Você está na página 1de 83

Fisioterapia Ser • vol.

17 - nº 3 • 2022

SUMÁRIO

EDITORIAL
O hiato entre a ciência e atenção à saúde: desafios para habilitação e reabilitação de pessoas com deficiências........... 151
Vanessa Gonçalves César Ribeiro, Peterson Marco O. Andrade

ARTIGO ORIGINAL
Análise da capacidade funcional de idosos participantes de um grupo de convivência no
município de Maracanaú/CE........................................................................................................................................................... 152
Antônia Alana Soares de Araújo Santos, Francisco Cid Coelho Pinto, Andre Costa Roque, David Jonathan Nogueira Martins, Thiago Brasileiro de Vasconcelos,
Vasco Pinheiro Diógenes Bastos

Análise do grau de satisfação de universitárias entre 18 e 30 anos submetidas a


tratamento de estrias atróficas através da corrente microgalvânica...................................................................................... 160
Fernanda Santos Azevêdo, Geraldo Magella Teixeira, Lousane Leonoura Alves Santos

Validação de material educativo para prevenção de quedas em idosos................................................................................. 165


Yago Ferreira Fernandes, Licia Câmara Diógenes Bastos, Maria Rivênia Pinto Araújo, Thais Paraiba Cavalcante, Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos

Verificação da ocorrência de quedas como fator de risco na fratura proximal do fêmur em idosos
nas enfermarias de uma unidade hospitalar pública de João Pessoa – PB.............................................................................. 172
Talita Saraiva Pimenta, Valéria Matos Leitão de Medeiros, Fabíola Mariana Rolim de Lima, Rosângela Guimarães de Oliveira

REVISÃO

A eficácia da acupuntura sistêmica nos sintomas da fibromialgia: revisão de literatura..................................................... 177


Aline Tiago Vasconcelos, Erick Vambastem Oliveira dos Reis, Lucas Guedes Barbosa, Monick Ondina Duarte Soares, Raquel de Mello

A prática fisioterapêutica na prevenção de incapacidades em pacientes com hanseníase.................................................. 181


Monik Cavalcante Damasceno, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha

Cuidados com a saúde em mulheres trabalhadoras: uma revisão integrativa....................................................................... 184


Maria Gleice Carneiro Teixeira Volipi, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha

Desfechos clínicos de medidas não farmacológicas utilizadas no tratamento de pacientes


com osteoartrite de joelho: revisão integrativa......................................................................................................................... 188
Monik Cavalcante Damasceno, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha

Efeitos da mobilização precoce em pacientes críticos: revisão de literatura......................................................................... 193


Dalila Teixeira de Freitas Gomes, Amanda Oliveira Cruz Menezes, João Paulo Vargas Fernandes

Intervenção Fisioterapêutica através da ventilação não invasiva (VNI) em pacientes


oncológicos hospitalizados: revisão integrativa........................................................................................................................ 198
Nathália Carvalho Campos Ferraz, João Paulo Vargas Fernandes

Posição prona na síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA)


em pacientes intubados: revisão integrativa.............................................................................................................................. 204
Nykolas Custódio Modesto, Marcos Roberto Santos Garcia, João Paulo Vargas Fernandes

Uso da cânula nasal de alto fluxo em pacientes diagnosticados com Sars-Cov-2: revisão de literatura............................. 209
Anna Luiza Pascoal Silva, João Paulo Vargas Fernandes

RELATO DE CASO

Função motora grossa de uma criança com síndrome de down ao longo de


uma intervenção fisioterapêutica: relato de caso....................................................................................................................... 214
Larissa dos Santos Guarany

AGENDA......................................................................................................................................................................................................................................................226

NORMAS.....................................................................................................................................................................................................................................................227

149
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

A Revista Fisioterapia Ser é um periódico Técnico-Científico sobre fisioterapia, registrado no International Standart Serial Number (ISSN), sob o
código 1809-3469, com edição trimestral e distribuída, a partir de 2017, no formato eletrônico, para todo território Nacional. É uma publicação dirigida a
fisioterapeutas, professores, pesquisadores, acadêmicos de fisioterapia, empresários e demais instituições da área.

Editor Científico
Victor Hugo do Vale Bastos (UFPI - Parnaíba/PI)

Conselho Científico
Adalgisa Maiworm (PPC-UERJ - Rio de Janeiro/RJ) Maria dos Prazeres Carneiro Cardoso (UNINTA - Sobral/CE)
Alessandro dos Santos Pin (Unicerrado - Goiatuba/GO) Maria Goretti Fernandes (UFS - SE)
Anke Bergmann (UNISUAM - Rio de Janeiro/RJ) Mário Bernardo Filho (UERJ - Rio de Janeiro/RJ)
Aureliano da Silva Guedes (UFPA - Belém/PA) Marta Lúcia Guimarães Resende Adorno (CEULP - Palmas/TO)
Beatriz Helena de S. Brandão (HSE - Rio de Janeiro/RJ) Nadja de Souza Ferreira (FRASCE - Rio de Janeiro/RJ)
Danúbia da Cunha de Sá Caputo (Rio de Janeiro/RJ) Sérgio Nogueira Nemer (HCN - Niterói/RJ)
Dionis de Castro Dutra Machado (UFPI - Piauí/PI) Silmar Silva Teixeira (UFPI - Parnaíba/PI)
Elhane Glass Morari-Cassol (UFSM - Santa Maria/RS) Sueli Soares de Sá Mancebo (UFF - Niterói-RJ)
Fábio Oliveira Maciel (UFAM - Coari/AM) Thiago P. Sardenberg Soares (Instituto Benjamin Constante - RJ)
Fernanda Luisi (UFCSPA - RS) Vasco Pinheiro Diógenes Bastos (HGF - Fortaleza/CE)
Jones Eduardo Agne (UFSM - RS) Wilma Costa Souza (UCB - Rio de Janeiro/RJ)
Júlio Guilherme Silva (UNISUAM - Rio de Janeiro/RJ)

Assessores
Alessandro Júlio de Jesus Viterbo de Oliveira (Avante - RS) José da Rocha Cunha (UNESA - Rio de Janeiro/RJ)
Alexandre Gomes Sancho (UNIGRANRIO - RJ) José Tadeu Madeira de Oliveira (IBC - Rio de Janeiro/RJ)
Alexsander Evangelista Roberto (Rio de Janeiro/RJ) Jucelino de Souza Borges Neto (UFSJ/CCO - Divinópolis - MG)
Blair José Rosa Filho (UNIVERSO - Niterói/RJ) Kátia Maria Marques de Oliveira (UCB - Rio de Janeiro/RJ)
Camila Costa de Araújo (UENP - PR) Leandro Azeredo (IACES - Rio de Janeiro/RJ)
Carla Mendes Torrieri (Rio de Janeiro/RJ) Leandro Gomes Barbieri (FAC - Fortaleza / CE)
Cleide da Câmara Souza (FGS/UNIGRANRIO - RJ) Lorena Maria Brito Neves Pereira (UNESC - Campina Grande/PB)
Fábio dos Santos Borges (UNESA - Rio de Janeiro/RJ) Ludmila Bonelli Cruz (UNIVERSO - MG)
Fábio Marcelo Teixeira de Souza (Rio de Janeiro/RJ) Márcia Maria Peixoto Leite (UFBA - Salvador/BA)
Francisco José Salustiano da Silva (FABA - Rio de Janeiro/RJ) Nílton Petrone Vilardi Jr. (Rio de Janeiro/RJ)
Helena Hanna Khalil Dib Giusti (Orlando/FL/EUA) Palmiro Torrieri (Rio de Janeiro/RJ)
Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (IFRJ - Rio de Janeiro/RJ) Odir de Souza Carmo (FGS - Rio de Janeiro/RJ)
Hélio Santos Pio (Rio de Janeiro/RJ) - In Memorium Wagner Teixeira dos Santos (UCB - Rio de Janeiro/RJ)
Henrique Baumgarth (ABCROCH - Rio de Janeiro/RJ) Wellington Pinheiro de Oliveira (CESUPA - PA)
Jefferson Braga Caldeira (UNIGRANRIO - Rio de Janeiro/RJ)

Esta revista é indexada pela CAPES com QUALIS B4 em Inter-


disciplinar, Medicina I e Educação Física.

Assinaturas:
Anual – 4 números – R$ 138,00
Stevenson Gusmão Bianual – 8 números – R$ 228,00
Diretor / Editor Executivo
Endereço:
Aline Figueiredo Rua Adriano, 300 - Bl.: 19 / 204
Projeto Gráfico / Dir. Arte Méier - Cep 20735-060 – Rio de Janeiro – RJ
Tel./Fax.: (21) 98661-2711 e 98014-2927
Luana Menezes gusmaomachado@yahoo.com.br
Colaboradora de redação

Fisioterapia Ser - É proibida a reprodução total ou parcial dos artigos publicados, sejam quais forem os meios empregados
(fotocópia, digitalizados, gravação em discos, pen drives e etc), sem permissão por escrito da Revista Fisioterapia Ser. Aos infrato-
res aplicam-se as sanções previstas nos artigos 122 e 130 da lei 5.988 de 14/12/83. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de
total responsabilidade dos anunciantes. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores.

150
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Editorial

O hiato entre a ciência e atenção à saúde:


desafios para habilitação e
reabilitação de pessoas com deficiências
Vanessa Gonçalves César Ribeiro
Doutora em Ciência Fisiológicas - UFVJM
Fisioterapeuta do Serviço de Órteses e Próteses do
Centro Especializado em Reabilitação de Diamantina – MG

Peterson Marco O. Andrade


Doutor em Neurociências – UFMG
Professor Associado da Universidade Federal de Juiz de Fora
Campus de Governador Valadares

A Portaria nº 321 de 08/02/2007, instituiu a Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses/Próteses e Materiais Espe-
ciais - OPM (SIGTAP), responsável por regulamentar a oferta destes itens aos usuários do SUS. Dentre as informações disponí-
veis na referida tabela, destacamos a descrição do item, a Classificação Internacional de Doenças (CID) para o qual o item pode
ser contemplado, a Classificação Internacional de Ocupações (CBO) dos profissionais que podem realizar a prescrição, quan-
tidade mínima a ser dispensada, idade mínima e máxima, valor dos procedimentos ali previstos, dentre outras determinações.
O uso de tal sistema de gerenciamento é inquestionável para melhorar a unificação dos procedimentos do sistema pú-
blico de saúde, no entanto, algumas limitações têm sido um desafio para profissionais e gestores de instituições da Rede de
Cuidados às Pessoas com Deficiência.
Como principal limitação destacamos a desatualização dos valores dos procedimentos e itens de OPM. Os valores não
são corrigidos há aproximadamente 14 anos. Desse modo, torna-se inviável a disponibilização de muitos recursos ou a re-
dução da qualidade para que a disponibilização seja viável. Além disso, itens que seriam facilitadores para os usuários, tais
como os andadores adaptados, talas extensoras e parapodium, não estão incluídos.
.Particularmente destacamos a não inserção de órteses para membros superiores, que podem ser um recurso adicional no
plano terapêutico. No entanto, atualmente estes recursos não estão disponíveis no SIGTAP. O referido sistema de gerencia-
mento também não permite a prescrição de cadeira de rodas motorizada para indivíduos com menos de 12 anos de idade. Este
dispositivo, pode ser a principal forma de locomoção independente para crianças, garantindo maior autonomia e participação.
A Portaria GM/MS Nº 695, de 01/04/2022, altera atributos de procedimentos na Tabela do SIGTAP. Destacamos a alteração
da idade máxima para a prescrição da cadeira de rodas para banho em concha infantil para dez anos. Anteriormente a idade má-
xima era de quatro anos. Tal modificação garantirá uma melhora no fornecimento desse item considerando que muitas crianças,
com alterações neurológicas, possuem alteração no tamanho e peso corporal com relação a idade. A indicação de uma cadeira
maior, tendo como requisito somente a idade, é inconcebível e um dificultador para profissionais prescritores de OPM.
A inserção de algumas doenças para itens como cadeira de rodas motorizada adulto ou infantil e algumas adaptações de
cadeiras de rodas não são relevantes do ponto de vista prático, considerando que a análise clínica do profissional prescritor
deve ser soberana. Considerando a exigência da avaliação biopsicossocial conforme o modelo da Classificação Internacio-
nal de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) nos serviços de saúde, pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei Federal Nº
13.146/2015), é contraditório que o sistema de unificação da tabela SUS utilize a CID como um critério específico para dis-
ponibilização de OPM. O profissional prescritor deveria ter autonomia para analisar, de acordo com critérios cinesiológicos
funcionais, a indicação ideal do recurso, de acordo com a necessidade do paciente.
A alteração da idade mínima para a prescrição da cadeira de rodas monobloco para 11 anos foi relevante considerando
que crianças e adolescentes podem se beneficiar com possibilidades que tal cadeira oferece, como por exemplo, retirada do
apoio de braços e cambagem, garantindo agilidade na propulsão. No entanto, a idade máxima para a prescrição da cadeira
de rodas monobloco fica mantida em 50 anos, o que consideramos um limitador. Na prática, pacientes com mais de 50 anos,
fisicamente ativos, com diferentes condições clínicas como, paraplegia, se beneficiam com uso desse tipo de cadeira.
Assim, evidenciamos a necessidade da atualização do sistema de gerenciamento baseado no modelo biopsicossocial
preconizado pela Organização Mundial da Saúde e os avanços científicos e tecnológicos relacionados com a habilitação e re-
abilitação das pessoas com deficiências. Esta atualização é a medida necessária para integralidade e resolubilidade da atenção
à saúde para as pessoas com deficiências.

151
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Artigo Original

Análise da capacidade funcional de


idosos participantes de um grupo de
convivência no município de Maracanaú/CE

Analysis of the functional capacity of elderly


participants in a social group in the city of Maracanaú/CE

Antônia Alana Soares de Araújo Santos1, Francisco Cid Coelho Pinto1, Andre Costa Roque2,
David Jonathan Nogueira Martins3, Thiago Brasileiro de Vasconcelos4, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos5­

1. Fisioterapeutas pelo Centro Universitário Es- Resumo


tácio do Ceará.
2. Discente do Curso de Medicina da Universi-
A capacidade do indivíduo de realizar suas atividades físicas e mentais ne-
dade de Fortaleza. cessárias para a manutenção de suas atividades de vida diária (AVD’s) e instru-
3. Discente do Curso de Fisioterapia de Centro mentais de vida diária (AIVD’s) é definida como capacidade funcional. O obje-
Universitário Estácio do Ceará. tivo geral do estudo foi analisar a capacidade funcional de idosos participantes
4. Mestre em Farmacologia pela Universidade
Federal do Ceará (UFC) e Docente do Centro
de um grupo de convivência no município de Maracanaú/CE. Tratou-se de uma
Universitário Católico de Quixadá. pesquisa quantitativa de caráter analítico, descritivo, prospectivo e transversal dos
5. Doutor em Farmacologia pela Universidade resultados apresentados. A amostra foi composta pela totalidade de 18 idosos que
Federal do Ceará (UFC) e Docente do Centro participam das atividades do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Víncu-
Universitário Estácio do Ceará.
los do CRAS-Pajuçara no Município de Maracanaú. Para coleta dos dados foram
utilizados o Índice de Barthel Modificado e Escala de Lawton e Brody. Foi evi-
Endereço para correspondência: denciado que para a realização das atividades de um modo geral, 33% da amostra
e-mail: aass43@gmail.com não possuem nenhuma dependência. Observa-se também que 33% da amostra não
e-mail: roque_andre@yahoo.com.br
e-mail: davidjonathan01@hotmail.com
possuem dependência para realizar AVD’s, porém possuem uma dependência leve
e-mail: cid.pinto@live.com para AIVD’s, 22% da amostra possuem dependência leve para ambos os tipos
e-mail: thiagobvasconcelos@hotmail.com de atividades, 6% da amostra possuem dependência leve para AVD’s e não pos-
e-mail: vascodiogenes@yahoo.com.br suem dependência para AIVD’s e 6% da amostra possuem dependência leve para
AVD’s e dependência moderada para AIVD’s. Conclui-se que a prevalência dos
idosos da amostra em estudo foram os que não possuem nenhuma dependência
ou apresentam uma dependência leve para a realização das AVD’s e AIVD’s.
Recebido para publicação em 07/05/2022 e acei- Observa-se também que a idade é inversamente proporcional à capacidade funcio-
to em 12/06/2022, após revisão.
nal. Visto que quanto maior a idade menor é a capacidade funcional, ou seja, mais
dependência esse indivíduo pode apresentar.

Palavras-chave: capacidade funcional, idoso, índice de Barthel, escala de Lawton


e Brody.

152
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
The individual’s ability to perform physical and mental activities necessary to maintain their activities of daily living
(ADL’s) and instrumental daily living (IADL’s) is defined as functional capacity. The overall objective of the study was to
analyze the functional capacity of elderly participants of a social group in the city of Maracanaú/CE. This was a quantitative
research on analytical, descriptive, prospective and cross the results presented. The sample was composed of all 18 seniors
who participate in the activities of the Living Service and Linkages Strengthening CRAS-Pajuçara in the city of Maracanaú.
The Barthel Index Modified and Scale of Lawton and Brody were used to collect the data. It was shown that for carrying out
activities in general, 33% of the sample have no dependency. It is also observed that 33% of the sample have no dependency
to perform ADLs, but have a slight dependence IADL’s, 22% of the sample have mild dependence for both types of activities,
6% of the sample have mild dependence for ADL’s and do not have dependence IADL’s and 6% of the sample have mild
dependence for ADLs and moderate dependence IADL’s. We conclude that the prevalence of the sample under study were
elderly who have no dependence or have a mild dependence to perform the ADL’s and IADL’s. It is also observed that age
is inversely proportional to the functional capacity. Since the higher the age is lower functional capacity, more dependence
that may individual present.
Keywords: functional capacity, elderly, Barthel index, scale Lawton and Brody.

Introdução
Envelhecer é um processo natural que caracteriza uma das levar à limitação funcional, diminuindo a autonomia e a qua-
etapas da vida do ser humano, onde ocorrem mudanças bioló- lidade de vida dos idosos interferindo também em seu contex-
gicas, físicas, psicológicas e sociais que acometem de forma to psicológico, social e familiar. Essas limitações funcionais
particular cada indivíduo com sobrevida prolongada. É uma causam dependência para o desempenho das atividades de
fase em que o indivíduo idoso conclui que alcançou muitos vida diária (AVD’s) e instrumentais de vida diária (AIVD’s).
objetivos, mas também sofreu muitas perdas, das quais a saú- Além de prejudicar a qualidade de vida, essas doenças têm
de destaca-se como um dos aspectos mais afetados1. provocado gastos exorbitantes ao sistema de saúde6-8.
Como em todas as fases da vida humana, a velhice tem Envelhecer é um processo natural e progressivo da di-
uma dimensão existencial, que altera a relação da pessoa minuição de reserva funcional dos indivíduos, a senescência,
com o tempo, gerando mudanças em suas relações com o que em condições normais, não costuma provocar grandes
mundo e com sua própria história2. problemas. No entanto, em condições de sobrecarga como,
O envelhecimento humano é uma realidade do compor- por exemplo, doenças, acidentes e estresse emocional, po-
tamento demográfico no mundo iniciada nos países desenvol- dem levar a uma condição patológica que necessite de assis-
vidos, após o crescimento econômico e industrial que vem in- tência, a senilidade. Cabe ressaltar que certas alterações de-
fluenciando as transformações epidemiológicas populacionais3. correntes do processo de senescência podem ter seus efeitos
Segundo o censo demográfico de 2010, a população bra- minimizados com um estilo de vida mais ativo e saudável9.
sileira de pessoas idosas, que, segundo a Política Nacional Os sinais do envelhecimento vão aparecendo com o pas-
do Idoso e o Estatuto do Idoso, são aqueles com 60 anos a sar dos anos incluem-se neles: branqueamento e espessamento
mais, é de 20.590.599 milhões, ou seja, aproximadamente capilar, perda da elasticidade e hidratação da pele, diminuição
10,8 % da população total. Desses, 55,5 % (11.434.487) são da acuidade visual e auditiva, afasia, deterioração do sistema
mulheres e 44,5% (9.156.112) são homens4. nervoso levando a alteração da homeostase, prejuízo do apren-
Em todo o mundo, a proporção de pessoas com 60 anos dizado e da memória a curto prazo, os limiares de dor aumen-
ou mais está crescendo mais rapidamente que a de qualquer tam e a sensibilidade a ela diminui, o sistema cardiovascular
outra faixa etária. Entre 1970 e 2025, espera-se um cresci- diminui sua eficiência, ocorre uma menor mobilidade torácica
mento de 223%, ou em torno de 694 milhões, no número e a capacidade vital é reduzida, já a memória e a personalidade
de pessoas mais velhas. Em 2025, existirá um total de apro- não diminuem muito até os 85 anos10.
ximadamente 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos. O processo de envelhecimento, por si só, pode acarretar
Até 2050 haverá dois bilhões, sendo 80% nos países em de- o declínio da aptidão física e da capacidade funcional que se
senvolvimento. Até 2025, segundo a Organização Mundial agrava com o sedentarismo, tornando os idosos dependentes
de Saúde (OMS), o Brasil será o sexto país do mundo em de cuidados de outras pessoas. Observa-se que essa situação
número de idosos. Entre 1980 e 2000 a população com 60 é maior entre os idosos institucionalizados, tornando-os de-
anos ou mais cresceu 7,3 milhões, totalizando mais de 14,5 tentores de várias consequências decorrentes da inatividade11.
milhões em 2000. O aumento da expectativa média de vida A capacidade do indivíduo de realizar suas atividades
também aumentou acentuadamente no país5. físicas e mentais necessárias para a manutenção de suas
Com o aumento da população idosa mundial, aumentam AVD’s, ou seja, tomar banho, vestir-se, realizar higiene pes-
também os desafios para a saúde pública. Entre os problemas soal, transferir-se, manter a continência e AIVD’s que são
característicos desse período da vida, as doenças crônico-de- preparar refeições, ter controle financeiro, tomar remédios,
generativas têm sido objeto de inúmeros estudos, pois podem arrumar a casa, fazer compras, usar transporte coletivo, usar

153
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

telefone e caminhar certa distância são definidos como capa- dade funcional da população em estudo, pois é de grande
cidade funcional12. importância para o idoso ser capaz de realizar suas AVD’s e
A independência na realização das AVD’s é de grande AIVD’s, fazendo-o assim ter qualidade de vida em aspectos
importância na vida das pessoas, pois envolve questões de biopsicossociais, sendo assim, um idoso independente.
natureza emocional, física e social13. O presente trabalho apresenta dados que poderão ser
A capacidade funcional também é considerada um fator utilizados para reflexão dos gestores, profissionais da saúde
indispensável e decisivo no processo de um envelhecimento e familiares dos idosos, quanto à capacidade funcional dos
saudável, que irá auxiliar principalmente no retardo do apa- idosos do serviço de convivência e fortalecimento de víncu-
recimento de processos crônico-degenerativos, consequen- los do CRAS-Pajuçara no município de Maracanaú, ou para
tes da evolução do envelhecimento, através da preservação outros pesquisadores como contribuição para melhor com-
do nível de autonomia e independência em suas AVD’s. preensão sobre a capacidade funcional.
Dessa forma, atenuariam significativamente as oportunida- Tendo como objetivo geral analisar a capacidade funcio-
des de institucionalização clínica em razão da incapacidade nal de idosos participantes de um grupo de convivência no mu-
física. E a dimensão do estado funcional é de suma importân- nicípio de Maracanaú/CE e como objetivos específicos: traçar
cia para a avaliação geriátrica14-17. o perfil epidemiológico, analisar a funcionalidade e relacionar
Um estudo mostrou que o déficit mais frequentemente as AVD’s e AIVD’s com a funcionalidade da amostra.
encontrado na amostra pesquisada foi em relação à lim-
peza e arrumação da casa, tanto para as mulheres quanto Metodologia
para os homens. Alguns idosos referiram a necessidade Tratou-se de uma pesquisa quantitativa de caráter
de auxílio para realizar as atividades que exigem maior analítico, descritivo, prospectivo e transversal dos resul-
força muscular, como passar panos no chão e limpar jane- tados apresentados.
las. Outros relataram não fazer estas atividades de modo A pesquisa foi realizada nas dependências do Centro de
algum, devido às suas limitações físicas ou por não saber Referência da Assistência Social - CRAS localizado na Rua
como realizá-las18. Pedro Caetano de Paiva, nº 267 - Bairro Pajuçara, na cidade
Quando ocorre comprometimento da capacidade fun- de Maracanaú/CE, mediante a aprovação do Comitê de Ética
cional que pode estar associado ao aumento das doenças em Pesquisa do Centro Universitário Estácio do Ceará (Pro-
crônico-degenerativas, podendo levar os idosos a situações tocolo nº 1.482.160).
de total dependência do outro e ao isolamento social, a so- A população foi composta pela totalidade de 18 idosos
brecarga sobre a família e sobre o sistema de saúde pode ser que participam das atividades do Serviço de Convivência e
muito grande, levando o idoso à perda da independência e Fortalecimento de Vínculos do CRAS-Pajuçara no Municí-
autonomia, comprometimento da qualidade de vida e, conse- pio de Maracanaú.
quentemente, leva-o à incapacidade funcional19,20. Foram incluídos os idosos que estivessem cadastrados
Esse comprometimento funcional no idoso tem impli- no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do
cações importantes para a família, a comunidade, o sistema CRAS-Pajuçara no Município de Maracanaú, sendo excluí-
de saúde e para a vida do próprio idoso, uma vez que a inca- dos os idosos que se recusassem a participar do estudo e os
pacidade ocasiona maior vulnerabilidade e dependência na que não apresentassem condições cognitivas para a aplica-
velhice, contribuindo para a diminuição do bem-estar e da ção do instrumento da coleta de dados.
qualidade de vida dos idosos21. Foram abordadas as variáveis: idade, sexo e tempo de
Uma considerável parte do declínio da capacidade física participação no Serviço de Convivência e Fortalecimento de
dos idosos deve-se ao tédio, à inatividade e à expectativa de Vínculos do CRAS-Pajuçara no Município de Maracanaú.
enfermidade. Além disso, grande parte deste declínio é provo- Inicialmente, este projeto foi encaminhado à Secre-
cada pela atrofia e pelo desuso, resultante do sedentarismo22. taria de Assistência Social e Cidadania do município de
Entende-se então que a limitação ou a não realização Maracanaú, expondo os objetivos do estudo, onde foi so-
dessas atividades, desenvolve um quadro de incapacidade licitada a assinatura do Termo de Anuência para o desen-
funcional do idoso23. volvimento do mesmo. Com a autorização da Secretaria
Tendo em vista que a capacidade funcional do ser hu- de Assistência Social e Cidadania do município de Mara-
mano declina com a idade, é necessário planejar estratégias canaú, o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em
que melhorem o estilo de vida dos idosos, principalmente pesquisa do Centro Universitário Estácio do Ceará. Após
em relação a programas que proporcionem: promoção, pre- a aprovação do Comitê de Ética, foi feita a abordagem
venção e reabilitação da capacidade funcional; educação aos idosos no CRAS-Pajuçara, expondo os objetivos do
permanente ao longo da vida e valorização do processo de estudo e a solicitação da assinatura do Termo de Consen-
envelhecimento individual e populacional. Tais ações pos- timento Livre e Esclarecido.
sibilitariam minimizar a dependência nas AVD’s e AIVD’s, Em seguida, foi iniciada a aplicação do instrumento de
proporcionado assim, um envelhecimento com autonomia e coleta de dados, através do Índice de Barthel Modificado25
independência às pessoas idosas24. que mede a independência funcional, onde foi avaliada a
Percebendo o aumento demográfico da população ido- execução das atividades de vida diária (AVD) através de
sa, e consequentemente o aumento da expectativa de vida, perguntas, como a alimentação, higiene pessoal, uso do ba-
trouxe a curiosidade de estudar e pesquisar sobre a capaci- nheiro, banho, continências, vestir-se, transferências, subir

154
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

e descer escadas, deambulação e alternativo para deambu- 2 anos. Quanto à participação nas atividades oferecidas 89%
lação, o manuseio da cadeira de rodas, cada item recebeu (n=16) sempre participam (tabela 1).
uma pontuação de 1 a 5, onde 1 é uma dependência total e 5
é totalmente independente que será classificado da seguinte Tabela 1: Distribuição dos dados de acordo com as variáveis
forma: 10 pontos é dependência total, de 11 a 30 uma depen- epidemiológicas da amostra. Fortaleza/CE.
dência grave, de 31 a 45 uma dependência moderada, de 46 n %
Gênero Feminino 13 72%
a 49 uma dependência leve e 50 uma independência total e
Masculino 5 28%
Escala de Lawton e Brody26 que permitiu avaliar através de Faixa Etária 60-69 anos 8 44%
perguntas, a autonomia do idoso para realizar as atividades 70-79 anos 7 39%
necessárias para viver de forma independente na comunida- 80 anos ou mais 3 17%
de, designadas por atividades instrumentais de vida diária Raça Parda 15 83%
Negra 2 11%
(AIVD): utilização do telefone, realização de compras, pre-
Branca 1 6%
paração das refeições, tarefas domésticas, lavagem da roupa, Religião
utilização de meios de transporte, manejo da medicação e Católica 12 67%
responsabilidade de assuntos financeiros. Evangélica 5 28%
Para cada AIVD o idoso foi classificado como depen- Outras 1 6%
Estado Civil Casado 9 50%
dente quando obteve 0 pontos ou independente quando ob-
Viúvo 5 28%
teve 1 ponto. No caso dos homens não foi contabilizado a Divorciado 4 22%
preparação das refeições, as tarefas domésticas e a lavagem Escolaridade Alfabetizado 16 89%
da roupa. A pontuação final resultou da soma da pontuação Ainda exerce atividade laboral Sim 1 6%
das 8 AIVD e varia entre 0 a 8 pontos para as mulheres e Aposentado 17 94%
Residência Própria 15 83%
5 pontos para os homens, correspondendo ao número de
Moram sozinhos
AIVD em que o idoso foi independente, juntamente foi uti- Não 13 72%
lizado um questionário de perfil socioeconômico, onde foi Possui plano de saúde Não 13 72%
verificado nome, idade, sexo, cor, religião, escolaridade, Tempo de participação no grupo Menos de 1 ano 3 17%
profissão exercida, renda familiar, moradia, possuir plano De 1 a 2 anos 7 39%
De 3 a 4 anos 2 11%
de saúde, tempo de participação no serviço de convivência,
De 5 a 6 anos 6 33%
hábitos de vida, comorbidades, uso de medicações e auto- Participa das atividades propostas Sempre 16 89%
-avaliação do estado de saúde. Às vezes 2 11%
Os dados foram coletados e submetidos à análise descri-
tiva utilizando o Microsoft Office Excel 2010, em seguida Com relação aos hábitos de vida, 56% (n=10) relataram
foram apresentados em forma de gráficos e tabelas. que praticam atividades físicas e foi evidenciado que 100%
O projeto apresentou risco mínimo de o idoso sentir- da amostra (n=18) não possuem o hábito de tabagismo. No
-se constrangido com o estudo. As informações coletadas que diz respeito à ingestão de bebida alcoólica 6% (n=1)
foram transformadas em dados que poderão ser utilizados declarou realizar raramente a ingestão e 89% (n=16) decla-
para reflexão dos gestores, profissionais e familiares dos raram possuir uma alimentação saudável (tabela 2), destes
idosos da instituição quanto à análise da capacidade fun- 75% (n=12) são do gênero feminino.
cional dos idosos que participam do serviço, ou para outros
pesquisadores como contribuição para melhor compreen- Tabela 2: Distribuição dos dados de acordo com as variáveis
são sobre o assunto estudado. dos hábitos de vida da amostra. Fortaleza/CE.
n %
Prática de atividade física Sim 10 56
Resultados Etilismo Não 17 94
De acordo com os dados epidemiológicos, a amostra Alimentação Saudável Sim 16 89
composta por idosos que participam das atividades do Servi-
ço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do CRAS- No que se refere à presença de patologias, 33% (n=6)
-Pajuçara no Município de Maracanaú, apresenta prevalên- dos idosos são diabéticos, 72% (n=13) são hipertensos, 11%
cia de 44% (n=8) entre as idades de 60 e 69 anos, do gênero (n=2) relataram ter hiperdislipidemia, 17% (n=3) cardiopa-
feminino de 72% (n=13), da raça parda de 83% (n=15), tias, 6% (n=1) osteoporose e 11% (n=2) artrose (gráfico 1).
de católicos de 67% (n=12), de casados 50% (n=9) e 89% Foi evidenciado que 100% da amostra (n=18) não possuem
(n=16) possuem algum nível de escolaridade (tabela 1). nenhuma doença pulmonar.
No que se refere à renda familiar 100% (n=18) da amos- Em relação à autoavaliação da saúde 44% (n=8) decla-
tra apresentam de 1 a 2 salários mínimos, e ressalva que 6% raram estar com boa. A respeito do uso de medicações, 89%
(n=1) ainda exerce atividade laboral. Em relação à residência (n=16) fazendo uso de pelo menos uma medicação (tabela 3).
83% (n=15) moram em casa própria. Com base em 100% A aplicação do índice de Barthel Modificado eviden-
(n=18) da amostra, 28% (n=5) moram sozinhos e possuem ciou que de um modo geral, 67% (n=12) da amostra são
plano de saúde. O tempo de participação dos idosos no ser- independentes para a realização das AVD’s e 33% (n=6)
viço de convivência e fortalecimento de vínculos teve uma possuem uma dependência leve para a realização das mes-
média de 2,8 ± 2,3 anos, onde 39% (n=7) participam de 1 a mas atividades (gráfico 2).

155
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Gráfico 1: Distribuição dos dados de acordo com as variáveis Tabela 4: Distribuição dos dados de acordo com os resultados
sobre a presença de patologias da amostra. Fortaleza/CE. obtidos com o Índice de Barthel Modificado. Fortaleza/CE.
n %
Alimentação Independente 18 100%
Higiene pessoal Independente 18 100%
Uso do banheiro Independente 18 100%
Banho Independente 18 100%
Continência do esfíncter anal Controla 18 100%
Continência do esfíncter vesical Controla 15 83%
Acidentes ocasionais 3 17%
Vestir-se Independente 18 100%
Transferências Independente 18 100%
Subir e Independente 14 78%
descer escadas Supervisão para segurança 2 11%
Assistência em alguns passos da tarefa 2 11%
Deambulação Independente 17 94%
Assistência mínima 1 6%
Tabela 3: Distribuição dos dados de acordo com as variáveis
sobre a autoavaliação da saúde e uso de medicamentos da Gráfico 3: Distribuição dos dados de acordo com os resul-
amostra. Fortaleza/CE. tados obtidos com Escala de Lawton e Brody aplicado para
n % verificar a capacidade funcional nas atividades instrumentais
Autoavaliação da saúde Muito boa 4 22%
de vida diária da amostra. Fortaleza/CE.
Boa 8 44%
Regular 5 28%
Ruim 1 6%
Uso de medicamentos Sim 16 89%

Gráfico 2: Distribuição dos dados de acordo com os resul-


tados obtidos com o Índice de Barthel Modificado aplicado
para verificar a capacidade funcional nas atividades de vida Tabela 5: Distribuição dos dados de acordo com os resulta-
diária da amostra. Fortaleza/CE. dos obtidos com Escala de Lawton e Brody. Fortaleza/CE.
n %
Utilização do telefone
Utiliza por iniciativa própria 11 61%
Capaz de guardar números familiares 1 6%
Utiliza, mas não guarda números 5 28%
Não é capaz 1 6%
Fazer compras
Realiza todas as compras necessárias 7 39%
Realiza compras pequenas 10 56%
Verificou-se com a aplicação do Índice de Barthel Necessita de acompanhante 1 6%
Modificado que 83% (n=15) da amostra têm controle do Utilização de transporte
esfíncter vesical, 78% (n=14) são capazes de subir e des- Independente 15 83%
Utiliza transporte público quando acompanhado 2 11%
cer escadas de forma segura e sem supervisão, 94% (n=17)
Só utiliza táxi ou veículo particular com ajuda 1 6%
são independentes para deambular. Vale ressaltar que em Manejo da medicação
relação à alimentação, higiene pessoal, uso do banheiro, Independente 18 100%
controle do esfíncter anal, banho, vestir-se e transferências Manejo com dinheiro
100% (n=18) da amostra, apresentaram não possuir nenhu- Independente 12 67%
Realiza compras pequenas,
ma dependência (tabela 4).
mas necessita de ajuda com cheque e
A aplicação da Escala de Lawton e Brody verificou de pagamento de contas 6 33%
um modo geral que 39% (n=7) da amostra são independentes
na realização das AIVD’s, 56% (n=10) possuem uma depen- Algumas variáveis da Escala de Lawton e Brody são res-
dência leve para a realização dessas atividades e 6% (n=1) tritas ao gênero feminino. Verificou-se na amostra feminina
possui uma dependência moderada (gráfico 3). (n=13) que 85% (n=11) são capazes de organizar, preparar
Verificou-se com a aplicação da Escala de Lawton e e servir adequadamente as refeições, 62% (n=8) são capazes
Brody que 61% (n=11) da amostra utilizam telefone por ini- de realizar as tarefas domésticas e 69% (n=9) são capazes de
ciativa própria, 56% (n=10) realizam de forma independente lavar toda a roupa (tabela 6).
compras pequenas, 83% (n=15) utilizam meios de transpor- Foi evidenciado que para a realização das atividades de
te de forma independente, no manejo com dinheiro, 67% um modo geral, 33% (n=6) da amostra não possuem nenhuma
(n=12) são capazes de fazer todas as compras necessárias e dependência. Observa-se também que 33% (n=6) da amos-
pagar contas. Ressalta-se que em relação ao manejo da me- tra não possuem dependência para realizar AVD’s, porém
dicação 100% (n=18) da amostra são capazes de tomar suas possuem uma dependência leve para AIVD’s, 22% (n=4) da
medicações nos horários e dosagens corretas (tabela 5). amostra possuem dependência leve para ambos os tipos de

156
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Tabela 6: Distribuição dos dados de acordo com os resulta- dência em 28% (n=5) da amostra que participa do grupo de
dos obtidos com as variáveis da Escala de Lawton e Brody convivência de 5 a 6 anos. Observa-se também independên-
restritas ao gênero feminino. Fortaleza/CE. cia em 22% (n=4) da amostra que participa de 1 a 2 anos e
n % 17% (n=3) com menos de 1 ano (tabela 10).
Preparação das refeições Independente 11 85%
Necessita que lhe preparem e sirva 2 15% Tabela 10: Distribuição dos dados de acordo com a relação entre o Índice
Tarefas domésticas Independente 8 62% de Barthel e o tempo de participação no grupo de convivência. Fortaleza/CE.
Tarefas rápidas 5 38% Tempo de Independente Dependência Total
Lavagem da roupa Independente 9 69% Participação/AVD Leve
Pequenas peças de roupas 4 31% n % n % n %
Menos de 1 ano 3 17% -- -- 3 17%
De 1 a 2 anos 4 22% 3 17% 7 39%
atividades, 6% (n=1) da amostra possuem dependência leve De 3 a 4 anos -- -- 2 11% 2 11%
para AVD’s e não possuem dependência para AIVD’s e 6% De 5 a 6 anos 5 28% 1 6% 6 33%
(n=1) da amostra possuem dependência leve para AVD’s e Total 12 67% 6 33% 18 100%
dependência moderada para AIVD’s (tabela 7).
Relacionando as AIVD’s e o tempo de participação, ve-
Tabela 7: Distribuição dos dados de acordo com a relação rificou-se a prevalência de dependência leve em 22% (n=4)
entre o Índice de Barthel e a Escala de Lawton e Brody. e independência em 17% (n=3) da amostra que participa do
Fortaleza/CE. grupo de convivência de 1 a 2 anos. Observa-se também
AIVD\ AVD Independente Dependência Leve Total dependência leve em 17% (n=3) e independência em 11%
n % n % n % (n=2) da amostra que participa de 5 a 6 anos (tabela 11).
Independente 6 33% 1 6% 7 39%
Dependência Leve 6 33% 4 22% 10 56% Tabela 11: Distribuição dos dados de acordo com a relação
Dependência Moderada -- -- 1 6% 1 6%
entre a Escala de Lawton e Brody e o tempo de participação
Total 12 67% 6 33% 18 100%
no grupo de convivência. Fortaleza/CE.
Idade\AIVD Independente Dependência Dependência Total
Relacionando a faixa etária com a realização de AVD’s
Leve Moderada
foi evidenciado que quanto maior a idade menor o número n % n % n % n %
de idosos independentes. Observa-se que a prevalência de Menos de 1 ano 1 6% 2 11% -- -- 3 17%
idosos independentes foi com faixa etária de 60 a 69 anos De 1 a 2 anos 3 17% 4 22% -- -- 7 39%
com 33% (n=6) da amostra e na faixa etária de 80 anos ou De 3 a 4 anos 1 6% 1 6% -- -- 2 11%
mais, apresentou 6% (n=1) de idosos que não possuem de- De 5 a 6 anos 2 11% 3 17% 1 6% 6 33%
Total 7 39% 10 56% 1 6% 18 100%
pendência para AVD’s (tabela 8).

