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®Detalhe modificado de fotografia de Nazareno José de Campos (2012)

POPULAÇÃO
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
POPULAÇÃO | Fascículo 3

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA


P A R A N Á

Garuva

D O Campo
Alegre
Itapoá

A T L Â N T I C O
Três Barras
Mafra

E S T A D O Canoinhas Joinville
São
São

AR GENTINA
Irineópolis Francisco do
Bento do
Sul
Sul
Dionísio
Cerqueira
Palma Porto União Schroeder
Guarujá Sola Jupiá
do Sul Major Vieira
Campo Rio Negrinho Corupá Balneário
Princesa São Lourenço Galvão Bela
Erê Itaiópolis Barra
do Oeste Vista Araquari do Sul
São José Papanduva Jaraguá Guaramirim
do Cedro São Novo Matos Costa do Toldo do Sul
Santa Bernardino Horizonte São
Coronel
Anchieta Terezinha Domingos Abelardo Timbó Grande
Martins Calmon
do Progresso Luz São
Saltinho Santa João do
Guaraciaba Monte Castelo Rio dos
Terezinha Itaperiú
Cedros
Paraíso Passos Doutor Massaranduba
Romelândia Tigrinhos Serra Irati Santiago do Maia Pedrinho Barra
Formosa Sul Ipuaçu
São Alta Velha
Barra Sul do Sul Água Doce
Ouro

REPÚB LICA
Miguel da Entre Bom
Bom Jesus Brasil
São Miguel Bonita Boa Vista
do Oeste Jardinópolis Quilombo Rios Jesus Verde
Vargeão Pomerode Luiz Alves
do Oeste Macieira Caçador Vitor Balneário
Flor do Maravilha Modelo Meireles Piçarras
União Lebon Régis Benedito
Sertão do Oeste José Boiteux Timbó
Bandeirante Novo
Pinhalzinho Faxinal Penha
Marema Ponte Santa Cecília Rio do Campo Blumenau Navegantes
Iraceminha dos Guedes
Águas Serrada
Belmonte Cunha Coronel Xanxerê Vargem Salto Ilhota
Frias Lajeado Rio das
Porã Saudades Nova Freitas Bonita Veloso Arroio Rodeio
Grande Antas
Santa Descanso Erechim Trinta Witmarsum Gaspar
Riqueza Treze Balneário
Helena Nova
Cordilheira Xaxim Lindóia Tílias Salete Camboriú
Cunhataí Itaberaba Iomerê Ascurra Itajaí
Alta do Sul Dona Emma
Tunápolis Iporã do Videira Indaial
Oeste São Xavantina Irani Ibirama
Caibi Ipumirim Pinheiro Fraiburgo
Carlos Águas de Planalto Preto Presidente
Catanduvas
Chapecó Alegre Arvoredo Luzerna Taió Getúlio
Ibicaré Camboriú
São João Palmitos Guabiruba
Mondaí Guatambú Ponte Alta Itapema
Itapiranga do Oeste Caxambu Chapecó Arabutã Jaborá
Apiúna
Seara Joaçaba Tangará Frei Rogério do Norte
do Sul Rio do Oeste Rio do Sul
Ibiam Brusque Porto
Herval Monte
d'Oeste Carlo Lontras Belo Bombinhas
Presidente Laurentino
Paial Mirim Doce Botuverá
Concórdia Castello
Itá Lacerdópolis Canelinha
Branco Tijucas
São
Ouro Erval Velho Pouso
Curitibanos Cristovão do Presidente
Brunópolis Redondo Trombudo
Sul Nova
Central Nereu
Aurora Trento São João
Peritiba Ipira
Ponte Alta Braço do Batista Governador
Trombudo Agronômica Vidal Celso
Alto Bela Capinzal Campos Novos Ramos Leoberto Ramos
Vista Vargem Atalanta Leal
Piratuba Ituporanga Major Biguaçu
Agrolândia Gercino
E S T A D O D O
Zortéa
São
José do
Otacílio Petrolândia Imbuia Antônio
Carlos
Cerrito Costa
Abdon Batista
Angelina

R I Palmeira
Chapadão
do Lageado
São Pedro
de Alcântara
São José Florianópolis

O Correia Pinto
Celso Ramos
Bocaina Alfredo
Cerro do Sul Rancho
Bom Retiro Wagner
Negro Queimado
Campo Santo Amaro

G
Anita Belo da Imperatriz
Águas Palhoça
Garibaldi do Sul

R
Mornas

A Anitápolis

N
Rio Rufino
São

D Painel Bonifácio

E Urupema Santa Rosa


de Lima
Paulo
Lopes
Lages
Capão Alto
Urubici
Rio Garopaba
Fortuna

Grão São

D Pará Martinho

Imbituba
Braço do
Armazém Imaruí

O
Bom Norte
Jardim Orleans
São Joaquim

N O
da Serra

São
Ludgero Gravatal
Lauro

SANTA CATARINA Muller Pescaria


Brava

ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO 2019 Capivari

S Urussanga Pedras de Baixo


Tubarão
U L
Treviso Grandes Laguna

E A
Treze
Siderópolis Cocal de Maio

Total de Habitantes Morro Nova Criciúma


do Sul
Morro da
Fumaça
Sangão
Grande Jaguaruna
Veneza
590.466

O C
3
Timbé do Sul Içara
Forquilhinha

Balneário
Meleiro Rincão
Maracajá

236.000 Turvo

Araranguá
Jacinto
Ermo
Machado Balneário
Arroio do

110.000 Sombrio
Silva

®
Santa
Praia Rosa do
50.000 Grande Sul Balneário

EDITORA
Gaivota
São João
do Sul

Passo de
Torres
1.260 0 4,5 9
Escala Gráfica
18 27 36
km
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Fonte: IBGE - Estimativas de População 2019
Estudantes entrando na escola, muncípio de Imbuia (2018).
®Detalhe modificado de fotografia de Giselli Ventura de Jesus.

Estudantes em aula na universidade, muncípio de Florianópolis (2018).


®Detalhe modificado de fotografia de Isa de Oliveira Rocha.
Diretoria de Desenvolvimento Urbano
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável

POPULAÇÃO | Fascículo 3
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável
Diretoria de Desenvolvimento Urbano

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA


POPULAÇÃO | Fascículo 3
Isa de Oliveira Rocha (Organizadora)

2ª Edição

EDITORA

Florianópolis, 2019
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
POPULAÇÃO | Fascículo 3

Apresentação
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA REITOR


CARLOS MOISÉS DA SILVA PROF. DR. MARCUS TOMASI

SECRETÁRIO DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO VICE-REITOR


ECONÔMICO SUSTENTÁVEL PROF. ME. LEANDRO ZVIRTES
LUCAS ESMERALDINO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO
SECRETÁRIO ADJUNTO DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO Diretora Geral – Profa. Dra. Julice Dias
ECONÔMICO SUSTENTÁVEL
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
AMANDIO JOÃO DA SILVA JÚNIOR Chefe – Prof. Dr. Jairo Valdati
Subchefe – Prof. Dr. André Souza Martinello
DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO

C
Norton Flores Boppré PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO
TERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL om muita satisfação apresentamos nais e estaduais de fácil visualização e inter-
GERENTE DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL Coordenadora – Profa. Dra. Gláucia de Oliveira Assis a publicação da segunda edição do pretação, subsídio de extrema importância
Jorge Hector Rebollo Squera Subcoordenador – Prof. Dr. Douglas Ladik Antunes Fascículo 3 – População do Atlas para as tomadas de decisões do setor produ-
Termo de convênio de cooperação técnico-científica celebrado entre a Geográfico de Santa Catarina. Obra que trata tivo e governamental, além de oferecer
COORDENADOR DE INFORMAÇÕES E
GEORREFERENCIAMENTO
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e a Secretaria de Estado do da diversidade do povo catarinense, desde conteúdo muito completo para a educação
Planejamento de Santa Catarina – SPG/SC (Diário Oficial do Estado nº 20.564, de
Thobias Leôncio Rotta Furlanetti 30 de junho de 2017).
suas origens, é resultado da parceria entre escolar, acadêmica e demais interessados.
a Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Equipe Técnica Econômico Sustentável e a UDESC, contando Além da pujança econômica, o nosso Estado
Isa de Oliveira Rocha (Org. UDESC) com a contribuição voluntária de pesquisa- de Santa Catarina é referência nacional na
Agradecimentos
Marco Aurélio Leite dores e especialistas que desenvolveram valorização da cultura e das tradições de
Pedro Agripino Sagaz Ao Professor Dr. Armen Mamigonian pela contínua colaboração. A Santa Catarina aprofundados estudos sobre o tema. sua receptiva e laboriosa gente. Tudo isso
Sergio Machado Mibielli Turismo – SANTUR pela disponibilização de fotografias. A Editora UDESC
e aos Laboratórios de Planejamento Urbano e Regional – LABPLAN e de é reflexo do processo de formação do povo
Thobias Leôncio Rotta Furlanetti Geoprocessamento – GEOLAB da UDESC pelos diversos apoios. Destaca-se que a obra expõe a riqueza da catarinense, que é um amálgama de força,

População
nossa população em muitos mapas, fotogra- empreendedorismo e perseverança das
Estagiários de Geografia
Guilherme Regis In memoriam fias, dados históricos, análises e projeções várias etnias que aqui se perpetuaram ao
Gislene Daiana Martins (2018) populacionais para 2050. O Atlas também longo do tempo e hoje compõem o tesouro
Professora Dra. Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira (1946-2018), geógrafa e
intelectual brilhante, mulher ativa e lutadora. O primeiro capítulo deste Fascículo disponibiliza informações municipais, regio- mais valioso que temos.
Estagiário de Estatística 3 foi seu último trabalho.
Renato Ramos Razera (2018)

Carlos Moisés da Silva


Apoio
Governador do Estado de Santa Catarina
Jurema Lorenzini
S231a Santa Catarina. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável.
Sérgio Maurílio dos Santos Diretoria de Desenvolvimento Urbano.
Cristina Mara Couldrey Atlas geográfico de Santa Catarina : população – fascículo 3. 2. ed. / Santa
Catarina. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável. Diretoria
de Desenvolvimento Urbano ; Isa de Oliveira Rocha (Org.) – Florianópolis: Ed. da
UDESC.
176 p. : il.
Projeto gráfico
Heloisa de Oliveira Ganzo Vieira Inclui referências.
ISBN Impresso: 978-85-8302-174-2
ISBN E-book: 978-85-8302-175-9
Editoração
1. Santa Catarina - atlas geográfico. 2. Santa Catarina - mapas. I. Rocha, Isa de
Cheila Pinnow Zorzan
Oliveira. II. Título.

Tiragem: 5.000 exemplares CDD: 912.8164 – 20. ed.


Capa em papel Triplex 250g
Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Alice de Amorim Borges Vazquez – CRB 14/865
e miolo em papel Couche 170g Biblioteca Central da UDESC

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 5


Prefácio

B
asta olhar no cotidiano, no detalhe e miscigenação e memória multiétnica, eviden-
ao redor. Prédios, praças e lugares são ciando a nossa indivisível constituição.
marcos geográficos, mas, sobretudo,
afetivos da nossa Santa ‘e Bela’ Catarina. Mais do que construções, somos catari-
nenses dotados de significados, símbolos
A gente se vê em cada contexto, situação e e ideias e a Udesc – parceira da SDE, neste
movimento. Diversas matizes, multiplicidades, movimento – soube expressar com compe-
contrastes, raízes e rumos e, de repente, reco- tência e sensibilidade, as nuances da compo-
nhecemo-nos: somos um; nativos ou não, com sição do nosso tecido social.
alma e jeito catarinense!
Santa Catarina é isto: sinônimo de vidas,
Neste sentido, ao apresentarmos o Fascí- relações e regionalismos, símbolo que
culo 3, intitulado População, do novo Atlas consegue exprimir na racionalidade geomé-
Geográfico de Santa Catarina (as edições trica ou geográfica, um emaranhado de exis-

População
anteriores discorreram sobre o Estado e tências humanas, contemplando percursos
Território, bem como Diversidade da Natu- do passado, caminhos do presente sem
reza, respectivamente) temos a oportu- deixar de desenhar o nosso futuro.
nidade de reconhecer e celebrar nossas
origens, migrações, narrativas e consti- O Atlas, que passa a ser disponibilizado
tuição plural – do indígena, do caboclo, do na versão impressa e online para escolas,
europeu, do açoriano e do africano. bibliotecas e demais interessados, ressalta
que somos todos parte desta urbe, somos
Este documento traz portanto não apenas catarinenses em permanente sinergia,
documentos, registros e mapas mas, espe- formação e reinvenção.
cialmente, representa um pouco da nossa

Lucas Esmeraldino
Secretário de Estado do Desenvolvimento
Econômico Sustentável

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 7


Prefácio Sumário

Introdução............................................................................................................................................................................ 11

Localização........................................................................................................................................................................... 13

Capítulo 1 | Gênese da Formação Econômica e Social........................................................................... 16


Gênese da formação econômica e social................................................................................................................................. 19
Santa Catarina e a singularidade da formação meridional brasileira........................................................................................ 20
A particularidade do relevo de Santa Catarina frente aos estados vizinhos.............................................................................. 21

O
Conquista e colonização de Santa Catarina............................................................................................................................. 22
distanciamento de uma visão Francesa”), Ratzel (“Antropogeografia”), O Terceiro Fascículo (População) do Atlas
Considerações finais............................................................................................................................................................... 31
autárquica, ideográfica e funcio- La Blache (“Princípios de Geografia Geográfico de Santa Catarina faz jus ao
Referências.............................................................................................................................................................................. 32
nalista da realidade catarinense Humana”) a Brunhes (“Geografia Humana”). destaque de importante contribuição aos
requer a adoção da Geografia enquanto Contudo, apenas nos anos de 1950, Pierre estudos sobre a população do Estado de
Capítulo 2 | Povos Indígenas.................................................................................................................... 34
uma interrogação permanente do mundo George introduziu o termo Geografia Santa Catarina, dando continuidade ao
Povos Indígenas...................................................................................................................................................................... 39
(Pierre Monbeig), capaz de descrever e da População na literatura corrente e G. valoroso trabalho na área efetivado pelo
Antes de Santa Catarina.......................................................................................................................................................... 39
explicar a gênese, a evolução e a estru- Trewarta propôs o desenvolvimento de eminente geógrafo da geração dos anos
Narrativas indígenas sobre o território.................................................................................................................................... 41
tura das formações sociais presentes em uma disciplina individualizada denomi- de 1950 Carlos Augusto de Figueiredo
Dos territórios tradicionais às terras tradicionalmente ocupadas ........................................................................................... 43
Santa Catarina. Aqui a compreensão das nada Geografia da População. Trabalhos Monteiro, presente no Atlas Geográfico
A tutela perversa..................................................................................................................................................................... 45
leis específicas da população é um dos que, por certo, serviram de inspiração de Santa Catarina de 1958, publicação
Movimento indígena e direitos contemporâneos.................................................................................................................... 47
elementos-chave para compreensão da na realização de importantes estudos no pioneira entre os estados brasileiros, cuja
Referências ............................................................................................................................................................................. 49
complexidade e diversidade territorial, Brasil pela notável geração de geógrafos idealização e concretização deve muito ao
objeto de estudo da Geografia da Popu- dos anos de 1950, formada por Aziz geógrafo catarinense Carlos Büchele Júnior.
Capítulo 3 | Povoamento Vicentista e Açoriano-madeirense.................................................................. 50
População

lação, formada pela intersecção entre a Ab’Saber, laureado com o título de Doutor
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense........................................................................................................................ 55

População
Geografia, Demografia e as demais áreas Honoris Causa da Udesc, Carlos Augusto A nova versão do Atlas Geográfico de
Presença vicentista: primeira tentativa efetiva de ocupação do território ............................................................................... 56
do conhecimento. de Figueiredo Monteiro, Manoel Correia Santa Catarina (Fascículo 3 – População)
Inserção da área litorânea catarinense ao mercantilismo luso................................................................................................. 57
de Andrade, Armen Mamigonian, Milton é respeitável fonte de dados e informações
Povoamento açoriano-madeirense enquanto parte do processo............................................................................................. 58
Grandes estudiosos priorizaram a temá- Santos e o florianopolitano Victor Antônio aos estudos sobre o envolver da história de
Forte economia inicial seguida de gradual decadência econômica.......................................................................................... 58
tica populacional no contexto dos estudos Peluso Júnior, o maior nome da Geografia Santa Catarina e reflete o papel e o valor
Do “Amarelo Indolente” ao Açoriano Descendente: uma identidade para o litoral................................................................. 61
geográficos no final do século XIX e início de Santa Catarina, autor de relevantes das pesquisas realizadas no ensino supe-
Etnização, espetacularização e mercantilização da açorianidade............................................................................................. 64
do XX, desde Lavasseur (“A População trabalhos sobre a população catarinense. rior brasileiro, a exemplo da Udesc e Ufsc.
A temática cultural açoriana e sua inserção na Educação Escolar Catarinense ........................................................................ 65
Considerações finais............................................................................................................................................................... 67
Referências ............................................................................................................................................................................. 68
Marcus Tomasi
Reitor da Udesc 2016-2020 Capítulo 4 | População de Origem Africana............................................................................................ 70
População de origem africana ................................................................................................................................................ 79
Referências.............................................................................................................................................................................. 88

Capítulo 5 | A Presença da População Cabocla....................................................................................... 90


A presença da população cabocla........................................................................................................................................... 95
População cabocla................................................................................................................................................................... 95
A Guerra do Contestado......................................................................................................................................................... 95
Os remanescentes de Taquaruçu............................................................................................................................................ 95
Comunidade Cafuza................................................................................................................................................................ 97
Considerações finais............................................................................................................................................................. 100
Referências............................................................................................................................................................................ 101

8 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 9


Capítulo 6 | Colonização Europeia ........................................................................................................ 102
Colonização europeia ........................................................................................................................................................... 107
Introdução
O processo de colonização................................................................................................................................................... 107
Primeiro Reinado (1822-1831).............................................................................................................................................. 107

E
Período Regencial (1831-1840)............................................................................................................................................. 108
m 2013, após um longo período de Catarina. Autores de diferentes instituições tempo foi invisibilizado no contexto multicul-
Segundo Reinado (1840-1889).............................................................................................................................................. 108
intentos, a Secretaria de Estado do contribuiram voluntariamente na redação dos tural e multiétnico catarinense. Atualmente,
Primeira República (1889-1930............................................................................................................................................. 115
Planejamento de Santa Catarina – nove capítulos. a população cabocla conquistou seu reconhe-
Outros casos após anos 1930............................................................................................................................................... 118
SPG/SC, por meio da Diretoria de Estatística cimento, mas em muitos casos ainda vive sob
Referências............................................................................................................................................................................ 122
e Cartografia, iniciou a publicação de um O processo de conquista e colonização condições de margilidade social, com dificul-
novo Atlas Geográfico de Santa Catarina, na do estado de Santa Catarina – gênese da dades de acesso a políticas públicas.
Capítulo 7 | Migrações Internas e Internacionais Recentes.................................................................. 124
forma de fascículos avulsos, para agilizar o formação econômica e social catarinense –
Migrações internas e internacionais recentes........................................................................................................................ 127
manuseio e a necessária atualização dos desde meados do século XVII até as primeiras O Capítulo VI – A Colonização Europeia
Migrações internas................................................................................................................................................................ 128
dados e informações. O formato do território décadas do século XX, é desenvolvido no Capí- desenvolvido por João Klug, Manoel Teixeira
Os imigrantes internacionais dos anos 1960-1970 ............................................................................................................... 131
catarinense e a quantidade de municípios tulo I – Gênese da Formação Econômica e Social dos Santos e Angela Bernadete Lima apre-
Os emigrantes catarinenses do final do século XX e início do século XXI.............................................................................. 136
com pequenas áreas foram determinantes de Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira senta o processo de colonização do território
Considerações finais............................................................................................................................................................. 138
na escolha das escalas dos mapas temáticos (in memoriam, 1946-2018) e Maria Graciana estadual a partir do período do Primeiro
Referências............................................................................................................................................................................ 140
e no tamanho do Atlas, pois além do prático Espellet de Deus Vieira. As autoras decifram a Reinado, na primeira metade do século XIX,
manuseio, é preciso ser facilmente legível. realidade geográfica – no espaço e no tempo até meados do século XX. O estudo abarca as
Capítulo 8 | Características Gerais da População (1950-2050)............................................................. 142
– a partir da interconexão da complexidade linhas gerais desta ocupação majoritária em
Características gerais da população (1950-2050).................................................................................................................. 151
Na organização dos fascículos e dos seus da natureza e da sociedade, conforme a visão pequenas propriedades e também descor-
Crescimento e distribuição espacial da população................................................................................................................ 151
capítulos buscou-se aplicar os pressupostos interpretativa de Armen Mamigonian (1999). tina detalhes até então desconhecidos.
Indicadores demográficos e população por grupos de idade................................................................................................. 156
dos paradigmas geográficos Geossistema
Projeções populacionais (2015-2050)................................................................................................................................... 159 O Capítulo VII – Migrações Internas e Inter-
(C. A. Figueiredo Monteiro) e Formação O Capítulo II – Povos Indígenas de autoria de
Referências............................................................................................................................................................................ 161 nacionais Recentes, de autoria de Gláucia de
Sócio-Espacial (M. Santos). Isto é, enseja- Luisa Tombini Wittmann e Clovis Antonio
-se abarcar a realidade geográfica do estado Brighenti trata sobre as populações indígenas Oliveira Assis, Francisco Canella, Maria das
Capítulo 9 | Perfil Sociodemográfico e Econômico da População (1991-2015)................................... 162 Graças Santos Luiz Brightwell (in memoriam,
de Santa Catarina a partir de uma visão de que ocupam o atual território catarinense,
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)......................................................................................... 165
População

totalidade (Natureza e Sociedade e suas descendentes de antigos grupos, atual- 1967-2018) e Luís Felipe Aires Magalhães,

População
Características econômicas e ocupacionais........................................................................................................................... 165
inter-relações), conforme propõe Armen mente conhecidos como Guarani, Kaingang traça um panorama das migrações internas e
Analfabetismo e escolaridade ............................................................................................................................................... 168
Mamigonian no texto Tendências atuais da e Xokleng. Estes três povos indígenas que internacionais da segunda metade do século
Perfil da nupcialidade e da família catarinense...................................................................................................................... 169
Geografia (Revista Geosul, n. 28, 1999). compõem o cenário cultural em Santa Cata- XX e início do século XXI a partir de fontes
Evolução e distribuição da população por religião................................................................................................................. 172
rina vivem predominantemente e respectiva- diversas, até então dispersas.
Desenvolvimento humano e vulnerabilidade social............................................................................................................... 172 O Fascículo 1 – Estado e Território, lançado mente no litoral, no oeste e no Vale do Itajaí.
em setembro de 2013, apresenta a gênese Rosana Baeninger e Pier Francesco De
e a evolução da divisão político-adminis- O Povoamento Vicentista e Açoriano-Madei- Maria são os autores do Capítulo VIII
trativa do território de Santa Catarina. Na rense, título do Capítulo III, foi elaborado por – Características Gerais da População
sequencia, em 2014, o Fascículo 2 – Diver- Nazareno José de Campos, Marcela Krüger (1950-2050) e Capítulo IX – Perfil Socio-
sidade da Natureza disponibiliza mapas Corrêa e Leila Procópia do Nascimento. O demográfico e Econômico da População.
e textos sobre os aspectos físico-naturais conteúdo apresenta as principais caracterís- Os capítulos analisam respectivamente
catarinenses. Em 2016 a Secretaria de ticas e heranças da corrente de povoamento as características gerais da população
Estado do Planejamento de Santa Cata- de origem lusa no litoral de Santa Catarina. catarinense, sua evolução nos últimos
rina disponibilizou no formato e-Book a 70 anos e as projeções até 2050, e como
segunda edição atualizada dos Fascículos O Capítulo IV – População de Origem Afri- esta população mudou ao longo do tempo,
1 e 2 . O Fascículo 3 – População, lançado cana de Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego com relação à cor, religião, escolaridade,
em 2018, tem sua segunda edição em Nones Bissigo analisa a população afrodes- ocupação, pendularidade etc.
2019, apoiada pela Secretaria de Estado do cendente catarinense ao longo do tempo e
Desenvolvimento Econômico Sustentável. do espaço. A sistematização das pesquisas Os mapas temáticos dos capítulos, confeccio-
de dados e informações detalhadas permitiu nados em distintos programas de geopro-
Notas sobre o Fascículo a elaboração de mapas inéditos que demons- cessamento, apresentam diversas escalas e
3 – População tram a contribuição da presença dos afro- bases cartográficas, determinadas conforme
descendentes na história da formação social a necessidade do nível de detalhamento
A presente segunda edição do Fascículo 3 – e econômica de Santa Catarina. ou generalização dos assuntos tratados. A
População, com atualizações, expõe mapas e contracapa e todos os capítulos foram ilus-
textos com dados, informações e análises, do Pedro Martins e Tania Welter expõem no trados com várias fotografias cedidas por
passado ao presente, sobre a complexidade da Capítulo V – A Presença da População Cabocla fotógrafos amadores e profissionais, algumas
formação social do território estadual de Santa a trajetória deste grupo, que por muito são do acervo de instituições.

10 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 11


Localização

O
estado de Santa Catarina, situado no Sul do Brasil, entre
os paralelos 25°57’18” e 29°21’07” de latitude Sul e entre
os meridianos 48°19’37” e 53°50’12” de longitude Oeste,
limita-se ao Norte com o estado do Paraná, ao Sul com o estado do
Rio Grande do Sul, a Leste com o Oceano Atlântico e a Oeste com a
República Argentina.

Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, respectivamente


formam a Região Sul. Com 95.703,487km², ocupando 1,12% da
área territorial brasileira e 16,97% da área total da Região Sul,
Santa Catarina apresenta área maior que a de alguns países como
Áustria, Irlanda, Portugal, entre outros.

Localização do Estado de Santa Catarina


População

População
12 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 13
População

População
ESTADO DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE ESTADO DO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL

MAPA POLÍTICO 2019

14 15
Garuva

Três
(
!
Barras Mafra

!
(
Itapoá
(
! (
!
Canoinhas
Campo

Porto
União
Irineópolis
!
( Rio
Negrinho
São Bento
do Sul
(
!
Alegre
São
Francisco
Dionísio Bela Vista
(
!
!
do Sul

(
!
Cerqueira (
!
(
!
do Toldo (
! ( Joinville
!
(
Guarujá
do Sul
(
!
Palma
Sola
Campo
Erê (
!
São Lourenço
do Oeste

Jupiá (
!
Major
Vieira

Papanduva
(
!
Itaiópolis
!
( Araquari

(
! (
! (
!
Schroeder (
!
São José
Novo
Matos
Monte (
! Corupá
(
!
Balneário
Barra
Princesa do Cedro São Horizonte Galvão
Costa
Castelo
(
! Jaraguá
do Sul
(
! (
!
Bernardino
(
! ( Coronel
! (
! (
! do Sul Guaramirim
(
! Martins (
! (
! (
!
São
Anchieta (
! Domingos
Abelardo
Luz
(
! Santa (
! (
! Calmon Timbó
Guaraciaba Terezinha do Grande São João do
Progresso Saltinho
Formosa
Santiago
Ipuaçu (
! (
!
Massaranduba
Itaperiú Barra
Paraíso
(
! Barra
(
! (
! do Sul
do Sul
(
! (
! (
! Velha
(
! Bonita Irati
(
! (
! Ouro
(
!
(
! Romelândia Bom Jesus
do Oeste (
! Entre Verde Doutor Luiz
São Miguel
do Oeste
( !
! ( ( !
! (
Serra
Alta
Sul Jardinópolis Quilombo Rios
Bom
Jesus (
! Pedrinho Rio dos Alves
São Miguel Tigrinhos
Brasil
!
( (
! (
! (
! Passos Santa (
! Benedito
Cedros Pomerode
(
! Balneário
!
( (
! (
!

Capítulo I
Caçador
Bandeirante (
! da Boa Vista Maia Terezinha Novo (
! Piçarras

(
! (
!
Flor do
(
!
Maravilha
Modelo
(
!
Pinhalzinho
( União
! Oeste
do

(
!
Marema
Lajeado Faxinal
(
!
Ponte Macieira
!
( (
! (
! Timbó
(!
! ( Penha
Belmonte
(
! Sertão
(
!
Águas Grande dos Guedes
Serrada
(
! Rio das
Vitor (
!
(
! Cunha (
! Nova Frias
(
! Xanxerê
(
! ( Vargeão !
! Salto Meireles

!
(
Iraceminha
Descanso Porã Erechim
(
!
Coronel
( Veloso
Arroio
Antas
Lebon (
!
Indaial
Blumenau Ilhota Navegantes

!
( (!
(
Freitas
(
!
!
Nova Rio do
(
!
!
(
Witmarsum
(
! (
! Régis Rodeio

Gênese da
Santa Saudades Itaberaba (
! Trinta
(
!
Santa Campo
(
!
José
(
!
Gaspar
(
!
Helena
!
( Iporã do Cunhataí
(
! (
!
( !
(
Cordilheira
Alta
Xaxim
Vargem Água
Doce
Treze
Tílias
(
!
(
!
Cecília
(
! Salete
(
!
Dona
Emma
Boiteux
(
! ! Ascurra
( !
( Itajaí Balneário

!
(
Iomerê
(
! Oeste
(
! ! Bonita Videira
(
! Camboriú
Tunápolis (
!
Águas de Planalto
Xavantina
Lindóia
do Sul
Ipumirim
(
!
Irani
(
! (
!
Catanduvas
(
! !
( !
(
( Pinheiro
!
(
!
Fraiburgo

(
!
Presidente
Getúlio
Ibirama
Apiúna
(
! !
(
São João
Riqueza Palmitos Chapecó Alegre Arvoredo
(
! (
! (
! Ibicaré Preto (
! Guabiruba Camboriú
(
! Chapecó
(
! (
!
Mondaí!
( (! Caibi !
( !!
(
!
(
São
(
!
(
!
( (
!
do Oeste Taió
(
! (
!
Carlos
Guatambú
Luzerna ( Tangará
! Ponte Alta
(
! Brusque
Itapema
Caxambu
do Sul (
! Seara Arabutã
Joaçaba
!
( Frei
Rogério
do Norte
Lontras
(
! Porto

Formação
Rio do
Itapiranga (
! (
! Presidente (
! Mirim Belo
(!( Bombinhas
Rio do
(
! (
! Castello ( Jaborá
! (!
!( Herval (
! Ibiam Monte (
! Doce Oeste
(
! !
Concórdia d'Oeste Carlo
! Laurentino Sul
( Botuverá

!
Branco
(
!
(
São
(
!
!
Pouso
(
!
(
!
Paial

Itá
( (
!
(
!
Lacerdópolis

! Erval
(
(
!
Curitibanos
(
!
Cristóvão
do Sul
(
!
Redondo
Trombudo
( Agronômica
!
Presidente
Nereu
Nova
Trento
São João
Batista (
!
Tijucas

Governador
Velho Brunópolis
(
! Central
(
! (
! (
! ( Canelinha
! Celso
(
! Ouro (
! Braço de (
! ( Aurora
! Ramos
Capinzal Trombudo
Peritiba !!
(( Campos Vidal (
!
(Alto Bela
! Ipira Novos (
! Ramos Major

Econômica
Ituporanga
Vista ! Piratuba
( (
! ( !
!
Atalanta
(
! (
! Gercino

(
! (
! Zortéa
Ponte Otacílio Agrolândia ( (
!
(
! Vargem Alta Costa
Imbuia Leoberto
Biguaçu
(
! (
! (
! Leal Antônio

Correia Palmeira
Petrolândia
(
! Chapadão
(
! (
!
Angelina
(
!
Carlos
!
(
Abdon Pinto do Lageado Florianópolis
Celso (
! (
! (
! São José

(!
Batista
(
!
Ramos
(
! (
! São José
(
! São Pedro de

!!
( (
e Social
do Cerrito Rancho Alcântara
Anita
Alfredo
Garibaldi (
! Wagner
Queimado

(
! (
!
(
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Bocaina Palhoça
do Sul Águas ! Santo
Cerro
Negro
(
! Bom Mornas Amaro da
Imperatriz
Lages Retiro
(
!
Campo
Belo
do Sul
Capão
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( (
!
Rio
Rufino
(
!

Anitápolis
São
Bonifácio
(
! Alto
Painel
(
! Urupema (
! (
!
(
! Paulo
(
! Lopes

Urubici
Santa Rosa
(
!
(
! de Lima Garopaba
(
! (
!
Rio
Fortuna São
Grão (
! Martinho
Pará (
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(
!
Imbituba
São Braço do Armazém
Joaquim Norte (
!
(
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!
(
! Bom Jardim
da Serra Gravatal
São Imaruí
(
! Lauro
Orleans ! Ludgero (
( ! (
!
Muller (
! Pescaria
Brava
(
! Pedras
Grandes (
!
(
! Tubarão
Capivari
( de Baixo
! Laguna
Treviso

(
!
Urussanga

(
! Treze
de Maio
!
( (
!

Nova
Siderópolis (
!
Veneza (
! ! Cocal
( do Sul Sangão
Jaguaruna

(
! Criciúma
(
! (
!

PRINCIPAL ORIGEM DA CONQUISTA Morro


Forquilhinha

(
!
!
(!(
(
!
Içara Morro da
Fumaça

E COLONIZAÇÃO Timbé
Grande Balneário
do Sul (
! Meleiro Rincão

(
! VICENTISTA E AÇÓRICO-MADEIRENSE (
! (
! Maracajá
(
!
(
!
(
! PAULISTA Turvo Araranguá

(
! PAULISTA E COLONIZAÇÃO EUROPÉIA
Jacinto
Machado
(
! Ermo !
( Balneário
Arroio
do Silva

(
! (
! (
!
COLONIZAÇÃO EUROPÉIA
(
! E SUA EXPANSÃO NO ESTADO
Santa
Rosa Sombrio
EXPANSÃO DA COLONIZAÇÃO
(
! EUROPÉIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
do Sul (
!
Praia (
! Balneário
Grande São João (
! Gaivota

POPULAÇÃO
POPULAÇÃO MUNICIPAL
MUNICIPAL (
! do Sul

ESTIMATIVA IBGE 2018


ESTIMATIVA IBGE 2019 (
!

( ®
Passo de ESCALA GRÁFICA:
Torres
100.001 aa590.466
100.001 583.144habitantes
habitantes 0 5 10 20 30 40
(
!
km
( 50.001
50.001 aA100.000
100.000habitantes
habitantes
Fonte: Esri, digitalblobe, geoeye, i-bubed, aex, getmapping, aerogrid, ign, igp,
awisstopo, and the gis user community
( 1.260 aa 50.000
1.286 50.000habitantes
habitantes Elaboração: Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha
Secretaria do Estado do Planejamento de Santa Catarina
Capítulo 1 | Gênese da formação econômica e social
Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira1
Maria Graciana Espellet de Deus Vieira2

A
interconexão de elementos do Sua força impulsionadora é formada pelo ocasião do exercício de uma das atividades
quadro natural (clima, relevo, vege- conjunto de atividades que se organizam necessárias à vida dos grupos humanos:
tação etc.) e do humano (populacio- para atender diferentes necessidades. Desde atividade agrícola, de criação industrial,
nais, sociais, econômicos, políticos, culturais as mais imediatas, presentes em qualquer etc.” (Cholley, 1964, p. 141).
etc.) foram determinantes no processo tempo histórico, até aquelas que se traduzem
de conquista e colonização do continente nas transformações resultantes do próprio
evoluir da relação sociedade-natureza, Coincidentemente o procedimento
americano, no decorrer do qual se impu-
de trabalhar com combinações (A.
seram novas combinações geográficas resul- vista não de uma forma meramente local,
Cholley) é o mesmo de trabalhar
tantes das múltiplas determinações de cada mas inserida e relacionada com escalas de com múltiplas determinações [...].
cunho regional, nacional e mundial. O terri-

CAPÍTULO I
época histórica e de cada lugar. A formação A explicação provável para esta
tório vai sendo explorado gradativamente, coincidência está na origem his-
econômica e social catarinense manifesta tórica da geografia moderna [...]
de forma exemplar esta afirmação. É o que conforme suas potencialidades naturais,
[herdeira] da filosofia clássica ale-
segundo as necessidades econômicas e mã (Kant e Hegel). (Mamigonian,
se procura demonstrar no decorrer deste
disponibilidades demográficas, internas e 2005, p. 3)
estudo, tendo como objeto o processo de
externas, presentes em cada período. Trata-
conquista e colonização do território cata-
-se de decifrar uma realidade geográfica –
rinense, gênese da formação econômica e O reconhecimento das duas esferas (a
como tal, localizada no espaço e no tempo
social de Santa Catarina. natural e a humana) como indispensáveis
– procurando identificar a interconexão
ao conhecimento da realidade, dá origem
de elementos determinantes das esferas
Tal processo se estende de meados do a interpretações mais ricas e, numa certa
natural e humana (Mamigonian,1999).
século XVII às primeiras décadas do século medida, indica uma retomada da visão clás-
XX, ou seja, por cerca de três séculos, desde sica da geografia, ou seja, “uma visão globa-

Gênese da formação econômica e social


a Colônia até primórdios da República. Foi Essa perspectiva de análise está apoiada lizadora e de totalidade da natureza e da
em uma vertente do pensamento geográ- sociedade” (Mamigonian, 1996, p. 199).
este o tempo necessário para a ocupação
fico brasileiro, cuja figura central é o
do território, movida quer por interesses
geógrafo Armen Mamigonian, que, já
de Portugal, durante o período colonial, A relação sociedade-natureza, dentro da
em 1958, integra a equipe de autores do
quer por interesses das classes dominantes perspectiva do materialismo histórico
pioneiro Atlas Geográfico de Santa Cata-
nacionais e catarinenses, muitas vezes rela- e dialético, ou seja, através do conceito
rina. Esse Atlas, coordenado pelo também
cionados aos da esfera capitalista mundial, de modo de produção ou, no caso, de
geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo
ou seja, aos interesses estrangeiros. uma combinação dialética de modos de
Monteiro, serviu de inspiração para outros
estados brasileiros. produção (Rangel, 1981) assegura a loca-
1
Graduada em Geografia Licenciatura (1967) e Mestra lização temporal, que se concretiza sobre
em Educação pela Universidade Federal de Santa uma base territorial geográfica e histo-
Catarina (1988) e Doutora em Geografia Humana A linha mestra dessa visão interpretativa
ricamente determinada. Assim sendo, as
pela Universidade de São Paulo (1997). Professora está relacionada a dois grandes para-
formações econômicas e sociais devem ser
aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina digmas, o de formação social e o de geos-
consideradas expressão de processos que
e da Universidade do Vale do Itajaí, com atuação sistema, “não de maneira superimposta
se singularizam em função de combinações
no Programa de Pós-Graduação em Geografia e no como se fez frequentemente ou de maneira
de uma pluralidade de elementos, que se
Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria, excludente, mas os conectando dialetica-
manifestam e se relacionam em múltiplas
respectivamente, e bolsista de Produtividade em mente” e, dessa forma, “contribuindo para
escalas (mundial, nacional, regional, local),
Pesquisa do CNPq. uma visão de conjunto da sociedade e da
demonstrando que uma determinada reali-
natureza e de suas interconexões” (Mami-
dade tem sua explicação também num
Graduada em Geografia Licenciatura (1971), Geografia
2 gonian, 2005, p. 3). Os dois paradigmas
universo mais amplo.
Bacharelado (1972) e especialista em Planejamento nos inserem na perspectiva de combina-
Urbano e Regional (1979) pela Universidade Federal ções geográficas de A. Cholley (1964),
do Rio Grande do Sul e Mestra em Geografia pela justamente naquelas que alcançam maior Isto posto, trata-se então do estudo das múlti-
Universidade Federal de Santa Catarina (1992). Atuação complexidade, pois “resultam da inter- plas determinações humanas e naturais, que
como geógrafa no Instituto de Geociências Aplicadas ferência conjunta dos elementos físicos, se combinam e se concretizam espacial e
(IGA) em Belo Horizonte e professora aposentada da biológicos e humanos.” A convergência temporalmente, dando origem à formação
Universidade do Estado de Santa Catarina. desses elementos ocorre, “sempre, por social e econômica de Santa Catarina.

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 19


Fonte: Adaptado de Santa Catarina (1958). Elaboração: Pedro Agripino Sagaz e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC).
Santa Catarina e a propriedades e a agricultura escravista de
exportação e na área subtropical a agri-
singularidade da formação
cultura com base nas pequenas proprie-
meridional brasileira Roraima
Amapá
Equador dades, no trabalho familiar e no mercado


interno. Convém destacar que enquanto
A diversidade geográfica de Santa Catarina no Rio Grande do Sul predominam as áreas
é surpreendente para uma área de apenas Amazonas
Pará Maranhão
Ceará
de campo, no Paraná e em Santa Catarina
95.737,954 km2, correspondendo a 1,12%
Rio Grande do Norte

Paraíba (Figura 3) as maiores formações vegetais


da superfície territorial brasileira e 16,60% Acre
Piauí
Pernambuco
estão representadas pelas matas, já que
Alagoas
da Região Sul, na qual vivem, segundo esti- Tocantins

10° S
Rondônia Sergipe as formações herbáceas estão presentes
mativa do IBGE (2017), 7.001.161 pessoas, Mato Grosso
Bahia
somente na forma de manchas distribuídas
ou seja, 3,37% da população brasileira e Distrito Federal no interior das mesmas.
23,62% da Região Sul (Pereira, 2013). Goiás

Minas Gerais
A combinação caracterizada pela criação
Tal como os demais estados da Região Sul, o
CAPÍTULO I

CAPÍTULO I
Espírito Santo
Mato Grosso do Sul
extensiva de gado estabelecida nas áreas

20° S
território que hoje corresponde a formação São Paulo Rio de Janeiro
de campo em grandes propriedades, com
econômica e social de Santa Catarina foi Legenda Paraná
Trópico
de Capricó
rnio
o uso de pouca mão-de-obra, acarreta uma
de forma efetiva conquistado e colonizado Climas Zonais organização do espaço distinta daquela
Santa Catarina

tardiamente, ou seja, a partir do século XVII. Equatorial


da pequena produção policultora, cujo
Temperado Rio Grande do Sul

Tropical Brasil Central tamanho das propriedades é incomparavel-


Certamente dentre os elementos refe- mente menor, consequentemente o habitat

30° S
Tropical Nordeste Oriental
rentes ao quadro natural, o clima é o mais Tropical Zona Equatorial 300 150 0 300 600 km

não é tão disperso, o fator demográfico é


®
Figura 3 – Vegetação de Santa Catarina.
ressaltado como um dos determinantes Semiárido Fonte: Adaptado do Atlas Nacional do Brasil Milton Santos, 2010.
Disponível em: www.ibge.gov.br/apps/atlas_nacional/ mais numeroso e o uso do solo mais inten- Fonte: Extraído de Santa Catarina (2016).
na estruturação tardia da formação meri- sivo (Mamigonian, 1958). Esses dois meios
80° W 70° W 60° W 50° W 40° W 30° W

dional brasileira. Abaixo do Trópico de são estruturados por modos de produção


Figura 1 – Climas Zonais do Brasil.
Capricórnio, o predomínio do clima subtro- Fonte: Adaptado do Atlas Nacional do Brasil Milton Santos (IBGE, 2010). distintos: um baseado na desigualdade de
pical, no contexto de um universo colonial Elaboração: Pedro Agripino Sagaz. com Peluso Jr (1991, p.15), por “um alti- até o mar, conhecidos, respectivamente, por
classes, ou seja, nos modos de produção,
Gênese da formação econômica e social

Gênese da formação econômica e social


marcado pela tropicalidade (Figura 1), difi- plano levemente inclinado para oeste e uma Região do Planalto e Região do Litoral e
cujas classes dominantes constituem a área que se desenvolve da borda do planalto Encostas” (Figura 4).
cilmente poderia oferecer uma produção estrutura política da formação correspon-
que atendesse aos interesses comerciais da dente, e o outro baseado no igualitarismo
Metrópole Portuguesa (Monteiro, 1967). do pequeno modo de produção (Mamigo-
nian,1991) – “uma democracia rural” nas
Essa diferenciação climática, associada ao palavras de Delgado de Carvalho (2016,
quadro relativo à cobertura vegetal (Figura p.182) – que se insere nesse quadro econô-
2) no que se refere à distribuição das áreas mico e social dominante com maior capaci-
de campo e de matas, representará um papel dade produtiva e de consumo, acarretando

S
fundamental na gênese da estrutura produ-

T A
uma propensão à divisão social do trabalho,
tiva e populacional do sul do Brasil, dando condição para o desenvolvimento econô- P L

E N C O S
A N
origem a distintas combinações geográficas mico (Rangel, 1955). Com base, então, em A L
T O
ou formações econômico-sociais: a do lati- uma estrutura social distinta, a pequena
fúndio pastoril e a da pequena produção. produção mercantil com sua tendência
(Vieira e Pereira, 2009) à diferenciação social vai imprimir nas
BRASIL
FORMAÇÕES VEGETAIS áreas florestais do sul do Brasil um distinto

E
Comparando aspectos gerais relativos à ES C A L A
dinamismo econômico, consolidando a
vegetação, em todo o Brasil, observa-se
0 125 250 375 500 Km

L
formação meridional como uma formação
que as áreas herbáceas (campos) ou herbá-

A
singular (Mamigonian, 1969).

R
ceas-lenhosas (caatinga e cerrado) deram Formações Florestais Formações Complexas

O
Floresta Latifoliada Tropical Complexo do Pantanal
origem a formações latifundiárias pastoris

T
A particularidade do relevo
Floresta Latifoliada Equatorial Caatinga

I
feudais ligadas ao mercado interno. Já no

L
Floresta Latifoliada Tropical Úmida da Encosta Cerrado

caso das áreas florestais, excetuando-se a Mata da Araucária


Formações Litorâneas de Santa Catarina frente
aos estados vizinhos
Formações Campestres Vegetação do Litoral
Amazônia, todas deram origem à agricul- Campos
tura, mas a uma agricultura diferenciada,
segundo o tamanho da propriedade e as A principal especificidade do quadro natural
Figura 2 – Formações Vegetais do Brasil.
relações de produção. Na área tropical catarinense, frente aos vizinhos sulistas, se Figura 4 – Planalto, litoral e encostas de Santa Catarina.
Fonte: Adaptado de Romariz (1968).
Fonte: Adaptado de Peluso Jr (1952).
florestada se estruturam as grandes Elaboração: Guilherme Regis. manifesta em seu relevo marcado, de acordo

20 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 21


Os efeitos da disposição das Serra do Mar e meios de subsistência, apresentava, inicial- povoamento colonial litorâneo, ou seja, o litoral subtropical (Mamigonian, 1998),
Conquista e colonização A conquista do litoral
Serra Geral no Brasil Meridional representam mente, uma condição maior de resistência aquele que assegura efetivamente o domínio utilizando em especial mão-de-obra escrava
uma particularidade fisiográfica funda- de Santa Catarina do que aquela população decorrente de útil do território, permitindo que se concre- africana na manufatura e a dos pequenos
mental do território catarinense. Enquanto o uma imigração forçada, como a dos escravos Vicentistas tize o objetivo maior do processo colonial: produtores açorianos na caça do animal, como
estreito e exíguo litoral do estado do Paraná O processo de conquista português exigia africanos. É resultante dessa característica auferir riquezas. É este povoamento que arpoadores, timoneiros e também remeiros
é marcado pelas restrições impostas pela uma disponibilidade demográfica frente à a importância da igreja católica ibérica, seja A preocupação em fixar as fronteiras meri- Mamigonian (1998, p.69) define como “a (Silva, 1992). O monopólio da metrópole,
Serra do Mar, em Santa Catarina, tal Serra grandeza do território colonial, que não se portuguesa ou espanhola, no processo de dionais do território colonial leva Portugal maior intervenção do planejamento estatal ingressando no vantajoso comércio mundial
apresenta-se isolada no nordeste do estado, encontrava na Metrópole, tampouco na futura sujeição da população indígena. Ao condenar no século XVII a estimular o avanço de vicen- português no sul do Brasil, tanto a nível geo- de óleo de baleia, assegurava ao capital comer-
em reduzido trecho. É a Serra Geral (escarpas colônia, como foi o caso da conquista hispâ- a escravização dessa última, ao contrário do tistas em direção ao litoral sul, com base na -político, como enfatizaram os historiadores cial português grandes lucros nas transações.
do planalto), localizada mais à oeste, já no nica em áreas de sociedades com agricultura que fazia com a escravidão africana, organi- concessão de sesmarias que deram origem tradicionais, como a nível geo-econômico”.
interior do território, o elemento delimitador excedentária, daí sedentarizadas, que concen- zava aldeias e missões, que independente a um povoamento esparso e de baixa densi- Assim, no século XVIII, o projeto de colo-
preponderante entre a Região do Planalto travam cerca de 90% do total da população dos objetivos, concentrava, catequizava e, de dade demográfica. Procedentes da Capitania A imigração de casais açorianos e madeirenses nização do Brasil Meridional, do qual fazia
e a Região do Litoral e Encostas, que define do continente (Cardoso, 1985). No caso do certa forma, disponibilizava reservatórios de São Vicente, homens de posses deslocam- no século XVIII para as terras litorâneas do parte a ocupação do espaço litorâneo cata-
a primeira grande divisão regional catari- território colonial português, as populações humanos a serem agregados, escravizados -se levando “consigo sua família, seus escravos extremo sul colonial, povoando áreas do Rio rinense, se amplia e se afirma através da
CAPÍTULO I

CAPÍTULO I
nense. Já no caso rio-grandense, as escarpas aqui existentes ainda não haviam se sedenta- ou mesmo mortos, como tão bem demons- negros e vermelhos, seus gados grossos e Grande do Sul e do litoral de Santa Catarina, presença açoriana, africana e portuguesa.
do planalto meridional estão circunscritas rizado e, consequentemente, como nômades e tram, no século XVII, por exemplo, a compo- miúdos, as suas ferramentas e armas” (Oliveira representa uma segunda experiência com
na porção norte, sendo que o seu litoral, com seminômades, alcançavam baixas densidades sição das bandeiras litorâneas vicentistas, Vianna, 1952, p.113), fundando ao longo da imigrantes açorianos, visto que já haviam A pequena produção
características diversas (retilíneo e arenoso), demográficas, levando inclusive a que alguns assim como as razzias dos bandeirantes costa núcleos de povoamento, entre os quais pioneiramente se fixado no século anterior, no
com um único porto marítimo, assim como autores se refiram a essas áreas como vazias. paulistas em territórios sulinos. São Francisco (1658), Desterro (1673) e extremo norte, em terras do Grão-Pará. Esse A colônia de povoamento açoriano-madei-
o Paraná, só que numa extensão de 600 km Trata-se de uma meia verdade, pois apesar Laguna (1676) no litoral de Santa Catarina, ciclo colonizador, no que se refere ao terri- rense que se estabelece, baseada na pequena
de costa, distingue-se do recortado litoral das distintas realidades demográficas, não Santa Catarina vivencia seu processo de sendo este último o ponto mais meridional, tório catarinense, se estende de 1748 a 1756, propriedade familiar, é uma experiência
catarinense, banhado por inúmeros rios da podemos pensar o processo de conquista sem conquista e colonização, tardio em cerca situado exatamente no marco extremo sul trazendo consequências mais duradouras e pioneira e distinta no território colonial, já que,
vertente atlântica e servido por vários portos, considerar a população autóctone. de cem anos frente ao Nordeste e Sudeste da linha de Tordesilhas. Esse fluxo povoador variadas para a efetiva ocupação do litoral, em especial no litoral e zona da mata nordes-
ao contrário dos estados vizinhos. brasileiros, com povos fruto do cresci- cujos contatos iniciais eram facilitados pelo onde foram fundados núcleos de povoamento tina a tônica era a colônia de exploração,
Nas áreas florestadas tropicais, o caminho mento demográfico da Colônia, caracteri- mar, culmina com a fundação da Colônia do espalhados pela Ilha de Santa Catarina e áreas alicerçada na monocultura de enormes glebas
A região catarinense do litoral e encostas, tomado foi o da importação de mão-de- zando um processo migratório interno, no Sacramento, em 1680, defronte a Buenos adjacentes do continente (por exemplo, São de terras utilizando mão de obra escrava.
-obra escrava africana, a partir do século sentido norte-sul. Isto tanto no século XVII Aires, assinalando a presença portuguesa na Miguel, Enseada de Brito, São José), assim como
Gênese da formação econômica e social

Gênese da formação econômica e social


Delgado de Carvalho subdivide em quatro
regiões econômicas por disporem de bons XVI, na medida em que tal investimento (Litoral), quanto ainda no XVIII (Planalto), foz do Rio da Prata. A extrema mobilidade entorno de Laguna. Interessava a Portugal
portos marítimos: seria compensado pela produção de açúcar, mesmo século em que também se inicia a dos grupos humanos de origem vicentista deu instalar colonos-soldados que atendessem O colono açoriano, diferentemen-
gênero tropical de interesse das metrópoles migração externa com populações vindas sustentação à Coroa Portuguesa na disputa da tanto às necessidades militares (de defesa do te do escravo, tinha a liberdade de
praticar uma policultura de subsis-
temperadas, que, por isso mesmo, alcançava de além-mar, no caso da 2ª ocupação do região com a Coroa Espanhola. território disputado com os espanhóis) como
tência e utilizar seu excedente na
A do norte, a mais restrita (Joinville, altos preços, justificando os elevados gastos litoral catarinense. A partir do século XIX às de produção e abastecimento de setores melhoria de sua propriedade. Esse
São Bento), possui o excelente porto iniciais na produção. Estas foram caracterís- tal processo imigratório se intensifica com Os núcleos vicentistas litorâneos asseguraram não-produtivos (tropas, burocracia administra- foi um dos fatores fundamentais
de São Francisco; a da Bacia do Ita- ticas comuns à agricultura da cana e do café, a ocupação dos vales atlânticos e encostas o domínio português sobre o território, estimu- tiva etc.), bem como viabilizando um comércio que propiciaram precocemente a
jaí (Blumenau, Brusque, Luís Alves) emersão do litoral catarinense à
deságua no porto de Itajaí; a do cen- este último já no século XIX. pelos imigrantes europeus, excedente popu- lando o conhecimento mais apurado do litoral, de excedentes, que propiciou o aumento das
posição de destaque no cenário
tro dispõe de Florianópolis; a do sul lacional relativo a uma Europa em transfor- fato que pode ser atestado pelo expediente do rendas da Coroa, através do estabelecimento colonial da época como uma das
(Urussanga, Araranguá e as colônias A população indígena, conhecedora do mação frente ao avanço e desenvolvimento rei de Portugal ao governador do Rio de Janeiro, de uma pequena produção mercantil. áreas fornecedoras de gêneros ali-
italianas), por fim, possui como saída território e familiarizada com as formas e do modo de produção capitalista. datado de 1717, recomendando o exame das mentícios. (Bastos, 2000, p. 129)
o porto de Laguna. (Delgado de Car-
qualidades da área relativas à abundância de Com base em propriedades familiares poli-
valho, 2016, p. 198)
peixes, existência de ancoradouros seguros etc., cultoras que passaram a produzir “nos fins Contudo, apesar de pioneira, a pequena
reforçado pela manifestação do Conselho Ultra- do século XVIII e inícios do XIX, impor- produção mercantil açoriana não vivencia
Essa característica acabou por imprimir uma
marino de Lisboa que aponta os recursos exis- tantes excedentes alimentares (farinha de um processo de diferenciação social, do qual
feição bastante singular à organização espacial
tentes na Ilha de Santa Catarina, entre os quais mandioca, arroz, feijão, melado, etc.) que resulte – como ocorreu em outras áreas,
de Santa Catarina, que se apresenta compar-
excelentes madeiras, abundância de peixes se destinavam ao abastecimento do Rio, também pequeno produtoras, ocupadas
timentada em regiões praticamente inde-
e outros frutos da terra. O mesmo Conselho Salvador, Recife e até mesmo Montevidéu” posteriormente – a emersão de vigorosos
pendentes, sem um centro polarizador supra
propõe a fortificação da ilha e o povoamento (Mamigonian, 1966, p.35), se efetiva essa núcleos industriais. Dentre os entraves ao
regional, como ocorre tanto no Rio Grande do
de seus arredores, bem como os do Rio Grande primeira grande experiência, no território desenvolvimento dessa pequena produção,
Sul quanto no Paraná (Mamigonian, 1966).
como forma de fechar pela costa o domínio colonial brasileiro, em moldes de pequena cabe destacar o papel concentrador e aristo-
meridional português e aumentar as rendas produção. Esta, somada às armações bale- cratizante do capital mercantil, a excessiva
Em síntese, a conformação geral do relevo,
Figura 5 – Principal reais (Mamigonian, 1998). eiras, consolida a ação lusa na ocupação diversificação do trabalho que impedia a espe-
combinada a outros elementos naturais (clima, origem da conquista efetiva do litoral catarinense. cialização do produtor em um único ofício
vegetação, hidrografia etc.) e humanos foi e colonização do
Açorianos e madeirenses
decisiva para o processo de conquista e povo- território. ou produto, ou seja, a presença de uma forte
Fonte: Extraído Edificadas por comerciantes portugueses, economia natural, além da mercantil, assim
amento do território sulino, em particular de de Santa Catarina
Após a esparsa ocupação vicentista do século sob a concessão da Coroa, as armações se
Santa Catarina (Vieira e Pereira, 1996). (1958). como a fragmentação dos lotes por herança, o
XVII ocorre então, nessa área, o segundo mostraram uma alternativa lucrativa para esgotamento do solo etc. (Campos, 1991)

22 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 23


fluxos, agora dirigidos do século XIX torna a Alemanha a nova diz respeito aos casamentos, não sendo reco- nalista que marca a colonização alemã. Outra
A colonização das encostas
por particulares. É o caso potência industrial europeia. nhecidos os realizados pela igreja protestante diferença diz respeito à religião, onde existe
e vales atlânticos da colônia Nova Itália e, no caso dos casamentos mistos, a igreja uma unidade, a da igreja católica, o que leva
(hoje São João Batista) Os emigrantes alemães totalizavam, até o católica impunha um termo de compromisso o já referido cônsul régio, a afirmar que “no
A partir da 1ª metade do século XIX, a Europa fundada em 1836 no vale recenseamento de 1844, cerca de 5 milhões, através do qual os noivos eram obrigados a Estado de Santa Catarina, é na igreja princi-
e, particularmente, algumas de suas regiões, do rio Tijucas, excepcio- dos quais 4,8 milhões dirigiram-se para a educar os filhos na fé católica. Até mesmo os palmente que senti vibrar a voz da pátria.”
atravessam um período de crise econô- nalmente, naquela época, América do Norte, respondendo ao apelo de cemitérios ocupavam áreas distintas.
mica e turbulência política provocadas pela por italianos procedentes “aliciadores e mercadores que incitavam à Para os colonos italianos, a religião, que por
expansão do capitalismo, já em fase industrial, do Reino da Sardenha. Foi emigração desorientada”. Este juízo, expresso Segundo Grosselli (1987), as colônias alemãs séculos marcara a sua cultura, constituiu o
e a consequente ampliação e aprofundamento a 1ª colônia italiana no pelo Dr. Blumenau, frente ao quadro emigra- mantiveram frequentes contatos com a eixo em torno do qual se deu a reconstrução
do processo de expropriação, responsável Brasil e a 2ª colônia euro- tório alemão da primeira metade do século pátria-mãe, visto que a Alemanha conservou da sua comunidade em terras brasileiras. “A
por um crescimento do excedente relativo peia em Santa Catarina e, XIX, demonstra seu vínculo a uma orien- os canais de comunicação abertos. Filiais capela era o próprio símbolo das comuni-
populacional somado ao próprio crescimento de acordo com Boiteux tação distinta em relação a esse processo, de casas comerciais alemãs, agências de dades italianas, o centro, o sustentáculo, o
demográfico europeu. É nesse contexto que (1998, p.74), representa cujos objetivos deixariam de ser meramente companhias seguradoras foram aqui insta- eixo em torno do qual girava a vida das famí-
as transformações em áreas de capitalismo
CAPÍTULO I

CAPÍTULO I
a “célula-mater” da colo- mercadológicos para assumirem um viés ladas, o que se explica pela maior vitalidade lias” e constituía “o centro de convergência
tardio levam milhões de emigrantes a cruzar o nização italiana, inter- étnico e nacionalista, capaz de conservar, no do capitalismo alemão frente ao italiano. da população, única sede de encontros da
oceano em busca de novas oportunidades. rompida, provavelmente, estrangeiro, a nacionalidade, os costumes e As companhias navais alemãs exportavam comunidade” a fortalecer sua identidade
em razão das lutas a língua alemã (Fouquet, 1950). Essa visão, para a Alemanha não só os produtos agrí- (Groselli, 1987, p. 449). Isso em se tratando
Do total de imigrantes que se fixaram nas Fotografia 1 – “Vítimas de bugreiros. Foto provavelmente obtida em Blumenau,
internas da Itália, que se em 1905. Detalhe de G. Gerlach, 1972.” ao mesmo tempo em que assegura a fideli- colas dos colonos alemães, mas também os das colônias em áreas rurais, pois no caso
áreas temperadas, em diferentes países, encontrava em processo Fonte: Detalhe de fotografia disponível em Santos (1997, p.34). dade por gerações à terra de origem (Vater- dos italianos. de Florianópolis, assim como os alemães, os
observa-se que o Brasil se coloca como o de unificação. A preo- land), por outro lado causa um sentimento de italianos possuíam clube social próprio, além
terceiro receptor: EUA – 26 milhões; Canadá cupação com a segurança e o controle dos Cocal do Sul (1892). Essas colônias se expan- distanciamento em relação aos brasileiros. O movimento emigratório italiano em massa, da Liga Operária, cujas ideias anarquistas
– 5,5 milhões; Brasil – 4,37 milhões (São produtos que transitavam por esse caminho diram através de atividades ligadas à agricul- iniciado em meados de 1870, coloca o Brasil explicam inclusive a realização de manifes-
Paulo antes de 1880 detinha apenas 5% do entre o litoral e o planalto resultou também tura e à mineração do carvão. Há que se destacar que em razão do catoli- em terceiro lugar no fluxo dessa emigração, tação de solidariedade, na década de 1920, a
total de imigrantes europeus chegados ao na criação da Colônia Militar de Santa cismo ser a religião do Estado, eram comuns, principalmente considerando o estado de São Sacco e Vanzetti (Mamigonian, 1991).
país, mas acaba alcançando – no movimento Tereza, a primeira colônia militar catari- Conforme salienta Waibel (1958, p. 217 e conforme salienta Klug (1998), os constran- Paulo, que recebeu a maioria desses italianos
de “braços para o café” – cerca de 55% tota- nense, instalada em janeiro de 1854. gimentos e impasses ocorridos na vida coti- em decorrência da necessidade de mão de obra
218), ao contrário do Rio Grande do Sul, A pequena produção
Gênese da formação econômica e social

Gênese da formação econômica e social


lizando, aproximadamente, 2,4 milhões); diana dos imigrantes protestantes, a ponto para a cafeicultura. O primeiro lugar nesse fluxo
no território catarinense “as companhias mercantil catarinense
Argentina – 3,74 milhões; Austrália – 1,6 Ainda no Império, foram criados, princi- de, por exemplo, o presidente da província de emigração fica com os EUA e o segundo com
particulares de colonização tomaram a si o
milhões; Chile – 500 mil e Uruguai – 300 mil palmente por alemães e italianos, vários de Santa Catarina (João José Coutinho 1850- a Argentina (Trento, 1989).
encargo e colonizaram as áreas florestais
(Mamigonian, 1976 e Chaunu, 1983). núcleos rurais e urbanos em áreas corres- 59), em razão de seu preconceito religioso, Se no caso de São Paulo a pequena produção
do estado de maneira muito efetiva”, sendo
pondentes aos vales atlânticos e encostas demitir professores alemães protestantes do O cônsul régio italiano em Florianópolis, mercantil se insere espacialmente no inte-
que “Santa Catarina foi a região em que o
No caso do Brasil Meridional, no período dos rios Itajaí, Cachoeira, Cubatão, Tijucas, Liceu Catarinense, em Florianópolis. Entre Gherardo de Savóia, em seu relatório de rior da estrutura latifundiária cafeicultora
princípio foi aplicado pela primeira vez em
pós-independência, por iniciativa do Tubarão, Urussanga e Araranguá, especial- esses professores estava Fritz Müller, que era fevereiro de 1900 (Dall’Alba, 1983, p. (Mamigonian, 2000), nos estados do Sul,
larga escala”. Nesse processo de colonização
Governo Imperial, abre-se, a partir da mente após a promulgação, em 1850, da Lei ateu. Outro exemplo das tensões religiosas 68-70) chama a atenção para o fato de que particularmente em Santa Catarina, ela se
ocorreram confrontos diretos com indígenas, instala, no século XIX, paralela à estrutura
segunda década do século XIX, um ciclo de de Terras. No vale do Itajaí, colonos alemães o grande movimento
imigração representado, inicialmente, pela fundam Blumenau (1850), Brusque (1860) habitantes originais das terras, que passaram migratório acontece latifundiária de forma muito mais dinâ-
instalação das primeiras colônias alemãs, e no nordeste do estado, no vale do Cacho- a ser ocupadas pelos colonos. A disputa entre “quando a Itália estava mica do que a alcançada pela pequena
baseadas na pequena produção e localizadas eira, Joinville (1851), cuja expansão dá índios e imigrantes se acirrou com a formação feita, mas não estavam produção dos colonos açorianos, embora
nos pontos onde os caminhos de tropa e de origem a novas frentes de ocupação. de tropas e expedições de caça aos chamados essa última tivesse elevado a produção de
feitos os italianos”. Tal
gado, provenientes dos latifúndios pastoris “bugres”, tropas estas constituídas pelos gêneros alimentícios do litoral catarinense
fato se reflete inclu-
constituídos no século XVIII nas áreas de Após a interrupção da imigração alemã para o denominados “bugreiros”, que fizeram preva- sive na língua, pois ao à posição de destaque no contexto ante-
campo, entravam ou saíam da mata. No Rio Brasil, em razão do rescrito de Heydt (1859), lecer, pela violência, os interesses comerciais contrário dos alemães rior a essa nova imigração. Importa ainda
Grande do Sul, por exemplo, foi fundada, em colonos italianos passam a povoar, a partir das companhias colonizadoras. aqui chegados, os ressaltar que, expulsos de seus países pelo
1824, a colônia de São Leopoldo, no vale do de 1875, as bordas das áreas ocupadas pelos italianos não têm uma recrudescimento das relações capitalistas,
rio dos Sinos. No Paraná, imigrantes alemães alemães, fundando Rodeio, Rio dos Cedros, Alemães e italianos os imigrantes se estabeleceram como
unidade linguística.
fundaram, em 1829, a colônia de Rio Negro, Ascurra e Apiúna, em torno da colônia Os distintos dialetos,
às margens do rio de mesmo nome; também Blumenau; Nova Trento, no vale do Tijucas; É em um contexto de fragmentação territo- pequenos agricultores indepen-
ligados às regiões
em 1829, em Santa Catarina, a colônia de em 1876, Botuverá, em torno de Brusque e, rial e de urgência da modernização econô- dentes, artesãos, operários, pe-
de origem, são colo- quenos comerciantes, que já pra-
São Pedro de Alcântara, localizada na fron- em 1877, Luiz Alves, no vale do Itajaí. Novos mica e política que Itália e Alemanha, a partir
cados de lado pela ticavam uma significativa divisão
teira entre a mata e as terras já ocupadas núcleos coloniais surgem também em 1877, de condições próprias, realizam a tran- social do trabalho (p. ex. os agricul-
nova geração “como
do litoral (Waibel, 1958), no caminho entre no litoral e encostas no sul de Santa Catarina, sição do feudalismo para o capitalismo por tores compravam tecidos, instru-
instrumento fora de
Lages e Desterro. Aos primeiros alemães como Azambuja, Pedras Grandes e Treze de caminhos singulares e em ritmos distintos mentos de trabalho, etc.), a partir
Figura 6 – Desenho de casas e arrozeiras de agricultores descendentes de italianos uso”. Dessa forma da origem europeia, já em processo
chegados a São Pedro de Alcântara, em 1829, Maio, no vale do Tubarão e, no vale do Urus- (Pereira, 1989). O capitalismo alemão, bem (município de Rodeio), década de 1940. não se percebe nos de industrialização. (Mamigonian,
se juntam, um pouco mais tarde, outros sanga, Urussanga (1878), Criciúma (1880) e mais dinâmico do que o italiano, já no final Fonte: Extraído de Câmara (1948).
italianos o viés nacio- 1986, p. 104)

