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Comunicagao e ©“ stica de policia comunitaria na pra Lm ” Me 5 g 4 f 3. ES , ae ee aN a a i MBN = § 3 a 2 * vg BI = auténtica - Copyright © 2010 Marcio Simeone Henriques COORDENADOR DA COLEGAO COMUNICAGAO E MOBILIZAGAO SOCIAL Marcio Simeone Henriques CONSELHO EDITORIAL Cicilia Maria Krohling Henriques; Nisia Maria Peruzzo; Desirée Cipriano Rabelo; Marcio Simeone Duarte Werneck; Rennan Lanna Martins Mafra CAPA Alberto Bittencourt (sobre tela de Rudimar Baldissera) EDITORACAO ELETRONICA Conrado Esteves REVISAO, Dile Braganca de Mendonca EDITORA RESPONSAVEL Rejane Dias Revisado conforme 0 Novo Acordo Ortografico. Todos os direitos reservados pela Auténtica Editora. Nenhuma parte desta publicacéo poderd ser reproduzida, seja por meios mecénicos, eletrOnicos, seja via copia xerografica, sem a autonzagdo prévia da Editora. AUTENTICA EDITORA LTDA. Rue Aumores, 981, 8° andar. Funcionarios 30140-071. Belo Horizonte. MG * (85 31) 3222 68 19 Teatvenoas: 0890 283 13 22 ween autenticaeditora.com.br Dados Internacionais de Catalogacao na Publicac3o (CIP) __ (Gmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hennaues, Marcio Simeone Comunicaca acd Marae sieeat € moblizaszo social na pratica de policia comunitéria / w(oieea ne Henriques. -- Belo Horizonte : Auténtica Editora, 2010, "Ae Comunicayao e Mobslizacso Social, 8) : WEN 978-85.7526-504-, | 1 Crimes - Preven <0 - Farticipacso dos cidadaos 2. Movimentos so- | 0815 3 Folcamento corunns '9tK@ pubiCa Thule 1 cen” * Rélagoes policia-comunidade 5. Segu. [ 10-12102 1 pandices para catdlogo sistematico: Folciamento comunitario : Problemas € Servigos sociats 363.2 SUMARIO Prefacio..... a 7 Apresentagao.... 13 Carfruto I A policia em questao.. Policiamento e polie A construgao da legitimidade da forga policial: profissionalismo e burocratizagio.... A lenta construgio da aprovagao piblica...... Repolitizacao: a policia em questao..... O apelo & mudanca institucional eas respostas da policia . 38 Policia Comunitaria como um problema de relagoes piiblicas. - 42 Capituto II Quais comunidades? .... we AZ Comunidade como conceito multidimensional... . 48 Mudanea nas formas de sociabilidade e organizagao da vida coletiva: entre as comunidades tradicionais e as contemporanea: A dinamica e as contradigoes dos grandes espacos urbanos na sociedade complexa.... O que pode ser a “comunidade” para a policia? ...... 59 Capfruto III A mobilizacio social e sua aplicagéo 67 em programas de policia comunitéria... Mudanga nas formas de exercicio politico — a concepgao contemporinea de democracia e de cidadani Oconceito de mobilizagao social no atual contexto de democracia participativa Acomunicagao entre poder publico e cidadéos, no plano individual e no plano coletivo..... ago social como, fator A mobiliz oa da pratica de policia CONMMIEGTIA see 80 CarituLo IV A coletivizagao da causa da seguranga publica....... 89 Coletivizagio: a formacho do interesse publico ea constituigio de causas sociais..... 90 Agrupalizagao: desenvolvimento da mobilizagao dos diversos atores em funcao de uma causa... 96 Acoleti cao de causas relativas a 99 seguranca publica: principais desafios.... Capfruto V A geracdo de vinculos no processo de mobilizagao social. Ocstimulo a agao. Os elementos de coesao e de continuidade do grupo mobilizado. os Principais desafios para a constituigao “ vinculo corresponsével com os piblicos 08 projetos de mobilizagao social... Conclusao ~ A policia, cali, sesafio 4 comunicagcao publica da ulo 4 participago e A cooperacao....._ 123 Referéncias, O autor... PREFACIO Nazareno Marcineiro* Li, certa vez, numa dessas mensagens sem autor iden- tificado que se recebe pela internet, que a vida das pessoas poderia ser comparada a um trem em deslocamento, que ao longo da viagem vai parando nas estagdes, onde desembarcam alguns convivas e embarcam outros. Diz a mensagem, que alguns, entretanto, permanecem ao longo de muitas estagées. Foi numa dessas estagGes do trem da minha vida que entrou o Professor Marcio Simeone. Lembro-me bem da “estagdo” porque o episédio foi marcante e representativo da personalidade gentil e afavel desse mineiro de fala mansa e inteligéncia agucada. Nessa ocasiao, fora convidado pela Secretaria Nacional de Seguranga Piiblica para um semindrio na cidade do Rio de Janeiro e, quando 1a cheguei, soube que a coordenacao do evento instalara os participantes em quartos duplos, alocando-os aleatoriamente em duplas, segundo serem palestrantes ou ouvintes. Coube-me como parceiro de quarto aquele que iria falar sobre mobilizagéo comunitéaria no evento. Antes de conhecer o companheiro de quarto, entretanto, comentei entre alguns colegas que se aproximaram para me —__ * Coronel Chefe do Estado Maior Geral da Policia Militar de Santa Catarina. Coleco "Comunicacao € Mobilizac3o Social cumprimentar, que preferiria ficar sozinho no arto, po precisava de privacidade para So um trabalhg a démico, nos momentos de tempo ivree imaginava ue ¢6 alcuém dividindo o quarto, inevitave mente, © tempo livre geri ocupado com conversas, por vezes interessantes, ™ gue limitariam a realizagao do trabalho Pendente, Quan do cheguei ao quarto, vi que 0 meu companheiro havia Tetirady a cua bagageme me deixou sozinho durante ° tempo em que la active. Soube, mais tarde, que o parceiro seria 0 Professor Marcio Simeone e que, diante da possibilidade de causar al- gum transtorno, teria se transferido paraacasa deum Parente ou amigo que morava no Rio de Janeiro, para me deixar a vontade. Nesse momento, percebi que cometera um grande erro e estava perdendo a oportunidade de conviver com um grande homem durante algum tempo. Tive, entretanto, em seguida a oportunidade tanto de pedir desculpas pela indelicadeza do comentario, quanto ¢e conversar longamente com ele sobre situagées e temas de interesse comum. Esse foi o primeiro de muitos outros encontros e debates que vemos, sempre em fungao dos temas mobilizacao social © organiza¢ao comunitaria e policia comunitaria, que sao de interesse comum. Quando precisei compor 0 corpo de Professores Autores Go Curso de P6s-Gradu: 'a¢do em Policia Comunitaria a distan- ¢-oferecido pelo Campus Virtual da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul * Virtual) em parceria com a Secretaria gona de Seguranga Publica (SENASP), movido pelo desejo © reunir os Poincipais expoentes do E convidei © Pros usado come livro didétie i : é izagao Social € Organizagao Comunitaria”. ses _ O resultado nao dece démica que curse. Es jonou. Uma bet la resultou num reveren Producgdo aca- ado texto op © diddti Se texto, agora transformado em livrg jtatico do de circulagao 8 Prefacio irrestrita, 6 de facil e agradavel leitura, construido numa linguagem acessivel aos leigos e esclarecedora e estimulante para os técnicos. Para estes, além disso, uma obra de muita importancia profissional, uma vez que evidencia necessdrias reflexes e desafios prementes que muitos colegas preferem nao enfrentar, ora por temer as conclusdes, ora por nao possuir a instrumentalizagao necesséria para se desincumbir bem da es, que nao se restringem a opinidio desse tarefa. Essas impres honrado prefaciador, foram manifestadas por todos os alunos do Curso, que puderam emitir opiniao sobre a qualidade do contetido do material didatico apresentado. De fato, temos aqui um primoroso trabalho académico que certamente contribuird para langar luzes sobre esse tema sempre pautado nas agendas de debates de politicos e socidlo- gos, mas por vezes tratados com superficialidade e tendéncia. Neste livro o professor