Tabela 8: Distribuição dos dados de acordo com a relação


entre a faixa etária e AVD’s. Fortaleza/CE. Discussão
Idade\AVD Independente Dependência Leve Total Este estudo verificou uma prevalência do gênero femi-
n % n % n % nino dentre os idosos participantes do grupo de convivência,
60-69 anos 6 33% 2 11% 8 44%
outros estudos, como o de Borges27 e de Andrade28 corrobo-
70-79 anos 5 28% 2 11% 7 39%
80 anos ou mais 1 6% 2 11% 3 17% raram com este achado, caracterizando o fenômeno da fe-
Total 12 67% 6 33% 18 100% minilização da população idosa. Outros estudos como o de
Vargas29 e Sampaio30, ressaltam que há uma prevalência de
Relacionando também a faixa etária com a realização idosos participantes em grupos de convivência com a faixa
de AIVD’s foi evidenciado que quanto maior a idade maior a etária entre 60 a 69 anos, sendo este, um achado comum na
dependência. Observa-se que a prevalência de idosos indepen- presente pesquisa. A maior participação de idosos na faixa
dentes foi com faixa etária de 60 a 69 anos com 22% (n=4) e etária em questão, pode estar relacionada ao início da apo-
na faixa etária de 80 anos ou mais nenhum idoso apresentou- sentaria, fazendo com que o indivíduo busque esses grupos
-se independente para realizar as AVD’s (tabela 9). para manter relações interpessoais.
A baixa participação de idosos com idade a partir de 80
Tabela 9: Distribuição dos dados de acordo com a relação anos, pode estar relacionada ao grau de dependências e co-
entre a faixa etária e AIVD’s. Fortaleza/CE. morbidades, devido ao aumento da idade, pois esses fatores
Idade\AIVD Independente Dependência Dependência Total podem limitar o acesso e a participação dos idosos em en-
Leve Moderada contros com grupo, devido à diminuição da mobilidade.
n % n % n % n %
Observando o estado civil da amostra em questão foi
60-69 anos 4 22% 4 22% -- -- 8 44%
70-79 anos 3 17% 4 22% -- -- 7 39%
possível verificar que houve a prevalência de idosos ca-
80 anos ou mais -- -- 2 11% 1 6% 3 17% sados. Em contrapartida, os achados na literatura relatam
Total 7 39% 10 56% 1 6% 18 100% que a maioria dos idosos participantes de grupos de convi-
vência são viúvos, como mostra o estudo de Silva31 e Ga-
Na relação entre as AVD’s e o tempo de participação no listeu32. A prevalência na literatura de idosos viúvos que
grupo de convivência, verificou-se a prevalência de indepen- frequentam grupos de convivência pode estar relacionada

157
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

ao não isolamento e à solidão, pois para muitos é uma pos- em comparação ao gênero masculino. No estudo de Silva31
sibilidade de socialização. foi verificado uma amostra de 55,4% que afirmaram possuir
No que diz respeito ao nível de escolaridade, identifi- uma boa alimentação.
cou-se que tanto a presente pesquisa como outros estudos Dentre as Doenças Crônicas Não Transmissíveis
tomados como base como o de Sampaio30 e Benedetti33, re- (DCNT), a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) foi a de
velaram que a maioria dos gerontos possuem algum nível maior prevalência, presente em 72% dos idosos do serviço
de escolaridade. Sendo um bom indicativo contra os riscos de convivência, prevalência condizente com achados na lite-
à saúde, pois o idoso não alfabetizado pode ter uma maior ratura38. A HAS é apontada como um fator de risco para as
dependência em relação aos alfabetizados. doenças cardiovasculares, podendo interferir de forma nega-
Verificou-se nesta pesquisa que 94% dos idosos são apo- tiva na capacidade funcional.
sentados. Sendo esta prevalência um achado comum, como Quando questionados quanto à sua autoavaliação de
no estudo de Girondi34. Esse achado pode ser comum devido saúde, 44% da amostra declararam como boa, sendo essa
à inatividade laboral, levando o geronto a buscar meios de prevalência um achado comum na literatura, como na pes-
socialização e utilização do tempo de ociosidade. quisa de Silva36. Esses resultados sugerem que os grupos de
A pesquisa ressalta que a renda familiar apresentada por convivência de idosos podem ser considerados importantes
100% dos idosos estudados foi de 1 a 2 salários mínimos. Nes- veículos para gerar informações sobre doenças, promovendo
se sentido o presente estudo se equipara com os resultados de educação em saúde.
pesquisas anteriores, como no de Sampaio30 e Celich35. Visto Em relação ao uso de medicamentos, verificou-se que
que a participação nos grupos de convivência é economica- 89% da amostra faz uso de pelo menos um fármaco, o pre-
mente, uma boa opção de lazer para os indivíduos que pos- sente estudo foi condizente com a pesquisa de Borges27.
suem uma baixa renda familiar, realidade essa que é comum Este resultado mostra que o uso de medicamentos parece
em diferentes regiões do Brasil. não ser um fator que limita a participação dos idosos no
Em concordância com o estudo de Silva36, 72% dos ido- grupo de convivência.
sos, sujeitos do estudo, afirmaram que residem com pelo me- Em relação à capacidade funcional foi verificado na
nos uma pessoa. Com essa informação indica-se que grupos amostra com os dados obtidos, através do Índice de Barthel
de convivência de idosos poderiam desenvolver atividades e da Escala de Lawton a prevalência de independência para a
com um caráter de integração entre o grupo de convivência, realização das AVD’S e uma dependência leve para realizar
o idoso e a família desse indivíduo. AIVD’S. Estudos realizados anteriormente, corroboram esse
Diferentemente de outras pesquisas como na de Bor- achado como em Nunes39.
ges27, Andrade28 e Celich35 onde a prevalência do tempo de Relacionando a faixa etária com a funcionalidade, a ida-
participação em grupos de convivência foi de mais de 5 de mostrou-se um fator fortemente associado à diminuição
anos, este estudo verificou uma maior prevalência de 39% da capacidade funcional. No presente evidenciou-se que os
de 1 a 2 anos de participação no serviço de convivência do idosos com idades de 80 anos ou mais foram os que apre-
CRAS-Pajuçara. Sugere que mais idosos estão buscando os sentaram maior dependência para AVD’s e AIVD’s, quando
grupos de convivência, possibilitando melhorar a qualidade comparados aqueles com idades entre 60 e 69 anos, corrobo-
de vida e a socialização. rando os resultados encontrados em outros estudos37,40. Em
Relacionando o tempo de participação no grupo de con- geral, limitações funcionais são mais frequentes em indiví-
vivência com a funcionalidade, verificou-se que os indiví- duos com mais idade decorrente do próprio envelhecimento
duos que se apresentaram mais funcionais foi a amostra que e ao maior número de comorbidades.
participa de 1 a 2 anos. Não sendo encontrado na literatura A aposentadoria e a inatividade laboral constituem
dados relacionando a funcionalidade e o tempo de partici- como um dos principais fatores desencadeantes de alte-
pação. Visto também que a faixa etária com maior funcio- rações psicológicas e sociais, pois leva o geronto a uma
nalidade foi a de 60 a 69 anos, que também é a faixa etária desvalorização social, podendo representar do ponto de
de maior prevalência em relação ao tempo de participação vista emocional, a perda da sua identidade. Dessa forma,
de 1 a 2 anos. Indicando que os idosos participantes há mais as atividades realizadas em grupos de convivência podem
tempo são os mesmos que possuem as maiores idades e con- ajudar em relação a estes problemas, já que o grupo permite
sequentemente, uma maior dependência. atividades sociais e interpessoais.
No que diz respeito a pratica de atividade física foi evi- Como a incapacidade funcional aumenta com a idade é
denciado que 56% da amostra realiza algum tipo de ativida- necessário um acompanhamento do idoso na atenção primá-
de física. Apresentando resultados superiores a outros es- ria, monitorando sua condição de saúde de uma maneira ge-
tudos como no de Santos37, onde o percentil de idosos que ral, já visto que muitos fatores podem levar a incapacidade.
praticam atividade física foi de 15,3% da amostra. Sendo a A fisioterapia é uma ciência da área da saúde que estuda,
pratica de atividade física um meio de melhorar a capaci- previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais intercorrentes
dade funcional. em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados por altera-
Em relação à alimentação saudável, o presente estudo ções genéticas, por traumas e por doenças adquiridas41. Por-
verificou que 89% da amostra, possui uma alimentação sau- tanto, se faz necessária a inclusão do fisioterapeuta na atenção
dável, destes 75% são do gênero feminino. Evidenciando primária em saúde, visto que a capacidade funcional já declina
que as mulheres têm mais cuidados com sua própria saúde com o envelhecimento. Sendo realizada educação em saúde,

158
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

prevenção e assistência fisioterapêutica coletiva, promovendo 13. Pedrazzi EC, Rodrigues RAP, Schiaveto FV. Morbidade referida e capacidade fun-
cional de idosos. Cienc. Cuid. Saude. 2007;6(4): 407-413.
melhora da qualidade de vida e manutenção da funcionalida- 14. Ferreira TCDR, Pinto DDS, Pimentel KA, Peixoto Júnior ODS. Análise da capaci-
de. Mesmo com as práticas de saúde ainda predominantemen- dade funcional de idosos institucionalizados. RBCEH. 2011;8(1): 9-20.
15. Lobo A, Pereira A. Idoso Institucionalizado: Funcionalidade e Aptidão Física. Re-
te centradas na recuperação e não na prevenção. vista Referência. 2007;2(4): 61-68.
No que se refere à prevenção dos agravos e na promoção 16. Oliveira IA, Kronbauer GA, Binotto MA. Doenças e nível de atividade física em
idosos. RBCEH. 2012;9(2): 263-273.
da saúde, de um modo geral, o fisioterapeuta pode contri- 17. Vale RGDS, Barreto ACG, Novaes JDS, Dantas EHM. Efeitos do treinamento
buir na identificação de vulnerabilidade, dos fatores de risco resistido na força máxima, na flexibilidade e na autonomia funcional de mulheres
idosas. Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum. 2006;8(4): 52-8.
para doenças crônicas, na investigação de evidências da efe- 18. Frank S, Santos SMA, Assman A, Alves KL, Ferreira N. Avaliação da capacidade
tividade das práticas de cinesioterapia e/ou atividade física, funcional: repensando a assistência ao idoso na saúde comunitária. Estud. interdis-
cip. envelhec. 2007;11: 123-134.
na oferta de suporte e orientações na prevenção de quedas, 19. Parayba MI, Veras R, Melzer D. Incapacidade funcional entre as mulheres idosas-
incapacidades e deformidades, dentre outras atribuições42. no Brasil. R. Saúde Públ. 2005;39(3): 383-391.
20. Pinto FNFR, Oliveira DC. Capacidade funcional e envolvimento social em idosos:
As limitações da pesquisa incluem ter sido realizada há relação?. RBCEH. 2015;12(1): 56-68.
com idosos de apenas um grupo de convivência, consequen- 21. Alves LC, Leimann BCQ, Vasconcelos MEL, Carvalho MS, Vasconcelos AGG,
Fonseca TCO, Laurenti R. A influência das doenças crônicas na capacidade fun-
temente, a totalidade da amostra ser composta por um núme- cional dos idosos do Município de São Paulo, Brasil. The effect of chronic diseases
ro pequeno de indivíduos. on functional status of the elderly living in the city of São Paulo, Brazil. Cad.
Saúde Pública. 2007;23(8): 1924-1930.
22. Santos SC, Knijnik JF. Motivo de adesão à prática de atividade física na vida adulta
Conclusão intermediaria. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. 2006;5(1): 23-34.
23. Maciel MG. Atividade física e funcionalidade do idoso. Motriz. 2010;16(4):
Diante desses achados, ressalta-se a prevalência de 1024-1032.
24. Costa EC, Nakatani AYK, Bachion MM. Capacidade de idosos da comunidade
idosas, casadas, com idades entre 60-69 anos, com renda para desenvolver atividades de vida diária e atividades instrumentais de vida diá-
mensal de um a dois salários mínimos, que possuem algum ria. Acta Paul Enferm. 2006;19(1): 43-35.
25. Shah S, Vanclay F, Cooper B. Improving the sensitivity of the Barthel Index for
nível de escolaridade, moram em casa própria e acompa- stroke rehabilitation. Journal of Clinical Epidemiology. 1989;42(8): 703–709.
nhados, têm de 1 a 2 anos de participação no grupo e sem- 26. Lawton MP, Brody EM. Assessment of older people: Self-maintaining and instru-
mental activities of daily living. The Gerontologist. 1969;9(3): 179-186.
pre participam das atividades, praticam atividade física, 27. Borges PLDC, Bretas RP, Azevedo SFD, Barbosa JMM. Perfil dos idosos frequen-
não possuem hábito de tabagismo e de etilismo e possuem tadores de grupos de convivência em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad.
saúde pública. 2008;24(12): 2798-2808.
uma alimentação saudável. 28. Andrade ADN, Nascimento MMPD, Oliveira MMDD, Queiroga RMD, Fonseca
Conclui-se que a prevalência dos idosos da amostra em FLA, Lacerda SNB, Adami F. Percepção de idosos sobre grupo de convivência:
estudo na cidade de Cajazeiras-PB. Rev. bras. geriatr. Gerontol. 2014;17(1): 39-48.
estudo foram os que não possuem nenhuma dependência 29. Vargas AC, Portella MR. O diferencial de um grupo de convivência: equilíbrio
ou apresentam uma dependência leve para a realização das e proporcionalidade entre os gêneros. Kairós. Revista da Faculdade de Ciências
Humanas e Saúde, 2013;16(2): 227-238.
AVD’s e AIVD’s. Observa-se também que a idade é inversa- 30. Sampaio, L. S. Alguns aspectos epidemiológicos dos idosos participantes de um
mente proporcional à capacidade funcional. Visto que quan- grupo de convivência no município de Jequié-BA.Saúde. com, 2016;3(2): 19-26.
31. Silva HO, Carvalho MJADD, Lima FELD, Rodrigues LV. Perfil epidemiológico
to maior a idade menor é a capacidade funcional, ou seja, de idosos frequentadores de grupos de convivência no município de Iguatu, Ceará.
mais dependência esse pode indivíduo apresentar. Rev. bras. geriatr. gerontol, 2011;14(1): 123-133.
32. Galisteu KJ, Facundim SD, Ribeiro RCHM, Soler ZASG. Qualidade de vida de
idosos de um grupo de convivência com a mensuração da escala de Flanagan. Arq
Referências Ciênc Saúde, 2006;13(4): 209-14.
33. Benedetti TRB, Mazo GZ, Borges LJ. Condições de saúde e nível de atividade
1. Mendes MRSSB, Gusmão JL, Faro ACM, Leite RCBO. A situação social do idoso física em idosos participantes e não participantes de grupos de convivência de
no Brasil: uma breve consideração. Acta Paul Enferm. 2005;18(4): 422-6. Florianópolis. Cien Saude Colet, 2012;17(8): 2087-2093.
2. Freitas MC, Queiroz TA, DE Sousa JAV. O significado da velhice e da experiência 34. Girondi JBR, Almeida Hammerschimidt KS, Tristão FR, Fernandez DLR. O uso do
de envelhecer para os idosos. Rev. Esc. Enferm. USP. 2010;44(2): 407–412. Índice de Barthel Modificado em idosos: contrapondo capacidade funcional, depen-
3. Silva MV, Figueiredo MLF. Idosos institucionalizados: uma reflexão para o cuida- dência e fragilidade. Journal of Health & Biological Sciences, 2014;2(4): 213-217.
do de longo prazo. Enferm. Foco. 2012;3(1): 22-4. 35. Celich KLS, Silva RB, Souza SMS. Perfil socioeconômico e de saúde dos ido-
4. Brasil. IBGE. Censo Demográfico 2010. Sinopse do Censo e Resultados Prelimi- sos participantes de um grupo de convivência. Journal of Nursing UFPE on line,
nares do Universo. Rio de Janeiro: Abril/2011. 2009;3(4): 919-926.
5. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde. Envelhecimento ativo: uma polí- 36. Silva SLA, Vieira RA, Arantes P, Dias RC. Avaliação de fragilidade, funcionali-
tica de saúde / World Health Organization; tradução Suzana Gontijo, 2005. dade e medo de cair em idosos atendidos em um serviço ambulatorial de geriatria
6. Silveira SC, Faro ACM, Oliveira CLA. Atividade física, manutenção da capaci- e gerontologia. Fisioterapia e Pesquisa, 2009;16(2): 120-125.
dade funcional e da autonomia em idosos: revisão de literatura e interfaces do 37. Santos KA, Koszuoski R, Dias-da-Costa JS, Pattussi MP. Fatores associados com
cuidado. Estud. interdiscipl. Envelhec. Porto Alegre. 2011;16(1): 61-77. a incapacidade funcional em idosos do Município de Guatambu, Santa Catarina,
7. Knorst MR, Sousa MATD, Bós ÂJG. Necessidades fisioterapêuticas de idosos em Brasil. Cad. saúde pública, 2007;23(11): 2781-2788.
atendimento ambulatorial. RBCEH. 2010;7(1): 11-21. 38. Traldi LPZ, Santos JLF. O perfil das doenças apresentadas e o nível de atividade
8. Schneider ARDS. Envelhecimento e quedas: a fisioterapia na promoção e atenção física desenvolvido por idosos caidores e não caidores. Revista Brasileira de Ciên-
à saúde do idoso. RBCEH. 2010;7(2): 296-303. cias do Envelhecimento Humano, 2014;11(3): 219-230.
9. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de 39. Nunes DP, Nakatani AYK, Silveira EA, Bachion MM, Souza MD. Capacida-
Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. – Brasília: Ministério da de funcional, condições socioeconômicas e de saúde de idosos atendidos por
Saúde, 2007. equipes de Saúde da Família de Goiânia (GO, Brasil). Ciênc saúde coletiva,
10. Sachett A, Vidmar MF, Silveira MMD, Wibelinger LM. Equilíbrio x Envelheci- 2010;15(6): 2887-98.
mento Humano: um desafio para a fisioterapia. R. Ci. med. biol. 2012;11(1): 64-9. 40. Fiedler MM, Peres KG. Capacidade funcional e fatores associados em idosos
11. Gonçalves LHT, et al. O idoso institucionalizado: avaliação da capacidade fun- do Sul do Brasil: um estudo de base populacional.Cadernos de Saúde Pública,
cional e aptidão física. Institutionalized elderly: functional capacity and physical 2008;24(2): 409-415.
fitness. Cad. Saúde Pública. 2010;26(9): 1738-46. 41. COFFITO. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, 2010.
12. Maciel ÁCC, Guerra RO. Influência dos fatores biopsicossociais sobre a capaci- 42. Aveiro MC, Aciole GG, Driusso P, Oishi J. (). Perspectivas da participação do
dade funcional de idosos residentes no nordestes do Brasil. Rev. Bras. Epidemiol. fisioterapeuta no Programa Saúde da Família na atenção à saúde do idoso. Ciência
2007;10(2): 178-189. & Saúde Coletiva. 2011;16(1): 1467-1478.

159
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Artigo Original

Análise do grau de satisfação de universitárias entre


18 e 30 anos submetidas a tratamento de
estrias atróficas através da corrente microgalvânica

Analysis of the satisfaction degree of female university


between 18 and 30 years subjected to treatment of
atrophic striaes with micro galvanic current

Fernanda Santos Azevêdo1, Geraldo Magella Teixeira2, Lousane Leonoura Alves Santos3

1. Graduanda em Fisioterapia/ UNCISAL – AL Resumo


2. Fisioterapeuta: Mestre em Ciências da Saúde/
UFRN; Docente UNCISAL-AL
As alterações comportamentais e emocionais presentes na vida das pessoas
3. Fisioterapeuta: Pós-Graduanda em Fisiotera- portadoras de estrias são bastante significativas, pelos efeitos prejudiciais na auto-
pia Dermato-funcional / FIR – PE. -estima e no senso estético corporal. Estria é uma atrofia tegumentar adquirida,
de aspecto linear, algo sinuosa, de um ou mais milímetros de largura, a princípio
avermelhada, depois esbranquiçada e abrilhantada (nacarada). Comum em seres
Endereço para correspondência: Fernanda humanos por sua etiologia multifatorial, que levam ao desequilíbrio das estruturas
Santos Azevedo – Rua dos Caetés, Residen- componentes do tecido conjuntivo da pele, as estrias são desagradáveis aos olhos,
cial San Nicolas, QD D19 – Serraria. CEP: impactam o bem-estar psíquico e tornam-se um problema de saúde. O presente es-
57046-360 – Maceió – AL.
Fone: (82) 3328-3384 / (82) 9975-4592
tudo objetivou analisar o grau de satisfação das pacientes frente ao efeito da apli-
E-mail: nanda_azevedoo@hotmail.com cação corrente microgalvânica no tratamento de estrias. Composto inicialmente
por 26 mulheres entre 18 e 30 anos, porém apenas 21 conseguiram chegar ao final
da pesquisa. Foi aplicado questionário baseado na escala de Likert, para avaliar o
grau de satisfação das pacientes, antes e após aplicação de 10 sessões de fisiotera-
Recebido para publicação em 12/06/2022 e acei- pia com corrente microgalvânica. Os resultados apontam um significativo ganho
to em 10/09/2022, após revisão. de satisfação das pacientes.

Palavras-chave: fisioterapia, estrias, auto-estima, saúde.

160
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
The emotional and behavioral changes that happen in the lives of people who suffer from striaes are quite significant,
mainly because of the harmful effects on the self-esteem and on the aesthetic body sense. Stria is a gained tegument atrophy,
with linear aspect, a little sinuous, with one or more millimeters of thickness, which begins reddish, and becomes whitish
and shiny. Common in human beans for its multifatorial etiology, which leads to the imbalance of the component structures
of the skin connective tissue, the striaes are unpleasant for seeing, and causes impact on the Psychological well-being and
then become a health problem. The objective of this study is to analyze the satisfaction degree of the patients with the effect
of micro galvanic current applied in striae’s treatment. There were studied 26 women between 18 and 30 years, but only 21
were able to reach the end of the research. A questionnaire was applied based on Likert scale to evaluate the patient’s satis-
faction degree, before and after the application of 10 sessions of physiotherapy with micro galvanic current. The results show
a significant gain on patient’s satisfaction.

Keywords: physiotherapy, striaes, self-esteem, health.

Introdução
É notável a busca constante de recursos e técnicas apro- sacral (comum em homens), podendo ocorrer também em
priadas para a reparação do tecido conjuntivo lesado pela regiões pouco comuns, como fossa poplítea, tórax, região
incidência de estrias. ilíaca, antebraço, porção anterior do cotovelo1,3.
Palavras como: distúrbio, lesão, atrofia, são emprega- .A estria é relatada na maior parte da literatura como
das nas diversas definições patológicas de estrias, portanto, sendo uma lesão irreversível; essa irreversibilidade está em-
constituem um problema de saúde, para o qual se voltam os basada em exames histológicos, que mostram redução no
olhares dos profissionais da área de Fisioterapia Dermato- número e volume dos elementos da pele, rompimento de fi-
-funcional na busca de alternativas para, senão erradicarem, bras elásticas, pele delgada e redução da espessura da derme,
pelo menos minimizarem as consequências físicas e psico- com fibras colágenas separadas entre si. No centro da lesão
-sociais dos portadores de estrias. há poucas fibras elásticas, enquanto que na periferia estas,
A estria é uma atrofia tegumentar adquirida, de aspecto encontram-se onduladas e agrupadas4.
linear, algo sinuosa, de um ou mais milímetros de largura, a .Ao utilizar-se a corrente contínua filtrada constante da
princípio avermelhada, depois esbranquiçada e abrilhantada ordem de alguns micros amperes (microgalvânica), abriu-
(nacarada). Raras ou numerosas dispõem-se paralelamente -se uma nova perspectiva no tratamento de estrias. Dados
umas às outras e perpendicularmente às linhas de fenda da preliminares mostraram que ocorre um acentuado aumento
pele, indicando um desequilíbrio elástico localizado, carac- no número de fibroblastos jovens, uma neovascularização
terizando, portanto, uma lesão da pele. Apresentam caráter e o retorno da sensibilidade dolorosa após algumas sessões
de bilateralidade, isto é, existe uma tendência da estria distri- de eletro-estimulação5,6. A eficácia do tratamento, desde que
buir-se simetricamente e em ambos os lados1. controladas as variáveis, pode chegar até 100%, dependendo
As estrias atróficas são encontradas em ambos os se- da capacidade reacional de cada paciente, variando o número
xos, com predominância no feminino, principalmente a de sessões de acordo com a cor da pele, a idade e tamanho
partir da adolescência. A maior incidência de estrias em das estrias. É importante que não haja promessa de elimina-
meninas ocorre entre doze e quatorze anos, e nos meninos, ção total das estrias, visto que é impossível prever o resulta-
de doze a quinze anos. Entretanto, as estrias são notadas em do para todos os indivíduos6.
todos os grupos etários. Na mulher adulta saudável, a inci- Tendo em vista que saúde não é unicamente a ausência
dência de estrias é 2,5 vezes mais freqüente que no homem de doença, mas sim um bem-estar físico e psicológico, as
nas mesmas condições1. estrias passam a ter grande importância social7-9. Estas além
O surgimento dos sintomas iniciais é variável, sendo que de serem desagradáveis aos olhos, do ponto de vista estéti-
os primeiros sinais clínicos podem ser caracterizados por: co, desencadeiam alterações comportamentais e emocionais,
prurido, dor (em alguns casos), erupção papular plana e le- acarretando uma baixa auto-estima, impedindo a completa
vemente eritematosa (rosada)1. harmonia entre corpo e mente, aspectos diretamente relacio-
Freqüentemente, elas são observadas em indivíduos nados a questões que fazem parte do mundo contemporâneo,
obesos, durante a gravidez (principalmente último trimes- envolvendo o culto ao corpo1,10.
tre), nas síndromes de Cushing e Marfan, em indivíduos que A partir desta valorização do corpo é que vem a necessi-
fazem uso tópico ou sistêmico de esteróides (cortisona ou dade de se descobrir o tratamento que promova uma melhoria
ACTH), nos tumores da supra-renal, infecções agudas e de- na satisfação pessoal elevando a auto-estima e proporcionan-
bilitantes (febre tifóide, AIDS, lupus), atividade física vigo- do a saúde. Neste intuito, a Fisioterapia Dermato-funcional
rosa (musculação), estresse ou em outras condições1,2. utiliza um equipamento de corrente microgalvânica que visa
.Quanto à localização das estrias, pode-se observar uma a melhoria da aparência da estria. Este equipamento compõe-
incidência maior nas regiões que apresentam alterações te- -se de um gerador de corrente galvânica filtrada constante, o
ciduais como glúteos, seios, abdome, coxas, região lombo- qual apresenta dois eletrodos, um passivo do tipo placa e um

161
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

ativo espacial, que consiste de uma fina agulha sustentada inflamação crônica desencadeada pela persistência do estí-
por uma caneta1. mulo inflamatório agudo.
A corrente galvânica possui um fluxo constante de elé- O tratamento foi realizado unilateralmente na região
trons em uma só direção, a qual não sofre interrupção nem escolhida pela paciente, para um melhor acompanhamento
varia sua intensidade na unidade de tempo. Chamada tam- da pesquisadora e paciente quanto à evolução do mesmo.
bém de corrente contínua, corrente direta, unidirecional ou Nesse período as voluntárias foram orientadas a não se ex-
corrente constante. É uma corrente dita polar porque man- porem ao sol, evitando as manchas da pele; como também
tém definida a polaridade durante o tempo da aplicação, com não utilizarem medicações sobre o local em estudo a fim
ação a nível mais superficial9,11-13. de resolver o processo inflamatório, pois para obter-se um
A intensidade da corrente microgalvânica utilizada em resultado benéfico se faz necessário manter a resposta in-
estética se reduz à décima parte (0,1mA = 100 µA). Não se flamatória após a estimulação1.
trabalha com miliampères e sim com microampères, em- Uma semana após o término das dez sessões, foi realiza-
prega-se esta corrente ao utilizar-se um eletrodo do tama- do pelo examinador um novo exame físico para avaliar as al-
nho pequeno, onde se fazem necessárias intensidades me- terações estéticas e o questionário sobre o grau de satisfação
nores. Essa forma de aplicação é utilizada, normalmente, foi reaplicado para avaliar se houve mudança na auto-estima
em locais pequenos como estrias, cicatrizes e rugas. Quan- da paciente. Em seguida, foram estatisticamente calculados
to menor for o eletrodo, menor será a intensidade máxima os dados obtidos.
tolerável, e vice-versa14,15. Análise dos dados
Os dados foram analisados através da avaliação física e
Metodologia do questionário aplicado antes do tratamento e no final do
tratamento. Para análise das variáveis foi aplicado o teste
População de estudo
de Wilcoxon.
A pesquisa foi realizada após a aprovação do CEP (Comi-
tê de Ética em Pesquisa) da UNCISAL (Universidade Estadual
de Ciências da Saúde de Alagoas). A população de estudo foi Resultados
composta por universitárias entre 18 e 30 anos que possuíam Durante a realização da pesquisa apenas 21 universitá-
estrias. Foram excluídas gestantes ou portadoras de patologias rias do grupo de 26 conseguiram chegar ao término das dez
que contra-indicassem o uso da corrente microgalvânica. O aplicações propostas pelo trabalho, as quais apresentavam
cálculo do tamanho da amostra foi realizado com o aplicativo uma média de idade de 23 anos (desvio padrão de 23,27),
BioEstat 4.0/2005, adotando 0,05 como nível de alfa (α), po- com média de 11 anos de menarca (desvio padrão de 11,58).
der de teste 90% e proporção populacional de 97%, resultando Das 21 participantes tivemos 71,5% pardas, 19% brancas e
tamanho da amostra ajustada em 26 indivíduos. 9,5% negras; quanto ao número de gestação 85,7% nulípa-
Procedimentos ras, enquanto que 14,3% eram primíparas. Foi constatado
Antes de iniciar as 10 sessões de Fisioterapia com cor- que, em 95,2% dos casos as estrias surgiram no período da
rente microgalvânica foram realizadas avaliação das pacien- adolescência, ficando os outros 4,8% na fase gestacional.
tes e aplicação de questionário para detectar o grau de sa- Quando questionadas quanto à coloração inicial das es-
tisfação das mesmas, com base na escala de LIKERT onde trias, 76,2% relataram que eram vermelhas e apenas 23,8%
requer que os entrevistados indiquem seu grau de concordân- diziam ser brancas. Já a coloração das estrias no período
cia ou discordância com as informações que estão sendo ava- da pesquisa foi relatada que 95,2% eram brancas e 4,8%
liadas atribuindo valores numéricos às respostas para refletir apresentavam-se violácea. Após as dez sessões, 76% das
a força e a direção da reação do entrevistado à declaração, voluntárias relataram que as estrias foram se assemelhando
nas quais as concordâncias devem receber valores positivos ao tom da pele, enquanto que 24% permaneceram brancas
ou altos enquanto as declarações das quais discordam devem ou tornaram-se brancas, no caso da violácea, variando em
receber valores negativos ou baixos16. tamanho e espessura.
Para realização da puntura do tecido cutâneo foi utiliza- A região glútea foi a que mais apresentou estrias em
do previamente álcool a 70% para limpeza da região, com a 66,7% das participantes, outras regiões (costas, coxa, seios e
finalidade de diminuir a resistência do tecido além de evitar abdômen) apresentaram uma faixa de 14,2% cada, ressaltan-
infecções. O procedimento consistiu na introdução da agu- do que algumas voluntárias apresentavam insatisfação com a
lha de forma subepidérmica em toda a extensão da estria, presença de estrias em mais de uma região.
realizada em 45° de inclinação, por dois segundos, durante Para analisar o grau de satisfação foi utilizado um ques-
cinquenta minutos1. O eletrodo passivo (úmido) ficou aco- tionário com a escala de LIKERT adaptada logo no primeiro
plado próximo da região a ser tratada. Cada paciente possuiu encontro, dia da avaliação, e no último, após as dez aplica-
uma agulha, pois eram de uso individual, e ao final de cada ções da microcorrente.
sessão eram esterilizadas com gluteraldeído que possui ação Na primeira questão mencionava a satisfação quanto à
esporicida, garantindo uma boa esterilização17. presença de estrias e o resultado inicial foi que 42,8% das
As estimulações subsequentes da corrente microgalvâ- pesquisadas encontravam-se insatisfeitas, 28,6% muito in-
nica só puderam ser realizadas após o término do processo satisfeita e 28,6% nem satisfeita nem insatisfeita; após a
inflamatório, evitando assim, o risco de desenvolver uma décima sessão, o resultado encontrado foi 9,5% insatisfeita,

162
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

9,5% nem satisfeita nem insatisfeita, 66,7% satisfeita, 14,3% Tabela 2: Representação comparativa das três últimas ques-
completamente satisfeita, dados estes mostrados na tabela I tões contidas no questionário.
com um p de 0,0001. 4° questão 5° questão 6° questão
Na segunda, foram questionadas inicialmente quanto à antes depois antes depois antes depois
quantidade de estrias 42,8% estavam insatisfeitas, 38,1% mui- Muito insatisfeito 33,3% 4,8% 47,6% 4,8% 19,2% 0%
Insatisfeito 28,6% 9,5% 28,6% 9,5% 23,8% 4,8%
to insatisfeita e 19,1% nem satisfeita nem insatisfeita; após o
Nem satisfeito
tratamento 19,1% mostraram-se insatisfeitas, 9,5% nem satis- nem insatisfeito 38,1% 19,1% 23,8% 9,5% 52,3% 23,8%
feita nem insatisfeita, 61,9% satisfeita e 9,5% completamente Satisfeito 0% 52,3% 0% 61,9% 4,7% 57,1%
satisfeita dando um p < que 0,0001. Veja na tabela 1. Completamente 0% 14,3% 0% 14,3% 0% 14,3%
Já a terceira questão interrogava sobre o sentimento satisfeito
das pacientes ao olhar para a região estriada, demonstrando Fonte: Dados da pesquisa
que 47,6% estavam muito insatisfeitas, 28,6% insatisfeita e
23,8% nem satisfeita nem insatisfeita; ao final das sessões
Gráfico 1: Comparação do grau de satisfação das pacien-
9,5% estavam insatisfeitas, 14,3% nem satisfeita nem insa-
tes, conforme convenção: muito insatisfeita (MI), insatis-
tisfeita, 61,9% satisfeita, 9,5% completamente satisfeita e
feita (I), nem satisfeita nem insatisfeita (NSNI), satisfeita
4,8% muito insatisfeita. Mostrando sua significância com p
(S), completamente satisfeita (CS) antes e após as 10 ses-
= 0,0002. A tabela 1 abaixo representa o resultado.
sões de fisioterapia.
Tabela 1: Demonstra os resultados referentes às três primei-
ras perguntas do questionário aplicado no inicio e no final
das dez aplicações.
1° questão 2° questão 3° questão
antes depois antes depois antes depois
Muito insatisfeito 28,6% 0% 38,1% 0% 47,6% 4,8%
Insatisfeito 42,8% 9,5% 42,8% 9,1% 28,6% 9,5%
Nem satisfeito
nem insatisfeito 28,6% 9,5% 19,1% 9,5% 23,8% 14,3%
Satisfeito 0% 66,7% 0% 61,9% 0% 61,9%
Completamente 0% 14,3% 0% 9,5% 0% 9,5%
satisfeito Fonte: Dados da pesquisa
Fonte: Dados da pesquisa

Na quarta questão viu-se que ao colocar roupas decota- Discussão


das que deixassem as estrias à mostra, 38,1% das voluntárias A pesquisa mostrou que grande parte das mulheres com
em tratamento demonstraram nem satisfeita nem insatisfeita, estrias apresenta algum grau de insatisfação e 14,2% das mes-
33,3% muito insatisfeita, 28,6% insatisfeita. Há que se consi- mas afirma preferir nem ir à praia para não ter que colocar rou-
derar que a maioria (66,7%) apresenta estrias em região glútea pas de banho deixando as estrias à mostra. Este fato foi des-
e que nem todas as roupas apresentam decotes que permitam crito em literatura onde afirmou que estria não é somente um
mostrar as estrias nessa região. Após aplicações 9,5% estavam problema estético e conclui que sem tratamento pode, além de
insatisfeitas, 19,1% nem satisfeita nem insatisfeita, 52,3% sa- levar a uma flacidez de pele, à diminuição da auto-estima18.
tisfeita, 14,3% completamente satisfeita e 4,8% muito insatis- O período de aparecimento das estrias neste estudo foi
feita. Resultando um p= 0,0002, ver na tabela 2. em 95,2% dos casos na adolescência que é a conhecida fase
Ao colocar roupa de banho/praia 47,6% das pesquisadas do estirão o que ratifica a discrição na maioria dos estudos
estavam muito insatisfeitas e dentre estas 33,4% nem a praia ao afirmar que um dos fatores do surgimento da estria é
com roupa de banho, 28,6% insatisfeitas ao vestir-se com rou- o estiramento rápido da pele1,2; ficando os outros 4,8% no
pa de banho e 23,8% nem satisfeita nem insatisfeita. Após a período gestacional uma vez que também ocorre a ruptura
décima sessão o encontrado foi 9,5% insatisfeita, 9,5% nem das fibras teciduais.
satisfeita nem insatisfeita, 61,9% satisfeita, 14,3% completa- A região mais afetada pelas estrias no presente estudo
mente satisfeita e 4,8% muito insatisfeita. Com significância foi a glútea em média de 66,7% das participantes, enquan-
tal com p = 0,0001, é o que trata a 5a questão da tabela 2. to que 14,2% apresentou em coxa, costas, seios e abdômen
A sexta questão era quanto aos momentos de intimidade corroborando para o grau de insatisfação pois quanto mais
com o parceiro, onde constatou-se que 52,3% mostraram-se exposta a região maior o grau de insatisfação1,3.
nem satisfeita nem insatisfeita, 23,8% insatisfeita, 19,2% muito A inflamação é caracterizada por um complexo de al-
insatisfeita e 4,7% satisfeitas, isto porque relataram que na hora terações seqüenciais nos tecidos, em resposta a uma lesão
da intimidade não há tempo pra pensar em estrias. Ao final das causada por bactérias, traumas, agentes químicos, calor ou
sessões 4,8% estavam insatisfeitas, 23,8% nem satisfeita nem qualquer outro fenômeno19. Isto é alcançado através da
insatisfeita, 57,1% satisfeita e 14,3% completamente satisfeita. aplicação da corrente microgalvânica com o objetivo de
Cálculo estatístico com p = 0,0003. Representado na tabela 2. aumentar o número de fibroblastos jovens, promovendo
No gráfico 1 demonstra a comparação geral do grau de uma neovascularização através do edema, eritema, aumen-
satisfação das pacientes antes e após o tratamento. tado a atividade metabólica local, inclusive com o retorno

163
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

da sensibilidade1,20, objetivo este, alcançado na pesquisa, 3. Bondi, EE; Jegasothy, BV; Lazarus, GS. Dermatologia: diagnóstico e tratamento.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
onde as voluntárias apresentaram uma média do período 4. Azevedo, KD; Pita, B; Schütz, MJC. Análise dos efeitos da corrente contínua fil-
inflamatório de três dias. trada constante no tratamento de estrias: relato de casos. Trabalho acadêmico -
Curso de Fisioterapia, Faculdade Integrada do Recife;2003.
A resposta inflamatória varia de acordo com cada pa- 5. Gutmann, AZ. Fisioterapia Atual. 2. ed. São Paulo: Pancast, 1991.
ciente a depender de sua imunidade, onde a defesa orgâ- 6. Guirro, ECO; Ferreira, AL; Guirro, RRJ. Estudos Preliminares dos Efeitos da Cor-
rente Galvânica de Baixa Intensidade no Tratamento de Estrias Atróficas da Cútis
nica poderá ser maior ou menor, e segundo a literatura, Humana. Anais do X Congresso Brasileiro de Fisioterapia.Fortaleza, CE, 1991.
quanto mais duradouro for este período, melhor será a 7. Pigozzi, V. Obesidade: um golpe na auto-etima. Revista Viver em Psicologia
2000; n.91: p. 30-31.
resposta ao tratamento1. 8. OMS. Saúde. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Organiza%C3%A7%
.Há de se considerar a pequena produção de pesquisa so- C3%A3o_Mundial_da_Saude. (acessado em:24/01/2007).
9. Agne, JE. Eletrotermoterapia: Teoria e prática. Santa Maria: Palotti, 2004.
bre o assunto, resultando em escasso material cientifico de 10. Goldenberg, M. Gênero e corpo na cultura brasileira. Psicol. clin. vol.17 no.2 Rio
referência, o que dificulta a discussão. de Janeiro, 2005; (acessado em: 21/02/2007).
11. Baena, EG. A utilização da corrente galvânica (eletrolifting) no tratamento do en-
velhecimento facial. Cascavel - SP, 2003.
Conclusão 12. Robinson, AJ; Synder-Mackler, L. Eletrofisiologia Clínica: Eletroterapia e Teste
Eletrofisiologico. 2 ed, São Paulo: Artes Médicas, 2002.
.O tratamento das estrias, na população estudada, utili- 13. Silva, MT. Eletroterapia em estética corporal. 1 ed. São Paulo: Robe, 1997.
14. Muliterno, JK; gonçalves, VS. Estudo comparativo entre a escarificação e a corren-
zando a corrente microgalvânica proporcionou uma melho- te microgalvânica no tratamento de estrias na fase alba. Monografia (graduação em
ria na auto-estima das pacientes. Fisioterapia). Faculdade de Educação Física e Fisioterapia, Universidade de Passo
Fundo, Passo Fundo, 2005.
.A percepção visual do resultado, embora não tenha 15. Machado, CM. Eletrotermoterapia prática. 2 ed. São Paulo: Pancast, 1991.
solucionado o problema detectado, satisfez à maioria das 16. Baker, 2005. Escala de Likert. Disponível em: http://www.benchmarkingbrasil.
com.br/bench/metodologia/likert.htm. (acessado em: 21/02/2007).
voluntárias, ficando aberta a oportunidade para aprofunda- 17. Ministério da Saúde. Processamento de Artigos e Superfícies em Estabelecimentos de
mento da pesquisa. Saúde - Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar. 2a edição. Brasília-DF, 1994.
18. Ferreira, K. Tratamento Dermato-Funcional na Recuperação Total das Estrias.
Disponível em: http://forum.darkside.com.br/vb/showthread.php?=6913. (acessa-
Referências do em: 24/01/2007).
1. Guirro, E; guirro, R. Fisioterapia Dermato-funcional. 3.ed.rev. e amp. São Paulo: 19. Guyton, H. Tratado de fisiologia médica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
Manole, 2004. 20. Santos, CM; Simões, NP. Tratamento estético da estria através da microgalvano-
2. Lever, WF; lever, GS. Histopatologia da pele. 7 ed., Manole, São Paulo, 1991; 853p. puntura. Revista Fisiobrasil, 2003; n 15: p. 62.

164
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Artigo Original

Validação de material educativo


para prevenção de quedas em idosos

Validation of educational material for


the prevention of falls in the elderly

Yago Ferreira Fernandes1, Licia Câmara Diógenes Bastos2, Maria Rivênia Pinto Araújo3,
Thais Paraiba Cavalcante4, Thiago Brasileiro de Vasconcelos5, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos6

1. Fisioterapeuta pelo Centro Universitário Es- Resumo


tácio do Ceará.
2. Graduanda de Medicina da Universidade de
A população idosa é a que mais aumenta no mundo, e no Brasil, e isso acon-
Fortaleza. tece de forma acelerada e progressiva. O envelhecimento pode ser compreendido
3. Mestre em Gestão em Saúde. Fisioterapeuta como sendo um conjunto de alterações estruturais e funcionais desfavoráveis ao
do Hospital Geral de Fortaleza e Instituto Dr. organismo que se acumulam de forma progressiva, especialmente em função do
José Frota.
4. Graduanda de Medicina da Universidade de
avanço da idade. As alterações relacionadas ao envelhecimento podem levar a
Fortaleza. queda, que resultam lesões não fatais como fratura de quadril, luxações, lacera-
5. Mestre em Farmacologia pela Universidade ções e outros tipos de leões de partes moles, sendo a sexta causa de morte entre
Federal do Ceará (UFC) e Docente do Centro os idosos os acidentes relacionados á queda. Objetiva-se elaborar e descrever o
Universitário Católico de Quixadá.
6. Doutor em Farmacologia pela Universidade
processo de validação de uma cartilha educativa para prevenção de quedas em
Federal do Ceará (UFC) e Fisioterapeuta do idosos. Utilizou-se a pesquisa-ação como método de pesquisa, e essa foi desenvol-
Hospital Geral de Fortaleza e Instituto Dr. vida em duas etapas: validação do material educativo por juízes e reconstrução de
José Frota. cartilha educativa. O processo de validação foi realizado por 8 juízes, resultando
em vinte e três itens que foram considerados adequados pelos mesmos. O material
Endereço para correspondência: educativo por sua vez foi validado, onde o mesmo demonstrou concordância em
e-mail: thiagobvasconcelos@hotmail.com seu conteúdo, apresentando informações fidedignas. Conclui-se que esse material
e-mail: thaisparaiba11@gmail.com está apto para ser utilizado por idosos, familiares e cuidadores na prevenção de
e-mail: riveniapinto@hotmail.com
e-mail: liciacdb@gmail.com
quedas no ambiente domiciliar.
e-mail: yagoferreira2013@gmail.com
e-mail: vascodiogenes@yahoo.com.br Palavras-chave: validação, envelhecimento, queda.

Recebido para publicação em 07/08/2022 e acei-


to em 13/09/2022, após revisão.

165
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
The elderly population is the one that increases the most in the world, and in Brazil, and this happens in an accelerated
and progressive way. The aging can be understood as a set of structural and functional alterations unfavorable to the body
which progressively accumulate, especially due to advancing age. Changes related to aging may lead to fall, resulting
non-fatal injuries such as hip fractures, dislocations, lacerations and other types of soft tissue lions, being the sixth leading
cause of death among the elderly accidents related to the fall. The objective is to develop and report on the educational
booklet validation process for preventing falls in the elderly. We used the action research as a research method, and that
was developed in two stages: validation of educational materials for judges and reconstruction of the educational booklet.
The validation process was performed for 8 judges, resulting in twenty three items that were considered relevant by the
judges. The educational material in turn was validated, where the same demonstrated agreement in its content, presenting
reliable information. It is concluded that this material is suitable for use by the elderly, family and caregivers in the pre-
vention of falls in the home environment.

Keywords: validation, aging, fall.

