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CLAUDE STEINEl, PhD


CLAUDE STEittER, PhD
COH PAOl PillI
COM PAUL P ERRY
,...,
EDUCACÃO
EMOCIONAL
Dia a dia, nosso QE (coeficiente emocional) é posto à prova.
Na relação amorosa, na educação do5 filhos, no trato com colegas e
superiores no local de trabalho, a todo momento precisamos lidar com
nossas próprias emoções e com as dos que nos cercam.
Quando somos emocionalmente educados, conseguimos enfrentar
situações difíceis, evitando discussões, agressões, mágoas desnecessárias.
No entanto, se o mundo das emoções ainda e para nós um universo
assustador que preferimos ignorar, provavelmente não conseguiremos sair
u;;;t.:s e1lluil te, sem seqúeias. Ignorar as emoçoes afeta corpo e mente e
dificilmente conquistaremos uma vida equilibrada e fel 1z ,e insistirmos em
fechar os olhos dos sentimentos.
Partindo dos princípios da Análise Tr;;nsacional. Dr_ Claude Steiner
traça aqui um programa eficiente para o desenvolvimento das aptidões da
1n te Iig ên ci a Emoei o na 1. Apresentando casos reco Ihid os em sua Io ng a
experiência em cursos de Educação Emociona!, ele mostra de que modo
podemos nos tornar emocionalmente inteligentes.

QI, você aceita. QE, você conquista.


Educação Emocional - o guia prático da Inteligência Emocional.

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© I99iby Claude M. Sreiner e Paul Perry

Tírulo original
ACHIEVING EMOTIONAL LITERACY

Direiros em lfngua portuguesa para o Brasil, adquiridos por


EDITORA OBJETIVA LTDA.,
rua Cosme Velho, 103
Rio de Janeiro -RJ -CEP: 22241-090
Tel.: (021) 556-7824- Fax: (021) 556-3322
INTERNET: hrrp://www.objctiva.com

Capa
Pós Imagem Design

Ri:visão
Tereza Fátima da Rocha
Damião Nascimento

Editoração Eleuônica
T cx:tos & Formas Lrda.

1998
10987654'

Para minha mãe


Valery,
cujo coração desejei alcançar
.,

-1
AGRADECIMENTOS
1

ESTE LIVRO I!. A CULMINÂNC[A de vinre anos de trabalho. Litcralmemc


cenccnas de pessoas tiveram uma participação maior ou menor.
Quero agrad<Ur primeiramcmc a Eric Bcmc, por me aceitar como disdpulo e
ensinar-me quase tudo que sei como psicoterapeur:a.
Mais do que cm todos os livros que escrevi antes, este foi o resultado de um
trabalho em equipe bastante Intimo. Agradeço a J ude Hall, minha editora assistente,
que; além de fazer uma edição crfrica destas p4;inas cm suas muitas versóes e revisócs,
acrescentou exemplos, sugcstóes e idéias, comando meu texto mais elaborado e
atuando como minha consciência filosófica e intelectual ao longo deste rr.ibalho.
Sou gra.co a Nat Sobe!, primeiro de urna série de agentes a quem procurei com
este projeto, por vísualizar um livro capaz: de atingir um grande mercado e zelar pelo
processo de criação do começo ao fim. As sugestões e influencia suas e de Laura Nolan
permeiam este livro.
Obrigado a Paul Perry que, para qualificar-se como co-autor desr.c livro, leu
tudo que escrevi, mergulhando na minha vida para depois produzir um primeiro
rascunho, a partir do qual foram efetuadas as inúmeras mudanças desde então. Seu
ralento para extrair os elementos essenciais de meu crabalho conferiram a este livro
sua forma e estrutura atuais, espero que acessíveis.
Um muito obrigado especial a _Fred Jordan, meu editor na G:rove Press há
muitos anos, arualmcnre diretor c:xecurivo da Fromm Internationál Publishing
Corporarion, que se mostrou muito acessível, ao alcance do telefone, proporcionando
conselhos valiosos para a proposta, a negociação e as etapas de confecção do livro.
Considero-me afonunado por rer contado com a sabedoria e a generosidade de um
mestre como esse em minha equipe. Agra.dcço também a Ron Levaco e Charles pan.icular a Becky Jcnkíns, Carmen Km, Hogie Wyckoff, Robert Schwcbcl, Joy
Rappleye que riv:a.liz.aram cm sábios conselhos em aJgumas encruzilhadas estratégicas Marcus, Rick de Golia, Sarah Winter e iqudes que jumarani.se a nós mais mrdc,
ao longo da jornada. Sandy Spiker, Eric Moore, Darca Nicholson, Meliss:a. Farlcy, Mark Wcston, Marion
Obrigado a Deirdre English e Gail Rebuck pdo apoio constante durante os Olih:r, JoAnn Coscdlo, Beth Roy, Randy Dunigan e Barbara Moulton.
muitos anos
.
de meu processo de criação ar~ que esre livro ,encontrasse um agente e Final.mente, agradeço a David Geiscinger, que me mostrou que a qualidade do
editor. Agradeço a Bcch Roy, Mimi Srciner, Rod Coots, Bruce Carrol, Ron Levaco e diálogo mostra o valor de um rdacionamento, a Chris Moore, poresdarecer-me acerca
Sau.l Schultheis-Geny pela leicura e os muitos comentários do manuscrito final, e a dos mais recenccs argumentos filos66cos sobre a natun:la da verdade, e a Marc Devos,
Ramona Ansolabchcre, Charles Rapplcye e Michael Hanigan, pelos valiosos comen- por sugerir que o cteinamento cm educação emocional d~eria ser dividido em rrês
drios cdricos sobre o texto. A leitura de Adriane Rainer, fundamentada por muitas etapas: abrir o coração, coligir informações e assumir a responsabilidade.
horas de trabalho editorial anterior sobre este trabalho, foi especialmente valiosa.
Ann McKay Thoroman, minha editora cm Avon Books, wnbém fez parte da
equipe e mamou seu apreço ao livro desde a primeira hora, perseverando com
interesse infatigável e trabalho :irduo. Fez diversas leituras críticas do livro, mosuan-
do-se inreiramencc disponível sempre que necess:irio e muito carinhosa comigo
quando, ocasionalmente, as coisas ficavam diffceis.
Quero agradecer a rodas as pessoas que, nesses anos, participaram de seminúios,
workshop, e terapia de grupo e individual, bem como a todos os mew amigos e
parenccs, que compartilharam suas experiências de vida comigo, proporcionando-me
informações que vieram a servir de base para as afirmativas feitas neste livro. Estendo
os agradccimencos especialmente ao meu núcl~o fam iüar e scw cônj ugcs; a meus filhos
Nocmi, Erice Oenali, a meu innão Miguel e minha irmã Katye, finalmente,aJude ·I
Hall, minha noiva e editora assisceme que, por muitos meses, mostrou-se acessível
para discussões sobre partes do texto ou o que quer que fosse necessário para
estimular-me a pro.sseguir até a conclusão deste livro.
Quero expressar um muito obrigado cspeciaJ aos inúmeros guerreiros emocio-
nais cm todo o globo, dentre eles Marc Devos, Bccky Jenkíns, Ron Hum, Denton
Roberts, Beth Roy, Hanmut Oberd.ieck, Noemi Stcincr e Elisabcth Cleary.
Retornando à década de 60, quando essas idéias nasceram, agradeço a Nancy
Graham, primeira a usar o termo "educação emocionaJ", do qual imediatamente
apropriei-me, passando a usá-lo desde então. Agradeço a Hogie Wydmff. por ajudar
a dar forma aos conceitos do Pai Porco (hoje Pai Crítico) e da Economia do Carinho.
Hogie foi wnlxm o primeiro a insistir na importância da honestidade para um estilo
de vida cooperativo. Bob Schwebd merece um agradecimento por introduzir a
cooperação em meu pensamento, bem como Mmhall Rosenberg, primeiro a ressalcar
a importância da conjugação de ações e sencimentos.
Quero agradecer a todos os membros do Ccnuo RAP, de Berkeley, que
conrribulram com suas vidas e idéias para as teorias apresentadas neste livro, cm
SUMÁRIO