24 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 25


Essa conjuntura histórica é distinta Grande do Sul, fruto das estâncias Jesuí- os paulistas no século XVIII, instalando pastoril estabeleceu precocemente, frente
daquela vivida pelos imigrantes do século ticas. Tal consciência interrompe o ciclo a pecuária extensiva nas manchas de às atividades agrícolas escravistas, o mono-
XVIII, provenientes dos Açores e da ilha bandeirante de preadores de homens, subs- campos naturais de Lages, Curitibanos e pólio da terra e não o do Homem, como
da Madeira. No século XIX, “os europeus tituindo-o pelo de preadores de animais, Campos Novos (alta bacia do rio Uruguai), meio de produção fundamental, decor-
embarcaram com ‘o capitalismo em seus unindo os interesses de vicentistas- ou lutando “em ambiente menos propício rendo daí o feudalismo precoce, explici-
ossos’, mesmo que não dispusessem de -lagunenses e paulistas. Segundo Oliveira à economia pastoril”, onde “se abriam tado pelas relações entre arrendatários,
nenhum capital, mas apenas de iniciativa, Vianna (1952, p. 107), “o ouro produziu a claros na mata para criação de gado”, agregados e fazendeiros, que se alicerçam
habilidades especiais e engenhosidade” conquista e a colonização de Minas, Mato situação correspondente a Porto União, em renda trabalho e/ou produto (Peluso Jr,
(Mamigonian, 1976, p. 89). As colônias Grosso e Goiaz, mas, produziu também a Canoinhas e Mafra (bacia do rio Iguaçu) 1991) e não devem ser vistas senão como
fundadas na segunda metade do século conquista e a colonização de zonas situ- (Peluso Jr, 1970, p. 71). Ao lado ou asso- feudais (Vieira, 1992). Conforme destaca
XIX e início do século XX logo superaram o adas a incomensuráveis distâncias da loca- ciada ao latifúndio pastoril se estabelece Queiroz (1966, p. 35), de modo geral, as
estágio meramente agrícola da exploração lização das suas jazidas”. a atividade extrativa, aproveitando a exis- relações de produção “podiam ser carac-
econômica, chegando à industrialização. tência dos ervais nativos encontrados em terizadas pela preponderância dos laços
Os grandes obstáculos para o transporte combinação com a mata de araucária do de dependência pessoal que prendiam a
CAPÍTULO I

CAPÍTULO I
Certamente o tamanho dos lotes coloniais do gado, na fase inicial de relacionamento planalto (Vinhas de Queiroz, 1966). Esta, grande massa dos sertanejos a um limitado
não permitia reproduzir por gerações a da planície platina com a região de mine- elemento também pertencente – como número de grandes proprietários rurais.”
família camponesa, assim como nos aponta ração, serão a Serra do Mar e as Escarpas as manchas de campos e os ervais – à Nos tempos anteriores à Abolição, nas
Peluso Jr: do Planalto, a Serra Geral. Até cerca de combinação natural da região, somente a fazendas maiores empregavam-se escravos
1740, o percurso arterial de tropas liga partir do século XX se impõe como fator negros que “cuidavam principalmente da
Viamão, Laguna, Lages, Curitiba e Soro- natural determinante. Tal determinação lavoura de mantimentos, aberta nas nesgas
A tradição criada pelos europeus caba. A partir de então, o litoral catarinense ocorre relacionada a outras, como as dos de mata que por acaso se incluíssem na
que se estabeleceram nas colônias
se desarticula das terras de Serra Acima, interesses internacionais do comércio da propriedade” (Vinhas de Queiroz, 1966, p.
da região foi a de todo chefe de fa-
mília numerosa comprar, para cada alijando Laguna e fortalecendo a posição madeira e da colonização de novas terras 2I). É assim que,
filho, a terra necessária para man- de Lages, que permanece no circuito das – agora já para o excedente demográfico Figura 7 – Desenho da casa de agregado da Fazenda do Cedro (município de São Joaquim), década de 1940.
ter o mesmo padrão de vida agrí- tropas, reforçando a atuação da corrente de nossas áreas coloniais – associados aos Fonte: Extraído de Peluso (1947, p. 57).
cola [...] Terminadas as terras das ao se tornar o Brasil independen-
de ocupação do planalto. interesses das classes dominantes regio-
colônias, os núcleos regurgitavam te, a aparente uniformidade de
nais e locais frente ao mesmo comércio.
Gênese da formação econômica e social

Gênese da formação econômica e social


de elementos novos que necessi- regime, que parecia reinar, se ob-
tavam de novas terras. (Peluso Jr Ligando os criatórios sul-rio-grandenses à servamos apenas as relações entre pelos pinhões – e cultivando, de forma losos. Pierre Deffontaines (1953) chama a
(1991, p. 264) principal feira de gado da época – Sorocaba – O gado, as manchas de campos: o as fazendas e a Coroa, na verdade seminômade, em clareiras abertas a atenção para esta característica das áreas
ocultava profunda diferença entre
os caminhos das tropas engendraram condi- latifúndio feudal-mercantil machado e fogo, os posseiros iam repro- pastoris, já que o gado e as cargas em mulas
as regiões agrícolas e as pecuaris-
Essa necessidade demográfica de novas ções para o aparecimento, nos três estados duzindo a pequena produção cabocla. Na transpunham-se pelos próprios pés, logo, de
tas. (Rangel, 1989, p. 216)
terras fica exemplarmente demonstrada sulinos, de várias povoações. Lages como A atividade mercantil pecuarista do guerra do Contestado foram estes caboclos, exigências diminutas. Era, então, o planalto
quando completa-se a ocupação do terri- ponto de passagem obrigatório, agora não planalto – em função das fartas reservas de os camponeses revoltosos que lutaram servido apenas pelos difíceis caminhos das
tório catarinense nas primeiras décadas do
Pequena produção posseira cabocla
mais ligado ao litoral, mas sim ao planalto e gado existentes nos campos da Região Sul bravamente por suas posses, até a morte tropas. Seus únicos produtos comerciais
século XX, com a comercialização de glebas planícies rio-grandenses, imporá uma preo- do Brasil (Vacarias do Mar e dos Pinhais) e ou expropriação. significativos eram o gado destinado ao
localizadas na porção oeste do planalto, cupação de cunho estratégico, que resultará da distância a ser percorrida para alcançar Em virtude dos limites florestais das mercado interno e a erva- mate, que aos
nos vales dos rios da vertente do interior, na sua edificação como vila em 1771. a sua comercialização – nasce impreg- manchas de campo, o planalto não foi A erva-mate: exploração e comércio poucos alcança ser vendida também aos
num processo de colonização e povoa- nada de espírito nômade. Vicentistas- conquistado apenas em função de campos países vizinhos.
mento que se fazia “não a partir da costa Até meados do século XIX, Lages era o único -lagunenses e, principalmente paulistas, e gado, mas pela presença da mata de arau- Os ervais que se encontravam dissemi-
oriental longínqua, mas a começar do sul, distrito a oeste da Serra, ao qual perten- assumem a execução da tarefa de conduzir cária, que representa a maior formação nados na floresta de araucária – começam a A erva-mate, cuja exploração comercial já
por colonos alemães e italianos e compa- ciam os arraiais de Campo Belo (Baguais) e o gado de seus criatórios livres até a área original vegetal de Santa Catarina e do ser explorados no século XIX, propiciando, havia sido feita no período colonial pelos
nhias de colonização do Rio Grande do Sul” Campos Novos, e a vila de Curitibanos, origi- de sua venda. As consequências de tal Paraná, estando também presente no Rio apesar da precariedade das vias de comu- jesuítas espanhóis nas suas missões, a partir
(Waibel, 1958, p. 219). nada de um pouso de tropeiros. A população tarefa implicam na paulatina necessidade Grande do Sul. É nela que se embrenha o nicação, o início do desenvolvimento da do século XIX vai se transformar em desta-
de Santa Catarina em 1856 atingia 111.109 de sedentarização, dando origem a estân- excedente populacional dos latifúndios, atividade ervateira. Aqueles ervais vizinhos cada atividade produtiva de exportação, em
habitantes, sendo que destes, 104.317 habi- cias, vilas e povoados e transformando o representado por mestiços – ex-escravos e/ às áreas de campo foram sendo utilizados especial no Paraná e em Santa Catarina. Dela
Planalto: conquista e tavam o litoral e 6.672 o planalto (Pereira, meio de produção fundamental de móvel ou agregados – que se confrontando com os pelos próprios senhores da terra através decorre o enriquecimento, em particular,
colonização 1943). “Na área de que tratamos, fundaram- – o gado – em fixo, a terra. A conquista se índios, habitantes autóctones, vão ocupando, de seus agregados. Os que se situavam em de grandes beneficiadores e comerciantes,
-se fazendas de todos os tamanhos. Em efetiva trazendo consigo a concessão de como posseiros, as terras florestadas do plena floresta, pelos posseiros caboclos, que fruto também da reconstrução da Estrada
No século seguinte ao da conquista lito- meados do século XIX, ainda existiam sesmarias pela Coroa, gênese do monopólio planalto (Peluso Jr, 1991). Gradativamente passam a servir gradativamente ao inte- da Graciosa (1873), no Paraná, assim como
rânea realizada pelos vicentistas, ou seja, algumas que demandavam três dias de das terras de campo pelos fazendeiros e da este habitat, originalmente indígena, vai se resse de comerciantes. da conclusão da estrada Dona Francisca
no século XVIII, a descoberta de ouro nas viagem para ir-se de ponta a ponta” (Vinhas formação do poder local. tornando também caboclo. (1873), em Santa Catarina. Esta, vencendo a
Minas Gerais propiciará o despertar para de Queiroz, 1966, p. 22). A ocupação do Planalto (Vieira, 2011) foi Serra, permitiu o estabelecimento de novos
a consciência do valor econômico das De acordo com Ignacio Rangel (1989), nas Coletando frutas, caçando, pescando, dificultada por vias de comunicação em núcleos coloniais, como é o caso de São
centenas de milhares de cabeças de gado Genericamente, pode-se dizer que a explo- áreas de campo do Brasil Meridional, assim extraindo erva-mate nela disseminada, estágio primitivo de desenvolvimento e Bento do Sul no planalto, expansão da colo-
das vacarias do Mar e dos Pinhais no Rio ração das terras do planalto começa com como no sertão nordestino, a atividade criando porcos selvagens – engordados por sua distância dos centros mais popu- nização de Joinville.

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Ambas as estradas ligam o planalto ao litoral e e Europa e que o início da atividade madei- trabalhadores da ferrovia. Tudo em prol lação se deu a partir, principalmente, da
ampliam as possiblidades de comercialização reira propriamente dita tenha se dado da madeira e da venda de lotes coloniais, promulgação da Lei de Terras de 1850,
da erva através do acesso aos portos, ocasio- buscando capital e tecnologia externa mais estes já também para o excedente demo- que prenuncia o fim da escravidão e a
nando o encontro no Planalto Norte das duas avançada e introduzindo relações assala- gráfico da imigração europeia, cuja insta- intensificação dos fluxos imigratórios.
frentes de expansão ervateira: a paranaense riadas de produção (Padis, 1981). Essas,
com sede em União da Vitória e a catarinense tanto na extração quanto no beneficiamento
a partir de Canoinhas (Rocha, 1997). da madeira, assim como nas atividades
ligadas à construção da ferrovia. Logo, não
A madeira e a presença imperialista é por acaso também que uma Liga Operária
se faça presente na história da Lumber e
Importa ressaltar que o período após a que ali aconteçam, em 1917 e em 1919, as
proclamação da República está marcado primeiras greves de trabalhadores em Santa
externamente pelo início de uma nova Catarina. A motivação para a greve vinha
fase expansiva da economia capitalista do interior da fábrica, onde a capacidade
CAPÍTULO I

CAPÍTULO I
central, agora em sua forma imperialista. de sobrevivência dos operários era amea-
A expansão resulta çada por longas jornadas, péssimas condi-
ções de trabalho e pelo elevado número de
acidentes (Tomporoski, 2006).
Fotografia 2 – Pouso de carroções na beira da Estrada Dona Francisca. na necessidade de mais matérias-
Fonte: Extraído de H. Bachl (1951, p. 87). -primas, alimentos e mercados
consumidores da periferia, tendo Conforme Tomporoski, os trabalhadores
interesse em aprofundar a divisão empregados pela Lumber, excetuando os
internacional do trabalho, bem altos funcionários de origem estadunidense,
como expandir geograficamente
seu raio de atuação, inclusive in- eram recrutados
corporando novos territórios. (Ma-
migonian, 1987, p. 66)
na região, entre a população local.
No início do século XX, a região
Tal fato se exemplifica, no caso de Santa
Gênese da formação econômica e social

Gênese da formação econômica e social


era habitada por caboclos - que já Fotografia 5 – Trabalhadores em greve da Lumber (1917).
Catarina, pela concessão e venda de terras há muito viviam no planalto -, e Fonte: Extraído de Tomporoski (2013, p.190).
– realizadas pelo governo e também por por imigrantes europeus, princi-
particulares – para o “Sindicato Farquhar”. palmente poloneses, ucranianos e
Esse assume, com exclusividade (1908), a
alemães. Estes grupos forneceram Planalto Oeste: a pequena produção também protegia, como as primeiras colô-
a grande maioria dos trabalhado-
ferrovia, ligando São Paulo ao Rio Grande res empregados na Lumber. No ano
mercantil nias nas encostas do planalto, uma variante
do Sul, no caso o trecho que corta o planalto de 1915, o número de operários mais a oeste do caminho das tropas.
catarinense, tendo também como objetivo empregados no beneficiamento da Na segunda metade do século XIX – enquanto
madeira atingiu seiscentos e quin- eram fundadas as colônias alemãs e italianas Importa também lembrar que, a partir da
potencializar a comercialização de terras ze, além de um grande número de
e a extração de madeira realizadas pela nos vales atlânticos e encostas catarinenses, República, as terras devolutas passam a
caboclos responsáveis pelo corte
Southern Brazil, Lumber and Colonization e transporte das toras na mata. com base na pequena produção mercantil pertencer aos estados, ou seja, às oligar-
Company. Nas suas terras, dentre as serra- (Tomporoski, 2006, p. 19) –, no planalto, majoritariamente, a terra quias regionais e sua clientela política,
rias construídas, estava a de Três Barras, continuava sendo ainda apropriada por lati- que passam a controlar as terras públicas
considerada o maior complexo madeireiro Tornando-se responsável pela extração e fúndios, na forma de domínio feudal e de compradas a baixo preço e negociadas,
Fotografia 3 – Secagem de erva-mate no Planalto Norte Catarinense, início do século XX.
Fonte: Extraído de Oliveira (1951, p. 123). da América Latina. A Lumber possuía comercialização de milhões de pinheiros, pequena produção posseira cabocla. Mesmo muitas vezes, junto a empresas coloniza-
legislação própria e se comportava como além de cedros, imbuias, canelas e assim já se apresentam indícios de que as doras. Daí a expansão de núcleos coloniais
um território estadunidense dentro do perobas, a Lumber potencializa a veloci- áreas florestadas do planalto, próximas a no período posterior à proclamação da
Brasil. Nela era comemorado o 4 de julho, dade do processo de expropriação dos vales das vertentes do interior, iriam abrigar República, pelos vales de rios do planalto
dia que marca a independência dos EUA. posseiros do planalto catarinense, resul- colônias pequeno-produtoras. catarinense, integrantes da vertente do inte-
tando no quadro sangrento da Guerra do rior. No caso do planalto Norte, bacias do rio
O desenvolvimento efetivo da atividade Contestado (1912-1916). Cabe destacar Preocupado em garantir “o uti-possidetis, Negro e Iguaçu, “a população cresceu consi-
madeireira era até então obstaculizado pelas que a guerra sertaneja do Contestado, à vista do litígio lindeiro com a Argentina” deravelmente com a chegada de imigrantes
próprias forças produtivas locais represen- não envolveu apenas questões de limites (Cabral, 1968, p. 317), conhecido no Brasil alemães, italianos, poloneses e rutenos, que
tadas pela disponibilidade de mão-de-obra e entre Paraná e Santa Catarina, mas, prin- como a Questão de Palmas, o Governo do os povoaram” (Peluso Jr, 1991, p. 77).
pela incipiente técnica localmente existente, cipalmente, a derrubada das matas, a Império criou em 1859, em Santa Catarina,
além da ainda precária rede de transportes. concessão e comercialização de terras e a mais uma colônia militar, a do Chapecó. Nas terras da porção oeste do planalto, a
Não é por acaso que, apesar da abundância consequente expropriação da população Implantada em 1882 em área corres- partir da primeira década do século XX, se
Fotografia 4 – Detalhe de painel do Museu Municipal de Três Barras com reproduções de fotografias de atividades da da madeira na região, o Brasil importasse cabocla, também acrescida por migrantes pondente hoje ao município de Xanxerê, estrutura uma formação econômico-social
Lumber de autoria de Claro Gustavo Jansson. pinho serrado do Canadá, Estados Unidos nacionais e estrangeiros, originalmente essa colônia além da guarda da fronteira, distinta da latifundiária (Espíndola, 1999).

28 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 29


Da venda por empresas colonizadoras agora com a participação de madeireiros beneficiamento da madeira e pela produção Considerações finais contém distintos estágios históricos ao especialmente quando a força corpórea
particulares de pequenos lotes, principal- também originados das colônias alemãs de papel e celulose – em grande medida, fruto mesmo tempo, desde os mais elementares humana é determinante na produção, diante

A
mente para imigrantes originados de áreas e italianas do Rio Grande do Sul, que mais de capitais forâneos à região – cuja matéria – onde os fatores físicos e biológicos pesam dos poucos recursos técnicos disponíveis. O
coloniais italianas e alemãs do Rio Grande tarde chegam a alcançar, com esta atividade, prima, em virtude da devastação da floresta análise do processo de conquista e muito mais do que os fatores humanos – até que as diferencia, incluindo aqui as áreas
do Sul, resultará uma região produtora o centro-oeste e o norte do país. original, se produz hoje em vastas extensões colonização do território de Santa aqueles em que a ação humana assume cada pastoris, é o modo de produção, a origem
com base social e econômica na pequena de florestas plantadas (sendo Santa Cata- Catarina, gênese da formação social vez mais uma preponderância sobre a natu- de suas populações e o grau de desenvolvi-
produção mercantil (Mamigonian, 1966, No processo de colonização do extremo- rina o segundo estado em extensão de terras e econômica catarinense – alicerçada na reza, ainda que nunca de forma absoluta. mento de sua capacidade produtiva. Asser-
1986), tendo como principais núcleos de -oeste, importa ressaltar a colônia de Porto com pinus), revelando uma estrutura que perspectiva de ‘combinações geográficas’, ou tiva comprovada, por exemplo, no processo
povoamento Joaçaba, Chapecó e Concórdia. Novo (Itapiranga), planejada e fundada de certa forma se superpõe ao povoamento seja, de ‘múltiplas determinações’ de ordem Durante grande parte deste período, os tardio de diferenciação regional alcançado
A instalação dessas pequenas propriedades em 1926 pela Sociedade União Popular latifundiário pecuarista e ervateiro original; natural e humana (Mamigonian, 2005) – elementos naturais, espacialmente locali- no planalto catarinense, já no início do
rurais policultoras, fruto da expansão demo- para Católicos Alemães do Rio Grande do b) a da porção oeste, cuja característica identificou a sucessão, por cerca de 3 séculos, zados, assumiram papéis determinantes século XX, contando com a participação
gráfica do estado vizinho, tem início efetivo Sul, de origem jesuítica, como um projeto principal resultante é a presença de dinâ- de diferentes combinações geográficas, junto aos elementos humanos representa- ativa de capitais e tecnologia externos. Neste
com a chegada da estrada de ferro São étnico-religioso. Ao contrário das colônias micas agroindústrias, seja de suínos, aves formando distintos complexos regionais, tivos dos tempos de conquista e colonização. tempo também já acontece o processo de
Paulo-Rio Grande do Sul (1908-1910), no mistas, esta só arregimentava colonos de ou laticínios, originadas de capitais locais, caracterizados por duas grandes formações Tempos marcados pela dialética das forças diferenciação, não meramente regional, mas
sociais e econômicas originais, estruturadas
CAPÍTULO I

CAPÍTULO I
vale do rio do Peixe. A nova possibilidade de religião católica, oriundos principalmente que “foram criando áreas rurais cativas com internas disponíveis frente às externas. especialmente social, nas áreas pequeno
transporte permitiu, de imediato, a ligação de antigas colônias alemãs do Rio Grande milhares de colonos integrados, incluindo a sob a forma de latifúndio e de pequena produtoras mercantis dos vales atlânticos,
da região nascente com o mercado paulista do Sul e, em menor número, de Santa Cata- força de trabalho de toda a família” (Mamigo- produção. Nelas, durante este período, se O relevo, em primeira instância, de acordo dando origem ao modo de produção capita-
e assim, nas palavras de Waibel (1958, p. rina e imigrantes vindos diretamente da nian, 2011, p.112). Pode-se acrescentar que inter-relacionam, dialeticamente, elementos com Peluso Jr (1991), define a grande lista, cujos elementos humanos são cada vez
219), “o hinterland de Santa Catarina foi Alemanha (Mayer, 2016). os 31.735 km² do planalto leste abrigam hoje internos e externos de diferentes ordens, divisão regional de Santa Catarina: região do mais preponderantes.
drenado comercialmente para o norte, uma rede de 42 municípios e os 27.312 km² de distintos estágios históricos, sejam eles litoral e encostas e região do planalto. Essas
para São Paulo, por gente que veio do sul”. Essa diferenciação na ocupação do planalto do planalto oeste, uma rede de 118 municí- comunistas primitivos, escravistas, feudais, características de relevo podem explicar a Essa conquista e colonização, gênese da
Certamente tal transformação contou com levou à existência de duas formações econô- pios (IBGE, 2016), o que retrata espacialmente mercantis e/ou capitalistas. Nessa sociedade singularidade de Santa Catarina frente aos formação social e econômica catarinense, é
o derrubar das matas, resultante do intenso mico-sociais: a) a da porção leste do planalto, estas distintas formas – latifúndio e pequena de modos de produção contemporâneos, mas estados vizinhos, principalmente conside- fundamental ao entendimento das dinâmicas
desenvolvimento dessa atividade extrativa, que se particulariza, principalmente, pelo produção mercantil – de ocupação do espaço. não coetâneos (Rangel,1957) – cuja superes- rando o seu litoral recortado, as encostas econômicas, sociais e populacionais que se
trutura jurídica e política, o Estado, está sob e os vales atlânticos, mas não explicam as desenrolaram durante estes séculos, chegando
o comando de suas classes dominantes – é suas formações originais, que marcam a aos dias atuais. Para percorrê-las, como nos fala
que se insere o pequeno modo de produção. unidade genética da Região Sul: o latifúndio Rangel, devemos ter presente que
Gênese da formação econômica e social

Gênese da formação econômica e social


Ao contrário dos outros modos, a pequena e a pequena produção.
produção não se sustenta numa diferença
de classes, sendo uma sociedade mais igua- O clima explica o processo colonial tardio correram rios de sangue – sangue
litária, inserida em um universo de desigual- europeu, africano, mas principal-
e o tipo de ocupação agrícola diferenciada mente ameríndio [...] essa seria a
dade. Tem, como inerente a sua dinâmica, a das áreas florestadas da região meridional, base incomovível sobre a qual se
tendência à diferenciação social (Mamigo- frente às áreas de agricultura escravista do ergueria o edifício de nossa Socie-
nian, 1986). nordeste e sudeste. Ambas, ao contrário dade – desde a sua Economia até
o Direito – pelos séculos afora, até
da ocupação pecuarista, necessitam de muito recentemente, e sob cer-
Isto posto, cumpre então destacar que a um maior número de braços disponíveis à to ponto de vista, até nossos dias.
gênese da formação social catarinense derrubada da mata e ao trabalho agrícola, (Rangel, 1981, p.6)

Fonte: Extraído de Peluso (1947, p. 57).

Fotografia 6 – Vista de Concórdia e da S. A. indústria e Comércio Concórdia, 1950.


Fonte: Extraído de Zedar (1950, p. 300).

30 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 31


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32 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 33


Mulher Xokleng/Laklãnõ (1995).

® Detalhe de fotografia de Silvio Coelho dos Santos, 1995 (extraído de Santos, 1997, p.139).
Capítulo II

Indígenas
Povos
36
Povos Indígenas CAPÍTULO II

Povos Indígenas CAPÍTULO II


37
® Detalhe modificado de foto de Osmarina de Oliveira.
Capítulo 2 | Povos Indígenas
Luisa Tombini Wittmann1
Clovis Antonio Brighenti2

O
s povos indígenas que ocupam o atual lugares como ato de poder. Os diferentes Na cosmovisão deles, o espaço é de uso e
território catarinense descendem povos nativos foram chamados de “índios”, cuidado coletivo, que pode ser temporário
de grupos que há milhares de anos um termo genérico que turva a percepção ou permanente. O território não pertence ao
habitam a região. São conhecidos pelas da riqueza e da diversidade cultural, mas povo: é o povo que pertence ao território.
denominações Guarani, Kaingang e Xokleng, que, atualmente, é utilizado por diferentes
mas nem sempre foram designados assim. povos na luta por direitos comuns. Os limites dos espaços territoriais são
Os Kaingang eram conhecidos como Coro- moldados em diferentes contextos pelos
ados até o século XIX. Os Xokleng no Alto No tocante ao aspecto territorial, é possível diferentes interesses de grupos humanos
Vale do Itajaí voltaram a se definir Laklãnõ identificar certo padrão de ocupação. Tal (Marcon, 2003). Tomando a noção de

CAPÍTULO II
recentemente. Antes, pesquisadores atri- como a cultura, o território não é rígido, espaço como construção social e histórica,
buíram-lhes diversos nomes: Botocudos, mas produto da dinâmica histórica das podemos perceber as perspectivas dos dife-
Aweicoma, Xokleng, Xocre, entre outros. Os sociedades. De todo modo, percebe-se que rentes grupos humanos que conviveram,
Guarani foram denominados Carijó, Carió, as sociedades indígenas tendem a perma- disputaram e moldaram a área que passou a
Mbiaza, Monteses, porém o nome Guarani necer em seus espaços históricos, mesmo ser designada Santa Catarina. Nesse aspecto,
é conhecido desde 1528, quando explora- quando são forçados a migrar. Portanto, assume relevância o conceito de cosmografia
dores espanhóis percorreram o Rio da Prata. ao olhar para as ocupações históricas, para definir os saberes ambientais, ideoló-
Apesar de se reconhecerem como Guarani, percebe-se uma forte relação com as gicos e identitários que determinado grupo
preferem ser nominados pelo grupo linguís- ocupações contemporâneas no caso dos utiliza para manter seu território, criado
tico ao qual pertencem: Mbya, Nhandeva, três povos presentes em Santa Catarina. No na dimensão coletiva e histórica. Segundo
Kaiowá, dentre outros. As mudanças de entanto, devemos atentar para o processo Little (1992, p.4), “o fato de que um terri-
nomenclatura estão diretamente associadas histórico de colonização para compreender tório surge diretamente das condutas de
aos processos de afirmação das identidades a localização desses povos e a redução territorialidade de um grupo social implica

Povos Indígenas
e ao direito de se autodenominar, só recente- territorial na atualidade. que qualquer território é um produto histó-
mente conquistado. O ato de nominar não é rico de processos sociais e políticos”.
inocente, é “um postulado jurídico de posse” Os territórios indígenas não são estáticos,
(Subirats, 2006, p. 122), ou seja, possuir a ao contrário: são fluidos, não reconhecendo Antes de Santa Catarina
propriedade sobre o outro. Quando chegou fronteiras, como no caso dos territórios
ao novo continente em 1492, Colombo nacionais ou estaduais. Os Kaingang, por A arqueologia é importante ciência para
foi tomado por um “furor nominativo” exemplo, tiveram significativa presença no auxiliar-nos a compreender os usos e
(Todorov, 1983, p. 27), passando a nomear centro oeste das regiões Sul e Sudeste do costumes dos povos que habitam a região
Brasil. Os Guarani, por sua vez, são trans- desde antes de existir o estado de Santa
nacionais, ocupam as terras baixas desde Catarina. Ela não fornece todas as respostas,
1
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade
a Bolívia até o litoral atlântico. Os Xokleng, mas associada à História e à Antropologia,
Federal de Santa Catarina (2000) e em História pela
que percorriam uma vasta região entre o leva-nos a fazer novas e melhores perguntas.
Universidade do Estado de Santa Catarina (2002),
Mestra (2005) e Doutora (2011) em História pela
litoral e o planalto, entre as atuais cidades
de Curitiba e Porto Alegre, são hoje mora- A partir dessas ciências é possível saber
Universidade Estadual de Campinas. Professora do
dores de pequena área no Vale do Itajaí e que os Guarani usam prioritariamente as
Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em
outra no Planalto Norte. Havia casos inclu- terras baixas, as várzeas dos grandes rios
História da Universidade do Estado de Santa Catarina,
sive de sobreposição e de uso em comum da bacia do Prata e do litoral sul brasi-
onde coordena projetos de extensão e de pesquisa na
dos espaços, fato que ocorre ainda hoje. Há leiro. Diferentemente do que se veiculou
área de História Indígena.
diversas Terras Indígenas com presença de nos livros didáticos e outras mídias, o
2
Graduado em História (1995) pela Universidade do mais de um povo, com famílias mistas ou povo Guarani é exímio agricultor, dedi-
Oeste de Santa Catarina, Mestre em Integração da que utilizam espaços separados; porém, cado mormente ao cultivo de mandioca,
América Latina pela Universidade de São Paulo (2001) essas formações espaciais têm raízes nas milho, amendoim, melancia, erva-mate e
e Doutor em História Cultural pela Universidade políticas indigenistas do Estado brasileiro, outras ervas medicinais, além das ativi-
Federal de Santa Catarina (2012). Professor de que não consideraram as concepções indí- dades de caça, coleta, pesca e navegação.
História Indígena na Universidade Federal da genas de territorialidade nem as singu- O uso dos espaços, portanto, está direta-
Integração Latino-Americana, membro da Comissão laridades étnicas. Um aspecto central da mente relacionado às práticas de cultivo.
Nacional de Educação Escolar Indígena do MEC e relação desses povos com seus territórios é De acordo com Melià (1988), a agronomia
colaborador do Conselho Indigenista Missionário. a inexistência do conceito de propriedade. Guarani era mais sofisticada do que a

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 39


Escola indígena Itaty, município de Palhoça (2013).
europeia. Foram eles que abasteceram Conforme Schmitz (2013), em meados floresta de Araucária no planalto. Viviam em largos períodos do ano. As aldeias Jê do
naus e viajantes desde o início do século do primeiro milênio, no planalto dos três acampamentos pequenos e pouco estáveis na litoral existiram entre os séculos IX e XII,
XVI, embora o processo de colonização estados da Região Sul aparecem assen- primavera e no verão, nas encostas da serra; e tendo talvez o avanço Guarani os levado ao
tenha provocado fissuras que limitaram a tamentos com depressões semiesféricas em grupos maiores e mais estáveis no outono planalto. A presença Xokleng na mata Atlân-
prática. Cumpre enfatizar que não se trata no solo. Essas casas subterrâneas são os e no inverno nas terras altas. Como sugere tica da encosta do planalto pode ter relação
de produção para comércio em grande primeiros vestígios arqueológicos, em De Masi (2009), cabe indagar se esse padrão com esse (des)encontro Jê-Guarani, na visão
escala, pois essa prática não faz parte da conjunto com sepulturas humanas, de uma da época do contato é o mesmo no passado, de Schmitz (2013). Sobre os assentamentos
cosmovisão indígena, sendo o excedente população que os arqueólogos denominam porquanto o grupo pode ter-se adaptado ao pré-coloniais do planalto catarinense, há
usado, sobretudo para troca e em festas. Jê Meridional, ancestral dos Kaingang e modo de vida caçador-coletor com alta mobi- estudos em andamento que buscam singula-
dos Xokleng. O uso repetido dessas depres- lidade como estratégia de sobrevivência a rizar a cultura material Kaingang e Xokleng.
Significativo e recente estudo arqueológico sões nos mesmos locais indica a coleta de partir da colonização, tendo anteriormente Em pesquisas arqueológicas no baixo vale do
apresenta um novo modelo de expansão semente de araucária, atividade signifi- baixa mobilidade durante o ano todo. O fato é rio Canoas, De Masi (2009) identifica sepul-
Guarani na bacia do rio da Prata e no cativa, histórica e atual dos grupos Jê em que a chegada e a estabilização dos imigrantes tamento com cremação, atribuídos a grupos
litoral sul do Brasil (Bonomo; Angrizani; Santa Catarina. A estabilidade da ocupação europeus a partir de meados do século XIX Xokleng, porquanto os Kaingang não prati-
CAPÍTULO II

CAPÍTULO II
Apolinaire; Noelli, 2015), segundo o qual do planalto, inclusive com estruturas de causa, além de um encontro inédito, uma cavam esse rito. No geral, os Xokleng seriam
houve dois principais fluxos de acelerada sociabilidade coletiva fechadas por taipas posterior limitação territorial através da polí- mais caçadores-coletores que agricultores,
expansão, com um período de estabili- de terra, estava ligada ao território no tica indigenista de aldeamento. enquanto os Kaingang apresentavam mais
dade intermediário, sendo o primeiro nos qual circulavam defendendo seu sustento, práticas de horticultura que caça e coleta,
três séculos iniciais da Era corrente e o sobretudo o pinhão (Schmitz, 2013). A Os Kaingang são usuários das terras altas, embora em menor escala do que os Guarani.
segundo do ano mil até o início da coloni- expansão Guarani não atingiu esses grupos porém, como já se viu aqui, seus antepas-
zação europeia. Trata-se de uma história de do planalto, mas a implantação dos colonos sados não se limitaram ao planalto das Arau- Narrativas indígenas
mobilidade em longas distâncias, através europeus viria a ser implacável, restrin- cárias. Os Jê Meridional utilizaram também sobre o território
de cursos fluviais e de assentamentos de gindo as áreas territoriais dos Jê em Santa terras litorâneas e margens dos afluentes
aldeias cercadas de florestas. Os dados Catarina ao oeste e ao Vale do Itajaí. do rio Paraná, estando o predomínio por As características apresentadas permitem-
arqueológicos demonstram que há dois terras altas associado à mitologia do grande -nos afirmar que não se trata de nomadismo
mil anos esse povo já habitava a região do Segundo Lavina (1994) os Xokleng se deslo- dilúvio e à predominância da mata de Arau- anterior ao sedentarismo, mas de mobilidade Figura 2 – Modelo de visualização temporal (TVM) de 300 a 1000 dC (AD).
Fonte: Adaptado de Bonomo et al. (2015).
Alto Paraná, compreendida como a tríplice cavam entre a mata Atlântica e os campos e cária, semente da qual se alimentavam por
Povos Indígenas

Povos Indígenas
em áreas específicas, como fica evidente nos
fronteira de Brasil, Argentina e Paraguai, dados arqueológicos e etno-históricos refe-
de onde se expandiu, criando redes de rentes aos Guarani, Kaingang e Xokleng e
aldeias interligadas por alianças polí- seus antepassados. Trata-se aqui de povos
ticas, econômicas e sociais, o que explica a que utilizavam os espaços na medida de
uniformidade da língua e da cultura mate- suas necessidades, em territórios que não
rial Guarani. O crescimento demográfico e se limitam às fronteiras do Estado de Santa
a expansão populacional os levaram para Catarina ou sequer às fronteiras brasileiras.
novas terras, avançando para diversas Portanto, não são “de” Santa Catarina, mas
regiões, sem abandonar antigas ocupações. estão “em” Santa Catarina, como se percebe
na fala do indígena Guarani Roque Timóteo.
Há mais de um milênio foi iniciada a
ocupação Guarani na costa Atlântica sul,
inclusive de Santa Catarina, cujas datações Para mim, eu nasci aqui no Bra-
mais antigas estão entre os anos 930 e sil, eu nasci aqui no Paraguai. Mas
para você eu nasci aqui no país Ar-
980 em Imbituba. O material arqueológico
gentina. Para mim não, para mim
Guarani encontrado no Sul do Brasil aparece não tem só um Paraguai, tudo isso
nas camadas superiores de sítios ocupados aqui é mundo Paraguai. Tudo é Pa-
por outras etnias. Ou seja, a expansão raguai, porque nós índios Guarani
não temos bandeira, não temos cor.
Guarani não se deu em espaços vazios, teve
E para mim Deus deixou tudo livre,
relações interétnicas interferindo nesse não tem outro país. Tem Paraná,
processo. Grupos Jê, antepassados dos Kain- tem quantas partes o Rio Grande.
gang e Xokleng, ter-se-iam deslocado do Do outro lado já é outro país, mas
para mim não tem outro país, é só
Brasil Central para o Sul, tanto na direção
um país. Quando uma criança nas-
das áreas de planalto das araucárias quanto ce aqui no Brasil, nasce lá no Para-
da planície costeira. Ainda antes da chegada guai. Quando nasce no Paraguai,
dos europeus, novas aldeias Guarani foram ela nasce aqui mesmo também. Só
um país. Para você eu nasci aqui na
estabelecidas no litoral norte catarinense e Figura 1 – Modelo de Visualização Temporal (TVM) de 0 a 300 dC (AD). Figura 3 – Modelo de visualização temporal (TVM) de 1000 a 1780 dC (AD).
Fonte: Adaptado de Bonomo et al. (2015). Argentina, mas para mim eu nasci Fonte: Adaptado de Bonomo et al. (2015).
na fronteira com o Paraná. aqui. É igual. Porque a água, por

40 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 41


exemplo, esse rio é grande [mos- Na reinterpretação das narrativas míticas nalmente ocupadas; as Reservas Indígenas
humana com rica e variada flora e fauna, os seres humanos da natureza, sequer reconhecimento pelo Estado, tampouco é
trando o rio Três Barras], mas só
em cima está correndo, por baixo é permitindo uma inter-relação e complemen- hierarquizam tal relação. Essa concepção sobre a criação, resultado do contato com as – criadas pelo Estado em locais que não anulado pelo não reconhecimento. Esse
o mesmo, a terra. Yvy rupa é tudo taridade humana/natureza. Os tempos preté- de universo uno se materializa numa sociedades europeias, os Guarani entendem se configuram como ocupação tradicional pressuposto está amparado pela Cons-
isso aqui, o mundo. (Timóteo, 2003 ritos de independência e de autossuficiência relação horizontal e interdependente. Esse que o universo foi criado para todos, porém (como a Aldeia Kondá, fruto da necessi- tituição Federal, definido como terras
apud Darella, 2004, p. 51) dividido em duas partes: as florestas e os dade de assentamento de uma comunidade
foram tolhidos pela política indigenista ao elemento se reflete no contexto contempo- imprescritíveis: “§ 4º As terras de que trata
longo do século XX, comandadas pelo Serviço râneo das atuais Terras Indígenas, locais animais foram destinados a eles a fim de que Kaingang que vivia na cidade de Chapecó); este artigo são inalienáveis e indisponí-
Narrativas Kaingang distinguem os tempos de Proteção aos Índios (SPI) e Fundação onde mais se preserva o meio ambiente, cuidem e desfrutem, enquanto a outra parte, e as Terras Indígenas – tradicionalmente veis, e os direitos sobre elas, imprescrití-
“antigos” do contemporâneo, em que a alte- Nacional do Índio (Funai), também respon- que eles consideram um ente dotado de composta por áreas desflorestadas, campos, ocupadas pelos povos indígenas, conforme veis”. Ocorre que as terras reivindicadas
ração e a diminuição do território consti- sável pela espoliação do patrimônio indígena. espírito. A preservação das matas e do matas de reflorestamento e animais como determina a Constituição Federal de 1988, pelos indígenas em Santa Catarina são
tuem ponto chave. Muitos idosos relembram ambiente de modo geral não ocorre pela bois e cavalos, foi criada para os não indígenas. artigo 231: “São reconhecidos aos índios pequenos fragmentos do território, são
que se vivia do mato, da caça, da coleta e de Nas últimas décadas, todavia, a luta do movi- falta de meios nem de técnicas de desma- Essa conceituação revela respeito e equilíbrio sua organização social, costumes, línguas, os últimos espaços que lhes restaram.
plantações. “Nossa vida era uma vida assim mento indígena se fortaleceu. A partir de um tamentos, mas se deve basicamente pela entre as sociedades, ou seja, todos têm direito crenças e tradições, e os direitos originários Conforme vemos no Quadro1, mesmo que
... tipo um passarinho!”, recorda Librantina. processo constante de encontros e assem- relação de interdependência do ser humano à terra. Por essa interpretação, até recente- sobre as terras que tradicionalmente ocupam, fossem demarcadas todas as terras, elas
“O índio é ... ele é liberto, né? [...] Eu tô aqui bleias, os povos indígenas atingiram um com o meio ambiente. Conforme destacou mente, os Guarani não desejavam a demar- competindo à União demarcá-las, proteger não atingiriam 1% do território catari-
CAPÍTULO II

CAPÍTULO II
nesse apertadinho, né?; podia escolher um nível organizativo que possibilitou intervir Tommasino, na visão dos Kaingang, assim cação de terras, porquanto estas já estariam e fazer respeitar todos os seus bens” [grifo nense, espaço menor do que o Parque Esta-
lugar mais longe, mas não posso! Eu tenho no processo Constituinte na década de 1980, como o homem é dotado de uma natureza destinadas a eles, no entanto, a ganância levou nosso]. Na sequência, a Constituição define dual da Serra do Tabuleiro. É voz corrente
que comprar e daí eu não posso, e a terra é que resultou na aprovação de importante animal, os seres da natureza, os animais e os os não indígenas a se apropriarem cada vez o que são “tradicionalmente ocupadas”: “§ que no Brasil os indígenas ocupam 13%
nossa!”, lamenta Emiliana. Além da restrição regramento jurídico na Constituição Federal vegetais também têm seus espíritos prote- mais dos espaços Guarani, controlando toda a 1º São terras tradicionalmente ocupadas do território nacional; no entanto, em
territorial, muitos também reclamam do de 1988. Concomitante às mudanças legais, tores. Podemos acrescentar ainda que, se terra, inclusive as matas atuais. pelos índios as por eles habitadas em Santa Catarina os Guarani, Kaingang e
uso de agrotóxicos, do desmatamento e da as ações dos povos indígenas resultaram na alguns animais são também yangré [espí- caráter permanente, as utilizadas para suas Xokleng ocupam apenas 0,8%, ou seja,
redução dos animais na floresta e nos rios: retomada de diversas terras e engendram rito animal] dos homens, eles são também, Dos territórios tradicionais atividades produtivas, as imprescindíveis à 99,2% do Estado de Santa Catarina estão
“Estão enchendo as lavouras com agrotó- vigilância constante para que as políticas num certo sentido, “humanos”. Assim sendo, às terras tradicionalmente preservação dos recursos ambientais neces- ocupados por não indígenas. É importante
xicos, intoxicando nossas águas, nosso ar. indigenistas atuais levem em consideração é possível dizer que, não apenas entre os sários a seu bem-estar e as necessárias a sua observar que 98,42% da extensão de todas
[...] Hoje as crianças estão bem mais frágeis, ocupadas
os aspectos étnico-territoriais e cosmoló- Kaingang, mas para os povos indígenas em reprodução física e cultural, segundo seus as TIs do país encontram-se na Amazônia
estão mais doentes”, declara Seu Noé. No gicos indígenas. geral, não há dicotomia entre o universo usos, costumes e tradições”. Legal brasileira e abrigam 55% da popu-
passado, eram os alimentos e os remédios João Pacheco de Oliveira (1998) observa que
humano, natural e sobrenatural; muito pelo Terra Indígena (TI) é uma categoria jurídica lação indígena. Portanto, o Sul, o Sudeste,
do mato que garantiam a saúde do povo. Diferentemente das demais sociedades contrário, são universos que se interpene- O direito originário, como pontifica o o Nordeste e partes do Centro-Oeste
Povos Indígenas

Povos Indígenas
“Agora tá mudado, mas no meu tempo de definida pela Lei nº 6001 de 10 de dezembro
ocidentais, os indígenas não separam tram e se influenciam reciprocamente. de 1973, conhecida como Estatuto do Índio. A jurista e Ministro do Supremo Tribunal somados representam apenas 1,58% das
pequeno, da infância [...] era só mato, era um Federal João Mendes Júnior, advém do terras indígenas para uma população de
pinhalão, mato, tudo, tudo!”, diz Seu Cesário. Constituição Federal de 1988 incorporou esse
conceito e definiu-o como habitat. A noção instituto do indigenato, um postulado do 45% dos indígenas. Nessas regiões do
Esses fragmentos da memória, revelados direito colonial reconhecido a esses povos país, mesmo as terras antigamente demar-
em entrevistas concedidas a Carina Santos de habitat, questionada por alguns pesquisa-
dores por assemelhar-se aos conceitos bioló- por serem os primeiros e naturais senhores cadas foram reduzidas ou extintas, resul-
de Almeida, estabelecem um contraste dessas terras. Tal direito independe do tando no quadro que veremos a seguir.
entre um tempo bom e de fartura e o tempo gicos, é defendida por Pacheco de Oliveira
presente, menos bom (Almeida, 2015, (1998, p.44-45), pois “aponta para a necessi-
p. 139-159). São memórias comuns, que dade de manutenção de um território, dentro
resgatam trajetórias de vida. Em entrevista do qual um grupo humano, atuando como um
a Clovis Brighenti, Gumercindo Fernandes sujeito coletivo e uno, tenha meios de garantir
destacou as mudanças que ocorreram em a sua sobrevivência físico-cultural”. Ocorre
seu território, revelando sua percepção que o território dos povos indígenas em Santa
Catarina foi ocupado em tempos pretéritos e

® Detalhe modificado de fotografia de Osmarina de Oliveira (2000).


sobre a historicidade do espaço. “Olha, eu
vou lhe contar bem, porque eu nasci e me não há como garanti-lo em sua extensão total,
criei aqui. Quando eu me conheci por gente, diferentemente do que ocorre em algumas
regiões demarcadas da Amazônia – caso dos

® Detalhe de fotografia de Clovis A. Brighenti (2009).


aqui tudo era mato. Vai fazer uns 90 anos
que foi começado a desmatar nossa área Yanomami e de povos no Vale do Javari.
indígena. Eles foram desmatando, depois Em Santa Catarina, a demanda dos povos
esta nossa área aqui os brancos quase indígenas é por terras situadas dentro dos
tomaram. Quase tomaram. Tinha pinheiro, territórios historicamente seus. O Estatuto
taquaral, caça. Existia bugio, mico, porco do do Índio define essas terras classificando-
mato, cateto [pecari tajacu]. A nossa vida é -as em três categorias: as Terras Dominiais–
caminhada.” (Brighenti, 2012, p. 28). adquiridas pelas comunidades com recursos
próprios, através, por exemplo, de medidas
A existência da caça indica que os espaços a mitigadoras oriundas de indenizações por
que se referem os entrevistados abarcam um obras que impactam seus territórios. Estas
amplo contexto, que possibilitava a existência
Fotografia 1 – Detalhe do desenho de Maurizia, município de Palhoça, 2013. não podem incidir sobre terras tradicio- Fotografia 2 – Avaxi Etei ou milho verdadeiro Guarani, Tekoa Ygua Porã - Amâncio.

42 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 43


Quadro 1 – População Indígena em Santa Catarina residindo nas Terras e Reservas Indígenas
Esse contexto é fruto, sobretudo, da polí- Enquanto os imigrantes comemoravam a camponeses, compostos por um corpo de
Terras e Reservas Indígenas População Tamanho (hectares) Situação fundiária tica indigenista do século XX. Em 1910 o almejada propriedade, os indígenas tinham agentes públicos responsáveis pela assis-
Povo Municípios
2016 2013 2016 2016 Estado brasileiro criou o Serviço de Proteção o seu território reduzido. O conflito se tência (escola e saúde) e especialmente
aos Índios (SPI) substituído em 1967 pela acirrou. Homens apelidados de bugreiros pelo controle da vida indígena. Na estrutura
1 Toldo Imbu K 211 Abelardo Luz 1.960,69 DECLARADA
Fundação Nacional do Índio (Funai). A filo- foram contratados para entrar na floresta administrativa, acima dos postos funcionava
REGISTRADA
X 2.153 José Boiteux, Vitor Meirelles, 14.084,88 sofia dos órgãos indigenistas era promover a e atacá-los. Grupos inteiros foram dizi- a Inspetoria Regional (IR), que no caso do Sul
PU/CRI
2 Ibirama Laklãnõ G Doutor Pedrinho, Itaiópolis, e
K 58 Rio Negrinho DECLARADA integração dos indígenas à chamada “comu- mados, e algumas meninas e meninos foram do Brasil ficava sediada em Curitiba, e era
23.023,12
Portaria MJ 1128/03* nhão nacional”, ou seja, os indígenas eram levados para cidades com o intuito de serem denominada IR7. Eram locais onde a língua
REGISTRADA
K 988,66 considerados transitórios, deveriam desapa- “civilizados”. A violência do confronto e portuguesa e a religião cristã deveriam ser
SPU/CRI
3 Toldo Chimbangue 731 Chapecó recer enquanto grupos culturais e integrar-se as abruptas mudanças geraram tristeza e adotadas como oficiais e as práticas agrícolas
REGISTRADA
G** 954,07
SPU/CRI à sociedade brasileira na condição de campo- silêncio nas crianças forçosamente inse- abandonadas em nome da mecanização da
DECLARADA
4 Guarani do Araçaí G** 144 Saudades e Cunha Porã 2. 721
Portaria MJ 790/07* neses. Foram criadas reservas, pensadas ridas num novo e estranho mundo, que lavoura. A partir dos anos de 1960, essas
K 6.428 15.623,95
HOMOLOGADA como depósito de indígenas para afastá- mantiveram elementos socioculturais indí- terras passaram a ser relevantes fontes de
Ipuaçu 1991
5 Xapecó -los do convívio social, liberando as terras genas como comer comida sem sal, carne renda, porque guardavam reservas ainda
CAPÍTULO II

CAPÍTULO II
Entre Rios e Abelardo Luz DECLARADA
G 111 660 por eles ocupadas para a colonização. Esses e mel, enfeitar-se, brincar com animais e inexploradas de madeira nativa. O SPI desen-
Portaria MJ 792/07
Seara
880,07 REGISTRADA SPU/CRI locais são considerados pelo antropólogo tomar banho de rio (Wittmann, 2007). volveu uma política de arrendamento das
6 Toldo Pinhal K 189 DECLARADA
Paial e Arvoredo 3.966 Antônio Carlos de Souza Lima como “cercos terras para camponeses e fazendeiros, venda
Portaria MJ 795/07*
RESERVA de paz”, por sua condição de controle e confi- A violência dos bugreiros e o desenvolvimento de madeira e instalação de serrarias e lavoura
7 Aldeia Kondá K 1.278 Chapecó 2.300
GT 1998 namento, e não como habitat, espaço para se da colonização levou o Estado brasileiro a mecanizada. Todos os recursos advindos
REGISTRADA
8 Kupri / Rio dos Pardos X 16 Porto União 758,26 reproduzir física e culturalmente. Em Santa incentivar o aldeamento dos Xokleng. De um dessas práticas constituíam, quando não
SPU/CRI
Abelardo Luz (SC) Catarina foram reservados dois espaços para amplo território ocupado foram confinados desviados pelos agentes públicos, na “renda
9 Palmas K 697 3.800,88 REGULARIZADA
Palmas (PR)
RESERVA assentamento de toda a população indígena em duas áreas: uma em Ibirama (atuais muni- indígena”, uma rubrica administrativa para
Marangatu / Cachoeira dos
10
Inácios
G 140 Imaruí 80 Matrícula nº R1-5617Lv.2-RG residente no estado: a TI Xapecó (1902), cípios de José Boiteux, Vitor Meireles e Doutor manter o órgão indigenista (Brighenti, 2012;
fl01 1999
RESERVA inicialmente com cerca de 50 mil hectares, Pedrinho) em 1914, e outra em Porto União, Almeida 2015, Bringmann, 2015).
11 Mymba Roka / Amaral G 51 Biguaçu 501,36
2008 e a TI Ibirama Laklãnõ (1914/1926), inicial- em 1918. Outros grupos que viviam no sul
RESERVA
12 Itanhaém / Morro da Palha G 90 Biguaçu 240,33 mente com cerca de 40 mil hectares, ambas do estado, na região da Serra do Tabuleiro e Diferentemente das manifestações do senso
2008
reduzidas ao longo do tempo. imediações, foram eliminados. A experiência comum de que os indígenas são mantidos
Povos Indígenas

Povos Indígenas
RESERVA
13 Tavaí / Canelinha G 32 Canelinha 207,75
2008 da sedentarização causou mortes por doenças pelo Estado, os documentos demonstram
DECLARADA
14 Tarumã G 22 Araquari 2.172 São contundentes os depoimentos indígenas e transformações no seu modo de vida. Cientes que foram os recursos indígenas que manti-
Portaria MJ 2747/2009
DECLARADA da forma violenta e brutal como foram trans- da nova situação territorial e em desacordo veram a ação do SPI e, por largo tempo, da
15 Piraí G 94 Araquari 3.017
Portaria MJ2907/2009
DECLARADA feridos para essas chamadas reservas. No caso com o controle social, os indígenas agiram Funai. Todo esse processo era justificado
16 Morro Alto G 93 São Francisco do Sul 893
Portaria MJ 2.813/2009* do Toldo Imbu, foram amarrados e transpor- contra os limites estabelecidos para percorrer pela suposta rapidez com que os indígenas
RESERVA
17 Vy ’a / Águas Claras G 81 Major Gercino 165 tados em caminhões porque o servidor do SPI territórios historicamente seus. Em maio de abandonariam suas formas tradicionais
2009
DEMARCADA (conhecido como chefe do posto) negociou a 1926, disseram ao encarregado do Posto Indí- de vida e línguas maternas para adotar o
18 Morro dos Cavalos G 112 Palhoça 1.983,49
2010
DECLARADA terra com madeireiros da região. Os Guarani gena Duque de Caxias (hoje Terra Indígena sistema nacional. Em 1968, o Ministro do
19 Pindoty Conquista G 163 Araquari Bal. Barra do Sul 3.294
Portaria MJ953/2010 que viviam nos municípios de Saudades e Ibirama Laklãnõ) que foram “passear para ver Interior abriu um inquérito para inves-
EM IDENTIFICAÇÃO
20 Massiambú G 53 Palhoça A definir
Portaria nº 798/PRES/2011 Cunha Porã foram levados para a TI Nonoai seus lugares antigos, caçar e coletar” (Witt- tigar a ação do SPI, sob a responsabilidade
21 Cambirela G 35 Palhoça A definir
EM IDENTIFICAÇÃO (RS), território Kaingang. Os Kaingang do mann, 2007, p. 197). Acendiam fogueiras no do Procurador Jader Figueiredo Correa,
Portaria nº 798/PRES/2011
REGISTRADA SPI/CRI Toldo Chimbangue foram, por diversas vezes, interior da floresta para se proteger do frio da que ficou estarrecido com a forma como
22 Mbiguaçu G 124 Biguaçu 59,19 REVISÃO DE LIMITES Portaria Funai forçados a transferir-se para Xapecó. Os grupos área descampada, caçavam animais e comiam os servidores públicos tratavam as popu-
nº 957/2012 Guarani que habitavam o litoral buscaram de a carne assada, além de coletar pinhão e mel lações indígenas, afirmando que “bestiali-
EM IDENTIFICAÇÃO
23 Ygua Porã / Amâncio G 31 Biguaçu A definir todas as formas fugir do controle do SPI, pois nos períodos propícios, ou seja, uma repro- dades” eram empregadas com requintes de
Portaria nº 957/PRES/2012
SEM RPOVIDÊNCIA não desejavam uma vida restritiva. Essa ação dução das atividades tradicionais deste “perversidade” (Brasil, 1968) Além do rela-
24 Fraiburgo K 45 Fraiburgo A definir
Estudo Prévio
25 Yakã Porã G 46 Garuva A definir SEM PROVIDÊNCIA
lhes custou o abandono pelo Estado, uma povo. É importante salientar que eles tinham tório produzido por Jader Figueiredo, outras
vez que os órgãos indigenistas não atendiam um conhecimento apurado das regiões que duas Comissões Parlamentares de Inquérito
26 Yvy Ju G 30 São Francisco do Sul A definir SEM PROVIDÊNCIA
grupos indígenas fora dos espaços delimi- percorriam, sabiam quando e aonde deveriam (CPI) no Congresso Nacional, uma em 1968
TOTAL 13.258 81.613,07 tados. No final dos anos 1960, a construção da ir para conseguir o que almejavam. Afinal, sua e outra em 1977, apontaram inúmeras viola-
Fonte: Tamanho das terras – FUNAI (2016); dados populacionais – SESAI (2013); outros dados – Cimi SUL (2015). BR 101 desalojou muitas famílias que viviam relação com o espaço era de mobilidade em ções de direito contra os povos indígenas.
Notas explicativas: na região (Brighenti, 2010). espaço determinado.
1 - G – Guarani; K – Kaingang; X – Xokleng. No caso de Santa Catarina, constam como
2 - * Terras Indígenas (TIs) com pendência judicial no momento da produção desse artigo. No caso dos Xokleng, até o final do século A tutela perversa crimes cometidos pelo Estado, dentre outros,
3 - ** Os Guarani da TI Araçaí encontram-se temporariamente na TI Toldo Chimbangue no município de Chapecó aguardando a conclusão do procedimento administrativo para
ocupar definitivamente a própria terra. XIX ainda havia um amplo território não o roubo das terras e do patrimônio indígena
4 - Há famílias indígenas vivendo na localidade de Praia de Fora, em Palhoça, que pelas medidas mitigadoras da duplicação da BR 101 deveriam ter seus lotes regularizados, o que não invadido, possibilitando-lhes a mobilidade. Em nome do progresso, foram criados pelo (madeira e arrendamentos) e a prática da
ocorreu até o fechamento desse texto. Também há famílias Guarani que vivem em Treze Tílias e Ibicaré, que se articularam socialmente com pessoas que vivem nas aldeias. Muitas Com o tempo e a chegada de milhares de Brasil Postos Indígenas, com o objetivo de tortura. A forma encontrada pelos chefes
famílias Kaingang vivem em cidades do Oeste e Xokleng Laklãnõ em cidades do Vale do Itajaí.
europeus, mais núcleos coloniais surgiram. sedentarizar e transformar os indígenas em de postos para manter os indígenas silen-

44 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 45


ciados era através de maus tratos. Tortura SPI e o governo do Estado de Santa Catarina roubando suas terras em benefício de regio- os representava por força do Código Civil capitalista de conceber a terra como
em troncos (forma de amassar o osso do firmaram um acordo a fim de “regularizar” o nais, desconsiderando totalmente seus de 1916. Para Clóvis Beviláqua, redator propriedade privada (como capital) e de
tornozelo da vítima), transferência para esbulho das terras, conhecido como Acordo direitos. Para o antropólogo Sílvio Coelho do código, os índios não eram cidadãos produção para o mercado.
outra reserva, prisões insalubres e traba- de 1952. Foi ratificada a redução da TI do Santos, este caso “é um exemplo de (não integravam a sociedade brasileira)
lhos forçados faziam parte da rotina. Não Ibirama Laklãnõ e da TI Xapecó, o esbulho como não se deve construir uma barragem” e, portanto, não poderiam ser regidos por O contexto muda de cenário quando a
se respeitavam mulheres grávidas ou de total do Toldo Imbu e do Toldo Chimbangue, (Santos, 1991, p. 51). aquele diploma legal. Porém, no final, atri- tutela é eliminada em 1988 pela
resguardo nem crianças. Os motivos para não tendo sido reconhecida nenhuma terra buiu-lhes o direito de serem tutelados e Constituição Federal. A partir de
punição variavam desde uma simples bebe- para o povo Guarani. Para o governo, estaria Diversas fontes orais e escritas revelam regidos por lei. Por quase um século, a tutela então os indígenas passam a
deira, sair da Terra Indígena sem comunicar solucionado o problema fundiário indígena quanto são estarrecedores os crimes come- manteve a população indígena privada de ter voz ativa nas decisões,

® Detalhe de foto de Osmarina de Oliveira (2013).


ao chefe de posto, até denúncias de roubo de em Santa Catarina. tidos pelo Estado, por ação ou por omissão, manifestar-se. Toda interlocução ocorria demandando a devo-
madeira e arrendamento de terras. Em 1978 contra os indígenas. A Comissão Nacional por meio dos agentes indigenistas, servi- lução daquelas terras
um Kaingang da TI Xapecó foi demitido da No caso da TI Ibirama Laklãnõ, além do da Verdade (CNV) elaborou um relatório, dores do Serviço de Proteção aos Índios, onde nasceram e
função que exercia na serraria do Posto roubo de madeira e do esbulho das terras, disponível na internet, que analisa crimes e a partir de 1967, da Fundação Nacional de onde foram
Indígena (serraria da Funai) por ter partici- o Estado se apropriou das melhores e cometidos pelo Estado de 1946 a 1988, com do Índio. Eram proibidos inclusive de falar expulsos.
CAPÍTULO II

CAPÍTULO II
pado, num final de semana, de uma reunião mais férteis terras para construção de uma base na análise de documentos históricos. a língua materna e manifestar-se em suas Ocorre que
indígena em São Miguel das Missões (RS) barragem para contenção de cheias no Vale Apesar do pouco tempo dedicado à temá- particularidades religiosas. nelas há
sem o consentimento do seu superior. A do Itajaí iniciada em 1976. A partir da cons- tica indígena, a CNV estabeleceu uma série ocupantes
memória dos Xokleng Laklãnõ revela que trução da barragem, a vida Xokleng Laklãnõ de recomendações reparatórias, dentre as O regime tutelar não deixa dúvida sobre que as compraram
o líder daquele povo, Brasílio Priprá, foi mudou por completo. Sem nunca terem sido quais a devolução de terras espoliadas. a responsabilidade do Estado nos casos de terceiros e que, na sua maioria, têm título
assassinado em 1951 a mando do chefe do indenizados nem sequer consultados, vivem de omissão de proteção, defesa e assis- definitivo regularizado pelo Estado. Esse é um Fotografia 4 – Artesanato zoomórfico Guarani.

posto da TI Ibirama Laklãnõ, por ter denun- sob ameaça constante de cheias. O rio virou Todos os crimes descritos acima eram tência. Porém, pior do que a omissão era a dos principais conflitos que se estabelecem na
ciado maus tratos e violações de direitos lodo e as belezas naturais transformaram- possíveis devido ao regime tutelar, pelo violência praticada contra os indígenas sob contemporaneidade, especialmente na Região estado, das quais as mais populosas são
à sede do órgão no Rio de Janeiro. Um ano -se em assombro. Esse caso é exemplar de qual os indígenas eram considerados rela- o argumento de que eram tutelados. Como Sul do Brasil, pois evoca questões relacionadas a TI Xapecó (Fotografia 5) e a TI Ibirama
após o assassinato desse líder indígena, o como o Estado tratou os povos indígenas, tivamente incapazes, sendo assim, o Estado aponta Rocha (2003, p.74), “invocando o à negação das identidades indígenas e dos Laklãnõ (Fotografia 6).
regime tutelar, não raras vezes o Estado direitos dessas populações. O conflito pelas
tomou medidas lesivas aos interesses dos terras também não é apenas uma questão Os três povos indígenas que compõem o
índios, seja negociando diretamente com do seu valor monetário ou do seu tamanho: cenário cultural em Santa Catarina são
Povos Indígenas

Povos Indígenas
empresas a produção de uma comunidade ela evidencia o racismo. Infelizmente, ainda Guarani, Kaingang e Xokleng, vivem predo-
de forma desvantajosa [...] seja utilizando- persiste no imaginário social a ideia absurda minante e respectivamente no litoral, no
-se da violência do arbítrio dos encarre- de uma suposta inferioridade das populações oeste e no Vale do Itajaí. A mobilidade,
gados dos povos indígenas”. Alguns chefes indígenas, seres transitórios que em breve no entanto, ainda ocorre por territórios
de postos eram os principais responsáveis cederão às benesses da sociedade ocidental. historicamente reconhecidos como seus.
pelas agressões contra indígenas, valendo- Ora, se resistiram até hoje não foi por falta de Podemos observar famílias inteiras no
-se do direito de tutor. opção por abandonar seus costumes, o que foi verão litorâneo vendendo artesanato, ou
inclusive fortemente incentivado pela política mesmo jovens estudantes durante o ano nas
Movimento indígena e indigenista. universidades. Trata-se de povos singulares,
direitos contemporâneos com diferenças linguísticas e culturais, que
Atualmente, é importante salientar que passaram por diferentes processos histó-
Os indígenas resistiram a esse processo de os povos indígenas habitantes do Brasil, ricos. Atualmente, lutam pela manutenção e
esbulho do seu patrimônio e de violência incluindo os povos que vivem em Santa aplicação dos direitos, sejam direitos costu-
física. O conceito de resistência deve ser Catarina, estão em crescimento demo- meiros ou consuetudinários, sejam direitos
amplo, não no sentido de luta armada, mas gráfico, sendo uma característica desse garantidos pela Constituição Federal e pela
® Detalhe de fotografia de Osmarina de Oliveira (2000).

de estratégias cotidianas de enfrentamento processo o reconhecimento da sua legislação internacional como a Convenção
aos ditames da política indigenista. Dentre própria identidade. Conforme o último 169 da Organização Internacional do
as práticas podemos identificar denúncias censo do IBGE de 2010, a população indí- Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.
nas vias administrativas e judiciais, manu- gena em Santa Catarina totaliza 16.041 Exigem, portanto, cada vez mais a concre-
tenção da língua, continuidade de práticas pessoas, incluindo, além dos moradores tização de políticas públicas específicas
agrícolas (desde a manutenção de técnicas das Terras Indígenas, aqueles indígenas e diferenciadas que lhes possibilitem ser
à reprodução de plantas e sementes tradi- que vivem em espaços urbanos. Houve um quem são, além de se fazerem presentes em
cionais) e de outros aspectos relacionados crescimento demográfico expressivo nas novos cenários como as universidades, até
à cultura, como o ritual do Kiki (culto aos últimas décadas, pela autoidentificação recentemente fechadas a esses povos. Novos
mortos) e a relação com o meio ambiente. de pessoas que antes não se reconheciam saberes surgirão desta interculturalidade,
Mas talvez a principal resistência seja a como indígenas devido à violência simbó- efetivada pelo diálogo equânime entre não
articulação indígena para recuperar suas lica e/ou física sofrida. Mais de doze mil indígenas e indígenas, com os quais temos
Fotografia 3 – Artesanato Guarani.
terras tradicionais e a negação da prática indivíduos moram em Terras Indígenas no muito a aprender.