Introdução As condições do ambiente residencial são particular-


Dentre os fatores que contribuem para os agravos das mente implicadas no risco de quedas. Fatores de riscos tidos
condições de saúde na população idosa, a queda encontra- como facilmente modificáveis e que possuem grande poten-
-se entre os problemas mais comuns, pois representam um cial nas quedas são: a iluminação inapropriada, Interruptores
grave problema de saúde pública, pela alta frequência com inacessíveis, falta de corrimão nas escadas, degraus inade-
que ocorrem e por representarem um marco importante para quados e sem sinalizações ou sem piso antiderrapante, fal-
a saúde do idoso1-3. ta de barras de apoio nos banheiros, assentos sanitários de
O aumento da expectativa de vida da população é uma altura desajustadas, camas também de altura desapropriadas,
realidade entre os diversos grupos populacionais. Esta reali- cadeiras de altura incorreta e sem apoios laterais, além de
dade tem determinado uma modificação no perfil demográfi- obstáculos no caminho, como móveis baixos, fios, etc.13,14.
co e de morbimortalidade, resultando em envelhecimento da Recomenda-se que a pessoa idosa deve ser orientada
população e consequente aumento proporcional das doenças a sempre buscar tratamento médico após sofrer quedas, re-
crônico-degenerativas. Há previsões de que a população de gistrá-las e também solicitar apoio da equipe de saúde para
pessoas com 50 anos ou mais de idade irá dobrar no mundo uma avaliação no domicílio. Medidas preventivas e linhas de
até o ano de 2020. No Brasil, a expectativa do Instituto Bra- cuidado podem ser desenvolvidas por profissionais, como:
sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que a popu- fisioterapeutas, educadores físicos, e outros profissionais ca-
lação com mais de 60 anos de idade seja aproximadamente pacitados para tais atividades15-17.
11% da população geral até o ano de 20204,5. Outro fator de suma relevância é o exercício físico vol-
Modificações que seguem com o avanço da idade se ma- tado para o idoso. O exercício está entre as estratégias mais
nifestam através de mudanças estruturais e funcionais, ten- promissoras na redução do risco de quedas e deve ser aqui
do o declínio físico como uma das principais características entendido como treino funcional, podendo envolver o treino
do envelhecimento. Tal declínio pode ser consequência de das estratégias sensoriais e motoras do equilíbrio corporal,
processos distintos: a senescência (envelhecimento fisioló- treino de marcha, fortalecimento muscular, melhora da flexi-
gico do organismo marcado por um conjunto de alterações bilidade e estimulação cognitiva18,19.
orgânicas, funcionais e psicológicas) e a senilidade (que se É fundamental que durante o processo de envelhecimen-
caracteriza por afecções, isto é, alterações ou modificações to, ocorra a maior concentração possível de massa muscular
que acometem o indivíduo idoso)6-8. para que se possa retardar a perda inexorável decorrente dela
A queda é um evento multifatorial e pode ser provenien- mesma e assim promover menor impacto sobre a qualidade
te de uma interação entre fatores extrínsecos e intrínsecos, de vida dos idosos. Desta forma, vale à pena ressaltar que
sendo que a probabilidade de sua ocorrência aumenta na a prevenção é a estratégia mais importante e eficiente para
medida em que se acumulam os fatores de risco. As causas atingir esses objetivos20,21.
extrínsecas são aquelas dependentes de obstáculos ambien- O declínio físico apresenta-se como uma das principias
tais, que não podem ser transpostos pelo idoso ou situações características do envelhecimento e pode ser consequência
sociais de risco; e as causas intrínsecas são decorrentes de de processos distintos: a senescência (o envelhecer como um
alterações fisiológicas relacionadas com o envelhecimento, processo progressivo de diminuição de reserva funcional) e
como doenças e uso de fármacos9. a senilidade (o desenvolvimento de uma condição patológica
Um fator que aumenta o risco de quedas é o uso de me- por estresse emocional, acidente ou doenças)6.
dicamentos mais severos. Ressalta-se que as mulheres caem Com o avanço da idade, as modificações se manifestam
mais, visto que passam a maior parte do tempo em casa, em através de mudanças estruturais e funcionais e, dessa forma,
afazeres domésticos, portanto mais vulneráveis as queda ou são o resultado de interações complexas de fatores intrínse-
ao risco de cair10-12. cos (internos, específicos) e extrínsecos (externo)15,22.

166
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

O processo natural do envelhecimento é acompanhado que devem ter um significado para cada pessoa dentro do seu
de um declínio funcional gradual e evolutivo, além de estar contexto de vida18.
associado a uma prevalência aumentada de doenças crônico- Há um grande número de ensaios clínicos sobre a eficá-
-degenerativas1,22. cia dos exercícios na prevenção de quedas. A prática regu-
São várias as alterações nos sistemas corporais do ido- lar de atividade física minimiza os declínios da capacidade
so. Há alteração ou diminuição da força muscular afetando: funcional, que é necessária para que o idoso tenha uma vida
a mobilidade, a instabilidade ao caminhar e o equilíbrio, a independente e, consequentemente, uma melhor condição
visão, a audição, a perda de memória resultando no esqueci- de saúde. Idosos sedentários possuem menor mobilidade e
mento, a falta de função neuromuscular e sensorial, acarre- maior propensão a quedas quando comparadas a idosos que
tando a diminuição do nível de independência13,21. praticam atividade física regulamente29.
Com relação à etiologia das quedas em idosos é normal- A Organização Mundial de Saúde (OMS) propôs, em
mente multifatorial e, por vezes, difícil de definir claramen- reunião realizada na cidade de Victoria, no Canadá, em
te. Fatores que contribuem para índices tão altos incluem 2007, um modelo para prevenção de quedas. Os pilares fun-
mudanças posturais relacionadas à idade, déficit visual, o damentais desta atuação estariam nas ações de conscientiza-
uso de medicamentos e doenças que afetam a força muscular ção sobre o problema e na identificação e intervenção sobre
e a coordenação motora13,23. os principais fatores de risco15.
Dentre os fatos que contribuem para os agravos das con- Além da implantação de programas voltados à atividade
dições de saúde na população idosa, a queda encontra-se entre física para idosos, também se fazem necessários: elabora-
os problemas mais comuns, está relacionada com considerável ção de políticas públicas voltadas a diminuir o número de
mortalidade, morbidade, redução de funcionamento e admis- quedas, como melhorar e adaptar a infraestrutura de locais
sões precoces em instituições de longa permanência1,24. públicos e privados, maior incentivo governamental para a
O aumento da população idosa traz consigo várias con- prática de exercícios físicos, maior prevenção nutricional e
sequências, entre elas está a maior possibilidade de ocorrên- médica, entre outras18.
cia de quedas, as quais se tornam mais frequentes quanto Dentro da abordagem para conscientização do problema,
maior a idade dos indivíduos. Aproximadamente 28% a 35% destaca-se a importância das atividades educativas, tanto in-
das pessoas com mais de 65 anos de idade sofrem quedas a dividualizadas quanto em grupo, uma vez que troca de expe-
cada ano, essa proporção aumenta para 32% a 42% para as riência e a discussão a respeito das estratégias de prevenção
pessoas com mais de 70 anos25. podem, ao longo do tempo, agir como um fator na mudança
O predomínio das quedas no sexo feminino é evidente de crenças, atitudes e comportamentos inadequados18,30.
em todos os estudos, pois as mesmas são a grande maioria Baseado nos constantes relatos de quedas em idosos e
na terceira idade, e revelam ainda que as mulheres conside- suas consequências na qualidade de vida dessa população, a
radas ativas (em relação á lida diária dentro de casa) caem criação de uma cartilha educativa voltada aos cuidados com
com mais facilidade e com maior frequência, apresentando o idoso fez-se importante como estratégia de apontar fatores
como consequência as fraturas e internações. Elas também de riscos para quedas e consequências, bem como orienta-
apresentam menor força muscular e são mais frágeis em ções sobre prevenção e tratamento.
relação ao homem10,26. Dessa forma, o presente estudo servirá como base de
A influência dos fatores ambientais no risco de quedas orientação para os idosos, seus cuidadores e familiares
associa-se ao estado funcional e mobilidade da pessoa idosa na melhoria da qualidade de vida dessa população vul-
e obstáculos ambientais que não são problemas para outras nerável à quedas.
pessoas, podem transformar-se em ameaça à segurança e Os objetivos do estudo consistem em validar uma carti-
mobilidade daquelas com alterações sensoriais27. lha de orientação para os cuidados na prevenção de quedas
Com o objetivo de alinhar o ambiente residencial às ne- em idosos, descrevendo o perfil do idoso, caracterizando os
cessidades dos idosos, e para identificar riscos potenciais de fatores relacionados à queda e, propondo orientações para os
quedas, deve-se perguntar ao idoso sobre dificuldades com idosos/familiares/cuidadores, para que o risco de queda em
escadas, presença de tapetes soltos pelo chão e a adequação domicílio seja diminuído.
da luminosidade interna e externa da casa, por exemplo11,28.
Uma vez detectados problemas no ambiente residencial, Metodologia
com potencial de produzir quedas, deve-se proceder com um Trata-se de um método estudo de uma pesquisa-ação,
inventário completo sobre a segurança do domicílio para documental, longitudinal utilizando de bases terciárias.
planejar as modificações ou adaptações necessárias. Estudos Optou-se pelo uso de método da pesquisa-ação por consi-
afirmam que os idosos devem manter a noite uma ilumina- derar que o mesmo possibilita a contrição do conhecimento
ção adequada, pois os mesmos, pelas alterações fisiológicas, buscando identifica soluções para um problema que neces-
apresentam dificuldade visual e precisam de iluminação para sita ser estudado.
diferenciar melhor os objetos e obter melhor segurança13. O método de pesquisa foi realizado no período entre
As orientações de prevenção e cuidado das quedas em Agosto a Novembro de 2016, sendo composto por quatro
pessoas idosas devem se constituir em ações e intervenções fases: sistematização do conteúdo (escolha do conteúdo);
interligadas. Somente a informação não é suficiente, pois criação e seleção das ilustrações; preparação do layout e va-
esta deve ser unida à transformação de costumes e atitudes lidação do material por peritos.

167
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Na primeira fase foi realizada busca dos conteúdos veniente, sendo estabelecido um prazo de uma semana para
que apresentavam informações de quedas em idosos. Tal que o mesmo realizasse a análise, preenchesse o instrumento
busca se deu nas bases virtuais e do Centro Universitário de avaliação e os devolvessem ao pesquisador.
Estácio do Ceará. Para a coleta de dados, foi utilizado um instrumento, que
Esses achados direcionaram os tópicos da cartilha. A foi dividido em duas partes: a primeira contendo os dados de
busca dos artigos foi feita nas bases de dados LILACS (Lite- identificação do juiz, e a segunda contendo as informações
ratura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), quanto ao preenchimento da cartilha e dos itens a serem ava-
MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), liados, totalizando 23 itens distribuídos em três aspectos ava-
SCIELO (Scientific Eletronic Library Online). Foram uti- liativos. O primeiro, relacionado aos objetivos, o segundo à
lizados os seguintes descritores: “Prevenção de acidentes”, estrutura e apresentação, e o terceiro à relevância do material.
“Idosos”, “Saúde do idoso” e seus respectivos sinônimos Itens Avaliados
em inglês/espanhol usados combinados. A Inclusão dos tra- 1.1 São coerentes com as necessidades dos idosos.
balhos foi baseada nos seguintes critérios: artigos de cunho 1.2 Promove a mudança de comportamento e atitude.
bibliográfico e de pesquisa original, escritos em português, 1.3 Atende aos objetivos de instituições que trabalhem com idosos.
inglês e espanhol, disponibilizado acesso completo via onli- 1.4 São coerentes do ponto de vista da prevenção de quedas
ne e artigos publicados. no idoso.
Considerando que o material educativo utilizado para Itens Avaliados
informar a população geralmente é um instrumento de lei- 2.1 A cartilha é apropriada para idosos.
tura ou de elementos ilustrativos que chamem a atenção do 2.2 As mensagens estão apresentadas de maneira clara e objetiva.
leitor para o tema abordado, na segunda fase, foram acessa- 2.3 As informações apresentadas estão cientificamente corretas.
2.4 O material apresentado é de leitura agradável.
dos livros e websites na busca de imagens que se adequas-
2.5 As informações estão bem estruturadas em
sem aos tópicos que seriam inseridos na cartilha. As ima- concordância e ortografia.
gens foram selecionadas e usadas como base para elaborar 2.6 O estilo da redação corresponde ao nível de conhecimento
as ilustrações por um profissional especializado na área de do público alvo.
designer gráfico. 2.7 O tamanho do título e dos tópicos estão adequados.
A terceira fase foi a formatação do layout, estruturando 2.8 As ilustrações são simples, apropriadas e de fácil compreensão.
um protótipo do conteúdo com as imagens trabalhadas pelo 2.9 As figuras são auto explicativas.
designer. A seguir, o material foi submetido ao trabalho de 2.10 O material (papel, impressão) facilita a visualização.
edição e diagramação através do software CorelDraw. 2.11 O número de páginas está adequado.
A quarta fase constituiu-se da validação da cartilha pelos 2.12 A capa é atraente.
peritos, que são fisioterapeutas. Os critérios adotados para 2.13 O tamanho e estilo das letras são adequados.
2.14 A formatação da cartilha está adequada (espaçamento, tama-
a inclusão dos profissionais, como peritos, foram: trabalhar
nho da letra, comprimento das linhas)
com idosos e ser profissional da área da saúde que trabalhe
Itens Avaliados
com geriatria.
3.1 Os temas retratam aspectos-chaves que devem ser reforçados.
Nessa etapa, a cartilha foi submetida a um grupo de 3.2 A cartilha permite a transferência e generalizações do
juízes considerados especialistas no conceito em estudo. Não aprendizado.
foi possível achar um número ideal de juízes para o processo 3.3 A cartilha propõe ao idoso adquirir conhecimento para realizar
de validação, pois a literatura é diversificada e não existe o auto cuidado.
um número padrão para isso. Segundo Lynn, é necessário 3.4 A cartilha aborda assuntos necessários ao idoso.
um mínimo de três juízes para essa etapa, considerando 3.5 Está adequado para ser usado por profissionais que atuem com
desnecessário um número superior a dez. esse tipo de paciente.
O convite foi realizado através de uma carta convite e,
após aceitação, o participante recebeu o Termo de Consen- Resultados
timento Livre e Esclarecido (TCLE), e após assinatura do Na amostra de 8 juízes, compostos por fisioterapeutas
mesmo foi entregue a cartilha de orientação e o instrumento especializados em geriatria ou que trabalhem com idosos, to-
a ser utilizado para avaliar a cartilha. dos concordaram em participar do julgamento e devolveram
A análise dos juízes tem como objetivo avaliar conteúdo o material respondido.
e aparência da cartilha. A validade de aparência ou de face A primeira versão do material educativo tinha 19 pági-
trata-se de uma forma subjetiva de validar um instrumento, nas. Os juízes solicitaram melhorias nas ilustrações, tama-
consistindo no julgamento quanto à clareza e compreensão, nho das letras e na capa. A primeira página apresenta textos
contudo sabe-se que esse tipo de validade não deve ser utili- sobre o envelhecimento. Na página dois apresenta textos e
zado de maneira isolada. ilustrações sobre fatores associados á queda no domicilio.
Por isso, realizou-se também a validade de conteúdo, A partir da página 3 até a 19, as ilustrações e os textos
no qual foi verificado se os conceitos estão representados de enfatizam as medidas de prevenções de segurança nos locais
modo adequado, bem como se os itens ou textos do instru- mais comuns da casa e de queda em idosos como, sala, quar-
mento são representativos. to, cozinha, escadas e banheiro.
Os juízes poderão realizar a avaliação da cartilha no As sugestões propostas por 62,55% (n=5) dos juízes
próprio domicílio, ou em outro local que lhe fosse mais con- nesse estudo foram que, na capa da cartilha colocasse uma

168
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

imagem mais chamativa ou colorida; 25% (n=2) dos juízes Foi entregue para os juízes um material de validação
recomendaram que na página sete melhorasse a imagem do contendo vinte e três tópicos que deveriam ser classificados
idoso e dos objetos da figura e 50% (n=4) dos juízes propu- como adequados, parcialmente adequados e inadequados,
seram que na pagina treze trocasse a imagem por uma que onde 100% (n=8) dos juízes classificaram como adequado
chame mais atenção para o tema proposto. As modificações os seguintes itens, o material é coerente com as necessidades
foram acatadas com o objetivo de melhorar a qualidade da dos idosos, as mensagens estão apresentadas de maneira cla-
cartilha (quadro 1). ra e objetiva, o número de páginas está adequado, a cartilha
propõe ao idoso adquirir conhecimento para realizar o auto
Quadro 1: Síntese da análise qualitativa das alterações su- cuidado e a cartilha aborda assuntos necessários ao idoso.
geridas pelos juízes. 25% (n=2) dos juízes qualificaram em parcialmente adequa-
Sugestões dos juízes do os itens, o material apresentado é de leitura agradável, o
Capa Trocar imagem por uma que chame mais atenção. tamanho do título e dos tópicos está adequado e a cartilha
Pág. 7 Melhorar a imagem do idoso e dos objetos da figura. atende aos objetivos de instituições que trabalhem com ido-
Pág. 13 Trocar imagem por uma que chame mais atenção para
sos, no entanto, nenhum dos juízes classificou algum item
tema proposto.
Págs. 1- 19 Corrigir tamanho da fonte utilizada.
como inadequado.

A figura 1 apresenta o material educativo apresentado Discussão


aos juízes inicialmente para validação. Os juízes apresenta- A escolha do tema para cartilha educativa surgiu a partir
ram sugestões de textos e ilustrações, as mesmas foram aca- de reflexões da população idosa, o material foi avaliado por
tadas até a versão final da cartilha educativa (figura 2). 8 juízes, sendo um (12,5%) do gênero masculino e 7 (87,5%)

Figura 1: Representação ilustrativa da cartilha educativa apresentada aos juízes.

*Sequência das páginas da esquerda para direita: Capa, Pagina 1 (Idoso), pagina 2 (Fatores associados á queda), pagina 3 até a pagina 19 (cuidados e orientações para o domicílio), Verso

169
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Figura 2: Representação ilustrativa da versão final da cartilha educativa.

Tabela 1: Distribuição dos dados de acordo com, avaliação da cartilha educativa dos seis itens do instrumento pelos juízes.

Itens Avaliados Adequado Parcialmente Inadequado


Adequado
1.1 São coerentes com as necessidades dos idosos. 8 (100%)
1.2 Promove a mudança de comportamento e atitude. 5 (62,5%) 3 (37,5%)
1.3 Atende aos objetivos de instituições que trabalhem com idosos. 6 (75%) 2 (25%)
1.4 São coerentes do ponto de vista da prevenção de quedas no idoso. 8 (100%)
2.1 A cartilha é apropriada para idosos. 8 (100%)
2.2 As mensagens estão apresentadas de maneira clara e objetiva. 8 (100%)
2.3 As informações apresentadas estão cientificamente corretas. 8 (100%)
2.4 O material apresentado é de leitura agradável. 6 (75%) 2 (25%)
2.5 As informações estão bem estruturadas em concordância e ortografia. 8 (100%)
2.6 O estilo da redação corresponde ao nível de conhecimento do público alvo. 5 (62,5%) 3 (37,5%)
2.7 O tamanho do título e dos tópicos estão adequados. 6 (75%) 2 (25%)
2.8 As ilustrações são simples, apropriadas e de fácil compreensão. 8 (100%)
2.9 As figuras são auto explicativas. 7 (87,5%) 1 (12,5%)
2.10 O material (papel, impressão) facilita a visualização. 8 (100%)
2.11 O número de páginas está adequado. 8 (100%)
2.12 A capa é atraente. 4 (50%) 4 (50%)
2.13 O tamanho e estilo das letras são adequados. 5 (62,5%) 3 (37,5%)
2.14 A formatação da cartilha está adequada
(espaçamento, tamanho da letra, comprimento das linhas) 6 (75%) 2 (25%)
3.1 Os temas retratam aspectos-chaves que devem ser reforçados. 8 (100%)
3.2 A cartilha permite a transferência e generalizações do aprendizado. 6 (75%) 2 (25%)
3.3 A cartilha propõe ao idoso adquirir conhecimento para realizar o auto cuidado. 8 (100%)
3.4 A cartilha aborda assuntos necessários ao idoso. 8 (100%)
3.5 Está adequado para ser usado por profissionais que atuem com esse tipo de paciente. 7 (87,5%) 1 (12,5%)

170
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

do gênero feminino. Os itens avaliados pelos juízes foram: Referências


o conteúdo abordado apresenta informações relevantes para 1. Chianca, T. C. M. et al. Prevalência de quedas em idosos cadastrados em um
prevenção de queda em idosos; os textos parecem claros e Centro de Saúde de Belo Horizonte-MG. Revista Brasileira de Enfermagem.
2013;66(2):234-240.
compreensivos; as ilustrações utilizadas apresentam traços 2. Gawryszewski, V. P. et al. Mortes e internações por causas externas entre os idosos
apropriados para idosos/ familiares/ cuidadores; as ilustrações no Brasil: o desafio de integrar a saúde coletiva e atenção individual. Rev Assoc
Med Bras. 2010;50(1):97-103.
apresentadas são necessárias para compreensão do conteúdo; 3. Cruz, D. T. et al. Associação entre capacidade cognitiva e ocorrência de quedas em
as ilustrações e os textos motivam idosos/ familiares/ cuida- idosos. Cadernos Saúde Coletiva. 2015;23(4):386-393.
4. Siqueira, F. V. et al. Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Revista
dores para compreensão do tema proposto; aplicabilidade da de Saúde Pública. 2007;41(5):749-756.
cartilha educativa no cotidiano da pratica de cuidadores. 5. Farias, R. G.; Santos, S. M. A. Influência dos determinantes do envelhe-
cimento ativo entre idosos mais idosos. Texto and Contexto Enfermagem.
Segundo Oliveira31 um instrumento bem idealizado ou 2012;21(1):167-176.
uma informação de fácil entendimento, melhora o conheci- 6. Mantovani, E. P. O processo de envelhecimento e sua relação com a nutrição e a
mento e a satisfação do leitor, apresentando ações que indu- atividade física. IPES Editorial, 2007.
7. Bianchi, L. R. O. Envelhecimento morfofuncional: diferença entre os gêneros. Ar-
zem a mudança de atitude em relação ao conteúdo da cartilha. quivos do Museu Dinâmico Interdisciplinar. 2015;18(2):33-46.
Para Alexandre e Coluci32 compreender os procedimen- 8. Paz, R. C; Fazzio, D. M. G; Dos Santos, A. L. B. Avaliação nutricional em idosos
institucionalizados. Revista de Divulgação Científica Sena Aires. 2012;1(1):9-18.
tos de abordagens para validação de conteúdo é importante 9. Stamm, B. et al. Cair faz parte da vida: Fatores de risco para quedas em idosos.
para pesquisadores e profissionais de saúde, preocupados em Rev. pesqui. cuid. fundam.(Online). 2016;8(4):5080-5086.
10. Álvares, L. M; Lima, R. C; Silva, R. A. Ocorrência de quedas em idosos residentes
utilizar cada vez mais instrumentos confiáveis e apropriados em instituições de longa permanência em Pelotas, Rio Grande do Sul. Cad saúde
para determinada população. pública. 2012;26(1):31-40.
11. Messias, M. G; Neves, R. F. A influência de fatores comportamentais e ambientais
Pasquali33 refere que essa forma de análise determina a si- domésticos nas quedas em idosos. Rev bras geriatr gerontol. 2009;12(2):275-282.
milaridade dos atributos em questão. Surgiu um grande número 12. Gomes, E. C. C. et al. Fatores associados ao risco de quedas em idosos
institucionalizados: uma revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva.
de sugestões, onde todas foram acatadas e mudadas na cartilha. 2014;19(8):3543-3551.
De acordo com Oliveira, Fernandes, Sawada34 o pesqui- 13. Gusso, G; Lopes, J. M. C. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princí-
sador deve determinar, a priori, o número de validadores e a pios, Formação e Prática. Artmed Editora, 2012.
14. Souza, A. O; Yamaguchi, M. U. Adesão e não Adesão dos Idosos ao Tratamento
porcentagem de concordância esperada para se poder decidir Anti–Hipertensivo. Saúde e Pesquisa. 2015;8(1):113-122.
sobre o destino de cada item. É também necessário instruir os 15. Kalache, A. Relatório Global da OMS sobre Prevenção de Quedas na velhice. São
Paulo: OMS, 2010.
juízes sobre como devem proceder à validação, fornecendo- 16. Souza, L.T. et al. Fatores ambientais de risco para quedas em idosos moradores de
-lhes um formulário próprio para registro de seus julgamentos. Ceilândia-DF. Revista Movimenta. 2013;6(2):471-480.
17. Reis, L. A; Rocha, T. S; Duarte, S. F. P. Quedas: risco e fatores associados em
Segundo Alexandre e Coluci32 para a seleção dos juízes, idosos institucionalizados. Revista Baiana de Enfermagem. 2014;28(3):225-234.
deve-se levar em consideração a experiência e a qualifica- 18. Perracini, M. R. Desafios da prevenção e do manejo de quedas em idosos. BIS.
Boletim do Instituto de Saúde (Impresso). 2009;1(47):45-48.
ção dos membros desse comitê. Recomenda-se, descrever os 19. Rodrigues, V. M. S. Risco de quedas nos idosos dos centros comunitários e giná-
critérios utilizados nessa seleção. Entre esses critérios, a li- sios do Funchal. Funchal: Universidade da Madeira, 2014 Dissertação de Mestrado
teratura destaca: ter experiência clínica; publicar e pesquisar em Gerontologia Social.
20. Macedo, C; Gazzola, J. M; Najas, M. Síndrome da fragilidade no idoso: importân-
sobre o tema; ser perito na estrutura conceitual envolvida e cia da fisioterapia. Arquivos brasileiros de ciências da saúde. 2008;33(3):177-184.
ter conhecimento metodológico sobre a construção de ques- 21. Silva, T. O. et al. Avaliação da capacidade física e quedas em idosos ativos e
sedentários da comunidade. Rev Bras Clin Med São Paulo. 2010;8(5):392-398.
tionários e escalas. 22. Nascimento, J. S; Tavares, D. M. S. Prevalência e fatores associados a quedas em
Conforme Pasquali33 a análise feita pelos juízes visou ana- idosos. Texto & Contexto-Enfermagem. 2016;25(2):1-9.
23. Carvalho, N. P. G; Palma, R. Prevenção de quedas em idosos. Fisioter. Bras.
lisar a compreensão dos itens e a pertinência dos mesmos para 2012;13(4):309-313.
que fosse realizada a validação da cartilha, evitando assim a 24. Fernandes, M. G. M. et al. Risco de quedas evidenciado por idosos atendidos num
ambulatório de geriatria. Revista Eletrônica de Enfermagem. 2014;16(2):297-303.
apresentação de conteúdo inadequado para o público alvo. 25. Kuznier, T. P. et al. Fatores de risco para quedas descritos na taxonomia da NAN-
Echer35 refere que a avaliação dos juízes, ao fazer julga- DA-I para uma população de idosos. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste
mento dos itens colabora para a relevância e rigor científico Mineiro. 2016;5(3):1855-1870.
26. Duca, G. F; Antes, D. L; Hallal, P. C. Quedas e fraturas entre residentes de ins-
das informações descritas na cartilha, aumentando a qualida- tituições de longa permanência para idosos. Revista Brasileira de Epidemiologia.
de do objeto de estudo. 2013;16(1):68-76.
27. Santos, S. S. C. et al. Alterações estruturais numa Instituição de Longa Permanên-
cia para Idosos visando prevenção de quedas. Rev. RENE. 2011;12(4):790-797.
Conclusão 28. Lima, D; Cezario, V. Quedas em idosos e comorbidades clínicas. Revista Hospital
Universitário Pedro Ernesto. 2014;13(2):30-37.
A proposta do estudo centrava na validação de um mate- 29. Mazo, G. Z. et al. Condições de saúde, incidência de quedas e nível de atividade
rial educativo tendo em vista proporcionar uma independên- física dos idosos. Rev Bras Fisioter. 2007;11(6):437-442.
30. Rezende, C. P.; Gaede-Carrillo, M. R. G; Sebastião, E. C. O. Falls in elderly Bra-
cia ao idoso, para que com isso fossem evitados acidentes da zilians and the relationship to medication: a systematic review. Cadernos de saude
vida diária, como por exemplo, as quedas. publica. 2012;28(12):2223-2235.
Tendo em vista o processo de validação, mostra-se que 31. Oliveira, V. L. B., et.al. Modelo explicativo popular e profissionaldas mensagens
de cartazes utilizados nas campanhas de saúde. Texto & Contexto Enfermagem.
o material educativo para prevenção de quedas em idosos, 2007;16(2):287-293.
demonstra concordância em seu conteúdo, apresentando in- 32. Alexandre, N. M. C.; Coluci, M. Z. O. Validade de conteúdo nos processos de
construção e adaptação de instrumentos de medidas. Ciência & Saúde Coletiva.
formações fidedignas. 2011;16(7):3061-3068.
A utilização de uma linguagem clara e de fácil com- 33. Pasquali, L. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2004.
preensão torna o instrumento um material de amplo acesso. 34. Oliveira, M. S.; Fernandes, A. F. C.; Sawada, N. O. Manual educativo para o au-
Conclui-se que o material educativo está apto para ser uti- tocuidado da mulher mastectomizada: um estudo de validação. Texto & Contexto
Enfermagem. 2008;17(1):115-123.
lizado por idosos, familiares e cuidadores na prevenção de 35. Echer, I. C.. Elaboração de manuais de orientação para o cuidado em saúde. Revis-
quedas no ambiente domiciliar. ta Latino-Americana de Enfermagem. 2005;13(5):754-757.

171
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Artigo Original

Verificação da ocorrência de quedas como fator


de risco na fratura proximal do fêmur em idosos
nas enfermarias de uma unidade hospitalar pública
de João Pessoa – PB

Verification of the occurrence of falls as factor of risk in


the proximal breaking of femur in aged in the infirmaries of
a public hospital unit of João Pessoa – PB

Talita Saraiva Pimenta1, Valéria Matos Leitão de Medeiros2, Fabíola Mariana Rolim de Lima3,
Rosângela Guimarães de Oliveira4

1. Ft., Graduada em Fisioterapia pela Faculdade Resumo


de Ciências Médicas da Paraíba (FCM-PB);
2. Ft., Graduada em Fisioterapia pela UNIPÊ-PB;
A queda é um evento acidental que pode ser considerada para o ser idoso
Pós graduada em Fisioterapia Cardiorespira- como início de um importante declínio funcional ou como sintoma de uma pa-
tória pela UFPE-PE; Mestranda em Educação tologia. O objetivo desta pesquisa consiste em verificar a ocorrência de quedas
pela UFPB. como fator de risco para a fratura proximal do fêmur em idosos nas enfermarias de
3. Ft., Graduada em Fisioterapia pela UNIPÊ-
-PB; Pós graduada em Fisioterapia em UTI
uma unidade hospitalar pública de João Pessoa. A metodologia decorre de um
pela Faculdade Redentor-RJ; Professora do trabalho de caráter exploratório, onde foi utilizado o método quantitativo. O uni-
curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciên- verso da pesquisa foi representado por 30 indivíduos admitidos nas enfermarias
cias Médicas da Paraíba (FCM-PB). do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena no período de
4. Ft., Orientadora; Doutoranda em Educação
Popular pela UFPB; Coordenadora do curso
março a abril de 2007. Os itens de inclusão selecionados foram: indivíduos com
de Graduação em Fisioterapia da Faculdade diagnóstico de fratura proximal do fêmur de ambos os sexos com idade ≥ 60
de Ciências Médicas da Paraíba (FCM-PB) anos. Na população estudada pudemos observar a ocorrência de: média de idade
e do Serviço de Fisioterapia do Hospital de de 74 anos, com uma prevalência maior de pacientes entre 60 a 69 anos; onde
Emergência e Trauma Senador Humberto Lu-
cena (HETSHL).
60% eram do gênero feminino; 100% dos idosos apresentaram o fator queda
como causa primária de internação; 66% dos idosos possuíam nível funcional
avançado antes do trauma; 52% tiveram o diagnostico de fratura do colo do fê-
Endereço para correspondência: Talita Sa- mur, 56% do gênero masculino desenvolveram complicações e 72% do gênero
raiva Pimenta – Rua Paulo Roberto de Souza
Acioly, nº 1001, Bairro Bessa – João Pessoa
feminino tinham alguma patologia associada. Considera-se que a queda é um
- PB – CEP: 58035-110 evento que predispõe as fraturas, causando maior comprometimento funcional e
Fones: (83) 9881-9244 / (83) 3245-4371 de saúde, aumentando assim o risco de morte.
E-mail: talitek@hotmail.com
Palavras-chave: unidade hospitalar pública, idoso, fratura, quedas.
Recebido para publicação em 29/08/2022 e acei-
to em 22/09/2022, após revisão.

172
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
The fall is an accidental event that can be considered it to be aged as beginning of an important functional decline or
as symptom of pathology. The objective of this research consists of verifying the occurrence of falls as factor of risk in the
proximal breaking of the femur in aged in the infirmaries of a public hospital unit of João Pessoa. The methodology elapses
of a work of exploratory, where quantitative methods had been used. The universe of the research was represented by 30
individuals admitted in the infirmaries of the Hospital of Emergency and Trauma Senator Humberto Lucena in the period
of March to April of 2007. Itens of inclusion selected had been: individuals with diagnosing of proximal breaking of femur
of both the sex with age ≥ 60 years. In the population we could observe the occurrence of: average of age of 74 years, with
a bigger prevalence of patients between 60 the 69 years; 60% were of the feminine sort; 100% of the aged ones they had
presented the factor fall as primary cause of internment; 66% of the aged ones advanced functional level before the trauma;
52% had had diagnosing of breaking of the col of femur, 56% of the masculine sort had developed complications and 72% of
the feminine sort had some associated pathology. It is considered that the fall is an event that premakes the breakings, causing
bigger functional damage and of health, increasing the death risk.

Keywords: public hospital unit, aged, breaking, falls.

Introdução apoio ou de aceitar assistência para a realização das ativi-


.Nas últimas décadas, vem se observando um ritmo mais dades da vida diária3.
acelerado no crescimento da população idosa nos paises em Os idosos apresentam maior suscetibilidade a sofrerem
desenvolvimento, quando comparado ao dos países desenvol- lesões em decorrência de quedas devido ao declínio funcional
vidos. Paralelamente ao aumento da população idosa, existe existente no processo de envelhecimento, como o aumento do
uma elevação da vulnerabilidade para estes sofrerem lesões, tempo reação e diminuição da eficácia das estratégias motoras
as quais geralmente acontecem por traumas de baixa energia. do equilíbrio corporal, fazendo de uma queda leve um evento
O processo de envelhecimento vem acompanhado por potencialmente perigoso, reduzindo a mobilidade e indepen-
diversos problemas de saúde, onde na maioria das vezes a dência, dessa forma aumentando as chances de morte no idoso4.
capacidade funcional do idoso está alterada. Isto se deve tanto A mortalidade entre os idosos por conseqüência da que-
a presença de doenças, como também a ocorrência de quedas, da é muito comum no Brasil, onde no ano de 2004, as mortes
que representam diversos impactos na vida do idoso, como, por queda entre os idosos chegaram a 3.024 e esse percentual
aumento do índice de mortalidade, hospitalização, institucio- representou 0,6% de todas as mortes de idosos no país. No en-
nalização e maior consumo de serviços sociais e de saúde. tanto, a maior parte das quedas não resultam em morte. Apro-
Além das conseqüências diretas da queda, os idosos restrin- ximadamente 40% das quedas em mulheres com mais de 75
gem suas atividades devido a dores, incapacidades, medo de anos de idade resultam em fraturas, comparados com 27 % em
cair, atitudes protetoras de familiares e cuidadores ou até mes- homens, sendo a fratura de quadril que mais comumente leva
mo por aconselhamento de profissionais de saúde1. à hospitalização, com longa duração de internação comparada
A ocorrência de quedas está relacionada à falta de es- a outras causas de internação hospitalar no idoso1,3.
tabilidade corporal, que depende da recepção adequada das Numa pessoa idosa, a queda pode assumir significados
informações sensoriais, cognitivas (orientação temporal, es- de decadência e fracasso gerados pela percepção da perda
pacial e de memória; capacidade de planejamento e decisão; de capacidades do corpo, potencializando assim sentimentos
linguagem - expressão e compreensão) e musculoesqueléti- de vulnerabilidade, ameaça, humilhação e culpa. Em geral
cas. O efeito cumulativo das alterações corporais encontra- ocorre uma resposta depressiva em conseqüência deste fato.
das no idoso, as doenças, e o meio-ambiente inadequado são Aqueles que sofrem quedas apresentam um grande declínio
fatores que irão predispor à ocorrência deste evento2. funcional nas atividades de vida diária e nas atividades so-
As quedas são classificadas em intrínseca, a qual está re- ciais, com aumento do risco de hospitalização4.
lacionada com o indivíduo, ou extrínseca, que é relacionada Nos idosos é bastante comum a reincidência das quedas
com o ambiente. Os fatores intrínsecos incluem alterações após o período de alta, gerando incapacidades parciais ou totais,
fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, doenças e me- piorando assim a qualidade de vida, a qual pode ser definida
dicamentos que acarretam risco de queda para os idosos. As como a percepção do indivíduo de sua posição na vida no con-
causas extrínsecas incluem perigos ambientais, como chão texto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação
escorregadio e áreas pouco iluminadas3. aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações1.
Alem dos fatores acima citados, existem fatores psico- Entre as lesões traumáticas mais comuns no idoso está a
lógicos que acometem o idoso favorecendo a ocorrência de fratura do fêmur. A perda da continuidade óssea pode acon-
quedas. Grande parte da população idosa não aceita o de- tecer na diáfise, na região distal e proximal, sendo esta a
clínio das suas capacidades sensoriais e motoras, e tendem mais recorrente. As fraturas do quadril ainda hoje, levam à
a sofrer quedas como um resultado da superestimação de grande morbidade e mortalidade. Autores colocam em séries
suas capacidades funcionais, antes realizadas na juventude. publicadas estatísticas que variam de 15 a 30% no que diz
Muitas vezes o idoso se recusa a usar um dispositivo de respeito ao óbito de pacientes idosos com esse tipo de fratura

173
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

no primeiro ano após o trauma. A incidência da fratura de fêmur alizado, doenças e complicações associadas, nível funcional.
aumenta com a idade, a partir dos 50 anos, sendo duas vezes O instrumento de pesquisa foi aplicado e coletado nas en-
mais freqüente nas mulheres. Cerca de 80 a 90% destas fraturas fermarias adulto (Posto 1 e Posto 2) no período de março a abril
ocorrem por consequência de queda, onde as fraturas da porção de 2007, de acordo com os relatos dos acompanhantes dos pa-
proximal do fêmur estão associadas a maior comprometimento cientes com fratura proximal do fêmur, pois à maioria dos ido-
funcional e as maiores taxas de mortalidade devido a quedas. sos não estavam aptos para responder os questionamentos com
De acordo com esses dados à prevenção de quedas se torna re- fidedignidade (apresentavam sinais de desorientação).
levante para prevenir o aparecimento de fraturas3,5.
Diante do envelhecimento populacional, o objetivo deixa Resultados
de ser apenas prolongar a vida, mas, principalmente, a ma- Baseando-se na classificação de OMS (2001), na qual
nutenção da capacidade funcional de cada indivíduo, de for- idosos são pessoas com mais de 60 anos de idade, a amostra
ma que ele permaneça autônomo e independente pelo maior de indivíduos foi composta por N=30, que apresentavam a
tempo possível. Portanto, estimativas revelam que esse cres- idade média de 74 anos. A população da pesquisa foi estrati-
cimento da população idosa implicará diretamente os serviços ficada por idade, gênero, motivo de internação, nível funcio-
de assistência social e de saúde da população geriátrica6. nal antes da admissão no hospital, diagnóstico, complicações
Diante desse quadro, torna-se inadiável a adoção de po- e doenças associadas. Quanto ao gênero, 18 idosos são do
líticas sociais que atendam as necessidades do idoso. Entres sexo feminino com média de idade de 75 anos e 12 do sexo
os vários problemas a serem enfrentados, um dos mais preo- masculino com média de idade de 73 anos.
cupantes talvez seja o elevado custo da assistência ao idoso, No gráfico 1 estão demonstrados os percentuais dos in-
que chega a ser três a sete vezes maiores que o custo médio divíduos quanto a idade cronológica distribuídas por interva-
da assistência à população em geral5. los de tempo, onde estão dispostos por amostra (n) de: n=10
Assim, este estudo poderá possibilitar aos profissionais indivíduos entre 60 ≤ 69 anos, n=9 indivíduos entre 70 ≤
e acadêmicos da área de saúde conhecer melhor a população 79 anos, n=8 indivíduos entre 80 ≤ 89 anos e n=3 indivídu-
a ser estudada, contribuindo para a maior conscientização os entre 90 ≤ 99 anos.
dos mesmos sobre a importância da promoção da saúde ao
longo da vida, tanto para prevenir como para retardar pos- Gráfico 1: Idade cronológicas dos indivíduos.
síveis complicações devido ao trauma e conseqüentemente
diminuição da capacidade funcional.

