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1. Metaescrita! Meu objetivo neste livro é escrever sobre a escrita. Um empreendimento arriscado, quando se para ese pensa a respeito. A escrita é simultaneamente 0 objeto (esta em frente de) e a arma que procede contra o objeto. Um em- preendimento arriscado como esse pode ser comparado & reflexao que se faz acerca do pensar sobre o pensar. Mas essa comparacao mostra como a reflexao (Nachdenken) se distingue da tentativa de se escrever sobre a escrita. E que o prefixo “nach”, da palavra “Nachdenken”, pode ser interpretado de duas maneiras. Por um: lado, como 0 es- forgo para produzir pensamentos posteriores aqueles ja claborados, para organiza-los. Por outro, como o esforgo: para contrapor pensamentos aos ja claborados, para neles descobrir vestigios. Ambas as estratégias nao fazem sen- 1 Uberschrift, no original, Essa nova acepsio para a palavra é autor neste capitulo [n, do T.). * be — | samento. Quem escreve, teve de refletir antes. E 0s sinais Py e de organizar, por meio de novos pe telativa a0s pensamentos ja claborados, c E de sondar esses pensamentos elaborados ¢, eNtao, fazer anotagdes. Esse é 0 objetivo em questio, Orefletire o escrever sobre a escrita se mar, na verdade, “ Uberschrift””. Infelizmen jd éusada em outro contexto ¢ significa hi problema: com permissio, a palavra deveriam cha- erschrif” sexs usada com 0 novo sentido proposto aqui. Nao hé pessoas ue nomeiam esse tipo de violéncia contra a palavra de “criagio literdria”? Todo escrever esta “correto”: é um gesto que orga- niza os sinais graficos ¢ os alinha. E os sinais gréficos sio (direta ou indiretamente) sinais para os pensamentos. Portanto, escrever é um gesto que orienta ¢ alinha o pen- ‘gtificos sdo aspas para o Ppensamento correto. Numa pri- 2 He refere-e aos sentidos “cima de” e “acerca de” que 0 prefix “ber” pode agit (n.do ie se tem na contemplasio do que jé foi exatamente, esse algo organizado, enfileirado. ever & um escrever correto,¢ isso provoca indi- ise atual da escrita. Pois hi algo mecinico + No enfilcirar, ¢ para isso as miquinas tém desempenho melhor do que o ser humano. Pode-se ita, essa organizagao dos sinais, por conta das s. O que se tem em mente aqui nao sio miquinas fer, no sentido tradicional dessa palavra, uma vez que, nesse caso, é ainda um ser humano que organiza em. linhas, com um toque nas teclas, de acordo com as regras da escrita, 05 sinais grificos distribuidos no teclado. Aqui, temos em mente verdadeiras méquinas de escrever (in- ncia artificial), que providenciam elas proprias essa organizagio. Tais miquinas nao sio, para dizer a verdade, apenas de escrever, mas também maiquinas pensantes, 0 que deveria nos levar a refletir sobre o futuro da escrita de maneira geral, a respeito do pensar. ‘Uma vez que, se nao escritos ¢ em si mesmos Vine FLusser 2 sional: de uma consciéncia que, devido & escrita, emerge do circulo de vertigem da consciéncia anterior a escrita. Nés conhecemos essa consciéncia grafica, porque ela é nossa, € sobre ela, nés jé refletimos e lemos, Este livro nao éa primeira “Metaescrita”, Muito ja se escreveu sobre isso, até mesmo com outros titulos, Nessas outras “Metaescritas” ", designou-se essa consciéncia grafi- ca de diversas formas. Chamaram-na de “critica”, “pro- gressista”, “enumerdvel”, “narrativa”. Todas esses nomes podem, contudo, ser traduzidos por uma designacao co- mum. Pode-se dizer, no caso da consciéncia grfica, que se trata de uma “consciéncia histérica”. A coisa é mais radical do que parece. Na verdade, é como se nao houvesse uma consciéncia histérica que pu- desse ser expressa em diferentes cédigos, entre