Marcio Simeone fundamentou a sua abordagem nos principais pesquisadores de seguranga publica do mundo. Produziu um texto que permite ao leitor compreender a evolucio historica do trabalho da policia ea real razdo da necessidade de falar em mobilizagao social e organizagado comunitaria para legitimar o trabalho policial. Evidenciou ainda que a construgo de estratégias modernas para coibir a pratica do crime e da violéncia, em busca de melhores niveis de paz e tranquilidade nos espacos sociais de vida humana, carece da participagao coletiva e do enga- jamento de todos. Restou realcada a necessidade das organizacées de policia para o desenvolvimento e a consolidacdo das democracias, nao obstante, o paradoxo identificado pelo autor, que destaco in verbis, na manifestagdo de Hermann Goldstein (2003, p- 13), quando diz que “em uma sociedade livre, pela natureza estrita de suas fungées, a policia é uma anomalia”, no entan- to, “para manter o grau de ordem que torna possivel uma sociedade livre, a democracia depende de maneira decisiva da forga policial”. Coleco "Comunicacao e Mobilizaco Social O livro oferece ainda a possibilidade de uma sobre a necessidade de a policia prestar contas do we reflex ao cidadao e da preocupacao - de ja expressivo segment. organizagGes policiais - de gerar mecanismos interne? controle da eficdcia do trabalho policial. Essa preocupaciy, de organizagées ptblicas tem sido debatida sob o T6tulo da dks pressao, ainda nao traduzida para o portugués, accountabil Na abordagem desse tema, mais uma vez, 0 autor épers. picaz em perceber que as organizagées de policia brasileiras buscam atender as necessidades dos cidadaos, usuarios dos seus servigos, mas nado podem se descuidar do cumprimento da Lei, 0 que, por vezes, geram insatisfagGes em quem vé limitado as suas pretens6es. De forma irrefutdvel diz: A accountability externa deve simbolizar a subordinagao da policia a lei e a democracia ao mesmo tempo em que assegure que os processos disciplinares e administrativos internos possam operar eficazmente (REINER, 2004). Este 6, portanto, um ponto ainda carente de muitas definig6es e da producao de novos consensos. O autor consegue evidenciar que, para os policiais no exercicio da profissao, encontrar o ponto de equilibrio entre atender as necessidades do cidadao/usuario no servigo po- licial e impor restrigdes de conduta, conforme estabelece a legislacao vigente, 6 um grande e permanente desafio, que se renova a cada dia de trabalho e a cada nova missao. Preocupado com essa dimensao do trabalho policial e no afa de prestar um servico policial personalizado e com respeito as peculiaridades de cada comunidade, quando fui comandante de uma Regiao Policial Militar no sul do estado de a Catarina, defini que conduziria 0 trabalho policial Bet (a 7 . es win re Por quatro eixos estruturantes. S40 policial(o acts lade Pole 1 a0 cidadao; (b) proatividade do violencia, do crime e de pine a ein da oe ae parcerias para intervir de forma abranveng {d) formacao:de ‘angente e criativa sobre aw 10 a» Pretécio as causas do problema. Para isso, toda a drea da jurisdigao foi subdividida em sctores de policiamento para os quais foram designados policiais que deveriam continuar vinculados ao local em todas as suas jornadas de trabalho. A medida resultou numa melhoria da performance policial na regio, além, é claro, de como bem foi evidenciada no livro, ter gerado melhoria da imagem organizacional muito significativa. @ experiéncia profissional de um policial, que aqui tenho a felicidade de representar, corrobora com os elementos conceituais que 0 académico Professor Marcio Simeone arrola ao longo das paginas deste importante livro que vem reforcar um pouco 0 escasso acervo bibliografico que trata da tematica. Finalizando, e sem a menor pretensao de ter somado al- guma coisa ao escrito do autor, gostaria de externar, mais uma vez, a minha satisfacao por poder ler o texto antes das outras pessoas, seja quando foi livro didatico da Unisul Virtual, seja agora, que sera colocado ao acesso de todos que queiram se deliciar com a leitura de um bom e instrutivo livro sobre mo- bilizagao social e organizagao comunitdria para a seguranga publica. Gostaria de agradecer, sensibilizado, a lembranga do meu nome para prefaciar tao importante obra, produzida por tao ilustre académico. E, efetivamente, uma grande honra. Gostaria, por derradeiro, de deixar explicito que consi- dero o professor Marcio Simeone uma daquelas pessoas que valorizam a viagem existencial de quem tenha a sorte de vé- lo entrar no seu trem da vida, ao parar em uma estacao. Ele representa o reduzido contingente de individuos que devemos buscar sentar ao lado e ali ficar a maior parte da viagem, pois ao seu lado o crescimento intelectual e espiritual é inexoravel. Aproveitemos, entao, a oportunidade de compartilhar um pouco da companhia dele neste trecho de nossas viagens de vida. Vida longa e préspera. 11 APRESENTAGAO Ha uma vasta literatura que tem abordado nos tltimos anos os fundamentos de uma pratica que ficou conhecida como “policiamento comunitario”. Também chamada de “po- licia comunitaria”, essa pratica esta sendo progressivamente inserida como uma politica de seguranga publica no Brasil.’ * Otermo policiamento comunitério tem sido o de uso mais abrangente para desig- nar multiplas modalidades das praticas policiais orientadas paraa prevencdoea solugao de problemas a partir de ages locais. Outros termos tém sido utilizados ‘comumente, tais como Policia Cidada, Policia Preventiva, Policia Interativa, Policia Solidaria, etc., para nomear os programas institucionais de varios departamentos de policia em varios paises do mundo e nos varios estados brasileiros. De toda forma, nao um conceito univoco, mas um conjunto amplo de programas e pré- ticas administrativas inspiradas numa filosofia comunitaria (ILANUD, 2002). Por ‘sso, nesse trabalho fazemos mengao ao termo “filosofia de policia comunitaria”, Para designar essa corrente que, nas uiltimas décadas, disseminou-se rapidamente. eee ambtin que boa parte da documentag4o que corresponde a inserga0 de Sepa Policia comunitaria no sistema de defesa social, como o Plano Estadual aS range Pablica do Estado de Minas Gerais, de 2000, a ela se refere como pets de provimento de seguranca piiblica” (MINAS GERAIS, 2000, B72) Dassina forma, a propria ditettiz. do Comando-Geral da PMMG quea at ‘ano de 2002, assim a nomcia em seu préprio titulo (MINAS GERAIS, } © que reforca a nossa opgio pela utilizagdo do termo “filosofia”. 