Metodologia
.O presente estudo se caracteriza por ser uma pesquisa
de gênero empírico porque se dedica ao tratamento da re-
alidade, produzindo e analisando dados seguindo pela via
do controle factual e empírico. Classifica-se com base nos
objetivos traçados como, exploratória, por proporcionar fa-
miliaridade com o fenômeno tornando-o mais evidente. Em
relação aos procedimentos técnicos levantados sua classifi-
cação se dá como quantitativa, pois, através do levantamento
Fonte: Pimenta, 2007 – Hetshl/ N=30
de dados, busca identificar e explicar sua existência, relação
ou influência sobre outra variável e segundo a base de infor- No gráfico 2 estão demonstrados os percentuais dos
mação é uma pesquisa de campo e bibliográfica7,8. indivíduos quanto ao nível funcional antes da fratura, onde
A população deste estudo foi representada por 30 pa- foram avaliadas às atividades da vida diária básicas e ins-
cientes admitidos na enfermaria do Hospital de Emergência trumentais, apresentando n= 20 idosos com nível funcional
e Trauma Senador Humberto Lucena. Os itens de inclusão avançado antes da injúria.
selecionados são: indivíduos com diagnostico de fratura pro-
ximal do fêmur de ambos os sexos com idade ≥ 60 anos. Gráfico 2: Nível funcional dos indivíduos antes da fratura.
Os indivíduos foram selecionados de forma intencional,
ou seja, aqueles que estão de acordo com o item de inclusão
citado anteriormente. Foi adotado um questionário que se
subdividiu em duas partes, onde na segunda parte foi esco-
lhido um teste de avaliação funcional do idoso analisando as
atividades funcionais antes e após o trauma9.
O instrumento consta de questões objetivas, ou seja,
perguntas que apresentam alternativas de respostas fixas e
pré-estabelecidas, e subjetivas, através de questionamentos
aplicados através do contato direto com o paciente, o mesmo
apresenta os seguintes itens: idade, gênero, nível funcional,
diagnóstico, motivo de internação, procedimento cirúrgico re-

174
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

No gráfico 3 estão demonstrados os percentuais dos in- em idosos nas enfermarias de uma unidade hospitalar públi-
divíduos quanto ao motivo da internação, onde N=30 idosos ca de João Pessoa - PB. Para isso foi necessário caracterizar
apresentaram a injuria de baixa energia queda como causa a população quanto às variáveis, idade, gênero, nível fun-
primaria da internação. cional antes da admissão, motivo de internação, diagnóstico,
complicações e doenças associadas.
Gráfico 3: Motivo da internação dos indivíduos. Em relação à idade, a mesma constitui um dado rele-
vante utilizada para predizer parâmetros nas leis e nos tra-
balhos científicos, porém, apresenta variações e não é uma
mensuração fidedigna, porque não determina a condição da
pessoa, ou seja, não define a idade biológica e aspetos de
saúde biopsicossocial10.
Quanto ao gráfico 1, referente ao critério cronológico da
idade, percebe-se que na literatura existem variações deste
dado devido aos indicadores da expectativa de vida ao nas-
cer. Nos paises em desenvolvimento, como o Brasil o limite
de idade entre o individuo adulto e o idoso é de 60 anos, com
exceção para os aspectos legais onde o limite de idade é igual
ao das nações desenvolvidas, ou seja, 65 anos11. Na pesquisa
desenvolvida percebe-se que não existiu diferenças signifi-
Fonte: Pimenta, 2007 – Hetshl/ N=30 cativas entre as estratificações das idades por intervalo de
tempo, a não ser para os idosos com idade superior ou igual a
No gráfico 4 estão demonstrados os percentuais dos
90 anos (n=3/10%), no geral a média de idade foi de 74 anos.
indivíduos quanto aos diagnósticos, os mesmos foram
Em relação ao gênero, as proporções entre a população
dispostos em fratura do colo do fêmur, transtrocantérica,
masculina e feminina vêm diminuindo no Brasil. Em 1980,
subtrocantérica e da diáfise do fêmur. A incidência maior
havia 98,7 homens para cada cem mulheres, proporção que
encontra-se para a fratura do colo do fêmur onde n=16 ido-
caiu para 97% em 2000 e será de 95% em 2050, ou seja, será
sos sofreram esta lesão.
seis milhões de mulheres a mais do que homens. Já a diferen-
Gráfico 4: Diagnóstico dos indivíduos. ça entre a expectativa de vida de homens e mulheres atingiu
7,6 anos em 2000 – sendo a masculina de 66,71 anos e a
feminina de 74,29 anos11. Nesta pesquisa o gênero feminino
também foi mais levado que os homens em 20% afirmando a
prevalência deste gênero na população estudada.
Em relação à capacidade funcional, indicadores revelam
que existem dois grupos de Idosos predisponentes a que-
das: o primeiro representado por idosos de 75 a 84 anos que
necessitam de ajuda nas atividades de vida diária (comer,
tomar banho, higiene íntima, vestir-se, sair da cama, conti-
nência urinária e fecal) que tem uma probabilidade de cair 14
vezes maior do que pessoas da mesma idade independentes,
estes estão mais relacionados a fatores intrínsecos. O segun-
do grupo de idosos mais relacionados a fatores extrínsecos,
Fonte: Pimenta, 2007 – Hetshl/ N=30 talvez porque eles tendam a ser membros de um grupo mais
ativo12. Quanto ao nível funcional da população antes do
Quanto à incidência de complicações, distribuídas por evento queda (gráfico 2) a maioria, apresentaram nível fun-
gênero, 14 pacientes são do gênero feminino e 16 do mascu- cional avançado, ou seja, eram fisicamente independente, a
lino. As complicações mais incidentes foram as ulceras por capacidade física estava conservada para a realização das ati-
pressão, hérnia, hematoma e edema. vidades da vida diária básicas e instrumentais, após o evento
Em relação às doenças associadas os indivíduos apre- todos os indivíduos por estarem ainda no leito do hospital se
sentaram: Acidente Vascular Cerebral (AVC), Mal de Pa- recuperando da fratura apresentaram nível funcional baixo.
rkinson, Alzheimer, Osteoporose, Diabetes Mellitus, Hiper- .Quanto a injuria de baixa energia, as quedas (gráfico 3)
tensão Arterial Sistêmica, Osteopenia, Osteoartrose, Artrite são a primeira causa de acidentes em pessoas acima de 60
Reumatoide, Bronquite, Insuficiência renal aguda e cardio- anos. Cerca de 5% das quedas levam a fratura. As lesões
patias. Entre essas doenças 72,2% das mulheres e 66,6% dos resultantes de quedas são comuns, ocorrendo em um terço
homens tinham alguma doença associada. a três quartos delas, embora não tenha maior gravidade, as
de maior gravidade estão voltadas para idosos com níveis
Discussão funcionais mais elevados13.
O referido estudo baseou-se na verificação da ocorrência Segundo os autores a incidência bruta de fraturas do fê-
de quedas como fator de risco na fratura proximal do fêmur mur proximal (gráfico 4) no Brasil, em pessoas com 70 anos

175
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

ou mais estão representadas segundo o gênero: feminino - mente no banheiro; colocar suportes de parede no Box e ao
90, 21/10.000 e masculino - 25,46/10.0004. Este fator coloca lado do vaso sanitário; utilizar corrimão nas escadas e não ter
esta síndrome geriátrica como um dos problemas de saúde os degraus muito altos e muito estreitos, entre outros.
pública mais relevantes na atualidade, devido ao aumento
da expectativa de vida ao nascer no Brasil está se elevando Considerações finais
devido aos avanços da medicina e a melhoria nas condições Diante do exposto percebe-se que evitar o evento de
gerais de vida da população. queda é considerada hoje uma conduta de boa prática geri-
As mulheres sofrem mais fraturas que os homens, en- átrico-gerontologia, tanto em hospitais, quanto no ambiente
tretanto, a mortalidade devido às fraturas é maior entre eles, domiciliar e em instituições de longa permanência, sendo
devido às complicações serem mais recorrentes neste gêne- considerado um dos indicadores de qualidade de serviços
ro. Em torno de 30% dos idosos em países ocidentais sofrem para idosos. Além disso, constitui-se uma política pública
queda ao menos uma vez ao ano, sendo esta freqüência me- indispensável, não só porque afeta de maneira intensa a vida
nor nos países orientais, onde cerca de 15% dos idosos caem dos idosos e de suas famílias, como também drena montan-
uma vez ao ano e apenas 7,2% caem de forma recorrente4. tes expressivos de recursos econômicos no tratamento de
Pode-se perceber que a literatura condiz com a pesquisa, suas conseqüências, como a fratura de quadril e as complica-
pois, a causa da internação do universo dos indivíduos inves- ções dos efeitos prolongado no leito.
tigados foi o evento queda, ocasionando a fratura de fêmur. Torna-se necessário um programa educativo visando a
Esses indivíduos em sua maioria as mulheres, apresentavam prevenção do evento queda intrínseco e extrínseco para oti-
algumas patologias associadas, citadas nos resultados que mizar a qualidade de vida dos idosos na manutenção das suas
predispõe os fatores intrínsecos que pode ocasionar a queda atividades de vida diária.
e consequentemente à fratura.
.As ocorrências de quedas nos idosos apresentam va- Referências
rias conseqüências como aumento do risco de fraturas e de 1. Fabrício, SCC; Junior, MC; Rodrigues, RAP. Causas e conseqüências de quedas
morte, resultando assim maiores riscos de hospitalização e de idosos atendidos em hospital público. Rev. Saúde Pública, São Paulo – SP, v.
38, fevereiro. 2004. Acesso em 01/05/2007.
institucionalização. Alem desses fatores, o idoso que sofreu 2. Barreto, KML.; Buksman, S; Leite, VMM; Pereira, SRM; Perracini, MP. Que-
queda possui maior medo de cair, causando maior restrição das em Idosos. Projeto Diretrizes (Sociedade Brasileira de Geriatria e Geronto-
logia).2001. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretri-
de atividades de vida diária e declínio na saúde, gerando não zes/082.pdf. Acesso em 29/04/2007.
apenas prejuízo físico e psicológico, mas também aumento 3. Pussi, FA; Zinni, JVS. O Papel da Fisioterapia na Prevenção da Instabilidade e
Quedas em Idosos. 2003. Disponível em http://www.wgate.com.br/conteudo/me-
dos custos com os cuidados de saúde. Nos idosos que nun- dicinaesaude/fisioterapia/traumato/instabilidade_postural_idoso.htm. Acesso em
ca sofreram quedas e que possuem baixa autoconfiança em 29/04/2007.
4. Perracini, MR; Ramos, LR. Fatores associados a quedas em uma coorte de idosos
realizar atividades do dia-a-dia, pelo medo de cair, tendem residentes na comunidade. Rev. Saúde Pública, São Paulo-SP, v.36, n.6, dezem-
a ter um comprometimento progressivo em sua capacidade bro, 2005.
5. Rebellato, JR; Morelli, JGS. Fisioterapia Geriátrica: A Prática da Assistência ao
funcional ao longo do tempo4. Idoso. 1 ed. São Paulo, SP: Manole, 2004.
.Destaca-se a importância da prevenção de quedas como 6. Costa, EFA; Porto, CC; Soares, AT. Envelhecimento populacional brasileiro e o
aprendizado de geriatria e gerontologia. Revista da Universidade Federal de Goiás,
medida de profilaxia para fraturas do fêmur, levando em v. 5, n. 2, dezembro. 2003.
consideração que a fratura do fêmur é muito comum nos ido- 7. Gil, AC. Métodos e Técnicas de Pesquisas. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
8. Lakatos, EM; Marconi, MA. Metodologia do Trabalho Cientifico: procedimentos
sos e que possuem elevados índices de mortalidade e grande básicos, pesquisa bibliográfica e relatório, publicações cientificas. 4ª ed. São Pau-
custo financeiro. A incidência desta fratura aumenta com a lo: Atlas, 1992.
9. Medeiros, VML. Nível funcional, prática de atividade física e estilo de vida de ido-
idade, a partir dos 50 anos, sendo duas vezes mais frequente sos institucionalizados: Um estudo no AMEM e na ASPAN. In: GUEDES, Onacir
nas mulheres devido a menor massa óssea e muscular com- Carneiro. IV Seminário Internacional de atividade física para a terceira Idade. João
Pessoa, PB: UNIPE, 2002.
parada aos homens3. 10. Roizen, MF. Idade Verdadeira - Como Ficar Emocional E Fisicamente Mais Jovem
.O idoso deve adotar uma série de medidas que busquem Editora: Campus, 1999.
11. IBGE. Projeção da População do Brasil. 2004. Disponível em: <www.ibge.gov.
evitar a ocorrência de quedas, baseada nas causas intrínse- br/home/presidencia/noticias/30082004projecaopopulacao.shtm.>. Acesso em
cas, e principalmente nas causas extrínsecas, pois as quedas 22/04/2007.
12. Netto, EBV; Kantovitz , PC J; Filho, RMS; Fratti, SR; Soni, J; Junior, AVB. A
ocorrem em sua maioria no ambiente domiciliar. Para se pre- fratura do colo do fêmur como fator de maior morbidade e mortalidade. Rev Bra-
venir a ocorrência deste fator deve-se tomar medidas como sileira de Ortopedia. v.33, n. 6, p483 a 487. Junho, 1998. Disponível em: <http://
www.rbo.org.br/pdf/1998_jun_26.pdf>. Acesso em 04/12/2006.
manter uma boa iluminação nas escadas e corredores; retirar 13. Heckman, J; Schenck, R; Agarwal, A. Ortopedia: Diagnóstico e Tratamento. Rio
tapetes soltos, colocar piso ou tapete antiderrapante especial- de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.

176
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Revisão

A eficácia da acupuntura sistêmica


nos sintomas da fibromialgia:
revisão de literatura

The efficiency of acupuncture systemic


on fibromyalgia symptoms: literature review

Aline Tiago Vasconcelos¹, Erick Vambastem Oliveira dos Reis¹,


Lucas Guedes Barbosa¹, Monick Ondina Duarte Soares¹, Raquel de Mello2

1. Acadêmicos do Curso de Graduação em Fisio- Resumo


terapia da Faculdade Estácio de Macapá AP –
Brasil
Introdução: A fibromialgia é uma síndrome crônica, caracterizada por do-
2. Orientadora: Fisioterapeuta, docente da Facul- res musculoesqueléticas em sítios dolorosos específicos à palpação, associados
dade Estácio de Macapá AP – Brasil. a sintomas físicos e mentais. Objetivo: Elucidar a eficácia da acupuntura como
terapia para a fibromialgia. Metodologia: uma revisão sistemática da literatura,
realizados nas bases de dados Google Acadêmico, SciElo, Pubmed, BIREME,
Endereço para correspondência: PEDro e Medline, entre 2014 a 2021. Resultados: a acupuntura sistêmica melho-
E-mail: raqueldemello@gmail.com rou a dor, insônia, depressão e fadiga nos pacientes com fibromialgia. Conclusão:
a acupuntura é benéfica no tratamento da fibromialgia, pois reduz o impacto e os
sintomas dessa síndrome.

Recebido para publicação em 04/07/2022 e acei- Palavras-chave: fibromialgia, acupuntura, sintomas.


to em 21/08/2022, após revisão.

Abstract
Introduction: Fibromyalgia is a chronic syndrome characterized by muscu-
loskeletal pain in specific painful sites on palpation, associated with physical and
mental symptoms. Objective: To elucidate the effectiveness of acupuncture as a
therapy for fibromyalgia. Methodology: a systematic review of the literature, car-
ried out in the Google Scholar, SciElo, Pubmed, BIREME, PEDro and Medline
databases, between 2014 and 2021. Results: systemic acupuncture improved pain,
insomnia, depression and fatigue in patients with fibromyalgia. Conclusion: acu-
puncture is beneficial in the treatment of fibromyalgia, as it reduces the impact and
symptoms of this syndrome.

Keywords: fibromyalgia, acupuncture, symptoms.

177
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Introdução cias que vão permitir modular o funcionamento do Sistema


A fibromialgia é uma síndrome dolorosa crônica, com Nervoso, Sistema Endócrino, glândulas exócrinas e Sistema
etiologia multifatorial complexa e idiopática, que acomete Imunitário, restituindo a normalidade4,11,12,14,18,21.
preferencialmente mulheres, geralmente, com idade entre 30 A punção com agulhas ativa fibras mielinizadas Aß e Aδ
e 60 anos, sendo caracterizada por dores musculoesqueléti- de condução rápida e fibras C não mielinizadas de condução
cas em sítios dolorosos específicos à palpação, conhecidos lenta, o sinal é transmitido ao cérebro, mais precisamente,
como tender points. Associados, frequentemente, aos pos- ao hipotálamo, assim, é estimulado liberação de substân-
síveis sintomas físicos e mentais, o paciente pode apresen- cias endógenas, incluindo neurotransmissores do Sistema
tar fadiga generalizada, distúrbios do sono, rigidez matinal, Nervoso Central, que atuam no corno posterior da medula
sensação de dispneia, ansiedade, depressão e alteração da espinhal, ativando os receptores opióides nos axónios das
função cognitiva7,12,13,17. fibras nervosas C e Aδ que transmitem o estímulo doloroso
Há diversas hipóteses que tentam elucidar os mecanis- dos nociceptores ativados na periferia, assim, a ativação dos
mos fisiopatológicos envolvidos na gênese e evolução da receptores opióides leva à inibição da transmissão do sinal
fibromialgia, dentre os principais fatores estudados estão: de dor e da substância P, promovendo analgesia. Os meca-
os distúrbios do processamento da dor, relacionados à per- nismos neurofisiológicos ativados pela acupuntura são os
cepção, transmissão e controle central da dor; as disfunções sistemas: endógeno opióide, serotoninérgico, adrenérgico e
neuroendócrinas, como alterações nos níveis de cortisol, glutamatérgico, assim como, a atuação de substâncias anti-
melatonina e valores reduzidos de serotonina; a deficiência -inflamatórias e inibição da neuroglia11.
funcional de neurotransmissores inibitórios espinhais e su- Além disso, demonstraram-se alterações significativas da
praespinhais; a hiperatividade de neurotransmissores exci- atividade cerebral em resposta à terapêutica com acupuntura,
tatórios; as alterações imunológicas; disfunção mitocondrial através de exames por imagens como eletroencefalograma,
com deficiência de coenzima Q10; a deficiência de vitami- ressonância magnética e tomografia por emissão de pósitrons
na D; o aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro; cerebrais. Através de exames de neuroimagem averiguou-se
as alterações na membrana muscular; fatores genéticos e as interação entre sistemas corticais, nomeadamente sensorial,
causas psicoemocionais. Acredita-se que a manifestação e límbico e motor, através dos sinais exteroceptivos incitados
evolução dessa condição são dependentes da interação entre pela aplicação desta técnica, permitindo uma mediação da an-
os possíveis fatores etiológicos7,19,22. tinocicepção e, como tal, controle da dor. No tratamento da
O diagnóstico é clínico, feito através da história clínica, fibromialgia a acupuntura pode provocar analgesia, resultado
exame físico e avaliação dos sintomas. Para que um indi- da estimulação sensorial pelas agulhas, estímulo na liberação
víduo seja diagnosticado com fibromialgia, o mesmo deve de encefalinas, serotonina e endorfinas, gerando uma resposta
apresentar: dor crônica há mais de três meses, dor genera- à dor. Ao estimular os pontos com as agulhas, há um aumento
lizada acima e abaixo da linha de cintura, do lado direito e do fluxo cerebral, promovendo o controle da dor2,11.
esquerdo do corpo e em pelo menos um componente do es- Visto que a literatura descreve resultados positivos em
queleto axial, além de dor à palpação com pressão de quatro diversas patologias crônicas por meio da acupuntura, torna-
quilogramas em pelo menos 11 dos 18 tender points pré esta- -se importante evidenciar os benefícios da técnica para as
belecidos. Frequentemente, o tratamento acontece de forma manifestações clínicas apresentadas na fibromialgia. Com
multiprofissional, incluindo tratamento farmacológico, não isso, o objetivo geral desse artigo foi elucidar a eficácia da
farmacológico e integrativo complementar7,12,17,19. acupuntura como terapia para a fibromialgia.
A fisioterapia possui grande relevância no tratamento da
fibromialgia, promovendo melhora do controle da dor e o au- Metodologia
mento ou manutenção das habilidades funcionais do pacien- O presente artigo configura-se como uma revisão sis-
te, intervindo com treinos resistidos, exercícios aeróbicos, temática da literatura desenvolvido a partir do levantamen-
hidroterapia, terapia manual e o alongamento, que trabalham to bibliográfico realizado nos meses de setembro de 2021
o aumento da capacidade física. Atualmente, a procura por a maio de 2022 nas bases de dados: Google Acadêmico,
terapias integrativas, como a acupuntura, tem aumentado. SciElo, Pubmed, BIREME, PEDro e Medline, utilizando
Essas terapias exercem influências no bem-estar, favorecem os descritores “fibromialgia”, “acupuntura”, “acupuncture”
o relaxamento muscular e o alívio da dor, por isso, são recur- “fibromyalgia”. Compuseram a revisão: ensaios clínicos,
sos que podem ser utilizados nas condutas de tratamento3,7. estudo longitudinal prospectivo quantitativo e pesquisa de
A acupuntura é uma terapia milenar, fundamentada em campo quantitativa.
bases filosóficas, originalmente, pertencente a medicina Para os critérios de inclusão e exclusão, foram incluí-
tradicional chinesa. Existem várias formas de aplicação da dos artigos publicados entre os anos de 2014 a 2021, artigos
acupuntura, dentre elas as agulhas (acupuntura e auriculote- completos em idioma português, inglês, mandarim e mace-
rapia), digitopressão, eletroacupuntura, moxabustão e laser. dônia e artigos relacionados ao tema, realizados apenas com
A principal técnica consiste na aplicação de agulhas sólidas seres humanos. Foram excluídas publicações duplicadas,
e extremamente finas em pontos anatômicos específicos do artigos publicados antes de 2014 e estudos científicos que
corpo localizados sob os tecidos cutâneos ou musculares, os apresentassem fuga ao tema.
quais possuem uma elevada concentração de terminações Em relação aos aspectos éticos e legais, esta pesquisa,
nervosas sensoriais, quando estimuladas acionam substân- por se tratar de revisão integrativa da literatura, não envolve

178
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

manipulação com seres humanos e animais, porém seu pro- Tabela 1: Resultados alcançados dos estudos clínicos se-
jeto de pesquisa foi submetido a uma análise conforme as lecionados.
normas do Comitê de ética em pesquisa da Faculdade Está-
cio de Macapá e obteve certificado de isenção.
Para a elaboração deste artigo, foram obedecidas as
seguintes etapas: realização da pesquisa utilizando palavras-
-chave nas bases de dados; utilização dos filtros oferecidos
nas bases ou sites, levando em conta o critério de inclusão e
exclusão definidos; realização da leitura, tradução dos artigos,
análise dos materiais e posteriormente, a construção do artigo.

Quadro 1: Resultados alcançados dos estudos clínicos


selecionados.
rtigos encontrados Artigos excluídos Artigos selecionados
A
213 187 26
Fonte: própria dos autores.

Resultados
Esta revisão é composta por doze estudos clínicos rando-
mizados, que cumpriram os critérios estabelecidos, envolvendo
pacientes diagnosticados com fibromialgia e que receberam tra-
tamento com acupuntura sistêmica. Tais artigos buscaram inves-
tigar os efeitos e validar a eficácia da terapia, sendo, onze artigos
em idiomas estrangeiros e um artigo em língua portuguesa.

Discussão
Os efeitos da acupuntura sistêmica em pacientes fibro-
miálgicos, foram investigados de diferentes formas, através
de entrevistas, testes, escalas, questionários, exames labora-
toriais, comparação entre pré-intervenção e pós-intervenção e
comparação entre acupuntura e outros métodos terapêuticos.
Alguns estudos buscaram investigar mudanças causadas
fisiologicamente após a intervenção com acupuntura em pa-
cientes diagnosticados com fibromialgia, através de exames
laboratoriais, quantificaram alterações causadas nos biomar-
cadores, realizando análise da proteína C reativa, plaquetas e
células imunológicas9, bem como, serotonina e substância P10.
Constatou-se que a acupuntura induziu o aumento da serotoni-
na e a diminuição dos biomarcadores de resposta inflamatória,
havendo decréscimo nos valores de Proteína C Reativa, monó-
citos, neutrófilos, plaquetas e substância P, evidenciando, tam-
bém, redução significativa na dor e impacto da doença, assim,
tais estudos apontam que as alterações geradas nos biomarcado-
res, através da acupuntura sistêmica, estão diretamente ligadas a
melhora dos sintomas em pacientes com fibromialgia.
A maioria dos estudos1,5,6,9,10,20,23-25 descreve os pontos de
acupuntura utilizados nos tratamentos. A seleção dos pontos
foi baseada em protocolos e método de diagnóstico da me-
dicina tradicional chinesa. Os pontos de acupuntura, comu-
mente utilizados, como intervenção para fibromialgia foram:
IG4, IG11, E36, F3, BP6, C7, VC6, VC12, VG14, VG20,
CS6, VB34, ID3, ID4, ID15, B62 e Yintang.
A acupuntura apresentou resultados significativos na
melhora da dor na maioria dos artigos selecionados no pre-
sente estudo5,6,9,10,15,16,20,23,25. O único artigo1 que não apresen-
tou resultado benéfico realizou o tratamento em 4 sessões.
Esta abordagem, com quantitativo baixo de sessões, pode ter
induzido os resultados, podendo afirmar ser insuficiente, já

179
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

que nos outros estudos com resultados positivos na dor, o Conclusão


quantitativo variou entre 8 a 16 sessões. Através da análise dos estudos clínicos, é possível infe-
Nikolovska; Radinski16; Uğurlu, et al.23 apontam me- rir que a acupuntura sistêmica apresenta resultados benéficos
lhora imediata na dor, fadiga, insônia, depressão, estresse no tratamento da fibromialgia, demonstrando ser uma terapia
físico e emocional, assim, melhorando a qualidade de vida eficaz para atenuar o impacto e os sintomas dessa síndrome,
em pacientes com fibromialgia após aplicação de acupun- principalmente, no que tange a dor, insônia, depressão e fa-
tura real e simulada, além disso, a acupuntura é bem tolera- diga, sendo eficaz em todas as áreas do corpo, com desta-
da e não tem efeito colateral. que para o abdômen e antebraços. Além disso, constatou-se
Depressão, insônia e inflamação são comorbidades re- que os efeitos promovidos pelo tratamento são duradouros,
lacionadas a fibromialgia e associadas a risco de acidente repercutindo positivamente na saúde global dos pacientes,
vascular cerebral (AVC) e doenças cardíacas coronarianas inclusive, reduzindo os riscos de doenças coronarianas, car-
(DCC). Segundo WU24 e HUANG8 seus estudos de base po- diopatias e acidente vascular encefálico.
pulacional utilizando o banco de dados de pesquisa de seguro
de saúde nacional de Taiwan, foram os primeiros a provar que Referências
a acupuntura reduziu e melhorou esses sintomas, aliviando a 1. Baelz, G.U., et al. Efeito da acupuntura na dor e na qualidade de vida em mulheres
com fibromialgia: um ensaio clínico randomizado. 2018.
dor, ansiedade, estimulando a atividade física e diminuindo o 2. Brito, A.B.M., et al. Acupuntura como tratamento da fibromialgia. Revista Ibero-
sofrimento emocional, esses efeitos podem atenuar a incidên- -Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 7, n. 10, p. 559-568, 2021.
3. Carmo, M.A.; Antoniassi, D.P. Avaliação da dor e qualidade de vida em mulheres
cia de AVC e prevenir DCC, independentes do sexo, idade, com fibromialgia submetidas ao tratamento de auriculoterapia associada à fisiote-
comorbidades, medicamentos e uso de drogas. rapia ou exercícios físicos. Rev Bras Qual Vida, v. 10, n. 1, p. 1-17, 2018.
4. Oliveira, I.A.; campos, M.A.; Alves, R. B. Eficácia da Acupuntura como técnica
Di Carlo, et al.6 afirmam que a acupuntura tem um efeito complementar para redução da dor e melhora da qualidade de vida de pacientes
global na dor crônica generalizada. É eficaz no tratamento com Fibromialgia. Revista Brasileira de Práticas Integrativas e Complementares
em Saúde, v. 1, n. 1, p. 61-72, 2021.
da fadiga e distúrbios do sono, também pode ser integrada 5. Di Carlo, M.; Beci, G.; Salaffi, F. Acupuncture for fibromyalgia: an open-label
como método complementar com outras estratégias para o pragmatic study on effects on disease severity, neuropathic pain features, and pain
catastrophizing. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, v.
tratamento da fibromialgia. Além disso, mostrou que a acu- 2020, 2020.
puntura real é mais eficaz do que a acupuntura simulada e a 6. Di Carlo, M.; Beci, G.; Salaffi, F. Pain Changes Induced by Acupuncture in Single
Body Areas in Fibromyalgia Syndrome: Results from an Open-Label Pragmatic
placebo, porém, em algumas áreas têm maiores efeitos como Study. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, v. 2021, 2021.
região abdominal e antebraços. 7. Ferreira, A.J.O. Fibromialgia: conceito e abordagem clínica. 2015. Tese de Doutorado.
8. Huang, M.C. et al. Acupuncture decreased the risk of stroke among patients with
Conforme Di Carlo, et al.5 a acupuntura tem efeito po- fibromyalgia in Taiwan: a nationwide matched cohort tudy. Plosone, v. 15, n. 10,
sitivo na dor neuropática e catastrofização da dor, visto que p. e0239703, 2020.
9. İnci, H.; İnci, F. Acupuncture Effects on Blood Parameters in Patients with Fi-
a acupuntura permite que os pacientes se distraiam da difu- bromyalgia. Medical Acupuncture, v. 33, n. 1, p. 86-91, 2021
são dos sintomas. Eles alegam que a catastrofização pode 10. Karatay, S., et al. Effects of acupuncture treatment on fibromyalgia symptoms,
serotonin, and substance P levels: a randomized sham and placebo- controlled cli-
interferir nos processos neurais envolvidos na modulação da nical trial. Pain Medicine, v. 19, n. 3, p. 615-628, 2018.
dor na fibromialgia, diante disso, a acupuntura pode ter efei- 11. Lima, S.C.A. Bases Neurofisiológicas da Acupuntura Médica. 2020. Tese de Dou-
torado. Universidade de Coimbra.
tos nessas modulações, afetando potencialmente os aspectos 12. Lopes, M.A., et al. Uso da acupuntura na dor. Acta Elit Salutis, v. 1, n. 1, p. 31-31, 2019.
cognitivos. A dor neuropática tem manifestações classica- 13. Marques, A.P., et al. A prevalência de fibromialgia: atualização da revisão de lite-
ratura. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 57, p. 356-363, 2017.
mente difíceis de tratar, porém, constatam5 que a utilização 14. Martins, R.C.C.; Silveira, N.C. Eficácia da acupuntura para o tratamento da fi-
da acupuntura apresentou melhora significativa em relação bromialgia: uma revisão sistemática. Psicologia e Saúde em debate, v. 4, n. 1, p.
85-105, 2018.
as sensações que lembram a presença da dor neuropática. 15. Mist, S.D.; Jones, K.D. Randomized controlled trial of acupuncture for women
Mist, et al.15 realizou uma comparação entre dois méto- with fibromyalgia: group acupuncture with traditional Chinese medicine diagno-
sis-based point selection. Pain Medicine, v. 19, n. 9, p. 1862-1871, 2018.
dos, acupuntura em grupo e educação em grupo, para avaliar 16. Nikolovska, L.; Radinski, B. Treatment of patients with fibromyalgia with metho-
qual teria os melhores efeitos do tratamento da fibromialgia. ds of traditional Chinese medicine. KNOWLEDGE- International Journal, v. 38,
n. 4, p. 937-942, 2020.
Confirmou-se que grupo acupuntura apresentou melhora em 17. Oliveira, J.O.de; Almeida, M.B.de. O tratamento atual da fibromialgia. BrJP, v. 1,
dor e fadiga e o grupo em educação em saúde não apresentou p. 255-262, 2018.
18. Pereira, H.S.DosS., et al. Efeitos da acupuntura na fibromialgia: revisão integrati-
resultados significativos. va. BrJP, v. 4, p. 68-71, 2021.
Já Schweiger, et al.20 realizou a comparação entre acu- 19. Pernambuco, A.P., et al. Fibromialgia: diagnóstico, fisiopatologia e tratamentos.
Conexão ciência (Online), v. 9, n. 1, p. 01-19, 2014.
puntura e suplementação nutricional. Nesse estudo, ambos 20. Schweiger, V., et al. Comparison between acupuncture and nutraceutical treatment
os métodos foram eficazes para os pacientes, pois apresenta- with migratens® in patients with fibromyalgia syndrome: A prospective randomi-
zed clinical trial. Nutrients, v. 12, n. 3, p. 821, 2020.
ram melhoras significativas a partir do primeiro mês tanto na 21. Silva, A.S.deS., et al. Efeito da acupuntura na dor de indivíduos com fibromialgia:
dor e quanto na qualidade de vida. revisão integrativa. 2020.
22. Takemura, R.C., et al. Efeitos do tratamento com acupuntura em pacientes com
Yuksel, et al.25 avaliou os efeitos das aplicações da acupun- fibromialgia–revisão de literatura. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 4, p.
tura e estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e seus 36145-36158, 2021.
23. Uğurlu, F.G., et al. The effects of acupuncture versus sham acupuncture in the tre-
efeitos terapêuticos em pacientes com fibromialgia. Realizado atment of fibromyalgia: a randomized controlled clinical trial. Acta reumatologica
com 42 pacientes com fibromialgia e 21 pacientes saudáveis, portuguesa, n. 1, 2017.
24. Wu, M-Y., et al. A acupuntura diminuiu o risco de doença cardíaca coronariana em
divididos aleatoriamente em dois grupos para serem submeti- pacientes com fibromialgia em Taiwan: um estudo de coorte compatível nacional.
dos a TENS ou aplicação de acupuntura. Considerando os va- Arthritis Research & Therapy, v. 19, n. 1, p. 1-10, 2017.
25. Yüksel, M., et al. Quantitative data for transcutaneous electrical nerve stimulation
lores de dor e os resultados do eletroencefalograma, ambas as and acupuncture effectiveness in treatment of fibromyalgia syndrome. Evidence-
terapias são benéficas para pacientes com fibromialgia. -based complementary and alternative Medicine, v. 2019, 2019.

180
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Revisão

A prática fisioterapêutica na prevenção de


incapacidades em pacientes com hanseníase

The physical therapy practice


in the prevention of disabilities in patients with leprosy

Monik Cavalcante Damasceno1, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha2

1. Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Resumo


Universitário Inta – UNINTA.
2. Docente do Curso de Fisioterapia do Centro
Trata-se de um estudo de revisão integrativa de literatura, em publicações
Universitário Inta – UNINTA2 cientificas de 2016 a 2022, que objetivou analisar a prática fisioterapêutica na pre-
venção de incapacidades em pacientes com hanseníase. Os dados foram coletados
nas seguintes bases de dados: PubMed, SciELO e BVS, utilizando os descritores
Endereço para correspondência:
em português e inglês: “hanseníase”, “tratamento”, “reabilitação” e “modalidades
E-mail: aleudinelia@yahoo.com.br de fisioterapia”. Foram incluídos 9 artigos, após a leitura na íntegra e triagem de
critérios de inclusão. Os estudos revisados apontam que a intervenção do fisio-
terapeuta é essencial desde a avaliação física e funcional, como no diagnóstico
Recebido para publicação em 08/09/2022 e acei-
precoce ou tardio, na prevenção de incapacidades funcionais e reabilitação física.
to em 30/09/2022, após revisão.
Palavras-chave: hanseníase, tratamento, reabilitação e modalidades de fisioterapia.

Abstract
This is an integrative literature review study, in scientific publications from
2016 to 2022, which aimed to analyze the physical therapy practice in the preven-
tion of disabilities in patients with leprosy. Data were collected in the following
databases: PubMed, SciELO and BVS, using the descriptors in portuguese and
english: “leprosy”, “treatment”, “rehabilitation” and “physiotherapy modalities”.
Nine articles were included, after full reading and screening of inclusion criteria.
The reviewed studies indicate that the intervention of the physical therapist is es-
sential from the physical and functional assessment, as in early or late diagnosis,
in the prevention of functional disabilities and physical rehabilitation.

Keywords: leprosy, treatment, rehabilitation, physical therapy modalities.

181
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Introdução blicados nos idiomas português e inglês, artigos disponíveis


A hanseníase é caracterizada por ser uma doença crônica na íntegra para acesso. Como critérios de exclusão: artigos
de caráter infectocontagiosa a qual possui uma progressão duplicados, artigos pagos, anais de congressos, monografias,
lenta, causada pela Mycobacterium leprae, onde sua trans- dissertações, teses e artigos que não abordava diretamente o
missão é realizada através do contato duradouro com a pes- tema proposto por este estudo.
soa infectada não tratada1. Apesar de ser uma doença que Após a escolha criteriosa e objetiva dos artigos por meio
surgiu desde os primórdios, sua prevalência ainda permane- dos descritores e dos filtros, foi realizada a seleção por leitura
ce alta em pleno século XXI. Antigamente conhecida como de título e resumo. Em seguida, foi realizada a leitura com-
lepra, sua causa era desconhecida assim como meio de trans- pleta dos artigos selecionados, os quais preencheram os crité-
missão e tratamento, o que consequentemente ocasionava rios de elegibilidade e prosseguiu-se com a elaboração de um
preconceito e exclusão social2,3. quadro para organização da análise dos artigos contendo os
No entanto, no Brasil ainda é considerada como um gra- seguintes itens: título, autores, ano, tipo de estudo e objetivos.
ve problema de saúde pública, devido ao seu alto potencial
de gerar incapacidade2,4. Além do mais, manifesta-se princi- Resultados
palmente através de sinais e sintomas dermatológicos e neu- Foram identificados 113 artigos através da busca eletrô-
rológicos, dentre estes: lesões na pele e nos nervos periféri- nica de dados. Após a triagem e aplicação dos critérios de
cos, mas de acordo com sua progressão, também pode afetar elegibilidade, 9 artigos foram selecionados para serem ana-
os olhos e órgãos internos5. Nos estágios iniciais, ocorre o lisados nesta revisão.
comprometimento da sensibilidade térmica, seguindo com
diminuição até a perda da sensibilidade tátil e dolorosa6.
Segundo dados do Ministério da Saúde, até 2019 o Brasil
diagnosticou 23.612 novos casos de hanseníase, onde destes
1.319 eram em menores de 15 anos1. A notificação de novos
casos, ocorrem devido à falta de informação sobre a doença,
ocasionando o diagnóstico tardio e atraso no tratamento, o
que resulta em incapacidades, diminuição colaborativa de
adesão ao tratamento, danos psicológicos e restrição à parti-
cipação social7.
O Fisioterapeuta que atua na atenção básica tem a atribui-
ção, de facilitar o diagnóstico precoce e acompanhar o quadro
cinético-funcional do indivíduo acometido pela hanseníase, o
qual tem o objetivo de prevenir e minimizar complicações,
como deformidades que acarretam em incapacidades advindas
de estágios avançados8,9. A partir disso, o presente estudo tem
como objetivo analisar a prática fisioterapêutica na prevenção
de incapacidades em pacientes com hanseníase.

Metodologia
O presente estudo trata-se de um estudo de revisão inte-
grativa de literatura com caráter descritivo e abordagem qua-
litativa. O levantamento bibliográfico foi realizado de forma
independente, através do acesso online às seguintes bases
de dados: SciELO (Scientific Eletronic Library), PubMed
(Public Medline or Publisher) e BVS (Biblioteca Virtual em
Saúde) em que serão utilizados artigos publicados e indexa-
dos em Medline (Medical Literature Analysis and Retrevie-
val Systrm Online) e LILACS (Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências da Saúde).
Para a busca dos artigos foi utilizado os seguintes des-
critores controlados, presentes no DeCS/MeSH (Descritores
em Ciências da Saúde / Medical Subject Headings) em portu-
guês e inglês: hanseníase (Leprosy), tratamento (treatment),
reabilitação (rehabilitation) e modalidades de fisioterapia
(Physical Therapy Modalities) usados de forma combinada
com o operador booleano “AND” e “OR”.
Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos ar-
tigos na literatura científica foram: texto completo, artigos
publicados nos últimos sete anos (2016 a 2022), artigos pu-

182
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Discussão na prevenção de sequelas e reabilitação física3,6. Ademais, a


No que concerne aos achados da literatura, o fisiote- fisioterapia dispõe de um leque de intervenções que podem
rapeuta desempenha uma assistência ampla e integrada ao ser utilizados no tratamento de pacientes com hanseníase,
paciente acometido pela hanseníase, desde a orientações tais como: eletrotermofototerapia, técnicas de mobilização
sobre a doença até o diagnóstico precoce como também no neural, facilitação neuromuscular proprioceptiva, alonga-
tratamento e minimização de sequelas7. O profissional Fisio- mentos e exercícios terapêuticos5,8.
terapeuta é responsável por realizar o exame físico onde o
paciente pode apontar alterações motoras e sensitivas, após Considerações finais
estes achados é realizado um diagnóstico cinético-funcional Tendo em vista os aspectos observados, a intervenção
para o fechamento da doença1. do fisioterapeuta é essencial desde a avaliação física e fun-
A avaliação dermatoneurológica é uma das responsabi- cional, como no diagnóstico precoce ou tardio, na prevenção
lidades do Fisioterapeuta para o diagnóstico da doença, ela de incapacidades funcionais e reabilitação física. Oferecendo
possui uma sequência lógica, iniciando com a inspeção de uma assistência integral para o cuidado do paciente, além de
toda superfície corporal, no sentido craniocaudal. Prosse- oferecer um leque de intervenções que podem ser utilizadas
guindo com palpação dos troncos nervosos periféricos para no tratamento de acordo com as necessidades do paciente.
analisar se há espessamento dos nervos de membros inferio- A atuação do fisioterapeuta no controle da hanseníase
res e superiores, seguindo no teste de força muscular, teste é importante, porém pouca explorada. Em relação a litera-
isométrico de força de apreensão de dedos e teste de limiar tura, ainda se nota uma carência de estudos voltados para a
sensitivo que detona alterações térmica, tátil e dolorosa3,9. atuação do fisioterapeuta frente as complicações do paciente
Após a realização do exame físico, pode ser mensurado com hanseníase, sendo necessário o desenvolvimento de no-
o grau de incapacidade física do paciente com hanseníase, vas pesquisas nessa área, para contribuir na capacidade de
onde é classificado em Grau 0: quando o paciente não apre- aprimoramento no âmbito profissional, acadêmico e social.
senta alterações da função neural dos olhos, mãos e pés. Grau
1: quando ocorre a diminuição ou perda da sensibilidade nos Referências
olhos, mãos e pés. Grau 2: quando ocorre comprometimento 1. Costa BMA, Sousa E da S, Sousa E da S, Braga S de A da S. Atuação da fisio-
terapia em pacientes com comprometimento neural ocasionados pela hanseníase.
motor visível (lagoftalmo, ectrópio, triquíase, lesões tróficas Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida. 2022;14(2):1-6.
ou traumáticas em mãos e pés, garras, pés ou mãos caídas e 2. Luís J, De P, Ferreira M, De Queiroz D, Cerdeira, Teles T, et al. Atuação da fi-
sioterapia no acompanhamento de pacientes com hanseníase. Fisioterapia Brasil.
outras deformidades físicas)2,4. 2016;17(5):472–9.
Os estudos encontrados, enfatizam a importância da 3. Montalvão LM, Marques GL, Dahmer DSV, Crepaldi AA, Sant´ana AP, silva LM.
Diagnóstico e tratamento da hanseníase: atuação do fisioterapeuta. Revista Faipe.
atuação da equipe multiprofissional para prevenir o agrava- 2018;8(1): 72-84.
mento das incapacidades físicas, salientando sempre a atua- 4. Silva PMF, Pereira LE, Ribeiro LL, Santos DCM, Nascimento RD, D’Azevedo
SSP. Avaliação das limitações físicas, aspectos psicossociais e qualidade de
ção do enfermeiro e do fisioterapeuta. Onde o enfermeiro é vida de pessoas atingidas pela hanseníase. Rev Fun Care Online. 2019 jan/mar;
responsável pelo cuidado mensal do paciente, supervisiona- 11(1):211-215. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361.2019.v11i1.211-215
5. Souza AJS, Almeida CP, Ferreira TCR. Recursos fisioterapêuticos para hansenía-
do a administração da medicação, orientando sobre o auto- se: revisão sistemática. Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida. 8
cuidado e encaminhando para outros profissionais caso seja de julho de 2020;12(2):1–9.
6. Santana EMF, Brito KKG, Nogueira JA, Leabedal ODCP, Costa MML, Silva
necessário. Outrossim, o fisioterapeuta além de atuar na fase MA, et al. Deficiências e incapacidades na hanseníase: do diagnóstico à alta por
da prevenção, também fornece orientações sobre a doença, cura. Rev. Eletr. Enf. 2018;20:v20a15. Disponível em: https://doi.org/10.5216/ree.
v20.50436.
suas complicações e o autocuidado, reabilita as sequelas oca- 7. Álvarez CCDS, Hans Filho G. Hanseníase e Fisioterapia: uma abordagem necessá-
sionadas e reintegra o indivíduo a sociedade3. ria. Jornal de Crescimento e Desenvolvimento Humano. 2019;29(3):416–26.
8. Martins R de L, Albuquerque APF, Holanda AL de, Pacas ASS, Galdino DM da C,
O tratamento da hanseníase baseia-se na poliquimiote- Honningsvåg MF de Q, et al. Intervenção fisioterapêutica nos comprometimentos
rapia específica, supressão dos surtos reacionais, prevenção da hanseníase. Revista Brasileira de Saúde. 2021;4(1):983-90.
9. Monteiro BBS, Matias LC, Costa YC, Pereira ACVS, Nunes EFC, Brito AJC, et
de sequelas físicas, reabilitação física e psicossocial. Nesse al. Vivência do profissional fisioterapeuta no diagnóstico da hanseníase: um relato
contexto, a atuação do fisioterapeuta é de suma importância de experiência. Revista Saúde (Sta. Maria). 2020; 46 (1).

183
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Revisão

Cuidados com a saúde em mulheres


trabalhadoras: uma revisão integrativa

Health care in working women:


An integrative review

Maria Gleice Carneiro Teixeira Volipi1, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha2

1. Professora da Faculdade Uninta Itapipoca Resumo


2. Fisioterapeuta do Município de Uruoca, Pro-
fessora do Curso de Fisioterapia Centro Uni-
Revisão integrativa de literatura, em publicações científicas de 2009 a 2022,
versitário Uninta que objetivou avaliar os cuidados com a saúde em mulheres trabalhadoras através
de uma revisão integrativa. Os dados foram coletados do portal da Biblioteca Vir-
tual em Saúde/LILACS e da SciELO, utilizando os descritores: avaliação”, “saúde
Endereço para correspondência:
do trabalhador”; “saúde das mulheres” estes, por sua vez, foram relacionados com
E-mail: aleudinelia@yahoo.com.br o descritor “saúde”. A busca originou 100 artigos, que, observados critérios de
inclusão e exclusão, resultou em 11 artigos completos. A análise dos dados for-
mou a categoria Cuidados com a saúde em mulheres trabalhadoras. Considerou-se
Recebido para publicação em 28/08/2022 e acei-
os fatores associados relevantes foram: sociodemográficos, doenças associadas e
to em 30/09/2022, após revisão. assistência em saúde. A equipe de multiprofissional/saúde deve focar abordagens
de cuidado mais interativas e humanizadas, direcionadas a incrementar a avaliação
da Saúde da Mulher Trabalhadora.

Palavras-chaves: avaliação, saúde do trabalhador e saúde da mulher e saúde.

Abstract
Integrative literature review, in scientific publications from 2009 to 2022,
which aimed to evaluate health care in working women through an integrative
review. Data were collected from the Virtual Health Library/LILACS portal and
from SciELO, using the descriptors: evaluation”, “worker health”; “women’s he-
alth” these, in turn, were related to the descriptor “health”. The search yielded 100
articles, which, following inclusion and exclusion criteria, resulted in 11 com-
plete articles. Data analysis formed the category Health care in working women.
The relevant associated factors were considered: sociodemographic, associated
diseases and health care. The multiprofessional/health team should focus on more
interactive and humanized care approaches, aimed at increasing the assessment of
the Health of Working Women.

Keywords: evaluation, worker’s health and women’s health and health.

