosa Goldstein Alheira Rocha A maioria dos autores recomenda 40 a
50% das calorias não protéicas sob a forma de
I NTRODUÇÃO carbohidratos. Na falência hepática fulminan-
Os efeitos sobre o estado nutricional in- te, podem ser necessárias infusões de glicose a
duzidos pela doença hepática, dependem da 10 e 20%, para evitar-se a hipoglicemia que
duração do quadro e da presença de quadro sobrevem a esses casos.
crônico associado. A presença e o grau da des- Os triglicerídios de cadeia media e os
nutrição não parecem estar relacionados á lipídios são utilizados para o suprimento
etiologia da hepatopatia, mas antes á severi- calórico, podendo ser preferíveis na ence-
dade da disfunção orgânica. Nas unidades de falopatía. Deve-se ter cuidado em relação aos
Terapia Intensiva, os pacientes com falência casos associados a hipertrigliceridemia, cirro-
hepática podem ser agrupados conforme três se biliar primária, hepatite aguda.
principais diagnósticos:
• Cirrose descompensada em estágio final ESTRATIFICAÇÃO DE N UTRIENTES
• Cirrose descompensada por evento agudo
(sangramento ou peritonite espontânea) Proteínas
• Falência hepática fulminante(hepatite, • Pacientes cirróticos compensados 1 g/Kg/
toxinas ou drogas) dia
• Doença aguda superimposta, 1,5 a 2 g/
OBJETIVOS Kg/dia.
Prevenção da destruição muscular. • Encefalopatia hepática, toda a ingestão
Alta relação caloria/nitrogênio, melhora o protéica deve ser suspensa e assim que
balanço nitrogenado. possível ser restabelecida. A administra-
Diminui a produção de amônia. ção de glicose é mandatória para prevenir
ou tratar a hipoglicemia que sobrevem
A VALIAÇÃO DO ESTADO N UTRICIONAL nesses casos.
A medida que métodos mais sensíveis são A tolerância ao aporte protéico necessá-
usados na avaliação do estado nutrcional, au- rio é aumentada pela administração de
menta a prevalência de desnutrição. lactulose e a suplementação com aminoácidos
Contudo, a ascite e o edema, mascaram de cadeia ramificada (0,25g/kg/dia).
no paciente grave, as medidas de perda de Não foi encontrada vantagem na adminis-
peso e massa muscular e todas as alterações tração de aminoácidos de cadeia ramificada
metabólicas, irão prejudicar parâmetros no tratamento da encefalopatía hepática.
laboratoriais. A composição ideal do aporte calórico não
O balanço nitrogenado, está subestima- protéico não está estabelecida.
do, pela diminuição da síntese da uréia e au- Arginina, alfa-cetoglutarato e ornitina -
mento da produção de amônia e as dosagens aspartato não têm efeito sobre o estado
de albumina, pré-albumina refletem o grau de nutricional de hepatopatas, e o valor de
lesão hepática. substratos especiais como a glutamina,
nucleotídeos ou ácidos graxos v 3 ainda não
GASTO ENERGÉTICO estão estabelecidos.
Em pacientes cirróticos descompensados
a melhor avaliação é feita pela calorimetria Aporte de Eletrólitos Vitaminas e
indireta, porém na falta desse método a equa- Oligoelementos
ção de Harris-Benedict é aceita usando-se o Muitos pacientes tem perdas aumentadas
peso ideal de potássio, magnésio e zinco.
150 Terapia Nut ricional na Suporte Nutricional
Insuficiência Hepát ica

A presença de ascite impõe restrição RECOM ENDAÇÕES


hídrica. • Avaliação nutricional nos pacientes
A reposição das vitaminas lipossolúveis e hepatopatas deve incluir um rastreamento
do complexo B, que estão frequentemente das deficiências de vitaminas lipossolúveis
deficientes é altamente recomendável. A re- e de Zinco.
posição de cálcio e vitamina D têm sido reco- • A restrição protéica está indicada na
mendada no tratamento de hepatopatas crô- encefalopatia hepática.
nicos com osteopenia. • Não deve haver restrição de proteínas em
Melhorar o aporte de Zinco pode melho- pacientes hepatopatas crônicos.
rar a função hepática. • A utilização de AA de cadeia ramificada
apenas está indicada naqueles indivíduos
V IAS DE ADM INISTRAÇÃO que não conseguirem tolerar o aporte
Utilizar o trato gastrintestinal para inte- protéico com o uso adicional de trata-
gridade da mucosa intestinal e reduzir a mento farmacológico.
translocação bacteriana. • A terapia nutricional perioperatória é so-
O sangramento intestinal lento ou inter- mente indicada naqueles pacientes
mitente não é uma contraindicação absoluta cirróticos que se submeterão a ressecção
á nutrição enteral. de carcinoma hepatocelular.
A administração da nutrição enteral pode • A terapia nutricional deve respeitar o risco
ser contínua ou intermitente. da iminência de encefalopatia e a restrição
As soluções específicas tem densidade de líquidos que se impõem nesses casos.
calórica mais alta e teor de sódio mais baixo, o
que facilita a sua utilização em pacientes com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
retenção hídrica. 1. Terapia Nutricional no Paciente Grave, 2001 eds David
CM, Koterba E, Monte JCM, Ribeiro P, Alheira Rocha
Nenhuma via de administração é preferí- RG. Situações Especiais, 168.
vel nos quadros de encefalopatia hepática. 2. Webster NR, Galley HF. Nutrtion in the critically ill
Atualmente, a tendência é a utilização da patient. J.R. Coll. Surg. Edinb. 45: 373,2000.
melhor via disponível. 3. August D, Teitelbaum D, et al. Guidelines for the use
of parenteral and enteral nutrition in adult and pediatric
patients. JPEN 26(1): 65 SA, 2002.
Moléstias Infecciosas Tét ano 151