13 Colegao *Comunicacdo € Mobilizaca0 Social” A policia comunitaria concebe uma mudanga de para ef em relagao aos modelos de policiamento vigentes ao | Bma do século XX, buscando aproximar as agencias potignie cidadaos a quem deve servir, tendo por base a coopera, os losses cidadaos de forma organizada, para prevents 30 are . = af Crime, ediminuir as possibilidades de situagées de violéncia, Quando se fala em praticas de policia comunitaria, Io, yém a tona muitas indagagdes sobre a melhor forma de th. balhar com as comunidades, mas nem sempre se compreen, de bem o que sejam hoje essas comunidades. O Proprio term x “comunidade” é polissémico, e seus sentidos vao Variando conforme os varios contextos. Por isso, é sempre dificil ter um guia pratico que padronize praticas de mobi lizacao para lidar com comunidades. O objetivo deste livro é problematizar a questao da comu- nidade e das formas de mobilizacao social, tal como se pode perceber na sociedade contemporanea. A luz da compreensao desses conceitos é possivel, entao, levantar algumas possibili- dades de lidar na pratica com 0 processo de coletivizacao das tematicas relativas 4 seguranca publica, sem perder de vista seus dilemas cruciais que aparecem no dia a dia do exercicio do policiamento comunitério. A mobilizagao social é abordada como um processo co- municativo — de interlocugao e de interacao entre os sujeitos que agem coletivamente em prol da seguranga publica, de h tal forma que é fundamental entender os vinculos que eles criam ~ entre si e com a agao pela causa. S6 assim é possivel conceber as melhores estratégias de comunicac4o que devem operar no sentido nao de fazer mera divulgaciio e propaganda, mas de dar o necessério suporte para gerar entendimentos e Proporcionar um ambiente propicio a cooperagio entre a Policia € os cidadaos. O sentido de tal interlocugéo e coope- Tagao nao é somente operacional. Se, de um lado, a aposta £2s Praticas de policia comunitéria é na maior eficiéncia do trabalho Policial na redugao da criminalidade, de outro, ela ‘ambém se faz pela necessidade de que esse trabalho seja 14 Apresentacio adequado aos novos modelos de exercicio democratico e se baseie no respeito aos direitos humanos. A obra busca reunir minha experiéncia como instrutor, desde 2004, de cu de Multiplicador de Policia Comunité- ria ministrados para a Policia Militar de Minas Gerais, paraa Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais e para a Secretaria Nacional de Seguranga Publica, além de subsi- dios sobre a comunicagio na pratica de policia comunitéria que obtive com a pesquisa realizada em meu doutoramento entre os anos de 2004 e 2008, que resultaram na tese Falar para a sociedade, falar com as comunidades: o desafio na construgao do diélogo na comunicagiio priblica da Policia Militar de Minas Gerais, no Programa de Pés-Graduac&o em Comunicagao Social da Universidade Federal de Minas Gerais. No momento em que as politicas ptiblicas, nacional e es- taduais, na drea de seguranga instituem a filosofia e a pratica de policia comunitaria como um elemento fundamental na prevengao da violéncia e da criminalidade, esta obra, organi- zada de forma didatica, pode contribuir para os programas de formagdo dos quadros policiais e para o fomento das principais discusses sobre 0 tema, a luz de conhecimentos da area da Comunicagao Social. Espero que possa contribuir, mais especificamente, para suprir uma caréncia de biblio- grafia sobre a questao da mobilizacao social aplicada a esse conjunto de praticas. O capitulo introdutério apresenta a filosofia de policia comunitéria, situando-a como um problema contemporaneo a ser publicamente considerado. Eessencial situd-la teoricamen- te, j4 que nao se afigura apenas como uma pritica operacional, mas possui profundo sentido politico que engloba as quest6es de aceitacao e legitimagao, nas sociedades democraticas con- tempordneas. Por isso, a filosofia de policia comunitaria toma forma, dentre outras coisas, como uma resposta ao apelo por inovagao institucional e por accountability. Em seguida abrimos, no capitulo 2, uma discussao sobre o sentido que se da ao termos “comunidade” e comunitaria”. 15 coleeso “Comunicaglo e MobiizacBo Soe!” Aiideia é de que as grandes transformasoes operadas no mun- do moderno desafiam as nogoes tradicionais de comunidade, baseadas no parentesco € a VI nhanga. £ preciso examinar 10 quais S40 08 elementos que definem 0 sentido de quando estamos diante da populagao de deter- pode ser feito observando os seus suas formas de sociabilidade roe sujeitos utilizam para ‘vel manter uma visao damental compreen- com ateng? comunidade, minada localidade. Isso modos de vida e de conv? véncia, e conhecendo as estratégias que & s organizarasua vida coletiva. Nao é poss? sinyplista e ingénua de comunidade. £ fun nta der quais sao 0s elementos principais que os sujeitos compar- tilhamem determinados grupos (em termos de preferéncias ¢ de interesses), além dos conflitos que derivam das contradigées a convivéncia naquele espaco- Compreender as cacao é essencial geradas pel | formas, os meios e aS estratégias de comunic senci Jetiva no ambito para compreender como sedaa organizagao col : local e o sentido que a comunidade pode ter para a policia, considerando a pratica de policia comunitaria. O capitulo seguinte introduz o sentido de mobilizagao social presente nos programas de policia comunitaria. A mobilizagao social € aqui entendida dentro do contexto con- tempordneo, ‘onde o exercicio politico democratico demanda amovimentagao dos cidadaos. A relagao entre Estado e socie- dade civil pressupde uma organizagao de grupos de cidadaos que, reunidos em torno de causas de interesse publico, com- partilham sentimentos, conhecimentos e responsabilidades sobre diversas questdes que OS afetam. Uma democracia pat ticipativa edeliberativa pressupde uma jnovacgao no desenho das instituigbes publicas e no seu modelo de comunica¢ao, ue deve tao a necessidade de interlocucao perma- princpalimenteis ns NO apenas no plano individual mas as plano coletivo. O desafio das instituigdes ptblicas e, dentro delas, da policia, é institui ibilidad efetivas de interlocugao, através : i: an Fei eae e a 6s de canais formais e informais. Com isso, di 7 ittins a met diante do desafio de uma pratica comuni- ia precisa conhecer em cada localidade o tipo 16 Apresentac3o de organizacao comunitéria e suas formas de mobilizagao, chamando a participagao civica, além de reconhecer sua res- ponsabilidade como facititadora do processo mobili zador em torno das questo s de seguranga ptiblica, criando as condigdes a interlocugao ¢ um ambiente propicio a cooperagao pemsolugaio dos problemas. A mobilizagdo e a organizacio namunitérias nos programas de policia comunitéria devem ser vistas em relagdo aos seguintes grandes vetores: (a) co: Jaboragao entre os cidadaos em atividades de prevengao,A (eo fortalecimento dos meios de controle social da prépria comunidade; e (c) a instituicao de parceria deciséria entre a policia e as populagées locais. O capitulo 4 trata da questao da coletivizagao das cau- sas relacionadas 4 seguranga publica. A coletivizagao é um processo que tem inicio com a proposigao de um problema que transcende o Ambito individual ou privado para atingir uma dimensio coletiva, ptiblica. Isso é fator essencial para a constituigaéo de uma causa social. Assim, a formagao do interesse publico é 0 fator fundamental para a mobilizacgao social, ou seja, para que cidadaos e instituig6es construam uma corresponsabilidade em rela¢ao a certos problemas, com ointuito de definir propésitos comuns de agao. A coletivizagao pressupoe também o processo de grupalizacao, ou seja, da formacao de grupos dispostos a defender uma causa, de ini- ciar e manter o processo de mobilizacao. Esse processo exige certas condicdes em relac&o a proposigao ptiblica da causa: concretude, carater ptiblico, viabilidade e sentido amplo. A formulacdo dos problemas que afetam a seguranga e sua vi- sibilidade so alguns dos principais desafios da coletivizagao das causas de seguranga publica, tendo em vista a filosofia de policia comunitaria. Na sequéncia, o capitulo 5 trata da geragao de vinculos entre os sujeitos e deles com a causa e 0 projeto de mobiliza- sao em seguranga publica. Aqui tomamos como referéncia as ideias com as quais temos trabalhado nos ultimos anos, teferentes As estratégias de comunicagao na busca do vinculo para 17 Coleco *Comunicagao e MobilizacSo Social” ideal da corresponsabilidade em processos de mobilizacag 86 cial, jé inscritas no livro Comunicagio e estratégias de mobilizarg, social (HENRIQUES, 2004) e em varios outros textos