eles também na escrita. A escrita, essa sequéncia de sinais em forma de linhas, é que torna possivel essa consciéncia historic. So- “mente quando se escrevem linhas é que se pode pensar lo- gicamente, calcular, criticar, produzir conhecimento cien- tifico, filosofar — e, de maneira andloga, agir. Antes disso, andava-se em circulos. E quanto mais longas sao as linhas que se escrevem, mais historicamente pode-se pensar e agir. O gesto de escrever evidencia a consciéncia histérica, que se deixa fortalecer e aprofundar por meio de uma escrita con- tinua, € 0 escrever, por sua vez, torna-se mais forte e mais denso. Esse feedback entre aquele que escreve ¢ a conscién- cia histérica proporciona a consciéncia uma tensao que se intensifica sempre, e que lhe permite cada vez mais avangar. Essa é a dinamica da histéria. Portanto, € um engano querer acreditar que s¢ pre houve histria porque sempre aconteceram face um engano querer acreditar Sao a escrita simplesm, registrou 0 que aconteceu; € um €ngano considerar ¢ tempo histérico como So Periodos histéricos du- rante os quais as pessoas registraram por escrito os acon. tecimentos. E um engano, pois nada acontecey antes da invencao da escrita, tudo apenas ocorria . Para que algo. possa acontecer, tem de ser percebido ec compreendido_ por alguma consciéncia como acontecimento (proceso). "Na pré-historia (esse nome é preciso), nada podia aco m- 3 & ente n- tecer, pois nao havia consciéncia que pudesse perceber 0 acontecimento. Antigamente, tudo era percebido como um circulo eterno. Somente com a invengao da escrita, com a emersao da consciéncia histérica, os acontecimen- tos tornaram-se possiveis. Quando mencionamos 0s fatos pré-histéricos, estamos escrevendo historia a posteriori ¢ praticando anacronismos, ferimos a historia natural, p historia é uma fungao do esc xpressa no escrever, Oescrever, essa organizacao de sinais graficos em li- n . : i has, pode ser mecanizado e automatizado, As maquinas screvem mais r4y pido do que seres humanos. E nao ape- Sé mesmo quando nos re- roduzimos historicismos. A rever e da consciéncia que se ” Getcheben), no sentido de ser ou to “ocortes” (sich ereignen), experi te iti FLUSSER 23 nas isso: elas sabem variar automaticamente as regras de sequéncias de simbolos (as regras da “ortografia”). Neste momento, podemos observar duas coisas nas provisérias, e ainda primitivas, maquinas de escrever e no processador de textos Word: a rapidez e a variabilidade do escrever. Sem duvida, a inteligéncia artificial sera mais inteligente no futuro. Ela dispora de uma consciéncia histérica que superara de longe a nossa. Ela fard uma hist6ria melhor, mais rapida e mais variada do que a que nés fizemos. A di- namica da historia se intensificara em diregao ao inimagi- navel: cada vez mais coisas acontecerao, os acontecimen- tos se precipitarao e serao mais diversificados. Quanto a nés, poderemos deixar confiantemente toda a historia por conta das maquinas automaticas. Ja que todas essas coisas automaticas ¢ mecanicas farao historia melhor do que nds, poderemos nos concentrar em outras coisas. Em qué? Esse ensaio diz respeito justamente a isso, quando se pergunta: “Ha futuro paraa escrita?”