CONSULTOR: fraturas de vértebras, costelas, esterno e


Décio Diament outros ossos.
• Insuficiência respiratória aguda e apnéia
I NTRODUÇÃO por espasmo diafragmático ou obstrução
É uma doença do sistema nervoso, carac- de vias aéreas.
terizada por espasmos tônicos persistentes e • Disautonomia tetânica: ocorre ao final da
exarcerbações intensas, atingindo inicialmen- primeira ou segunda semanas de evolução
te os músculos da mandíbula e pescoço e en- e caracteriza-se por hipertonia do sistema
volvendo músculos do tronco até membros. É nervoso autônomo, com hiperatividade
de início agudo e pode resultar em alta simpática. Os pacientes tem sudorese pro-
letalidade se não tratada a tempo ou preveni- fusa, hipertermia, taquicardia, hiperten-
da com eficácia. O tétano é causado pela são arterial com períodos de labilidade
exotoxina tetanospasmina do Clostridium intensa, alternados com hipotensão em
tetani, um bacilo Gram-positivo anaeróbio intervalos de poucos minutos, sialorréia e
esporulado. exarcebações parassimpáticas, com
bradicardia e parada cardíaca súbita.
D IAGNÓSTICO • O nível de consciência permanece preservado
O tempo entre a inoculação do esporo durante a evolução da doença.
até o aparecimento dos primeiros sintomas e
sinais, conhecido como tempo de incubação, 2- Tétano localizado
varia de um a 30 dias, com média de cinco a a. Hipertonia e espasmos restritos ao seg-
15 dias. Se for menor que sete dias o quadro mento afetado, geralmente um membro.
costuma ser mais grave. Não apresenta gravidade, exceto se tor-
O tempo de progressão é o tempo entre o nar-se generalizado.
aparecimento dos primeiros sintomas e sinais b. Cefálico: atinge o segmento cefálico, ha-
até o primeiro espasmo, que costuma variar bitualmente oriundo de infecções
de 12 a 72 horas. Quando é menor que 48 dentárias ou otites. É grave pois pode re-
horas o quadro clínico é mais grave. sultar em morte súbita por sufocamento
As formas clínicas são: generalizado, loca- secundário a espasmo e hipertonia de glote
lizado e neonatal. e faringe. Caracteriza-se por trismo, rigi-
dez nucal, disfagia, hipertonia facial e al-
1- Tétano generalizado terações de pares cranianos.
a. É a forma clínica mais freqüente.
b. Os sintomas vão aparecendo de forma 3- Tétano neonatal
progressiva e descendente. 1. Ocorre em nascidos de mães não imuni-
c. Sintomas e sinais: zadas.
• Dores nas costas e na nuca 2. Inicia-se geralmente com sete a 10 dias de
• Disfagia, disfonia, engasgos e sialorréia vida.
• Hipertonias musculares: trismo, riso “sar- 3. O foco habitualmente é o cordão umbili-
dônico”, rigidez nucal, opistótono com cal.
flexão dos braços e extensão das pernas, 4. Inicia com dificuldade de sucção e
abdominal, etc. deglutição e evolui para trismo, rigidez
• Espasmos: exacerbações paroxísticas e si- generalizada, opistótono e espasmos. É
multâneas das hipertonias desencadeadas considerado gravíssimo.
principalmente por estímulos dolorosos e Não existem exames laboratoriais específicos
táteis; estímulos luminosos e sonoros são para o diagnóstico do tétano, que é essencial-
pouco espasmogênicos. Podem resultar em mente clínico. Alguns exames inespecíficos
152 Tét ano Moléstias Infecciosas

utilizados são: 5.000 a 50.000 U IM, aplicando 5 ml em


• CPK e TGO (AST): aumentadas, devido vários grupos musculares. A aplicação deve
a sobrecarga muscular. ser precedida de teste intradérmico ou ocular
• Hemograma: leucocitose com desvio a para verificar alergia. Recomenda-se adminis-
esquerda e linfopenia. trar anti-histamínico potente (Fenergan) meia
• Gasometria arterial: hipoxemia, acidose hora antes do SAT.
metabólica, hipercapnia, principalmente 4- Imunoglobulina humana antitetânica
devido aos espasmos e ao uso de sedativos. (TIG): 1.000 a 10.000 U IM. Não há neces-
O diagnóstico diferencial é feito com: sidade de teste intradérmico nem uso prévio
• Hipocalcemia: sinais de Chvostek e de anti-histamínicos. Pode ser aplicada por
Trousseau; não existe hipertonia no inter- via venosa e/ou raquidiana.
valo das crises. 5- Imunização ativa com toxóide tetânico:
• Intoxicações exógenas: estricnina, aplicar IM em local diferente do SAT ou TIG.
neurolépticos, etc. Não há trismo ou
hipertonia no intervalo das crises e ocorre Tratamento de suporte
alteração do nível de consciência. 1- Controle dos espasmos e hipertonia:
• Meningites: ocorre alteração do nível de • Diazepam: iniciar com 5 a 10 mg IV e man-
consciência, febre alta e os sinais ter infusão contínua de 1 a 5 mg/kg/dia.
meníngeos estão presentes (Kernig e • ou
Brudzinsky). O líquor está alterado. • Midazolam: iniciar com 15 mg IV e man-
• Afecções dentárias e periodônticas: dife- ter com 5 a 15 mg/hora contínuamente.
rencial com trismo; não ocorrem outras • Clorpromazina: 25 mg até 6 vezes ao dia
alterações verificadas no tétano. em adultos e 1 a 2,5 mg/kg/dia em crian-
• Raiva: história de mordedura animal se- ças, nos casos de espasmos severos não
guida de convulsões, hiperestesias, altera- controlados por benzodiazepínicos.
ções comportamentais, paralisias e óbito • Curarização: indicada nos casos não con-
precoce. trolados com as medicações anteriores.
• Histeria de conversão e outras alterações • Barbitúricos: tionembutal ou fenobarbital
de origem psíquica podem mimetizar o nos casos em que a sedação não seja
tétano. Nestes casos não há ferimentos alcançada com o uso das outras medica-
suspeitos e os sintomas são teatrais e ten- ções citadas.
dem a desaparecer quando o paciente se
distrai. 2- Controle da hiperatividade simpática:
• Morfina: 0,5 a 1 mg/kg/hora IV.
TRATAM ENTO • Fentanil: nas dose habituais.
• Beta-bloqueadores: uso questionável; con-
Tratamento específico siderar em casos selecionados.
1- Desbridamento cirúrgico do ferimento • Bradicardia: se não houver resposta à
ou foco: deve ser amplo e profundo e precedi- atropina, passar marca passo externo tem-
do em meia hora pala aplicação de 1.500 a porário.
10.000 unidades de soro antitetânico em tor- • Hipertensão arterial: nitroprussiato de
no do foco. sódio e/ou sulfato de magnésio.
2- Antibioticoterapia: penicilina cristali- • Hipotensão arterial: dopamina ou
na ou metronidazol ou tetraciclinas, prefe- noradrenalina.
rencialmente por via parenteral (IV), nas do- Obs.: por vezes é necessário alternar o
ses habituais, por sete a 10 dias. uso de vasodilatadores com vasopressores em
3- Soro antitetânico heterólogo (SAT): intervalos de poucos minutos, devido a gran-
Moléstias Infecciosas Tét ano 153