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1. O Que é Educação Emocional? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

2. Tomando Consciência das Próprias Emoções . . . . . . . . . . . . . . . 37

3. Como Alcançar a Compreensão Emocional . . . . . . . . . . . . . . . . 58

4. Estágio Um: Abrir o Coração . .. .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

5. Estágio Dois: Examinar o Panorama Emocional ....... , . . . . . 86

6. Estágio Três: Assumir a Responsabilidade .................. 112

7. Amor, Paternidade e Trabalho .......................... 144

8. O Guerreiro Emocional ............................... 168

9. Uma Ú1tima Palavra .................................. 182

Notas aos Filósofos ................................... 185

Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3
Referências Bibliográficas .............................. 197
Sobre o Autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199

i
'

INTRODUÇÃO

Tooos NÓS JÁ OUVIMOS rdaros impressionames d~ recuperação: o alcoólatra


incorrigível que se torna abstêmio e não poupa esforços para prestar auxíüo aos
dependemes do álcool, o espancador da própria esposa que se regenera e passa a
colaborar em inscitu içóes de defesa da mulher, ou o capitalista ganancioso que se torna
um filamropo de primeira e defensor da ética nos negócios. Minha história não é
muiro difereme. Eu era um exemplo vivo de insufici&icia emocional e hoje dedico
minha vida a esrudax as emoções e ensinax a educação emocional."
Fui criado na Cidade do México, para ser um macho europeu tradicional
Ignorava não somente minhas próprias emoções, mas as emoções daqueles com quem
me relacionava. Olhando para trás, eu diria que muitas de minhas atitudes eram
insenslveis e magoavam as pessoas que me cercavam. Para piorar as coisas, fui educado
para ser um cientista, cuja formação estimula o discanciamento e o pensamento
racional dissociado das emoções. Não pensem que decidi estudar psicologia porque
escava interessado nos sentimentos das pessoas. Na verdade, a psicologia me atraiu
porque eu acreditava que ela me daria poder sobre as pessoas; eu p0deria ajudar, mas
ao mesmo tempo dominar.
Como pane da formação de psic6logo, tive de aprender a perfurar a espinha
dorsal de cinco rãs e.cm um arame, a fim de destruir a medula espinhal. Enquanto
cumpria tão medonha tarefa, disse a mim mesmo que, para ser um verdadeiro
dencisca, era preciso sufocar minha repugnância.

• Optou-se pelo emprego da exprw;:o edu~ emocional, cm que pese a semdh:in,;:i. com o conceito
de intdigência emocional, como o conjunto de apdd6e..s emocionais que adquirimos ~o longo de uma
formação voltada par.i. a comprccnsã:o dos sentimemos próprios e :alheios. {N.T.)

13
Mais mede, tomei parte cm experiências nas quais racos não eram aJimem::ados, ' da forma de poder pessoal proveniente de relações satisfatórias e de uma atividade
para que pudéssemos conhecer suas reações à inanição severa. Como resultado desse -1 profissional proveitosa.
aprendizado, comei-me duplamente desinteressado, de meus próprios sentimentos e A Educação Emocional~ um mmponenre fundamental do poder pessoal. No
dos scntimenros dos outtos. Eu demonstrava, lamemo ter de dizê-lo, wn desinteresse mundo de hoje, nossas interações cu:icteriz.am-se: com freqüência pelo cinismo e constan-
panicular pelos scnrimenros das mulheres da minha vida. rcmentc tomam-se assumdoras e desgastantt:s. A rcpctlção de experiências de fiacasso
interpessoal i. motivo de desespe:rmça e depressão. Mas quando nossas cdaçõcs cm casa,
Em que consistia esse esmdo de profunda ignorância emocional? Em rettos-
co~ os amigos, nas ruas e no mbaiho são estimulantes e mucuamerue gmi.ficantes, nos
pccco, vejo-me como algumi que tinha paixões, mas não vínculos verdadeiros com
sentimos encorajados e oàmislas. Nosso prazer de viver, nossa. vontade de lutar e nos.,a
as pessoas; alguém que demonstrava pouco respeito, arrependimento ou culpa na
enczgia awnen1:U11; em rerumo, nos sentimos poderosos. Em vez de asegurar acrsso
maneira de tratar os oucros. Jamais desfrutava de alegria constante, e nunca me
ilimitado ao dinheiro e a bens marcriais, a Educação Emocional viabiliza. que qualquer
lembrava de meus sonh~s. Nunca chorava. Embora tivesse um QI respcicável, quando
olho par.a. mim no passado vejo um imbecil emocional, um jovem com baixo QE
diálogo, qualquer contato humano, qualquer associação, seja da bn:vc ou prolongada,
proporcionem as maiom m:ompensas pua todos os envolvidos.
(quoeficiente emocional).
Aq ude que se roma emocionalmente educado entende que as emoções podem
Hoje po~ a6nnar que realmente percorri um longo caminho desde meu
conferir poder às pe;soas. A F.ducação Emocional ~ a chave do poder pessoal, pois as
começo táo sombrio. Fui apresentado a minhas emoções, ou melhor, copci com das
emoções silJ poderosas. Se conseguir fa:d:-las funcionar a seu favor e não contra vod,
em fins da década de 60. Como um explorador que se depara com uma terra exótica,
fui comado de assombro e fuclnio ante o panorama emocional dentro e fora de mim. i das serão sua força.
í Afinal, o que aconta%U na minha vida que me colocou em conmto com minhas
Posteriormente, decidi Í:W:r das emoções cerna de consc:ame investigação no cxcrclcio
1 emoções? A u:m.sfunnação deu-se graças ao cnmnao e subseq üencc .n:lacionamento com
da psicologia.
-! duas pawa.s diferences num intctvalo de sete anos: um psiquiatra maroto e uma
Conànuo tentando compreender as emoções. Embora uma ampla gama de
mmpanheira feminista. Ambos osenconaos furam do àpo cm que duas pessoas superam
senrimenros humanos ainda não esteja clara para mim; considero essa busca louvável, dif=nç:as e de alguma mane:ua csabeleccm uma relação profunda e imediam.
bastante prazerosa e, acima de tudo, estimulante para minhas relações pessoais e 1
profissio na.is.
Como Encontrei meu Mestre

Emoções e Poder Pessoal O primeiro a mudar minha vida foi Eric Bcrne, psiquiatra de 45 anos que
acabara de interromper a funnação de psicanalisra cm r.azão de clivergencias com o
Na sociedade moderna, de modo geral associa-se poder a controle, sob~tudo à analista. que o orieniava. Naqude momento de vinha se dedicando à pesquisa de
capacidade de controlar pessoas dou dinheiro. Quando pensamos numa pessoa algumas altemadvas radicais para a psicanálise, que mais rude viriam a ser conhecidas
poderosa, pc,r exemplo, imaginamos um industrial ou um poUtico astuto, raramente como An:llisc Transacional (A11.
uma mulher. VJSualizamos um ade ta famoso, um jogador de basquecc ou de beisebol, Em 1958, de deu inicio a encontros semanais com wn pequeno grupo de
por exemplo, que recebe um salirio milionário, possui um carro maravilhoso e namora seguidores cm seu apanamenco a algumas quadras de Chinatown, em San Francisco.
supermoddos. Ptovavelmcme consideramos os poderosos emocionalmente frios: o Fui levado a um desses encontros por wn amigo. & posições de Berne
meUAuo Donald Trump, o despreocupado e tranqüilo Michael Jordan. São pessoas interessaram-me muito e tomei parte no debate acalorado. AD final da reunião, Berne
assim, com impressionante controle Rsico e distanciamento emocional, que cos- convidou-me a retomar na semana seguinte, o que fiz. A partir de então, raras foram
tumamos associar ao poder. as veu:s em que fu.lte.i a esses encontros, at~ a morte de Berne, cm 1971. Tomei-me
Na grande maioria das vez.cs, nunca chegamos a alcançar esce tipo de poder e disdpulo de Berne e aprendi tudo o que de tinha a ensinar sobre sua teoria cm
desenvolvimento.
talvez nem mesmo cscejamos in tercssados nele. Mas muitos de nós q uercmos desfrutar

