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Dados Internacionais de Catalogacao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Vasconcellos, Celso dos Santos, 1956 - Avaliago = concepeio dialética-libertadora do proceso de avaliagdo escolar 11" ed/Celso dos S. Vasconcellos. — Sio Paulo: Libertad, 2000. — (Cademos Pedag6gicos do Libertad ; v. 3) Bibliografia. 1, Avaliagdo educacional 2. Avaliagao educacional — Filosofia 3. Educagio — Filosofia 1. Titulo. Il. Série. ISBN 85-85819-02-2 92.0174 CDD 370.783 Indices para catélogo sistemitico: 1. Avaliagdo educacional : Educagio 370.783 ata — Coiro de Desguisa, Formazio ¢ Hasersoria Pedagdgica AVALIACAO ConcepgAo DIALéTICA-LIBERTADORA Do Processo DE AVALIAGAO EscoLar Cziso pos S. VASCONCELOS Bla Uelina rps bis Coclee Pedagégicos do Libertad - 3 CONCEPCAO DIALETICA-LIBERTADORA DO PROCESSO DE AVALIACAO ESCOLAR 1 PARTE Ill - ANALISE DO PROBLEMA A Hist6ria do Rato Roméo disse a um ratinho que ia passando por perto dele: “Pare af. Temos ‘44 de ir ao iz. Quero le acusar”. “Vamos”, respondeu o ratinho. ‘A cons- ‘ciéncia de nada me acusa e saberei defender-me”. “Muito bem”, disse 0 ‘gato, “Aqui estamos diante do senbor juiz”. “Nao 0 vejo", disse o ratinbo. “0 futz sou eu", disse o gato. “E 0 jirk?”, perguntou o ratinbo. °O jtiri também sou eu’, disse 0 gato. “E 0 promotor?”, perguntou o ratinbo. “O ‘promotor também sou eu”. “Entdo voce é tudo?, disse 0 ratinbo. “Sim, ‘porque sou 0 gato. Vou acusar vocé, julgar vocé, e comer voce”. Lewis Carroll 1-0 problema da Avaliagéo Escolar Existe o problema da avaliagio! Disto ninguém parece discordar; 10 con- tririo, percebemos um amplo consenso quanto a0 fato que a avaliagio escolar € hoje um grande desafio, Este consenso, no entanto, comega a se desfazer quando parte-se para sua andlise, na medida em que existem diferentes com- preensdes do mesmo. ‘Como podemos explicar o problema da avaliagio? Como surge? Como se desenvolve? Como se mantém? Por que perdura ha tanto tempo? Quando ouvimos os professores a respeito do problema da avaliag s normalmente apontam que o problema fundamental, deci est 1) nos alunos: porque sio desinteressados, imaturos, carentes, 26 Avallago — Concepgo Diaética-ibertdorvCelso dos S. Vasconcellos pobres, preguigosos, por s6 pensarem em nota e por nao estarem preocupados ‘em aprender,’ 2) nas familias: maes trabalham fora, nao acompanham filho, pais sio analfabetos, alcoslatras, etc.* Outras vezes, a questo apontada é de ‘ordem técnica: como preparar um instrumento que possa medir adequada- ‘mente, como avaliar tal componente curricular, como dimensionar 0 tempo, que peso dar as notas bimestrais, estabelecer média 5 ou 7, usar nota ou Conceito, como fazer o arredondamento dos décimos da nota, como formular bem as perguntas, fazer avaliagio objetva ou dissertativa, como corrigir os erros de portugués, etc? Aponta-se ainda que o problema da avaliago esti na estru- ‘ura: niimero de alunos por sala de aula, niimero de aulas que o professor tem ‘que assumir para poder sobreviver,o sistema que exige e cobra nota, ec, Alguns professores, que jéfizeram uma certa caminhada, levantam o problema de “como avaliar 0 aluno como um todo” ou ainda “como ser justo na avaliagao". ‘A nosso ver, no entanto, estes so problemas aparentes; no que niio sejam problemas; so, e precisam inclusive ser equacionados no processo. Mas nao sio os problemas de fundo, determinantes. HA necessidade de se desmascarar 0 cinismo_reinante, a “trama, inconfessavel” (Cf. Margot Ott, 1986) em torno da avaliacao escolar. Entendemos que o grande entrave da avaliaglo € o seu uso como instrumento de controle, de inculcacio ideol6- fica ¢ de discriminagio social. Para compreender como se concretiza 0 problema, vamos fazer a andlise a partir de duas abordagens: uma de ordem ‘macroestrutural (relagio da avaliagao com o sistema social) e outra de ot- microestrutural (concretiza¢a0 dos determinantes nos diferentes agen- tes), extremamente imbricadas uma na outra, Todos nés sabemos a dificuldade que a avaliago escolar apresenta © as cconseqiiéncias dristicas que pode trazer para a educagaio: de um modo geral, podemos dizer que praticamente houve uma inversdo na sua I6gica, ou seja, a avaliagio que deveria ser um acompanhamento do processo educacional, aca- bou tomando-se o objetivo deste processo, a prtica dos alunos e da escola; 10S0 “estudar para passar”. 0 novo senso comum pedagégico dos professores parece aceitar a afirma- Gio de que a avaliagio estéligada 3 “estrutura de poder da sociedade”, “6 coisa do sistema”. No entanto, diante da pritica, questionamos até que ponto estas 7. Nao & que se percebe © problema ¢ no se oma nenhuma providénci; & que se entende que © problema ¢ do aluno! 