de instabilidade hemodinâmica que ocorre na 6- Outros cuidados


disautonomia tetânica. • Evitar procedimentos desnecessários. Li-
mitar a higiene corporal na fase de espas-
3- Ventilação mecânica: mos e hipertonia.
• A intubação oro-traqueal deverá ser feita • Aspirar e passar sondas somente quando
sob sedação profunda e curarização, vi- for necessário. A retenção urinária por mais
sando evitar espasmos e trismo. de oito horas deve ser resolvida com son-
• A traqueostomia eletiva deverá ser de in- dagem vesical de demora.
dicação precoce, uma vez que a perspecti- • Cuidar da língua, para que não haja lesão
va é de longo período de suporte durante os espasmos.
ventilatório. Além disso, a presença da • Instituir profilaxia de hemorragia digesti-
cânula oro-traqueal é um potente estímu- va com bloqueador de bomba de prótons
lo espasmogênico. (omeprazol, pantoprazol, etc.).
• Instituir profilaxia de embolias venosas e
4- Tratamento das infecções secundárias: arteriais com anti-coagulantes (heparina
• A principal complicação infecciosa é a pneu- ou heparina de baixo peso molecular),
monia. Outra infecções, como as do trato desde que não haja risco de lesões decor-
urinário, da corrente sanguínea e cutâneas rentes dos espasmos.
podem ocorrer secundariamente ao uso de • O isolamento não é necessário. A doença
cateteres e outro procedimentos invasivos. não é transmissível.
Todas devem ser tratadas de acordo com • Cuidado com fraturas de vértebras e ou-
os esquemas adequados à flora hospitalar tros ossos. Aplicar tratamento ortopédico
existente na instituição. precoce, para evitar seqüelas.
• Inicialmente a fisioterapia deverá ser
5- Tratamento da alterações metabólicas: limitada. Posteriormente, quando me-
• A hidratação e o balanço hídrico devem lhorarem os espasmos e a hipertonia,
ser rigorosamente controlados. Os distúr- deverá ser intensificada. A fisioterapia
bios eletrolíticos devem ser tratados ade- respiratória deve ser evitada na fase de
quadamente. A nutrição enteral por son- espasmos severos e poderá ser
da naso-enteral ou gastrostomia deve ser incrementada a medida que o paciente
instituída precocemente. melhora. A aspiração de secreções deve
• Alguns pacientes, devido a descarga de ser cuidadosa e pode ser feita sempre
catecolaminas durante os espasmos po- que necessário, mas o paciente deverá
dem descompensar o diabetes mellitus e estar sedado.
porisso devem ser monitorados e tratados • Alcalinizar a urina nos casos de suspeita
com insulina conforme a necessidade. de rabdomiólise (CPK muito elevada).
154 Torsades de Point es Cardiologia

CONSULTORES: - Bradicardia pode desencadear “Torsades”


Bruno Caramelli, Renato Scotti Bagnatori em pacientes com QT longo;
- Distúrbios hidroeletrolíticos: hipocalemia
COLABORADOR: é o distúrbio mais associado; hipomag-
Antonio Carlos Mugayar Bianco – UTI Hospi- nesemia também está implicada e em ge-
tal Municipal do Jabaquara, São Paulo, SP ral a arritmia é terminada pela adminis-
tração de sulfato de magnésio; hipocal-
I NTRODUÇÃO cemia também está implicada.
- Corresponde a um tipo de taquicardia
ventricular polimórfica associada a um in- A BORDAGEM TERAPÊUTICA
tervalo QT longo; A) Pacientes com arritmia sustentada ou as-
- Sua duração é tipicamente curta (menor sociada com comprometimento hemodi-
que 20 segundos), mas pode se sustentar e nâmico - realizar cardioversão elétrica ime-
rapidamente degenerar para fibrilação diata com voltagem inicial de 50 a 100J,
ventricular; progredindo até 360J se necessário;
- Em geral tem uma freqüência ventricular B) Suspensão de drogas predisponentes;
irregular > 200bpm e tem uma aparência C) Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos
“ondulada” - os complexos QRS parecem (hipocalemia, hipomagnesemia e hipo-
girar sobre um eixo isoelétrico. calcemia):
- Magnésio pode ser dado em bolus IV de
ETIOLOGIA 1 a 2g, com dose total de 2 a 4g adminis-
- O prolongamento do intervalo QT, cau- trados em um intervalo de 10 a 15 minu-
sa do “Torsades de pointes” pode ser tos (75% de sucesso em 5 minutos e qua-
congênito (Síndrome do QT longo) ou se 100% em aproximadamente 15 minu-
adquirido; tos após a administração);
- As formas adquiridas são, na maioria das ATENÇÃO: outras formas de taquicardia
vezes, induzidas por drogas. Entretanto, ventricular polimórfica não respondem ao
tal arritmia pode ser causada por anorma- magnésio - p.ex: desencadeadas por síndromes
lidades eletrolíticas, hipotireoidismo, even- coronarianas agudas (devem ser tratadas com
tos cerebrovasculares (hemorragia suba- beta-bloqueadores e agentes antiisquêmicos).
racnóidea), IAM ou isquemia miocárdica, D) Correção de bradicardia:
dietas para emagrecimento (jejum prolon- 1) Passagem de marcapasso transvenoso +
gado), intoxicação por organofosforados, overdrive suppression (aumento gradual da
miocardite, ICC grave e prolapso de valva freqüência de estimulação ventricular até
mitral; término da arritmia);
- As drogas mais comumente implicadas são ou
os antiarrítmicos da classe IA. Os 2) Isoproterenol (não é o tratamento de esco-
antiarrítmicos classe III (sotalol e lha e só deve ser utilizado quando afasta-
amiodarona) também estão implicados; da doença coronária, ICC ou função de
- Outras drogas: antidepressivos tricíclicos, VE deprimida) - infusão contínua IV 2 a
haloperidol, antibióticos como eritro- 10m/min, titulado de acordo com a res-
micina e outros macrolídeos, anti- posta da freqüência cardíaca.
histamínicos (principalmente se associa- E) Lidocaína - pode ser uma alternativa em
dos aos macrolídeos), agentes pró- alguns casos. Deve ser administrada IV
cinéticos como a cisaprida; nas doses habituais para o tratamento da
TV sustentada.
Procedimento Traqueost om ia 155