. Esse capitulo chama-se “Metaescrita” porque €0 pri- meiro ¢ pretende mostrar a tentativa a ser feita aqui de se escrever sobre a escrita. Por motivo de simetri tiltimo capitulo sera intitulado de “Subscrita” . ieee ao encontro do objetivo que se P! até mesmo como se aqui a Pp tuigao da escrita por me ¢ uma substituigao 14. Jornais Nao podemos negligenciar todos os textos que tra- tam de jornais nem as intimeras escolas de jornalismo es- palhadas pelo globo terrestre que debatem o curioso fato de, apesar da televisao, do radio e, ha até pouco tempo, dos semanarios, ainda existir essa folha dobrada que dia- riamente nos entregam em casa. Ou, visto sob outra pers- Pectiva, nao se pode negligenciar que essas folhas diérias, como que com as asas dobradas, ainda continuem espe- rando — em espécies de gaiolas construidas exatamente Para abrigé-las — que as puxemos para fora dia apés dia. Ea explicagio para isso nao é apenas a de que os jorn is ° prestam para papel de embalagem — 0 que ©xplicago insuficiente, por dois motivos, ™ateriais melhores de embalagem 4 n Pedagos de carne cru enrolad 170 *Mtitg te clegante par? que cientistas da comunicagao a leyem - serio. Portanto» sera que os jornais devem ser considera dos tao antiquados quanto as carrogas, embora ned ccrever que Thes corresponde se aperfeigoe cad ‘a vez, de i " 5 mais novas teorias da informacac agao rdo com mais de aco’ i eda comunicagao, © embora eles se sirvam de técnicas cada vez mais modernas divulgagao de suas informagoes sejam dirigidas por siste- sofisticados? Os especialistas das cién- ainda, embora a produgio ¢ a mas cada vez mals cias da comunicagao apresentam explicagoes muito mais aprofundadas e complexas para justificar prognosticar a continuidade do papel de jornal impresso, apesar do largo alcance da informatizagao da informagao. Essas justificativas especializadas e cientificas (sobre as quais nao discorreremos aqui) nao alteram em nada o fato de que, na realidade, nao deveria mais haver jornais. Mas ha uma explicacao banal para que cles ainda nao te- nham desaparecido: embora tenham se preservado apa- rentemente sem alteragdes na corrente de informagoes eletromagnetizadas, eles se tornaram de fato 0 contrario daquilo que eram anteriormente. Antes do radio ¢ das novas midias, o jornal era, em relagao a todas as outras midias (livros, revistas etc.), uma memoéria transitoria, temporaria e factivel de se tornar rapidamente ultrapassa- da, Ele era fadado ao esquecimento. Nada se mostrays tao efemero ¢ ultrapassado quanto jornal do dia anterior Mais tarde, o jornal tornou-se, em relagao as novas idias lo menos transitam de forma massiva dos * emissores para os receptores, mas congestionam-se em al- gum lugar ¢ esperam, pacientemente, encontrar canais de distribuigao adequados. A concorréncia do jornal nao é com o radio nem com a televisao, ele concorre com esses tipos de fita. Nao ¢ surpreendente 0 fato de ainda haver jornais, mas 0 que surpreende, sim, é que haja congestio- namento de transito nas midias. Esse jornal modificado e transformado em uma fita proviséria de audio e video deve ser levado em consideragao. Trata-se da questao da duragao (Dauer). A duracao éuma categoria distinta da de “tempo” (Zeit). Desde a sua gravacao magnética, seria mais adequado chamar o jornal de “durario”“ do que de “diario”. O que se Ié no jornal deveria durar mais do que aquilo que ¢ difundido no radio e na televisao, deveria perdurar mais no presen- te do receptor. Os emissores eletromagnéticos irradiam aproximadamente as mesmas mensagens que os jornais, mas uma yez que nao tém suporte (sao imateriais), eles transmitem ininterruptamente, ao longo do tempo, s a se deter no presente. O receptor ¢ solicitado a a Mensagem em sua memoria ao passat por ela, a fin por enquanto, ainda na a : éuma memoria artificial; ela permite 4, dobrada, cortada, em suma‘ ipreendida, 4o do receptor é menos sobre- de memoriza¢: el sera considerado no futuro, em nal, 20 contrario, ser manejad O trabalho carregado. Assim, © pap’ comparagio com o marmore : ‘n relagao as midias eletromagnéticas, um