8. CE, por exemplo, COLARIS, cia AL. © MOYSES, Mara A.A. Dignsico da modicaliagio do proceso ensno aprendzagem na 1” série do 1 rau no municipio de Campinas, p15, IMI ~ Anise do Problema n assertivas sio de fato compreendidas pelos educadores ou até que ponto no representariam a repeticio de um novo discurso “polticamente correto” (cri- tica de cunho reprodutivista). Isto porque, de um lado, nao se percebe clareza 4do que significa ser “coisa do sistema” e, por outro, 0 professor no percebe 6 seu pr6prio envolvimento com esta realidade. 2-Andlise do Problema na sua Totalidade Como se chega ao problema da avaliagio? Ocorre na sala de aula, mas sua base esti no sistema de ensino, que corresponde a interesses de um determi- nado sistema social. Temos que buscar esta perspectiva de totalidade, a)Percepcao inicial do professor Normalmente, 0 professor mais aberto coloca a avaliagio em questio a partir de um apelo de sua sensibilidade, quase que ao nivel éico: percebe os alunos sofrendo, preocupados em demasia com nota. Nao tem idéia, no entanto, da dimensio do problema com que est se deparando; est se apro- ximando de um dos pontos centrais da concretizagao do autoritarismo no sistema escolar, O que ele observa no aluno é o resultado de uma complexa ‘cadeia de relagdes de reprodugo das estruturas dominantes (é apenas a ponta do iceberg) 0 professor, de modo geral, no tem consciéncia de que é mais um agente ‘criminaco e dominacao Faz simplesmente aquilo que ‘escola, para o que, além do mais, recebeu os fundamen- tos na sua graduacio, Nao percebendo, inicialmente, a real dimensio do pro- blema, sua procura é de téenicas mais apropriadas, para que, tanto ele como seus alunos, pos 'a avaliacio. b)Resgate histérico Sabemos que a reprovagaio na escola naio 6 uma coisa nova; tem-se noticias de exames ha 2.205 aC, quando o imperador chinés Shun “examinava seus oficiais a cada trés anos, com o fim de os promover ou demiti’.? No entanto, com 0 cardter que tem hoje, sua historia ¢ relativamente recente, Data da tic da burguesia enquanto classe. Neste processo, com a formagao dos ‘9.1, DEPRESBITERIS, 0 Defi da Aeilagio da Aprendizagem, p. 5 B _Avaliagio ~ Concepsio Dialética-Libertadora/Celso dos 8. Vasconcellos estados nacionais modernos, passam a ser organizados os sistemas nacionais de ensino, Como sabemos, a histéria da educacio esté mal contada, pois o que se fez freqiientemente foi relatar as idéias de grandes pedagogos, desvinculadas das reais condigies de exist@ncia. Evidentemente, a escola existia antes do capitalismo, mas seu papel muda substancialmente a partir dai, em fungio da formagio da mao de obra para a indistria. Desde de seu desenvolvimento neste preparando a docitidade do futuro trabalhador; de outro, tos da cultura corre o risco de formar pessoas mais conscientes e questionadoras. Enquanto classe revolicionaria, a verdade interessava & burguesia, pois como afirma Hegel: “a verdade é revolucionéria”. Depois que ascende ao poder, nio hh interesse em propagi-la: passa a ser propriedade particular, colocada a servigo da acumulagio. Donde a {6rmula: conhecimento sim, mas em doses homeopaticas... De fato, mais do que capacitar tecnicamente as Classes popu- fares para o trabalho, a grande finalidade da escola foi a de disciplinamento," ajudando a preparar o sujet para a ordem, o ritmo, o controle, a hierarquia, © trabalho para 0 outro, caractersticas da indistria. A religiio conseguia a submissio passiva; no entanto, do operiri se espera a subimissio ava, envol vendo sua vontade. Concretamente, a0 contrario dos discursos oficiais, 0 obje- tivo da escola nao era a instrugio. Mas por que se submeter & escola? Af entra 0 mito da ascensio social, a ideologia da doutrina liberal: igualdade de oportuni idades. 0 valor da escola passa a nio estar nela mesma, mas na recompensa que, supde-se, haverd depois. Carente os alunos de motivos intrinsecos, dada sua impoténcia frente & selegdo de seus fins e a determinagéo de seus processos, a escola —junta- ‘mente com a poupanca e 0 trabalho representa o paradigma deste lugar comum da ética protestante e da chamada moral vitoriana que é 0 adia- ‘mento das gratificagdes."" Se todos “chegassem 14°, obviamente, 0 mito se desmontaria, pois no haveria como “recompensar” a todos, jé que o principio basico é 0 da concen- tragio; passa a acontecer, entio, a reprovagio, como decorréncia “natural” das “diferengas individu, cada sujeto sendo, portanto, responsivel pelo seu fra- asso, jf que outros conseguiram.. ue oe 10, CE MF. ENGUITA, A Face Ocwta da Escola, p. 115 es. HLM. F-ENGUITA, op. cit, p. 179. oN — ‘)Papel Politico da Avaliagio"™ ‘Sempre que se observa a organizagio da sociedade, nao detxa de vir 2 tona uma questZo crucial: como € possivel tio poucos dominarem a tantos?