14 15
A Amilise Transacional é uma técnica que investiga as relações humanas dizendo, você cscl lhe fazendo uma carícia. As cadeias podem ser Rsicas ou verbais, e
enfocando O conteúdo exato das imerações pessoais. A AT _é um método simples mas são definidas como a unidade b.isica do reconhecimento humano. Os tipos de cad cias
eficaz para anal~ como os indivfduos interagem e de que maneira podem modificar que as pessoas dão e recebem são especialmente escl~ores. Cerras pessoas
suas vidas corrigindo seus erros de conduta. A Análise Transacional r~presemou uma limitam-se basicamente aos carinhos negativos e suas vidas são muito diferentes
dissidência marcante da psicanálise cradicional, que se concentra naqu 110 que acontece daqueles que conseguem viver dentro de uma dieta de cuícias amorosas positivas.
dmtra das pessoas e não mtredas. Conrudo, a idéia mais radical ~e B~rne era de que Esses cono:i.tos formaram o alicerce te6rico daquela que, para mim, consricuiu a
você ~mente poderia curar as pessoas de seus problemas emoaonais mostrando a próxima er:apa: o escudo analítico traruacional das emoções, ou a Educação Emocional.
das como ter atitruks diferentes com cada um em suas interações sociais, em lugar de
a· ucUAas a entender por que são emocionalmente penwbadas. Compelido a SenN·r
l Em razão de seu interesse pelas cransaçóes sociais, aprendi com Beme a ouvir o
que as pessoas
dizem umas às outras· Aprendi rambém a usar minha inruição para Eu nunca teria estabelecido essa relação entre a Análise Transacional e a
Ia'dar as mioçóes oculta.s de cada um, e entender melhor aquilo que realmente Educação Emocional não fosse por outro rdacionamenro transformador na minha
vida, iniciado em 1969, que me fc:z mergulhar no universo das emoções. Pratica.men re
pensam e sentem. . .
Encrctanro, naquele momento as emoções nao consorufam o nosso mteresse da noite para o d.ia envolvi-me profundamenre com uma feminista - Hogie Wyckoff
pr~cipal. Na verdade, das pareciam profi.mdam~ te '.rrdevantes_ para nosso trab~o, - que, nos sete anos seguintes, ensinou-me a essência da emoção. Ela exigia
que consistia simplesmente em esruda.r as rdaçocs mterpcssoa.is do. ponto de VIsCa basicamente que eu u me mostrasse" emocionalmente; que fosse honesto com rdação
racional. Conrudo, os conceitos de Bcme mostraram-se fundamcnta.1s para o descn- aos meus semimemos, que pedisse o gue queria e, acima de rudo, gue aprendesse a
volvimemo subseqüente do curso de Educação Emocional. Em primeiro lugar, Berne dizer "eu te amo" do fundo do coração.
conceito de "Crian,-,:, N acurai" interna, origem da nossa vida emocional, Nenhuma destas solicitações foi Fácil para mim. Para fular a verdade, foram
apresentou o r-
0 qual será discurido mais adiante. ' _ exrremamente diílceis. Contudo, sob a influência da orientação exigente de Hogie,
Beme descobriu que cada pessoa possui três panes, por ele dcnommadas realizei sensfveis progressos emocionais. Para da o trabalho foi exaustivo, aré por fini
Criança, Pai e Adulto. Ele chamou a e:s.ses crês componentes da personalidade normal não agüentar mais, mas ela deixou um homem transformado.
de esr:ados do ego, e mostrou de que maneira agimos como cada um deles cm diferences Conheci Hogie durante um curso de Psiquiatria Radical dado por mim na
Universidade Livre de Berkdey. Nós dois (e outros que menciono nos agradecimen-
momentos.
Qualquer um dos muitos livros sobre_Análise Transaci~n~ aborda o~ csr:ados tos) acabamos criando o Centro RAP (Rmiica/Approach to Aychiatry-abordagem
do o. A ui basta dizer apenas que a Criança· é a parte cnauva e emoc10nal da radical da psiquiatria) na Clrnic:a Livre de Berkeley.
eg q " d h " . a1
personalidade, 0 Adulco a.ssem~-se a um co~puta or wnan~ rac1on e o ai

compõe-se de um conjunco de aucudes com relaça.o às pessoas e à vida que acuam em Praticando o qtte Aprendi
nós como se fossem ficas pro:viameme grav.adas.
Bemc cnsin~u-nos a observar atencamenre as "interações sociais", sobrerudo qual Iniciamos uma série de grupos de "conraroD, nos guais ensinavam-se aos
dos três estados do ego cstaVa em ação. A Análise TransacionaJ afuma ser possfvd saber participantes os princípios da Análise Transacional aplicados aos relacionamentos.
0 que quer que seja a respeito de alguém observando as interaçócs de scw estados de ego.
Talvez o grupo mais popular, surgido a panir desse trabalho, foi o que levou o nome
Quero de seus conceitos foi por ele chamado de "a.rícias". Embora as carícias de "Centro da Carícia: wn Espaço Liberado para a Livre Expressão do Amor". AI
assam ser positivas ou negativas, uma "cadeia", no sentido cm que utilWlmos a começamos a desenvolver as técnicas para o aprendizado da cd ucaçá.o emocional. Essas
:alavra neste livro, é uma demonsrração de afeto. Quando diz a algu_ém "você está técnicas têm em vista a abcrcura do coração e são descritas no Capfrulo 5.
atraente hoje", você está lhe fazendo uma carícia. Da mesma maneira, quando dá um O grupo conhecido como Centro da Carícia reunia-se três vezes por semana em
ta.pinha aferuoso nas costaS de seu filho, ou ouve com atenção o que seu parceiro está uma grande sala do Centro RAP.

