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POPULAÇÃO
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
POPULAÇÃO | Fascículo 3
Garuva
D O Campo
Alegre
Itapoá
A T L Â N T I C O
Três Barras
Mafra
E S T A D O Canoinhas Joinville
São
São
AR GENTINA
Irineópolis Francisco do
Bento do
Sul
Sul
Dionísio
Cerqueira
Palma Porto União Schroeder
Guarujá Sola Jupiá
do Sul Major Vieira
Campo Rio Negrinho Corupá Balneário
Princesa São Lourenço Galvão Bela
Erê Itaiópolis Barra
do Oeste Vista Araquari do Sul
São José Papanduva Jaraguá Guaramirim
do Cedro São Novo Matos Costa do Toldo do Sul
Santa Bernardino Horizonte São
Coronel
Anchieta Terezinha Domingos Abelardo Timbó Grande
Martins Calmon
do Progresso Luz São
Saltinho Santa João do
Guaraciaba Monte Castelo Rio dos
Terezinha Itaperiú
Cedros
Paraíso Passos Doutor Massaranduba
Romelândia Tigrinhos Serra Irati Santiago do Maia Pedrinho Barra
Formosa Sul Ipuaçu
São Alta Velha
Barra Sul do Sul Água Doce
Ouro
REPÚB LICA
Miguel da Entre Bom
Bom Jesus Brasil
São Miguel Bonita Boa Vista
do Oeste Jardinópolis Quilombo Rios Jesus Verde
Vargeão Pomerode Luiz Alves
do Oeste Macieira Caçador Vitor Balneário
Flor do Maravilha Modelo Meireles Piçarras
União Lebon Régis Benedito
Sertão do Oeste José Boiteux Timbó
Bandeirante Novo
Pinhalzinho Faxinal Penha
Marema Ponte Santa Cecília Rio do Campo Blumenau Navegantes
Iraceminha dos Guedes
Águas Serrada
Belmonte Cunha Coronel Xanxerê Vargem Salto Ilhota
Frias Lajeado Rio das
Porã Saudades Nova Freitas Bonita Veloso Arroio Rodeio
Grande Antas
Santa Descanso Erechim Trinta Witmarsum Gaspar
Riqueza Treze Balneário
Helena Nova
Cordilheira Xaxim Lindóia Tílias Salete Camboriú
Cunhataí Itaberaba Iomerê Ascurra Itajaí
Alta do Sul Dona Emma
Tunápolis Iporã do Videira Indaial
Oeste São Xavantina Irani Ibirama
Caibi Ipumirim Pinheiro Fraiburgo
Carlos Águas de Planalto Preto Presidente
Catanduvas
Chapecó Alegre Arvoredo Luzerna Taió Getúlio
Ibicaré Camboriú
São João Palmitos Guabiruba
Mondaí Guatambú Ponte Alta Itapema
Itapiranga do Oeste Caxambu Chapecó Arabutã Jaborá
Apiúna
Seara Joaçaba Tangará Frei Rogério do Norte
do Sul Rio do Oeste Rio do Sul
Ibiam Brusque Porto
Herval Monte
d'Oeste Carlo Lontras Belo Bombinhas
Presidente Laurentino
Paial Mirim Doce Botuverá
Concórdia Castello
Itá Lacerdópolis Canelinha
Branco Tijucas
São
Ouro Erval Velho Pouso
Curitibanos Cristovão do Presidente
Brunópolis Redondo Trombudo
Sul Nova
Central Nereu
Aurora Trento São João
Peritiba Ipira
Ponte Alta Braço do Batista Governador
Trombudo Agronômica Vidal Celso
Alto Bela Capinzal Campos Novos Ramos Leoberto Ramos
Vista Vargem Atalanta Leal
Piratuba Ituporanga Major Biguaçu
Agrolândia Gercino
E S T A D O D O
Zortéa
São
José do
Otacílio Petrolândia Imbuia Antônio
Carlos
Cerrito Costa
Abdon Batista
Angelina
R I Palmeira
Chapadão
do Lageado
São Pedro
de Alcântara
São José Florianópolis
O Correia Pinto
Celso Ramos
Bocaina Alfredo
Cerro do Sul Rancho
Bom Retiro Wagner
Negro Queimado
Campo Santo Amaro
G
Anita Belo da Imperatriz
Águas Palhoça
Garibaldi do Sul
R
Mornas
A Anitápolis
N
Rio Rufino
São
D Painel Bonifácio
Grão São
D Pará Martinho
Imbituba
Braço do
Armazém Imaruí
O
Bom Norte
Jardim Orleans
São Joaquim
N O
da Serra
São
Ludgero Gravatal
Lauro
E A
Treze
Siderópolis Cocal de Maio
O C
3
Timbé do Sul Içara
Forquilhinha
Balneário
Meleiro Rincão
Maracajá
236.000 Turvo
Araranguá
Jacinto
Ermo
Machado Balneário
Arroio do
110.000 Sombrio
Silva
®
Santa
Praia Rosa do
50.000 Grande Sul Balneário
EDITORA
Gaivota
São João
do Sul
Passo de
Torres
1.260 0 4,5 9
Escala Gráfica
18 27 36
km
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Fonte: IBGE - Estimativas de População 2019
Estudantes entrando na escola, muncípio de Imbuia (2018).
®Detalhe modificado de fotografia de Giselli Ventura de Jesus.
POPULAÇÃO | Fascículo 3
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável
Diretoria de Desenvolvimento Urbano
2ª Edição
EDITORA
Florianópolis, 2019
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
POPULAÇÃO | Fascículo 3
Apresentação
GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA
C
Norton Flores Boppré PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO
TERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL om muita satisfação apresentamos nais e estaduais de fácil visualização e inter-
GERENTE DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL Coordenadora – Profa. Dra. Gláucia de Oliveira Assis a publicação da segunda edição do pretação, subsídio de extrema importância
Jorge Hector Rebollo Squera Subcoordenador – Prof. Dr. Douglas Ladik Antunes Fascículo 3 – População do Atlas para as tomadas de decisões do setor produ-
Termo de convênio de cooperação técnico-científica celebrado entre a Geográfico de Santa Catarina. Obra que trata tivo e governamental, além de oferecer
COORDENADOR DE INFORMAÇÕES E
GEORREFERENCIAMENTO
Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e a Secretaria de Estado do da diversidade do povo catarinense, desde conteúdo muito completo para a educação
Planejamento de Santa Catarina – SPG/SC (Diário Oficial do Estado nº 20.564, de
Thobias Leôncio Rotta Furlanetti 30 de junho de 2017).
suas origens, é resultado da parceria entre escolar, acadêmica e demais interessados.
a Secretaria de Estado do Desenvolvimento
Equipe Técnica Econômico Sustentável e a UDESC, contando Além da pujança econômica, o nosso Estado
Isa de Oliveira Rocha (Org. UDESC) com a contribuição voluntária de pesquisa- de Santa Catarina é referência nacional na
Agradecimentos
Marco Aurélio Leite dores e especialistas que desenvolveram valorização da cultura e das tradições de
Pedro Agripino Sagaz Ao Professor Dr. Armen Mamigonian pela contínua colaboração. A Santa Catarina aprofundados estudos sobre o tema. sua receptiva e laboriosa gente. Tudo isso
Sergio Machado Mibielli Turismo – SANTUR pela disponibilização de fotografias. A Editora UDESC
e aos Laboratórios de Planejamento Urbano e Regional – LABPLAN e de é reflexo do processo de formação do povo
Thobias Leôncio Rotta Furlanetti Geoprocessamento – GEOLAB da UDESC pelos diversos apoios. Destaca-se que a obra expõe a riqueza da catarinense, que é um amálgama de força,
População
nossa população em muitos mapas, fotogra- empreendedorismo e perseverança das
Estagiários de Geografia
Guilherme Regis In memoriam fias, dados históricos, análises e projeções várias etnias que aqui se perpetuaram ao
Gislene Daiana Martins (2018) populacionais para 2050. O Atlas também longo do tempo e hoje compõem o tesouro
Professora Dra. Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira (1946-2018), geógrafa e
intelectual brilhante, mulher ativa e lutadora. O primeiro capítulo deste Fascículo disponibiliza informações municipais, regio- mais valioso que temos.
Estagiário de Estatística 3 foi seu último trabalho.
Renato Ramos Razera (2018)
B
asta olhar no cotidiano, no detalhe e miscigenação e memória multiétnica, eviden-
ao redor. Prédios, praças e lugares são ciando a nossa indivisível constituição.
marcos geográficos, mas, sobretudo,
afetivos da nossa Santa ‘e Bela’ Catarina. Mais do que construções, somos catari-
nenses dotados de significados, símbolos
A gente se vê em cada contexto, situação e e ideias e a Udesc – parceira da SDE, neste
movimento. Diversas matizes, multiplicidades, movimento – soube expressar com compe-
contrastes, raízes e rumos e, de repente, reco- tência e sensibilidade, as nuances da compo-
nhecemo-nos: somos um; nativos ou não, com sição do nosso tecido social.
alma e jeito catarinense!
Santa Catarina é isto: sinônimo de vidas,
Neste sentido, ao apresentarmos o Fascí- relações e regionalismos, símbolo que
culo 3, intitulado População, do novo Atlas consegue exprimir na racionalidade geomé-
Geográfico de Santa Catarina (as edições trica ou geográfica, um emaranhado de exis-
População
anteriores discorreram sobre o Estado e tências humanas, contemplando percursos
Território, bem como Diversidade da Natu- do passado, caminhos do presente sem
reza, respectivamente) temos a oportu- deixar de desenhar o nosso futuro.
nidade de reconhecer e celebrar nossas
origens, migrações, narrativas e consti- O Atlas, que passa a ser disponibilizado
tuição plural – do indígena, do caboclo, do na versão impressa e online para escolas,
europeu, do açoriano e do africano. bibliotecas e demais interessados, ressalta
que somos todos parte desta urbe, somos
Este documento traz portanto não apenas catarinenses em permanente sinergia,
documentos, registros e mapas mas, espe- formação e reinvenção.
cialmente, representa um pouco da nossa
Lucas Esmeraldino
Secretário de Estado do Desenvolvimento
Econômico Sustentável
Introdução............................................................................................................................................................................ 11
Localização........................................................................................................................................................................... 13
O
Conquista e colonização de Santa Catarina............................................................................................................................. 22
distanciamento de uma visão Francesa”), Ratzel (“Antropogeografia”), O Terceiro Fascículo (População) do Atlas
Considerações finais............................................................................................................................................................... 31
autárquica, ideográfica e funcio- La Blache (“Princípios de Geografia Geográfico de Santa Catarina faz jus ao
Referências.............................................................................................................................................................................. 32
nalista da realidade catarinense Humana”) a Brunhes (“Geografia Humana”). destaque de importante contribuição aos
requer a adoção da Geografia enquanto Contudo, apenas nos anos de 1950, Pierre estudos sobre a população do Estado de
Capítulo 2 | Povos Indígenas.................................................................................................................... 34
uma interrogação permanente do mundo George introduziu o termo Geografia Santa Catarina, dando continuidade ao
Povos Indígenas...................................................................................................................................................................... 39
(Pierre Monbeig), capaz de descrever e da População na literatura corrente e G. valoroso trabalho na área efetivado pelo
Antes de Santa Catarina.......................................................................................................................................................... 39
explicar a gênese, a evolução e a estru- Trewarta propôs o desenvolvimento de eminente geógrafo da geração dos anos
Narrativas indígenas sobre o território.................................................................................................................................... 41
tura das formações sociais presentes em uma disciplina individualizada denomi- de 1950 Carlos Augusto de Figueiredo
Dos territórios tradicionais às terras tradicionalmente ocupadas ........................................................................................... 43
Santa Catarina. Aqui a compreensão das nada Geografia da População. Trabalhos Monteiro, presente no Atlas Geográfico
A tutela perversa..................................................................................................................................................................... 45
leis específicas da população é um dos que, por certo, serviram de inspiração de Santa Catarina de 1958, publicação
Movimento indígena e direitos contemporâneos.................................................................................................................... 47
elementos-chave para compreensão da na realização de importantes estudos no pioneira entre os estados brasileiros, cuja
Referências ............................................................................................................................................................................. 49
complexidade e diversidade territorial, Brasil pela notável geração de geógrafos idealização e concretização deve muito ao
objeto de estudo da Geografia da Popu- dos anos de 1950, formada por Aziz geógrafo catarinense Carlos Büchele Júnior.
Capítulo 3 | Povoamento Vicentista e Açoriano-madeirense.................................................................. 50
População
lação, formada pela intersecção entre a Ab’Saber, laureado com o título de Doutor
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense........................................................................................................................ 55
População
Geografia, Demografia e as demais áreas Honoris Causa da Udesc, Carlos Augusto A nova versão do Atlas Geográfico de
Presença vicentista: primeira tentativa efetiva de ocupação do território ............................................................................... 56
do conhecimento. de Figueiredo Monteiro, Manoel Correia Santa Catarina (Fascículo 3 – População)
Inserção da área litorânea catarinense ao mercantilismo luso................................................................................................. 57
de Andrade, Armen Mamigonian, Milton é respeitável fonte de dados e informações
Povoamento açoriano-madeirense enquanto parte do processo............................................................................................. 58
Grandes estudiosos priorizaram a temá- Santos e o florianopolitano Victor Antônio aos estudos sobre o envolver da história de
Forte economia inicial seguida de gradual decadência econômica.......................................................................................... 58
tica populacional no contexto dos estudos Peluso Júnior, o maior nome da Geografia Santa Catarina e reflete o papel e o valor
Do “Amarelo Indolente” ao Açoriano Descendente: uma identidade para o litoral................................................................. 61
geográficos no final do século XIX e início de Santa Catarina, autor de relevantes das pesquisas realizadas no ensino supe-
Etnização, espetacularização e mercantilização da açorianidade............................................................................................. 64
do XX, desde Lavasseur (“A População trabalhos sobre a população catarinense. rior brasileiro, a exemplo da Udesc e Ufsc.
A temática cultural açoriana e sua inserção na Educação Escolar Catarinense ........................................................................ 65
Considerações finais............................................................................................................................................................... 67
Referências ............................................................................................................................................................................. 68
Marcus Tomasi
Reitor da Udesc 2016-2020 Capítulo 4 | População de Origem Africana............................................................................................ 70
População de origem africana ................................................................................................................................................ 79
Referências.............................................................................................................................................................................. 88
E
Período Regencial (1831-1840)............................................................................................................................................. 108
m 2013, após um longo período de Catarina. Autores de diferentes instituições tempo foi invisibilizado no contexto multicul-
Segundo Reinado (1840-1889).............................................................................................................................................. 108
intentos, a Secretaria de Estado do contribuiram voluntariamente na redação dos tural e multiétnico catarinense. Atualmente,
Primeira República (1889-1930............................................................................................................................................. 115
Planejamento de Santa Catarina – nove capítulos. a população cabocla conquistou seu reconhe-
Outros casos após anos 1930............................................................................................................................................... 118
SPG/SC, por meio da Diretoria de Estatística cimento, mas em muitos casos ainda vive sob
Referências............................................................................................................................................................................ 122
e Cartografia, iniciou a publicação de um O processo de conquista e colonização condições de margilidade social, com dificul-
novo Atlas Geográfico de Santa Catarina, na do estado de Santa Catarina – gênese da dades de acesso a políticas públicas.
Capítulo 7 | Migrações Internas e Internacionais Recentes.................................................................. 124
forma de fascículos avulsos, para agilizar o formação econômica e social catarinense –
Migrações internas e internacionais recentes........................................................................................................................ 127
manuseio e a necessária atualização dos desde meados do século XVII até as primeiras O Capítulo VI – A Colonização Europeia
Migrações internas................................................................................................................................................................ 128
dados e informações. O formato do território décadas do século XX, é desenvolvido no Capí- desenvolvido por João Klug, Manoel Teixeira
Os imigrantes internacionais dos anos 1960-1970 ............................................................................................................... 131
catarinense e a quantidade de municípios tulo I – Gênese da Formação Econômica e Social dos Santos e Angela Bernadete Lima apre-
Os emigrantes catarinenses do final do século XX e início do século XXI.............................................................................. 136
com pequenas áreas foram determinantes de Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira senta o processo de colonização do território
Considerações finais............................................................................................................................................................. 138
na escolha das escalas dos mapas temáticos (in memoriam, 1946-2018) e Maria Graciana estadual a partir do período do Primeiro
Referências............................................................................................................................................................................ 140
e no tamanho do Atlas, pois além do prático Espellet de Deus Vieira. As autoras decifram a Reinado, na primeira metade do século XIX,
manuseio, é preciso ser facilmente legível. realidade geográfica – no espaço e no tempo até meados do século XX. O estudo abarca as
Capítulo 8 | Características Gerais da População (1950-2050)............................................................. 142
– a partir da interconexão da complexidade linhas gerais desta ocupação majoritária em
Características gerais da população (1950-2050).................................................................................................................. 151
Na organização dos fascículos e dos seus da natureza e da sociedade, conforme a visão pequenas propriedades e também descor-
Crescimento e distribuição espacial da população................................................................................................................ 151
capítulos buscou-se aplicar os pressupostos interpretativa de Armen Mamigonian (1999). tina detalhes até então desconhecidos.
Indicadores demográficos e população por grupos de idade................................................................................................. 156
dos paradigmas geográficos Geossistema
Projeções populacionais (2015-2050)................................................................................................................................... 159 O Capítulo VII – Migrações Internas e Inter-
(C. A. Figueiredo Monteiro) e Formação O Capítulo II – Povos Indígenas de autoria de
Referências............................................................................................................................................................................ 161 nacionais Recentes, de autoria de Gláucia de
Sócio-Espacial (M. Santos). Isto é, enseja- Luisa Tombini Wittmann e Clovis Antonio
-se abarcar a realidade geográfica do estado Brighenti trata sobre as populações indígenas Oliveira Assis, Francisco Canella, Maria das
Capítulo 9 | Perfil Sociodemográfico e Econômico da População (1991-2015)................................... 162 Graças Santos Luiz Brightwell (in memoriam,
de Santa Catarina a partir de uma visão de que ocupam o atual território catarinense,
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)......................................................................................... 165
População
totalidade (Natureza e Sociedade e suas descendentes de antigos grupos, atual- 1967-2018) e Luís Felipe Aires Magalhães,
População
Características econômicas e ocupacionais........................................................................................................................... 165
inter-relações), conforme propõe Armen mente conhecidos como Guarani, Kaingang traça um panorama das migrações internas e
Analfabetismo e escolaridade ............................................................................................................................................... 168
Mamigonian no texto Tendências atuais da e Xokleng. Estes três povos indígenas que internacionais da segunda metade do século
Perfil da nupcialidade e da família catarinense...................................................................................................................... 169
Geografia (Revista Geosul, n. 28, 1999). compõem o cenário cultural em Santa Cata- XX e início do século XXI a partir de fontes
Evolução e distribuição da população por religião................................................................................................................. 172
rina vivem predominantemente e respectiva- diversas, até então dispersas.
Desenvolvimento humano e vulnerabilidade social............................................................................................................... 172 O Fascículo 1 – Estado e Território, lançado mente no litoral, no oeste e no Vale do Itajaí.
em setembro de 2013, apresenta a gênese Rosana Baeninger e Pier Francesco De
e a evolução da divisão político-adminis- O Povoamento Vicentista e Açoriano-Madei- Maria são os autores do Capítulo VIII
trativa do território de Santa Catarina. Na rense, título do Capítulo III, foi elaborado por – Características Gerais da População
sequencia, em 2014, o Fascículo 2 – Diver- Nazareno José de Campos, Marcela Krüger (1950-2050) e Capítulo IX – Perfil Socio-
sidade da Natureza disponibiliza mapas Corrêa e Leila Procópia do Nascimento. O demográfico e Econômico da População.
e textos sobre os aspectos físico-naturais conteúdo apresenta as principais caracterís- Os capítulos analisam respectivamente
catarinenses. Em 2016 a Secretaria de ticas e heranças da corrente de povoamento as características gerais da população
Estado do Planejamento de Santa Cata- de origem lusa no litoral de Santa Catarina. catarinense, sua evolução nos últimos
rina disponibilizou no formato e-Book a 70 anos e as projeções até 2050, e como
segunda edição atualizada dos Fascículos O Capítulo IV – População de Origem Afri- esta população mudou ao longo do tempo,
1 e 2 . O Fascículo 3 – População, lançado cana de Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego com relação à cor, religião, escolaridade,
em 2018, tem sua segunda edição em Nones Bissigo analisa a população afrodes- ocupação, pendularidade etc.
2019, apoiada pela Secretaria de Estado do cendente catarinense ao longo do tempo e
Desenvolvimento Econômico Sustentável. do espaço. A sistematização das pesquisas Os mapas temáticos dos capítulos, confeccio-
de dados e informações detalhadas permitiu nados em distintos programas de geopro-
Notas sobre o Fascículo a elaboração de mapas inéditos que demons- cessamento, apresentam diversas escalas e
3 – População tram a contribuição da presença dos afro- bases cartográficas, determinadas conforme
descendentes na história da formação social a necessidade do nível de detalhamento
A presente segunda edição do Fascículo 3 – e econômica de Santa Catarina. ou generalização dos assuntos tratados. A
População, com atualizações, expõe mapas e contracapa e todos os capítulos foram ilus-
textos com dados, informações e análises, do Pedro Martins e Tania Welter expõem no trados com várias fotografias cedidas por
passado ao presente, sobre a complexidade da Capítulo V – A Presença da População Cabocla fotógrafos amadores e profissionais, algumas
formação social do território estadual de Santa a trajetória deste grupo, que por muito são do acervo de instituições.
O
estado de Santa Catarina, situado no Sul do Brasil, entre
os paralelos 25°57’18” e 29°21’07” de latitude Sul e entre
os meridianos 48°19’37” e 53°50’12” de longitude Oeste,
limita-se ao Norte com o estado do Paraná, ao Sul com o estado do
Rio Grande do Sul, a Leste com o Oceano Atlântico e a Oeste com a
República Argentina.
População
12 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 13
População
População
ESTADO DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE ESTADO DO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL
14 15
Garuva
Três
(
!
Barras Mafra
!
(
Itapoá
(
! (
!
Canoinhas
Campo
Porto
União
Irineópolis
!
( Rio
Negrinho
São Bento
do Sul
(
!
Alegre
São
Francisco
Dionísio Bela Vista
(
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!
do Sul
(
!
Cerqueira (
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do Toldo (
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!
(
Guarujá
do Sul
(
!
Palma
Sola
Campo
Erê (
!
São Lourenço
do Oeste
Jupiá (
!
Major
Vieira
Papanduva
(
!
Itaiópolis
!
( Araquari
(
! (
! (
!
Schroeder (
!
São José
Novo
Matos
Monte (
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(
!
Balneário
Barra
Princesa do Cedro São Horizonte Galvão
Costa
Castelo
(
! Jaraguá
do Sul
(
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!
Bernardino
(
! ( Coronel
! (
! (
! do Sul Guaramirim
(
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!
São
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Abelardo
Luz
(
! Santa (
! (
! Calmon Timbó
Guaraciaba Terezinha do Grande São João do
Progresso Saltinho
Formosa
Santiago
Ipuaçu (
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Massaranduba
Itaperiú Barra
Paraíso
(
! Barra
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! (
! do Sul
do Sul
(
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(
! Bonita Irati
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(
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(
! Romelândia Bom Jesus
do Oeste (
! Entre Verde Doutor Luiz
São Miguel
do Oeste
( !
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! (
Serra
Alta
Sul Jardinópolis Quilombo Rios
Bom
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! Pedrinho Rio dos Alves
São Miguel Tigrinhos
Brasil
!
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! Passos Santa (
! Benedito
Cedros Pomerode
(
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!
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!
Capítulo I
Caçador
Bandeirante (
! da Boa Vista Maia Terezinha Novo (
! Piçarras
(
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!
Flor do
(
!
Maravilha
Modelo
(
!
Pinhalzinho
( União
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Marema
Lajeado Faxinal
(
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Ponte Macieira
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Belmonte
(
! Sertão
(
!
Águas Grande dos Guedes
Serrada
(
! Rio das
Vitor (
!
(
! Cunha (
! Nova Frias
(
! Xanxerê
(
! ( Vargeão !
! Salto Meireles
!
(
Iraceminha
Descanso Porã Erechim
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Coronel
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Antas
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Indaial
Blumenau Ilhota Navegantes
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Santa Saudades Itaberaba (
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!
José
(
!
Gaspar
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!
Helena
!
( Iporã do Cunhataí
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Cordilheira
Alta
Xaxim
Vargem Água
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(
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Dona
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Boiteux
(
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( !
( Itajaí Balneário
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(
Iomerê
(
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(
! ! Bonita Videira
(
! Camboriú
Tunápolis (
!
Águas de Planalto
Xavantina
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do Sul
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Catanduvas
(
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(
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Fraiburgo
(
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Presidente
Getúlio
Ibirama
Apiúna
(
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(
São João
Riqueza Palmitos Chapecó Alegre Arvoredo
(
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( !!
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do Oeste Taió
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Itapema
Caxambu
do Sul (
! Seara Arabutã
Joaçaba
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! Mirim Belo
(!( Bombinhas
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!( Herval (
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(
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Concórdia d'Oeste Carlo
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Redondo
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Governador
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! Ipira Novos (
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Econômica
Ituporanga
Vista ! Piratuba
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Atalanta
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! Gercino
(
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! Zortéa
Ponte Otacílio Agrolândia ( (
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! Vargem Alta Costa
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Biguaçu
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! Leal Antônio
Correia Palmeira
Petrolândia
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Angelina
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Abdon Pinto do Lageado Florianópolis
Celso (
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Batista
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Ramos
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e Social
do Cerrito Rancho Alcântara
Anita
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Bocaina Palhoça
do Sul Águas ! Santo
Cerro
Negro
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! Bom Mornas Amaro da
Imperatriz
Lages Retiro
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Belo
do Sul
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São
Bonifácio
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Santa Rosa
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! de Lima Garopaba
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Brava
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Fumaça
E COLONIZAÇÃO Timbé
Grande Balneário
do Sul (
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! PAULISTA Turvo Araranguá
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! PAULISTA E COLONIZAÇÃO EUROPÉIA
Jacinto
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! Ermo !
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Arroio
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COLONIZAÇÃO EUROPÉIA
(
! E SUA EXPANSÃO NO ESTADO
Santa
Rosa Sombrio
EXPANSÃO DA COLONIZAÇÃO
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! EUROPÉIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
do Sul (
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Praia (
! Balneário
Grande São João (
! Gaivota
POPULAÇÃO
POPULAÇÃO MUNICIPAL
MUNICIPAL (
! do Sul
( ®
Passo de ESCALA GRÁFICA:
Torres
100.001 aa590.466
100.001 583.144habitantes
habitantes 0 5 10 20 30 40
(
!
km
( 50.001
50.001 aA100.000
100.000habitantes
habitantes
Fonte: Esri, digitalblobe, geoeye, i-bubed, aex, getmapping, aerogrid, ign, igp,
awisstopo, and the gis user community
( 1.260 aa 50.000
1.286 50.000habitantes
habitantes Elaboração: Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha
Secretaria do Estado do Planejamento de Santa Catarina
Capítulo 1 | Gênese da formação econômica e social
Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira1
Maria Graciana Espellet de Deus Vieira2
A
interconexão de elementos do Sua força impulsionadora é formada pelo ocasião do exercício de uma das atividades
quadro natural (clima, relevo, vege- conjunto de atividades que se organizam necessárias à vida dos grupos humanos:
tação etc.) e do humano (populacio- para atender diferentes necessidades. Desde atividade agrícola, de criação industrial,
nais, sociais, econômicos, políticos, culturais as mais imediatas, presentes em qualquer etc.” (Cholley, 1964, p. 141).
etc.) foram determinantes no processo tempo histórico, até aquelas que se traduzem
de conquista e colonização do continente nas transformações resultantes do próprio
evoluir da relação sociedade-natureza, Coincidentemente o procedimento
americano, no decorrer do qual se impu-
de trabalhar com combinações (A.
seram novas combinações geográficas resul- vista não de uma forma meramente local,
Cholley) é o mesmo de trabalhar
tantes das múltiplas determinações de cada mas inserida e relacionada com escalas de com múltiplas determinações [...].
cunho regional, nacional e mundial. O terri-
CAPÍTULO I
época histórica e de cada lugar. A formação A explicação provável para esta
tório vai sendo explorado gradativamente, coincidência está na origem his-
econômica e social catarinense manifesta tórica da geografia moderna [...]
de forma exemplar esta afirmação. É o que conforme suas potencialidades naturais,
[herdeira] da filosofia clássica ale-
segundo as necessidades econômicas e mã (Kant e Hegel). (Mamigonian,
se procura demonstrar no decorrer deste
disponibilidades demográficas, internas e 2005, p. 3)
estudo, tendo como objeto o processo de
externas, presentes em cada período. Trata-
conquista e colonização do território cata-
-se de decifrar uma realidade geográfica –
rinense, gênese da formação econômica e O reconhecimento das duas esferas (a
como tal, localizada no espaço e no tempo
social de Santa Catarina. natural e a humana) como indispensáveis
– procurando identificar a interconexão
ao conhecimento da realidade, dá origem
de elementos determinantes das esferas
Tal processo se estende de meados do a interpretações mais ricas e, numa certa
natural e humana (Mamigonian,1999).
século XVII às primeiras décadas do século medida, indica uma retomada da visão clás-
XX, ou seja, por cerca de três séculos, desde sica da geografia, ou seja, “uma visão globa-
0°
interno. Convém destacar que enquanto
A diversidade geográfica de Santa Catarina no Rio Grande do Sul predominam as áreas
é surpreendente para uma área de apenas Amazonas
Pará Maranhão
Ceará
de campo, no Paraná e em Santa Catarina
95.737,954 km2, correspondendo a 1,12%
Rio Grande do Norte
10° S
Rondônia Sergipe as formações herbáceas estão presentes
mativa do IBGE (2017), 7.001.161 pessoas, Mato Grosso
Bahia
somente na forma de manchas distribuídas
ou seja, 3,37% da população brasileira e Distrito Federal no interior das mesmas.
23,62% da Região Sul (Pereira, 2013). Goiás
Minas Gerais
A combinação caracterizada pela criação
Tal como os demais estados da Região Sul, o
CAPÍTULO I
CAPÍTULO I
Espírito Santo
Mato Grosso do Sul
extensiva de gado estabelecida nas áreas
20° S
território que hoje corresponde a formação São Paulo Rio de Janeiro
de campo em grandes propriedades, com
econômica e social de Santa Catarina foi Legenda Paraná
Trópico
de Capricó
rnio
o uso de pouca mão-de-obra, acarreta uma
de forma efetiva conquistado e colonizado Climas Zonais organização do espaço distinta daquela
Santa Catarina
30° S
Tropical Nordeste Oriental
rentes ao quadro natural, o clima é o mais Tropical Zona Equatorial 300 150 0 300 600 km
S
fundamental na gênese da estrutura produ-
T A
uma propensão à divisão social do trabalho,
tiva e populacional do sul do Brasil, dando condição para o desenvolvimento econô- P L
E N C O S
A N
origem a distintas combinações geográficas mico (Rangel, 1955). Com base, então, em A L
T O
ou formações econômico-sociais: a do lati- uma estrutura social distinta, a pequena
fúndio pastoril e a da pequena produção. produção mercantil com sua tendência
(Vieira e Pereira, 2009) à diferenciação social vai imprimir nas
BRASIL
FORMAÇÕES VEGETAIS áreas florestais do sul do Brasil um distinto
E
Comparando aspectos gerais relativos à ES C A L A
dinamismo econômico, consolidando a
vegetação, em todo o Brasil, observa-se
0 125 250 375 500 Km
L
formação meridional como uma formação
que as áreas herbáceas (campos) ou herbá-
A
singular (Mamigonian, 1969).
R
ceas-lenhosas (caatinga e cerrado) deram Formações Florestais Formações Complexas
O
Floresta Latifoliada Tropical Complexo do Pantanal
origem a formações latifundiárias pastoris
T
A particularidade do relevo
Floresta Latifoliada Equatorial Caatinga
I
feudais ligadas ao mercado interno. Já no
L
Floresta Latifoliada Tropical Úmida da Encosta Cerrado
CAPÍTULO I
nense. Já no caso rio-grandense, as escarpas aqui existentes ainda não haviam se sedenta- ou mesmo mortos, como tão bem demons- negros e vermelhos, seus gados grossos e Grande do Sul e do litoral de Santa Catarina, presença açoriana, africana e portuguesa.
do planalto meridional estão circunscritas rizado e, consequentemente, como nômades e tram, no século XVII, por exemplo, a compo- miúdos, as suas ferramentas e armas” (Oliveira representa uma segunda experiência com
na porção norte, sendo que o seu litoral, com seminômades, alcançavam baixas densidades sição das bandeiras litorâneas vicentistas, Vianna, 1952, p.113), fundando ao longo da imigrantes açorianos, visto que já haviam A pequena produção
características diversas (retilíneo e arenoso), demográficas, levando inclusive a que alguns assim como as razzias dos bandeirantes costa núcleos de povoamento, entre os quais pioneiramente se fixado no século anterior, no
com um único porto marítimo, assim como autores se refiram a essas áreas como vazias. paulistas em territórios sulinos. São Francisco (1658), Desterro (1673) e extremo norte, em terras do Grão-Pará. Esse A colônia de povoamento açoriano-madei-
o Paraná, só que numa extensão de 600 km Trata-se de uma meia verdade, pois apesar Laguna (1676) no litoral de Santa Catarina, ciclo colonizador, no que se refere ao terri- rense que se estabelece, baseada na pequena
de costa, distingue-se do recortado litoral das distintas realidades demográficas, não Santa Catarina vivencia seu processo de sendo este último o ponto mais meridional, tório catarinense, se estende de 1748 a 1756, propriedade familiar, é uma experiência
catarinense, banhado por inúmeros rios da podemos pensar o processo de conquista sem conquista e colonização, tardio em cerca situado exatamente no marco extremo sul trazendo consequências mais duradouras e pioneira e distinta no território colonial, já que,
vertente atlântica e servido por vários portos, considerar a população autóctone. de cem anos frente ao Nordeste e Sudeste da linha de Tordesilhas. Esse fluxo povoador variadas para a efetiva ocupação do litoral, em especial no litoral e zona da mata nordes-
ao contrário dos estados vizinhos. brasileiros, com povos fruto do cresci- cujos contatos iniciais eram facilitados pelo onde foram fundados núcleos de povoamento tina a tônica era a colônia de exploração,
Nas áreas florestadas tropicais, o caminho mento demográfico da Colônia, caracteri- mar, culmina com a fundação da Colônia do espalhados pela Ilha de Santa Catarina e áreas alicerçada na monocultura de enormes glebas
A região catarinense do litoral e encostas, tomado foi o da importação de mão-de- zando um processo migratório interno, no Sacramento, em 1680, defronte a Buenos adjacentes do continente (por exemplo, São de terras utilizando mão de obra escrava.
-obra escrava africana, a partir do século sentido norte-sul. Isto tanto no século XVII Aires, assinalando a presença portuguesa na Miguel, Enseada de Brito, São José), assim como
Gênese da formação econômica e social
CAPÍTULO I
a “célula-mater” da colo- mercadológicos para assumirem um viés ladas, o que se explica pela maior vitalidade lias” e constituía “o centro de convergência
tardio levam milhões de emigrantes a cruzar o nização italiana, inter- étnico e nacionalista, capaz de conservar, no do capitalismo alemão frente ao italiano. da população, única sede de encontros da
oceano em busca de novas oportunidades. rompida, provavelmente, estrangeiro, a nacionalidade, os costumes e As companhias navais alemãs exportavam comunidade” a fortalecer sua identidade
em razão das lutas a língua alemã (Fouquet, 1950). Essa visão, para a Alemanha não só os produtos agrí- (Groselli, 1987, p. 449). Isso em se tratando
Do total de imigrantes que se fixaram nas Fotografia 1 – “Vítimas de bugreiros. Foto provavelmente obtida em Blumenau,
internas da Itália, que se em 1905. Detalhe de G. Gerlach, 1972.” ao mesmo tempo em que assegura a fideli- colas dos colonos alemães, mas também os das colônias em áreas rurais, pois no caso
áreas temperadas, em diferentes países, encontrava em processo Fonte: Detalhe de fotografia disponível em Santos (1997, p.34). dade por gerações à terra de origem (Vater- dos italianos. de Florianópolis, assim como os alemães, os
observa-se que o Brasil se coloca como o de unificação. A preo- land), por outro lado causa um sentimento de italianos possuíam clube social próprio, além
terceiro receptor: EUA – 26 milhões; Canadá cupação com a segurança e o controle dos Cocal do Sul (1892). Essas colônias se expan- distanciamento em relação aos brasileiros. O movimento emigratório italiano em massa, da Liga Operária, cujas ideias anarquistas
– 5,5 milhões; Brasil – 4,37 milhões (São produtos que transitavam por esse caminho diram através de atividades ligadas à agricul- iniciado em meados de 1870, coloca o Brasil explicam inclusive a realização de manifes-
Paulo antes de 1880 detinha apenas 5% do entre o litoral e o planalto resultou também tura e à mineração do carvão. Há que se destacar que em razão do catoli- em terceiro lugar no fluxo dessa emigração, tação de solidariedade, na década de 1920, a
total de imigrantes europeus chegados ao na criação da Colônia Militar de Santa cismo ser a religião do Estado, eram comuns, principalmente considerando o estado de São Sacco e Vanzetti (Mamigonian, 1991).
país, mas acaba alcançando – no movimento Tereza, a primeira colônia militar catari- Conforme salienta Waibel (1958, p. 217 e conforme salienta Klug (1998), os constran- Paulo, que recebeu a maioria desses italianos
de “braços para o café” – cerca de 55% tota- nense, instalada em janeiro de 1854. gimentos e impasses ocorridos na vida coti- em decorrência da necessidade de mão de obra
218), ao contrário do Rio Grande do Sul, A pequena produção
Gênese da formação econômica e social
CAPÍTULO I
Certamente o tamanho dos lotes coloniais do gado, na fase inicial de relacionamento planalto (Vinhas de Queiroz, 1966). Esta, grande massa dos sertanejos a um limitado
não permitia reproduzir por gerações a da planície platina com a região de mine- elemento também pertencente – como número de grandes proprietários rurais.”
família camponesa, assim como nos aponta ração, serão a Serra do Mar e as Escarpas as manchas de campos e os ervais – à Nos tempos anteriores à Abolição, nas
Peluso Jr: do Planalto, a Serra Geral. Até cerca de combinação natural da região, somente a fazendas maiores empregavam-se escravos
1740, o percurso arterial de tropas liga partir do século XX se impõe como fator negros que “cuidavam principalmente da
Viamão, Laguna, Lages, Curitiba e Soro- natural determinante. Tal determinação lavoura de mantimentos, aberta nas nesgas
A tradição criada pelos europeus caba. A partir de então, o litoral catarinense ocorre relacionada a outras, como as dos de mata que por acaso se incluíssem na
que se estabeleceram nas colônias
se desarticula das terras de Serra Acima, interesses internacionais do comércio da propriedade” (Vinhas de Queiroz, 1966, p.
da região foi a de todo chefe de fa-
mília numerosa comprar, para cada alijando Laguna e fortalecendo a posição madeira e da colonização de novas terras 2I). É assim que,
filho, a terra necessária para man- de Lages, que permanece no circuito das – agora já para o excedente demográfico Figura 7 – Desenho da casa de agregado da Fazenda do Cedro (município de São Joaquim), década de 1940.
ter o mesmo padrão de vida agrí- tropas, reforçando a atuação da corrente de nossas áreas coloniais – associados aos Fonte: Extraído de Peluso (1947, p. 57).
cola [...] Terminadas as terras das ao se tornar o Brasil independen-
de ocupação do planalto. interesses das classes dominantes regio-
colônias, os núcleos regurgitavam te, a aparente uniformidade de
nais e locais frente ao mesmo comércio.
Gênese da formação econômica e social
CAPÍTULO I
central, agora em sua forma imperialista. de sobrevivência dos operários era amea-
A expansão resulta çada por longas jornadas, péssimas condi-
ções de trabalho e pelo elevado número de
acidentes (Tomporoski, 2006).