46 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 47


335000 350000 365000

7055000

7055000
SÃO DOMINGOS

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VITOR MEIRELLES

Legenda
Terra Indígena Ibirama Laklânõ

®
Limite Intermunicipal Aproximado
7025000

Escala Gráfica
N 7025000 m

Fonte: FUNAI (2018). 0 1,5 3 6 km


Secretaria de Estado do desenvolvimento Econômico
Sustentável (Voo de 2010) WITMARSUM

48 49
Projeção Transversa de Mercator

E 605000 m 620000 635000 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA


N

Fotografia 6 – Terra Indígena Ibirama Laklãnõ.


® Detalhe de fotografia de Giselli Ventura de Jesus (2018).
Capítulo III
Povoamento
Vicentista e
Açoriano-
-Madeirense

Malcina Ventura de Jesus, rendeira de Sambaqui, município de Florianópolis (2018).


Casa de Cultura Clara Manso de Avelar, Santo Antônio de Lisboa.
CAPÍTULO III

CAPÍTULO III
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense

Povoamento vicentista e açoriano-madeirense


Traços da antiga ocupação açoriana-madeirense na atual organização
espacial de Florianópolis (Ilha de Santa Catarina).

52 53
Fonte: Extraído de Atlas Geográfico de Santa Catarina (Santa Catarina, 1958).
Fonte: LANSAT-7 (2008).
® Detalhes modificados de fotos de Adauto Jorceli de Melo
Capítulo 3 | Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
Nazareno José de Campos1
Marcela Krüger Corrêa2
Leila Procópia do Nascimento3

A
trelado à dinâmica do capitalismo Portanto, sem um atrativo econômico que mente distinto de outros, mas que, conjuga-
mercantil em expansão na Europa gerasse interesse ao mercantilismo luso, e damente, dão gênese à formação econômica,
ocidental, determinados espaços por consequência ao mercantilismo europeu, social e espacial catarinense.
geográficos do nordeste e sudeste brasileiro a fachada litorânea sul brasileira tinha uma
já vinham sendo ocupados e inseridos a uma presença humana europeia ainda esporá- Vai se formando, por todo o litoral, uma
divisão do trabalho cada vez mais mundiali- dica e intermitente até meados do século economia que supera a subsistência, alcan-
zada desde o primeiro século da colonização. XVII, servindo, alguns pontos geográficos çando importante caráter mercantil, tendo
específicos, ao apoio logístico dos navios na farinha de mandioca o produto exportável
Por essa época, e um bom tempo ainda à que porventura tencionassem adentrar até de maior expressão, conjugada, no inicio do

CAPÍTULO III
frente, a formação litorânea catarinense a região do Prata. Apesar disso, havia, da processo (século XVIII) por uma pronunciada
apresentava o domínio de uma população parte das coroas lusitana e espanhola, inte- produção baleeira que se inseriu plenamente
original indígena, do tronco sociolinguístico resses geopolíticos e econômicos em jogo, aos ditames do mercantilismo luso, e que se
Guarani, e denominada pelos portugueses, considerando aí, inclusive, a preocupação utiliza de grande quantidade de população
e depois brasileiros, como Carijó. Caracteri- pelo domínio territorial. Assim, tem-se confi- escravizada proveniente de África, somando
zava-se por uma sociedade com certo grau gurado, no século XVII, certa expansão em mais um elemento à formação demográfica
de sedentarismo, com a constante prática da termos de um povoamento mais efetivo, e étnico-cultural regional. Todavia, mesmo
agricultura e um marcante artesanato, seja na embora ainda pontual, originando os três que a pequena produção mercantil, de
transformação da mandioca em farinha e que mais importantes núcleos de povoamento do gênese sócio-econômico-cultural açoriana,
se constituía em um dos principais produtos litoral catarinense até ainda o século XIX: São tenha tido importante expressão, entrou em
de sua alimentação, seja na produção cerâ- Francisco, Desterro e Laguna. processo de estagnação e decadência, por
mica e inúmeros apetrechos utilizados na inúmeros motivos, que veremos no trans-
pesca – tipitis, canoas construídas em um só Entretanto, a ocupação destes três pontos correr deste, e que dificultará a um desen-

Povoamento vicentista e açoriano-madeirense


tronco (geralmente de garapuvú) etc., muitos geográficos não se configurou propriamente volvimento econômico capaz de fomentar
dos quais os europeus que para cá vieram nos como um efetivo processo de ocupação e um processo de industrialização e fortaleci-
séculos posteriores absorveram e passaram povoamento visto que, além de pequenos, mento da economia.
a reproduzir e utilizar em seu dia a dia. pouco contribuiu para uma formação e dinâ-
mica econômica atrativa para os interesses Além dessa percepção histórico-espacial,
1
Graduado em Geografia Licenciatura (1980), Geografia mercantis da Coroa e de seus vassalos. Isto decidimos também enfatizar a açoriani-
Bacharelado (1983) e Mestre em Geografia (1989) pela só se dará, com maior ênfase, a partir de dade, conceito utilizado para enfatizar a
Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em meados do século XVIII, com a implantação, identidade cultural de gênese açoriana,
Geografia Humana (2000) pela Universidade de São em 1738, da Capitania de Santa Catharina e que passou a influenciar no processo
Paulo. Realizou Pós-Doutorado (2007) na Universidade e consequente vinda, em fins da década cultural e sócio-econômico regional. Movi-
de Lisboa e na Universidade dos Açores. Professor seguinte, para a região de Desterro e Laguna mento que ocorre principalmente após
Associado do Departamento de Geociências e integrante e expandindo-se ao Rio Grande do Sul até os anos 1980, imprimindo uma genera-
do Laboratório de Estudos do Espaço Rural da UFSC. Porto Alegre, de aproximadamente 6.000 lização sócio-cultural e direcionando a
pessoas, provenientes, em sua maioria, do interesses econômicos, em especial com
2
Graduada em Moda (2002) pela Universidade do arquipélago dos Açores, e uma pequena a expansão do setor do turismo, através
Estado de Santa Catarina, Mestra (2006) e Doutora parte do arquipélago da Madeira4. da construção de uma identidade cultural
(2017) em Geografia pela Universidade Federal de com uma pronunciada composição de
Santa Catarina. Professora do Instituto Federal de A partir de então a fachada litorânea se etnização, espetacularização e mercantili-
Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina / configura como um espaço caracteristica- zação da cultura.
Campus Florianópolis-Continente.
4
Não há consenso quanto ao número exato de Por fim enfatizaremos a inserção da temática
3
Graduada em Geografia Licenciatura (2001) pela imigrantes que para cá vieram a esta época, fato este sócio-cultural açoriana na educação escolar
Universidade do Estado de Santa Catarina e Graduada já percebido em tradicionais historiadores de Santa catarinense, propondo uma análise de como
em Geografia Bacharelado (2007), Mestra (2007) e Catarina, como Oswaldo Rodrigues Cabral (1979, a temática se apresenta e é tratada em
Doutora (2015) em Educação pela Universidade Federal p. 25), que fala em “quase cinco mil povoadores”, e relação ao ensino, em especial de geografia,
de Santa Catarina. Professora Adjunta do Departamento Walter Fernando Piazza (1989, p. 60) afirmando que nos diferentes níveis (ensino fundamental,
de Metodologia de Ensino e integrante do Núcleo de o litoral catarinense teve, entre 1748 e 1756, “um médio e superior) e as repercussões que
Estudos em Ensino e Pesquisa de Geografia da UFSC. acréscimo de no mínimo 6.000 pessoas”. podem daí advir.

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 55


Acervo de escolas catarinenses
por parte da coroa lusa. Isto ocorre gradual- Entretanto, por muito tempo, tais locali- dos viveres que traziam a nós não pastagens para a criação de ovinos10, bem
Presença vicentista: aceitavam dinheiro, dando mais Inserção da área
mente e em pontos específicos do território, dades tiveram pouca expressão, princi- como, na ampliação de setores já impor-
primeira tentativa efetiva importância a um pedaço de pano litorânea catarinense ao
como bem especifica Oliveira Viana (1972, palmente urbana, não passando de meros ou fazenda para se cobrir, prote- tantes em sua economia, como o vinho,
de ocupação do território gendo-os da penúria do tempo. [...]
mercantilismo luso
p. 95-96) ao afirmar que, pontos de apoio ao abastecimento dos azeite, sardinha e atum. Consubstancia-
navios que por eles passavam e que sequer a terra lhes fornece os elementos -se a tudo isso uma radical mudança no
No contexto da economia metropolitana, já necessários à vida, as madeiras e as A inserção da área litorânea catarinense ao
funcionavam como entrepostos comerciais ervas, o algodão, peles de animais comércio, ao “estabelecer limites e dificul-
na segunda metade do século XVII o mercan- partindo de São Vicente, desde o I sé- de importância, já que boa parte das trocas mercantilismo e expansão colonial dá-se, dades de crédito ao pequeno comércio”11 e
para se cobrirem e se abrigarem;
tilismo luso começava a enfraquecer. No culo, com as bandeiras de Jerônimo com maior ênfase, a partir de meados do
não eram propriamente comerciais, mas, [...] o que ainda é mais notável em contrapartida estabelecer o surgimento
Leitão e Eleodoro Ébano, vai conta-
entender de Vitorino Magalhães Godinho isto meras trocas de produtos com os habitantes é que eles se apercebem de sua século XVIII, em um contexto de superação de grandes monopólios, que, na relação
giando a orla marinha até o extremo
se dava, pois, “em virtude do aumento da oferta felicidade quando nos vêem ir à da crise da economia metropolitana, que já
sul, por migrações sucessivas, em da região na forma de escambo. Tal situação comercial internacional, teriam maior
cata de dinheiro com tanta fadiga.
de produtos coloniais, e o jogo da concor- pequenos grupos familiares, de um fica evidenciada nos relatos de Amédée vinha se arrastando desde meados do século poder de concorrência como resistência
(Frézier, 1996, p. 23-24)
rência, os preços baixam, ao mesmo tempo modo quase insensível. Faz o seu tra- anterior, e que se aprofundara com a concor-
jeto por mar. Estende pelas ilhas pró- François Frézier, viajante francês que esteve ao livre comércio em que dominavam os
em que o comércio português se vê afastado na Ilha de Santa Catarina em 1712 e que rência de outras nações economicamente países centrais da economia capitalista12.
ximas uma série de vilas e povoados Ora, este interessante relato denota uma
de alguns de seus mercados”5. A concorrência mais dinâmicas na economia mercantil.
CAPÍTULO III

CAPÍTULO III
rudimentares. De São Vicente passa assim se reportou7:
comercial externa tinha como principais a Itanhaém, desta a Cananéia; desta
sociedade que se inseria em relações sociais Argumenta Vitorino Magalhães Godinho que
e de produção pré-capitalistas, cuja terra, Ao nível de sua principal colônia, o Brasil, os
protagonistas a Grã Bretanha, Países Baixos e a Iguape; e daí por diante por todo o tal concorrência viria a atingir importantes
correr do I século, vai distendendo- produção, e troca, tinham um forte valor de monopólios tiveram também grande interfe-
França, que a todo vapor estavam “desenvol- A Ilha de Santa Catarina [...] é uma produtos lusos de exportação, como o linho, rência na dinâmica espacial, fosse em relação
-se por Paranaguá, Desterro, São uso, que fazia parte de uma produção para
vendo produções de açúcar e tabaco nas Anti- floresta contínua de árvores verdes trigo, centeio e especialmente vinhos e azeite.
Francisco até Laguna, onde para. à produção e comércio do açúcar, aguar-
lhas, protegendo seus mercados do comércio
o ano inteiro, não se encontrando abastecer a própria coletividade e cuja proprie- A queda nas exportações atinge diretamente
nela outros sítios praticáveis a não dade privada ainda não era a dominante. Nem dente, tabaco, algodão, ouro, entre outros
estrangeiro, como também promovendo a Assim, é no século XVII, que se dá a formação ser os desbravados em torno das os rendimentos coloniais, conforme dados produtos. Especificamente ao sul brasileiro,
expulsão dos portugueses do trafico negreiro habitações, isto é 12 a 15 sítios
mesmo uma pequena produção, num sentido apresentados por aquele autor na obra de
das localidades de Nossa Senhora da Graça mais amplo, que viesse a se tornar mercantil, em especial em sua área litorânea, a configu-
do golfo da Guiné” (Silva, 1992, p. 28). Alie-se dispersos aqui e acolá à beira mar Serrão e Martins (1978, p. 223-259):
do Rio São Francisco (atual São Francisco nas pequenas enseadas fronteiras pode neste momento ser percebida. ração do monopólio baleeiro, proporcionou
a isso a disputa territorial com a Espanha, que do Sul), Nossa Senhora do Desterro (atual a edificação de inúmeros estabelecimentos,
à terra firme; os moradores que A exportação de vinho do Porto,
vinha de antes e é fortalecida com a fundação Florianópolis) e Santo Antônio dos Anjos da as ocupam são portugueses, uma ligados à produção e comércio, entre eles, as
A visão eurocêntrica de que uma vida que tinha atingido 19.234 pipas em
da Colônia do Sacramento em 1680, bem Laguna (atual Laguna), conforme observado parte de europeus fugitivos e al- média durante os anos de 1728- armações baleeiras 13
defronte à Buenos Aires. guns negros; vê-se também índios, simples, sem grandes luxos, com domínio
na Figura 1. 1737, baixa ligeiramente no decur-
alguns servindo voluntariamente de elementos do coletivo sobrepondo ao so da década seguinte – 18.556 e
Portanto, o litoral catarinense, a partir de
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense

Povoamento vicentista e açoriano-madeirense


aos portugueses, outros que são individual era sinal de pobreza, permanece não é mais que 15.967, em média,
A situação piora ainda mais à medida que, no aprisionados em guerra. (Frézier, meados do século XVIII, passa mais efetiva-
sendo percebida nas alegações de outro de 1748 a 1757. De 1751 a 1757 o
interior da crise, Portugal retoma acordos de 1996, p. 23) rendimento dos dízimos do Brasil mente a fazer parte dos interesses econômicos
amizade e assistência com a Grã Bretanha. viajante francês, Jean-François Galaup,
não atinge 80 por cento do que ti- da metrópole, cujo início já fora, em 1738, a
Todavia, se por um lado estes serviram de Esta passagem, inserida na obra Rela- conde de La Pérouse, na obra Voyage de nha rendido nos anos precedentes.
La Perouse Autor du Monde, publicado em criação da Capitania de Santa Catharina, dire-
“utilidade moral”, como argumenta Carna- tion du Voyage de la mer du sud aux côtes tamente ligada à capital da Colônia. O fomento
xide (1979, p. 45), para conter os espanhóis du Chily et du Perou, publicado em Paris Paris em 1797, segundo o qual “a região é Uma crise de tamanho vulto exigia igualmente
muito pobre e tem falta absoluta de objetos uma grande superação, o que levou a Coroa às armações baleeiras é acompanhado pelo
e sua constante investida na face atlântica em 1741, demonstra o quão reduzida era fomento à construção de diversas fortifica-
sul da América, por outro levaram o país a colonização por estas paragens àquela manufaturados; de modo que os campo- e elites econômicas e políticas do país a uma
a realizar generosas concessões aos inte- época. Ao comentar sobre o então gover- neses se encontram quase nus ou cobertos resposta institucional à conjuntura depres-
resses mercantis britânicos, entre os quais, nador (Capitão) Manoel Manso de Avellar, de andrajos”9 porém, descrevia, para a vila siva. Isto se daria através de uma série de deci-
de Nossa Senhora do Desterro, uma popu- sões e da implantação de grandes estruturas
10
Processo este parecido com o ocorrido na Inglaterra
a plena possibilidade deste instalar suas ele descreve ainda que “em seu distrito
lação de “no máximo 3.000 almas e apro- e mudanças em relação ao comércio interna- em sua fase de transição feudalismo-capitalismo.
bases comerciais, e mesmo manufatureiras haviam então 147 brancos, alguns índios e
(como viria a ocorrer, por exemplo, com o negros libertos, dos quais uma parte acha-se ximadamente 400 casas”, o que demonstra cional, desvencilhando-se gradativamente das
11
Segundo argumenta Jorge B. de Macedo (1989, p. 66).
vinho do Porto), em território português, dispersa pela orla da terra firme”8. E vai um grande aumento populacional compa- amarras do poderio mercantil britânico, sendo
o que certamente afetaria sua principal mais além, afirmando: rado a 70 anos antes quando da passagem que o período mais profícuo a tal intento se dá
12
Entre os grandes monopólios cite-se: Companhia do
colônia na América do Sul6. de Frézier, e, com uma outra conotação na administração pombalina (1750-1777).
Comércio Índia e China (1753); Companhia do Grão
no comercio, visto que todos os produtos
Na verdade, encontram-se eles em que abasteciam os navios eram comprados A partir de então, a política econômica Pará e Maranhão (1755); Companhia de Pernambuco
É, portanto, neste contexto de crise, que lusa, sob a proteção do Estado, dá grande e Paraíba (1759); Real Companhia das Vinhas do
tão grande carência de todas as co- e pagos em moedas. Portanto, já não se
se dá uma primeira tentativa de ocupação modidades da vida que, em troca impulso à produção manufatureira no país, Alto Douro; além do monopólio do atum e sardinha
efetiva do espaço litorâneo sul brasileiro tratava mais do período vicentista, mas de
uma nova fase, com a presença da população sob o corolário de marcante protecionismo. na costa do Algarve; também do sal; a unificação das
7
Os relatos de Frézier encontram-se na obra Ilha de
de origem açoriana, e que se constituiu em Neste contexto, é impulsionada a produção áreas fluminense, paulista e catarinense em relação à
5
“Impulsos industriais no contexto de dificuldades Santa Catarina – relato dos viajantes estrangeiros nos
um, entre vários elementos, da inserção da manufatureira na metrópole, demons- caça à baleia, como ainda privilégios no contrato do
conjunturais” apud J. Serrão e G. Martins – Da indústria séculos XVIII e XIX, 1996.
área litorânea catarinense aos interesses trando uma gradativa inserção à expansão tabaco e sabão (Silva, 1992, p. 33).
portuguesa do antigo regime ao capitalismo, 1978, p.230. da expansão colonial e do mercantilismo capitalista internamente, percebido, entre
8
Note-se que na estatística, os escravos (tanto negros
luso, como veremos a seguir. outras coisas, na substituição de importa- 13
Entre as armações existentes no litoral catarinense,
6
Isto fica evidenciado no Tratado de Methuen, de 1703, Figura 1 – Povoamento vicentista na costa catarinense.
quanto indígenas) não são mencionados, o que denota ções de tecidos, através de expropriação destaquem-se as de Piedade (1741), Lagoinha do
em que a Grã Bretanha impunha a Portugal uma lógica Fonte: Adaptado de Atlas Geográfico de Santa Catarina (Santa
Catarina, 1958).
a visão eurocêntrica de que estes eram apenas uma 9
Os relatos de La Perouse encontram-se na mesma camponesa no norte do país, transformando Pântano do Sul (1772), Itapocoróia (Penha) (1778),
de relação que beirava à relação Metrópole-Colônia. mercadoria, logo estariam fora das contas populacionais. publicação referida anteriormente a Frézier. áreas de exploração agrícola e florestal em São Joaquim da Garopaba (1795).

56 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 57


ções, entre 1739 e 1786, denotando, em nosso que, ao lado da requisição de terras seu gado a pastar livremente, retiravam Aliem-se a isso as constantes requisições de
junto à Coroa Portuguesa, permitiu
entendimento, não apenas numa medida de a transformação de uma série de lenha, madeira e outros produtos, àqueles soldados para constituírem as milícias e que tirava
domínio territorial frente à Espanha, mas prin- pequenos produtores independen- mais pobres era basicamente o único da faina agrícola importante força de trabalho
cipalmente para servir de suporte à economia tes em senhores de escravos. local possível para realizarem suas roças masculina, entre 18 e 30 anos, o que gerou da
baleeira e outras que viriam após. de subsistência. parte das famílias um receio tal que “muita gente,
Não foi ao acaso que, na pesca, a continui- com a intenção de subtrair do serviço obrigatório
Povoamento açoriano- dade da diferenciação social no processo Entretanto, até a primeira década do século da milícia alguns membros da família, nunca
madeirense enquanto econômico possibilitou a transformação de XIX, as requisições de produtos (farinha declaravam o numero exacto de que esta se
parte do processo pequenos produtores em pequenos capita- principalmente), que a administração da compunha” (Saint-Hilaire, 1936, p. 59).
listas do ramo. Capitania realizava sobre os produtores e
Não obstante todo o processo anteriormente que muitas vezes os ludibriava quanto aos Ora, as requisições foram cruciais para muitos
exposto, para que tudo isso funcionasse Por sua vez, na agricultura, o processo pagamentos (Saint-Hilaire, 1936, p. 59)19, dos produtores de origem açoriana do litoral
havia a necessidade de gente. E é aí que, por de diferenciação social também esteve trouxe sérios entraves à produção e a uma catarinense não conseguirem crescer econo-
CAPÍTULO III

CAPÍTULO III
parte da Coroa, dá-se inicio a um marcante presente. Se haviam os que só produziam possível ascensão social por parte dos micamente, mantendo-se como meros produ-
processo de colonização da região litorânea para sua própria subsistência, outros, à mesmos. Já em 1798 o Presidente da Capi- tores de subsistência. Mas com o fim daquelas,
catarinense, com a vinda de imigrantes medida que o processo econômico ia se tania João Alberto de Miranda Ribeiro em no período imperial houve, por parte dos
provenientes, em sua maioria, do arquipé- ampliando, gradativamente superavam seu Relatório anual afirmava que produtores mais abastados, a possibilidade
lago dos Açores, e que se dá entre 1748 e a autossuficiência com importante exce- de se inserirem no mercado, não apenas local
1756, conforme observado na Figura 2. dente exportável; outros ainda, embora e regional, mas também com relação a outras
em menor número, além da produção agrí- Huma das causas da decadência q.
se experimenta na cultura desta Ilha províncias e mesmo regiões platinas.
O açoriano se enquadra ao contexto enquanto cola possuíam estrutura e condições para (Ilha de Santa Catarina), hé a falta
um elemento cujo papel essencial foi o de a produção e comercialização de manufa- dos dinheiros para pagarem pronp-
servir como um “colono-soldado”14. Qual turados através dos engenhos, alambiques, tamente aos lavradores, as farinhas Entretanto, não se tratava de um comércio
seja: ele se constituiu naquele sujeito que teares, atafonas etc., o que os possibilitou que se lhe tomam todos os anos, para totalmente estável, haja vista que havia
o sustento da tropa. Eles estão real- grande oscilação, nos preços e exportação,
teve diferentes atribuições na conjuntura a possuírem também uns poucos escravos. mente tão possuídos deste receio,
geral dos interesses metropolitanos. Serviu revertendo também sobre a produção,
pela experiência daq. se lhes deve dos
de mão de obra ligada à caça e produção Assim, uma pequena produção mercantil vai anos antecedentes q’já vão plantando principalmente em relação ao principal
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense

Povoamento vicentista e açoriano-madeirense


baleeira (economia esta em que esteve se delineando, através da produção manufatu- muito pouca, além daquelas q’lhes hé produto exportável, a farinha de mandioca,
necessária para o seu gasto20. conforme percebido na Figura 3.
igualmente presente grande quantidade de reira e comercialização de farinha de mandioca,
mão-de-obra escravizada proveniente de o principal produto exportável da região; como
África)15; foi o produtor agrícola do qual seria também de açúcar, melado, aguardente, café,
extraído a quantidade requisitada pela admi- Figura 2 – Imigração açoriana dirigida à costa catarinense. algodão, como o demonstra Dante Laytano
Fonte: Adaptado de Atlas Geográfico de Santa Catarina (Santa Catarina, 1958).
nistração da capitania para o abastecimento em sua obra17. O comercio se expande para
dos escravos dominados pelo poder público, É, portanto, a partir da vinda do elemento mercantil nas relações comerciais com o exte- além da Capitania, alcançando principalmente
assim como a este próprio; e, principalmente, açoriano que se aprofunda o processo de rior, e pequena produção independente. Logo, o mercado do Rio de Janeiro, principal centro
para as tropas alocadas nas diversas fortifica- colonização e povoamento da fachada lito- os que para cá vieram, não deveriam estar consumidor dos produtos regionais, Recife,
ções, absorvendo os homens em idade apro- rânea catarinense, e a formação de sua todos num mesmo nível sócio-econômico, Salvador, e inclusive o mercado platino de
priada para servirem na milícia. feição básica em termos econômicos, sociais já ocorrendo entre eles certa diferenciação Montevideo e Buenos Aires.
e culturais, atrelando-se não apenas a uma social. Esta não só permanece como aqui se
14
Já percebido, em 1738, na Falla do então empossado divisão social nacional, mas também inter- amplia, dada às novas condições e contextos. Importante ressaltar que, independente
capitão geral de Santa Catharina, Brigadeiro José da nacional do trabalho. da constituição social, a ocorrência e
Silva Paes, segundo o qual seria importante a vinda Em relação à pesca, Silva, Machado e Campos aproveitamento de terras de uso comum
dos casais açorianos, pois, “dos mesmos casais se Forte economia inicial (1996, p. 470-471) argumentam que na foi uma constante, costume já existente
recrutariam o terço e as tropas que ali assistissem e seguida de gradual atividade pesqueira nos arquipélagos dos Açores e Madeira
que seriam mais permanentes que os de fora” (citado
decadência econômica através dos baldios e outras formas18.
em Cardoso, 1960, p. 8 e 9 – cuja fonte original, segundo Se para os agricultores mais abastados
afirma, é João Borges Fortes, em Casaes, 1932, p. 91). houve um nítido processo de dife- tais espaços se constituíam num comple-
Inicialmente chamamos a atenção para o renciação social que possibilitou a
fato de que à época da vinda dos imigrantes, ascensão dos trabalhadores timo- mento à sua economia, onde levavam
15
Nosso interesse aqui é expor sobre o povoamento neiros e arpoadores [...] porque no
nos Açores coexistiam relações sociais e de
vicentista-açoriano do litoral catarinense. Todavia, interior das armações baleeiras ha- 17
Dante Laytano, Corografia da Capitania de Santa
produção servis, comunitarismo agrário via a possibilidade da obtenção de
ressalte-se a expressiva presença negra: na economia Catarina, Revista do IHGSC, 1959. 19
Auguste de Saint-Hilaire, Viagem a Provincia de
com forte presença dos baldios16, capitalismo a) elevados salários; b) pagamento Figura 3 – Exportação de farinha de mandioca no século XIX
baleeira; na construção das fortificações, igrejas e Santa Catharina (1820). (1849-1886).
com mercadoria escrava; c) paga- Fonte: Extraído de Hübener (1981, p. 82). Segundo esta, a fonte
outras obras públicas; também na produção agrícola. mento em produto (baleia). [...] O
18
Vejam-se a respeito na obra de Campos, N.J., Terras original é: Livro da Alfândega do Desterro, 1864, p. 89; Livro do
Thesouro Provincial, 1850, p, 87; Fallas do Presidente da Provin-
Certamente, um importante elemento na formação 16
A mais característica forma de terra de uso comum resultado deste processo então, tra- Comunais na Ilha de Santa Catarina, Editora da UFSC/ 20
Relatório de 1798 – Rio de Janeiro, Biblioteca cia, 1849, p. 87.
sócio-cultural regional. existente em Portugal, continente e ilhas. duziu-se em acúmulos de riquezas Fundação Catarinense de Cultura, 1991. Nacional, Seção de Manuscritos.

58 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 59


Isto se dava principalmente por haver, à Portanto, o produtor não conseguia manter gando à ampliação, diversificação e melhoria sucessão da terra em que todos os filhos
época, um controle oligopolista por parte por muito tempo sua acumulação, dificultando da rede de transportes (hidrovias, ferrovias, recebiam parte da terra em herança, e
dos comerciantes dos centros compradores, àqueles mais diferenciados conseguirem estradas, cabotagem) viram facilitado o esco- seguindo a mesma lógica de divisão24, o que
em especial do Rio de Janeiro, dado o fato de ir além de uma produção manufatureira amento da produção diretamente das colô- produziu um sobreparcelamento do solo
existir três províncias grandes produtoras e mercantil e gerarem uma produção industrial nias aos portos marítimos (São Francisco do que só viria a prejudicar, individualmente, a
exportadoras do produto. Aquele comércio capitalista. As iniciativas que ocorreram não Sul, Itajaí, Florianópolis, Laguna). Com isso cada família produtora.
“controlava, dessa maneira, os mercados conseguiram vingar por muito tempo, e não passam também a dominar a produção e
produtores e conseguia margens de lucros foram somente devido ao comercio. comercialização de tradicionais produtos da No século XX, principalmente após os

® Nazareno José de Campos (2012)


bastante favoráveis” (Campos, 1991, p. 35). área litorânea, tornando-se grandes concor- anos 1950, as transformações econô-
A oscilação dos preços podia, portanto, fazer A partir de meados do século XIX, os inúmeros rentes, incluindo aí a farinha de mandioca, micas no mundo capitalista refletiram ao
mudar o panorama de um ano para o outro, vales atlânticos22 passam a serem ocupados aguardente e açúcar, e inserindo novos, nível nacional e regional. Tem-se então um
conforme percebido nas tabelas abaixo. por povoamento de origem germânica, e como os de origem animal a partir do suíno pronunciado processo de industrialização,
italiana e eslava já mais para o fim do século. (linguiças, banha, embutidos, salamaria)23. de urbanização, de mudanças no meio rural
CAPÍTULO III

CAPÍTULO III
Tabela 1 – Exportação de farinha para o Rio de Vindos um século após os açorianos, de uma provocadas pela ação da chamada revolução
Janeiro (em mil réis) 1878-79.
Europa em grande transformação refletindo Isto impactou sobre a economia litorânea, verde, e da constante expansão do setor do
Fotografia 1 – A pesca, um dos elementos da Açorianidade.
Províncias Valores Percentual
a Revolução Industrial e todo um processo de pouco competente num contexto cada vez turismo. Aumenta assim a pressão sobre
industrialização. Trazem consigo não apenas mais capitalista. E se considere que mesmo as comunidades agrícolas e pesqueiras, já
Espirito Santo 1.124.864$800 50,50 a vontade de se recomporem enquanto que a economia litorânea continuasse ocor- bastante estagnadas em sua produção tradi- Do “Amarelo Indolente” ao Esta aproximação com os Açores, por meio
produtores livres, como são possuidores rendo, vinha sofrendo gradual processo cional, que não suportam a forte valorização Açoriano Descendente: uma da formação de um grupo de pesquisadores
Santa Catarina 616.185$840 27,27
de conhecimentos e técnicas com possibi- de queda de produtividade, haja vista o da terra atrelada à constante especulação identidade para o litoral universitários25, no qual havia remanes-
Rio Grande
366.272$000 16,40 lidades de uma produção econômica bem tradicional habitat rural açoriano caracte- imobiliária. centes do Congresso de 1948, teve como
do Sul
Total (todas as
mais dinâmica da que até então ocorria rístico das áreas litorâneas de domínio de A valorização das raízes açorianas teve, no objetivo realimentar as pesquisas sobre a
2.226.731$040 100,00
províncias) regionalmente. Utilizando-se, por exemplo, população de origem açoriana, conforme Enfim, como argumenta Campos (2011, p. Primeiro Congresso de História Catarinense temática açoriana e disseminar seus resul-
Fonte: Hübener (1981, p. 86). Fonte original: Com. Nav. dos moinhos movidos à força hidráulica, evidenciado por Armen Mamigonian no 184), tados no meio acadêmico. Isso se refletiria
Porto RJ. (1948), uma primeira tentativa para construir
maquinários movidos a vapor, e mais tarde Atlas Geográfico de Santa Catarina de 1958 a identidade cultural do litoral catarinense, e nos anos 1980, considerado o período da
Tabela 2 – Exportação de farinha para o Rio de o uso do carvão, diesel e eletricidade; conju- (Figura 4). Conjugado a um processo de segunda retomada da cultura açoriana, com
já com tendências a uma sobrevalorização
Janeiro (em mil réis) 1880-81. Essa conjugação de elementos no a popularização e expansão da temática no
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense

Povoamento vicentista e açoriano-madeirense


transcorrer histórico impossibi- da origem açoriana. Mas foram poucos os
litou a manutenção de uma base resultados práticos no sentido de criar uma ambiente acadêmico, entre outras ações.
Províncias Valores Percentual
material, suficientemente forte Nesse sentido, pode-se destacar a realização
identidade para aquela população, ficando
a ponto de por em evidência a de Semanas de Estudos Açorianos na UFSC,
Santa Catarina 570.022$610 51,70 economia e a sociedade regional. limitado ao meio político.
e a presença do Reitor da Universidade dos
Rio Grande Pelo contrário, ela foi sendo gra-
287.321$680 26,10 Açores, Prof. Antonio Machado Pires, na
do Sul dativamente relegada a um plano Nos anos de 1970, professores da Univer-
inferior, principalmente, quando primeira delas, na qual assinou um Termo
Espirito Santo 208.570$480 18,90
comparada com outras sociedades
sidade Federal de Santa Catarina, princi-
de Cooperação entre as duas universidades.
Total (todas as
1.102.264$430 100,00 e economias regionais, a exemplo palmente das áreas das ciências humanas
províncias) Foi também em meados dos anos de 1980,
do ocorrido nos vales litorâneos ou afins, passaram a trabalhar a temática
Fonte: Hübener (1981, p. 87). Fonte original: Com. Nav.
em relação aos imigrantes de ori- que o Núcleo de Estudos Açorianos – NEA
Porto RJ. açoriana em aulas e em projetos de pesquisa foi oficialmente formado dentro da UFSC,
gem alemã e italiana. E não apenas
por parte das administrações e do e extensão. Também nesta década são eviden- mas a açorianidade que se pretendia ainda
Em momentos favoráveis à Santa Catarina, poder político e econômico, como ciados os trabalhos de Franklin Cascaes, permaneceu enclausurada na UFSC, restrita
havia aquecimento da economia regional, também em relação à grande parte Professor da Escola Industrial de Florianó- aos meios acadêmicos.
favorecendo tanto ao comerciante local da historiografia catarinense.
polis (atual IFSC), artista, escritor e pesqui-
quanto ao produtor21. Assim, formava-se,
sador da cultura da Ilha de Santa Catarina. Em 1987 foi criada em Itajaí a Mare-
segundo Campos (1991, p. 36) “uma cadeia Não obstante, a diversidade sócio-cultural
de ação-reação: a cada pressão externa Figura 4 – Habitat Rural Açoriano
de Santa Catarina fez brotar, por parte do jada, Festa Portuguesa e do Pescado, para
Fonte: Adaptado de Atlas Geográfico de Santa Catarina (Santa Catarina, 1958). Entre outras ações isoladas em relação à
(do comerciante carioca sobre o comer- capital, do poder publico e da mídia, inte- ser inserida no calendário das festas de
cultura açoriana podemos citar o tomba-
ciante local) havia uma resposta interna resses outros que vai para além da cultura. outubro, ao lado da Oktoberfest, realizada
mento do conjunto arquitetônico composto em Blumenau desde 1984. Apesar da forte
(do comerciante local sobre o pequeno Nisto o litoral, de um passado com gênese pela igreja, sobrado e aqueduto da localidade
produtor). Por conseguinte, o comerciante
22
Dos rios Cachoeira, Itajaí, Tijucas, Tubarão, destas, conforme argumenta Mamigonian (1958) ao
açoriana, mas hoje nem tanto, passa a se marca de colonização alemã, Itajaí adotou
Araranguá, e mesmo os de menor expressão nas afirmar: “A criação das colônias alemãs e italianas em de São Miguel, município de Biguaçu em 1978, a etnia portuguesa como tema da festa.
local para manter sua margem de lucro, inserir também neste contexto, e a questão
proximidades da capital da província, como os vales território da Província imprimiu-lhe novo progresso: com a criação do Museu Etnográfico Casa dos Segundo Severino (1999), para criar uma
tinha de explorar o produtor mais ou da açorianidade é retomada como modelo.
do Biguaçu, Maruim e Cubatão. a praça de Florianópolis, relativamente boa, abasteceu Açores nesse sobrado. E também uma viagem
menos intensamente”.
estas crescentes populações, durante a segunda para os Açores em 1979 em que Walter 25
Nereu do Vale Pereira (2016) afirma que o grupo
21
Que se ampliava em momentos de dificuldades 23
Ressalte-se que num primeiro momento os metade do século (XIX), mas na medida em que o 24
Em épocas anteriores apenas os filhos homens que Fernando Piazza, Nereu do Vale Pereira e organizador foi composto por Walter Piazza, Oswaldo
ambientais em outras regiões, como nas grandes colonos dos vales atlânticos favoreceram as praças desenvolvimento das colônias atingiu novas etapas, recebiam herança, imaginando-se que as mulheres, ao Franklin Cascaes participaram, estreitando Ferreira de Mello, Max Muller, Zuleika Lenzi, Luis
secas no Nordeste; ou de guerras, como na Guerra do comerciais litorâneas, como Desterro, que só mais tornando-se independentes, a capital não só perdeu casar, a terra já estava garantida na herança recebida laços com o então Instituto Universitário Carlos Halfpap, Vitor Antônio Peluso Jr, Paulo Lago, e
Paraguai. tarde que aqueles viriam a se tornar concorrentes freguesia como viu nascer novos concorrentes”. por seu futuro marido. Açoriano, hoje Universidade dos Açores. Lélia da Silva Nunes.

60 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 61


festa típica, foi necessário definir uma A partir dos anos de 1990 se pode falar cuja disputa identitária já se manifesta há emigração, sendo inaugurado, na cabeceira Em 1997, como efeito do processo de trans- berta das Raízes”, objetivando reforçar os
“marca cultural”. Assim, em busca das numa terceira retomada da cultura açoriana, mais de um século. No caso dos gaúchos, continental da ponte Pedro Ivo Campos, o nacionalização da cultura açoriana em elementos da identidade perdida (Lacerda,
origens, a imagem do “homem do litoral”, em que Florianópolis e o litoral catarinense nota-se uma disputa política de controle monumento em homenagem aos açorianos relação à sua diáspora, o Governo Regional 2003). O estado de Santa Catarina, por inter-
do pescador, foi reelaborada para que se sentiram efetivamente as mudanças em da cidade, justificada pela “invasão” deles, (Fotografia 3)26. dos Açores criou o curso “Açores: A Desco- médio do NEA, levou um grande número de
tornasse símbolo da cidade e as evidências relação a essa origem. Foi o momento em já que também são turistas, e o cosmopo- pessoas para o arquipélago, que passaram
culturais açorianas passassem a ser disse- que o litoral se açorianizou, em que ocorreu litismo que passou a caracterizar a cidade a ser chamadas de agentes culturais, para
minadas na imprensa. a etnização da identidade cultural da região esmaeceu tais intrigas (Fantin, 2000). realizar o curso e conhecer de perto a cultura
litorânea pela origem açoriana. da região, cuja contrapartida era multiplicar
Por sua vez, em 1989, foi criado o grupo Não obstante, o movimento regional os conhecimentos no estado catarinense nas
folclórico Arcos Pró-Resgate da Memória Esse processo ocorreu a partir da rees- açorianista, encabeçado pelo NEA e com o localidades de origem. O apoio do Governo
Histórica, Artística e Cultural de Biguaçu, truturação do NEA, em 1993, quando apoio do Governo dos Açores, projetaram Regional dos Açores foi indispensável para
em Biguaçu, por Ana Lúcia Coutinho. diversas ações tiveram início para diversas ações para reconfigurar a identi- as ações do NEA, tornando-o um dos prin-
promover a disseminação da cultura dade açoriana e disseminar a açorianidade cipais agentes no processo de etnizar a
CAPÍTULO III

CAPÍTULO III
açoriana do litoral catarinense e subs- para além das fronteiras da Universidade cultura do litoral catarinense.
tituir o “amarelo indolente” pelo e da Ilha, buscando ampliar suas ações
“açoriano descendente”. Tais para todo o litoral catarinense. A ideia Todas essas ações permitiram que a discussão
ações contaram com o apoio do era resgatar a importância do imigrante da açorianidade saísse do meio acadêmico
Governo Regional dos Açores e açoriano, refazer os laços, mostrar de onde e político para chegar ao universo popular.
com a cooperação de inúmeras veio; relacionar as práticas culturais do Segundo Farias (2000, p. 108), “tinha-se a
instituições e organizações públicas litoral com o arquipélago açoriano, enfim, consciência, [...] que o primeiro e mais signi-
e privadas de diversos municípios positivar e dar visibilidade ao descendente ficativo passo seria devolver ao povo litorâneo
do litoral catarinense, que foram de açoriano, mesmo já decorridos 250 anos o conhecimento de suas raízes históricas
denominados agentes culturais multi- da chegada dos pioneiros. e culturais que praticava”. Todavia, muitas
-institucionais. Assim, com o intuito raízes a que o autor se refere dizem respeito

® Disponível em: <http://nea.ufsc.br/homenagens-monumentos/monumento-ao-povoamento/>


de devolver ao litoral um “açoriano Entre as principais ações do movimento às práticas culturais do litoral catarinense,
descendente”, o orgulho cultural de açorianista destacam-se encontros, cursos, que em sua maioria não são conhecidas nos
suas raízes, definir as fronteiras do congressos, festas, entrega de troféus, Açores. Considerando que nos anos de 1990
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense

Povoamento vicentista e açoriano-madeirense


seu território dentro do território mapeamento cultural, cursos e um aprofun- haviam se passado 250 anos da vinda desses
de Santa Catarina e incentivar o damento das relações com os Açores. imigrantes; que pouco contato se manteve
desenvolvimento da atividade durante esse período com as terras de origem;
turística foi articulado um “movi- Em 1994, em Itajaí se realizou o primeiro que a base da cultura daqueles imigrantes era
mento regional açorianista”. Açor – Festa da Cultura Açoriana de Santa portuguesa, mas que foi adaptada e criou suas
Catarina, evento anual, de caráter itine- especificidades em cada uma das nove ilhas
A reconfiguração da identidade rante, que a cada ano ocorre em um muni- do arquipélago; que ao chegar aqui as condi-
cultural nos anos de 1990 não cípio diferente, com duração de três dias, ções geográficas eram completamente dife-
pode ser dissociada da lógica seguindo um modelo pré-definido, com o rentes das de lá; que aqui passaram a conviver
capitalista, identidade cultural apoio do NEA e dos municípios. A progra- com populações de outras etnias com práticas
do litoral catarinense foi ressigni- mação é composta por diversas atrações culturais diferentes e que lá o sentimento de
ficada e reconfigurada como uma culturais relacionadas à cultura açoriana, açorianidade também é recente; não se pode
resposta aos seus interesses. como apresentação de grupos folclóricos, deixar de pensar que o trabalho do NEA, não
comida típica, e a partir de 1996, um dos excluindo sua importância, foi de recriar
Quanto às tensões socioculturais pontos altos passou a ser a entrega do uma identidade para a região litorânea ao
® Detalhe modificado de foto de Marcela Krüger Corrêa (2017)

estabelecidas com “os de fora”, Troféu Açorianidade (Fotografia 2) para associá-la à etnia açoriana, que foi instituída
Fotografia 3 – Monumento em Florianópolis em Homenagem aos Açorianos
“os invasores”, especialmente homenagear pessoas, empresas e institui- por meio da valorização da memória cole-
com os gaúchos, as pesquisas ções que desenvolvam trabalho em prol da tiva e recuperação da autoestima por tanto
realizadas revelam que o cultura de base açoriana. Cada troféu traz 26
Concebido em concurso pelo NEA a obra é do que os imigrantes passaram a praticar; um touro, tempo abalada psicologicamente pelo seu
problema foi mais locali- o nome de uma ilha açoriana, e a Ilha de artista plástico blumenauense Guido Heuer, de forte elemento da identidade açoriana, e que aqui “fracasso econômico”.
zado e superficial do que Santa Catarina empresta o nome ao décimo origem germânica. Informações no site do NEA representa o trabalho, e a brincadeira do boi; o bilro,
em relação aos alemães, troféu, por ser considerada pelo NEA a dizem que a obra representa uma porta e uma janela que até pouco tempo era desconhecido nos Açores, Além disso a açorianidade precisa ser
décima Ilha do arquipélago açoriano. características da arquitetura luso-brasileira, técnica mas representa o nosso artesanato; a coroa do entendida no contexto da expansão da ativi-
construtiva que os açorianos passaram a utilizar. A Espírito Santo, que representa a forte religiosidade dade turística na região, isto é, a inserção
Entre os eventos de peso realizados pelo roda de carro de boi apoiada na porta simboliza o daquele povo; o jarro, que faz alusão à produção da da cultura regional no processo de mundia-
NEA, também merece destaque o I Encontro meio de transporte que esses imigrantes trouxeram cerâmica utilitária; e o “pão por Deus”, tradição local lização econômica, no qual o capitalismo
Fotografia 2 – Troféu Açorianidade Sul-Brasileiro de Comunidades Luso- para cá. Nas seis placas estampadas e hasteadas de escrever versos carinhosos para alguém em papel impera sobre tudo e sobre todos. Esse
sem placa alusiva.
-Açorianas, comemorando os 250 anos da verticalmente um peixe representa a pesca, atividade recortado em forma de coração. movimento encabeçado pelo NEA e apoiado

62 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 63


pelos seus parceiros reivindicou a valori- os municípios do litoral, inúmeros estabe- inserida no circuito das diversas festas reali- Assim, defende Leal (2007, p. 201) que: pada com uma expressão local, reafirmam a Nos dias atuais, essas comunidades litorâ-
zação do patrimônio cultural, seja material lecimentos comerciais com referência aos zadas no mês de outubro no estado, a FENA- identidade regional aos turistas. Com isso a neas de origem açoriana tentam resistir às
(arquitetura) ou imaterial (culinária, brin- Açores foram criados a partir do final dos OSTRA representou uma oportunidade para “tradição”, mesmo que ressignificada reduz o mudanças ambientais e culturais, que em
cadeiras como a ratoeira, o pão por Deus, anos de 1990 e início dos anos 2000 para atrair turistas para a capital, associando-a à O trabalho de açorianização da risco de desaparecer. A valorização do passado síntese são advindas do mundo globalizado.
cultura popular catarinense tende,
entre outros), independentemente de ser de identificar a cultura regional. Essa multi- cultura açoriana, mesmo que a ostra não fosse portanto, a incidir sobre um uni- torna-se a justificativa de um discurso que Neste sentido, ações para salvaguardar
gênese açoriana ou não. plicação recente de designações é vista por consumida nos Açores28. verso alargado de manifestações, expõe o fetiche da mercadoria. características da cultura de um povo são
Leal (2007) como uma forma de etnicidade definidas mais por referência a imprescindíveis como forma de manter a
Leal (2007, p. 185) esclarece que a “utili- banal, já que somente nos Açores, talvez, A Marejada, a Açor, a FENAOSTRA, as festas um espaço geográfico – o litoral de Rompe-se com o passado para receber o memória viva de sua origem e por consequ-
Santa Catarina – do que por refe-
zação da cultura popular encontra-se a poderiam ser encontradas essas referên- do Divino Espírito Santo, o boi de mamão rência a uma herança etnogenética novo, mas o novo busca no passado formas ência de sua identidade cultural.
serviço da formulação e reiteração de uma cias em maior quantidade. e a ratoeira hoje podem ser vistos como – o arquipélago dos Açores. (Leal, de se reinventar. Todavia, o novo não pode ser
identidade que podemos caracterizar [...] exemplos de espetacularização da cultura 2007, p. 201) considerado uma continuidade da tradição, Dentre tantos espaços possíveis de ações
como étnica”. Assim, observa-se que, para Essa etnização também fica visível na fala de regional, haja vista a exploração comercial haja vista que sofreu cortes, recortes, ajustes, concretas, a Escola desponta como lugar
a população, o adjetivo açoriano pode membros de comunidades do litoral entre- quando se tornam produto a ser consumido. Diante disso, pode-se dizer que a identidade adaptações. A identidade está, portanto, de acolhimento para trabalho pedagógico
CAPÍTULO III

CAPÍTULO III
tanto significar algo que tem a sua origem vistados por Sayão (2004), Martins (1995), açoriana foi inserida como mais uma etnia associada ao seu tempo e ao seu espaço. que conduzam à integração sócio cultural e
no arquipélago, como algo nativo, antigo, o Lacerda (2003) e outros, cujo sentimento de Outro exemplo foi a criação de personagens dentro do circuito turístico de Santa Cata- a formação integral do sujeito na busca de
que demonstra a polissemia que reveste a inferioridade foi substituído pelo orgulho caricatos, como a Dona Bilica, uma espevi- rina. A criação de um “corredor turístico do Não obstante, a importância da temática propagar o respeito à diversidade. Nesta
cultura açoriana em Santa Catarina. de ter uma origem. tada manezinha da Ilha criada em 1991 pela litoral” mencionado por Farias (2017)31, à cultural açoriana está posta também no viés perspectiva, a Proposta Curricular do
artista de teatro Vanderléia Will, que ganhou luz da cultura açoriana, está hoje visível no educacional, através de ações variadas nas Estado de Santa Catarina (Santa Catarina,
Diante disso, percebe-se que elaborar uma A culinária é outro elemento importante nesta popularidade em 1993. A personagem foi marketing de diversos municípios, apesar escolas do estado, como veremos a seguir. 2014, p. 101) assinala que “faz-se relevante
identidade implica fazer uma seleção da discussão, pois, muito dela passou a ser eviden- construída com base em experiências da de as belas paisagens litorâneas terem mais uma reflexão sobre o saber e a cultura regio-
memória, do que será utilizado, do que será ciada pelos restaurantes como “açoriana”27. artista e em muitas pesquisas realizadas força como atrativo turístico. A temática cultural açoriana nais […] na organização e na seleção de
valorizado e do que será transmitido. Para Todavia, constatou-se in loco que a cozinha com a população local29. e sua inserção na Educação conteúdos”, o que reafirma o potencial de
além do NEA, foram materializadas, tanto típica que existe nos Açores é muito diferente Não se pode aqui omitir o fato de que, para Escolar Catarinense trabalho destas temáticas, ao passo que o
em Florianópolis como nos demais pontos da cozinha típica denominada açoriana ou Apesar da justificativa de resgate e preser- além de qualquer discussão de ser ou não referido documento sinaliza aos professores
do litoral, outras ações voltadas para a revi- de base açoriana em Santa Catarina. Na culi- vação, a lógica do lucro se sobrepõe a qual- ser açoriano, o litoral catarinense teve, em e gestores escolares de forma democrática
talização do artesanato, organização de nária tradicional Farias (1998) reconhece ser quer outra. Assim, apresentações, teatro e sua formação e dinâmica sócio-cultural, a A questão da identidade cultural anterior- a possibilidade de realização de atividades
materiais escolares do ensino fundamental, impossível comparar a comida dos Açores com desfiles funcionam como espetáculo para presença de outras culturas, como a afri- mente analisada, diz respeito aos condi- como conteúdos nos Componentes Curricu-
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense

Povoamento vicentista e açoriano-madeirense


criação de grupos folclóricos, estabeleci- a comida do litoral catarinense, visto tratar-se divertir, mostrar a identidade regional e cana, trazida pelos escravizados, presente cionantes tempo histórico e às mudanças lares e/ou como Projetos de Aprendizagem
mento de um calendário de festas do Divino. A de produtos bem diferentes, mas defende que também como meio de sobrevivência de nas brincadeiras, como o boi de mamão, configuradas no espaço geográfico habitado. nas Escolas públicas do estado.
atuação dos municípios foi fundamental para a culinária regional do litoral catarinense deva muitos dos envolvidos. na música, como o cacumbi, nos ritmos e No que tange às contribuições do povoamento
etnizar a identidade cultural do litoral cata- ser denominada “de base açoriana”, o que não elementos culturais presentes nas palavras vicentista e açoriano-madeirense no estado Temos claro que as Instituições de Ensino
rinense. Esse processo foi acompanhado de menosprezaria a importante contribuição da Sob a retórica de preservar o patrimônio e expressões que hoje integram a própria de Santa Catarina, algumas peculiaridades do Superior também podem, devem e cola-
uma espetacularização da cultura açoriana, cultura africana e indígena. Ora, reconhecer a cultural regional, a reelaboração da identi- língua portuguesa falada no Brasil, entre modo de vida resistiram ao tempo e a ação boram através de ações de extensão com
que segundo Farias (2000), transformou o diferença e manter a prática de definir como dade cultural do litoral também implicou a outras coisas. Na toponímia dos diferentes antrópica sobre o meio, mantendo-se com essas ações educativas e dinamizadoras
litoral catarinense “numa grande vitrine”. “de base açoriana” é cômodo, mas não isenta a formação de grupos folclóricos que contra- lugares, e, possivelmente, no hábito tão mais ou menos intensidade manifestadas em das culturas dos povos, haja vista as refe-
confusão. A ostra, por exemplo, ganha status ditoriamente buscam apresentar práticas comum às nossas avós, da confecção de chás pequenos povoados, especialmente na costa rências às “metas do plano nacional de
catarinense. Os imigrantes que aqui chegaram
Etnização, espetacularização de ícone da culinária “açoriana” da Ilha, mesmo culturais idênticas às realizadas nos Açores, curativos feitos de diferentes ervas, esteja cultura” que balizam ações no Núcleo de
e se fixaram ao longo do litoral trouxeram
e mercantilização da que não haja vestígios de ostra na cozinha dos mesmo que tais práticas nunca tenham feito presente a cultura indígena. E, não menos Estudos Açorianos da Universidade Federal
Açores em seus livros de culinária. parte do folclore catarinense30. importante, os imigrantes que para os vales poucos pertences materiais, mas enquanto de Santa Catarina – NEA. Que segue na
açorianidade sujeitos históricos chegaram impregnados
atlânticos vieram pós-meados do século XIX mesma perspectiva das políticas de fomento
Como resultado de todas essas ações, a Em 1999, a Festa Nacional da Ostra e da Cultura (germânicos, italianos) também influíram, de sua cultura. Cultura esta manifestada à cultura que buscam “estimular a criação
expressão “cultura de base açoriana” rela- Açoriana (FENAOSTRA) foi criada, cujo obje- como na gastronomia a base do suíno e nos na concretude cotidiana de um fazer com de centros de referência e comunitários
cionada à cultura popular passou a ser tivo, segundo informações obtidas no site da variados tipos de doces, musses, chimias, preceitos, religiosidade, contos, e de uma voltados às culturas populares, ao artesa-
28
Embora o referido site defina que “o festival é
utilizada para caracterizar a identidade Prefeitura Municipal de Florianópolis (2015), entre outras coisas. relação íntima com o mar e com a terra. nato, às técnicas e aos saberes tradicionais
um verdadeiro resgate da gastronomia e da cultura
cultural do litoral catarinense. A partir do é “divulgar o molusco catarinense e ampliar açoriana da Ilha de Santa Catarina”. com a finalidade de registro e transmissão
final dos anos 1990, praticamente “tudo” o mercado para os produtores”, confirmando Enfim, a partir do momento em que o capital Estes elementos constitutivos do modo de da memória, desenvolvimento de pesquisas
que se relacionava à cultura do litoral que a festa surgiu de uma questão econômica 29
Dona Bilica é uma senhora manezinha que conta se apropria da cultura, as práticas culturais vida das comunidades açorianas no litoral e valorização das tradições locais” (Brasil,
catarinense passou a ser designado como para abrir o mercado para o consumo da ostra causos e histórias relacionadas à cultura da Ilha com são retomadas e ressignificadas, para se trans- de Santa Catarina ao longo do tempo foram 2012, p. 192). O NEA está vinculado a Secre-
açoriano. Expressões como culinária cultivada em cativeiro, até então praticamente linguajar e sotaque característico dos descendentes formar em mercadoria. Uma apresentação remodeladas, mas não substancialmente, taria de Cultura da UFSC, atuando em mais
açoriana, arquitetura açoriana, folclore ausente na alimentação regional e também açorianos. Ela representa o modo de ser, pensar e do boi de mamão, um suvenir de barro, uma pois, como já mencionado, elementos de de 60 municípios do litoral catarinense. As
açoriano tornaram-se comuns. Estratégias nacional. Como Florianópolis ainda não estava falar do manezinho de maneira alegre e brincalhona. almofada de renda de bilro, uma caneca estam- outras culturas foram agregados ao fazer suas atividades/ações buscam despertar
de marketing em folders turísticos e de (Notícias do Dia: Schmitz, 2016) cotidiano desse povo, caso da gastronomia, a valorização e o fortalecimento da cultura
estabelecimentos comerciais usam textos que teve influência indígena e afrodescen- açoriana, bem como demonstrar que seus
e imagens que identificam a cultura local 27
Como os cardápios com ostra, mariscos e camarões, 30
Fazem parte do folclore catarinense a ratoeira, o 31
Por ocasião de entrevista concedida a Marcela dente no uso de algumas especiarias e a valores são importantes para o desenvol-
e/ou regional como açoriana. Por todos entre outros, em diversas preparações. pau-de-fitas, o boi de mamão e outros. Krüger Corrêa em 2017. mandioca como alimento. vimento da realidade social e econômica

64 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 65


das comunidades envolvidas (NEA, 2014). pectiva de formação integral do sujeito, pela através de atitudes concretas sobre os A segunda experiência acontece na Escola nenses (salvo os que não foram citados e enriqueceu basicamente aos grandes
Elas envolvem pesquisadores, profes- ideia de “possibilidade de se respeitar as dife- hábitos e costumes do povo açoriano, como de Educação Básica Judith Duarte de aqui e tem nossa admiração e apreço por comerciantes do setor. Mesmo que uma
sores, alunos, técnicos administrativos em renças e de integrá-las em uma unidade que forma de manter a identidade cultural da Oliveira situada no Bairro de Itaipava na suas iniciativas) que desenvolvem estudos pequena produção mercantil tenha se
educação, e outros colaboradores com dife- não as anule, mas que ative o potencial criativo comunidade. Tem como especificidade cidade de Itajaí. Atividade pedagógica sobre a cultura açoriana nos componentes formado e exportado boa parte de sua
rentes habilidades (Búrigo e Pereira, p. 4, e vital da conexão entre diferentes agentes e desenvolver exposições temáticas perma- é idealizada e conduzida pela profes- curriculares e/ou em projetos de apren- produção, igualmente não foi o suficiente
2016). Dentre as diversas ações, uma em entre seus respectivos contextos” (Fleuri, nentes – que acontecem numa sala de aula sora Patricia Regina Wanderlinde Alves. dizagem. Assertivamente seus projetos e para manter uma economia capaz de
particular diz respeito ao objeto de reflexão 2012, p. 8, 9). Nesta perspectiva de educação, reservada para ser um espaço vivo de expo- O projeto está intitulado: “Intercâmbio ações provocam na unidade escolar um concorrer com outras novas que foram
deste texto, a inserção da questão açoriana muitas unidades educativas vêm cons- sição de elementos da cultura açoriana, cultural: viajando nas asas do conheci- movimento de manutenção de identidade surgindo e se impondo. Neste sentido,
na Educação Básica Escolar em Santa Cata- truindo espaços de respeito à diversidade, de chamado “Espaço da cultura açoriana” onde mento”. O objetivo é promover reflexões cultural dos núcleos açorianos, ao passo o desempenho econômico veio a afetar
rina. Trata-se do “Projeto Mapeamento da educação intercultural. Felizmente são muitos as atividades de oficina e outras relacionadas que possibilitem aos alunos conhecer, que dinamiza a socialização colocando no também a configuração sócio-cultural
Cultura de Base Açoriana” que, os casos e se espalham pela costa catarinense. ao projeto são desenvolvidas. Também há discutir, refletir e vivenciar a cultura local âmbito da gestão pedagógica da escola a que, por um longo período, invisibilizou a
Vamos limitar neste texto, a mencionar dois ensaios e apresentações de dança típica de uma forma prazerosa utilizando a lite- possibilidade de integração com outras cultura regional de gênese açoriana.
projetos de aprendizagem realizados em (formação do grupo folclórico da escola com ratura como eixo norteador do trabalho. culturas através do compartilhamento de
CAPÍTULO III

CAPÍTULO III
consiste num curso de formação escolas públicas catarinenses com o intuito de a participação dos estudantes) e exibição Dessa forma foi escolhida a temática elementos tão peculiares ao modo de vida
dos professores da rede munici- Entretanto, as grandes transformações
salientar a importância dessas ações e mostrar de curtas sobre a cultura local no espaço “cultura açoriana”, devido à forma super- de parte do povo catarinense.
pal, estadual e privada de ensino pós-meados do século XX, refletindo a
fundamental e médio, em parce- a gama de possibilidades de atividades peda- permanente, bem como promover oficinas ficial de como este tema é tratado pelos
dinâmica capitalista ao nível geral, vieram
ria com as prefeituras municipais, gógicas que esta temática pode trazer para a de boi de mamão, pequenos objetos de livros didáticos, desconectada dos conte-
também a afetar à área litorânea catari-
para o mapeamento da cultura de materialidade concreta da Escola. argila, dentre outras formas de manifestação údos curriculares e até mesmo dos livros Considerações finais
base açoriana do Estado de Santa
da cultura açoriana. A saber: Festa do Divino, nense. O Estado teve aí importante papel,
Catarina. Ele atua de forma inte- de história. Para a professora, “O projeto
através, por exemplo, dos planos insti-

O
grada nos campos da educação, A primeira experiência acontece na Escola maquete do Cortejo Imperial, roupas do estaria justamente suprindo a necessi-
de Educação Básica Aderbal Ramos da Silva. Divino, altar do Divino, símbolos do Divino Litoral catarinense, em sua tucionais, como o POE (Plano de Obras e
cultura, turismo e trabalho. Este dade de conhecimento da própria cultura,
Projeto tem como objetivo princi- Localizada na comunidade de Ganchos, no (pombas, fitas corações, guirlandas), doces formação e dinâmica sócio-espa- Equipamentos) na administração Irineu
abrangendo não só informações sobre o
pal, resgatar os valores culturais, município de Governador Celso Ramos. O ou pães do Divino, crivo, renda de bilro, cial, teve um processo diferenciado Bornhausen e PLAMEG (Plano de Metas do
contribuindo na geração de uma tema abordado, mas também proporcio- das demais áreas geográficas do estado
projeto está intitulado: “Um olhar, varias louças e artefatos de barro, boi de pau, rede Governo) na administração Celso Ramos, e
nova fonte de renda e de trabalho nando aos alunos a vivência dos costumes (Planalto, Vales Atlânticos e Vale do Peixe e
em cada comunidade envolvida no histórias – os diversos olhares sobre a de pesca, maquetes de canoas de pau, botes outros que ocorreriam com a liberalização
e tradições açorianas”. A professora Oeste). Inicialmente fora do circuito de inte-
Projeto, agregando valores ao arte- herança cultural dos açorianos em Ganchos”. e barcos, maquetes de casarios antigos, econômica pós década de 1980. Assim, as
sanato, folclore, festas populares,
salienta que dentre os conteúdos abor- resses econômicos da Metrópole, só vai se
A atividade pedagógica é idealizada e condu- engenho e carros de boi, danças típicas, farra políticas desenvolvimentistas; a expansão
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense

Povoamento vicentista e açoriano-madeirense


entre outros. (NEA, 2014) dados no projeto, destacam-se: em Língua configurar econômica e socialmente após
zida pelo professor Adauto Jorceli de Melo. do boi de Zeca Pires, e engenho de farinha. das infra-estruturas; o fomento à indus-
Portuguesa: gêneros e tipologias textuais meados do século XVIII, com o povoamento
O objetivo do projeto é promover nos estu- Nas Fotografias 4, 5 e 6 são retratados alguns trialização e à urbanização; promovem um
(leitura, análise e produção textual); Mate- açoriano e toda a conjuntura definida a
A identificação e registro das manifestações dantes o conhecimento de sua história exemplos desta realidade. gradativo, por vezes pronunciado, processo
mática: aritmética, teoria dos conjuntos e partir de Lisboa e secundariamente Rio de
culturais relacionadas à cultura açoriana de valorização da terra e consequente
sistema de medidas; Ciências: preservação Janeiro. A conformação de uma pequena
segue um roteiro definido pelo NEA e a especulação imobiliária, o que ajudou
do meio ambiente; Geografia: estudos produção mercantil de importância até
mesma é desenvolvida pelas comunidades ainda mais na decadência da tradicional
regionais; História: povoamento e coloni- inicios do século XX não foi suficiente para
envolvidas (Búrigo e Pereira, p. 5, 2016). economia regional.
zação do litoral catarinense (e de Itajaí); fomentar um quadro econômico estável
De forma que à exemplo do NEA, a contri-
Educação Física: atividades laborais e o bastante para manter o litoral entre as
buição com a formação de professores nessa Em sentido contrário, vê-se a expansão de
esportes; Artes: pintura, fotografia artesa- áreas mais ricas de Santa Catarina. Pelo
temática, culmina positivamente numa reor- novos setores econômicos, como o turismo.
nato, teatro, canto e dança; e Computação: contrário, os motivos apontados, de uma
ganização didática nos Componentes Curri- Neste, e em outros, a cultura retoma sua
laboratório de informática para pesquisas economia decadente, fez com que a própria
culares em diversas unidades educativas.
na Web. Por meio dos conteúdos curricu- capital do estado tivesse um lento cresci- importância, porém, não mais com o sentido
O que vem ao encontro do que é almejado
lares acima propostos, o projeto vislum- mento demográfico, rapidamente superado de sua valorização, mas, como mais um
na Proposta Curricular do Estado, pois é na
brou, principalmente, um meio de resgatar pelas outras capitais do sul32. objeto de interesse econômico capitaneado
seleção dos conteúdos que os “professores
costumes e tradições da cultura açoriana, por diferentes setores da economia.
precisam dar vozes aos diversos grupos […]
a saber: história dos sobrenomes; e ativi-
indígenas, quilombola, afro-brasileiras, afri- O óleo de baleia, principal economia diri-
dades culturais catarinenses, derivadas Enfim, a realidade atual da área litorânea
canas” (Santa Catarina, 2014, p.100), dentre gida ao mercantilismo luso, teve vida curta
das nossas raízes açorianas, tais como: catarinense evidencia não apenas uma
estes os açorianos. O que desejamos ressaltar
Festa do Divino Espírito Santo, Pão-Por- pronunciada transformação econômica,
é que independentemente dos recursos, dos
-Deus, Terno de Reis, Pau-de-Fita, brinca- mas também demográfica e sócio-cultural,
meios, das instituições (governamentais ou 32
A relação demográfica entre Florianópolis e Curitiba
deiras (de meninos e de meninas, segundo
® Adauto Jorceli de Melo.

não governamentais), o trabalho na direção de exemplifica bem esta situação: no censo de 1872, onde novos valores e novas realidades estão
nossos avós), artesanatos locais, lendas, presentes, e cuja cultura de gênese açoriana,
respeitar a preservação de um modo de vida Florianópolis possuía 25.709 habitantes enquanto
de um povo, pode e deve ser fomentado. cantigas de roda e gastronomia local. Curitiba apenas 12.651; já no censo de 1900 o dado mesmo que muito mais evidenciada do que
já se reverte, com Florianópolis chegando a 32.229 no passado, se vê fortemente estilizada,
Nessas condições a Escola enquanto orga- Em suma, esses dois projetos supracitados habitantes, enquanto Curitiba alcançava 49.755; mercantilizada, e não menos invisível do
nismo social deve seguir pela perspectiva da nos sinalizam um cenário profícuo e alen- diferença que aumentaria cada vez mais em favor que o foi antes, se considerarmos sua pouca
Fotografias 4, 5 e 6 – Alguns componentes de exposição temática de elementos da cultura açoriana.
educação intercultural que mantêm na pers- tador de escolas e de professores catari- desta, e muito mais ainda em relação a Porto Alegre. inserção ao nível do ensino.