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i
Nesse local, um número entre quatro e seis pessoas podiam dar carícia, receber grave crise na sua a u t ~ . insegurança e, às vezes, ansiedade profunda e até mesmo
caricia, pedir carlàa e até mesmo acariciar a si próprias. O Uderdo grupo acompanhava
1
1 ódio de si próprias.
cada croca. Seu trabalho consistia em vai ficar se as pessoas estavam trocando caricias 1 Alguns csa.nam uma voz que cfu: "Você é cgoLrui. Você não merece carícia",
1
positivas e não afticas, se esms eram desejadas e acdras e ajudar os participantes a ou "Isso é urna estupidez, vod vai faz.er papel de bobo, cala a boca"; outros são
corrigir suas interações sempre que necessário. simplesmente tomados de ansiedade ou constrangimento sempre que vão dar ou pedir
Criamos esses primeiros encontros para ensinar as pessoas a serem amorosas e cadeia. Praticamente todo mundo tem um tirano interno que de tempos cm tempos
cooperativas num mundo implaclvd e compctiôvo. Logo observamos um efeito profere calúnias, sobretudo quando o sujeito esc:á emocionalmente vulnerávd. Pane
colateral dessas reuniões, o qual não havíamos previsto. Com freqüência os partici· do trabalho do <:cntto da Gulcia - e da Educação Emocional - consiste cm
pantes, decorridas algumas horas, lançavam um olhar sobre a sala e declaravam "amar reconhecer e derrotar o Pai Crítico, que não a ~ ataca nossa auto-estima, como
todos os prcscntet. Praticamente todos safam leves, os rostos irradiando afeto. Sem também a auto-estima das pessoas que nos cercam, quando lhes dirigimos as mesmas
sombra de dúvida, cssc:s c:x~cios produziam um efeito sobre as emoções amorosas crlricas que n!)SSO Pai Crítico lança comra nós.
dos participantes e constirufram o alicerce do curso de educação emocional que veio Nossa experiência no Centro da Gulcia proporcionou•me inúmeras descobertas
a desenvolver·sc posteriormente. sobre a natureza da vida emocional. Um fato interessante é que. em hora a maioria das
pessoas gostasse do Centro da Gufcia e saísse scncindo-se bem, havia sempre algumas
que se sentiam ttisrcs, deixadas de lado, apreensivas ou magoadas. Isso me levou a
A Dtscobma do Pai Crítico iniciar cada encontro definindo um acordo para romar a atividade segura. Esse acordo,
chamado de "contrato de cooperação", assegurava que os participames e o lrder não
Durante essas sessões no Centro da Carícia descobriu.se a ação influente do Pai consemiriam nem se envolveriam com jogos de poder para manipularas outras pessoas
Crítico. O Pai Critico (chamado naq uda época de "Pai Porco") é o opres:;or inremo, ou com mentiras. Exigia também que as pessoas jamais fiussem algo que não
aquda voz em nossas mentes que nos impede de ter bons pensamentos sobre nós desejassem sinceramente e promeria que o líder não iria permitir as imcraçóes
mesmos e os demais. provenientes do Pai Crítico.
Por exemplo, quando alguns participantes do Centro da Gulcia tentavam dar Esse conoato reduziu scnsivelmen.re o número de pessoas que saíam d~es cncon-
ou reccbcrcarlcias positivas, ouviam literalmente "vozes na cabeça" que apresentavam uos smcind~se mal Hoje esses acordos, que tranqüilizam e aumentam a confiança,
todo tipo de razóc:s p~ não se dar nem receber caricia. Afumavam, de forma sudl representam um aspecto bastante importante do curso de Educação Emocional São dcs
ou clara, que des eram feios, estúpidos, maus ou loucos por participarem daqude que dão o formato para a atividade di8cil e às vezes assustadora que precisa ser realizada,
exerdcio estranho. se quisermos incorporar plenamente os sentimentos em no=s vidas.
Descobrimos que praticamente todos nós temos um tirano interno impiedoso
dessa espécie, que faz com que alimentemos sentimentos negativos por nós mesmos.
Embora Beme associasse esse adversário interno ao estado de ego parental, o Pai
Experiência Aprimorada
Cacico não pr~sa necessariamente estar rdacionado com nossa mãe ou nosso pai. O Centro RAP acabou por dissolvcr·sc, mas a essência do Ccnuo da Carícia
Na verdade, de é um conjunto de todas as a~es que recebemos na in0.ncia, sempre continua presente nos worluhops de Educação Emocional. Ao longo de 20 anos
que as pessoas tentaram nos conuolar e manipular. O importante a lembrar com conduzindo esses workshops, venho aperfeiçoando as técnicas descobcrw na década
rdação ao Pai Crítico é que de se assemelha a uma fica gravada com os pensamentos de 60 e desenvolvendo muitas oucras.
e opiniões das ouuas pessoas, portanto pode ser desligado e até mesmo completamente Por exemplo, descobri em meu trabalho com pacientes portadores de doença
eliminado de nossas vidas. mental que, de modo geral, a paranóia configura.se a panir de uma panícula de
Embora as pessoas tenham necessidade de caricias positivas para seu desenvol- verdade, assim como a pérola cresce a partir de wna partícula de areia. A abordagem
vimento, ficou claro que. ao tentarem dar ou receber carícia, podem apresentar uma psiquiátrica clássica da paranóia consiste em rcfuc:á-la ponto por ponto e atribuí-la à

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projeção. Assim, por exemplo, se David acha que Maria o odeia, a psiquiatria segundo as pessoas de minhas relações, minha vida emocional só fez aumentar. Passei
tradicional presumiria que na verdade David é quem odeia Maria, e está "projetando" a dar e receber amor e afeto mais livremente, entrei cm contato com meus sentimentos
nda o seu ódio. Na minha opinião, esse enfoque toma as pessoas mais paran6ides, e e as razões de sua exiscência, aprendi a ser honesto com o que sentia e diminuí minha
não menos. Nossa abordagem, por oucro lado, consisce em cncon uar uma confirma- tendência a ser defensivo nwn confronro. Finalmente, aprendi a reconhecer mew
ção para o sencimenco paran6ide de David. Descobrimos que, uma vez. reconhecida erros e a pedir desculpas com sinceridade. O mais importante, contudo, é a com prcen~
essa partícula de verdade na f:anmsia paran6ide, em geral o indivíduo coma-se capaz são de que ainda sou uma qobra cm cutso", ainda estou aperfeiçoando minha própria
de abandonar suas idéias paran6ides. Assim, se Maria admite que na verdade é o educação emocional.
senciment:alismo de David que a aborrece. David pode libertar-se da idéia de que Uma das c:arfcias mais freqüentes que recebo de amigos e alunos é o reconheci-
Maria o odeia. Então de é capaz de perceber que essa sensação é um exagero paranóide mento de que pracico aquilo que ensino e de que: meu comportamc:nto é coerente
dos verdadeiros sentimentos de Maria. Simplesmente David havia capeado o:nas com minhas tc:orias. Isco não significa que alcancei a Educação Emocional perfeita,
emoções negativas de Maria e as intensificara desproporcionalmente. Esse mécodo mas tão-somente que estou fuzcndo progressos e continuo a aprender a cada dia.
swgiu a partir do trabalho de R. D. Laing, psiquiatra escocês que mostrou como, ao Os capítulos quevodw.iler contem um programa de ueinamenco que constitui
dcsqualificmnos ou negarmos as experiências das pessoas ou sua maneira de ver as um método comprovado para desenvolver a inteligência emocional. Tcnho verificado
coisas, nós as tomamos inválidas meneais. sua eficácia c:m mim e nas pessçias que me cercam; portanto, sei que: de poderá
Ronald I..aing descobriu que, uma vez que a inruição é negada, pessoas pei:fcita- funcionar com você.
mcnte saudáveis podem ser levadas a sentir-se enlouquecendo. Procwamos, ponanco,
confirmar suas pcrc:epçõcs, dando-lhes a oporrunidade de sentir que elas eram seru:aw e
não desarrazoadas. Percebemos que nossa. abordagem consiste em uma solução eficaz. pata
as medos pamnóidcs, enquanto a conduta psiquiá.trica pa.drao, na verdade, constitui parte
do problema e pode agravar ainda mais os sintomas da paranóia.
Por exemplo, se o marido de Margarer, Chris, sencia attaçáo pda vizinha,
Margaret poderia captar sinais sutis da paixão secreta do marido. Ao con fronw Chris
rcpeádamentc com suas suspcims e tê-las sempre negadas, os receios incuitivos que
estavam imporcunando Margarcc poderiam chegar à paranóia.
Em vez de acusar alguém de ser irracional e desqualificar sua maneira de ver as
coisas, encontrar a partícula de verdade na funrasia pazanóide tornou-se objetivo do
curso. Ao descobrir essa verdade, por menor que seja, podemos afasrar um relaciona-
mento da paranóia e da negação, e reaproximi-lo da comunicação, do fiedha~k e da
honestidade. Foi assim que criei a frase hoje famosa: "Paranóia é percepção ampliada."