Fotografia 2 – Pouso de carroções na beira da Estrada Dona Francisca. na necessidade de mais matérias-
Fonte: Extraído de H. Bachl (1951, p. 87). -primas, alimentos e mercados
consumidores da periferia, tendo Conforme Tomporoski, os trabalhadores
interesse em aprofundar a divisão empregados pela Lumber, excetuando os
internacional do trabalho, bem altos funcionários de origem estadunidense,
como expandir geograficamente
seu raio de atuação, inclusive in- eram recrutados
corporando novos territórios. (Ma-
migonian, 1987, p. 66)
na região, entre a população local.
No início do século XX, a região
Tal fato se exemplifica, no caso de Santa
Gênese da formação econômica e social
A
mente para imigrantes originados de áreas e italianas do Rio Grande do Sul, que mais de capitais forâneos à região – cuja matéria – onde os fatores físicos e biológicos pesam dos poucos recursos técnicos disponíveis. O
coloniais italianas e alemãs do Rio Grande tarde chegam a alcançar, com esta atividade, prima, em virtude da devastação da floresta análise do processo de conquista e muito mais do que os fatores humanos – até que as diferencia, incluindo aqui as áreas
do Sul, resultará uma região produtora o centro-oeste e o norte do país. original, se produz hoje em vastas extensões colonização do território de Santa aqueles em que a ação humana assume cada pastoris, é o modo de produção, a origem
com base social e econômica na pequena de florestas plantadas (sendo Santa Cata- Catarina, gênese da formação social vez mais uma preponderância sobre a natu- de suas populações e o grau de desenvolvi-
produção mercantil (Mamigonian, 1966, No processo de colonização do extremo- rina o segundo estado em extensão de terras e econômica catarinense – alicerçada na reza, ainda que nunca de forma absoluta. mento de sua capacidade produtiva. Asser-
1986), tendo como principais núcleos de -oeste, importa ressaltar a colônia de Porto com pinus), revelando uma estrutura que perspectiva de ‘combinações geográficas’, ou tiva comprovada, por exemplo, no processo
povoamento Joaçaba, Chapecó e Concórdia. Novo (Itapiranga), planejada e fundada de certa forma se superpõe ao povoamento seja, de ‘múltiplas determinações’ de ordem Durante grande parte deste período, os tardio de diferenciação regional alcançado
A instalação dessas pequenas propriedades em 1926 pela Sociedade União Popular latifundiário pecuarista e ervateiro original; natural e humana (Mamigonian, 2005) – elementos naturais, espacialmente locali- no planalto catarinense, já no início do
rurais policultoras, fruto da expansão demo- para Católicos Alemães do Rio Grande do b) a da porção oeste, cuja característica identificou a sucessão, por cerca de 3 séculos, zados, assumiram papéis determinantes século XX, contando com a participação
gráfica do estado vizinho, tem início efetivo Sul, de origem jesuítica, como um projeto principal resultante é a presença de dinâ- de diferentes combinações geográficas, junto aos elementos humanos representa- ativa de capitais e tecnologia externos. Neste
com a chegada da estrada de ferro São étnico-religioso. Ao contrário das colônias micas agroindústrias, seja de suínos, aves formando distintos complexos regionais, tivos dos tempos de conquista e colonização. tempo também já acontece o processo de
Paulo-Rio Grande do Sul (1908-1910), no mistas, esta só arregimentava colonos de ou laticínios, originadas de capitais locais, caracterizados por duas grandes formações Tempos marcados pela dialética das forças diferenciação, não meramente regional, mas
sociais e econômicas originais, estruturadas
CAPÍTULO I
CAPÍTULO I
vale do rio do Peixe. A nova possibilidade de religião católica, oriundos principalmente que “foram criando áreas rurais cativas com internas disponíveis frente às externas. especialmente social, nas áreas pequeno
transporte permitiu, de imediato, a ligação de antigas colônias alemãs do Rio Grande milhares de colonos integrados, incluindo a sob a forma de latifúndio e de pequena produtoras mercantis dos vales atlânticos,
da região nascente com o mercado paulista do Sul e, em menor número, de Santa Cata- força de trabalho de toda a família” (Mamigo- produção. Nelas, durante este período, se O relevo, em primeira instância, de acordo dando origem ao modo de produção capita-
e assim, nas palavras de Waibel (1958, p. rina e imigrantes vindos diretamente da nian, 2011, p.112). Pode-se acrescentar que inter-relacionam, dialeticamente, elementos com Peluso Jr (1991), define a grande lista, cujos elementos humanos são cada vez
219), “o hinterland de Santa Catarina foi Alemanha (Mayer, 2016). os 31.735 km² do planalto leste abrigam hoje internos e externos de diferentes ordens, divisão regional de Santa Catarina: região do mais preponderantes.
drenado comercialmente para o norte, uma rede de 42 municípios e os 27.312 km² de distintos estágios históricos, sejam eles litoral e encostas e região do planalto. Essas
para São Paulo, por gente que veio do sul”. Essa diferenciação na ocupação do planalto do planalto oeste, uma rede de 118 municí- comunistas primitivos, escravistas, feudais, características de relevo podem explicar a Essa conquista e colonização, gênese da
Certamente tal transformação contou com levou à existência de duas formações econô- pios (IBGE, 2016), o que retrata espacialmente mercantis e/ou capitalistas. Nessa sociedade singularidade de Santa Catarina frente aos formação social e econômica catarinense, é
o derrubar das matas, resultante do intenso mico-sociais: a) a da porção leste do planalto, estas distintas formas – latifúndio e pequena de modos de produção contemporâneos, mas estados vizinhos, principalmente conside- fundamental ao entendimento das dinâmicas
desenvolvimento dessa atividade extrativa, que se particulariza, principalmente, pelo produção mercantil – de ocupação do espaço. não coetâneos (Rangel,1957) – cuja superes- rando o seu litoral recortado, as encostas econômicas, sociais e populacionais que se
trutura jurídica e política, o Estado, está sob e os vales atlânticos, mas não explicam as desenrolaram durante estes séculos, chegando
o comando de suas classes dominantes – é suas formações originais, que marcam a aos dias atuais. Para percorrê-las, como nos fala
que se insere o pequeno modo de produção. unidade genética da Região Sul: o latifúndio Rangel, devemos ter presente que
Gênese da formação econômica e social
CAPÍTULO I
Grifos, 1999. _____. Indústria. In: SANTA CATARINA. Gabi- Janeiro: FAE, 1984. leira In: RANGEL, Ignacio. Obras Reunidas, com/a/spg.sc.gov.br/atlas-geografico-
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1950. _____. Introdução ao Pensamento de Ignácio 1967. 2. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. social brasileira e geografia: reflexões
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de Geografia, ano 10, n. 2,1948. 1991. PADIS, Pedro Calil. Formação de uma AZEVEDO, Aroldo de. Brasil. A Terra e o
nópolis: Ed. da UFSC, 1987. _____. Notas sobre a gênese das formações
Homem. São Paulo: Companhia Editora
® Detalhe de fotografia de Silvio Coelho dos Santos, 1995 (extraído de Santos, 1997, p.139).
Capítulo II
Indígenas
Povos
36
Povos Indígenas CAPÍTULO II
O
s povos indígenas que ocupam o atual lugares como ato de poder. Os diferentes Na cosmovisão deles, o espaço é de uso e
território catarinense descendem povos nativos foram chamados de “índios”, cuidado coletivo, que pode ser temporário
de grupos que há milhares de anos um termo genérico que turva a percepção ou permanente. O território não pertence ao
habitam a região. São conhecidos pelas da riqueza e da diversidade cultural, mas povo: é o povo que pertence ao território.
denominações Guarani, Kaingang e Xokleng, que, atualmente, é utilizado por diferentes
mas nem sempre foram designados assim. povos na luta por direitos comuns. Os limites dos espaços territoriais são
Os Kaingang eram conhecidos como Coro- moldados em diferentes contextos pelos
ados até o século XIX. Os Xokleng no Alto No tocante ao aspecto territorial, é possível diferentes interesses de grupos humanos
Vale do Itajaí voltaram a se definir Laklãnõ identificar certo padrão de ocupação. Tal (Marcon, 2003). Tomando a noção de
CAPÍTULO II
recentemente. Antes, pesquisadores atri- como a cultura, o território não é rígido, espaço como construção social e histórica,
buíram-lhes diversos nomes: Botocudos, mas produto da dinâmica histórica das podemos perceber as perspectivas dos dife-
Aweicoma, Xokleng, Xocre, entre outros. Os sociedades. De todo modo, percebe-se que rentes grupos humanos que conviveram,
Guarani foram denominados Carijó, Carió, as sociedades indígenas tendem a perma- disputaram e moldaram a área que passou a
Mbiaza, Monteses, porém o nome Guarani necer em seus espaços históricos, mesmo ser designada Santa Catarina. Nesse aspecto,
é conhecido desde 1528, quando explora- quando são forçados a migrar. Portanto, assume relevância o conceito de cosmografia
dores espanhóis percorreram o Rio da Prata. ao olhar para as ocupações históricas, para definir os saberes ambientais, ideoló-
Apesar de se reconhecerem como Guarani, percebe-se uma forte relação com as gicos e identitários que determinado grupo
preferem ser nominados pelo grupo linguís- ocupações contemporâneas no caso dos utiliza para manter seu território, criado
tico ao qual pertencem: Mbya, Nhandeva, três povos presentes em Santa Catarina. No na dimensão coletiva e histórica. Segundo
Kaiowá, dentre outros. As mudanças de entanto, devemos atentar para o processo Little (1992, p.4), “o fato de que um terri-
nomenclatura estão diretamente associadas histórico de colonização para compreender tório surge diretamente das condutas de
aos processos de afirmação das identidades a localização desses povos e a redução territorialidade de um grupo social implica
Povos Indígenas
e ao direito de se autodenominar, só recente- territorial na atualidade. que qualquer território é um produto histó-
mente conquistado. O ato de nominar não é rico de processos sociais e políticos”.
inocente, é “um postulado jurídico de posse” Os territórios indígenas não são estáticos,
(Subirats, 2006, p. 122), ou seja, possuir a ao contrário: são fluidos, não reconhecendo Antes de Santa Catarina
propriedade sobre o outro. Quando chegou fronteiras, como no caso dos territórios
ao novo continente em 1492, Colombo nacionais ou estaduais. Os Kaingang, por A arqueologia é importante ciência para
foi tomado por um “furor nominativo” exemplo, tiveram significativa presença no auxiliar-nos a compreender os usos e
(Todorov, 1983, p. 27), passando a nomear centro oeste das regiões Sul e Sudeste do costumes dos povos que habitam a região
Brasil. Os Guarani, por sua vez, são trans- desde antes de existir o estado de Santa
nacionais, ocupam as terras baixas desde Catarina. Ela não fornece todas as respostas,
1
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade
a Bolívia até o litoral atlântico. Os Xokleng, mas associada à História e à Antropologia,
Federal de Santa Catarina (2000) e em História pela
que percorriam uma vasta região entre o leva-nos a fazer novas e melhores perguntas.
Universidade do Estado de Santa Catarina (2002),
Mestra (2005) e Doutora (2011) em História pela
litoral e o planalto, entre as atuais cidades
de Curitiba e Porto Alegre, são hoje mora- A partir dessas ciências é possível saber
Universidade Estadual de Campinas. Professora do
dores de pequena área no Vale do Itajaí e que os Guarani usam prioritariamente as
Curso de História e do Programa de Pós-Graduação em
outra no Planalto Norte. Havia casos inclu- terras baixas, as várzeas dos grandes rios
História da Universidade do Estado de Santa Catarina,
sive de sobreposição e de uso em comum da bacia do Prata e do litoral sul brasi-
onde coordena projetos de extensão e de pesquisa na
dos espaços, fato que ocorre ainda hoje. Há leiro. Diferentemente do que se veiculou
área de História Indígena.
diversas Terras Indígenas com presença de nos livros didáticos e outras mídias, o
2
Graduado em História (1995) pela Universidade do mais de um povo, com famílias mistas ou povo Guarani é exímio agricultor, dedi-
Oeste de Santa Catarina, Mestre em Integração da que utilizam espaços separados; porém, cado mormente ao cultivo de mandioca,
América Latina pela Universidade de São Paulo (2001) essas formações espaciais têm raízes nas milho, amendoim, melancia, erva-mate e
e Doutor em História Cultural pela Universidade políticas indigenistas do Estado brasileiro, outras ervas medicinais, além das ativi-
Federal de Santa Catarina (2012). Professor de que não consideraram as concepções indí- dades de caça, coleta, pesca e navegação.
História Indígena na Universidade Federal da genas de territorialidade nem as singu- O uso dos espaços, portanto, está direta-
Integração Latino-Americana, membro da Comissão laridades étnicas. Um aspecto central da mente relacionado às práticas de cultivo.
Nacional de Educação Escolar Indígena do MEC e relação desses povos com seus territórios é De acordo com Melià (1988), a agronomia
colaborador do Conselho Indigenista Missionário. a inexistência do conceito de propriedade. Guarani era mais sofisticada do que a
CAPÍTULO II
Apolinaire; Noelli, 2015), segundo o qual do planalto, inclusive com estruturas de causa, além de um encontro inédito, uma cavam esse rito. No geral, os Xokleng seriam
houve dois principais fluxos de acelerada sociabilidade coletiva fechadas por taipas posterior limitação territorial através da polí- mais caçadores-coletores que agricultores,
expansão, com um período de estabili- de terra, estava ligada ao território no tica indigenista de aldeamento. enquanto os Kaingang apresentavam mais
dade intermediário, sendo o primeiro nos qual circulavam defendendo seu sustento, práticas de horticultura que caça e coleta,
três séculos iniciais da Era corrente e o sobretudo o pinhão (Schmitz, 2013). A Os Kaingang são usuários das terras altas, embora em menor escala do que os Guarani.
segundo do ano mil até o início da coloni- expansão Guarani não atingiu esses grupos porém, como já se viu aqui, seus antepas-
zação europeia. Trata-se de uma história de do planalto, mas a implantação dos colonos sados não se limitaram ao planalto das Arau- Narrativas indígenas
mobilidade em longas distâncias, através europeus viria a ser implacável, restrin- cárias. Os Jê Meridional utilizaram também sobre o território
de cursos fluviais e de assentamentos de gindo as áreas territoriais dos Jê em Santa terras litorâneas e margens dos afluentes
aldeias cercadas de florestas. Os dados Catarina ao oeste e ao Vale do Itajaí. do rio Paraná, estando o predomínio por As características apresentadas permitem-
arqueológicos demonstram que há dois terras altas associado à mitologia do grande -nos afirmar que não se trata de nomadismo
mil anos esse povo já habitava a região do Segundo Lavina (1994) os Xokleng se deslo- dilúvio e à predominância da mata de Arau- anterior ao sedentarismo, mas de mobilidade Figura 2 – Modelo de visualização temporal (TVM) de 300 a 1000 dC (AD).
Fonte: Adaptado de Bonomo et al. (2015).
Alto Paraná, compreendida como a tríplice cavam entre a mata Atlântica e os campos e cária, semente da qual se alimentavam por
Povos Indígenas
Povos Indígenas
em áreas específicas, como fica evidente nos
fronteira de Brasil, Argentina e Paraguai, dados arqueológicos e etno-históricos refe-
de onde se expandiu, criando redes de rentes aos Guarani, Kaingang e Xokleng e
aldeias interligadas por alianças polí- seus antepassados. Trata-se aqui de povos
ticas, econômicas e sociais, o que explica a que utilizavam os espaços na medida de
uniformidade da língua e da cultura mate- suas necessidades, em territórios que não
rial Guarani. O crescimento demográfico e se limitam às fronteiras do Estado de Santa
a expansão populacional os levaram para Catarina ou sequer às fronteiras brasileiras.
novas terras, avançando para diversas Portanto, não são “de” Santa Catarina, mas
regiões, sem abandonar antigas ocupações. estão “em” Santa Catarina, como se percebe
na fala do indígena Guarani Roque Timóteo.
Há mais de um milênio foi iniciada a
ocupação Guarani na costa Atlântica sul,
inclusive de Santa Catarina, cujas datações Para mim, eu nasci aqui no Bra-
mais antigas estão entre os anos 930 e sil, eu nasci aqui no Paraguai. Mas
para você eu nasci aqui no país Ar-
980 em Imbituba. O material arqueológico
gentina. Para mim não, para mim
Guarani encontrado no Sul do Brasil aparece não tem só um Paraguai, tudo isso
nas camadas superiores de sítios ocupados aqui é mundo Paraguai. Tudo é Pa-
por outras etnias. Ou seja, a expansão raguai, porque nós índios Guarani
não temos bandeira, não temos cor.
Guarani não se deu em espaços vazios, teve
E para mim Deus deixou tudo livre,
relações interétnicas interferindo nesse não tem outro país. Tem Paraná,
processo. Grupos Jê, antepassados dos Kain- tem quantas partes o Rio Grande.
gang e Xokleng, ter-se-iam deslocado do Do outro lado já é outro país, mas
para mim não tem outro país, é só
Brasil Central para o Sul, tanto na direção
um país. Quando uma criança nas-
das áreas de planalto das araucárias quanto ce aqui no Brasil, nasce lá no Para-
da planície costeira. Ainda antes da chegada guai. Quando nasce no Paraguai,
dos europeus, novas aldeias Guarani foram ela nasce aqui mesmo também. Só
um país. Para você eu nasci aqui na
estabelecidas no litoral norte catarinense e Figura 1 – Modelo de Visualização Temporal (TVM) de 0 a 300 dC (AD). Figura 3 – Modelo de visualização temporal (TVM) de 1000 a 1780 dC (AD).
Fonte: Adaptado de Bonomo et al. (2015). Argentina, mas para mim eu nasci Fonte: Adaptado de Bonomo et al. (2015).
na fronteira com o Paraná. aqui. É igual. Porque a água, por
CAPÍTULO II
nesse apertadinho, né?; podia escolher um nível organizativo que possibilitou intervir Tommasino, na visão dos Kaingang, assim cação de terras, porquanto estas já estariam e fazer respeitar todos os seus bens” [grifo nense, espaço menor do que o Parque Esta-
lugar mais longe, mas não posso! Eu tenho no processo Constituinte na década de 1980, como o homem é dotado de uma natureza destinadas a eles, no entanto, a ganância levou nosso]. Na sequência, a Constituição define dual da Serra do Tabuleiro. É voz corrente
que comprar e daí eu não posso, e a terra é que resultou na aprovação de importante animal, os seres da natureza, os animais e os os não indígenas a se apropriarem cada vez o que são “tradicionalmente ocupadas”: “§ que no Brasil os indígenas ocupam 13%
nossa!”, lamenta Emiliana. Além da restrição regramento jurídico na Constituição Federal vegetais também têm seus espíritos prote- mais dos espaços Guarani, controlando toda a 1º São terras tradicionalmente ocupadas do território nacional; no entanto, em
territorial, muitos também reclamam do de 1988. Concomitante às mudanças legais, tores. Podemos acrescentar ainda que, se terra, inclusive as matas atuais. pelos índios as por eles habitadas em Santa Catarina os Guarani, Kaingang e
uso de agrotóxicos, do desmatamento e da as ações dos povos indígenas resultaram na alguns animais são também yangré [espí- caráter permanente, as utilizadas para suas Xokleng ocupam apenas 0,8%, ou seja,
redução dos animais na floresta e nos rios: retomada de diversas terras e engendram rito animal] dos homens, eles são também, Dos territórios tradicionais atividades produtivas, as imprescindíveis à 99,2% do Estado de Santa Catarina estão
“Estão enchendo as lavouras com agrotó- vigilância constante para que as políticas num certo sentido, “humanos”. Assim sendo, às terras tradicionalmente preservação dos recursos ambientais neces- ocupados por não indígenas. É importante
xicos, intoxicando nossas águas, nosso ar. indigenistas atuais levem em consideração é possível dizer que, não apenas entre os sários a seu bem-estar e as necessárias a sua observar que 98,42% da extensão de todas
[...] Hoje as crianças estão bem mais frágeis, ocupadas
os aspectos étnico-territoriais e cosmoló- Kaingang, mas para os povos indígenas em reprodução física e cultural, segundo seus as TIs do país encontram-se na Amazônia
estão mais doentes”, declara Seu Noé. No gicos indígenas. geral, não há dicotomia entre o universo usos, costumes e tradições”. Legal brasileira e abrigam 55% da popu-
passado, eram os alimentos e os remédios João Pacheco de Oliveira (1998) observa que
humano, natural e sobrenatural; muito pelo Terra Indígena (TI) é uma categoria jurídica lação indígena. Portanto, o Sul, o Sudeste,
do mato que garantiam a saúde do povo. Diferentemente das demais sociedades contrário, são universos que se interpene- O direito originário, como pontifica o o Nordeste e partes do Centro-Oeste
Povos Indígenas
Povos Indígenas
“Agora tá mudado, mas no meu tempo de definida pela Lei nº 6001 de 10 de dezembro
ocidentais, os indígenas não separam tram e se influenciam reciprocamente. de 1973, conhecida como Estatuto do Índio. A jurista e Ministro do Supremo Tribunal somados representam apenas 1,58% das
pequeno, da infância [...] era só mato, era um Federal João Mendes Júnior, advém do terras indígenas para uma população de
pinhalão, mato, tudo, tudo!”, diz Seu Cesário. Constituição Federal de 1988 incorporou esse
conceito e definiu-o como habitat. A noção instituto do indigenato, um postulado do 45% dos indígenas. Nessas regiões do
Esses fragmentos da memória, revelados direito colonial reconhecido a esses povos país, mesmo as terras antigamente demar-
em entrevistas concedidas a Carina Santos de habitat, questionada por alguns pesquisa-
dores por assemelhar-se aos conceitos bioló- por serem os primeiros e naturais senhores cadas foram reduzidas ou extintas, resul-
de Almeida, estabelecem um contraste dessas terras. Tal direito independe do tando no quadro que veremos a seguir.
entre um tempo bom e de fartura e o tempo gicos, é defendida por Pacheco de Oliveira
presente, menos bom (Almeida, 2015, (1998, p.44-45), pois “aponta para a necessi-
p. 139-159). São memórias comuns, que dade de manutenção de um território, dentro
resgatam trajetórias de vida. Em entrevista do qual um grupo humano, atuando como um
a Clovis Brighenti, Gumercindo Fernandes sujeito coletivo e uno, tenha meios de garantir
destacou as mudanças que ocorreram em a sua sobrevivência físico-cultural”. Ocorre
seu território, revelando sua percepção que o território dos povos indígenas em Santa
Catarina foi ocupado em tempos pretéritos e
CAPÍTULO II
Entre Rios e Abelardo Luz DECLARADA
G 111 660 por eles ocupadas para a colonização. Esses e mel, enfeitar-se, brincar com animais e inexploradas de madeira nativa. O SPI desen-
Portaria MJ 792/07
Seara
880,07 REGISTRADA SPU/CRI locais são considerados pelo antropólogo tomar banho de rio (Wittmann, 2007). volveu uma política de arrendamento das
6 Toldo Pinhal K 189 DECLARADA
Paial e Arvoredo 3.966 Antônio Carlos de Souza Lima como “cercos terras para camponeses e fazendeiros, venda
Portaria MJ 795/07*
RESERVA de paz”, por sua condição de controle e confi- A violência dos bugreiros e o desenvolvimento de madeira e instalação de serrarias e lavoura
7 Aldeia Kondá K 1.278 Chapecó 2.300
GT 1998 namento, e não como habitat, espaço para se da colonização levou o Estado brasileiro a mecanizada. Todos os recursos advindos
REGISTRADA
8 Kupri / Rio dos Pardos X 16 Porto União 758,26 reproduzir física e culturalmente. Em Santa incentivar o aldeamento dos Xokleng. De um dessas práticas constituíam, quando não
SPU/CRI
Abelardo Luz (SC) Catarina foram reservados dois espaços para amplo território ocupado foram confinados desviados pelos agentes públicos, na “renda
9 Palmas K 697 3.800,88 REGULARIZADA
Palmas (PR)
RESERVA assentamento de toda a população indígena em duas áreas: uma em Ibirama (atuais muni- indígena”, uma rubrica administrativa para
Marangatu / Cachoeira dos
10
Inácios
G 140 Imaruí 80 Matrícula nº R1-5617Lv.2-RG residente no estado: a TI Xapecó (1902), cípios de José Boiteux, Vitor Meireles e Doutor manter o órgão indigenista (Brighenti, 2012;
fl01 1999
RESERVA inicialmente com cerca de 50 mil hectares, Pedrinho) em 1914, e outra em Porto União, Almeida 2015, Bringmann, 2015).
11 Mymba Roka / Amaral G 51 Biguaçu 501,36
2008 e a TI Ibirama Laklãnõ (1914/1926), inicial- em 1918. Outros grupos que viviam no sul
RESERVA
12 Itanhaém / Morro da Palha G 90 Biguaçu 240,33 mente com cerca de 40 mil hectares, ambas do estado, na região da Serra do Tabuleiro e Diferentemente das manifestações do senso
2008
reduzidas ao longo do tempo. imediações, foram eliminados. A experiência comum de que os indígenas são mantidos
Povos Indígenas
Povos Indígenas
RESERVA
13 Tavaí / Canelinha G 32 Canelinha 207,75
2008 da sedentarização causou mortes por doenças pelo Estado, os documentos demonstram
DECLARADA
14 Tarumã G 22 Araquari 2.172 São contundentes os depoimentos indígenas e transformações no seu modo de vida. Cientes que foram os recursos indígenas que manti-
Portaria MJ 2747/2009
DECLARADA da forma violenta e brutal como foram trans- da nova situação territorial e em desacordo veram a ação do SPI e, por largo tempo, da
15 Piraí G 94 Araquari 3.017
Portaria MJ2907/2009
DECLARADA feridos para essas chamadas reservas. No caso com o controle social, os indígenas agiram Funai. Todo esse processo era justificado
16 Morro Alto G 93 São Francisco do Sul 893
Portaria MJ 2.813/2009* do Toldo Imbu, foram amarrados e transpor- contra os limites estabelecidos para percorrer pela suposta rapidez com que os indígenas
RESERVA
17 Vy ’a / Águas Claras G 81 Major Gercino 165 tados em caminhões porque o servidor do SPI territórios historicamente seus. Em maio de abandonariam suas formas tradicionais
2009
DEMARCADA (conhecido como chefe do posto) negociou a 1926, disseram ao encarregado do Posto Indí- de vida e línguas maternas para adotar o
18 Morro dos Cavalos G 112 Palhoça 1.983,49
2010
DECLARADA terra com madeireiros da região. Os Guarani gena Duque de Caxias (hoje Terra Indígena sistema nacional. Em 1968, o Ministro do
19 Pindoty Conquista G 163 Araquari Bal. Barra do Sul 3.294
Portaria MJ953/2010 que viviam nos municípios de Saudades e Ibirama Laklãnõ) que foram “passear para ver Interior abriu um inquérito para inves-
EM IDENTIFICAÇÃO
20 Massiambú G 53 Palhoça A definir
Portaria nº 798/PRES/2011 Cunha Porã foram levados para a TI Nonoai seus lugares antigos, caçar e coletar” (Witt- tigar a ação do SPI, sob a responsabilidade
21 Cambirela G 35 Palhoça A definir
EM IDENTIFICAÇÃO (RS), território Kaingang. Os Kaingang do mann, 2007, p. 197). Acendiam fogueiras no do Procurador Jader Figueiredo Correa,
Portaria nº 798/PRES/2011
REGISTRADA SPI/CRI Toldo Chimbangue foram, por diversas vezes, interior da floresta para se proteger do frio da que ficou estarrecido com a forma como
22 Mbiguaçu G 124 Biguaçu 59,19 REVISÃO DE LIMITES Portaria Funai forçados a transferir-se para Xapecó. Os grupos área descampada, caçavam animais e comiam os servidores públicos tratavam as popu-
nº 957/2012 Guarani que habitavam o litoral buscaram de a carne assada, além de coletar pinhão e mel lações indígenas, afirmando que “bestiali-
EM IDENTIFICAÇÃO
23 Ygua Porã / Amâncio G 31 Biguaçu A definir todas as formas fugir do controle do SPI, pois nos períodos propícios, ou seja, uma repro- dades” eram empregadas com requintes de
Portaria nº 957/PRES/2012
SEM RPOVIDÊNCIA não desejavam uma vida restritiva. Essa ação dução das atividades tradicionais deste “perversidade” (Brasil, 1968) Além do rela-
24 Fraiburgo K 45 Fraiburgo A definir
Estudo Prévio
25 Yakã Porã G 46 Garuva A definir SEM PROVIDÊNCIA
lhes custou o abandono pelo Estado, uma povo. É importante salientar que eles tinham tório produzido por Jader Figueiredo, outras
vez que os órgãos indigenistas não atendiam um conhecimento apurado das regiões que duas Comissões Parlamentares de Inquérito
26 Yvy Ju G 30 São Francisco do Sul A definir SEM PROVIDÊNCIA
grupos indígenas fora dos espaços delimi- percorriam, sabiam quando e aonde deveriam (CPI) no Congresso Nacional, uma em 1968
TOTAL 13.258 81.613,07 tados. No final dos anos 1960, a construção da ir para conseguir o que almejavam. Afinal, sua e outra em 1977, apontaram inúmeras viola-
Fonte: Tamanho das terras – FUNAI (2016); dados populacionais – SESAI (2013); outros dados – Cimi SUL (2015). BR 101 desalojou muitas famílias que viviam relação com o espaço era de mobilidade em ções de direito contra os povos indígenas.
Notas explicativas: na região (Brighenti, 2010). espaço determinado.
1 - G – Guarani; K – Kaingang; X – Xokleng. No caso de Santa Catarina, constam como
2 - * Terras Indígenas (TIs) com pendência judicial no momento da produção desse artigo. No caso dos Xokleng, até o final do século A tutela perversa crimes cometidos pelo Estado, dentre outros,
3 - ** Os Guarani da TI Araçaí encontram-se temporariamente na TI Toldo Chimbangue no município de Chapecó aguardando a conclusão do procedimento administrativo para
ocupar definitivamente a própria terra. XIX ainda havia um amplo território não o roubo das terras e do patrimônio indígena
4 - Há famílias indígenas vivendo na localidade de Praia de Fora, em Palhoça, que pelas medidas mitigadoras da duplicação da BR 101 deveriam ter seus lotes regularizados, o que não invadido, possibilitando-lhes a mobilidade. Em nome do progresso, foram criados pelo (madeira e arrendamentos) e a prática da
ocorreu até o fechamento desse texto. Também há famílias Guarani que vivem em Treze Tílias e Ibicaré, que se articularam socialmente com pessoas que vivem nas aldeias. Muitas Com o tempo e a chegada de milhares de Brasil Postos Indígenas, com o objetivo de tortura. A forma encontrada pelos chefes
famílias Kaingang vivem em cidades do Oeste e Xokleng Laklãnõ em cidades do Vale do Itajaí.
europeus, mais núcleos coloniais surgiram. sedentarizar e transformar os indígenas em de postos para manter os indígenas silen-
CAPÍTULO II
pado, num final de semana, de uma reunião mais férteis terras para construção de uma base na análise de documentos históricos. a língua materna e manifestar-se em suas Ocorre que
indígena em São Miguel das Missões (RS) barragem para contenção de cheias no Vale Apesar do pouco tempo dedicado à temá- particularidades religiosas. nelas há
sem o consentimento do seu superior. A do Itajaí iniciada em 1976. A partir da cons- tica indígena, a CNV estabeleceu uma série ocupantes
memória dos Xokleng Laklãnõ revela que trução da barragem, a vida Xokleng Laklãnõ de recomendações reparatórias, dentre as O regime tutelar não deixa dúvida sobre que as compraram
o líder daquele povo, Brasílio Priprá, foi mudou por completo. Sem nunca terem sido quais a devolução de terras espoliadas. a responsabilidade do Estado nos casos de terceiros e que, na sua maioria, têm título
assassinado em 1951 a mando do chefe do indenizados nem sequer consultados, vivem de omissão de proteção, defesa e assis- definitivo regularizado pelo Estado. Esse é um Fotografia 4 – Artesanato zoomórfico Guarani.
posto da TI Ibirama Laklãnõ, por ter denun- sob ameaça constante de cheias. O rio virou Todos os crimes descritos acima eram tência. Porém, pior do que a omissão era a dos principais conflitos que se estabelecem na
ciado maus tratos e violações de direitos lodo e as belezas naturais transformaram- possíveis devido ao regime tutelar, pelo violência praticada contra os indígenas sob contemporaneidade, especialmente na Região estado, das quais as mais populosas são
à sede do órgão no Rio de Janeiro. Um ano -se em assombro. Esse caso é exemplar de qual os indígenas eram considerados rela- o argumento de que eram tutelados. Como Sul do Brasil, pois evoca questões relacionadas a TI Xapecó (Fotografia 5) e a TI Ibirama
após o assassinato desse líder indígena, o como o Estado tratou os povos indígenas, tivamente incapazes, sendo assim, o Estado aponta Rocha (2003, p.74), “invocando o à negação das identidades indígenas e dos Laklãnõ (Fotografia 6).
regime tutelar, não raras vezes o Estado direitos dessas populações. O conflito pelas
tomou medidas lesivas aos interesses dos terras também não é apenas uma questão Os três povos indígenas que compõem o
índios, seja negociando diretamente com do seu valor monetário ou do seu tamanho: cenário cultural em Santa Catarina são
Povos Indígenas
Povos Indígenas
empresas a produção de uma comunidade ela evidencia o racismo. Infelizmente, ainda Guarani, Kaingang e Xokleng, vivem predo-
de forma desvantajosa [...] seja utilizando- persiste no imaginário social a ideia absurda minante e respectivamente no litoral, no
-se da violência do arbítrio dos encarre- de uma suposta inferioridade das populações oeste e no Vale do Itajaí. A mobilidade,
gados dos povos indígenas”. Alguns chefes indígenas, seres transitórios que em breve no entanto, ainda ocorre por territórios
de postos eram os principais responsáveis cederão às benesses da sociedade ocidental. historicamente reconhecidos como seus.
pelas agressões contra indígenas, valendo- Ora, se resistiram até hoje não foi por falta de Podemos observar famílias inteiras no
-se do direito de tutor. opção por abandonar seus costumes, o que foi verão litorâneo vendendo artesanato, ou
inclusive fortemente incentivado pela política mesmo jovens estudantes durante o ano nas
Movimento indígena e indigenista. universidades. Trata-se de povos singulares,
direitos contemporâneos com diferenças linguísticas e culturais, que
Atualmente, é importante salientar que passaram por diferentes processos histó-
Os indígenas resistiram a esse processo de os povos indígenas habitantes do Brasil, ricos. Atualmente, lutam pela manutenção e
esbulho do seu patrimônio e de violência incluindo os povos que vivem em Santa aplicação dos direitos, sejam direitos costu-
física. O conceito de resistência deve ser Catarina, estão em crescimento demo- meiros ou consuetudinários, sejam direitos
amplo, não no sentido de luta armada, mas gráfico, sendo uma característica desse garantidos pela Constituição Federal e pela
® Detalhe de fotografia de Osmarina de Oliveira (2000).
de estratégias cotidianas de enfrentamento processo o reconhecimento da sua legislação internacional como a Convenção
aos ditames da política indigenista. Dentre própria identidade. Conforme o último 169 da Organização Internacional do
as práticas podemos identificar denúncias censo do IBGE de 2010, a população indí- Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.
nas vias administrativas e judiciais, manu- gena em Santa Catarina totaliza 16.041 Exigem, portanto, cada vez mais a concre-
tenção da língua, continuidade de práticas pessoas, incluindo, além dos moradores tização de políticas públicas específicas
agrícolas (desde a manutenção de técnicas das Terras Indígenas, aqueles indígenas e diferenciadas que lhes possibilitem ser
à reprodução de plantas e sementes tradi- que vivem em espaços urbanos. Houve um quem são, além de se fazerem presentes em
cionais) e de outros aspectos relacionados crescimento demográfico expressivo nas novos cenários como as universidades, até
à cultura, como o ritual do Kiki (culto aos últimas décadas, pela autoidentificação recentemente fechadas a esses povos. Novos
mortos) e a relação com o meio ambiente. de pessoas que antes não se reconheciam saberes surgirão desta interculturalidade,
Mas talvez a principal resistência seja a como indígenas devido à violência simbó- efetivada pelo diálogo equânime entre não
articulação indígena para recuperar suas lica e/ou física sofrida. Mais de doze mil indígenas e indígenas, com os quais temos
Fotografia 3 – Artesanato Guarani.
terras tradicionais e a negação da prática indivíduos moram em Terras Indígenas no muito a aprender.
7055000
7055000
SÃO DOMINGOS
REFERÊNCIAS
ABELARDO LUZ
SANTIAGO
DO
SUL
IPUAÇU
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N 7040000 m
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CAPÍTULO II
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LAJEADO GRANDE Tempos Acadêmicos. Dossiê Arqueologia
0 1,5 3 6 km
Secretaria de Estado do desenvolvimento Econômico
Sustentável (Voo de 2010) Projeção Transversa de Mercator BRIGHENTI, Clovis Antonio. Estrangeiros
E 335000 m 350000 365000
na própria terra: presença Guarani e FUNAI. Fundação Nacional do Índio. Dispo- Pré-Histórica, n. 11, p. 6-24, 2013.
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Povos Indígenas
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7040000
Histórias na Ditadura: Santa Catarina
7040000
Legenda
Terra Indígena Ibirama Laklânõ
®
Limite Intermunicipal Aproximado
7025000
Escala Gráfica
N 7025000 m
48 49
Projeção Transversa de Mercator
CAPÍTULO III
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
52 53
Fonte: Extraído de Atlas Geográfico de Santa Catarina (Santa Catarina, 1958).
Fonte: LANSAT-7 (2008).
® Detalhes modificados de fotos de Adauto Jorceli de Melo
Capítulo 3 | Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
Nazareno José de Campos1
Marcela Krüger Corrêa2
Leila Procópia do Nascimento3
A
trelado à dinâmica do capitalismo Portanto, sem um atrativo econômico que mente distinto de outros, mas que, conjuga-
mercantil em expansão na Europa gerasse interesse ao mercantilismo luso, e damente, dão gênese à formação econômica,
ocidental, determinados espaços por consequência ao mercantilismo europeu, social e espacial catarinense.
geográficos do nordeste e sudeste brasileiro a fachada litorânea sul brasileira tinha uma
já vinham sendo ocupados e inseridos a uma presença humana europeia ainda esporá- Vai se formando, por todo o litoral, uma
divisão do trabalho cada vez mais mundiali- dica e intermitente até meados do século economia que supera a subsistência, alcan-
zada desde o primeiro século da colonização. XVII, servindo, alguns pontos geográficos çando importante caráter mercantil, tendo
específicos, ao apoio logístico dos navios na farinha de mandioca o produto exportável
Por essa época, e um bom tempo ainda à que porventura tencionassem adentrar até de maior expressão, conjugada, no inicio do
CAPÍTULO III
frente, a formação litorânea catarinense a região do Prata. Apesar disso, havia, da processo (século XVIII) por uma pronunciada
apresentava o domínio de uma população parte das coroas lusitana e espanhola, inte- produção baleeira que se inseriu plenamente
original indígena, do tronco sociolinguístico resses geopolíticos e econômicos em jogo, aos ditames do mercantilismo luso, e que se
Guarani, e denominada pelos portugueses, considerando aí, inclusive, a preocupação utiliza de grande quantidade de população
e depois brasileiros, como Carijó. Caracteri- pelo domínio territorial. Assim, tem-se confi- escravizada proveniente de África, somando
zava-se por uma sociedade com certo grau gurado, no século XVII, certa expansão em mais um elemento à formação demográfica
de sedentarismo, com a constante prática da termos de um povoamento mais efetivo, e étnico-cultural regional. Todavia, mesmo
agricultura e um marcante artesanato, seja na embora ainda pontual, originando os três que a pequena produção mercantil, de
transformação da mandioca em farinha e que mais importantes núcleos de povoamento do gênese sócio-econômico-cultural açoriana,
se constituía em um dos principais produtos litoral catarinense até ainda o século XIX: São tenha tido importante expressão, entrou em
de sua alimentação, seja na produção cerâ- Francisco, Desterro e Laguna. processo de estagnação e decadência, por
mica e inúmeros apetrechos utilizados na inúmeros motivos, que veremos no trans-
pesca – tipitis, canoas construídas em um só Entretanto, a ocupação destes três pontos correr deste, e que dificultará a um desen-
CAPÍTULO III
rudimentares. De São Vicente passa assim se reportou7:
comercial externa tinha como principais a Itanhaém, desta a Cananéia; desta
sociedade que se inseria em relações sociais Argumenta Vitorino Magalhães Godinho que
e de produção pré-capitalistas, cuja terra, Ao nível de sua principal colônia, o Brasil, os
protagonistas a Grã Bretanha, Países Baixos e a Iguape; e daí por diante por todo o tal concorrência viria a atingir importantes
correr do I século, vai distendendo- produção, e troca, tinham um forte valor de monopólios tiveram também grande interfe-
França, que a todo vapor estavam “desenvol- A Ilha de Santa Catarina [...] é uma produtos lusos de exportação, como o linho, rência na dinâmica espacial, fosse em relação
-se por Paranaguá, Desterro, São uso, que fazia parte de uma produção para
vendo produções de açúcar e tabaco nas Anti- floresta contínua de árvores verdes trigo, centeio e especialmente vinhos e azeite.