184
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Introdução
Embora os cuidados com saúde da mulher trabalhadora uma compreensão mais abrangente de um fenômeno particu-
remunerada tenda a acumular tarefas da atividade profissio- lar. Assim, tem o potencial de apresentar o estado da ciência,
nal com as relacionadas ao cuidado da família e do domicílio, contribuir para o desenvolvimento da teoria, e tem aplicabi-
o que pode levar à fadiga, ao estresse e aos sintomas psíqui- lidade direta à prática e à política10.
cos1,2, diversos estudos têm constatado melhores condições de Para ser considerada uma pesquisa, a revisão de litera-
saúde nas mulheres que exercem atividade remunerada em tura deve seguir o mesmo rigor da pesquisa primária. Nesse
comparação às donas de casa3-6. Segundo esses estudos, as sentido, para esta revisão, foram consideradas as fases de
mulheres trabalhadoras remuneradas apresentaram menores pesquisa10: identificação do problema e objetivo da pesqui-
prevalências de doenças crônicas3,4, de limitações provocadas sa; pesquisa da literatura com foco sobre o tema a ser estu-
pelas doenças4, de transtornos mentais5, além de menores ta- dado; avaliação dos dados aplicando critérios de inclusão e
xas de mortalidade3,6 em relação às donas de casa. exclusão; análise dos dados extraindo das fontes primárias
Ainda que existam algumas evidências sobre o benefício as características da amostra e método, que, no caso, foi
do trabalho para a saúde das mulheres, são incipientes e com qualquer referência ao conceito de abandono/não adesão e
resultados controversos os estudos que analisaram a qualida- os fatores a que esses estão relacionados. Como última fase,
de de vida relacionada à saúde (QVRS)7-13. temos a apresentação da síntese, que retrata a construção dos
Sabe-se que o principal o cometimento de afastamento conceitos e seus fatores relacionados.
são os distúrbios musculoesqueléticos que são cerca de 20% A busca pela literatura ocorreu na Biblioteca Virtual em
da população trabalhadora no Brasil encontra-se afastada do Saúde (BVS), nos meses de julho 2022 a setembro 2022.
trabalho, sendo que um terço dos casos está relacionado ao As bases de dados de literatura científica e técnica consul-
trabalho14.Os DME estão associados aos fatores biomecâni- tadas foram: Literatura Latino-Americana e de Caribe em
cos do trabalho, como posturas inadequadas, movimentos re- Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library
petitivos, força excessiva, bem como aos fatores psicossociais, On- line (SciELO). Foram selecionadas essas bases de dados
a exemplo da baixa satisfação no trabalho, alta demanda, ele- considerando-se o interesse em conhecer a construção desse
vada responsabilidade, baixo controle do trabalhador sobre o conhecimento na América Latina, onde a Cuidados com a
trabalho, clima organizacional desfavorável e estresse15. As saúde das mulheres trabalhadoras tem importante expressão
limitações físicas e psíquicas decorrentes das DME acabam epidemiológica. Os descritores foram selecionados a par-
por acarretar prejuízos sociais e pessoais, comprometendo a tir da terminologia em saúde consultada nos Descritores em
participação social e atividades do cotidiano16. Ciências da Saúde (DECS-BIREME); são eles: “avaliação”,
Segundo a Organização Mundial de Saúde, no ano de “saúde do trabalhador”; “Saúde da Mulher” estes, por sua vez,
2017, as doenças músculo-esqueléticas foram as que mais foram relacionados com o descritor “Saúde”. Inicialmente,
contribuíram para a incapacidade global (16%), sendo que a busca considerou as publicações dos últimos cinco anos;
a lombalgia continua a ser a principal causa de incapacidade porém, optou-se pelo período de 2012 a 2022, que deu maior
desde 19904. Apesar da prevalência destas doenças aumen- amplitude ao estudo e resultou em 100 estudos: 30 da base de
tar com a idade, estas acontecem ao longo da vida, sendo dados LILACS e 70 das referências na base da SciELO.
muitas vezes causa de absentismo e reforma precoce. Estas Após a leitura dos resumos, segundo pertinência e
patologias coexistem, muitas das vezes, associadas a outras consistência do conteúdo, foram 200 observados os seguin-
patologias crónicas, como depressão ou obesidade17. tes critérios de inclusão: estudos disponíveis na íntegra, em
Considerando os achados na literatura de possível asso- open acess, de 2011 a 2021, publicações originais, nas línguas
ciação entre inserção no mercado de trabalho e condições de portuguesa, espanhola e inglesa, que adotaram uma aborda-
saúde das mulheres, que esta associação pode ser modificada gem quantitativa, considerando o objetivo do estudo e o pro-
pelo nível socioeconômico e que não há estudos brasileiros tocolo de revisão elaborado previamente. Foram critérios de
que abordem a relação entre inserção da mulher no merca- exclusão: artigos repetidos, artigos não acessíveis em texto
do e a QVRS dessas mulheres, o objetivo desta pesquisa foi completo, resenhas, anais de congresso, artigos de opinião,
avaliar os cuidados com a saúde em mulheres trabalhadoras artigos de reflexão, editoriais, artigos que não abordaram di-
através de uma revisão integrativa. retamente o tema deste estudo e artigos publicados fora do
período de análise. Ao todo, foram excluídos 100 artigos (30
Metodologia da base de dados LILACS e 70 da base SciELO). Assim,
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a fim após essa fase, iniciou-se a análise de três estudos completos.
de deduzir generalizações sobre questões substantivas, a Foi elaborado um quadro para organização da análise
partir de um conjunto de estudos diretamente influenciados dos artigos contendo os itens: tipo de publicação, ano, fonte,
sobre essas questões. Tais revisões incluem exame das pes- autores, título, tema, método e objetivo. No que se refere aos
quisas para discutir hipóteses, sugestões para novas questões Cuidados com a saúde da mulher trbalhadora, a análise se fez
teóricas e identificação de uma pesquisa necessária10. em termos qualitativos, sumarizando os dados para formar as
A revisão integrativa é um método de exame específico categorias. Os resultados foram discutidos e sustentados com
que resume literaturas empíricas ou teóricas para fornecer outras literaturas pertinentes.

185
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Resultados conjunto de valores pelos quais vale lutar, pois se relacionam


A partir da análise dos textos selecionados, tem-se, a um ideal de uma sociedade mais justa e mais solidária”18.
quanto ao tipo de publicação, que os cinco estudos, apresen- Todavia, o modelo teórico-conceitual do sistema de saúde,
tados no quadro 1, são resultados de pesquisas, e todos são o da biomedicina, constitui um obstáculo epistemológico
nomeados pelos editores como originais. importante para a proposta de integralidade. Além disso, os
Com respeito ao ano de publicação, artigos foram pu- problemas de saúde surgem articulados a contextos sociais,
blicados em 2011, dois em 2014, dois em 2016 e um em culturais, econômicos, políticos, que influenciam o processo
2019, demonstrando que houve lacunas de publicações na saúde-doença e extrapolam o campo das políticas exclusiva-
sequência de anos pesquisados. mente de saúde, numa complexidade que impõe limites e uma
Quanto aos tipos de estudos, foram assim classificados: multiplicidade de desafios19. Soma-se a esses uma interseto-
dois estudos transversal; dois estudos descritivo, um de re- rialidade precária, na qual se deve investir, pois as ações inter-
visão, um etinogrático. As pesquisas adotaram a abordagem setoriais extrapolam a responsabilidade do setor saúde, o que
quantiqualitativa conforme critério de inclusão. indica uma possibilidade de enfrentar os problemas de saúde20.
As estratégias para o desenho de práticas mais eficazes devem
Quadro 1: Artigos selecionados sobre Cuidados com a ser construídas no cotidiano da atenção à saúde, tornando-se
saúde em mulheres trabalhadoras segundo autores, ano de imperativo o trabalho interdisciplinar e uma compreensão am-
publicação, título, tipo e objetivo do estudo. pliada dos determinantes do processo saúde-doença. Assim,
a integralidade deve ser considerada um ideal regulador, um
devir, “impossível de ser plenamente atingível, mas do qual
constantemente buscamos nos aproximar”21.

Considerações Finais
A literatura pesquisada reforça que os cuidados com a
saúde das mulheres trabalhadoras, são existentes na popula-
ção e existem poucas pesquisas. Em oposição, no conceito
de investigação supervisionado, há uma maior responsabili-
dade pela busca à prevenção que é dada aos trabalhadores o
que deveria garantir um aumento na taxa de prevenção.
Assim, entre os fatores relacionados a prevenção fun-
cionam como contribuintes para a não prática, salientam-se
os relacionados à humanização nos serviços de prevenção.
Estes nos levam a outras inquietações relacionadas ao tipo de
relação que se estabelece entre trabalhadores, muitas vezes
marcadas por relações de poder e hegemonia do saber em
detrimento das vivências e experiências de quem é sujeito
ativo desse processo.
É necessário o desenvolvimento de pesquisas e de no-
vos modelos de cuidado que considere, em seus enfoques,
a horizontalidade nas relações entre profissionais e clientes,
com diálogo e interação, estabelecendo cuidados que tragam
melhores resultados para a compreensão dos instrumentos de
avaliação na Saúde da Mulher Trabalhadora.
A pesquisa aponta a importância de processos de
capacitação da equipe de saúde a fim de rever o paradigma de
cuidado e educação adotados, desenvolvendo intervenções
diferenciadas, direcionadas a incrementar a adesão a preven-
ção ao cuidado a saúde da mulher trabalhadora.

Referências
1. Macran S. Role enhancementor role overload? A review of research on the health
consequence of women’s domestic and paid work. London: Centre for Population
Studies, London School of Hygiene and Tropical Medicine; 1993.
Cuidados com a saúde em mulheres trabalhadoras 2. Santana VS, Loomis DP, Newman B. Housework, paid work and psychiatric
symptoms. Rev Saúde Pública 2001; 35:16-22.
O cuidado com a saúde das mulheres trabalhadoras, além 3. Klumb PL, Lampert T. Women, work, and well-being 1950-2000: a review and
de um princípio constitucional defendido como prerrogativa methodological critique. Soc Sci Med 2004; 58:1007-24.
4. Artazcoz L, Borrell C, Benach J, Cortès I, Rohlfs I. Women, family demands and
da humanização do cuidado em saúde, busca a possibilidade health: the importance of employment status and socio-economic position. Soc Sci
de apreender as necessidades mais abrangentes do ser huma- Med 2004; 59:263-74.
5. Araújo TM, Almeida MMG, Santana CC, Araújo EM, Pinho PS. Transtornos men-
no, valorizando a articulação entre atividades preventivas e tais comuns em mulheres: estudo comparativo entre donas-de-casa e trabalhado-
assistenciais. Como termo polissêmico, “tenta falar de um ras. Rev Enferm UERJ 2006; 14:260-9.

186
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

6. Weatherall R, Joshi H, Macran S. Double burden or double blessing? Employ- 15. Hagberg M, Silversteins, B, Wells R, Smith MJ, HendrickHw, Carayon P,
ment, motherhood and mortality in the longitudinal study of England and Wales. Pérusse M. Work Related Musculoskeletal Disorders (WMSDs): a reference book
Soc Sci Med 1994; 38:285-97. for prevention. London: Taylor & Francis; 1995.
7. Wieder-Huszla S, Szkup M, Jurczak A, Samochowiec A, Samochowiec J, Stanis- 16. Loisel P, Durand MJ, Berthelette D, Vézina N, Baril R, Gagnon D, Lariviere C,
lawska M, et al. Effects of socio-demographic, personality and medical factors on Tremblay C. Disability prevention: new paradigm for the management of occupa-
quality of life of postmenopausal women. Int J Environ Res Public Health 2014; tional back pain. Manage Health Outcomes 2001; 9(7): 350-60.
11:6692-708. 17. World Health Organization. Musculoskeletal Conditions. 2019. Disponível em:
8. Zolnierczuk-Kieliszek D, Kulik TB, Janiszewska M, Stefanowicz A. Influence of https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/musculoskeletal-conditions.
sociodemographic factors on quality of life in women living in Lublin Province in Acedido em 15 de março de 2020.
Poland. Prz Menopauzalny 2014; 18:13-7. 18. Mattos RA. Os sentidos da integralidade: algumas reflexões acerca dos valores que
9. D’Souza MS, Karkada SN, Somayaji G. Factors associated with health-related merecem ser defendidos. In: Pinheiro R, Mattos RA,organizadores Os sentidos da
quality of life among Indian women in mining and agriculture. Health Qual Life integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro(RJ): IMS/UERJ/
Outcomes 2013; 11:9.
ABRASCO; 2001. p. 39-64.
10. Outram S, Mishra GD, Schofield MJ. Sociodemographic and health related factors
19. Camargo Júnior KR. Um ensaio sobre a (in)definição da integralidade. In: Pi-
associated with poor mental health in midlife Australian women. Women Health
nheiro R, Mattos R, organizadores. Construção da integralidade: cotidiano, sabe-
2004; 39:97-115.
11. Schuring M, Mackenbach J, Voorham T, Burdorf A. The effect of re-employment res e práticas em saúde. 2a ed. Rio de Janeiro(RJ): IMS/UERJ/ABRASCO; 2003.
on perceived health. J Epidemiol Community Health 2011; 65:639-44. p. 35-44.
12. Kerman Saravi F, Navidian A, Rigi SN, Montazeri A. Comparing health-related 20. Sousa FGM, Terra MG, Erdmann AL. Health services organization according
quality of life of employed women and housewives: a cross sectional study from to the intersectoral perspective: a review. Online Brazilian Journal of Nursing
southeast Iran. BMC Women Health 2012; 12:41. [on-line]; 4.3 1 Dec 2005 Available: http:// www.uff.br/objnursing/viewarticle.
13. Ahmad-Nia S. Women’s work and health in Iran: a comparison of working and php?id=86.
non-working mothers. Soc Sci Med 2002; 54:753-65. 21. Ministério da Saúde(BR). Secretaria de Atenção à Saúde/ Departamento de Ações
14. Bruno, WP. Opinião: trabalhar, sim! Adoecer, não!. Disponível em: <http://www. Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher:
contrafcut.org.br/noticias.asp?CodNoticia=16243>. Acesso em: 08 nov. 2009. princípios e diretrizes. Brasília (DF); 2004.

187
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Revisão

Desfechos clínicos de medidas não farmacológicas


utilizadas no tratamento de pacientes
com osteoartrite de joelho: revisão integrativa

Clinical outcomes of non-pharmacological


measuresused in the treatment of patients with
knee osteoarthritis: integrative review

Monik Cavalcante Damasceno1, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha2

1. Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Resumo


Universitário Inta – UNINTA
2. Docente do Curso de Fisioterapia do Centro
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, em publicações cientificas de
Universitário Inta – UNINTA 2017 a 2022, que objetivou analisar os desfechos clínicos de medidas não farma-
cológicas utilizadas no tratamento de osteoartrite de joelho. Os dados foram cole-
tados nas seguintes bases de dados: SciELO, PubMed, PEDro e BVS, utilizando
os descritores em português e inglês: “osteoartrite de joelho”, “terapêutica”, “exer-
Endereço para correspondência: cício físico” e “modalidades de fisioterapia”. Foram incluídos 10 artigos, após a
E-mail: aleudinelia@yahoo.com.br leitura na íntegra e triagem de critérios de inclusão. Os estudos revisados apontam
que as medidas não farmacológicas utilizadas no tratamento da osteoartrite de jo-
elho, apresentam desfechos positivos para melhora da dor, funcionalidade, força
muscular e amplitude de movimento.
Recebido para publicação em 26/08/2022 e acei-
to em 26/09/2022, após revisão. Palavras-chave: osteoartrite de joelho, terapêutica e modalidades de fisioterapia.

Abstract
This is an integrative literature review, in scientific publications from 2017
to 2022, which aimed to analyze the clinical outcomes of non-pharmacological
measures used in the treatment of knee osteoarthritis. Data were collected in the
following databases: SciELO, PubMed, PEDro and VHL, using the descriptors in
Portuguese and English: “knee osteoarthritis”, “therapeutics”, “physical exercise”
and “physiotherapy modalities”. Ten articles were included after reading them in full
and screening the inclusion criteria. The reviewed studies indicate that non-pharma-
cological measures used in the treatment of knee osteoarthritis have positive outco-
mes for improvement in pain, functionality, muscle strength and range of motion.

Keywords: osteoarthritis, knee, therapeutics, physiotherapy modalities.

188
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Introdução publicados nos idiomas português e inglês, artigos disponí-


A osteoartrite (OA), é considerada como uma doença veis na íntegra para acesso e artigos pagos. Como critérios
articular crônica degenerativa de alta prevalência, que aco- de exclusão utilizou-se: artigos que associava osteoartrite de
mete, comumente, as articulações das mãos, da coluna verte- joelho com osteoartrite de quadril, artigos que associava o
bral, do quadril e dos joelhos1. Em especialmente os joelhos tratamento com injeções de corticosteroides ou viscossuple-
que compõem 37% dos casos, por se tratarem de grandes mentação intra-articular de ácidos hialurônicos ou injeção
articulações de sustentação de peso, as quais exigem uma intra-articular de plasma rico em plaquetas ou terapia com
completa absorção de cargas ou vibrações2. células-tronco, artigos que associe o tratamento com utiliza-
Além disso, evidências apontam que a osteoartrite de jo- ção de fármacos e artigos duplicados.
elho (OAJ) é de natureza inflamatória na qual se caracteriza
por alterações da cartilagem articular, degradação do osso Resultados
subcondral, diminuição do espaço articular e formação de Foram selecionados 176 artigos para a leitura na íntegra,
osteófitos3. Sua sintomatologia é baseada em dor, crepitação, após a triagem de acordo com os critérios de elegibilidade,
movimento limitado do joelho e rigidez articular2. Com toda apenas 10 artigos foram incluídos na presente revisão.
via, estes sintomas clínicos, acabam repercutindo na difi-
culdade de realização das atividades de vida diária (AVDs), Discussões
como caminhar, executar tarefas domésticas, subir escadas e Mediante os resultados encontrados no estudo de Vas-
até mesmo no afastamento de atividades laborais4. são, et al. (2021)3 o programa de exercícios físicos foi capaz
Atualmente, o diagnóstico da OAJ baseia-se na história de aumentar a capacidade funcional dos pacientes e, os tra-
clínica, nos fatores predisponentes, nos achados do exame tamentos associados aumentaram a expressão de IL-10 que
físico e inúmeras vezes é confirmado através de exames de funciona como uma importante citocina anti-inflamatória
imagens4. Wu, et al. (2019)5 corroboram que o tratamento em relação ao grupo controle após o período experimental.
da OAJ se baseia em medidas farmacológicas e não farmaco- Ademais, os estudos de Ahmad, Hamid e Yusof (2022)7 evi-
lógicas, bem como cirurgia. O tratamento não farmacológico denciaram que tanto a terapia a laser de baixo nível (LLLT)
baseia se em educação do paciente, perda de peso, exercício quanto a terapia a laser de alta intensidade (HILT) quando
físico e fisioterapia, sendo considerada medidas que apresen- combinada com exercícios terapêuticos demonstram melho-
tam um mínimo potencial de complicações e baixo custo6. ra na dor e função do joelho, principalmente por apresenta-
Diante disso, o estudo justifica-se pela a importância rem desfechos na capacidade bioestimuladora e anti-infla-
de conhecer o tratamento efetivo na osteoartrite de joelho. matória nos níveis tecidual e celular.
Visto que, é uma patologia crônica degenerativa de alta pre- No que concerne a fisioterapia aquática em idosos com
valência no mundo, que acarreta inúmeros prejuízos funcio- OAJ, Garbi, et al. (2021)1 demonstrou melhorias significa-
nais na vida do paciente, assim sendo de extrema importân- tivas quando comparada ao grupo controle que não recebeu
cia conhecer os métodos não farmacológicos no tratamento nenhum tratamento fisioterapêutico, foram positivos os des-
da OAJ, por ser considerada a primeira linha de tratamen- fechos para dor, rigidez, capacidade funcional, tempo de mar-
to efetiva e por não apresentar efeitos adversos na vida do cha e mobilidade. Em consoante, Ma, et al. (2022)8 corrobo-
paciente. No entanto, o presente estudo teve como objetivo rou em seu estudo que a fisioterapia aquática não apresentou
revisar na literatura os desfechos clínicos de medidas não efeitos significativos na rigidez, mas foi eficaz para reduzir
farmacológicas utilizadas no tratamento de pacientes com dor, melhorar função física, aumentar força muscular de ex-
osteoartrite de joelho. tensão de joelho e melhorar capacidade de deambulação.
Sardim, et al. (2020)9 observou em seu estudo que tanto
Metodologia pacientes que receberam a intervenção de fotobiomodulação
O presente estudo trata-se de um estudo de revisão inte- + programa de exercícios quanto fotobiomodulação placebo
grativa de literatura com caráter descritivo e abordagem qua- + programa de exercícios, obtiveram melhora significativa
litativa. A pesquisa bibliográfica foi realizada nos meses de quanto à dor, ao equilíbrio, à funcionalidade e a qualidade
junho a agosto de 2022, através do acesso online às bases de de vida após 8 semanas. Além disso, Raposo, Ramos e Cruz
dados: SciELO (Scientific Eletronic Library), PubMed (Pu- (2021)10 implica em seu estudo que o exercício é uma ferra-
blic Medline or Publisher), PEDro (Physiotherapy Evidence menta eficaz para gerenciar OAJ, sendo capaz de apresentar
Database) e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde). Para a busca resultados físicos e funcionais. Constatou também que para
dos artigos foram utilizados os seguintes descritores controla- obter melhora da dor e da força, o protocolo de exercício
dos, presentes no DeCS/MeSH (Descritores em Ciências da deve ser realizado por 8 a 12 semanas, de 3 a 5 vezes por
Saúde / Medical Subject Headings) em português e inglês: semana e com duração de 60 minutos.
osteoartrite de joelho (Osteoarthritis, Knee), terapêutica (the- Nigam, Satpute e Hall (2020)11 observou em seu ensaio
rapeutics), exercício físico (exercise) e modalidades de fisiote- clínico que pacientes com OAJ sintomática que receberam
rapia (Physical Therapy Modalities) usados de forma isolada e intervenções durante duas semanas de mobilização com mo-
combinada com o operador booleano “AND” e “OR”. vimento e cuidados habituais (exercícios + calor úmido) ob-
Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos tiveram resultados significativos maiores do que aqueles que
artigos na literatura científica foram: texto completo, arti- só receberam cuidados habituais. Apresentaram efeitos que
gos publicados nos últimos seis anos (2017 a 2022), artigos foram mantidos por seis meses nos desfechos de dor, função,

189
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Quadro 1: Artigos selecionados segundo título, autor, ano, metodologia e objetivos.

190
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

incapacidade e satisfação do paciente. Ademais, Tsokanos, programa educacional ao final de oito semanas e após três
et al. (2021)12 por meio de uma revisão sistemática investi- meses de acompanhamento.
gou a eficácia das técnicas de terapia manual em pacientes Nazari, et al. (2018)21 em seu ensaio clínico analisou o
com OAJ e observou-se através dos estudos que foi eficaz efeito do laser de alta intensidade (HILT) na dor e função dos
para redução da dor, melhorar ADM e funcionalidade. Esses pacientes com OAJ em comparação com fisioterapia conven-
resultados podem ser explicados devido as técnicas manu- cional (CPT) e terapia de exercício (ET). E seus resultados in-
ais serem capazes de mobilizar de forma eficaz as estruturas dicaram superioridade do HILT na redução de quadro álgico,
miofasciais e permitir maior mobilidade do joelho com me- melhora da função e pontuação do WOMAC em comparação
nos restrição e dor. com o tratamento convencional. Em consoante, Jin, Hyun-Ju
Mutlu, et al. (2018)13 em seus estudos comparou os re- e Donghwi (2020)22 aponta através de uma meta-análise que a
sultados de três grupos de tratamento, mobilização com mo- terapia de laser de alta intensidade mostra desfechos positivos
vimentos (MWMs), mobilização articular passiva (PJM) e para redução da dor, rigidez e funcionalidade. Sendo capaz de
eletroterapia, os três grupos receberam também intervenções estimular alvos maiores e profundos quando comparado com
de exercícios padronizado. Observou-se que os participantes outros agentes físicos, por possuir um intervalo de emissão de
que receberam MWMs ou PJM demonstraram uma maior di- laser mais longo em um curto período.
minuição da dor em repouso, durante a atividade e à noite em
comparação com aqueles que receberam eletroterapia desde Considerações Finais
o início até após o tratamento. Os efeitos foram observados Portanto, as medidas não farmacológicas encontradas
durante um ano, e o nível de função, força muscular e ADM nesta revisão, demonstraram desfechos positivos para me-
foram melhores significativamente nos grupos de MWMs e lhora da dor, funcionalidade, força muscular e amplitude
PJM. Além disso, Li, et al. (2022)14 através de uma revisão de movimento. Em suma, o exercício físico terrestre como
corroborou que a mobilização articular Mulligan é uma in- aquático mostrou-se um tratamento eficaz para pacientes
tervenção efetiva com potencial para reduzir quadro álgico e com osteoartrite de joelho no qual os seus resultados são
função articular de pacientes com OAJ. potencializados quando associados a agentes físicos como:
Nos estudos de Paolillo, et al. (2018)15 foi observado que ultrassom, fotobiomodulação e terapia a laser de alta inten-
os efeitos terapêuticos foram promovidos pelo o ultrassom e sidade, por serem recursos que atuam a nível celular e teci-
terapia com laser de baixa potência, independentemente da dual, apresentando resposta na capacidade bioestimuladora
terapia de exercício, os quais apresentaram redução da dor e e anti-inflamatória.
melhora do desempenho funcional em mulheres com OAJ.
Outrossim, Dantas, Osani e Bannuru (2021)16 sintetizou em Referências
seu trabalho que o ultrassom apresenta mecanismos térmicos 1. Garbi FP, Rocha Júnior PR, Pontes N de S, Oliveira A de, Barduzzi G de O, Boas
PJFV. Aquatic physiotherapy in the functional capacity of elderly with knee osteo-
e não térmicos, o qual podem ser ajustados para aquecer as arthritis. Fisioterapia em Movimento. 2021;34(34).
superfícies de moles ou para estimular o processo de cicatri- 2. Costa RA, Rampazo ÉP, Thome GR, Perracini MR, Liebano RE. Interferential
current and photobiomodulation in knee osteoarthritis: A randomized, placebo-
zação tecidual no nível celular. Assegura que é uma opção -controlled, double-blind clinical trial. Clinical Rehabilitation. 2021 Apr
de tratamento não farmacológico capaz de promover alívio 26;35(10):1413–27.
3. Vassão PG, de Souza ACF, da Silveira Campos RM, Garcia LA, Tucci HT, Ren-
da dor e desempenhar melhora funcional. no ACM. Effects of photobiomodulation and a physical exercise program on the
Akaltun, et al. (2020)17 corroborou em seu estudo que expression of inflammatory and cartilage degradation biomarkers and functional
capacity in women with knee osteoarthritis: a randomized blinded study. Advances
o tratamento a laser de alta intensidade associado a terapia in Rheumatology. 2021 Oct 16;61(1).
de exercício é superior em relação ao tratamento placebo 4. Ughreja RA, Prem V. Effectiveness of dry needling techniques in patients with
knee osteoarthritis: A systematic review and meta-analysis. Journal of Bodywork
+ terapia de exercício, mostrando-se eficaz na dor, fun- and Movement Therapies. 2021 Jul;27:328–38.
ção e no aumento da espessura da cartilagem. Ademais, 5. Wu Y, Zhu S, Lv Z, Kan S, Wu Q, Song W, et al. Effects of therapeutic ultrasound
for knee osteoarthritis: a systematic review and meta-analysis. Clinical Rehabilita-
Wyszyńska e Bal-Bocheńska (2018)18 relata em seu estu- tion. 2019 Aug 5;33(12):1863–75.
do que a terapia a laser de alta intensidade se mostra como 6. Kan H, Chan P, Chiu K, Yan C, Yeung S, Ng Y, et al. Non-surgical treatment of
knee osteoarthritis. Hong Kong Medical Journal. 2019 Mar 28;25.
uma opção de tratamento não invasiva, indolor, segura e 7. Ahmad MA, A. Hamid MS, Yusof A. Effects of low-level and high-intensity laser
eficaz. Assim, é capaz de melhorar fluxo sanguíneo, per- therapy as adjunctive to rehabilitation exercise on pain, stiffness and function in
knee osteoarthritis: a systematic review and meta-analysis. Physiotherapy. 2022
meabilidade vascular, aumentar produção de colágeno e Mar;114:85–95.
metabolismo celular, o que, por conseguinte reduz dor e 8. Ma J, Chen X, Xin J, Niu X, Liu Z, Zhao Q. Overall treatment effects of aqua-
tic physical therapy in knee osteoarthritis: a systematic review and meta-analysis.
ajuda na regeneração de tecidos danificados. Journal of Orthopaedic Surgery and Research. 2022 Mar 28;17(1).
No entanto, em relação a educação do paciente Goff, et 9. Sardim A, Prado R, Pinfildi C. Efeito da fotobiomodulação associada a exercícios
na dor e na funcionalidade de pacientes com osteoartrite de joelho: estudo-piloto.
al. (2021)19 compactou em seu estudo que ela não deve ser Fisioter Pesqui. 2020;2(119-125).
ofertada como tratamento autônomo e deve ser combinado 10. Raposo F, Ramos M, Lúcia Cruz A. Effects of exercise on knee osteoarthritis: A
systematic review. Musculoskeletal Care. 2021 Mar 5;19(4):399–435.
com terapia de exercícios para fornecer resultados clinica- 11. Nigam A, Satpute KH, Hall TM. Long term efficacy of mobilisation with move-
mente importantes à curto prazo na funcionalidade. Do mes- ment on pain and functional status in patients with knee osteoarthritis: a randomi-
sed clinical trial. Clinical Rehabilitation. 2020 Jul 30;35(1):80–9.
mo modo, Taglietti, et al.(2017)20 através de um ensaio con- 12. Tsokanos A, Livieratou E, Billis E, Tsekoura M, Tatsios P, Tsepis E, et al. The
Efficacy of Manual Therapy in Patients with Knee Osteoarthritis: A Systematic
trolado, comparou a eficácia dos exercícios aquáticos com Review. Medicina. 2021 Jul 7;57(7):696.
a educação do paciente em indivíduos com OAJ e chegou 13. Kaya Mutlu E, Ercin E, Razak Ozdıncler A, Ones N. A comparison of two manual
physical therapy approaches and electrotherapy modalities for patients with knee
à conclusão que nos desfechos de dor e funcionalidade, o osteoarthritis: A randomized three arm clinical trial. Physiotherapy Theory and
programa de exercícios aquáticos foi superior comparado ao Practice. 2018 Jan 8;34(8):600–12.

191
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

14. Li L-L, Hu X-J, Di Y-H, Jiao W. Effectiveness of Maitland and Mulligan mobili- 19. Goff AJ, De Oliveira Silva D, Merolli M, Bell EC, Crossley KM, Barton CJ. Pa-
zation methods for adults with knee osteoarthritis: A systematic review and meta- tient education improves pain and function in people with knee osteoarthritis with
-analysis. World Journal of Clinical Cases. 2022 Jan 21;10(3):954–65. better effects when combined with exercise therapy: a systematic review. Journal
15. Paolillo FR, Paolillo AR, João JP, Frascá D, Duchêne M, João HA, et al. Ultrasound of Physiotherapy. 2021 Jun;67.
plus low-level laser therapy for knee osteoarthritis rehabilitation: a randomized, 20. Taglietti M, Facci LM, Trelha CS, de Melo FC, da Silva DW, Sawczuk G, et al.
placebo-controlled trial. Rheumatology International. 2018 Feb 26;38(5):785–93. Effectiveness of aquatic exercises compared to patient-education on health sta-
16. Dantas LO, Osani MC, Bannuru RR. Therapeutic ultrasound for knee osteoarthri- tus in individuals with knee osteoarthritis: a randomized controlled trial. Clinical
tis: A systematic review and meta-analysis with grade quality assessment. Brazi- Rehabilitation. 2018 Feb 8;32(6):766–76.
lian Journal of Physical Therapy. 2021 Nov;25(6):688–97. 21. Nazari A, Moezy A, Nejati P, Mazaherinezhad A. Efficacy of high-intensity laser
therapy in comparison with conventional physiotherapy and exercise therapy on
17. Akaltun MS, Altindag O, Turan N, Gursoy S, Gur A. Efficacy of high intensity
pain and function of patients with knee osteoarthritis: a randomized controlled trial
laser therapy in knee osteoarthritis: a double-blind controlled randomized study.
with 12-week follow up. Lasers in Medical Science. 2018 Sep 3;34(3):505–16.
Clinical Rheumatology. 2020 Oct 19;40(5):1989–95.
22. Song HJ, Seo H-J, Kim D. Effectiveness of high-intensity laser therapy in the
18. Wyszyńska J, Bal-Bocheńska M. Efficacy of High-Intensity Laser Therapy in Tre- management of patients with knee osteoarthritis: A systematic review and meta-
ating Knee Osteoarthritis: A First Systematic Review. Photomedicine and Laser -analysis of randomized controlled trials. Journal of Back and Musculoskeletal
Surgery. 2018 Jul;36(7):343–53. Rehabilitation. 2020 Nov 11;33(6):875–84.

192
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Revisão

Efeitos da mobilização precoce em


pacientes críticos: revisão de literatura

Effects of earlymobilization in
critically ill patients: literature review

Dalila Teixeira de Freitas Gomes¹, Amanda Oliveira Cruz Menezes1, João Paulo Vargas Fernandes2

1. Aluno do Curso de Graduação em Bacharel Resumo


em Fisioterapia do Centro Universitário Fa-
minas Muriaé.
Introdução: O repouso absoluto no leito para pacientes internados, foi duran-
2. Graduado em Fisioterapia pela Universidade te muito tempo a indicação para a efetiva recuperação de sua saúde. Porém, com o
Estácio de Sá, Especialista em Fisioterapia avanço do conhecimento científico e da tecnologia, descobriu-se que a imobilida-
Respiratória e Terapia Intensiva pela FRAS- de por longo período tende a retardar o processo de recuperação, podendo acarretar
CE/RJ e pela ASSOBRAFIR. Professor no
Centro Universitário Faminas Muriaé e Cen-
complicações como comprometimentos sistêmicos que podem resultar em: úlcera
tro Universitário UniRedentor Itaperuna. de pressão, atelectasias, alteração das fibras musculares de contração, fraqueza
muscular, dispneia e infecções. Visto isso, um recurso fisioterapêutico muito uti-
lizado neste contexto é a mobilização precoce, que tem como objetivo propor um
Endereço para correspondência:
programa de exercícios combinados conforme a capacidade do paciente, no intui-
E-mail: joaopaulo_vargas@yahoo.com.br to de preservar e, aumentar a força muscular e a capacidade física, reduzindo os
efeitos prejudiciais do tempo prolongado no leito. Trata-se de uma conduta fisio-
terapêutica amplamente utilizada em pacientes em estado críticos nas unidades
de terapia intensiva (UTI) assim como naqueles (as) acamados (as), por período
prolongado ou integral portadores de doenças crônicas. Nesta perspectiva, o fi-
Recebido para publicação em 20/08/2022 e acei- sioterapeuta necessita elaborar condutas terapêuticas progressivas com exercícios
to em 20/09/2022, após revisão. que ativem a musculatura, viabilizem a mobilidade no leito, combinando também
exercícios passivos e ativos assistidos. Objetivo: Diante do exposto, o objetivo
desta pesquisa é realizar uma revisão de literatura para demonstrar a importância
da atuação do fisioterapeuta na abordagem da mobilização precoce e seus efeitos
em pacientes em estado crítico. Metodologia: Foram utilizados artigos, livros e
revistas publicadas nas seguintes fontes de dados: Google Scholar, Pubmed, Lilacs
e SciElo. Foram incluídas publicações entre os anos de 2019 a 2022. Quanto aos
descritores, foram utilizadas as seguintes palavras-chave: “Mobilização precoce”
ou “UTI” ou “Fisioterapia”, e também associadas às seguintes palavras-chave:
“pacientes críticos”, “mobilização na unidade de terapia intensiva” e “Covid-19”.
Resultados: Foram encontrados no total 15 artigos e selecionados 10 estudos para
a amostra. Conclusão: Conclui-se que o protocolo de Mobilização Precoce em
unidades de terapia intensiva (UTI) se mostrou segura e eficaz trazendo benefícios
relevantes para pacientes críticos por garantir uma melhor independência funcio-
nal e qualidade de vida pós- alta hospitalar quando manejada de acordo com os
critérios clínicos do paciente.
Palavras chave: mobilização precoce, UTI, fisioterapia.

193
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
Introduction: Absolute bedrest for hospitalized patients was for a long time the indication for the effective recovery
of their health. However, with the advancement of scientific knowledge and technology, it was discovered that immobility
for a long periodtends to slow the recovery process, and may lead to complications such as systemic involvement that can
result in: pressure ulcers, atelectasis, alteration of muscle fibers of contraction, muscle weakness, dyspnea and infections.
Therefore, a physiotherapeutic resource widely used in this context is early mobilization, which aims to propose a combined
exercise program according to the patient’s capacity, in order to preserve and increase muscle strength and physical capacity,
reducing the harmful effects of prolonged time in bed. It is a physiotherapeutic approach widely used in critically ill patients in
intensive care units (ICU) as well as in those bedridden for a prolonged period or with chronic diseases. In this perspective, the
physiotherapist needs to develop progressive therapeutic conducts with exercises that activatemuscles, enable mobility in bed,
also combining passive and active assisted exercises. Objective: In view of the above, the aim of this research is to conduct a
literature review to demonstrate the importance of the role of the physiotherapist in the approach of early mobilization and its
effects in critically ill patients. Methodology: Articles, books and journals published in the following data sources were used:
Google Scholar, Pubmed, Lilacs and SciElo. Publications between the years 2019 to 2022 were included. As for the descriptors,
the following keywords were used: “Earlymobilization” or “ICU” or “Physiotherapy”, and also associated with the following
keywords: “critically ill patients”, “mobilization in the intensive care unit” and “Covid-19”. Results: A total of 15 articles were
found and 10 studies were selected for the sample. Conclusion: It is concluded that the Early Mobilization protocol in intensive-
care units (ICU) proved to be safe and effective, bringing relevant benefits to critically ill patients by ensuring better functional
independence and quality of life after hospital discharge when manage daccording to the clinical criteria of the hospital patient.
Keywords: early mobilization, ICU, physiotherapy.

Introdução Observaram-se no período mais crítico da pandemia de


Por um longo período de tempo, presumia-se que o re- Covid 19, muitos pacientes infectados que evoluíram para
pouso absoluto no leito era crucial para as pessoas que se en- a necessidade de internação em UTI devido ao desenvol-
contravam hospitalizada, entretanto, com o desenvolvimento vimento da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo
da tecnologia e da ciência, bem como o crescimento do en- (SDRA), considerada um fator de risco para a Fraqueza
tendimento científico sobre o assunto, foi capaz de compro- muscular adquirido na UTI (FMAUTI). A permanência em
var que a imobilidade no leito leva ao regresso da capacidade ventilação mecânica desses pacientes muita das vezes foi
funcional e complicações do corpo. São inúmeros os aconte- prolongada, o que revela a importância da intervenção fisio-
cimentos que fazem com que um paciente fique por um bom terapêutica também neste contexto5.
tempo acamado. Seja qual for à situação, mostram-se efeitos Dessa forma, este estudo tem como objetivo realizar
nocivos em diversos sistemas do organismo1. uma revisão de literatura para demonstrar a importância
O repouso em longo prazo é uma das causas de desor- da atuação do fisioterapeuta na abordagem da mobilização
dens muito recorrentes em pacientes internados e sob venti- precoce e seus efeitos em pacientes em estado críticos. Fo-
lação mecânica (VM), sendo capaz de colaborar de maneira ram utilizados artigos, livros e revistas publicadas nas se-
importante com o aumento no tempo de hospitalização. Uma guintes fontes de dados: Google Scholar, Pubmed, Lilacs e
diminuição no evento de óbitos tem sido analisada desde SciElo. Foram incluídas publicações entre os anos de 2019 a
que a melhoria das técnicas nas unidades de terapia intensi- 2022. Quanto aos descritores, foram utilizadas as seguintes
va (UTI). De agora em diante, o número de morbidades por palavras-chave: “mobilização precoce” ou “UTI” ou “Fisio-
repouso prolongado cresceu significativamente atingindo na terapia”, e também associadas às seguintes palavras-chave:
independência funcional do individuo2. “pacientes críticos”, “mobilização na unidade de terapia in-
São numerosas as vantagens que a mobilização precoce tensiva” e “Covid-19”.
possibilita ao paciente crítico, trata-se de uma técnica exten-
samente fundamentada na literatura. São abordadas técnicas Metodologia
com práticas determinadas, firmes e viáveis, que contribuem Este estudo se refere de uma revisão de literatura, onde
para um ganho de força muscular, melhora da funcionalidade seu período de pesquisa de dados ocorreram entre março e
além de beneficiar no declínio do tempo da ventilação me- julho de 2022. As informações contidas neste artigo foram
cânica para os pacientes que se encontra em estado críticos3. coletadas de artigos e revistas publicadas nas seguintes fon-
A mobilização precoce tem sido um assunto bastante tes de dados: Google Scholar, Pubmed, Lilacs e SciElo. Para
abordado em debates que expõem os efeitos do repouso pro- uma melhorar procura do artigos que iriam fazer parte deste
longado no leito, uma vez que ela está associada a melhores estudo, foi utilizado a busca direta de artigos disponíveis nas
resultados funcional, respeitando as contraindicações, limi- bases empregando os descritores disponíveis no Descritores
tações e variações biológicas nos adultos. Ressalta-se que, em Ciências da Saúde (DeCS). Foram utilizados os seguintes
cabe ao fisioterapeuta, a prescrição das atividades, bem como descritores: “Mobilização precoce”, “Fisioterapia”, “ Reabi-
as etapas de desenvolvimento das tarefas propostas analisan- litação” ou “UTI”, e os termos utilizados foram combinados
do sempre as condições individuais de cada paciente4. por meio de operadores lógicos booleanos (OR, AND, NOT).

194
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Como prioridade para inclusão nesse estudo foi consi- Tabela 1: Análise dos artigos pesquisados.
derados os artigos que se referiam a estudos randomizados,
estudos observacionais (transversal, longitudinal, caso-con-
trole e coorte) e revisão de literatura, sendo estes estudos
publicados no período de 2019 a 2022 terem seus títulos
relacionados aos descritores mencionados acima e também
deveriam ser relacionados a fisioterapia na mobilização pre-
coce. Referentes aos critérios de exclusão foram excluídos
artigos duplicados, artigos anteriores ao ano de 2019, artigos
que fugiam do tema proposto e por fim artigos que se refe-
riam a editoriais e artigos de opinião.
Para a análise dos artigos selecionados foi utilizado o
acrônimo PICO7, onde o P refere-se à população ou pro-
blema; I à intervenção; C o controle ou comparação e; O ao
desfecho, com a finalidade de facilitar os critérios de busca.
Primeiro, após a busca nos bancos de dados, os títulos e re-
sumos de todos os estudos escolhidos foram revisados e os
considerados não relevantes foram excluídos.

Resultados
Após busca na base de dados: Google acadêmico, Li-
lacs, Scielo e PubMed, no período de 2019 à 2022. Foram
encontrados 2.542 artigos no total, após a análise minuciosa
foram selecionados 10 artigos, os demais foram excluídos,
artigos repetidos e que não faziam parte da amostra deste
estudo estando fora do tema proposto. O fluxograma abaixo
ilustra o processo de análise:

Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos artigos.

A amostra inclusa no estudo está representada em 1 ta-


bela de maneira sintetizada tendo como análise principal: os
nome dos autores, o ano de publicação do estudo, os objeti-
vos e conclusão.

Discussão
A mobilização precoce (MP) é um método fisioterapêu-
tico que tem como objetivo manter e/ou aumentar a força
muscular e a capacidade física do paciente, além de reduzir os
efeitos prejudiciais do repouso prolongado no leito. Pacientes
críticos que ficam submetidos ao leito por maior tempo, po-
dem apresentar aumento no prazo de hospitalização, fraqueza
muscular respiratória e periférica, o que acarreta (demora no
processo de recuperação pós-alta, desmame tardio e risco au-
mentado de óbito). Quadros de dispneia, depressão e crises de Ventilação Mecânica (VM); Unidade de Terapia Intensiva (UTI); insuficiência respiratória pulmonar aguda (IRpA).