CONSULTOR: das infectadas na região cervical; queimadura


Flávio Monteiro de Barros Maciel de 2º graus cervical auquilose da coluna cervical.

COLABORADORES: M ATERIAL/EQUIPAM ENTOS/M EDICAM ENTOS


Volnei Martins Castanho – UTI Adultos,
Chiemi Nakazato – Departamento de Cirurgia, 1. Monitor Cardíaco, oxímetro de pulso,
Hospital e Maternidade Leão XIII, São Paulo, SP aspirador, anestesia geral ou local com uso
Laert de Oliveira Andrade Filho, Hospital de sedativos e relaxante muscular, caixa
Iguatemi, São Paulo, SP para cirurgia média, material de paramen-
tação da equipe (máscara, gorro, avental),
I NTRODUÇÃO campos cirúrgicos, eletrocautério.
2. Cânula descartável com balão de baixa
A traqueostomia deve ser indicada nos pressão (geralmente números 8 a 9).
casos de assistência ventilatória mecânica 3. Fios de sutura: Prolene 2.0 cardiovascular
invasiva prolongada, para que sejam mini- e nylon 5,0 plásticos
mizados os riscos de lesão laringo-traqueal 4. Cadarços para fixação.
em consequência da longa permanência do 5. Gazes para curativos
tubo oro-traqueal. Excelente acesso nos ca-
sos de obstrução de vias aéreas superiores, TÉCNICA
facilita a limpeza brônquica, ajuda no des-
mame da ventilação mecânica e diminui o 1. Anestesia local com lidocaína a 2% sem
espaço morto. vasoconstritor. Sedativos e relaxantes mus-
culares devem ser utilizados. Anestesia
I NDICAÇÕES geral, quando indicada.
2. Posição: Decúbito dorsal horizontal com
1. Doença pulmonar obstrutiva crônica hipertensão cervical (coxim subescapular)
descompensada. 3. Anti-sepsia e colocação de campos esté-
2. Doença pulmonar infecciosa aguda grave. reis
3. Doença neurológica aguda com coma ou 4. Técnica cirúrgica:
rebaixamento de nível de consciência im- a. Incisão longitudinal em face anterior
portante que evolua com insuficiência res- do pescoço, na linha mediana de 2 a 3 cm,
piratória entre a fúrcula esternal e a cartilagem
4. Doenças neuromusculares que cursem cricóide, compreendendo: pele, tecido
com franqueza/atrofia muscular e com- celular subcutâneo e fáscia cervical super-
prometimento da função respiratória. ficial.
5. Trauma raquimedular. b. Afastamento lateral dos músculos pré-
6. Seqüela neurológica que comprometa tireoideanos e divulsão do tecido areolar
musculatura responsável pelo controle de pré-traqueal.
deglutição, aumentando o risco de c. Afastamento superior do istmo da
broncoaspirações. tireóide (Obs.: Realiza-se a istmotomia
7. Trauma torácico grave. quando ocorre dificuldade de exposição
8. Trauma grave de face ou região cervical da traquéia).
com obstrução de vias aéreas. d. Colocação de pontos de reparo traqueais
com fio de Prolene 2.0
CONTRA I NDICAÇÕES e. Abertura de traquéia, longitudinalmen-
te, abrangendo o 2º, 3º e 4º anéis
Alteração da coagulação, flegmão ou feri- f. Extubação
156 Traqueost om ia Procedimento