Francisco até Laguna, onde para. à produção e comércio do açúcar, aguar-
lhas, protegendo seus mercados do comércio
o ano inteiro, não se encontrando abastecer a própria coletividade e cuja proprie- A queda nas exportações atinge diretamente
nela outros sítios praticáveis a não dade privada ainda não era a dominante. Nem dente, tabaco, algodão, ouro, entre outros
estrangeiro, como também promovendo a Assim, é no século XVII, que se dá a formação ser os desbravados em torno das os rendimentos coloniais, conforme dados produtos. Especificamente ao sul brasileiro,
expulsão dos portugueses do trafico negreiro habitações, isto é 12 a 15 sítios
mesmo uma pequena produção, num sentido apresentados por aquele autor na obra de
das localidades de Nossa Senhora da Graça mais amplo, que viesse a se tornar mercantil, em especial em sua área litorânea, a configu-
do golfo da Guiné” (Silva, 1992, p. 28). Alie-se dispersos aqui e acolá à beira mar Serrão e Martins (1978, p. 223-259):
do Rio São Francisco (atual São Francisco nas pequenas enseadas fronteiras pode neste momento ser percebida. ração do monopólio baleeiro, proporcionou
a isso a disputa territorial com a Espanha, que do Sul), Nossa Senhora do Desterro (atual a edificação de inúmeros estabelecimentos,
à terra firme; os moradores que A exportação de vinho do Porto,
vinha de antes e é fortalecida com a fundação Florianópolis) e Santo Antônio dos Anjos da as ocupam são portugueses, uma ligados à produção e comércio, entre eles, as
A visão eurocêntrica de que uma vida que tinha atingido 19.234 pipas em
da Colônia do Sacramento em 1680, bem Laguna (atual Laguna), conforme observado parte de europeus fugitivos e al- média durante os anos de 1728- armações baleeiras 13
defronte à Buenos Aires. guns negros; vê-se também índios, simples, sem grandes luxos, com domínio
na Figura 1. 1737, baixa ligeiramente no decur-
alguns servindo voluntariamente de elementos do coletivo sobrepondo ao so da década seguinte – 18.556 e
Portanto, o litoral catarinense, a partir de
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
CAPÍTULO III
parte da Coroa, dá-se inicio a um marcante presente. Se haviam os que só produziam possível ascensão social por parte dos micamente, mantendo-se como meros produ-
processo de colonização da região litorânea para sua própria subsistência, outros, à mesmos. Já em 1798 o Presidente da Capi- tores de subsistência. Mas com o fim daquelas,
catarinense, com a vinda de imigrantes medida que o processo econômico ia se tania João Alberto de Miranda Ribeiro em no período imperial houve, por parte dos
provenientes, em sua maioria, do arquipé- ampliando, gradativamente superavam seu Relatório anual afirmava que produtores mais abastados, a possibilidade
lago dos Açores, e que se dá entre 1748 e a autossuficiência com importante exce- de se inserirem no mercado, não apenas local
1756, conforme observado na Figura 2. dente exportável; outros ainda, embora e regional, mas também com relação a outras
em menor número, além da produção agrí- Huma das causas da decadência q.
se experimenta na cultura desta Ilha províncias e mesmo regiões platinas.
O açoriano se enquadra ao contexto enquanto cola possuíam estrutura e condições para (Ilha de Santa Catarina), hé a falta
um elemento cujo papel essencial foi o de a produção e comercialização de manufa- dos dinheiros para pagarem pronp-
servir como um “colono-soldado”14. Qual turados através dos engenhos, alambiques, tamente aos lavradores, as farinhas Entretanto, não se tratava de um comércio
seja: ele se constituiu naquele sujeito que teares, atafonas etc., o que os possibilitou que se lhe tomam todos os anos, para totalmente estável, haja vista que havia
o sustento da tropa. Eles estão real- grande oscilação, nos preços e exportação,
teve diferentes atribuições na conjuntura a possuírem também uns poucos escravos. mente tão possuídos deste receio,
geral dos interesses metropolitanos. Serviu revertendo também sobre a produção,
pela experiência daq. se lhes deve dos
de mão de obra ligada à caça e produção Assim, uma pequena produção mercantil vai anos antecedentes q’já vão plantando principalmente em relação ao principal
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
CAPÍTULO III
Tabela 1 – Exportação de farinha para o Rio de Vindos um século após os açorianos, de uma provocadas pela ação da chamada revolução
Janeiro (em mil réis) 1878-79.
Europa em grande transformação refletindo Isto impactou sobre a economia litorânea, verde, e da constante expansão do setor do
Fotografia 1 – A pesca, um dos elementos da Açorianidade.
Províncias Valores Percentual
a Revolução Industrial e todo um processo de pouco competente num contexto cada vez turismo. Aumenta assim a pressão sobre
industrialização. Trazem consigo não apenas mais capitalista. E se considere que mesmo as comunidades agrícolas e pesqueiras, já
Espirito Santo 1.124.864$800 50,50 a vontade de se recomporem enquanto que a economia litorânea continuasse ocor- bastante estagnadas em sua produção tradi- Do “Amarelo Indolente” ao Esta aproximação com os Açores, por meio
produtores livres, como são possuidores rendo, vinha sofrendo gradual processo cional, que não suportam a forte valorização Açoriano Descendente: uma da formação de um grupo de pesquisadores
Santa Catarina 616.185$840 27,27
de conhecimentos e técnicas com possibi- de queda de produtividade, haja vista o da terra atrelada à constante especulação identidade para o litoral universitários25, no qual havia remanes-
Rio Grande
366.272$000 16,40 lidades de uma produção econômica bem tradicional habitat rural açoriano caracte- imobiliária. centes do Congresso de 1948, teve como
do Sul
Total (todas as
mais dinâmica da que até então ocorria rístico das áreas litorâneas de domínio de A valorização das raízes açorianas teve, no objetivo realimentar as pesquisas sobre a
2.226.731$040 100,00
províncias) regionalmente. Utilizando-se, por exemplo, população de origem açoriana, conforme Enfim, como argumenta Campos (2011, p. Primeiro Congresso de História Catarinense temática açoriana e disseminar seus resul-
Fonte: Hübener (1981, p. 86). Fonte original: Com. Nav. dos moinhos movidos à força hidráulica, evidenciado por Armen Mamigonian no 184), tados no meio acadêmico. Isso se refletiria
Porto RJ. (1948), uma primeira tentativa para construir
maquinários movidos a vapor, e mais tarde Atlas Geográfico de Santa Catarina de 1958 a identidade cultural do litoral catarinense, e nos anos 1980, considerado o período da
Tabela 2 – Exportação de farinha para o Rio de o uso do carvão, diesel e eletricidade; conju- (Figura 4). Conjugado a um processo de segunda retomada da cultura açoriana, com
já com tendências a uma sobrevalorização
Janeiro (em mil réis) 1880-81. Essa conjugação de elementos no a popularização e expansão da temática no
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
CAPÍTULO III
açoriana do litoral catarinense e subs- para além das fronteiras da Universidade cultura do litoral catarinense.
tituir o “amarelo indolente” pelo e da Ilha, buscando ampliar suas ações
“açoriano descendente”. Tais para todo o litoral catarinense. A ideia Todas essas ações permitiram que a discussão
ações contaram com o apoio do era resgatar a importância do imigrante da açorianidade saísse do meio acadêmico
Governo Regional dos Açores e açoriano, refazer os laços, mostrar de onde e político para chegar ao universo popular.
com a cooperação de inúmeras veio; relacionar as práticas culturais do Segundo Farias (2000, p. 108), “tinha-se a
instituições e organizações públicas litoral com o arquipélago açoriano, enfim, consciência, [...] que o primeiro e mais signi-
e privadas de diversos municípios positivar e dar visibilidade ao descendente ficativo passo seria devolver ao povo litorâneo
do litoral catarinense, que foram de açoriano, mesmo já decorridos 250 anos o conhecimento de suas raízes históricas
denominados agentes culturais multi- da chegada dos pioneiros. e culturais que praticava”. Todavia, muitas
-institucionais. Assim, com o intuito raízes a que o autor se refere dizem respeito
estabelecidas com “os de fora”, Troféu Açorianidade (Fotografia 2) para associá-la à etnia açoriana, que foi instituída
Fotografia 3 – Monumento em Florianópolis em Homenagem aos Açorianos
“os invasores”, especialmente homenagear pessoas, empresas e institui- por meio da valorização da memória cole-
com os gaúchos, as pesquisas ções que desenvolvam trabalho em prol da tiva e recuperação da autoestima por tanto
realizadas revelam que o cultura de base açoriana. Cada troféu traz 26
Concebido em concurso pelo NEA a obra é do que os imigrantes passaram a praticar; um touro, tempo abalada psicologicamente pelo seu
problema foi mais locali- o nome de uma ilha açoriana, e a Ilha de artista plástico blumenauense Guido Heuer, de forte elemento da identidade açoriana, e que aqui “fracasso econômico”.
zado e superficial do que Santa Catarina empresta o nome ao décimo origem germânica. Informações no site do NEA representa o trabalho, e a brincadeira do boi; o bilro,
em relação aos alemães, troféu, por ser considerada pelo NEA a dizem que a obra representa uma porta e uma janela que até pouco tempo era desconhecido nos Açores, Além disso a açorianidade precisa ser
décima Ilha do arquipélago açoriano. características da arquitetura luso-brasileira, técnica mas representa o nosso artesanato; a coroa do entendida no contexto da expansão da ativi-
construtiva que os açorianos passaram a utilizar. A Espírito Santo, que representa a forte religiosidade dade turística na região, isto é, a inserção
Entre os eventos de peso realizados pelo roda de carro de boi apoiada na porta simboliza o daquele povo; o jarro, que faz alusão à produção da da cultura regional no processo de mundia-
NEA, também merece destaque o I Encontro meio de transporte que esses imigrantes trouxeram cerâmica utilitária; e o “pão por Deus”, tradição local lização econômica, no qual o capitalismo
Fotografia 2 – Troféu Açorianidade Sul-Brasileiro de Comunidades Luso- para cá. Nas seis placas estampadas e hasteadas de escrever versos carinhosos para alguém em papel impera sobre tudo e sobre todos. Esse
sem placa alusiva.
-Açorianas, comemorando os 250 anos da verticalmente um peixe representa a pesca, atividade recortado em forma de coração. movimento encabeçado pelo NEA e apoiado
CAPÍTULO III
tanto significar algo que tem a sua origem vistados por Sayão (2004), Martins (1995), açoriana foi inserida como mais uma etnia associada ao seu tempo e ao seu espaço. que conduzam à integração sócio cultural e
no arquipélago, como algo nativo, antigo, o Lacerda (2003) e outros, cujo sentimento de Outro exemplo foi a criação de personagens dentro do circuito turístico de Santa Cata- a formação integral do sujeito na busca de
que demonstra a polissemia que reveste a inferioridade foi substituído pelo orgulho caricatos, como a Dona Bilica, uma espevi- rina. A criação de um “corredor turístico do Não obstante, a importância da temática propagar o respeito à diversidade. Nesta
cultura açoriana em Santa Catarina. de ter uma origem. tada manezinha da Ilha criada em 1991 pela litoral” mencionado por Farias (2017)31, à cultural açoriana está posta também no viés perspectiva, a Proposta Curricular do
artista de teatro Vanderléia Will, que ganhou luz da cultura açoriana, está hoje visível no educacional, através de ações variadas nas Estado de Santa Catarina (Santa Catarina,
Diante disso, percebe-se que elaborar uma A culinária é outro elemento importante nesta popularidade em 1993. A personagem foi marketing de diversos municípios, apesar escolas do estado, como veremos a seguir. 2014, p. 101) assinala que “faz-se relevante
identidade implica fazer uma seleção da discussão, pois, muito dela passou a ser eviden- construída com base em experiências da de as belas paisagens litorâneas terem mais uma reflexão sobre o saber e a cultura regio-
memória, do que será utilizado, do que será ciada pelos restaurantes como “açoriana”27. artista e em muitas pesquisas realizadas força como atrativo turístico. A temática cultural açoriana nais […] na organização e na seleção de
valorizado e do que será transmitido. Para Todavia, constatou-se in loco que a cozinha com a população local29. e sua inserção na Educação conteúdos”, o que reafirma o potencial de
além do NEA, foram materializadas, tanto típica que existe nos Açores é muito diferente Não se pode aqui omitir o fato de que, para Escolar Catarinense trabalho destas temáticas, ao passo que o
em Florianópolis como nos demais pontos da cozinha típica denominada açoriana ou Apesar da justificativa de resgate e preser- além de qualquer discussão de ser ou não referido documento sinaliza aos professores
do litoral, outras ações voltadas para a revi- de base açoriana em Santa Catarina. Na culi- vação, a lógica do lucro se sobrepõe a qual- ser açoriano, o litoral catarinense teve, em e gestores escolares de forma democrática
talização do artesanato, organização de nária tradicional Farias (1998) reconhece ser quer outra. Assim, apresentações, teatro e sua formação e dinâmica sócio-cultural, a A questão da identidade cultural anterior- a possibilidade de realização de atividades
materiais escolares do ensino fundamental, impossível comparar a comida dos Açores com desfiles funcionam como espetáculo para presença de outras culturas, como a afri- mente analisada, diz respeito aos condi- como conteúdos nos Componentes Curricu-
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
CAPÍTULO III
consiste num curso de formação escolas públicas catarinenses com o intuito de a participação dos estudantes) e exibição Dessa forma foi escolhida a temática elementos tão peculiares ao modo de vida
dos professores da rede munici- Entretanto, as grandes transformações
salientar a importância dessas ações e mostrar de curtas sobre a cultura local no espaço “cultura açoriana”, devido à forma super- de parte do povo catarinense.
pal, estadual e privada de ensino pós-meados do século XX, refletindo a
fundamental e médio, em parce- a gama de possibilidades de atividades peda- permanente, bem como promover oficinas ficial de como este tema é tratado pelos
dinâmica capitalista ao nível geral, vieram
ria com as prefeituras municipais, gógicas que esta temática pode trazer para a de boi de mamão, pequenos objetos de livros didáticos, desconectada dos conte-
também a afetar à área litorânea catari-
para o mapeamento da cultura de materialidade concreta da Escola. argila, dentre outras formas de manifestação údos curriculares e até mesmo dos livros Considerações finais
base açoriana do Estado de Santa
da cultura açoriana. A saber: Festa do Divino, nense. O Estado teve aí importante papel,
Catarina. Ele atua de forma inte- de história. Para a professora, “O projeto
através, por exemplo, dos planos insti-
O
grada nos campos da educação, A primeira experiência acontece na Escola maquete do Cortejo Imperial, roupas do estaria justamente suprindo a necessi-
de Educação Básica Aderbal Ramos da Silva. Divino, altar do Divino, símbolos do Divino Litoral catarinense, em sua tucionais, como o POE (Plano de Obras e
cultura, turismo e trabalho. Este dade de conhecimento da própria cultura,
Projeto tem como objetivo princi- Localizada na comunidade de Ganchos, no (pombas, fitas corações, guirlandas), doces formação e dinâmica sócio-espa- Equipamentos) na administração Irineu
abrangendo não só informações sobre o
pal, resgatar os valores culturais, município de Governador Celso Ramos. O ou pães do Divino, crivo, renda de bilro, cial, teve um processo diferenciado Bornhausen e PLAMEG (Plano de Metas do
contribuindo na geração de uma tema abordado, mas também proporcio- das demais áreas geográficas do estado
projeto está intitulado: “Um olhar, varias louças e artefatos de barro, boi de pau, rede Governo) na administração Celso Ramos, e
nova fonte de renda e de trabalho nando aos alunos a vivência dos costumes (Planalto, Vales Atlânticos e Vale do Peixe e
em cada comunidade envolvida no histórias – os diversos olhares sobre a de pesca, maquetes de canoas de pau, botes outros que ocorreriam com a liberalização
e tradições açorianas”. A professora Oeste). Inicialmente fora do circuito de inte-
Projeto, agregando valores ao arte- herança cultural dos açorianos em Ganchos”. e barcos, maquetes de casarios antigos, econômica pós década de 1980. Assim, as
sanato, folclore, festas populares,
salienta que dentre os conteúdos abor- resses econômicos da Metrópole, só vai se
A atividade pedagógica é idealizada e condu- engenho e carros de boi, danças típicas, farra políticas desenvolvimentistas; a expansão
Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
não governamentais), o trabalho na direção de exemplifica bem esta situação: no censo de 1872, onde novos valores e novas realidades estão
nossos avós), artesanatos locais, lendas, presentes, e cuja cultura de gênese açoriana,
respeitar a preservação de um modo de vida Florianópolis possuía 25.709 habitantes enquanto
de um povo, pode e deve ser fomentado. cantigas de roda e gastronomia local. Curitiba apenas 12.651; já no censo de 1900 o dado mesmo que muito mais evidenciada do que
já se reverte, com Florianópolis chegando a 32.229 no passado, se vê fortemente estilizada,
Nessas condições a Escola enquanto orga- Em suma, esses dois projetos supracitados habitantes, enquanto Curitiba alcançava 49.755; mercantilizada, e não menos invisível do
nismo social deve seguir pela perspectiva da nos sinalizam um cenário profícuo e alen- diferença que aumentaria cada vez mais em favor que o foi antes, se considerarmos sua pouca
Fotografias 4, 5 e 6 – Alguns componentes de exposição temática de elementos da cultura açoriana.
educação intercultural que mantêm na pers- tador de escolas e de professores catari- desta, e muito mais ainda em relação a Porto Alegre. inserção ao nível do ensino.
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Povoamento vicentista e açoriano-madeirense
25°50'0"S
25°50'0"S
25°50'0"S
25°50'0"S
CAPITANIA DE SANTA CATARINA PROVÍNCIA DE SANTA CATARINA
POPULAÇÃO POR ESTATUTO E COR 1796 POPULAÇÃO POR COR E ESTATUTO 1872
São Francisco do Sul
Saí
Joinville
Araquari
26°40'0"S
Barra Velha
26°40'0"S
26°40'0"S
26°40'0"S
AT L Â N T I C O
AT L Â N T I C O
Penha
Porto Belo
São Miguel Tijucas
Curitibanos
Canasvieiras
Campos São João
Santo Antônio Lagoa da Conceição Batista Rio Vermelho
Novos
São Miguel
27°30'0"S
Lagoa da Conceição
27°30'0"S
27°30'0"S
Santo
27°30'0"S
Antônio
Desterro Trindade
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO IV
Campo Belo São José
do Sul São Pedro Desterro
de Alcântara
São José
Ribeirão da Ilha Lages
Águas Ribeirão da Ilha
Mornas Santo Amaro Enseada
da Imperatriz de Brito
Enseada de Brito
ANO
ANO
São Joaquim
Vila Nova Brancos Livres Pescaria Vila Nova
28°20'0"S
Brava
28°20'0"S
28°20'0"S
Estatuto e Cor 1796 Pardos Livres
28°20'0"S
Mirim
OCE
Imaruí
OCE
Livres Pardos Escravos
Laguna
29°10'0"S
29°10'0"S
de cada hum dos Distritos do mesmo Governo. Em 1º de
Total de Habitantes
® ®
29°10'0"S
janeiro de 1796. Ofício do tenente-coronel João Alberto 10.428
Miranda Ribeiro ao vice-rei do Estado e mapas referentes à Fonte: DIRETORIA GERAL DE ESTATÍSTICA.
extensão e limites da Ilha de Santa Catharina e distritos de 6.000 Recenseamento Geral do Império do Brazil. Provincia de
4.453 sua jurisdição. Caixa 6, doc. 387; Santa Catharina. (Sem data, prov. 1875);
3.000 Elaboração: Davi Martins Gnecco e Mariane Alves Dal Elaboração: Davi Martins Gnecco e Mariane Alves Dal
Santo (GEOLAB/UDESC); Pedro Agripino Sagaz, Santo (Geolab/UDESC); Pedro Agripino Sagaz, Guilherme
1.020 Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). Escala Gráfica 1.190 Regis e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). Escala Gráfica
Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones 0 10 20 40 km Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones 0 10 20 40 km
Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22° Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
População de origem africana
52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W 47°30'0"W 53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W
25°50'0"S
25°50'0"S
CAPITANIA DE SANTA CATARINA SANTA CATARINA - POPULAÇÃO POR COR
25°50'0"S
25°50'0"S
POPULAÇÃO POR COR E ESTATUTO 1820 1940 P A R A N Á
São Francisco do Sul São
Mafra Campo
Francisco
Alegre
ARG ENTINA
D O do Sul
Canoinhas
E S T A D O Porto
São Bento
do Sul
União
Itaiópolis Joinville
AT L Â N T I C O
Jaraguá Parati
26°40'0"S
do Sul
26°40'0"S
26°40'0"S
26°40'0"S
AT L Â N T I C O
REPÚBLICA
Chapecó
Caçador Timbó
Joaçaba Rodeio
Itajaí
Porto Belo Curitibanos Blumenau
Concórdia Gaspar
Camboriú
Ibirama
São Miguel
Campos Brusque
Indaial Porto Belo
Lagoa Da Conceição Novos Rio do
Sul
Santo Antônio Tijucas
E S T A D O Nova
D O
27°30'0"S
Trento
27°30'0"S
27°30'0"S
27°30'0"S
Biguaçú
R I Bom
Desterro O Retiro
Lages Florianópolis
São José
G
R
Ribeirão da Ilha A
N
ANO
D Palhoça
Enseada de Brito E
ANO
OCE
São Orleans Imaruí
28°20'0"S
28°20'0"S
28°20'0"S
Vila Nova
Cor e Estatuto 1820 Joaquim
28°20'0"S
D
Cor 1940 O
OCE
29°10'0"S
29°10'0"S
Fonte: BNRJ, Seção de Manuscritos, I-31, 29, 18 n.9.
29°10'0"S
Total de Habitantes
Mappa da População do Governo de Santa Catarina
Habitantes
® ®
29°10'0"S
Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22° Bissigo (UFSC). PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W 47°30'0"W 53°20'0"W 52°30'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W
25°50'0"S
25°50'0"S
P A R A N Á
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
Garuva
O
Três
D
Barras
1980
Mafra
Canoinhas
Rio Joinville
Negrinho São
São Bento Francisco
ARGENTINA do Sul do Sul
A T L Â N T I C O
A D O
Irienópolis
Dionísio
E S T Porto
União
Schroeder
Cerqueira Major
Papanduva
Vieira
Itaiópolis Corupá Araquatri
Guaruja São Lourenço
Palma d'Oeste Guaramirim
do Sul
Sola
26°40'0"S
26°40'0"S
CAPÍTULO IV
Salto Arroio Rio das Salete
Cunha Pinhalzinho Xanxerê Witmarsum
Vargeão Veloso Trinta Antas Blumenau
Porã Coronel Ascurra Itajaí
Descanso Dona Gaspar
Freitas
Emma
Saudades Xaxim Balneário
Nova Catanduvas
Treze Camboriú
Erechim Ipumirim Tílias Presidente
Pinheiro Videira
Fraiburgo Getúlio
Ibicaré Preto
Irani Indaial
São Xavantina Rio do Itapema
Mondaí Carlos Taió Oeste Camboriú
Guabiruba
Águas de Jaborá Brusque Porto
Caibi Palmitos Laurentino
Itapiranga Chapecó Joaçaba Belo
Seara Botuverá
Curitibanos
Caxambu Chapecó Herval Tangará Lontras
Pouso Redondo Rio do Sul Presidente
do Sul d'Oeste
Nereu
Presidende Canelinha Tijucas
Agronômica Governador
Itá Castello Nova
Lacerdópolis Erval Aurora Celso Ramos
Branco Trento
Velho São João
Concórdia
Ouro Vidal Ramos Batista
Peritiba
Ponte Luiz Alves Major Gercino
Alta Agrolândia Biguaçu
Ipira Leoberto
Leal Antônio
Capinzal Carlos
Ituporanga
27°30'0"S
27°30'0"S
Petrolândia Angelina
Piratuba Campos
Imbuia
E S T A D O
Novos
D O São José
População de origem africana
R I
Wagner
Águas
Lages Mornas
O Anita Bom
Rancho
Queimado
Santo Amaro
da Imperatriz
Garibaldi Retiro
Campo
Belo do
Sul
Anitápolis
G Palhoça
R São
Bonifácio Paulo
A Lopes
N Urubici
D Santa Rosa
de Lima
Garopaba
E Rio São
Fortuna Martinho
Grão
Pará
Braço
São
do Norte Imbituba
Joaquim
N O
Cor 1980
Imaruí
D Armazém
Bom Jardim Orleans São
28°20'0"S
Branca
28°20'0"S
O
Lauro
Muller
E A
Parda
Siderópolis Urussanga
Laguna
Preta Pedras
Grandes Treze
Tubarão
S de Maio
U L
O C
Amarela Nova
Veneza
Morro da
Fumaça
Jaguaruna
Meleiro
Timbé
235.803 do Sul Maracajá Içara
110.000
®
Turvo
Araranguá
Fonte: IBGE. IX Recenseamento Geral - 1980. Vol. 1, Tomo Jacinto
4, Nº 21. Rio de Janeiro: IBGE, 1982 (Tabela 1.11 Machado
50.000 População residente, por cor e sexo, segundo as
Sombrio
29°10'0"S
29°10'0"S
74 75
Praia Escala Gráfica
Sagaz e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC).
1.723 Grande 0 4,75 9,5 19 28,5 38
km
Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones São João PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Bissigo (UFSC). do Sul
2010
Canoinhas Itapoá
Campo
D O Três
Barras
Alegre
A T L Â N T I C O
União
E S T A D O
São
Palma
São Bento Francisco
Sola
Dionísio do Sul do Sul
Cerqueira São Schroeder
Major Itaiópolis
Lourenço
do Oeste Jupiá Vieira Papanduva
Guarujá Irineópolis
do Sul Novo
Princesa Corupá
Horizonte Galvão Bela Vista Rio Negrinho Balneário
Campo do Toldo
São Jaraguá Araquari Barra do Sul
São José Erê Matos Guaramirim
do Cedro Bernardino do Sul
Costa Timbó
Anchieta Coronel Abelardo Grande
São Calmon
Santa Martins Luz Monte Santa
Domingos São
Terezinha Castelo Terezinha Rio dos
Guaraciaba Saltinho Massaranduba João do
do Progre Irati Ipuaçu Passos Cedros
Itaperiú Barra
Romelândia Tigrinhos Formosa Santiago Maia
26°40'0"S
26°40'0"S
Barra Velha
REPÚBLICA
do Sul do Sul
Bonita Água
Paraíso São Miguel Ouro Doce Pomerode
da Boa Bom JesusSerra Sul
do Oeste Alta BrasilJardinópolis Bom Verde Vargeão
Vista Quilombo Entre Jesus Doutor Luiz
São Miguel Rios Macieira Lebon Balneário
Maravilha Pedrinho Alves
do Oeste Modelo Caçador Régis Vitor Timbó Piçarras
Flor do União
Bandeirante Ponte Meireles José Benedito
Sertão do Oeste Santa
Marema Serrada Boiteux Novo
Pinhalzinho Cecília Blumenau
Águas Lageado Penha
Iraceminha Coronel Faxinal Vargem
Belmonte Frias Grande Ilhota
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO IV
Descanso Freitas Xanxerê dos Guedes Bonita Salto Rio das
Cunha Rodeio
Saudades Veloso Antas
Porã Nova Arroio Witmarsum
Rio do
Santa Erechim Trinta Navegantes
Riqueza Campo Gaspar Itajaí Balneário
Helena Nova Treze Salete Dona Ascurra
Cordilheira Ipumirim Iomerê Cambouriú
Iporã Cunhataí Itaberaba Xaxim Tílias Emma
do Oeste Alta
Tunápolis Videira Ibirama Indaial
Caibi São Xavantina Lindóia Irani Ibicaré
Carlos Catanduvas Pinheiro Fraiburgo
Planalto do Sul Presidente
Águas de Alegre Arvoredo Preto Camboriú
Chapecó Luzerna Taió Getúlio Itapema
Itapiranga São João Palmitos Frei Guabiruba
Mondaí Guatambu
do Oeste Arabutã Rogério Apiúna
Chapecó Jaborá Tangará Ponte Alta Rio do
Caxambu Seara Joaçaba Ibiam Monte
Carlo do Norte Oeste
do Sul Brusque Porto
Herval Lontras Bombinhas
Paial Mirim Laurentino Rio do Botuverá Belo
d'Oeste Sul
Presidente Doce
Itá Concórdia Lacerdópolis
Castelo São Canelinha
Ouro Erval Tijucas
Branco Cristóvão Presidente
Velho Campos Brunópolis Pouso
do Sul Nova
Curitibanos Redondo Trombudo Nereu
Novos Aurora Trento
Central Agronômica São João
Peritiba Batista Governador
Ipira Braço do Celso
Ponte Leoberto Major
Trombudo Vidal Ramos
Vargem Alta Leal
Alto Capinzal Zortéa Ramos Gercino
Otacílio Biguaçu
Bela Costa Atalanta
Piratuba
E S T A D O
Vista Agrolândia Ituporanga
D O
27°30'0"S
27°30'0"S
São José
Imbuia Antônio
do Cerrito
Abdon Carlos
Batista Petrolândia
Angelina
R I
Correia
População de origem africana
R Cerro
Lages Mornas
Palhoça
A
Anitápolis
Negro
N
Rio
Rufino
São
D
Painel
Bonifácio
Cor 2010
Capão
de Lima
Alto
Paulo
Rio Lopes
Fortuna Garopaba
Branca
Grão São
D Pará Martinho
Parda
São
Joaquim
Armazém Imbituba
O
Braço Imaruí
Preta
Bom Jardim Orleans do Norte
da Serra
28°20'0"S
28°20'0"S
São Gravatal
Lauro
Indígena Müller Ludgero
N O
Amarela S Urussanga Pedras Capivari
Treze
Total de Habitantes
de Maio
Siderópolis Cocal
E A
do Sul Morro da
Morro Fumaça
515.288 Grande
Nova
Sangão
Jaguaruna
Veneza
Criciúma
Timbé Forquilhinha
do Sul
O C
236.000 Meleiro
Içara
Maracajá
Jacinto Turvo
Machado
Araranguá
110.000 Ermo
®
Fonte: IBGE. Resultados preliminares do Universo do Balneário
Censo Demográfico 2010. (Tabela 4.22 - População Arroio do
50.000 residente, por situação do domicílio e cor ou raça, segundo
Sombrio Silva
29°10'0"S
29°10'0"S
76 77
Praia Balneário Escala Gráfica
Agripino Sagaz e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC).
1.465 Grande São João Gaivota 0 4,5 9 18 27 36
Organização: Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones do Sul
km
N
o recenseamento geral de 2010, 84 gestores e pesquisadores sempre reconhe- que, ao longo do tempo, o registro de cor de
de cada 100 residentes em Santa ceram sua presença em Santa Catarina, mas, uma pessoa variou no tempo conforme seus
Catarina se declararam “brancos”. via de regra, consideraram-na insignificante laços sociais e prosperidade (Ferreira, 2008).
Esse número é menor do que nos três levan- (Leite, 1996; Cardoso, F. e Ianni, 1960; Pedro,
tamentos anteriores, quando aqueles iden- 1988). Desde a década de 1990, pesquisas A presença de africanos em Santa Catarina
tificados como “brancos” eram 90 de cada de campo e em arquivos permitiram docu- esteve associada à expansão da ocupação
100, mas ainda assim é alto, se compararmos mentar em detalhe a população de origem luso-brasílica que vinculou o território do
com o restante do país, onde “brancos” repre- africana e demonstrar seu papel inquestio- sul da América às trocas atlânticas. Antes
sentam 47,7% da população total (IBGE, nável na história de Santa Catarina. da fixação dos europeus, já havia trocas
CAPÍTULO IV
2010, tabela 4.22). Desde o século XIX, a com os grupos indígenas residentes no
autoimagem de Santa Catarina é a de uma Nesse capítulo, partimos das evidências litoral (Oliveira, inédito). A fundação de São
província ou um estado europeu, uma singu- dadas nos recenseamentos para discutir Francisco do Sul, Desterro e Laguna por
laridade que nos distanciaria do restante do o número e a distribuição geográfica dos grupos vindos da Capitania de São Vicente
Brasil, marcado pela mestiçagem. A asso- contingentes populacionais de origem afri- no século XVII lançou as bases para a cons-
ciação de “branco” com “europeu”, e deste cana no território de Santa Catarina desde tituição de núcleos coloniais formados por
com “civilização” e “progresso”, é um traço o início da colonização portuguesa no paulistas, portugueses, índios e mestiços.
persistente do senso comum. Embora seja século XVII até o presente. Neles, para além dos índios escravizados ou
inegável tanto a presença quanto a parti- “administrados”, havia escravos de origem
cipação de descendentes de europeus na Antes de tudo, é preciso indicar que os africana. Há registro de que o fundador de
constituição demográfica e econômica de recenseamentos são resultados de contextos Desterro, Domingos Dias Velho Monteiro,
Santa Catarina, o efeito colateral é a invisibi- históricos distintos. As categorias e os tinha 25 “escravos pretos” e 89 índios entre
lização da população de origem africana. Dos termos usados para classificar a população suas propriedades quando morreu assas-
CAPÍTULO IV
mão de obra de indígenas e africanos: em detalhou “cor”, dividindo-os entre “pardos” e Thereza Carijó citado anteriormente. Vale ária e alimentos, como vimos), passaram a
1740, o ouvidor geral da comarca de Para- e “pretos”. Havia entre eles 543 “pretos”, dizer também que, nesse momento, não adquirir africanos no comércio transatlân-
naguá, que respondia pela justiça em Santa termo comumente usado para africanos foram contabilizados os indígenas que não tico. Os registros de batismo de africanos
Catarina, sustentou que os moradores e eventualmente para seus filhos não pertenciam aos núcleos coloniais, isto é, os novos (recém-chegados) são muito nume-
deveriam prestar serviços nas obras das mestiços, e ainda 350 “pardos”, termo cujo que viviam em suas aldeias e territórios rosos em todas as freguesias do litoral
fortalezas projetadas pelo Brigadeiro José sentido variou muito entre o período colo- originais. Também entre os livres foram entre 1810 e 1830, indicando uma fase de
da Silva Paes, pessoalmente ou através de nial e o imperial, mas em geral denotava contabilizados – é quase certo – os filhos expansão da ocupação e também de forte
seus escravos e administrados (Cardoso, mestiçagem entre africanos e portugueses, e netos dos poucos africanos alforriados vínculo com o circuito mercantil da praça
V., 2013). O inventário do Capitão-mor de portanto nascimento no Brasil, e marcava desde o início da ocupação. do Rio de Janeiro, e, através dela, com o
Laguna, João Rodrigues Prates, permite Atlântico. Das origens, na África, houve
entrever essa convivência. Em sua proprie- Tabela 1 – População das freguesias da Capitania de Santa Catarina conforme o estatuto e a cor (1796). predomínio da região Centro-Ocidental
dade, na Garupaba, tinha 47 escravos, sendo Forros Escravos (Congo, Angola, Benguela), com alguma
Freguesias Livres Totais
Pardos Pretos Pardos Pretos
metade deles africanos e metade “crioulos”, presença de africanos orientais (Moçam-
V. Capital de N. S. do Desterro 3865 75 35 206 789 3747
“mestiços” e “cabras”, estes últimos, possi- bique) e ocidentais (Mina, Jejes) (Mamigo-
População de origem africana
esteve associada à chegada dos colonos consolidou a partir da fundação da vila de tudo milho, feijão e trigo), a mão de obra muito longe do centro de Desterro, quando Enseada de Brito 1563 24 18 17 544 2166
açorianos, mas também à compra gradual Lages, no caminho das tropas entre Viamão e era de agregados (muitos deles indígenas) de sua passagem em 1803 na expedição São Francisco 4786 144 312 17 786 6045
de africanos. Os registros eclesiásticos da Sorocaba, em 1771. Em 1777, o levantamento e pessoas escravizadas de origem africana. de circunavegação do globo liderada por
Laguna 4326 141 77 61 1336 5941
Freguesia da Lagoa da Conceição, fundada feito pelo próprio fundador, Correia Pinto, Entre 1798 e 1818, 65% dos senhores de Krusenstern (Berger, 1984). Tilesius von
Sant'Anna 1710 30 33 12 380 2165
em 1750, apontam claramente tal tendência, indicava uma população de 662 pessoas: terras que possuíam escravos, detinham de 1 Tilenau, integrante da mesma expedição,
com o batismo de filhos de escravas aumen- 367 brancos ou pardos livres, 94 índios, 10 a 4 e só 5% deles tinham mais de 10 (Vicenzi, deixou registro de um cortejo de coroação Totais 28864 1552 9195 39611
Fonte: Biblioteca Nacional – Rio de Janeiro, Seção de Manuscritos, I-31, 29, 18 n. 9. Mappa da População do Governo
tando pouco a pouco, o que indicava a “pretos forros” e 191 pardos ou pretos escra- 2015). A pesquisa de Renilda Vicenzi encon- de reis descendo o largo da Igreja Matriz,
de Santa Catarina segundo as Listas dos Capitães Mores, dadas em o ultimo de Dezembro de 1820, Confrontando com
compra de escravos em outras praças vizados. Em fazendas de criação de gado trou um número significativo de negros livres onde hoje se situa a Praça XV de Novembro, as do último de Dezembro de 1819. Santa Catharina, 9 de março de 1821.
comerciais, já que a chegada de africanos (vacum, cavalar ou muar) e em propriedades e libertos que tiveram acesso à terra, desde o isto é, no coração da capital (Figura 1). * A tabela original continha a divisão de brancos por faixas etárias e de todos os grupos entre homens e mulheres.
CAPÍTULO IV
de crioulização: a proporção de africanos mas é certo que, por alforrias e nascimentos, banos, Campos Novos e Baguaes (Campo
foi gradualmente decaindo, à medida que a população livre de origem africana cresceu Belo do Sul) oscilavam entre 33% e 49% de N.S. do Rosario da Enseada de Brito 2234 3 2 0 0 4 2243
nasciam e cresciam seus filhos e netos. Entre significativamente. O que é notável é a dife- pretos e pardos na população total, sendo S. Pedro de Alcântara 2290 33 55 0 23 77 2478
1820 e o primeiro recenseamento nacional renciação entre as localidades antigas e a proporção de pessoas escravizadas bem São José
S. Joaquim de Garopaba 2869 38 24 0 138 338 3407
em 1872, a população preta ou parda cresceu as de fundação mais recente: enquanto mais baixa: entre 5% e 13% do total.
S. Amaro de Cubatão 3241 231 52 2 83 251 3860
N.S. da Graça de São Francisco 4960 929 248 282 426 455 7300
População de origem africana
Senhor Bom Jesus do Paraty 2153 158 110 332 162 210 3125
N.S. dos Prazeres de Lages 3111 1549 219 243 297 507 5926
Lages
N.S. do Patrocínio dos Baguaes 1290 919 102 14 78 159 2562
Conceição dos N.S. da Conceição dos Coritibanos 1143 794 25 110 42 77 2191
Coritibanos S. João de Campos Novos 1355 476 29 76 52 148 2136
S. Antonio dos Anjos da Laguna 5191 532 261 523 317 656 7480
CAPÍTULO IV
diversas regiões de Santa Catarina marcou estatuto de remanescentes de quilombos. canos incorporados à força pela colonização assim, persistem as categorias predetermi- sária uma contextualização muito detalhada hoje o patrimônio cultural de Santa Cata-
muito pesadamente as chances de mobili- Habitando a mesma terra onde seus ante- (Silva, A., e Rosa, 2010; Schörner, 2008; nadas (especialmente “pretos” e “pardos”) para analisar cada um dos levantamentos rina não reconhece a presença africana,
dade social da população de origem africana, passados trabalharam como escravos, tendo Grunow, 2016). que buscam dar conta de recensear pessoas e a oscilação nos números, visto parecer é porque esses territórios negros ainda
que se identificam como descendentes de evidente que, entre os que hoje se identi- carecem de registro. Não se pode negar,
africanos. Tendo a identidade negra adqui- ficam como brancos, muitos têm antepas- no entanto, que africanos e afrodescen-
rido, no início do século XXI, o sentido simbó- sados pardos e pretos. dentes fizeram parte da história de Santa
lico positivo para um maior número de Catarina desde seu início, e marcam sua
pessoas, e sendo associada a direitos sociais É preciso dizer que a população de origem presença, em todos os sentidos, na popu-
como cotas para ingresso no ensino supe- africana construiu “territórios negros”, lação do estado, hoje.