Posteriores O vinculo ideal buscado nos processos de mobilizagao Social} 60 da corresponsabilidade, no sentido de que 08 sujeitos se sintam efetivamente envolvidos no problema © comprome. tidos com a sua solugdo, mesmo que mio) sejam diretamente afetados. A busca da corresponsabilidade pressupde uma construcao desses vinculos, que depende de intimeros fatores, muito além da prestagio de informagoes sobre a causa e sobre o projeto, entram em jogo também o julgamento dos publicos ea sua motivacio para a acdo. Mesmo assim, a acao corres- onsavel nao esta garantida. Depende também da coesaoe da continuidade do processo mobilizador. Os grandes desafios da vinculagdo na mobilizagao social podem ser vistos em relagio aos publicos — os agrupamentos de pessoas e instituigdes sobre os quais 0 projeto mobilizador desperta interesse. A partir do interesse mutuo, poderao ser tracadas estratégias de envol- vimento dos ptiblicos, para que eles se identifiquem efetiva- mente com a causa e com 0 projeto, deixando de ser apenas beneficiados para se tornar legitimadores e geradores. Podem ser identificados inimeros dilemas ligados a vinculagao dos publicos a programas de policia comunitaria, especialmente no que se refere a sua participagado em instancias formais de interlocugao, como os conselhos comunitarios. Na conclusao, considerei util apontar os principais desafios que se apresentam para a comunicagao publica das agéncias policiais, considerando que a demanda por estimulo e fomento a participagao civica, baseada na mobilizagao de di- versos atores em prol da seguranca publica, exige mais do que a difusdo de informagées para a construgao de um ambiente de interlocucao e de cooperagio. Isso requer mudanga de postura na comunicagao publica da policia e das suas estruturas insti tucionais que cuidam da comunicagao organizacional. Devo mencionar que este trabalho deve sua existéncia a um grupo de pessoas que tém se defrontado, na Policia Milita 18 X Apresentagéo de Minas Gerais, com 0 desafio de implementar a Policia Comunitaria. mister, portanto, agradecer nao somente aos oficiais e funciondrios civis da PMMG que me apresentaram a este objeto de estudo, prestaram-me valiosas informagées na fase exploratoria, abriram-me 0 acesso a documentos e fontes da Corporagio e foram fontes para as entrevistas realizadas para a elaboragdo de minha tese. Por serem muitos, declino de nomed-los, mas manifesto meus agradecimentos na pessoa da Cel. Luciene Albuquerque. Também nao posso deixar de mencionar o valioso au- xilio das liderangas comunitarias e membros dos Conselhos Comunitirios de Seguranca Publica de Belo Horizonte e de varias pessoas envolvidas com a proposta de policia comuni- taria em Minas Gerais e em outros cantos do Pais, que pude conhecer nos encontros, nos seminédrios e nos cursos sobre 0 tema. Algumas dessas pessoas foram contumazes (e pacien- tes) interlocutores nesse perfodo. Uma especial mengao deve ser feita 4 colaboragao — indispensdvel - de Geraldo Frances Vaz e Marina de Melo Marinho Brochado, preciosos auxilia- Tes nos caminhos tortuosos de minha pesquisa de campo. A professora Rousiley Maia, minha orientadora no Doutorado, minha especial gratidao pela orientacéo competente, sempre estimuladora e generosa. Por meio dela estendo meu reco- nhecimento ao trabalho dedicado de todos os colegas que compéem o Grupo de Pesquisa em Midia e Esfera Publica (EME), por ela coordenado. Nao posso deixar de registrar que a sistematizagao e a apre- Sentacao didatica de minha experiéncia com o tema deveram-se também 4 minha participagao na elaboragao de contetido para a disciplina de Mobilizacao Social e Organizagio Comunitaria cen de Especiali: agao em Policia Comunitaria da Univer- a fees fs de Santa Catarina (Unisul Virtual). Fui conduzido Policia Mine pelas maos do Cel. Nazareno Marcineiro, | da coin itar de Santa Catarina, grande estudioso em policia dens ria. Por is ‘0, meu crédito de gratidao a ele e a toda ‘uipe daquela Universidade. 19 = CAPITULO I A policia em questao O tema policia comunitdria tem sido objeto de investigagao em virias partes do mundo, inclusive no Brasil, onde prolife- ram, nos ultimos anos, estudos sobre a questao do crime, da violéncia e sobre a atuacao dos érgaos de seguranga publica, tendo em vista a necessidade de ampliar os conhecimentos sobre as alternativas capazes de minimizar os problemas de expansao dos indices de criminalidade. Também sao varios os estudos que buscam relacionar a filosofia de policia comu- nitaria a novos entendimentos sobre a questo policial que, nos tltimos anos, esto associados a uma visao de “crise da Policia”, a preméncia de, em regimes democraticos, adequar x a pratica das agéncias policiais aos direitos humanos e as exigéncias de participagao dos cidadaos na formulagao, na execucao e na fiscalizagao das politicas ptiblicas. Ao examinarmos 0 histérico da introdugio da filosofia de Policia comunitaria, podemos perceber que ela nao ésomente uma simples mudanca de rotinas operacionais da policia nem x apenas uma estratégia de propaganda a qual recorre para 8erar aceitacaio publica. A forma como vemsendo proposta e, 21 Colegéo *ComunicagSo e Mobiliza63° social” rir-se no CO“PO doutrinario, unitaria é parte importante ue tenta transformar o coma sociedade. Por mais ainda, o modo como veio inse) indica que a filosofia de policia com de significativa mudanga estruturaly q seu modus operandi eas formas de lic jar nde isso mesmo, tal mudanga nao é facil nem ra piday / > bojo de uma ampla e progressiva unitéria faz parte de uma res- nara instituigao no contexto X nas da ideia de que de gerar melhores 5 que, NO Acreditamo policia com reforma da policia, a ; posta A necessidade de reposicio de sociedades democraticas. Nao parte apel cdo entre policia € cidadéos po le ge 9 combate a violéncia e a criminalidade, mas ds » nder de outra maneira a sociedade-As questdes politicas ligadas a responsabilizacao eaaccountability policial sao importantes para compreender esse contexto. Tal preocupacao é um fendmeno generalizado desde o final do século XX, em paises democraticos e, NO Brasil, apresenta-se com peculiaridades hist6ricas locais, dado o recente proces- so de redemocratizagao. TJalvez essa singularidade torne 0. processo de reforma ainda mais arduo, considerando a per- sisténcia de uma cultura autoritaria da instituicao, de uma imagem estreitamente vinculada a repressio e a violacao de direitos humanos e, por conseguinte, de uma desconfianga de segmentos da populagao. Outro aspecto peculiar é a estrutura dual da policia no Brasil, que divide entre duas agéncias —civil “ militar as tarefas respectivas de investigacao e de patru-y ento e com uma tradicdo de quase nenhuma integra¢ao entre as suas atividades. a coopera resultados quea policia deve respo A evolucgao histéri fci tie cdo histérica da policia e de seus modelos de policiamento tem estreita ligaca 5 snento instdides ce ee or ae poms de relacions: sociedade, Assim pelo) Estado como instancia reguladora da’ do qual ol siadleeen vem a ser o instrumento através no sentido de possbllitng ene a8 violencia legitima, pelos sujeitos, A origtts a contencao da violéncia praticada ils ria emergénciz ann te se acompanhar de uma piltica o de estados nacionals encia estatal e bem-estar coleti ica capaz de combinar po- 8 stivo, : como forma de conquista 22 “ ae . e fazendo nascer 0 que se poderia “Estado Policial”, Aatual estrutura estabeleceu-se Europa durante os séculos XVIII e XIX, no contexto dos na : tados mondrquicos, autoritarios e€ inquisitoriais. Aurbani- . z “ rada fez