66 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 67


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68 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 69


® Rita de Cácia Oenning da Silva, Acervo Usina da Imaginação (2015).
Capítulo IV
População de
Origem
Africana

Francisca Machado da Comunidade do Morro do Fortunato, município de Garopaba (2015).


52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W 47°30'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W 47°30'0"W

25°50'0"S

25°50'0"S

25°50'0"S

25°50'0"S
CAPITANIA DE SANTA CATARINA PROVÍNCIA DE SANTA CATARINA
POPULAÇÃO POR ESTATUTO E COR 1796 POPULAÇÃO POR COR E ESTATUTO 1872
São Francisco do Sul
Saí

São Francisco do Sul

Joinville

Araquari
26°40'0"S

Barra Velha

26°40'0"S

26°40'0"S

26°40'0"S
AT L Â N T I C O
AT L Â N T I C O
Penha

Gaspar Itajaí Camboriú

Porto Belo
São Miguel Tijucas
Curitibanos
Canasvieiras
Campos São João
Santo Antônio Lagoa da Conceição Batista Rio Vermelho
Novos
São Miguel
27°30'0"S

Lagoa da Conceição

27°30'0"S

27°30'0"S
Santo

27°30'0"S
Antônio
Desterro Trindade
CAPÍTULO IV

CAPÍTULO IV
Campo Belo São José
do Sul São Pedro Desterro
de Alcântara
São José
Ribeirão da Ilha Lages
Águas Ribeirão da Ilha
Mornas Santo Amaro Enseada
da Imperatriz de Brito
Enseada de Brito

Cor e Estatuto 1872 Garopaba

ANO
ANO
São Joaquim
Vila Nova Brancos Livres Pescaria Vila Nova
28°20'0"S

Brava

28°20'0"S

28°20'0"S
Estatuto e Cor 1796 Pardos Livres

28°20'0"S
Mirim

OCE
Imaruí

OCE
Livres Pardos Escravos
Laguna

Pardos Forros Pretos Livres


Laguna
Pardos Escravos Pretos Escravos Tubarão

Pretos Forros Caboclos Livres


Pretos Escravos Fonte: AHU, Projeto Resgate Barão do Rio Branco,
Documentos Avulsos, Santa Catarina. Rezumo geral de
Araranguá
toda a população pertencente ao Governo da Ilha de Santa
Total de Habitantes
29°10'0"S

Catharina formado pelos mappas que deram aos officiaes

29°10'0"S

29°10'0"S
de cada hum dos Distritos do mesmo Governo. Em 1º de
Total de Habitantes
® ®

29°10'0"S
janeiro de 1796. Ofício do tenente-coronel João Alberto 10.428
Miranda Ribeiro ao vice-rei do Estado e mapas referentes à Fonte: DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA.
extensão e limites da Ilha de Santa Catharina e distritos de 6.000 Recenseamento Geral do Império do Brazil. Provincia de
4.453 sua jurisdição. Caixa 6, doc. 387; Santa Catharina. (Sem data, prov. 1875);
3.000 Elaboração: Davi Martins Gnecco e Mariane Alves Dal Elaboração: Davi Martins Gnecco e Mariane Alves Dal
Santo (GEOLAB/UDESC); Pedro Agripino Sagaz, Santo (Geolab/UDESC); Pedro Agripino Sagaz, Guilherme
1.020 Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). Escala Gráfica 1.190 Regis e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). Escala Gráfica
Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones 0 10 20 40 km Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones 0 10 20 40 km

Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22° Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
População de origem africana

População de origem africana


52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W 47°30'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W 47°30'0"W

52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W 47°30'0"W 53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W
25°50'0"S

25°50'0"S
CAPITANIA DE SANTA CATARINA SANTA CATARINA - POPULAÇÃO POR COR

25°50'0"S

25°50'0"S
POPULAÇÃO POR COR E ESTATUTO 1820 1940 P A R A N Á
São Francisco do Sul São
Mafra Campo
Francisco
Alegre

ARG ENTINA
D O do Sul

Canoinhas

E S T A D O Porto
São Bento
do Sul
União

Itaiópolis Joinville

AT L Â N T I C O
Jaraguá Parati
26°40'0"S

do Sul

26°40'0"S

26°40'0"S

26°40'0"S
AT L Â N T I C O

REPÚBLICA
Chapecó
Caçador Timbó

Joaçaba Rodeio
Itajaí
Porto Belo Curitibanos Blumenau

Concórdia Gaspar
Camboriú
Ibirama

São Miguel
Campos Brusque
Indaial Porto Belo
Lagoa Da Conceição Novos Rio do
Sul
Santo Antônio Tijucas
E S T A D O Nova
D O
27°30'0"S

Trento

27°30'0"S
27°30'0"S

27°30'0"S
Biguaçú
R I Bom
Desterro O Retiro
Lages Florianópolis
São José

G
R
Ribeirão da Ilha A
N

ANO
D Palhoça
Enseada de Brito E
ANO

OCE
São Orleans Imaruí
28°20'0"S

28°20'0"S

28°20'0"S
Vila Nova
Cor e Estatuto 1820 Joaquim
28°20'0"S

D
Cor 1940 O
OCE

Brancos Tubarão Laguna

Pardos Forros Laguna Brancos S U L Urussanga

Pardos Escravos Pardos Jaguaruna


Criciúma
Pretos Forros Pretos Araranguá

Pretos Escravos Amarelos

29°10'0"S

29°10'0"S
Fonte: BNRJ, Seção de Manuscritos, I-31, 29, 18 n.9.
29°10'0"S

Total de Habitantes
Mappa da População do Governo de Santa Catarina
Habitantes
® ®
29°10'0"S

segundo as Listas dos Capitães Mores, dadas em o ultimo


de Dezembro de 1820, Confrontando com as do último de Fonte: IBGE. Recenseamento Geral de 1940. Rio de
6.045 Dezembro de 1819. A38 --- Santa Catharina, 9 de março de 57.508 Janeiro: Serviço Gráfico do IBGE, 1952. (Tabela 49.
4.000
1821.
Elaboração: Davi Martins Gnecco e Mariane Alves Dal
25.000 População de fato, por sexo e côr, segundo os municípios).
Elaboração: Davi Martins Gnecco e Mariane Alves Dal
1.727 Santo (GEOLAB/UDESC); Pedro Agripino Sagaz e Santo (GEOLAB/UDESC); Guilherme Regis, Pedro
Guilherme Regis (SPG/SC). Escala Gráfica 5.090 Agripino Sagaz e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC).
Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones
Escala Gráfica
Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones 0 10 20 40 km 0 12,5 25 50 km

Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22° Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°

52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W 47°30'0"W 53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W

72 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 73


53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W

25°50'0"S
25°50'0"S
P A R A N Á
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
Garuva

SANTA CATARINA - POPULAÇÃO POR COR


Campo
Alegre

O
Três

D
Barras

1980
Mafra
Canoinhas

Rio Joinville
Negrinho São
São Bento Francisco
ARGENTINA do Sul do Sul

A T L Â N T I C O
A D O
Irienópolis

Dionísio
E S T Porto
União
Schroeder

Cerqueira Major
Papanduva
Vieira
Itaiópolis Corupá Araquatri
Guaruja São Lourenço
Palma d'Oeste Guaramirim
do Sul
Sola

Galvão Matos Jaraguá


São José
Costa do Sul
do Cedro
Rio dos Massaranduba
Campo
Cedros
Erê Monte
São
Guaraciaba Anchieta Domingos Castelo Barra
Velha
Abelardo Luz Pomerode

26°40'0"S
26°40'0"S

Romelândia Água Luiz


Modelo
REPÚBLICA

Doce Alves Piçarras


Maravilha Benedito
São Miguel Novo
Lebon Timbó
d'Oeste
Quilombo Ponte Régis Penha
Caçador
Serrada
Faxinal Santa Rio do Ibirama Ilhota
dos Guedes Cecília Campo Navegantes
Rodeio
CAPÍTULO IV

CAPÍTULO IV
Salto Arroio Rio das Salete
Cunha Pinhalzinho Xanxerê Witmarsum
Vargeão Veloso Trinta Antas Blumenau
Porã Coronel Ascurra Itajaí
Descanso Dona Gaspar
Freitas
Emma
Saudades Xaxim Balneário
Nova Catanduvas
Treze Camboriú
Erechim Ipumirim Tílias Presidente
Pinheiro Videira
Fraiburgo Getúlio
Ibicaré Preto
Irani Indaial
São Xavantina Rio do Itapema
Mondaí Carlos Taió Oeste Camboriú
Guabiruba
Águas de Jaborá Brusque Porto
Caibi Palmitos Laurentino
Itapiranga Chapecó Joaçaba Belo
Seara Botuverá
Curitibanos
Caxambu Chapecó Herval Tangará Lontras
Pouso Redondo Rio do Sul Presidente
do Sul d'Oeste
Nereu
Presidende Canelinha Tijucas
Agronômica Governador
Itá Castello Nova
Lacerdópolis Erval Aurora Celso Ramos
Branco Trento
Velho São João
Concórdia
Ouro Vidal Ramos Batista
Peritiba
Ponte Luiz Alves Major Gercino
Alta Agrolândia Biguaçu
Ipira Leoberto
Leal Antônio
Capinzal Carlos
Ituporanga

27°30'0"S
27°30'0"S

Petrolândia Angelina
Piratuba Campos
Imbuia

E S T A D O
Novos

D O São José
População de origem africana

População de origem africana


do Cerrito
Alfredo São José Florianópolis

R I
Wagner
Águas
Lages Mornas
O Anita Bom
Rancho
Queimado
Santo Amaro
da Imperatriz
Garibaldi Retiro
Campo
Belo do
Sul
Anitápolis

G Palhoça

R São
Bonifácio Paulo

A Lopes

N Urubici

D Santa Rosa
de Lima
Garopaba

E Rio São
Fortuna Martinho
Grão
Pará
Braço
São
do Norte Imbituba
Joaquim

N O
Cor 1980
Imaruí

D Armazém
Bom Jardim Orleans São

28°20'0"S
Branca
28°20'0"S

da Serra Ludgero Gravatal

O
Lauro
Muller

E A
Parda
Siderópolis Urussanga
Laguna
Preta Pedras
Grandes Treze
Tubarão

S de Maio

U L

O C
Amarela Nova
Veneza
Morro da
Fumaça
Jaguaruna
Meleiro

Total de Habitantes Criciúma

Timbé
235.803 do Sul Maracajá Içara

110.000

®
Turvo
Araranguá
Fonte: IBGE. IX Recenseamento Geral - 1980. Vol. 1, Tomo Jacinto
4, Nº 21. Rio de Janeiro: IBGE, 1982 (Tabela 1.11 Machado
50.000 População residente, por cor e sexo, segundo as
Sombrio

mesorregiões, as microrregiões e os municípios).

29°10'0"S
29°10'0"S

Elaboração: Davi Martins Gnecco e Mariane Alves Dal


Santo (GEOLAB/UDESC); Guilherme Regis, Pedro Agripino

74 75
Praia Escala Gráfica
Sagaz e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC).
1.723 Grande 0 4,75 9,5 19 28,5 38
km
Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones São João PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Bissigo (UFSC). do Sul

53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W


53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA P A R A N Á


SANTA CATARINA - POPULAÇÃO POR COR Mafra
Garuva

2010
Canoinhas Itapoá
Campo

D O Três
Barras
Alegre

AR GENTINA Porto Joinville

A T L Â N T I C O
União

E S T A D O
São
Palma
São Bento Francisco
Sola
Dionísio do Sul do Sul
Cerqueira São Schroeder
Major Itaiópolis
Lourenço
do Oeste Jupiá Vieira Papanduva
Guarujá Irineópolis
do Sul Novo
Princesa Corupá
Horizonte Galvão Bela Vista Rio Negrinho Balneário
Campo do Toldo
São Jaraguá Araquari Barra do Sul
São José Erê Matos Guaramirim
do Cedro Bernardino do Sul
Costa Timbó
Anchieta Coronel Abelardo Grande
São Calmon
Santa Martins Luz Monte Santa
Domingos São
Terezinha Castelo Terezinha Rio dos
Guaraciaba Saltinho Massaranduba João do
do Progre Irati Ipuaçu Passos Cedros
Itaperiú Barra
Romelândia Tigrinhos Formosa Santiago Maia
26°40'0"S

26°40'0"S
Barra Velha
REPÚBLICA

do Sul do Sul
Bonita Água
Paraíso São Miguel Ouro Doce Pomerode
da Boa Bom JesusSerra Sul
do Oeste Alta BrasilJardinópolis Bom Verde Vargeão
Vista Quilombo Entre Jesus Doutor Luiz
São Miguel Rios Macieira Lebon Balneário
Maravilha Pedrinho Alves
do Oeste Modelo Caçador Régis Vitor Timbó Piçarras
Flor do União
Bandeirante Ponte Meireles José Benedito
Sertão do Oeste Santa
Marema Serrada Boiteux Novo
Pinhalzinho Cecília Blumenau
Águas Lageado Penha
Iraceminha Coronel Faxinal Vargem
Belmonte Frias Grande Ilhota
CAPÍTULO IV

CAPÍTULO IV
Descanso Freitas Xanxerê dos Guedes Bonita Salto Rio das
Cunha Rodeio
Saudades Veloso Antas
Porã Nova Arroio Witmarsum
Rio do
Santa Erechim Trinta Navegantes
Riqueza Campo Gaspar Itajaí Balneário
Helena Nova Treze Salete Dona Ascurra
Cordilheira Ipumirim Iomerê Cambouriú
Iporã Cunhataí Itaberaba Xaxim Tílias Emma
do Oeste Alta
Tunápolis Videira Ibirama Indaial
Caibi São Xavantina Lindóia Irani Ibicaré
Carlos Catanduvas Pinheiro Fraiburgo
Planalto do Sul Presidente
Águas de Alegre Arvoredo Preto Camboriú
Chapecó Luzerna Taió Getúlio Itapema
Itapiranga São João Palmitos Frei Guabiruba
Mondaí Guatambu
do Oeste Arabutã Rogério Apiúna
Chapecó Jaborá Tangará Ponte Alta Rio do
Caxambu Seara Joaçaba Ibiam Monte
Carlo do Norte Oeste
do Sul Brusque Porto
Herval Lontras Bombinhas
Paial Mirim Laurentino Rio do Botuverá Belo
d'Oeste Sul
Presidente Doce
Itá Concórdia Lacerdópolis
Castelo São Canelinha
Ouro Erval Tijucas
Branco Cristóvão Presidente
Velho Campos Brunópolis Pouso
do Sul Nova
Curitibanos Redondo Trombudo Nereu
Novos Aurora Trento
Central Agronômica São João
Peritiba Batista Governador
Ipira Braço do Celso
Ponte Leoberto Major
Trombudo Vidal Ramos
Vargem Alta Leal
Alto Capinzal Zortéa Ramos Gercino
Otacílio Biguaçu
Bela Costa Atalanta
Piratuba
E S T A D O
Vista Agrolândia Ituporanga

D O

27°30'0"S
27°30'0"S

São José
Imbuia Antônio
do Cerrito
Abdon Carlos
Batista Petrolândia
Angelina

R I
Correia
População de origem africana

População de origem africana


Chapadão São José
Pinto Palmeira São Pedro
O
do Lageado
de Alcântara Florianópolis
Celso
Ramos
Bocaina Bom
do Sul Retiro Rancho
Campo Queimado
Belo do Santo Amaro

G Anita Sul Alfredo da Imperatriz


Garibaldi Wagner Águas

R Cerro
Lages Mornas
Palhoça

A
Anitápolis
Negro

N
Rio
Rufino
São
D
Painel
Bonifácio

E Urupema Urubici Santa Rosa

Cor 2010
Capão
de Lima
Alto
Paulo
Rio Lopes
Fortuna Garopaba
Branca
Grão São

D Pará Martinho

Parda
São
Joaquim

Armazém Imbituba

O
Braço Imaruí

Preta
Bom Jardim Orleans do Norte
da Serra

28°20'0"S
28°20'0"S

São Gravatal
Lauro
Indígena Müller Ludgero

N O
Amarela S Urussanga Pedras Capivari

U L Treviso Tubarão de Baixo Laguna


Grandes

Treze

Total de Habitantes
de Maio
Siderópolis Cocal

E A
do Sul Morro da
Morro Fumaça
515.288 Grande
Nova
Sangão
Jaguaruna
Veneza
Criciúma

Timbé Forquilhinha
do Sul

O C
236.000 Meleiro
Içara
Maracajá
Jacinto Turvo
Machado
Araranguá
110.000 Ermo

®
Fonte: IBGE. Resultados preliminares do Universo do Balneário
Censo Demográfico 2010. (Tabela 4.22 - População Arroio do
50.000 residente, por situação do domicílio e cor ou raça, segundo
Sombrio Silva

os municípios - Santa Catarina - 2010).


Santa
Elaboração: Davi Martins Gnecco e Mariane Alves Dal Rosa

29°10'0"S
29°10'0"S

Santo (GEOLAB/UDESC); Guilherme Regis, Pedro do Sul

76 77
Praia Balneário Escala Gráfica
Agripino Sagaz e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC).
1.465 Grande São João Gaivota 0 4,5 9 18 27 36
Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones do Sul
km

Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°


Passo de
Torres

53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W


® Detalhe modificado de fotografia de Maria Luísa Coura (2018).
Capítulo 4 | População de origem africana
Beatriz Gallotti Mamigonian1
Diego Nones Bissigo2

N
o recenseamento geral de 2010, 84 gestores e pesquisadores sempre reconhe- que, ao longo do tempo, o registro de cor de
de cada 100 residentes em Santa ceram sua presença em Santa Catarina, mas, uma pessoa variou no tempo conforme seus
Catarina se declararam “brancos”. via de regra, consideraram-na insignificante laços sociais e prosperidade (Ferreira, 2008).
Esse número é menor do que nos três levan- (Leite, 1996; Cardoso, F. e Ianni, 1960; Pedro,
tamentos anteriores, quando aqueles iden- 1988). Desde a década de 1990, pesquisas A presença de africanos em Santa Catarina
tificados como “brancos” eram 90 de cada de campo e em arquivos permitiram docu- esteve associada à expansão da ocupação
100, mas ainda assim é alto, se compararmos mentar em detalhe a população de origem luso-brasílica que vinculou o território do
com o restante do país, onde “brancos” repre- africana e demonstrar seu papel inquestio- sul da América às trocas atlânticas. Antes
sentam 47,7% da população total (IBGE, nável na história de Santa Catarina. da fixação dos europeus, já havia trocas

CAPÍTULO IV
2010, tabela 4.22). Desde o século XIX, a com os grupos indígenas residentes no
autoimagem de Santa Catarina é a de uma Nesse capítulo, partimos das evidências litoral (Oliveira, inédito). A fundação de São
província ou um estado europeu, uma singu- dadas nos recenseamentos para discutir Francisco do Sul, Desterro e Laguna por
laridade que nos distanciaria do restante do o número e a distribuição geográfica dos grupos vindos da Capitania de São Vicente
Brasil, marcado pela mestiçagem. A asso- contingentes populacionais de origem afri- no século XVII lançou as bases para a cons-
ciação de “branco” com “europeu”, e deste cana no território de Santa Catarina desde tituição de núcleos coloniais formados por
com “civilização” e “progresso”, é um traço o início da colonização portuguesa no paulistas, portugueses, índios e mestiços.
persistente do senso comum. Embora seja século XVII até o presente. Neles, para além dos índios escravizados ou
inegável tanto a presença quanto a parti- “administrados”, havia escravos de origem
cipação de descendentes de europeus na Antes de tudo, é preciso indicar que os africana. Há registro de que o fundador de
constituição demográfica e econômica de recenseamentos são resultados de contextos Desterro, Domingos Dias Velho Monteiro,
Santa Catarina, o efeito colateral é a invisibi- históricos distintos. As categorias e os tinha 25 “escravos pretos” e 89 índios entre
lização da população de origem africana. Dos termos usados para classificar a população suas propriedades quando morreu assas-

População de origem africana


6 milhões e 747 mil habitantes recenseados são produtos da colonização e, apesar de sinado em 1687 (Cardoso, V., 2013). Mas
em Santa Catarina, 1 milhão e 99 mil se iden- guardarem certa continuidade nominal, a população do que hoje é o território de
tificam como “pretos” e “pardos”, o que repre- escondem descontinuidades de sentidos. Por Santa Catarina continuou sendo predo-
senta 16% da população total. (IBGE, 2015, exemplo, o termo “pardo”, que ficava entre minantemente indígena, com pequenos
tabela 1.3). Ilka Boaventura Leite criticou o “branco” e “preto”, não era aplicado consisten- enclaves “coloniais”. Foi a partir da incorpo-
processo que legou a população afrodescen- temente em todas as regiões e períodos, abri- ração das terras da antiga capitania heredi-
dente à invisibilidade, demonstrando que gando mestiços, indígenas já incorporados tária pela Coroa portuguesa, em 1711, que
à colonização, ou crioulos (filhos e netos de a ocupação da Ilha de Santa Catarina e do
1
Graduada (1992) em História pela Universidade Federal
africanos nascidos no Brasil). No período litoral por habitantes da Capitania de São
de Santa Catarina, Mestra (1995) e Doutora (2002)
colonial e imperial, as categorias de esta- Paulo se intensificou. O viajante francês
em História pela University of Waterloo (Canadá).
tuto (livre, liberto, escravo) e de cor (branco, Frezier registrou, de passagem por Santa
Professora Associada do Departamento de História da
pardo, preto) eram estruturantes da maneira Catarina em 1712, que havia “na Ilha e na
Universidade Federal de Santa Catarina e integrante
das autoridades no poder apreenderem a terra firme 147 pessoas brancas, alguns
da coordenação do Programa Santa Afro Catarina de
sociedade. Mas os censos não eram precisos. índios e negros libertos estabelecidos pela
educação patrimonial. Autora de publicações sobre a
Nem sempre as contagens eram confiáveis, e beira mar” (Brito, 1829, p. 19). Conforme
diáspora africana nas Américas, entre elas “História
frequentemente não se tinha registro preciso ressalta Vitor Hugo Cardoso, não conhe-
diversa: Africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa
do número de pessoas libertas (alforriadas). cendo bem a hierarquia social brasileira e o
Catarina” (co-organizada com Joseane Zimmermann
Além disso, os levantamentos representavam funcionamento da escravidão, Frezier talvez
Vidal – Editora da UFSC, 2013) e o livro “Africanos
uma projeção do olhar do recenseador sobre não pudesse diferenciar pessoas escravi-
livres: A abolição do tráfico de escravos no Brasil”
as pessoas recenseadas. Só recentemente, zadas de libertas.
(Companhia das Letras, 2017).
desde 1980, é que a “cor” é registrada por
autoidentificação. Na maior parte do período Registros detalhados são raros e fragmen-
Graduado (2010) e Mestre (2014) em História pela
2 aqui discutido, o registro da “cor” se rela- tários, mas apontam para o crescimento
Universidade Federal de Santa Catarina. Professor cionava à posição da pessoa em questão na gradual dos núcleos, com a incorporação
do Instituto Federal de Santa Catarina / Campus São sociedade, e, sobretudo, à sua renda. Desse constante de indígenas na condição de
Miguel do Oeste e pesquisador sobre a temática da modo, nos censos, os mais abastados tendiam administrados ou mesmo escravizados, e
história dos recenseamentos e outros instrumentos a brancos e os mais pobres tendiam a pretos. ainda de africanos cativos, estes em menor
de “legibilidade” dos Estados nacionais. A historiografia levantou inúmeros casos em número, para o trabalho em engenhos de

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 79


Beatriz Delfino de Lima diante da
Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos,
pertencente à irmandade do mesmo nome, fundada em 1750.
farinha, de açúcar e no trato com o gado. novos (recém-chegados) se intensificou superioridade em relação aos “pretos”. O fim do século XVIII, como pequenos proprie-
É certo que, quando a Capitania de Santa apenas a partir de 1811 (Schweitzer, 2006). fato de haver mais “pretos” do que “pardos” tários. A região só passou à administração de
Catarina foi criada, em 1739, e os casais indica como era recente a chegada intensa Santa Catarina em 1820.
açorianos se fixaram, trabalhadores indí- Os dados demográficos começam a ser e regular de africanos. Além disso, é um
genas e africanos já conviviam nos espaços mais consistentes no final do século XVIII. equívoco associar o número de pessoas A fixação da família real portuguesa no
coloniais. Eventualmente, casavam entre O levantamento da população da capitania, registradas como “livres” à cor “branca”. No Rio de Janeiro dinamizou toda a economia
si. Registros eclesiásticos indicam a cele- feito a pedido do Capitão João Alberto de levantamento, não há indicação de cor para do centro-sul do Brasil e marcou o início
bração, em 1730, do casamento entre Miranda Ribeiro e enviado ao Vice-Rei em os livres. Nesse grupo, certamente eram de uma nova fase da presença africana
José, “gentio da Angola”, e Thereza, “carijó 1796, mostra que o território dos núcleos contados os descendentes dos indígenas em Santa Catarina, uma vez que tanto
da terra”, na igreja de Nossa Senhora do coloniais portugueses somava 23.835 administrados e antes escravizados, agora as propriedades agrícolas do litoral,
Desterro (Cardoso, V., 2013, p. 118-122). pessoas, sendo 18.189 livres, 455 alfor- incorporados à população pobre da capi- voltadas para a produção de farinha de
A construção do sistema de fortificações riadas e 5.191 escravizadas (Tabela 1). Para tania. Assim foram, provavelmente, recen- mandioca, açúcar, aguardente e outros
da Ilha de Santa Catarina contou com os forros e os escravos, o recenseamento seados os filhos e netos do casal José Angola alimentos, quanto as do planalto (pecu-
CAPÍTULO IV

CAPÍTULO IV
mão de obra de indígenas e africanos: em detalhou “cor”, dividindo-os entre “pardos” e Thereza Carijó citado anteriormente. Vale ária e alimentos, como vimos), passaram a
1740, o ouvidor geral da comarca de Para- e “pretos”. Havia entre eles 543 “pretos”, dizer também que, nesse momento, não adquirir africanos no comércio transatlân-
naguá, que respondia pela justiça em Santa termo comumente usado para africanos foram contabilizados os indígenas que não tico. Os registros de batismo de africanos
Catarina, sustentou que os moradores e eventualmente para seus filhos não pertenciam aos núcleos coloniais, isto é, os novos (recém-chegados) são muito nume-
deveriam prestar serviços nas obras das mestiços, e ainda 350 “pardos”, termo cujo que viviam em suas aldeias e territórios rosos em todas as freguesias do litoral
fortalezas projetadas pelo Brigadeiro José sentido variou muito entre o período colo- originais. Também entre os livres foram entre 1810 e 1830, indicando uma fase de
da Silva Paes, pessoalmente ou através de nial e o imperial, mas em geral denotava contabilizados – é quase certo – os filhos expansão da ocupação e também de forte
seus escravos e administrados (Cardoso, mestiçagem entre africanos e portugueses, e netos dos poucos africanos alforriados vínculo com o circuito mercantil da praça
V., 2013). O inventário do Capitão-mor de portanto nascimento no Brasil, e marcava desde o início da ocupação. do Rio de Janeiro, e, através dela, com o
Laguna, João Rodrigues Prates, permite Atlântico. Das origens, na África, houve
entrever essa convivência. Em sua proprie- Tabela 1 – População das freguesias da Capitania de Santa Catarina conforme o estatuto e a cor (1796). predomínio da região Centro-Ocidental
dade, na Garupaba, tinha 47 escravos, sendo Forros Escravos (Congo, Angola, Benguela), com alguma
Freguesias Livres Totais
Pardos Pretos Pardos Pretos
metade deles africanos e metade “crioulos”, presença de africanos orientais (Moçam-
V. Capital de N. S. do Desterro 3865 75 35 206 789 3747
“mestiços” e “cabras”, estes últimos, possi- bique) e ocidentais (Mina, Jejes) (Mamigo-
População de origem africana

População de origem africana


velmente, de origem indígena. As idades Distrito do Ribeirão 1137 0 4 19 284 1020 nian, 2006; Mortari, 2007).
das pessoas indicam a existência de famí- Freguesia da Lagoa 2025 9 11 10 337 1916
lias e alguma reprodução natural (Kuhn, Freguesia das Necessidades 2339 21 6 15 357 2447 Em 1820, ainda sem incluir Lages, 27% do Figura 1 – Uma festa de negros na Ilha de Santa Catarina, Tilesius von Tilenau (1803).
Fonte: Gravura originalmente disponível em: KRUSENSTERN, Adamm J. von. Atlas sur Reise um die Wealtunternammenauf Befehl Seiner
inédito). Já a Armação baleeira da Piedade, total da população de Santa Catarina era Kaiserlichem Majestat Alexander der Ernfenauf de Comanmado. Acervo particular de Ylmar Corrêa Neto e reproduzida em Corrêa (2005, p.
Freguesia de São Miguel 2588 6 16 43 745 2758 125) e Silva, J. (2015, p. 54)
fundada em 1746, no litoral norte, próxima de origem africana, sendo listada no censo
Freguesia de São José 1400 5 7 24 388 2091
à Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, como “pardos” ou “pretos”, com imensa
contava, em 1750, com 107 escravos, prova- Freguesia de Enseada do Brito 3125 0 5 12 242 1091 predominância (85%) destes últimos,
velmente todos africanos (Silva, C., 1992; Freguesia da Laguna 1563 87 25 106 670 3203 isto é, de africanos. Em pouco mais de 20
Zimmermann, 2011). A condenação cres- anos desde o levantamento de 1796, a Tabela 2 – População da Capitania de Santa Catarina por cor e estatuto (1820).
Villa Nova 4786 3 14 10 167 1109
cente da captura e da escravização de indí- população da capitania havia passado de Pardos Pretos
Freguesias Brancos Totais
Villa do Rio de São Francisco 4326 119 7 231 536 4453 Libertos Escravos Libertos Escravos
genas por parte das autoridades judiciais 23.835 para 39.611 habitantes, um cres-
Totais 1710 455 5191 23835 Desterro 3865 55 162 90 1815 5987
da capitania de São Paulo, na década de cimento de 2,1% ao ano, que foi susten-
Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino, Projeto Resgate Barão do Rio Branco, Documentos Avulsos, Santa Catarina. Ribeirão da Ilha 1137 66 8 17 574 1802
1720, e a intensificação do tráfico transa- Rezumo geral de toda a população pertencente ao Governo da Ilha de Santa Catharina formado pelos mappas que
tado pelo tráfico de africanos, visto que a
tlântico de escravos africanos para os terri- deram aos officiaes de cada hum dos Distritos do mesmo Governo. Em 1º de janeiro de 1796. Ofício do tenente-coronel população preta e parda cresceu 2,7% e a Lagoa 2025 27 68 21 725 2866
João Alberto Miranda Ribeiro ao vice-rei do Estado e mapas referentes à extensão e limites da Ilha de Santa Catharina e
tórios portugueses na América, marcaram distritos de sua jurisdição. Caixa 6, doc. 387.
branca 1,9% ao ano. Viajantes estrangeiros Sto. Antônio 2339 37 50 15 580 3021
o início de uma virada demográfica. * A tabela foi adaptada. Originalmente continha a divisão de livres por faixas etárias e de todos os grupos entre homens de passagem pelas vilas catarinenses regis- São Miguel 2588 41 79 20 1022 3750
e mulheres. traram não só a presença de africanos,
Enseada das Garoupas 1400 58 20 23 226 1727
Na segunda metade do século XVIII, a mas suas práticas culturais. O naturalista
expansão dos núcleos coloniais do litoral No planalto, a ocupação luso-brasileira se menores de lavoura de alimentos (sobre- Langsdorff testemunhou um batuque não São José 3125 19 83 29 885 4141

esteve associada à chegada dos colonos consolidou a partir da fundação da vila de tudo milho, feijão e trigo), a mão de obra muito longe do centro de Desterro, quando Enseada de Brito 1563 24 18 17 544 2166
açorianos, mas também à compra gradual Lages, no caminho das tropas entre Viamão e era de agregados (muitos deles indígenas) de sua passagem em 1803 na expedição São Francisco 4786 144 312 17 786 6045
de africanos. Os registros eclesiásticos da Sorocaba, em 1771. Em 1777, o levantamento e pessoas escravizadas de origem africana. de circunavegação do globo liderada por
Laguna 4326 141 77 61 1336 5941
Freguesia da Lagoa da Conceição, fundada feito pelo próprio fundador, Correia Pinto, Entre 1798 e 1818, 65% dos senhores de Krusenstern (Berger, 1984). Tilesius von
Sant'Anna 1710 30 33 12 380 2165
em 1750, apontam claramente tal tendência, indicava uma população de 662 pessoas: terras que possuíam escravos, detinham de 1 Tilenau, integrante da mesma expedição,
com o batismo de filhos de escravas aumen- 367 brancos ou pardos livres, 94 índios, 10 a 4 e só 5% deles tinham mais de 10 (Vicenzi, deixou registro de um cortejo de coroação Totais 28864 1552 9195 39611
Fonte: Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro, Seção de Manuscritos, I-31, 29, 18 n. 9. Mappa da População do Governo
tando pouco a pouco, o que indicava a “pretos forros” e 191 pardos ou pretos escra- 2015). A pesquisa de Renilda Vicenzi encon- de reis descendo o largo da Igreja Matriz,
de Santa Catarina segundo as Listas dos Capitães Mores, dadas em o ultimo de Dezembro de 1820, Confrontando com
compra de escravos em outras praças vizados. Em fazendas de criação de gado trou um número significativo de negros livres onde hoje se situa a Praça XV de Novembro, as do último de Dezembro de 1819. Santa Catharina, 9 de março de 1821.
comerciais, já que a chegada de africanos (vacum, cavalar ou muar) e em propriedades e libertos que tiveram acesso à terra, desde o isto é, no coração da capital (Figura 1). * A tabela original continha a divisão de brancos por faixas etárias e de todos os grupos entre homens e mulheres.

80 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 81


Tabela 3 – População da Província de Santa Catarina, por estatuto e cor (1872).
A construção do Estado Nacional brasi- em virtude da chegada de africanos até 1830 Desterro, Lagoa, São Miguel, São José ou
Livres Escravos
leiro, sobretudo após a proibição do tráfico e do crescimento natural posterior a isso, Laguna tinham ainda entre 10% e 17% da Municípios Freguesias
Brancos Pardos Pretos Caboclos Pardos Pretos
Totais
de escravos em 1830/1831, marcou uma enquanto a população branca cresceu muito população escravizada e entre 15% e 35% N.S. do Desterro 5884 960 624 18 336 786 8608
inflexão na história da presença africana em mais, em virtude da maciça imigração euro- de pretos e pardos na população total,
N.S. das Necessidades de Santo
Santa Catarina. Por um lado, a aquisição de peia para a província, sobretudo alemã. Assim, Itajaí, Joinville e São João Batista tinham 2323 182 64 32 138 276 3015
Antonio
africanos foi prejudicada pela alta de preços a proporção de pretos e pardos na população entre 1% e 7% de pessoas escravizadas e
N.S. da Lapa do Ribeirão 2373 164 185 0 60 215 2997
resultante da proibição, e, por outro, Santa total (somando-se livres e escravos) diminuiu apenas entre 3% e 13% de pretos e pardos Desterro
S. João Batista do Rio Vermelho 1394 83 102 3 74 112 1768
Catarina passou a receber contingentes regu- para 19,6% nesse intervalo, ainda que em na população total. No caso do Planalto, os
lares de imigrantes europeus, tanto arregi- números absolutos a população de origem dados do recenseamento indicam, possivel- S. Francisco de Paula das Canasvieiras 2756 520 131 62 112 273 3854
mentados e destinados a colônias quanto africana tenha aumentado. mente, que a população de origem indígena SS. Trindade Detrás do Morro 1935 82 68 0 30 87 2202
provenientes de migração espontânea e já incorporada, ou mestiça entre indígenas N.S. da Conceição da Lagoa 2420 166 146 2 167 274 3175
individual. A população de origem africana, Os dados do recenseamento de 1872 não e africanos, foi recenseada como “parda” e
São Miguel S. Miguel da Terra Firme 8826 249 276 6 300 771 10428
escravizada e liberta, passou por um processo permitem diferenciar entre livres e libertos, não como “cabocla”. Assim, Lages, Curiti-
S. José da Terra Firme 7426 356 293 3 362 733 9173
CAPÍTULO IV

CAPÍTULO IV
de crioulização: a proporção de africanos mas é certo que, por alforrias e nascimentos, banos, Campos Novos e Baguaes (Campo
foi gradualmente decaindo, à medida que a população livre de origem africana cresceu Belo do Sul) oscilavam entre 33% e 49% de N.S. do Rosario da Enseada de Brito 2234 3 2 0 0 4 2243
nasciam e cresciam seus filhos e netos. Entre significativamente. O que é notável é a dife- pretos e pardos na população total, sendo S. Pedro de Alcântara 2290 33 55 0 23 77 2478
1820 e o primeiro recenseamento nacional renciação entre as localidades antigas e a proporção de pessoas escravizadas bem São José
S. Joaquim de Garopaba 2869 38 24 0 138 338 3407
em 1872, a população preta ou parda cresceu as de fundação mais recente: enquanto mais baixa: entre 5% e 13% do total.
S. Amaro de Cubatão 3241 231 52 2 83 251 3860

S. Joaquim da Costa da Serra 1079 344 58 28 74 151 1734

S. Sebastião da Foz das Tijucas


3411 224 112 4 125 425 4301
Grandes
S. Sebastião das
S. João Baptista do Alto das Tijucas 2580 29 12 17 56 121 2815
Tijucas
Senhor Bom Jesus dos Afflictos de
2814 89 41 23 91 213 3271
Porto Bello

N.S. da Graça de São Francisco 4960 929 248 282 426 455 7300
População de origem africana

População de origem africana


N.S. da Glória do Sahy 1220 261 43 267 129 94 2014
N.S. da Graça do Rio
S. Francisco S. Pedro de Alcântara e N.S. da
1784 642 31 215 65 151 2888
Conceição da Barra Velha

Senhor Bom Jesus do Paraty 2153 158 110 332 162 210 3125

Santíssimo Sacramento de Itajahy 5772 242 184 48 145 356 6747

N.S. da Penha de Itapocorohy 1770 183 44 32 114 168 2311


Itajahy
N.S. do Bom Sucesso de Cambriú 3035 96 128 18 79 177 3533

S. Pedro Apostolo do Alto de Iguassú 8757 56 22 34 7 46 8922

N.S. dos Prazeres de Lages 3111 1549 219 243 297 507 5926
Lages
N.S. do Patrocínio dos Baguaes 1290 919 102 14 78 159 2562

Conceição dos N.S. da Conceição dos Coritibanos 1143 794 25 110 42 77 2191
Coritibanos S. João de Campos Novos 1355 476 29 76 52 148 2136

Joinville S. Francisco Xavier de Joinville 7346 96 75 58 27 48 7650

S. Antonio dos Anjos da Laguna 5191 532 261 523 317 656 7480

S. João de Imaruhy 3871 214 138 56 207 411 4897


Bom Jesus do Socorro da Pescaria
1857 111 39 17 129 399 2552
Laguna Brava
Sant'Anna de Merim 2502 109 36 86 63 161 2957
Sant'Anna de Villa Nova 1112 45 57 1 53 74 1342
S. Izabel e Theresopolis 1186 0 4 0 0 0 1190
® Gustav Pfaff (c. 1890).

N. S. da Piedade do Tubarão 6120 374 164 230 144 576 7608


Tubarão
N. S. Mãe dos Homens de Araranguá 4552 198 43 50 152 147 5142
Totais 125942 11737 4247 2892 4857 10127 159802
Fonte: Diretoria Geral de Estatística. Recenseamento Geral do Império do Brazil. Provincia de Santa Catharina (Sem data, prov. 1875).
* As grafias das localidades foram mantidas originais.
Fotografia 1 – Fundos da Praça do Mercado de Desterro, hoje demolida, atual centro de Florianópolis (c. 1890). ** Originalmente, tratavam-se de duas tabelas, uma para população livre, outra para a população escrava. Em cada categoria havia a divisão entre homens e mulheres.

82 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 83


A discriminação contra os africanos, como visto que, com frequência, os imigrantes se sido herdada ou adquirida por seus avós logo Há inúmeros problemas em sustentar nos rior, no serviço público, e reconhecimento físicos e simbólicos, para proteger-se da
estrangeiros, e o cerceamento das práticas integraram à elite luso-brasileira e assu- após a abolição, as comunidades enfrentam recenseamentos uma análise acerca da popu- de propriedade de terras ocupadas coleti- discriminação, praticar religiões de matriz
culturais de matriz africana, crescentes no miram posições de liderança política e econô- a violência, a intimidação e os processos lação de origem africana em Santa Catarina vamente, a tendência atual, já apontada no africana ou outras manifestações cultu-
século XIX, foram também consequências mica, de onde reforçavam a discriminação e a judiciais que buscam expulsá-los das terras no século XX. O primeiro deles é a incons- censo de 2010, é o crescimento do número de rais diaspóricas, e defender sua dignidade
da construção do Estado brasileiro. Apesar marginalização dos não brancos. que são sua única fonte de sustento. Quando tância da categoria “cor”, que só está dispo- “pretos” e “pardos”. Optamos por apresentar e direitos de cidadania. Conta-se, aqui,
de participantes ativos da economia e inte- migrantes nas cidades, os negros foram nível para as décadas de 1890, 1920, de 1940 os dados dos recenseamentos do século XX a história das irmandades negras, dos
grados ao tecido da sociedade, africanos e A história de Santa Catarina, depois da frequentemente discriminados, relegados às a 1960 e depois só de 1980 em diante. O e o mais recente, de 2010, de forma simplifi- clubes recreativos e literários que funcio-
seus descendentes, mesmo quando libertos, abolição (1888) e da proclamação da Repú- margens, por desafiar a identidade europeia segundo deles é a própria coleta dos dados: cada, com o objetivo de demonstrar a perma- naram em várias cidades desde o início
viram-se alvo de tratamento discriminatório blica (1889), foi marcada pela expansão local. Na memória do Contestado ou do Oeste ao longo do século XX, a “cor” passou a ser nência e a dispersão geográfica da população do século XX, dos terreiros, das escolas
na legislação, na atuação das autoridades, territorial, pelos conflitos e pela continuada Catarinense não existe passado escravista, registrada de acordo com a autoidentificação de origem africana no estado e contestar o de samba, dos sindicatos, entre outros
e no cotidiano das relações sociais (Mami- discriminação contra a população não branca. mas é inegável que a população cabocla, dos indivíduos recenseados, e não mais de senso comum segundo o qual Santa Catarina espaços (Mortari e Cardoso, P., 1999;
gonian, 2006; Mamigonian, 2015; Silva, J., Asssim atestam as trajetórias das comuni- resultante da ocupação da região oeste desde acordo com a interpretação e as “correções” seria, sobretudo, um território de descen- Maria, 1997; Domingues, 2011; Silva, J.
2013). A presença de imigrantes europeus em dades que foram tituladas ou reivindicam o século XVIII, funde os indígenas e os afri- por parte dos agentes recenseadores. Ainda dentes de europeus. Sem dúvida, seria neces- B., 2001; Silva, J., 2015; Sayão, 2015). Se
CAPÍTULO IV

CAPÍTULO IV
diversas regiões de Santa Catarina marcou estatuto de remanescentes de quilombos. canos incorporados à força pela colonização assim, persistem as categorias predetermi- sária uma contextualização muito detalhada hoje o patrimônio cultural de Santa Cata-
muito pesadamente as chances de mobili- Habitando a mesma terra onde seus ante- (Silva, A., e Rosa, 2010; Schörner, 2008; nadas (especialmente “pretos” e “pardos”) para analisar cada um dos levantamentos rina não reconhece a presença africana,
dade social da população de origem africana, passados trabalharam como escravos, tendo Grunow, 2016). que buscam dar conta de recensear pessoas e a oscilação nos números, visto parecer é porque esses territórios negros ainda
que se identificam como descendentes de evidente que, entre os que hoje se identi- carecem de registro. Não se pode negar,
africanos. Tendo a identidade negra adqui- ficam como brancos, muitos têm antepas- no entanto, que africanos e afrodescen-
rido, no início do século XXI, o sentido simbó- sados pardos e pretos. dentes fizeram parte da história de Santa
lico positivo para um maior número de Catarina desde seu início, e marcam sua
pessoas, e sendo associada a direitos sociais É preciso dizer que a população de origem presença, em todos os sentidos, na popu-
como cotas para ingresso no ensino supe- africana construiu “territórios negros”, lação do estado, hoje.

Gráfico 1 – Participação (%) de população não-branca na população de Santa Catarina (1872-2010).


População de origem africana

População de origem africana


30,00

25,00

20,00

15,00
® Edla von Wangenheim ( c. 1938), cortesia Acervo da Família von Wangenheim

10,00

5,00

72 80* 90 00 10* 20 30* 40 50 60 70 80 91 00 10


18 18 18 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 20 20

Preta Parda Indígena Amarela Sem declaração

Fotografia 2 – Estrada Geral do Rio Vermelho, município de Florianópolis (c.1938). Fonte: Vide referências na Tabela 4. Nos decênios indicados com asterisco, não houve recenseamento geral, e nas demais lacunas não houve coleta de dados sobre cor/raça.

84 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 85


86
População de origem africana CAPÍTULO IV

2010
2000
1991
1980
1970
1960
1950
1940
1920
1900
1890
1872
Censo

SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC

Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil

Total
Total

Livre
Livre

Escrava
Escrava
População total

6.248.436
190.755.799
5.356.360
169.799.170
4.542.029
146.815.791
3.628.292
119.011.052
2.930.411
93.139.070
2.129.252
70.191.370
1.560.502
51.944.397
1.178.340
41.236.315
668.743
30.635.605
320.289
17.438.434
283.769
14.334.615
159.802
14.984
144.818
9.930.478
1.510.806
8.419.672
#

5.246.868
N/D

91.051.646
4.783.229
90.647.461
4.077.821
75.704.924
3.317.656
64.540.467
N/D
2.003.821
42.838.639
1.476.267
32.027.661
1.112.809
N/D

26.171.778
N/D
N/D
N/D
240.587
6.302.898
125.942
-
125.942
3.787.289
-
3.787.289
Branca

84,0
47,7
89,3
53,4
89,8
51,6
91,4
54,2
N/D
N/D
94,0
61,0
94,6
61,7
94,4
63,5
N/D
N/D
N/D
N/D
84,8
44,0
78,8
0,0
87,0
38,1
0,0
45,0

* Em 1872, “Pardos” foram classificados como “Mestiços”

*** N/D - Critério não disponível naquele recenseamento

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA


#

183.857
N/D

14.517.961
144.622
10.402.450
97.439
7.335.139
75.007
7.046.906
N/D
62.842
6.116.848
56.948
5.692.657
61.382
N/D

6.035.869
N/D
N/D
N/D
13.625
4.247

2.097.426
14.374
10.127
1.954.452
1.033.302
921.150
Preta

** Em 1872 e 1890, “Indígenas” foram classificados como “Caboclos”


%

2,9
7,6
2,7
6,1
2,1
5,0
2,1
5,9
N/D
N/D
3,0
8,7
3,7
11,0
5,2
14,6
N/D
N/D
N/D
N/D
4,8
14,6
9,0
67,6
2,9
19,7
68,4
10,9
#

775.558
N/D

82.277.333
374.946
66.016.783
351.615
62.316.060
219.911
46.233.531
N/D
61.146
20.706.431
23.767
13.786.742
3.956
N/D

8.744.365
N/D
N/D
N/D
20.334
4.638.495
16.594
4.857
11.737
3.801.782
477.504
3.324.278
Parda (1)

Fonte: A tabela foi elaborada pelos autores com base nas fontes indicadas na última coluna.
%

12,4
43,1
7,0
38,9
7,8
42,4
6,1
38,9
N/D
N/D
2,9
29,5
1,5
26,5
0,4
21,2
N/D
N/D
N/D
N/D
7,2
9,0
10,4
32,4
8,1
38,3
31,6
39,5
Tabela 4 – População de Santa Catarina e do Brasil conforme cor/raça (1872-2010).

16.041
4.883
N/D

817.963
16.069
701.462
294.131
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
9.223
-

1.295.796
2.892
-
2.892
386.955
386.955
Indígena (2)

0,3
0,1
3,2
2,0

0,5
0,3
0,4
0,2
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
32,4
1,8
0,0
3,9
0,0
4,6
#

26.017
4.144
N/D
N/D
N/D

2.084.288
5.356
866.972
630.659
2.592
672.251
N/D
1.117
482.848
51
329.082
40
N/D

242.320
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
Amarela

0,4
0,1
N/D
N/D

1,1
0,1
0,5
0,4
0,1
0,6
N/D
N/D
0,1
0,7
0,0
0,6
0,0
0,6
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
#

95
6.127
N/D
N/D

6.608
32.138
N/D

1.164.042
534.878
13.126
517.897
N/D
326
46.604
3.469
108.255
153
N/D

41.983
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
N/D
Sem
declaração

0,1
%

0,6
0,7
0,4
0,3
0,4
N/D
N/D
N/D
N/D

N/D
N/D

p. XV.
3 e 104.

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sexo - 1872-1920. Disponível

Brasil - 1960 - Santa Catarina.


Brasil - 1950 - Santa Catarina.
Brasil - 1950 - Santa Catarina.
N/D ESTATÍSTICA, Recenseamento

N/D de dezembro de 1890. Rio de

Uma análise dos resultados da


Características gerais da popu-
gerais, migração, instrução, fe-
N/D de Janeiro: s/d (prov. 1875). p.

IBGE. População presente, por


filiação culto e analphabetismo
Geral do Império do Brasil. Rio

amostra do Censo demográfico


Catarina". Rio de Janeiro: IBGE,
0,1 IBGE. Recenseamento Geral do
0,2 IBGE. Recenseamento Geral do
0,1 IBGE. Recenseamento Geral do

IBGE. População Residente, por

IBGE. Tendências demográficas:


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zembro de 1900. Rio de Janeiro:

IBGE. Censo demográfico: dados


0,0 Rio de Janeiro: IBGE, 1968. p. 8.

53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W

25°50'0"S 25°50'0"S

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Palma Bela Vista Papanduva
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do Sul Rio Negrinho Balneário
Princesa Campo Novo Galvão
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São José São Costa Major Guaramirim Araquari do Sul
do Cedro Bernardino Vieira Jaraguá
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Coronel do Sul
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Martins Abelardo
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Guaraciaba Terezinha Saltinho Rio dos
do Itaperiú
do Progr* Monte Cedros
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Irati Formosa Santiago Massaranduba


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Barra Romelândia
Paraíso São Miguel do Oeste Ipuaçu Terezinha
26°40'0"S Bonita Serra Sul Passos Barra 26°40'0"S
da Boa Ouro Doutor
Tigrinhos Alta Brasil Maia Pedrinho Velha
Vista Jardinópolis Bom Verde Luiz
São Miguel Quilombo Entre Pomerode
Jesus Vargeão Alves Balneário
do Oeste Rios Água
Flor do Maravilha União Caçador Piçarras
Modelo Doce
Sertão do Oeste Faxinal Macieira
Bandeirante Vitor Benedito
Marema dos Guedes Timbó Penha
Lebon Novo
Meireles Navegantes
Pinhalzinho Águas Lageado Ponte Régis
Belmonte Descanso Iraceminha Ilhota
Coronel Grande Xanxerê Serrada José
Cunha Nova Frias Salto Rio do
Freitas Arroio Rio das Boiteux
Porã Saudades Erechim Veloso Santa Campo Rodeio
Trinta Antas Blumenau
Santa
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Vargem Cecília Witmarsum


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REPÚBLICA ARGEN

Riqueza Nova Bonita Treze


Itaberaba Cordilheira Xaxim Ascurra
Cunhataí Tilhas Iomerê Salete Dona Itajaí
Alta Ipumirim
Tunápolis Iporã Caibi Videira Emma Balneário
Xavantina Lindóia Irani Ibirama
do Oeste São Pinheiro Indaial Cambouriú
do Sul
Carlos Águas de Planalto Catanduvas Preto Fraiburgo
Chapecó Alegre Arvoredo Taió Presidente
Luzerna Camboriú
Ibicaré Getúlio Guabiruba
Morro
Itapiranga São João Mondaí Palmitos
Itapiranga do Oeste Guatambu Apiúna Itapema
Caxambu Chapecó Campo Frei Brusque do Boi
Seara Arabutã Jaborá Joaçaba Rio do
do Sul Tangará Rogério Ponte Alta Oeste
Herval Ibiam Monte
dos Poli do Norte Rio do Porto
Mirim Lontras Bombinhas
Paial Presidente d'Oeste Carlo Laurentino Sul Belo
Doce Tijucas
Castelo Botuverá
Concórdia Lacerdópolis
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do Sul Nova
Curitibanos Central Aurora Trento
Peritiba Ipira Brunópolis Agronômica São João
Braço do Batista Governador
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Bela Capinzal Novos Ramos Leal
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CERTIFICADAS PELA E Fortuna
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FUNDAÇÃOPALMARES (ABRIL/2018)
(ABRIL/2018) Martinho
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MUNICÍPIO (S) ANO PORTARIA D.O.U. Joaquim
COMUNIDADE Bom Jardim São 28°20'0"S
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28°20'0"S Gravatal
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SÃO ROQUE PRAIA GRANDE - MAMPITUBA 2004 Grandes
Urussanga Tubarão
Treviso Ilhotinha
VALONGO PORTO BELO 2004 Treze
Siderópolis
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MORRO DO FORTUNATO GAROPABA 2006 do Sul
Morro da Família Jaguaruna
Fumaça
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SANTA CRUZ PAULO LOPES 2007 Morro Criciúma Sangão
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CAMPO DOS POLI MONTE CARLO 2007 Içara


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TABULEIRO SANTO AMARO DA IMPERATRIZ 2009 Turvo

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ILHOTINHA CAPIVARI DE BAIXO 2014


São
Roque Passo de
Torres
®
Escala Gráfica
0 4,5 9 18 27 36
Fonte: Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQ’s). Disponível em: http://www.palmares.gov. km
Elaboração: Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC) PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
br/comunidades-remanescentes-de-quilombos-crqs . Acesso em: jul./2018 Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones Bissigo (UFSC).

53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W


ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA

População de origem africana CAPÍTULO IV


87
REFERÊNCIAS

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os municípios - Santa Catarina – 2010. Faperj, 2008. 1940). Dissertação (Mestrado em História) (Orgs.). História Diversa: Africanos e em História, Universidade Federal de (Mestrado em História) – Programa de
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Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013. Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2015 - uma análise das condições de Invisibilização dos negros no planalto norte VICENZI, Renilda. Nos campos de cima
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vida da população brasileira. Tabela 1.3 catarinense: reflexões acerca da abordagem ______. Memórias do cacumbi: cultura afro- da Serra: ser preto, pardo e branco na vila
CAPÍTULO IV

CAPÍTULO IV
– Distribuição percentual da população historiográfica da região do Contestado e o MORTARI, Claudia; CARDOSO, Paulino de brasileira em Santa Catarina, século XIX e de Lages, 1776-1850. 2015. 232 f. Tese
residente, por cor ou raça, com indicação do Ensino de História. Revista Santa Catarina Jesus. Territórios negros em Florianópolis XX. 2015. 197 f. Dissertação (Mestrado em (Doutorado em História) – Programa de
coeficiente de variação, segundo as Grandes em História, Florianópolis, v.10, n.2, p. no século XX. In: BRANCHER, Ana (Org.). História) – Programa de Pós-Graduação Pós-Graduação em História, Universidade
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População de origem africana

População de origem africana


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205, dez. 2015.
dez. 2011.

88 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 89


® Detalhe de fotografia de Pedro Martins (1993).
Capítulo V
A Presença
da População
Cabocla

Vitalina Souza Prestes, sobrevivente do Contestado, município de José Boiteux (1993).


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CAPÍTULO V

CAPÍTULO V
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Fonte: FRAGA, Nilson Cesar. Mudanças e permanências na rede viária do

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! do Sul Contestado: uma abordagem acerca da formação territorial no sul do Brasil.
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21 Vaca Branca 2006. 188 f. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento) –

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Passos de Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento,

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! Elaboração: Guilherme Regis, Pedro Agripino Sagaz e Isa de Oliveira

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Rocha (SPG/SC).
Capítulo 5 | A presença da população cabocla
Pedro Martins1
Tânia Welter2

A
té o início da década de 1980 o tema População cabocla a Batalha do Irani, e arrastou-se até 1916.
“população cabocla” era conside- Fruto das mazelas sociais e políticas do
rado um tabu em Santa Catarina. Para entender o significado do conceito início da implantação da República no Brasil,
O assunto, sempre associado à Guerra do de população cabocla é importante tomar a Guerra do Contestado foi uma guerra do
Contestado (1912-1916), aparecia na lite- como referência o movimento de ocupação Estado Brasileiro contra uma parcela signifi-
ratura e nos meios de comunicação social do território do Planalto Leste e do Oeste de cativa da população cabocla da região. Guerra
de forma marginal. A escassa informação Santa Catarina a partir de três segmentos que resultou em muitos milhares de mortos e
objetiva gerava – como de resto ainda gera distintos: a população indígena, a população em feridas sociais até hoje não cicatrizadas.
– uma grande carga de preconceito com cabocla e os colonos de origem europeia. Após a guerra, que finalizou com a derrota da

CAPÍTULO V
consequências graves para as populações Estes três segmentos ocuparam sucessiva e população cabocla, a maior parte dos cabo-
assim denominadas e seu desenvolvimento concomitantemente o território em questão clos sobreviventes dispersou-se pela região
ou inserção social. – cada um comprometendo o espaço vital do ou dirigiu-se a outras regiões de Santa Cata-
grupo anterior. Desde o início da fixação de rina e dos estados vizinhos3. Trazemos aqui
Decorridos cerca de 70 anos desde o final da europeus no território brasileiro registrou- dois exemplos de grupos de caboclos rema-
Guerra do Contestado surgiu pela primeira -se a circulação e fixação de indivíduos estra- nescentes da guerra com o propósito de
vez uma iniciativa de governo no sentido de nhos à região passando a disputar o uso das demonstrar como esta população continuou
buscar conhecer de maneira apropriada o terras com a população nativa formada por a se articular na diáspora e como se caracte-
Movimento do Contestado e a realidade da índios Kaingang, Xokleng e Guarani. Especial- riza, nos dias atuais, no contexto catarinense.
população cabocla como um esforço para mente a partir do século XVIII intensificou-se O primeiro exemplo é a Comunidade de
incorporar a ambos na história e no contexto o trânsito e fixação na região de pessoas de Taquaruçu, no município de Fraiburgo, que
social de Santa Catarina. origens diversas. Descendentes de portu- permaneceu na região onde o Movimento do
gueses e paulistas, ex-escravos ou escravos Contestado teve início. O segundo exemplo é

A presença da população cabocla


A iniciativa em questão, levada a cabo por fugidos, índios destribalizados e outros euro- a Comunidade Cafuza, assentada atualmente
Esperidião Amin Helou Filho durante seu peus desgarrados, aventureiros, fugitivos ou em José Boiteux, no Vale do Itajaí, represen-
primeiro mandato como governador do empreendedores, ocuparam terras do sertão tando os caboclos que se afastaram da zona
estado (1983-1987), apesar de muitos equí- e desenvolveram um modo de vida próprio da guerra e lograram sobreviver.
vocos resultou em um importante legado em circunstâncias determinadas pelas possi-
para a historiografia do Contestado e, conse- bilidades do meio. A população cabocla Os remanescentes
quentemente, para a memória e visibilidade representa este segundo movimento – que de Taquaruçu
da população cabocla. conviveu de diferentes maneiras com a popu-
lação original. A partir da segunda década do Na localidade de Taquaruçu, área rural de Frai-
século XX tem início a colonização da região burgo distante vinte quilômetros do centro
1
Graduado em Ciências Sociais (1986) e Mestre em
por descendentes de italianos e alemães urbano, ocorreu uma das batalhas da Guerra
Antropologia Social (1991) pela Universidade Federal
(chamados “de origem”) egressos de outras do Contestado (1912-1916) - lembrada pela
de Santa Catarina e Doutor em Antropologia Social
áreas coloniais, especialmente do Rio Grande população local como “Guerra dos Jagunços”. A
(2001) pela Universidade de São Paulo. Professor
do Sul. A presença dos três segmentos de marginalidade social das populações campo-
Associado da Universidade do Estado de Santa Catarina,
população estabelece, portanto, uma hierar- nesas, que foi um dos motivos da guerra, ainda
no Programa de Pós-Graduação em Planejamento
quização entre eles. O segmento identificado é verificada na região. Na atualidade, a popu-
Territorial e Desenvolvimento Socioambiental.
como população cabocla, com determinadas lação local de Taquaruçu é formada por dois
Diretor Científico do Instituto Egon Schaden/IES atua,
características em comum, espalhava-se, grupos étnicos distintos, os “de origem” e os
principalmente, nas áreas de Antropologia rural e
então, pelo Planalto Leste e Oeste de Santa brasileiros ou caboclos (Welter, 2018).
História da Antropologia.
Catarina, Noroeste do Rio Grande do Sul e
Sudoeste do Paraná – formando uma área Os “de origem” são imigrantes ou descen-
2
Graduada em Ciências Sociais (1988), Mestra com uma certa homogeneidade cultural. dentes de imigrantes de origem europeia
(1999) e Doutora (2007) em Antropologia Social (especialmente alemães e italianos) que
pela Universidade Federal de Santa Catarina. Diretora A Guerra do Contestado
do Instituto Egon Schaden (IES) e pesquisadora do
Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades e Também conhecida como ou inserida no 3
Para entender o tema da Guerra do Contestado
do Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Movimento do Contestado, a guerra civil recomendamos a leitura de Queiroz (1977) e
Federal de Santa Catarina. em Santa Catarina teve início em 1912, com Machado (2004).