® E claro que a resposta a essa pergunta demanda profundas andlises, mas € certo tam- ‘én que podemos af encontrar reflexos da avaliagio escolar. A classe dominan- 1, para a manutengao do status quo, precisa contar com um certo consenso junto as classes dominadas (€ muito desgastante ¢ improdutivo ficar usando 0 aparelho de repressio toda hora). Para isto, langa mio da ineuleagio ideo- Hogica. ste processo visa que cada um se conforme com seu lug ni Sock dade, pelo “reconhecimento” de sua desvalia, de sua incompeténcia (com ju tificativas “cientficas”, inclusive). Essa cooplagio idcoldgica & terrivel, pois interioriza-se no sujeito, sem que ele se dé conta e, dessa forma, acaba levando 44 que apbie e colabore com seu dominador, Evidentemente, se 0 sujito nfo {em consciéncia de sua dignidade, de seu valor, de seus dire nte-se culpado, inferior, como pode ter fnimo para a Tuts? 0 papel da escola, a fang real e oculta que Ibe &destinada, é precisamen- te esta: a partir dos fracassos escolares dos desfavorecidos, mergulba-los na uml ie ndo renunciem a uma atitude de bumildade-” ‘A avaliagio escolar colabora com este proceso de dominagio, ajudando a formar um autoconceito negativo (incapaz, problemético, ignorante, etc), desde a mais tenra idade, em milhdes e milhdes de criancas, jovens e adultos, ‘especialmente das camadas populares, que tém 0 “prvilégio” de passar pelos ancos escolares. 0 problema central da avaliaglo, portanto, é 0 seu uso como instrumento de discriminacio ¢ selecio social, na medida em que assume, no ambito da “wcola, a tarela de separar os “Aptos” dos “inaptos”, os “capazes paves”. Além disso, cumpre a fangio de legit Junto aos “aptos": convidando-os a fazer parte, a tomarem seus “Justos” Tugare Junto a0s “inaptos”; impingindo-Ihes a inculcago, a domesticagio, con- vencendo-os de que sio incapazes e por isso “merece” o lugar que tém na sociedade. Tr Por polio emtendemas as rages de exerccio de poder, que seo na comivinca dos homens (CE Polis, Cidade tstado grega). No confundir com poltca partir 14 Benne La BOETIE, Discurso da Seri Voluntri, So Paulo, Brasene, 1982. 14.6 SAYDERS, feo, Clase Luta de Classes, p. 7 0 Avaliago ~ Concepdo Dillica-LibenadoralCelso dos S. Vasconcelos IIL ~ Anite do Problems ai 0 papel da ideologia burguesa é langar a todos 0 convite, a sedugio de chegar lie convencer a quem “eventualmente” no chegar (ou seja, as grandes masts) de que, se nio chegou, foi por sua prépria responsabilidade (Sou meio fraco das idéia”)." A avaliagéo, sob uma falsa aparéncia de neutralidade e de objetividade, é 0 instrumento por exceléncia de que langa méo o sistema de ensino para © controle das oportunidades educacionais e para a dissimulagdo das de- sigualdades sociais, que ela oculta sob a fantasia do dom natural e do ‘mérito individualmente conguistado.® Nao podemos, entretanto, cair no erro de considerar que a escola é a responsavel pela organizagio social; na verdade, a escola apenas reforga e realimenta toda uma organizacio jf existente ~da qual ela nfo 6 a origem nem 4 causa principal-, que tem uma base material muito concreta, Basta lembrar «da “pedagogia do cotidiano” do trabalhador: pouco tempo de descanso, ma alimentacio, Gnibus superlotado, baixos salérios, acidentes de trabalho, desem- prego, hierarquia, burocracia, etc. Hé uma base s6cio-politico-econémico-cultural dada na sociedade de clas- ses, Esta é a raiz principal do problema. A classe dominante utiliza todos os meios e insttuigdes para se reproduzir e perpetuar, inclusive a escola. A escola ajuda este processo de discriminagio social que deve necessariamente haver na sociedade capitalsta, jd que pela sua égica excludente, no & possivel que todos cheguem li (ex.: quantos Silvios Santos 0 Brasil comport?) 0 cardter politico da avaliacio se traduz concretamente na possibilidade de reprovagio do aluno. A avaliagZo niio seria este “bicho de sete cabecas”, se no hhouvesse o respaldo legal para a reprovacio"” do aluno por parte do professor. Objetivamente, no sistema educacional, a avaliagio é hoje o instrumento de controle oficial, o “selo” do sistema, o respaldo legal para a reprovagao/apro- gio, para o certificado, para o diploma, paraa matricula, etc 15, "Mio dow para os eso"; “Tenbo eabega dura; “Bu eno 0 miolo mole"; et. 16. Magda B. SOARES, in Jntroducdo a Pscoleta Escoler, p53 17 Qua o sentido dareprovago? Quando um alo devera ser repronado? Em principio, de acodo ‘com 0 discurso ofc, a reproaglo sera um snsrunenio de que dspéie a esola/pofesor para no permit © aango de um aluno sem condigies de cominuidade do estudo em graus mais eevados. No ‘ent, a reprovaio, que devera ser uma excego, acaba se tranormando em req. Poderiamos ques tonar 6 ano que esti sem candies ou a escola que ado Ihe du as condigiesnecessiras? Ver anex0 sobre reproragio. [Nota se tornou mais importante que aprendizagem _- (pata alunos, professores, pais, escola, etc:) Problema aparente = perceptivel (no que nio seja real; 6 real, s6 que nfo 6 essencial) Problema essencial Avaliagio como instrumento de discriminagio e seleco social Esquema: Problema Aparente x Problema Essencial— A partir de uma ani avaliagh ‘educacional, selegio