g. Introdução da cânula de traqueostomia. intubação orotraqueal estará indicada,


h. Sutura da pele com pontos separados seguida de re-exploração cirúrgica, assim
(fio de nylon 4.0 ou 5.0) que possível. Normalmente a troca da câ-
i. Fixação da cânula com cadarço nula é realizada a cada 20 dias ou quando
j. Curativo com gaze. se tornar necessária (obstrução, vazamen-
to, perfuração do balão).
CONSIDERAÇÕES
COM PLICAÇÕES
1. O tempo para indicar a realização da
traqueostomia é variável, mas geralmente 1. Sangramento por lesão de estruturas
compreendido entre 7 a 14 dias após a vasculares adjacentes
intubação orotraqueal, variando pricipal- 2. Lesão de traquéia
mente em relação ao quadro clínico e prog- 3. Falso trajeto da cânula
nóstico do paciente. 4. Enfisema de subcutâneo e de mediastino
2. Em paciente onde a condição clinica per- (penumotórax/pneumomediastino).
mita extubação com manutenção do pa- 5. Infecção local.
ciente em ventilação não-invasiva inter- 6. Obstrução da cânula.
mitene, e reavaliação, deve ser considera- 7. Perfuração do balão
da antes da traquesotomia. 8. Fístula traqueo-esofágica
3. O centro cirúrgico é o local ideal para 9. Fístula traqueo-arterial (tronco bra-
realização do procedimento, mas em al- quiocefálico)
guns casos muito graves, de pacientes ins- 10. Traqueomalácia, estenose de traquéia e
táveis, o ato a beira de leito deverá ser granulomas
considerado.
4. A pressão insuflação do balão devera ser o CONSIDERAÇÕES FINAIS
suficiente para ser evitado o vazamento
de ar em caso de ventilação mecânica, não Sanado o problema que levou à traqueos-
devendo ultrapassar 25 mmHg, sob risco tomia, a retirada da cânula poderá ser feita direta-
de lesão isquêmica de parede da traquéia mente com curativo oclusivo, sem necessidade de
5. Após a primeira semana de procedimen- redução de calibre progressivo da cânula.
to, geralmente a cânula de traqueostomia Uma traqueoscopia prévia (ou simultânea)
pode ser trocada sem grandes problemas, à retirada da cânula poderá ser útil, principal-
pois o trajeto já se encontra bem mente nos caso de longa permanência, para
estruturado. Em caso de dificulade, a re- detecção de granulomas ou traqueomalácia.
Procedimento Traqueost om ia Percut ânea 157

CONSULTOR: região dorsal


Flávio Monteiro de Barros Maciel 2. Antissepsia da região cervical anterior.
Campo cirúrgico.
COLABORADORES: 3. Infiltração com anestésico logo abaixo da
Humberto Alves de Oliveira, Claiton Saccoi cartilagem cricóide (lidocaina 2% com
Ferreira – Hospital de Base do Distrito Federal, epinefrina)
Brasília, DF 4. Realizar incisão tranversal de aproxima-
damente 1 cm no local infiltrado
CONCEITO 5. Fixar traquéia com a mão, recuar lenta-
mente o tubo orotraqueal até região pró-
Consiste em um procedimento efetivo de xima das cordas vocais, com cuidado para
acesso via aérea de fácil execução, que pode não extubar o doente.
ser realizado rapidamente á beira de leito, 6. Punção da traquéia logo abaixo da carti-
necessitado apenas de material específico. lagem cricóide com Jelco®, aspirando-se
ar para confirmar posição do cateter. In-
VANTAGENS trodução de fio guia pelo cateter, em dire-
ção a região inferior das vias aéreas.
1. Técnica de fácil execução 7. Retirada do cateter (Joelco®)
2. Menor custo (comparada com tran- 8. Prossegue-se a introdução progressiva de
queostomia em bloco cirúrgico) dilatadores (geralmente inicia-se com
3. Menor risco de complicações: dilatador 11F) visando ampliar o orifício da
a) Sangramento traqueostomia, até o diâmentro da cânula
b) Lesão traqueal da traqueostomia desejada (existem conjun-
c) Falso trajeto tos de dilatadores separados ou dilatador
4. Menor risco de infecções único com diâmetro progressivo). Depois
de terminada a dilatação do orifício traqueal,
CONTRA- INDICAÇÕES veste-se a cânula com o último dilatador
utilizado (geralmente 21 F).
1. Dificuldade palpar cartilagem cricóide: 9. Introdução e fixada da cânula (cordão sou
a) obesidade (relativa) sutura na pele). Retirada dilatador e fio guia.
b) hipertrofia de tireoide 10. Retirada do TOT
c) tumores do pescoço 11. É conveniente a realização de broncos-
copia durante o procedimento.
2. Dificuldade para hiperextenter pescoço:
a) trauma (que necessite imobilização cervical) COM PLICAÇÕES DA TÉCNICA
b) osteoartose
c) lesões congênitas 1. Sangramento profuso
2. Enfisema subcutâneo
3. Infecção sobre local da punção 3. Pneumotórax e pneumomediastino
4. Situação de emergência 4. Inserção/ dilatação paratraqueal
5. Discrasia sanguínea (relativa) 5. Fístula traqueoesofágica
6. História de traqueostomia anterior (relativa) 6. Infecção
7. Laceração póstero/lateral da traquéia
PROCEDIM ENTO 8. Fratura de cartilagem traqueal
9. Estenose
1. Paciente em decúbito dorsal, com pesco- 10. Traqueomalácia
ço hiprextendindo. Pode-se usar coxim na 11. Alteração de voz
158 Traqueost om ia Percut ânea Procedimento

CONSIDERAÇÕES LEITURA RECOM ENDADA

Trata-se de procedimento eletivo, que deve 1. Marx, Willian H. et al: Some important Details in the
Technique of Percutaneous Dilatational Tracheostomy
ser realizado por profissional experiente e em via the Modified Seldinger technique. Chest, 1996;
serviço com condições de abordar rapidamente 110:762-765.
a traquéia de maneira convencional, em caso 2. Leonard, Richard C., Lewis, Richard H. et al, Late
de complicações com a técnica (retaguarda outcome from Percutaneous Tracheostomy Using the
Portex kit, Chest, 1999; 115: 1070-1075
cirúrgica). 3. Dulguevory , Pavel., Gysin, Claudine., Perneger, Thomas
V., Cevrolet, Jean C.Percutaneous or surgical
tracheostomy: A meta analysis. Critical Care Medicine.
1999;27:1617-1623.
4. Knobel, Elias: Condutas no Paciente grave. São Paulo.
Editora Atheneu, 1998.
5. Marni, John J., Wheeler, Arthur P: Terapia Intensiva: O
essencial. São Paulo. Editora Manole, 1999.
Hematologia Trat am ent o das Reações Transfusionais 159