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 95


Reprodução do “Mappa Do Theatro das operações das forças federais no contestado” (1914).
Fonte: Acervo da Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Catarina.
A diferença entre os dois grupos pode ser zação do trabalho. Por um lado, se observa interpretada como consequência do precon-
visibilizada na forma de reconhecimento de investimentos de empresas nacionais e ceito à sua cultura religiosa e também como
sua existência pelo poder público, no acesso estrangeiras na produção e industriali- uma certa censura financeira, já que os
às políticas públicas, no modo de vida, nas zação de pinus em larga escala, seguidos preços cobrados nos eventos promovidos
estratégias de sobrevivência, nas formas pela pecuária e agricultura extensiva. Essa pela Igreja são considerados impeditivos
de religiosidade, na visão de mundo, entre produção é administrada por colonos “de por sua condição de classe.
outras formas. origem” e se destina em grande parte à
exportação para centros urbanos e outros Resumindo, pode-se dizer que as populações
A primeira diferença, marcada pelo reconhe- países. Já os homens e mulheres rema- remanescentes do Contestado residentes
cimento da existência dos grupos por parte nescentes do Contestado, além de residir em Taquaruçu, especialmente aquelas que
do poder público, fica evidente quando se em locais de difícil acesso, muitas vezes se reconhecem como “jagunços”, vivem
busca informações sobre a história de Frai- isolados, realizam atividades sazonais ainda em situação que beira a marginali-
burgo em ambientes virtuais, panfletos nessas fazendas trabalhando na produção dade social. Algumas com dificuldade de
de divulgação, museus e órgãos oficiais. A extensiva e na industrialização, especial- acesso a políticas públicas, residem em
CAPÍTULO V

CAPÍTULO V
ênfase e destaque é para o processo de colo- mente de pinus/celulose e maçã. Na entres- locais de difícil acesso, realizam traba-
nização e produção das famílias de origem safra atuam na agricultura de subsistência. lhos em fazendas e monoculturas (pinus/
europeia - como o caso da Família Frey, Há inúmeros relatos sobre as consequências celulose, maçã e outros) ou agricultura de
fundadora do município. nefastas do trabalho nas fazendas. Além de subsistência e enfrentam dificuldades e
ser um trabalho exaustivo e em condições conflitos com os grupos “de origem”. Dife-
As memórias e bens materiais e imateriais das precárias, muitas vezes coincide com o rentemente dos bens materiais e imateriais
populações tradicionais não brancas envol- calendário letivo e contribui para a evasão da cultura dos grupos “de origem”, que têm
vidas na Guerra do Contestado e ainda resi- escolar de trabalhadores adolescentes. sido preservados e valorizados, as tradições
dentes na localidade de Taquaruçu de Cima e bens materiais das populações remanes-
® Detalhe de fotografia de Tânia Welter.

e Assentamento Contestado não recebem Por fim, observa-se uma diferença na valo- centes do Contestado em Taquaruçu, em
destaque. Isto fica evidente na atenção que rização das práticas e dos espaços reli- destaque o cemitério e as tradições das famí-
dá o poder público à conservação dos bens giosos dos dois grupos. A valorização e lias jagunças, estão relegadas a um segundo
culturais materiais do Contestado, como investimento nas práticas e bens materiais plano na ordem de prioridades. Para reagir
A presença da população cabocla

A presença da população cabocla


o cemitério de Taquaruçu, placas e monu- da religião oficial, mais frequentada pelos contra aquilo que não está de acordo com
mentos. Fica evidente também na construção, “de origem”, é facilmente observada em sua cultura ou anunciar o mundo desejado,
organização, localização, forma de acesso e Taquaruçu. Os remanescentes do Contes- os remanescentes caboclos de Taquaruçu
até na nomenclatura do Museu do Jagunço: tado utilizam formas próprias para viven- realizam atividades religiosas próprias
distante cerca de vinte quilômetros da sede ciar e rememorar os preceitos religiosos (definidas como “dos antigos”), mantém
Fotografia 1 – Ana Maria Palhano e Angelo Pereira Palhano (Taquaruçu/Fraiburgo, 2005).
do município, mantido fechado a maior parte compostos por rituais (como Recomen- redes de sociabilidade e solidariedade e
do tempo e visitado quase exclusivamente dação das Almas e Terço Cantado), símbolos, tradições familiares. Buscam, assim, na
participaram do processo de colonização sobre a relação de conflito entre os grupos subordinação ao novo grupo. Do confronto por pesquisadores. A comunidade local deixa santos (como São João Maria) e calendários mobilização dos seus valores culturais,
nos estados do sul do Brasil, nos séculos a partir da colonização europeia no sul do entre os dois segmentos, colonos “de origem” claro não ter protagonismo na criação do próprios. Trata-se de uma religiosidade transcender as condições objetivas que
XIX e XX. Para identificarem-se como “de Brasil, sendo também um dos elementos e caboclos, surgiram algumas estratégias de museu e considera restrito o acesso a ele. vivenciada em contextos domésticos ou em levaram à Guerra do Contestado e que ainda
origem”, os homens e mulheres que viviam motivadores da Guerra do Contestado. sobrevivência. Estas estratégias refletem-se espaços públicos e geralmente coordenada se fazem presentes na sua realidade.
em Santa Catarina nos séculos XIX e XX não na construção da identidade dos diversos A diferença fica evidente também quando se por lideranças laicas locais, como reza-
precisavam ter nascido na Europa, mas era O segundo grupo, recorrentemente definido grupos. É assim que, no Oeste catarinense, observa o acesso dessa população às políticas dores/as, capelães, curadores/as e benze- Comunidade Cafuza
importante que falassem a língua e conser- como caboclo ou brasileiro na literatura, se grupos de caboclos vão se transformando públicas. Embora o município de Fraiburgo dores/as. É uma forma religiosa própria
vassem valores próprios da cultura alemã reconhece, em Taquaruçu, como “jagunço”4. em brasileiros, em oposição aos italianos ou seja reconhecido por sua produção agrícola, marcada pela autonomia institucional, A diáspora cabocla, ou seja, o processo de
ou italiana. A língua e os valores criavam Na Constituição Brasileira foi definido como alemães, e em Taquaruçu, após a Guerra do potencial turístico e qualidade de vida, apre- criatividade, presença na vida cotidiana e dispersão da população cabocla da Região
a barreira necessária para separar os “comunidade tradicional” porque possui Contestado, em jagunços. Da mesma forma, senta índices de extrema pobreza, especial- voltada à tradição. Estes elementos carac- do Contestado após o fim da guerra, em
imigrantes e seus descendentes dos brasi- uma cultura diferente da cultura predomi- em José Boiteux um grupo de caboclos passa mente concentrados na zona rural. Mesmo com terizam aquilo que definem como a “reli- 1916, produziu um rearranjo da identidade
leiros – descendentes de portugueses, nante na sociedade mais abrangente, ocupa a se identificar como Cafuzos, ao passo que a grande inflexão política ocorrida no plano gião dos antigos” ou “fé dos antigos” que foi dessa população. A designação “caboclo” foi,
negros e índios. A posse de língua e valores e utiliza territórios e recursos naturais nos anos recentes diferentes populações nacional no período de 2003 a 2014, as polí- transmitida oralmente aos demais. Muitas durante muito tempo – e em alguns lugares
europeus colocava os “de origem” numa para manter sua cultura, tanto no que diz tradicionais assumem a identidade quilom- ticas públicas para o combate à pobreza estão vezes estas formas religiosas são criticadas continua sendo – considerada deprecia-
posição de superioridade em relação aos respeito à organização social quanto no que bola. Numa perspectiva sociológica, é concentradas na zona urbana e, na zona rural, e menosprezadas por outras lideranças reli- tiva, uma identidade negativa, deteriorada
brasileiros ou caboclos. Há inúmeros relatos toca à religião, economia e ancestralidade. A possível identificá-los como o segmento da muitos ainda não conseguem ter pleno acesso giosas ou pessoas pertencentes a outros (Goffman, 1975)5. Por esta razão, a expe-
colonização dessas regiões por europeus ou população que vive uma condição de exis- a elas para exercer sua cidadania em termos de grupos. Além disto, os jagunços demonstram
seus descendentes, após a Guerra do Contes- tência em contexto de isolamento relativo saúde pública, educação básica e moradia. ter inibida a sua participação em atividades
4
Para conhecer depoimentos desta população, ver tado, significou para o segmento caboclo um (mesmo quando migram para as cidades), realizadas nos espaços públicos, como a 5
Uma identidade deteriorada, na visão de Goffman
o Documentário “Terra Cabocla” (direção: Márcia confronto que resultaria em um processo de afastado via de regra do sistema legal e sem A região do Contestado também mantém Igreja, salão comunitário, museu, escola, (1975), é uma identidade que diminui o valor social
Paraíso e Ralf Cabral Tambke, Plural Filmes, 2015). expropriação da terra, violências diversas e acesso às relações de poder dominantes. uma divisão social na produção e organi- cemitério e quadra de esportes. A exclusão é do indivíduo que é seu portador.

96 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 97


riência de reconstrução identitária é um pressa fugindo da perseguição que quase
fenômeno recorrente, bastante comum, que sempre acabava na morte trágica dos cabo-
se dá pela diluição da população cabocla clos que ousaram desafiar o mandonismo
no conjunto da população mais ampla ou local na Região Contestada.
pela articulação de um arranjo próprio.
Tomamos aqui, como exemplo, um caso Com perdas e ganhos, o grupo acabou se
especial representado pela Comunidade estabelecendo, anos mais tarde, na Serra
Cafuza de José Boiteux (Martins, 1995). da Abelha, sertão de Itaiópolis. Por mais de
vinte anos Antônio Machado e seus parentes
A Comunidade Cafuza está atualmente fixada permaneceram no sertão de terras devolutas
em terras próprias na localidade de Alto Rio lutando pela sobrevivência em meio às adver-
Laeiscz, município de José Boiteux, no Vale sidades da natureza. Quando o processo de
do Itajaí. Antes, porém, seus ancestrais eram colonização avançou pelo Alto Vale do Itajaí o
caboclos espalhados pelo Planalto e Oeste grupo de Antônio Machado tornou-se vítima
CAPÍTULO V

CAPÍTULO V
de Santa Catarina, Noroeste do Rio Grande de nova espoliação. A sobrevivência física
do Sul e Sudoeste do Paraná. contra os grileiros obrigou o grupo a deixar as
terras ocupadas e aceitar a hospitalidade da
Saídos de diferentes pontos da região do administração do Posto Indígena de Ibirama
Contestado, caboclos juntaram-se à Guerra (hoje José Boiteux) onde serviriam de mão de
Santa e estabeleceram entre si novos laços obra barata por quase 50 anos.
de identidade. A narrativa de antigos inte-
grantes da Comunidade Cafuza dá conta de No contexto do Posto Indígena a identi-
que alguns deles deixaram o Noroeste do dade do grupo ganhou outra dimensão.
Rio Grande do Sul atendendo ao chamado Por ser a maioria descendente de índio
de parentes ou líderes caboclos para se e negro (Antônia e Jesuíno) passaram
juntarem à irmandade dos devotos de São a ser chamados de Cafuzos. Frente ao
João Maria em terras catarinenses. Outros conteúdo depreciativo atribuído à identi-
A presença da população cabocla

A presença da população cabocla


vieram das terras contestadas, no Sudo- dade “cabocla”, a denominação de “Cafuzo”
este do Paraná, juntando-se aos que tradi- foi vista como uma identificação positiva.
cionalmente habitavam as terras devolutas Os caboclos do Contestado passaram a se
do Planalto e aos que foram atraídos para a integrar na paisagem da Terra Indígena –
região na construção do movimento. usufruindo de certa forma do parentesco
étnico com a população Xokleng, Kaingang
Durante a Guerra esses caboclos tiveram e Guarani que habitava o local.
papéis os mais variados. Antônio Machado,
por exemplo, era um soldado dos caboclos A construção de uma barragem para a
– conhecidos também pela alcunha depre- contenção de cheias no Vale do Itajaí
ciativa de “fanáticos” ou “jagunços”. Lutou atingiu, a partir da década de 1970, a Terra
sob as ordens de diversos comandantes Indígena dos Xokleng em José Boiteux.
ao mesmo tempo em que protegia a sua O grupo Cafuzo, habitante do interior da
família extensa e outros agregados. A sogra área, mas sem a legitimidade dos nativos,
de Antônio Machado, Antônia Eleutério foi o primeiro a sentir as consequências da
Fagundes, mais conhecida no grupo como Barragem Norte. Após vinte anos de resis-
Antônia Lotéria, segundo os relatos, era tência nessa condição adversa os Cafuzos,
uma “índia pega no mato a cachorro”. Havia finalmente, ocuparam uma propriedade
sido criada por fazendeiros ou sitiantes da em Alto Rio Laeiscz e lutaram pela consti-
região de Canoinhas. O pai da filha mais tuição de uma “Reserva Cafuza”.
velha de Antônia Lotéria era Jesuíno Dias
de Oliveira, um negro de espírito livre que A ideia da reserva Cafuza remetia à prática
® Pedro Martins (1988).

perambulou pelo Planalto nas últimas tradicional de uso comum da terra. Não se

® Pedro Martins
décadas do século XIX. Ao final da guerra trata de trabalho coletivo, uma ideia derivada
a família de Antônia e outros agregados, do cooperativismo, mas do uso individual
capitaneados pelo genro Antônio Machado, alternado de uma mesma parcela de terra
rendeu-se às forças militares em Canoinhas cuja propriedade é atribuída ao grupo como
Fotografia 2 – Criança Cafuza. Fotografia 3 – Bandeira do Divino na tradição cabocla da Comunidade Cafuza do município de José Boiteux (1989)
– de onde o grupo tratou de sair com muita um todo e a nenhum dos seus membros em

98 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 99


REFERÊNCIAS
particular. Terras de uso comum aparecem O grupo Cafuzo que persiste em sua terra a propor que o “Homem do Contestado”, ou
com muita frequência na literatura sobre comunal em Alto Rio Laeiscz, José Boiteux, o caboclo, seria o legítimo representante
formas de ocupação da terra no Brasil. Assim, é formado hoje por pouco mais de vinte dessa identidade. Hoje existe a clareza de
o grupo de caboclos egresso do Contes- famílias, contando-se outras trinta ou que a verdadeira identidade do povo cata-
tado entrou no século XXI reforçando sua quarenta “espalhadas” pela região. Cons- rinense é representada pela diversidade de
FRAGA, Nilson Cesar. Mudanças e
origem cabocla e sua identidade derivada da titui, contudo, uma referência para os identidades. Não se pode reduzir a iden-
permanências na rede viária do
condição de descendentes de índios e negros. parentes que, eventualmente, neces- tidade a uma ou mesmo muitas delas, pois
Contestado: uma abordagem acerca da
sitam retornar para um espaço de segu- cada grupo, à sua maneira, contribuiu para
formação territorial no sul do Brasil.
A diáspora, característica da condição rança e permitem, pela adaptação de suas a construção do mosaico cultural, múltiplo e
2006. 188 f. Tese (Doutorado em Meio
própria desse segmento da população, práticas às condições de sobrevivência diversificado, representado pelo conjunto da
Ambiente e Desenvolvimento) – Programa
continuou ocorrendo ao longo dos últimos vigentes, observar a dinâmica da cultura população de Santa Catarina. Neste contexto,
de Pós-Graduação em Meio Ambiente e
cem anos. Ao mesmo tempo em que even- cabocla nos tempos atuais. Guardam a população cabocla, por muito tempo subal-
Desenvolvimento, Universidade Federal do
tuais novos membros juntavam-se ao grupo, elementos culturais em comum com as ternizada e invisibilizada, tem hoje assegu-
Paraná, Curitiba, 2006.
antigos membros desgarravam-se seguindo demais populações caboclas espalhadas, rado e reconhecido um lugar no contexto
CAPÍTULO V

CAPÍTULO V
outro caminho. Nesse processo alguns se individualmente ou em grupos, por uma multicultural e multiétnico formado pelas
GOFFMAN, Erwing. Estigma – notas sobre a
fixaram em áreas urbanas e se acomodaram centena de municípios de Santa Catarina. diversas contribuições. Na diáspora, em
manipulação da identidade deteriorada.
ao estilo de vida próprio das cidades, ainda grupos estruturados ou na própria região
Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
que conservando hábitos e crenças oriundos do Contestado, remanescentes caboclos
do sertão, enquanto outros retornaram às Considerações finais reproduzem e cultivam tradições com maior
MACHADO, Paulo P. Lideranças do
origens – mas longe do grupo, e há aqueles ou menor consciência das suas implicações
Contestado: a formação e a atuação das
que vão e voltam – confirmando uma certa Durante muito tempo discutiu-se e buscou- históricas. Em qualquer parte do estado é
chefias caboclas (1912-1916). Campinas:
tendência ao nomadismo que caracteriza -se definir uma identidade única para o povo possível observar, na paisagem humana, a
Ed. Unicamp, 2004.
parte da população cabocla. catarinense. Na década de 1980 chegou-se presença da população cabocla.
MARTINS, Pedro. Anjos de Cara Suja.
Petrópolis: Vozes, 1995.
® Detalhe de fotografia de Pedro Martins (1993).
A presença da população cabocla

A presença da população cabocla


QUEIROZ, Maurício V. Messianismo e
Conflito Social - a Guerra Sertaneja do
Contestado 1912 - 1916. 2 ed. São Paulo:
Ática, 1977.

WELTER, Tânia. Encantado no meio do


povo. A presença do Profeta São João
Maria em Santa Catarina. São Bonifácio:
Edições do Instituto Egon Schaden, 2018.

100 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 101
® Detalhe modificado de fotografia de Pedro Martins (2012).
Capítulo VI
Colonização
Europeia

Ema Schaden, agricultora orgânica, município de São Bonifácio (2012).


53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W

25°50'0"S

25°50'0"S
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
COLÔNIAS - SÉCULOS XIX E XX P A R A N Á Garuva
!
H

Três
Barras Mafra
!
H !
H Itapoá
!
H

D O Canoinhas Campo

ARG ENTINA
!
H Alegre
!
H
Porto Rio São
Irineópolis São Bento Colônia
União !
H Bela Vista
Negrinho
do Sul Colônia Francisco
Dionísio !
H !
H !
H Dona Industrial do Sul
Cerqueira do Toldo !
H
!
H !
H Francisca do Saí

A D O
São Bento

E S T
Joinville
Itaiópolis do Sul !
H
Palma São Lourenço Major !
H
Sola do Oeste Vieira
!
H !
H !
Guarujá H
Campo Araquari
do Sul Erê Jupiá !
H
Papanduva
!
H !
H !
H ! Schroeder
H
Corupá !
H
Novo
São José Horizonte Matos Monte Rio Negrinho Hansa !
H Balneário
Princesa Galvão Barra
do Cedro São !
H !
H Costa Castelo !
H Humbolt Jaraguá do Sul
!
H !
H Bernadino !
H Colônia do Sul Guaramirim
!
! H
H Coronel Lucena !
H !
H
Martins Papanduva Jaraguá
!
H
Anchieta São Abelardo

AT L Â N T I C O
!
H Domingos Luz
!
H !
H
Santa Calmon Timbó
Guaraciaba Terezinha do Saltinho Santiago
!
H Grande Colônia Massaranduba São João do
Ipuaçu !
H Itaperiú
Paraíso
!
H Progresso !
H Formosa do Sul
!
Rio dos !
H
!
H
Barra
Barra !
H do Sul H Velha
26°40'0"S

Cedros

26°40'0"S
!
H !
H
Bonita São Miguel Irati !
H !
H
!
H da Boa
!
H Ouro Vale do
Romelândia
!
H Vista Tigrinhos
Entre
verde Doutor Rio do
!
H Luiz
!
H !
H !
H Serra Bom Pedrinho Texto
REPÚBLICA

São Miguel Sul Jardinópolis Quilombo Rios Rio dos Alves


Bom Jesus Alta ! Jesus !
H
do Oeste Brasil !
H !
H H Cedros !
H
do Oeste !H !
!
H ! Colônia
!
H H Passos Santa !
H H Balneário
Benedito
Bandeirante Flôr do Maravilha União do Maia Caçador Terezinha Novo
Pomerode Luiz Alves Piçarras
Modelo !
H !
H Penha
Sertão !
H Oeste !
H !
H !
H
!
H
!
H
!
H
Marema
!
H Timbó !
H
!
H
Timbó
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI
Descanso Iraceminha Lajeado Faxinal !
Macieira H
Belmonte !
H !
H Pinhalzinho Xanxerê dos Guedes Vargeão Ponte
!
H Águas Grande
Serrada !
H Vitor Colônia
!
H
Frias !
H Xanxerê
!
H !
H Rio das Meireles Colônia
Cunha Nova !
H Salto Antas ! Colônia de Ilhota
Porã Erechim
!
H Coronel !
H
Veloso
H Rodeio Indaial Navegantes
!
H ! Freitas !
H Arroio !
H Lebon
! Blumenau Ilhota
H
! Régis Rio do Witmarsum Rodeio H Blumenau !
H Itajaí H
!
Nova H Trinta
Santa Saudades
Itaberaba !
H !
H Santa Campo !
H José Colônia Hansa !
H !
H !
H
!
Helena Cecília Boiteux Hammônia Ascurra
H !
H H Gaspar
!
!
H
!
H
Cunhataí
Cordilheira
! Água Treze Treze
!
H Salete Dona !
H !
H
alta H Vargem Emma Balneário
Tunápolis Iporã do !
H ! Xaxim Doce Tílias Tílias Iomerê
!
H !
H Camboriú
!
H Oeste H Bonita ! ! Videira Colônia de
H H !
H !
!
H Irani !
H !
H Fraiburgo H
Lindóia
Pinheiro !
H Ascurra Camboriú
!
H
Preto Presidente Colônia !
H
do Sul Getúlio !
Águas de Planalto ! Catanduvas
!
H H Ibirama !
H Azambuja
Riqueza Caibi Palmitos
São Alegre Arvoredo
Xavantina Ipumirim
H Itajahy !H Apiúna
Chapecó !
H !
H Ibicaré
! ! Carlos !
H !
H !
H Hercílio Guabiruba
São João H !
H H
!
H
!
H !
H Tangará
!
Colônia !H Brusque
do Oeste Mondaí Chapecó H Taió
!
H !
H !
H Luzerna !
H Príncipe !
H Itapema
Guatambu Ponte Alta Aquidaban !
H
!
H Dom Pedro Colônia
Caxambu !
H
Chapecó Seára
Arabutã Cruzeiro
Frei do Norte Braço Porto Bombinhas
do Sul !
H Jaborá Cruzeiro Joaçaba Rogério !
H Itajaí
Itapiranga !
H
!
H
Presidente !
H !
H !H
Ibiam !
H Mirim
Rio do do Sul H Lontras
!
Belo !
H
!
H Oeste !
H
!
H Castello Herval Monte Frei Doce !
H
Rio do
Branco d'Oeste Carlo Rogério !
H Sul
Concórdia
! !
H São
Laurentino !
H !
H Bella Porto
H Botuverá
!
!
H H
Cristóvão
Pouso
Aliança Colônia
Paial Lacerdópolis Erval Redondo Franco Brusque Tijucas
! Cruzeiro Velho do Sul !
H Agronômica Presidente São João !
H
H !
H ! Nova Canelinha
!
H Curitibanos !
H
Trombudo
H
Suedarm Nereu Trento Batista !
H
Itá Brunópolis
!
H !
H !
H Governador
!
H Central Aurora !
H
! Celso
H !
H !
H Nova
Ouro Dom Colônia Nova Ramos
H Capinzal
!
Braço de Trento !
H
Peritiba !
H Trombudo Afonso Itália
Campos !
H Vidal
!
H
Ipira Novos Ramos
! Agrolândia ! Major

E S T A D O
Alto Bela H Ituporanga H
!
H Piratuba
!
H Atalanta
!
H Gercino Colônia
Vista !
H
!
H
!
H
Zortéa
!
H Piedade

D O
!
H Ponte Otacílio
Vargem Alta Costa
27°30'0"S

Leoberto Colônia

27°30'0"S
!
H
!
H !
H Imbuia
! Leal Biguaçu
H
!
H Leopoldina !
H
Petrolândia Antônio
!
!
H Colônia Colônia H
Carlos
São Pedro de
Correia Palmeira Chapadão Nacional Angelina

R
do Lajeado Alcântara
Abdon Pinto !
H H Angelina
! !
H
Celso Batista !
H !
H São Pedro de

I O
Colonização europeia

Colonização europeia
Ramos !
H Alcântara Florianópolis !
H
!
H São José São José !H
do Cerrito Palhoça
Anita !
H
Colônia Rancho !
H
Garibaldi Alfredo Santa Queimado
! Wagner !
H Colônia Santo Amaro
H
! Isabel H da Imperatriz
!
Bocaína
H Teresópolis!
H Águas
Colônia Vargem
do Sul Mornas
!
H Militar Santa Grande
Cerro Bom Thereza
!
Negro Retiro Colônia
H !
H
Lages Löffelscheidt
!
H Colônia

G
Campo
Rio
Nucleo Santa
Rufino
Belo !
H Colonial Isabel
do Sul

R
São
!
H Anitápolis Bonifácio
Capão Anitápolis
Painel ! !
H
Alto ! H
H

A
COLÔNIAS DE SANTA CATARINA
!
H Urupema
! Paulo
H Vila de São Lopes

N
Bonifácio !
H

ANO
Urubici
!
H Santa Rosa

D
de Lima Garopaba
ANO DE !
H !
H
COLÔNIAS MUNICIPIO ATUAL ETNIAS PERÍODO
FUNDAÇÃO São Martinho

E
São Pedro de Alcântara São Pedro de Alcântara 1829 Alemães 1º Reinado Rio
do Capivary
Colônia Nova Itália/Dom Afonso São Joao Batista 1836 Italianos Fortuna
São
Regencial Grão !
H
Martinho
Vargem Grande Aguas Mornas 1837 Alemães Pará Grão !
H
Pará Grão
Colônia Industrial do Saí São Francisco do Sul 1841 Franceses

OCE
!
H
Pará
Colônia de Ilhota Ilhota 1844 Belgas
Imbituba
Colônia Löffelscheidt Águas Mornas 1847 Alemães São Armazém !
H

Colônia Piedade Governador Celso Ramos 1847 Alemães !


H
Joaquim Grão !
H
Braço do
!
H

Pará Norte
Colônia Santa Isabel Aguas Mornas e Rancho Queimado 1847 Alemães São
28°20'0"S

Bom Jardim

28°20'0"S
da Serra Ludgero
Gravatal
Colônia Blumenau Blumenau 1850 Alemães e (1870) italianos !
H Orleans
!
H !
H
!
Imaruí
H
Colônia Dona Francisca Joinville 1851 Suíços, noruegueses e alemães Lauro !
H
Grão

D
Müller
Colônia Leopoldina Antônio Carlos 1852 Belgas e Alemães !
H Pará
Pescaria
Pedras
Colônia Militar Santa Thereza Alfredo Wagner 1854 Alemães, Grandes Capivari Brava

O
!
! de Baixo H
Colônia Itajaí/Colônia Brusque Brusque 1860 Alemães
H
!
H
Pedras Laguna
Colônia Nacional/Colônia Angelina Angelina 1860 Alemães, franceses, belgas, poloneses, luxemburgueses e holandeses Grandes Tubarão
!
Treviso Urussanga !
H
H
Colônia Teresópolis Aguas Mornas 1860 Alemães !
H Urussanga
!
H Colônia
Vale do Rio do Testo Pomerode 1861 Alemães Azambuja
Vila de São Bonifácio São Bonifácio 1864 Alemães Nova

S U L
Nova Cocal
!
H
Treze
Veneza
Veneza Siderópolis do Sul
São Martinho do Capivary São Martinho 1865 Alemães !
H !
H
de Maio
Nova Núcleo Colonial Jaguaruna
Colônia Príncipe Dom Pedro Guabiruba 1866 Irlandeses, anglo americanos, ingleses, alemães e poloneses !
H
Veneza
Acioli de Morro da Sangão !
H
Fumaça
Timbó 2º Reinado
!
Timbó 1869 Alemães e italianos Vasconcelos
Criciúma
!
H
H

Nova
Colônia São Bento São Bento do Sul 1873 Alemães, austríacos, poloneses e tchecos !
H
Veneza Içara
Colônia Rio dos Cedros Rio dos Cedros 1875 Italianos, austríacos, alemães, poloneses e russos Vila de São !
H
José de
Colônia Rodeio Rodeio 1875 Austríacos e italianos !
H
Cresciúma
Morro Forquilhinha
Nova Trento Nova Trento 1875 Italianos, russos, poloneses e alemães Grande
Balneário
Porto Franco Botuverá 1875 Alemães e italianos Timbé
do Sul
!
H
Meleiro Rincão
Rio Negrinho Rio Negrinho 1875 Alemães, poloneses, portugueses e italianos !
H !
H Maracajá
!
H
!
H
Aquidaban Apiúna 1876 Italianos
Colônia de Ascurra Ascurra 1876 Italianos
Colônia Azambuja Azambuja e Treze de Maio 1877 Italianos !
H
Turvo
!
Araranguá
H Balneário
Colônia Luiz Alves Luiz Alves 1877 Italianos, austríacos, belgas, poloneses e franceses Arroio
Jacinto Ermo
Pedras Grandes Pedras Grandes 1877 Italianos Machado !
H
!
H
do Silva
!
H
Urussanga Urussanga 1878 Italianos
Papanduva Papanduva 1880 Alemães, poloneses, ucranianos e italianos
Vila de São José de Cresciúma Criciúma 1880 Italianos, poloneses e alemães
Grão Pará Orleans, Grão Pará, São Ludgero e Braço do Norte 1883 Italianos, alemães e poloneses Santa
Rosa
Sombrio
!
H
Núcleo Colonial Acioli de Vasconcelos Cocal do Sul 1885 Italianos, poloneses e russos !
H
do Sul Balneário
Gaivota
29°10'0"S

29°10'0"S
Jaraguá Jaraguá do Sul 1890 Alemães, italianos, húngaros e poloneses Praia !
H

Colônia Lucena Itaiópolis 1891 Poloneses, ucranianos e alemães !


H
Grande
São João

®
do Sul
Nova Veneza Nova Veneza e Siderópolis 1891 Italianos !
H
Suedarm/Braço do Sul/Bella Aliança Rio do Sul 1892 Alemães e italianos
Colônia Hansa Hammônia/Itajahy Hercílio Ibirama 1897 Alemães e italianos
Republicano Passos de Escala Gráfica
Hansa Humbolt Corupá 1897 Alemães Torres
0 10 20 40 km
Nucleo Colonial Anitápolis Anitápolis 1906 Alemães e italianos !
H

Chapecó Chapecó 1917 Alemães e Italianos*


PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°

104 105
Cruzeiro Joaçaba e Concórdia 1917 Alemães e Italianos*
Xanxerê Xanxere 1917 Alemães e Italianos*
Treze Tílias Treze Tílias 1933 Austríacos, alemães e italianos
Republicano após 1930 Elaboração: Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC).
Frei Rogério Frei Rogério 1963 Japoneses
*Rio grandenses de origem alemã e italiana, oriundos de antigas colônias do Rio Grande do Sul.

53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W


Capítulo 6 | Colonização europeia
João Klug1
Manoel P. R. Teixeira dos Santos2
Angela Bernadete Lima3

O
estado de Santa Catarina é conhe- cultural e étnica, verifica-se, do mesmo modo,
cido no cenário nacional em a influência de negros, caboclos e indígenas.
O PROCESSO DE
função da forte influência euro- COLONIZAÇÃO
peia em sua formação sociocultural. O Colônias foram fundadas com predominância O processo de colonização europeia no Brasil
território catarinense foi marcado pela ou até exclusividade de determinadas etnias, estava diretamente atrelado ao contexto
constituição de várias colônias com o que possibilitava maior coesão, especial- político nacional. A legislação voltada a
imigrantes oriundos de diferentes estados mente no início destas colônias. Alguns promoção da imigração no país sofreu cons-
europeus ao longo do século XIX e XX, o anos após o início, novas levas de imigrantes tantes alterações com períodos de maior ou
que nos permite afirmar que o perfil da

CAPÍTULO VI
foram trazidas e estes imigrantes passaram menor estímulo. Considerando isso, procu-
atual sociedade catarinense, visto sob a a ocupar espaços na borda ou no entorno da ramos apontar alguns desdobramentos
perspectiva étnica, se apresenta de forma colônia mãe. Há uma espécie de transborda- deste processo ao longo do Período Impe-
multifacetada. Desta maneira, o estado de mento para os espaços periféricos da colônia rial (Primeiro Reinado, Período Regencial
Santa Catarina pode ser visto como um original verificando-se, portanto, uma sobre- e Segundo Reinado) e durante a Primeira
caleidoscópio étnico através do qual se posição de etnias numa mesma colônia. República (1889-1930).
perceberá a riqueza cultural oriunda de Blumenau, por exemplo, é originalmente
sua diversificada constituição étnica. uma colônia alemã, mas também recebeu PRIMEIRO REINADO (1822-1831)
italianos, dando origem a núcleos marcada-
A grande variação regional exige que se pense mente com esta etnia. Assim, Blumenau é
em identidades plurais e não numa única A política de colonização do primeiro reinado
“alemã”, mas também é “italiana”. realizou iniciativas muito pontuais em Santa
identidade. Estas identidades plurais, por
sua vez, são “identidades hifenizadas”, isto Catarina e conciliou preocupações com a
é, marcadas por um importante hífen. São Considerando esta sobreposição de etnias, defesa do território – ainda como resquícios

Colonização europeia
comunidades formadas por teuto-brasileiros, torna-se difícil, muitas vezes, definir um das disputas entre Portugal e Espanha – com
ítalo-brasileiros, ou, poderíamos denominar determinado município como sendo de uma ações de povoamento, através de chegada de
de euro-brasileiros. Não podemos esquecer etnia específica. imigrantes agricultores.
de mencionar que ao lado desta formação
Especialmente a partir da década de 1980, Colônia São Pedro de Alcântara
com o advento das “festas de outubro” orga-
1
Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade
nizadas comercialmente na perspectiva Fundada em 1829, é reconhecida como a
Federal de Pelotas (1978), Graduado (1988) e Mestre
da indústria turística, a identidade étnica primeira colônia alemã de Santa Catarina.
(1991) em História pela Universidade Federal de
passou a ter grande importância. Através das Estabelecida na região do caminho das
Santa Catarina e Doutor em História Social (1997)
referidas festas, vários municípios passaram tropas, entre São José e Lages, foi única ação
pela Universidade de São Paulo. Professor Titular do
a receber um “rótulo étnico” e dessa forma, colonizadora na província durante o primeiro
Departamento de História da Universidade Federal
passaram a ser um produto comercializado reinado. Apesar de ter sido criada por ação
de Santa Catarina e pesquisador dos temas imigração,
pela indústria do turismo. O conceito “típico” do governo imperial, sua administração
colonização, meio ambiente, identidade, luteranismo e
passou a ter grande aceitação como produto. também recebeu amparo do governo provin-
germanidade.
Ex. Blumenau: tipicamente alemã; Rodeio: cial catarinense. A localização da colônia,
2
Graduado (2001), Mestre (2004) e Doutor (2011)
tipicamente italiana. próxima à antiga estrada entre São José e
em História pela Universidade Federal de Santa
Lages, nas margens do rio Maruí, tinha entre
Catarina. Professor efetivo do Colégio de Aplicação da Esta tipificação, no entanto, não corresponde os seus objetivos permitir maior integração
Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisador necessariamente, a realidade dos municí- entre a capital e o planalto serrano, até então
dos temas imigração, paisagens, meio ambiente, vida pios aos quais se refere. A realidade é mais muito mais integrado econômica e politica-
e trabalho rural. complexa, visto que dentro de um mesmo mente com São Paulo e com o Rio Grande do
município pode-se perceber uma configu- Sul, em função do comércio tropeiro.
3
Graduada (2011), Mestra (2015) e Doutora (2019) ração étnica que é plural, pois diferentes
em História pela Universidade Federal de Santa grupos formaram ali núcleos e colônias. Essa Os cortes no orçamento imperial, estabele-
Catarina. Pesquisadora de questões sobre a História complexa e multifacetada formação étnica, cidos através da Lei Geral de 1830, afetaram
da imigração, das atividades agrícolas e da agricultura significa também, dificuldade para definir diretamente a Colônia São Pedro de Alcân-
urbana e sobre políticas e discursos relacionados a determinada região ou município como tara, bem como a sequência do processo de
estas temáticas no século XIX e XX. sendo de uma etnia específica. colonização na província de Santa Catarina.

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 107


Fonte: Extraído de Piazza (1970).
Além do abandono estatal, as dificuldades Colônia Nova Itália colônia foi atribuído, em primeiro lugar, Desterro, Henry Schutel, também contribuiu para a caça de baleias, próxima à baía norte, Neste período destacamos a consolidação
para expansão agrícola em virtude do aciden- pela qualidade das terras e a sua topografia, para o conflito ao valer-se de uma procu- no local ainda hoje denominado Armação da colonização, através da fundação de
tado relevo da região, somados a inexperi- A atuação de empresas colonizadoras em o que permitiu um satisfatório desenvolvi- ração de Van Lede para negociar alguns da Piedade. O início da colônia ocorre em diversos núcleos coloniais no Vale do Itajaí,
ência agrícola de muitos colonos alemães, Santa Catarina teve início em 1836 com a mento agrícola. terrenos. Após alguns conflitos, o Ministério 1847, com 150 alemães. Com o passar dos na Região Norte, na Região Sul e em áreas
contribuíram para as enormes dificuldades fundação da colônia “Nova Itália”, através da Bélgica pronunciou-se a favor dos colonos anos muitos colonos foram deixando a loca- localizadas nas regiões próximas a Desterro.
enfrentadas pela colônia e a consequente da empresa Demaria & Schutel. Estabelecido SEGUNDO REINADO (1840-1889) e a pendência foi encerrada. (Ficker, 1972) lidade, dirigindo-se a colônias próximas. A
evasão de muitos dos seus habitantes. nas margens do rio Tijucas, no então muni- colônia não possuía regulamentos espe- Colonização do Vale do Itajaí
cípio de São Miguel, este pequeno núcleo Assim como ocorrido durante o período Colônia Santa Isabel ciais e seus diretores eram os comandantes
PERÍODO REGENCIAL (1831-1840) colonial recebeu imigrantes originários da regencial, o processo de colonização euro- da Fortaleza de Santa Cruz do Anhatomirim Durante a segunda metade do século XIX, a
mediterrânea ilha da Sardenha. O desen- peia em Santa Catarina permaneceu tímido Fundada em 1847 no vale do rio dos Bugres, (Piazza, 1994, p. 118). Em 1856 só exis- região do Vale do Itajaí (rios Itajaí-Açu e Itajaí-
A política de colonização foi interrompida volvimento da colônia foi muito modesto e nos anos 1840. As ações ainda continuavam, Santa Isabel não teve uma projeção econômica tiam na colônia 41 pessoas. As localizações -Mirim) deu origem a diversos novos empre-
entre o final do primeiro reinado e meados seus habitantes enfrentaram dificuldades substancialmente, a cargo das províncias. como as principais colônias alemãs de Santa dos lotes configuravam-se um problema endimentos coloniais. Extensas áreas de mata
do período regencial. Apenas com a publi- comuns aos outros núcleos existentes no Neste período foram fundadas em terras cata- Catarina. Merece destaque, no entanto, que por estarem na encosta e contarem com atlântica, configuradas como vazios demográ-
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI
cação do Ato Adicional de 1834, que abriu a período. Fundada muito antes do maior rinenses a Colônia Industrial do Saí, em São Santa Isabel alcançou considerável projeção pouca área plana, somado aos ventos e as ficos pelo poder público que desconsiderava a
possibilidade para as províncias brasileiras fluxo de imigração italiana, ocorrido nas Francisco do Sul, a Colônia Belga de Ilhota e na área da educação. Ali foi fundado em 1865, constantes chuvas. Assim, o remanescente presença das populações indígenas e cabocla,
promoverem a fundação de núcleos coloniais, últimas décadas do século XIX, ainda por a Colônia Santa Isabel, mais um núcleo esta- o Instituto de Educação (Erziehungsans- dispersou-se, como os primeiros, pelos foram substancialmente transformadas com a
ocorreram algumas ações de colonização. volta dos anos 1860 “Nova Itália” serviu de belecido nas proximidades da estrada entre talt), como parte da atividade de missioná- distritos e colônias próximas, sendo extinta fundação de colônias de imigrantes de origem
apoio para a conexão das colônias São Pedro Desterro e Lages. rios suíços oriundos de Basiléia. Tinha como a colônia Piedade. No local havia em 1917 europeia, sobretudo alemã e italiana.
de Alcântara e Angelina com as colônias objetivo suprir a carência relativa a escolari- um exíguo povoado com uma capela, e os
Em Santa Catarina, uma lei de maio de 1835 Brusque e Blumenau, no vale do Itajaí. moradores sobreviviam da pesca e da agri-
Colônia do Saí zação, visto que o Estado estava ausente desse Colônia Blumenau
autorizou a fundação de novas regiões de cultura (Mattos, 1917, p. 63).
colonização, nas margens processo, especialmente nas colônias alemãs.
Colônia Vargem Grande Esta escola de Santa Isabel marcou profun- Blumenau foi fundada nas margens do rio
dos rios Itajaí-Açu e Itajaí- Em 1841, por concessão imperial/provincial,
-Mirim. No ano seguinte foi fundada no município de São Francisco damente a região no período que se estende Colônia Leopoldina Itajaí-Açu em 1850, através de um projeto de
foi aprovada uma lei que Em 1837, foi fundada às margens do rio do Sul a Colônia do Saí. Tratava-se de uma desde a sua criação até o advento da política colonização particular capitaneado pelo Dr.
permitiu a colonização Cubatão, junto à nova estrada que ligava colônia industrial baseada nas teorias de de nacionalização do governo Vargas. Locali- No ano de 1847 na localidade conhecida Hermann Blumenau. Este empreendimento
privada, através de Desterro ao Planalto, a Colônia Vargem Charles Fourier e idealizada pelo médico Dr. zada na sede da colônia, além de Santa Isabel, como Alto Biguaçu, entre esta e o rio Tijucas agrícola colonial recebeu como marco
Colonização europeia

Colonização europeia
companhias ou ações Grande. O povoamento deste núcleo colo- Benoit Joseph Mure. O “Falanstério do Saí”, atendia alunos oriundos principalmente foram concedidas terras para a criação de de fundação a chegada dos 17 primeiros
individuais de nacio- nial recebeu muitos colonos alemães prove- como ficou conhecido o empreendimento das seguintes linhas coloniais: Linha Scharf, uma colônia. No entanto, apesar de iniciada imigrantes que adentraram a colônia em 2
nais ou estrangeiros. nientes da “vizinha” colônia São Pedro de colonial, recebeu cerca de 130 colonos fran- Rancho Queimado, Taquaras, Segunda Linha, uma pequena ocupação, em 1849 não de setembro de 18505.
Alcântara. Anos mais tarde, a expansão da ceses. A experiência baseada no chamado Cerro Chato, Linha Bauer, Rio Bonito. havia impulsionado uma maior inserção
colônia pode ser percebida pela criação de “socialismo utópico” teve curta duração, de colonos. Apenas em 1852 chegam, em O Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau,
uma nova área de colonização na localidade sendo desfeita poucos anos depois, em 1844. Em função das distâncias, esta escola possi- pequeno número, alguns colonos oriundos fundador da colônia e seu diretor por mais de
de Löffelscheidt (1847), no atual muni- Entre as justificativas apontadas para o insu- bilitava que alunos ali estudassem em regime da antiga colônia da Armação da Piedade, 30 anos, nasceu a 26 de dezembro de 1819 em
cípio de Águas Mornas. O crescimento da cesso da Colônia do Saí, estavam as dificul- de internato. A comunidade adquiriu uma totalizando 38 pessoas de nacionalidade Hasselfelde no então Ducado de Brunswique.
dades em relação à ocupação e deslocamento área medindo em torno de 6 hectares de alemã e belga (Cabral, 1987, p. 237). Tendo Veio ao Brasil pela primeira vez em março de
na região de mata Atlântica em que foi criada terra, onde os alunos se ocupavam em um enfrentado algumas dificuldades, logo no 1846 enviado pela “Sociedade de Proteção aos
a colônia, a inexperiência agrícola de seus turno do dia, em atividades agrícolas, visando ano seguinte, algumas famílias deslocaram- Emigrantes Alemães” logo após doutorar-se
colonos e a falta de amparo do poder público. suprir o necessário para subsistência da -se para outras localidades e assim a Colônia na Universidade de Erlangen.
escola. Foi uma escola genuinamente comu- Leopoldina se extinguiu.
Colônia de Ilhota nitária, mantida pela comunidade, com A sua missão era analisar a situação em
apoio da Missão de Basiléia (Basel Missions- Lei de Terras e a expansão que viviam os colonos alemães no Brasil.
A Colônia de “ilhota”, também denomi- geselschaft). Destacou-se pelo elevado nível da colonização Inicialmente foi ao Rio Grande do Sul e
nada como “Colônia Belga”, foi fundada nas de educação, o que motivou inclusive uma posteriormente passou por Santa Catarina.
margens do rio Itajaí-Açu no ano de 1844, visita do Presidente da Província Adolpho de O grande fluxo imigratório para a província Depois foi ao Rio de Janeiro onde ficou até
com a chegada de colonos belgas. O empre- Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda de Santa Catarina ocorre a partir dos anos 1847 quando retornou a Santa Catarina e
endimento foi uma iniciativa de Charles Van em 18 de outubro de 1866. Esse elevado 1850, após a publicação da Lei de Terras4. ao Rio Grande do Sul para visitar as colô-
Lede e contou com o apoio do governo da nível possibilitou que jovens oriundos dessa
Bélgica, através da Societé Belge-Brasilienne escola pudessem ingressar em cursos supe-
de Colonisation. Contudo, muitos foram os riores, o que não era comum. 4
“Lei nº 6.012, de 18/09/1850, conhecida como Lei 5
A decisão de estipular este momento como data
conflitos que tiveram lugar na trajetória de Terras. Ela procurou caracterizar o que são terras oficial de fundação de Blumenau ocorreu apenas em
desta colônia, especialmente a partir de Colônia Piedade devolutas e visava ser um instrumento jurídico para 1900. A distribuição dos lotes coloniais individuais
1875 com o falecimento de Charles Van Lede. discriminar as terras públicas das privadas, além deu-se apenas a 28 de agosto de 1852, data em que,
O fato é que seus herdeiros reclamaram a A Colônia Piedade foi criada no litoral, no de impedir o acesso à terra devoluta, a não ser via inicialmente, comemorava-se a fundação oficial da
posse das terras. O Cônsul da Bélgica em local de uma antiga armação estabelecida compra” (Motta, 2010, p.279). Colônia Blumenau.

108 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 109
mento de Itajaí e tornou-se o município de da colônia em novembro de 1877, quando a 1848 na França, o casal procurou exilar-se
São Luiz Gonzaga, sendo que em 1890 seu área começou a receber imigrantes italianos na Inglaterra e para manter o padrão de vida
nome modificado para Brusque. e austríacos, que ocupam os lotes as margens observaram a possibilidade de negociar as
dos rios Luís Alves e Braço do Norte, já os terras dotais. (Ficker, 1965, p. 35)
Vale do Rio do Testo – Pomerode alemães foram distribuídos às margens do
ribeirão Máximo. Posteriormente, colonos Em Hamburgo, o Senador Christiano Mathias
Esta colônia originou-se a partir de nacionais complementam a ocupação da Schroeder, proprietário de uma frota de
Blumenau, localizando-se no vale do rio do colônia e fixando-se às margens dos ribei- embarcações com vastas relações com o
Testo, quando a partir de 1861 formou-se rões Serafim e Braço Seco (Piazza, 1994, Brasil, tornou-se interessado em fundar um
a povoação de Badenfurt com imigrantes p. 199). A colônia foi extinta pelo Aviso empreendimento agrícola colonial nestas
da região de Baden, sul da Alemanha. Neste Ministerial de 9 de abril de 1880, como terras catarinenses. As negociações come-
mesmo ano imigrantes vindos do norte da decorrência de uma solicitação do governo çaram em 1848, tendo como representante
Alemanha estabeleceram-se às margens do da província frente as repetidas revoltas do Príncipe o Sr. Léonce Aubé. A partir
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI
rio do Testo acima. Em 1863 o engenheiro desencadeadas pelos colonos. A colônia disso, foi fundada pelo Senador Schroeder
agrimensor August Wunderwald explorou apresentava lento desenvolvimento, tendo a “Sociedade Colonizadora de Hamburgo de
o rio do Testo e afluentes e demarcou novos sido seus interesses dirigidos por Brusque e 1849”. O contrato entre as duas partes para
lotes para imigrantes que iriam se estabe- mais tarde por Blumenau. concessão de oito léguas quadradas (uma
lecer nos anos seguintes (Pomerode, 1988, p. légua = 6 km; aproximadamente 28.800
18). O processo de ocupação ocorreu marge- Colonização do Norte hectares) destas terras, foi assinado no dia 5
® Arquivo José Ferreira da Silva.

ando o rio e ao mesmo tempo expandiu- de Santa Catarina de maio de 1849. (Ficker, 1965, p. 44)
-se pelo interior até ocupar os últimos lotes
disponíveis nas localidades de Pomerode Ao lado de outras regiões catarinenses, o O registro de “Colônia Dona Francisca” como
Fundos, Wunderwald, Testo Rega e Testo norte de Santa Catarina sofreu grandes trans- nome oficial ocorreu em outubro de 1852,
Alto. Os últimos imigrantes, também pome- formações a partir da segunda metade do consagrando a homenagem à Princesa
ranos, chegam em 1880 mas, no transcorrer século XIX. A fundação de um grande empre- Francisca Carolina (Ficker, 1965, p. 65). A
Fotografia 1 – Blumenau (sem data). dos dezenove anos de ocupação deste vale, endimento colonial no atual município de chegada dos primeiros imigrantes ocorreu
Colonização europeia

Colonização europeia
ingressaram na região famílias de outros Joinville associada a expansão do processo em 9 de março de 1851 (data de fundação
nias alemãs e concluir sua missão. Em 1848 As dificuldades enfrentadas nos anos inicias da região do Norte da Itália. Através do fluxo estados alemães, como da Prússia, Schleswig- de colonização da direção noroeste propor- da colônia), desembarcaram do navio Colón
Hermann Blumenau visitou a região do Vale colônia levaram Hermann Blumenau a seguir imigratório italiano, foram fundados os -Holstein e Westfália (Deeke, 1995, p. 38). cionam o estabelecimento de colônias que 118 suíços. No dia seguinte desembarcaram
núcleos coloniais de Rio dos Cedros (1875), mais tarde dariam origem a municípios como mais 61 noruegueses. Entre estes primeiros
do Itajaí onde encontrou alguns poucos para o Rio de Janeiro para conseguir emprés-
Colônia Príncipe Dom Pedro São Bento do Sul e Rio Negrinho. colonos a maior parte era composta por
colonos alemães que haviam abandonado a timos junto ao governo imperial durante os Rodeio (1875) Ascurra (1876) e Aquidabã,
Colônia São Pedro de Alcântara. anos 1850. Com a permanência das dificul- atual Apiúna (1876). lavradores, o que evidenciava o caráter rural
dades, depois de longas negociações, em 13 Estabelecida em janeiro de 1866, a colônia loca- Colônia Dona Francisca destes primeiros núcleos. Desde o surgi-
de janeiro de 1860 a colônia Blumenau deixou Colônia Brusque lizava-se na confluência do ribeirão das Águas mento do empreendimento colonial Dona
Hermann Blumenau associou-se a Fernando
de ser particular para tornar-se Imperial em Claras com o rio Itajaí-Mirim, em território Dona Francisca foi fundada em 9 de março Francisca, já estava definido que a sede da
Hackradt para compra de uma área na
troca do acerto das dívidas adquiridas. Em 1860, por iniciativa do governo imperial, equivalente aos atuais municípios de Botu- de 1851 através da “Sociedade Colonizadora colônia chamar-se-ia Joinville, em home-
margem direita do Itajaí-Açu com o apoio
foi fundada nas margens do rio Itajaí-Mirim verá, Nova Trento e parte de Brusque, próxima de Hamburgo de 1849”, em terras ao norte nagem ao Príncipe francês. Sendo assim,
do Presidente da Província Ferreira de
uma nova colônia que recebeu, inicialmente, da sede da Colônia Itajaí. A colônia teve como da Província de Santa Catarina. As razões nas terras da colônia, funda-se o município
Brito. Com isso, Dr. Blumenau parte para a De 1860 a 1880, período em que a Colônia
o nome oficial de “Colônia Itajaí”, por estar elementos colonizadores, em sua maioria, para escolha deste local misturam-se com de Joinville no dia 3 de março de 1877.
Alemanha com o intuito de reunir interes- Blumenau esteve sob propriedade do
localizada nas terras deste município. Entre- irlandeses e norte-americanos havendo a história das famílias reais luso-brasileiras
sados em emigrar para a futura colônia no Império, muita coisa mudou. Com o capital também alguns franceses e alemães. Contudo, e francesas. François Ferdinand Philippe
tanto, posteriormente, passou a ser chamada Colônia São Bento
sul do Brasil. Em função das dificuldades do governo foram feitos alguns investi- sua existência foi efêmera, em 1868 mostrava de Orleans, o Príncipe de Joinville, filho de
de Colônia Brusque, em homenagem ao
enfrentadas para implantação da colônia, mentos necessários para o crescimento da dificuldades de alavancar a produção agrícola Louis Phillipe, rei da França entre 1830 e
Presidente da Província de Santa Catarina, A colônia São Bento foi uma extensão da
Fernando Hackradt decidiu desligar-se da colônia. Um reflexo disso, foi o alto cres- e sua comercialização. No ano seguinte, em 1848, e da Princesa Marie Amélie Bourbon,
Francisco de Araújo Brusque. Nos primeiros Colônia Dona Francisca e do empreendi-
sociedade e recebeu a devolução de seu cimento populacional, visto que em 1862 1869, com o agravamento da situação a colônia casou-se com Francisca Carolina, filha de
tempos, o processo de colonização ocorreu mento de ligação do litoral com o planalto
capital e mais uma indenização. (Piazza e a população já era de 2.068 pessoas e em foi anexada à Colônia Brusque. Neste mesmo Dom Pedro I. (Ficker, 1965, p.15)
através da chegada de imigrantes alemães. com a abertura da “Estrada da Serra”, que
Hubner, 2003) 1868 a Colônia Blumenau contava com ano chegam à colônia imigrantes poloneses,
A expansão desta ação colonizadora acabou posteriormente ficou conhecida como
5.985 habitantes (Piazza, 1994, p. 128). que se estabeleceram em lotes abandonados
incorporando ao seu controle a colônia O tratado de casamento foi celebrado em 22 Estrada Dona Francisca. Em 1872, fixaram-
A região da bacia do Itajaí possui um relevo vizinha de Príncipe Dom Pedro, mais próxima por irlandeses. (Santos, 1979, p. 7) de abril de 1843 e como parte do dote de -se algumas famílias na localidade chamada
bastante acidentado. A colônia Blumenau foi A partir da década de 1870 a Colônia ao rio Tijucas. O desenvolvimento agrícola e, casamento o nobre francês recebeu terras na São Miguel, cerca de 60 km de Joinville.
instalada numa área bastante montanhosa. Blumenau passou a receber também posteriormente industrial, contribuíram para Colônia de Luís Alves Província de Santa Catarina. Depois do casa- Contudo, de acordo com Cabral (1987), a
Dois grandes rios formam o Itajaí-Açu, o rio imigrantes de língua italiana, em sua mudança do patamar de Brusque. Em 1881, mento celebrado no palacete de São Cristóvão impropriedade das terras resultou no deslo-
Itajaí do Oeste que desce da Serra Geral e o maioria da região de Trento, então perten- por decreto do governo provincial, foi criada Em dezembro de 1876 tem início a demar- no Rio de Janeiro, os dois saíram do Brasil camento dos colonos para terras junto ao
Itajaí do Sul (Silva, 1972, p. 8-9). cente ao Império Austro-Húngaro e atual uma colônia resultante de um desmembra- cação dos primeiros lotes e o povoamento para nunca mais voltar. Com a Revolução de rio São Bento, afluente da margem esquerda

110 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 111
do rio Negro. No ano de 1873, iniciam-se Papanduva alemães que desde 1849 trabalhavam nas a margem esquerda do rio Capivari dando alguns militares, acostumados às práticas
as derrubadas e o preparo das terras para fazendas de café do Rio de Janeiro, conhe- origem a São Martinho, sendo considerada do exército, se recusavam a trabalhar na
a instalação do novo núcleo (Cabral, 1987, Em meados do século XVIII, circulavam cidos como Kaffeepflücker (colhedores de a data de 1865 como a mais provável da lavoura (Santa Catarina, ago. 2018).
p. 231). Assim, os colonos ali fixados alter- pela região através da “Estrada da Mata” ou café). Eram cerca de quarenta famílias origi- chegada dos primeiros imigrantes. Desde o
navam o trabalho na terra e o cultivo com “Estrada das Tropas”, hoje BR 116, tropeiros nárias do norte da Alemanha. As atividades início da colonização a principal atividade Colônia Nacional de Angelina
as tarefas de construção da estrada, sendo vindos do Rio Grande do Sul trazendo econômicas praticadas em toda a extensão da econômica foi a agricultura e a pecuária, sendo
este o trabalho que garantia sustento dos muares com destino a São Paulo com vistas colônia eram as mais diversas, contando com até 1910 a produção de derivados de leite e A Colônia Nacional de Angelina foi fundada
primeiros momentos da colônia. A compo- a abastecer o mercado de charques, couro e engenhos, olarias, moinhos, pequenas fábricas porco a principal fonte de renda dos colonos em 1860, às margens do rio Mundéus.
sição da primeira leva de colonos foi de 10 sal. A localidade no trecho entre Lages e Rio de charuto, cerveja, louça, o cultivo de cereais, (Dirksen, 1995, p. 104). A comercialização Idealizada como uma colônia nacional
famílias de alemães, seguidas de outras Negro era local de parada devido a qualidade a criação de animais para carga e abate, além dos produtos era realizada em Laguna, em com vistas a assentar famí-
40 famílias oriundas da Áustria, de locali- das pastagens, fartura do pinhão e fontes de da presença de vários artesãos que produziam estrada aberta pelos próprios moradores da lias luso-brasileiras que,
dades da hoje Alemanha (Bavária, Prússia, água para as tropas. Até 1820, o trânsito utensílios e ferramentas domésticas e para o região. Após alguns anos passou-se a cultivar segundo jornais da época,
Saxônia), Polônia e Tchecoslováquia. No que de tropeiros era constante, o que levou ao trabalho (Jochen, 2002, p. 42). Em dezembro cana-de-açúcar, o que fomentou a construção estavam mais aptas ao
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI
diz respeito a economia, São Bento teve na povoamento do lugar, após, começaram a de 1865 o Governo Imperial determinou a de engenhos com vistas a produção de açúcar trabalho nas lavouras.
exploração madeireira uma das suas ativi- surgir os primeiros moradores paulistas e unificação administrativa da colônia Teresó- mascavo, melado e cachaça. Mas, a partir do final dos
dades mais rentáveis. Assim como ocorrera paranaenses, com o objetivo de colher erva- polis com a de Santa Isabel. anos de 1860 a proximidade
em outros núcleos coloniais, a madeira da -mate, cuidar da estalagem dos tropeiros Colônia Militar Santa Tereza com as colônias de Santa Isabel
floresta fora amplamente utilizada na cons- e desenvolver a lavoura de subsistência e Vila de São Bonifácio e São Pedro de Alcântara acabou atraindo
trução dos primeiros ranchos, moradias a pecuária. Por volta de 1880 se estabele- Criada com o objetivo de demarcação de colonos alemães que estavam descontentes
e cercas. Posteriormente, madeiras como ceram neste local imigrantes alemães. Em A partir de 1863, colonos descontentes com território e proteção das tropas que tran- com as condições e a relativa precariedade
imbuía, pinheiro e canela eram utilizados 1890 chegam os imigrantes poloneses e em a situação na Colônia Teresópolis, iniciaram sitavam pela estrada de Lages, a partir do das instalações, tornando a então colônia
para produzir móveis, cabos de ferramentas, 1914 e 1917 instalam-se em Papanduva os novas linhas de colonização, começando regulamento para a criação de Colônias nacional em uma colônia mista. Além dos
equipamentos para agricultura e carroças imigrantes ucranianos, adquirindo lotes pelo desbravamento das margens dos Militares no Império Brasileiro, através da alemães, a vila recebeu ainda imigrantes
e posteriormente tornou São Bento do Sul para a agricultura. De acordo com Ribas, rios Cubatão e Cedro em direção às suas Lei n. 729 de 9 de novembro de 1850, sendo oriundos de Luxemburgo, França, Bélgica,
uma referência na indústria de móveis. a imigração promoveu a agricultura e o nascentes. Formaram ainda as linhas colo- que, em Santa Catarina, através do Decreto Holanda, Itália e Polônia, que ali chegaram
comércio da região. Mais tarde, na década niais do rio São Miguel, rio Novo, rio Salto n. 1.266 de 8 de novembro de 1853 e insta- a partir de 1862. De acordo com Cabral
Rio Negrinho de 1940, colonos descendentes de italianos
Colonização europeia

Colonização europeia
e rio Capivari (FATMA, 1976). Desta forma, lada no início de 1854. A Colônia Militar (1987, p. 237), em 1866 a colônia contava
se estabeleceram ao sul do então Distrito de e a partir de 1864, começou a ser colo- Santa Tereza localizava-se entre a região com 784 habitantes, que se dedicavam a
Papanduva. (Ribas, 2004) nizado o vale do rio Capivari, que daria de Tijucas e o Itajaí-Mirim. Esperava-se que produção agrícola, com destaque especial
Fundada por conta da necessidade em se origem a Vila de São Bonifácio. Os primeiros este tipo de colônia servisse ainda como aos engenhos de farinha de mandioca, e
estabelecer vias de ligação da colônia Dona Colonização nas regiões colonos que se instalaram nas margens do posto militar. Inicialmente, foram introdu- de açúcar, e também 3 alambiques e um
Francisca com outras localidades. No ano próximas a Desterro rio Capivari eram camponeses que traba- zidas 112 pessoas, principalmente casais moinho; havia igualmente uma crescente neceram e outros deslocaram-se para outros
de 1858 inicia-se a construção da Estrada lhavam em regime familiar. Inicialmente brasileiros. (Santa Catarina, jun. 2018) atividade pecuária. Na análise realizada núcleos do estado. Entre os anos de 1888
da Serra (Estrada Dona Francisca) e com O processo de ocupação das áreas próximas a toda a produção era voltada à subsistência por Piazza (1994, p. 76), merece destaque e os primeiros meses de 1889, chegam os
ela, as primeiras iniciativas de ocupação do capital do estado, após a inserção de colonos da família, somente o excedente era trocado a erva-mate, batatas e feijão, além de deri- russos, também poloneses e algumas famí-
Planalto Norte catarinense por parte dos As atividades militares eram mantidas por
açorianos no litoral, tem uma nova fase a por outros produtos. Além da agricultura de meio do cultivo de gêneros alimentícios, vados de suínos e laticínios, carne seca, lias alemãs.
imigrantes europeus. Em 1875 estabelecem- partir de 1829 com a fundação dos primeiros subsistência, os colonos também se dedi- toucinho, manteiga e ovos.
-se as primeiras famílias vindas do Paraná. De além da produção de farinha e melado.
núcleos coloniais com imigrantes de outras cavam à atividade leiteira (Schaden, 2007), Havia também gados vacum, cavalar e A última leva de imigrantes chega a loca-
acordo com Cabral (1987), com a conclusão etnias. De igual modo, durante a segunda que perdura até os dias de hoje. Em meados muar. O comércio era estabelecido, princi- Distrito Colonial de Nova Trento lidade em 1902, sendo em sua quase tota-
das obras da estrada em 1880, a região metade do século XIX houve incremento no do século XX a produção de banha de porco
recebe um grande número de famílias, quase palmente, com os tropeiros, que passavam lidade lavradores oriundos da Polônia.
processo imigratório com a ocupação de ganha destaque, até o final da década pela estrada, e com as colônias próximas. Em 1875 foi criado o distrito colonial de Nova Percebe-se, portanto, que embora a loca-
todas de ascendência teuta. Nesse contexto novas frentes de colonização no vale do rio de 1960 esta atividade esteve em franca
é que surgem as principais casas comerciais O posto para cobrar os impostos sobre Trento, sendo em julho deste mesmo ano, lidade possua atualmente uma forte iden-
Tijucas e nas localidades próximas a estrada expansão e formando a base da economia os animais, que desciam para o litoral, foi alocadas as primeiras 20 famílias originárias tidade com aspectos da cultura italiana, a
no povoamento que se formava. Além dos que ligava o litoral ao planalto. local. Na década de 1950 foi instalado um
alemães, estabeleceram-se ainda em Rio instalado nessa colônia. Os recursos arreca- de Trentino e de Monza, na Itália. A região sua formação inicial contou com diferentes
abatedouro no município, o que possibi- dados deveriam ser aplicados na melhoria de Trentino na época pertencia à Áustria, etnias que contribuíram com o povoamento
Negrinho, embora em menor número, portu- litou a exportação do produto para outros
Colônia Teresópolis da estrada (Boiteux, 1912). A colônia contou por isso ficava difícil classificar em números da região. Além destas etnias oriundas da
gueses, poloneses e italianos. A conclusão da estados do Brasil (Caporal, 2007).
Estrada Dona Francisca impulsionou a ativi- com diversa população, por conta do recru- italianos e austríacos (Marques, 2001, p. Europa, a formação na colônia também
dade de extração e comercialização de erva- A Colônia Teresópolis, localizada às margens tamento de pessoas de diferentes regiões do 117). No ano seguinte, 416 imigrantes tiro- contou com a presença de famílias nacio-
São Martinho do Capivary Brasil. Nesse modelo de colonização o cres- leses dirigem-se ao novo núcleo, seguidos de nais. De acordo com Piazza, por conta da
-mate, que foi durante muito tempo, ao lado do rio Cubatão, próximo a Florianópolis, foi
da extração de madeira (estimulada pela criada em 1859 e começou a ser ocupada em cimento populacional normalmente é baixo mais 700 italianos de diversas procedências chamada grande seca que assolou o nordeste
grande presença de araucárias), a principal 1860, com 91 imigrantes alemães oriundos Assim como ocorreu com o núcleo de São e no lugar de estrangeiros têm-se soldados que ali se estabelecem no mês de setembro. brasileiro entre 1877 e 1878, foram encami-
atividade econômica da região do planalto, em sua maioria da região do atual estado Bonifácio, alguns colonos alemães que oriundos de conflitos encerrados. Em 1862 De acordo com Walter Piazza (1994), até nhados pelo governo imperial para o Sul do
sendo inclusive denominada de “ouro verde”. alemão da Renânia do Norte Vestfália. Neste inicialmente assentaram-se em Teresópolis, contava com apenas 182 indivíduos. Relatos o ano de 1880, cerca de 11 mil pessoas país algumas famílias que se estabeleceram
(Cabral, 1987, p. 232) mesmo ano, vieram famílias de colonos se deslocaram de colônias próximas para do presidente da província apontam que chegaram a Nova Trento, onde alguns perma- ali (Piazza, 1994, p. 78).