social, de discriminagiio, de repre: passional de vinganga, de “acerto de conta". mais profunda, fiv-se, pois, essa descoberta: a escolar nfo ¢ $6 avaliaglo! De instrumento de anilise do processo ‘valiacdo tornou-se instrumento de dominacao, de controle,'* de 0, adquirindo até um caréter 3-Mediagio entre o problema Geral e o Particular a)Como se concretiza em sala de aula? Vimos que o problema da avaliago é de todo o sistema de ensino. Preci- amos, no entanto, responder a uma questo fundamental: como é que ocorre a mediagdo desse problema numa realidade espectica, como se coneretiza essa determinago geral em cada caso particular, em cada escola, em cada sala de aula? Trata-se de uma andlise dificil de ser feita, pois envolve diretamente os agentes da educagio: pais, alunos das séries mais adiantadas, diretores, coordenadores, supervisores, delegados de ensino, inspetores de alunos, e, em especial, os professores. Se no, vejamos: erd que o sistema tem “agentes” infiltrados nas escolas, de tal forma que, enquanto os educadores trabalham numa linha emancipatdria, esses agentes interferem no processo, dando énfase e colocando medo nos alunos no que se refere & waliaglo2” Seri que jl hd transmissao genética do problema, de geragao para gera- glo? Ou seri que esta distorgo acontece em cada escola, em cada sala de aula, <— 4 partir de priticas concretas com a mediagHo inclusive dos educadores, te- rnham ou nao eles consciéncia disso?” 1. "Sea gente dena le, a esol learia varia © ano nti 19, Exsiia 0 “Centro Nacional de Trenamento em Distro da Avalago"? Na verdad, todos nds podemos ser estes “agentes 20. Nao se trata de “heranga genic’, mas de heranga cura 2 Avalisdo ~ Concepgo DialcaLibenadoralCels dos S. Vasconcelos TTemos que ganhar clareza com relacio a este fato, sob pena de ficarmos ‘nos enganando e fazendo o jogo do “empurra-empurra”, tio comum na cultura brasileira (ninguém é responsivel por nada, o que um faz 6 decorréneia do que © outro faz). b)Génese ¢ desenvolvimento do problema Vejamos como se manifesta o problema na pritica da escola. No comego, 6 tudo novidade e tudo nao passa de uma brincadeira, sem maiores compl bes: 6 uma gracinha ver aqueles foquinbos de gente j fazendo provas como os mais velhos.... Muitas vezes, as eriangas fazem as provas e nem t@m nogio, no sabem que esto sendo avaliadas. Com o tempo, os pais, apreensivos em fungZo das experiéncias anteriores, passam a questionar a escola a respeito das datas das provas. Para evitar faltas nos dias de prova, passa-se a avisar a familia, que se sente toda orgulhosa de ver seu filho ja passando por esses rituals. A propria crianga quer fazer prova para se igualar ao irmao ou colega mais adiantado, sentindo-se toda importante. Os aluninbos, por curiosidade, passam 4 perguntar aos coleguinhas quanto tiraram, B assim vai... Tudo come inocentemente, que mais tarde os professores, perplexos, no conseguem en- tender o que foi que houve, pois, dessa pequena brincadeira, chega-se & grande distorgao do ensino: estudar para tirar nota e nao para aprender! c)Contradigbes do sistema educacional Para uma melhor compreensio do problema, & necessério levarmos em conta 0 contexto maior, marcado por contradigées sociais: Mudanga no quadro de valores da sociedade: crescimento da licenciosi- dade, queda da “autoridade natural” do pai, do padre, do patrio, do politico ¢ também do professor; —Diminuigo da motivago pelo estudo: desvalorizagio progressiva da es- cola enquanto instrumento de ascensio so Beiiejax cnvealar doris Cabral desinica dalla qu € pro- posto na escola ¢ a realidade da maioria dos alunos, oriundos das camadas populares; contetdos desvinculados da realidade; dda metodologia de trabalho em sala de aula: metodologia le" —Nio altera passiva, “kb IIL = Anise do Problems 3 —Situago do professor: ma formagio, baixa remuneragio, carga excessiva de trabalho; ~Situagio da escola: superlotagio das classes, falta de instalagdes e equipa- mentos, falta de projeto educativo, falta de espago de reunides pedagégicas, etc. )A participasio do professor Na andlise microestrutural, vamos nos deter no papel do professor. Sabe- mos que este percurso ¢ um tanto delicado, por envolver uma figura “acima de qualquer suspeita’, mas 0 consideramos necessétio Nesta abordagem no queremos cair na armadilha de considerar o profes- ilio (por ser 0 tinico responsavel pelo fracasso da crianga) ou vtima (por impossibilidade de fazer algo em fungio das determinagdes estru- turais). Entendemos que o professor, como qualquer agente social, esti perpas- sado por contradigh Por um lado, ele 6 a autoridade na sala de aula e, portant, goza de certa liberdade para ‘fazer 0 que quiser’; neste sentido, o professor é 0 respon- sdvel pelo sucesso ou fracasso de seus alunos. Por outro, esse ‘querer’ estd transpassado por determinantes presentes (regras estabelecidas pelo siste- ‘ma escolar, as