QE em Prática
Essas tknicas e outras do curso de Educação Emocional exigem honestidade,
conâança e vontade de mudar.
Ao longo dos anos, à medida que fui desenvolvendo essas técnicas, cu mesmo
as adorei, e convidei. meus parentes, colegas, colaboradores e amigos íntimos a cambém
empregá-las. Escrevi livros, proferi palesaas e conduzi worluhopt, e, desde o começo,

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1
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Ü QUE É
EDUCAÇÃO EMOCIOW

A EDUCAÇÃO EMOCIONAL COMPÕE-SE de três aptidões: a capacidade de


entender as emoções, ouvir as outras pessoas e empatizar com suas emoções, e explCSsar
as emoções produtivamente.
Ser emocionalme[lte educado é ser capaz de lidar com as emoções de modo a
desenvolver seu poder pessoal e a qualidade da vida que o cerca. A Educação
Emocional amplia os rdacioname.ntos, cria possibilidades de afeto C[ltrc as pessoas,
toma possível o trabalho cooperativo e facilita o sentido de comunidade.
Todos nós remos algo a aprender sobre nossas emoções. Algumas pessoas deixam
a adolescência com um alto nível de educação emocional, mas creio que poucas são
l táo hil.beis no bibico das emoções quanto deveriam. T ado mundo comete erros
i emocionais, por isso rodos podemos nos beneficiar de alguma forma com a Educação
! Emocional.
l Como professor vetcr.mo de Educação Emocional, tenho ajudado centenas de
pessoas a ampliar sua inteligência emocional. Observo o profundo mal·estar que a
1 maioria demonstra à simples menção da palavra "emoções", espccialmeme os homens.
j Eles receiam que segredos profundos e doídos sejam de alguma maneira liberados se
1 revelarem seus sentimentos. Quase sempre as pessoas julgam que a Educação Emo-
!
r
cional R:dundará cm perda de poder na sua vida pessoal e pro6ssional.
1 Há uma certa lógica no medo de que o afrouxamento de nossas amarras
miocionais possa nos m.ur problemas. Mas, a Educação Emocional não é apenas
t
uma liberação das emoções. igualmente importante compreender, administrar e
controlar as emoções.

23
.As emoções são uma pane indispcns:lvel da natureza humana. Sem elas. sedamos • Na Inglaterra, um rico magistrado e sua esposa mentiram sob juramento, afinnando
psicopatas. Reconhecendo e adestrando nossos sentimencos e ouvindo as pessoas de
maneira produtiva, podemos imensilicar, e não diminuir, nosso poder pessoal.
1
i
1
que a mulher esrava dirigindo o Range Rover do casal quando este bateu contra wn
muro. Ambos haviam bebido e cerniam que o magistrado perdesse a carreira de
Seremocionalmenceintdigcncesignificaconhecerascmoçõespr6priascalheias, motorista e o cargo no Tribunal. John Bosomwonh, 50, e sua esposa Anne. 38,
sua intensidade e O que ocasiona essas emoções. Sercmocionalmenceeducadosignifica ficaram presos duranre 15 e 9 meses, respeaivamente, depois que ccstemunhas
dar conca das próprias emoções por familiarizado com elas. No curso de
estar 1 contescaram a história do casa1. E o casamento foi arruinado pdo escigma de
Educação Emocional, aprende-se quando, como e onde expressar os próprios senci- ! mencirosos que receberam da comunidade.
i
mencos, e de que maneira eles inRucnciam outras pessoas. Aprende-se tamb~m a
verdadeira empatia, bem como a assumir a ~ponsabilidade pelas conseqüências dos Os jornais escão cheios de hist6rias assim. rdatos de pessoas bem-sucedidas e,
senàmencos. sob outros aspeccos, inceligentes que cometem erros graves em situações ca.r~gadas
de emoção. Nesses incidentes a ira, o medo ou a vergonha faz com que pessoas sensatas
Com esse ClllSO, você se tornará um gourmtt emocional, atento à texcura, ao
sabor e ao rcssaibo de suas emoções, Aprenderá a pennitlr que suas aptidões racionais renham um comportamento estúpido e as toma impotentes.
atuem lado a lado com as habilidades emocionais. ampliando sua capacidade de A verdade ~ que codos cometemos erros assim, embora talvez não [ão exm:mos.
relacionar-se com o outro. Desse modo você se tomará melhor em codas as suas
1
!
Conquanto raramente nossos equívocos cheguem aos jornais, quase todos nós ccríamos
j de admicir que, em alguma ocasião, fumos induzidos ao desconrrole pela raiva, pdo medo,
inceraçócs: ~mo pai, cônjuge, profissional, co~panheiro de lazer, professor e amaiue.
insegurança ou ciúme, ou prefurimos não asswn.ir a responsabilidade de wna acirude

l
Todos nós dcverlamos ingressar em alguma forma de educação emocional, pois
inadequada. No fim, esses erros cnfu:qu~-nos e as pessoas a quem amamos.
os equívocos emocionais são trcmendamcnre comuns e destrutivos. Se você não
acredita, veja abaixo os exemplos de ignorância emocional que recolhi cm jornais do
ano passado:
Um Jantar Íntimo
• Premiado com o segundo lugar numa competição estadual, o lrder da corrida de Eu,~ claro, afirmo que a Educação Emocional amplia o poder pessoal. Abordarei esse
rcvcza.mento, Kmr Baker, da Escola Thomas Jefferson, na Virgínia, que produz mais cópic:o mais vezes ao longo do livro, mas por agora vou c:xempli6car meu ponco de
NationaJ Merit Scho!al"S' {Estudantes Agraciados com o Mérito Escolar) do que qualquer vista com uma história que começou da maneira mais inocente, como um simples
oum. C!COl.:r. do pai!, jogou O prêmio na lata do lixo. O diretor da escola, Phil Simon, jancar encre velhos amigos, mas rapidamente se transformou num encontro sexual.
pôs-se a discutir com os julzcs, alegando que seu grupo merecia o primeiro lugar. Se tivesse recebido um rracamenro inadequado, o incidente poderia ter acabado como
uma dessas hisc6rias cc:rdveis que a rodo momenco vemos nos jornais.
• Assistindo a um jogo de fuce boi americano insignificante em La Habra, comunidade
Nancy e Jonathan, casados h.t algum tempo, convidar.un Robert para jantar.
de classe m~ia alta na Califórnia, uma mãe irada xingou um dos árbitros e agarrou-o
Nancy e Robc:rr eram velhos amigos desde o secundário, quando tiveram um namoro
por td.s quando ele tentava afastar-se. Três homens junraram-se a da e esmurraram
rápido. Nancy havia preparado uma refeição deliciosa e inclusive decorou a mesa com
a cara do juiz a~ lhe quebrar O queixo, que precisou ser imobilizado por várias semanas.
candelabros para o enconcro. Contudo, sentaram~se para jantar e Roben não parecia
1 estar apreciando o ccnúio nem a comida à sua frente.
• Wa.rrcn Moon, zagueiro craque do Minnesota. Vikings, foi preso por agressão !
conjugal depois de um telefonema desesperado dos filhos do casal, avisando à polícia Revolvendo a comida no prato, Roben contou que esmva se separando da esposa.
que ªpa.pai está batendo na mamãe". 1 Uma noite ela volrou do trabalho e anunciou que escm. desistindo do casamento.
l
J Garanciu a Roben que não havia outro homem, mas não ofereceu qualquer explicação
• O principal consuhor presidencial, Dick Morris, teve de abandonar a campanha do para sua partida. Ele esmva abaôdo e não sabia o que fuer de si mesmo.
presíden1e Bill Clinron após denúncia de que compartilhava segredos de Estado com "Tenho que encarar essa, ela simplesmente não me quer mais", Roben deixou
uma prostiruta, com o objetivo de impressioná-la. escapar, desconsolado, depois de dois cllices de vinho. "E agora, como vou encontrar