transitoria; «Mm : apoio para uma memoria duradoura — até que fitas e dis- cos venham a desempenhar essa fungao. Oconceito “duracao” transcende o conceito de tem- po em direcao a0 “nunc stans” (o presente eterno), que é afim ao conceito de eternidade. Que 0 jornal tenha se transformado em um “durdrio”, em uma mensagem que indica diregao do eterno, ja o sabem alguns daqueles que escrevem nele, mas quase ninguém entre os que 0 leem. Pois, para os receptores, o jornal mantém seu carater de panfleto, Esse modo de leitura répida caracteriza 0 jornal. A ruptura que surge em relagao a atitude frente ao jornal, ou o bronze, uma memoria entre aqueles que escrevem € a maioria dos leitores, poe em questo muito mais a continuidade da empresa jor nalistica do que a concorréncia com os emissores eletro- geo Para superar essa ruptura provisoriamente, «yout (0 aspecto superficial da pagina do joral) rene ae cue se visualmente das demais contribuigdes com cos os na esperanga de que alguns pou aura eas pe ecatan Os textos caracterizados como Por exemplo), ce = diferente dos demais (corté-los, ssim uma contradigao interna NO ‘ ral: uma Sn arte 5a maior parte, para o cegh t par aponta para a biblioteca bagcirrossER vine 173 totalmente diferentes de redatores: os que escrevem para as bibliotecas, os Soar Para 0 cesto de lixo, E de acordo com esse critério, os jornais deixam-se classificar em dois grupos: 0 (predominantemente) das bibliotecas e ° (predominan-temente) dos cestos de lixo, Pode-se denominar, de maneira coloquial, os reda- tores que escrevem para 0 cesto de lixo de “jornalistas” ¢ os outros de “colaboradores do jornal”, Aqueles podem ser, por sua vez, divididos entre funcionérios ¢jornalistas “freelancer”. Estes, por sua vez, dividem-se em jornalistas independentes permanentes e€ eventuais. E, todavia, um equivoco considerar essa tentativa de classificagao como valorativa, como algo que avalie os colaboradores como superiores aos jornalistas (como o faz uma pequena elite) ou algo que avalie os jornalistas como superiores aos co- laboradores (como 0 que acontece na visao apressada da maior parte dos leitores de jornal). A classificagao sugeri- da da escrita jornalistica é neutra, ou seja, ela encara esse escrever indiferentemente. Essa indiferenga (cientificidade) encontra-se em acentuada contradig4o com o forte engajamento nao sé dos colaboradores como também dos jornalistas. O enga- jamento dos colaboradores, dos redatores permanentes, Pode ser mais facilmente reconhecido sob 0 ONES de ta do escrever. Essas pessoas tém uma consciéncia ca: elas querem, por meio de ages no cempos acternidade, seja para ali manterem suas apenas deixar os nomes impressos Para clas um veiculo para sair do tem, Tacao, de modo a arrebatar muit 174 Acstieg O engajamento dos jornalistas, desses Tedatores a pregados para produzir textos Para cesto de lixg Lodayj. . : ee oCaviay nao pode mais ser compreendido do Ponto de vista doe crever. Em casos extremos, ados para pee de guerra Para eles estao Prepar. a vida em risco, para levar acontecimentos 0 cesto de lixo, por meio de um desvio, 0 Nao por algo que lhe é Proprio (sejam timentos, os y; U Seja, o jornal, as ideias, os sen. alores, seja simplesmente sey nome), mas por uma informacao, eles estao Preparados para sactificar a propria vida. Esses jornalistas sao os herdis da incipien- te sociedade da informagao, que abriu mao da duracio paraa qual o tempo nao se estrutura mais historicamente, Em torno da figura heroica dos jornalistas se condensa- ra toda uma mitologia futura, ¢ nés j4 podemos observar como essa mitologia vem sendo programada. Os colaboradores do jornal, com sua