quais deve seguir em sua pritica pedagdgica) e passados (historia pessoal e formacao profissional).” ‘A grande questio que se coloca é como vai dar conta dessa contradico, em que ditegio vai procurar a superagio. Reconhecer suas limitagbes pode parecer ‘muito ameagador para o professor, dficultando o fluxo de emergéncia da cons- ciéncia (fxacio afetiva). Isto porque Ihe falta uma perspectiva de totalidade, onde compreenderia que a filha nio é s6 dele e niio 6 s6 por causa dele. A idGia Corrente que se passa € que as coisas estio normals, sempre foram assim, atri- buindo-se a culpa As caréncias das eriangas e no ao sistema educacional Como vimos, normalmente, 0 professor percebe apenas a manifestacio mais imediata do problema da avaliagio, mas no consegue captar suas causas mais profundas. Falta-he compreender as causas determinantes desta situacdo, € especialmente sua partcipacio neste processo. ‘Vamos enfrentar um pouco esta questio: até que ponto o professor participa desta distorgiio da avaliago? até que ponto ele no ¢ o “elo” fundamental entre 21 L FRETIAS, A producto de lnorancia na Escola, 10. _ on lg - Concepie Disc! erent ds 8. Yasooellos IIL Andtise do Problema 35 Yo sistema” e o aluno? Nao se trata de Gin individualmente, nio se io € conscienie, trata de snto moral (até porque freqiientemente a aco BR what), ns sm de uma andisesocogca para compreender © papel desempenhado pelo professor. 0 problema mais crucial esté no lado do professor, inabilitado formal e oliticamente para exercer sua funcdo, ndo por culpa, mas por ser vitima dde um processo adestrador defasado e apenas reprodutivo 1H uma engrenagem social que envolve a todos, de tal forma que nao ha necessidade de se tomar posiclo pela reproducio - basta nio decidir pelo contririo ¢ lutar fortemente, Trata-se, isto sim, de procurar explicar objetiva- ‘mente como se dé o problema, No queremos dizer que os professores sio os {inicos responsiveis pelo problema da avaliagio. A determinaclo desse proble- ‘ma, como foi apontada, é mais geral (de ordem politca/econdmica). No entan- ‘o, existe um fato concreto: com maior ou menor intensidade, com maior ou menor consciencia, os professores tém colaborado para a reproducio da av liagio atual. Queremos ver em que medida os professores so envolvidos nes esquema, para que possam lutar pela sua superagio. £ claro que neste processo de distorgo os professores niio esto absolu- tamente sozinhos, contando, por exemplo, com muito apoio dos pais (que muitas yezes sfio os primeiros a chantagear ou a alerrorizar os filhos com a nota), dos diretores” ¢ supervisores (que amitde difcultam as mudangas a pritica)5 do sistema de ensino (que pode dificltar a transformacio de ‘uma escola, disseminando o medo de eventuais transferéncias e 0 que isto pode- para os alunos, favorecendo que nada mude), do vestibular (que serve de alibi para a reproduc, para o imobilismo). Se, de um lado, 0 fato de apontarmos para as responsabilidades dos educadores pode ser algo que pese, por outro, significa que efetivumente tém um poder de mudanca em mios ~limitado, mas real-, que, articulado com outras frentes de luta, pode levar a ‘uma transformagio da pritica educacional, na diregio de um ensino de melhor 22. P, DEMO, in Extudas em Avllagdo Educacional,p. 23 2, Agus pals chegam alimar: “Esta escola no pres, pois nlo prov 21,0 que o profesor recehe da esol: apoio pedigsico? No, calla: se wep 0 ao, se chegon no horrio, se ssinow leo, se preenchew correamente 0 din, ec. Como pode educar part 2 autonomia, se €submetido tempo todo ao cone, 2 desconinga? 25. f impressinant 0 edo dos educadoces em eros de eventual process que poss er ets contra ces pelos pals ea fa de apoio que podem vir ter po parte da dle de ensno Io funciona como far de resitncia 2. mudanga qualidade e mais democritico. 0 limite, se assumido conscientemente, é tam- hém forga de uma mudanga que deve ser ensaiada desde a base. —Processo de alienagio Um sério problema que afeta os educadores em geral é a distincia entre a teoria ea prética, ou, mais do que a distincia, a ndo percepcao ou a nao tematizagdo desta distincia, o que os deixa sem instrumentos de intervengiio na 4-se uma visio idealista, muito otimista, de que transformar a rea- lidade nao € tio complicado assim. Com a avaliaglo no é diferente De um modo geral, qualquer ser humano, quando julga suas atitudes no “ibunal de sua consciéncia” é absolvido, Por isto, se queremos, de fato, enfrentar o problema, temos que ir além das representagdes que os homens fazem para si mesmos; temos que ir para suas praticas, ¢ mais do isto, temos que ver como os outros percebem suas priticas, para ajudar o proceso de pela percepeao da contradic entre seu discurso e sua pritica. Neste campo hi, pois uma grande ingenuidade; é comum ouvirmos das pessoas que elas fazem 0 que desejam, ou que nao fazem o que ndo desejam. ociologicamente falando hi