24 25
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alguém? Não sou mais boa pima como antigamente, e não tenho a menor vomade
de ficar circulando de bar em bar e respondendo a anúncios de coluna sentimental."
Nancy entendeu pt:rfeicamente o que seu ydho amigo esrav:a. querendo dizer.
li também que Nancy vinha se scnrindo in~ra com a própria aparência e vulnerável
às atenções de Roben.
Embora seu primeiro sentimenro tenha sido a raiva, Jonathan percebeu que, se
Desde o ano anrerior, ela passava cada vez mais tempo diame do espelho, esquadri- fizesse uma cena, ele não iria se sentir melhor nem solucionaria o problema. Na
nhando o rosto em busca de rugas, preocupada se estaria envelhecida demais para sua 1 verdade, provavelmenre ele estaria fuzendo uma tempestade num copo d'água.
idade. Com o envelhecimento, experimentava uma sensação nova dei ruegurança. Ela emagando seu casamento. Em vez de explodir de cólera ou ciúme, de tentou entender
tornou mais um gole de vinho.
J
a ari rude de Nancy do ponto de vista dela.
Jonathan tivera um dia cansativo, por isso pediu licença e foi se deitar. Pouco
ames da meia-noite, Nancy e Robert estavam sozinhos.
i Compartilhou com Nancy sua ira e seu ciúme e, fulando sobre seus senrimenros,
ele foi capaz de superá-los. Abraçou-a com carinho. Por fim, depois de revelar o que
Os dois amigos de longa data conv~ mais um pouco sobre o casarnenro pretendia f.uer, entrou no carro e atravessou a cidade até o apartamento de Robert.
J
desfeito de Robert. Então passaram a falar do começo romântico do rdacionarnenro 1 "Nancy me conrou o que acontece1.t, disse de, tio logo sentou-se no sofá da
de ambos e da longa dwaçao da manvilhosa amizade. Roben comentou que se sentia
1
cada vez. menos atraente; Nancy garantiu que de era muito bonito e não ia ser d.ifkil
t
l
sala de Roben. qEu não gostei mas compreendo. Não estou zangado. Mas suponho
que isso não vai acontecer mais, certo~"
começar outro relacionamento. A beira das lágrimas, Robert apenou a mão de Nancy.
Ela se aproximou e o abraçou.
i "Pelo amor de Deus, claro que não", garanàu Robert. "Eu lamento muito."
"Emão obrigado", disse Jonachan, esrendendo a mão em sinal de amizade_
Rosms e l.ibios roçaram levcmenre, e de repente des estavam se beijando.
"Acho que vai ficar rudo bem."
ªPare", disse Nancy. ªNão podemos fuzer isso.n
Rohen pôs-sede~ balbuciou"é melhor eu ir embora", e caminhou em direção
à pona, constrangido demais para olhá-la. uSimo muito." Arriscando urna última
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l
Episódios como esse costumam ter um final desastroso. Em geral erros emocio-
nais desse ci po se tomam um segredo obscuro, minando codos os relacionamentos em
! qucsrão. As vezes, quando a verdade vem à tona, o resulodo é uma briga (verbal ou
olhadda e:m direção a Nancy, disse boa noite e foi embora.
Rsica) que provoca graves m:igoas emocionais, as quais fi-eqüenremenre resultam em
divórcio.
Perda do Bom Smso É raro encontrar alguém como Jonathan, que pára e pensa antes de decidir que
atitude tomar diante de uma situação emocionalmente tão delicada. Entretanto,
Nancy dormiu mal Na manhã seguinte, depois de permanecer um longo tempo Jonathan conseguiu falar sobre o assunto, organizando seus sentimentos e manten-
deitada refletindo, contou ao marido o ocorrido. Explicou que ambos tinham bebido do-os sob controle, até ser capaz de expressá-los de maneira produtiva, evitando que
demais, estavam deprimidos e Roben parecera tão carente de afeto que sobreviera sua vida mergulhasse no caos. Como resulrado dessa interação emocionalmente
wna perda momentânea do bom senso. educada, Jonachan e Nancy aprofundaram o respeito múruo e conseguiram es-
J onathan teve uma reação incs~rada. A principio mostrou-se bastante abalado, tabdcccr um diálogo sobre a relação dos doi.s que, na verdade, fortaleceu o casamento.
mas então lembrou que certa vez haviam prometido dizer sempre a verdade um ao Falar das próprias emoções não fez com que se sentissem desamparados, mas propor-
outro. Ela poderia não ter contado nada, e provavdmence de nunca teria sabido. cionou cm ambos uma renovação do poder pessoal e da confiança no rdacionamento.
Imaginou-se descobrindo tudo da pior maneira possfvd, quem sabe um ano depois, O que os ajudou a crescer como casal e a manter a amizade com Roben.
quando um Robc:rt culpado confessaria o incidente a Jonathan quando estivessem Sob muitos aspectos, esse epis6dio deAne a própria ess!ncia da Educação
tomando uma cerveja, ou Nancy deixaria escapar a verdade. Emocional. Jonachan percebc:u que estava zangado e com ciúme. E compreendeu as
Jonath.an tinha cerrC"Za do amor de Nancy e percebeu que, de cerra forma, ela o razões desses sentimentos. Buscou cunbém empaciza.r com o afeto de Nancy por
estava protegendo, contando-lhe agora. Observou também como ela estava ao mesmo Roben e seu desejo de consolá-lo. Jonachan pôde entender que Nancy ficara lisonjeada
tempo inconsolável pelo momento dificil que Robert esClva atravessando, e profun- com a atenção apaixonada de Roben. Além disso, compadeceu-se da ttistez.a e do .
damente preocupada com a possibilidade de Jonathan não perdoá-la. Entendeu medo da solidão de Roben. ·Depois de compreender melhor seus sentimentos,

26 27
Jonathan foi c:apazde controlar o ímpeto de explodir. Por fim, percebeu a importância trauma psicológico disparando mecanismos de defesa- muros psicológicos que nos
de manter a promessa de toral honestidade entR de e Nancy. isolam, impedindo-nos de ter pensamentos, lembranças ou pesadelos perturbadores.
Tudo isso exigiu aptidões que algumas pessoas desenvolvem desde o começo da Isso pode parecer bom, mas é um toma-lá-dá-cá que pode ser bastante problemácico.
vida, ma.s que todos nós podemos aprender a qualquer momento. Dedicar algum Os muros psicológicos que construímos para separar-nos da dor cunbán nos ws-
tempo ao aprendizado dessas aptidões é buscar a Educação Emocional. sociam de nossos sentimentos mais profundos. Aquilo que nos impede de sentir dor.
também pode impossibilitar-nos de desfrutar amor ou alegria. Além disso, em algum
momento esses muros desabarão e nós seremos invadidos por emoções caóticas, às
O Cor1Zfiio Esquecido vezes intcns-amente deruuciYaS.
Para nos refazermos de nosso encorpecimento emocional, precisamos recordar
De maneira geral, as ~~ não agiriam como Jonathan no relato acima. Por que?
Por que cantas pessoas mreligentes têm atitudes emocionalmente insensams? Porque repccidamence o episódio traumático e discuci-lo com um ouvinte compreensivo. Mas
perdemos o contato com nossos senrimentos. Por que isto aconrcce? Porque viven- em geral nós não tocamos no assumo, nem nos recuperamos de tais crauma.s. Em vei
ciamos urna sb-ie·de ex:peril!:nci.as dolorosas e nossos sistem~ emocionais se fecharam. disso, simplesmente retornamos a Lim estado de insensibilidade.
Por que sufocamos nossos sentimentos? Vou explicar dando o exemplo de um Isso ocorre por dois motivos. Primeiro, a:awms emocionais ClÍs como agrcmo ou
ferimemo Bsico. Há muitos anos Ch uck, um jovem agricultor de uvas da fazenda ao alcoolismo pacemos são ficqüenremente mantidos em segredo, jamais se falando a ~
lado da minha, no municlpio de Mendocino, colocou distraidamente a mão na respeico abertamente. Segundo, essas mágoas emocionais em geral não constituem
retaguarda de um empacotador de feno em funcionamento. Ele sentiu um choque na sicuações isoladas, como o acidente de Chuck, mas fa:zem pane de wn padrão antigo e
mão direita que percorreu o braço inteiro. destrutivo. V1.a de regra, o uauma emocional subsiste e supwa nos n:cesms a:cônditos da
Chuck puxou a mão para vér o que havia acontecido. Com uma estranha alma, mucilando a vida emocional da iriàma ao longo de toda a ~tência.
ausência de emoção ou swto, perguntou-se onde estariam seus dedos médio e Meus anos de observação convenceram-me de que, demasiadas vezes, nós
indicador. Girando a mão, viu os dois dedos suspensos por filamentos de pele. vivemos em estado de choque emocional semipennanente e perdemos o com:aro com
_ A principio, nada sentiu. Até que a dor abateu-se como um raio e finalmente a maior parte de nossos senrimencos. Esquecemos os incidentes traumáticos, não
ele se deu conta de que os dois dedos haviam sido decepados. Hoje, depois de várias lembran:ios como nos sentimos e na.o conhecemos ninguém capaz de ouvir, com
operações, os dedos de Chuck- reimplantados na mão, apesar de inerres _ são um paciência e compreensão, o suficiente para que esses sentimentos possam aflorar.
lembrete constante do acidente. Ele consegue f.úar tranqüilamente sobre O fato, Conseqüentcmenre, passamos pela vida emocionalmencc anestesiados, os sentimen-
embora as pessoas concraiam-se só de imaginar a cena. tos trancafiados cm nossos corações, constantemente desilucijdos com uma existência
Por que de imediato Chuck nada sentiu? Porque seu sistema nervoso, para que arredia e desconfiada.
a sensação não fosse insuportável, entrou cm choque tempodrio, bloqueando a dor. É claro que nem todos viemos de lares agressivos ou tivemos p:ajs alcoólatras.
A reação de choque é cxcremamente útil. Como Chuck não sentiu a dor, de teve Mas até mesmo os altos e baixos comuns na vida adulta e no cotidiano podem ser
tempo para assimilar o que havia acontecido e pensar r.icionalmenre. bastante dolorosos, resultando em entorpecimento defensivo.
. A irusensibílidade ~ ~ma resposta natural ao trauma. Poupando-nos tempora· Os choques emocionais começam na primeira inBncia e continuam ao longo de
riamente a dor de um ÍCnmenco, ela nos dá a chance de escapar ou comar decisões nossas vidas. Gritam conosco quando estamos envolvidos com um jogo emocionante
vitais, que ?ão se_ri~ possí~eis se ficássemos desnorteados de aflição e pavor. ("Dá para calar a boca. um minuco?'1 ou deixam-nos sozinhos quando carnes com medo.
Contudo, a msens1b1hdade Rs1ca decorrente da dor Rsica é limitada. Ela ~ efêmera, Nossos pais disa.item ou simplesmente ignoram um ao outro. Ou eras crianças nos batem
proporcionando apenas um ou dois minutos de anestesia antes que a dor tome conta. ou zombam de nós, às vezes até mesmo aquelas que consideramos amigas.
A in~nsibilidade que nos invade como resultado da dor emocional i diferente. Uma conhecida minha recorda como, aos 12 anos, suas duas melhores amigas
Traumas psicológicos afligem alguns de n6s com canta freqüencia que nossas mentes lhe entregaram uma cana, na qual ridicularizavam sua aparência e sua maneira de
os repelem congelando-nos emocionalmente, entorpecendo-nos. Sobrevivemos ao dançar, diziam que ela era uma convencida idioca e anunciavam o fim da amizade.