112 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 113
A inserção de italianos em Santa Catarina já A partir de 1889, imigrantes poloneses e cial entre os campos de Lages e Tubarão. Em Vila de São José de Cresciúma matrimonial da Princesa Dona Isabel. Por
Colonização da Região Sul
ocorria em 1875, sendo estes encaminhados russos chegavam ao Sul de Santa Catarina, abril de 1877 desembarcam em Laguna os meio de contrato assinado com Joaquim
A colonização do Sul do Estado foi efeti- às colônias do Norte. Contudo, devido ao nos vales dos rios Urussanga, Tubarão, Mãe primeiros imigrantes italianos oriundos da Fundada em janeiro de 1880, a colonização Caetano Pinto Júnior, em 1881 iniciaram-se
vada em grande parte por imigrantes fato das colônias Blumenau e Brusque já Luzia e Araranguá, tendo ainda outras levas região do Vêneto que, na confluência do rio na inicialmente batizada como Vila de Cres- os trâmites para a efetivação da colônia, que
oriundos da Itália, que passava pelo movi- estarem bastante ocupadas, o Governo se fixado nos vales dos rios Itajaí e Itapocu Pedras Grandes com o Tubarão, fundaram ciúma tem início com 22 famílias italianas em 1883 recebeu os primeiros imigrantes
mento de unificação de províncias e de Imperial resolveu abrir novas frentes de e em São Bento do Sul e adjacências. Como a Colônia Azambuja, considerada como oriundas das regiões de Veneza, Beluno italianos provenientes de Gênova, um grupo
industrialização. Segundo Baldin (1999, p. expansão em terras até então inexploradas, ocorrido em outras regiões de Santa Catarina, ponto de partida da colonização italiana do e Treviso, que se fixaram nos terrenos já de 22 famílias, perfazendo o total de 132
16) “o processo de industrialização acabou às margens do rio Tubarão, no Sul de Santa logo que receberam seus lotes, os imigrantes sul de Santa Catarina (Baldin,1999). Após a previamente divididos. Na década seguinte, pessoas. Anteriormente a implantação da
por gerar desequilíbrios econômicos Catarina. No ano de 1876 o então Presidente tiveram que enfrentar os problemas comuns fundação de Azambuja, seguiram-se novas 1891, chegam as primeiras famílias de colônia, já havia conhecimento por parte
que possibilitaram a integração de uma da Província de Santa Catarina, Alfredo ao novo espaço: moradia precária, trabalho levas de colonos italianos que foram esten- poloneses, além destas etnias, também se das empresas de colonização sobre a exis-
minoria detentora de capital e deixaram d’Escragnole Taunay, visita a região do vale dendo-se pelo vale do rio Urussanga. Com fixaram na região alemães provenientes do tência de carvão mineral na região. Contudo
árduo na lavoura, derrubada da mata, espera
uma grande maioria desprovida de bens, do rio Tubarão dando início ao movimento a ajuda de luso-brasileiros, os italianos vale do Braço do Norte e Vargem Grande, a exploração carbonífera passa a ser colo-
pela primeira colheita e conflitos com indí-
à margem do processo”. A análise histórica de colonização do Sul com a formação dos aprenderam a lidar com a mata e a cultivar o e em menor número vieram portugueses, cada em acordos e contratos com empresas
genas que viviam nos territórios colonizados.
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI
deste processo pode ser realizada consi- primeiros núcleos coloniais. solo com técnicas e ferramentas auctótones africanos e árabes. (Balthazar, 2001, p. 24) estrangeiras a partir de 1861, ainda assim
derando muitos elementos, quais sejam: (Piazza, 1994, p. 202). A Colônia ramificou- levou-se alguns anos até a sua implemen-
Colônia de Azambuja
a situação socioeconômica e política das Em princípios de 1877 chegaram em Desterro -se em cinco núcleos: Urussanga em 1878, A colônia experimentou um certo crescimento tação. (Dall’Alba, 1986, p. 395)
regiões de origem, a estrutura adotada os primeiros vapores trazendo colonos Criciúma em 1880, Cocal em 1885 e Nova e, já em 1892, era elevada à categoria de distrito
para colonização do Brasil, os contratos italianos e, no mesmo ano implantou-se, no A fundação da Colônia Azambuja é o marco Veneza em 1891. Em termos econômicos, de paz como sexto distrito de Araranguá. De Após a colonização, iniciada com italianos,
que promoveram o movimento migratório vale do rio Tubarão, os núcleos de Azambuja, inicial da colonização italiana no sul de a localidade vivenciou expressivo desen- acordo com Balthazar o novo distrito, ainda também afluíram para a colônia alemães,
em maior escala, a fixação nas diversas Pedras Grandes e Treze de Maio; no vale do Santa Catarina, cuja localização no vale volvimento após a descoberta de minas de pertencendo ao município de Araranguá, letos e poloneses. Na década de 1890, os
áreas de Santa Catarina e os efeitos da Urussanga, os núcleos de Urussanga, Acioli de do rio Tubarão já foi ponto de parada de carvão e da construção da Estrada de Ferro tinha na agricultura sua principal atividade alemães estabeleceram-se, inicialmente, no
colonização. Vasconcelos (atual Cocal do Sul) e Criciúma. tropeiros que realizavam a ligação comer- Thereza Cristina, que proporcionou o esco- econômica e, por vários anos, a agricultura e atual município de Braço de Norte (antes
amento do carvão, sendo também o meio a pecuária de subsistência foram suas princi- pertencente à Colônia Grão-Pará) deslocando-
de transporte pelo qual passaram a chegar pais produções, geralmente comercializadas -se para Orleans, fixaram-se na comunidade
os imigrantes. Com os imigrantes italianos na região. Posteriormente, por volta de 1913, de Taipa. Os letos vieram entre os anos de
também vieram as primeiras mudas de o carvão é descoberto na região e passa a ser 1890 e 1891, colonizando a comunidade de
Colonização europeia

Colonização europeia
vinhas, que atualmente imprimem grande explorado comercialmente a partir de 1916. Rio Novo. Os poloneses colonizaram a comu-
destaque produtivo a localidade. Em 1919 é inaugurado o transporte ferrovi- nidade de Chapadão por volta de 1892.
ário com o trecho Criciúma-Tubarão e a ativi-
Núcleo Colonial de Urussanga dade carbonífera adquire grande destaque na
PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
economia regional. (Balthazar, 2001, p. 26)
Após a criação da Colônia Azambuja, o
Núcleo Colonial Accioly de Vasconcelos As mudanças no cenário brasileiro desenca-
engenheiro responsável, senhor Vieira
deadas pela abolição da escravatura, asso-
Ferreira, passa a organizar demarcações
ciada a queda da monarquia e a implantação
em Urussanga, delimitando os lotes em Em 1885 formou-se a Vila Cocal, pertencente
da república brasileira reconfiguraram as
forma triangular, na confluência dos Rios ao Núcleo Accioly de Vasconcelos. Antes de
políticas de colonização no país. Ao longo do
América e Urussanga, aproveitando a formado o núcleo, os primeiros habitantes
período conhecido como Primeira República,
configuração natural do terreno. Em maio vinham e instalavam-se a beira do rio mais
o governo procurou estimular a expansão
de 1878, chegam ao núcleo colonial os tarde batizado de rio Cocal. A Vila Cocal foi
de novas frentes de colonização. Em Santa
primeiros imigrantes italianos, vindos da fundada em 1885, iniciando com imigrantes
Catarina, a colonização foi direcionada tanto
região de Veneza, sendo este, portanto, italianos e poloneses que compunham 150
para as proximidades das primeiras áreas
considerado o ano de fundação da cidade famílias e, mais tarde, chegam alemães e
coloniais quanto para um novo processo de
(Baldessar, 1991). Em 1886, o Núcleo Colo- russos (De Faveri e Souza, 2006). A colônia
ocupação na região oeste do estado. Durante
nial de Urussanga ainda é uma extensão da prosperou centrada na agricultura de subsis-
os primeiros anos da república foram
Colônia Azambuja, assim como as demais tência, plantando e trocando o excedente de
fundadas no norte de Santa Catarina e Alto
colônias da redondeza. Os imigrantes mandioca, trigo, cana-de-açúcar, milho, arroz,
Vale do Itajaí as colônias Lucena (Itaiópolis),
® Arquivo Histórico de Urussanga.

italianos, além de colonizarem a área e feijão, fumo, uva, cevada, café e verduras.
Jaraguá, Hansa Humbolt (Corupá), Hansa
cultivarem as suas terras, passam também
Hammonia (Ibirama) e Rio do Sul.
a trabalhar na construção da Estrada de Colônia Grão-Pará (atuais municípios
Ferro Dona Tereza Cristina e nas minas de Orleans, Grão Pará, São Ludgero e
de carvão. A economia do núcleo colonial Braço do Norte) Colônia Lucena
baseou-se na agropecuária, passando mais
tarde à extração do carvão mineral e à Situadas no vale do rio Tubarão, as terras Fundada em 1891, em área antes perten-
Fotografia 2 – Derrubada inicial da mata e as primeiras casas na Colônia Azambuja (1877).
indústria de vinhos. da Colônia Grão-Pará faziam parte do dote cente ao estado do Paraná, na parte sul

114 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 115
do vale do rio Negro, com inserção de exploração das terras, Jourdan contrata húngaros. Em 1893, as terras passam a juris- yy Itapocu, no então município de Joinville nação Braço do Sul
imigrantes poloneses. Mais tarde, conforme ferreiros, marceneiros, carpinteiros e lavra- dição do Estado de Santa Catarina, momento (área que hoje corresponde, em grande (Südarm) deve-se ao
levantamento populacional efetuado no ano dores para a construção do engenho e a em que Jourdan retorna a região e com o apoio parte, a Jaraguá do Sul), com sede estabelecimento dos
de 1895, encontram-se também fixados plantação da lavoura de cana-de-açúcar. do governo nacional adquire parte das antigas Humboldt (hoje Corupá); primeiros moradores
na colônia alguns colonos ucranianos e Tendo alguns maquinários adquiridos pelo terras, estabelecendo oficialmente a Colônia na confluência dos
alemães vindos de São Bento. A produção da coronel chegado a localidade em 25 de Jaraguá em 1895. yy Sertão de São Bento, entre Joinville e rios. Nas primeiras
colônia baseava-se especialmente em milho, julho de 1876, considera-se esta sua data São Bento do Sul; décadas, Braço do
centeio, feijão, batatas e extração de erva- de fundação. Contudo, alguns anos depois o Colônia Hansa – Sociedade yy Piraí, no ex-patrimônio do Príncipe Sul foi uma continui-
-mate, com relevante exportação. Apesar empreendimento fora abandonado pela falta Colonizadora Hanseática de Schönburg-Walden¬burg, no então dade de Blumenau e
da destacada produção, a colônia enfrentou de estrutura que permitisse o escoamento município de Joinville. nasceu com a tenta-
problemas com pragas e enchentes. No ano da produção. Sendo assim, a essa altura a No ano de 1897 foi organizada em Hamburgo, tiva de integração
de 1916 estabeleceu-se o acordo entre os população contava com algumas famílias Alemanha, a Sociedade Colonizadora Hanse- das povoações do Fotografia 4 – Escola italiana na Colônia Nova Veneza (1914).

estados de Santa Catarina e Paraná para brasileiras, e alguns pretos nortistas, antigos A Colônia Hammonia, atual Ibirama, foi litoral com os núcleos
ática com o intuito de colonizar terras devo- fundada em novembro de 1897 por uma
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI
definir seus limites interestaduais, sendo trabalhadores empregados por Jourdan. lutas nos vales dos rios Hercílio e Itapocu. populacionais da região Serrana. Em 1912, Colônia Nova Veneza
assim, o agora município de Itaiópolis torna- (Schörner, 2006) expedição formada por Albrecht Wilhelm o local passou a chamar-se Bella Alliança.
Estas terras foram concedidas pelo governo Sellin, o engenheiro Emil Odebrecht
-se parte do território catarinense. estadual em 1895 a antiga Sociedade Colo- O nome Rio do Sul veio somente em 1931 Com base na Lei Glicério, em 1890 o empre-
e alguns funcionários. O grupo partiu com a emancipação política.
No início do período republicano as terras nizadora Hamburguesa e posteriormente de Blumenau e subiu o rio Itajaí-Açu sário Angelo Fiorita obtém uma concessão
Colônia Jaraguá dotais voltam a pertencer a União, sendo concedidas em contrato a Sociedade Coloni- de 30 mil hectares de terras a sudoeste
seguindo até a barra do ribeirão Taquaras
que parte delas passa a ser colonizada a zadora Hanseática. na posição onde conflui com o rio Itajaí A formação do núcleo que, durante muito de Urussanga, com o intuito de para ali
Em terras originárias do dote matrimo- partir de 1890 pela Agência de Colonização do Norte. Ficou decidido que o local era tempo, permaneceu com características encaminhar uma corrente imigratória
nial da Princesa Isabel, nas margens do rio sediada em Blumenau. Assim, estabelecem- Para atender ao novo fluxo de imigrantes adequado para fundar a sede da Colônia, rurais, desenvolveu uma agricultura de de italianos. Esta lei fazia parte de uma
Itapocu foram empreendidas medições em -se na região imigrantes húngaros, alemães, esperado pelo convenio estabelecido com o cuja denominação inicial foi Hammonia subsistência nos lotes dos colonos de estratégia da República visando garantir
1872 para exploração da região. Tendo italianos e posteriormente poloneses. No governo, foram criados quatro novos distritos (Wiese, 2007). Em 1898 chegam os origem alemã e italiana nas várzeas do a ocupação do Sul do país, concedendo a
sido as medições realmente efetivadas em início do ano de 1891, nos arredores de coloniais que, juntos, formavam a Colônia primeiros colonos, iniciando a ocupação Itajaí-Açu e seus afluentes. Considera-se o empresas privadas o direito de introdu-
1876 pelo coronel belga Emílio Jourdan, o Jaraguá do Sul, nas localidades de São Pedro Hansa (Die Kolonie “Hansa”, 1911, p. 3-4): que logo acolheu outras levas. ano de 1892 como início da colonização, zirem imigrantes estrangeiros. Em junho de
mesmo negociou diretamente com os prín- do Garibaldi, Alto Jaraguá, Jaraguazinho e quando se fixaram as primeiras famílias. 1891, agora sob o comando da Companhia
Colonização europeia

Colonização europeia
cipes as atividades a serem empreendidas Jaraguá, no atual município de Jaraguá do Sul, yy Itajaí-Hercílio: o maior e mais impor- A expectativa da sociedade era de intro- A chegada de vários colonos alemães e Metropolitana, sediada no Rio de Janeiro,
nas terras (povoamento, extração de erva- se instalaram aproximadamente 230 famílias tante, localizado no então município duzir um número estimado de mil colonos italianos, oriundos do Médio Vale, começou chegam os primeiros imigrantes italianos,
-mate, madeiras e minérios). Para o esta- de húngaros. A área de Alto Jaraguá e Garibaldi, de Blumenau, com sua sede Hammonia e que, passados cinco anos, fosse possível a formar pequenas áreas de colonização cerca de 400 famílias oriundas de Veneza.
belecimento de atividades econômicas de por exemplo, foi colonizada inteiramente por (hoje Ibirama); chegar a seis mil imigrantes por ano. Entre- e entre eles se destacavam: Braço do Sul, Em outubro chegam mais imigrantes, cerca
tanto, contrariando suas expectativas e Lontras, Matador e Cobras. de 500 famílias que originaram outros
frustrando os planos iniciais, em dez anos núcleos, sendo a colônia assim dividida:
(de 1897 a 1907) pouco mais de 3.700 Com a propaganda governamental, são Nova Veneza (sede da companhia), Nova
colonos deram entrada nos quatro distritos atraídas novas correntes migratórias, Belluno, Jordão, Nova Treviso, Rio Bonito,
da colônia. Em 25 anos, a Sociedade Coloni- que subiram o Alto Vale do Itajaí, fazendo São Bento e Belvedere. Esta colônia tornou-
zadora Hanseática não logrou sucesso em crescer os núcleos germânicos e italianos. -se peculiar por ter sido fundada após a
sua expectativa de inserir na Colônia Hansa A construção de estradas, contratadas proclamação da República e, de igual modo,
mais que o número de europeus previstos pelo governo, cujo pagamento era reali- por marcar o fim da imigração italiana para
para um ano. Os planos de receber apenas zado pela concessão de terras devolutas Santa Catarina. (Bortolotto, 1992, p. 22)
imigrantes alemães também fo¬ram para serem colonizadas alavancou este
se transformando ao longo do tempo. progresso. Rio do Sul, por sua posição Em 1894 os colonos produziam milho, feijão,
Passaram a ser admitidos colonos de outras geográfica, sobressaiu aos demais núcleos arroz, trigo, fumo, cana de açúcar e criavam
regiões da Europa e também de outros do Alto Vale do Itajaí desde o início. gado, cavalos, cabras e galinhas em um bom
núcleos coloniais, como os excedentes da Estando-se estrategicamente localizada, número. Além disso, a abertura de estradas
Colônia Blumenau, inclusive brasileiros. no ponto de encontro das rodovias, passa foi feita pelos próprios colonos (Bortolotto,
® Arquivo Público Municipal de Ibirama.

a desenvolver um intenso comércio de 1992, p. 51-52). Através da construção


produtos extraídos da área rural, enquanto de estradas foi possível potencializar a
Rio do Sul – Braço do Sul (Südarm) e a indústria nascia aos poucos. exploração do ambiente natural. Registros

® Acervo Nelma Baldin.


Bella Aliança
trazem algumas informações importantes a
Na primeira década do século XX tem lugar No sul de Santa Catarina a expansão da colo- respeito do que foi feito nos primeiros anos
um significativo incremento de assenta- nização italiana na região proporcionou a na colônia, e revela a presença de serraria,
mentos nos vales dos rios Itajaí do Sul e fundação da Colônia Nova Veneza, desmem- olaria, ferraria, atafona e armazém em
Itajaí do Oeste, que foram pouco ocupados brada posteriormente nos atuais municí- Nova Veneza e nas proximidades da colônia
Fotografia 3 – Escola alemã da Colonia Hansa Hammonia (c.1910). até então. Assim, a primitiva denomi- pios de Siderópolis e Nova Veneza. (Metropolitana, 1894).

116 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 117
Colonizadora Sede Área de Atuação de Frei Rogério, numa altitude média de 950 imigração, a JAMIC, sediada em Porto Alegre saki, razão da criação do “Parque Sino da
Colonização do Oeste Catarinense
Brazil Development and Colonization Portland (EUA) Cruzeiro/Joaçaba e Chapecó metros, apropriada, portanto, para este tipo (RS). Através do IRASC e JAMIC, foram Paz” no local e nesse processo, destacou-se
A expansão da colonização no oeste de Santa Empresa Colonizadora Luce, Rosa & Cia. Rio Grande do Sul Cruzeiro/Joaçaba e Concórdia de fruticultura. criados os núcleos coloniais em Curitibanos, o imigrante Kazumi Ogawa, um dos sobrevi-
Itajaí, Caçador e Criciúma, com japoneses ventes da bomba de Hiroshima e que faleceu
Catarina resultou de uma mescla entre as Rio Grande do Sul e
Empresa Colonizadora Ernesto F. Bertaso Chapecó – sede e outras áreas que haviam emigrado do Japão após o recentemente, em 2012.
mesmas estratégias adotadas nas demais Santa Catarina A formação desta colônia, insere-se naquilo
que podemos chamar de uma imigração término da Segunda Guerra Mundial e que
regiões do estado com algumas novidades. O Companhia Territorial Sul Brasil Rio Grande do Sul Chapecó – (Extremo-Oeste)
tutelada, visto que os governos estadual se encontravam em vários estados brasi- Os japoneses eram considerados os mais
descaso com as populações indígenas e cabo- Sociedade Territorial Mosele, Eberle,
Rio Grande do Sul Cruzeiro/Joaçaba
e municipal se envolveram diretamente leiros, especialmente em São Paulo, Paraná aptos para abastecer as cidades com horti-
clos que ocupavam as terras destinadas às novas Ahrons & Cia. (H. Hacker e Cia)
na organização e no aporte de recursos e e Rio Grande do Sul. frutigranjeiros, razão pela qual foram criadas
áreas coloniais seguiu uma cruel tendência Empresa Chapecó – Peperi Ltda. Rio Grande do Sul Chapecó – Mondaí
já adotada desde as iniciativas da primeira subsídios. Era do interesse do governo esta- algumas agrovilas nas proximidades de Itajaí,
Volksverein für die deutschen katholiken
Rio Grande do Sul Chapecó – Colônia Porto Novo/Itapiranga dual e municipal a presença de japoneses A colônia de Frei Rogério foi criada oficial- Caçador e Criciúma. Atribuía-se, também, aos
metade do século XIX. A principal mudança in Rio Grande do Sul
está relacionada a origem dos colonos, em em função do Programa de Fruticultura de mente em 1963, quando o então governador japoneses, uma ascese e amor ao trabalho.
Barth, Beneti & Cia Ltda. (Barth, Annoni
Rio Grande do Sul Chapecó – região São Miguel do Oeste Clima Temperado, o PROFIT. Nesse contexto, Celso Ramos assinou documento oficia- Através da pedagogia do exemplo e com a
grande parte teutos e ítalo-brasileiros originá- e Cia. Ltda.)
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI
rios de colônias do Rio Grande do Sul. Angelo di Carli, Irmão & Cia. Rio Grande do Sul Chapecó e Cruzeiro/Joaçaba
o IRASC – Instituto de Reforma Agrária de lizando a criação da primeira colônia de divulgação de novos processos e inovação
Santa Catarina, órgão estadual extinto em imigrantes japoneses em Santa Catarina, a agrícola, seria possível beneficiar o agricultor
Nardi, Bizzo, Simon & Cia. Rio Grande do Sul Chapecó e Cruzeiro/Joaçaba
1978, foi fundamental na criação deste qual recebeu o nome de Colônia Ramos, em nacional, ao qual se atribuía atraso em função
Do ponto de vista geográfico, a região Irmãos Lunardi Rio Grande do Sul Chapecó núcleo colonial com japoneses. O IRASC foi homenagem ao então governador. Alguns do emprego de métodos arcaicos na agricul-
oeste catarinense está situada no planalto Empresa Povoadora e Pastoril Theodore
São Paulo Cruzeiro/Joaçaba - Concórdia
responsável pelos contratos de imigração imigrantes desse grupo eram sobreviventes tura/fruticultura, bem como falta de amor ao
meridional brasileiro e, no início do século Capelle
e colonização com a empresa japonesa de das bombas atômicas de Hiroshima e Naga- trabalho no campo.
XX, estava amplamente ocupada pela Estado de Santa Catarina Santa Catarina Chapecó – (Itaberaba e Itacorubá)
Floresta Ombrófila Mista, composta prin-
Fonte: Nodari (2009, p. 37).
cipalmente pelo pinheiro araucária (Arau-
caria angustifolia) e pela erva-mate (Ilex austríaca de Treze Tílias se encaixou na polí-
paraguariensis). OUTROS CASOS APÓS ANOS 1930 Detalhe de fotografia de Mapa Colonial do acervo da Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Catarina.
tica migratória vigente naquele momento e
As estratégias políticas adotadas nos cumpriu a função de ocupação no território
O impulso para o processo de colonização governos do presidente Getúlio Vargas conflagrado por problemas agrários.
Colonização europeia

Colonização europeia
no oeste catarinense está diretamente impactaram de forma decisiva no processo
associado ao final da Guerra do Contes- de colonização europeia em Santa Catarina. Após o término da II Guerra Mundial, a
tado (1912-1916). Considerado um grande Apesar disso, poucos anos antes da implan- Comissão de Reparações de Guerra, em
vazio demográfico pelo poder público, tação da ditadura nacionalista varguista 1948 incluiu a colônia de Treze Tílias na
a implantação de colônias na região foi (1937-1945), foi fundado mais um empreen- esfera administrativa do Governo Federal,
sistematizada através da articulação entre dimento colonial no estado. com o nome de Papuan. Em 1957, Papuan
o poder público estadual e companhias (Treze Tílias) saiu da esfera administrativa
colonizadoras originárias do Rio Grande Colônia de Treze Tílias do Governo Federal, passando a ser um
do Sul. Além da comercialização de terras distrito do município de Joaçaba e em 1963
para colonos rio-grandenses, as empresas A Colônia de Treze Tílias foi fundada no ano foi transformado em município.
visavam a comercialização dos recursos de 1933 por imigrantes austríacos da região
naturais locais, com grande destaque para do Tirol, liderados pelo então ministro da Nos anos 1960, o governo catarinense
a indústria madeireira. agricultura da Áustria, Andreas Thaler. retomou iniciativas colonizadoras com a
Após visitar várias regiões na América do criação da primeira colônia de imigrantes
Sul, o ministro optou por Santa Catarina, japoneses em Santa Catarina, localizada no
Os acordos sobre os limites territoriais adquirindo uma área de terras próxima meio-oeste catarinense.
entre Santa Catarina e Paraná, parte dos a Joaçaba e ali fundou a colônia de Drei-
desfechos da Guerra do Contestado, recon- zehnlinden (Treze Tílias em alemão). Em
figuram a região com a criação, em 1917, 1937, Treze Tílias somava em torno de 800 Colônia Frei Rogério
dos municípios de Chapecó, Cruzeiro imigrantes austríacos, contando com agri-
(Joaçaba) e Xanxerê. A combinação de cultores e um grande número de artesãos A imigração japonesa no Estado é relativa-
interesses do poder público e de empresas de elevado conhecimento técnico em várias mente recente e está diretamente relacio-
particulares determinou o processo de áreas. Quando os austríacos lá chegaram, nada ao governo estadual, cujo objetivo era
colonização na região. Em sua obra Etnici- já viviam, na região, alguns imigrantes atrair imigrantes que dominassem o cultivo
dades Renegociadas, Eunice Nodari (2009, alemães e descendentes de italianos. A de frutas de clima temperado, tais como
p. 37) elaborou um quadro com as compa- colônia ganhou destaque com a produção maçã, nectarina e pera. A primeira colônia
nhias colonizadoras e suas respectivas leiteira, que resultou na criação de indústria de japoneses foi estabelecida, então, no
áreas de atuação: de laticínios (Ginter, 2003). A colonização município de Curitibanos, no então distrito

118 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 119
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO VI
Colonização europeia

Colonização europeia
Fotografias de Mapas Coloniais do acervo da Secretaria de Estado do
Planejamento de Santa Catarina.

120 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 121
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122 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 123
 

Fonte: Magalhães (2014, p. 254)


Capítulo VII
Migrações
Internas e
Internacionais
Recentes

Trabalhador haitiano no setor de frutas e verduras de um supermercado em Balneário Camboriú-SC.


53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W

EMIGRANTES CATARINENSES SEGUNDO MESORREGIÃO

25°50'0"S
25°50'0"S

2010 P A R A N Á

Capítulo 7 | Migrações internas e internacionais recentes


ARG ENTINA

D O

E S T A D O
¬
«
12,12%

NORTE
Gláucia de Oliveira Assis1
Francisco Canella2
Maria das Graças Santos Luiz Brightwell3
Luís Felipe Aires Magalhães4
CATARINENSE

26°40'0"S
26°40'0"S

REPÚBLICA

AT L Â N T I C O
¬
« S
anta Catarina construiu ao longo do lhadores especializados para a nascente fluxos de imigrantes rumo ao Brasil. Esses
11,35%
século XX a autoimagem de uma terra indústria nacional, acompanhando um movimentos inserem Santa Catarina nos

26°40'0"S
« de oportunidades para imigrantes. movimento mais amplo, de braços que saem novos fluxos da população brasileira (Assis e

AT L Â N T I C O
OESTE
18,68%
CATARINENSE
Os significativos fluxos de imigrantes que do campo para a cidade trabalhar na cons- Sasaki, 2001; Patarra, 2005; Martine, 2005).
VALE DO chegaram desde o início da colonização, mas trução civil e em outros setores, no processo
ITAJAÍ
sobretudo no século XIX e início do século de intensa migração interna que realiza um Ao mesmo tempo em que algumas regiões do
E S T A D O
D O XX, como portugueses, italianos, alemães, grande movimento de população em todo o estado vivenciam um movimento significativo
poloneses, sírio-libaneses e outros grupos, país (Durham, 1973; Singer, 1995). de saída de catarinenses para o estrangeiro,

27°30'0"S
27°30'0"S

R I

¬
«

CAPÍTULO VII
O contribuíram para a composição da popu- na segunda metade dos anos 2000 se inten-

¬
«
21,64%
2,92% lação, bem como, para a formação urbana, Esta dinâmica passa, desde meados do sificaram os movimentos de imigrantes para
GRANDE
G FLORIANÓPOLIS
a agricultura familiar e a consolidação século XX até esse início de século, por pelo o Brasil. Este movimento já acontecia desde
R SERRANA
A industrial, construindo uma narrativa que menos três movimentos fundamentais, tal a década de 1970, quando há um incremento
N
D valoriza e reconhece seu papel no desenvol- como ocorrido em outras regiões do país. do fluxo de migrantes internacionais, especial-
E vimento do estado. No entanto, a dinâmica Esses movimentos, que abordaremos nesse mente japoneses, latino-americanos, africanos

ANO
migratória catarinense tem sido, na reali- capítulo, são: a chegada em Santa Catarina e, mais recentemente, sobretudo a partir da
dade, muito mais complexa e heterogênea de pessoas de outros estados, a vinda de segunda metade dos anos 2000, com a chegada

28°20'0"S
28°20'0"S

¬
« como buscaremos demonstrar. imigrantes de outros países e a própria ida de haitianos, ganeses, senegaleses e outros

OCE
O 33,29%
de catarinenses para o exterior. grupos de imigrantes que veem em Santa Cata-
S U L
No período compreendido entre a 2ª Guerra rina também uma terra de oportunidades.
SUL
Número de Emigrantes (2010) CATARINENSE Mundial até o início dos anos 1970, os O primeiro movimento diz respeito à inten-
movimentos de imigração internacional sificação das mobilidades intra e inter Esse cenário favorável da economia brasileira
500 - 2300 reduziram drasticamente as entradas de estadual, caracterizadas por intenso êxodo perdurou até 2014, e nesse contexto milhares

Migrações internas e internacionais recentes


2300 - 4300 estrangeiros no país e em Santa Catarina, rural do campo para as cidades, vinda de imigrantes, com destaque para haitianos,

27°30'0"S
fruto de uma política migratória brasileira de imigrantes especialmente dos outros chegaram ao Brasil (Patarra, 2012). Uma

29°10'0"S
29°10'0"S

4300 - 6000

®
mais restritiva à imigração internacional. estados da Região Sul e o consequente das características destes novos fluxos de
Percentual da Mesorregião Tal política já não priorizava mais mão de processo de urbanização que se intensi- imigrantes, é que, excetuando-se os haitianos
48°20'0"W

50°0'0"W
49°10'0"W
obra estrangeira para a lavoura e sim traba- fica nos últimos 30 anos em cidades como e japoneses que como os imigrantes do
50°50'0"W Escala Gráfica
51°40'0"W
Chapecó, Joinville, Florianópolis, Criciúma e passado contaram com políticas migratórias

25°50'0"S
0 12,5 25 50 km
Fonte: Censo Demográfico 2010. 53°20'0"W
52°30'0"W

PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°

PO R MUNICÍPIO P A R A N Á Itajaí. Esse grande movimento de migração específicas, os demais grupos não contaram
INTERNACIONAIS
EMIGRANTES52°30'0"W interna é paralelo a outros dois movimentos com o mesmo apoio governamental.
54°10'0"W 53°20'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W
2010
1
Graduada em Ciências Sociais (1987) pela
25°50'0"S

O Universidade Vale do Rio Doce, Mestra em Antropologia que também passaram a ocorrer no estado
D
Social (1995) pela Universidade Federal de Santa de Santa Catarina: o de ir e vir de brasileiros Assim, pretende-se traçar um panorama
ARG ENTINA

S T A D O
E
Catarina e Doutora em Ciências Sociais (2004) pela rumo ao exterior e a formação de novos das migrações internas e internacionais

26°40'0"S
da segunda metade do século XX e início
AT L Â N T I C O
Universidade Estadual de Campinas. Professora na
Universidade do Estado de Santa Catarina com atuação do século XXI tendo como fonte de dados
o Censo Demográfico, informações admi-
REPÚBLICA
26°40'0"S

na Graduação, nos Programas de Pós-Graduação em 3


Graduada em História (2002) e Mestra em Geografia
História e Planejamento Territorial e Desenvolvimento (2006) pela Universidade Federal de Santa Catarina nistrativas do Ministério do Trabalho e
Socioambiental e coordenadora do Observatório das e Doutora em Geografia Humana (2012) pela Royal Emprego (Cadastro Geral de Empregados
Migrações de Santa Catarina. Holloway University of London. Pesquisadora e e Desempregados – CAGED), dados da
27°30'0"S

E S T A D O D O colaboradora do Observatório das Migrações em Polícia Federal e Registros Municipais e


R I 2
Graduado em História (1987) pela Universidade Santa Catarina. documentos de instituições públicas esta-

ANO
O
27°30'0"S

Federal do Rio Grande do Sul, Mestre em Sociologia duais de Santa Catarina, bem como, um
G
R
A
Política (1992) pela Universidade Federal de Santa 4
Graduado em Ciências Econômicas (2009) amplo levantamento bibliográfico sobre
N
D Catarina e Doutor em Ciências Sociais (2011) pela Universidade Federal de Santa Catarina, a temática buscando abordar aspectos da
NO

28°20'0"S
dinâmica populacional em Santa Catarina.
28°20'0"S

pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre (2013) e Doutor (2017) em Demografia
OCEA

D Professor na Universidade do Estado de Santa pela Universidade Estadual de Campinas. Pós- A contribuição deste texto consiste em
O
Catarina com atuação na Graduação e no Programa reunir tais dados – que até então se encon-
OCE
Doutorando no Observatório das Metrópoles (PUC
28°20'0"S

O
S U L
de Pós-Graduação em Planejamento Territorial e – SP) e pesquisador voluntário no Observatório das travam dispersos – para uma reflexão sobre
an tes (2010)
Número de Emigr Desenvolvimento Socioambiental e pesquisador do Migrações de São Paulo (UNICAMP) e no Observatório distintos processos migratórios atualmente
0 - 50
Observatório das Migrações de Santa Catarina. das Migrações de Santa Catarina (UDESC). em curso em Santa Catarina.
29°10'0"S

51 - 100

S U L 101 - 150
151 - 200
®
127
29°10'0"S

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA


Escala Gráfica
ntes
201 ou mais emigra
50 km
12,5 25
0
- FUSO 22°
PROJE ÇÃO UTM

Sem inform ação 48°20'0"W


49°10'0"W
50°0'0"W
ográfico 2010.
Fonte: Censo Dem 51°40'0"W
50°50'0"W

52°30'0"W
53°20'0"W
54°10'0"W
Chapecó tem exercido um forte papel centra- A porção leste do Estado, composta pelas de trabalho dos imigrantes tem sido absor-
Migrações internas Urbanização e ocupação da faixa litorânea do estado
lizador na região. Seu grau de urbanização é mesorregiões Norte Catarinense, Vale do vida principalmente pelo setor industrial,
de 92% enquanto a média da região é de 57%, Itajaí, Grande Florianópolis e Sul Catari- que ocupa um em cada quatro imigrantes.
A análise das recentes migrações internas no O estado de Santa Catarina, do final do A partir da segunda metade do século XX segundo Mioto, Lins e Mattei (2010). nense, tem se caracterizado por processos de É na mesorregião Vale do Itajaí que essa
Brasil tem revelado o estado de Santa Cata- século XIX ao início do século XX, recebeu desenvolveu-se um forte processo de desru- diversificação produtiva e industrialização participação é mais expressiva. O comércio
rina como destino bastante atrativo para os milhares de imigrantes internacionais ralização/urbanização, marcado por deslo- A cidade absorve uma parte da população que e pela intensa urbanização, tornando-se constitui-se como o segundo setor que mais
migrantes. As taxas de crescimento têm perma- dentro de uma politica imigratória que favo- camentos internos de população do campo não encontra possibilidades de permanência importante espaço receptor de população. absorve a mão de obra dos imigrantes.
necido acima das médias nacional e regional. receu a mão de obra estrangeira branca para para a cidade e também um movimento de na área rural por não conseguir se adaptar Esta região passa a ser local de concentração
Dos estados da Região Sul, Santa Catarina foi o trabalhar na lavoura e na nascente indús- concentração espacial da população em à produção voltada para as agroindústrias econômica e populacional, com importantes As trocas populacionais
único que aumentou sua participação no total tria nacional. Este processo fez parte das determinados centros urbanos (Mattei e que têm prosperado na região (Mioto, Lins impactos sobre o território, meio ambiente
da população brasileira (Tabela 1). políticas de estado para atrair população Lins, 2010). Em 2007, os 10 maiores muni- e Mattei, 2010). A parte da população que e desigualdades regionais no estado. Paraná e o Rio Grande do Sul constituem
para os chamados “vazios populacionais”5 cípios concentravam 40% da população não é absorvida pelos empregos gerados as principais unidades da federação com as
Tabela 1– Taxa de participação dos estados da e se estendeu até o início dos anos 1930. total do estado (IBGE, 2010).
Região Sul no total da população brasileira entre na economia urbana dinamizada pelo setor A litoralização7 tem que ser analisada a partir quais Santa Catarina trocou população no
CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VII
1970 e 2017. Tabela 3 – Densidade demográfica (habitante/km²) dos estados da Região Sul (1960-2000) agroindustrial, acaba por migrar para polos de dois aspectos: por um lado, a força de último período censitário; em conjunto, essas
1970 2010 2017 1960 1970 1980 1991 2000 2010 de atração dentro da mesorregião (Chapecó, expulsão de algumas regiões do estado em unidades foram responsáveis por 69,7% das
Paraná 7,4% 5,5% 5,4% Paraná 21,56 35,11 38,89 42,37 47,96 52,37 Xanxerê, Joaçaba) bem como cidades de direção ao litoral e por outro de fatores que entradas registradas em Santa Catarina e por
Santa Catarina 3,1% 3,3% 3,3%
outras mesorregiões. Assim, a expulsão da atraem as pessoas. A litoralização está assim 63,6% das saídas; dentre as demais unidades
Santa Catarina 22,53 30,75 38,70 47,63 28,19 65,27
população na mesorregião Oeste está rela- ligada ao processo de concentração fundiária brasileiras, destacam-se os fluxos com a região
Rio Grande do Sul 7,2% 5,6% 5,4% Rio Grande do Sul 19,34 23,98 28,19 32,43 36,14 37,96
cionada a fatores de modernização. e de renda, e o consequente enfraquecimento Sudeste, particularmente com São Paulo.
Fonte: IBGE. Fonte: IBGE. da pequena propriedade, com a incorporação
Acompanhando as tendências nacionais, Entre 1970 e 2000 o grau de urbanização populacionais no estado há redução das No caso da mesorregião Serrana, também é de produtores rurais como integrados de Tabela 4: Pessoas de 5 anos ou mais de idade
que não residiam na Unidade da Federação
o estado de Santa Catarina tem apresen- passou de 42,98% para 78,72%. Em 2015, populações dos municípios situados na parte a que menos recebeu imigrantes no estado grandes empresas agroindustriais. Diversos em 31.07.2005, por lugar de residência em
tado uma desaceleração no seu ritmo de ele já estava situado em 83,7%, ao passo oeste do estado e pelo aumento do número no período 2005-2010, e de forma geral tem autores têm destacado que mesmo sendo 31/07/2005 – Unidade da Federação: Santa
crescimento populacional. Essa desacele- em que o grau da Região Sul era de 85,6%. de habitantes nas regiões que se localizam perdido população nos últimos censos, seu a busca por trabalho a principal motivação Catarina.
ração acompanha, como dito, a tendência O maior crescimento populacional foi prin- próximo ao litoral. Destaca ainda que contri- principal município, Lages, diferentemente para a migração apontada pelos migrantes, Região Total de Pessoas
nacional, mas está situada a um nível supe- cipalmente nas mesorregiões Norte Catari- buiu para essa concentração populacional do que acontece com Chapecó no Oeste, também interfere na decisão a busca por Região Sul 210.153
rior à taxa brasileira, especialmente após nense, Vale do Itajaí e Grande Florianópolis. no litoral o expressivo número de migrantes não tem se constituído como um polo de melhor qualidade de vida e menores índices
Migrações internas e internacionais recentes

Migrações internas e internacionais recentes


Região Sudeste 49.376
o intervalo 1980-1991, indicando que, não Mioto, Lins e Mattei (2010) chamam a vindos de outros estados ou países, que atração da população migrante. É a região de violência. Além de se constituírem como
Região Nordeste 21.533
obstante uma taxa de fecundidade inferior atenção para a diminuição da população representaram mais de 1/3 do aumento do com a menor taxa de ocupados no estado. fatores explicativos complementares à
Região Centro-Oeste 14.644
à nacional, a população catarinense cresce rural em Santa Catarina, observando que número de habitantes de Santa Catarina no Da população ocupada, ¼ está empregada questão econômica da busca por trabalho,
a taxas superiores às nacionais em razão as taxas de crescimento negativo se acen- período de 2000-2005. em atividades ligadas ao setor primário, no essas caraterísticas encontradas em cidades Região Norte 5.637

da força do processo migratório no estado tuam no período 1991-2000, anos nos quais caso, agricultura, pecuária, pesca e aquicul- do litoral catarinense também contribuem Total 301.343

e de sua capacidade de atrair população e ocorre a reestruturação produtiva e patri- Em estudo realizado a partir de dados muni- tura (Deschamps e Delgado, 2014). na elucidação da tendência nacional de cres- Fonte: IBGE.
de configurar-se como polo de absorção monial das empresas no estado. cipais agregados por Secretarias de Desenvol- cimento de cidades de médio porte. A força
regional, nacional e mesmo internacional de vimento Regional (SDR)6, Mioto, Lins e Mattei A expulsão da população na mesorregião Da população total residente em Santa Cata-
migrantes (Tabela 2). Considerando a tipologia de Paul Singer (2010) mostram que, no período 2000 e 2007, Serrana pode ser relacionada, portanto, com rina, segundo o Censo de 2010 (6.248.436
(1995), que identifica nos processos migrató- das sete SDRs que apresentaram taxa anual fatores de estagnação. É a região do estado 7
Segundo Turnes (2008) o “modelo catarinense de habitantes) 301 mil pessoas não residiam
Tabela 2 – Taxas de crescimento anuais da popu- rios fatores de expulsão e fatores de atração de crescimento populacional negativa, seis com a maior concentração fundiária. Com o desenvolvimento” durante muito tempo construiu em Santa Catarina há cinco anos em relação
lação (Brasil e Santa Catarina, 1940 – 2017).
do migrante, podemos concluir que, para a localizam-se na mesorregião Oeste, e uma na fim do ciclo madeireiro (araucária), alterna- uma narrativa de que haveria uma distribuição a aplicação do censo (2005). Trata-se de
Taxa Cres. Pop. Taxa Cres. Pop.
Período mesorregião Oeste, temos a modernização mesorregião Serrana. Entre as dez SDRs com tivas como a indústria de papel e celulose não equilibrada da população por todo o território estadual. migrantes internos que vieram buscar
Brasil SC
1940-1950 2,34 2,85 agrícola como fator de expulsão, enquanto as maiores taxas positivas de crescimento têm sido suficientes para absorver a força de A evidencia seria a inexistência de grandes metrópoles, no estado melhores condições de vida e
1950-1960 3,17 3,24
para a mesorregião Serrana a estagnação populacional, os nove primeiros lugares trabalho local e evitar a migração de sua popu- o que resultaria numa melhor qualidade de vida de sua trabalho. Embora sejam imigrantes, sobre-
se constitui como fator responsável pela pertencem às mesorregiões Norte, Vale do lação para outros centros e outros estados, população. No final do século XX e início do século XXI tudo da Região Sul e Sudeste do país, não é
1960-1970 2,90 3,16
expulsão de sua população do campo para Itajaí e Grande Florianópolis. Em décimo como observam Mioto, Lins e Mattei (2010). tem se observado um adensamento da população nas nada desprezível o número de imigrantes
1970-1980 2,51 2,33
cidade. Turnes (2008) corrobora com essa aparece a SDR de Chapecó. Sobre isso cabe Trata-se da única mesorregião catarinense a regiões litorâneas, produto das migrações do Oeste vindos da Região Nordeste e mesmo do
1980-1991 1,77 1,90 informação ao destacar os deslocamentos observar que apesar da mesorregião Oeste ter apresentar saldo migratório negativo, segundo catarinense e de migrações interestaduais. O que levou Centro-Oeste, ressaltando a posição de
1991-2000 1,61 1,84 perdido população, houve uma intensificação dados do censo demográfico de 2010. os discursos oficiais reverterem o que denominaram Santa Catarina enquanto polo de absorção
2000-2010 1,18 1,57 do processo de urbanização. O município de como “o processo de litoralização”. Conforme Turnes de imigrantes internos no Brasil.
5
O estado de Santa Catarina tem construído sua Se a mesorregião Serrana tem recebido (2008), os documentos da gestão estadual (2003/2006)
2010-2017 1,21 1,57
identidade como região de imigração, numa narrativa poucos imigrantes, o mesmo não acontece discutiram a necessidade de “combater a litoralização, Nos dados a seguir, destacamos o aumento
Fonte: IBGE. que valoriza a contribuição de imigrantes alemães, 6
As Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDR)
com o Vale do Itajaí, que se constituiu na que vem esvaziando, dramaticamente, o campo, e da participação proporcional de nascidos
No entanto, e aqui o fenômeno migratório italianos, açorianos, poloneses e de outros grupos que constituem-se numa divisão regional administrativa
principal área de recepção dos imigrantes inchando as cidades maiores.” Nesse texto a utilização do no Nordeste, na comparação entre os três
encontra sua importância, houve intensos vieram ocupar e colonizar suas terras consideradas, criada por lei estadual na primeira gestão do
interestaduais, recebendo 32,8% do total, termo se dá a partir das observações de Turnes (2008) censos. A cada censo, a presença de nordes-
movimentos populacionais do rural para o naquela ocasião, “vazios populacionais”. Ver Seyferth governador Luís Henrique da Silveira (2003) e que foi
seguido pela Grande Florianópolis (21,7%) que destacam o aumento da população no litoral e os tinos vem dobrando. Embora não seja a
urbano, e entre diferentes espaços urbanos. (1996) e Pagnotta e Assis (2017). se alterando nos governos seguintes.
e Norte Catarinense (19,4%). saldos migratórios negativos no Oeste catarinense. população mais numerosa, é a que mais

128 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 129
cresce em termos proporcionais. O mesmo em números relativos, de não naturais de nacionais, observa-se ainda o crescimento da taduais é maior do que o recebido pelo Os imigrantes internacionais apoio ao imigrante japonês no Brasil, mas
pode ser verificado com relação aos nascidos Santa Catarina, residindo no estado. Acom- participação de mulheres no grupo de não conjunto dos ocupados de 14 anos e também auxiliaram os colonos japoneses na
dos anos 1960-1970
na região Norte. Demonstra a importância, panhando as tendências de imigrações inter- naturais de SC (Censos de 2000 e 2010). mais residentes em Santa Catarina (R$ escolha do terreno e nas técnicas adequadas
1.364,00), segundo Deschamps e Delgado para a produção. Cabia ao Governo Estadual
Japoneses em Santa Catarina: atuar na articulação entre o Instituto de
Tabela 5 - População residente em Santa Catarina segundo origem (1991, 2000, 2010). (2014). Dentre as mesorregiões cata-
rinenses, os maiores rendimentos são migração dirigida e tutelada Reforma Agrária de Santa Catarina (IRASC)
1991 2000 2010
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres observados na Grande Florianópolis, que e a JAMIC, localizada em Porto Alegre (RS),
é, também, a que apresenta o maior dife- A vinda de imigrantes japoneses para Santa formando parcerias com prefeituras muni-
Total 4542032 2275680 2266352 5357864 2670173 2687691 6248436 3100360 3148076
rencial de rendimento entre os migrantes Catarina foi fruto de uma política agrária brasi- cipais, Secretaria da Agricultura do Estado,
Região Norte 2550 1347 1203 5534 2147 3387 12988 5898 7091
(Deschamps e Delgado, 2014). Os dados leira durante a década de 1960 e 1970 que ACARESC, Departamento Nacional de Obras
Rondônia 687 395 292 1798 814 983 2804 1359 1444
Acre 130 52 78 300 152 148 529 252 277 também revelam as desigualdades regio- visava atrair imigrantes japoneses capazes e Saneamentos (DNOS) e outras institui-
Amazonas 430 204 226 565 190 375 1335 637 698 nais do Brasil: a população envolvida em de trazer avanços tecnológicos ao Brasil, com ções (Martinello, 2007). Cabia a JAMIC
conhecimentos agrícolas mais avançados que receber e orientar os imigrantes na sua
CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VII
Roraima 79 56 23 198 61 137 2082 985 1097 fluxos com a Grande Florianópolis e com
Pará 1111 578 533 2405 824 1581 5275 2217 3058 a Região Sudeste do Brasil se destaca pelo aqueles usados pelos agricultores brasileiros. instalação no país e ao JEMIS a incumbência
Amapá 76 39 37 66 40 27 228 98 130 maior nível de escolaridade, enquanto os Os discursos presentes nos documentos oficiais de financiar imigrantes, sendo que ambas
Tocantins 37 23 14 202 67 135 736 349 386 e jornais catarinenses daquela época enfatizam operavam com capital 100% fornecido pelo
imigrantes oriundos do Nordeste e Paraná
Região Nordeste 12803 7064 5739 25615 13370 12245 59273 31000 28273 que a presença destes imigrantes traria “compe- governo japonês. A criação de comunidades
se destacam como os que apresentam os
Maranhão 627 247 380 1348 568 781 4670 2397 2273 tência e os avanços do trabalho no campo”, já japonesas recebeu subsídios e incentivos
piores resultados relativos aos dois níveis
Piauí 565 289 276 1199 603 596 3804 1884 1919 que os japoneses eram providos de “vocação originados principalmente do Programa
Ceará 3057 1985 1072 6189 3354 2835 11319 5975 5344 de instrução – níveis médio e superior.
agrícola”, e possuíam disciplina de um “bom Estadual de Fruticultura de Clima Tempe-
Rio Grande do Norte 891 413 478 1654 882 772 2980 1512 1467
trabalhador” (Uemura, 2011, p. 102). Nesta rado (PROFIT) e também do Plano Nacional
Paraíba 869 552 317 2063 1020 1043 4889 2520 2368 Há um padrão que se repete em quase
época, o Brasil começava um período político de Sementes. Para Paim (2013, p. 199)
Pernambuco 2466 1325 1141 4607 2459 2148 9693 5006 4687 todos os indicadores: os emigrantes
econômico de mudanças profundas, dentre elas “esses subsídios estatais foram um impor-
Alagoas 628 352 276 1560 895 664 4227 2236 1992 tendem a apresentar maior nível de esco-
a modernização do campo sem modernização tante aliado para o bom desenvolvimento
Sergipe 422 192 230 744 401 343 2142 1218 923 laridade, de rendimento do trabalho e de
da base agrária, e o Japão ainda sofria as conse- das culturas produzidas pelos imigrantes”.
Bahia 3278 1709 1569 6250 3188 3062 15550 8251 7300 inserção no estrato de rendimento domi-
Região Sudeste 55382 28626 26756 94522 48510 46011 147850 77178 70673 quências do pós-guerra. Para o governo brasi-
ciliar mais elevado (mais de 5 salários
Migrações internas e internacionais recentes

Migrações internas e internacionais recentes


Minas Gerais 7749 3878 3871 12310 6047 6263 20118 10259 9860 leiro, os imigrantes japoneses eram associados Um dos núcleos mais estudados, o projeto de
mínimos per capita). Mas há uma exceção
Espirito Santo 966 488 478 1625 717 908 2802 1260 1542 “à competência e aos avanços de trabalho no assentamento da Colônia Celso Ramos em
importante que é o fato dos imigrantes que
Rio de Janeiro 12621 6709 5912 18621 9609 9012 25535 13805 11730 campo” (Kodama, 2000, p. 206). Estas compe- Curitibanos (hoje município Frei Rogério) foi
chegaram a Santa Catarina apresentarem,
São Paulo 34046 17551 16495 61966 32137 29828 99395 51853 47542 tências eram condizentes com as propostas uma reivindicação de imigrantes japoneses que
5205545 2591899 2613646 5964062 2952927 3011135
na maioria das regiões, menores taxas de
Região Sul 4454629 2230032 2224597 de modernização da agricultura e buscavam já residiam no município (Martinello, 2007),
Paraná 172208 86391 85817 278729 138951 139778 411178 204837 206341 pobreza relativamente aos emigrantes
também a criação de núcleos agrícolas com coadunando com a política de reforma agrária
Santa Catarina 3989677 1996304 1993373 4585542 2286490 2299052 5130746 2542562 2588184 que deixaram o estado. Ou seja, a dinâ-
vistas ao abastecimento das áreas urbanas do então governador Celso Ramos. Os órgãos
Rio Grande do Sul 292744 147337 145407 341273 166458 174815 422139 205528 216611 mica migratória interestadual catarinense
catarinenses e de outros estados com produtos responsáveis pelo projeto foram o IRASC (Insti-
Região Centro-Oeste 5227 2456 2771 13144 6667 6476 24776 12353 12423 revela a atração de trabalhadores mais
hortifrutigranjeiros (Martinello, 2007). tuto de Reforma Agrária de Santa Catarina) e
Mato Grosso do Sul 1632 759 873 4382 2321 2061 9909 5083 4826 escolarizados e com melhor rendimento,
Mato Grosso 1692 837 855 4070 2025 2045 7997 3863 4134
a JAMIC, empresa japonesa de imigração. Em
ao passo que expulsa trabalhadores de Na sua pesquisa, Martinello (2007) identi-
Goias 1057 422 635 2641 1203 1438 3772 1872 1900 1964, através de uma parceria entre JAMIC e
extratos mais pobres, com menor escola- ficou quatro colônias japonesas em Santa
Distrito Federal 846 438 408 2051 1118 933 3098 1536 1563 INCRA foram distribuídos cinquenta lotes a
ridade, qualificação e rendimento. Catarina: a primeira, localizada em Curiti-
Brasil sem especificação 1866 914 952 946 441 505 21864 10596 11268 agricultores japoneses provenientes do Japão,
País estrangeiro - - - 12559 7139 5420 17622 10409 7213 banos (atual município de Frei Rogério); a de outros municípios catarinenses e de outros
Com relação à taxa de pobreza, Deschamps segunda em Itajaí; a terceira em Caçador e, a
Exterior 9575 5241 4334 - - - - - - estados brasileiros, como Rio Grande do Sul,
Exterior naturalizados brasileiros 2802 1550 1252 - - - - - -
e Delgado (2014) indicam o percentual última no núcleo Sanga do Café em Criciúma Paraná e São Paulo. O intuito era mudar a
Exterior estrangeiros 6773 3691 3082 - - - - - - dos migrantes com renda per capita de (localizada no atual município de Forqui- cultura do trigo existente na região “num entre-
Fonte: IBGE. até ½ salário mínimo por mês: entre os lhinha). Além destas, comunidades japonesas laçamento com os nossos colonos, se formasse
muito pobres, os de renda mais baixa surgiram em Canoinhas e São Joaquim, ainda em Curitibanos um núcleo destinado a explorar
(até ½ salário mínimo por mês), há uma que estas não tenham sido colônias oficiais. em primeiro plano a fruticultura” (Santa Cata-
Com relação às saídas do Estado, quase O perfil de quem imigra etário, esta taxa atinge o valor de 76,6%,
proporção menor de imigrantes do que de rina, 1968, p. 182).
metade teve origem nas mesorregiões Oeste e quem emigra indicando um grau maior de participação no
emigrantes. Apesar dos rendimentos do O fluxo migratório dos japoneses para
e Norte (Deschamps e Delgado, 2014). À mercado de trabalho (Deschamps e Delgado,
trabalho dos imigrantes serem em média o Brasil foi tutelado e subsidiado por A presença japonesa em Santa Catarina foi,
exceção da mesorregião Serrana, as demais Em Santa Catarina, 70,4% da população 2014). Os dados revelam uma boa empre-
menores, parece haver, em Santa Catarina, empresas representantes do Japão, desta- portanto, resultado de uma política de estado
regiões catarinenses apresentaram saldos de 14 anos e mais de idade estão inseridas gabilidade para os imigrantes de outras
uma distribuição mais favorável a este cando-se a JAMIC (Imigração e Colonização dirigida, tutelada pelo governo japonês e com
positivos em suas trocas interestaduais, no mercado de trabalho, fazendo parte da unidades da federação em Santa Catarina.
contingente populacional, permitindo, Ltda) e a JEMIS (Assistência Financeira amplo apoio de políticas públicas. Tinha o
com destaque para o Vale do Itajaí que apre- população economicamente ativa (PEA). No
sentou ganho de 75,1 mil pessoas, corres- pelo menos, posicionar-se acima da situ- S/A). Elas não só foram as executoras e intuito de modernizar o campo brasileiro e
caso dos imigrantes provenientes de outras O rendimento médio do trabalho obtido
pondente a 43,6% do saldo total do Estado. unidades da federação, com o mesmo perfil pelos imigrantes e emigrantes interes- ação de pobreza. responsáveis jurídicas pela cooperação e abastecer núcleos urbanos, com a introdução

130 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 131
39

Segundo as informações da Polícia Federal os pontos de entrada dos


haitianos no Brasil totalizariam 27 cidades, distribuídas nas regiões Norte, Sudeste e
Sul. No entanto, 84,8% dos imigrantes entram no Brasil por somente 5 cidades, a
saber: São Paulo e Guarulhos (37%), Tabatinga (29,7%), Epitaciolândia e Brasiléia,
(18,1%). Essas cidades são na realidade pontos de passagem, pois salvo o caso de
Mapa 1 – Imigração haitiana.
São Paulo e Guarulhos, onde 43,8% dos que entraram por estas cidades ali fixam
de técnicas no cultivo de frutas e hortaliças. interna, assim como em todo o país, em Apesar da sua importância, estes fluxos migra- a Imigrantes e Refugiados de Florianó- residência, nos demais casos os imigrantes tendem a buscar outras cidades como
40

Beneficiaram-se, no entanto, do conheci- virtude do processo de urbanização, a partir tórios têm permanecido invisíveis nos dados polis (GAIRF) e dos grupos de trabalhos de mostram Fluxoas figura abaixo. que entraram no Brasil por Epitaciolândia
dos haitianos Fluxo dos haitianos que entraram no Brasil por São Paulo e
mento local, de caboclos e outros imigrantes do início dos anos 1970, outros contingentes oficiais. Confundidos e mesclados no imagi- imigrantes da Assembleia Legislativa e de Figura e6 Brasileia,
- Mapa do fluxo
no dos haitianos
período deque entraram
janeiro deno Brasilepor
2010 Epitaciolândia
março
no período de janeiro de 2010 e março de 2014.
de 2014. e Brasileia,
Figura Guarulhos,no período
7 - Mapa do fluxo dos deque
haitianos janeiro deno2010
entraram Brasilepor
março de 2014
São Paulo
no período de janeiro de 2010 e março de 2014.
e Guarulhos,

que aqui já residiam, conforme o caso do de imigrantes internacionais começaram a nário local e pelas autoridades como turistas, grupos de pesquisadores ligados a UDESC
melhoramento do alho, originando o alho chegar ao estado, principalmente pessoas inserem-se num mercado de trabalho precário, e a UFSC. Dessa mobilização e das várias
Caçador, que já era cultivado pelos descen- provenientes dos países latino-americanos. tem dificuldade de acessar os serviços públicos entidades e associações de imigrantes,
dentes de imigrantes italianos, conforme e até mesmo de integrar-se plenamente na foi que em fevereiro de 2018 foi criado o
Martinello (2007). Trata-se de um movimento antigo, iniciado sociedade catarinense, tornando-se “‘invisí- Centro de Referência e Atendimento ao
com um fluxo esporádico de exilados polí- veis’” para as autoridades e formuladores de Imigrante (CRAI). A criação do Centro é um
Mas como outros pequenos agricultores ticos que vieram nos anos 1970, ao qual se políticas públicas [...], sentem no cotidiano a importante passo para o enfrentamento do
familiares brasileiros, os colonos japoneses juntaram aqueles que vieram com o intenso força do preconceito e as dificuldades de ser preconceito e da discriminação e para possi-
também enfrentaram dificuldades: falta de fluxo turístico, principalmente de argen- estrangeiro no Brasil (Iha, 2008, p. 28). bilitar o acesso a informações e contribuir
mercados consumidores próximos, ausência tinos para o litoral catarinense, a partir para formatar políticas de acolhimento aos
CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VII
de hábitos de consumir frutas e verduras, o do final dos anos de 1980, como destacou Esta migração regional consolida-se com o novos imigrantes em Santa Catarina.
envelhecimento da população e a falta de Iha (2008). Este fluxo, ainda que menos Acordo sobre Residência para Nacionais dos
perspectivas para os jovens. numeroso, teve continuidade na década de Estados Partes do Mercado Comum do Sul – Haitianos e Africanos
1990 para as regiões litorâneas do estado, Mercosul, Bolívia e Chile, através da promul-
O estudo de Uemura (2011) sobre a colônia principalmente Florianópolis e Balneário gação do Decreto n° 6.964, de 29/9/2009 e do Dentre os novos povos imigrantes em Santa
Celso Ramos mostra duas etapas nos projetos Camboriú, com o reforço de políticas econô- Decreto n° 6.975, de 7/10/2009, que outorga Catarina, o fluxo que mais tem chamado
agrícolas e migratórios. Na primeira, década micas e campanhas publicitárias, desta- vários direitos aos imigrantes e suas famílias. a atenção, não apenas pelo seu tamanho,
de 1960 até 1980, observa-se a vinda de cando-se a denominação de Florianópolis mas também por sua organização, é o de Fonte: Extraído de Fernandes (2014, p. 39 e 40).
imigrantes japoneses na execução de ativi- como Capital Turística do Mercosul. Estudos
Os novos imigrantes haitianos. Inicialmente, deve-se considerar
dades agrícolas e a constituição de famílias. mostram que muitos destes turistas retor- que o Haiti é um país de intensa tradição
O Núcleo até então, pode ser considerado um naram para fixar moradia nestas duas
em Santa Catarina no É deste período a criação das primeiras haitianos e grupos de apoio passam de seis,
século XXI migrante. Desde pelo menos o final do
lugar de imigração. Na segunda etapa, que cidades (Iha, 2008; Alloatti, 2013), enquanto século XIX, seu povo tem buscado trabalho associações de imigrantes no Estado, ainda em janeiro de 2015, para 16, em dezembro
compreende a década de 1980 até a década de outros tantos vieram atraídos pelas belezas e melhores condições de vida em países concentradas na mesorregião do Vale do Itajaí. de 2015. Mais que no Vale do Itajaí e no
2000, se verifica um fluxo migratório dos inte- do litoral e em busca de melhores oportuni- Os novos imigrantes que chegam em Santa A elevação do número de imigrantes haitianos Oeste, há presença organizada em Florianó-
Migrações internas e internacionais recentes

Migrações internas e internacionais recentes


Catarina, diferentemente dos que vieram como República Dominicana, Cuba, Estados
grantes do Núcleo, da região de Curitibanos, e dades, fugindo das crises políticas e econô- Unidos, França e Canadá. É, todavia, no final na região acabou por operar como uma pré- polis, Santo Amaro da Imperatriz, Joinville,
posteriormente, de Frei Rogério para o Japão. micas nos seus países. no século XIX e início do século XX, quando -condição a sua posterior dispersão pelo terri- Jaraguá do Sul e Criciúma, por exemplo.
o estado construiu políticas públicas do ano de 2010 que se dá a chegada dos
primeiros imigrantes haitianos ao Brasil. tório catarinense, no que os recrutamentos e
Nesta perspectiva, o Núcleo Celso Ramos A principal dificuldade em traçar um perfil para recebê-los e possibilitou sua perma- as associações tiveram forte atuação. Essas associações são, atualmente, o agente
deixa de ser um lugar de imigração e passa dos imigrantes provenientes dos países nência, enfrentam a ausência de políticas mais ativo de suas redes sociais e políticas.
públicas para acolhimento e inserção social Concentrados em precárias condições na
a ser um lugar de emigração, já que muitos latino-americanos decorre de sua heteroge- fronteira do Brasil com o Peru, em municípios De 2012 em diante, a fase da concentração Se por um lado apontam para a tentativa de
descendentes dos imigrantes japoneses neidade (seja pelas distintas origens, como e laboral. Dentre as dificuldades encon- em alguns municípios da mesorregião do manutenção de aspectos essenciais de sua
tradas, destacam-se a questão da língua como Assis Brasil e Epitaciolândia, no Acre, e
começam a migrar para o Japão em busca de também data da migração e projetos migra- Tabatinga, no Amazonas, logo foram objeto Vale do Itajaí dá lugar progressivamente à cultura e de inserção social e laboral dignas;
uma vida melhor, principalmente na década tórios). Dados da Pastoral do Imigrante, enti- e do acesso ao mercado de trabalho e a fase da dispersão pelo território, conforme de outro, indicam a permanência dos laços
serviços públicos, pois a língua se torna não apenas da atenção da mídia e do cuidado
de 1990, por conta dos impactos e reverbe- dade que atende a população imigrante e nem sempre ágil e suficiente do Estado, mas Magalhães (2017). Em outras palavras, afetivos com os familiares e, por consequ-
rações da crise econômica que se instaura refugiada, apontam que os argentinos consti- uma barreira a inserção laboral e para a passa a ocorrer uma mobilidade interna ência, a própria diversificação mais recente
integração desses grupos. Além das dificul- também de inúmeras empresas, interessadas
no Brasil. Manter a condição de agricultor tuíam até 2014 (ultrapassados pelos haitianos em recrutar essa força de trabalho. Foi assim dessa migração internacional, fortemente do fluxo, com maior participação relativa de
torna-se insustentável quando a crise atinge em 2015) o maior contingente de pessoas a dades linguísticas, esses grupos enfrentam vinculada à procura por trabalho, em mulheres e crianças.
o preconceito e a discriminação racial, pois que entre 2010 e 2011 chegam os primeiros
o setor agrícola brasileiro e a emigração dos buscar os serviços para regularização migra- haitianos ao estado de Santa Catarina, através direção especialmente ao Oeste de Santa
descendentes se torna uma alternativa a tória, e em terceiro lugar os uruguaios. Em sendo uma parcela dessa população negra Catarina. Em 2014, Chapecó ocupou a No que tange à sua presença no mercado
vinda do Haiti, Gana e Senegal, enfrentam no da contratação de três empresas da mesorre-
impossibilidade de permanecer no campo. termos de mercado de trabalho foram ultra- gião do Vale do Itajaí (Magalhães, 2017). primeira posição no estado e a segunda no formal de trabalho, dois processos se eviden-
passados pelos haitianos em 2013. Brasil todo o preconceito e a discriminação Brasil (atrás apenas de Curitiba) em termos ciam. O primeiro diz respeito à importância
A invisibilidade da migração enfrentada pelos negros brasileiros, o que de admissão de trabalhadores haitianos no da imigração haitiana em termos de partici-
não ocorre com os imigrantes sírios. Pelo setor de atividade econômica em
latino-americana Os argentinos constituem o grupo mais que atuam essas empresas, os primeiros mercado formal de trabalho. Na mesorre- pação estrangeira no mercado de trabalho.
significativo e com maiores pesquisas. imigrantes haitianos no estado foram gião Oeste são alocados especialmente no Desde 2013, os haitianos já compõem o
Santa Catarina construiu sua imagem como Estudos acadêmicos como a de Alloati A assistência e acolhimento ao imigrante alocados como trabalhadores da limpeza trabalho nos frigoríficos. principal grupo estrangeiro, ultrapassando
um estado onde há um contingente signi- (2013), demostram que o número de argen- recém-chegado a Santa Catarina tem sido pública urbana, pedreiros e auxiliares de presenças tradicionais como a argentina, a
ficativo de descendentes de imigrantes tinos registrados no consulado em Santa realizada pela Pastoral do Migrante – vincu- pedreiro e em serviços portuários, nos Essa fase apresenta também um cresci- paraguaia e a uruguaia. A respeito das auto-
italianos, alemães e poloneses, entre outros Catarina em 2011 era de 800 para Santa lada a Igreja católica, por igrejas evangélicas municípios de Balneário Camboriú, Itajaí mento da associação política e cultural dos rizações de trabalho concedidas a estran-
grupos que chegaram mais expressivamente Catarina, sendo que 500 destes residiam e pela própria organização dos imigrantes e Navegantes. Logo, passaram a ser vistos imigrantes haitianos, especialmente a partir geiros no mercado formal de trabalho,
no estado, do final do século XIX ao início em Florianópolis, ainda que a porcentagem em associações que defendem seus direitos também nos supermercados, especialmente de 2014. Segundo levantamento realizado convém destacar que elas atingiram o seu
do século XX. Se o período dos anos 1950 dos que se registram para votar tenha sido e buscam inserção social e cultural e a na seção de hortifrutigranjeiros e nos esto- pelo Observatório das Migrações de Santa auge em 2014 e desde então vêm decli-
até 1980 foi marcado por intensa migração muito baixa. importante atuação do Grupo de Apoio ques (Magalhães, 2017). Catarina, as associações de imigrantes nando, conformo mostra a Tabela 6.