surgir uma preocupagao cada vez maior de sua propria legitimidad chamar de acao aceler prec ; Aa ann a manutengao da ordem ptiblica e a imposigao de uma com ame 5 disciplina social no espago urbano. sar de se dar ento das forgas policiais, ape! 5 diferentes paises, seguiu uma linha evo- Jutivacomun, enfrentando questdes semelhantes de legitima- gao nos paises democraticos, 0 que é amplamente explorado pela literatura sobre o tema (GOLDSTEIN, 2003; MONKKONEN, 3003; Moore, 2003; REISS Jr., 2003; REINER, 2004). Uma andlise rcurso permite visualizar como, nessas sociedades, desse pe essas forgas foram lentamente construindo uma legitimidade baseada principalmente na sua extrema profissionalizagao ex na construcao de uma estrutura burocratica rigida. Isso trouxe como consequéncia, entre outras coisas, um isolamento das agéncias policiais em relacdo as comunidades que deveriam 4 servir. Por outro lado, os estudos mais recentes permitem-nos observar que a policia tornou-se uma organiza¢cao severa- mente questionada. Uma “repolitizagao”, mais nitida apés 0s anos 1960, torna-se fonte de intensa pressao por inovacao institucional, ou seja, para que a policia possa se adequar as! cias democraticas (um modelo de exercicio democratico ais participativo, em que a nogao de cidadania se alarga) e do Estado de Direito (respeito aos direitos humanos, 0 que : a cbr qualquer tipo de abuso da autoridade policial). villas Eee desafios, departamentos de policia de bramas que me mundo vém buscando implementar pro- ém como caracteristica comum uma abordagem Comunitari Ja, OU Seja, UM ‘ ak ae Cada localidade. ja, uma teaproximagao com 0 ptiblico em Em se Odesenvolvim ge forma peculiar no: ‘guida, busc. ii Constituigdordy buscaremos abordar mais detalhadamente a QWaislogrou la oe ead policial moderna e as formas pelas $itimar-se, para compreender o significado dos _ % r-Urtt~—S Colegio *Comunicagao € Mobilizagao Social” mentos politicos e as respostas engeng liciais sob a forma de programas a Jo institucional. fe recentes questiona das pelas agéncias po apontam para uma inova¢ Toda sociedade, em qualquer tempo hist6rico, institui for- aseguranga através de mecanismos de vigilanciaY e ameagas de sangao, ou seja, de policiamento. Com 0 objetivo de preservar a seguranga de uma ordem social particular ou da policiamento é um aspecto dos pro- ordem social em. geral, 0 cessos de controle social, “que ocorre universalmente em todas as situagdes sociais onde houver, no minimo, potencial para conflito, desvio ou desordem” (REINER, 2004, p. 27). Entretanto, anogao de policia tal como hoje a conhecemos é uma invengaio moderna, surgida no contexto de uma sociedade complexa — industrial e urbana. Costuma-se considerar como marco dessa invencdoa criagdo da Policia Metropolitana de Londres em 1829. Comumente chamada de “Nova Policia”, essa forca organizada contrapunha-se ao velho modelo de policiamento, realizado de forma amadoristica, voluntaria e de base comunal. A Mas 0 caso londrino nao foi o unico e nao teria sido exa- tamente o primeiro. Na verdade, tanto na Europa como na América do Norte, comega a surgir, em meio a efervescéncia oes mugngas politica sociais e econémicas da segunda policlamento que! de a demanda por uma nova forma de tonsolidadzo: a polerdon dar conta de uma nova realidade: paraias cidades o. stado; intensa migragao do campo s cidades, com a dissolugao das formas de sociabilidade } tradicionais e das lealdades basead. neh geragio de novos padroes de vida ¢ con tngoscomuniti™ urbano; crescimento do pr jtaric e convivencia no espace trabalho ees pecializinetio's re etariado industrial; divisdo do | ciedade dominada por rel see conte. en demas” \ estruturada em classes. Alon dine Nesse novi ie s de manter: res para uma sociedade Ocontexto passoua vei », 0 combate a criminalidade , exigir uma forg i : a a repressiva mais 24 ‘A policia em quest3o , que fez. com que os exércitos se retirassem da bate ao crime (BEATO FILHO, 1999, p. 18). tado passa a deter especializada tarefa de coml As sociedades modernas, nas quais 0 9 monopélio do emprego legitimo da forca, desenvolvem, portanto, de forma mais ou menos simulténea, a policia ccm prganizagio encartegada de manter a ordem, a ela confiando oi toridade para o uso de tal forca. O recurso da autoridade, que distingue a policia, “coloca policiamento no centro do y funcionamento do Es ado” (REINER, 2004, p. 170). Apesar dos tracos e dos objetivos comuns, a criagado e o desenvolvimento dessas forgas se deram de maneira diferente no contexto de distintos paises. Assim, a Franga registra, com 0 sucesso da Revolugao, a necessidade de criagao de uma forga publica, como objetivo de garantia de direitos. A Constituigao de 1791, em seu artigo 12, previa expressamente que “a garantia dos Direitos Humanos e 0s dos cidadaos requer uma forca publica; esta é, portanto, instituida em beneficio de todos, e nao para a utilidade particular daqueles a quem ela é confiada”.? Na Inglaterra, de modo distinto, a ideia da Policia Metropolitana se deu no contexto de um amplo processo de pacificacao ou integragao da sociedade vitoriana (REINER, 2004, p. 76). Os mecanismos de vigilancia “paroquiais” demonstraram-se insuficientes, e os dispositivos de aplicagao da lei comecaram a ser ameacados, levando a uma condi¢ao “intoleravel” que conduziu 4 formagao na “Nova Policia”.* Tanto o caso francés como o inglés tornaram-se paradig- maticos com o tempo. O modelo anglo-sax4o, caracterizado por uma policia descentralizada, apartidaria, nao militar e que x exerce a coerco por consenso; o francés, como uma policia ———_. * aie ae dos direitos do homem e do cidadio, de 1789, que se tornou. earn Dosthul Francs da 1791. Disponivel em: desen do anteraci calizou nos a sala ocomnptamentocre dens L285 #1966 uma anpla pesqiba PA serVandOe pravanhe ete Hlecisies tanto dos cidadaos quanto dos policiais a pol losistematicamente olics 4a polica para atender ceoma eee os encontros a partir de mobilizacoes rrencias, ‘ 34 J ,,,9,9,—1 jj ‘A policia em questo determinado nos encontros rotineiros e cotidianos do policial e sua clientela nas ruas” (Pa1xAo, 1982, p. 65). Estudos em- piricos realizados sobre 0 exercicio desse poder denotaram a tensaio entre burocracia e profissionalismo, estrutura formale x atividades praticas, controle e autonomia. Desafiam, portanto, 0 modelo burocratico (e “despolitizado”) de organizagao e de legitimagao em pontos cruciais. Segundo Anténio Paixao, 0 policial enfrenta em seu cotidiano situagdes ambiguas que nao podem ser decididas por planejamento prévio, e o modelo discricionario da organizagao policial faz com que se desloque da estrutura formal burocrdtica para a realidade do senso comum do trabalho policial: Ao impor 0 seu modelo de ordem na periferia social, 0 policial se vé desempenhando um papel politico: a “linha de frente” da policia 6 também a “linha de frente” do Esta-_ do. Mas a relacao entre a policia eo Estado é ambigua —a mesma ordem estatal que a policia representa e suporta limita seu poder através da legislagao (ParxKo, 1982, p. 82)? ‘A questo do poder da policia toca também em outro ponto que se torna particularmente sensivel nos paises de- mocraticos: a propria mudanga na concepgao de Estado ¢ e A dos arranjos instituciona: ordem democratica. A décadas vem consolidando um modelo de relacionamento entre o Estado e a sociedade marcado por uma significativa ampliagéo do conceito de cidadania - que passou a incluir vastos contingentes antes excluidos de possibilidades de par- ticipagao nas questes publicas—e pela crescente mobilizacéo dos cidadaos no sentido de buscar exercer influéncia sobre 0 sistema politico que vai além da escolha de representantes. Esse modelo — essencialmente participativo — pressupée, de um lado, a construgdo de instituigdes democriticas e, —_—— O autor realizou em 1980 a pesquisa “Criminalidade e Violéncia Urbana” ana- sando empiricamente a estrutura e a pritica da Policia Civil de Minas Gerais. 