25,00
20,00
15,00
® Edla von Wangenheim ( c. 1938), cortesia Acervo da Família von Wangenheim
10,00
5,00
Fotografia 2 – Estrada Geral do Rio Vermelho, município de Florianópolis (c.1938). Fonte: Vide referências na Tabela 4. Nos decênios indicados com asterisco, não houve recenseamento geral, e nas demais lacunas não houve coleta de dados sobre cor/raça.
2010
2000
1991
1980
1970
1960
1950
1940
1920
1900
1890
1872
Censo
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
SC
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Brasil
Total
Total
Livre
Livre
Escrava
Escrava
População total
6.248.436
190.755.799
5.356.360
169.799.170
4.542.029
146.815.791
3.628.292
119.011.052
2.930.411
93.139.070
2.129.252
70.191.370
1.560.502
51.944.397
1.178.340
41.236.315
668.743
30.635.605
320.289
17.438.434
283.769
14.334.615
159.802
14.984
144.818
9.930.478
1.510.806
8.419.672
#
5.246.868
N/D
91.051.646
4.783.229
90.647.461
4.077.821
75.704.924
3.317.656
64.540.467
N/D
2.003.821
42.838.639
1.476.267
32.027.661
1.112.809
N/D
26.171.778
N/D
N/D
N/D
240.587
6.302.898
125.942
-
125.942
3.787.289
-
3.787.289
Branca
84,0
47,7
89,3
53,4
89,8
51,6
91,4
54,2
N/D
N/D
94,0
61,0
94,6
61,7
94,4
63,5
N/D
N/D
N/D
N/D
84,8
44,0
78,8
0,0
87,0
38,1
0,0
45,0
183.857
N/D
14.517.961
144.622
10.402.450
97.439
7.335.139
75.007
7.046.906
N/D
62.842
6.116.848
56.948
5.692.657
61.382
N/D
6.035.869
N/D
N/D
N/D
13.625
4.247
2.097.426
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1.954.452
1.033.302
921.150
Preta
2,9
7,6
2,7
6,1
2,1
5,0
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N/D
N/D
3,0
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N/D
N/D
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4,8
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775.558
N/D
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N/D
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N/D
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16.594
4.857
11.737
3.801.782
477.504
3.324.278
Parda (1)
Fonte: A tabela foi elaborada pelos autores com base nas fontes indicadas na última coluna.
%
12,4
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Tabela 4 – População de Santa Catarina e do Brasil conforme cor/raça (1872-2010).
16.041
4.883
N/D
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386.955
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0,5
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N/D
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26.017
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N/D
N/D
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N/D
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482.848
51
329.082
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N/D
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N/D
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534.878
13.126
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N/D
326
46.604
3.469
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N/D
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N/D
N/D
N/D
N/D
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N/D
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p. XV.
3 e 104.
2004. p. 75-76.
1996. p. 46-48.
0,2 "População". p. 1.
0,0 "População", p. 1.
Janeiro: 1898, p. 2
Fontes
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N/D ESTATÍSTICA. Synopse do
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IGBE, 1982-1983. p. 10-11.
<https://ww2.ibge.gov.br/home/
N/D estatistica/populacao/censohisto-
zembro de 1900. Rio de Janeiro:
25°50'0"S 25°50'0"S
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IBGE. Resultados preliminares do FERREIRA, Roberto Guedes. Egressos MARIA, Maria das Graças. Imagens SILVA, Jaime José dos S. Entre a diversão e as SILVA, José Bento Rosa da. Do porão ao ZIMMERMANN, Fernanda. De armação
Universo do Censo Demográfico 2010. do cativeiro: trabalho, família, aliança e invisíveis de Áfricas presentes: proibições: as festas de escravos e libertos convés: estivadores de Itajaí (SC) – entre a baleeira a engenhos de farinha: fortuna
Tabela 4.22 - População Residente, por mobilidade social (Porto Feliz, São Paulo, experiência das populações negras no na Ilha de Santa Catarina. In: MAMIGONIAN, memória e a história. 2001. Tese (Doutorado e escravidão em São Miguel da Terra Firme
situação do domicílio e cor ou raça, segundo c.1798-c.1850). Rio de Janeiro: Mauad X/ cotidiano da cidade de Florianópolis (1930- Beatriz G.; VIDAL, Joseane Zimmerman em História) – Programa de Pós-Graduação - SC: 1800-1860. 2011. 142 f. Dissertação
os municípios - Santa Catarina – 2010. Faperj, 2008. 1940). Dissertação (Mestrado em História) (Orgs.). História Diversa: Africanos e em História, Universidade Federal de (Mestrado em História) – Programa de
– Programa de Pós-Graduação em História, Afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina. Pernambuco, Recife, 2001. Pós-Graduação em História, Universidade
______. Síntese dos Indicadores Sociais GRUNOW, Rildson Alves dos Santos.
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013. Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2015 - uma análise das condições de Invisibilização dos negros no planalto norte VICENZI, Renilda. Nos campos de cima
Florianópolis, 1997. 2011.
vida da população brasileira. Tabela 1.3 catarinense: reflexões acerca da abordagem ______. Memórias do cacumbi: cultura afro- da Serra: ser preto, pardo e branco na vila
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO IV
– Distribuição percentual da população historiográfica da região do Contestado e o MORTARI, Claudia; CARDOSO, Paulino de brasileira em Santa Catarina, século XIX e de Lages, 1776-1850. 2015. 232 f. Tese
residente, por cor ou raça, com indicação do Ensino de História. Revista Santa Catarina Jesus. Territórios negros em Florianópolis XX. 2015. 197 f. Dissertação (Mestrado em (Doutorado em História) – Programa de
coeficiente de variação, segundo as Grandes em História, Florianópolis, v.10, n.2, p. no século XX. In: BRANCHER, Ana (Org.). História) – Programa de Pós-Graduação Pós-Graduação em História, Universidade
Regiões, as Unidades da Federação e as 8-27, 2016. História de Santa Catarina: estudos em História, Universidade Federal de Santa do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, Rio
Regiões Metropolitanas - 2014. contemporâneos. Florianópolis: Letras Catarina, Florianópolis, 2015. Grande do Sul, 2015.
KÜHN, Fabio. Elites locais em uma vila
Contemporâneas, 1999.
BERGER, Paulo (Org.). Ilha de Santa meridional: O Capitão-mor João Rodrigues
Catarina: Relatos de viajantes estrangeiros Prates e seus descendentes (Laguna, século OLIVEIRA, Tiago Kramer de. História e
nos séculos XVIII e XIX. 2 ed. Florianópolis: XVIII). Texto inédito. cartografia dos Patos: Conexões globais e
Ed. da UFSC/ Assembleia Legislativa de dinâmicas continentais no século XVI. Texto
LEITE, Ilka Boaventura. Descendentes de
Santa Catarina, 1984. inédito.
africanos em Santa Catarina: invisibilidade
BRITO, Paulo José Miguel de. Memória histórica e segregação. In: LEITE, Ilka PEDRO, Joana Maria et al. Negro em terra
Política sobre a Capitania de Santa Boaventura (Org.). Negros no sul do de branco: escravidão e preconceito em ® Rita de Cácia Oenning da Silva, Acervo Usina da Imaginação.
Catarina. Lisboa: Typ. da Academia Real Brasil: Invisibilidade e Territorialidade.
População de origem africana
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Fonte: FRAGA, Nilson Cesar. Mudanças e permanências na rede viária do
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! do Sul Contestado: uma abordagem acerca da formação territorial no sul do Brasil.
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21 Vaca Branca 2006. 188 f. Tese (Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento) –
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! Elaboração: Guilherme Regis, Pedro Agripino Sagaz e Isa de Oliveira
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Rocha (SPG/SC).
Capítulo 5 | A presença da população cabocla
Pedro Martins1
Tânia Welter2
A
té o início da década de 1980 o tema População cabocla a Batalha do Irani, e arrastou-se até 1916.
“população cabocla” era conside- Fruto das mazelas sociais e políticas do
rado um tabu em Santa Catarina. Para entender o significado do conceito início da implantação da República no Brasil,
O assunto, sempre associado à Guerra do de população cabocla é importante tomar a Guerra do Contestado foi uma guerra do
Contestado (1912-1916), aparecia na lite- como referência o movimento de ocupação Estado Brasileiro contra uma parcela signifi-
ratura e nos meios de comunicação social do território do Planalto Leste e do Oeste de cativa da população cabocla da região. Guerra
de forma marginal. A escassa informação Santa Catarina a partir de três segmentos que resultou em muitos milhares de mortos e
objetiva gerava – como de resto ainda gera distintos: a população indígena, a população em feridas sociais até hoje não cicatrizadas.
– uma grande carga de preconceito com cabocla e os colonos de origem europeia. Após a guerra, que finalizou com a derrota da
CAPÍTULO V
consequências graves para as populações Estes três segmentos ocuparam sucessiva e população cabocla, a maior parte dos cabo-
assim denominadas e seu desenvolvimento concomitantemente o território em questão clos sobreviventes dispersou-se pela região
ou inserção social. – cada um comprometendo o espaço vital do ou dirigiu-se a outras regiões de Santa Cata-
grupo anterior. Desde o início da fixação de rina e dos estados vizinhos3. Trazemos aqui
Decorridos cerca de 70 anos desde o final da europeus no território brasileiro registrou- dois exemplos de grupos de caboclos rema-
Guerra do Contestado surgiu pela primeira -se a circulação e fixação de indivíduos estra- nescentes da guerra com o propósito de
vez uma iniciativa de governo no sentido de nhos à região passando a disputar o uso das demonstrar como esta população continuou
buscar conhecer de maneira apropriada o terras com a população nativa formada por a se articular na diáspora e como se caracte-
Movimento do Contestado e a realidade da índios Kaingang, Xokleng e Guarani. Especial- riza, nos dias atuais, no contexto catarinense.
população cabocla como um esforço para mente a partir do século XVIII intensificou-se O primeiro exemplo é a Comunidade de
incorporar a ambos na história e no contexto o trânsito e fixação na região de pessoas de Taquaruçu, no município de Fraiburgo, que
social de Santa Catarina. origens diversas. Descendentes de portu- permaneceu na região onde o Movimento do
gueses e paulistas, ex-escravos ou escravos Contestado teve início. O segundo exemplo é
CAPÍTULO V
ênfase e destaque é para o processo de colo- mente de pinus/celulose e maçã. Na entres- locais de difícil acesso, realizam traba-
nização e produção das famílias de origem safra atuam na agricultura de subsistência. lhos em fazendas e monoculturas (pinus/
europeia - como o caso da Família Frey, Há inúmeros relatos sobre as consequências celulose, maçã e outros) ou agricultura de
fundadora do município. nefastas do trabalho nas fazendas. Além de subsistência e enfrentam dificuldades e
ser um trabalho exaustivo e em condições conflitos com os grupos “de origem”. Dife-
As memórias e bens materiais e imateriais das precárias, muitas vezes coincide com o rentemente dos bens materiais e imateriais
populações tradicionais não brancas envol- calendário letivo e contribui para a evasão da cultura dos grupos “de origem”, que têm
vidas na Guerra do Contestado e ainda resi- escolar de trabalhadores adolescentes. sido preservados e valorizados, as tradições
dentes na localidade de Taquaruçu de Cima e bens materiais das populações remanes-
® Detalhe de fotografia de Tânia Welter.
e Assentamento Contestado não recebem Por fim, observa-se uma diferença na valo- centes do Contestado em Taquaruçu, em
destaque. Isto fica evidente na atenção que rização das práticas e dos espaços reli- destaque o cemitério e as tradições das famí-
dá o poder público à conservação dos bens giosos dos dois grupos. A valorização e lias jagunças, estão relegadas a um segundo
culturais materiais do Contestado, como investimento nas práticas e bens materiais plano na ordem de prioridades. Para reagir
A presença da população cabocla
CAPÍTULO V
de Santa Catarina, Noroeste do Rio Grande de nova espoliação. A sobrevivência física
do Sul e Sudoeste do Paraná. contra os grileiros obrigou o grupo a deixar as
terras ocupadas e aceitar a hospitalidade da
Saídos de diferentes pontos da região do administração do Posto Indígena de Ibirama
Contestado, caboclos juntaram-se à Guerra (hoje José Boiteux) onde serviriam de mão de
Santa e estabeleceram entre si novos laços obra barata por quase 50 anos.
de identidade. A narrativa de antigos inte-
grantes da Comunidade Cafuza dá conta de No contexto do Posto Indígena a identi-
que alguns deles deixaram o Noroeste do dade do grupo ganhou outra dimensão.
Rio Grande do Sul atendendo ao chamado Por ser a maioria descendente de índio
de parentes ou líderes caboclos para se e negro (Antônia e Jesuíno) passaram
juntarem à irmandade dos devotos de São a ser chamados de Cafuzos. Frente ao
João Maria em terras catarinenses. Outros conteúdo depreciativo atribuído à identi-
A presença da população cabocla
perambulou pelo Planalto nas últimas tradicional de uso comum da terra. Não se
® Pedro Martins
décadas do século XIX. Ao final da guerra trata de trabalho coletivo, uma ideia derivada
a família de Antônia e outros agregados, do cooperativismo, mas do uso individual
capitaneados pelo genro Antônio Machado, alternado de uma mesma parcela de terra
rendeu-se às forças militares em Canoinhas cuja propriedade é atribuída ao grupo como
Fotografia 2 – Criança Cafuza. Fotografia 3 – Bandeira do Divino na tradição cabocla da Comunidade Cafuza do município de José Boiteux (1989)
– de onde o grupo tratou de sair com muita um todo e a nenhum dos seus membros em
CAPÍTULO V
outro caminho. Nesse processo alguns se individualmente ou em grupos, por uma multicultural e multiétnico formado pelas
GOFFMAN, Erwing. Estigma – notas sobre a
fixaram em áreas urbanas e se acomodaram centena de municípios de Santa Catarina. diversas contribuições. Na diáspora, em
manipulação da identidade deteriorada.
ao estilo de vida próprio das cidades, ainda grupos estruturados ou na própria região
Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
que conservando hábitos e crenças oriundos do Contestado, remanescentes caboclos
do sertão, enquanto outros retornaram às Considerações finais reproduzem e cultivam tradições com maior
MACHADO, Paulo P. Lideranças do
origens – mas longe do grupo, e há aqueles ou menor consciência das suas implicações
Contestado: a formação e a atuação das
que vão e voltam – confirmando uma certa Durante muito tempo discutiu-se e buscou- históricas. Em qualquer parte do estado é
chefias caboclas (1912-1916). Campinas:
tendência ao nomadismo que caracteriza -se definir uma identidade única para o povo possível observar, na paisagem humana, a
Ed. Unicamp, 2004.
parte da população cabocla. catarinense. Na década de 1980 chegou-se presença da população cabocla.
MARTINS, Pedro. Anjos de Cara Suja.
Petrópolis: Vozes, 1995.
® Detalhe de fotografia de Pedro Martins (1993).
A presença da população cabocla
100 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 101
® Detalhe modificado de fotografia de Pedro Martins (2012).
Capítulo VI
Colonização
Europeia
25°50'0"S
25°50'0"S
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
COLÔNIAS - SÉCULOS XIX E XX P A R A N Á Garuva
!
H
Três
Barras Mafra
!
H !
H Itapoá
!
H
D O Canoinhas Campo
ARG ENTINA
!
H Alegre
!
H
Porto Rio São
Irineópolis São Bento Colônia
União !
H Bela Vista
Negrinho
do Sul Colônia Francisco
Dionísio !
H !
H !
H Dona Industrial do Sul
Cerqueira do Toldo !
H
!
H !
H Francisca do Saí
A D O
São Bento
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Joinville
Itaiópolis do Sul !
H
Palma São Lourenço Major !
H
Sola do Oeste Vieira
!
H !
H !
Guarujá H
Campo Araquari
do Sul Erê Jupiá !
H
Papanduva
!
H !
H !
H ! Schroeder
H
Corupá !
H
Novo
São José Horizonte Matos Monte Rio Negrinho Hansa !
H Balneário
Princesa Galvão Barra
do Cedro São !
H !
H Costa Castelo !
H Humbolt Jaraguá do Sul
!
H !
H Bernadino !
H Colônia do Sul Guaramirim
!
! H
H Coronel Lucena !
H !
H
Martins Papanduva Jaraguá
!
H
Anchieta São Abelardo
AT L Â N T I C O
!
H Domingos Luz
!
H !
H
Santa Calmon Timbó
Guaraciaba Terezinha do Saltinho Santiago
!
H Grande Colônia Massaranduba São João do
Ipuaçu !
H Itaperiú
Paraíso
!
H Progresso !
H Formosa do Sul
!
Rio dos !
H
!
H
Barra
Barra !
H do Sul H Velha
26°40'0"S
Cedros
26°40'0"S
!
H !
H
Bonita São Miguel Irati !
H !
H
!
H da Boa
!
H Ouro Vale do
Romelândia
!
H Vista Tigrinhos
Entre
verde Doutor Rio do
!
H Luiz
!
H !
H !
H Serra Bom Pedrinho Texto
REPÚBLICA
CAPÍTULO VI
Descanso Iraceminha Lajeado Faxinal !
Macieira H
Belmonte !
H !
H Pinhalzinho Xanxerê dos Guedes Vargeão Ponte
!
H Águas Grande
Serrada !
H Vitor Colônia
!
H
Frias !
H Xanxerê
!
H !
H Rio das Meireles Colônia
Cunha Nova !
H Salto Antas ! Colônia de Ilhota
Porã Erechim
!
H Coronel !
H
Veloso
H Rodeio Indaial Navegantes
!
H ! Freitas !
H Arroio !
H Lebon
! Blumenau Ilhota
H
! Régis Rio do Witmarsum Rodeio H Blumenau !
H Itajaí H
!
Nova H Trinta
Santa Saudades
Itaberaba !
H !
H Santa Campo !
H José Colônia Hansa !
H !
H !
H
!
Helena Cecília Boiteux Hammônia Ascurra
H !
H H Gaspar
!
!
H
!
H
Cunhataí
Cordilheira
! Água Treze Treze
!
H Salete Dona !
H !
H
alta H Vargem Emma Balneário
Tunápolis Iporã do !
H ! Xaxim Doce Tílias Tílias Iomerê
!
H !
H Camboriú
!
H Oeste H Bonita ! ! Videira Colônia de
H H !
H !
!
H Irani !
H !
H Fraiburgo H
Lindóia
Pinheiro !
H Ascurra Camboriú
!
H
Preto Presidente Colônia !
H
do Sul Getúlio !
Águas de Planalto ! Catanduvas
!
H H Ibirama !
H Azambuja
Riqueza Caibi Palmitos
São Alegre Arvoredo
Xavantina Ipumirim
H Itajahy !H Apiúna
Chapecó !
H !
H Ibicaré
! ! Carlos !
H !
H !
H Hercílio Guabiruba
São João H !
H H
!
H
!
H !
H Tangará
!
Colônia !H Brusque
do Oeste Mondaí Chapecó H Taió
!
H !
H !
H Luzerna !
H Príncipe !
H Itapema
Guatambu Ponte Alta Aquidaban !
H
!
H Dom Pedro Colônia
Caxambu !
H
Chapecó Seára
Arabutã Cruzeiro
Frei do Norte Braço Porto Bombinhas
do Sul !
H Jaborá Cruzeiro Joaçaba Rogério !
H Itajaí
Itapiranga !
H
!
H
Presidente !
H !
H !H
Ibiam !
H Mirim
Rio do do Sul H Lontras
!
Belo !
H
!
H Oeste !
H
!
H Castello Herval Monte Frei Doce !
H
Rio do
Branco d'Oeste Carlo Rogério !
H Sul
Concórdia
! !
H São
Laurentino !
H !
H Bella Porto
H Botuverá
!
!
H H
Cristóvão
Pouso
Aliança Colônia
Paial Lacerdópolis Erval Redondo Franco Brusque Tijucas
! Cruzeiro Velho do Sul !
H Agronômica Presidente São João !
H
H !
H ! Nova Canelinha
!
H Curitibanos !
H
Trombudo
H
Suedarm Nereu Trento Batista !
H
Itá Brunópolis
!
H !
H !
H Governador
!
H Central Aurora !
H
! Celso
H !
H !
H Nova
Ouro Dom Colônia Nova Ramos
H Capinzal
!
Braço de Trento !
H
Peritiba !
H Trombudo Afonso Itália
Campos !
H Vidal
!
H
Ipira Novos Ramos
! Agrolândia ! Major
E S T A D O
Alto Bela H Ituporanga H
!
H Piratuba
!
H Atalanta
!
H Gercino Colônia
Vista !
H
!
H
!
H
Zortéa
!
H Piedade
D O
!
H Ponte Otacílio
Vargem Alta Costa
27°30'0"S
Leoberto Colônia
27°30'0"S
!
H
!
H !
H Imbuia
! Leal Biguaçu
H
!
H Leopoldina !
H
Petrolândia Antônio
!
!
H Colônia Colônia H
Carlos
São Pedro de
Correia Palmeira Chapadão Nacional Angelina
R
do Lajeado Alcântara
Abdon Pinto !
H H Angelina
! !
H
Celso Batista !
H !
H São Pedro de
I O
Colonização europeia
Colonização europeia
Ramos !
H Alcântara Florianópolis !
H
!
H São José São José !H
do Cerrito Palhoça
Anita !
H
Colônia Rancho !
H
Garibaldi Alfredo Santa Queimado
! Wagner !
H Colônia Santo Amaro
H
! Isabel H da Imperatriz
!
Bocaína
H Teresópolis!
H Águas
Colônia Vargem
do Sul Mornas
!
H Militar Santa Grande
Cerro Bom Thereza
!
Negro Retiro Colônia
H !
H
Lages Löffelscheidt
!
H Colônia
G
Campo
Rio
Nucleo Santa
Rufino
Belo !
H Colonial Isabel
do Sul
R
São
!
H Anitápolis Bonifácio
Capão Anitápolis
Painel ! !
H
Alto ! H
H
A
COLÔNIAS DE SANTA CATARINA
!
H Urupema
! Paulo
H Vila de São Lopes
N
Bonifácio !
H
ANO
Urubici
!
H Santa Rosa
D
de Lima Garopaba
ANO DE !
H !
H
COLÔNIAS MUNICIPIO ATUAL ETNIAS PERÍODO
FUNDAÇÃO São Martinho
E
São Pedro de Alcântara São Pedro de Alcântara 1829 Alemães 1º Reinado Rio
do Capivary
Colônia Nova Itália/Dom Afonso São Joao Batista 1836 Italianos Fortuna
São
Regencial Grão !
H
Martinho
Vargem Grande Aguas Mornas 1837 Alemães Pará Grão !
H
Pará Grão
Colônia Industrial do Saí São Francisco do Sul 1841 Franceses
OCE
!
H
Pará
Colônia de Ilhota Ilhota 1844 Belgas
Imbituba
Colônia Löffelscheidt Águas Mornas 1847 Alemães São Armazém !
H
Pará Norte
Colônia Santa Isabel Aguas Mornas e Rancho Queimado 1847 Alemães São
28°20'0"S
Bom Jardim
28°20'0"S
da Serra Ludgero
Gravatal
Colônia Blumenau Blumenau 1850 Alemães e (1870) italianos !
H Orleans
!
H !
H
!
Imaruí
H
Colônia Dona Francisca Joinville 1851 Suíços, noruegueses e alemães Lauro !
H
Grão
D
Müller
Colônia Leopoldina Antônio Carlos 1852 Belgas e Alemães !
H Pará
Pescaria
Pedras
Colônia Militar Santa Thereza Alfredo Wagner 1854 Alemães, Grandes Capivari Brava
O
!
! de Baixo H
Colônia Itajaí/Colônia Brusque Brusque 1860 Alemães
H
!
H
Pedras Laguna
Colônia Nacional/Colônia Angelina Angelina 1860 Alemães, franceses, belgas, poloneses, luxemburgueses e holandeses Grandes Tubarão
!
Treviso Urussanga !
H
H
Colônia Teresópolis Aguas Mornas 1860 Alemães !
H Urussanga
!
H Colônia
Vale do Rio do Testo Pomerode 1861 Alemães Azambuja
Vila de São Bonifácio São Bonifácio 1864 Alemães Nova
S U L
Nova Cocal
!
H
Treze
Veneza
Veneza Siderópolis do Sul
São Martinho do Capivary São Martinho 1865 Alemães !
H !
H
de Maio
Nova Núcleo Colonial Jaguaruna
Colônia Príncipe Dom Pedro Guabiruba 1866 Irlandeses, anglo americanos, ingleses, alemães e poloneses !
H
Veneza
Acioli de Morro da Sangão !
H
Fumaça
Timbó 2º Reinado
!
Timbó 1869 Alemães e italianos Vasconcelos
Criciúma
!
H
H
Nova
Colônia São Bento São Bento do Sul 1873 Alemães, austríacos, poloneses e tchecos !
H
Veneza Içara
Colônia Rio dos Cedros Rio dos Cedros 1875 Italianos, austríacos, alemães, poloneses e russos Vila de São !
H
José de
Colônia Rodeio Rodeio 1875 Austríacos e italianos !
H
Cresciúma
Morro Forquilhinha
Nova Trento Nova Trento 1875 Italianos, russos, poloneses e alemães Grande
Balneário
Porto Franco Botuverá 1875 Alemães e italianos Timbé
do Sul
!
H
Meleiro Rincão
Rio Negrinho Rio Negrinho 1875 Alemães, poloneses, portugueses e italianos !
H !
H Maracajá
!
H
!
H
Aquidaban Apiúna 1876 Italianos
Colônia de Ascurra Ascurra 1876 Italianos
Colônia Azambuja Azambuja e Treze de Maio 1877 Italianos !
H
Turvo
!
Araranguá
H Balneário
Colônia Luiz Alves Luiz Alves 1877 Italianos, austríacos, belgas, poloneses e franceses Arroio
Jacinto Ermo
Pedras Grandes Pedras Grandes 1877 Italianos Machado !
H
!
H
do Silva
!
H
Urussanga Urussanga 1878 Italianos
Papanduva Papanduva 1880 Alemães, poloneses, ucranianos e italianos
Vila de São José de Cresciúma Criciúma 1880 Italianos, poloneses e alemães
Grão Pará Orleans, Grão Pará, São Ludgero e Braço do Norte 1883 Italianos, alemães e poloneses Santa
Rosa
Sombrio
!
H
Núcleo Colonial Acioli de Vasconcelos Cocal do Sul 1885 Italianos, poloneses e russos !
H
do Sul Balneário
Gaivota
29°10'0"S
29°10'0"S
Jaraguá Jaraguá do Sul 1890 Alemães, italianos, húngaros e poloneses Praia !
H
®
do Sul
Nova Veneza Nova Veneza e Siderópolis 1891 Italianos !
H
Suedarm/Braço do Sul/Bella Aliança Rio do Sul 1892 Alemães e italianos
Colônia Hansa Hammônia/Itajahy Hercílio Ibirama 1897 Alemães e italianos
Republicano Passos de Escala Gráfica
Hansa Humbolt Corupá 1897 Alemães Torres
0 10 20 40 km
Nucleo Colonial Anitápolis Anitápolis 1906 Alemães e italianos !
H
104 105
Cruzeiro Joaçaba e Concórdia 1917 Alemães e Italianos*
Xanxerê Xanxere 1917 Alemães e Italianos*
Treze Tílias Treze Tílias 1933 Austríacos, alemães e italianos
Republicano após 1930 Elaboração: Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC).
Frei Rogério Frei Rogério 1963 Japoneses
*Rio grandenses de origem alemã e italiana, oriundos de antigas colônias do Rio Grande do Sul.
O
estado de Santa Catarina é conhe- cultural e étnica, verifica-se, do mesmo modo,
cido no cenário nacional em a influência de negros, caboclos e indígenas.
O PROCESSO DE
função da forte influência euro- COLONIZAÇÃO
peia em sua formação sociocultural. O Colônias foram fundadas com predominância O processo de colonização europeia no Brasil
território catarinense foi marcado pela ou até exclusividade de determinadas etnias, estava diretamente atrelado ao contexto
constituição de várias colônias com o que possibilitava maior coesão, especial- político nacional. A legislação voltada a
imigrantes oriundos de diferentes estados mente no início destas colônias. Alguns promoção da imigração no país sofreu cons-
europeus ao longo do século XIX e XX, o anos após o início, novas levas de imigrantes tantes alterações com períodos de maior ou
que nos permite afirmar que o perfil da
CAPÍTULO VI
foram trazidas e estes imigrantes passaram menor estímulo. Considerando isso, procu-
atual sociedade catarinense, visto sob a a ocupar espaços na borda ou no entorno da ramos apontar alguns desdobramentos
perspectiva étnica, se apresenta de forma colônia mãe. Há uma espécie de transborda- deste processo ao longo do Período Impe-
multifacetada. Desta maneira, o estado de mento para os espaços periféricos da colônia rial (Primeiro Reinado, Período Regencial
Santa Catarina pode ser visto como um original verificando-se, portanto, uma sobre- e Segundo Reinado) e durante a Primeira
caleidoscópio étnico através do qual se posição de etnias numa mesma colônia. República (1889-1930).
perceberá a riqueza cultural oriunda de Blumenau, por exemplo, é originalmente
sua diversificada constituição étnica. uma colônia alemã, mas também recebeu PRIMEIRO REINADO (1822-1831)
italianos, dando origem a núcleos marcada-
A grande variação regional exige que se pense mente com esta etnia. Assim, Blumenau é
em identidades plurais e não numa única A política de colonização do primeiro reinado
“alemã”, mas também é “italiana”. realizou iniciativas muito pontuais em Santa
identidade. Estas identidades plurais, por
sua vez, são “identidades hifenizadas”, isto Catarina e conciliou preocupações com a
é, marcadas por um importante hífen. São Considerando esta sobreposição de etnias, defesa do território – ainda como resquícios
Colonização europeia
comunidades formadas por teuto-brasileiros, torna-se difícil, muitas vezes, definir um das disputas entre Portugal e Espanha – com
ítalo-brasileiros, ou, poderíamos denominar determinado município como sendo de uma ações de povoamento, através de chegada de
de euro-brasileiros. Não podemos esquecer etnia específica. imigrantes agricultores.
de mencionar que ao lado desta formação
Especialmente a partir da década de 1980, Colônia São Pedro de Alcântara
com o advento das “festas de outubro” orga-
1
Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade
nizadas comercialmente na perspectiva Fundada em 1829, é reconhecida como a
Federal de Pelotas (1978), Graduado (1988) e Mestre
da indústria turística, a identidade étnica primeira colônia alemã de Santa Catarina.
(1991) em História pela Universidade Federal de
passou a ter grande importância. Através das Estabelecida na região do caminho das
Santa Catarina e Doutor em História Social (1997)
referidas festas, vários municípios passaram tropas, entre São José e Lages, foi única ação
pela Universidade de São Paulo. Professor Titular do
a receber um “rótulo étnico” e dessa forma, colonizadora na província durante o primeiro
Departamento de História da Universidade Federal
passaram a ser um produto comercializado reinado. Apesar de ter sido criada por ação
de Santa Catarina e pesquisador dos temas imigração,
pela indústria do turismo. O conceito “típico” do governo imperial, sua administração
colonização, meio ambiente, identidade, luteranismo e
passou a ter grande aceitação como produto. também recebeu amparo do governo provin-
germanidade.
Ex. Blumenau: tipicamente alemã; Rodeio: cial catarinense. A localização da colônia,
2
Graduado (2001), Mestre (2004) e Doutor (2011)
tipicamente italiana. próxima à antiga estrada entre São José e
em História pela Universidade Federal de Santa
Lages, nas margens do rio Maruí, tinha entre
Catarina. Professor efetivo do Colégio de Aplicação da Esta tipificação, no entanto, não corresponde os seus objetivos permitir maior integração
Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisador necessariamente, a realidade dos municí- entre a capital e o planalto serrano, até então
dos temas imigração, paisagens, meio ambiente, vida pios aos quais se refere. A realidade é mais muito mais integrado econômica e politica-
e trabalho rural. complexa, visto que dentro de um mesmo mente com São Paulo e com o Rio Grande do
município pode-se perceber uma configu- Sul, em função do comércio tropeiro.
3
Graduada (2011), Mestra (2015) e Doutora (2019) ração étnica que é plural, pois diferentes
em História pela Universidade Federal de Santa grupos formaram ali núcleos e colônias. Essa Os cortes no orçamento imperial, estabele-
Catarina. Pesquisadora de questões sobre a História complexa e multifacetada formação étnica, cidos através da Lei Geral de 1830, afetaram
da imigração, das atividades agrícolas e da agricultura significa também, dificuldade para definir diretamente a Colônia São Pedro de Alcân-
urbana e sobre políticas e discursos relacionados a determinada região ou município como tara, bem como a sequência do processo de
estas temáticas no século XIX e XX. sendo de uma etnia específica. colonização na província de Santa Catarina.
CAPÍTULO VI
cação do Ato Adicional de 1834, que abriu a período. Fundada muito antes do maior rinenses a Colônia Industrial do Saí, em São Santa Isabel alcançou considerável projeção pouca área plana, somado aos ventos e as ficos pelo poder público que desconsiderava a
possibilidade para as províncias brasileiras fluxo de imigração italiana, ocorrido nas Francisco do Sul, a Colônia Belga de Ilhota e na área da educação. Ali foi fundado em 1865, constantes chuvas. Assim, o remanescente presença das populações indígenas e cabocla,
promoverem a fundação de núcleos coloniais, últimas décadas do século XIX, ainda por a Colônia Santa Isabel, mais um núcleo esta- o Instituto de Educação (Erziehungsans- dispersou-se, como os primeiros, pelos foram substancialmente transformadas com a
ocorreram algumas ações de colonização. volta dos anos 1860 “Nova Itália” serviu de belecido nas proximidades da estrada entre talt), como parte da atividade de missioná- distritos e colônias próximas, sendo extinta fundação de colônias de imigrantes de origem
apoio para a conexão das colônias São Pedro Desterro e Lages. rios suíços oriundos de Basiléia. Tinha como a colônia Piedade. No local havia em 1917 europeia, sobretudo alemã e italiana.
de Alcântara e Angelina com as colônias objetivo suprir a carência relativa a escolari- um exíguo povoado com uma capela, e os
Em Santa Catarina, uma lei de maio de 1835 Brusque e Blumenau, no vale do Itajaí. moradores sobreviviam da pesca e da agri-
Colônia do Saí zação, visto que o Estado estava ausente desse Colônia Blumenau
autorizou a fundação de novas regiões de cultura (Mattos, 1917, p. 63).
colonização, nas margens processo, especialmente nas colônias alemãs.
Colônia Vargem Grande Esta escola de Santa Isabel marcou profun- Blumenau foi fundada nas margens do rio
dos rios Itajaí-Açu e Itajaí- Em 1841, por concessão imperial/provincial,
-Mirim. No ano seguinte foi fundada no município de São Francisco damente a região no período que se estende Colônia Leopoldina Itajaí-Açu em 1850, através de um projeto de
foi aprovada uma lei que Em 1837, foi fundada às margens do rio do Sul a Colônia do Saí. Tratava-se de uma desde a sua criação até o advento da política colonização particular capitaneado pelo Dr.
permitiu a colonização Cubatão, junto à nova estrada que ligava colônia industrial baseada nas teorias de de nacionalização do governo Vargas. Locali- No ano de 1847 na localidade conhecida Hermann Blumenau. Este empreendimento
privada, através de Desterro ao Planalto, a Colônia Vargem Charles Fourier e idealizada pelo médico Dr. zada na sede da colônia, além de Santa Isabel, como Alto Biguaçu, entre esta e o rio Tijucas agrícola colonial recebeu como marco
Colonização europeia
Colonização europeia
companhias ou ações Grande. O povoamento deste núcleo colo- Benoit Joseph Mure. O “Falanstério do Saí”, atendia alunos oriundos principalmente foram concedidas terras para a criação de de fundação a chegada dos 17 primeiros
individuais de nacio- nial recebeu muitos colonos alemães prove- como ficou conhecido o empreendimento das seguintes linhas coloniais: Linha Scharf, uma colônia. No entanto, apesar de iniciada imigrantes que adentraram a colônia em 2
nais ou estrangeiros. nientes da “vizinha” colônia São Pedro de colonial, recebeu cerca de 130 colonos fran- Rancho Queimado, Taquaras, Segunda Linha, uma pequena ocupação, em 1849 não de setembro de 18505.
Alcântara. Anos mais tarde, a expansão da ceses. A experiência baseada no chamado Cerro Chato, Linha Bauer, Rio Bonito. havia impulsionado uma maior inserção
colônia pode ser percebida pela criação de “socialismo utópico” teve curta duração, de colonos. Apenas em 1852 chegam, em O Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau,
uma nova área de colonização na localidade sendo desfeita poucos anos depois, em 1844. Em função das distâncias, esta escola possi- pequeno número, alguns colonos oriundos fundador da colônia e seu diretor por mais de
de Löffelscheidt (1847), no atual muni- Entre as justificativas apontadas para o insu- bilitava que alunos ali estudassem em regime da antiga colônia da Armação da Piedade, 30 anos, nasceu a 26 de dezembro de 1819 em
cípio de Águas Mornas. O crescimento da cesso da Colônia do Saí, estavam as dificul- de internato. A comunidade adquiriu uma totalizando 38 pessoas de nacionalidade Hasselfelde no então Ducado de Brunswique.
dades em relação à ocupação e deslocamento área medindo em torno de 6 hectares de alemã e belga (Cabral, 1987, p. 237). Tendo Veio ao Brasil pela primeira vez em março de
na região de mata Atlântica em que foi criada terra, onde os alunos se ocupavam em um enfrentado algumas dificuldades, logo no 1846 enviado pela “Sociedade de Proteção aos
a colônia, a inexperiência agrícola de seus turno do dia, em atividades agrícolas, visando ano seguinte, algumas famílias deslocaram- Emigrantes Alemães” logo após doutorar-se
colonos e a falta de amparo do poder público. suprir o necessário para subsistência da -se para outras localidades e assim a Colônia na Universidade de Erlangen.
escola. Foi uma escola genuinamente comu- Leopoldina se extinguiu.
Colônia de Ilhota nitária, mantida pela comunidade, com A sua missão era analisar a situação em
apoio da Missão de Basiléia (Basel Missions- Lei de Terras e a expansão que viviam os colonos alemães no Brasil.
A Colônia de “ilhota”, também denomi- geselschaft). Destacou-se pelo elevado nível da colonização Inicialmente foi ao Rio Grande do Sul e
nada como “Colônia Belga”, foi fundada nas de educação, o que motivou inclusive uma posteriormente passou por Santa Catarina.
margens do rio Itajaí-Açu no ano de 1844, visita do Presidente da Província Adolpho de O grande fluxo imigratório para a província Depois foi ao Rio de Janeiro onde ficou até
com a chegada de colonos belgas. O empre- Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda de Santa Catarina ocorre a partir dos anos 1847 quando retornou a Santa Catarina e
endimento foi uma iniciativa de Charles Van em 18 de outubro de 1866. Esse elevado 1850, após a publicação da Lei de Terras4. ao Rio Grande do Sul para visitar as colô-
Lede e contou com o apoio do governo da nível possibilitou que jovens oriundos dessa
Bélgica, através da Societé Belge-Brasilienne escola pudessem ingressar em cursos supe-
de Colonisation. Contudo, muitos foram os riores, o que não era comum. 4
“Lei nº 6.012, de 18/09/1850, conhecida como Lei 5
A decisão de estipular este momento como data
conflitos que tiveram lugar na trajetória de Terras. Ela procurou caracterizar o que são terras oficial de fundação de Blumenau ocorreu apenas em
desta colônia, especialmente a partir de Colônia Piedade devolutas e visava ser um instrumento jurídico para 1900. A distribuição dos lotes coloniais individuais
1875 com o falecimento de Charles Van Lede. discriminar as terras públicas das privadas, além deu-se apenas a 28 de agosto de 1852, data em que,
O fato é que seus herdeiros reclamaram a A Colônia Piedade foi criada no litoral, no de impedir o acesso à terra devoluta, a não ser via inicialmente, comemorava-se a fundação oficial da
posse das terras. O Cônsul da Bélgica em local de uma antiga armação estabelecida compra” (Motta, 2010, p.279). Colônia Blumenau.