132 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 133
Tabela 6 – Autorizações de trabalho concedidas a Gráfico 1 – Admissão de trabalhadores haitianos no Brasil, segundo principais Unidades da Federação
por intensas contradições8. Ademais delas, mente, os países europeus de língua inglesa e midiáticos e do poder público que afirmam
estrangeiros no mercado formal de Santa Catarina (2016).
(2011 a 2016). reivindicações na área da educação, saúde, os Estados Unidos; a partir desta data houve o contrário, reivindicam sua legalização e
cultura e documentação constituem os prin- um visível deslocamento caracterizando a estabelecimento comercial formal. Alguns
Ano Autorizações concedidas a estrangeiros 10000
cipais elementos da presença organizada de criação de novos destinos e rotas inexistentes, ainda começam a empreender e a participar
2011 559
8000 haitianos em Santa Catarina atualmente. até então, na tradição diaspórica ganesa com de feiras gastronômicas e de vestuário, acio-
2012 524
6000
destino a América do Sul. O motivo da criação nando as identidades étnicas e relacionadas
2013 663 As informações sobre as rotas de migração de novas rotas e destinos possíveis para estes à cultura africana. É importante destacar
4000
2014 696 circulam e, assim como os haitianos a partir migrantes inclui inúmeros fatores, como: a que muitos desses imigrantes chegam com
2015 405 2000 de 2014, num cenário ainda favorável na crise iminente do capitalismo, que, desde 2008, solicitações de refúgio9 o que lhes concede,
2016 312 economia brasileira impulsionados pela atingiu países europeus e os Estados Unidos; o devido às leis de refugio brasileira, acesso
0
crise mundial que ainda não havia chegado recrudescimento dos discursos de alteridade, a carteira de trabalho e documentação,

Santa Catarina

Paraná

Rio Grande do Sul

São Paulo

Minas Gerais

Mato Grosso do Sul

Rio de Janeiro

Goiás

Mato Grosso

Rondônia
Fonte: CAGED/MTE.
-2000 ao Brasil e por dois megaeventos, a Copa do acompanhados de uma sensível mudança na enquanto o pedido é analisado. Tal condição,
A presença haitiana até 2016 foi bastante mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, os política de proteção de fronteiras; e, por fim, o permite a esses imigrantes permanecerem
CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VII
-4000
significativa no mercado formal de trabalho ganeses e senegaleses começaram a chegar próprio panorama de crescimento econômico em situação documentada, enquanto o
em Santa Catarina, particularmente na ao Brasil e se deslocar a Santa Catarina. brasileiro, país que, até então, não havia sido pedido é analisado pelo Comitê Nacional
Admissão Demissão Saldo
agroindústria e na construção civil, que dela diretamente prejudicado pela crise mundial. para Refugiados (CONARE).
se deriva o segundo processo, qual seja, a Fonte: CAGED/MTE.
Como esses fluxos são recentes e são grupos Assim é que os ganeses chegaram ao Brasil.
posição de destaque que Santa Catarina ocupa que se deslocam bastante internamente Sírios
em termos de presença haitiana no mercado também, sugerindo uma migração em etapas, Segundo as estatísticas do IBGE, até o ano
formal de trabalho brasileiro. Desde 2014, Gráfico 2 – Admissão de trabalhadores haitianos no mercado de trabalho formal do Brasil, segundo
no qual o Brasil, às vezes, é uma parada antes de 2006, havia 163 ganeses documentados,
Santa Catarina tem sido o principal estado no principais cidades (2015). Falar da recente imigração síria para Santa
de um outro destino, os dados disponíveis todos residentes na Região Sudeste do País. Catarina, nos obriga a lembrar que tal fato
que se refere ao volume de admissão de traba- são estimativos. O estado que construiu seu O número reduzido de migrantes demonstra
lhadores e trabalhadoras provenientes do 2500 já ocorreu também em fins do século XIX e
discurso como estado de imigrantes no século que, ao menos até esse ano, o Brasil não também no XX, quando então tal imigração
Haiti. Em 2016, isso não diferente: das 18.774 2000 XIX, se deparou com os desafios de buscar polí- representava para eles um destino. A partir
admissões de haitianos e haitianas no mercado é composta por sírios e libaneses. Apesar de
1500
ticas para acolher esses migrantes do século de 2010, só na cidade de Criciúma, loca- ser um dos estados brasileiros que recebeu
formal de trabalho brasileiro, 5.644 foram em XXI, uma população em sua maioria negra e lizada no extremo sul do estado de Santa
Santa Catarina, o que representa 30% do total. em menor número estes imigrantes, sua
1000
provenientes do considerado sul global. Catarina, há registros da chegada de mais
Migrações internas e internacionais recentes

Migrações internas e internacionais recentes


Diferente dos anos anteriores, no entanto, presença já se faz sentir na fase inicial desta
500 de 2 mil homens e mulheres de origem imigração para o Brasil.
2016 foi caracterizado pelo aumento expres- Assis et al. (2018) e Cechinel (2018) destacam ganesa. A comparação dos dois dados
sivo no número de demissões de haitianos e 0
as características da migração dos ganeses. sugere uma mudança nas rotas transna- Sua localização foi urbana, exercendo
C
MT

C
R

R
SP

G
RS

SC
haitianas: em todos os 10 principais estados

SC
–S
–P

–P
–S

–M
Segundo as autoras, Gana é um país cuja cionais e o surgimento de novas cidades-


á–

ú–
atividades comerciais, inicialmente como

lo

ille
ba

vel
re

lis

gem
j

em termos de movimentação no mercado de


Pau

iab

Ita
leg

ori
po
riti

sca
nv

migração faz parte da experiência de seus -palco de acolhimento destes imigrantes. De


Cu

mb

oA
Cu

Joi

nta
mascates e após instalando “vendas” de secos
Ca
São

ria

trabalho, as demissões superaram as admis-

Ca
rt

Co
Po

habitantes. O fluxo de saída, especialmente acordo com as estatísticas da Relação Anual


Flo

o
e molhados, lojas de armarinho, entre outras

ári
sões, ocasionando saldos negativos em todos

lne
em deslocamentos intercontinentais, é tão de Informações Sociais do Ministério do que lhes permitiram posterior ascensão
Ba
Admissão Demissão Saldo
eles, conforme se pode ver no Gráfico 1. significativo que constitui um aspecto impor- Trabalho, 2010/2015, 84% dos ganeses que
Fonte: CAGED/MTE. econômica e social (Menezes, 2011). Conhe-
tante da economia da nação, devido à política chegaram ao Brasil se estabeleceram no Rio cidos como “turcos”, em virtude dos passa-
A distribuição da imigração haitiana no terri- de remessas de dinheiro que os ganeses, espa- Grande do Sul ou em Santa Catarina; nestes
tório catarinense adiciona novas cidades ao portes das primeiras imigrações serem ainda
lhados pelo mundo, enviam ao país de origem. estados, Caxias do Sul e Criciúma, respecti- da época do Império Otomano, quando Líbano
cenário estadual e nacional de acolhimento e Gráfico 1 – Admissão de trabalhadores haitianos no Brasil, segundo principais Unidades da Federação vamente, são as cidades que mais receberam
inserção no mercado de trabalho. e Síria a ele pertenciam até o fim da 1ª Guerra
(2016). Até meados de 2010, no entanto, o destino de imigrantes caribenhos e africanos. Mundial, se radicaram em Santa Catarina.
mulheres e homens ganeses eram, especial- Fixam-se inicialmente no litoral e entornos,
Em 2014, essas cidades foram Chapecó, Itajaí, 2500
A população senegalesa presente no estado,
Joinville e Florianópolis. Em 2015, Joinville, chegados pelos portos de Florianópolis, São
2000 estimada em aproximadamente duzentas Francisco, Itajaí e Laguna, alcançando também
Itajaí, Florianópolis e Balneário Camboriú. A 8
Essas contradições têm motivado a produção de pessoas, estabeleceu-se principalmente na
ausência de Chapecó nesse ano revela a crise 1500 Joinville, Blumenau, Mafra, Canoinhas, Porto
pesquisas de campo, publicada nos Anais do IX Encontro capital, que proporciona maior mobilidade
do setor da agroindústria e a diminuição 1000 Nacional Sobre Migrações – IX GT de Migração da ABEP, para viajar, participar de feiras em outras
da contratação por parte dos frigoríficos. disponível em http://www.proceedings.blucher.com. cidades e estados. As principais atividades 9
A Lei n. 9.474/97 que trata do refúgio no Brasil, é
500
Em 2016, no entanto, Chapecó, que já fora br/article-details/imigrao-haitiana-no-estado-de- econômicas desenvolvidas estão relacio- considerada um marco de proteção aos refugiados
a segunda cidade do país em admissão de 0 santa-catarina-fases-do-fluxo-e-contradies-da-insero- nadas ao comércio. A maior parte já passou por seu compromisso humanitário com a acolhida de
haitianos, volta a aparecer no ranking, ainda
São Paulo – SP

Curitiba – PR

Porto Alegre – RS

Cuiabá – MT

Cascavel – PR

Joinville – SC

Florianópolis – SC

Rio de Janeiro – RJ

Itajaí – SC

Cahpecó – SC

-500 laboral-22451. Igualmente, o Observatório organizou pela experiência do trabalho formal, seja em refugiados. A partir do recrudescimento da entrada
que na décima posição. o Iº Seminário Migrações Internacionais e Direitos Santa Catarina, seja em outros estados. No nos países do Norte e da chamada crise de refugiados
-1000
Fundamentais de Trabalhadores e Trabalhadoras em entanto, em função de exploração, precon- na Europa o país viu o número de pedidos de refúgio
Os dados do CAGED/MTE indicam que a Santa Catarina, em Florianópolis, em parceria com o ceito e baixos salários, optou pela atividade crescer significativamente. Segundo dados do CONARE
inserção laboral dos imigrantes haitianos Admissão Demissão Saldo
Ministério Público do Trabalho (MPT – SC), nos dias 6 e comercial de venda de mercadorias, como foram 13.639 pedidos em 2017, 6.287 em 2016, 13.383
em Santa Catarina é um processo permeado Fonte: CAGED/MTE. 7 de Outubro de 2015. roupas e eletrônicos. Apesar dos discursos em 2015 e 11.405 em 2014.

134 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 135
de dados estatísticos que configurem com Tabela 7 – Emigrantes internacionais segundo Tabela 9 – Emigrantes catarinenses no mundo segundo mesorregião – Censo 2010.
União, Caçador, Tubarão, Araranguá, Criciúma Estados Unidos foram destino preferencial
Unidades da Federação – Censo 2010.
e outras localidades. (Piazza, 1983) clareza esse fluxo. Por um lado, uma parcela dos emigrantes brasileiros até meados dos Mesorregião de origem Número de Emigrantes % do total
Número de Emigrantes Sul Catarinense 5.827 33,29
do movimento é indocumentada, o que difi- Estado internacionais anos 2000, pois após os atentados de 11
Grande Florianópolis 3.787 21,64
Novamente Santa Catarina tem recebido culta mensurar essa população. Por outro São Paulo 106.099 de setembro de 2001, a política migratória
Vale do Itajaí 3.269 18,68
um contingente de refugiados sírios. Neste lado, do ponto de vista dos dados do Censo Minas Gerais 82.749 tornou-se mais restritiva e a crise econô-
Norte Catarinense 2.121 12,12
caso, a situação é distinta dos demais, pois Demográfico, é preciso tecer algumas obser- Paraná 45.863 mica que se intensifica em 2008, faz com
Oeste Catarinense 1.987 11,35
é o único grupo de refugiados que teve a vações. Os dados referentes a brasileiros no Goiás 35.572 que muitos migrantes se redirecionem para
Serrana 511 2,92
totalidade de seus pedidos de refúgio aceita exterior inicialmente eram estimados pelo Rio de Janeiro 34.902 a Europa. Em Santa Catarina, além desse
Santa Catarina 17.502 100,00
pelo CONARE, devido à recente guerra na Ministério das Relações Exteriores, obtidos Bahia 26.047 fator de crise nos Estados Unidos, o fato de
Fonte: Censo Demográfico 2010.
Síria. Esses imigrantes são acolhidos pelas pelo número de atendimentos consulares, Rio Grande do Sul 20.983 muitos catarinenses serem descendentes
comunidades árabes anteriormente esta- sendo considerados dados estimativos. Santa Catarina 17.502 de imigrantes que vieram no final do século na década de 1990, aponta para uma das início dos anos 2000. Nos Estados Unidos, nas
belecidas em Florianópolis e outras cidades Em 2010, o IBGE, depois de quase quatro Espírito Santo 16.548 XIX e início do século XX produziu um razões que tornaram a área ponto de partida cidades de maior concentração, existiam escri-
catarinenses e embora imigrantes e recém- décadas de movimento de brasileiros rumo Pernambuco 13.898 movimento de retorno às origens, quando de inúmeros emigrantes em busca de trabalho tórios para vender imóveis aos emigrantes na
CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VII
ao exterior, finalmente inseriu uma questão Brasil 491.645 os descendentes, geralmente a 3ª ou 4ª nos Estados Unidos ou na Itália, embora não região de Criciúma (Campos, 2004; Santos,
-chegados não enfrentam como os africanos
discriminação racial. As tensões aparecem, no Censo que buscava captar a migração Fonte: Censo Demográfico 2010. geração, investem no processo de conseguir possamos reduzir a migração às motivações 2007; Assis, 2011; Magalhães, 2014, 2017).
em alguns casos, com relação à religião, pois internacional. Os dados foram aguardados a cidadania europeia para poder migrar e econômicas. É importante destacar que a No entanto, os dados apresentados pelo Censo
com expectativa, no entanto, as diferenças Os catarinenses se inserem nos fluxos inter- trabalhar legalmente na Europa. emigração para a Itália e para os Estados Unidos de 2010 demonstram um deslocamento do
a grande maioria é muçulmana. Como são
expressivas entre os dados do Censo e as nacionais desde meados do século XX, movi- também está associada ao imaginário presente local de destino dos emigrantes.
construídos de maneira muito positiva pela
estimativas do Ministério das Relações Exte- mento que continua expressivo nesse início Conforme Tabela 9 é no Sul Catarinense que na cidade, o qual constrói uma conexão entre
mídia e considerados como brancos, por
riores (MRE) geraram muitas controvérsias; de século XXI, revelando um importante fluxo encontramos a parcela mais significativa os imigrantes do passado e os emigrantes do Assim, nos anos 1980 e 1990, através de
grande parcela da população, não enfrentam
os preconceitos e a discriminação como os mesmo com essas restrições esses dados sobretudo aos Estados Unidos, Itália, Portugal de emigrantes internacionais. Do total de presente, mas principalmente ao desenvolvi- convênios com algumas regiões da Itália10, os
haitianos, senegaleses e ganeses. permitem um panorama do fluxo. e Inglaterra, como veremos nos dados a seguir. emigrantes 33,29% são do Sul Catarinense, mento e ao amadurecimento de redes sociais filhos dos emigrantes retornam à Itália para
21,64% da Grande Florianópolis, 18,68% do ao longo do processo migratório (Assis, 2011). reencontrar seus parentes, da mesma forma
Magalhães (2013), ao buscar identificar Na Tabela 7 observa-se o número de Vale do Itajaí, 12,12% do Norte Catarinense, que italianos vêm conhecer um pedacinho
Os emigrantes catarinenses
os dados de sul catarinenses no exterior, emigrantes internacionais segundo Unidade 11, 35% do Oeste Catarinense e 2,92% da Tabela 10 – Região de destino internacional dos da Itália no Brasil. Deste intercâmbio com
do final do século XX e emigrantes catarinenses (2010).
destaca que há diferença na estimativa de da Federação contabilizados pelo Censo de região Serrana. cidades do sul do estado de Santa Catarina
início do século XXI 2010. Em 2010, havia 491.645 brasileiros Número de
emigrantes internacionais brasileiros feita Região de destino como Urussanga, Araranguá, Nova Veneza,
Migrações internas e internacionais recentes

Migrações internas e internacionais recentes


emigrantes
pelo IBGE em relação às estimativas do vivendo no exterior, destes, 106.099 prove- O Sul Catarinense é a região com maior Europa 9606 Cocal do Sul e Criciúma, os descendentes
Entre o pós-guerra e até a década de 1970 os nientes de São Paulo, 82.749 de Minas Gerais,
Ministério das Relações Exteriores (MRE) presença de catarinenses no exterior com América do Norte 4819 dos imigrantes passam por um processo de
fluxos de imigrantes internacionais diminu- 45.863 do Paraná, 35.572 de Goiás, 34.902 do
e mesmo de países de destino destes destaque para Criciúma. Em meados da América do Sul 1340 reconstrução das tradições italianas, reva-
íram significativamente, pois a política migra- Rio de Janeiro, 26.047 da Bahia, 20.983 do Rio
emigrantes, como os Estados Unidos, o que década de 1980, o setor carbonífero, prin- Oceania 687 lorizando os brasões de família, a língua, as
tória no Brasil não mais favorecia o acesso a de Janeiro, 17.502 de Santa Catarina, 16.548
revela não apenas uma diferença de método cipal atividade econômica da região, apresen- Ásia 671 comidas típicas que se tornam elementos
terra, nem estava direcionada a agricultores, do Espirito Santo e 13.898 de Pernambuco.
de cálculo, como também expõe uma fragi- tava sinais de crise, que se agravou na década África 22 que atraem os italianos para virem conhecer
mas para trabalhadores especializados para
lidade dos dados censitários brasileiros, de 1990 com o governo Collor (1990-1992). Outros países da Ásia 211 no Brasil uma Itália que não existe mais
a indústria nacional. Mesmo assim, come- Tabela 8 Emigrantes brasileiros nos Estados
decorrentes principalmente de duas ques- Segundo Teixeira (1996) e Carola (2001), Outros países da Europa 186 (Assis, 2011; Assis e Beneduzi, 2014).
çaram a chegar levas de imigrantes japoneses Unidos segundo Unidades da Federação – Censo
tões. A primeira se relaciona ao fato de que as de 2010 a crise ocorreu por um conjunto de fatores, América Central 143
em Santa Catarina e imigrantes latino-ameri-
perguntas são realizadas buscando capturar como a queda da produção, a retirada dos Outros países da África 67 Uma das características desses fluxos é o
canos fugindo das ditaduras, bem como Número de Emigrantes nos
Estado
quem estava ausente do país naquele domi- Estados Unidos subsídios por parte do governo e o fim do Outros países da América do Sul 60 movimento de descendentes rumo a terra
angolanos e outros africanos. Outros países da Oceania 4
cilio, o que não permite contabilizar domi- Minas Gerais 35.763 protecionismo estatal e a concorrência inter- de seus nonos e nonas numa espécie de
Fonte: IBGE.
cílios em que todos migraram. A segunda São Paulo 22.327 nacional, o que teria reduzido o mercado em “retorno” a terra de seus ancestrais. Savoldi
Nesse mesmo período, iniciou-se um movi- questão, igualmente importante, é que Rio de Janeiro 10.692 mais de 30 %, causando, assim, uma alta taxa A emigração de catarinenses, principalmente (1998) retrata o movimento de “retorno”
mento de brasileiros para o exterior, no qual sendo grande parte da migração indocumen- Goiás 8.024 de desemprego na região. (Campos, 2003; do Sul, inicia-se rumo aos Estados Unidos. dos descendentes de imigrantes italianos da
os catarinenses começaram a participar espo- tada, as pessoas que permaneceram podem Paraná 7.632 Santos, 2007; Assis, 2011; Aires, 2013) Esse é o principal local de destino até os anos região sul do estado de Santa Catarina para a
radicamente nos anos 1960 e mais intensa- Espírito Santo 4.484
não querer identificar que tem um parente 2000, quando em função da dificuldade de Itália. Segundo a autora, os descendentes dos
mente a partir do final dos anos 1980 e início Santa Catarina 4.351
residente no exterior. Nesse caso, o que se A crise econômica atingiu não apenas o setor vistos para os Estados Unidos, dos atentados imigrantes foram estimulados por programas
Rio Grande do Sul 3.928
dos anos 1990. Foi no final dos anos 1980 e observa não apenas para Santa Catarina, carbonífero, mas também os setores da cerâ- de 11 de setembro e da crise financeira o de intercâmbio com a Itália, que passou a
Bahia 3.605
principalmente na década de 1990 que esse como para outras Unidades da Federação, mica que se desenvolveram na região. Em fluxo se direciona para a Europa.
Pernambuco 2.801
movimento passou a ter visibilidade em seria uma sub numeração das informações 1990, a recessão enfrentada pelo setor cerâ-
Brasil 117.104
algumas cidades catarinenses, com destaque sobre migração internacional. Essas cons- mico foi tão intensa que, das 13 cerâmicas O projeto emigratório era partir, trabalhar 10
Segundo Savoldi (1998), o sul do estado vem
Fonte: Censo Demográfico 2010.
para Criciúma, cidade no sul catarinense que tatações não inviabilizam utilizar os dados, existentes na região, nove interromperam e juntar dinheiro para construir uma casa, investindo em festas típicas italianas para criar a sua
se torna conhecida nacionalmente como ponto conforme bem observou Magalhães, mas nos Na Tabela 8 pode-se observar que dentre suas atividades, ocasionando desemprego montar um negócio e retornar ao país. Em marca como região e atrair turistas italianos. Urussanga
de partida de emigrantes para o estrangeiro. levam a utilizá-los de maneira crítica e, para os estados brasileiros, Santa Catarina ainda maior na região (Teixeira, 1996). municípios como Criciúma e Urussanga, os é considerada a capital italiana de Santa Catarina e
as finalidades desse capítulo, complementar encontra-se em 7º lugar com relação ao investimentos realizados com os dólares ou possui um projeto de cidades irmãs com Longarone
No movimento de migração internacional com outras fontes de dados, não só quantita- principal ponto de destino de emigrantes A crise econômica enfrentada pela cidade, euros vindos dos emigrantes impulsionaram (Itália), que tem por objetivo intercâmbio cultural entre
é importante destacarmos a dificuldade tivos, mas também qualitativos. brasileiros. É interessante observar que os iniciada no final da década 1980 e agravada a construção civil em meados dos anos 1990 e as duas cidades e os dois países.

136 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 137
reconhecer a dupla cidadania de descen- naram às suas cidades de origem e viven- de ser do meio rural e, quando retornam ao
Garuva
dentes de imigrantes espalhados pelo mundo ciaram a sensação de se sentirem estrangeiros Brasil, voltam com outro status ao seu local
e expandiu a construção da identidade italiana em sua própria casa, pois devido a experiência de origem. Diante da crise e redefinição no
para além das fronteiras do território. de viver fora do país, passam a estranhar o seu mundo agrário no Oeste Catarinense, os
local de origem, seja no acesso a direitos, seja descendentes de alemães têm como alterna-
Estes trabalhadores temporários são reco- na organização da vida cotidiana, nas relações tiva a migração internacional.
nhecidos pelos consulados italianos e, pelo de trabalho e, principalmente, nas relações Itapoá
fato de terem passaporte italiano, podem afetivas. O retorno ocorre para a mesma locali- Os catarinenses no início do século XXI,
trabalhar sem problemas na Itália. Num dade, mas não para as mesmas relações sociais intensificaram os fluxos em direção a Europa.
contexto de revalorização da identidade e este se torna um desafio na volta para casa Os processos de busca pela cidadania fazem
italiana, neste encontro de culturas, estes que demanda apoio de políticas públicas ainda com que o passaporte europeu se torne uma
emigrantes temporários se surpreendem muito incipientes no Estado (Assis, 2011). porta de entrada para poder circular na
quando chegam na Itália e são reconhecidos Europa. Embora muitos sejam descendentes
CAPÍTULO VII

CAPÍTULO VII
como brasileiros e/ou estrangeiros. Este é A pesquisa realizada por Renk e Cabral Jr. de italianos e alemães e tenham cultivado
um primeiro choque, pois vão se encontrar (2002) tratou sobre a emigração de jovens as tradições de seus avós, quando chegam
com aqueles que julgam ser seus patrícios rurais à Alemanha, em busca de estudo na Europa são recebidos como brasileiros,
e são distinguidos do grupo, não são reco- e trabalho. Na migração desses jovens se como extracomunitários num processo em
nhecidos como italianos, mas como extra- evidencia a negação da condição camponesa, que a busca da cidadania de direito nem ga
it on
comunitários e por isso objeto de um “certo do trabalho “na acepção ponus”, na penosi- sempre se traduz numa cidadania de fato B ab
preconceito” (Assis, 2011). dade inerente à vida da colônia. O assalaria- (Zanini, Assis e Beneduzi, 2014). Assim se
mento pode ser interpretado como melhor descobrem mais brasileiros na Europa do ia São Francisco do Sul
Ba
Ao longo dos anos 1990 e 2000 os catari- que a situação de dependência e subor- que se imaginavam no Brasil.
nenses da região Sul do estado, principal- dinação dos filhos em relação pai-patrão
mente que vivenciaram um ir e ir entre os na agricultura. esse processo migratório Enquanto os catarinenses partem para a
Estados Unidos e a Europa em busca de uma propicia uma alteração no substrato morfo- Europa em busca de oportunidades os novos
vida melhor, construíram redes que levaram lógico do mundo camponês, que rebate no imigrantes internos e internacionais vem Joinville
amigos, parentes e vizinhos para viver no exte- interior da unidade familiar afetando as para Santa Catarina desde 2010 em busca
Migrações internas e internacionais recentes

Migrações internas e internacionais recentes


rior. Além disso, as remessas enviadas pelos percepções, as visões e representações do de oportunidades, o desafio que se coloca
emigrantes tiveram grande impacto nos locais mundo, que passam pela ressemantização para o Estado é construir políticas públicas
de origem, como na construção civil e também de algumas categorias tais como: trabalho, de acolhimento que dê aos novos imigrantes
na vida daqueles que ficaram. A partir de 2008, o papel da mulher, do jovem e a subalter- as oportunidades de inserção laboral e
com a crise econômica nos Estados Unidos e nidade da condição de colono. Dos movi- cultural com que contaram os imigrantes
depois na Europa, muitos catarinenses retor- mentos analisados, este tem a característica que aqui chegaram no século XIX.

Considerações finais processo de urbanização e que levou na segunda haitianos, senegaleses, ganeses, refugiados
metade do século XX a um adensamento sírios e venezuelanos, sobre os quais ainda
Santa Catarina é um estado constituído populacional na faixa litorânea do Estado, há estudos a serem realizados. Araquari
por uma dinâmica populacional no qual a enquanto o Oeste e Norte do estado perdiam
migração tem um papel importante na compo- população, o que contribuiu para intensificar Esses movimentos de população colocam

o
sição da população. Desde o seu processo de muitas desigualdades regionais. Além desse desafios importantes para as políticas

tic
colonização até a contemporaneidade, polí- deslocamento intraestadual, o estado recebeu públicas de acolhimento e integração dos
ticas migratórias em diferentes momentos também migração interestadual significativa novos imigrantes, bem como para atender os

lân
trouxeram população de origem europeia dos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul emigrantes brasileiros retornados, depois de

At
que aqui se estabeleceu encontrando uma e, mais recentemente, de diferentes regiões do um longo tempo de permanência no exterior e
Balneário Barra do Sul
população nativa indígena, cabocla e negra país, principalmente nordestinos. que tem que se readaptar a vida no seu local de
com as quais dividiram e disputaram a terra origem e se reinserir no mercado de trabalho, Guaramirim
e o acesso a políticas públicas. A partir dos anos 1960, o estado voltou a nas relações sociais e afetivas. Ao traçar um

no
receber imigrantes internacionais, japo- panorama desses movimentos pretendemos

ea
Da mesma forma, o estado tem participado neses - através de politicas migratórias tute- contribuir não apenas para dar um perfil da

Oc
de forma intensa nos processos migratórios ladas - imigrantes latino-americanos, que dinâmica das migrações internas e interna-
internos, numa significativa redistribuição vieram inicialmente como exilados e desde cionais, mas evidenciar a importância de polí-

®
populacional nos anos 1950 a 1970, que levou os anos 1980 como turistas que se tornaram ticas públicas para os novos e/imigrantes em
a população do campo à cidade, num intenso migrantes e, mais recentemente, imigrantes Santa Catarina nesse início de século XXI.
0 1 2 4 km

Fonte: Ortoimagem 2012 - www.sigsc.sc.gov.br

138 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Joinville, município com maior população de Santa Catarina - 583.144 habitantes (IBGE Estimativa 2018), apresenta significativa expansão urbana a partir dos anos 1970/80, ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
Joinville, município com maior população de Santa Catarina - 583.144 habitantes (IBGE Estimativa 2018)
inclusive, em áreas de manguezais, como resultado principalmente das migrações intra e inter estaduais.
Limite Municipal 2018 - SPG/SC

Elaboração: Thobias Leôncio Rotta Furlanetti


139
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140 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 141
®Detalhe de fotografia de Isa de Oliveira Rocha.
Capítulo VIII
Características
Gerais da
População
(1950-2050)

Estudantes em aula na universidade, muncípio de Florianópolis (2018).


53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA P A R A N Á

SANTA CATARINA - POPULAÇÃO URBANA E RURAL Canoinhas Mafra


Campo
Garuva
Itapoá

2000
Alegre

D O
Três

AR GENTINA
Porto Barras Joinville

A T L Â N T I C O
União São
Irineópolis

E S T A D O
Palma Francisco
Sola São Bento do Sul
Dionísio Bela Vista
do Sul Schroeder
Cerqueira Jupiá do Toldo
São Major Itaiópolis
Guarujá do Campo
Lourenço Vieira Papanduva
Sul Erê São do Oeste
Bernardino Novo São Matos
Galvão Costa Rio Negrinho Corupá Balneário
Princesa Horizonte Domingos
São José Anchieta Abelardo Luz Barra
Jaraguá do Guaramirim Araquari
do Cedro do Sul
Rio dos Sul
Coronel Timbó
Santa Terezinha Saltinho Grande Cedros
Martins Calmon Monte
Guaraciaba do Progresso Santa São
Castelo Terezinha
Romelândia Irati João do
Barra Ipuaçu
Paraíso Passos Doutor Massaranduba Itaperiú Barra
Bonita Formosa Santiago

26°40'0"S
26°40'0"S

Tigrinhos Serra do Sul Maia Pedrinho Velha


do Sul
REPÚBLICA

Alta Bom Água


Bom Jesus Jardinópolis Ouro Vargeão
São Miguel Doce
Sul Jesus Verde Luiz
da Boa do Oeste
Brasil Pomerode Blumenau Alves
São Miguel Vista Entre Lebon Balneário
Flor do Macieira
do Oeste Rios Caçador Régis Vitor Piçarras
Sertão Maravilha União Quilombo
Modelo Benedito
Bandeirante do Oeste Meireles
Novo Timbó Penha
Descanso Pinhalzinho Marema
Ponte Navegantes
CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII
Belmonte Águas Lajeado Serrada Vargem Arroio Ilhota
Coronel Grande Rio das
Iraceminha Cunha Frias Bonita Salto Trinta
Nova Freitas Xanxerê Faxinal Antas Rio do
Porã Veloso José Rodeio
Santa Erechim dos Guedes Campo Witmarsum Gaspar
Saudades Boiteux
Helena Riqueza
Nova Lindóia Iomerê Itajaí Balneário
Iporã Caibi Dona Ascurra
Tunápolis Itaberaba Cordilheira Xaxim Xavantina Ipumirim do Sul Camboriú
do Oeste Cunhataí Treze Santa Emma
Alta Cecília Salete
Tílias Videira
São Pinheiro Ibirama Indaial
Carlos Arvoredo Ibicaré
São João Planalto Luzerna Preto Fraiburgo Presidente Apiúna
Águas de Alegre Irani Catanduvas Taió
do Oeste Getúlio
Palmitos Chapecó Camboriú
Mondaí Jaborá Tangará Itapema
Frei
Itapiranga Rogério Ponte Guabiruba
Guatambú Monte
Caxambu do Seara Arabutã Joaçaba Ibiam Alta do Mirim Laurentino
Chapecó Carlo Porto Bombinhas
Sul Norte Doce Rio do Lontras
Herval Canelinha Belo
Oeste Rio do Sul
d'Oeste Pouso Redondo Brusque
Paial Presidente Lacerdópolis Tijucas
Itá
Concórdia Castello São Botuverá
Ouro Erval
Branco Cristovão Presidente
Velho
Curitibanos do Sul Trombudo Nereu Nova
Peritiba São
Central Trento João
Alto Brunópolis Batista
Ipira Agronômica Aurora Vidal Governador
Bela Ramos Leoberto Celso
Ponte Braço do
Vista Vargem Leal Major Ramos
Capinzal Zortéa Alta Trombudo Biguaçu
Gercino
Atalanta Ituporanga
Piratuba Agrolândia
E S T A D O

27°30'0"S
27°30'0"S

Campos Antônio
D O
São José Imbuia
Novos do Cerrito Carlos
Abdon
Angelina
Batista Otacílio Chapadão
Costa do Lageado
R I
Palmeira
Petrolândia
Características gerais da população (1950-2050)

Características gerais da população (1950-2050)


São Pedro

O Celso
Ramos
Correia
Pinto
Rancho
Queimado
de Alcântara Florianópolis

Bocaina São José


do Sul
Santo
Anita Alfredo Águas Amaro da

G Garibaldi Bom Wagner Mornas Imperatriz


Retiro

R Cerro Campo Anitápolis


A Negro Belo

N
do Sul São Palhoça
Painel Bonifácio

D Rio

E Rufino

Urubici Santa Rosa


Paulo
de Lima
Lages Lopes
Urupema São Martinho Garopaba
Capão Rio
Fortuna
Alto

D São
Joaquim Grão Pará
Imbituba
Braço Imaruí

O
do Norte
Armazém

População Orleans

28°20'0"S
28°20'0"S

São
Ludgero Gravatal
Lauro
Bom Jardim
Urbana da Serra
Muller

N O
Treviso Capivari
Pedras
S
de Baixo
Rural
Grandes

U L
Urussanga
Tubarão Laguna
Treze
Siderópolis de Maio
Cocal

Total de Habitantes do Sul

E A
Morro da
Nova Fumaça Sangão
Veneza Jaguaruna
429.604 Morro Criciúma
Grande
Forquilhinha
Timbé

O C
236.000 do Sul Meleiro
Maracajá
Içara

Turvo
Araranguá
110.000

®
Ermo
Jacinto Balneário
Machado Arroio

50.000 Sombrio
do Silva

25.000 Praia
Grande
Santa
Rosa

29°10'0"S
29°10'0"S

do Sul Balneário
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010.
5.000
Gaivota Escala Gráfica

144 145
Elaboração: Guilherme Regis, Pedro Agripino Sagaz, São João 0 4,5 9 18 27 36
do Sul km
Gislene Daiana Martins, Thobias Furlanetti (SPG/SC).
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Organização: Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). Passo de
Torres

53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W


53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA P A R A N Á

SANTA CATARINA - POPULAÇÃO URBANA E RURAL Canoinhas Mafra


Campo
Alegre
Garuva
Itapoá

2010 D O
Três
Barras

AR GENTINA
Porto Joinville

A T L Â N T I C O
União
Irineópolis São

T A D O
São Bento
E S
Palma Francisco
do Sul Timbó
Dionísio Sola Bela Vista Schroeder do Sul
Grande
Cerqueira do Toldo Papanduva
Jupiá
São Itaiópolis
Guarujá Campo Major
Lourenço
do Sul Erê Vieira
do Oeste
São Matos
Novo Corupá
Princesa Galvão Domingos Costa Rio Negrinho
Horizonte Abelardo Luz Balneário
São José Anchieta Guaramirim Araquari
do Cedro São Barra
Jaraguá
Bernardino Timbó do Sul
do Sul
Coronel Grande Rio dos
Saltinho Martins Calmon Cedros
Santa Santa
Terezinha Terezinha São
Guaraciaba Romelândia do Progresso Irati Monte
Ipuaçu Passos João do
Paraíso Barra Formosa Santiago Maia Castelo Doutor Massaranduba Barra
Serra Itaperiú
Bonita Tigrinhos do Sul do Sul Pedrinho Velha
REPÚBLICA

26°40'0"S Alta Bom Água 26°40'0"S


São Miguel Jardinópolis Ouro Doce
Bom Jeus Jesus Vargeão
da Boa Sul Verde
do Oeste Blumenau Luiz
São Miguel Vista Brasil Balneário
Entre Alves
do Oeste Macieira Pomerode Piçarras
Flor do União Quilombo Rios Caçador Vitor
Sertão Maravilha Modelo do Oeste Benedito
Bandeirante Meireles
Novo Penha
Marema
Ponte
CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII
Belmonte Pinhalzinho Águas Lajeado Timbó
Faxinal Serrada Rio das Ilhota
Frias Coronel Grande Vargem Salto Arroio Rio do
Iraceminha Nova dos Antas José
Cunha Freitas Bonita Veloso Trinta Campo Gaspar
Erechim Xanxerê Guedes Lebon Boiteux Rodeio Navegantes
Santa Descanso Porã Witmarsum
Helena Riqueza Régis
Saudades Nova Iomerê
Ipumirim Lindóia Treze Dona Itajaí Balneário
Tunápolis Caibi Itaberaba Cordilheira Xaxim Xavantina Santa Salete Emma Ascurra
do Sul Tílias Camboriú
Iporã Cunhataí Alta Videira Cecília
do Oeste São Pinheiro Ibirama
Carlos Planalto Irani Catanduvas Preto Fraiburgo Presidente Indaial
São João Taió
Alegre Arvoredo Getúlio Apiúna
do Oeste Águas de Luzerna Ibicaré Rio do
Palmitos Chapecó Jaborá Tangará Itapema
Itapiranga Oeste
Mondaí Camboriú
Chapecó Frei Ponte Guabiruba
Caxambu Guatambu Arabutã Joaçaba Monte
Seara Ibiam Rogério Alta do Mirim
do Sul Carlo Norte
Herval Doce Porto Bombinhas
Rio do Lontras Belo
Paial Ouro d'Oeste Laurentino Canelinha
Presidente Sul
Castello Lacerdópolis Brusque
Itá Concórdia Erval Botuverá Tijucas
Branco São Pouso
Velho Redondo Presidente
Cristóvão Trombudo
Peritiba Curitibanos Nereu
do Sul Central
Aurora Nova
Alto Braço do Agronômica Trento
Brunópolis Vidal Governador
Bela Trombudo São João
Vista Ponte Ramos Celso
Ipira Vargem Batista
Alta Leoberto Biguaçu Ramos
Piratuba Capinzal Zortéa Leal Major
Atalanta
Gercino
Agrolândia Ituporanga

27°30'0"S
E S T A D O D O
Campos
Novos
São José
do Cerrito
Imbuia
Antônio
Carlos 27°30'0"S
Abdon Angelina
Batista Chapadão
Otacílio do Lageado

R I
Palmeira Costa Petrolândia
Características gerais da população (1950-2050)

Características gerais da população (1950-2050)


Rancho São Pedro de

O Celso
Ramos
Correia
Queimado Alcântara
Florianópolis
Pinto
São José

Anita
Garibaldi Bom Alfredo
G Bocaina
do Sul
Retiro Wagner Águas Santo
Amaro da
R
Mornas
Anitápolis Imperatriz
Cerro

A Negro

N
Campo São
Belo Bonifácio Paulo
Painel
D do Sul Lopes Palhoça
Rio
Rufino
E
Santa Rosa
Lages Urupema de Lima
Urubici Garopaba
Capão
Alto Rio
Fortuna São
Martinho

D São
Joaquim
Grão
Pará
Imbituba
Braço Imaruí

O
Armazém
do Norte

28°20'0"S
População Orleans

28°20'0"S
São Gravatal
Lauro Ludgero

Urbana
Bom Jardim
Müller
da Serra

N O
Treviso Capivari
Pedras de Baixo

Rural S Grandes

U L
Urussanga Tubarão
Tubarão Laguna

Siderópolis
Cocal

Total de Habitantes
Cocal
do Sul
do Sul

E A
Morro da Sangão
Nova Fumaça
515.288 Veneza Criciúma Jaguaruna
Morro
Grande
Forquilinhas
Timbé

O C
236.000 do Sul Meleiro
Içara
Maracajá
Turvo
Araranguá
110.000 Ermo

®
Jacinto Balneário
Machado Arroio do
50.000 Silva

Santa
25.000 Praia
Grande Rosa
do Sul
29°10'0"S Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010. Balneário 29°10'0"S
5.000
Escala Gráfica

146 147
Elaboração: Guilherme Regis, Pedro Agripino Sagaz, São João Gaivota 0 4,5 9 18 27 36
Gislene Daiana Martins, Thobias Furlanetti (SPG/SC). do Sul km
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Organização: Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). Passo de
Torres

53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W


P A R A N Á
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
ESTIMATIVA POPULAÇÃO 2019
Garuva
Itapoá
Campo
Alegre

D O Três Barras
Mafra

AR GENTINA Canoinhas
Joinville

A T L Â N T I C O
São
São
Irineópolis Francisco do

Dionísio E S T A D O Bento do
Sul
Sul

Cerqueira
Palma Porto União Schroeder
Guarujá Sola Jupiá
do Sul Major Vieira
Campo Rio Negrinho Corupá Balneário
Princesa São Lourenço Galvão Bela
Erê Itaiópolis Barra
do Oeste Vista Araquari do Sul
São José Papanduva Jaraguá Guaramirim
do Cedro São Novo Matos Costa do Toldo do Sul
Santa Bernardino Horizonte São
Coronel
Anchieta Terezinha Domingos Abelardo
Martins Calmon Timbó Grande
do Progresso Luz São
Saltinho Santa João do
Guaraciaba Monte Castelo Rio dos
Terezinha Itaperiú
Cedros
Paraíso Passos Doutor Massaranduba
Romelândia Tigrinhos Irati Formosa Santiago do Maia Barra
REPÚB LICA

Serra Pedrinho
São Alta Sul Ipuaçu Velha
Barra Sul do Sul Água Doce
Miguel da Entre Bom Ouro
Bom Jesus Brasil
São Miguel Bonita Boa Vista
do Oeste Jardinópolis Quilombo Rios Jesus Verde
Vargeão Pomerode Luiz Alves
do Oeste Macieira Caçador Vitor Balneário
Flor do Maravilha Modelo Meireles Piçarras
União Lebon Régis Benedito
Sertão
CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII
Bandeirante do Oeste José Boiteux Novo Timbó
Pinhalzinho Faxinal Penha
Marema Ponte Santa Cecília Rio do Campo Blumenau Navegantes
Iraceminha dos Guedes
Águas Serrada
Belmonte Cunha Coronel Xanxerê Vargem Salto Ilhota
Frias Lajeado Rio das
Porã Saudades Nova Freitas Bonita Veloso Arroio Rodeio
Grande Antas
Santa Descanso Erechim Trinta Witmarsum Gaspar
Riqueza Treze Balneário
Helena Nova
Cordilheira Xaxim Lindóia Tílias Salete Camboriú
Cunhataí Itaberaba Iomerê Ascurra Itajaí
Alta do Sul Dona Emma
Tunápolis Iporã do Videira Indaial
Oeste São Xavantina Irani Ibirama
Caibi Ipumirim Pinheiro Fraiburgo
Carlos Águas de Planalto Preto Presidente
Catanduvas
Chapecó Alegre Arvoredo Luzerna Taió Getúlio
Ibicaré Camboriú
São João Palmitos Guabiruba
Mondaí Guatambú Ponte Alta Itapema
Itapiranga do Oeste Caxambu Chapecó
Arabutã Jaborá
Apiúna
Seara Joaçaba Tangará do Norte
do Sul Frei Rogério Rio do Oeste Rio do Sul
Ibiam Brusque Porto
Herval Monte
d'Oeste Carlo Lontras Belo Bombinhas
Presidente Laurentino
Paial Mirim Doce
Castello Botuverá
Itá Concórdia Lacerdópolis Canelinha
Branco
São Tijucas
Ouro Erval Velho Pouso
Curitibanos Cristovão do Redondo Presidente
Brunópolis Trombudo
Sul Nereu Nova
Central Aurora Trento São João
Peritiba Ipira
Ponte Alta Braço do Batista Governador
Trombudo Agronômica Vidal Celso
Alto Bela Capinzal Campos Novos Ramos Leoberto Ramos
Vista Vargem Atalanta Leal
Piratuba Ituporanga Major Biguaçu
Agrolândia
E S T A D O Zortéa Gercino

D O
São Antônio
Otacílio Petrolândia Imbuia
José do Carlos
Cerrito Costa
Abdon Batista
Angelina

R I
Características gerais da população (1950-2050)

Características gerais da população (1950-2050)


Chapadão São Pedro São José Florianópolis
Palmeira

O
do Lageado de Alcântara

Correia Pinto
Celso Ramos
Bocaina Alfredo
Cerro do Sul Rancho
Bom Retiro Wagner
Negro Queimado
Campo Santo Amaro

G Anita
Garibaldi
Belo
do Sul
Águas da Imperatriz
Palhoça

R
Mornas

A Anitápolis

N Rio Rufino
São
D Painel Bonifácio

E Urupema Santa Rosa


de Lima
Paulo
Lopes
Lages
Capão Alto
Urubici
Rio Garopaba
Fortuna

Grão São

D Pará Martinho

Imbituba
Braço do
Imaruí

O
Norte Armazém
Bom
Orleans
São Joaquim Jardim
da Serra
São
Ludgero Gravatal
Lauro
Muller Pescaria

Total de Habitantes

N O
Brava
Capivari

Estimativa 2019 IBGE S Urussanga Pedras


Tubarão
de Baixo

U L
Treviso Grandes Laguna

Treze
590.466 Siderópolis Cocal
do Sul
de Maio

E A
Morro da
Morro Criciúma Sangão
Nova Fumaça
Grande Jaguaruna
Veneza

Içara
Timbé do Sul

236.000
Forquilhinha

O C
Balneário
Meleiro Rincão
Maracajá
Turvo

110.000 Araranguá

®
Jacinto
Ermo
Machado Balneário

50.000 Arroio do
Silva
Sombrio
Santa
Praia Rosa do
Grande Sul Balneário
Gaivota
1.260
Escala Gráfica
Fonte: IBGE - Estimativas de População 2019

148 149
São João 0 4,5 9 18 27 36
Elaboração: Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha do Sul km

(UDESC). Passo de
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°

Torres
Capítulo 8 | Características gerais da população (1950-2050)
Rosana Baeninger1
Pier Francesco De Maria2

Crescimento e Tabela 1 – População total, variação em relação ao censo anterior e taxa média anual de crescimento da
população, Santa Catarina (1950-2015).
distribuição espacial Ano 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 2015
da população População 1.560.502 2.146.909 2.901.660 3.628.292 4.541.994 5.357.864 6.248.436 6.839.000

A
Variação (%) - 37,6 35,2 25,0 25,2 18,0 16,6 9,5
dinâmica de crescimento da popu-
Crescimento
lação no estado de Santa Catarina, a (% a.a.)
- 3,2 3,1 2,3 2,1 1,7 1,5 1,8

partir dos anos 1950, está assentada


Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1950 a 2010 (tabelas 200 e 1209 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional

CAPÍTULO VIII
na importante ampliação e diversificação por Amostra de Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/
de sua base produtiva. Como analisa Alves CNPq-NEPO/UNICAMP).

(2008, p. 18) “a década de 1950 é um impor- Notas: Em 1950, os dados são da população presente; para os censos de 1960 a 1980, os dados são da população
recenseada; para os censos de 1991 em diante, dados da população residente. As datas de referência das entrevistas
tante marco de transformações nas estru- do Censo são: 01/07/1950; 01/09/1960; 01/09/1970; 01/09/1980; 01/09/1991; 01/08/2000; e 01/08/2010. Taxas de
turas socioeconômicas de Santa Catarina. crescimento calculadas pelo método geométrico. Os dados de 1970 a 2010 são da amostra.

No que se refere ao padrão de acumulação


da economia como um todo, pode-se sugerir A ampliação da base produtiva de Santa de seu ímpeto, afirmação corroborada
que a década de 1930 foi o marco de ascen- Catarina a partir dos anos 1960, com a pela queda das taxas de crescimento anual
dência de uma estrutura produtiva capita- expansão da indústria madeireira, a mine- geométrico da população rural do estado,
neada pelo capital industrial, superando ração do carvão, as indústrias cerâmicas, que no decorrer da década de 1950 se
o capital agrário-exportador dominante os complexos agroindústrias alimentares, situavam em torno de 2,06% ao ano e na
até então”. De fato, a dinâmica econômica de frigoríferos e processadoras, as ativi- década de 1960 caem para 1,05%”. De fato,
passou a imprimir, já nos anos 1950-1960, dades pecuárias, a indústria têxtil e as o ano de 1970 é o último que registrou um
novos contornos à evolução da população: indústrias de transformação – localizadas volume maior de população vivendo no
em 1950, a população catarinense era de em diferentes regiões do território esta- rural de Santa Catarina: 1,6 milhão contra

Características gerais da população (1950-2050)


1,5 milhão de habitantes, alcançando 2,1 dual – permitiu “um verdadeiro alarga- 1,2 milhão no urbano, ou seja, 57% da
milhões em 1960. Isto representou um mento da divisão social do trabalho neste população ainda estava no campo (Tabela
aumento relativo de 37% da população e estado” (Goulart Filho, 2002, p. 130 apud 2 e Gráfico 1). A partir de então, a dinâmica
uma taxa de crescimento de 3,2% a.a., a Alves, 2008, p. 27). Os reflexos desse dina- da população urbana se acentuou, alcan-
maior registrada nos últimos 60 anos no mismo se expressaram no aumento da çando 5,7 milhões em 2015.
estado de Santa Catarina, como se pode população, que chegou a quase 3 milhões
observar na Tabela 1. em 1970 e ainda registrando elevada taxa Assim, “no decorrer da década de 1970
de crescimento da população de 3,1% a.a. o sistema de integração entre as agroin-
entre 1960-1970. dústrias alimentares do Oeste e Meio
1
Graduada em Ciências Sociais (1984), Mestra em Oeste Catarinense e os pequenos agricul-
Sociologia (1992) e Doutora em Ciências Sociais (1999) Alves (2008, p. 29) analisa que “apesar tores ainda se encontrava em uma fase de
pela Universidade Estadual de Campinas. Professora da manutenção deste incremento elevado continua expansão. Deve-se ressaltar que é
Livre Docente (2012) na área de População e Ambiente, nesta década, a ocupação das fronteiras no decorrer desta década que as empresas
atualmente é pesquisadora do Núcleo de Estudos de agrícolas estaduais perdeu grande parcela alimentares de Santa Catarina conquistam
População e docente colaboradora do Departamento
de Demografia, do Programa de Pós-Graduação em
Tabela 2 – População total por sexo e situação do domicílio, Santa Catarina (1970-2018).
Demografia e do Programa de Pós-Graduação em
Censo Demográfico PNAD
Sociologia da Universidade Estadual de Campinas. Sexo Situação
1970 1980 1991 2000 2010 2015 2S/2018
Urbano 610.496 1.066.400 1.580.704 2.076.141 2.578.548 2.816.000
2
Graduado em Ciências Econômicas (2013), Homens 3.468.000
Rural 852.241 764.257 695.010 594.031 521.812 564.000
Mestre (2016) e Doutor (2018) em Demografia
pela Universidade Estadual de Campinas. Atua no Urbano 636.662 1.087.850 1.627.833 2.141.622 2.669.355 2.911.000
Mulheres 3.599.000
Laboratório de Urbanização e Mudanças no Uso e Rural 802.261 709.785 638.447 546.070 478.721 548.000
Cobertura da Terra e no Laboratório de Economia Urbano 1.247.158 2.154.250 3.208.537 4.217.763 5.247.903 5.727.000
e Gestão na Universidade Estadual de Campinas, Total 7.067.000
Rural 1.654.502 1.474.042 1.333.457 1.140.101 1.000.533 1.112.000
pesquisando o tema Pobreza e Desigualdade, com
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de
ênfase na análise de indicadores e medidas e na Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2º semestre de
aplicação de métodos quantitativos. 2018 (tabela 591 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 151


Fonte: Extraído de Atlas Geográfico de Santa Catarina (Santa Catarina, 1958).
os principais mercados do Brasil, como Rio estavam residindo no meio urbano, o que em 2010 e correspondendo a 84% dos 6,2 A partir dos anos 80 do século XX, a dinâ- em 2000, estavam situadas na costa lito- regiões em contraposição ao decréscimo
de Janeiro e São Paulo” (Alves, 2008, p. 32). correspondia a 59,4% do total da popu- milhões de habitantes de Santa Catarina mica dos diversos arranjos produtivos locais rânea, sendo também as que apresentavam das populações rurais. Nesse contexto,
Em 1980, a população catarinense era de 3,6 lação. Em 1991, a população urbana era de neste ano. A população rural catarinense – moveleiro, metal-mecânico, calçadista, maior concentração da população. o estado de Santa Catarina adentrou
milhões de pessoas, dos quais 2,1 milhões já 3,2 milhões, chegando a mais de 5 milhões ficou em torno de 1 milhão em 2010. vestuário, serviços – e a reestruturação pelo século XXI com uma base populacional
produtiva, desde os anos 1990 em diferentes Para 2010, há a ampliação da concentração urbana que, apesar da histórica concen-
Gráfico 1 – Distribuição da população total por situação do domicílio, Santa Catarina (1970-2015).
regiões do estado (Alves, 2008), contribu- da população no litoral, incluindo agora o tração na faixa litorânea, tende a se espraiar
100% íram para o espraiamento do processo de Vale do Itajaí dentre as regiões mais popu- por todo o seu território, em função das
urbanização de Santa Catarina. As micror- losas, porém a participação da população distintas dinâmicas econômico-regionais
90% 16,0% 16,3%
21,3% regiões mais urbanizadas de Santa Catarina, urbana cresceu em todas as demais micror- presentes no estado (Mapa 2).
29,4%
80% 40,6%

70% 57,0% Mapa 2 – População total por categorias de tamanho, distribuição por sexo e situação do domicílio, microrregiões de Santa Catarina (2000-2010).
CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII
60%

50%
84,0% 83,7%
78,7%
40% 70,6%
59,4%
30%
43,0%
20%

10%

0%
1970 1980 1991 2000 2010 2015

Urbano Rural

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE). Observatório das
Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Características gerais da população (1950-2050)

Características gerais da população (1950-2050)


A distribuição da população rural nas Mapa 1 – Distribuição relativa da população rural por microrregião, Santa Catarina (2010).
microrregiões de Santa Catarina, em
2010, aponta a pequena participação
deste contingente populacional no total
de suas populações bem como a hetero-
geneidade da alocação de populações
rural no Oeste Catarinense (Mapa 1).
Ainda que a heterogeneidade seja clara,
é possível notar que as maiores concen-
trações acontecem fora de microrregiões
mais povoadas, como a de Florianópolis.

Isto, de certa forma, nos mostra que a


maior participação da população rural
nas microrregiões em Santa Catarina é
um fenômeno inversamente relacionado
à presença de cidades de maior porte.
Microrregiões com municípios maiores
tendem tanto a concentrar a popu-
lação como a urbanizar seu entorno,
reduzindo (em maior ou menor grau)
a importância das áreas rurais. Entre os
7 municípios catarinenses com mais de
200 mil habitantes, apenas o de Chapecó
está localizado em uma microrregião
(homônima) onde se concentra mais de Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/ Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapa elaborado
CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapa elaborado por Pier Francesco De Maria. por Pier Francesco De Maria.
7,5% da população rural do estado.

152 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 153
Tais dinâmicas regionais Mapa 3 – Taxa média anual de crescimento da população por município, Santa Catarina (1991-2000). cípios com mais de 60% da população em taxas de crescimento (Mapas 3 e 4) e pela rápida urbanização no litoral e regiões limí-
resultam das situações demo- áreas urbanas em 2010. Inclusive, destaca- migração rural-urbana (Tabela 2 e Gráfico trofes é fruto da combinação de dois fatores:
gráficas municipais (Mapa 3). -se o aumento do número de municípios do 1) – diz respeito à maior urbanização do a migração (tanto inter como intramunicipal)
No período 1991-2000, as taxas Oeste Catarinense com mais de 80% de sua litoral. Como já pontuado, há, nos muni- rural-urbana; e a proliferação de oportuni-
de crescimento populacional população vivendo no urbano (Mapa 5). cípios costeiros, uma maior concentração dades nas áreas urbanas destes municípios.
dos municípios situados fora da populacional (fruto da migração em direção
faixa litorânea eram predomi- Outro fenômeno importante de ser desta- a estes lugares, mais industrializados e onde Apesar desse espraiamento urbano nos muni-
nantemente abaixo de 0,5% ao cado – de encontro com o ressaltado pelas há mais oportunidades). Com isto, a mais cípios catarinenses, a densidade demográfica
ano, com a presença de muitos
municípios com taxas de cres-
Mapa 5 – Grau de urbanização por município, Santa Catarina (2000-2010).
cimento negativo, em parti-
cular no Oeste Catarinense
CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII
(onde há a maior concentração
de municípios com cresci-
mento abaixo de -2,5% ao ano).
Ao longo da década de 1990,
novos municípios foram criados
no Oeste Catarinense e na
Mesorregião Serrana. Por sua
vez, a região nordeste do Litoral
(incluindo Florianópolis) teve
taxas de crescimento muito
altas, variando de 2,5 até 8,4%
ao ano. O acentuado processo Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 e 2000 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo
(Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapa elaborado por Pier Francesco De Maria.
de ocupação territorial urbano
trouxe um cenário bastante Nota: Municípios em branco não existiam à época do Censo de 1991.

distinto para o período 2000-


Características gerais da população (1950-2050)

Características gerais da população (1950-2050)


2010 em todos os municípios de
Santa Catarina, com a expressiva
diminuição no ritmo de cresci-
mento negativo das populações Mapa 4 – Taxa média anual de crescimento da população por município, Santa Catarina (2000-2010).
municipais (Mapa 4). Ainda
que as taxas negativas de cres-
cimento tenham sido menores
no decênio 2000-2010, é impor-
tante ressaltar a contínua
disparidade entre o interior
catarinense e o litoral (e suas
áreas de expansão para o centro
do estado). Neste período, ainda
que o crescimento de Florianó-
polis (e dos outros municípios
costeiros) tenha sido alto, outras
cidades do litoral e das áreas de
expansão tiveram taxas médias
de crescimento entre 2000 e
2010 superiores às registradas
no período 1991-2000.

É nesse novo cenário do processo


de urbanização em Santa Catarina
que o estado passa do predomínio
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapas elaborados
de municípios com grau de urbani- por Pier Francesco De Maria.
zação em torno de 40%, em 2000, Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo
Nota: O grau de urbanização foi calculado como sendo a razão entre a população recenseada em áreas urbanas (definidas pelas prefeituras de cada município) e a população total.
(Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapa elaborado por Pier Francesco De Maria.
para uma presença maior de muni-

154 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 155
é baixa em todo o estado, com até 50 Mapa 6 – Densidade demográfica por município, Santa Catarina (2010). número de filhos no total da população femi- baixos de fecundidade, foram as mulheres grupo 20 a 24 anos de idade e o grupo de
habitantes por km2 na maioria dos nina de 15 a 49 anos de idade em Santa Cata- de 25 a 29 anos que responderam pela 30 a 34 anos de idade apresentaram níveis
municípios, com exceção dos loca- rina. Em 2012 e 2016, com níveis bem mais concentração da fecundidade, sendo que o muito próximos de fecundidade (Gráfico 2).
lizados na Região Metropolitana de
Florianópolis e alguns do Vale do Gráfico 2 – Taxas específicas de fecundidade por grupo etário, Santa Catarina (1984-2016).
Itajaí, com densidades, em 2010, 0,20
por vezes superiores aos 500 hab/
0,18
km² (Mapa 6). Este resultado tende a
confirmar que, embora aconteça um 0,16
claro fenômeno de urbanização em 0,14
todo o estado, há – devido a fatores
0,12
econômicos e sociais – a concentração
CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII
da população no litoral catarinense, 0,10
mais desenvolvido e que, consequen- 0,08
temente, também se urbaniza mais
0,06
rápido e tem taxas de crescimento
expressivas até mesmo no século XXI. 0,04

0,02

0,00
Indicadores 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49
demográficos e
população por 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2012 2016

grupos de idade Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE e tabela 2.1 da Sinopse). Observatório das Migrações
em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapa elaborado por Pier Francesco De Maria. Fonte: FIBGE, Estatísticas do Registro Civil (tabelas 194 e 2609 do SIDRA/IBGE), DataSUS/MS e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Observatório das Migrações em São
Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
O processo de transição demográfica Nota: Para definições a respeito dos indicadores, ver RIPSA (2008). A taxa específica de fecundidade foi estimada por métodos diretos, por meio dos dados do Registro Civil (para os nasci-
dos vivos por grupo etário da mãe) e do DataSUS/MS (para a população por grupos etários).
no âmbito nacional, a partir de 1970, reprodutivo) e nas taxas de mortalidade (TBM, o Santa Catarina passou de 41,6 nascimentos por
Características gerais da população (1950-2050)

Características gerais da população (1950-2050)


é marcado pela diminuição nas taxas número de óbitos no total da população). A forte mil habitantes em 1970 (Ipardes, 1997) para 22,6
de fecundidade (TFT, o número médio queda na taxa de natalidade (TBN, o número de em 1991, sendo que em 2016 este valor chegou a A transição demográfica, processada em A mortalidade infantil é um indicador que As profundas alterações nos níveis e
de filhos por mulher ao fim do período nascimentos no total da população) no Estado de 13,8 nascimentos por mil habitantes (Tabela 3). Santa Catarina nos últimos cinquenta anos, reflete de maneira sintética as melhorias padrões da fecundidade, em particular, e
também teve forte participação da queda da das condições médico-sanitárias de uma da mortalidade verificadas em Santa Cata-
mortalidade infantil. Em 1930/1940, a taxa população, bem como contribui de maneira rina, ao longo dos últimos cinquenta anos,
Tabela 3 – Taxa de fecundidade total, taxas brutas de natalidade e mortalidade, taxa de mortalidade infantil e esperança de vida ao nascer, Santa Catarina de mortalidade infantil (que é o número de decisiva para o aumento da esperança têm impactos na dinâmica da estrutura
(1991-2016).
óbitos de menores de 1 ano de idade por mil de vida ao nascer. Nesse sentido, é de se por idade da população. Isto porque um
Indicador 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012 2016 nascidos vivos) no Estado de Santa Catarina ressaltar que, em 1930-1940, a esperança dos impactos da transição demográfica
TFT (filhos por mulher) 2,59 2,27 2,37 2,02 1,71 1,63 1,60 1,62 1,68 era de 123,35 e, para a Região Sul, de 131,06. de vida em Santa Catarina era de 51,08 são as mudanças no perfil demográfico da
TBN (por mil) 22,6 20,7 19,7 17,5 15,3 14,5 14,1 13,9 13,8 Em 1960/1970, para ambas as áreas, a taxa anos de idade e, na Região Sul, de 49,19. população. A composição da população
TBM (por mil) 4,9 5,3 5,5 5,3 5,3 5,1 5,5 5,6 5,8 de mortalidade infantil passou a ser de 88,1 Em 1960/1970, em ambas as áreas, a espe- por grandes grupos de idade (0 a 14 anos,
óbitos infantis por mil nascidos vivos (Ipardes, rança de vida passou a ser de 60 anos. Já 15 a 59 anos e 60 anos e mais de idade)
TMI (por mil) 33,6 26,8 21,4 17,1 15,0 12,9 11,9 10,8 8,7
1997). Em 1991, a taxa de mortalidade infantil em 1991 e em 2016, a esperança de vida possibilita acompanhar as transformações
Esperança de vida (anos) 70,8 71,7 72,6 72,1 73,7 75,2 76,5 77,7 77,8
baixou para 33,6 e, em 2016, alcançou a marca em Santa Catarina alcançou 70,8 e 77,8 na estrutura etária da população de Santa
Fonte: FIBGE, Estatísticas do Registro Civil (tabelas 194 e 2609 do SIDRA/IBGE), DataSUS/MS, Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), Sistema de Informações sobre de 8,7 óbitos infantis por mil nascidos vivos. anos, respectivamente. Catarina (Tabela 4).
Mortalidade (SIM) e Projeções da População, Revisão 2018 (IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Notas: Para definições a respeito dos indicadores, ver RIPSA (2008). A taxa de fecundidade total foi estimada por métodos diretos, por meio dos dados do Registro Civil (para os Tabela 4 – Proporção de pessoas por sexo, segundo grandes grupos etários, Santa Catarina (1970-2015).
nascidos vivos) e do DataSUS/MS (para a população por grupos etários).
Homens Mulheres
Ano Urbano Rural Urbano Rural
O estado de Santa Catarina regis- em 1980 – quando a taxa de fecundidade das em 2000, a taxa de fecundidade era de 2,02 0-14 15-59 60+ 0-14 15-59 60+ 0-14 15-59 60+ 0-14 15-59 60+
trava, em 1960, uma taxa de fecun- mulheres urbanas era de 3,4 filhos por mulher e filhos por mulher, baixando para 1,62 filhos 1970 43,0 52,4 4,6 46,9 48,8 4,3 40,7 54,1 5,2 47,9 47,9 4,2
didade de 7,3 filhos por mulher. a taxa de fecundidade das mulheres no rural de por mulher em 2012. É de se destacar que
1980 36,4 58,5 5,0 40,0 54,5 5,5 35,0 59,1 5,9 41,1 53,5 5,4
Em 1970, houve um decréscimo 4,62 filhos por mulher – e em 1996 já estavam a evolução do nível e do padrão da fecundi-
1991 33,6 60,5 5,9 33,8 59,1 7,0 31,6 61,2 7,2 34,9 57,7 7,5
para 6,3 filhos por mulher, sendo muito próximas: 2,45 filhos por mulher no urbano dade das mulheres catarinenses, no período
que no meio urbano a taxa de 2000 28,7 64,5 6,8 29,1 61,9 9,0 26,9 64,6 8,5 30,0 60,1 9,9
e 2,55 filhos por mulher no rural (Ipardes, 1997). 1984-2012, apresenta, concomitantemente,
fecundidade era de 5,03 filhos uma queda acentuada no nível de fecundi- 2010 22,4 68,7 8,9 22,6 65,2 12,2 20,8 68,0 11,2 23,2 63,6 13,2

por mulher e no rural de 7,42. A partir dos anos 2000, o estado já apresenta uma dade e um movimento de postergação na 2015 19,7 67,5 12,9 13,7 67,3 19,0 17,1 66,9 16,0 20,3 60,3 19,4
Os diferenciais de fecundidade taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição idade para ter filhos. Em 1984, as mulheres Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE). Observatório das
entre urbano e rural diminuíram populacional (que é de 2,1 filhos por mulher): de 20 a 24 anos respondiam pelo maior Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).