CONSULTOR: REAÇÃO ALÉRGICA


Jose Paulo Ladeira Reação rara, geralmente associada à defi-
ciência de IgA do doente; se confirmada, este
COLABORADOR: doente somente receberá transfusões de
Paulo César R. Carvalho, Hospital Municipal de hemácias lavadas.
São José dos Campos. São José dos Campos, SP A maioria das reações é leve, incluído
eritema, urticária e espirros. Nas reações le-
REAÇÃO HEM OLÍTICA AGUDA ves, a transfusão pode continuar, mas a veloci-
Usualmente associada a incompatibilida- dade de infusão deve ser diminuída e anti-
de ABO por infusão de bolsa não compatível histamínicos devem ser associados; estes po-
(geralmente erro de identificação da bolsa/ dem ser profilaticamente utilizados em novas
paciente); a intensidade dos sintomas geral- transfusões em pacientes com história de rea-
mente é proporcional ao volume transfundido. ções alérgicas leves.

Quadro Clínico COAGULOPATIA DILUCIONAL


Febre/tremores/calafrios/sensação de Associada a transfusão rápida de múlti-
queimação no sítio de infusão/poliartralgia plas unidades de sangue, determinando efeito
severa/dor lombar/desconforto respiratório/ dilucional sobre a contagem plaquetária e so-
sensação de opressão torácica/ansiedade/ bre os fatores de coagulação.
hipotensão/taquicardia Não se deve transfundir profilatica-
mente plaquetas ou plasma par prevenir a
Tratamento coagulopatia dilucional; o paciente somen-
1. Parar imediatamente a transfusão te deve ser tratado se houver evidência
2. Trocar o acesso venoso (se periférico) objetiva da coagulopatia dilucional e
3. Manutenção das condições hemodinâ- sangramento ativo.
micas do doente (cristalóides e drogas Dosagem de plaquetas a cada 5-10 bolsas
vasoativas se necessário) de sangue transfundido; a transfusão de
4. Manter perfusão renal adequada (> 100ml/h plaquetas deve ser realizada se plaquetopenia
de diurese) < 50.000 mm3 e evidência clínica de
5. Colher os seguintes exames: novas provas sangramento microvascular.
de compatibilidade sanguínea, Ht, Plasma fresco congelado deve ser aplica-
Coombs direto e indireto, haptoglobina, do quando o coagulograma evidenciar ativi-
hemoglobina sérica livre, bilirrubinas e dade de TP ou TTPa > 1,5 - 1,8 do valor
pesquisa de hemoglobinúria. normal (INR e R, respectivamente); na
indisponibilidade destes exames, após 5 - 10
REAÇÃO HEM OLÍTICA TARDIA unidades transfundidas, é razoável a utiliza-
Geralmente relacionada a anticorpos que ção de plasma quando houver evidência clíni-
se ligam a superfície da hemácia com menor ca de sangramento microvascular
expressão como Rh, Kell, Kidd ou Duffy; Crioprecipitado somente deve ser aplica-
do quando, após reposição adequada com plas-
Quadro Clínico ma, se o fibrinogênio estiver < 100mg/dl.
Ocorre em 2 a 10 dias após a transfusão;
febre, icterícia, hemoglobinemia e hemoglobinúria. TOXICIDADE POR CITRATO (H IPOCALCEM IA)
Ocorre acúmulo de citrato quando a trans-
Tratamento fusão é realizada em velocidade maior do que
Nenhuma medida específica; geralmente 1 unidade a cada 5 minutos.
é quadro leve, de boa evolução. É rara a ocorrência quando se utiliza concen-
160 Trat am ent o das Reações Transfusionais Hematologia

trado de hemácias, cuja solução anticoagulante Tratamento


tem baixas concentrações de citrato. É mais co- Não há tratamento específico; alta mor-
mum em hepatopatas e hipotensos talidade.

Quadro Clínico Prevenção


Sinais/Sintomas: parestesia perioral, tre- Transfusão de hemoderivados irradiados.
mores musculares e alargamento do intervalo
QT no eletrocardiograma. Indicações de uso de hemoderivados irra-
diados
Tratamento 1. Pacientes com imunodeficiência celular
Infusão lenta de 1-10ml de Cloreto / congênita
Gluconato de Cálcio 2. Pacientes imunossuprimidos transplanta-
dos de órgão ou medula óssea
LESÃO PULM ONAR AGUDA ASSOCIADA RELACIONADA A 3. Receptores de sangue de doador parente
TRANSFUSÃO SANGÜÍNEA 4. Receptores de sangue de doadores HLA
Ativação de leucoaglutininas do doador compatíveis
que reagem com leucócitos do receptor, de- 5. Pacientes com Linfoma de Hodgkin
terminando ativação leucocitária e ativação
do complemento nos pulmões, determinado Indicações relativas de uso de hemoderivados
edema pulmonar não cardiogênico; início após irradiados
1 a 4 horas da infusão. O diagnóstico é clíni- 1. Pacientes em uso de imunossupressores,
co, não existindo nenhum exame que diferen- suscetíveis a infecções oportunísticas
cie esta causa das demais causas de lesão pul- 2. Pacientes oncológicos em quimioterapia
monar aguda. ou radioterapia
3. Pacientes com AIDS
Tratamento
O mesmo da lesão pulmonar aguda; me- I NFECÇÃO
lhora em cerca de 2 a 4 dias Todo sangue doado é pesquisado para
anticorpos contra a hepatite B e C, HIV, HTLV
REAÇÃO ENXERTO VERSUS HOSPEDEIRO e Syphilis bacteriae e para antígenos dos vírus
Multiplicação de linfócitos do doador no da hepatite B e HIV.
receptor imunocomprometido (Transplanta- Pacientes de alto risco de infecção para CMV
do de medula óssea, pacientes com leucoses e EBV (mulheres grávidas, RN prematuro ou de
em quimioterapia) baixo peso, pacientes imunossuprimidos ou
Determina depressão medular e sepse transplantados) devem receber sangue de doa-
dores soronegativos para estes agentes.
Quadro Clínico Risco de infecção (transfusão única):
Febre, anorexia, náusea, vômitos, diarréia, Hepatite B = 1/30.000 - 1/250.000
rashes cutâneos e pancitopenia dias após a Hepatitis C = 1/30.000 - 1/150.000
transfusão. HIV = 1/200.000 - 1/2.000.000
HTLV = 1/250.000 - 1/2.000.000
Parvovirus B19 = 1/10.000
Infecção bacteriana = 1/500.000
Hematologia Uso de Hem oderivados 161