195
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

ansiedade também contribuem para declínio do quadro clínico instabilidade da hemodinâmica e sedação forte, fatores estes
do paciente. Atualmente sabe-se que a técnica proporciona re- limitantes para a prática intensivista. Dados analisados em
dução do tempo de desmame e do tempo de internação9. um estudo demonstram que mais de 50% dos pacientes de
Na UTI, utilizam-se recursos que facilitam no manejo UTI desenvolveram algum tipo de insuficiência adquirida no
do paciente, o ergônometro de ciclo (cicloergômetro) é um meio hospitalar estando associada à morte10.
equipamento permite a realização de exercícios mesmo com Sendo assim é de extrema importância que o fisiotera-
paciente sob sedativo combinado com exercícios motores peuta esteja atento as situações clínicas relevantes para a in-
para diminuir os riscos eminentes de tromboses no paciente. terrupção de exercícios no leito, o desconforto respiratório e
Acredita-se que para um bom resultado da técnica, deve-se aumento da pressão intracraniana (PIC) são alguns sinais para
analisar as condições fisiológicas de cada um individual- interrupção. Por isso deve desenvolver condutas terapêuticas
mente, sugere-se em um estudo que a PAO2/FIO2 esteja > de maneiras progressivas onde introduza exercícios de acor-
300, SPO2 > 92%, PA com oscilação < 20%11. do com o quadro clínico e a funcionalidade de cada paciente.
Entende-se que o repouso em longa data no leito pode Mesmo diante de resultados positivos em vários estudos, a
intervir diretamente na melhora do paciente, devido ao apa- mobilização ainda tem muito a se alcançar ainda existe a ne-
recimento de atelectasias e úlceras de pressão. A abertura cessidade de novos estudos com informações numerosas que
de desordens respiratórias é de caráter normal, instalação de evidenciem os benefícios da fisioterapia motora em âmbito
pneumonia, hipoxemia e embolia pulmonar em geral se ato- hospitalar já que os dados obtidos não apresentaram signifi-
mizam em pacientes no leito trazendo uma fragilidade no cância estatística. No entanto, é uma prática bastante desafia-
quadro clínico. Foram estudados 42 pacientes, com média dora, mas mesmo assim, o pouco que se sabe engrandece pro-
de idade de 65 anos, 60% eram mulheres, os pacientes que gramas de mobilização precoce na UTI classificando-a como
deambularam permaneceram menos tempo internados na uma intervenção segura, primordial e eficaz13.
UTI quantos aqueles que realizaram cinesioterapia passiva,
entende-se que ficar imóvel não é uma boa opção6. Conclusão
Segundo autores de um estudo, o sistema musculoesque- Conclui-se que o protocolo de Mobilização Precoce
lético carece de movimentos sempre que possível, a imobili- em unidades de terapia intensiva (UTI) se mostrou seguro e
dade em uma semana promove a perda de cerca 30% da força eficaz proporcionando benefícios relevantes para pacientes
muscular por perder parte da massa muscular. Pacientes em críticos quando respeitado as condições clínicas de cada um
quadro estável, porém acamados também devem receber con- podendo reduzir as complicações decorrentes do imobilis-
dutas de mobilização para evitar a exacerbação de doenças8. mo, redução do desmame, redução da VM e diminuição do
As abordagens de mobilização mais utilizadas por fisio- tempo de internação, o que favorece uma melhor qualidade
terapeutas são mobilização passiva, alongamento passivo, de vida e independência pós-alta hospitalar, entre outros be-
posicionamento articular, exercícios ativo assistido e ativo nefícios, como melhora das condições psíquicas e emocio-
resistido, sentar o paciente na cama e\ou poltrona, transfe- nais do paciente crítico, que conjuntamente com os demais
rências, cicloergonomia para membros inferiores e postura benefícios estabelecem um melhor prognóstico e redução da
ortostática, marchar com auxílio evoluindo para marcha sem mortalidade. Estudos enfatizaram que deve se iniciar preco-
auxílio e atividades à beira leito. Técnicas que garantem au- cemente técnicas de reabilitação ainda no leito para evitar
mento de força muscular além de inúmeros benefícios para danos posteriores, sendo o fisioterapeuta, o profissional res-
uma alta hospitalar precocemente, ainda sim, não se sabem ponsável pelo estabelecimento de protocolos e condutas a
ao certo a intensidade, duração e repetições a se aplicar15. serem executadas ou interrompidas. Ainda se faz necessá-
Protocolos da MP devem ser elaborados com bastante rio a implantação de novos estudos visto que são bastante
cautela, principalmente em UTIs. Alguns protocolos suge- escassos, no sentido de estabelecer o melhor protocolo de
rem que paciente em VM deve ser iniciar a conduta após 72 intervenção. O ciclo ergômetro e a caminhada estão descri-
horas, duas vezes ao dia por cinco vezes na semana. No final tos na maioria dos estudos, sendo assim, uma das principais
do tratamento foi concluído que pacientes que usaram a con- intervenções proposta no contexto da mobilização precoce.
duta de mobilização juntamente com a ventilação mecânica Portanto, a fisioterapia motora é e sempre foi primordial em
tiveram menor tempo de internação do que os demais7. doentes críticos por garantir uma melhor independência fun-
Estudos recomendam-se que seja realizado ainda na fase cional e qualidade de vida pós-alta hospitalar se manejada
precoce e personalizada de acordo com a funcionalidade de respeitando critérios clínicos do paciente.
cada um. Outros estudos sugerem que quanto mais antecipa-
do for à intervenção fisioterapêutica menores serão os prejuí- Referências
-zos ao longo da reabilitação14. 1. Mussalem, Modesto MA, Silva, Couto ACS, Vianna LC, Marinho, Florencio L,
Para isso, acredita-se que a gasometria precise estar es- Maior AS, Silva VS, Silva NF. Influência da mobilização precoce na força muscu-
lar periférica em pacientes na Unidade Coronariana. Assobrafir ciência, v. 5, n. 1,
tabilizada para bons efeitos positivos. Sugere-se que a PCO2 p. 77-88, 2019 http://assobrafirciencia.org/article/5de0186f0e8825a2434ce1d5
esteja entre 35 a 55 mmHg, a FR de 12 a 30, São 2 > 95, 2. Silveira ACCN, Mota VMT, Souza FKV, Marçal EM, Gurgel DC, Nogueira IC.
Análise dos recursos terapêuticos utilizados na mobilização precoce em pacientes
ausência de alterações cardíacas. Além de PAM < 60 mmHg, críticos. Edições desafio singular, 2019, vol. 15, n. 4, pp. 71-80 DOI: http://dx.doi.
hemodiálise e ausência de pulso12. org/10.6063/motricidade.20068.
3. Souza Ranná, Marques LM, Gonçalves ED, Costa GF, Furtado MVC, Amaral
Foi feito uma comparação entre dez UTIs da Austrália AG, Costa AC. Efeitos da mobilização precoce em pacientes adultos interna-
e Escócia e foi constatado que os pacientes mostravam certa dos em unidade de terapia intensiva Brazilian journal of development, Curitiba

196
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

v.an3.0.30427-30441 mar2021. ISSN 25258761 https://brazilianjournals.com/ojs/ de literatura, Revista Perspectiva: Ciência e Saúde,v.5(3):42-50,Dez 2020. ISSN
index.php/BRJD/article/download/27021/21372. 25661541http://sys.facos.edu.br/ojs/index.php/perspectiva/article/view/491.
4. Aquim EE, Bernardo WM, Buzzini RF, Azeredo SG, Cunha LS, Damasceno MC, 10. Filho CRC, Vasconcelos DB, Cunha WGN, Vieira EEA, Nogueira FJS. Efeito da
Deucher RA, Duarte CM, Librelato JT, Silva CA, Nemer SN, Silva SD, Verona mobilização precoce na alta hospitalar de pacientes sob ventilação mecânica na uni-
CV. Diretrizes brasileiras de mobilização precoce em unidade de terapia intensiva. dade de terapia intensiva: revisão sistemática. Revista Ciência Plural. 2020. 6(3):194-
Revista Brasileira de Terapia Intensiva. v. 31, p. 434-443, 2020. https://diretrizes. 209 https://periodicos.set.edu.br/fitsbiosaude/article/download/6674/3890/23638.
amb.org.br/medicina-intensiva/pacientes-em-unidades-de-terapia-intensiva-mobi- 11. Santos AS, Santos LRM, Nascimento SSM. Repercussão e Benefícios da mobi-
lizacao-precoce. lização precoce em pacientes críticos restritos ao leito. Revista JRG de estudos
5. Bonorino KC, Cani KC,Mobilização precoce em tempos de COVID-19. Re- acadêmicos. [placeunknown] 2021. Fev. vol. IV [internet]. 2021. DOI: https://doi.
org/10.5281/zenodo.4568404.
vista Brasileira de Terapia Intensiva, v. 32, p. 484-486,2021: Doi: https://doi.
12. Flávio MH, Araújo MP, Scardovelli DS. Fisioterapia motora precoce nos pacientes
org/10.5935/0103-507X.20200086.
internados em unidades de terapia intensiva. [internet]. Jun. 2018. http://fisiosale.
6. Gomes ES, Gardenghi G. Mobilização precoce no paciente em unidade de
com.br/wp/wp-content/uploads/2019/02/Fisioterapia-motora-precoce-nos-pacien-
terapia intensiva. [internet]. 2019. https://ceafi.edu.br/site/wp-content/uploa- tes-internados-em-unidade-de-terapia-intensiva.pdf.
ds/2019/08/Mobiliza%C3%A7%C3%A3o-precoce-no-paciente-em-unidade- 13. Paulo FVS, Viana MCC, Braide ASG, Morais MCS, Malveira VMB. Mobilização
-de-terapia-intensiva.pdf. precoce a prática do fisioterapeuta intensivista: intervenções e barreiras. RevPesquiFi-
7. Noal S, Guedes PF, Costenaro RGS. Benefícios da mobilização precoce em pa- sioter. 2021; 11 (2):298-306. DOI: https://doi.org/10.17267/2238-2704rpf.v11i2.3586.
cientes internados em uma unidade de terapia intensiva. DisciplinarumScientia. 14. Muller AF, Martins PP. A importância da mobilização precoce em pacientes hos-
Ciências da saúde, Santa Maria.V.20, n.2 p.447-457, 2019 ISSN 2177-3335 ht- pitalizados com covid-19: uma revisão integrativa. Revista interdisciplinar do
tps://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumS/article/view/2883. pensamento científico REINPEC v.07, n.1. m1a5. 10 mar. 2022. DOI: https://doi.
8. Medeiros LF, Rocha RM, Farias DH, Calles ACN, Exel AL. Mobilização precoce org./1020951/2446-6778/v7.
em pacientes adultos críticos: uma revisão integrativa. Ciências biológicas e da 15. Jesus BS, Eufrásio SL, Pereira LM, Costa CF, Pacheco DF. Treinamento de for-
saúde unit. Alagoas. v.6, n 1, p.75-88. Abril. 2020. ISSN 2316-3151 https://perio- ça precoce em terapia intensiva na insuficiência cardíaca: Mobilização precoce,
dicos.set.edu.br/fitsbiosaude/article/download/6674/3890/23638. Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE, São
9. Melo CS, Silva ED, Fernandes PF, Silva TS, Silveira TS, Naue WS. Atuação fi- Paulo, v.7.n.10. out. 2021, ISSN - 2675 – 3375, DOI: https://doi.org/10.51891/
sioterapêutica na mobilização precoce em pacientes internados na UTI: Revisão rease.v7i10.2740.

197
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Revisão

Intervenção Fisioterapêutica através da ventilação


não invasiva (VNI) em pacientes
oncológicos hospitalizados: revisão integrativa

Physiotherapy intervention through non-invasive ventilation (NIV)


in hospitalized cancer patients: integrative review

Nathália Carvalho Campos Ferraz¹, João Paulo Vargas Fernandes²

1. Aluno do Curso de Graduação em Bacharel em Resumo


Fisioterapia do Centro Universitário Faminas
Muriaé.
Introdução: Uma das complicações clínicas mais frequentes durante o tra-
2. Graduado em Fisioterapia pela Universidade tamento das neoplasias é a insuficiência respiratória aguda (IRpA), que pode ser
Estácio de Sá, Especialista em Fisioterapia Res- causada de forma hipoxêmica ou hipercapnica. Dependendo da condição clínica
piratória e Terapia Intensiva pela FRASCE/RJ e do paciente o uso da ventilação não invasiva (VNI) pode contribuir para preven-
pela ASSOBRAFIR. Professor no Centro Uni-
versitário Faminas Muriaé e Centro Universitá-
ção e controle do IRpA e reduzir a necessidade de ventilação invasiva. O paciente
rio UniRedentor Itaperuna. oncológico é um paciente imunodeprimido com várias possíveis complicações,
sendo de suma importância compreender as evidências científicas existentes sen-
do uma decisão difícil de ser tomada e que gera debates entre os profissionais de
Endereço para correspondência:
saúde sobre o que pode trazer benefícios ou malefícios dependendo da conduta
E-mail: joaopaulo_vargas@yahoo.com.br escolhida. Objetivo: Este estudo busca avaliar os principais achados sobre o uso
da ventilação não invasiva em pacientes oncológicos, os objetivos do seu uso e
resultados nesta população específica. Metodologia: Realizou-se, então, uma re-
Recebido para publicação em 17/08/2022 e acei-
visão nos bancos de dados: JBP, LILACS, MEDLINE, SciElo, PubMed, Cochra-
to em 03/09/2022, após revisão. ne, PEDro, RBC, RAS e Google Acadêmico onde foi utilizado a estratégia direta
de buscas encontradas nas próprias bases de dados empregando os descritores em
ciências da saúde (DECs). Foram incluídos artigos publicados entre 2012 e 2022,
estudos randomizados, estudos observacionais (transversal, longitudinal, caso
controle e coorte), revisões de literatura e estudo de caso, títulos relacionados com
os descritores mencionados acima. Resultados: Foram encontrados 22.986 que
passaram por três etapas de pré-seleção (primeira etapa selecionado 177 artigos;
segunda etapa selecionado 54 artigos e terceira etapa selecionado 23 artigos), após
a remoção dos artigos que fugiam totalmente do tema proposto, artigos duplicados
e por fim artigos que se referiam a editoriais, artigos de opinião e cartas ao editor.
Compuseram essa revisão 7 artigos onde a ventilação mecânica não invasiva foi
utilizada como tratamento na insuficiência respiratória aguda. Conclusão: Con-
clui-se que, o uso da VNI não deve ser utilizado nos pacientes oncológicos com
infecções pulmonares, tumores sólidos e hematológicos como doença de base, nú-
mero de quadrantes afetados. A falha da VNI se relaciona a complicações graves
e quando existe falha a mortalidade é muito maior entre os pacientes, pois o uso
da ventilação adequada (intubação orotraqueal) foi postergada. É necessário novos
estudos para identificar melhor os modos ventilatórios mais utilizados, o tempo de
utilização e um tamanho amostral da população pesquisada maior para que possa-
mos compreender melhor os efeitos e contraindicações da VNI.

Palavras chave: neoplasia, insuficiência respiratória, ventilação não invasiva.

198
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
Introduction: One of the most frequent clinical complications during the treatment of neoplasms is acute respiratory
failure (ARF), which can be caused in a hypoxemic or hypercapnic way. Depending on the clinical condition of the patient
the use of non-invasive ventilation (NIV) can contribute to the prevention and control of ARF and reduce the need for in-
vasive ventilation. The oncologic patient is an immunosuppressed patient with several possible complications, and it is of
utmost importance to understand the existing scientific evidence on devices to administer oxygen, the most indicated types
of ventilatory support and time of use. It is a difficult decision to be made and generates debate among health professionals
about what may bring benefits or harm depending on the chosen conduct. Objective: This study aims to evaluate the main
findings on the use of noninvasive ventilation in cancer patients, the objectives of its use and results in this specific popula-
tion. Methodology: A review was then conducted in the following databases: JBP, LILACS, MEDLINE, SciElo, PubMed,
Cochrane, PEDro, RBC, RAS, and Google Academic where the direct search strategy found in the databases themselves was
used, employing the health sciences descriptors (DECs). Articles published between 2012 and 2022, randomized studies,
observational studies (cross-sectional, longitudinal, case control and cohort), literature reviews and case study, titles related
to the descriptors mentioned above were included. Results: A total of 22,986 articles were found and went through three
pre-selection stages (first stage: 177 articles selected; second stage: 54 articles selected; and third stage: 23 articles selected),
after removing articles that were totally unrelated to the proposed theme, duplicate articles, and finally articles that referred
to editorials, opinion articles, and letters to the editor. This review included 7 articles in which noninvasive mechanical
ventilation was used as treatment for acute respiratory failure. Conclusion: It is concluded that the use of NIV should not be
used in cancer patients with pulmonary infections, solid and hematological tumors as underlying disease, number of affected
quadrants. Failure of NIV is related to serious complications, and when there is failure, mortality is much higher among pa-
tients, as the use of adequate ventilation (orotracheal intubation) was postponed. Further studies are needed to better identify
the most used ventilation modes, the time of use and a larger sample size of the researched population so that we can better
understand the effects and contraindications of NIV.

Keywords: neoplasia, respiratory failure, non-invasive ventilation.

Introdução
A neoplasia é caracterizada pelo crescimento descontro- ocorrem de maneira mais lenta podendo demorar meses ou
lado e pela disseminação anormal das células podendo ter anos, as manifestações clínicas podem ser mais difíceis de
como causa os diversos fatores externos (hábitos de vida ser notadas e pode ter presença de acidose respiratória, como
inadequados, infecções, substâncias químicas e radiação) e presenciado na doença obstrutiva crônica (DPOC) e nas do-
fatores internos (mutações hereditárias, desequilíbrios hor- enças neuromusculares2.
monais, baixa imunidade e mutações decorrentes do meta- Nos pacientes oncológicos em estágio avançado da do-
bolismo). Diante disso, qualquer pessoa pode desenvolver ença a insuficiência respiratória aguda é encontrada de forma
neoplasia dependendo dos fatores internos e externos que in- mais fácil por conta do tratamento realizado que compro-
cidem sobre ela, e esse risco tende a aumentar com a idade. mete a ventilação e perfusão do pulmão. O prognóstico da
O paciente oncológico pode desenvolver a insuficiência res- doença será pior quando o paciente oncológico necessita de
piratória adquirida por infecções hospitalares, alterações en- ventilação mecânica invasiva (VMI) e é nesse contexto que
tre ventilação e perfusão provenientes de atelectasias, shunt a ventilação não invasiva (VNI) vem atuar com alternativa
ou congestão das veias pulmonares ou redução do calibre das para o tratamento dos pacientes imunodeprimidos que apre-
vias aéreas devido fatores variados (intrínsecos ou extrínse- sentam insuficiência respiratória3.
cos). Estes pacientes são mais imunodeprimidos e tem dis- Os dois modos de ventilação não invasiva (VNI) mais
função hematológica pela própria evolução da doença, quan- utilizados é o CPAP (pressão contínua nas vias aéreas) que
do apresentam insuficiência respiratória podem aumentar o vai preservar o esforço respiratório espontâneo do paciente e
trabalho respiratório, ter uma demanda maior dos músculos o BPAP (bi nível) que combina a pressão de suporte (PS) na
respiratórios que causam fadiga e retenção de CO21. fase inspiratória com pressão positiva no final da expiração
Esta insuficiência pode ser classificada como aguda ou (PEEP ou EPAP), trazendo a redução da atividade da muscu-
crônica, dependendo do tempo de instalação no paciente. Na latura respiratória. O paciente com neoplasia que apresentam
insuficiência respiratória aguda (IRpA) o paciente apresenta insuficiência respiratória aguda pode se beneficiar do uso da
uma diminuição rápida da função respiratória que manifesta VNI porque se bem utilizado nos casos corretos pode dimi-
alterações clínicas mais intensas e podem ocorrer alterações nuir a necessidade de intubação (TOT), reduzir o trabalho
na gasometria do paciente (equilíbrio ácido/básico, alcalose/ respiratório, reduzir dispneia, reduzir complicações pulmo-
acidose respiratória, etc.) Elas se classificam do Tipo I (hi- nares (como atelectasias, pneumonias, etc.), reduzir falhas
poxêmica) causada pela falência da oxigenação ou do Tipo durante o tratamento da insuficiência, abreviar o tempo de
II (hipercapnica) causada pela falência de ventilação. Já nas internação hospitalar e principalmente reduzir a mortalidade
insuficiências respiratória crônicas as alterações clínicas destes pacientes4.

199
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Decidir se irá usar VMI ou VNI em pacientes oncológi- gos, na segunda pré-seleção 54 artigos e na terceira selecio-
cos é uma decisão complicada de ser tomada e vem geran- nados 23 artigos que relacionavam a ventilação não invasiva
do debates entre os profissionais de saúde, principalmente a insuficiência respiratória.
fisioterapeutas, sobre o que pode trazer benefícios e o que Como esta revisão integrativa buscou especificar o
pode causar malefícios. Diante de tudo isso, o presente estu- VNI e a insuficiência respiratória em pacientes oncológi-
do busca descrever e discutir os principais dados coletados cos, após as exclusões foram selecionados apenas 7 artigos
na literatura entre os anos de 2012 à 2022 sobre a utilização que tinham como foco o público oncológico. Nesta revisão
de ventilação não invasiva (VNI) em pacientes oncológicos. foram incluídos 7 artigos científicos, os quais estavam dis-
poníveis na: JBP (0), LILACS (1), MEDLINE (0), SciELO
Metodologia (1), PubMed (2), Cochrane (0), PEDro (0), RBC (1), RAS
Foi realizada uma revisão integrativa da literatura de- (1) e Google Acadêmico (2).
senvolvida pelos passos descritos por Souza (2017). O autor Alguns dos artigos encontrados buscaram entender a
descreve seis fases diferentes para a construção da revisão eficácia e reunir evidências sobre o uso da VNI em pacien-
integrativa, como identificação do tema e seleção da hipóte- tes após a esofagectomia por câncer de esôfago, pacien-
se ou questão de pesquisa; estabelecer critérios para inclusão tes com câncer de pulmão que realizaram o procedimento
e exclusão de estudo/amostragem ou pesquisa de literatura; de ressecção pulmonar e pacientes com câncer de pulmão
definir as informações extraídas dos estudos selecionados e internados na UTI. Também foi encontrado outros artigos
categorizar os estudos; avaliar os estudos incluídos na revi- que avaliaram os preditores de risco para falha do VNI nos
são integrativa; interpretação dos resultados e por fim apre- pacientes com câncer e IrpA, contraindicações e descreve-
sentar a revisão/ síntese do conhecimento que foi construído. ram a mortalidade hospitalar. O fluxograma abaixo ilustra
O objetivo deste estudo foi reunir conhecimentos sobre o processo de análise.
o uso da ventilação não invasiva na insuficiência respiratória
dos pacientes oncológicos hospitalizados. A pesquisa dos ar- Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos artigos.
tigos foi feita nas seguintes bases: Jornal Brasileiro de Pneu-
mologia e Tisiologia (JBP), Literatura Latino-Americana e
do Caribe (LILACS), Medical Literature Analysis and Re-
trieval Sistem online (MEDLINE), Scientific Eletronic Li-
brary Online (SciELO), National Library of Medicine (Pub-
Med), Revisões Sistemáticas Cochrane (CDSR - Cochrane
Library), Physioterapy Evidence Database (PEDro), Revista
Brasileira de Cancerologia (RBC), Revista de Atenção à saú-
de (RAS) e Google Acadêmico.
Os critérios de inclusão foram idioma (português e
inglês); disponibilidade (texto integral), descritores (em
português: insuficiência respiratória, neoplasia e ventila-
ção não invasiva; em inglês: respiratory failure, neoplasm
e noninvasive ventilation), data de publicação (2012 a A amostra inclusa no estudo está representada de
2022), estudos observacionais (transversal, longitudinal, forma sintetizada com os principais pontos analisados:
caso controle e coorte), estudos randomizados, revisões nome dos autores, o ano de publicação, os objetivos, tipo
de literatura, estudo de caso e títulos relacionados com de estudo e a conclusão.
os descritores acima. Referente aos critérios de exclusão,
foram excluídos artigos anteriores ao ano de 2012, artigos Discussão
que fugiam totalmente do tema proposto, artigos dupli- O câncer é uma patologia mundialmente conhecida e
cados, descritores (em português: pediatria; em inglês: muitas vezes diagnosticada em uma fase avançada nos indi-
pediatric) e por fim artigos que se referiam a editoriais, víduos, a insuficiência respiratória é uma das complicações
artigos de opinião e cartas ao editor. relatadas principalmente nos pacientes oncológicos com um
Todos os descritores foram combinados através dos ope- quadro mais avançado ou decorrente deste tratamento on-
radores lógicos booleanos (OR, AND, NOT). Foram utili- cológico. O número de pacientes com neoplasias que são
zadas para buscas as seguintes combinações de palavras e internados na UTI vem aumentado ao longo do tempo por
termos: (ventilação não invasiva) AND (neoplasia) AND conta dos avanços da medicina e do diagnóstico precoce que
(insuficiência respiratória) NOT (pediatria). interferem diretamente na sobrevida do paciente7.
.O uso da ventilação não invasiva (VNI) nos pacientes
Resultados que apresentaram insuficiência respiratória representou cer-
Foram encontrados 22.986 que passaram por três etapas ca de 20% dos casos internados nas enfermarias. Este tipo de
de pré-seleção, após a remoção dos artigos que fugiam total- ventilação utiliza uma pressão positiva, onde um ventilador
mente do tema proposto, artigos duplicados e por fim artigos e uma interface faz a conexão com o paciente6,7. Os motivos
que se referiam a editoriais, artigos de opinião e cartas ao de internação na UTI mais frequentes foram complicações
editor. Na primeira pré-seleção foram selecionados 177 arti- infecciosas,insuficiência respiratória, sepse e choque6.

200
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Tabela 1: Análise dos artigos pesquisados. (VNI) vou pacientes que apresentavam tumores sólidos e neopla-
sias hematológicas com o objetivo de entender os fatores que
predispõe a falha da VNI. O autor observou variáveis como
“sexo, idade, situação conjugal, escolaridade, índice de mas-
sa corporal (IMC), neoplasia primária, motivo da internação,
comorbidade, motivo do uso da VNI, tempo de internação
hospitalar, mortalidade e ausência ou presença de leucoci-
tose”. Os pacientes que apresentaram maior pontuação de
SOFA, maior frequência respiratória durante a VNI e um
número maior de quadrante afetados na radiografia foram os
que falharam na VNI. O estudo sugere que nestes pacientes
específicos o VNI deve ser utilizado com ressalvas8.
Em relação ao tempo de internação foi observado que
os pacientes na UTI tem um tempo maior do que aqueles pa-
cientes que começaram o uso da VNI na enfermaria, a frequ-
ência cardíaca e respiratória pode ser mais alta e eles podem
apresentar uma incidência maior de acidose e hipercapnia na
UTI7. Já um outro estudo demonstra que o tempo médio de
internação na UTI é de 9 dias para pacientes que apresenta-
ram sucesso na VNI e 7 dias para pacientes em que a VNI fa-
lhou. Os pacientes com câncer de pulmão que permanecem
mais tempo dentro da UTI está relacionado ao aparecimento
de infecções e apresentam dificuldade de responder ao tra-
tamento apresentam um prognóstico que evolui para a ven-
tilação mecânica invasiva e o maior permanência na UTI10.
Um estudo recente publicado em 2021 investigou 2116
pacientes internados no centro de terapia intensiva (CTI) e
dividiu em dois grupos (o que apresentou falha da VNI e o
que apresentou sucesso). Foi observado que 1092 pacientes
falharam e 1024 apresentaram sucesso8. Os achados sugerem
que os fatores associados a falha da VNI são relacionados
a infecções pulmonares, tumores sólidos e hematológicos
como doença de base, número de quadrantes afetados e fre-
quência respiratória7,10. Em contrapartida não foi observado
efeito da frequência respiratória na falha da VNI em um ou-
tro estudo que utilizava algumas variáveis parecidas, porém
foi identificado que os pacientes do sexo masculino, com
câncer hematológico, escores maiores de gravidade e infec-
ções pulmonares são fatores de risco para o uso da VNI8,10.
Um estudo buscou entender quais fatores de risco se re-
lacionavam com a falha da VNI e descobriu que os pacientes
que eram do sexo masculino e apresentavam uma infecção
que provocava a insuficiência respiratória como causa pri-
mária eram mais propensos a falha da VNI. Ele analisou
2258 pacientes internados, 114 utilizaram a VNI e 67 obti-
veram sucesso no seu uso contra 47 que falharam (11 foram
intubados)10. A falência tardia da VNI ( intubação orotraque-
al após 48 horas) está ligada diretamente a mortalidade dos
pacientes oncológicos com insuficiência respiratória7,10. A
falha da VNI está associada a indicação incorreta, falta de
expertise, interfaces inadequadas, fixação inadequada, apa-
Ventilação Não Invasiva (VNI); Unidade de Terapia Intensiva (UTI); Insuficiência
Respiratória Aguda (IRpA); Sindrome do Desconforto Respiratório Agúdo (SDRA); relho inadequado A falência está relacionado a aumento de
Ventilação Mecânica Invasiva (VMI); Lesão Pulmonar Aguda (LPA);Sequential Or- mortalidade, com a taxa variando entre 5 a 60% dependendo
gan Failure Assessment (SOFA).
de vários fatores, incluindo a causa da IrpA1,6,8,10.
O sucesso da VNI irá depender da adaptação do pacien- Os achados observados em relação a mortalidade suge-
te, o tipo de interface, conforto do paciente e um profissional re que os pacientes que usaram a VNI associada a um tipo
treinado para utilizar essa ferramenta no ambiente hospitalar. de infecção pulmonar apresentaram 5 vezes mais chances
O estudo de coorte retrospectivo realizado em 2019, obser- de falhar com esse recurso e dentre estes pacientes que fa-

201
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

lharam foi observado 2,63 mais chance de vir a óbito7. Em portante seguir as principais evidências e indicações sobre seu
um outro estudo foi demonstrado que a mortalidade dentro uso, porém ainda existem muitas limitações onde a VNI já
da UTI foi de 40% por conta dos fatores de risco associado foi validada em outros estudos, mas não tem evidência forte
“insuficiência respiratória, SAPS 3, sexo masculino e falha o suficiente para que os desfechos mudem na prática1.Se não
da VNI”10. A mortalidade é maior nos pacientes com câncer está dentro da recomendação, não tem indicação de usar. Para
de pulmão que estão em ventilação mecânica invasiva e ne- adaptar o paciente na VNI não depende somente dos ajustes
cessitam de diálise, neste estudo específico ao contrário do adequados, mas da expertise do profissional para entender o
que outros autores sugerem o gênero, tratamento, infecção, que o paciente está precisando naquele momento1,6,8,10.
uso de droga vasoativa, VNI e realização de fisioterapia não .O presente estudo apesar das descobertas também possui
influenciam na mortalidade, mas é necessário novos estudos limitações, é recomendado que novos ensaios clínicos ran-
com uma população amostral maior para verificar a influen- domizados pragmáticos sejam realizados para estabelecer
cia dessas variáveis6. melhor os modos ventilatórios mais indicados, o tempo de
.Outro estudo demonstrou que os pacientes com ressec- utilização da VNI e o estabelecimento dos efeitos e contrain-
ção pulmonar após o câncer de pulmão que utilizaram a VNI dicações da VNI na população oncológica, porém com um
por períodos longos tiveram mais benefícios, pois recru- tamanho amostral maior.
tou as áreas pulmonares colapsadas. Nestes casos houve um
maior volume corrente, melhora da trocas gasosas e descanso Conclusão
da musculatura respiratória. Porém, em contrapartida outros .Conclui-se que esse recurso utilizado em pacientes on-
estudos demonstraram que não houve esses benefícios com o cológicos pode evitar complicações na maioria dos casos,
uso da VNI na ressecção pulmonar5. Existem diversos proto- porém deve ser utilizado com cautela em pacientes com
colos sobre o uso do VNI que pode representar um certo viés, infecções pulmonares e altos escores de gravidade. O seu
alguns autores sugerem “2 horas durante 3 dias; outros 3 vezes uso na prevenção de falhas deve ser realizado em pacien-
por dia durante toda a internação hospitalar; ou então, 7 horas tes estáveis hemodinâmicamente e hematológicos. É ideal
consecutivas no primeiro dia de ressecção pulmonar”, porém evitar usar nas complicações pós-operatória graves (parada
não foi encontrado evidências do benefício da VNI no pós cardíaca, disfunção renal aguda e pacientes que apresentam
operatório de ressecção pulmonar nos parâmetros avaliados PaO2/FiO2 < 180 após 2h do uso da VNI. Foi observado que
como complicação pulmonar, taxa de intubação, mortalidade, os pacientes que falharam obtiveram maior pontuação de
termpo de internação hospitalar e UTI1. SOFA, maior frequência respiratória e um número maior de
.Um estudo de 2013 em pacientes com câncer de esôfa- quadrante afetados na radiografia foram os que falharam. Os
go que realizaram a cirurgia de esofagectomia sugeriu que pacientes que apresentaram complicações pulmonares apre-
pode ser eficaz o uso da pressão positiva para o tratamento sentaram quase cinco vezes mais chance de falhar do que
de SDRA, porém deve-se levar em consideração a presença aqueles que apresentaram sucesso.
de complicações. Os pacientes que apresentarem disfunção .Nos casos de pós operatório de cirurgias abdominais al-
renal aguda, parada cardíaca e PaO2/FiO2 <180 após 2h do tas a VNI parece ser benéfica para o tratamento de IRpA/
início do uso da VNI, a ventilação mecânica invasiva deve SDRA. Não foi encontrado evidências do benefício da VNI
ser considerada5. Um outro estudo corrobora com estas in- no pós operatório de ressecção pulmonar nos parâmetros
formações sobre o uso do VNI na IrpA apresentada no pós- avaliados (complicação pulmonar, taxa de intubação, morta-
-operatório de esofagectomia dos pacientes com câncer de lidade, tempo de internação hospitalar e UTI). É necessário
esôfago. Ele demonstra que é importante observar fatores novos estudos para identificar melhor os modos ventilató-
que contraindicam o uso do VNI: “disturbios neurológicos, rios mais utilizados, o tempo de utilização e um tamanho
coma ou convulsão; choque cardiogênico ou séptico; vaza- amostral da população pesquisada maior para que possamos
mento ou deiscência de anastomose; intolerãncia a VNI9. compreender melhor os efeitos e contraindicações da VNI.
.No pós operatório das cirurgias abdominais altas o VNI
tem a função de prevenir atelectasias e complicações, o Referências
modo CPAP foi o mais comum de ser utilizado9. Porém os 1. Torres, MFS. Ventilação não invasiva com pressão positiva para prevenção de
complicações após ressecção pulmonar em pacientes com câncer de pulmão: revi-
modos ventilatórios mais indicado para os pacientes onco- são sistemática da literatura. 2016. 98 f. Dissertação (Mestrado) - Escola Paulista
lógicos com insuficiência respiratória não ficou muito claro de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2016.
[Internet]. [2022 agosto 15] https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/47388.
nos artigos escolhidos, alguns outros autores sugeriram que 2. Pádua AI, Alvares F, Martinez JAB. Insuficiência respiratória. Medicina (Ri-
o uso do modo BIPAP seria o mais indicado1,7-9. beirão Preto) [Internet]. 30 de dezembro de 2003 [citado 22 de setembro de
2022];36(2/4):205-13. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/
.Desde que não haja contraindicações o VNI pode ser view/549.
usado como primeira opção nos pacientes com câncer que 3. Meert AP, Close L, Hardy M, Berghmans T, Markiewicz E, Sculier JP. Nonin-
vasive ventilation: application to the cancer patient admitted in the intensive care
apresentam IrpA, pois seu uso diminui a necessidade de in- unit. Support Care Cancer. 2003 Jan;11(1):56-9. doi: 10.1007/s00520-002-0373-0.
tubação orotraqueal e sedação nos pacientes oncológicos7,10. Epub 2002 Jul 19. PMID: 12527955.
4. Schettino, G.P.P. et al. Noninvasive mechanical ventilation with positive pres-
A “idade, frequência respiratória, o nível de IPAP, PaCO2, sure. Revista Brasileira de terapia intensiva, v. 19, p. 245-257, 2007. https://doi.
PaO2 e o número de quadrante afetados se associaram as fa- org/10.1590/S0103-507X2007000200019
5. Yu KY, Zhao L, Chen Z, Yang M. Noninvasive positive pressure ventilation for
lhas da VNI”7. O uso desta ferramenta deve ser usada com the treatment of acute respiratory distress syndrome following esophagectomy for
cautela nos pacientes oncológicos com infecções pulmona- esophageal cancer: a clinical comparative study. J Thorac Dis. 2013. Dec;5(6):777-
82. [internet]. [2022 julho 13]. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24409355/ doi:
res confirmadas e hemodinamicamente instáveis6,10. É im- 10.3978/j.issn.2072-1439.2013.09.09.

202
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

6. Müller, A. M.; Gazzana, M. B.; Silva. Desfecho de pacientes com câncer de Campinas, Galoá, 2021. [internet]. [2022 agosto 20]. https://proceedings.science/
pulmão admitidos em unidades de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva, cobraf/cobraf-2021/papers/preditores-de-insucesso-na-ventilacao-nao-invasiva-
2013: 21(1):12-16. [Internet]. [2022 julho 15] https://www.scielo.br/j/rbti/a/fR -em-pacientes-oncologicos-uma-revisao-sistematica-?lang=en.
c4QbHgVG4s8HjSKGFLLcM/?lang=pt. doi: https://doi.org/10.1590/S0103- 9. Montenegro, AKS.et al. Ventilação não invasiva na insuficiência respiratória agu-
-507X2013000100004. da no pós-operatório de esofagectomia em pacientes com câncer de esôfago: uma
7. Araujo BP de, Faria EM de, Silva LM da, Bizzo LV, Quintão MMP, Bergmann A, revisão integrativa. Revista de Atenção à Saúde | São Caetano do Sul, SP | v. 20 | n.
Thuler LCS, Silva GT da. Fatores Preditores para a Falha da Ventilação não Invasi- 71 | p. 240-251 | jan./jun. 2022 | ISSN 2359-4330. [internet]. [2022 setembro 01].
va em Pacientes Hospitalizados com Câncer. Rev. Bras. Cancerol.;65(1):e-10322. https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/8346 doi:
[Internet]. [2022 agosto 15] https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/ https//doi.org/10.13037/ras.vol20n71.8346.
view/322. doi: https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2019v65n1.322 10. Ferreira JC, Medeiros P Jr, Rego FM, Caruso P. Risk factors for noninvasive ven-
8. Araujo BP, Silva CE, Oliveira AD. Preditores de insucesso na ventilação não in- tilation failure in cancer patients in the intensive care unit: A retrospective cohort
vasiva em pacientes oncológicos – uma revisão sistemática. In: anais do XXIII study. J Crit Care. 2015 Oct;30(5):1003-7. doi: 10.1016/j.jcrc.2015.04.121. Epub
Congresso Brasileiro de Fisioterapia, 2021, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos. 2015 May 9. PMID: 26072388.

203
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Revisão

Posição prona na síndrome do desconforto


respiratório agudo (SDRA) em
pacientes intubados: revisão integrativa

Prone position in acute respiratory distress


syndrome (ARDS) in intubated patients: integrative review

Nykolas Custódio Modesto¹, Marcos Roberto Santos Garcia¹, João Paulo Vargas Fernandes²

1. Alunos do Curso de Graduação em Bacharel Resumo


em Fisioterapia do Centro Universitário Fami-
nas Muriaé.
Introdução: Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anun-
2. Graduado em Fisioterapia pela Universidade ciou que a infecção causada pelo coronavírus disease 2019 (Covid-19) se tornou
Estácio de Sá, Especialista em Fisioterapia uma pandemia mundial, levando a uma alta taxa de morbimortalidade. O novo
Respiratória e Terapia Intensiva pela FRAS- coronavírus é uma nova cepa do vírus (2019-nCoV) que foi notificada em huma-
CE/RJ e pela ASSOBRAFIR. Professor no
Centro Universitário Faminas Muriaé e Cen-
nos pela primeira vez na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. Atu-
tro Universitário UniRedentor Itaperuna. almente, a intubação precoce de pacientes com COVID-19 é recomendada prin-
cipalmente naqueles com hipoxemia grave, caracterizada por uma relação PaO2/
FiO2 < 200mmHg, atendendo aos critérios de Berlim de Síndrome do Desconforto
Endereço para correspondência:
Respiratório Agudo (SDRA). Em pacientes que apresentam hipoxemia refratária
E-mail: joaopaulo_vargas@yahoo.com.br ao suporte ventilatório ou que exibem falência pulmonar, a literatura aponta que
se deve considerar a utilização de ventilação em Posição Prona (PP). Esta consis-
te no fornecimento de suporte ventilatório com o paciente deitado em decúbito
ventral, sendo uma terapêutica adicional para o tratamento da hipoxemia grave
Recebido para publicação em 20/08/2022 e acei- causada pela SDRA. Enquanto o debate continua sobre se a SDRA Covid-19 é
to em 20/09/2022, após revisão. clinicamente diferente da SDRA não-COVID, há poucos dados indicando se os
efeitos fisiológicos do posicionamento prono diferem entre as duas condições.
Objetivo: Analisar através da presente revisão os efeitos positivos e negativos
da posição prona na síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) em pa-
cientes intubados. Metodologia: Os dados coletados para a revisão bibliográfica
foram pesquisados na base de dados: PubMed, SciELO e LILACS, no período
de 2019 a 2022. Foram incluídos estudos randomizados, estudos observacionais
(transversal, longitudinal, caso-controle e coorte), revisões de literatura e estudos
de caso. Resultados: Foram encontrados um total 103 artigos, após análise foram
selecionados 10 artigos. Conclusão: Conclui-se que o uso da posição prona pode
ser benéfico para pacientes que desenvolveram ARDS em sua forma moderada e
grave para otimizar a mecânica pulmonar, troca gasosa e oxigenação, incluindo
pacientes infectados por SARS-CoV-2.

Palavras chave: síndrome do desconforto respiratório agudo, posição prona, efeitos.

204
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
Introduction: Recently, the World Health Organization (WHO) announced that the infection caused by coronavirus disease
2019 (COVID-19) has become a worldwide pandemic, leading to a high rate of morbidity and mortality. The novel coronavirus
is a novel strain of the virus (2019-nCoV) that was first reported in humans in Wuhan City, Hubei Province, China. Currently,
early intubation of patients with COVID-19 is recommended mainly in those with severe hypoxemia, characterized by a PaO2/
FiO2 ratio < 200mmHg, meeting the Berlin criteria for Acute Respiratory Distress Syndrome (ARDS). In patients who have
hypoxemia that is refractory to ventilatory support or who have lung failure, the literature indicates that the use of prone posi-
tion ventilation (PPV) should be considered. This consists of providing ventilatory support with the patient lying in the prone
position, being an additional therapy for the treatment of severe hypoxemia caused by ARDS. While debate continues as to
whether Covid-19 ARDS is clinically different from non-Covid ARDS, there is little data indicating whether the physiological
effects of prone positioning differ between the two conditions. Objective: To analyze through the present review the positive
and negative effects of the prone position in acute respiratory distress syndrome (ARDS) in intubated patients. Methodology:
The data collected for the literature review were searched in the database: PubMed, SciELO and LILACS, from 2019 to 2022.
Randomized studies, observational studies (cross-sectional, longitudinal, case-control and cohort), literature reviews and case
studies. Results: A total of 103 articles were found, after analysis, 10 articles were selected. Conclusion: It is concluded that the
use of the prone position can be beneficial for patients who have developed ARDS in its moderate and severe form to optimize
lung mechanics, gas exchange and oxygenation, including patients infected with SARS-CoV-2.

Keywords: acute respiratory syndrome, prone position, effects.