consciéncia histérica, podem se diferenciar de escritores de livros e de cartas apenas em virtude do meio “jornal”, Sao preci- samente os escritores que tentam estender a mao um ao Outro, para em conjunto transformar o mundo e trans- istas, entretanto, sio de outra espécie. uando nao havia ainda as primeiras meiros homens “informaticos os £0, pessoas que ajudaram a desenvolver uma nova consci- éncia. Essa estreita afinidade, essa comunidade espiritual aus : : é entre jornalistas ¢ fotdgrafos manteve-se no jornal. Esse © motivo interno Para a combinacao de fotos e textos mM artigos nos jornais, Mas em virtude da tendéncia 4 gt pret Buss 175 yagao elecromagnética, ° Se Para os jornalistas, corres- ondente a sua propria existéncia, € 0 radio e, acima de tudo, a televisao. Desde que 0 jornal virou 0 “durdrio”, os jornalistas emigram, com cada vez mais evidéncia, para jsnovas midias (ali encontram-se os futuros herdis). Esta cada dia mais evidente que 0 jornal torna-se um parque de divers6es para os colaboradores, uma obra escrita que nao se pode mais salvar ao longo do tempo. A “duracao” nao se adequa ao contexto da informatica. Trata-se de um anacronismo referir-se aos jornais ¢ imprensa como sendo aquele tao falado “quarto poder’. No século XIX, sem ditvida — e também na primeira metade do século XX — uma assergao como essa nao sé tinha razao de ser, como também era profética. A imprensa é — do pon- to de vista do passado — 0 “quarto” Poder. Elajuntou-se aos trés Poderes politicos (como ainda gosta de se denominar) como o mais novo dentre eles. Do ponto de vista do futu- to, no entanto, ela é 0 “primeiro”: nela pela primeira vez se mostra que 0 poder est4 onde se produzem e se divul- gam informagoes. Eis a explicagao para 0 surgimento dos | gigantescos complexos jornalisticos ¢ suas ramifi s¢ cujos cadaveres, em lenta decomposigao, aint m um jogo global e difuso de quebra até 0 momento. Hoje, sé se po u Prensa com nostalgia. A impr 176 so que Os CENELOS de decisio contemporineos acibernética, Ainda ha jornais que 0 pa am de maneit uurso de um partido, e outros que enfatizam funcion ecoam o disc que sio suprapartidarios ou nao defendem quaisquer par am. Ain- tidos, sem dizer, tod da ha criticos que tentam onament neio do jornal, e por tras disso, interesses avia, a que discurso se assoc apreender um posi politico por ™ inconfessos. Esse quadro todo tem, em virtude da nova distribuicto de poder, um cardter fantasmagoérico. Os centros de decisao tornaram-se automaticos. Eles se so- brepoem de maneira complexa uns em rela¢ao aos outros, e as decisdes tomadas nao podem mais ser consideradas politicas: elas nao sao mais fungoes de interesses, elas sao funcoes de outras fungoes dos aparelhos. A imprensa dis- farca isso porque ela se prende, para sobreviver, 20 poder politico em declinio. Se, em vez de jornais, houvesse ape- nas radios e televisoes, a despolitizagao atual e a ciberneti- zagao do poder emergiria com mais clareza. A imprensa nao deve ser considerada como um po- der, mas como uma ultima tentativa de manter vivos 0s poderes destituidos. E como se os poderes destituidos, por meio do jornal, ainda pudessem se expressat, quando, na realidade, eles nao tém mais nada a dizer. Programas politicos na televisio comprovam isso. Ali, as articulag6es politicas sao sorvidas por um novo modo de consciéncia informativo: a politica é uma questao de “imagem”, € © inn npc am nding s presidéncia. O jornal é 0 ultimo lugar Para onde a consciéncia histérica € politica pode fugir, € Fpaeeues® é reacionario em si mesmo, ¢ 0 € especial- mente quando se apresenta como progressista. Isso nao se de resolver nem com