156 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 157
A diminuição da fecundidade (número de A diminuição no número de filhos por mulher de dependência jovem era de 89,2, chegando A razão de sexos (número de homens para Gráfico 4 – Razão de sexos por grupos etários quinquenais, Santa Catarina (1980-2010).
filhos por mulher) tem reflexos na distri- alterou consideravelmente a estrutura etária a 27,2 em 2015. Em contrapartida, a razão de cada 100 mulheres) ilustra a cada vez maior
buição relativa da população por grupos de da população. Para se ter uma ideia da inten- dependência idosa passou de 9,0, em 1970, predominância de mulheres nas idades mais 110,0

idade. Assim, em 1970, o grupo de homens sidade desta transformação, em 1970, a razão para 22,8 em 2015 (Tabela 5). avançadas em Santa Catarina (Gráfico 4).
jovens residindo no urbano representava Acompanhando a evolução da razão de sexos, 100,0
43,0% do total da população de homens Tabela 5 – Razões de dependência jovem, idosa e total, Santa Catarina (1970-2015). pode-se observar que, em 1980, o número de
nestas áreas de Santa Catarina, diminuindo 1970 1980 1991 2000 2010 2015 mulheres ultrapassava o de homens (isto é, a 90,0
sua participação para 20,0% em 2014. O Razão de Dependência Jovem 89,2 66,2 55,0 44,2 32,2 27,2
linha do gráfico fica abaixo de 100) somente
grupo de mulheres jovens no urbano repre- em torno dos 55 anos de idade; ou seja, o
Razão de Dependência Idosa 9,0 9,6 11,2 12,6 15,5 22,8 80,0
sentava 40,7% em 1970, dimunuindo para fenômeno estava associado, realmente, à
Razão de Dependência Total 98,2 75,8 66,3 56,8 47,7 50,0
17,1% em 2015. Em contrapartida a esta maior esperança de vida das mulheres.
perda de participação do grupo jovem, Fonte: – FIBGE, Censos Demográficos de 1970 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra 70,0
de Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/
CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII
aumentam os pesos relativos dos grupos UNICAMP). Nas décadas seguintes, as linhas começam
etários da população em idade ativa (15-59 Notas: Considera-se, para o cálculo das razões de dependência, a população jovem como aquela com menos de 15 a ficar abaixo de 100 em idades mais jovens, 60,0
anos) e da população idosa (60 anos e mais). anos, enquanto a população idosa é aquela que tem 60 anos ou mais. indicando a existência de duas possibilidades:
1) ou uma seletividade migratória que leva
50,0
Em 1970, a população de homens no urbano Ou seja, a transição demográfica traz, de dimuição da base da pirâmide, que corres- para fora mais homens (ou traz para o estado 0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 80+
em idade ativa representava 52,4% de toda um lado, a diminuição relativa da popu- ponde ao grupo de 0 a 4 anos de idade, o mais mulheres); 2) ou uma expressiva sobre-
a população urbana de homens catarinenses, lação jovem, aumentando o grupo adulto e aumento da população em idade ativa e mortalidade masculina nas idades jovens e 1980 1991 2000 2010
chegando a 67,5% em 2015. No caso das idoso ao longo das décadas. Assim, a “janela o forte envelhecimento populacional, em jovens-adultas (15-29 anos) e permanecendo Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1980 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São
mulheres no urbano de 15 a 59 anos, esta de oportunidades” que a nova estrutura especial na pirâmide de 2010. Nota-se a a maior esperança de vida da população femi- Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
participação era de 54,1% em 1970, chegando de idade da população oferece se pauta: na mudança no formato das pirâmides, que nina em idades mais avançadas. Notas: Dos dados do censo de 1980, foram excluídas as pessoas de ambos os sexos cuja idade era ignorada. A razão de
sexo é calculada como a relação entre o total de homens e o total de mulheres, em cada grupo etário e ano, multiplicada
a 66,9% em 2015. O novo perfil demográfico da possibilidade de ampliar as políticas sociais, impacta no envelhecimento relativo da por 100. Valores acima de 100 indicam que há mais homens do que mulheres, enquanto valores abaixo de 100 represen-
população catarinense demonstrou a impor- em especial a qualidade da educação para os população, embora, no atual momento da tam a situação inversa.
tância do envelhecimento populacional tanto grupos jovens; dar empregabilidade para a conjuntura demográfica de Santa Catarina,
Projeções populacionais
no meio urbano quanto no rural, para homens população em idade ativa; e, se preparar para esteja aumentando o volume da população (2015-2050)
Tabela 6 – Indicadores sociodemográficos selecionados, Santa Catarina (2015-2050).
e mulheres. Contudo, há especificidades na o desafio de uma população idosa crescente. entre 15 e 59 anos, tanto para homens
Características gerais da população (1950-2050)

Características gerais da população (1950-2050)


2015 2020 2025 2030 2040 2050
composição por sexo e distribuição da popu- como para mulheres, seja no urbano, seja As projeções de população para o Estado de
População masculina 3.375.630 3.598.115 3.799.183 3.969.248 4.222.347 4.380.284
lação com mais de 60 anos de idade. Para os As pirâmides etárias ilustram o novo perfil no rural. Este, portanto, é o momento da Santa Catarina, de 2015 a 2030, indicam que
População feminina 3.426.676 3.654.387 3.861.930 4.040.232 4.312.957 4.487.430
homens idosos urbanos, a participação dessa demográfico da população de Santa Cata- “janela de oportunidades” do Estado de a poulação estadual chegará a 7,2 milhões
população no conjunto era de 4,6% em 1970 rina de 1980 a 2010, indicando desde a Santa Catarina (Gráfico 3). em 2020 e pouco mais de 8 milhões em 2030 População total 6.802.306 7.252.502 7.661.113 8.009.480 8.535.304 8.867.714

e de 12,9% em 2015; no rural, estas partici- (Tabela 6). A taxa de crescimento da população Crescimento médio anual (%) 1,37 1,22 1,02 0,81 0,51 0,28
pações eram de 4,3% em 1970 e de 19,0% em passará de 1,44% ao ano entre 2010-2015, Taxa bruta de mortalidade (‰) 5,13 5,34 5,72 6,30 7,91 9,73
Gráfico 3 – Distribuição relativa (%) da população por sexo, grupos etários quinquenais e situação do
2015. As mulheres idosas urbanas represen- para 0,92% ao ano entre 2025 e 2030, apon-
domicílio, Santa Catarina (1980-2010). Taxa bruta de natalidade (‰) 14,40 13,46 12,31 11,30 10,17 9,86
tavam 5,2% em 1970 e 15,0%, em 2015; no tando para a tendência de continuidade da
Ano: 1980 Ano: 1991 Taxa de fecundidade total 1,74 1,74 1,73 1,72 1,71 1,69
rural eram 4,2% e 19,4%, respectivamente. 80 ou + 80 ou + diminuição nas taxas de fecundidade. De fato,
75 a 79 75 a 79
Taxa de mortalidade infantil (‰) 9,49 8,11 7,00 6,12 4,86 4,08
70 a 74
65 a 69
70 a 74
65 a 69
se estima que de 1,55 filhos por mulher em
Num primeiro momento, a queda da fecun- 2015 se chegue a 1,45 em 2030. A esperança Esperança de vida ao nascer (anos) 78,74 80,21 81,37 82,26 83,46 84,12
60 a 64 60 a 64
55 a 59 55 a 59
50 a 54 50 a 54

didade atingiu as áreas urbanas e, por esta 45 a 49


40 a 44
45 a 49
40 a 44
de vida ao nascer chegará a 79,1 anos para os Esperança - Homens (anos) 75,44 76,96 78,17 79,11 80,39 81,13
razão, a proporção de idosos na população homens e 85,4 anos para as mulheres em 2030.
35 a 39 35 a 39
30 a 34
25 a 29
30 a 34
25 a 29
Esperança - Mulheres (anos) 82,10 83,49 84,59 85,43 86,57 87,22
era baixa tanto para os homens quanto para 20 a 24
15 a 19
20 a 24
15 a 19 A mortalidade infantil está projetada para 6,3 Razão de dependência - Jovens 27,70 27,31 27,50 27,05 24,63 24,29
10 a 14 10 a 14

as mulheres. A partir dos anos 2000, quando 5a9 5a9


óbitos infantis para cada mil nascidos vivos.
0a4 0a4
Razão de dependência - Idosos 11,64 14,49 18,07 22,34 29,50 37,61
as diferenças na fecundidade rural e urbana 7,0 5,0

Urbano - Homens
3,0 1,0

Urbano - Mulheres
1,0

Rural - Homens
3,0

Rural - Mulheres
5,0 7,0 7,0 5,0

Urbano - Homens
3,0 1,0

Urbano - Mulheres
1,0

Rural - Homens
3,0

Rural - Mulheres
5,0 7,0

Razão de dependência – Total 39,33 41,80 45,57 49,40 54,13 61,90


não são tão gritantes, nota-se um incremento Ano: 2000 Ano: 2010 Com este contínuo crescer da esperança de
na participação de idosos, com algumas 80 ou + 80 ou +
vida associado à queda consistente da fecun- Índice de envelhecimento 42,21 52,85 65,61 82,87 119,38 154,67
75 a 79 75 a 79
70 a 74 70 a 74

especificidades. Para os homens no rural, 65 a 69


60 a 64
65 a 69
60 a 64
didade, as projeções a respeito da razão de Fonte: FIBGE, Projeções da população do Brasil e por Unidades da Federação. Observatório das Migrações em São Paulo
(Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
a proporção de idosos é bem mais elevada 55 a 59
50 a 54
55 a 59
50 a 54 dependência mostram que (considerando a
Notas: Dados coletados em 10/10/2018 em http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html.
45 a 49 45 a 49

que no urbano, em função da imigração, que 40 a 44


35 a 39
40 a 44
35 a 39
população idosa como aquela acima de 65
chega no urbano e rejuvenesce a população, e anos) se terá um aumento nesta razão a partir
30 a 34 30 a 34
25 a 29 25 a 29
20 a 24 20 a 24

também da emigração dos jovens do campo, 15 a 19


10 a 14
15 a 19
10 a 14
do quinquênio 2020-2025. Este aumento A população jovem (0-14 anos) conti- quanto para mulheres, deverá aumentar e
nuará diminuindo sua participação relativa,
5a9
ficando os contingentes idosos. No caso das se deve ao grande crescimento na razão de representar cerca de 30% da população total
5a9
0a4 0a4

7,0 5,0 3,0 1,0 1,0 3,0 5,0 7,0 7,0 5,0 3,0 1,0 1,0 3,0 5,0 7,0

mulheres, além desses dois fatores, há ainda Urbano - Homens Urbano - Mulheres Rural - Homens Rural - Mulheres Urbano - Homens Urbano - Mulheres Rural - Homens Rural - Mulheres dependência de idosos (de 11,2 em 2015 para passando a responder por apenas 17-19% da já a partir de 2015. O grupo acima de 65 anos
a maior esperança de vida para as mulheres 21,3 em 2030), resultando em um índice de população catarinense em 2030. Em contra- de idade corresponderá a 21% dos homens e a
e, portanto, maior participação de mulheres Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1980 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São envelhecimento mais de duas vezes maior em partida, a população em idade ativa, em espe- 26% das mulheres em Santa Catarina até o fim
idosas tanto no urbano quanto no rural. Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). 2030 em relação a 2015. cial o grupo de 30 a 49 anos, tanto para homens do período de projeção (Tabela 7).

158 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 159
REFERÊNCIAS
Como se nota, no horizonte de projeção despontar como futuro segundo grupo em expressivo de pessoas se tornará idosa em
2015-2050, ainda se espera o crescimento termos de importância – para homens e 15 anos. Estes indicadores apontam para
de partes da população em idade ativa, mulheres. Ainda que as projeções indiquem mudanças substanciais na composição
ainda que os jovens adultos (15-29 anos) que a população em idade ativa (15 a 64 etária da população de Santa Catarina, refle-
já apresentem uma queda expressiva e os anos) se manterá estável, é preciso, deste tindo novos desafios e a necessidade de
ALVES, Pedro Assumpção. Deslocamentos
adultos idosos (50-64 anos) já comecem a modo, levar em conta que um contingente políticas específicas.
Espaciais da População e Dinâmica
Tabela 7 – Distribuição relativa (%) da população por sexo e grandes grupos etários, Santa Catarina (2015-2050). Econômica no Estado de Santa Catarina:
Sexo e grandes grupos etários 2015 2020 2025 2030 2040 2050 Urbanização, Migração e Metropolização
0 a 14 anos 20,5 19,8 19,5 18,7 16,5 15,5 – 1950/2000. 2008. 213 f. Dissertação
(Mestrado em Demografia) – Programa
15 a 29 anos 25,7 23,0 20,5 18,8 18,7 17,6
Homens

de Pós-Graduação em Demografia,
30 a 49 anos 30,7 31,2 31,6 31,2 27,3 25,2
Universidade Estadual de Campinas,
CAPÍTULO VIII

CAPÍTULO VIII
50 a 64 anos 15,8 16,9 17,5 17,9 20,4 20,8 Campinas, 2008.
65 anos ou mais 7,4 9,1 11,0 13,3 17,1 20,9
IPARDES (Instituto Paranaense de
0 a 14 anos 19,3 18,7 18,3 17,5 15,5 14,5
Desenvolvimento Econômico e Social).
15 a 29 anos 24,5 21,8 19,3 17,7 17,5 16,4 Dinâmica Demográfica da Região Sul:
Mulheres

30 a 49 anos 30,3 30,4 30,4 29,8 25,7 23,4 Anos 70 e 80. Curitiba: IPARDES, 1997.
50 a 64 anos 16,6 17,8 18,2 18,4 20,1 20,2
RIPSA (Rede Interagencial de Informação
65 anos ou mais 9,3 11,4 13,8 16,6 21,2 25,5
para a Saúde). Indicadores Básicos para a
Fonte: FIBGE, Projeções da população do Brasil e por Unidades da Federação. Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2
Notas: Dados coletados em 10/10/2018 em http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da
Saúde, 2008.
As pirâmides etárias projetadas (Gráfico lação de Santa Catarina para os próximos veitamento do aumento da população em
5) ilustram a mudança na composição da quinze anos do século 21. O estreitamento idade ativa; (2) a melhora da infraestrutura
população catarinense, que amplia a parti- da base e o consequente alargamento do associada a grupos populacionais em queda
Características gerais da população (1950-2050)

Características gerais da população (1950-2050)


cipação dos grupos etários adultos e idosos topo mostram que os desafios para o estado (crianças); e (3) a organização da infraestru-
e demonstra o perfil demográfico da popu- nos próximos 15-20 anos são: (1) o apro- tura para atender grupos crescentes (idosos).

Gráfico 5 – Projeção da distribuição relativa (%) da população por sexo e grupos etários quinquenais, Santa Catarina (2015-2050).

Ano: 2015 Ano: 2020 Ano: 2025


90+ 90+ 90+
85-89 85-89 85-89
80-84 80-84 80-84
75-79 75-79 75-79
70-74 70-74 70-74
65-69 65-69 65-69
60-64 60-64 60-64
55-59 55-59 55-59
50-54 50-54 50-54
45-49 45-49 45-49
40-44 40-44 40-44
35-39 35-39 35-39
30-34 30-34 30-34
25-29 25-29 25-29
20-24 20-24 20-24
15-19 15-19 15-19
10-14 10-14 10-14
5-9 5-9 5-9
0-4 0-4 0-4
5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

Ano: 2030 Ano: 2040 Ano: 2050


90+ 90+ 90+
85-89 85-89 85-89
80-84 80-84 80-84
75-79 75-79 75-79
70-74 70-74 70-74
65-69 65-69 65-69
60-64 60-64 60-64
55-59 55-59 55-59
50-54 50-54 50-54
45-49 45-49 45-49
40-44 40-44 40-44
35-39 35-39 35-39
30-34 30-34 30-34
25-29 25-29 25-29
20-24 20-24 20-24
15-19 15-19 15-19
10-14 10-14 10-14
5-9 5-9 5-9
0-4 0-4 0-4
5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

Fonte: FIBGE, Projeções da população do Brasil e por Unidades da Federação. Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Notas: Dados coletados em 10/10/2018 em http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html.

160 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 161
® Detalhe de fotografia de Giselli Ventura de Jesus.
Capítulo IX
Perfil Socio-
demográfico
e Econômico
da População
(1991-2015)

Estudantes entrando na escola, muncípio de Imbuia (2018).


®Detalhe de fotografia de Isa de Oliveira Rocha (2018).
Capítulo 9 | Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)
Pier Francesco De Maria1
Rosana Baeninger2

T
endo em vista a análise realizada, Considerando a urbanização de Santa Cata- aumento é devido, como os dados da Tabela 1
no capítulo anterior, a respeito das rina, o envelhecimento de sua população e o esclarecem, a uma combinação de fatores. De
características gerais da população crescimento de áreas específicas do estado um lado, a participação das mulheres cresceu
catarinense, sua evolução nos últimos 60 (resultando em adensamento populacional), em todas as idades, apontando para sua
anos e as projeções até 2050, é preciso é importante analisar a evolução de variá- maior e crescente participação no mercado
avaliar também como as características veis sociodemográficas e econômicas para
de trabalho. De outro lado, os homens jovens,
desta população mudaram no tempo. É detalhar as características destas mudanças
ao ficarem por mais tempo na escola, deixam
preciso ressaltar que não apenas de idade, que ocorreram desde os anos 1960. Para tal,
de estar na população ativa.
este capítulo aborda os seguintes elementos

CAPÍTULO IX
sexo e situação censitária é feita uma análise
demográfica. Elementos como raça/cor, sociodemográficos e econômicos: ocupação
religião, escolaridade, ocupação e pendula- e renda; nível de escolaridade e analfabe- Embora seja cada vez maior a partici-
tismo; distribuição por raça/cor e religião; pação feminina no mercado de trabalho,
ridade também perfazem o universo socio-
nupcialidade e família; e pendularidade. é possível notar que ainda se mantêm
demográfico e devem ser levadas em conta
Abordando estes temas, espera-se detalhar diferenciais significativos entre homens
em uma análise mais profunda sobre a
a contento as principais mudanças pelas e mulheres. A discrepância é maior entre
população catarinense.
quais passou, nas últimas décadas, a popu-
os adultos e os idosos (registrando uma
lação catarinense.
diferença de, em média, 20 pontos percen-
À medida que a população envelhece e se
tuais), ainda que, entre 1991 e 2015, as
muda para as cidades, é preciso associar
estes processos a outros concomitantes, Características taxas gerais de atividade por sexo tenham
tais como: a maior escolarização; a evolução econômicas e mostrado uma tendência convergente.
das taxas de participação no mercado de ocupacionais Esta divergência é mais sentida entre

Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)


trabalho; e a mudança no perfil da nupcia- os idosos, já que o ritmo de crescimento
lidade e de composição das famílias. Todos da taxa de atividade nas mulheres deste
Um primeiro aspecto importante a ser discu-
estes elementos precedem e sucedem à tido diz respeito à evolução das taxas de ativi- grupo é mais lento em termos absolutos.
transição demográfica stricto sensu, sendo dade da população. De modo geral, é possível Entre 1991 e 2015, a participação de
assim peças de um processo dialético e observar um aumento na taxa de atividade mulheres idosas aumentou 5-8 pontos
multifacetado de transição, desenvolvi- geral – isto é, quando não desagregamos por percentuais, contra crescimento de 25-27
mento regional e crescimento econômico. sexo – no período 1991-2015. Todavia, este pontos entre as adultas.

1
Graduado em Ciências Econômicas (2013), Tabela 1 – Taxa de atividade (%) geral e por grandes grupos etários, população de 15 anos ou mais,
Mestre (2016) e Doutor (2018) em Demografia Santa Catarina (1991-2015).
pela Universidade Estadual de Campinas. Atua no Homens Mulheres
Laboratório de Urbanização e Mudanças no Uso e 1991 2000 2010 2015 1991 2000 2010 2015
Cobertura da Terra e no Laboratório de Economia Jovens (15-29) 86,4 84,0 81,4 76,5 49,5 63,5 70,9 67,2
e Gestão na Universidade Estadual de Campinas,
Adultos (30-59) 91,7 89,8 89,2 89,8 43,2 59,4 70,7 68,7
pesquisando o tema Pobreza e Desigualdade, com
Idosos (60+) 35,5 33,3 39,1 32,8 9,3 10,3 18,6 14,3
ênfase na análise de indicadores e medidas e na
aplicação de métodos quantitativos. Geral (15+) 84,1 81,8 80,3 76,2 42,2 55,0 63,2 57,4

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 (tabela 616 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra
2
Graduada em Ciências Sociais (1984), Mestra em de Domicílios 2015 (tabela 4021 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/
UNICAMP).
Sociologia (1992) e Doutora em Ciências Sociais (1999)
Notas: A taxa de atividade foi calculada como sendo a razão entre a população economicamente ativa e a soma da
pela Universidade Estadual de Campinas. Professora população ativa e não-ativa em determinado ano.
Livre Docente (2012) na área de População e Ambiente,
atualmente é pesquisadora do Núcleo de Estudos de
População e docente colaboradora do Departamento Um segundo ponto a ser analisado diz posição na ocupação, isto nos permite
de Demografia, do Programa de Pós-Graduação em respeito à distribuição da população avaliar a proporção de empregados com
Demografia e do Programa de Pós-Graduação em ocupada por posição na ocupação e por carteira assinada e a evolução da população
Sociologia da Universidade Estadual de Campinas. condição de atividade. No que tange a que trabalham por conta própria. Estes

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 165


Estudantes universitários da UDESC em Florianópolis (2018).
dados estão resumidos no Gráfico 1, no qual Gráfico 1 – Distribuição da população de 10 anos ou mais ocupada na semana de referência, por da população catarinense a partir de 2000. Gráfico 2 – Razão (%) de rendimento médio das mulheres em relação ao dos homens, segundo
fica perceptível tanto o avanço na proporção posição na ocupação e categoria do emprego no trabalho principal, Santa Catarina (2000-2010). Uma primeira análise possível diz respeito população analisada e situação do domicílio, Santa Catarina (2001-2015).
de empregados (em cinza), como o cres- ao estudo da evolução da razão do rendi- 80,0
cimento, entre estes, dos que têm carteira 63% mento médio da mulher frente ao homem,
assinada. Por outro lado, se nota a estabi- de modo a estudar os diferenciais de gênero 70,0
lidade na proporção de ocupados que se existentes. Em seguida, será possível avaliar
declaram trabalhadores por conta própria a mesma variável (rendimento médio) para 60,0
24% 43%
(autônomos): cerca de ¼. classes simples de percentual, em ordem
50,0
crescente de rendimento, como uma forma
Como se pôde notar dos gráficos, as prin- Ano 2000 4%
de análise da desigualdade. 40,0
cipais posições são de empregados com 4%
2% 16%
carteira assinada, ocupados por conta Por meio dos dados da PNAD (Gráfico 2), 30,0
própria e empregados sem carteira assi- 7% se observa que as mulheres são muito mais
20,0
CAPÍTULO IX

CAPÍTULO IX
nada. Todavia, este perfil genérico sofre desfavorecidas nas áreas rurais – nas quais
a influência de efeitos de composição considerar só a PEA ou a população total faz
10,0
causados por variáveis como sexo e situ- 70% pouca ou nenhuma diferença. Por sua vez,
ação do domicílio. Os dados concernentes a situação nas áreas urbanas é menos pior, 0,0
ao Censo Demográfico de 2010 permitem ainda que, quando se analisa a população 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015

fazer uma análise mais aprofundada – utili- 54% total (e não só a PEA), a razão é sensivel- Áreas urbanas - PEA Áreas urbanas - Total Áreas rurais - PEA Áreas rurais - Total
22%
zando variáveis complementares como mente inferior. Isto nos indica que, quando
sexo, idade e situação do domicílio – da adicionamos a população economicamente Fonte: FIBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2001 a 2014 (tabelas 1860 e 1867 do SIDRA/IBGE).
Ano 2010 Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
distribuição da população por posição na não-ativa, de ambos os sexos das áreas
ocupação, como mostram os resultados 4% urbanas, as mulheres deste grupo ganham Notas: A população total inclui os economicamente ativos e os economicamente não-ativos.
3%
expostos na Tabela 2. 3% muito abaixo dos homens. No período 2001-
2014, se observa maior aumento da razão
Gráfico 3 – Razão entre o rendimento nominal médio mensal de cada decil e o correspondente do
De maneira geral, a proporção de empre- 12% nas áreas rurais, enquanto se verifica estag- último decil, por sexo e ano, Santa Catarina (2000-2010).
2%
gados com carteira assinada decai de forma nação – no período 2001-2007 – nas áreas
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)

Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)


sensível com o aumentar da idade, especial- urbanas, com posterior oscilação (ainda que 45,0

mente nas áreas rurais. Nas áreas urbanas, Não remunerados Auto-consumo Empregadores Conta própria com elevação).
40,0
até os 64 anos de idade, mais da metade da
Carteira assinada Militares e estatutários Sem carteira assinada
população ocupada tem registro em carteira. Por sua vez, recorrendo aos dados dos 35,0
Já nas áreas rurais, a principal posição é últimos dois Censos, é possível avaliar tanto
de trabalhadores por conta própria (autô- Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 2031 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São a evolução da desigualdade de renda como 30,0
nomos); especificamente entre os idosos no Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). dos diferenciais de gênero. Em primeiro
Notas: A categoria “Carteira assinada” inclui os trabalhadores domésticos. A categoria “Sem carteira assinada” inclui os 25,0
rural, há uma proporção expressiva (mais lugar, avaliando a progressão da desigual-
aprendizes ou estagiários sem remuneração.
de ⅓) de trabalhadores na produção para dade intragrupo (ou seja, entre homens e
20,0
próprio consumo. entre mulheres), o rendimento nominal,
em 2010, dos decis inferiores representava 15,0
Outra distinção importante a ser ressal- Tabela 2 – Distribuição (%) da população de 15 anos ou mais, ocupada na semana de referência, por uma proporção maior do decil mais rico
posição na ocupação, situação do domicílio, sexo e grandes grupos etários, Santa Catarina (2010).
tada diz respeito aos diferenciais por sexo. em comparação a 2010. Ademais, ainda no 10,0
Áreas urbanas Áreas rurais
Por um lado, a propoção de ocupados com Gráfico 3, se nota que a desigualdade de renda
Posição na 5,0
carteira é similar, entre homens e mulheres, Homens Mulheres Homens Mulheres entre as mulheres é menor do que entre os
ocupação
até os 64 anos de idade, tanto nas áreas 15-29 30-64 65+ 15-29 30-64 65+ 15-29 30-64 65+ 15-29 30-64 65+ homens – resultado facilmente averiguável a 0,0
urbanas como nas rurais. Por outro lado, Com carteira 70,1 55,1 20,5 70,6 55,4 17,5 44,6 26,7 4,1 42,9 22,2 2,9 partir do índice de Gini para cada ano e sexo. 1º decil 2º decil 3º decil 4º decil 5º decil 6º decil 7º decil 8º decil 9º decil

há diferenças relevantes nas proporções de Sem carteira 12,9 7,5 11,2 15,0 13,1 17,0 13,2 9,2 5,9 15,0 11,2 8,4
2000 - Homens 2000 - Mulheres 2010 - Homens 2010 - Mulheres
trabalhadores por conta própria (em que há No que diz respeito à evolução dos rendi-
Conta
mais homens do que mulheres) e daqueles própria
12,2 26,1 39,2 8,4 17,1 31,5 31,8 53,2 51,1 26,4 45,7 38,9 mentos em si – após trazer os valores de
que produzem para auto-consumo (no qual 2000 a preços de julho de 2010 – é possível Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 2904 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São
Sem Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
0,7 0,2 2,7 1,1 1,1 7,3 4,2 0,8 4,4 6,2 5,0 10,3
se verifica a situação inversa). remuneração verificar, a partir do Gráfico 4, que há uma
Notas: Cada decil corresponde à classe simples, não sendo cumulativo. Os rendimentos não são deflacionados.
Auto- melhora sensível na razão entre mulheres
consumo
0,3 0,7 15,7 0,3 1,3 20,5 4,8 7,2 33,4 7,0 12,6 39,3
Tendo por pano de fundo a evolução das e homens entre 2000 e 2010. Especifica-
taxas de atividade e da distribuição da popu- Outros 3,8 10,4 10,8 4,6 12,0 6,2 1,4 2,9 1,2 2,5 3,3 0,3 mente, analisando o segundo decil, é visível curva” – está associado ao valor médio desta Todavia, quando subimos de decil – e,
lação ocupada por posição na ocupação, é Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010 (tabela 3585 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo que há, na PEA, uma equiparação dos rendi- classe (para ambos os anos): o rendimento portanto, de rendimento médio – as discre-
possível compreender, ainda que parcial- (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). mentos auferidos por ambos os sexos. Este médio do segundo decil equivale, pratica- pâncias entre sexos ainda são muito fortes:
mente, a evolução dos rendimentos mensais Notas: A categoria “Outros” inclui empregadores, funcionários públicos estatutários e militares. resultado – quase que um “ponto fora da mente, ao salário mínimo em cada ano. nos 30% de maior rendimento, a mulher

166 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 167
tende a ganhar, em 2010, 30% menos que o rendimento médio da mulher até o quarto no rendimento médio. Em outros termos, pessoas que se escolarizaram, mantendo no Gráfico 6 – Número médio de anos estudados, segundo sexo e situação do domicílio para popula-
homem. Regredindo para decis inferiores, decil é muito próximo do salário mínimo, isto é um indício de que, para funções rural os menos qualificados e os analfabetos. ção de 25 anos ou mais, Santa Catarina (1992-2013).
se percebe que esta é ainda uma tendência enquanto o homem, do segundo para o semelhantes, é dado, às mulheres, um Todavia, como há cada vez menos pessoas
10,0
geral. Tanto para 2000 como para 2010, o terceiro decil, já tem um salto significativo salário menor. morando fora das cidades, ainda que a
taxa de analfabetismo (tanto para homens, 9,0

Gráfico 4 – Rendimento real médio mensal por decil e razão de rendimentos da população econo- Ainda que as mulheres ganhem – especial- como para mulheres) no rural seja o dobro 8,0
micamente ativa segundo sexo, Santa Catarina (2000-2010). mente nos decis superiores – muito menos daquela experimentada nas cidades, seu
8.400 120,0 que os homens, se nota (entre 2000 e 2010) impacto na taxa geral é mínimo. 7,0

Razão de rendimentos (%)


Rendimento real médio mensal (R$)

uma tendência de redução deste hiato. Isto é 6,0

explicável pela diferença na variação real dos Tabela 3 – Taxa de analfabetismo (%), por sexo e
7.000 100,0 5,0
rendimentos no período (Gráfico 5): de um situação censitária, para a população de 15 anos
lado, nos decis onde a renda aumentou, as ou mais, Santa Catarina (1991-2015). 4,0
5.600 80,0
mulheres tiveram crescimento maior do que Homens Mulheres
Ano Total 3,0
CAPÍTULO IX

CAPÍTULO IX
os homens; de outro lado, nos decis de perda Urbano Rural Urbano Rural
4.200 60,0 (o nono e o décimo), ou as mulheres tiveram 1991 6,51 12,29 8,60 13,85 9,16
2,0

crescimento, ou menor redução em termos 2000 8,72 4,25 9,66 5,61 5,83 1,0
reais. Este resultado se deve a uma menor
2.800 40,0 2010 3,03 7,06 3,81 7,07 4,00 0,0
discrepância por sexo, em termos de salários 1990 1995 2000 2005 2010 2015

pagos para funções iguais ou semelhantes. 2015 2,39 7,39 3,27 6,41 3,52 Urbano - Masculino Urbano - Feminino Rural - Masculino Rural - Feminino Total

1.400 20,0
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 Fonte: FIBGE, Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios de 1992 a 2013 (tabela B.11 do IDB/DataSUS-MS).
(dados do IDB/DataSUS-MS) e Pesquisa Nacional por Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Analfabetismo e Amostra de Domicílios 2015 (tabela 271 do SIDRA/
IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/
0 0,0
1º decil 2º decil 3º decil 4º decil 5º decil 6º decil 7º decil 8º decil 9º decil 10º decil escolaridade CNPq-NEPO/UNICAMP).
Tabela 4 – Idade média ao casar, segundo sexo e
Classe simples de renda
Perfil da nupcialidade e ano, Santa Catarina (2000-2010).
2000 - Homens 2000 - Mulheres 2010 - Homens 2010 - Mulheres Razão - 2000 Razão - 2010
Após destacar a dinâmica ocupacional e a Considerando a evolução na taxa de analfa- da família catarinense Homens Mulheres Total
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 2904 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São evolução dos rendimentos reais no estado, betismo a partir de 1991, justifica-se o cresci- 2000 29,76 26,89 28,34
Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). um elemento adicional importante a ser mento do número médio de anos estudados A transição demográfica, além de acarretar
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)

Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)


2010 32,88 30,15 31,52
Notas: Cada decil corresponde à classe simples, não sendo cumulativo. Os rendimentos de 2000 estão a preços de julho considerado diz respeito à escolarização da pela população. Coletando as informações, no envelhecimento e na redução das taxas de
de 2010, deflacionados pelo índice do INPC (base dez/1993 = 100), igual a 3.200,06 em julho de 2010 e a 1.628,90 Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010
em julho de 2000. O salário mínimo, a preços de julho de 2010, era de R$ 296,65 em 2000 e de R$ 510,00 em 2010. população. Os resultados a respeito desta nas PNADs de 1992 a 2013, para a população crescimento populacional, teve pelo menos (tabelas 2466 e 3193 do SIDRA/IBGE). Observatório das
dimensão podem nos esclarecer a respeito de 25 anos ou mais desagregada por sexo e três fenômenos concomitantes: 1) a poster- Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).

de alguns dados sobre ocupação e rendi- situação do domicílio, se pode observar esta gação da fecundidade e a redução do número
Gráfico 5 – Variação real (%) do rendimento médio mensal por decil simples e sexo, Santa Catarina mentos apresentados na seção anterior. tendência ao aumento do número médio de de filhos; 2) o aumento tanto na idade ao Outro elemento importante de ser analisado
(2000-2010). diz respeito à proporção de divorciados,
Para tal, com auxílio dos dados dos últimos anos estudados em todas as desagregações casar, quanto na proporção de pessoas
três censos e da PNAD de 2015, é possível realizadas. Todavia, nos mais de 20 anos solteiras; e 3) a reestruturação das famílias. separados e viúvos entre as mulheres, sensi-
80,0
traçar tanto um perfil como uma análise analisados, o hiato entre urbano e rural se No capítulo anterior, foi abordado o primeiro velmente maior daquela observada entre os
dinâmica da escolarização e das taxas de manteve estável (pouco mais de 2 anos de dos três tópicos; neste capítulo, se mostrar. homens. Em 2010, cerca de uma em cada
60,0
analfabetismo em Santa Catarina. diferença), ainda que a média para o estado sete mulheres se enquadrava nestes estados
tenha cada vez mais se aproximado dos A respeito do segundo tópico, os dados do civis; dentre outras coisas, isto mostra que
Em primeiro lugar, são analisadas as taxas resultados para as áreas urbanas. Gráfico 7 mostram que, entre os homens, a as mulheres têm uma maior tendência a
40,0
de analfabetismo e sua evolução a partir de proporção de solteiros já é a maioria entre não se recasarem (ou seja, não voltarem
1991. A partir dos resultados coletados, se A análise por sexo mostra que as discrepân- a população catarinense. Entre as mulheres, ao mercado matrimonial), comporta-
20,0
percebe que, em Santa Catarina, há histo- cias são praticamente inexistentes entre os ainda que não sejam mais de 50%, a mesma mento diferente daquele observado para
ricamente mais mulheres analfabetas do moradores do rural catarinense. Por sua tendência pode ser observada. Isto também é os homens. Ademais, ainda que não haja
que homens, embora este hiato se reduza vez, nas áreas urbanas, há uma diferença devido ao fato de o homem se casar (cada vez) um novo casamento, os homens tendem a
0,0

no tempo. Nas áreas rurais, o hiato entre consistente de 0,5 anos que se mantém até mais tarde, como pode ser observado a partir procurarem e a viverem com outro parceiro,
homens e mulheres se mantém estável em o fim da década de 2000, quando se tem a dos dados da Tabela 4: há uma tendência mesmo após a dissolução da união anterior.
-20,0
aproximadamente 1,5 pontos percentuais. convergência entre os homens e as mulheres. geral em postergação do casamento, com
Já nas áreas urbanas, a discrepância passa Ambos, no ano de 2013, têm uma média consequente postergação da fecundidade Para comprovar o segundo ponto do
-40,0 de mais de 2 pontos percentuais para cerca de 8,6 anos de estudo. Embora a tendência – pelo menos em sua componente marital. parágrafo anterior, é possível analisar a
1º decil 2º decil 3º decil 4º decil 5º decil 6º decil 7º decil 8º decil 9º decil 10º decil
Homens Mulheres
de 0,9 em pouco mais de 20 anos. de aumento no tempo passado na escola, é De modo geral, se observa que os homens proporção de pessoas que, mesmo não
fundamental recordar que – considerando casam quase 3 anos mais tarde do que as estando casadas, vivem em união. É visível,
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 2904 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Outro ponto interessante diz respeito à cada que a população analisada tem 25 anos ou mulheres – e, para ambos os sexos, a idade tanto em 2000 como em 2010, que homens
Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
vez menor importância das áreas rurais. mais – estamos concluindo que, em média, a média é superior aos 30 anos –, fruto de uma separados, divorciados e viúvos são muito
Notas: Cada decil corresponde à classe simples, não sendo cumulativo. Para os cálculos, os rendimentos de 2000 estão
a preços de julho de 2010, deflacionados pelo índice do INPC (base dez/1993 = 100), igual a 3.200,06 em julho de
A crescente urbanização experimentada população do urbano catarinense tem apenas tendência histórica de o homem se casar com mais propensos a terem um compa-
2010 e a 1.628,90 em julho de 2000. em Santa Catarina levou para as cidades ensino fundamental completo, o que é pouco. uma mulher geralmente mais nova. nheiro após a união anterior. Já entre os

168 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 169
solteiros, há uma proporção ligeiramente Gráfico 7 – Distribuição da população de 10 anos ou mais por sexo e estado civil, Santa Catarina Uma análise importante que pode ser feita diz do tempo. Para isto, os dados estão apresen- geral, é possível perceber que, com o passar do
maior (menos de 5 pontos percentuais) (1991-2010). respeito à renda familiar per capita que estas tados no Gráfico 9, em valores nominais (ou tempo e em todos os tipos de família, a renda
de mulheres em união do que homens. 100% famílias têm e como tal renda evoluiu ao longo seja, sem deflacionamento)3. De uma maneira per capita tem aumentado expressivamente.
Finalmente, analisando especificamente os 90%
viúvos, é preciso frisar que a proporção de 17,0
80% 20,4 21,6
Gráfico 9 – Distribuição das famílias residentes únicas e conviventes por tipo de composição familiar e classes de rendimento nominal mensal fami-
unidos é substancialmente menor (espe- 24,3 25,8
23,1
liar per capita, Santa Catarina (1991-2010).
cialmente entre as mulheres), em compa- 70%

ração aos divorciados e separados, muito 60% 0% 25% 50% 75% 100%
por conta da idade avançada na qual a
50% Casal sem filhos
maioria das viuvezes se consuma.
40% Casal com filhos

Ano: 1991
Após analisar algumas questões relevantes 30% 28,3 28,3 Mulher com filhos
em termos de nupcialidade, é necessário 20%
22,7
20,1
22,8
Homem com filhos
20,2
CAPÍTULO IX

CAPÍTULO IX
avaliar a evolução na composição das famí-
10% Outros tipos
lias catarinenses, por meio dos dados dos
últimos três censos. A tendência geral do 0%
1991 2000 2010 1991 2000 2010
período, a qual não diz respeito apenas à Homens Mulheres Casal sem filhos
realidade de Santa Catarina, é de queda na Casado(a) Desquitado(a), separado(a) ou divorciado(a) Viúvo(a) Solteiro(a)
Casal com filhos

Ano: 2000
proporção de famílias “casal com filhos” no Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 (tabela 1624 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Mulher com filhos
total de arranjos, enquanto as famílias “casal Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
sem filhos” passam a se destacar. Final- Nota: As distribuições para 1991 excluem a população com estado civil ignorado. Homem com filhos

Outros tipos

Tabela 5 – Proporção (%) de pessoas não casadas que vivem em união com companheiro/a, segundo sexo e estado civil, Santa Catarina (2000-2010).
Ano Sexo Desquitado/a ou separado/a Divorciado/a Viúvo/a Solteiro/a Casal sem filhos

Homens 52,32 60,91 29,08 18,98 Casal com filhos

Ano: 2010
2000
Mulher com filhos
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)

Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)


Mulheres 26,75 32,71 10,09 22,75

Homens 45,36 57,30 31,12 28,24 Homem com filhos


2010
Mulheres 29,45 34,69 11,76 32,29 Outros tipos

Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabelas 2470 e 3193 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Sem rendimento 0 a ¼ SM ¼ a ½ SM ½ a 1 SM 1 a 2 SM 2 a 3 SM 3 a 5 SM 5+ SM

mente, ainda que em crescimento, as famí- Gráfico 8 – Distribuição das famílias residentes únicas e conviventes por tipo de composição fami- Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 (tabelas 238 e 3519 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
lias monoparentais em geral – e as chefiadas liar, Santa Catarina (1991-2010). Notas: A categoria “sem rendimento” inclui tanto as famílias sem renda como aquelas que recebiam apenas em benefícios. Valores em unidades monetárias correntes de cada ano.
por mulheres, em especial – não tiveram um Salários mínimos utilizados: Cr$ 36.161,60 em 1991, R$ 151,00 em 2000 e R$ 510,00 em 2010. Em “outros tipos”, não estão incluídas as pessoas morando sozinhas e os domicílios
100% onde corresidem duas ou mais pessoas sem parentesco.
aumento expressivo no estado, divergindo
90% 10,3
sensivelmente da tendência de crescimento 12,4
12,2

captada para o país como um todo. 80%


Ainda que a proporção de famílias nas quais respeito às discrepâncias que existem amargavram fatias maiores abaixo de ½
70% o rendimento per capita está entre ½ e 1 entre famílias sem filhos e aquelas com salário mínimo.
Entre 1991 e 2010, as famílias do tipo salário mínimo seja alta (cerca de ¼ do total) filhos (e, dentre estas, entre as que têm
60%
“casal com filhos” deixaram de representar e tenha se mantido constante nos últimos um e dois pais). Ao longo do período Todavia, durante este período, o hiato entre
56,7
mais de ⅔ das composições familiares 50% 69,4 65,7
três censos, dois fenômenos concomitantes 1991-2010, as famílias do tipo “casal sem estes tipos de família teve alguma redução,
para serem pouco mais da metade do total 40% têm contribuído para a melhora das condi- filhos” sempre tiveram mais casos entre ainda que as famílias sem filhos continuem
(56,7%). Por sua vez, as famílias “casal sem ções de vida das famílias catarinenses. De um os de renda per capita mais elevada, tendo uma situação econômica melhor
30%
filhos” cresceram 10 pontos percentuais lado, diminuiu drasticamente a proporção enquanto uma proporção maior de famí- (fruto da ausência de dependentes que não
ao longo dos últimos três censos (de 14,7 20%
de famílias com renda per capita abaixo de lias com filhos (mono e biparentais) contribuem para o rendimento familiar).
para 24,7%), fruto de uma postergação da 10%
24,7
½ salário mínimo (sendo menos de 20% no Já entre famílias com filhos, a discrepância
17,6
14,7
fecundidade ou, em alguns casos, de uma pior dos casos, em 2010). De outro lado, a entre arranjos monoparentais e biparen-
0%
decisão de não ter filhos. Por fim, as famí- 1991 2000 2010 proporção de famílias com rendimento entre 3
Não sendo rendimentos reais, é importante que as tais caiu mais expressivamente, o que se
lias monoparentais representam o caso Casal sem filhos Casal com filhos Mulher sem cônjuge com filhos Homem sem cônjuge com filhos Outras composições
1 e 2 salários mínimos teve um crescimento análises a respeito da evolução dos rendimentos sejam deve, entre outros fatores: 1) à redução do
de cerca de 1 em cada 7 arranjos, sendo a substancial, passando de cerca de ¼ para feitas com a devida cautela, tanto pelo fato de estes tamanho da família; 2) à maior inserção
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 (tabelas 238 e 3519 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações
grande maioria (de 85 a 90%) chefiadas em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). mais de ⅓ do total de casos. rendimentos não serem diretamente equiparáveis, como da mulher no mercado de trabalho; e 3) à
por mulheres. Estes resultados são apre- Notas: Em “outros tipos”, não estão incluídas as pessoas morando sozinhas e os domicílios onde corresidem duas ou pelo fato de, em 1991, o Brasil estar passando por um redução do hiato nos salários de homens e
sentados no Gráfico 8. mais pessoas sem parentesco. Os tipos de família apresentados somam arranjos com e sem outros parentes.
Por fim, outro ponto a ser ressaltado diz período de forte instabilidade econômica e hiperinflação. de mulheres.

170 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 171
Mapa 1 – Índice de Vulnerabilidade Social por município, Santa Catarina (2000-2010).
que, embora a evangelização seja um de evangélicos, como as que avançaram de
Evolução e
fenômeno generalizado no estado, a inten- maneira mais consistente: em 2010, ¼ de
distribuição da sidade com a qual tem ocorrido é diferen- suas respectivas populações se declarava de
população cial por mesorregião. De um lado, a Região alguma denominação evangélica. Por fim,
por religião Serrana é visivelmente a que menos sofreu a região da Grande Florianópolis é a que
deste processo, tendo pouco mais de 15% tem maior diversidade religiosa, com uma
Um último ponto a ser discutido diz respeito de sua população se declarando evangé- já expressiva importância, em 2010, tanto
à evolução da população em termos de lica em 2010. da população sem religião como dos que
denominação religiosa. Nos últimos 30 tinham outras crenças que não a católica
anos, além das mudanças demográficas De outro lado, as regiões do Vale do Itajaí e ou a evangélica. Somados, ambos os casos
em curso (em termos de estrutura etária do Norte Catarinense foram tanto as que representavam 1 em cada 7 moradores desta
da população, tamanho das famílias, perfil tinham, em 1991, a maior proporção inicial mesorregião em 2010.
da nupcialidade etc.), os valores da socie-
CAPÍTULO IX

CAPÍTULO IX
dade têm se alterado. Um exemplo destas
mudanças é dado pelo perfil da população
em termos de religião, sendo importante Gráfico 10 – Distribuição da população segundo denominação religiosa, por mesorregião de resi-
dência e ano, Santa Catarina (1991-2010).
destacar o crescimento expressivo dos
evangélicos e a ainda tênue fatia da popu- 100,0%

lação que se declara sem religião.

Os resultados da Tabela 6 mostram que,


para o estado de Santa Catarina, menos de 87,5%

¾ da população se declara católica em 2010,


enquanto um quinto já se enquadra como
evangélica. O crescimento da população
75,0%
evangélica no estado foi tamanho que sua
participação, entre 1991 e 2010, dobrou.
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)

Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)


De cada 12 pessoas que deixaram de ser
católicas no período, 10 se converteram 62,5%
para religiões de denominação evangélica,
enquanto as outras 2 pessoas passaram a se
declarar como não tendo religião.
50,0%
1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010
Tabela 6 – Distribuição (%) da população por de-
nominação religiosa, Santa Catarina (1991-2010). Oeste Catarinense Norte Catarinense Região Serrana Vale do Itajaí Gde. Florianópolis Sul Catarinense
Denominação religiosa 1991 2000 2010
Católico 85,9 80,7 73,2 Católicos Evangélicos Sem religião Outros
Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto
Evangélico 10,6 15,0 20,0 de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 (tabela 137 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Observatório das Migrações em São Paulo
Outras 2,4 2,0 3,2 (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapas
Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Sem religião 0,9 2,0 3,3 elaborados por Pier Francesco De Maria.
Notas: A categoria “católico” contém apostólicos e ortodoxos. A categoria “evangélico” inclui os penteconstais, os
Sem resposta/ tradicionais e os de missão. A categoria “sem religião” engloba agnósticos, ateus e pessoas que declararam não ter
Não determinada
0,2 0,4 0,3 religião. A categoria “outras” contém judaístas, espíritas, islâmicos, Testemunhas de Jeová, as religiões afro-brasileiras, as
orientais e outras religiosidades. O que se pode vislumbrar a partir dos mapas “renda e trabalho”. A sensível e generalizada Esta evolução geral justifica o porquê de
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010
(tabela 137 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações acima é que, de maneira generalizada, houve melhora no IVS de todos os municípios do haver só 35 municípios (11,9%), em 2010,
em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). uma redução expressiva no IVS entre 2000 estado se deve a uma tendência comum de com IVS acima de 0,300. Ao se comparar
Notas: A categoria “católico” contém apostólicos e
volvimento Humano Municipal (IDHM). e 2010. De um lado, no ano do último censo, redução das vulnerabilidades em todas as com o Brasil, o estado de Santa Catarina
ortodoxos. A categoria “evangélico” inclui os penteconstais,
os tradicionais e os de missão. A categoria “sem religião”
Desenvolvimento Ambos os índices são calculados a partir dos não havia municípios, em Santa Catarina, três dimensões. Considerando os resultados não só já tinha, em 2000, índices melhores,
engloba agnósticos, ateus e pessoas que declararam humano e dados do Censo Demográfico (sendo que o com índice acima de 0,500. De outro lado, no para o estado, a redução da vulnerabilidade bem como uma melhor performance em
não ter religião. A categoria “outras” contém judaístas,
espíritas, islâmicos, Testemunhas de Jeová, as religiões vulnerabilidade social IVS foi elaborado pelo Instituto de Pesquisa mesmo período, o número de municípios com em infraestrutura urbana foi de 16,9% (de termos de redução das vulnerabilidades
afro-brasileiras, as orientais e outras religiosidades.
Econômica Aplicada, o IPEA) e, em 2015, foi IVS abaixo de 0,201 saltaram de 8 (2,7%) para 0,154 para 0,128). Já em relação ao capital sociais. Entre 2010 e 2015, houve melhoras
De forma a concluir a análise sociodemográ- lançado o Atlas da Vulnerabilidade Social. A 128 (43,7%), ainda que majoritariamente humano, a queda foi de 30,9% (de 0,366 para ainda mais expressivas nas duas primeiras
Quando os dados sobre denominação fica e econômica de Santa Catarina, é possível respeito da evolução do IVS nos municípios concentrados na faixa litorânea do estado. 0,253). Por fim, a dimensão que teve a maior dimensões; a exceção é para a dimensão
religiosa são detalhados para unidades analisar os resultados do Índice de Vulnera- catarinenses nos últimos dois censos, os redução na vulnerabilidade foi aquela rela- “renda e trabalho”, a qual piorou de 2014
geográficas intraestaduais, se percebe bilidade Social (IVS) e do Índice de Desen- resultados estão expressos no Mapa 1. O IVS é composto por três dimensões: “infra- cionada a renda e trabalho, com uma queda para 2015, fruto da desaceleração econô-
estrutura urbana”; “capital humano”; e de mais de 45% (de 0,355 para 0,194). mica no país.

172 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 173
Tabela 7 – Evolução e variação do IVS e de suas componentes, Brasil e Santa Catarina (2000-2015).
Os resultados para o IDHM nos mostram municípios (20,8% do estado) com IDHM crescimento no país superou as variações
Brasil Santa Catarina uma situação semelhante à visualizada a abaixo de 0,700. ocorridas no estado. Em outros termos, houve
Dimensões Dados Variação Dados Variação partir do IVS, ainda que com outras dimen- uma redução, entre 2000 e 2010, do hiato
2000 2010 2015 2000/10 2010/15 2000 2010 2015 2000/10 2010/15 sões em análise. Todavia, talvez sendo um Diferentemente do observado para o IVS, médio entre os IDHM nacional e estadual
Infraestr. urbana 0,351 0,295 0,214 -16,0% -27,5% 0,154 0,128 0,098 -16,9% -23,4% resultado diferente do alcançado com base em que Santa Catarina sempre esteve em (que passou de 0,062 em 2000 para 0,047 em
no IVS, a dinâmica de melhora no desenvol- melhores condições (e com melhor desem- 2010). Esta tendência reverte nos anos 2010,
Capital humano 0,503 0,362 0,263 -28,0% -27,3% 0,366 0,253 0,149 -30,9% -41,1%
vimento municipal tem sido mais lenta do penho) do que a média nacional, no caso do com melhoras substanciais dos indicadores
Renda e trabalho 0,485 0,320 0,266 -34,0% -16,9% 0,355 0,194 0,137 -45,4% -29,4%
que aquela de redução das vulnerabilidades IDHM se percebe que – embora os índices para Santa Catarina, contra uma melhora mais
IVS 0,446 0,326 0,248 -26,9% -23,9% 0,292 0,192 0,128 -34,2% -33,3% sociais. Isto pode ser entendido à medida do estado sejam sempre melhores que os lenta na média geral. Isto tudo pode ser obser-
Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). que se percebe que, ainda em 2010, há 61 calculados para o Brasil –, de modo geral, o vado a partir dos dados da Tabela 8.

Tabela 8 – Evolução e variação do IDHM e de suas componentes, Brasil e Santa Catarina (2000-2015).
Brasil Santa Catarina
CAPÍTULO IX

CAPÍTULO IX
Mapa 2 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, Santa Catarina (2000-2010). Já a respeito da evolução do IDHM em Santa
Catarina, os resultados estão visíveis a Dimensões Dados Variação Dados Variação

partir do Mapa 2. Diferentemente do IVS, o 2000 2010 2015 2000/10 2010/15 2000 2010 2015 2000/10 2010/15
IDHM leva em consideração menos subdi- Renda 0,692 0,739 0,729 6,8% -1,4% 0,717 0,773 0,774 7,8% 0,1%
mensões, embora seja também formado Longevidade 0,727 0,816 0,841 12,2% 3,1% 0,812 0,860 0,901 5,9% 4,8%
por três componentes: renda; longevidade;
Educação 0,456 0,637 0,713 39,7% 11,9% 0,526 0,697 0,773 32,5% 10,9%
e educação. Quanto melhor – no caso – um
município está em qualquer uma das três IDHM 0,612 0,727 0,761 18,8% 4,7% 0,674 0,774 0,816 14,8% 5,4%

componentes acima, maior será o valor final Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
do IDHM, de modo que a interpretação a ser
dada ao índice é oposta àquela feita para o
IVS (no qual, quanto menor, melhor). Outro resultado importante a ser destacado volvimento. Para isto, é preciso criar uma municípios, juntamente com a quase tota-
diz respeito à existência de correlação nega- matriz onde o IDHM e o IVS sejam catego- lidade daqueles com baixo nível de prospe-
tiva (mas não perfeita) entre IVS e IDHM: rizados e, nela, se contem o número abso- ridade, migraram para a diagonal amarela
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)

Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)


podemos afirmar, com bastante certeza, que luto (ou a proporção) de municípios que (prosperidade média) e para a combinação
menores valores de IVS estão atrelados a se enquadram em cada cruzamento, como de baixa vulnerabilidade com médio desen-
maiores valores de IDHM. Todavia, quando mostramos na Figura 1 abaixo. volvimento humano. Ainda que o progresso
categorizamos ambos os índices usando as apontado seja notável, tendo (em 2010)
classes de valores fornecidas no Atlas da É possível perceber que, no período de quase 85% dos municípios em situação de
Vulnerabilidade Social do IPEA4, vemos que 2000 a 2010, todos os municípios do estado alta prosperidade social, poucos ainda são
municípios com altíssimo IDH (acima de deixaram de ter alta vulnerabilidade combi- os municípios que atingiram um muito alto
0,800) não necessariamente têm baixíssimo nada a baixo desenvolvimento (resultando nível de IDH junto a baixos índices de vulne-
IVS (abaixo de 0,200). Este é o caso, por em muito baixa prosperidade social). Estes rabilidade social (apenas 3,8%).
exemplo, da capital Florianópolis.
Figura 1 – Distribuição relativa (%) dos municípios catarinenses segundo nível de Prosperidade
Ainda que um coeficiente de correlação Social, Santa Catarina (2000-2010).
linear possa nos dizer muita coisa sobre
a associação entre duas variáveis (no caso
IDHM IDHM
catarinense, as correlações foram de -0,775
Ano: 2000 Ano: 2010
em 2000 e de -0,724 em 2010, o que aponta
De 0,600 De 0,600
para uma relação negativa e forte entre < 0,600 ≥ 0,800 < 0,600 ≥ 0,800
até 0,799 a 0,799
os índices), pouco se capta a respeito das
combinações que níveis de IDHM e IVS

≤ 0,300

≤ 0,300
2,7 37,2 0,0 0,0 84,6 3,8
podem assumir (e, de fato, assumiram).
Uma forma de resolver o problema é criar

De 0,301

De 0,301
até 0,400

até 0,400
uma análise daquela que o IPEA chama

IVS

IVS
17,4 22,2 0,0 0,0 10,2 0,0
de Prosperidade Social, uma combinação
de baixa vulnerabilidade com alto desen-

> 0,400

> 0,400
Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto 18,1 2,4 0,0 0,0 1,4 0,0
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Observatório das Migrações em São Paulo
(Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapas 4
Disponível em: <http://ivs.ipea.gov.br/index.php/pt>.
elaborados por Pier Francesco De Maria. Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Observatório das Migrações
Acesso em 10/10/2018. em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).

174 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 175
Estudantes entrando na escola, muncípio de Imbuia (2018).
®Detalhe modificado de fotografia de Giselli Ventura de Jesus.
Desfile Tirolerfest, município de Treze Tílias (2012)
® Detalhe modificado de foto de Markito, acervo SANTUR

Estudantes em aula na universidade, muncípio de Florianópolis (2018).


®Detalhe modificado de fotografia de Isa de Oliveira Rocha.
®Detalhe modificado de fotografia de Nazareno José de Campos (2012)

POPULAÇÃO
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
POPULAÇÃO | Fascículo 3

ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA


P A R A N Á

Garuva

O
Itapoá

D
Campo
Canoinhas

A T L Â N T I C O
Alegre
Três Mafra
Barras

E S T A D O

AR GENTINA
Joinville São
São Bento Francisco
Porto do Sul do Sul
Dionísio União Schroeder
Irineópolis Bela Vista
Cerqueira do Toldo
Palma Papanduva
Sola Jupiá
Guarujá São Lourenço
do Sul do Oeste Corupá
Princesa Campo Rio Negrinho Jaraguá Balneário
Galvão Major Itaiópolis Barra
Erê Novo do Sul
São José Vieira Guaramirim Araquari do Sul
do Cedro São Horizonte
Matos
Santa Bernardino São Costa
Anchieta Terezinha Coronel Domingos Abelardo
do Progresso Martins Calmon
Luz Timbó
Saltinho Rio dos São João
Guaraciaba Grande
Cedros do Itaperiú
Irati Formosa Passos
Paraíso do Sul Santiago Monte Santa Doutor Massaranduba
Tigrinhos do Sul Maia Barra
Romelândia Serra Castelo Terezinha Pedrinho
Ipuaçu Velha

REPÚBLICA
Barra São Alta Sul Ouro
Bonita Miguel Bom Jesus Brasil Verde
São Miguel do Jardinópolis Quilombo Entre Bom Pomerode Luiz Alves
da Boa Vista do Oeste Vargeão Água
Oeste Rios Jesus Vitor
Maravilha Doce Macieira Caçador Balneário
Flor do Modelo União Meireles Piçarras
Sertão Marema
Bandeirante do Oeste José Benedito
Timbó Blumenau Penha
Pinhalzinho Faxinal Rio do Boiteux Novo Itajaí
Ponte Lebon
Iraceminha Águas dos Guedes Régis Campo
Descanso Coronel Lajeado Xanxerê Serrada Salto
Belmonte Cunha Frias Vargem
Freitas Grande Veloso Rio das
Porã Saudades Nova Bonita Arroio Rodeio Ilhota
Antas Santa
Santa Erechim Trinta Witmarsum
Treze Cecília Gaspar
Helena Riqueza
Nova Xaxim Tílias Salete Navegantes
Itaberaba Iomerê Dona Ascurra Balneário
Cunhataí Cordilheira
Tunápolis Iporã Videira Emma Indaial Camboriú
Alta Lindóia Ibirama
do Oeste São Xavantina Irani Pinheiro
Caibi Ipumirim do Sul Catanduvas Fraiburgo
Carlos Águas dePlanalto Ibicaré Preto Presidente
São João Camboriú
Chapecó Alegre Arvoredo Taió Getúlio
do Oeste Luzerna
Palmitos Itapema
Itapiranga Mondaí Guatambú Apiúna Guabiruba
Jaborá Ponte
Chapecó Seara Arabutã Joaçaba Tangará Rio do
Caxambu Frei Rogério Alta do
Ibiam Mirim Oeste
do Sul Monte Norte Porto
Herval Doce Rio do
Carlo Lontras Brusque Belo
d'Oeste Laurentino Sul Bombinhas
Paial
Concórdia Botuverá
Itá Presidente Canelinha
Castello Ouro São Tijucas
Lacerdópolis Erval Pouso
Branco Curitibanos Cristovão Presidente
Velho Brunópolis Redondo Trombudo
do Sul Nereu Nova
Central Aurora Trento São João
Peritiba Batista
Ipira Braço do Agronômica Governador
Vidal
Trombudo Celso Ramos
Campos Ponte Ramos Leoberto
Capinzal Novos Vargem
Alto Alta Atalanta Leal
Zortéa Major
Bela Ituporanga Biguaçu
Piratuba Agrolândia Gercino
Vista
E S T A D O D O São José
Otacílio
Costa
Imbuia
Antônio
Carlos
do Cerrito
Abdon Correia Angelina Florianópolis
R I Batista Palmeira Petrolândia Chapadão São José
Pinto São Pedro
do Lageado
O
de Alcântara
Celso
Ramos
Bocaina Alfredo
do Sul Wagner Rancho
Queimado Santo
Campo Amaro da
Anita Belo Bom
G
Águas Imperatriz
Garibaldi do Sul Retiro
Cerro Mornas Palhoça

R Negro

A
Anitápolis

N
Rio
Rufino São

D Painel Bonifácio

E Lages Urupema Santa Rosa


de Lima
Paulo
Lopes

Urubici
Rio Garopaba
Capão Fortuna
Alto
São
Grão
Martinho
Pará
D Imbituba
Braço Imaruí
Armazém
do Norte

O
São Orleans
Bom Jardim

N O
Joaquim da Serra
São
Ludgero Gravatal
Lauro
SANTA CATARINA Muller Pescaria
Brava

ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO 2018 Capivari

S
Pedras Tubarão de Baixo
Treviso Urussanga

E A
Grandes
U L Treze
Laguna

Siderópolis de Maio
Cocal do

Total de Habitantes Sul


Morro
da Fumaça
Sangão
Morro Nova Criciúma
Jaguaruna
583.144

O C
Grande Veneza

3
Içara
Timbé Forquilhinha
do Sul
Meleiro
Maracajá Balneário
Rincão
236.000 Turvo
Araranguá

Jacinto
Ermo
Machado Balneário
Arroio do
110.000 Sombrio
Silva

®
Santa
Praia Rosa do
50.000 Grande Sul
Balneário

1.286
EDITORA São João
do Sul

Passo de
Torres
Gaivota

Escala Gráfica
0 4,5 9 18 27 36
km
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Fonte: IBGE - Estimativas de População 2018

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