Introdução
Após seu primeiro surto em Wuhan, China, em de- particular, o recrutamento pulmonar não deve ocorrer na po-
zembro de 2019, a doença de coronavírus 2019 (CO- sição prona em pulmões complacentes2.
VID-19) se espalhou rapidamente pelo mundo e continua A fisiologia da posição prona inclui uma redução na dife-
sendo uma ameaça global. Embora a maioria dos pacien- rença das pressões transpulmonares dorsais ventrais levando a
tes com COVID-19 tenha manifestações leves, a condição perfusão homogênea e recrutamento de alvéolos pulmonares
se deteriora em aproximadamente 10 a 20% dos pacien- colapsados. Além disso, a posição prona reduz a compressão
tes, exigindo internação em unidade de terapia intensiva pulmonar dorsal, que geralmente ocorre na posição supina.
e ventilação mecânica invasiva para síndrome do descon- Vários estudos demonstraram que o início precoce da posi-
forto respiratório agudo (SDRA)1. ção prona (12 horas) proporcionam melhora significativa na
A posição prona é atualmente implementada para pa- oxigenação e podem conferir benefícios de sobrevida para pa-
cientes com SDRA moderada a grave com potencial para cientes com SDRA grave (PaO2/ FiO2 < 100 mmHg)3.
reduzir a mortalidade. O efeito benéfico da mesma na oxi- O tratamento da SDRA inclui estratégias que aumentam
genação é conhecido há décadas, mas se a melhora na oxi- a oxigenação e diminuem o risco de barotrauma pulmonar.
genação está diretamente associada ao ganho de sobrevida Isso inclui terapias de proteção pulmonar, como como hi-
dos pacientes é questionável. Recentemente, mostrou-se percapnia permissiva e ajustes na pressão expiratória final
que a melhora na razão da pressão parcial de oxigênio ar- positiva (PEEP)3. Tratar essa pneumonia viral provou ser um
terial (PaO2) para a fração inspirada de oxigênio (FiO2) desafio para os médicos, pois grande parte do processo da
após o posicionamento em pronação pode ser um preditor doença permanece desconhecida. A posição prona tem sido
de sobrevida de pacientes com SDRA1. utilizada em alguns centros internacionalmente como trata-
Se a SDRA devido ao COVID-19 é clinicamente distinta mento adjuvante em pacientes com COVID-19 que foram
da SDRA devido a outras causas (SDRA não COVID) tem sido ventilados mecanicamente. Embora seja uma técnica clínica
uma questão controversa. Tal doença resultante da infecção prontamente empregada que pode melhorar a oxigenação, o
por SARS-CoV-2 tem uma alta taxa de mortalidade (> 40%). uso da posição prona não é uma intervenção benigna. Com o
Foi demonstrado que o posicionamento reduz a mortalidade na reposicionamento frequente, os pacientes podem apresentar
SDRA grave não COVID-19 (“clássica”), e isso pode ser de- risco elevado de deslocamento do tubo endotraqueal ou do
vido ao recrutamento pulmonar otimizado, redução da tensão dreno torácico, arritmias e parada cardíaca. Além disso, ede-
pulmonar e ventilação mais homogênea e, portanto, protetora ma facial e úlceras de pressão são comuns, principalmente
do pulmão na posição prona. No entanto, pacientes com pneu- com o aumento do tempo gasto em decúbito ventral3.
monia por COVID-19 que preenchem os critérios para SDRA Diante do exposto, o presente estudo tem como objeti-
podem apresentar uma forma atípica da síndrome2. vo pontuar os benefícios e possíveis riscos e contraindica-
Em particular, foi sugerido que a maioria dos pacientes ções da posição prona associada à ventilação mecânica na
com SDRA por SARS-CoV-2 tem pulmões relativamente SDRA; apresentar e discutir a técnica, comprovando suas
complacentes com baixa capacidade de recrutamento, e isso repercussões no quadro clínico do paciente e apresentar
poderia implicar que a resposta ao posicionamento prono resultados que possam agregar conhecimento para futuras
pode diferir em comparação com a SDRA “clássica”. Em pesquisas do presente tema.

205
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Metodologia Tabela 1: Análise dos artigos pesquisados.


Este estudo trata-se de uma revisão de literatura, onde
seu período de pesquisa ocorreu entre os meses de março a
junho de 2022. As informações contidas neste artigo foram
coletadas através dos bancos de dados eletrônicos PubMed,
SciELO e LILACS. Para a procura dos artigos que iriam
compor este estudo, foi utilizado a estratégia direta de bus-
cas encontradas nas próprias bases de dados empregando os
descritores em ciências da saúde os (DECs). Foram empre-
gados os descritores em saúde “Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo”, “Posição Prona” e “Efeitos”. Ambos
os descritores foram combinados através dos operadores ló-
gicos booleanos (OR, AND, NOT).
Referente aos critérios de inclusão deste estudo, foram
incluídos artigos publicados entre 2019 e 2022, estudos ran-
domizados, estudos observacionais (transversal, longitudi-
nal, caso-controle e coorte), revisões de literatura e estudos
de caso, terem seus títulos relacionados com os descritores
mencionados acima e terem relação com a Síndrome do Des-
conforto Respiratório Agudo. Referente aos critérios de ex-
clusão, foram excluídos artigos anteriores ao ano de 2019,
artigos que fugiam totalmente do tema proposto, artigos du-
plicados e por fim artigos que se referiam a editoriais, artigos
de opinião e cartas ao editor.

Resultados
Após busca na base de dados: PubMed, SciELO e LI-
LACS, no período de 2019 a 2021. Foram encontrados um
total 103 artigos, após análise foram selecionados 10 artigos,
excluídos os artigos repetidos e artigos não relacionados com
o tema. O fluxograma abaixo ilustra o processo de análise.

Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos artigos.

A amostra inclusa no estudo está representada em 1


tabela de forma sintetizada com os principais pontos anali-
sados: nome dos autores, o ano de publicação, os objetivos
e a conclusão.

Discussão
Uma das características da ARDS é a hipoxemia severa,
o tratamento consiste em estratégias que melhoram a oxi-
genação enquanto diminuem os riscos de lesão induzida
por ventilação mecânica (VILI) e uma dessas estratégias
é a posição prona3. Os benefícios da posição prona sobre
a oxigenação são conhecidos há décadas, mas ainda se Pressão Expiratória Final (PEEP); Ventilação em Posição Prona (VPP); Lesão por pressão (PI).

206
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

questiona se esses ganhos estão relacionados a uma maior em posição prona utilizando estratégia de proteção pulmonar
sobrevida do paciente1. (baixo volume corrente) e PEEP de acordo com a ARDSNet
Em revisão de alguns estudos, foi demonstrado que os PEEP tables. A maioria dos pacientes apresentava ARDS
principais benefícios de se ventilar um paciente em prona moderada de acordo com os critérios de Berlim e passaram
são: A melhora dos parâmetros ventilatórios, melhora da me- ainda por VNI ou cânula nasal de alto fluxo sem sucesso
cânica pulmonar, melhora da saturação e da relação PaO2/ antes da intubação, a baixa complacência estática era comum
FiO27,11. O estudo identificou ainda que as alternâncias de antes da manobra de prona e todos os pacientes foram venti-
decúbito devem ser feitas de 2 em 2 horas cerca de 12 a 16 lados com VC menor que 8ml/Kg e permaneceram pelo me-
horas por dia2,11. nos 16 horas em posição prona. A maioria (90%) dos pacien-
A melhora da oxigenação e relação PaO2/FiO2 que se ob- tes obtiveram melhora da relação PaO2/Fio2 maior que 20% e
serva ao pronar um paciente com ARDS se dá principalmen- a taxa de mortalidade em 28 dias foi de 15%. Entretanto, não
te pela redução da compressão e aumento da perfusão pul- foi observada alteração significante na complacência estática
monar, além disso a redistribuição do líquido extravascular após as manobras de prona2.
também influencia na melhora da relação V/Q e oxigenação, Ainda se tratando da taxa de mortalidade, em uma revi-
contribuindo para a melhora da relação PaO2/FiO2. A posi- são de 238 artigos, a maioria dos estudos não encontrou im-
ção prona diminui a diferença entre a pressão transpulmonar pacto estatisticamente significativo na mortalidade no grupo
ventral e dorsal, deixando a ventilação mais homogênea e de posição prona em comparação com seu grupo controle.
levando a uma diminuição da hiper insuflação alveolar ven- Parece que nenhum fator isolado pode aumentar a eficácia
tral e do colapso alveolar dorsal. Como resultado, acontece do posicionamento prono; no entanto, quando várias vari-
menor distensão alveolar, o que também diminui lesão pul- áveis ótimas são integradas, um benefício de sobrevivência
monar induzida por ventilação (VILI)3,4,8. é mais plausível. A literatura indica que o início precoce da
Uma revisão de literatura indicou que os pacientes com manobra é mais favorável, juntamente com uma estratégia
ARDS pronados apresentam aumento da oxigenação impac- de proteção pulmonar (baixo volume corrente) para preven-
tando diretamente na sobrevida dos pacientes, além disso a ção de VILI, o que pode impactar na redução da mortali-
posição prona também propicia um aumento da fração de dade3,5. Por último, os indivíduos com SDRA grave muitas
ejeção do ventrículo esquerdo enquanto preserva a função vezes experimentaram maior benefício da posição prona em
hepática e função renal em pacientes não obesos3. comparação com os casos moderados5.
Ao selecionar a estratégia ventilatória, deve se usar es- Como toda técnica, a posição prona possui alguns riscos,
tratégia de proteção pulmonar e o menor volume corrente um estudo de caso demonstrou que embora os benefícios su-
tolerado deve ser implementado, cerca de 6ml/Kg pois está perem os riscos, é preciso se atentar a alguns cuidados pois
diretamente relacionado com o índice de sobrevivência des- pacientes pronados podem ter lesões em lugares incomuns
ses pacientes, entretanto a melhora da troca gasosa não está quando comparados a pacientes em decúbito dorsal9. As le-
relacionado a uma maior sobrevida7. Uma das formas de au- sões por pressão comumente acometem pacientes pronados
mentar a proteção ao paciente é realizar a manobra de prona em regiões como: Tórax, face, crista ilíaca, mama e joelhos.
com uso de bloqueador neuromuscular3,7.Isso se dá pelo fato O edema facial e complicações oculares também podem
de o bloqueador neuromuscular administrado dentro de 48 ocorrer4,9, e um dos problemas do edema localizado em face
horas após o diagnóstico de ARDS aumentar a sobrevida do pode ser a dificuldade de fala e comunicação dos pacien-
paciente sem causar perda de massa muscular3. tes em um momento posterior. Devem ser adotadas medidas
Em um estudo realizado no hospital universitário na- como alívio dos pontos de pressão, exame das extremidades
cional de Seul, pacientes acima de 18 anos com diagnóstico para avaliar se há pressão excessiva e a inspeção constante
de COVID-19 grave admitidos entre janeiro e dezembro de da face do paciente a fim de diminuir as lesões por pressão.9
2020, com piora da insuficiência respiratória e hipoxemia Pensando em reduzir as lesões por pressão, um ensaio
foram intubados e quando a relação PaO2/Fio2 era menor que clínico avaliou 238 pacientes entre grupo controle e grupo
200, esses pacientes eram pronados com uso de bloqueador teste (n=134 cada), foi comparado ao final de 7 dias a venti-
neuromuscular. A posição prona foi mantida também 16 lação prona a 45º e ventilação prona a 0º. Todos os pacientes
horas por dia e descontinuada quando era possível reduzir foram intubados e ventilados com um volume corrente de 6
parâmetros e utilizar ventilação assistida. Para comparação, ml/Kg, relação I:E= 1:2-1:3, FR < 20 e PEEP e FiO2 ajusta-
foram analisados todos os pacientes non-COVID ARDS tra- dos de acordo com o protocolo ARDSnet, o grupo controle
tados com prona de janeiro de 2014 até dezembro de 2021. foi submetido à prona em 0º 16 horas por dia e virando a
Os pacientes dos 2 grupos receberam ventilação com baixo cada 2 horas e o grupo teste submetido à ventilação prona
volume corrente, mas os pacientes non-COVID ARDS pre- a 0º por 2 horas, em seguida 45º à direita por 2 horas, 45º
cisaram de um volume minuto maior (177 vs 140 ml/Kg/ esquerda por 2 horas e retornando a 0º com este ciclo duran-
min). Ao comparar os resultados, a melhora da relação PaO2/ do 16 horas. O estudo demonstrou que a ventilação prona a
Fio2 foi maior em pacientes COVID-19 ARDS do que em 45º pode reduzir o índice de lesão por pressão, porém ainda
pacientes non-COVID ARDS, assim como a melhora da faltam evidências robustas uma vez que o estudo se resumiu
complacência estática1. apenas a pacientes chineses4.
Em outro estudo, 20 pacientes maiores de 18 anos com Apesar da posição prona e o baixo volume corrente se-
infecção por SARS-CoV-2 foram ventilados invasivamente rem recomendados em casos de ARDS, ainda é algo subuti-

207
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

lizado, uma revisão buscou avaliar o papel das intervenções Referências


focadas na implementação do baixo volume corrente e po- 1. Park J, Lee HY, Lee J, Lee SM. Effect of prone positioning on oxygenation and
sição prona em pacientes com ARDS. Foi analisado quais static respiratory system compliance in COVID-19 ARDS vs. non-COVID ARDS.
Respir Res. 2021 Aug 6;22(1):220. doi: 10.1186/s12931-021-01819-4. PMID:
intervenções estão sendo realizadas para a implementação 34362368; PMCID: PMC8343350.
2. Clarke J, Geoghegan P, McEvoy N, Boylan M, Ní Choileáin O, Mulligan M, Hogan
dessas condutas e a maioria dos estudos demonstrou que G, Keogh A, McElvaney OJ, McElvaney OF, Bourke J, McNicholas B, Laffey JG,
grande parte das intervenções são focadas na educação dos McElvaney NG, Curley GF. Prone positioning improves oxygenation and lung re-
cruitment in patients with SARS-CoV-2 acute respiratory distress syndrome; a single
profissionais e contribuem positivamente para a implemen- centre cohort study of 20 consecutive patients. BMC Res Notes. 2021 Jan 9;14(1):20.
tação da ventilação com baixo volume corrente e da posição doi: 10.1186/s13104-020-05426-2. PMID: 33422143; PMCID: PMC7796647.
3. Adeola JO, Patel S, Goné EN, Tewfik G. A Quick Review on the Multisystem
prona em pacientes com ARDS6. Effects of Prone Position in Acute Respiratory Distress Syndrome (ARDS)
Including COVID-19. Clin Med Insights Circ Respir Pulm Med. 2021 Jul
1;15:11795484211028526. doi: 10.1177/11795484211028526. PMID: 34276233;
Conclusão PMCID: PMC8255560.
Conclui-se que o uso da posição prona pode ser benéfi- 4. Zhan Z, Cai H, Cai H, Liang X, Lai S, Luo Y. Efeitos da ventilação em posi-
ção prona a 45° no tratamento da síndrome do desconforto respiratório agudo:
co para pacientes que desenvolveram ARDS em sua forma Um protocolo para um estudo randomizado controlado. Medicina (Baltimore). 14
de maio de 2021;100(19):e25897. doi: 10.1097/MD.0000000000025897. PMID:
moderada e grave para otimizar a mecânica pulmonar, tro- 34106648; PMCID: PMC8133161.
ca gasosa e oxigenação, incluindo pacientes infectados por 5. Dardeir A, Marudhai S, Patel M, Ghani MR, Busa V. Fatores que influenciam o
posicionamento prono no tratamento da síndrome do desconforto respiratório agu-
SARS-CoV-2. A melhora da mecânica ventilatória possibi- do e o efeito na taxa de mortalidade. Cureus. 2 de outubro de 2020;12(10):e10767.
lita o retorno a estratégia protetora pulmonar, logo, o desfe- doi: 10.7759/cureus.10767. PMID: 33033667; PMCID: PMC7532878.
6. Giovanni SP, Jennerich AL, Steel TL, Lokhandwala S, Alhazzani W, Weiss
cho de maior sobrevida está relacionada ao uso da ventila- CH, Hough CL. Promovendo a Prática Baseada em Evidências na Síndrome do
ção prona. A literatura afirma que isoladamente a ventilação Desconforto Respiratório Agudo: Uma Revisão Sistemática. Explorar Cuidados
Críticos. 26 de abril de 2021;3(4):e0391. doi: 10.1097/CCE.0000000000000391.
prona não estabelece melhores desfechos, porém, quando PMID: 33912832; PMCID: PMC8078296.
associada a estratégia ventilatórias com baixos volumes, ti- 7. Guérin, C., Albert, R.K., Beitler, J. et ai. Posição prona em pacientes com SDRA:
por que, quando, como e para quem. Medicina Intensiva 46, 2385-2396 (2020).
tulação de PEEP, previnem a sobre distensão pulmonar e a https://doi.org/10.1007/s00134-020-06306-w.
VILI. O tempo máximo de ventilação prono recomendado 8. Petrone, P., Brathwaite, C.E.M. & Joseph, D. K. Ventilação prona como tratamento da
síndrome do desconforto respiratório agudo relacionada ao COVID-19. Eur J Trauma
são de 16 horas por dia, com mudança de posicionamento Emerg Surg 47, 1017-1022 (2021). https://doi.org/10.1007/s00068-020-01542-7.
a cada 2 horas, podendo variar de acordo com a clínica e a 9. Le, Minh Quan MD; Rosales, Richard MD; Shapiro, Lauren T. MD, MPH; Huang,
Laura Y. MD. O lado negativo do posicionamento prono: o caso de um sobre-
responsividade ao tratamento. As bases que estabelecem me- vivente do coronavírus 2019. American Journal of Physical Medicine & Reha-
lhores desfechos em pacientes com SDRA/SARS encontram bilitation: outubro de 2020 - Volume 99 - Edição 10 - p 870-872 doi: 10.1097/
PHM.0000000000001530.
alto nível de evidência científica e grau recomendação. O 10. Roca, O., Pacheco, A. & García-de-Acilu, M. Pacientes com SDRA em prono ou
caminho aponta para a necessidade de treinamento dos pro- não prona em ECMO. Crit Care 25, 315 (2021). https://doi.org/10.1186/s13054-
021-03675-6.
fissionais e equipes que estão no manejo do paciente crítico, 11. Mota, M., Souza, L., Bico, I., Marques, M. Decúbito ventral na síndrome de difi-
estando aptos a definirem as melhores estratégias, garantin- culdade Respiratória no Adulto após infecção por coronavírus. Revista Portuguesa
de Enfermagem de Reabilitação: novembro de 2020 – Volume 3 – Nº Sup 2 doi:
do melhores prognósticos e menor risco de iatrogenias. 10.33194/rper.2020.v3.s2.2.5777.

208
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Revisão

Uso da cânula nasal de alto fluxo em


pacientes diagnosticados com Sars-Cov-2:
revisão de literatura

Use of high-flow nasal cannula in


patients diagnosed with Sars-Cov-2:
literature review

Anna Luiza Pascoal Silva¹, João Paulo Vargas Fernandes²

1. Aluno do Curso de Graduação em Bacharel Resumo


em Fisioterapia do Centro Universitário Fa-
minas Muriaé.
Introdução: A SARS-CoV-2 é uma doença infectocontagiosa, capaz de cau-
2. Graduado em Fisioterapia pela Universidade sar infecção respiratória, teve sua primeira identificação em dezembro de 2019. A
Estácio de Sá, Especialista em Fisioterapia doença pode causar diversos sintomas como febre, fadiga, perda de paladar, entre
Respiratória e Terapia Intensiva pela FRAS- outros sintomas que podem evoluir e desenvolver a síndrome respiratória aguda.
CE/RJ e pela ASSOBRAFIR; Professor no
Centro Universitário Faminas Muriaé e Cen-
O tratamento do COVID-19 ainda é um assunto muito discutido entre os profis-
tro Universitário UniRedentor Itaperuna. sionais da saúde, porém, a cânula nasal de alto fluxo (CNAF) vem ganhando des-
taque, suporte ventilatório este que fornece alto fluxo de oxigênio em ar aquecido
e umidificado, além de apresentar estudos comprovando a eficácia do tratamento
Endereço para correspondência:
e com benefícios como o menor risco de intubação e menor taxa de mortalidade.
E-mail: joaopaulo_vargas@yahoo.com.br Objetivos: Em suma, essa revisão da literatura tem como objetivo analisar o uso
da cânula nasal de alto fluxo em pacientes em insuficiência respiratória diagnos-
ticados com SARS-CoV-2. Metodologia: este estudo trata-se de uma revisão da
literatura, que teve busca em bancos de dados eletrônicos como PubMed, SciELO
Recebido para publicação em 16/08/2022 e acei- e Google Scholar, com artigos de inclusão dos anos 2020 á 2022 e exclusão de
to em 20/09/2022, após revisão. artigos antes do ano de 2019. Resultados: Foram encontrados 10 artigos que se
incluem nos termos de inclusão e nos temas chave para esta revisão. Conclusão:
Conclui-se que a CNAF é uma intervenção positiva no tratamento e prevenção ao
risco de intubação em pacientes diagnosticados com SARS-CoV-2.

Palavras chaves: “Covid-19”, “Fisioterapia”, “CNAF” e “SARS”.

209
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
Introduction: SARS-CoV-2 is an infectious disease, capable of causing respiratory infections, was first identified in
December 2019. The disease can cause several symptoms such as fever, fatigue, loss of taste, among other symptoms that
can evolve and develop acute respiratory syndrome. The treatment of COVID-19 is still a much discussed subject among
health professionals, but the high-flow nasal cannula (HFNC) has gained prominence, ventilatory support that provides a high
flow of oxygen in heated and humidified air, in addition to presenting studies proving the effectiveness of the treatment and
with benefits such as lower risk of intubation and lower mortality rate. Objectives: In summary, this literature review aims to
analyze the use of high-flow nasal cannula in patients diagnosed with SARS-CoV-2. Methodology: this study is a literature
review, which was searched in electronic databases such as PubMed, SciElo and Google Scholar, with inclusion articles from
the years 2020 to 2022 and exclusion of articles before the year 2019. Results: We found 10 articles that are included in the
terms of inclusion and in the key themes for this review. Conclusion: It is concluded that HFNC is a positive intervention in
the treatment and prevention of intubation risk in patients diagnosed with SARS-CoV-2.

Keywords: “Covid-19”, “physiotherapy”, “CNAF” and “Sars”.

Introdução
O coronavírus, é capaz de causar infecções respirató- Desde o primeiro caso documentado, vários estudos
rias leves ou graves em seres humanos, teve sua primeira clínicos ressaltam os tratamentos a serem empregados nos
identificação em 1937 e em dezembro de 2019 foi diagnos- pacientes diagnosticados, visto isso, nos tratamentos podem
ticada uma nova variação do vírus (SARSCoV-2), ocorren- ser utilizado corticosteroides, antivirais, anticoagulantes,
do os primeiros casos de infecção do novo coronavírus, o antibióticos e imunomoduladores6. Além dos tratamentos
Covid-19 (Coronavírus Disease 2019) em Wuhan, China1. medicamentosos o tratamento fisioterapêutico com foco no
Em fevereiro de 2020 ocorreu a confirmação do pri- auxílio respiratório pode ser realizado através das cânulas
meiro caso de COVID-19 no Brasil, após a confirmação a nasais de alto fluxo (CNAF), ventilação mecânica não inva-
OMS validou protocolos a fim de controlar o avanço e dis- siva (VMNI), ventilação mecânica invasiva (VMI) e o uso
seminação da doença, contudo, estes protocolos consistem de desacoplamento em posição de pronação7.
no isolamento domiciliar de pacientes com sintomas leves Conceitua que a cânula nasal de alto fluxo é um meio de
e o início da quarentena2. suporte respiratório que se destaca no tratamento da insufici-
Perante isso, algumas medidas preventivas foram to- ência respiratória hipoxêmica aguda que pode ser desenvol-
madas, como: introdução precoce de medidas de distancia- vida pelo COVID-19, a CNAF oferece maior concentração
mento social, busca ativa de novos casos nas comunidades e e fluxo de oxigênio aquecido e umidificado, com fluxos de
residências, estratégia de identificação de “pontos quentes”, até 60L/min, FiO2 até de 1,0 e temperaturas entre 31 e 37°C8.
estratégia rígida da triagem, com um sistema de rastreamen- Com o manejo da CNAF podem ocorrer a redução do
to e testagem de contatos dos casos positivos, oferta gratuita risco de intubação e mortalidade, além de apresentar bene-
de exames e atendimento médico a todos os cidadãos durante fícios como a diminuição do espaço morto impedindo a rei-
a pandemia, abertura dos hospitais de campanha, entre outras nalação, redução do trabalho respiratório, oferta de pressão
formas de proteção e promoção à saúde3. expiratória final positiva, melhora da depuração muco ciliar,
A infecção trazida pelo vírus SARS-CoV-2 tem por con- além de maior conforto ao paciente9.
sequência o COVID-19, no qual os pacientes infectados apre- Quando comparada a VMI, a cânula nasal de alto fluxo
sentam sintomas em média de 5 a 6 dias após a infecção, como apresenta a vantagem de progredir com menores riscos de
febre, fadiga, perda de olfato e paladar, tosse seca, podendo lesão pulmonar induzida, evitando assim complicações as-
evoluir para o quadro de dispneia e em casos graves podendo sociadas a ventilação10. Nesta perspectiva, o objetivo deste
haver sintomas da síndrome respiratória aguda e a evolução ao estudo é realizar uma revisão bibliográfica do uso cânula na-
óbito, e em pacientes com complicações que podem se asso- sal de alto fluxo (CNAF) em pacientes diagnosticado com
ciar, também chamadas de comorbidades, como hipertensão, SARS-CoV-2.
deficiências nos sistemas respiratório, cardiológico e metabó-
lico, podem ser considerados fatores de risco para o paciente4. Metodologia
Os pacientes que evoluem para quadros graves de in- Este estudo trata-se de uma revisão de literatura, onde
fecção são descritos como síndrome da angústia respiratória o seu período de pesquisa de dados ocorreu entre janeiro e
aguda (SARS), que é caracterizada pela ocorrência de lesão junho de 2022. As informações contidas neste estudo foram
pulmonar aguda, que está associado ao aumento da perme- coletas nos bancos de dados eletrônicos PubMed, SciELO
abilidade vascular pulmonar, ocasionada pela exsudação de e Google Scholar. Para a procura dos artigos a serem anali-
líquido e logo promove a resposta inflamatória local, que sados para compor este estudo, foi utilizada a estratégia di-
contribuiu para a formação da membrana hialina e conse- reta de busca de artigos disponíveis nas bases empregando
quentemente fibrose. Além de estar associada com a redução os seguintes descritores: “COVID-19” ou “Fisioterapia” ou
da complacência pulmonar e a hipoxemia grave5. “CNAF” ou “SARS”.

210
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Como critérios de inclusão deste estudo, foram con- não invasiva não é confirmado a diminuição da taxa de in-
siderados artigos que se referem a estudos randomizados, tubação orotraqueal1.
estudos observacionais, revisões de literatura e estudos de Além de analisar os resultados promissores da aborda-
casos, sendo estes artigos publicados no período entre 2020 gem respiratória através da CNAF, um estudo de revisão con-
e 2022 que tiveram os seus títulos relacionados aos descri- cluiu que para prevenir o insucesso além do risco de progredir
tores mencionados acima, além de estar relacionados com para SDRA grave, dispersão de aerossóis e evitar o risco de
a fisioterapia, o SARS-CoV-2 e a análise do uso da CNAF. intubação é necessário o monitoramento meticuloso da CNAF
Referente aos critérios de exclusão foram excluídos artigos além de ser realizada em salas de pressão negativas8. A dis-
anteriores ao ano de 2019, artigos duplicados, artigos que persão de aerossóis é um fator preocupante pois, além de to-
fugiam totalmente do tema exposto e artigos que referiam a dos os cuidados necessários para evitar a contaminação dos
artigos de opinião, cartas aos editores e editoriais. profissionais da saúde, em um estudo os autores concordam
Para a análise dos artigos após a busca nos bancos de que o uso da CNAF pode ser uma técnica promissora para o
dados, os títulos e resumos de todos os estudos foram anali- tratamento de pacientes diagnosticados com COVID-194.
sados e selecionados, excluindo os não relevantes ao tema. Em um estudo, onde foi analisado o total de 62 pacientes
Após, foi realizada a análise completa dos artigos pré-sele- diagnosticados com COVID-19, no qual 59 evoluíram para
cionados na primeira fase e então foram selecionados no- a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), e
vamente os artigos que faziam parte dos critérios definidos. entre esses, 5 deles foram tratados com o uso da CNAF,
no fim da análise do método de tratamento, foi possível
Resultados concluir que com o uso do modo de oxigenação em questão
Após as pesquisas realizadas nos bancos de dados ele- é possível obter sucesso e em comparação com o método
trônicos: PubMed, SciELO e Google Scholar, foram encon- de ventilação CPAP, o uso da CNAF prossegue sendo o
trados 2.323 artigos, destes, após a analise foram selecio- mais indicado9. Já em outro estudo onde foram avaliados
nados 10 artigos para composição do resultado, excluindo 196 pacientes com COVID-19 que evoluíram para SDRA
os artigos repetidos e que não faziam parte da amostra em e foram tratados com a CNAF, concluiu-se que a técnica
relação ao tema proposto. A amostra inclusa no estudo esta pode evitar a intubação ou retardar o início da VMI sem
representada de forma sintetizada tendo como analise princi- aumentar o índice de mortalidade10.
pal: os nomes dos autores, o ano de publicação do estudo, os Um estudo observacional prospectivo, na qual avaliou
objetivos, quais os tipos de estudos e as conclusões. 337 pacientes que evoluíram com insuficiência respiratória
após o COVID-19 em períodos diferentes, sendo 98 pacien-
Discussão tes no período 1 (março-abril de 2020) e 239 no período 2
Em um estudo de revisão o autor relata que o COVID-19 (janeiro-fevereiro de 2021). Nestes pacientes foram usadas
provoca o aparecimento de sintomas diversos e em alguns as técnicas da VMI e a CNAF, e foi possível concluir que
casos clínicos é possível observar as sequelas variadas em com o uso da CNAF o tempo de internação se tornou menor
pacientes distintos, que podem variar de acordo com cada e obtiveram sucesso em ambas as técnicas6.
paciente. Tendo isso em vista, o tratamento fisioterapêutico,
deve ser iniciado precocemente em casos médios e graves, Conclusão
iniciando durante a internação. Como nos centros de terapia Após uma revisão da literatura, a CNAF parece ser uma
intensiva onde os pacientes podem ser tratados com a cine- intervenção positiva no tratamento e prevenção ao risco de
sioterapia, através de técnicas motoras e respiratórias. Em intubação em pacientes diagnosticados com SARS-CoV-2,
casos mais agravantes como em paciente que evoluem para além disso, foi possível chegar a uma conclusão de que o uso
insuficiência respiratória grave é indicado então, o uso da da intervenção como suporte ventilatório está associada com
oxigenoterapia através do uso da ventilação mecânica2. uma menor incidência de mortalidade, menor incidência do
Uma revisão narrativa aponta que o uso da CNAF a manejo da ventilação mecânica invasiva e menor tempo de
aplicação precoce juntamente com técnicas associadas po- internação hospitalar.
dem promover melhora significante principalmente na troca No entanto, estudos relatam a preocupação o risco de
gasosa, porém a persistência da frequência respiratória alta, dispersão de aerossóis, que no caso se torna necessário
que pode gerar um desconforto respiratório ao paciente está medidas preventivas de contaminação da equipe de saúde.
associada a com o insucesso7. No mesmo raciocínio um es- Conclui-se então que é possível priorizar o uso da CNAF
tudo de revisão integrativa além de concluir que o uso pre- em pacientes diagnosticados com SARS-CoV-2. Entretanto,
coce da técnica pode prevenir o risco de intubação, o uso da mais estudos precisam ser publicados para que haja um con-
CNAF se torna uma intervenção eficaz visto que previne a senso sobre o uso da CNAF em relação aos outros métodos
hospitalização prolongada e reduz o índice de mortalidade3. de suporte para paciente com SARS, para que possamos de-
Conforme um estudo publicado em 2020, o autor pode finir como melhor intervenção, corroborando com os acha-
concluir que a Cânula Nasal de Alto Fluxo é considerada dos desta revisão.
a melhor terapia inicial em pacientes com quadro clínico
grave, por obter resultados significantes, além de reduzir a Referências:
1. Ferraz, P.F.; Silva, L. A Utilização De Suporte Ventilatório Não Invasivo (Svni)
necessidade de intubação endotraqueal5. Entretanto, é notó- Reduz A Taxa De Intubação Em Pacientes Com Covid-19?. revista ciência (in)
rio sim as vantagens da CNAF, porém o tipo da ventilação cena., [s. l.], v. vol. 1, n. 15, p. 1-6, 20 jun. 2022. disponível em: https://estacio.

211
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Tabela 1: Amostra de forma sintetizada dos sestudos encontrados.

212
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

periodicoscientificos.com.br/index.php/cienciaincena bahia/issue/view/137. aces- sultados En La UCI Tras 1 Año De Pandemia? Estudio Multicéntrico, Prospectivo,
so em: 15 ago. 2022. Observacional [Critical patients COVID-19. Has changed the management and
2. Agarwal A, Basmaji J, Muttalib F, Granton D, Chaudhuri D, Chetan D, Hu M, outcomes in the ICU after 1 year of the pandemic? A multicenter, prospective, ob-
Fernando SM, Honarmand K, Bakaa L, Brar S, Rochwerg B, Adhikari NK, La- servational study]. Enferm Infecc Microbiol Clin (Engl Ed). 2021 Jul 19. Spanish.
montagne F, Murthy S, Hui DSC, Gomersall C, Mubareka S, Diaz JV, Burns doi: 10.1016/j.eimc.2021.06.016. Epub ahead of print. PMID: 34305229; PMCID:
KEA, Couban R, Ibrahim Q, Guyatt GH, Vandvik PO. High-Flow Nasal Cannula PMC8286862.
For Acute Hypoxemic Respiratory Failure In Patients With COVID-19: Syste- 7. Crimi, C., Pierucci, P., Renda, T., Pisani, L., Carlucci, A. High-Flow Nasal Cannu-
matic Reviews Of Effectiveness And Its Risks Of Aerosolization, Dispersion, la And COVID-19: A Clinical Review. Respir Care. 2022 Feb;67(2):227-240. doi:
And Infection Transmission. Can J Anaesth. 2020 Sep;67(9):1217-1248. doi: 10.4187/respcare.09056. Epub 2021 Sep 14. PMID: 34521762.
10.1007/s12630-020-01740-2. Epub 2020 Jun 15. PMID: 32542464; PMCID: 8. Kaya, A., Öz, M., Erol, S., Çiftçi, F., Çiledağ, A., Kaya, A. High Flow Nasal Can-
PMC7294988. nula In COVID-19: A Literature Review. Tuberk Toraks. 2020 Jul;68(2):168-174.
3. Coelho, B.N.L.DaS.; Carvalho, A.F.M.De.; Deus Junior, P.C.De.; Andrade, J.deO. English. doi: 10.5578/tt.69807. PMID: 32755117.
Efeitos Da Cânula Nasal De Alto Fluxo Em Pacientes Adultos Com COVID-19.
9. Procopio, G., Cancelliere, A., Trecarichi, E.M., Mazzitelli, M., Arrighi, E., Per-
Revista de Casos e Consultoria, [S. l.], v. 12, n. 1, p. e27341, 2021. Disponível em:
ri, G., Serapide, F., Pelaia, C., Lio, E., Busceti, M.T., Pelle, M.C., Ricchio, M.,
https://periodicos.ufrn.br/casoseconsultoria/article/view/27341. Acesso em: 10 de
Scaglione, V., Davoli, C., Fusco, P., La Gamba, V., Torti, C., Pelaia, G. Oxygen
janeiro de 2022.
4. Díaz, H.G.A., González, E.C.L., Bahamón, L.F.E. Usos de la cánula nasal de alto Therapy Via High Flow Nasal Cannula In Severe Respiratory Failure Caused By
ujo para pacientes con covid-19. ¿cómo funciona, cuáles son sus indicaciones? Sars-Cov-2 Infection: A Real- Life Observational Study. Ther Adv Respir Dis.
¿es segura en los pacientes con insuficiencia respiratoria aguda hipoxémica? Rev. 2020 Jan- Dec; 14:1753466620963016. doi: 10.1177/1753466620963016. PMID:
Med. [Internet]. 4 de junio de 2021 [citado 4 de junio de 2021];28(2):25-4. Dispo- 33070706; PMCID: PMC7580191.
nible en: https://revistas.unimilitar.edu.co/index. php/rmed/article/view/5101 10. Panadero, C., Abad-Fernández, A., Rio-Ramirez, M.T., Acosta Gutierrez, C.M.,
5. Mendes, B.S.; Tessaro, L.M.; Farinaci, V.M.; Moreira, S.V.De A.; Silva, R.A.Da. Calderon-Alcala, M., Lopez-Riolobos, C., Matesanz-Lopez, C., Garcia-Prieto, F.,
COVID-19 & SARS. ULAKES Journal of Medicine, Cânula Nasal De Alto Fluxo Diaz- Garcia, J.M., Raboso-Moreno, B., Vasquez-Gambasica, Z., Andres-Ruzafa,
[S. l.], v. 1, p. 41-49, 24 jul. 2020. P., Garcia- Satue, J.L., Calero-Pardo, S., Sagastizabal, B., Bautista, D., Campos,
6. Maceiras, P., Sanduende, Y., Taboada, M., Casero, M., Leal, S., Pita-Romero, R., A., González, M., Grande, L., Jimenez Fernandez, M., Santiago-Ruiz, J.L., Ca-
Fernández, R., López, E.A., López, J., Pita, E., Tubío, A., Rodríguez, A., Varela, ravaca Perez, P., Alcaraz, A.J. Cânula Nasal De Alto Fluxo Para Síndrome Do
M., Campaña, D., Delgado, C., Lombardía, M., Villar, E., Blanco, P., Martínez, A., Sofrimento Respiratório Agudo (ARDS) Devido Ao COVID-19. Multidiscip Res-
Sarmiento, A., Díaz, P., Ojea, M., Rodrígue,z Á., Mouriz, L., Cid, M., Ramos, L., pir Med. 2020 Set 16;15(1):693. doi: 10.4081/mrm.2020.693. PMID. 32983456;
Seoane-Pillado, T. Pacientes Críticos COVID-19 ¿Ha Variado El Manejo Y Re- PMCID: PMC7512942.

213
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Relato de caso

Função motora grossa de uma criança


com síndrome de Down ao longo de
uma intervenção fisioterapêutica: relato de caso

Gross motor function of a child with Down syndrome


during a physiotherapeutic intervention: a case report

Larissa dos Santos Guarany1

1. Fisioterapeuta graduada pelo Instituto Fe- Resumo


deral de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio de Janeiro (IFRJ). Pós-graduada em UTI
Introdução: Crianças com de Down (SD) possuem déficit no desenvolvi-
Neonatal e Pediátrica, pela InterFISIO e Re- mento neuropsicomotor, apresentando maior dificuldade para alcançar os marcos
sidente do Programa de Residência Integrada motores. Objetivo: O objetivo deste trabalho foi demonstrar a aquisição da função
Multiprofissional em Saúde da Criança e do motora grossa em uma criança com SD a partir de uma intervenção fisioterapêu-
Adolescente, desenvolvido no Instituto de
Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira
tica. Metodologia: Foi utilizado o prontuário da participante que continha a Clas-
(IPPMG) da Universidade Federal do Rio de sificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) realizada
Janeiro (UFRJ). semestralmente, a Escala Gross Motor Function Measure (GMF) anualmente, e ao
final, a Escala Desenvolvimento Motor (EDM). Resultados: Dos 6 marcos moto-
res analisados, alcançou-se o sentar sem apoio de acordo com margem aceitável e
Endereço para correspondência: o andar independente com 1 ano e 8 meses, evidenciando atraso de 2,4 meses com-
E-mail: larissa.guarany@yahoo.com.br parado ao desenvolvimento motor típico. Discussão: Os achados na literatura cor-
roboram com o atraso justificável no alcance dos marcos do desenvolvimento em
crianças com SD. Conclusão: Com o desfecho evidenciou-se que embora crianças
com SD alcancem os marcos motores de forma tardia, quando comparado aos de
Recebido para publicação em 11/09/2022 e acei- crianças típicas, neste relato específico, foi possível alcançá-los em sua maioria
to em 30/09/2022, após revisão. dentro das margens preditas pelos estabelecidos nas janelas de desenvolvimento
ou com um pequeno atraso no marco andar sozinha.

Palavras-chave: síndrome de Down, desenvolvimento motor grosso, intervenção


fisioterapêutica

214
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Abstract
Introduction: Children with Down Syndrome (DS) present deficits in neuropsychomotor development, presenting gre-
ater difficulties in reaching motor milestones. Objective: The objective of this study was to demonstrate the acquisition of
gross motor function in a child with DS from a physical therapy intervention. Methodology: The participant’s medical record
was used, which includes the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) carried out every six
months, the Gross Motor Function Measure (GMF) scale annually, and at the end, the Motor Development Scale (MDS).
Results: Of the 6 motor milestones analyzed, it was possible to sit without support according to the acceptable margin and
to walk independently at 1 year and 8 months, showing a delay of 2.4 months in relation to typical motor development.
Discussion: The findings in the literature corroborate the justifiable delay in reaching developmental milestones in children
with DS. Conclusion: With the children completed and possible to be developed with DS reach the motor milestones later,
when compared to the typical ones, in this specific, it was reachable in most of the pre-dimensioned children pre-defined in
the development windows or with a small delay in the milestone walking alone.

Keywords: Down syndrome, gross motor development, physical therapy intervention.