35 = ~_ Coleco "Comunicaco e Mobilizago Social” de outro, uma incorporagao de valores democraticos nas praticas cotidianas (Avertzer, 1994; FUNG, 2004a). a ideig de uma gociedade civil organizada/‘com poder de insergig no debate puiblico e de participar das esferas de deli Jo forma a base de um modelo de cidadania em que diversos problemas publicamente tematizados Precisam sey enearados como problemas de respon: sabilidade com arti. 4. Thada.\As exigéncias intrinsecas de um formato democraticg participativo ea ampliagao das nogées de direitos humanose cidadania tém impulsionado 0 poder Publico como um todo 4 inovagdo institucional em todas as suas 4reas — no sentido de abrir oportunidades e foruns institucionalizados para af Participagao da sociedade civil. Podemos observar que essa \, demanda se estende também a um setor de atuacao tipica, | forte e central para o Estado, como os Orgaos de seguranca publica — em especial a policia. _ ‘oe _Questionamento da respon abilizagao da policia: ‘D0 pro- cesso de posicionamento das quest6es de policiamento como tema de discussao ptiblica pés novamente em primeiro plano 0 problema da accountability da organizacao policial. Na ver- dade, essa é uma questo que nunca esteve ausente e sempre foi ligada as discussdes mais amplas sobre a qual esfera a_ forca policial deveria responder. Desde a instituicao da policia moderna, o problema de torna-la auténoma em relagao as varidveis de poder da cidade e, portanto, menos suscetivel ao poder de mando dos Politicos impés o blema de respon- sabilizagao. E claro que essé problema se tornaria ainda mais agudo diante da extrema Profissionalizaciio e burocratizagao da policia, que, como ja apontado, passa a responder apenas 4 $1 mesma sobre os seus atos, Mas € nas tiltimas décadas que “se problema tomara uma nova dimensio, tornando-se UM Ponto crucial nos pa democraticos, ji que se vé “frente_ de responsabilizagio adequada 1a eficacia ¢ legitimidade no desempenho de suas fungdes tradicionais” (Rinne, 2004, p, 281), ~ 36 WN — A policia em questao Em geral, a accountability da policia é pensada nas di- mensées interna e externa, relacionadas aos mecanismos de controle de suas atividad O aumento progressivo da crise de confianga tem colocado a instituigao policial sob constante escrutinio ptiblico, seja nas sociedades democraticas mais maduras, seja nas mais novas. A polfcia sente-se pressionada constantemente nao apenas para a repressao a criminalidade, mas também para mudar sua conduta de modo a ser mais sen- sivel as demandas de protecao e garantia de direitos humanos, além de melhorar a qualidade de todos 08 seu Servicos. Por isso, sente-se diante da necessidade de “criar mecanismos praticos para que os cidadaos fiscalizem e influen neiramente a conduta dos policiais, inclusive a maneira como a policia exerce seus poderes” (PHILLIPS; TRONE, 2003, p. 31). Os debates sobre o controle externo ganham corpo a medida que dentincias de corrupsiio e abuso policial vém tona com maior frequéncia. Em paises democraticos, observa- se um simultaneo decréscimo, nos anos 1990, dos indices de confianga na instituicdo policial e na sua avaliacao publica, nao apenas por ter sido abalada por seguidos escandalos e pela revelacdo de graves erros judiciais, como também pela visivel demonstragao de que se tornou menos capaz de proteger as pessoas da vitimizacio criminal, com 0s indices significativamente crescentes de violéncia. Mas 0 desafio de instituir mecanismos de esponsabilizacio de fato eficazes est4 também em conjugar os esforgos de controle interno, ie externo, afetando as praticas policiai Aaccountability ext externa) deve simbolizar a subordinagao da policia a leiea democracia a0 mesmo tempo em que assegure que os processos discipli- Nares e administrativos internos possam operar eficazmente_ (Rete, 2004). Esse 6, portanto, um ponto ainda carente de muitas definigdes e da produgio de novos consensos. Ma No contexto de uma politica de universalizagao e de garantia de direitos, cresce a nogio de que a policia ndo deveria ser mero instrumento de controle da criminalidade, mas deveria 37 Coleco "Comunicagao e Mobilizacéo Social” do de manutengao da paz publica no, fungao de mant exercer sua : $ Moldeg ; Estado de Direito e responder a sociedade de um Esta Sobre ag suas pratic O apelo a mudanca institucional e as respostas da policia A teente politizagio do policiamento tem Provocado, desde os anos 1960, uma série de inicia tivas de teformas sas los mais diversos paises. A complexidade do problema que afeta a credibilidade ea legitimacao da Policia requer estratégias multiplas e complexas que Possam aumsé tempo remodelar o proprio sistema de justiga criminal, Ofere- cer alternativas as opéracGes cotidianas da Policia, Propiciar um contato mais préximo coma Ppopulacao, relacionar-se com amidia de modo produtivo e mais transparente, alcancar nao apenas uma responsabilizacdo politica ampla mas também 0 controle estrito das condutas Policiais. Cresce a ideia de que 2 questao da seguranga puiblica nao pode ser reduzida a res- Posta ao fato delituoso nem reduzir 0 obj Fequerem no apenas esforcos dos administradores, mas a atuacdo sinérgica com outras forcas na Propria instituicao policial e nas comunidades, AS ciclicas e Teiteradas mentos mais criticos manifestam, a cada vez, uma “énfase ei nanecessidade de consentimento Ptiblico” (REINER, ate. 287). As respostas mais conservadoras caminharam na twleds Policiamento orientado explicitamente para con- a Modi gercentelando a organizacio policial segundo buscam romper oy cOtipo empresarial" Outras iniciativas inoduzindo novos. loner RE a policia & os Puiblicos, Sensibilidade ay polite me Policiamento eaumentandoa , Miltiplas fungoey uate dlelicada natureza das suas ‘88 Vertentes estratégicas importantes Tetomadas do debate nos mo- 38 vil A policia em questo surgem nesse cendrio: (a) 0 policiamento orientado @ solucao dey problemas; e (b) 0 policiamento comunitério. Como nota Mark Moore (2003), nao é simples enquadrar essas iniciativas em categorias bem definidas, que ora se apresentam como pro- a gramas operacionais, ora como filosofias (ou doutrinas) mais amplas. Mas sao, com certeza, novas estratégias organizacio- nais que buscam redefinir a missao, os principais métodos de operagao e os arranjos administrativos mais importantes da policia: “Procuram redefinir os objetivos gerais de poli- ciamento, alterar os principais programas operacionais e as tecnologias nas quais a policia tem se baseado e encontrar a legitimidade e a popularidade do policiamento em novas bases” (Moore, 2003, p. 120). A proposta de policiamento orientado para a solugao de problemas parte da compreensao do esgotamento do formato que centra a estratégia policial no incidente (o fato crimino-4~ so), tendo em vista a sua pouca eficdcia para preveni-lo. A proposta de que a policia se torne orientada para solucionar problemas, em vez de atender incidentes demanda o desen- volvimento de uma habilidade para compreender os fatores que favorecem a ocorréncia dos fatos delituosos, analisando as situagGes em que Ocorrem e os ‘problemas sociais numa comunidade, de modo mais amplo. Isso significa