métodos de produgao e layouts modernos, nem com métodos de distribuigao modernos, nem com contribuigoes LOBTeSsEas de colaboradores progressistas. O jornal ¢ reacionario ora g we obra escrita, portanto, um produto da consciéncia histérica. Por isso, ele ¢ impotente tendo em vista a emergéncia da situagio pés-histérica. jornal desaparecerd assim que fitas e discos de 4u- dio ¢ video dos emissores eletromagnéticos cheguem as casas em grande quantidade ¢ com baixo custo (talvez “gritis”), para ali serem armazenadas em audio e yideo- tecas. Muitos jornais tentam sobreviver e entrincheirar- -se em fitas de video, principalmente, e certamente, para manter os antincios publicitarios que hes restam ¢ dos quais ¢ para os quais vivem. Mas isso é apenas um subter- fiigio. A publicidade pode ser tranquilamente absorvida pelos emissores eletromagnéticos. De fato, trata-se de, nessa duvidosa tentativa de salvacao, manter viva a cons- ciéncia politica mesmo depois do declinio da escrita. os jornais em video nao deveriam des-politizar; a0 tio, deveriam politizar muito mais. Esse emp! arriscado é paradoxal. A consciéncia polit m cédigo alfanumérico. Ela nao pode *ua estructura, transcodificada esse sentido, A esctitg ambém di esapare: consciéncia ae liberdade historica. Um observa pela liberdade no século XIX ena sim ra metade do século XX concentrou-se na liberdade de imprensa. Por que a liberdade los redatores de jornal, no fando, é tao importante para a liberdade existencial do Homem sob qualquer tipo de condi¢ao e para qualquer tipo de acao? Porque, na liberdade de imprensa, a liber- dade politica ganha expressao. Ela é considerada 0 fun- damento da liberdade existencial. Entretanto, isso pode parecer falso ao habitante de Marte. Como?, cle pode per- guntar; se a liberdade politica (ou o que ela ainda possa significa) encobre a liberdade existencial, por que se dé dor de Marte Perceberia o quanto a luta liberdade politica 4s pessoas (“dar” principalmente pela leitura de jornais), se elas estao vegetando, completamen- te limitadas existencialmente, e ainda totalmente desnor- teadas? A resposta a essa pergunta do habitante de Marte decidiré como nos posicionaremos diante do desapareci- mento do jornal. Se virmos sobretudo na liberdade politica o funda- mento para a liberdade, a superacao do jornal pela fabrica- 540 ¢ distribuicao de informacao guiada ciberneticamente nos deixaré impactados, Se virmos na liberdade politicaum obscurecimento ideolégico da liberdade existencial, estate- mos diante de uma alternativa no caso da superagao do jor- 2 scapes ligados de maneira centralizada = oe » €sse Ultimo vestigio de critica, desaparega , wae ° — os valores ea ee a propria ace le dizer que se trata de liberd ee nao terd mais sentido. Ou entao ficarao Z | 179 green FLEE evidentes novas ¢ interligadas formas de Produgio de in- formagio - tio logo o jornal, esse panfleto difundido de maneira centralizada, tenha desaparecido. $6 assim haverd entio sentido em se falar de liberdade existencial. Os jornais sao folhas difundidas de maneira centrali- zada, cles sao estruturalmente fascistas. Apenas no interior dessa estrutura fascista € que a liberdade de imprensa (ea politica) teve acesso & palavra. O desaparecimento do jor- nal encontra-se fora de cogitagao. Aqui est4 em questo se aestrutura fascista do jornal migrara Para as novas midias, porventura com mais intensidade (como ocorre atualmen- te), ou se, exatamente pelo desaparecimento do jornal, ou- tros circuitos com cardter de rede retornarao ao nosso cam- po de visio. O que esta em questao, afinal, é a liberdade.

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