28 29
Acé hoje ela é tornada por cristeza e mágoa profundas quando pensa nessa terrlvd ticucm experiências preciosas e fundamentais. Na verdade, estamos sempre buscando
ocpcriência. maneiras indiretas, artificiais ou dissimuladas de experimentar emoções. Tornamos
Outra amiga relata como um menino mais velho todos os dias zombava de seu drogas, nos apaixonamos por uma pessoa inatingfvd, ou vamos ver filmes românticos,
nariz enquanto ela esperava na fila do almoço no ginúio. Esse tormento emocional de terror ou de ação; assistimos a com6:lias de siruação, melodramas e novelas na
durou semanas. cdi:visão, em busca de um estlmulo emocional. Essas atividades nos proporcionam
A inBncia é cheia de tensões e até mamo de agressões. Com freqüência, o afeto um gostinho daquilo que desejamos ardentemente, sem os riscos da parci.cipação real.
de que necessitamos nos é negado ou é ucil.izado para manipular nosso comportamen- Todos remos sede de estímulo emocional, tanto assim que fucmos praticamente
to, sendo dado apenas se formos "bonzinhos," e recusado se formos "maus." rude que é possível para obtê-lo. Jogamos adinhci.ro, salr:amos de pontes amarrados pelos
Em meio a tudo isso, somos silenciosamente cxonados - em casa e na escola romozdos ou de pára-quedas. Um exemplo parricu1armcnte chocante e drarnáàco desse
- a oculw o que s~tlmos e desejamos. Ensinam-nos que "desembuchar" nossos anseio por aperiênàas emocionais ~ apr=ncado no livro de James Gilligari, Violnu~.
scnrim.enms seria wna grosseria ou uma indiscrição. Gilligan trabalhou por muitos anos com presidi:irios condenados por assassinatos auéis.
Em geral nossos pais preocupam-se apenas com os problemas mais óbvios - O auror descobriu que esses homens vivem invariavdmcntc em escada de profunda
se algum val=tio está nos ~cguindo ou se temos dificuldade cm fu.cr amigos. insensibilidade emocional. Eles contam que são praticamente desprovidos de sensações,
Diticilmenre interessam-se por nossas aflições mais sutis - rejeições, perplexidades, emocionais ou Asicas, a ponto de se considerarem monos vivos.
desilusões amorosas ou s=cimemos de inadequação. Cerras pais nunca perguntam Explicam que cometem violências indescriáveis na esperança de que rais
aos filhos como se sentem e raramente falam das próprias emoções. excessos rompam com a insensibilidade e os façam sentir algo. Aquele que comece um
~inato brutal pode senàr, por wn amo espaço de cempo, que despenou de sua
anene:sia semelhante à mone. Mas, invariavclrn.ence, as emoções revolvidas pelo crime
Sede de Emoções assentam e o entorpecimento retoma.
À medida que vamos nos adaptando a essas circunstâncias, somos forçados a conviver A insensibilidade desses homens não surgiu do nada. A pesquisa de Gilligan
com nossas paixões frustradas e com mágoas sufocadas dencro de nós, smi sabermos mostra que, em praticamenre todos os casos, esses homens foram des mesmos vlcimas
o que fuzc:r ou com quem falar a respeito. Não podemos rcvda.r nossos sentimentos, de agressão, bombardeados por repetidos craumas emocionais e flsieos. Eis um
não os emendemos e estamos ainda menos familiarizados com os sentimentos das exemplo concreto de como o era uma conduz à insensibilidade e à patologia emocional
ourras pessoas. Quando estamos em dúvida, ocultamos nossas emoções, mentimos grave. Se não for debelada, essa patologia poderá ser transmitida de geração em
sobre elas ou fingimos não senà-las. Crescemos acostumados a agir si=m dar atenção geração. Obviamence, há uma necessidade premence de romper com o ciclo da
ao nosso universo emocional, ou até mesmo agindo contta de. violência e do encorpecimcnto emocional. Uma maneira de fazer isso consisre no
Inclusive ~ nossa vida afetiva. onde supostamente as- emoções podem r~ar apremfuado da consciência emocional, desenvolvendo a empatia - a capacidade de
soberanas, muitos de nós somos magoados com tamanha frequência que nos mante-- sentir o que os outros estão sentindo. Ao decidirmos desenvolver nossa sensibilidade
mos sutilmente distanciados, mesmo quando nas garras do amor apaixonado. Dores para as emoções alheias, estamos fuendo uma escolha moral definiciva, que nos dará
afetivas há muito esquecidas impedem nossa completa abertura e entrega ao outro, a capacidade de ser compassivos e generosos.
sem mance.rmos uma cena distância defensiva e solitária. Raramente nós nos permi-
timos a mais bela das expcriancias emocionais - a vulnerabilidade de estar profun-
damente apaixonado por alguém, sem reservas, Empatas e Psicopatas
Quase todos nós sentimos que a vida pode ~r muito mais intensa. Ansiamos
pelo aconchego do sentimento profundo, pela conexão com o outro, pdo emcn- Parece haver dois tipos de pessoas destinadas a ter poder na sociedade: os psicopacas,
dimcmo mútuo. Mas como chegar W Sabemos, do fundo de nossos corações, que que nada sentem, ou os empacas, que estio cm profunda simonia com os sentimentos
ser uma pessoa emotiva, ter paixões fones, chorar, vibrar, acé mesmo sofrer, cons- daqudes que os cercam.