identifi- car, no ambito de cada localidade, os problemas que tém potencial para se tornar mais sérios para 0 cidadao e para a propria comunidade. Nessa perspectiva, o papel da policia éde, “em conjunto com as comunidades, identificar proble- | mas que necessitam da colaboragao de outras agéncias, para entao mobiliz4-las e coordenar os seus esforgos na resolucao desses problemas” (FREITAS, 2003, p. 20). A nocao de pro- blema comporta 0 conjunto de situagdes, circunstancias e condigdes nao resolvidas que podem originar medo, alarme_ ou ameaga a uma comunidade local, chegando a se transfor- + mar em crime, caso nao sejam adotadas comunitariamente ao seu enfrentamento (CERQUEIRA, 2001; GorpsreN, 2003). Com essa metodologia, busca-se as medidas necessérias 39 aT Colegio *Comunicaglo e Mobilizacio Sociat” C trazer A consideracdo a visio especializada da policia, gg forma que a busca conjunta de solugdes possa ser iluminas ‘minada istemati litica das i jun por uma “busca sistematica e analitica las informacies iny " dispensaveis ao perfeito entendimento das situagdes que dag } de origem, direta ou indiretamente, aos incidentes que a polis, de ostensiva atende no cotidiano operacional” (Souza, 2008, oI 88). Isso implica uma habilidade para “trabalhar com outra, 1a pessoas para encontrar as solugées, escolher os enfoques mais! e vidveis e de menor custo, advogar vigorosamente a adocio de* programas desejados e monitorar os resultados dos esforgos | de cooperagao” (SKOLNICK; BAYLEY, 2002, p. 37). Por sua vez, a proposta do chamado policiamento comunita- rio tem como substrato uma corrente terico-doutrinéria, que se manifestava desde o perfodo do pés-guerra na Europa enos Estados Unidos. Diversos autores destacam como precursoras experiéncias norte-americanas das décadas de 1960 e 1970," que tinham como objetivos obter a confianca da populagéona policia e, através da cooperagao das comunidades, prevenir as oportunidades para que os crimes fossem cometidos, onde a fungao do policiamento nao fosse apenas de combater 0 crime, mas também “reduzir o medo, restaurar a civilidade nos espagos publicos e garantir direitos democraticos dos! cidadaos” (Moore, 2003, p. 148). Isso implica “que a policia\ sirva 4 comunidade, aprenda com ela e seja responsdvel por ela” (SKOLNICK; BAYLEY, 2002, p. 225), através de uma partici- Paco do puiblico no planejamento e superviso das operacoes Policiais, na crenca de que uma resposta ideal A questo da seguranca puiblica esteja atenta ao conjunto de solugées locais. seinen POPS € movida por, pelo menos, duas grandes . ga: (a) em vari: rios come ‘as localidades, grupos comunita- social no combate nee le um senso de responsabilidad le | © iblico pode nar cries 0 seja, de uma nogio de que Ser \co-produtor da seguranga e da ordem, Como Skolnick e Bayley (2002), 40 A policia em questéo juntamente com a policia” (SkOLNICK; BAYLEY, 2002, p. 18); (b) aimplementagao de mecanismos part ipativos de resolugao | de conflitos é um mecanismo eficaz para responder tanto a ( necessidade de abordar tais conflitos de maneira democratica e pacifica quanto “para promover a reconstrugdo de vincu- los sociais que a exclusdo econdmica e social deterioraram” (PALER, 2003, p. 27). Embora os programas de policiamento orientados paraa solugao de problemas e comunitarios componham inicialmen- te duas matrizes que permitem diferenciar as duas propostas, Goldstein (2003, p. 90) advertiria que “qualquer coisa que a policia faga na tentativa de controlar os crimes graves, ela deve reconhecer que muito de seus esforgos dependem da ‘ cooperagao e participagao dos cidadaos”. Ambas as propostas se sobrepdem em grande parte, como observa Mark Moore: [.-]quase naturalmente, um compromisso com a soluo de problemas leva & invengao de solugdes que envolvem uma comunidade maior. Além disso, [...] muitos depar- tamentos que se comprometeram com a solugao de pro- blemas tém desenvolvido mecanismos para consultar as comunidades locais, para descobrir quais so os problemas do ponto de vista das comunidades (Moore, 2003, p. 142). Analisando algumas iniciativas que buscavam, ainda na década de 1960, responder aos problemas enfrentados pela instituigaéo policial, Goldstein percebe uma clara tendéncia comum a essas propostas para que a policia desenvolvesse respostas mais humanitdrias para solucionar os problemas Para as quais era chamada, procurassem estreitar relagdes com a comunidade, através de programas para facilitar a co- municagao entre policiais e os moradores das areas que eles patrulhavam. Algumas das corporagdes buscaram também ampliar 0 seu quadro de recrutamento para incluir grupos minoritarios e, em geral, buscaram eliminar praticas que Pudessem ser ofensivas e, sob o ponto de vista da assistén- cia, providenciar maior ajuda aos cidadios que solicitassem 41 ——$<<— colegao "comunicacae & Me jobilizaco Social” ajo policial. Mas ressalva que be par te dos programas de auxilio Pp fo olicia-comunidade, nao obstante seu claro mento F ara criagdo de uma via de mao dupla agado com a comunidade, tendiam ase tornar ape. gum “projeto de relagdes puiblicas”, Sem qué Significass mb ‘ent uma alteragac substantiva nos arrarjos institucionaig + tambel aa mais importantes da policia (GOLDSTEIN, 2003). munitaria como Policia Co a de relagdes publicas um problema Nosso entendimento da atividade de Relag6es Publicas insere-se num contexto em que a complexidade e a multipli- cidade das relagoes comunicativas que se estabelecem com os mais variados ptiblicos constituem um fator preponderante nao apenas para 0 sucesso das organizagdes num ambiente altamente competitivo, mas indispensdvel para garantir, através da compreensao mtitua, a legitimidade para sua pré- pria existéncia. A forma de alcancar a legitimidade envolve posicionar publicamente a organizacao, muito além da sua propria visibilidade: significa construir um conceito ptiblico dessa organizacao, através de uma imagem que projete os valores com os quais espera ser reconhecida. Espera-se que tal conceito publico seja capaz de dar-Ihe aprovacao, credi- paldade Teputacio. Através da reputacio, mais do que a ° estabeleciments ‘Plicos em relagao a ela, objetiva alcancat vinculos de confianga que permitam negociar sentid bi e los com os publicos e assegurar cooperagao em relacao a fins almejados em comum. As caracteristi . cas organizacionai . . cias poli organizacionais peculiares das agén- entre as quais fortemente cor orativg quais se destaca seu cardter rigido e pouco sensivel Sheng pouco transparente e historicamente algunas died ae nhas cfvicas de protegdo, evidenciam Publico, Assim, iim, alguns obstéculos no seu relacionamento orientado pare a Hee eee880 de mudang, na ag danga orga nal Para a filosofia comunitéria dens ma aitidan ‘ * anda mudangas 42 A policia em questdo profundas em relacdo ao seu modus operandi, no sentido de tornd-lo puiblico, mais transparente e menos resistente ao controle externo. O processo de mudanga em si requer que a organizagao enfrente o desafio de lidar com uma imagem publica contraditéria que, por um lado, pode inspirar con- fianca e sentimento de protegao e, por outro, o medo, dado o actimulo histérico de abusos do poder policial. Aproposta de policia comunitaria é explicita no sentido de criar oportunidades para “escuta da populagéo”, para discussao e diagndstico conjunto dos problemas que podem afetar uma comunidade e para a formulagao conjunta de estratégias de acdo. O estimulo a constituigéo de conselhos comunitdrios pode ser visto como uma estratégia de relacio- namento que busca cumprir essas trés