CONSULTOR: Indicações
Jose Paulo Ladeira Não existe um hematócrito ou valor de
hemoglobina ideal para desencadear a trans-
COLABORADORES: fusão, pois fatores como condição de saúde
Leonora Scherer, Luis Henrique Del A. Tarragô prévia do doente, valor de hemoglobina inici-
Carvalho, Hospital Petrópolis. Porto Alegre, RS al, capacidade dos mecanismos compensató-
José Roberto Carvalho Diener, Hospital de rios do doente atuarem e o tempo em que a
Caridade de Florianópolis. Florianópolis, SC anemia se instala influenciam na manifestação
clínica da anemia; no entanto, as indicações
SANGUE TOTAL abaixo são de consenso para transfusão.
1 unidade = 500 ml: hemácias, plasma com • Sangramento agudo/sub-agudo (> 25 -
proteínas plasmáticas e fatores de coagulação; 50% de volume de sangue) com evidência
Indicações: sangramento agudo acentua- de prejuízo da oferta de oxigênio aos teci-
do (> 30%); em desuso. dos e / ou Hb < 6 - 7g/dl
• Paciente em pré-operatório com previsão
CONCENTRADO DE H EM ÁCIAS de perda sanguínea intra-operatória e Hb
1 unidade = 250-300 ml de hemácias; pré-operatório < 7 - 8g/dl
hematócrito ˜ 70%; pode ser irradiado, lava- • Paciente coronariopata em pré-operató-
do, congelado ou filtrado para diminuição ra- rio e Hb < 10g/dl
dical do número de leucócitos ainda presen- • Pacientes anêmicos, assintomáticos com
tes no concentrado risco de depleção volumétrica
intravascular (insuficiência coronariana,
Dose cardíaca, valvulopatia ou doença cérebro-
Adultos: 1 Unidade determina a elevação vascular)
de ~ 1g/dl na Hb e de ~3% no Ht. • Paciente portador de anemia crônica
Crianças: 1ml/Kg determina o aumento com Hb < 6 - 7g/dl e sintomático (sín-
de 1% no hematócrito. cope, dispnéia, hipotensão postural,
Pode ser diluído exclusivamente em soro taquicardia, angina ou ataque isquêmico
fisiológico, infundido na mesma via venosa. transitório)
Deve ser infundido em via venosa exclusi- * utilizar preferencialmente hemácias
va, não podendo ser infundido com outras deleucotizadas quando houver perspectiva de
medicações. numerosas transfusões de concentrados de
hemácia ou após a 3ª bolsa; isto diminui a
Infusão chance de reação transfusional não hemolítica
Iniciar dentro de 30 minutos depois de febril, de infecções virais para o imunocom-
retirada a bolsa do banco de sangue. prometido e de reação enxerto versus hospe-
Infundir na velocidade de 2-3 ml/Kg/h dentro deiro em imunossuprimidos.
de 1-2 horas; tempo máximo de até 4 horas
para infusão da bolsa. CONCENTRADO DE PLAQUETAS
Infundir lentamente nos primeiros 15 mi- Unidades individuais: 0,5 x 1011 plaquetas
nutos, fazendo avaliações clínicas a cada 5 mi- em 50-70 ml de plasma
nutos do doente para detecção precoce de rea- Unidades obtidas por aférese: 3 - 5,0 x
ção transfusional por incompatibilidade ABO. 1011 plaquetas em 200-300ml de plasma; equi-
Utilizar filtro de leucócitos após a 3ª bol- vale a 6 unidades individuais
sa infundida.
Controle de Hb/Ht após 1 hora do tér- Dose
mino da infusão. 1 unidade/10 Kg de peso
162 Uso de Hem oderivados Hematologia