Introdução
A Síndrome de Down (SD), anteriormente descrita pelo Figura 1: Janelas da aquisição dos seis marcos do desenvol-
Dr. John Langdon Down é atualmente a anormalidade gené- vimento motor grosso.
tica mais comum do mundo¹. Em nascidos vivos, a cromos-
somopatia tem como estimativa aproximadamente 0,1% em
incidência global². No Brasil, a cada 600 e 800 nascimentos
nasce uma criança com SD, desconsiderando gênero, etnia e
classe social³.
Crianças com de SD apresentam mielinização defeituo-
sa dos neurônios descendentes do encéfalo e do tronco en-
cefálico, além da diminuição das conexões de neurônios em
centros nervosos mais altos, como o córtex motor, gânglios
da base, cerebelo e tronco cerebral4.
As alterações que influenciam o desenvolvimento mo-
tor em crianças com SD são tônico-posturais com sistema
neuromuscular característico, reações e controle postural
inadequados, inábeis contrações miogênicas estabilizadoras,
hipermobilidade das articulações, propriocepção alterada4. alone (permanecer em pé sozinha) - 6,9 a 16,9 meses; walking
Com isso, podem apresentar atraso na aquisição dos marcos alone (andar sem assistência) - 8,2 a 17,6 meses8.
motores, em especial devido aos déficits no controle de tron- O objetivo deste trabalho é relatar o processo de desen-
co, manutenção da postura ortostática e marcha, que também volvimento motor nos dois primeiros anos de vida de uma
podem ser associados à hipotonia5. criança que apresenta SD.
Assim, para proporcionar a estimulação precoce e con-
tribuir com o aprendizado motor, a reabilitação deve ser
Metodologia
individual, com maior frequência semanal e ininterrupto.
Trata-se de um relato de caso onde foram associados da-
Através de atividades embasadas no contexto funcional, para
dos da literatura já conhecidos com o resultado da intervenção
melhor fixação dos processos de aprendizagem6.
em longo prazo. Com isso, para consumação do atual trabalho,
O desenvolvimento motor típico foi usado o Prontuário disponibilizado mediante autorização
Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento motor se da família e da coordenação técnica da Clínica Escola do Cur-
manifesta pela aquisição de uma ampla lista de habilidades mo- so de Fisioterapia. As bases de dados consultadas para cons-
toras que viabiliza a criança a permanecer em diferentes postu- trução do aporte teórico foram: Pubmed, pEdro e Cochrane
ras, deslocar-se e ter destreza com objetos e instrumentos7. Library, no período de agosto de 2019 a junho de 2020.
Nesse sentido, o conceito “Janelas da aquisição dos seis Além da associação bibliográfica realizada para compara-
marcos do desenvolvimento motor grosso”, serve como fer- ção dos resultados obtidos em longo prazo com o do desenvol-
ramenta para apresentar a habilidade motora grossa que é vimento motor típico, a pesquisa possui um caráter qualitativo
esperada de acordo com a idade cronológica da criança8. com ênfase na exploração do prontuário da participante.
As aquisições estimadas em meses são: sitting without su- Os resultados foram analisados por meio do modelo uti-
pport (sentar sem apoio) - 3,8 a 9,2 meses; standing with assis- lizado na Clínica Escola da Instituição, fundamentado pela
tance (em pé com assistência) - 4,8 a 11,4 meses; hands&kness Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
crawling (engatinhar) - 5.2 a 13.5 meses; walking with assis- e Saúde (CIF) e da Escala Gross Motor Function Measure
tance (andar com assistência) - 5,9 a 13,7 meses; standing (GMFM) (anexo A, no final do artigo), sendo um instrumen-

215
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

to validado e padronizado para indicar as alterações na função elaboração da Classificação Internacional de Funcionalida-
motora grossa de crianças com Síndrome de Down e Paralisia de, Incapacidade e Saúde (CIF).
Cerebral. Ao final do trabalho, utilizou-se também a Escala de Dando início ao tratamento fisioterapêutico, em abril de
Desenvolvimento Motor (EDM) descrita por Rosa Neto para 2017, a participante do estudo apresentava quatro meses de
mensurar o desenvolvimento da paciente, avaliar o resultado vida. De acordo com a anamnese da primeira estagiária, so-
da intervenção e auxiliar novas metas e planos terapêuticos bre a história da gestação e história do parto, a mãe informou
(anexo B, no final do artigo). que gravidez anterior só foi possível com tratamento gineco-
É necessário destacar que a finalidade do estudo não é a lógico (não descrito). Durante a gestação apresentou quadro
de discutir formas de avaliação, objetivos e planos de trata- de Poliidrâmio (aumento do volume de líquido amniótico).
mentos, visto que houve a contribuição de diferentes estagiá- O parto ocorreu na 39° semana.
rios em períodos diferentes na intervenção, sendo preservada Após avaliação física, na CIF descreveu-se em “Funções
a forma de escrita e escolha da conduta individual. Entre- e Estruturas do Corpo”: orientação à linha média preservada;
tanto, a proposta é de analisar o desenvolvimento motor em deficiência de tônus (hipotonia); deficiência de força (fra-
longo prazo a partir da estimulação precoce e comparar com queza muscular), refluxo gastroesofágico. Em “Atividades”:
o desenvolvimento motor típico baseado na literatura. controle de cabeça ativo; responsiva em prono e supino;
A autorização para a elaboração do relato de caso foi apresenta discreta diminuição de força em membro superior
solicitada à família da participante (anexo A). Através do esquerdo, preferência de uso do lado contralateral. Em “Par-
entendimento da Carta Circular nº 166/2018 do Ministério ticipação”: participativa nas atividades sociais da família. Na
da Saúde, entende-se que o “relato de caso” não é isento de presente data, a CIF disponível na clínica escola ainda não
riscos, podendo ocorrer quebra da confidencialidade, poden- possuía “Fatores ambientais” e “Fatores pessoais”, iniciando
do trazer danos materiais e morais. Desta forma, o sujeito/ novo modelo no período posterior.
participante será identificado como Flor (nome fictício). É A partir disso, os objetivos de tratamento eram estimular
importante ressaltar que mediante esta circular, o relato de o rolar, o sentar com apoio e em longo prazo, o sentar in-
caso, deve ser submetido à Plataforma Brasil, após todas as dependente e melhorar força de membro superior esquerdo.
correções, fato que ocorrerá após as correções da banca exa- Sendo assim, as condutas utilizadas foram: Estímulo para
minadora deste trabalho de Conclusão de Curso (modalidade o controle de cabeça na postura prono em feijão; estímulos
(d) da Carta Circular). para alcance de objetos laterolateral (em prono); treino para
o rolar com estímulos visuais e sonoros (brinquedos); postu-
O local ra de tripé com uso de almofada “em C”; manutenção do tri-
O presente estudo ocorreu na Clínica Escola (CE) de pé; exercícios de estabilização de quadril; sentada no feijão e
uma Instituição Federal, na Cidade do Rio de Janeiro – bola com apoio da terapeuta no quadril; sentada no cavalo e
RJ, durante o período de 08 de maio de 2017 a 27 de fe- tatame com oscilações anteroposterior e laterolateral.
vereiro de 2019. Após dois meses de estimulação, foi relatado que pa-
ciente alcançou o tripé, durante o atendimento, conseguindo
Relato de caso sentar com apoio dos braços em extensão, não foi detalhado
Flor, sexo feminino, nasceu no dia 09 de dezembro de o tempo que ela conseguiu permanecer na postura......
2016, diagnosticada com Síndrome de Down (fenótipo de Em 12 de Junho de 2017, a paciente retornou ao setor
trissomia do cromossomo 21), com histórico de internação para o começo do semestre, sendo avaliada pela nova esta-
hospitalar prolongada, desenvolvimento da Síndrome de giária. Contudo, em outubro do mesmo ano precisou sub-
Aspiração Meconial, Apgar 6/7/8 e perímetro cefálico 35 meter-se a cirurgia de correção de atresia no duodeno, por
cm. Precisou ser reanimada na sala de parto manifestando queixa de refluxo gastroesofágico, ficando internada por 11
cianose e icterícia e evoluiu com desconforto respiratório, dias na UTI. No dia 15 de setembro, após ser liberada pe-
sendo assistida na UTI neonatal com utilização de ventilação los médicos para retornar à Fisioterapia, Flor foi reavaliada,
não-invasiva durante 3 dias e recebeu alta hospitalar 38 dias “sem nenhuma alteração” conforme descrito e o atendimento
após seu nascimento. fisioterapêutico prosseguiu sem mais contratempos.
Ao terceiro mês de vida foi encaminhada à Fisioterapia Na nova avaliação fisioterapêutica, paciente estava em
e Terapia Ocupacional ambulatorial. Sendo assim, admiti- bom estado geral, responsiva aos estímulos e em ausculta
da em 17/04/2017 e data de alta da Fisioterapia 27/02/2019, pulmonar com murmúrio vesicular sem ruídos adventícios
total de 6 estagiários acompanharam durante o período pro- Ao ser aplicada o GMFM pontuou 50,90% na Dimen-
posto a paciente respeitando a Vigência do Termo de Com- são A (deitar e rolar); 30% na Dimensão B (sentar); 0% nas
promisso de Estágio, feriados ou situações atípicas. Dimensões C (engatinhar e ajoelhar), D (em pé) e E (andar,
À vista disso, periodicamente era coletada anamnese correr e pular), isso pelo motivo de ainda não iniciar funções
com a responsável da criança e realizado avaliação do de- motoras. Totalizando 16,18% de todas as dimensões.
senvolvimento neuropsicomotor, além de ter sido utilizado Na elaboração da CIF, a nova estagiária especificou
como instrumento o GMFM para quantificar as mudanças também outras características típicas de crianças com SD
que ocorreram ao longo do tempo. Também foram levados em “Funções e Estruturas do Corpo” como: o atraso do de-
em consideração aspectos do esquema corporal, os fatores senvolvimento motor, frouxidão ligamentar e a hipotonia,
ambientais, fatores pessoais, atividades e participação para refluxo gastroesofágico. Em “Atividades”: controle de ca-

216
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

beça (+); rolar (+); tripé (+); sentar independente (-); quatro SD; hipotonia; frouxidão ligamentar; atraso no desenvolvi-
apoios (-); engatinhar (-). Em “Participação”: permanecia mento motor. “Atividades”: controle de cabeça (+); controle
participativa em atividades que a família propõe. “Fatores de tronco (+); rolar independente (+); tripé (+); quatro apoios
ambientais”: Fisioterapia (+) e acesso a especialidades mé- (+); engatinhar (+). “Participação”: interage aos estímulos e
dicas (+). “Fatores pessoais”: feminino, 10 meses. A mesma comunicação; participa das atividades propostas pela família.
continuava com o controle de tronco ativo, além de possuir “Fatores Ambientais”: ambiente familiar propício em relação
organização corporal, rolava com auxílio e apresentava hipo- a estímulos; tia é principal cuidadora; acompanhada pela Fi-
tonia em membros inferiores. sioterapia, Terapia Ocupacional e Fonoaudiologia. “Fatores
Os objetivos em curto prazo eram de incentivar o rolar Pessoais”: 1 ano e 4 meses; participativa e colaborativa.
para sentar, aumentar amplitude de movimento (ADM) de Os novos objetivos a Curto prazo eram: sentar e levantar
membros superiores (MMSS) e inferiores (MMII), fortalecer com apoio; posição ortostática com apoio. Em Médio pra-
MMSS e MMII. Em médio prazo promover o sentar inde- zo: marcha com apoio, marcha lateral com apoio. Em Longo
pendente, melhorar ADM de MMSS e MMII e o engatinhar prazo, a marcha independente, sentar e levantar sem apoio,
independente. Para isso, o plano de tratamento colocado em alcançar objetos em posição ortostática, estabilidade em di-
prática apresentava as seguintes condutas: exercícios para ferentes superfícies e oscilações.
promover descarga de peso em cavalo suspenso com estímulos O plano terapêutico proposto apresentava condutas
anteroposterior e laterolateral; cavalo suspenso em anteroposte- como: sentada em cavalo suspenso e bola feijão, movi-
rior com suporte em quadril ou ombros; manutenção da postura mentos de anteroposterior e laterolateral; treino de sentar
sentada com apoio de almofada em “C” atrás “caso cansar”; e levantar com estímulos visuais e sonoros e apoio ante-
manutenção do sentar independente; estímulos de rolar para rior; treino de sentar e levanta com apoio de banquinho e
sentar/passar de prono para sentado; “treino de 4 apoios em fei- triângulo; manutenção de posição ortostática com apoio
jão; exercício em tatame para estimular a saída do sentar para anterior (banquinho); marcha lateral com apoio de espaldar
quatro apoios; exercício de prono para 4 apoios em bola suíça” (melhorar base de sustentação); marcha lateral com apoio
Todos os exercícios e treinos para transferência ou ma- do banquinho; em pé com apoio do suporte de PVC; uso do
nutenção de 4 apoios foram tentativas realizadas nos últimos “paraquedas” para estimular a marcha; em posição ortostá-
encontros do ano, porém sem êxito na maioria, de acordo des- tica com apoio no banquinho, leves desestabilizações pro-
critos por motivos de sono, fome ou resistência da criança. vocadas pela terapeuta para reação de equilíbrio; posição
Em observações foi exposta a necessidade de estímulos ortostática em cavalo suspenso segurando a corda e com
visuais e sonoros constantes e a letargia ao ser solicitado os a apoio posterior de terapeuta, movimentos de anteropos-
comandos motores.Ao final do primeiro ano de intervenção, terior e laterolateral; em pé no tatame com apoio de tera-
considerando o calendário acadêmico por se tratar de uma peuta; suporte de lençol para auxílio de marcha; treino de
clínica escola, a participante compareceu a 19 atendimentos, marcha com apoio do suporte de PVC, empurrando suporte
faltou 4 vezes sem justificativa e 2 vezes justificadas. “carrinho de brinquedo”, apoio de mesa interativa; levantar
Em março de 2018, a autora do estudo e mais uma esta- do tatame e caminhar até o espelho com auxílio manual;
giária acompanharam durante um semestre, por duas vezes treino de marcha com apoio de estagiária pelo corredor da
na semana (segunda e sexta) a paciente. O período iniciou clínica escola; passar de sentada para de pé com acréscimo
com 5 faltas justificadas, a princípio as tentativas de contato de poucos passos até o banquinho da frente; posição ortos-
sem êxito com os pais da criança para informar a data que tática com apoio de parede, realizando atividades manuais
iniciaríamos atividade, posteriormente devido a agenda da (jogar bola, segurar brinquedos); posição ortostática apoia-
responsável. No período foram realizadas orientações domi- da na parede e terapeuta com uma certa distância com brin-
ciliares de estimulação motora. quedos para estimulá-la a dar alguns passo em sua direção;
Ao retornar aos atendimentos, na avaliação, constatou-se atividades em trampolim com apoio; subir e descer degraus
bom controle de cabeça e tronco nas posturas de prono, em (banquinhos de diferentes tamanhos) com apoio; treino de
tripé e quatro apoios, rolar independente quando colocada marcha de uma estagiária para outra.
em prono ou supino, o sentar em tripé com apoio das mãos, Destacam-se o segundo dia de atendimento (26/03/2018)
e aptidão de permanecer em quatro apoios e o engatinhar. Na e demais tentativas no início do período, quando a criança era
inspeção física notou-se cicatriz hipertrófica devido à cirur- posicionada no paraquedas apesar de dar alguns passos, era
gia anterior e bandagem elástica no mento como tratamento notado tronco altamente fletido além da hipotonia global. No
da Fonoaudióloga com enfoque no fechamento dos lábios dia 18/06/2018 registrou-se os primeiros passos partindo do
e controle de salivação. E ao contrário do que se relatou no apoio posterior na parede. E por fim, no último atendimento
período anterior, a paciente se mostra bem agitada, porém (29/06/2018) ao ser praticado estímulo de marcha de uma
colaborativa durante os atendimentos. estagiária até outra (distância de aproximadamente 1 metro),
Ao ser aplicada o GMFM pontuou 100% na Dimensão A a paciente era capaz de dar até 3 passos rápidos de forma
(deitar e rolar); 66,6% na Dimensão B (sentar); 57,1% na Di- independente. A responsável informou a criança era incen-
mensão C (engatinhar e ajoelhar), 20,5% D (em pé) e 5,5% tivada a ficar livre dentro de casa e tal cenário (iniciativa de
em E (andar, correr e pular). Totalizando 49,94% de todas deambular) no ambiente domiciliar estava constantemente
as dimensões. Na elaboração da CIF, a Flor apresentou em acontecendo. Esse foi o último encontro do período que se
“Funções e Estruturas do Corpo”: fenótipo característico da estendeu sem intercorrências.

217
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

No dia 13 de agosto de 2018, paciente com 1 ano e 8 de subir e descer degraus iniciando em 4 apoios após em pé;
meses, deu-se início a um novo período de atendimentos que marcha independente segurando objetos de diferentes tama-
aconteceram 2x na semana (segunda e sexta). De acordo com nhos (dupla função); escaladas com uso de triângulo e rolo
a anamnese feita pela nova estagiária, a sua responsável des- (engatinhando e posteriormente em posição ortostática); sen-
creveu na Queixa Principal (QP) “Dificuldade de assimilar tada no rolo com joelhos 90° e contato no solo, deslizamen-
as coisas, não falar direito, não saber brincar direito”. tos em anteroposterior (fortalecimento quadríceps); escalada
Na história da doença atual (HDA) algumas novas con- em espaldar para alcance de objetos mais altos.
siderações foram acrescentadas como o fato de a criança res- Ao final do no letivo de 2018 e consequentemente férias
ponder ao tratamento fisioterapêutico, completando a aquisi- na clínica escola, a participante totalizou 45 atendimentos,
ção dos seis marcos motores grossos. Entretanto, mostra um 4 faltas e 8 faltas justificadas. Destacam-se duas faltas jus-
comportamento agressivo ao morder, bater nas pessoas ou tificadas (nos dias 31/08/18 e 03/09/18) com atestado de 7
arremessar objetos, ausência na habilidade de manuseá-los, dias devido a paciente estar enferma, todavia o motivo não
além de falta de concentração, inquietação (precisando a tera- está descrito na evolução nem mesmo no atestado da médica
peuta interromper algumas atividades durante os atendimen- em anexo no prontuário. Além disso, em dois atendimentos
tos). Demonstra instabilidade ao iniciar o sentar e a marcha (14/09/18 e 29/09/18) a paciente apresentou refluxo gastro-
(principalmente em dupla tarefa) e sua marcha independente esofágico, no mais, semestre finalizou sem intercorrências.
era feita com as mãos para cima e base larga de sustentação. Em 27 de fevereiro de 2019, após retorno do recesso, a
Ao ser aplicada o GMFM pontuou 100% na Dimensão criança foi previamente avaliada e aos 2 anos, 2 meses e 18
A (deitar e rolar); 100% na Dimensão B (sentar); 100% na dias, por alcançar os objetivos terapêuticos (aquisição dos
Dimensão C (engatinhar e ajoelhar), 64,1% em D (em pé) seis marcos do desenvolvimento motor grosso) recebeu alta
e 25% em E (andar, correr e pular). Totalizando 77.8% de do tratamento fisioterapêutico.
todas as dimensões. Em sua última avaliação, paciente demonstrou em pro-
Seguindo a avaliação, o Diagnóstico Fisiofuncional no: elevação de todo o tronco com apoio de MMSS em
apontou: atraso no desenvolvimento neuropsicomotor; défi- extensão de cotovelo; mantém MMII em postura de sapo;
cit de equilíbrio ao sentar para engatinhar traz os MMII em adução/ Em supino: rola
Com base nas informações colhidas, a CIF desenvolvi- de forma independente para os dois lados/ Sentada: criss-
da: “Funções e Estruturas do Corpo”: hipotonia geral/glo- -crosssitting com um bom controle de tronco, senta no banco
bal; atraso no desenvolvimento neuropsicomotor; frouxi- sem apoio das mãos/ 4 apoios: Traz os MMII em abdução/
dão ligamentar; pés planos. “Atividades”: longsitting, senta Em pé: Permanece sem apoio e de forma independente, ca-
sem auxílio, coluna ereta (+) concentração (-); linguagem/ paz de agachar e voltar sem auxílio.
comunicação (-); equilíbrio (-); manipulação de objetos (-); Na avaliação da marcha, apresentava marcha indepen-
alimentação sólida (+); fica e permanece sozinha em pé, dente com os pés voltados para fora, sobe e desce rampas
marcha independente (+). “Participação”: assiste desenhos, sem apoio e escadas com apoio alternando pés; desenvolve
brinca e interage com outras crianças (+); “Fatores Ambien- estratégias e realiza dupla tarefa.
tais”: acompanhamento Fonoaudióloga e Terapia Funcional Para mensuração do alcance dos resultados em longo
Dessa forma, os objetivos em Curto prazo eram: apri- prazo de acordo com faixa etária da paciente, aplicou-se a
morar o equilíbrio estático e dinâmico unipodal e bipodal; escala de desenvolvimento motor.
aprimorar a função de sentar e levantar; manutenção contro- Mediante desfecho, houve apresentação dos resultados
le de tronco; manutenção da marcha independente. Médio para a família que se mostrou ciente, sendo estabelecida a
prazo: estimular a habilidade de observação, concentração; alta do setor de Fisioterapia na clínica escola. Para além, foi
aprimorar a função de subir e descer degraus; manutenção da predisposto explicações e o devido suporte pós-alta, orien-
marcha lateral. Longo prazo: fortalecimento de troco, mem- tação para manutenção do acompanhamento pela terapia
bros superiores e inferiores; introduzir o salto. ocupacional (exercida na mesma instituição acadêmica),
Em rolo ou cavalo suspenso, movimentos em anteropos- especialidades como a pedagogia e psicologia, além de ser
terior, laterolateral e circulares com paciente sentada ou em indicada a iniciação na educação infantil.
pé segurando cordas e o terapeuta dando o suporte; treino de
equilíbrio “unipodal e bipodal”, controle de tronco e treino Resultados e discussão
de sentar e levantar (para manipular objetos que estavam em Sentar sem suporte
banquinho mais altos ou em frente ao espelho) aumentando a Aos 5 meses e 26 dias (dia 05/06/2017) foi relatado a
dificuldade progressivamente com pés em bosu, em platafor- primeira vez que Flor alcançou tripé. No período subsequen-
ma suspensa, com apoio unipodal e leves desestabilizações te manteve-se o mesmo objetivo do sentar independente,
provocadas pela estagiária em diferentes direções; atividade devido a ela só conseguir permanecer na posição por até 5
de concentração (pegar cubos e colocá-los em um recipiente segundos, optando por utilizar o apoio dos braços na frente
com aproximadamente 1,5 metro de distância); estimulação (tripé). No dia 31/07/2017 (com 7 meses de vida) foi alcan-
de motricidade fina, concentração, associação de cores, con- çado o sentar independente, contudo ainda se fazia necessá-
tagem (organizar argolas na pirâmide, treino de empilha- rio o fortalecimento e treino de resistência, visto que apesar
mentos com blocos lógicos); marcha lateral (deslocamento de apresentar controle de tronco, a criança não era capaz de
entre rolos e almofadas que formavam um corredor); treino permanecer na postura por um tempo satisfatório, sendo es-

218
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

timulada até o final do ano. Já no início de 2018, após su- Décimo mês se apoia em objetos para assumir a postura
cessão de faltas (motivo descrito no relato de caso) a nova de pé, embora às vezes, também consiga realizar marcha la-
avaliação ocorreu no dia 23/03/2018, paciente com 1 ano e teral sustentando pelas duas mãos. A criança apresenta pre-
3 meses e ainda tinha preferência do tripé ao ficar sentada, paro para grande variabilidade de mudanças de posturas com
entretanto já tinha sido alcançado novos marcos motores e alternância de posição ereta para marcha16.
esse deixou de ser o objetivo principal. Ao longo do período, Em resumo, a figura 1 traz que no desenvolvimento típi-
a mesma apresentou melhora do controle de tronco, sendo co a habilidade de ficar em pé com assistência acontece entre
capaz de permanecer em pé com MMSS livres para brincar. 4,8 a 11,4 meses, e o andar com assistência entre 5,9 a 13,7
No desenvolvimento motor típico, espera-se que a crian- meses12. Novamente, apesar do tempo das novas aquisições
ça no 5° mês de vida esteja iniciando o controle ativo do estarem bem próximas a de uma criança típica, a Flor neces-
pescoço e tronco superior, começando assim o preparo para sitou mais tempo para aperfeiçoá-las.
sentar. Com 6 meses, mantém-se sentada em tripé, transfe-
Em pé sem assistência
rindo o peso para um dos lados ou para frente utilizando as
Não há como definir a dia exato em que a criança co-
mãos abertas e a coluna forma um arco convexo para trás.
meçou a ser capaz de permanecer na posição ortostática sem
No 7° mês, há melhorado equilíbrio e estabilidade quando
apoio, visto que até o último dia de atendimento de 2018.1
sentada, tronco ainda curvado. Já com 8 meses dispõe de um
apesar de ter dado os primeiros passos, permanecia em pé
bom controle de tronco e mãos livres16.
apenas apoiada na parede ou algum objeto grande (como
Como explícito na figura 1, o sentar sem apoio é estima-
banquinho, apoio de PVC), ou seja, com assistência. Na ava-
do entre o período de 3,8 a 9,2 meses12. À vista disso, mesmo
liação do período sequente a paciente retornou apresentando
que seja possível identificar um atraso no aperfeiçoamento
o marco motor, contudo com déficit no equilíbrio estático e
da aquisição da participante, essa ocorreu dentro do intervalo
dinâmico unipodal e bipodal. Sendo assim, a fim de mensu-
previsto em comparação a de uma criança típica.
ração, pode-se estimar aproximadamente que entre o interva-
Engatinhar lo do último atendimento 29/06/2018 (com 1 ano e 6 meses)
Nos últimos atendimentos de 2017, com aproximadamente e a nova avaliação do dia 13/08/18 (com 1 ano e 8 meses)
9 meses de vida iniciou-se a estimulação para a postura de qua- adquiriu-se a capacidade de ficar em pé sem assistência.
tro apoios, entretanto, a paciente finalizou o ano sem conquistar A figura 1 traz que o tempo admissível de uma
o marco motor de engatinhar. Após período de tratamento fi- criança típica, que é de permanecer em pé sem assis-
sioterapêutico deu-se o intervalo das férias e ao retornar iden- tência entre 6,9 a 16,9 meses12. Nota-se que houve um
tificou-se uma evolução. Na avaliação do dia 23 de março de mínimo atraso do alcance e aprimoramento da habili-
2018 (1 ano e 3 meses), verificou-se que paciente realizava o dade com uma criança com SD, (Flor).
engatinhar. A habilidade era marcada pelo seu engatinhar bai-
Andar sem assistência
xo, braços e pernas trabalhando alternadamente, porém assumia
Com 1 ano, 6 meses e 9 dias aconteceram os primeiros
padrão de rastejar ao optar por uma maior velocidade. O apri-
passos independentes da participante, e até final dos atendi-
moramento sucedeu normalmente ao longo dos atendimentos,
mentos semestral, com, 1 ano, 6 meses, 20 dias ela ainda per-
apesar de esse não ter sido o objetivo principal.
manecia realizando no máximo 3 passos caracterizados por
No desenvolvimento motor típico com 8 meses a criança
um padrão rápido, base alargada de sustentação e instabilidade
em decúbito dorsal dispõe de um bom controle de cabeça,
dinâmica, em seguida, voltava ao chão sentada. Ao retorno
inicia o engatinhar com rotação de tronco ainda deficitária e
das férias, em 2018.2 (1 ano e 8 meses), já apresentava mar-
se vira em torno do próprio eixo (fazendo um círculo). Aos
cha independente, mas com perceptível instabilidade para ini-
10 meses já está apto em passar da postura ortostática para o
ciar, base alargada e as mãos para cima, houve conhecimento
engatinhar com habilidade e agilidade16.
através da avaliação, sobre a melhoria do padrão no início do
Considerando a figura 1, a Flor está de acordo com mar-
período seguinte (com 2 anos e 2 meses), assim como a capa-
gem aceitável para uma criança típica que demonstra o enga-
cidade de subir escadas com apoio alternado dos pés, de subir
tinhar de 5.2 a 13.5 meses12.
e descer rampas sem apoio e ser hábil ao realizar dupla tarefa.
Em pé com assistência e andar com assistência Como simplificado na figura 1, o andar sem assistência de
Na avaliação do dia 23 de março de 2018 (1 ano e 3 uma criança típica incluindo a margem aceitável é de 8,2 a 17,6
meses), constatou-se que paciente permanecia em pé com meses12. Sendo assim, a Flor apresentou atraso de 2,4 meses.
assistência e desenvolvia marcha lateral com apoio do es- Importante ressaltar que, a comparação da evolução do
paldar. Entende-se novamente que as constantes faltas no desenvolvimento motor grosso a partir da utilização dos re-
início do ano impossibilitaram assegurar a idade exata das sultados do GMFM realizados no intervalo de 1 ano (início
novas habilidades motoras, entretanto, iniciaram no limite de 2017.2 e início de 2018.2). Ao ser factível promover um
aceitável ao comparar com desenvolvimento motor típico. tratamento em longo prazo, junto com acompanhamento
Assim como outros marcos motores prévios, apesar deles pode-se pontuar os resultados. A diferença entre a avalia-
terem sido iniciados, a criança ainda manifestava dificul- ção do primeiro ano de atendimento, segundo semestre e o
dade em assumir postura em tempo satisfatório. Desse segundo ano, segundo semestre revelam evolução de 49,1%
modo, foi fundamental uma série de atendimentos para na Dimensão A (deitar e rolar); 70% na Dimensão B (sen-
potencializar habilidades. tar); 100% na Dimensão C (engatinhar e ajoelhar), 64,1%

219
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

na Dimensão D (em pé) e 25% na Dimensão E (andar, Além disso, é esperado que o aprendizado inicial das ha-
correr e pular), totalizando 61,62% de evolução. No final bilidades motoras finas ocorre de maneira difícil e tardia11.
da intervenção e alta da Fisioterapia, como previamente Essas informações corroboram com a participante desta
dito, aplicou-se a Escala Desenvolvimento Motor (EDM) e pesquisa, pois de acordo com a EDM realizada, houve um
como resultado, a idade motora foi classificada como muito deficit considerável na motricidade fina, esquema corporal
inferior para os componentes: motricidade fina, esquema e organização temporal, sendo a idade motora classificada
corporal e organização temporal. como muito inferior.
Todavia, era suposto que à vista disso a condição de saú- Entretanto, no desenvolvimento motor grosso, demons-
de da participante (Síndrome de Down), ocorresse um déficit traram-se resultados significativos a partir do acompanha-
geral (motor e cognitivo), sendo esperado que algumas ca- mento fisioterapêutico. Visto que em um ano de intervenção
pacidades requeressem um período maior para serem alcan- houve mudança consideravelmente positiva, com aumento
çadas. Para a motricidade global, equilíbrio e organização de 61,62% na pontuação total através do GMFM. A aplica-
espacial, pontuou idade motora normal média. ção de um programa específico de desenvolvimento motor
contribuiu consideravelmente para o aumento das principais
Discussão habilidades motoras em crianças com SD11.
A SD é uma condição genética caracterizada por um Verificou-se o alcance dos componentes: sentar sem su-
atraso global do desenvolvimento9. Entretanto, os resultados porte, engatinhar, em pé com assistência, andar com assis-
obtidos no trabalho atual, demonstram as conquistas de alguns tência, em pé sem assistência e andar sem assistência. Toda-
marcos motores dentro da margem considerável aceitável ou via, alguns deles aconteceram no limite da margem aceitável
com mínimo atraso para faixa etária, como: o alcance do sen- e em outros componentes, apesar da aquisição, há um atraso
tar em tripé aos 5 meses e 26 dias e sentar sem apoio aos 7 me- quando comparado ao prazo de crianças sem a síndrome.
ses, sendo a margem aceitável de 3,8 a 9,2 meses; o engatinhar Ademais, crianças possuem a possibilidade de plastici-
retratado ao completar 1 ano e 3 meses, sendo a margem de dade, alicerçado a uma estimulação bem elaborada6.
5.2 a 13.5 meses; Em pé com assistência e marcha com assis- O atendimento fisioterapêutico contribuirá na obtenção
tência no desenvolvimento típico acontecem respectivamente das etapas do desenvolvimento típico, na diminuição dos
entre 4,8 a 11,4 meses, e 5,9 a 13,7 meses e na Flor relatou-se atrasos na motricidade fina e grossa, bem como impulsionar
o alcance com 1 ano e 3 meses. O em pé sem assistência 1 ano as reações posturais, prevenção das deformidades ósseas e
e 6 meses 1 ano e 8 meses (intervalo entre os atendimentos), instabilidade articular12. Outro ponto é a prevenção de movi-
sendo a margem típica entre 6,9 a 16,9 meses. mentos compensatórios e padrões anormais no desenvolvi-
A criança acompanhada apresentou atraso para realizar a mento que possam surgir durante o crescimento12.
marcha, última atividade funcional estudada. A ação foi reve-
lada no 15º mês de idade quando utilizado apoio, os primeiros Conclusão
passos sem assistência no 18º mês e no 20º mês quando de Como previamente apresentado, crianças com Síndrome
forma independente. Na comparação com o desenvolvimento de Down possuem atraso do desenvolvimento motor quan-
típico, o atraso evidenciado foi de 1,3 meses utilizando apoio e do comparado com crianças típicas. Todavia, a Fisioterapia
2,4 meses, quando a criança deambula de forma independente. convencional pode apresentar resultados, diminuindo o tem-
O atraso na aquisição da marcha está relacionado com po do atraso dos marcos motores quando comparado ao de-
o maior tempo na manutenção de cada postura anterior10. senvolvimento motor de uma criança típica.
Justifica-se, então, neste estudo, o atraso para o alcance da Como limitações do estudo podemos citar a ausência de
marcha em 2 meses e meio. importantes registros no prontuário que vão além do desen-
Todavia, é importante salientar que algumas aquisições volvimento motor e a impossibilidade de especificar a data
aconteceram nos meses de férias somadas com as sucessi- exata do alcance de alguns marcos motores, principalmente
vas faltas, não sendo possível, em alguns casos estipular a devido a faltas ou período de férias. Os pontos positivos fo-
idade exata. Com isso, mesmo considerando a imprecisão, ram os instrumentos de avaliação utilizados sistematicamen-
nota-se um atraso mínimo quando comparado ao desenvol- te e periodicamente, além do acompanhamento precoce e em
vimento motor típico. logo prazo que permite melhor acompanhamento e respostas
No final do último ano, apesar de ter sido constatado positivas na evolução.
uma vasta evolução na aquisição dos marcos motores gros- Pode-se concluir que a atuação do fisioterapeuta promo-
sos foi percebido que a participante apresentava dificuldades ve estimulação essencial ao desenvolvimento neuropsico-
em manipular objetos, déficit de concentração e realizar ati- motor trabalhando as limitações, habilidades motoras, cog-
vidades em dupla tarefa. A marcha, até os 2 anos e 2 meses, nitivas, a funcionalidade, motricidade, organização espacial,
era caracterizada como de base alargada, a padronização das autoconfiança, além da integração social, visando um futuro
mãos para cima, além da instabilidade. adolescente, adulto ou idoso que seja capaz de usufruir da
Crianças com SD apresentam padrões atípicos para o sua funcionalidade, autonomia e qualidade de vida.
controle postural, locomoção e ao manusear objetos. A mar- Sendo assim, de acordo com resultados apresentados,
cha com aumento das oscilações, base alargada e flexão de foi confirmado o quanto a intervenção fisioterapêutica foi
membros inferiores (quadril e joelhos), o que contribui para importante na estimulação dessa criança para a aquisição de
o atraso no processo de aprendizado da marcha10. marcos do desenvolvimento.

220
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Referências
1. Beqaj S, Tërshnjaku EET, Qorolli M, Zivkovic V. Contribution of Physical and 7. Rebelo M, Serrano J, Duarte-Mendes P, Paulo R, Marinho DA. Desenvolvimento
Motor Characteristics to Functional Performance in Children and Adolescents with Motor da Criança: relação entre Habilidades Motoras Globais, Habilidades Mo-
Down Syndrome: A Preliminary Study. Medical Science Monitor Basic Research. toras Finas e Idade. Cuadernos de Psicología del Deporte [Internet]. 2020 Apr 1
2018 Oct 16;24:159-67. [cited 2022 Aug 28];20(1):75–85.
2. Ruiz-González L, Lucena-Antón D, Salazar A, Martín-Valero R, Moral-Munoz 8. Onis M. WHO Motor Development Study: Windows of achievement for six gross
JA. Physical therapy in Down syndrome: systematic review and meta-analysis. motor development milestones. Acta Paediatrica. 2007 Jan 2;95:86–95.
Journal of Intellectual Disability Research. 2019 Feb 20;63(8):1041-67. 9. Amancio PMT de G, Carvalho L, Barbieri GH. O Desenvolvimento Motor em
3. Diretrizes de Atenção à Pessoa com Síndrome de Down [Internet]. Available from: https:// Crianças com Síndrome de Down e a Influência da Família para seu Aprendizado.
undefined [Internet]. 2020 [cited 2022 Aug 28];
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_pessoa_sindrome_down.pdf
10. Ramos BB, Müller AB. Marcos motores e sociais de crianças com síndrome de
4. Beqaj S, Jusaj N, Živković V. Attainment of gross motor milestones in children down na estimulação precoce. Revista interdisciplinar ciências médicas [Internet].
with Down syndrome in Kosovo -developmental perspective. Med Glas (Zenica) 2020 Mar 30;4(1):37–43. Available from: http://revista.fcmmg.br/ojs/index.php/
[Internet]. 2017 [cited 2020 Nov 9];14(2):189-98. ricm/article/view/290
5. Corsi C, Cimolin V, Capodaglio P, Condoluci C, Galli M. A biomechanical study 11. Santos MCS, Shimano SGN, Araújo LG de O, Pereira K. Application of Motor
of gait initiation in Down syndrome. BMC Neurology. 2019 Apr 15;19(1). Development Scale: an integrative review. Revista CEFAC [Internet]. 2019;21(4).
6. Gois IK da F, Santos Júnior FFU. Estimulação precoce em crianças com síndrome 12. Borges, Patrick Parizotto et al. Desenvolvimento motor em pacientes com Síndro-
de Down. Fisioterapia Brasil. 2018 Dec 25;19(5):684-92. me de Down: uma revisão da literatura. CEP, v. 95020, p. 472, 2014.

Anexo A

221
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

222
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

223
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

© Memnon Edições Científicas Ltda., Luara Tomé Cyrillo, Maria Cristina dos Santos Galvão. Folha de Pontuação da GMFM.

224
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Anexo B

225
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Agenda

OUTUBRO / 2022 NOVEMBRO / 2022


7º Congresso da ALAPP Associação latino Americana de 4º CONSULFISIO - Congresso Sul-Americano de Fisio-
Piso Pélvico terapia Manual, Postural e Funcional
Data: 05 a 08 de outubro de 2022 Data: 03 a 05 de novembro de 2022
Local: Buenos Aires - Argentina Local: Fortaleza - CE
Informações: info@alapp.org Informações: https://www.consulfisio.com.br/evento/

SIMFISIO – Simpósio Científico de


CONIFIC - 5º Congresso Internacional de Fisioterapia Fisioterapia da AFERJ
em Coluna Vertebral Data: 04 e 05 de novembro de 2022
Data: 07 a 09 de outubro de 2022 Local: Rio de Janeiro - RJ
Local: Recife – PR Informações: aferjfisioterapia@gmail.com
Informações: https://www.conific.com.br/
I CONIN-IBC - I Congresso Internacional do
Desmitificando a Fisioterapia Instituto Benjamin Constant
Traumato-Ortopédica Data: 07 a 10 de novembro de 2022
Data: 26 de outubro de 2022 Local: Rio de Janeiro - RJ
Local: Rio de Janeiro – RJ Informações: secretariaconin2022@ibc.gov.br
Contato: (21) 3478-4458
Informações: https://www.crefito2.gov.br/home/conteudo/4921
Contato: (21) 2169-2169 V Jornada Sonafe RJ - Região Serrana 2022
Data: 12 e 13 de novembro de 2022
CIOST - Congresso Internacional de Local: Petrópolis - RJ
Osteopatia Informações: sympla.com.br
Data: 13 a 15 de outubro de 2022
Local: Florianópolis - SC Colóquio dos Centros Especializados em
Informações: https://ciost2022.com.br/ Reabilitação
Data: 17 de novembro de 2022
O que um responsável técnico de Local: Niterói - RJ
serviço precisa saber Informações: www.coloquiocerniteroi.com
Data: 27 de outubro de 2022
Jornada do Centro Oeste Paulista da
Local: Rio de Janeiro – RJ ASSOBRAFIR
Informações: https://www.crefito2.gov.br/home/conteudo/4902 Data: 19 de novembro de 2022
Contato: (21) 2169-2169 Local: São Paulo - SP
Informações: https://assobrafir.entity.itarget.com.br/offers/503
Crefito-2 Itinerante: Capacitação em
Fisioterapia Vestibular e Equilíbrio Corporal 2º Congresso Internacional de
Data: 28 de outubro de 2022 Fisioterapia Cardiorrespiratória e Metabólica
Local: Niterói – RJ Data: 24 a 27 de novembro de 2022
Informações: https://www.crefito2.gov.br/home/conteudo/4919 Local: Salvador - BA
Contato: (21) 2169-2169 Informações: https://sbf.org.br/cardiorrespiratoria/

XIX Congresso Brasileiro de Informática em Saúde –


II Simpósio de Fisioterapia Hospitalar - CBIS 2022
Hospital São Lucas Copacabana Data: 29/11 a 2/12 de 2022
Data: 28 de outubro de 2022 Local: Campinas - SP
Local: Rio de Janeiro – RJ Informações: http://sbis.org.br/http-sbis-org-br-cbis-2022-2/
Informações: posfisiohospitalar@saolucascopacabana.com.
Contato: (21) 2545-4216
2023
Crefito-2 Itinerante: Suporte Básico de Vida
Data: 29 de outubro de 2022 2º Congresso Internacional de
Local: Rio de Janeiro – RJ Fisioterapia Cardiorrespiratória e Metabólica
Informações: https://www.crefito2.gov.br/home/conteudo/4909 Data: 18 a 21 de maio de 2023
Contato: (21) 2169-2169 Local: Recife - PE
Informações: https://sbf.org.br/terapiamanual/

226
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Normas

A revista eletrônica “Fisioterapia Ser” é uma publicação com periodicidade trimestral e está aberta para a publicação
e divulgação de trabalhos científicos que contribuam para um melhor entendimento de todos os aspectos referentes às
Ciências Fisioterápicas.
A partir de 2017, os artigos publicados na revista “Fisioterapia Ser” passarão a ser publicados na versão eletrônica (In-
ternet) assim como, em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que, para publicação na
revista, os autores já aceitem estas condições.
Os trabalhos enviados para publicação devem ser inéditos, não sendo permitida a sua apresentação simultânea em outro
periódico. A revista “Fisioterapia Ser” reserva-se todos os direitos autorais do trabalho publicado, inclusive de tradução,
permitindo, entretanto, a sua posterior reprodução como transcrição e com devida citação de fonte, sendo que nenhum dos
autores será remunerado.
A revista “Fisioterapia Ser” assume o estilo “Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submites to biome-
dical journal, Am Ver Respir Dis 1986; 134:449-52, preconizado pelo Conselho Internacional de Diretores de Revistas
Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes
no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp:// www.icmje.org, na versão atualizada em
outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será
notificado ao autor.
O Conselho Editorial poderá devolver sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos
textos recebidos, neste último caso não se alterara o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário.

Artigos originais Revisão


Os trabalhos devem apresentar dados originais de des- São trabalhos que versem sobre algumas das áreas rela-
cobertas com relação a aspectos experimentais ou observa- cionadas à Fisioterapia, que tem por objetivo resumir, anali-
cionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados sar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publi-
próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguin- cados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho
tes itens: Introdução, Metodologia, Resultados, Discussão aconselha-se o mesmo dos artigos originais.
e Conclusão.
Atualização ou divulgação
Textos: Recomendamos que não seja superior a 8 pá- São trabalhos que relatam informações geralmente atu-
ginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) ais sobre tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia,
tamanho 12. Tabelas: Considerar no máximo 4 tabelas, no (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm caracte-
formato Excel/Word. rísticas distintas de um artigo de revisão.

Figuras: Considerar no máximo 4 figuras, digitalizadas Relato de caso


(formato .tif ou .gif em boa resolução) ou que possam ser São artigos de dados descritivos de um ou mais casos
editados em Power-Point, Excel, etc. explorando um método ou problemas através de exemplo.
Devem conter um máximo de 5 páginas, 5 ilustrações, 5
Referência bibliográfica: São recomendáveis no má- autores e 15 referências. A formatação deve seguir o estilo
ximo 40 referências bibliográficas, no sistema seqüencial, artigo original. O resumo e, portanto o abstract, não deve
onde as citações são numeradas na ordem de aparecimento ultrapassar 150 palavras.
no texto e listadas nesta mesma ordem ao final do texto.
Os critérios que valorizam a aceitação dos trabalhos Cartas à redação e outras contribuições.
serão o rigor metodológico científico, novidade, interesse Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, co-
profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade mentários a trabalho já editados na revista a critério do Con-
literária do texto. selho Editorial.

227
Fisioterapia Ser • vol. 17 - nº 3 • 2022

Texto: Recomendamos que não seja superior a três pa- to, a análise e interpretação de dados; b) a redação do artigo
ginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo
tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será pu-
negrito, itálico, sobre-escrito, etc. blicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condi-
ções a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas, no for- de recursos ou na coletas de dados não justifica a participa-
mato Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou ção como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa
que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. também não é suficiente.

Bibliografia: São aconselháveis no máximo 20 referên- Resumo e palavras-chave (Abstract, Keywords)


cias bibliográficas. Na segunda página deverá conter um resumo com no
máximo 200 palavras, seguido da versão em inglês. O con-
Resumos teúdo do resumo deve conter, de forma estruturada, introdu-
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e ção, metodologia, resultados e conclusões.
artigos inéditos ou já apresentados em outras revistas, semi- Em seguida os autores deverão indicar quatro pala-
nários acadêmicos, simpósios, congressos e outros eventos, vraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto
ao amcargo do Conselho Editorial, inclusive de trabalhos de deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS
outros idiomas. (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual
da Saúde, que se encontra no endereço da internet seguinte:
Preparação do Original http://decs.bcvs.br. Na medida do possível, é melhor usar
os descritivos existentes.
1. Normas gerais
1.2. Os artigos enviados deverão estar digitados em pro- Agradecimentos
cessador texto (Word), em páginas de formato A4, uma (1) Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio
coluna, formatado da seguinte maneira: fonte English Times financeiro e material, incluindo auxilio governamental e/ou
(Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final
texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Numere do artigo, antes das referências em uma secção especial.
as tabelas em romano, com as legendas a cima da própria
tabela. Numere as figuras em arábico, com a legenda abaixo
Referências
da própria figua. As imagens devem estar em tons de cinza
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Van-
ou coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300
couver definido nos Requisitos Uniformes. As referências
dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizadas e nos for-
bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos
matos .tif ou .gif. As seções dos artigos originais sãos estas:
sobrescrito e relacionadas em ordem na qual aparecem no
resumos, introdução, material e métodos, resultados, discus-
texto, seguindo as seguintes normas.
são, conclusão e bibliografoa. O autor deve ser o responsável
pela tradução do resumo para o inglês e também as palavras- Artigo
-chave (key-words). Número de ordem, sobrenome(s) do autor (es), letras ini-
ciais de seus nomes (sem pontos nem espaços), ponto. Título
Página de apresentação do trabalho, ponto. Título da revista ano de publicação se-
A primeira página do artigo apresentara as seguintes in- guido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
formações: - Título em português, inglês. - Nome completo pontos, paginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmi- ou itálicas. Os títulos das revistas são abreviados de acordo
cos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se respon- com o Index Medicus, na publicação List of Journals Inde-
sabilizara pela correspondência, com o respectivo endereço, xed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bi-
de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao reme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores.
artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al.

Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a responsa- Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
bilidade publica do seu conteúdo. gusmaomachado@yahoo.com.br
O crédito como autor se baseará unicamente nas contri-
buições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimen-

228

Você também pode gostar