108 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 109
mento de Itajaí e tornou-se o município de da colônia em novembro de 1877, quando a 1848 na França, o casal procurou exilar-se
São Luiz Gonzaga, sendo que em 1890 seu área começou a receber imigrantes italianos na Inglaterra e para manter o padrão de vida
nome modificado para Brusque. e austríacos, que ocupam os lotes as margens observaram a possibilidade de negociar as
dos rios Luís Alves e Braço do Norte, já os terras dotais. (Ficker, 1965, p. 35)
Vale do Rio do Testo – Pomerode alemães foram distribuídos às margens do
ribeirão Máximo. Posteriormente, colonos Em Hamburgo, o Senador Christiano Mathias
Esta colônia originou-se a partir de nacionais complementam a ocupação da Schroeder, proprietário de uma frota de
Blumenau, localizando-se no vale do rio do colônia e fixando-se às margens dos ribei- embarcações com vastas relações com o
Testo, quando a partir de 1861 formou-se rões Serafim e Braço Seco (Piazza, 1994, Brasil, tornou-se interessado em fundar um
a povoação de Badenfurt com imigrantes p. 199). A colônia foi extinta pelo Aviso empreendimento agrícola colonial nestas
da região de Baden, sul da Alemanha. Neste Ministerial de 9 de abril de 1880, como terras catarinenses. As negociações come-
mesmo ano imigrantes vindos do norte da decorrência de uma solicitação do governo çaram em 1848, tendo como representante
Alemanha estabeleceram-se às margens do da província frente as repetidas revoltas do Príncipe o Sr. Léonce Aubé. A partir
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VI
rio do Testo acima. Em 1863 o engenheiro desencadeadas pelos colonos. A colônia disso, foi fundada pelo Senador Schroeder
agrimensor August Wunderwald explorou apresentava lento desenvolvimento, tendo a “Sociedade Colonizadora de Hamburgo de
o rio do Testo e afluentes e demarcou novos sido seus interesses dirigidos por Brusque e 1849”. O contrato entre as duas partes para
lotes para imigrantes que iriam se estabe- mais tarde por Blumenau. concessão de oito léguas quadradas (uma
lecer nos anos seguintes (Pomerode, 1988, p. légua = 6 km; aproximadamente 28.800
18). O processo de ocupação ocorreu marge- Colonização do Norte hectares) destas terras, foi assinado no dia 5
® Arquivo José Ferreira da Silva.
ando o rio e ao mesmo tempo expandiu- de Santa Catarina de maio de 1849. (Ficker, 1965, p. 44)
-se pelo interior até ocupar os últimos lotes
disponíveis nas localidades de Pomerode Ao lado de outras regiões catarinenses, o O registro de “Colônia Dona Francisca” como
Fundos, Wunderwald, Testo Rega e Testo norte de Santa Catarina sofreu grandes trans- nome oficial ocorreu em outubro de 1852,
Alto. Os últimos imigrantes, também pome- formações a partir da segunda metade do consagrando a homenagem à Princesa
ranos, chegam em 1880 mas, no transcorrer século XIX. A fundação de um grande empre- Francisca Carolina (Ficker, 1965, p. 65). A
Fotografia 1 – Blumenau (sem data). dos dezenove anos de ocupação deste vale, endimento colonial no atual município de chegada dos primeiros imigrantes ocorreu
Colonização europeia
Colonização europeia
ingressaram na região famílias de outros Joinville associada a expansão do processo em 9 de março de 1851 (data de fundação
nias alemãs e concluir sua missão. Em 1848 As dificuldades enfrentadas nos anos inicias da região do Norte da Itália. Através do fluxo estados alemães, como da Prússia, Schleswig- de colonização da direção noroeste propor- da colônia), desembarcaram do navio Colón
Hermann Blumenau visitou a região do Vale colônia levaram Hermann Blumenau a seguir imigratório italiano, foram fundados os -Holstein e Westfália (Deeke, 1995, p. 38). cionam o estabelecimento de colônias que 118 suíços. No dia seguinte desembarcaram
núcleos coloniais de Rio dos Cedros (1875), mais tarde dariam origem a municípios como mais 61 noruegueses. Entre estes primeiros
do Itajaí onde encontrou alguns poucos para o Rio de Janeiro para conseguir emprés-
Colônia Príncipe Dom Pedro São Bento do Sul e Rio Negrinho. colonos a maior parte era composta por
colonos alemães que haviam abandonado a timos junto ao governo imperial durante os Rodeio (1875) Ascurra (1876) e Aquidabã,
Colônia São Pedro de Alcântara. anos 1850. Com a permanência das dificul- atual Apiúna (1876). lavradores, o que evidenciava o caráter rural
dades, depois de longas negociações, em 13 Estabelecida em janeiro de 1866, a colônia loca- Colônia Dona Francisca destes primeiros núcleos. Desde o surgi-
de janeiro de 1860 a colônia Blumenau deixou Colônia Brusque lizava-se na confluência do ribeirão das Águas mento do empreendimento colonial Dona
Hermann Blumenau associou-se a Fernando
de ser particular para tornar-se Imperial em Claras com o rio Itajaí-Mirim, em território Dona Francisca foi fundada em 9 de março Francisca, já estava definido que a sede da
Hackradt para compra de uma área na
troca do acerto das dívidas adquiridas. Em 1860, por iniciativa do governo imperial, equivalente aos atuais municípios de Botu- de 1851 através da “Sociedade Colonizadora colônia chamar-se-ia Joinville, em home-
margem direita do Itajaí-Açu com o apoio
foi fundada nas margens do rio Itajaí-Mirim verá, Nova Trento e parte de Brusque, próxima de Hamburgo de 1849”, em terras ao norte nagem ao Príncipe francês. Sendo assim,
do Presidente da Província Ferreira de
uma nova colônia que recebeu, inicialmente, da sede da Colônia Itajaí. A colônia teve como da Província de Santa Catarina. As razões nas terras da colônia, funda-se o município
Brito. Com isso, Dr. Blumenau parte para a De 1860 a 1880, período em que a Colônia
o nome oficial de “Colônia Itajaí”, por estar elementos colonizadores, em sua maioria, para escolha deste local misturam-se com de Joinville no dia 3 de março de 1877.
Alemanha com o intuito de reunir interes- Blumenau esteve sob propriedade do
localizada nas terras deste município. Entre- irlandeses e norte-americanos havendo a história das famílias reais luso-brasileiras
sados em emigrar para a futura colônia no Império, muita coisa mudou. Com o capital também alguns franceses e alemães. Contudo, e francesas. François Ferdinand Philippe
tanto, posteriormente, passou a ser chamada Colônia São Bento
sul do Brasil. Em função das dificuldades do governo foram feitos alguns investi- sua existência foi efêmera, em 1868 mostrava de Orleans, o Príncipe de Joinville, filho de
de Colônia Brusque, em homenagem ao
enfrentadas para implantação da colônia, mentos necessários para o crescimento da dificuldades de alavancar a produção agrícola Louis Phillipe, rei da França entre 1830 e
Presidente da Província de Santa Catarina, A colônia São Bento foi uma extensão da
Fernando Hackradt decidiu desligar-se da colônia. Um reflexo disso, foi o alto cres- e sua comercialização. No ano seguinte, em 1848, e da Princesa Marie Amélie Bourbon,
Francisco de Araújo Brusque. Nos primeiros Colônia Dona Francisca e do empreendi-
sociedade e recebeu a devolução de seu cimento populacional, visto que em 1862 1869, com o agravamento da situação a colônia casou-se com Francisca Carolina, filha de
tempos, o processo de colonização ocorreu mento de ligação do litoral com o planalto
capital e mais uma indenização. (Piazza e a população já era de 2.068 pessoas e em foi anexada à Colônia Brusque. Neste mesmo Dom Pedro I. (Ficker, 1965, p.15)
através da chegada de imigrantes alemães. com a abertura da “Estrada da Serra”, que
Hubner, 2003) 1868 a Colônia Blumenau contava com ano chegam à colônia imigrantes poloneses,
A expansão desta ação colonizadora acabou posteriormente ficou conhecida como
5.985 habitantes (Piazza, 1994, p. 128). que se estabeleceram em lotes abandonados
incorporando ao seu controle a colônia O tratado de casamento foi celebrado em 22 Estrada Dona Francisca. Em 1872, fixaram-
A região da bacia do Itajaí possui um relevo vizinha de Príncipe Dom Pedro, mais próxima por irlandeses. (Santos, 1979, p. 7) de abril de 1843 e como parte do dote de -se algumas famílias na localidade chamada
bastante acidentado. A colônia Blumenau foi A partir da década de 1870 a Colônia ao rio Tijucas. O desenvolvimento agrícola e, casamento o nobre francês recebeu terras na São Miguel, cerca de 60 km de Joinville.
instalada numa área bastante montanhosa. Blumenau passou a receber também posteriormente industrial, contribuíram para Colônia de Luís Alves Província de Santa Catarina. Depois do casa- Contudo, de acordo com Cabral (1987), a
Dois grandes rios formam o Itajaí-Açu, o rio imigrantes de língua italiana, em sua mudança do patamar de Brusque. Em 1881, mento celebrado no palacete de São Cristóvão impropriedade das terras resultou no deslo-
Itajaí do Oeste que desce da Serra Geral e o maioria da região de Trento, então perten- por decreto do governo provincial, foi criada Em dezembro de 1876 tem início a demar- no Rio de Janeiro, os dois saíram do Brasil camento dos colonos para terras junto ao
Itajaí do Sul (Silva, 1972, p. 8-9). cente ao Império Austro-Húngaro e atual uma colônia resultante de um desmembra- cação dos primeiros lotes e o povoamento para nunca mais voltar. Com a Revolução de rio São Bento, afluente da margem esquerda
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do rio Negro. No ano de 1873, iniciam-se Papanduva alemães que desde 1849 trabalhavam nas a margem esquerda do rio Capivari dando alguns militares, acostumados às práticas
as derrubadas e o preparo das terras para fazendas de café do Rio de Janeiro, conhe- origem a São Martinho, sendo considerada do exército, se recusavam a trabalhar na
a instalação do novo núcleo (Cabral, 1987, Em meados do século XVIII, circulavam cidos como Kaffeepflücker (colhedores de a data de 1865 como a mais provável da lavoura (Santa Catarina, ago. 2018).
p. 231). Assim, os colonos ali fixados alter- pela região através da “Estrada da Mata” ou café). Eram cerca de quarenta famílias origi- chegada dos primeiros imigrantes. Desde o
navam o trabalho na terra e o cultivo com “Estrada das Tropas”, hoje BR 116, tropeiros nárias do norte da Alemanha. As atividades início da colonização a principal atividade Colônia Nacional de Angelina
as tarefas de construção da estrada, sendo vindos do Rio Grande do Sul trazendo econômicas praticadas em toda a extensão da econômica foi a agricultura e a pecuária, sendo
este o trabalho que garantia sustento dos muares com destino a São Paulo com vistas colônia eram as mais diversas, contando com até 1910 a produção de derivados de leite e A Colônia Nacional de Angelina foi fundada
primeiros momentos da colônia. A compo- a abastecer o mercado de charques, couro e engenhos, olarias, moinhos, pequenas fábricas porco a principal fonte de renda dos colonos em 1860, às margens do rio Mundéus.
sição da primeira leva de colonos foi de 10 sal. A localidade no trecho entre Lages e Rio de charuto, cerveja, louça, o cultivo de cereais, (Dirksen, 1995, p. 104). A comercialização Idealizada como uma colônia nacional
famílias de alemães, seguidas de outras Negro era local de parada devido a qualidade a criação de animais para carga e abate, além dos produtos era realizada em Laguna, em com vistas a assentar famí-
40 famílias oriundas da Áustria, de locali- das pastagens, fartura do pinhão e fontes de da presença de vários artesãos que produziam estrada aberta pelos próprios moradores da lias luso-brasileiras que,
dades da hoje Alemanha (Bavária, Prússia, água para as tropas. Até 1820, o trânsito utensílios e ferramentas domésticas e para o região. Após alguns anos passou-se a cultivar segundo jornais da época,
Saxônia), Polônia e Tchecoslováquia. No que de tropeiros era constante, o que levou ao trabalho (Jochen, 2002, p. 42). Em dezembro cana-de-açúcar, o que fomentou a construção estavam mais aptas ao
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VI
diz respeito a economia, São Bento teve na povoamento do lugar, após, começaram a de 1865 o Governo Imperial determinou a de engenhos com vistas a produção de açúcar trabalho nas lavouras.
exploração madeireira uma das suas ativi- surgir os primeiros moradores paulistas e unificação administrativa da colônia Teresó- mascavo, melado e cachaça. Mas, a partir do final dos
dades mais rentáveis. Assim como ocorrera paranaenses, com o objetivo de colher erva- polis com a de Santa Isabel. anos de 1860 a proximidade
em outros núcleos coloniais, a madeira da -mate, cuidar da estalagem dos tropeiros Colônia Militar Santa Tereza com as colônias de Santa Isabel
floresta fora amplamente utilizada na cons- e desenvolver a lavoura de subsistência e Vila de São Bonifácio e São Pedro de Alcântara acabou atraindo
trução dos primeiros ranchos, moradias a pecuária. Por volta de 1880 se estabele- Criada com o objetivo de demarcação de colonos alemães que estavam descontentes
e cercas. Posteriormente, madeiras como ceram neste local imigrantes alemães. Em A partir de 1863, colonos descontentes com território e proteção das tropas que tran- com as condições e a relativa precariedade
imbuía, pinheiro e canela eram utilizados 1890 chegam os imigrantes poloneses e em a situação na Colônia Teresópolis, iniciaram sitavam pela estrada de Lages, a partir do das instalações, tornando a então colônia
para produzir móveis, cabos de ferramentas, 1914 e 1917 instalam-se em Papanduva os novas linhas de colonização, começando regulamento para a criação de Colônias nacional em uma colônia mista. Além dos
equipamentos para agricultura e carroças imigrantes ucranianos, adquirindo lotes pelo desbravamento das margens dos Militares no Império Brasileiro, através da alemães, a vila recebeu ainda imigrantes
e posteriormente tornou São Bento do Sul para a agricultura. De acordo com Ribas, rios Cubatão e Cedro em direção às suas Lei n. 729 de 9 de novembro de 1850, sendo oriundos de Luxemburgo, França, Bélgica,
uma referência na indústria de móveis. a imigração promoveu a agricultura e o nascentes. Formaram ainda as linhas colo- que, em Santa Catarina, através do Decreto Holanda, Itália e Polônia, que ali chegaram
comércio da região. Mais tarde, na década niais do rio São Miguel, rio Novo, rio Salto n. 1.266 de 8 de novembro de 1853 e insta- a partir de 1862. De acordo com Cabral
Rio Negrinho de 1940, colonos descendentes de italianos
Colonização europeia
Colonização europeia
e rio Capivari (FATMA, 1976). Desta forma, lada no início de 1854. A Colônia Militar (1987, p. 237), em 1866 a colônia contava
se estabeleceram ao sul do então Distrito de e a partir de 1864, começou a ser colo- Santa Tereza localizava-se entre a região com 784 habitantes, que se dedicavam a
Papanduva. (Ribas, 2004) nizado o vale do rio Capivari, que daria de Tijucas e o Itajaí-Mirim. Esperava-se que produção agrícola, com destaque especial
Fundada por conta da necessidade em se origem a Vila de São Bonifácio. Os primeiros este tipo de colônia servisse ainda como aos engenhos de farinha de mandioca, e
estabelecer vias de ligação da colônia Dona Colonização nas regiões colonos que se instalaram nas margens do posto militar. Inicialmente, foram introdu- de açúcar, e também 3 alambiques e um
Francisca com outras localidades. No ano próximas a Desterro rio Capivari eram camponeses que traba- zidas 112 pessoas, principalmente casais moinho; havia igualmente uma crescente neceram e outros deslocaram-se para outros
de 1858 inicia-se a construção da Estrada lhavam em regime familiar. Inicialmente brasileiros. (Santa Catarina, jun. 2018) atividade pecuária. Na análise realizada núcleos do estado. Entre os anos de 1888
da Serra (Estrada Dona Francisca) e com O processo de ocupação das áreas próximas a toda a produção era voltada à subsistência por Piazza (1994, p. 76), merece destaque e os primeiros meses de 1889, chegam os
ela, as primeiras iniciativas de ocupação do capital do estado, após a inserção de colonos da família, somente o excedente era trocado a erva-mate, batatas e feijão, além de deri- russos, também poloneses e algumas famí-
Planalto Norte catarinense por parte dos As atividades militares eram mantidas por
açorianos no litoral, tem uma nova fase a por outros produtos. Além da agricultura de meio do cultivo de gêneros alimentícios, vados de suínos e laticínios, carne seca, lias alemãs.
imigrantes europeus. Em 1875 estabelecem- partir de 1829 com a fundação dos primeiros subsistência, os colonos também se dedi- toucinho, manteiga e ovos.
-se as primeiras famílias vindas do Paraná. De além da produção de farinha e melado.
núcleos coloniais com imigrantes de outras cavam à atividade leiteira (Schaden, 2007), Havia também gados vacum, cavalar e A última leva de imigrantes chega a loca-
acordo com Cabral (1987), com a conclusão etnias. De igual modo, durante a segunda que perdura até os dias de hoje. Em meados muar. O comércio era estabelecido, princi- Distrito Colonial de Nova Trento lidade em 1902, sendo em sua quase tota-
das obras da estrada em 1880, a região metade do século XIX houve incremento no do século XX a produção de banha de porco
recebe um grande número de famílias, quase palmente, com os tropeiros, que passavam lidade lavradores oriundos da Polônia.
processo imigratório com a ocupação de ganha destaque, até o final da década pela estrada, e com as colônias próximas. Em 1875 foi criado o distrito colonial de Nova Percebe-se, portanto, que embora a loca-
todas de ascendência teuta. Nesse contexto novas frentes de colonização no vale do rio de 1960 esta atividade esteve em franca
é que surgem as principais casas comerciais O posto para cobrar os impostos sobre Trento, sendo em julho deste mesmo ano, lidade possua atualmente uma forte iden-
Tijucas e nas localidades próximas a estrada expansão e formando a base da economia os animais, que desciam para o litoral, foi alocadas as primeiras 20 famílias originárias tidade com aspectos da cultura italiana, a
no povoamento que se formava. Além dos que ligava o litoral ao planalto. local. Na década de 1950 foi instalado um
alemães, estabeleceram-se ainda em Rio instalado nessa colônia. Os recursos arreca- de Trentino e de Monza, na Itália. A região sua formação inicial contou com diferentes
abatedouro no município, o que possibi- dados deveriam ser aplicados na melhoria de Trentino na época pertencia à Áustria, etnias que contribuíram com o povoamento
Negrinho, embora em menor número, portu- litou a exportação do produto para outros
Colônia Teresópolis da estrada (Boiteux, 1912). A colônia contou por isso ficava difícil classificar em números da região. Além destas etnias oriundas da
gueses, poloneses e italianos. A conclusão da estados do Brasil (Caporal, 2007).
Estrada Dona Francisca impulsionou a ativi- com diversa população, por conta do recru- italianos e austríacos (Marques, 2001, p. Europa, a formação na colônia também
dade de extração e comercialização de erva- A Colônia Teresópolis, localizada às margens tamento de pessoas de diferentes regiões do 117). No ano seguinte, 416 imigrantes tiro- contou com a presença de famílias nacio-
São Martinho do Capivary Brasil. Nesse modelo de colonização o cres- leses dirigem-se ao novo núcleo, seguidos de nais. De acordo com Piazza, por conta da
-mate, que foi durante muito tempo, ao lado do rio Cubatão, próximo a Florianópolis, foi
da extração de madeira (estimulada pela criada em 1859 e começou a ser ocupada em cimento populacional normalmente é baixo mais 700 italianos de diversas procedências chamada grande seca que assolou o nordeste
grande presença de araucárias), a principal 1860, com 91 imigrantes alemães oriundos Assim como ocorreu com o núcleo de São e no lugar de estrangeiros têm-se soldados que ali se estabelecem no mês de setembro. brasileiro entre 1877 e 1878, foram encami-
atividade econômica da região do planalto, em sua maioria da região do atual estado Bonifácio, alguns colonos alemães que oriundos de conflitos encerrados. Em 1862 De acordo com Walter Piazza (1994), até nhados pelo governo imperial para o Sul do
sendo inclusive denominada de “ouro verde”. alemão da Renânia do Norte Vestfália. Neste inicialmente assentaram-se em Teresópolis, contava com apenas 182 indivíduos. Relatos o ano de 1880, cerca de 11 mil pessoas país algumas famílias que se estabeleceram
(Cabral, 1987, p. 232) mesmo ano, vieram famílias de colonos se deslocaram de colônias próximas para do presidente da província apontam que chegaram a Nova Trento, onde alguns perma- ali (Piazza, 1994, p. 78).
112 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 113
A inserção de italianos em Santa Catarina já A partir de 1889, imigrantes poloneses e cial entre os campos de Lages e Tubarão. Em Vila de São José de Cresciúma matrimonial da Princesa Dona Isabel. Por
Colonização da Região Sul
ocorria em 1875, sendo estes encaminhados russos chegavam ao Sul de Santa Catarina, abril de 1877 desembarcam em Laguna os meio de contrato assinado com Joaquim
A colonização do Sul do Estado foi efeti- às colônias do Norte. Contudo, devido ao nos vales dos rios Urussanga, Tubarão, Mãe primeiros imigrantes italianos oriundos da Fundada em janeiro de 1880, a colonização Caetano Pinto Júnior, em 1881 iniciaram-se
vada em grande parte por imigrantes fato das colônias Blumenau e Brusque já Luzia e Araranguá, tendo ainda outras levas região do Vêneto que, na confluência do rio na inicialmente batizada como Vila de Cres- os trâmites para a efetivação da colônia, que
oriundos da Itália, que passava pelo movi- estarem bastante ocupadas, o Governo se fixado nos vales dos rios Itajaí e Itapocu Pedras Grandes com o Tubarão, fundaram ciúma tem início com 22 famílias italianas em 1883 recebeu os primeiros imigrantes
mento de unificação de províncias e de Imperial resolveu abrir novas frentes de e em São Bento do Sul e adjacências. Como a Colônia Azambuja, considerada como oriundas das regiões de Veneza, Beluno italianos provenientes de Gênova, um grupo
industrialização. Segundo Baldin (1999, p. expansão em terras até então inexploradas, ocorrido em outras regiões de Santa Catarina, ponto de partida da colonização italiana do e Treviso, que se fixaram nos terrenos já de 22 famílias, perfazendo o total de 132
16) “o processo de industrialização acabou às margens do rio Tubarão, no Sul de Santa logo que receberam seus lotes, os imigrantes sul de Santa Catarina (Baldin,1999). Após a previamente divididos. Na década seguinte, pessoas. Anteriormente a implantação da
por gerar desequilíbrios econômicos Catarina. No ano de 1876 o então Presidente tiveram que enfrentar os problemas comuns fundação de Azambuja, seguiram-se novas 1891, chegam as primeiras famílias de colônia, já havia conhecimento por parte
que possibilitaram a integração de uma da Província de Santa Catarina, Alfredo ao novo espaço: moradia precária, trabalho levas de colonos italianos que foram esten- poloneses, além destas etnias, também se das empresas de colonização sobre a exis-
minoria detentora de capital e deixaram d’Escragnole Taunay, visita a região do vale dendo-se pelo vale do rio Urussanga. Com fixaram na região alemães provenientes do tência de carvão mineral na região. Contudo
árduo na lavoura, derrubada da mata, espera
uma grande maioria desprovida de bens, do rio Tubarão dando início ao movimento a ajuda de luso-brasileiros, os italianos vale do Braço do Norte e Vargem Grande, a exploração carbonífera passa a ser colo-
pela primeira colheita e conflitos com indí-
à margem do processo”. A análise histórica de colonização do Sul com a formação dos aprenderam a lidar com a mata e a cultivar o e em menor número vieram portugueses, cada em acordos e contratos com empresas
genas que viviam nos territórios colonizados.
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VI
deste processo pode ser realizada consi- primeiros núcleos coloniais. solo com técnicas e ferramentas auctótones africanos e árabes. (Balthazar, 2001, p. 24) estrangeiras a partir de 1861, ainda assim
derando muitos elementos, quais sejam: (Piazza, 1994, p. 202). A Colônia ramificou- levou-se alguns anos até a sua implemen-
Colônia de Azambuja
a situação socioeconômica e política das Em princípios de 1877 chegaram em Desterro -se em cinco núcleos: Urussanga em 1878, A colônia experimentou um certo crescimento tação. (Dall’Alba, 1986, p. 395)
regiões de origem, a estrutura adotada os primeiros vapores trazendo colonos Criciúma em 1880, Cocal em 1885 e Nova e, já em 1892, era elevada à categoria de distrito
para colonização do Brasil, os contratos italianos e, no mesmo ano implantou-se, no A fundação da Colônia Azambuja é o marco Veneza em 1891. Em termos econômicos, de paz como sexto distrito de Araranguá. De Após a colonização, iniciada com italianos,
que promoveram o movimento migratório vale do rio Tubarão, os núcleos de Azambuja, inicial da colonização italiana no sul de a localidade vivenciou expressivo desen- acordo com Balthazar o novo distrito, ainda também afluíram para a colônia alemães,
em maior escala, a fixação nas diversas Pedras Grandes e Treze de Maio; no vale do Santa Catarina, cuja localização no vale volvimento após a descoberta de minas de pertencendo ao município de Araranguá, letos e poloneses. Na década de 1890, os
áreas de Santa Catarina e os efeitos da Urussanga, os núcleos de Urussanga, Acioli de do rio Tubarão já foi ponto de parada de carvão e da construção da Estrada de Ferro tinha na agricultura sua principal atividade alemães estabeleceram-se, inicialmente, no
colonização. Vasconcelos (atual Cocal do Sul) e Criciúma. tropeiros que realizavam a ligação comer- Thereza Cristina, que proporcionou o esco- econômica e, por vários anos, a agricultura e atual município de Braço de Norte (antes
amento do carvão, sendo também o meio a pecuária de subsistência foram suas princi- pertencente à Colônia Grão-Pará) deslocando-
de transporte pelo qual passaram a chegar pais produções, geralmente comercializadas -se para Orleans, fixaram-se na comunidade
os imigrantes. Com os imigrantes italianos na região. Posteriormente, por volta de 1913, de Taipa. Os letos vieram entre os anos de
também vieram as primeiras mudas de o carvão é descoberto na região e passa a ser 1890 e 1891, colonizando a comunidade de
Colonização europeia
Colonização europeia
vinhas, que atualmente imprimem grande explorado comercialmente a partir de 1916. Rio Novo. Os poloneses colonizaram a comu-
destaque produtivo a localidade. Em 1919 é inaugurado o transporte ferrovi- nidade de Chapadão por volta de 1892.
ário com o trecho Criciúma-Tubarão e a ativi-
Núcleo Colonial de Urussanga dade carbonífera adquire grande destaque na
PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930)
economia regional. (Balthazar, 2001, p. 26)
Após a criação da Colônia Azambuja, o
Núcleo Colonial Accioly de Vasconcelos As mudanças no cenário brasileiro desenca-
engenheiro responsável, senhor Vieira
deadas pela abolição da escravatura, asso-
Ferreira, passa a organizar demarcações
ciada a queda da monarquia e a implantação
em Urussanga, delimitando os lotes em Em 1885 formou-se a Vila Cocal, pertencente
da república brasileira reconfiguraram as
forma triangular, na confluência dos Rios ao Núcleo Accioly de Vasconcelos. Antes de
políticas de colonização no país. Ao longo do
América e Urussanga, aproveitando a formado o núcleo, os primeiros habitantes
período conhecido como Primeira República,
configuração natural do terreno. Em maio vinham e instalavam-se a beira do rio mais
o governo procurou estimular a expansão
de 1878, chegam ao núcleo colonial os tarde batizado de rio Cocal. A Vila Cocal foi
de novas frentes de colonização. Em Santa
primeiros imigrantes italianos, vindos da fundada em 1885, iniciando com imigrantes
Catarina, a colonização foi direcionada tanto
região de Veneza, sendo este, portanto, italianos e poloneses que compunham 150
para as proximidades das primeiras áreas
considerado o ano de fundação da cidade famílias e, mais tarde, chegam alemães e
coloniais quanto para um novo processo de
(Baldessar, 1991). Em 1886, o Núcleo Colo- russos (De Faveri e Souza, 2006). A colônia
ocupação na região oeste do estado. Durante
nial de Urussanga ainda é uma extensão da prosperou centrada na agricultura de subsis-
os primeiros anos da república foram
Colônia Azambuja, assim como as demais tência, plantando e trocando o excedente de
fundadas no norte de Santa Catarina e Alto
colônias da redondeza. Os imigrantes mandioca, trigo, cana-de-açúcar, milho, arroz,
Vale do Itajaí as colônias Lucena (Itaiópolis),
® Arquivo Histórico de Urussanga.
italianos, além de colonizarem a área e feijão, fumo, uva, cevada, café e verduras.
Jaraguá, Hansa Humbolt (Corupá), Hansa
cultivarem as suas terras, passam também
Hammonia (Ibirama) e Rio do Sul.
a trabalhar na construção da Estrada de Colônia Grão-Pará (atuais municípios
Ferro Dona Tereza Cristina e nas minas de Orleans, Grão Pará, São Ludgero e
de carvão. A economia do núcleo colonial Braço do Norte) Colônia Lucena
baseou-se na agropecuária, passando mais
tarde à extração do carvão mineral e à Situadas no vale do rio Tubarão, as terras Fundada em 1891, em área antes perten-
Fotografia 2 – Derrubada inicial da mata e as primeiras casas na Colônia Azambuja (1877).
indústria de vinhos. da Colônia Grão-Pará faziam parte do dote cente ao estado do Paraná, na parte sul
114 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 115
do vale do rio Negro, com inserção de exploração das terras, Jourdan contrata húngaros. Em 1893, as terras passam a juris- yy Itapocu, no então município de Joinville nação Braço do Sul
imigrantes poloneses. Mais tarde, conforme ferreiros, marceneiros, carpinteiros e lavra- dição do Estado de Santa Catarina, momento (área que hoje corresponde, em grande (Südarm) deve-se ao
levantamento populacional efetuado no ano dores para a construção do engenho e a em que Jourdan retorna a região e com o apoio parte, a Jaraguá do Sul), com sede estabelecimento dos
de 1895, encontram-se também fixados plantação da lavoura de cana-de-açúcar. do governo nacional adquire parte das antigas Humboldt (hoje Corupá); primeiros moradores
na colônia alguns colonos ucranianos e Tendo alguns maquinários adquiridos pelo terras, estabelecendo oficialmente a Colônia na confluência dos
alemães vindos de São Bento. A produção da coronel chegado a localidade em 25 de Jaraguá em 1895. yy Sertão de São Bento, entre Joinville e rios. Nas primeiras
colônia baseava-se especialmente em milho, julho de 1876, considera-se esta sua data São Bento do Sul; décadas, Braço do
centeio, feijão, batatas e extração de erva- de fundação. Contudo, alguns anos depois o Colônia Hansa – Sociedade yy Piraí, no ex-patrimônio do Príncipe Sul foi uma continui-
-mate, com relevante exportação. Apesar empreendimento fora abandonado pela falta Colonizadora Hanseática de Schönburg-Walden¬burg, no então dade de Blumenau e
da destacada produção, a colônia enfrentou de estrutura que permitisse o escoamento município de Joinville. nasceu com a tenta-
problemas com pragas e enchentes. No ano da produção. Sendo assim, a essa altura a No ano de 1897 foi organizada em Hamburgo, tiva de integração
de 1916 estabeleceu-se o acordo entre os população contava com algumas famílias Alemanha, a Sociedade Colonizadora Hanse- das povoações do Fotografia 4 – Escola italiana na Colônia Nova Veneza (1914).
estados de Santa Catarina e Paraná para brasileiras, e alguns pretos nortistas, antigos A Colônia Hammonia, atual Ibirama, foi litoral com os núcleos
ática com o intuito de colonizar terras devo- fundada em novembro de 1897 por uma
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VI
definir seus limites interestaduais, sendo trabalhadores empregados por Jourdan. lutas nos vales dos rios Hercílio e Itapocu. populacionais da região Serrana. Em 1912, Colônia Nova Veneza
assim, o agora município de Itaiópolis torna- (Schörner, 2006) expedição formada por Albrecht Wilhelm o local passou a chamar-se Bella Alliança.
Estas terras foram concedidas pelo governo Sellin, o engenheiro Emil Odebrecht
-se parte do território catarinense. estadual em 1895 a antiga Sociedade Colo- O nome Rio do Sul veio somente em 1931 Com base na Lei Glicério, em 1890 o empre-
e alguns funcionários. O grupo partiu com a emancipação política.
No início do período republicano as terras nizadora Hamburguesa e posteriormente de Blumenau e subiu o rio Itajaí-Açu sário Angelo Fiorita obtém uma concessão
Colônia Jaraguá dotais voltam a pertencer a União, sendo concedidas em contrato a Sociedade Coloni- de 30 mil hectares de terras a sudoeste
seguindo até a barra do ribeirão Taquaras
que parte delas passa a ser colonizada a zadora Hanseática. na posição onde conflui com o rio Itajaí A formação do núcleo que, durante muito de Urussanga, com o intuito de para ali
Em terras originárias do dote matrimo- partir de 1890 pela Agência de Colonização do Norte. Ficou decidido que o local era tempo, permaneceu com características encaminhar uma corrente imigratória
nial da Princesa Isabel, nas margens do rio sediada em Blumenau. Assim, estabelecem- Para atender ao novo fluxo de imigrantes adequado para fundar a sede da Colônia, rurais, desenvolveu uma agricultura de de italianos. Esta lei fazia parte de uma
Itapocu foram empreendidas medições em -se na região imigrantes húngaros, alemães, esperado pelo convenio estabelecido com o cuja denominação inicial foi Hammonia subsistência nos lotes dos colonos de estratégia da República visando garantir
1872 para exploração da região. Tendo italianos e posteriormente poloneses. No governo, foram criados quatro novos distritos (Wiese, 2007). Em 1898 chegam os origem alemã e italiana nas várzeas do a ocupação do Sul do país, concedendo a
sido as medições realmente efetivadas em início do ano de 1891, nos arredores de coloniais que, juntos, formavam a Colônia primeiros colonos, iniciando a ocupação Itajaí-Açu e seus afluentes. Considera-se o empresas privadas o direito de introdu-
1876 pelo coronel belga Emílio Jourdan, o Jaraguá do Sul, nas localidades de São Pedro Hansa (Die Kolonie “Hansa”, 1911, p. 3-4): que logo acolheu outras levas. ano de 1892 como início da colonização, zirem imigrantes estrangeiros. Em junho de
mesmo negociou diretamente com os prín- do Garibaldi, Alto Jaraguá, Jaraguazinho e quando se fixaram as primeiras famílias. 1891, agora sob o comando da Companhia
Colonização europeia
Colonização europeia
cipes as atividades a serem empreendidas Jaraguá, no atual município de Jaraguá do Sul, yy Itajaí-Hercílio: o maior e mais impor- A expectativa da sociedade era de intro- A chegada de vários colonos alemães e Metropolitana, sediada no Rio de Janeiro,
nas terras (povoamento, extração de erva- se instalaram aproximadamente 230 famílias tante, localizado no então município duzir um número estimado de mil colonos italianos, oriundos do Médio Vale, começou chegam os primeiros imigrantes italianos,
-mate, madeiras e minérios). Para o esta- de húngaros. A área de Alto Jaraguá e Garibaldi, de Blumenau, com sua sede Hammonia e que, passados cinco anos, fosse possível a formar pequenas áreas de colonização cerca de 400 famílias oriundas de Veneza.
belecimento de atividades econômicas de por exemplo, foi colonizada inteiramente por (hoje Ibirama); chegar a seis mil imigrantes por ano. Entre- e entre eles se destacavam: Braço do Sul, Em outubro chegam mais imigrantes, cerca
tanto, contrariando suas expectativas e Lontras, Matador e Cobras. de 500 famílias que originaram outros
frustrando os planos iniciais, em dez anos núcleos, sendo a colônia assim dividida:
(de 1897 a 1907) pouco mais de 3.700 Com a propaganda governamental, são Nova Veneza (sede da companhia), Nova
colonos deram entrada nos quatro distritos atraídas novas correntes migratórias, Belluno, Jordão, Nova Treviso, Rio Bonito,
da colônia. Em 25 anos, a Sociedade Coloni- que subiram o Alto Vale do Itajaí, fazendo São Bento e Belvedere. Esta colônia tornou-
zadora Hanseática não logrou sucesso em crescer os núcleos germânicos e italianos. -se peculiar por ter sido fundada após a
sua expectativa de inserir na Colônia Hansa A construção de estradas, contratadas proclamação da República e, de igual modo,
mais que o número de europeus previstos pelo governo, cujo pagamento era reali- por marcar o fim da imigração italiana para
para um ano. Os planos de receber apenas zado pela concessão de terras devolutas Santa Catarina. (Bortolotto, 1992, p. 22)
imigrantes alemães também fo¬ram para serem colonizadas alavancou este
se transformando ao longo do tempo. progresso. Rio do Sul, por sua posição Em 1894 os colonos produziam milho, feijão,
Passaram a ser admitidos colonos de outras geográfica, sobressaiu aos demais núcleos arroz, trigo, fumo, cana de açúcar e criavam
regiões da Europa e também de outros do Alto Vale do Itajaí desde o início. gado, cavalos, cabras e galinhas em um bom
núcleos coloniais, como os excedentes da Estando-se estrategicamente localizada, número. Além disso, a abertura de estradas
Colônia Blumenau, inclusive brasileiros. no ponto de encontro das rodovias, passa foi feita pelos próprios colonos (Bortolotto,
® Arquivo Público Municipal de Ibirama.
116 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 117
Colonizadora Sede Área de Atuação de Frei Rogério, numa altitude média de 950 imigração, a JAMIC, sediada em Porto Alegre saki, razão da criação do “Parque Sino da
Colonização do Oeste Catarinense
Brazil Development and Colonization Portland (EUA) Cruzeiro/Joaçaba e Chapecó metros, apropriada, portanto, para este tipo (RS). Através do IRASC e JAMIC, foram Paz” no local e nesse processo, destacou-se
A expansão da colonização no oeste de Santa Empresa Colonizadora Luce, Rosa & Cia. Rio Grande do Sul Cruzeiro/Joaçaba e Concórdia de fruticultura. criados os núcleos coloniais em Curitibanos, o imigrante Kazumi Ogawa, um dos sobrevi-
Itajaí, Caçador e Criciúma, com japoneses ventes da bomba de Hiroshima e que faleceu
Catarina resultou de uma mescla entre as Rio Grande do Sul e
Empresa Colonizadora Ernesto F. Bertaso Chapecó – sede e outras áreas que haviam emigrado do Japão após o recentemente, em 2012.
mesmas estratégias adotadas nas demais Santa Catarina A formação desta colônia, insere-se naquilo
que podemos chamar de uma imigração término da Segunda Guerra Mundial e que
regiões do estado com algumas novidades. O Companhia Territorial Sul Brasil Rio Grande do Sul Chapecó – (Extremo-Oeste)
tutelada, visto que os governos estadual se encontravam em vários estados brasi- Os japoneses eram considerados os mais
descaso com as populações indígenas e cabo- Sociedade Territorial Mosele, Eberle,
Rio Grande do Sul Cruzeiro/Joaçaba
e municipal se envolveram diretamente leiros, especialmente em São Paulo, Paraná aptos para abastecer as cidades com horti-
clos que ocupavam as terras destinadas às novas Ahrons & Cia. (H. Hacker e Cia)
na organização e no aporte de recursos e e Rio Grande do Sul. frutigranjeiros, razão pela qual foram criadas
áreas coloniais seguiu uma cruel tendência Empresa Chapecó – Peperi Ltda. Rio Grande do Sul Chapecó – Mondaí
já adotada desde as iniciativas da primeira subsídios. Era do interesse do governo esta- algumas agrovilas nas proximidades de Itajaí,
Volksverein für die deutschen katholiken
Rio Grande do Sul Chapecó – Colônia Porto Novo/Itapiranga dual e municipal a presença de japoneses A colônia de Frei Rogério foi criada oficial- Caçador e Criciúma. Atribuía-se, também, aos
metade do século XIX. A principal mudança in Rio Grande do Sul
está relacionada a origem dos colonos, em em função do Programa de Fruticultura de mente em 1963, quando o então governador japoneses, uma ascese e amor ao trabalho.