aqui uma ingenuidade pelo fato de nao se perc ber a determinacao da consciéneia pelas condigdes de existéncia, Esta determi- nagio, ¢ importante ressaltar, no é meciinica, nfo ¢ toda poderosa, mas pode vir a ser se 0 individuo/classe no readquire seu papel de sujeito, se no comega conscientemente a buscar assumir os seus atos ¢ as rédeas de seu destino, © mundo no esta parado, esperando que o individuo decida para onde quer ir; 0 mundo tem uma dinimica propria, dada pelo conjunto das relagies sociais; diamte dela, 0 sujeito deve se posicionar e lutar, e muito, se quer algo diferente, se deseja participar de uma perspectiva de transformacio, Tudo isto para dizer que 0 professor no faz 6 0 que deseja, ou melhor dizendo, ni faz 56 aquilo que seu horizonte imediato de conseiéncia Ihe diz, Hee participa de um processo de alienagdo imposta a todo cidado, uma vez que no domina mais nem o processo, nem 0 produto do proprio trabalho. submetido 2 hierarquia do sistema educacional. Quando chega 3 escola, jh todo um clima, todo um cenério preparado, esperando que ele desempenhe determinado papel; se ele assim o faz, tudo corre bem; se tenta muda, comeca sentir pressdes, resistét Aqui percebemos um agravante: o professor pelo fato de nao ter intengio de distorcer a avaliagio, acha que esta isento do perigo de efetivamente, pela 36 Avaliagio ~ Concepso Diatia-LiberadrsCelso dos S. Vasconcelos sua pritica, estar colaborando para isto, Se a avaliagio fosse 0 que os muitos professores dizem que é, nao haveria problema algum... Precisamos ser aju- dados a ver 0 que realmente ela 6, independente de nossa consciéncia ou vontade, A superacio dessa distincia entre concepgiio/realidade efetiva pode ser feita por um exercicio de andlise erica da pritica, tanto individual como coletivamente (com os companheiros de trabalho, bem como com os alunos). Diante deste fato, tomando consciéncia, pode se posicionar: deixar as coisas ‘como estio (afinal sempre foi assim, nao vai adiantar mesmo, uma andorinka no faz verio) ou querer construir algo novo. “4. Como 0 professor participa da distorgao do sentido da avaliagio? 0 professor participa da distorgio da avaliaglo: Num primeiro nivel: dando destaque a ela, usando-a como instrumento de pressio, de controle do comportamento dos alunos; Num nivel mais profundo: usando a avaliagio ~a reprovago— como ins- trumento de discriminagZo social: para “selecionar” os alunos que tem “capa- cidade” corre que a primeira forma de distorco s6 tem forga em funcao da segun- da, que € decisiva; se no houvesse reprovagio, o professor niio teria como pressionar o aluno com a nota... Portanto, a primeira forma de distorco é a ante-sala da segunda, que como sabemos tem sido sistematicamente utilizada pelos professores (basta ver o nacreditivel indice de 50% de reprovagio na La série do Ensino Fundamental, média nacional dos iltimos 50 anos). E por que o professor chega a isto? A nosso ver, por algumas grandes razbes: A-Por necessidade ‘)Proposta de trabalho no apropriada para os alunos. —Génese da necessidade de controle por parte do professor 0 professor tem uma tarefa a cumprir que Ihe foi atribuida pelo conjunto dda sociedade, com a mediagio da escola, e para a qual esti “habilitado ¢ 2.0 papel do profesor parece sero de Mena quem em a capactade “imanente” “natural” de spender, e evidentementeseparar os que not IML — Anise do Problema n autorizado”, na medida em que recebeu um diploma. Normalmente, esta tarefa esti definida muito mais em fungio de uma tradigZo, do que de um projeto educativo (fundamentagio pedag6gica, psicol6gica, politica, sociol6gica, filos6- fica). Em rao de sua formacio deficitria, o professor niio tem dominio de como 0 aluno se desenvoive, de como aprende, de qual o sentido ciltimo de seu trabalho. No entanto, quer cumprir sua tarefa e considera, por um lado, que ela 6 relevante (mesmo que 0 aluno nao entenda no momento) e, por outro lado, que esté bem preparado (afin, conseguiu o certficado a duras penas). Acontece que os alunos “no sabem” disto, ou seja, nfo véem significado e nem se sentem mobilizados com aquilo que o professor propde. —Redescoberta da nota como instrumento de coergio ‘Tem-se, portanto, um quadro dramético: de um lado, o professor cheio de boas intengdes, mas mal-preparado e com uma proposta equivocada; de outro Jado, o conjunto dos alunos, que nao tém consciéneia do que esto fazendo ali € nio percebem o sentido daquilo que esti acontecendo. Evidentemente, a situagio ¢ explosiva; os alunos das séries iniciais até que aceitam, mas 0 pro- blema vai se complicando nas séries seguintes. O professor se vé desorientado diante de uma turma que rejeita aquilo que tem a oferecer. Reflete, entio: 0 4 naquilo que esté oferecendo; 0 erro nao est nele; logo, o erro de estar nos alunos — que so desinteressados, sem base, dispersos, indisciplinados, cada vez mais mal-educados, irresponsveis, ete.