Infusão Dose
Em 5-10 minutos; elevação de 5-10.000 Depende da condição clínica do doente,
cel/mm 3 a cada bolsa (quando não há do grau de depleção dos fatores de coagulação
sangramento persistente ou destruição) e da taxa de consumo atual dos fatores de
Controles na 1ª hora após infusão e após 16- coagulação;
24 horas para avaliar viabilidade plaquetária. Iniciar com 02 unidade de plasma fresco
congelado; após 1 hora colher novo TP/TTPa;
Indicações nova transfusão conforme necessário (TP/
• Evidência de sangramento ativo ou ante- TTPa > 1,5 x o valor normal)
cipação de cirurgia em paciente com
trombocitopenia < 50.000 cel/mm3 Infusão
• Profilaticamente na trombocitopenia < 5-20ml/Kg em infusão lenta; infundir após
5.000 cel/mm3 descongelamento em temperatura ambiente e
• Profilaticamente na trombocitopenia < após aquecimento a 37º C.
50.000 cel/mm3 e > 5.000 cel/mm3 em Observação: a cada 5-6 unidade de plaqueta
pacientes com risco signficativo de transfundidas ou 1 unidade de aférese de
sangramento (petéquias confluentes, plaquetas, o paciente recebe quantidade equiva-
sangramento contínuo de lesões ou ou- lente a 1 unidade de plasma fresco congelado.
tros sítios, cefaléia ou sangramento di-
gestivo contínua, hemorragia retiniana Indicações
progressiva); sangue nas fezes, escarro • História ou evolução clínica compatível
hemoptóico. coagulopatia por déficit congênito ou ad-
Observação: na Púrpura Trombocitopênica quirido de fatores de coagulação e
Trombótica ou na Idiopática, a transfusão de sangramento ativo
plaquetas deve ser reservada a cirurgia ou a • Procedimento invasivo e TP >1,5 (INR)
sangramento importante com risco de vida. Na ou TTPa > 1,5 (R) ou teste de coagulação
etiologia idiopática, o uso de imunoglobulina < 25% da atividade normal
prévia a transfusão prolonga a vida da plaqueta. • Reversão rápida de anticoagulação oral
Nas situações de destruição plaquetária por intoxicação cumarínica na vigência de
auto-imune ou por consumo, a transfusão é sangramento ativo e TP/TTPa > 1,5 x o
de pouca efetividade, mas deve ser realizada valor normal
se sangramento ativo e trombocitopenia < • Sangramento ativo ou procedimento
50.000 cel/mm3 invasivo em paciente anticoagulado com
Plaquetopenia Refratária: aumento < cumarínico e TP > 1,5 (INR)
5.000 cel/mm3 após transfusão de 6 unida- • Sangramento ativo associado a deficiên-
des de plaqueta ou 1 unidade de aférese; cia de Vitamina K e TP/TTPa > 1,5x o
relacionada a Coagulação Intravascular Dis- valor normal
seminada, infecção hiperesplenismo, • Insuficiência hepática grave e sangramento
sangramento maciço, várias drogas e anti- ativo ou procedimento invasivo com TP/
corpos anti-plaqueta. Transfusões a cada 6- TPPa > 1,5 x do valor normal
12 horas e plaquetas selecionadas por • Coagulopatia dilucional com sangramento
tipagem de HLA. ativo e TP/TTPa > 1,5 x do valor normal
• Coagulação intravascular disseminada e
PLASM A FRESCO CONGELADO sangramento ativo com TP/TTPa > 1,5 x
1 unidade = 250 ml de plasma com todos o valor normal
os fatores de coagulação; 400 ml se coletado • Plasmaferese para Púrpura Trombocito-
por aférese pênica Trombótica ou Síndrome Hemo-
Hematologia Uso de Hem oderivados 163

lítico-Urêmica 250ml determinam a mesma elevação do que


• Reposição de proteína C, S ou antitrom- 1250 ml de plasma no fibrinogênio total.
bina para deficiências especificas, quando
não há disponibilidade do concentrado Indicações
específico. • Doença de Von Willebrand tipo II e III
Observação: não deve ser utilizado como (na indisponibilidade de concentrado de
expansor volêmico, suporte nutricional, re- fator VIII)
posição de proteína em hipoalbuminemia ou • Hemofilia A (na indisponibilidade de con-
como fonte de imunoglobulina. centrado de VIII)
• Hipofibrinogenemia e evidência clínica de
CRIOPRECIPTADO sangramento ou procedimento invasivo /
1 unidade = 10-25ml = 100-120 U de cirúrgico
Fator VIII (Von Wilebrandt) + 250mg de • Hipofibrinogenemia induzida por trans-
Fibrinogênio + Fator XIII ; preparado por fusão e sangramento microvascular ativo
centrifugação do material precipitado a • Coagulação intravascular disseminada as-
partir de uma unidade de plasma resfriado sociada a sangramento microvascular
a 4º C. • Uremia com Tempo de Sangramento pro-
longado (>12minutos)
Dose
1-2 unidades/10Kg de peso, infundidas CONCENTRADO DE FATORES DA COAGULAÇÃO
em 5-10ml/min; cerca de 10 unidades são 1 unidade = Fator VIII + Fator IX + Com-
necessárias para um adulto. plexo protrombínico (Fat II,VII,IX,X)
1 unidade determina a elevação de 10mg/ Granulócitos (Concentrado de leucócitos)
dl no fibrinogênio. Unidades individuais: 1-2x1013 granu-
É melhor fonte de Fibrinogênio do que o lócitos em 30 ml de plasma
plasma fresco congelado, pois 10 unidades de Unidades por aférese: 1-1,5x 10 11
criopreciptado com volume total de 100- granulócitos em 200-300 ml de plasma

Tabela - Terapia de Reposição em Desordens Heredit árias de Coagulação (para


cirurgia de grande port e/t raum a severo/sangram ent o at ivo im port ant e)
Déf icit Produt o t erapêut ico Dose de At aque M anut enção
30 unid/kg 12/12h por
Doença do Von Humate P Não recomendado 2 dias; após, 30 unid/
Willebrand kg/dia
Criopreciptado Não recomendado 1 bolsa/10kg/dia
Criopreciptado 1-2 bolsas/10kg 1 bolsa/10kg; dias
Deficiência do alternados
Fibrinogênio Fibrinogênio purificado 50-100 mg/kg 20 mg/kg dias
alternados
Deficiência de PFC 15 ml/kg 5-10 ml/kg/dia
Protrombina ou Concentrado de 20 unid/kg 10 unid/kg/dia
disfibrinogenemia protrombina
164 Uso de Hem oderivados Hematologia

Déf icit Produt o t erapêut ico Dose de At aque M anut enção


PFC 20 ml/kg 10 ml/kg a cada
Deficiência do V 12-24h
De Fator Concentrado do 30 unid/kg 10 - 20 unid/kg a cada
protrombina 6-24h
PFC 20 ml/kg 5 ml/kg a cada 6-24h
Deficiência do VII Concentrado do 30 unid/kg 10 20 unid/kg a cada
DE Fator protrombina 6-24h
PFC 15 -20 ml/kg 5 ml/kg/dia
Deficiência do X Concentrado de 15 unid/kg 10 unid/kg/dia
De Fator protrombina
Deficiência do XI PFC 15 - 20 ml/kg 5 ml/kg a cada
DE Fator 12 - 24h
Deficiência do XIII PFC 5ml/kg a cada 1 - 2 Não usualmente ne-
DE Fator semanas cessário
MISSÃO DA AMIB
“Promover a boa prática
e o desenvolvimento da
Medicina Intensiva Brasileira”

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