Barth, Beneti & Cia Ltda. (Barth, Annoni
Rio Grande do Sul Chapecó – região São Miguel do Oeste Clima Temperado, o PROFIT. Nesse contexto, Celso Ramos assinou documento oficia- Através da pedagogia do exemplo e com a
grande parte teutos e ítalo-brasileiros originá- e Cia. Ltda.)
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VI
rios de colônias do Rio Grande do Sul. Angelo di Carli, Irmão & Cia. Rio Grande do Sul Chapecó e Cruzeiro/Joaçaba
o IRASC – Instituto de Reforma Agrária de lizando a criação da primeira colônia de divulgação de novos processos e inovação
Santa Catarina, órgão estadual extinto em imigrantes japoneses em Santa Catarina, a agrícola, seria possível beneficiar o agricultor
Nardi, Bizzo, Simon & Cia. Rio Grande do Sul Chapecó e Cruzeiro/Joaçaba
1978, foi fundamental na criação deste qual recebeu o nome de Colônia Ramos, em nacional, ao qual se atribuía atraso em função
Do ponto de vista geográfico, a região Irmãos Lunardi Rio Grande do Sul Chapecó núcleo colonial com japoneses. O IRASC foi homenagem ao então governador. Alguns do emprego de métodos arcaicos na agricul-
oeste catarinense está situada no planalto Empresa Povoadora e Pastoril Theodore
São Paulo Cruzeiro/Joaçaba - Concórdia
responsável pelos contratos de imigração imigrantes desse grupo eram sobreviventes tura/fruticultura, bem como falta de amor ao
meridional brasileiro e, no início do século Capelle
e colonização com a empresa japonesa de das bombas atômicas de Hiroshima e Naga- trabalho no campo.
XX, estava amplamente ocupada pela Estado de Santa Catarina Santa Catarina Chapecó – (Itaberaba e Itacorubá)
Floresta Ombrófila Mista, composta prin-
Fonte: Nodari (2009, p. 37).
cipalmente pelo pinheiro araucária (Arau-
caria angustifolia) e pela erva-mate (Ilex austríaca de Treze Tílias se encaixou na polí-
paraguariensis). OUTROS CASOS APÓS ANOS 1930 Detalhe de fotografia de Mapa Colonial do acervo da Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Catarina.
tica migratória vigente naquele momento e
As estratégias políticas adotadas nos cumpriu a função de ocupação no território
O impulso para o processo de colonização governos do presidente Getúlio Vargas conflagrado por problemas agrários.
Colonização europeia
Colonização europeia
no oeste catarinense está diretamente impactaram de forma decisiva no processo
associado ao final da Guerra do Contes- de colonização europeia em Santa Catarina. Após o término da II Guerra Mundial, a
tado (1912-1916). Considerado um grande Apesar disso, poucos anos antes da implan- Comissão de Reparações de Guerra, em
vazio demográfico pelo poder público, tação da ditadura nacionalista varguista 1948 incluiu a colônia de Treze Tílias na
a implantação de colônias na região foi (1937-1945), foi fundado mais um empreen- esfera administrativa do Governo Federal,
sistematizada através da articulação entre dimento colonial no estado. com o nome de Papuan. Em 1957, Papuan
o poder público estadual e companhias (Treze Tílias) saiu da esfera administrativa
colonizadoras originárias do Rio Grande Colônia de Treze Tílias do Governo Federal, passando a ser um
do Sul. Além da comercialização de terras distrito do município de Joaçaba e em 1963
para colonos rio-grandenses, as empresas A Colônia de Treze Tílias foi fundada no ano foi transformado em município.
visavam a comercialização dos recursos de 1933 por imigrantes austríacos da região
naturais locais, com grande destaque para do Tirol, liderados pelo então ministro da Nos anos 1960, o governo catarinense
a indústria madeireira. agricultura da Áustria, Andreas Thaler. retomou iniciativas colonizadoras com a
Após visitar várias regiões na América do criação da primeira colônia de imigrantes
Sul, o ministro optou por Santa Catarina, japoneses em Santa Catarina, localizada no
Os acordos sobre os limites territoriais adquirindo uma área de terras próxima meio-oeste catarinense.
entre Santa Catarina e Paraná, parte dos a Joaçaba e ali fundou a colônia de Drei-
desfechos da Guerra do Contestado, recon- zehnlinden (Treze Tílias em alemão). Em
figuram a região com a criação, em 1917, 1937, Treze Tílias somava em torno de 800 Colônia Frei Rogério
dos municípios de Chapecó, Cruzeiro imigrantes austríacos, contando com agri-
(Joaçaba) e Xanxerê. A combinação de cultores e um grande número de artesãos A imigração japonesa no Estado é relativa-
interesses do poder público e de empresas de elevado conhecimento técnico em várias mente recente e está diretamente relacio-
particulares determinou o processo de áreas. Quando os austríacos lá chegaram, nada ao governo estadual, cujo objetivo era
colonização na região. Em sua obra Etnici- já viviam, na região, alguns imigrantes atrair imigrantes que dominassem o cultivo
dades Renegociadas, Eunice Nodari (2009, alemães e descendentes de italianos. A de frutas de clima temperado, tais como
p. 37) elaborou um quadro com as compa- colônia ganhou destaque com a produção maçã, nectarina e pera. A primeira colônia
nhias colonizadoras e suas respectivas leiteira, que resultou na criação de indústria de japoneses foi estabelecida, então, no
áreas de atuação: de laticínios (Ginter, 2003). A colonização município de Curitibanos, no então distrito
118 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 119
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VI
Colonização europeia
Colonização europeia
Fotografias de Mapas Coloniais do acervo da Secretaria de Estado do
Planejamento de Santa Catarina.
120 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 121
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122 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 123
25°50'0"S
25°50'0"S
2010 P A R A N Á
D O
E S T A D O
¬
«
12,12%
NORTE
Gláucia de Oliveira Assis1
Francisco Canella2
Maria das Graças Santos Luiz Brightwell3
Luís Felipe Aires Magalhães4
CATARINENSE
26°40'0"S
26°40'0"S
REPÚBLICA
AT L Â N T I C O
¬
« S
anta Catarina construiu ao longo do lhadores especializados para a nascente fluxos de imigrantes rumo ao Brasil. Esses
11,35%
século XX a autoimagem de uma terra indústria nacional, acompanhando um movimentos inserem Santa Catarina nos
26°40'0"S
« de oportunidades para imigrantes. movimento mais amplo, de braços que saem novos fluxos da população brasileira (Assis e
AT L Â N T I C O
OESTE
18,68%
CATARINENSE
Os significativos fluxos de imigrantes que do campo para a cidade trabalhar na cons- Sasaki, 2001; Patarra, 2005; Martine, 2005).
VALE DO chegaram desde o início da colonização, mas trução civil e em outros setores, no processo
ITAJAÍ
sobretudo no século XIX e início do século de intensa migração interna que realiza um Ao mesmo tempo em que algumas regiões do
E S T A D O
D O XX, como portugueses, italianos, alemães, grande movimento de população em todo o estado vivenciam um movimento significativo
poloneses, sírio-libaneses e outros grupos, país (Durham, 1973; Singer, 1995). de saída de catarinenses para o estrangeiro,
27°30'0"S
27°30'0"S
R I
¬
«
CAPÍTULO VII
O contribuíram para a composição da popu- na segunda metade dos anos 2000 se inten-
¬
«
21,64%
2,92% lação, bem como, para a formação urbana, Esta dinâmica passa, desde meados do sificaram os movimentos de imigrantes para
GRANDE
G FLORIANÓPOLIS
a agricultura familiar e a consolidação século XX até esse início de século, por pelo o Brasil. Este movimento já acontecia desde
R SERRANA
A industrial, construindo uma narrativa que menos três movimentos fundamentais, tal a década de 1970, quando há um incremento
N
D valoriza e reconhece seu papel no desenvol- como ocorrido em outras regiões do país. do fluxo de migrantes internacionais, especial-
E vimento do estado. No entanto, a dinâmica Esses movimentos, que abordaremos nesse mente japoneses, latino-americanos, africanos
ANO
migratória catarinense tem sido, na reali- capítulo, são: a chegada em Santa Catarina e, mais recentemente, sobretudo a partir da
dade, muito mais complexa e heterogênea de pessoas de outros estados, a vinda de segunda metade dos anos 2000, com a chegada
28°20'0"S
28°20'0"S
¬
« como buscaremos demonstrar. imigrantes de outros países e a própria ida de haitianos, ganeses, senegaleses e outros
OCE
O 33,29%
de catarinenses para o exterior. grupos de imigrantes que veem em Santa Cata-
S U L
No período compreendido entre a 2ª Guerra rina também uma terra de oportunidades.
SUL
Número de Emigrantes (2010) CATARINENSE Mundial até o início dos anos 1970, os O primeiro movimento diz respeito à inten-
movimentos de imigração internacional sificação das mobilidades intra e inter Esse cenário favorável da economia brasileira
500 - 2300 reduziram drasticamente as entradas de estadual, caracterizadas por intenso êxodo perdurou até 2014, e nesse contexto milhares
27°30'0"S
fruto de uma política migratória brasileira de imigrantes especialmente dos outros chegaram ao Brasil (Patarra, 2012). Uma
29°10'0"S
29°10'0"S
4300 - 6000
®
mais restritiva à imigração internacional. estados da Região Sul e o consequente das características destes novos fluxos de
Percentual da Mesorregião Tal política já não priorizava mais mão de processo de urbanização que se intensi- imigrantes, é que, excetuando-se os haitianos
48°20'0"W
50°0'0"W
49°10'0"W
obra estrangeira para a lavoura e sim traba- fica nos últimos 30 anos em cidades como e japoneses que como os imigrantes do
50°50'0"W Escala Gráfica
51°40'0"W
Chapecó, Joinville, Florianópolis, Criciúma e passado contaram com políticas migratórias
25°50'0"S
0 12,5 25 50 km
Fonte: Censo Demográfico 2010. 53°20'0"W
52°30'0"W
PO R MUNICÍPIO P A R A N Á Itajaí. Esse grande movimento de migração específicas, os demais grupos não contaram
INTERNACIONAIS
EMIGRANTES52°30'0"W interna é paralelo a outros dois movimentos com o mesmo apoio governamental.
54°10'0"W 53°20'0"W 51°40'0"W 50°50'0"W 50°0'0"W 49°10'0"W 48°20'0"W
2010
1
Graduada em Ciências Sociais (1987) pela
25°50'0"S
O Universidade Vale do Rio Doce, Mestra em Antropologia que também passaram a ocorrer no estado
D
Social (1995) pela Universidade Federal de Santa de Santa Catarina: o de ir e vir de brasileiros Assim, pretende-se traçar um panorama
ARG ENTINA
S T A D O
E
Catarina e Doutora em Ciências Sociais (2004) pela rumo ao exterior e a formação de novos das migrações internas e internacionais
26°40'0"S
da segunda metade do século XX e início
AT L Â N T I C O
Universidade Estadual de Campinas. Professora na
Universidade do Estado de Santa Catarina com atuação do século XXI tendo como fonte de dados
o Censo Demográfico, informações admi-
REPÚBLICA
26°40'0"S
ANO
O
27°30'0"S
Federal do Rio Grande do Sul, Mestre em Sociologia duais de Santa Catarina, bem como, um
G
R
A
Política (1992) pela Universidade Federal de Santa 4
Graduado em Ciências Econômicas (2009) amplo levantamento bibliográfico sobre
N
D Catarina e Doutor em Ciências Sociais (2011) pela Universidade Federal de Santa Catarina, a temática buscando abordar aspectos da
NO
28°20'0"S
dinâmica populacional em Santa Catarina.
28°20'0"S
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre (2013) e Doutor (2017) em Demografia
OCEA
D Professor na Universidade do Estado de Santa pela Universidade Estadual de Campinas. Pós- A contribuição deste texto consiste em
O
Catarina com atuação na Graduação e no Programa reunir tais dados – que até então se encon-
OCE
Doutorando no Observatório das Metrópoles (PUC
28°20'0"S
O
S U L
de Pós-Graduação em Planejamento Territorial e – SP) e pesquisador voluntário no Observatório das travam dispersos – para uma reflexão sobre
an tes (2010)
Número de Emigr Desenvolvimento Socioambiental e pesquisador do Migrações de São Paulo (UNICAMP) e no Observatório distintos processos migratórios atualmente
0 - 50
Observatório das Migrações de Santa Catarina. das Migrações de Santa Catarina (UDESC). em curso em Santa Catarina.
29°10'0"S
51 - 100
S U L 101 - 150
151 - 200
®
127
29°10'0"S
52°30'0"W
53°20'0"W
54°10'0"W
Chapecó tem exercido um forte papel centra- A porção leste do Estado, composta pelas de trabalho dos imigrantes tem sido absor-
Migrações internas Urbanização e ocupação da faixa litorânea do estado
lizador na região. Seu grau de urbanização é mesorregiões Norte Catarinense, Vale do vida principalmente pelo setor industrial,
de 92% enquanto a média da região é de 57%, Itajaí, Grande Florianópolis e Sul Catari- que ocupa um em cada quatro imigrantes.
A análise das recentes migrações internas no O estado de Santa Catarina, do final do A partir da segunda metade do século XX segundo Mioto, Lins e Mattei (2010). nense, tem se caracterizado por processos de É na mesorregião Vale do Itajaí que essa
Brasil tem revelado o estado de Santa Cata- século XIX ao início do século XX, recebeu desenvolveu-se um forte processo de desru- diversificação produtiva e industrialização participação é mais expressiva. O comércio
rina como destino bastante atrativo para os milhares de imigrantes internacionais ralização/urbanização, marcado por deslo- A cidade absorve uma parte da população que e pela intensa urbanização, tornando-se constitui-se como o segundo setor que mais
migrantes. As taxas de crescimento têm perma- dentro de uma politica imigratória que favo- camentos internos de população do campo não encontra possibilidades de permanência importante espaço receptor de população. absorve a mão de obra dos imigrantes.
necido acima das médias nacional e regional. receu a mão de obra estrangeira branca para para a cidade e também um movimento de na área rural por não conseguir se adaptar Esta região passa a ser local de concentração
Dos estados da Região Sul, Santa Catarina foi o trabalhar na lavoura e na nascente indús- concentração espacial da população em à produção voltada para as agroindústrias econômica e populacional, com importantes As trocas populacionais
único que aumentou sua participação no total tria nacional. Este processo fez parte das determinados centros urbanos (Mattei e que têm prosperado na região (Mioto, Lins impactos sobre o território, meio ambiente
da população brasileira (Tabela 1). políticas de estado para atrair população Lins, 2010). Em 2007, os 10 maiores muni- e Mattei, 2010). A parte da população que e desigualdades regionais no estado. Paraná e o Rio Grande do Sul constituem
para os chamados “vazios populacionais”5 cípios concentravam 40% da população não é absorvida pelos empregos gerados as principais unidades da federação com as
Tabela 1– Taxa de participação dos estados da e se estendeu até o início dos anos 1930. total do estado (IBGE, 2010).
Região Sul no total da população brasileira entre na economia urbana dinamizada pelo setor A litoralização7 tem que ser analisada a partir quais Santa Catarina trocou população no
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VII
1970 e 2017. Tabela 3 – Densidade demográfica (habitante/km²) dos estados da Região Sul (1960-2000) agroindustrial, acaba por migrar para polos de dois aspectos: por um lado, a força de último período censitário; em conjunto, essas
1970 2010 2017 1960 1970 1980 1991 2000 2010 de atração dentro da mesorregião (Chapecó, expulsão de algumas regiões do estado em unidades foram responsáveis por 69,7% das
Paraná 7,4% 5,5% 5,4% Paraná 21,56 35,11 38,89 42,37 47,96 52,37 Xanxerê, Joaçaba) bem como cidades de direção ao litoral e por outro de fatores que entradas registradas em Santa Catarina e por
Santa Catarina 3,1% 3,3% 3,3%
outras mesorregiões. Assim, a expulsão da atraem as pessoas. A litoralização está assim 63,6% das saídas; dentre as demais unidades
Santa Catarina 22,53 30,75 38,70 47,63 28,19 65,27
população na mesorregião Oeste está rela- ligada ao processo de concentração fundiária brasileiras, destacam-se os fluxos com a região
Rio Grande do Sul 7,2% 5,6% 5,4% Rio Grande do Sul 19,34 23,98 28,19 32,43 36,14 37,96
cionada a fatores de modernização. e de renda, e o consequente enfraquecimento Sudeste, particularmente com São Paulo.
Fonte: IBGE. Fonte: IBGE. da pequena propriedade, com a incorporação
Acompanhando as tendências nacionais, Entre 1970 e 2000 o grau de urbanização populacionais no estado há redução das No caso da mesorregião Serrana, também é de produtores rurais como integrados de Tabela 4: Pessoas de 5 anos ou mais de idade
que não residiam na Unidade da Federação
o estado de Santa Catarina tem apresen- passou de 42,98% para 78,72%. Em 2015, populações dos municípios situados na parte a que menos recebeu imigrantes no estado grandes empresas agroindustriais. Diversos em 31.07.2005, por lugar de residência em
tado uma desaceleração no seu ritmo de ele já estava situado em 83,7%, ao passo oeste do estado e pelo aumento do número no período 2005-2010, e de forma geral tem autores têm destacado que mesmo sendo 31/07/2005 – Unidade da Federação: Santa
crescimento populacional. Essa desacele- em que o grau da Região Sul era de 85,6%. de habitantes nas regiões que se localizam perdido população nos últimos censos, seu a busca por trabalho a principal motivação Catarina.
ração acompanha, como dito, a tendência O maior crescimento populacional foi prin- próximo ao litoral. Destaca ainda que contri- principal município, Lages, diferentemente para a migração apontada pelos migrantes, Região Total de Pessoas
nacional, mas está situada a um nível supe- cipalmente nas mesorregiões Norte Catari- buiu para essa concentração populacional do que acontece com Chapecó no Oeste, também interfere na decisão a busca por Região Sul 210.153
rior à taxa brasileira, especialmente após nense, Vale do Itajaí e Grande Florianópolis. no litoral o expressivo número de migrantes não tem se constituído como um polo de melhor qualidade de vida e menores índices
Migrações internas e internacionais recentes
da força do processo migratório no estado tuam no período 1991-2000, anos nos quais caso, agricultura, pecuária, pesca e aquicul- do litoral catarinense também contribuem Total 301.343
e de sua capacidade de atrair população e ocorre a reestruturação produtiva e patri- Em estudo realizado a partir de dados muni- tura (Deschamps e Delgado, 2014). na elucidação da tendência nacional de cres- Fonte: IBGE.
de configurar-se como polo de absorção monial das empresas no estado. cipais agregados por Secretarias de Desenvol- cimento de cidades de médio porte. A força
regional, nacional e mesmo internacional de vimento Regional (SDR)6, Mioto, Lins e Mattei A expulsão da população na mesorregião Da população total residente em Santa Cata-
migrantes (Tabela 2). Considerando a tipologia de Paul Singer (2010) mostram que, no período 2000 e 2007, Serrana pode ser relacionada, portanto, com rina, segundo o Censo de 2010 (6.248.436
(1995), que identifica nos processos migrató- das sete SDRs que apresentaram taxa anual fatores de estagnação. É a região do estado 7
Segundo Turnes (2008) o “modelo catarinense de habitantes) 301 mil pessoas não residiam
Tabela 2 – Taxas de crescimento anuais da popu- rios fatores de expulsão e fatores de atração de crescimento populacional negativa, seis com a maior concentração fundiária. Com o desenvolvimento” durante muito tempo construiu em Santa Catarina há cinco anos em relação
lação (Brasil e Santa Catarina, 1940 – 2017).
do migrante, podemos concluir que, para a localizam-se na mesorregião Oeste, e uma na fim do ciclo madeireiro (araucária), alterna- uma narrativa de que haveria uma distribuição a aplicação do censo (2005). Trata-se de
Taxa Cres. Pop. Taxa Cres. Pop.
Período mesorregião Oeste, temos a modernização mesorregião Serrana. Entre as dez SDRs com tivas como a indústria de papel e celulose não equilibrada da população por todo o território estadual. migrantes internos que vieram buscar
Brasil SC
1940-1950 2,34 2,85 agrícola como fator de expulsão, enquanto as maiores taxas positivas de crescimento têm sido suficientes para absorver a força de A evidencia seria a inexistência de grandes metrópoles, no estado melhores condições de vida e
1950-1960 3,17 3,24
para a mesorregião Serrana a estagnação populacional, os nove primeiros lugares trabalho local e evitar a migração de sua popu- o que resultaria numa melhor qualidade de vida de sua trabalho. Embora sejam imigrantes, sobre-
se constitui como fator responsável pela pertencem às mesorregiões Norte, Vale do lação para outros centros e outros estados, população. No final do século XX e início do século XXI tudo da Região Sul e Sudeste do país, não é
1960-1970 2,90 3,16
expulsão de sua população do campo para Itajaí e Grande Florianópolis. Em décimo como observam Mioto, Lins e Mattei (2010). tem se observado um adensamento da população nas nada desprezível o número de imigrantes
1970-1980 2,51 2,33
cidade. Turnes (2008) corrobora com essa aparece a SDR de Chapecó. Sobre isso cabe Trata-se da única mesorregião catarinense a regiões litorâneas, produto das migrações do Oeste vindos da Região Nordeste e mesmo do
1980-1991 1,77 1,90 informação ao destacar os deslocamentos observar que apesar da mesorregião Oeste ter apresentar saldo migratório negativo, segundo catarinense e de migrações interestaduais. O que levou Centro-Oeste, ressaltando a posição de
1991-2000 1,61 1,84 perdido população, houve uma intensificação dados do censo demográfico de 2010. os discursos oficiais reverterem o que denominaram Santa Catarina enquanto polo de absorção
2000-2010 1,18 1,57 do processo de urbanização. O município de como “o processo de litoralização”. Conforme Turnes de imigrantes internos no Brasil.
5
O estado de Santa Catarina tem construído sua Se a mesorregião Serrana tem recebido (2008), os documentos da gestão estadual (2003/2006)
2010-2017 1,21 1,57
identidade como região de imigração, numa narrativa poucos imigrantes, o mesmo não acontece discutiram a necessidade de “combater a litoralização, Nos dados a seguir, destacamos o aumento
Fonte: IBGE. que valoriza a contribuição de imigrantes alemães, 6
As Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDR)
com o Vale do Itajaí, que se constituiu na que vem esvaziando, dramaticamente, o campo, e da participação proporcional de nascidos
No entanto, e aqui o fenômeno migratório italianos, açorianos, poloneses e de outros grupos que constituem-se numa divisão regional administrativa
principal área de recepção dos imigrantes inchando as cidades maiores.” Nesse texto a utilização do no Nordeste, na comparação entre os três
encontra sua importância, houve intensos vieram ocupar e colonizar suas terras consideradas, criada por lei estadual na primeira gestão do
interestaduais, recebendo 32,8% do total, termo se dá a partir das observações de Turnes (2008) censos. A cada censo, a presença de nordes-
movimentos populacionais do rural para o naquela ocasião, “vazios populacionais”. Ver Seyferth governador Luís Henrique da Silveira (2003) e que foi
seguido pela Grande Florianópolis (21,7%) que destacam o aumento da população no litoral e os tinos vem dobrando. Embora não seja a
urbano, e entre diferentes espaços urbanos. (1996) e Pagnotta e Assis (2017). se alterando nos governos seguintes.
e Norte Catarinense (19,4%). saldos migratórios negativos no Oeste catarinense. população mais numerosa, é a que mais
128 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 129
cresce em termos proporcionais. O mesmo em números relativos, de não naturais de nacionais, observa-se ainda o crescimento da taduais é maior do que o recebido pelo Os imigrantes internacionais apoio ao imigrante japonês no Brasil, mas
pode ser verificado com relação aos nascidos Santa Catarina, residindo no estado. Acom- participação de mulheres no grupo de não conjunto dos ocupados de 14 anos e também auxiliaram os colonos japoneses na
dos anos 1960-1970
na região Norte. Demonstra a importância, panhando as tendências de imigrações inter- naturais de SC (Censos de 2000 e 2010). mais residentes em Santa Catarina (R$ escolha do terreno e nas técnicas adequadas
1.364,00), segundo Deschamps e Delgado para a produção. Cabia ao Governo Estadual
Japoneses em Santa Catarina: atuar na articulação entre o Instituto de
Tabela 5 - População residente em Santa Catarina segundo origem (1991, 2000, 2010). (2014). Dentre as mesorregiões cata-
rinenses, os maiores rendimentos são migração dirigida e tutelada Reforma Agrária de Santa Catarina (IRASC)
1991 2000 2010
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres observados na Grande Florianópolis, que e a JAMIC, localizada em Porto Alegre (RS),
é, também, a que apresenta o maior dife- A vinda de imigrantes japoneses para Santa formando parcerias com prefeituras muni-
Total 4542032 2275680 2266352 5357864 2670173 2687691 6248436 3100360 3148076
rencial de rendimento entre os migrantes Catarina foi fruto de uma política agrária brasi- cipais, Secretaria da Agricultura do Estado,
Região Norte 2550 1347 1203 5534 2147 3387 12988 5898 7091
(Deschamps e Delgado, 2014). Os dados leira durante a década de 1960 e 1970 que ACARESC, Departamento Nacional de Obras
Rondônia 687 395 292 1798 814 983 2804 1359 1444
Acre 130 52 78 300 152 148 529 252 277 também revelam as desigualdades regio- visava atrair imigrantes japoneses capazes e Saneamentos (DNOS) e outras institui-
Amazonas 430 204 226 565 190 375 1335 637 698 nais do Brasil: a população envolvida em de trazer avanços tecnológicos ao Brasil, com ções (Martinello, 2007). Cabia a JAMIC
conhecimentos agrícolas mais avançados que receber e orientar os imigrantes na sua
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VII
Roraima 79 56 23 198 61 137 2082 985 1097 fluxos com a Grande Florianópolis e com
Pará 1111 578 533 2405 824 1581 5275 2217 3058 a Região Sudeste do Brasil se destaca pelo aqueles usados pelos agricultores brasileiros. instalação no país e ao JEMIS a incumbência
Amapá 76 39 37 66 40 27 228 98 130 maior nível de escolaridade, enquanto os Os discursos presentes nos documentos oficiais de financiar imigrantes, sendo que ambas
Tocantins 37 23 14 202 67 135 736 349 386 e jornais catarinenses daquela época enfatizam operavam com capital 100% fornecido pelo
imigrantes oriundos do Nordeste e Paraná
Região Nordeste 12803 7064 5739 25615 13370 12245 59273 31000 28273 que a presença destes imigrantes traria “compe- governo japonês. A criação de comunidades
se destacam como os que apresentam os
Maranhão 627 247 380 1348 568 781 4670 2397 2273 tência e os avanços do trabalho no campo”, já japonesas recebeu subsídios e incentivos
piores resultados relativos aos dois níveis
Piauí 565 289 276 1199 603 596 3804 1884 1919 que os japoneses eram providos de “vocação originados principalmente do Programa
Ceará 3057 1985 1072 6189 3354 2835 11319 5975 5344 de instrução – níveis médio e superior.
agrícola”, e possuíam disciplina de um “bom Estadual de Fruticultura de Clima Tempe-
Rio Grande do Norte 891 413 478 1654 882 772 2980 1512 1467
trabalhador” (Uemura, 2011, p. 102). Nesta rado (PROFIT) e também do Plano Nacional
Paraíba 869 552 317 2063 1020 1043 4889 2520 2368 Há um padrão que se repete em quase
época, o Brasil começava um período político de Sementes. Para Paim (2013, p. 199)
Pernambuco 2466 1325 1141 4607 2459 2148 9693 5006 4687 todos os indicadores: os emigrantes
econômico de mudanças profundas, dentre elas “esses subsídios estatais foram um impor-
Alagoas 628 352 276 1560 895 664 4227 2236 1992 tendem a apresentar maior nível de esco-
a modernização do campo sem modernização tante aliado para o bom desenvolvimento
Sergipe 422 192 230 744 401 343 2142 1218 923 laridade, de rendimento do trabalho e de
da base agrária, e o Japão ainda sofria as conse- das culturas produzidas pelos imigrantes”.
Bahia 3278 1709 1569 6250 3188 3062 15550 8251 7300 inserção no estrato de rendimento domi-
Região Sudeste 55382 28626 26756 94522 48510 46011 147850 77178 70673 quências do pós-guerra. Para o governo brasi-
ciliar mais elevado (mais de 5 salários
Migrações internas e internacionais recentes
130 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 131
39
Beneficiaram-se, no entanto, do conheci- virtude do processo de urbanização, a partir tórios têm permanecido invisíveis nos dados polis (GAIRF) e dos grupos de trabalhos de mostram Fluxoas figura abaixo. que entraram no Brasil por Epitaciolândia
dos haitianos Fluxo dos haitianos que entraram no Brasil por São Paulo e
mento local, de caboclos e outros imigrantes do início dos anos 1970, outros contingentes oficiais. Confundidos e mesclados no imagi- imigrantes da Assembleia Legislativa e de Figura e6 Brasileia,
- Mapa do fluxo
no dos haitianos
período deque entraram
janeiro deno Brasilepor
2010 Epitaciolândia
março
no período de janeiro de 2010 e março de 2014.
de 2014. e Brasileia,
Figura Guarulhos,no período
7 - Mapa do fluxo dos deque
haitianos janeiro deno2010
entraram Brasilepor
março de 2014
São Paulo
no período de janeiro de 2010 e março de 2014.
e Guarulhos,
que aqui já residiam, conforme o caso do de imigrantes internacionais começaram a nário local e pelas autoridades como turistas, grupos de pesquisadores ligados a UDESC
melhoramento do alho, originando o alho chegar ao estado, principalmente pessoas inserem-se num mercado de trabalho precário, e a UFSC. Dessa mobilização e das várias
Caçador, que já era cultivado pelos descen- provenientes dos países latino-americanos. tem dificuldade de acessar os serviços públicos entidades e associações de imigrantes,
dentes de imigrantes italianos, conforme e até mesmo de integrar-se plenamente na foi que em fevereiro de 2018 foi criado o
Martinello (2007). Trata-se de um movimento antigo, iniciado sociedade catarinense, tornando-se “‘invisí- Centro de Referência e Atendimento ao
com um fluxo esporádico de exilados polí- veis’” para as autoridades e formuladores de Imigrante (CRAI). A criação do Centro é um
Mas como outros pequenos agricultores ticos que vieram nos anos 1970, ao qual se políticas públicas [...], sentem no cotidiano a importante passo para o enfrentamento do
familiares brasileiros, os colonos japoneses juntaram aqueles que vieram com o intenso força do preconceito e as dificuldades de ser preconceito e da discriminação e para possi-
também enfrentaram dificuldades: falta de fluxo turístico, principalmente de argen- estrangeiro no Brasil (Iha, 2008, p. 28). bilitar o acesso a informações e contribuir
mercados consumidores próximos, ausência tinos para o litoral catarinense, a partir para formatar políticas de acolhimento aos
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VII
de hábitos de consumir frutas e verduras, o do final dos anos de 1980, como destacou Esta migração regional consolida-se com o novos imigrantes em Santa Catarina.
envelhecimento da população e a falta de Iha (2008). Este fluxo, ainda que menos Acordo sobre Residência para Nacionais dos
perspectivas para os jovens. numeroso, teve continuidade na década de Estados Partes do Mercado Comum do Sul – Haitianos e Africanos
1990 para as regiões litorâneas do estado, Mercosul, Bolívia e Chile, através da promul-
O estudo de Uemura (2011) sobre a colônia principalmente Florianópolis e Balneário gação do Decreto n° 6.964, de 29/9/2009 e do Dentre os novos povos imigrantes em Santa
Celso Ramos mostra duas etapas nos projetos Camboriú, com o reforço de políticas econô- Decreto n° 6.975, de 7/10/2009, que outorga Catarina, o fluxo que mais tem chamado
agrícolas e migratórios. Na primeira, década micas e campanhas publicitárias, desta- vários direitos aos imigrantes e suas famílias. a atenção, não apenas pelo seu tamanho,
de 1960 até 1980, observa-se a vinda de cando-se a denominação de Florianópolis mas também por sua organização, é o de Fonte: Extraído de Fernandes (2014, p. 39 e 40).
imigrantes japoneses na execução de ativi- como Capital Turística do Mercosul. Estudos
Os novos imigrantes haitianos. Inicialmente, deve-se considerar
dades agrícolas e a constituição de famílias. mostram que muitos destes turistas retor- que o Haiti é um país de intensa tradição
O Núcleo até então, pode ser considerado um naram para fixar moradia nestas duas
em Santa Catarina no É deste período a criação das primeiras haitianos e grupos de apoio passam de seis,
século XXI migrante. Desde pelo menos o final do
lugar de imigração. Na segunda etapa, que cidades (Iha, 2008; Alloatti, 2013), enquanto século XIX, seu povo tem buscado trabalho associações de imigrantes no Estado, ainda em janeiro de 2015, para 16, em dezembro
compreende a década de 1980 até a década de outros tantos vieram atraídos pelas belezas e melhores condições de vida em países concentradas na mesorregião do Vale do Itajaí. de 2015. Mais que no Vale do Itajaí e no
2000, se verifica um fluxo migratório dos inte- do litoral e em busca de melhores oportuni- Os novos imigrantes que chegam em Santa A elevação do número de imigrantes haitianos Oeste, há presença organizada em Florianó-
Migrações internas e internacionais recentes
132 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 133
Tabela 6 – Autorizações de trabalho concedidas a Gráfico 1 – Admissão de trabalhadores haitianos no Brasil, segundo principais Unidades da Federação
por intensas contradições8. Ademais delas, mente, os países europeus de língua inglesa e midiáticos e do poder público que afirmam
estrangeiros no mercado formal de Santa Catarina (2016).
(2011 a 2016). reivindicações na área da educação, saúde, os Estados Unidos; a partir desta data houve o contrário, reivindicam sua legalização e
cultura e documentação constituem os prin- um visível deslocamento caracterizando a estabelecimento comercial formal. Alguns
Ano Autorizações concedidas a estrangeiros 10000
cipais elementos da presença organizada de criação de novos destinos e rotas inexistentes, ainda começam a empreender e a participar
2011 559
8000 haitianos em Santa Catarina atualmente. até então, na tradição diaspórica ganesa com de feiras gastronômicas e de vestuário, acio-
2012 524
6000
destino a América do Sul. O motivo da criação nando as identidades étnicas e relacionadas
2013 663 As informações sobre as rotas de migração de novas rotas e destinos possíveis para estes à cultura africana. É importante destacar
4000
2014 696 circulam e, assim como os haitianos a partir migrantes inclui inúmeros fatores, como: a que muitos desses imigrantes chegam com
2015 405 2000 de 2014, num cenário ainda favorável na crise iminente do capitalismo, que, desde 2008, solicitações de refúgio9 o que lhes concede,
2016 312 economia brasileira impulsionados pela atingiu países europeus e os Estados Unidos; o devido às leis de refugio brasileira, acesso
0
crise mundial que ainda não havia chegado recrudescimento dos discursos de alteridade, a carteira de trabalho e documentação,
Santa Catarina
Paraná
São Paulo
Minas Gerais
Rio de Janeiro
Goiás
Mato Grosso
Rondônia
Fonte: CAGED/MTE.
-2000 ao Brasil e por dois megaeventos, a Copa do acompanhados de uma sensível mudança na enquanto o pedido é analisado. Tal condição,
A presença haitiana até 2016 foi bastante mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, os política de proteção de fronteiras; e, por fim, o permite a esses imigrantes permanecerem
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VII
-4000
significativa no mercado formal de trabalho ganeses e senegaleses começaram a chegar próprio panorama de crescimento econômico em situação documentada, enquanto o
em Santa Catarina, particularmente na ao Brasil e se deslocar a Santa Catarina. brasileiro, país que, até então, não havia sido pedido é analisado pelo Comitê Nacional
Admissão Demissão Saldo
agroindústria e na construção civil, que dela diretamente prejudicado pela crise mundial. para Refugiados (CONARE).
se deriva o segundo processo, qual seja, a Fonte: CAGED/MTE.
Como esses fluxos são recentes e são grupos Assim é que os ganeses chegaram ao Brasil.
posição de destaque que Santa Catarina ocupa que se deslocam bastante internamente Sírios
em termos de presença haitiana no mercado também, sugerindo uma migração em etapas, Segundo as estatísticas do IBGE, até o ano
formal de trabalho brasileiro. Desde 2014, Gráfico 2 – Admissão de trabalhadores haitianos no mercado de trabalho formal do Brasil, segundo
no qual o Brasil, às vezes, é uma parada antes de 2006, havia 163 ganeses documentados,
Santa Catarina tem sido o principal estado no principais cidades (2015). Falar da recente imigração síria para Santa
de um outro destino, os dados disponíveis todos residentes na Região Sudeste do País. Catarina, nos obriga a lembrar que tal fato
que se refere ao volume de admissão de traba- são estimativos. O estado que construiu seu O número reduzido de migrantes demonstra
lhadores e trabalhadoras provenientes do 2500 já ocorreu também em fins do século XIX e
discurso como estado de imigrantes no século que, ao menos até esse ano, o Brasil não também no XX, quando então tal imigração
Haiti. Em 2016, isso não diferente: das 18.774 2000 XIX, se deparou com os desafios de buscar polí- representava para eles um destino. A partir
admissões de haitianos e haitianas no mercado é composta por sírios e libaneses. Apesar de
1500
ticas para acolher esses migrantes do século de 2010, só na cidade de Criciúma, loca- ser um dos estados brasileiros que recebeu
formal de trabalho brasileiro, 5.644 foram em XXI, uma população em sua maioria negra e lizada no extremo sul do estado de Santa
Santa Catarina, o que representa 30% do total. em menor número estes imigrantes, sua
1000
provenientes do considerado sul global. Catarina, há registros da chegada de mais
Migrações internas e internacionais recentes
C
R
R
SP
G
RS
SC
haitianas: em todos os 10 principais estados
SC
–S
–P
–P
–S
–M
Segundo as autoras, Gana é um país cuja cionais e o surgimento de novas cidades-
–
–
á–
ú–
atividades comerciais, inicialmente como
aí
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Joi
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mascates e após instalando “vendas” de secos
Ca
São
ria
Ca
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Co
Po
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e molhados, lojas de armarinho, entre outras
ári
sões, ocasionando saldos negativos em todos
lne
em deslocamentos intercontinentais, é tão de Informações Sociais do Ministério do que lhes permitiram posterior ascensão
Ba
Admissão Demissão Saldo
eles, conforme se pode ver no Gráfico 1. significativo que constitui um aspecto impor- Trabalho, 2010/2015, 84% dos ganeses que
Fonte: CAGED/MTE. econômica e social (Menezes, 2011). Conhe-
tante da economia da nação, devido à política chegaram ao Brasil se estabeleceram no Rio cidos como “turcos”, em virtude dos passa-
A distribuição da imigração haitiana no terri- de remessas de dinheiro que os ganeses, espa- Grande do Sul ou em Santa Catarina; nestes
tório catarinense adiciona novas cidades ao portes das primeiras imigrações serem ainda
lhados pelo mundo, enviam ao país de origem. estados, Caxias do Sul e Criciúma, respecti- da época do Império Otomano, quando Líbano
cenário estadual e nacional de acolhimento e Gráfico 1 – Admissão de trabalhadores haitianos no Brasil, segundo principais Unidades da Federação vamente, são as cidades que mais receberam
inserção no mercado de trabalho. e Síria a ele pertenciam até o fim da 1ª Guerra
(2016). Até meados de 2010, no entanto, o destino de imigrantes caribenhos e africanos. Mundial, se radicaram em Santa Catarina.
mulheres e homens ganeses eram, especial- Fixam-se inicialmente no litoral e entornos,
Em 2014, essas cidades foram Chapecó, Itajaí, 2500
A população senegalesa presente no estado,
Joinville e Florianópolis. Em 2015, Joinville, chegados pelos portos de Florianópolis, São
2000 estimada em aproximadamente duzentas Francisco, Itajaí e Laguna, alcançando também
Itajaí, Florianópolis e Balneário Camboriú. A 8
Essas contradições têm motivado a produção de pessoas, estabeleceu-se principalmente na
ausência de Chapecó nesse ano revela a crise 1500 Joinville, Blumenau, Mafra, Canoinhas, Porto
pesquisas de campo, publicada nos Anais do IX Encontro capital, que proporciona maior mobilidade
do setor da agroindústria e a diminuição 1000 Nacional Sobre Migrações – IX GT de Migração da ABEP, para viajar, participar de feiras em outras
da contratação por parte dos frigoríficos. disponível em http://www.proceedings.blucher.com. cidades e estados. As principais atividades 9
A Lei n. 9.474/97 que trata do refúgio no Brasil, é
500
Em 2016, no entanto, Chapecó, que já fora br/article-details/imigrao-haitiana-no-estado-de- econômicas desenvolvidas estão relacio- considerada um marco de proteção aos refugiados
a segunda cidade do país em admissão de 0 santa-catarina-fases-do-fluxo-e-contradies-da-insero- nadas ao comércio. A maior parte já passou por seu compromisso humanitário com a acolhida de
haitianos, volta a aparecer no ranking, ainda
São Paulo – SP
Curitiba – PR
Porto Alegre – RS
Cuiabá – MT
Cascavel – PR
Joinville – SC
Florianópolis – SC
Rio de Janeiro – RJ
Itajaí – SC
Cahpecó – SC
-500 laboral-22451. Igualmente, o Observatório organizou pela experiência do trabalho formal, seja em refugiados. A partir do recrudescimento da entrada
que na décima posição. o Iº Seminário Migrações Internacionais e Direitos Santa Catarina, seja em outros estados. No nos países do Norte e da chamada crise de refugiados
-1000
Fundamentais de Trabalhadores e Trabalhadoras em entanto, em função de exploração, precon- na Europa o país viu o número de pedidos de refúgio
Os dados do CAGED/MTE indicam que a Santa Catarina, em Florianópolis, em parceria com o ceito e baixos salários, optou pela atividade crescer significativamente. Segundo dados do CONARE
inserção laboral dos imigrantes haitianos Admissão Demissão Saldo
Ministério Público do Trabalho (MPT – SC), nos dias 6 e comercial de venda de mercadorias, como foram 13.639 pedidos em 2017, 6.287 em 2016, 13.383
em Santa Catarina é um processo permeado Fonte: CAGED/MTE. 7 de Outubro de 2015. roupas e eletrônicos. Apesar dos discursos em 2015 e 11.405 em 2014.