—. Se é assim, o que pode fazer para conseguir superar a rejeicdo ¢ ter clima para desenvolver o trabalho? Neste dificil momento redescobre’” 0 recurso & coercio da nota! Passa a usar a avaliago para garantir a autoridade. Ao invés de ir fundo no problema (relagiio escola-sociedade, processo de construgio do conhecimento), toma o caminho que the parece mais ffcil ¢ eficaz: a ameaca da nota. Vai tentar reprimir as conseqiiéncias sem tocar nas causas... Na verdade, ina o problema, apenas 0 sufoca, 0 pro- fessor acha que exigindo nota, ameagando com a nota, vai levar o aluno a se interessar, a se envolver mais com as aulas. O argumento de que a av serve para “motivar” 0 aluno precisa ser bem analisado, De um lado, a avalia- Gio pode ter um sentido positivo, na medida em que o aluno tem a oportuni- dade de ver seu crescimento e assim pode se animar a continuar, Por outro 27, Pols mos jf o eran antes de Avaliagio — Concepgo Diaéice-LibenadorlCelso do S. Vasconcelos LIL ~ Anslise do Problema ” “lado, achar que 0 aluno vai estudar para nao ir mal como de fato acontece~ significa uma distorgo no sentido da avaliagao, j4 que ha uma predomindncia do medo, 0 que no é formativo. Achar que a nota é um estimulo para aprendizagem ou é ingenuidade ou € mal disfarcada defesa ideolégica de uma postura autoritéria.* ‘Trata-se de um tipico caso de confusio entre conseqiiéncia e causa. O que de fato ocorre 6 que 0 professor condiciona 0 aluno a se comporiar de deter- ‘minada maneira, sob a mira de sua “arma”. {i)Alunos condicionados 0 professor pode ainda sentir esta necessidade de usar a nota como ins- trumento de pressio a partir de uma outra situagio. £ 0 caso de quando tem uma boa proposta de trabalho, mas os alunos ja esto condicion dos pela énfase 2 nota, ou seja, s6 se mobilizam, s6 “ficam quietos”, quando io ameacados, pressionados pela nota (ex.: os préprios alunos, diante da indisciplina dos colegas, mandam: “Tira ponto, professor!”). Nesta circunstin- ia, a responsabilidade niio é daquele professor, mas de seus colegas anterio- res, que levaram 0s alunos a tal condicionamento. Se quiser mudat, o professor terii que assumir uma luta inicial até conseguir desalienar os alunos deste tipo 4 de relacio com o conhecimento e com a nota; dependendo da série, este trabalho pode ter pouquissimos resultados, tal a deformagio assimilada, B-Por ingenuidade Existe um outro caminho que pode ser trilhado na pritica da deformacio do papel da avaliaglo, Alguns educadores no sentem necessidade de utilizar 4 nota como instrumento de coerciio, seja porque ja realizaram uma mudanca substancial na sua forma de trabalho em sala de aula, seja porque niio sentem. ainda a rejeicio por parte dos alunos;® no entanto, sem se darem conta do papel autortirio que a avaliago desempenha no sistema de ensino, acabam ‘mantendo 0 mesmo esquema de énfase a avaliagio: seguem a regra, fazem 0 que a escola pede, fazem o que seus companheiros fazem (no per- ccebendo a necessidade de mudar). Faltathes a compreensio do que seria a avaliagio numa perspectiva emancipat6ria, transformadora. Dessa maneira, 28, RM. FLBURL, Revista de Educacdo ARC (60), p53. 29. Est sitago € mas comum nas sre iii. introduzem ou mantém a deformagaio no sentido da avaliagio; 0 professor no decidiu dar énfuse A waliaglo, fazer uso autoritério da avaliagio, mas fz Apesar de terem origem num “autoritarismo ingénuo”, os resultados na forma- fo do aluno sto também funestos No ntimo, o educador sente que ndo era bem isto que gostaria de fazer, ‘mas, afinal, “o caminho deve ser este, jé que é tio comum entre os colegas”. Procura, entio, uma justficativa para tal atitude e a encontra no “sistema”, Quando nao, afirma laconicamente: “a avaliagio é um mal necessétio!”. Por convicgio Por achar que a vida 6 cheia de momentos de te ‘que propiciar * e que a escola tem stes momentos para preparar para vida. Nesta linha, um dos argumentos mais fortes costuma ser “preparacao para o Vestibular”: 0 aluno tem que se acostumar ao clima de tenstio do vestibular; o tipo de avaiagio que 6 vestibular exige tem que ser dado pela escola. Nao se percebe que se prepara ‘muito melhor para o vestibular investindo-se na formagao integral do educando. Por outro lado, entende-se que ha a necessidade de se fazer uma selegao social; “nem todos tém condigoes de prosseguirt” Caberia 4 escola, e em part- cular ao professor, identficar estes inaptos. Criam-se mitos para justficar a nota baiva, a reprovacio: falta de capital cultural, desnutrico, dificuldades lingisticas, defici€ncias fisicas ¢ mentais, problemas fonoaudiol6gicos, dificuldades psicomotoras, falta de interesse e estimulo das familias, etc Como afirmava Paulo Freire, uma das coisas que a academia (e a socieda- de) ensina a0 professor 6 detestar 0 cheiro do pobre, consideri-lo incompe- lente incapaz, indolent por natureza. Ora, a edueagZo tem como fundamento ilidade de mudanca do outro; se nao ha esta @peranga por parte do professor, como pode educar? (vejam-se as “profecias auto-realizantes” de fracasso). 