funcées. E descrita amplamente na literatura como uma forma de criar vinculos de confianca da populagao comas agéncias policiais — e af sao depositadas as esperangas de que, a partir desses vinculos, seja possivel, através da cooperacgaéo, aumentar a sensacao de seguranca e gerar um sistema de protecao corresponsavel numa dada localidade. Por outro lado, a prépria instalacao de uma pratica de policia comunitaria necessita desses vinculos de confianga para existir. Essa reflexividade faz com que ao mesmo tempo a policia comunitaria seja ela propria uma es- tratégia de relacionamento com os ptiblicos — sob o ponto de vista organizacional e dependa de uma composigao de outras formas e acdes de comunicagao que auxiliem na promogao dos vinculos de confianga indispensaveis ao seu sucesso. ADiretriz n° 04/2002-CG, que disp6e sobre a filosofia de policia comunitdria na Policia Militar de Minas Gerais, por exemplo, no item relativo a organizacéo comunitaria enuncia que “a comunicag4o intensa e constante propicia a melhora das relages, amplia a percepgao policial e da comunidade no que tange as questées sociais e possibilita diminuir areas de conflito que exigem agées de cardter repressivo das instituigdes Policiais”. Também coloca como sendo o maior desafio para a consecugao dos objetivos da policia comunitaria “motivar e 8 Me ese f— =Comunicagao e Mobilizago Social” colecs rticipagaio do ptiblico” (MINAS GERAIS, 200, safio, acrescentariamos dois grandes problemas, eriorada da poli ia: £ amplamente aceito que ndo todo, os projetos de policia comunitéria emergiram por causa da deterioragao “a imagem da Policia diante da populagao, ° quem a oni en nasua atuagio, ‘Aquestao da imagem ptiblica da policia even vista como extremamente complexa. Uma vez que uma fl losofia preven- tiva nao pode si gnificar 0 abandono de seu poder repressivo, empre uma tensdo entre temé-la (0 que se insere na ie controle social) e cooperar com ela (na ex- pectativa do resultado de uma prestacao puiblica de servicos). Pesquise aternacionais e nacionais ja realizadas na década de 1990 e inicio da década de 2000 nao permitem ainda eviden- ciar uma diminuigao efetiva dos indices de criminalidade nos locais onde a experiéncia comunitéria se instalou. Entretanto, todas demonstram aumento significativo nos indicadores de satisfagao e de confianga na policia (ILANUD, 2002). (b) Mudanga na cultura interna da corporagio: A pratica do novo modelo implica necessariamente uma mudanga significativa na prépria cultura organizacional das policias, principalmente as militares. Nelas esse é um ponto de resis- téncia para o qual o estabelecimento de uma boa comunica- cdo interna é fundamental, aliado As politicas de formacao e capacitacao. A Diretriz do Comando-Geral da PMMG, por exemplo, alude as caracteristicas dos gerentes policiais rene format, “mprewnddorismo conker interna e oxterneoe, da organizagio policial, credibilidade nais” (MINAS GERAIS oboe com os valores institucio” tita 20 22 refering ney ane: p. 12). Outra diretriz é expl- ssidade de consolidar novos valores na cultura da cory = me ” poragao, quando se refere a de x envalvimenta inerimenng refere ao que cham sustentar a Pp p 12).Aesse de: (a) Imagem det regra geral,no mu havera s propria ldgica 4 Mobilizai . J aoe Sr acomunidade éagdo que exige da instituigio, NO f mo, consolidar na sua cultura organizacional 44 7 A policia em questo valores, praticas e habilidades essenciais a relacao poli- cial-militar e comunidade, como capacidade de dialogar ¢ inteligéncia para negociar diante de varias frentes de opiniao e fazer surgir, de reunides comunitarias, solugdes benéficas a coletividade (MINAS GERAIS, 2002d, p. 7). Sendo assim, consideramos que a adogao dos principios de policia comunitaria é problema de relagées publicas na medida em que a Policia Militar necessita estabelecer politicas de comunicagao com seus publicos (interno e externos) coe- rentemente com esses principios. Dentro disso, a constituigao de conselhos comunitarios é uma estratégia de mobilizagao social (HENRIQUES et al., 2004; Toro, 2005), na medida em que pretende arregimentar os esforcos de toda a comunidade para a ac4o coletiva em torno do problema da seguranga ptiblica, gerando um didlogo entre Estado e cidadaios e instaurando uma possibilidade concreta de cooperagao. A prépria Policia Militar de Minas Gerais reconhece isso em documento oficial em que define a mobilizagao comunitaria ou social como 0 ato de “convocar vontades para atuar na busca de um propésito comum, sob uma interpretacao e um sentido também compar- tilhado. [...] Nao se confunde com propaganda ou divulgacao, mas exige agdes de comunicagao no sentido amplo, enquanto processo de compartilhamento de discurso, visées e informa- c6es” (MINAS GERAIS, 2005d, p. 7). Esse conceito, extraido de Toro e Werneck (2004, p. 32), estabelece clara ligagao entre 0 proceso de mobilizacao e as estratégias de comunicagao. A introducao de programas de policia comunitéria, além de demandar conjunto de agdes de comunicagao com 0 publico interno das agéncias policiais e com todo o sistema de seguranga publica, requer agées em dois ambitos inter- dependentes: a visibilidade massiva (com os puiblicos mais amplos) e a geragao de ambientes de cooperagao e interlocu- Gao em localidades delimitadas (com os priblicos locais). Na primeira dimensao, é evidente que aim plantagio da filosofia de policia comunitaria requer um esforco de visibilidade 45 Colegio “Comunicacao e Mobilizacao Social” massiva para levar ao conhecimento da populacao a nova orientagao preventiva e buscar posicionar os temas ligados 4 seguranga puiblica como questao coletiva. Alguns momentos de visibilidade dados a ag6es preventivas e a presenga maig constante na média de agentes policiais capazes de reproduzir 0 discurso de base relativo aos direitos humanos e a policia comunitaria so evidéncias de uma postura diferenciada de algumas policias, nos ultimos anos. No que se refere ao relacionamento com os publicos lo- cais, os desafios de estabelecer a relacao efetiva entre policia e populagao sao estimular a mobilizacao local dos cidadaos e ver 0 ptiblico denominado “comunidade” como diverso, heterogéneo e portador de mtiltiplas razGes e multiplos valo- Tes (e, consequentemente, com variados entendimentos sobre a questo da seguranga ptiblica). Entretanto, a referéncia & comunidade nao pode ser tomada apenas como dado opera- cional. Na verdade existem muiltiplas quest6es que perpassam avida de uma comunidade territorialmente delimitada, liga- da a existéncia de intimeros movimentos que, na sociedade, formam diversas redes informais e formais correlacionadas | ao tema da seguranca ptiblica, como os de direitos humanos, | contra a violéncia, etc. Esses movimentos articulados per- | passam muiltiplos territérios, simultaneamente. Mesmo que | se tenha uma base territorial de aco, é preciso compreender esse territério como permeavel, pensando nas questdes que extravasam esse ambito. Neste livro, sem perder de vista a dimens4o das estra- tégias amplas de visibilidade, indispensdveis para o suporte a mobilizacao local, vamos nos concentrar na compreensao da comunicagio no Ambito local, de forma a possibilitar a efetiva conversagao com os ptiblicos locais. Esse aspecto, sob 0 ponto de vista institucional, exige arranjos inovadores para se concretizar, demanda, em consequéncia, atengéo a uma comunicacao publica — as formas pelas quais se da o relaciona- mento publico entre policia e cidadaos, nessa nova proposta. —_~ 46

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