134 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 135
de dados estatísticos que configurem com Tabela 7 – Emigrantes internacionais segundo Tabela 9 – Emigrantes catarinenses no mundo segundo mesorregião – Censo 2010.
União, Caçador, Tubarão, Araranguá, Criciúma Estados Unidos foram destino preferencial
Unidades da Federação – Censo 2010.
e outras localidades. (Piazza, 1983) clareza esse fluxo. Por um lado, uma parcela dos emigrantes brasileiros até meados dos Mesorregião de origem Número de Emigrantes % do total
Número de Emigrantes Sul Catarinense 5.827 33,29
do movimento é indocumentada, o que difi- Estado internacionais anos 2000, pois após os atentados de 11
Grande Florianópolis 3.787 21,64
Novamente Santa Catarina tem recebido culta mensurar essa população. Por outro São Paulo 106.099 de setembro de 2001, a política migratória
Vale do Itajaí 3.269 18,68
um contingente de refugiados sírios. Neste lado, do ponto de vista dos dados do Censo Minas Gerais 82.749 tornou-se mais restritiva e a crise econô-
Norte Catarinense 2.121 12,12
caso, a situação é distinta dos demais, pois Demográfico, é preciso tecer algumas obser- Paraná 45.863 mica que se intensifica em 2008, faz com
Oeste Catarinense 1.987 11,35
é o único grupo de refugiados que teve a vações. Os dados referentes a brasileiros no Goiás 35.572 que muitos migrantes se redirecionem para
Serrana 511 2,92
totalidade de seus pedidos de refúgio aceita exterior inicialmente eram estimados pelo Rio de Janeiro 34.902 a Europa. Em Santa Catarina, além desse
Santa Catarina 17.502 100,00
pelo CONARE, devido à recente guerra na Ministério das Relações Exteriores, obtidos Bahia 26.047 fator de crise nos Estados Unidos, o fato de
Fonte: Censo Demográfico 2010.
Síria. Esses imigrantes são acolhidos pelas pelo número de atendimentos consulares, Rio Grande do Sul 20.983 muitos catarinenses serem descendentes
comunidades árabes anteriormente esta- sendo considerados dados estimativos. Santa Catarina 17.502 de imigrantes que vieram no final do século na década de 1990, aponta para uma das início dos anos 2000. Nos Estados Unidos, nas
belecidas em Florianópolis e outras cidades Em 2010, o IBGE, depois de quase quatro Espírito Santo 16.548 XIX e início do século XX produziu um razões que tornaram a área ponto de partida cidades de maior concentração, existiam escri-
catarinenses e embora imigrantes e recém- décadas de movimento de brasileiros rumo Pernambuco 13.898 movimento de retorno às origens, quando de inúmeros emigrantes em busca de trabalho tórios para vender imóveis aos emigrantes na
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VII
ao exterior, finalmente inseriu uma questão Brasil 491.645 os descendentes, geralmente a 3ª ou 4ª nos Estados Unidos ou na Itália, embora não região de Criciúma (Campos, 2004; Santos,
-chegados não enfrentam como os africanos
discriminação racial. As tensões aparecem, no Censo que buscava captar a migração Fonte: Censo Demográfico 2010. geração, investem no processo de conseguir possamos reduzir a migração às motivações 2007; Assis, 2011; Magalhães, 2014, 2017).
em alguns casos, com relação à religião, pois internacional. Os dados foram aguardados a cidadania europeia para poder migrar e econômicas. É importante destacar que a No entanto, os dados apresentados pelo Censo
com expectativa, no entanto, as diferenças Os catarinenses se inserem nos fluxos inter- trabalhar legalmente na Europa. emigração para a Itália e para os Estados Unidos de 2010 demonstram um deslocamento do
a grande maioria é muçulmana. Como são
expressivas entre os dados do Censo e as nacionais desde meados do século XX, movi- também está associada ao imaginário presente local de destino dos emigrantes.
construídos de maneira muito positiva pela
estimativas do Ministério das Relações Exte- mento que continua expressivo nesse início Conforme Tabela 9 é no Sul Catarinense que na cidade, o qual constrói uma conexão entre
mídia e considerados como brancos, por
riores (MRE) geraram muitas controvérsias; de século XXI, revelando um importante fluxo encontramos a parcela mais significativa os imigrantes do passado e os emigrantes do Assim, nos anos 1980 e 1990, através de
grande parcela da população, não enfrentam
os preconceitos e a discriminação como os mesmo com essas restrições esses dados sobretudo aos Estados Unidos, Itália, Portugal de emigrantes internacionais. Do total de presente, mas principalmente ao desenvolvi- convênios com algumas regiões da Itália10, os
haitianos, senegaleses e ganeses. permitem um panorama do fluxo. e Inglaterra, como veremos nos dados a seguir. emigrantes 33,29% são do Sul Catarinense, mento e ao amadurecimento de redes sociais filhos dos emigrantes retornam à Itália para
21,64% da Grande Florianópolis, 18,68% do ao longo do processo migratório (Assis, 2011). reencontrar seus parentes, da mesma forma
Magalhães (2013), ao buscar identificar Na Tabela 7 observa-se o número de Vale do Itajaí, 12,12% do Norte Catarinense, que italianos vêm conhecer um pedacinho
Os emigrantes catarinenses
os dados de sul catarinenses no exterior, emigrantes internacionais segundo Unidade 11, 35% do Oeste Catarinense e 2,92% da Tabela 10 – Região de destino internacional dos da Itália no Brasil. Deste intercâmbio com
do final do século XX e emigrantes catarinenses (2010).
destaca que há diferença na estimativa de da Federação contabilizados pelo Censo de região Serrana. cidades do sul do estado de Santa Catarina
início do século XXI 2010. Em 2010, havia 491.645 brasileiros Número de
emigrantes internacionais brasileiros feita Região de destino como Urussanga, Araranguá, Nova Veneza,
Migrações internas e internacionais recentes
136 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 137
reconhecer a dupla cidadania de descen- naram às suas cidades de origem e viven- de ser do meio rural e, quando retornam ao
Garuva
dentes de imigrantes espalhados pelo mundo ciaram a sensação de se sentirem estrangeiros Brasil, voltam com outro status ao seu local
e expandiu a construção da identidade italiana em sua própria casa, pois devido a experiência de origem. Diante da crise e redefinição no
para além das fronteiras do território. de viver fora do país, passam a estranhar o seu mundo agrário no Oeste Catarinense, os
local de origem, seja no acesso a direitos, seja descendentes de alemães têm como alterna-
Estes trabalhadores temporários são reco- na organização da vida cotidiana, nas relações tiva a migração internacional.
nhecidos pelos consulados italianos e, pelo de trabalho e, principalmente, nas relações Itapoá
fato de terem passaporte italiano, podem afetivas. O retorno ocorre para a mesma locali- Os catarinenses no início do século XXI,
trabalhar sem problemas na Itália. Num dade, mas não para as mesmas relações sociais intensificaram os fluxos em direção a Europa.
contexto de revalorização da identidade e este se torna um desafio na volta para casa Os processos de busca pela cidadania fazem
italiana, neste encontro de culturas, estes que demanda apoio de políticas públicas ainda com que o passaporte europeu se torne uma
emigrantes temporários se surpreendem muito incipientes no Estado (Assis, 2011). porta de entrada para poder circular na
quando chegam na Itália e são reconhecidos Europa. Embora muitos sejam descendentes
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VII
como brasileiros e/ou estrangeiros. Este é A pesquisa realizada por Renk e Cabral Jr. de italianos e alemães e tenham cultivado
um primeiro choque, pois vão se encontrar (2002) tratou sobre a emigração de jovens as tradições de seus avós, quando chegam
com aqueles que julgam ser seus patrícios rurais à Alemanha, em busca de estudo na Europa são recebidos como brasileiros,
e são distinguidos do grupo, não são reco- e trabalho. Na migração desses jovens se como extracomunitários num processo em
nhecidos como italianos, mas como extra- evidencia a negação da condição camponesa, que a busca da cidadania de direito nem ga
it on
comunitários e por isso objeto de um “certo do trabalho “na acepção ponus”, na penosi- sempre se traduz numa cidadania de fato B ab
preconceito” (Assis, 2011). dade inerente à vida da colônia. O assalaria- (Zanini, Assis e Beneduzi, 2014). Assim se
mento pode ser interpretado como melhor descobrem mais brasileiros na Europa do ia São Francisco do Sul
Ba
Ao longo dos anos 1990 e 2000 os catari- que a situação de dependência e subor- que se imaginavam no Brasil.
nenses da região Sul do estado, principal- dinação dos filhos em relação pai-patrão
mente que vivenciaram um ir e ir entre os na agricultura. esse processo migratório Enquanto os catarinenses partem para a
Estados Unidos e a Europa em busca de uma propicia uma alteração no substrato morfo- Europa em busca de oportunidades os novos
vida melhor, construíram redes que levaram lógico do mundo camponês, que rebate no imigrantes internos e internacionais vem Joinville
amigos, parentes e vizinhos para viver no exte- interior da unidade familiar afetando as para Santa Catarina desde 2010 em busca
Migrações internas e internacionais recentes
Considerações finais processo de urbanização e que levou na segunda haitianos, senegaleses, ganeses, refugiados
metade do século XX a um adensamento sírios e venezuelanos, sobre os quais ainda
Santa Catarina é um estado constituído populacional na faixa litorânea do Estado, há estudos a serem realizados. Araquari
por uma dinâmica populacional no qual a enquanto o Oeste e Norte do estado perdiam
migração tem um papel importante na compo- população, o que contribuiu para intensificar Esses movimentos de população colocam
o
sição da população. Desde o seu processo de muitas desigualdades regionais. Além desse desafios importantes para as políticas
tic
colonização até a contemporaneidade, polí- deslocamento intraestadual, o estado recebeu públicas de acolhimento e integração dos
ticas migratórias em diferentes momentos também migração interestadual significativa novos imigrantes, bem como para atender os
lân
trouxeram população de origem europeia dos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul emigrantes brasileiros retornados, depois de
At
que aqui se estabeleceu encontrando uma e, mais recentemente, de diferentes regiões do um longo tempo de permanência no exterior e
Balneário Barra do Sul
população nativa indígena, cabocla e negra país, principalmente nordestinos. que tem que se readaptar a vida no seu local de
com as quais dividiram e disputaram a terra origem e se reinserir no mercado de trabalho, Guaramirim
e o acesso a políticas públicas. A partir dos anos 1960, o estado voltou a nas relações sociais e afetivas. Ao traçar um
no
receber imigrantes internacionais, japo- panorama desses movimentos pretendemos
ea
Da mesma forma, o estado tem participado neses - através de politicas migratórias tute- contribuir não apenas para dar um perfil da
Oc
de forma intensa nos processos migratórios ladas - imigrantes latino-americanos, que dinâmica das migrações internas e interna-
internos, numa significativa redistribuição vieram inicialmente como exilados e desde cionais, mas evidenciar a importância de polí-
®
populacional nos anos 1950 a 1970, que levou os anos 1980 como turistas que se tornaram ticas públicas para os novos e/imigrantes em
a população do campo à cidade, num intenso migrantes e, mais recentemente, imigrantes Santa Catarina nesse início de século XXI.
0 1 2 4 km
138 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Joinville, município com maior população de Santa Catarina - 583.144 habitantes (IBGE Estimativa 2018), apresenta significativa expansão urbana a partir dos anos 1970/80, ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
Joinville, município com maior população de Santa Catarina - 583.144 habitantes (IBGE Estimativa 2018)
inclusive, em áreas de manguezais, como resultado principalmente das migrações intra e inter estaduais.
Limite Municipal 2018 - SPG/SC
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CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VII
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Ramos: Resignificando Memórias e
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Construindo Conexões a partir de Relatos
Fernando (Orgs.). Os pequenos pontos de
Migrações internas e internacionais recentes
140 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 141
®Detalhe de fotografia de Isa de Oliveira Rocha.
Capítulo VIII
Características
Gerais da
População
(1950-2050)
2000
Alegre
D O
Três
AR GENTINA
Porto Barras Joinville
A T L Â N T I C O
União São
Irineópolis
E S T A D O
Palma Francisco
Sola São Bento do Sul
Dionísio Bela Vista
do Sul Schroeder
Cerqueira Jupiá do Toldo
São Major Itaiópolis
Guarujá do Campo
Lourenço Vieira Papanduva
Sul Erê São do Oeste
Bernardino Novo São Matos
Galvão Costa Rio Negrinho Corupá Balneário
Princesa Horizonte Domingos
São José Anchieta Abelardo Luz Barra
Jaraguá do Guaramirim Araquari
do Cedro do Sul
Rio dos Sul
Coronel Timbó
Santa Terezinha Saltinho Grande Cedros
Martins Calmon Monte
Guaraciaba do Progresso Santa São
Castelo Terezinha
Romelândia Irati João do
Barra Ipuaçu
Paraíso Passos Doutor Massaranduba Itaperiú Barra
Bonita Formosa Santiago
26°40'0"S
26°40'0"S
CAPÍTULO VIII
Belmonte Águas Lajeado Serrada Vargem Arroio Ilhota
Coronel Grande Rio das
Iraceminha Cunha Frias Bonita Salto Trinta
Nova Freitas Xanxerê Faxinal Antas Rio do
Porã Veloso José Rodeio
Santa Erechim dos Guedes Campo Witmarsum Gaspar
Saudades Boiteux
Helena Riqueza
Nova Lindóia Iomerê Itajaí Balneário
Iporã Caibi Dona Ascurra
Tunápolis Itaberaba Cordilheira Xaxim Xavantina Ipumirim do Sul Camboriú
do Oeste Cunhataí Treze Santa Emma
Alta Cecília Salete
Tílias Videira
São Pinheiro Ibirama Indaial
Carlos Arvoredo Ibicaré
São João Planalto Luzerna Preto Fraiburgo Presidente Apiúna
Águas de Alegre Irani Catanduvas Taió
do Oeste Getúlio
Palmitos Chapecó Camboriú
Mondaí Jaborá Tangará Itapema
Frei
Itapiranga Rogério Ponte Guabiruba
Guatambú Monte
Caxambu do Seara Arabutã Joaçaba Ibiam Alta do Mirim Laurentino
Chapecó Carlo Porto Bombinhas
Sul Norte Doce Rio do Lontras
Herval Canelinha Belo
Oeste Rio do Sul
d'Oeste Pouso Redondo Brusque
Paial Presidente Lacerdópolis Tijucas
Itá
Concórdia Castello São Botuverá
Ouro Erval
Branco Cristovão Presidente
Velho
Curitibanos do Sul Trombudo Nereu Nova
Peritiba São
Central Trento João
Alto Brunópolis Batista
Ipira Agronômica Aurora Vidal Governador
Bela Ramos Leoberto Celso
Ponte Braço do
Vista Vargem Leal Major Ramos
Capinzal Zortéa Alta Trombudo Biguaçu
Gercino
Atalanta Ituporanga
Piratuba Agrolândia
E S T A D O
27°30'0"S
27°30'0"S
Campos Antônio
D O
São José Imbuia
Novos do Cerrito Carlos
Abdon
Angelina
Batista Otacílio Chapadão
Costa do Lageado
R I
Palmeira
Petrolândia
Características gerais da população (1950-2050)
O Celso
Ramos
Correia
Pinto
Rancho
Queimado
de Alcântara Florianópolis
N
do Sul São Palhoça
Painel Bonifácio
D Rio
E Rufino
D São
Joaquim Grão Pará
Imbituba
Braço Imaruí
O
do Norte
Armazém
População Orleans
28°20'0"S
28°20'0"S
São
Ludgero Gravatal
Lauro
Bom Jardim
Urbana da Serra
Muller
N O
Treviso Capivari
Pedras
S
de Baixo
Rural
Grandes
U L
Urussanga
Tubarão Laguna
Treze
Siderópolis de Maio
Cocal
E A
Morro da
Nova Fumaça Sangão
Veneza Jaguaruna
429.604 Morro Criciúma
Grande
Forquilhinha
Timbé
O C
236.000 do Sul Meleiro
Maracajá
Içara
Turvo
Araranguá
110.000
®
Ermo
Jacinto Balneário
Machado Arroio
50.000 Sombrio
do Silva
25.000 Praia
Grande
Santa
Rosa
29°10'0"S
29°10'0"S
do Sul Balneário
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010.
5.000
Gaivota Escala Gráfica
144 145
Elaboração: Guilherme Regis, Pedro Agripino Sagaz, São João 0 4,5 9 18 27 36
do Sul km
Gislene Daiana Martins, Thobias Furlanetti (SPG/SC).
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Organização: Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). Passo de
Torres
2010 D O
Três
Barras
AR GENTINA
Porto Joinville
A T L Â N T I C O
União
Irineópolis São
T A D O
São Bento
E S
Palma Francisco
do Sul Timbó
Dionísio Sola Bela Vista Schroeder do Sul
Grande
Cerqueira do Toldo Papanduva
Jupiá
São Itaiópolis
Guarujá Campo Major
Lourenço
do Sul Erê Vieira
do Oeste
São Matos
Novo Corupá
Princesa Galvão Domingos Costa Rio Negrinho
Horizonte Abelardo Luz Balneário
São José Anchieta Guaramirim Araquari
do Cedro São Barra
Jaraguá
Bernardino Timbó do Sul
do Sul
Coronel Grande Rio dos
Saltinho Martins Calmon Cedros
Santa Santa
Terezinha Terezinha São
Guaraciaba Romelândia do Progresso Irati Monte
Ipuaçu Passos João do
Paraíso Barra Formosa Santiago Maia Castelo Doutor Massaranduba Barra
Serra Itaperiú
Bonita Tigrinhos do Sul do Sul Pedrinho Velha
REPÚBLICA
CAPÍTULO VIII
Belmonte Pinhalzinho Águas Lajeado Timbó
Faxinal Serrada Rio das Ilhota
Frias Coronel Grande Vargem Salto Arroio Rio do
Iraceminha Nova dos Antas José
Cunha Freitas Bonita Veloso Trinta Campo Gaspar
Erechim Xanxerê Guedes Lebon Boiteux Rodeio Navegantes
Santa Descanso Porã Witmarsum
Helena Riqueza Régis
Saudades Nova Iomerê
Ipumirim Lindóia Treze Dona Itajaí Balneário
Tunápolis Caibi Itaberaba Cordilheira Xaxim Xavantina Santa Salete Emma Ascurra
do Sul Tílias Camboriú
Iporã Cunhataí Alta Videira Cecília
do Oeste São Pinheiro Ibirama
Carlos Planalto Irani Catanduvas Preto Fraiburgo Presidente Indaial
São João Taió
Alegre Arvoredo Getúlio Apiúna
do Oeste Águas de Luzerna Ibicaré Rio do
Palmitos Chapecó Jaborá Tangará Itapema
Itapiranga Oeste
Mondaí Camboriú
Chapecó Frei Ponte Guabiruba
Caxambu Guatambu Arabutã Joaçaba Monte
Seara Ibiam Rogério Alta do Mirim
do Sul Carlo Norte
Herval Doce Porto Bombinhas
Rio do Lontras Belo
Paial Ouro d'Oeste Laurentino Canelinha
Presidente Sul
Castello Lacerdópolis Brusque
Itá Concórdia Erval Botuverá Tijucas
Branco São Pouso
Velho Redondo Presidente
Cristóvão Trombudo
Peritiba Curitibanos Nereu
do Sul Central
Aurora Nova
Alto Braço do Agronômica Trento
Brunópolis Vidal Governador
Bela Trombudo São João
Vista Ponte Ramos Celso
Ipira Vargem Batista
Alta Leoberto Biguaçu Ramos
Piratuba Capinzal Zortéa Leal Major
Atalanta
Gercino
Agrolândia Ituporanga
27°30'0"S
E S T A D O D O
Campos
Novos
São José
do Cerrito
Imbuia
Antônio
Carlos 27°30'0"S
Abdon Angelina
Batista Chapadão
Otacílio do Lageado
R I
Palmeira Costa Petrolândia
Características gerais da população (1950-2050)
O Celso
Ramos
Correia
Queimado Alcântara
Florianópolis
Pinto
São José
Anita
Garibaldi Bom Alfredo
G Bocaina
do Sul
Retiro Wagner Águas Santo
Amaro da
R
Mornas
Anitápolis Imperatriz
Cerro
A Negro
N
Campo São
Belo Bonifácio Paulo
Painel
D do Sul Lopes Palhoça
Rio
Rufino
E
Santa Rosa
Lages Urupema de Lima
Urubici Garopaba
Capão
Alto Rio
Fortuna São
Martinho
D São
Joaquim
Grão
Pará
Imbituba
Braço Imaruí
O
Armazém
do Norte
28°20'0"S
População Orleans
28°20'0"S
São Gravatal
Lauro Ludgero
Urbana
Bom Jardim
Müller
da Serra
N O
Treviso Capivari
Pedras de Baixo
Rural S Grandes
U L
Urussanga Tubarão
Tubarão Laguna
Siderópolis
Cocal
Total de Habitantes
Cocal
do Sul
do Sul
E A
Morro da Sangão
Nova Fumaça
515.288 Veneza Criciúma Jaguaruna
Morro
Grande
Forquilinhas
Timbé
O C
236.000 do Sul Meleiro
Içara
Maracajá
Turvo
Araranguá
110.000 Ermo
®
Jacinto Balneário
Machado Arroio do
50.000 Silva
Santa
25.000 Praia
Grande Rosa
do Sul
29°10'0"S Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010. Balneário 29°10'0"S
5.000
Escala Gráfica
146 147
Elaboração: Guilherme Regis, Pedro Agripino Sagaz, São João Gaivota 0 4,5 9 18 27 36
Gislene Daiana Martins, Thobias Furlanetti (SPG/SC). do Sul km
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Organização: Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). Passo de
Torres
D O Três Barras
Mafra
AR GENTINA Canoinhas
Joinville
A T L Â N T I C O
São
São
Irineópolis Francisco do
Dionísio E S T A D O Bento do
Sul
Sul
Cerqueira
Palma Porto União Schroeder
Guarujá Sola Jupiá
do Sul Major Vieira
Campo Rio Negrinho Corupá Balneário
Princesa São Lourenço Galvão Bela
Erê Itaiópolis Barra
do Oeste Vista Araquari do Sul
São José Papanduva Jaraguá Guaramirim
do Cedro São Novo Matos Costa do Toldo do Sul
Santa Bernardino Horizonte São
Coronel
Anchieta Terezinha Domingos Abelardo
Martins Calmon Timbó Grande
do Progresso Luz São
Saltinho Santa João do
Guaraciaba Monte Castelo Rio dos
Terezinha Itaperiú
Cedros
Paraíso Passos Doutor Massaranduba
Romelândia Tigrinhos Irati Formosa Santiago do Maia Barra
REPÚB LICA
Serra Pedrinho
São Alta Sul Ipuaçu Velha
Barra Sul do Sul Água Doce
Miguel da Entre Bom Ouro
Bom Jesus Brasil
São Miguel Bonita Boa Vista
do Oeste Jardinópolis Quilombo Rios Jesus Verde
Vargeão Pomerode Luiz Alves
do Oeste Macieira Caçador Vitor Balneário
Flor do Maravilha Modelo Meireles Piçarras
União Lebon Régis Benedito
Sertão
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO VIII
Bandeirante do Oeste José Boiteux Novo Timbó
Pinhalzinho Faxinal Penha
Marema Ponte Santa Cecília Rio do Campo Blumenau Navegantes
Iraceminha dos Guedes
Águas Serrada
Belmonte Cunha Coronel Xanxerê Vargem Salto Ilhota
Frias Lajeado Rio das
Porã Saudades Nova Freitas Bonita Veloso Arroio Rodeio
Grande Antas
Santa Descanso Erechim Trinta Witmarsum Gaspar
Riqueza Treze Balneário
Helena Nova
Cordilheira Xaxim Lindóia Tílias Salete Camboriú
Cunhataí Itaberaba Iomerê Ascurra Itajaí
Alta do Sul Dona Emma
Tunápolis Iporã do Videira Indaial
Oeste São Xavantina Irani Ibirama
Caibi Ipumirim Pinheiro Fraiburgo
Carlos Águas de Planalto Preto Presidente
Catanduvas
Chapecó Alegre Arvoredo Luzerna Taió Getúlio
Ibicaré Camboriú
São João Palmitos Guabiruba
Mondaí Guatambú Ponte Alta Itapema
Itapiranga do Oeste Caxambu Chapecó
Arabutã Jaborá
Apiúna
Seara Joaçaba Tangará do Norte
do Sul Frei Rogério Rio do Oeste Rio do Sul
Ibiam Brusque Porto
Herval Monte
d'Oeste Carlo Lontras Belo Bombinhas
Presidente Laurentino
Paial Mirim Doce
Castello Botuverá
Itá Concórdia Lacerdópolis Canelinha
Branco
São Tijucas
Ouro Erval Velho Pouso
Curitibanos Cristovão do Redondo Presidente
Brunópolis Trombudo
Sul Nereu Nova
Central Aurora Trento São João
Peritiba Ipira
Ponte Alta Braço do Batista Governador
Trombudo Agronômica Vidal Celso
Alto Bela Capinzal Campos Novos Ramos Leoberto Ramos
Vista Vargem Atalanta Leal
Piratuba Ituporanga Major Biguaçu
Agrolândia
E S T A D O Zortéa Gercino
D O
São Antônio
Otacílio Petrolândia Imbuia
José do Carlos
Cerrito Costa
Abdon Batista
Angelina
R I
Características gerais da população (1950-2050)
O
do Lageado de Alcântara
Correia Pinto
Celso Ramos
Bocaina Alfredo
Cerro do Sul Rancho
Bom Retiro Wagner
Negro Queimado
Campo Santo Amaro
G Anita
Garibaldi
Belo
do Sul
Águas da Imperatriz
Palhoça
R
Mornas
A Anitápolis
N Rio Rufino
São
D Painel Bonifácio
Grão São
D Pará Martinho
Imbituba
Braço do
Imaruí
O
Norte Armazém
Bom
Orleans
São Joaquim Jardim
da Serra
São
Ludgero Gravatal
Lauro
Muller Pescaria
Total de Habitantes
N O
Brava
Capivari
U L
Treviso Grandes Laguna
Treze
590.466 Siderópolis Cocal
do Sul
de Maio
E A
Morro da
Morro Criciúma Sangão
Nova Fumaça
Grande Jaguaruna
Veneza
Içara
Timbé do Sul
236.000
Forquilhinha
O C
Balneário
Meleiro Rincão
Maracajá
Turvo
110.000 Araranguá
®
Jacinto
Ermo
Machado Balneário
50.000 Arroio do
Silva
Sombrio
Santa
Praia Rosa do
Grande Sul Balneário
Gaivota
1.260
Escala Gráfica
Fonte: IBGE - Estimativas de População 2019
148 149
São João 0 4,5 9 18 27 36
Elaboração: Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha do Sul km
(UDESC). Passo de
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Torres
Capítulo 8 | Características gerais da população (1950-2050)
Rosana Baeninger1
Pier Francesco De Maria2
Crescimento e Tabela 1 – População total, variação em relação ao censo anterior e taxa média anual de crescimento da
população, Santa Catarina (1950-2015).
distribuição espacial Ano 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 2015
da população População 1.560.502 2.146.909 2.901.660 3.628.292 4.541.994 5.357.864 6.248.436 6.839.000
A
Variação (%) - 37,6 35,2 25,0 25,2 18,0 16,6 9,5
dinâmica de crescimento da popu-
Crescimento
lação no estado de Santa Catarina, a (% a.a.)
- 3,2 3,1 2,3 2,1 1,7 1,5 1,8
CAPÍTULO VIII
na importante ampliação e diversificação por Amostra de Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/
de sua base produtiva. Como analisa Alves CNPq-NEPO/UNICAMP).
(2008, p. 18) “a década de 1950 é um impor- Notas: Em 1950, os dados são da população presente; para os censos de 1960 a 1980, os dados são da população
recenseada; para os censos de 1991 em diante, dados da população residente. As datas de referência das entrevistas
tante marco de transformações nas estru- do Censo são: 01/07/1950; 01/09/1960; 01/09/1970; 01/09/1980; 01/09/1991; 01/08/2000; e 01/08/2010. Taxas de
turas socioeconômicas de Santa Catarina. crescimento calculadas pelo método geométrico. Os dados de 1970 a 2010 são da amostra.
70% 57,0% Mapa 2 – População total por categorias de tamanho, distribuição por sexo e situação do domicílio, microrregiões de Santa Catarina (2000-2010).
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO VIII
60%
50%
84,0% 83,7%
78,7%
40% 70,6%
59,4%
30%
43,0%
20%
10%
0%
1970 1980 1991 2000 2010 2015
Urbano Rural
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE). Observatório das
Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Características gerais da população (1950-2050)
152 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 153
Tais dinâmicas regionais Mapa 3 – Taxa média anual de crescimento da população por município, Santa Catarina (1991-2000). cípios com mais de 60% da população em taxas de crescimento (Mapas 3 e 4) e pela rápida urbanização no litoral e regiões limí-
resultam das situações demo- áreas urbanas em 2010. Inclusive, destaca- migração rural-urbana (Tabela 2 e Gráfico trofes é fruto da combinação de dois fatores:
gráficas municipais (Mapa 3). -se o aumento do número de municípios do 1) – diz respeito à maior urbanização do a migração (tanto inter como intramunicipal)
No período 1991-2000, as taxas Oeste Catarinense com mais de 80% de sua litoral. Como já pontuado, há, nos muni- rural-urbana; e a proliferação de oportuni-
de crescimento populacional população vivendo no urbano (Mapa 5). cípios costeiros, uma maior concentração dades nas áreas urbanas destes municípios.
dos municípios situados fora da populacional (fruto da migração em direção
faixa litorânea eram predomi- Outro fenômeno importante de ser desta- a estes lugares, mais industrializados e onde Apesar desse espraiamento urbano nos muni-
nantemente abaixo de 0,5% ao cado – de encontro com o ressaltado pelas há mais oportunidades). Com isto, a mais cípios catarinenses, a densidade demográfica
ano, com a presença de muitos
municípios com taxas de cres-
Mapa 5 – Grau de urbanização por município, Santa Catarina (2000-2010).
cimento negativo, em parti-
cular no Oeste Catarinense
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO VIII
(onde há a maior concentração
de municípios com cresci-
mento abaixo de -2,5% ao ano).
Ao longo da década de 1990,
novos municípios foram criados
no Oeste Catarinense e na
Mesorregião Serrana. Por sua
vez, a região nordeste do Litoral
(incluindo Florianópolis) teve
taxas de crescimento muito
altas, variando de 2,5 até 8,4%
ao ano. O acentuado processo Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 e 2000 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo
(Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapa elaborado por Pier Francesco De Maria.
de ocupação territorial urbano
trouxe um cenário bastante Nota: Municípios em branco não existiam à época do Censo de 1991.
154 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 155
é baixa em todo o estado, com até 50 Mapa 6 – Densidade demográfica por município, Santa Catarina (2010). número de filhos no total da população femi- baixos de fecundidade, foram as mulheres grupo 20 a 24 anos de idade e o grupo de
habitantes por km2 na maioria dos nina de 15 a 49 anos de idade em Santa Cata- de 25 a 29 anos que responderam pela 30 a 34 anos de idade apresentaram níveis
municípios, com exceção dos loca- rina. Em 2012 e 2016, com níveis bem mais concentração da fecundidade, sendo que o muito próximos de fecundidade (Gráfico 2).
lizados na Região Metropolitana de
Florianópolis e alguns do Vale do Gráfico 2 – Taxas específicas de fecundidade por grupo etário, Santa Catarina (1984-2016).
Itajaí, com densidades, em 2010, 0,20
por vezes superiores aos 500 hab/
0,18
km² (Mapa 6). Este resultado tende a
confirmar que, embora aconteça um 0,16
claro fenômeno de urbanização em 0,14
todo o estado, há – devido a fatores
0,12
econômicos e sociais – a concentração
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO VIII
da população no litoral catarinense, 0,10
mais desenvolvido e que, consequen- 0,08
temente, também se urbaniza mais
0,06
rápido e tem taxas de crescimento
expressivas até mesmo no século XXI. 0,04
0,02
0,00
Indicadores 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49
demográficos e
população por 1984 1988 1992 1996 2000 2004 2012 2016
grupos de idade Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE e tabela 2.1 da Sinopse). Observatório das Migrações
em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapa elaborado por Pier Francesco De Maria. Fonte: FIBGE, Estatísticas do Registro Civil (tabelas 194 e 2609 do SIDRA/IBGE), DataSUS/MS e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Observatório das Migrações em São
Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
O processo de transição demográfica Nota: Para definições a respeito dos indicadores, ver RIPSA (2008). A taxa específica de fecundidade foi estimada por métodos diretos, por meio dos dados do Registro Civil (para os nasci-
dos vivos por grupo etário da mãe) e do DataSUS/MS (para a população por grupos etários).
no âmbito nacional, a partir de 1970, reprodutivo) e nas taxas de mortalidade (TBM, o Santa Catarina passou de 41,6 nascimentos por
Características gerais da população (1950-2050)
por mulher e no rural de 7,42. A partir dos anos 2000, o estado já apresenta uma dade e um movimento de postergação na 2015 19,7 67,5 12,9 13,7 67,3 19,0 17,1 66,9 16,0 20,3 60,3 19,4
Os diferenciais de fecundidade taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição idade para ter filhos. Em 1984, as mulheres Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1970 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE). Observatório das
entre urbano e rural diminuíram populacional (que é de 2,1 filhos por mulher): de 20 a 24 anos respondiam pelo maior Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
156 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 157
A diminuição da fecundidade (número de A diminuição no número de filhos por mulher de dependência jovem era de 89,2, chegando A razão de sexos (número de homens para Gráfico 4 – Razão de sexos por grupos etários quinquenais, Santa Catarina (1980-2010).
filhos por mulher) tem reflexos na distri- alterou consideravelmente a estrutura etária a 27,2 em 2015. Em contrapartida, a razão de cada 100 mulheres) ilustra a cada vez maior
buição relativa da população por grupos de da população. Para se ter uma ideia da inten- dependência idosa passou de 9,0, em 1970, predominância de mulheres nas idades mais 110,0
idade. Assim, em 1970, o grupo de homens sidade desta transformação, em 1970, a razão para 22,8 em 2015 (Tabela 5). avançadas em Santa Catarina (Gráfico 4).
jovens residindo no urbano representava Acompanhando a evolução da razão de sexos, 100,0
43,0% do total da população de homens Tabela 5 – Razões de dependência jovem, idosa e total, Santa Catarina (1970-2015). pode-se observar que, em 1980, o número de
nestas áreas de Santa Catarina, diminuindo 1970 1980 1991 2000 2010 2015 mulheres ultrapassava o de homens (isto é, a 90,0
sua participação para 20,0% em 2014. O Razão de Dependência Jovem 89,2 66,2 55,0 44,2 32,2 27,2
linha do gráfico fica abaixo de 100) somente
grupo de mulheres jovens no urbano repre- em torno dos 55 anos de idade; ou seja, o
Razão de Dependência Idosa 9,0 9,6 11,2 12,6 15,5 22,8 80,0
sentava 40,7% em 1970, dimunuindo para fenômeno estava associado, realmente, à
Razão de Dependência Total 98,2 75,8 66,3 56,8 47,7 50,0
17,1% em 2015. Em contrapartida a esta maior esperança de vida das mulheres.
perda de participação do grupo jovem, Fonte: – FIBGE, Censos Demográficos de 1970 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra 70,0
de Domicílios 2015 (tabela 261 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO VIII
aumentam os pesos relativos dos grupos UNICAMP). Nas décadas seguintes, as linhas começam
etários da população em idade ativa (15-59 Notas: Considera-se, para o cálculo das razões de dependência, a população jovem como aquela com menos de 15 a ficar abaixo de 100 em idades mais jovens, 60,0
anos) e da população idosa (60 anos e mais). anos, enquanto a população idosa é aquela que tem 60 anos ou mais. indicando a existência de duas possibilidades:
1) ou uma seletividade migratória que leva
50,0
Em 1970, a população de homens no urbano Ou seja, a transição demográfica traz, de dimuição da base da pirâmide, que corres- para fora mais homens (ou traz para o estado 0-4 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 80+
em idade ativa representava 52,4% de toda um lado, a diminuição relativa da popu- ponde ao grupo de 0 a 4 anos de idade, o mais mulheres); 2) ou uma expressiva sobre-
a população urbana de homens catarinenses, lação jovem, aumentando o grupo adulto e aumento da população em idade ativa e mortalidade masculina nas idades jovens e 1980 1991 2000 2010
chegando a 67,5% em 2015. No caso das idoso ao longo das décadas. Assim, a “janela o forte envelhecimento populacional, em jovens-adultas (15-29 anos) e permanecendo Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1980 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São
mulheres no urbano de 15 a 59 anos, esta de oportunidades” que a nova estrutura especial na pirâmide de 2010. Nota-se a a maior esperança de vida da população femi- Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
participação era de 54,1% em 1970, chegando de idade da população oferece se pauta: na mudança no formato das pirâmides, que nina em idades mais avançadas. Notas: Dos dados do censo de 1980, foram excluídas as pessoas de ambos os sexos cuja idade era ignorada. A razão de
sexo é calculada como a relação entre o total de homens e o total de mulheres, em cada grupo etário e ano, multiplicada
a 66,9% em 2015. O novo perfil demográfico da possibilidade de ampliar as políticas sociais, impacta no envelhecimento relativo da por 100. Valores acima de 100 indicam que há mais homens do que mulheres, enquanto valores abaixo de 100 represen-
população catarinense demonstrou a impor- em especial a qualidade da educação para os população, embora, no atual momento da tam a situação inversa.
tância do envelhecimento populacional tanto grupos jovens; dar empregabilidade para a conjuntura demográfica de Santa Catarina,
Projeções populacionais
no meio urbano quanto no rural, para homens população em idade ativa; e, se preparar para esteja aumentando o volume da população (2015-2050)
Tabela 6 – Indicadores sociodemográficos selecionados, Santa Catarina (2015-2050).
e mulheres. Contudo, há especificidades na o desafio de uma população idosa crescente. entre 15 e 59 anos, tanto para homens
Características gerais da população (1950-2050)
e de 12,9% em 2015; no rural, estas partici- (Tabela 6). A taxa de crescimento da população Crescimento médio anual (%) 1,37 1,22 1,02 0,81 0,51 0,28
pações eram de 4,3% em 1970 e de 19,0% em passará de 1,44% ao ano entre 2010-2015, Taxa bruta de mortalidade (‰) 5,13 5,34 5,72 6,30 7,91 9,73
Gráfico 3 – Distribuição relativa (%) da população por sexo, grupos etários quinquenais e situação do
2015. As mulheres idosas urbanas represen- para 0,92% ao ano entre 2025 e 2030, apon-
domicílio, Santa Catarina (1980-2010). Taxa bruta de natalidade (‰) 14,40 13,46 12,31 11,30 10,17 9,86
tavam 5,2% em 1970 e 15,0%, em 2015; no tando para a tendência de continuidade da
Ano: 1980 Ano: 1991 Taxa de fecundidade total 1,74 1,74 1,73 1,72 1,71 1,69
rural eram 4,2% e 19,4%, respectivamente. 80 ou + 80 ou + diminuição nas taxas de fecundidade. De fato,
75 a 79 75 a 79
Taxa de mortalidade infantil (‰) 9,49 8,11 7,00 6,12 4,86 4,08
70 a 74
65 a 69
70 a 74
65 a 69
se estima que de 1,55 filhos por mulher em
Num primeiro momento, a queda da fecun- 2015 se chegue a 1,45 em 2030. A esperança Esperança de vida ao nascer (anos) 78,74 80,21 81,37 82,26 83,46 84,12
60 a 64 60 a 64
55 a 59 55 a 59
50 a 54 50 a 54
Urbano - Homens
3,0 1,0
Urbano - Mulheres
1,0
Rural - Homens
3,0
Rural - Mulheres
5,0 7,0 7,0 5,0
Urbano - Homens
3,0 1,0
Urbano - Mulheres
1,0
Rural - Homens
3,0
Rural - Mulheres
5,0 7,0
7,0 5,0 3,0 1,0 1,0 3,0 5,0 7,0 7,0 5,0 3,0 1,0 1,0 3,0 5,0 7,0
mulheres, além desses dois fatores, há ainda Urbano - Homens Urbano - Mulheres Rural - Homens Rural - Mulheres Urbano - Homens Urbano - Mulheres Rural - Homens Rural - Mulheres dependência de idosos (de 11,2 em 2015 para passando a responder por apenas 17-19% da já a partir de 2015. O grupo acima de 65 anos
a maior esperança de vida para as mulheres 21,3 em 2030), resultando em um índice de população catarinense em 2030. Em contra- de idade corresponderá a 21% dos homens e a
e, portanto, maior participação de mulheres Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1980 a 2010 (tabela 200 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São envelhecimento mais de duas vezes maior em partida, a população em idade ativa, em espe- 26% das mulheres em Santa Catarina até o fim
idosas tanto no urbano quanto no rural. Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). 2030 em relação a 2015. cial o grupo de 30 a 49 anos, tanto para homens do período de projeção (Tabela 7).