0 professor mal formado, mal remunerado, desvalorizado socialmente, descarrega suas mégoas em quem esti mais proximo: os “seus” alunos, em especial naqueles que “nido vo bem’, O problema estéjustamente aqui, pois 530, GL JM, Monaca PINHEIRO, 4 Neuose da Aalago, In fora! da Educa. Lisbon, an VL, 72, dex 1983, p28 51, Mais frente analisaemos este agent, 52, Aguns chegam a afirmar eaegoricamente que o homem 6 produ algo na base da presso 40 Avaliagdo ~ Conceppo Dialéice-Liberador/Celso os S, Vasconcelos IIL Andlse do Problema a 0 “amor”, a “atengio”, a “dedicagio”, 0 “respeito” que dispensa a outros educandos serve de Alibi para mascarar seu desprezo, seu preconceito para ‘com estes que considera “perdidos”. Ora, justamente estes é que precisam de sua ajuda; sabemos que muitos alunos ~das classes mais abastadas especial- mente— desenvolvem-se “apesar da escola’, ou seja, no precisam essencial- ‘mente da escola para seu crescimento intelectual. D-Por comodidade 0 professor pode distorcer a avaliago por ndo querer “sama para se cocar”: “niio vamos inventar moda”; ao se querer muda, haverd necessidade de se mexer com muita coisa, o que vai dar muito trabalho e, afinal, “ew nio ganho para isto”. E-Por pressio Neste caso, jd se iniciou uma tomada de consciéncia por parte do professor, ‘mas esté sendo cobrado pela insiticao ou pelos colegas a fazer a avaliagio de ccunho tradicional, Pode ainda sentir-se pressionado pelo vestibular, pelos pais (ou afé pelos alunos. Esta, normalmente, é uma situagio transit6ria: ou sujeito muda 0 grupo, ou muda de grupo ~Conelusio Por tudo isto, a aula passa a girar nao em torno da preocupagao com a formagao e construgio do conhecimento do aluno, mas sim em torno da preo- cupagio com a avaliagio: “Olhem, prestem atenco, ito vai cair na prova’ Os professores costumam reclamar que 0s alunos s6 pensam em nota, mas esque- ccem-se que a prépria escola, que eles mesmos formaram aluno assim... A pritica da avaliagdo escolar chega a um grant assustador de pressio sobre 6s alunos, levando a distrbios fisicos e emocionais: mal-estar, dor de cabeca, “branco”, tensfio, medo, angistia, insOnia, pesadelo, vergonha, transpiracio, enjo, ansiedade, diurese, nervoso, confusio, esquecimento, preocupa na barriga”, decepgao, introjegao de auto-imagem negatia, etc. Uma escola que precisa recorrer & pressio da nota logo nas série inicais, 6,certamente, uma triste escola e no esta educando; & uma escola fracassada. 35. Para perecer melhor «presso que © alao sete, o proesior dv lembrar da press gue see quando cho fim do ano, na escola pare, eo dire wai decd sabre sta “aproralo” on “eprovaco Nossa énfase 40 papel do professor, insistimos, ndo vem do fato de consi- deré-lo o grande responsavel, mas da perspectiva de que possa haver 0 cres- cimento do grau de consciéncia e o assumir do seu papel de agente hist6rico de transforma (articulado a outras frentes de luta), €)Localizagio do problema da Avaliaglo no campo Pedagégico 0 problema da avaliagio é complexo, pois tem um duplo rebatimento, uma dupla ocultacio, havendo uma particular dificuldade na captaglo da sua essén- , pois € muito comum aqui confundir-se conseqtiéncia com causa, Primeiro, Pa problema téenico, quando na verdade é antes de tudo, ‘problema politico; segundo, aparece como causa de outros problemas pedagé- gicos, quando é, na verdade, disso, conseqiiéncia do problema da inadequacao ‘metodolégica em sala de aula. Esvariada de sua uilizagio autoritéria (uso politico), a avaliagdo ndio chega a ser um problema to dificil de ser equacionado do ponto de vista pedag6gico; neste sentido, nos parece, a alteracdo dologia de trabalho em sala de aula é muito mais dificil ¢ important alieragiio da ave (sem perder de vista a miitua influéncia). Como vimos, 0 USO da avaliagdo como forma de pressio decorre da tentativa de contornar © problema disciplinar em sala de aula, que por sua vez € decorréncia da inadequacio da proposta de trabalho do professor e da escola. Assim, o prin- cipal problema da educagio escolar, enquanto enfoque microestrutural, se encontra muito mais na metodologia de trabalho que na avaliagio, ‘remota forma de estrturaglo do sistema que confere ao professor escola o poder dejulgar(reprovar) ——"_préxima:inadequagioda propostadetrabalhoem sala de aula (conteido ‘e metodologia) Manifestago Inicial: rejeigdo por parte dos alunos; desinteress: indisciplina ‘Tentativa de solugio:ameaga através da nota (mais ou menos conscientemente) Resultado: acetacdo, interessee disipling aparentes Problema decorrente : _ elevados indices de reprovago,o que levaaidependéncia do luno com relagdo nota Tnversio da Avaliag: Meio > Fim ~Esquema: Desenvolvimento do Problema

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