158 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 159
REFERÊNCIAS
Como se nota, no horizonte de projeção despontar como futuro segundo grupo em expressivo de pessoas se tornará idosa em
2015-2050, ainda se espera o crescimento termos de importância – para homens e 15 anos. Estes indicadores apontam para
de partes da população em idade ativa, mulheres. Ainda que as projeções indiquem mudanças substanciais na composição
ainda que os jovens adultos (15-29 anos) que a população em idade ativa (15 a 64 etária da população de Santa Catarina, refle-
já apresentem uma queda expressiva e os anos) se manterá estável, é preciso, deste tindo novos desafios e a necessidade de
ALVES, Pedro Assumpção. Deslocamentos
adultos idosos (50-64 anos) já comecem a modo, levar em conta que um contingente políticas específicas.
Espaciais da População e Dinâmica
Tabela 7 – Distribuição relativa (%) da população por sexo e grandes grupos etários, Santa Catarina (2015-2050). Econômica no Estado de Santa Catarina:
Sexo e grandes grupos etários 2015 2020 2025 2030 2040 2050 Urbanização, Migração e Metropolização
0 a 14 anos 20,5 19,8 19,5 18,7 16,5 15,5 – 1950/2000. 2008. 213 f. Dissertação
(Mestrado em Demografia) – Programa
15 a 29 anos 25,7 23,0 20,5 18,8 18,7 17,6
Homens
de Pós-Graduação em Demografia,
30 a 49 anos 30,7 31,2 31,6 31,2 27,3 25,2
Universidade Estadual de Campinas,
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO VIII
50 a 64 anos 15,8 16,9 17,5 17,9 20,4 20,8 Campinas, 2008.
65 anos ou mais 7,4 9,1 11,0 13,3 17,1 20,9
IPARDES (Instituto Paranaense de
0 a 14 anos 19,3 18,7 18,3 17,5 15,5 14,5
Desenvolvimento Econômico e Social).
15 a 29 anos 24,5 21,8 19,3 17,7 17,5 16,4 Dinâmica Demográfica da Região Sul:
Mulheres
30 a 49 anos 30,3 30,4 30,4 29,8 25,7 23,4 Anos 70 e 80. Curitiba: IPARDES, 1997.
50 a 64 anos 16,6 17,8 18,2 18,4 20,1 20,2
RIPSA (Rede Interagencial de Informação
65 anos ou mais 9,3 11,4 13,8 16,6 21,2 25,5
para a Saúde). Indicadores Básicos para a
Fonte: FIBGE, Projeções da população do Brasil e por Unidades da Federação. Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Saúde no Brasil: conceitos e aplicações. 2
Notas: Dados coletados em 10/10/2018 em http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html. ed. Brasília: Organização Pan-Americana da
Saúde, 2008.
As pirâmides etárias projetadas (Gráfico lação de Santa Catarina para os próximos veitamento do aumento da população em
5) ilustram a mudança na composição da quinze anos do século 21. O estreitamento idade ativa; (2) a melhora da infraestrutura
população catarinense, que amplia a parti- da base e o consequente alargamento do associada a grupos populacionais em queda
Características gerais da população (1950-2050)
Gráfico 5 – Projeção da distribuição relativa (%) da população por sexo e grupos etários quinquenais, Santa Catarina (2015-2050).
Fonte: FIBGE, Projeções da população do Brasil e por Unidades da Federação. Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Notas: Dados coletados em 10/10/2018 em http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html.
160 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 161
® Detalhe de fotografia de Giselli Ventura de Jesus.
Capítulo IX
Perfil Socio-
demográfico
e Econômico
da População
(1991-2015)
T
endo em vista a análise realizada, Considerando a urbanização de Santa Cata- aumento é devido, como os dados da Tabela 1
no capítulo anterior, a respeito das rina, o envelhecimento de sua população e o esclarecem, a uma combinação de fatores. De
características gerais da população crescimento de áreas específicas do estado um lado, a participação das mulheres cresceu
catarinense, sua evolução nos últimos 60 (resultando em adensamento populacional), em todas as idades, apontando para sua
anos e as projeções até 2050, é preciso é importante analisar a evolução de variá- maior e crescente participação no mercado
avaliar também como as características veis sociodemográficas e econômicas para
de trabalho. De outro lado, os homens jovens,
desta população mudaram no tempo. É detalhar as características destas mudanças
ao ficarem por mais tempo na escola, deixam
preciso ressaltar que não apenas de idade, que ocorreram desde os anos 1960. Para tal,
de estar na população ativa.
este capítulo aborda os seguintes elementos
CAPÍTULO IX
sexo e situação censitária é feita uma análise
demográfica. Elementos como raça/cor, sociodemográficos e econômicos: ocupação
religião, escolaridade, ocupação e pendula- e renda; nível de escolaridade e analfabe- Embora seja cada vez maior a partici-
tismo; distribuição por raça/cor e religião; pação feminina no mercado de trabalho,
ridade também perfazem o universo socio-
nupcialidade e família; e pendularidade. é possível notar que ainda se mantêm
demográfico e devem ser levadas em conta
Abordando estes temas, espera-se detalhar diferenciais significativos entre homens
em uma análise mais profunda sobre a
a contento as principais mudanças pelas e mulheres. A discrepância é maior entre
população catarinense.
quais passou, nas últimas décadas, a popu-
os adultos e os idosos (registrando uma
lação catarinense.
diferença de, em média, 20 pontos percen-
À medida que a população envelhece e se
tuais), ainda que, entre 1991 e 2015, as
muda para as cidades, é preciso associar
estes processos a outros concomitantes, Características taxas gerais de atividade por sexo tenham
tais como: a maior escolarização; a evolução econômicas e mostrado uma tendência convergente.
das taxas de participação no mercado de ocupacionais Esta divergência é mais sentida entre
1
Graduado em Ciências Econômicas (2013), Tabela 1 – Taxa de atividade (%) geral e por grandes grupos etários, população de 15 anos ou mais,
Mestre (2016) e Doutor (2018) em Demografia Santa Catarina (1991-2015).
pela Universidade Estadual de Campinas. Atua no Homens Mulheres
Laboratório de Urbanização e Mudanças no Uso e 1991 2000 2010 2015 1991 2000 2010 2015
Cobertura da Terra e no Laboratório de Economia Jovens (15-29) 86,4 84,0 81,4 76,5 49,5 63,5 70,9 67,2
e Gestão na Universidade Estadual de Campinas,
Adultos (30-59) 91,7 89,8 89,2 89,8 43,2 59,4 70,7 68,7
pesquisando o tema Pobreza e Desigualdade, com
Idosos (60+) 35,5 33,3 39,1 32,8 9,3 10,3 18,6 14,3
ênfase na análise de indicadores e medidas e na
aplicação de métodos quantitativos. Geral (15+) 84,1 81,8 80,3 76,2 42,2 55,0 63,2 57,4
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 (tabela 616 do SIDRA/IBGE) e Pesquisa Nacional por Amostra
2
Graduada em Ciências Sociais (1984), Mestra em de Domicílios 2015 (tabela 4021 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/
UNICAMP).
Sociologia (1992) e Doutora em Ciências Sociais (1999)
Notas: A taxa de atividade foi calculada como sendo a razão entre a população economicamente ativa e a soma da
pela Universidade Estadual de Campinas. Professora população ativa e não-ativa em determinado ano.
Livre Docente (2012) na área de População e Ambiente,
atualmente é pesquisadora do Núcleo de Estudos de
População e docente colaboradora do Departamento Um segundo ponto a ser analisado diz posição na ocupação, isto nos permite
de Demografia, do Programa de Pós-Graduação em respeito à distribuição da população avaliar a proporção de empregados com
Demografia e do Programa de Pós-Graduação em ocupada por posição na ocupação e por carteira assinada e a evolução da população
Sociologia da Universidade Estadual de Campinas. condição de atividade. No que tange a que trabalham por conta própria. Estes
CAPÍTULO IX
nada. Todavia, este perfil genérico sofre desfavorecidas nas áreas rurais – nas quais
a influência de efeitos de composição considerar só a PEA ou a população total faz
10,0
causados por variáveis como sexo e situ- 70% pouca ou nenhuma diferença. Por sua vez,
ação do domicílio. Os dados concernentes a situação nas áreas urbanas é menos pior, 0,0
ao Censo Demográfico de 2010 permitem ainda que, quando se analisa a população 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015
fazer uma análise mais aprofundada – utili- 54% total (e não só a PEA), a razão é sensivel- Áreas urbanas - PEA Áreas urbanas - Total Áreas rurais - PEA Áreas rurais - Total
22%
zando variáveis complementares como mente inferior. Isto nos indica que, quando
sexo, idade e situação do domicílio – da adicionamos a população economicamente Fonte: FIBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2001 a 2014 (tabelas 1860 e 1867 do SIDRA/IBGE).
Ano 2010 Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
distribuição da população por posição na não-ativa, de ambos os sexos das áreas
ocupação, como mostram os resultados 4% urbanas, as mulheres deste grupo ganham Notas: A população total inclui os economicamente ativos e os economicamente não-ativos.
3%
expostos na Tabela 2. 3% muito abaixo dos homens. No período 2001-
2014, se observa maior aumento da razão
Gráfico 3 – Razão entre o rendimento nominal médio mensal de cada decil e o correspondente do
De maneira geral, a proporção de empre- 12% nas áreas rurais, enquanto se verifica estag- último decil, por sexo e ano, Santa Catarina (2000-2010).
2%
gados com carteira assinada decai de forma nação – no período 2001-2007 – nas áreas
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)
mente nas áreas rurais. Nas áreas urbanas, Não remunerados Auto-consumo Empregadores Conta própria com elevação).
40,0
até os 64 anos de idade, mais da metade da
Carteira assinada Militares e estatutários Sem carteira assinada
população ocupada tem registro em carteira. Por sua vez, recorrendo aos dados dos 35,0
Já nas áreas rurais, a principal posição é últimos dois Censos, é possível avaliar tanto
de trabalhadores por conta própria (autô- Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 2031 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São a evolução da desigualdade de renda como 30,0
nomos); especificamente entre os idosos no Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). dos diferenciais de gênero. Em primeiro
Notas: A categoria “Carteira assinada” inclui os trabalhadores domésticos. A categoria “Sem carteira assinada” inclui os 25,0
rural, há uma proporção expressiva (mais lugar, avaliando a progressão da desigual-
aprendizes ou estagiários sem remuneração.
de ⅓) de trabalhadores na produção para dade intragrupo (ou seja, entre homens e
20,0
próprio consumo. entre mulheres), o rendimento nominal,
em 2010, dos decis inferiores representava 15,0
Outra distinção importante a ser ressal- Tabela 2 – Distribuição (%) da população de 15 anos ou mais, ocupada na semana de referência, por uma proporção maior do decil mais rico
posição na ocupação, situação do domicílio, sexo e grandes grupos etários, Santa Catarina (2010).
tada diz respeito aos diferenciais por sexo. em comparação a 2010. Ademais, ainda no 10,0
Áreas urbanas Áreas rurais
Por um lado, a propoção de ocupados com Gráfico 3, se nota que a desigualdade de renda
Posição na 5,0
carteira é similar, entre homens e mulheres, Homens Mulheres Homens Mulheres entre as mulheres é menor do que entre os
ocupação
até os 64 anos de idade, tanto nas áreas 15-29 30-64 65+ 15-29 30-64 65+ 15-29 30-64 65+ 15-29 30-64 65+ homens – resultado facilmente averiguável a 0,0
urbanas como nas rurais. Por outro lado, Com carteira 70,1 55,1 20,5 70,6 55,4 17,5 44,6 26,7 4,1 42,9 22,2 2,9 partir do índice de Gini para cada ano e sexo. 1º decil 2º decil 3º decil 4º decil 5º decil 6º decil 7º decil 8º decil 9º decil
há diferenças relevantes nas proporções de Sem carteira 12,9 7,5 11,2 15,0 13,1 17,0 13,2 9,2 5,9 15,0 11,2 8,4
2000 - Homens 2000 - Mulheres 2010 - Homens 2010 - Mulheres
trabalhadores por conta própria (em que há No que diz respeito à evolução dos rendi-
Conta
mais homens do que mulheres) e daqueles própria
12,2 26,1 39,2 8,4 17,1 31,5 31,8 53,2 51,1 26,4 45,7 38,9 mentos em si – após trazer os valores de
que produzem para auto-consumo (no qual 2000 a preços de julho de 2010 – é possível Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 2904 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São
Sem Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
0,7 0,2 2,7 1,1 1,1 7,3 4,2 0,8 4,4 6,2 5,0 10,3
se verifica a situação inversa). remuneração verificar, a partir do Gráfico 4, que há uma
Notas: Cada decil corresponde à classe simples, não sendo cumulativo. Os rendimentos não são deflacionados.
Auto- melhora sensível na razão entre mulheres
consumo
0,3 0,7 15,7 0,3 1,3 20,5 4,8 7,2 33,4 7,0 12,6 39,3
Tendo por pano de fundo a evolução das e homens entre 2000 e 2010. Especifica-
taxas de atividade e da distribuição da popu- Outros 3,8 10,4 10,8 4,6 12,0 6,2 1,4 2,9 1,2 2,5 3,3 0,3 mente, analisando o segundo decil, é visível curva” – está associado ao valor médio desta Todavia, quando subimos de decil – e,
lação ocupada por posição na ocupação, é Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2010 (tabela 3585 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo que há, na PEA, uma equiparação dos rendi- classe (para ambos os anos): o rendimento portanto, de rendimento médio – as discre-
possível compreender, ainda que parcial- (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). mentos auferidos por ambos os sexos. Este médio do segundo decil equivale, pratica- pâncias entre sexos ainda são muito fortes:
mente, a evolução dos rendimentos mensais Notas: A categoria “Outros” inclui empregadores, funcionários públicos estatutários e militares. resultado – quase que um “ponto fora da mente, ao salário mínimo em cada ano. nos 30% de maior rendimento, a mulher
166 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 167
tende a ganhar, em 2010, 30% menos que o rendimento médio da mulher até o quarto no rendimento médio. Em outros termos, pessoas que se escolarizaram, mantendo no Gráfico 6 – Número médio de anos estudados, segundo sexo e situação do domicílio para popula-
homem. Regredindo para decis inferiores, decil é muito próximo do salário mínimo, isto é um indício de que, para funções rural os menos qualificados e os analfabetos. ção de 25 anos ou mais, Santa Catarina (1992-2013).
se percebe que esta é ainda uma tendência enquanto o homem, do segundo para o semelhantes, é dado, às mulheres, um Todavia, como há cada vez menos pessoas
10,0
geral. Tanto para 2000 como para 2010, o terceiro decil, já tem um salto significativo salário menor. morando fora das cidades, ainda que a
taxa de analfabetismo (tanto para homens, 9,0
Gráfico 4 – Rendimento real médio mensal por decil e razão de rendimentos da população econo- Ainda que as mulheres ganhem – especial- como para mulheres) no rural seja o dobro 8,0
micamente ativa segundo sexo, Santa Catarina (2000-2010). mente nos decis superiores – muito menos daquela experimentada nas cidades, seu
8.400 120,0 que os homens, se nota (entre 2000 e 2010) impacto na taxa geral é mínimo. 7,0
explicável pela diferença na variação real dos Tabela 3 – Taxa de analfabetismo (%), por sexo e
7.000 100,0 5,0
rendimentos no período (Gráfico 5): de um situação censitária, para a população de 15 anos
lado, nos decis onde a renda aumentou, as ou mais, Santa Catarina (1991-2015). 4,0
5.600 80,0
mulheres tiveram crescimento maior do que Homens Mulheres
Ano Total 3,0
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO IX
os homens; de outro lado, nos decis de perda Urbano Rural Urbano Rural
4.200 60,0 (o nono e o décimo), ou as mulheres tiveram 1991 6,51 12,29 8,60 13,85 9,16
2,0
crescimento, ou menor redução em termos 2000 8,72 4,25 9,66 5,61 5,83 1,0
reais. Este resultado se deve a uma menor
2.800 40,0 2010 3,03 7,06 3,81 7,07 4,00 0,0
discrepância por sexo, em termos de salários 1990 1995 2000 2005 2010 2015
pagos para funções iguais ou semelhantes. 2015 2,39 7,39 3,27 6,41 3,52 Urbano - Masculino Urbano - Feminino Rural - Masculino Rural - Feminino Total
1.400 20,0
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 Fonte: FIBGE, Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios de 1992 a 2013 (tabela B.11 do IDB/DataSUS-MS).
(dados do IDB/DataSUS-MS) e Pesquisa Nacional por Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Analfabetismo e Amostra de Domicílios 2015 (tabela 271 do SIDRA/
IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/
0 0,0
1º decil 2º decil 3º decil 4º decil 5º decil 6º decil 7º decil 8º decil 9º decil 10º decil escolaridade CNPq-NEPO/UNICAMP).
Tabela 4 – Idade média ao casar, segundo sexo e
Classe simples de renda
Perfil da nupcialidade e ano, Santa Catarina (2000-2010).
2000 - Homens 2000 - Mulheres 2010 - Homens 2010 - Mulheres Razão - 2000 Razão - 2010
Após destacar a dinâmica ocupacional e a Considerando a evolução na taxa de analfa- da família catarinense Homens Mulheres Total
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 2904 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São evolução dos rendimentos reais no estado, betismo a partir de 1991, justifica-se o cresci- 2000 29,76 26,89 28,34
Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). um elemento adicional importante a ser mento do número médio de anos estudados A transição demográfica, além de acarretar
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)
de alguns dados sobre ocupação e rendi- situação do domicílio, se pode observar esta gação da fecundidade e a redução do número
Gráfico 5 – Variação real (%) do rendimento médio mensal por decil simples e sexo, Santa Catarina mentos apresentados na seção anterior. tendência ao aumento do número médio de de filhos; 2) o aumento tanto na idade ao Outro elemento importante de ser analisado
(2000-2010). diz respeito à proporção de divorciados,
Para tal, com auxílio dos dados dos últimos anos estudados em todas as desagregações casar, quanto na proporção de pessoas
três censos e da PNAD de 2015, é possível realizadas. Todavia, nos mais de 20 anos solteiras; e 3) a reestruturação das famílias. separados e viúvos entre as mulheres, sensi-
80,0
traçar tanto um perfil como uma análise analisados, o hiato entre urbano e rural se No capítulo anterior, foi abordado o primeiro velmente maior daquela observada entre os
dinâmica da escolarização e das taxas de manteve estável (pouco mais de 2 anos de dos três tópicos; neste capítulo, se mostrar. homens. Em 2010, cerca de uma em cada
60,0
analfabetismo em Santa Catarina. diferença), ainda que a média para o estado sete mulheres se enquadrava nestes estados
tenha cada vez mais se aproximado dos A respeito do segundo tópico, os dados do civis; dentre outras coisas, isto mostra que
Em primeiro lugar, são analisadas as taxas resultados para as áreas urbanas. Gráfico 7 mostram que, entre os homens, a as mulheres têm uma maior tendência a
40,0
de analfabetismo e sua evolução a partir de proporção de solteiros já é a maioria entre não se recasarem (ou seja, não voltarem
1991. A partir dos resultados coletados, se A análise por sexo mostra que as discrepân- a população catarinense. Entre as mulheres, ao mercado matrimonial), comporta-
20,0
percebe que, em Santa Catarina, há histo- cias são praticamente inexistentes entre os ainda que não sejam mais de 50%, a mesma mento diferente daquele observado para
ricamente mais mulheres analfabetas do moradores do rural catarinense. Por sua tendência pode ser observada. Isto também é os homens. Ademais, ainda que não haja
que homens, embora este hiato se reduza vez, nas áreas urbanas, há uma diferença devido ao fato de o homem se casar (cada vez) um novo casamento, os homens tendem a
0,0
no tempo. Nas áreas rurais, o hiato entre consistente de 0,5 anos que se mantém até mais tarde, como pode ser observado a partir procurarem e a viverem com outro parceiro,
homens e mulheres se mantém estável em o fim da década de 2000, quando se tem a dos dados da Tabela 4: há uma tendência mesmo após a dissolução da união anterior.
-20,0
aproximadamente 1,5 pontos percentuais. convergência entre os homens e as mulheres. geral em postergação do casamento, com
Já nas áreas urbanas, a discrepância passa Ambos, no ano de 2013, têm uma média consequente postergação da fecundidade Para comprovar o segundo ponto do
-40,0 de mais de 2 pontos percentuais para cerca de 8,6 anos de estudo. Embora a tendência – pelo menos em sua componente marital. parágrafo anterior, é possível analisar a
1º decil 2º decil 3º decil 4º decil 5º decil 6º decil 7º decil 8º decil 9º decil 10º decil
Homens Mulheres
de 0,9 em pouco mais de 20 anos. de aumento no tempo passado na escola, é De modo geral, se observa que os homens proporção de pessoas que, mesmo não
fundamental recordar que – considerando casam quase 3 anos mais tarde do que as estando casadas, vivem em união. É visível,
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabela 2904 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Outro ponto interessante diz respeito à cada que a população analisada tem 25 anos ou mulheres – e, para ambos os sexos, a idade tanto em 2000 como em 2010, que homens
Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
vez menor importância das áreas rurais. mais – estamos concluindo que, em média, a média é superior aos 30 anos –, fruto de uma separados, divorciados e viúvos são muito
Notas: Cada decil corresponde à classe simples, não sendo cumulativo. Para os cálculos, os rendimentos de 2000 estão
a preços de julho de 2010, deflacionados pelo índice do INPC (base dez/1993 = 100), igual a 3.200,06 em julho de
A crescente urbanização experimentada população do urbano catarinense tem apenas tendência histórica de o homem se casar com mais propensos a terem um compa-
2010 e a 1.628,90 em julho de 2000. em Santa Catarina levou para as cidades ensino fundamental completo, o que é pouco. uma mulher geralmente mais nova. nheiro após a união anterior. Já entre os
168 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 169
solteiros, há uma proporção ligeiramente Gráfico 7 – Distribuição da população de 10 anos ou mais por sexo e estado civil, Santa Catarina Uma análise importante que pode ser feita diz do tempo. Para isto, os dados estão apresen- geral, é possível perceber que, com o passar do
maior (menos de 5 pontos percentuais) (1991-2010). respeito à renda familiar per capita que estas tados no Gráfico 9, em valores nominais (ou tempo e em todos os tipos de família, a renda
de mulheres em união do que homens. 100% famílias têm e como tal renda evoluiu ao longo seja, sem deflacionamento)3. De uma maneira per capita tem aumentado expressivamente.
Finalmente, analisando especificamente os 90%
viúvos, é preciso frisar que a proporção de 17,0
80% 20,4 21,6
Gráfico 9 – Distribuição das famílias residentes únicas e conviventes por tipo de composição familiar e classes de rendimento nominal mensal fami-
unidos é substancialmente menor (espe- 24,3 25,8
23,1
liar per capita, Santa Catarina (1991-2010).
cialmente entre as mulheres), em compa- 70%
ração aos divorciados e separados, muito 60% 0% 25% 50% 75% 100%
por conta da idade avançada na qual a
50% Casal sem filhos
maioria das viuvezes se consuma.
40% Casal com filhos
Ano: 1991
Após analisar algumas questões relevantes 30% 28,3 28,3 Mulher com filhos
em termos de nupcialidade, é necessário 20%
22,7
20,1
22,8
Homem com filhos
20,2
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO IX
avaliar a evolução na composição das famí-
10% Outros tipos
lias catarinenses, por meio dos dados dos
últimos três censos. A tendência geral do 0%
1991 2000 2010 1991 2000 2010
período, a qual não diz respeito apenas à Homens Mulheres Casal sem filhos
realidade de Santa Catarina, é de queda na Casado(a) Desquitado(a), separado(a) ou divorciado(a) Viúvo(a) Solteiro(a)
Casal com filhos
Ano: 2000
proporção de famílias “casal com filhos” no Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 (tabela 1624 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Mulher com filhos
total de arranjos, enquanto as famílias “casal Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
sem filhos” passam a se destacar. Final- Nota: As distribuições para 1991 excluem a população com estado civil ignorado. Homem com filhos
Outros tipos
Tabela 5 – Proporção (%) de pessoas não casadas que vivem em união com companheiro/a, segundo sexo e estado civil, Santa Catarina (2000-2010).
Ano Sexo Desquitado/a ou separado/a Divorciado/a Viúvo/a Solteiro/a Casal sem filhos
Ano: 2010
2000
Mulher com filhos
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 2000 e 2010 (tabelas 2470 e 3193 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
Sem rendimento 0 a ¼ SM ¼ a ½ SM ½ a 1 SM 1 a 2 SM 2 a 3 SM 3 a 5 SM 5+ SM
mente, ainda que em crescimento, as famí- Gráfico 8 – Distribuição das famílias residentes únicas e conviventes por tipo de composição fami- Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1991 a 2010 (tabelas 238 e 3519 do SIDRA/IBGE). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
lias monoparentais em geral – e as chefiadas liar, Santa Catarina (1991-2010). Notas: A categoria “sem rendimento” inclui tanto as famílias sem renda como aquelas que recebiam apenas em benefícios. Valores em unidades monetárias correntes de cada ano.
por mulheres, em especial – não tiveram um Salários mínimos utilizados: Cr$ 36.161,60 em 1991, R$ 151,00 em 2000 e R$ 510,00 em 2010. Em “outros tipos”, não estão incluídas as pessoas morando sozinhas e os domicílios
100% onde corresidem duas ou mais pessoas sem parentesco.
aumento expressivo no estado, divergindo
90% 10,3
sensivelmente da tendência de crescimento 12,4
12,2
170 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 171
Mapa 1 – Índice de Vulnerabilidade Social por município, Santa Catarina (2000-2010).
que, embora a evangelização seja um de evangélicos, como as que avançaram de
Evolução e
fenômeno generalizado no estado, a inten- maneira mais consistente: em 2010, ¼ de
distribuição da sidade com a qual tem ocorrido é diferen- suas respectivas populações se declarava de
população cial por mesorregião. De um lado, a Região alguma denominação evangélica. Por fim,
por religião Serrana é visivelmente a que menos sofreu a região da Grande Florianópolis é a que
deste processo, tendo pouco mais de 15% tem maior diversidade religiosa, com uma
Um último ponto a ser discutido diz respeito de sua população se declarando evangé- já expressiva importância, em 2010, tanto
à evolução da população em termos de lica em 2010. da população sem religião como dos que
denominação religiosa. Nos últimos 30 tinham outras crenças que não a católica
anos, além das mudanças demográficas De outro lado, as regiões do Vale do Itajaí e ou a evangélica. Somados, ambos os casos
em curso (em termos de estrutura etária do Norte Catarinense foram tanto as que representavam 1 em cada 7 moradores desta
da população, tamanho das famílias, perfil tinham, em 1991, a maior proporção inicial mesorregião em 2010.
da nupcialidade etc.), os valores da socie-
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO IX
dade têm se alterado. Um exemplo destas
mudanças é dado pelo perfil da população
em termos de religião, sendo importante Gráfico 10 – Distribuição da população segundo denominação religiosa, por mesorregião de resi-
dência e ano, Santa Catarina (1991-2010).
destacar o crescimento expressivo dos
evangélicos e a ainda tênue fatia da popu- 100,0%
172 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 173
Tabela 7 – Evolução e variação do IVS e de suas componentes, Brasil e Santa Catarina (2000-2015).
Os resultados para o IDHM nos mostram municípios (20,8% do estado) com IDHM crescimento no país superou as variações
Brasil Santa Catarina uma situação semelhante à visualizada a abaixo de 0,700. ocorridas no estado. Em outros termos, houve
Dimensões Dados Variação Dados Variação partir do IVS, ainda que com outras dimen- uma redução, entre 2000 e 2010, do hiato
2000 2010 2015 2000/10 2010/15 2000 2010 2015 2000/10 2010/15 sões em análise. Todavia, talvez sendo um Diferentemente do observado para o IVS, médio entre os IDHM nacional e estadual
Infraestr. urbana 0,351 0,295 0,214 -16,0% -27,5% 0,154 0,128 0,098 -16,9% -23,4% resultado diferente do alcançado com base em que Santa Catarina sempre esteve em (que passou de 0,062 em 2000 para 0,047 em
no IVS, a dinâmica de melhora no desenvol- melhores condições (e com melhor desem- 2010). Esta tendência reverte nos anos 2010,
Capital humano 0,503 0,362 0,263 -28,0% -27,3% 0,366 0,253 0,149 -30,9% -41,1%
vimento municipal tem sido mais lenta do penho) do que a média nacional, no caso do com melhoras substanciais dos indicadores
Renda e trabalho 0,485 0,320 0,266 -34,0% -16,9% 0,355 0,194 0,137 -45,4% -29,4%
que aquela de redução das vulnerabilidades IDHM se percebe que – embora os índices para Santa Catarina, contra uma melhora mais
IVS 0,446 0,326 0,248 -26,9% -23,9% 0,292 0,192 0,128 -34,2% -33,3% sociais. Isto pode ser entendido à medida do estado sejam sempre melhores que os lenta na média geral. Isto tudo pode ser obser-
Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). que se percebe que, ainda em 2010, há 61 calculados para o Brasil –, de modo geral, o vado a partir dos dados da Tabela 8.
Tabela 8 – Evolução e variação do IDHM e de suas componentes, Brasil e Santa Catarina (2000-2015).
Brasil Santa Catarina
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO IX
Mapa 2 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, Santa Catarina (2000-2010). Já a respeito da evolução do IDHM em Santa
Catarina, os resultados estão visíveis a Dimensões Dados Variação Dados Variação
partir do Mapa 2. Diferentemente do IVS, o 2000 2010 2015 2000/10 2010/15 2000 2010 2015 2000/10 2010/15
IDHM leva em consideração menos subdi- Renda 0,692 0,739 0,729 6,8% -1,4% 0,717 0,773 0,774 7,8% 0,1%
mensões, embora seja também formado Longevidade 0,727 0,816 0,841 12,2% 3,1% 0,812 0,860 0,901 5,9% 4,8%
por três componentes: renda; longevidade;
Educação 0,456 0,637 0,713 39,7% 11,9% 0,526 0,697 0,773 32,5% 10,9%
e educação. Quanto melhor – no caso – um
município está em qualquer uma das três IDHM 0,612 0,727 0,761 18,8% 4,7% 0,674 0,774 0,816 14,8% 5,4%
componentes acima, maior será o valor final Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Observatório das Migrações em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
do IDHM, de modo que a interpretação a ser
dada ao índice é oposta àquela feita para o
IVS (no qual, quanto menor, melhor). Outro resultado importante a ser destacado volvimento. Para isto, é preciso criar uma municípios, juntamente com a quase tota-
diz respeito à existência de correlação nega- matriz onde o IDHM e o IVS sejam catego- lidade daqueles com baixo nível de prospe-
tiva (mas não perfeita) entre IVS e IDHM: rizados e, nela, se contem o número abso- ridade, migraram para a diagonal amarela
Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015)
≤ 0,300
≤ 0,300
2,7 37,2 0,0 0,0 84,6 3,8
podem assumir (e, de fato, assumiram).
Uma forma de resolver o problema é criar
De 0,301
De 0,301
até 0,400
até 0,400
uma análise daquela que o IPEA chama
IVS
IVS
17,4 22,2 0,0 0,0 10,2 0,0
de Prosperidade Social, uma combinação
de baixa vulnerabilidade com alto desen-
> 0,400
> 0,400
Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto 18,1 2,4 0,0 0,0 1,4 0,0
de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Observatório das Migrações em São Paulo
(Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP). Mapas 4
Disponível em: <http://ivs.ipea.gov.br/index.php/pt>.
elaborados por Pier Francesco De Maria. Fonte: Atlas da Vulnerabilidade Social, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Observatório das Migrações
Acesso em 10/10/2018. em São Paulo (Fapesp/CNPq-NEPO/UNICAMP).
174 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 175
Estudantes entrando na escola, muncípio de Imbuia (2018).
®Detalhe modificado de fotografia de Giselli Ventura de Jesus.
Desfile Tirolerfest, município de Treze Tílias (2012)
® Detalhe modificado de foto de Markito, acervo SANTUR
POPULAÇÃO
ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA
POPULAÇÃO | Fascículo 3
Garuva
O
Itapoá
D
Campo
Canoinhas
A T L Â N T I C O
Alegre
Três Mafra
Barras
E S T A D O
AR GENTINA
Joinville São
São Bento Francisco
Porto do Sul do Sul
Dionísio União Schroeder
Irineópolis Bela Vista
Cerqueira do Toldo
Palma Papanduva
Sola Jupiá
Guarujá São Lourenço
do Sul do Oeste Corupá
Princesa Campo Rio Negrinho Jaraguá Balneário
Galvão Major Itaiópolis Barra
Erê Novo do Sul
São José Vieira Guaramirim Araquari do Sul
do Cedro São Horizonte
Matos
Santa Bernardino São Costa
Anchieta Terezinha Coronel Domingos Abelardo
do Progresso Martins Calmon
Luz Timbó
Saltinho Rio dos São João
Guaraciaba Grande
Cedros do Itaperiú
Irati Formosa Passos
Paraíso do Sul Santiago Monte Santa Doutor Massaranduba
Tigrinhos do Sul Maia Barra
Romelândia Serra Castelo Terezinha Pedrinho
Ipuaçu Velha
REPÚBLICA
Barra São Alta Sul Ouro
Bonita Miguel Bom Jesus Brasil Verde
São Miguel do Jardinópolis Quilombo Entre Bom Pomerode Luiz Alves
da Boa Vista do Oeste Vargeão Água
Oeste Rios Jesus Vitor
Maravilha Doce Macieira Caçador Balneário
Flor do Modelo União Meireles Piçarras
Sertão Marema
Bandeirante do Oeste José Benedito
Timbó Blumenau Penha
Pinhalzinho Faxinal Rio do Boiteux Novo Itajaí
Ponte Lebon
Iraceminha Águas dos Guedes Régis Campo
Descanso Coronel Lajeado Xanxerê Serrada Salto
Belmonte Cunha Frias Vargem
Freitas Grande Veloso Rio das
Porã Saudades Nova Bonita Arroio Rodeio Ilhota
Antas Santa
Santa Erechim Trinta Witmarsum
Treze Cecília Gaspar
Helena Riqueza
Nova Xaxim Tílias Salete Navegantes
Itaberaba Iomerê Dona Ascurra Balneário
Cunhataí Cordilheira
Tunápolis Iporã Videira Emma Indaial Camboriú
Alta Lindóia Ibirama
do Oeste São Xavantina Irani Pinheiro
Caibi Ipumirim do Sul Catanduvas Fraiburgo
Carlos Águas dePlanalto Ibicaré Preto Presidente
São João Camboriú
Chapecó Alegre Arvoredo Taió Getúlio
do Oeste Luzerna
Palmitos Itapema
Itapiranga Mondaí Guatambú Apiúna Guabiruba
Jaborá Ponte
Chapecó Seara Arabutã Joaçaba Tangará Rio do
Caxambu Frei Rogério Alta do
Ibiam Mirim Oeste
do Sul Monte Norte Porto
Herval Doce Rio do
Carlo Lontras Brusque Belo
d'Oeste Laurentino Sul Bombinhas
Paial
Concórdia Botuverá
Itá Presidente Canelinha
Castello Ouro São Tijucas
Lacerdópolis Erval Pouso
Branco Curitibanos Cristovão Presidente
Velho Brunópolis Redondo Trombudo
do Sul Nereu Nova
Central Aurora Trento São João
Peritiba Batista
Ipira Braço do Agronômica Governador
Vidal
Trombudo Celso Ramos
Campos Ponte Ramos Leoberto
Capinzal Novos Vargem
Alto Alta Atalanta Leal
Zortéa Major
Bela Ituporanga Biguaçu
Piratuba Agrolândia Gercino
Vista
E S T A D O D O São José
Otacílio
Costa
Imbuia
Antônio
Carlos
do Cerrito
Abdon Correia Angelina Florianópolis
R I Batista Palmeira Petrolândia Chapadão São José
Pinto São Pedro
do Lageado
O
de Alcântara
Celso
Ramos
Bocaina Alfredo
do Sul Wagner Rancho
Queimado Santo
Campo Amaro da
Anita Belo Bom
G
Águas Imperatriz
Garibaldi do Sul Retiro
Cerro Mornas Palhoça
R Negro
A
Anitápolis
N
Rio
Rufino São
D Painel Bonifácio
Urubici
Rio Garopaba
Capão Fortuna
Alto
São
Grão
Martinho
Pará
D Imbituba
Braço Imaruí
Armazém
do Norte
O
São Orleans
Bom Jardim
N O
Joaquim da Serra
São
Ludgero Gravatal
Lauro
SANTA CATARINA Muller Pescaria
Brava
S
Pedras Tubarão de Baixo
Treviso Urussanga
E A
Grandes
U L Treze
Laguna
Siderópolis de Maio
Cocal do
O C
Grande Veneza
3
Içara
Timbé Forquilhinha
do Sul
Meleiro
Maracajá Balneário
Rincão
236.000 Turvo
Araranguá
Jacinto
Ermo
Machado Balneário
Arroio do
110.000 Sombrio
Silva
®
Santa
Praia Rosa do
50.000 Grande Sul
Balneário
1.286
EDITORA São João
do Sul
Passo de
Torres
Gaivota
Escala Gráfica
0 4,5 9 18 27 36
km
PROJEÇÃO UTM - FUSO 22°
Fonte: IBGE - Estimativas de População 2018