30 31
Nao leve esses dois ripos demasiado a sério; são carica.ruras, ex eremamente raros uma qualidade inata, chamada imdigência. Ourros asseveram que o QI determina
na realidade. Vou usá-los apenas para cx:pDr meu pomo de vista.. uma qualidade menos definida, própria de indivíduos que se tomam bem-sucedidos
Os psicopataS podem agir com facilidade sem as coerções que limitam outros na escola e, eventualmente, na vida.. Seja como for, é possível calcular, de maneira
mortais. Têm a capacidade de menrir, funar, o::rnrquir, mutilar e matar sem culpa. válida e confiávd, o QI de uma pessoa, e está comprovado que é bom ter wn QI alro.
Quando exercem influência sobre outras pessoas, podem tomar-se uemcndamente O QE, por o urro lado, não pode ser medido. Tentar avaliar o QE de alguém é
poderosos. Vejam Calígula, o imperador romano. Ou Adolf Hitler. Estes exemplos o mesmo que adivinhar quantos grãos tem a quarta parte de um pote: você consegue
são óbvios, mas outros podem ser encontrados cm coda pane: na política, nos ter uma idéia aproximada, mas não pode calcular com precisão. E rampauco pode
negócios, nas gangues e até mesmo em determinadas famílias. avaliar a si próprio arravés de uma conr:agem, pois as emoções são muito mais
Os empatu, par ouuo lado, ganham ascendência graças a suas aptidões emo· impalpáveis do que os grãos.
cionais- Aqudes ql!e nascem empatas têm um dom inalo para a empatia, o qual é No entanto, podemos falar de maneira significativa. sobre o QE, conranro que
estimulado pela familia e pelos professores ao longo da infincia e adolescência. Seu não nos julguemos capazes de calculá-lo com precisão. No Capitulo 2, há um
ralenco para a cooperação afetuosa, para obter o melhor das pessoas, confere-lhes um questionário de auto-avaliação que dará uma idéia aproximada de qual seria o seu QE,
pader que contrabalança os danos causados pelos psicopatas. se pudesse ser avaliado.
Repico: esses são dois extremos; muitas pessoas poderosas não são psicopatas
nem empatas complecos. Mas, se observá.las com atenção, provavdmeme você
Inteligência Emocional e Educação Emocional
detectará uma preferência por um ou outro esrilo.
Eu, é daro, escou encorajando-o a buscar o ideal da empatia.. A expressão "inrdigência emocional" foi cunhada ~os psicólogos Peter Salovey e
John Mayer. Em seu livro In1eligâicia Emocio1111l Golem:til analisou em profundidade
essa poderosa aptidão e sintetizou fana pesquisa cealizada em tomo do tema.
Qfi e QI Criei o termo "educação emocional" há 18 anos, e este foi publicado pela
A importância de ser wn perito emocional não é evidente para todos, ao menos não primeira vez em meu livro Healing Akoholism [Curando o Alcoolismo], de 1979.
tanto quanto a impartância de ser um perito intelectual. As pesquisas mostram que Desde então, venho aperfeiçoando um programa para desenvolvimento de aptidões
se você tiver um QI ("quocficiente de inteligência") elevado, provavdmente será um em educação emocional.
bom aluno e se tornará um profissional eficiente, bem-sucedido e produtivo. Além Todas passuem algwnas habilidades emocionais. Cenas pessoas rêm um de-
disso, com roda probabilidade, terá vida longa e boa saúde. sempenho o::cdente nessa área, enquanto outras não se dão rão bem. Não se assuste
Aparentemente, resultados rão favoráveis têm como causa única a imdigência, caso você perceba que se encaixa nesta última categoria. A prática poderá ajudá-lo a
mas isso não é verdade. Em lnulig&u:ia Emocional um b~t-selkr revelador, Daniel ascender na escala da inteligência emocional, que consiste de cinco aptidões:
Goleman mostra que o entendimento emocional é tão imponanre para o sucesso 1~ Conhecer os Próprios Sentimentos:: Você conhece seus verdadeiros sentimentos?
quanto wn QI alto. Além disso, de revela que a inteligência emocional é necessária Um grande número de pessoas não consegue definir senti.menros de amor, vergonha ou
para que se tenha uma "boa vida", na qual seja possível desfrutar os bens do cspfriro. orgulho, nem a razão para o surgimento dessas sensações indefinidas. As mesmas pessoas
Para viver bem, é preciso possuir não apenas um QI, mas um QE elevado ("quoefi. mosaam-se freqüe.rue.me.nce incapazes sequer de informar a ,intensidade de suas emoções,
cienre emocionaln). mesmo quando lhes pedem para classificá.Ias como sutis,."interuas ou esmaga.doras. Se
O ccrmo "QE", embora requintado, significa menos do que se poderia pensar. não fur capaz de avaliar a potência de seus sentimentos, você não poderá definir até que
T rara•se de um conceiro de marketing e não de um termo cientffko. Um "quoeflciente ponto esses sentimentos o cnão in8ue.nciando, e àqueles que o ccrcun.
emocional" não pode ser medido nem avaliado como um "quoeficienre de inteligên-
cia". O Ql vem sendo calculado cientificamente há quase um século, embora o seu 2. Ser Dotado de Empatia: Você reconhece os sentimentos dos ourros? Compreende
significado exaro seja questionável. Há quem diga que o QI determina com precisão por que sentem de determinada maneira? Você se identifica com a situação ou as

32 33
motivações alheias? Empatia é a capacidade de "sentir comon ou eras pessoas, de sentir adolesccnces rebddes, d.rogados e promíscuos. Judith ofendeu-se e d.issc a Jim para.
as emoções de ounos como scnàmos as nossz. Quando cemos empatia, as emoções cuidar da sua vida. O constrangimento tomou conta de codos.
alheias ressoam dentro de nós. Percebemos inruicivamenre quais são esses se mimemos, Tia Hannah percebeu que as pessoas esperavam que ela tenwse dissipar a
sua intensidade e suas causas. Para alguns é difk.il, mas outros são tão bons nisso que tensão. Chamou Judith a um cmto e deixou que da desabafasse sua raiva da critica
conseguem literalmente ler os sentimentos de alguém como se fossem um livro. desnecessária de Jim. Depoís conversou em particular com Jim e permitiu que este
expressasse sua opinião sobre os pirralhos e seus pais indulgenres. Depois de conversar
3. Apttnder a. Controlar as Própriu .Em.oçêics: Você tem o comando de suas com Hannah, Jim percebeu que sua discussão estava estragando o Dia de Ação de
emoções:? Conhecer as próprias emoções e as cmoçóes dos outros não basta para Graças de todos. Han nah então rewiiu os dois com Mark, que gosrava de ambos. Jim,
alcançar a educação emocional. Precisamos saber quando apressar as emoções e Judith, Mark e Han nah riveram uma conversa rápida, onde desculpas foram trocadas
quando comê-las. Precisamos saber quando e como a o:pressão emocional, ou sua e as mágoas amenizadas. Quando chegou a hora de servir o jantar, todos escavam
ausência, influencia outras pessoas. Devemos aprender a afirmar no1Sos sentimentos
prontos para senrar e desfrutar a refeição.
positivos, tais como esperança, amor e alegria. E a liberar nossas emoções negativas, Hannah havia dito a coisa certa às pessoas certas para restabelecer um clima
como araiva, o medo ou a culpa, de maneira inofensiva e produtiva, albn de adiar a emocional agradável. Incentivou Jim e Jud.ich a encontrarem-se com ela para um
expressão das mesmas até wn momento propício. almoço e discutir melhor o conflito.
4. Remediar Danos Emocionais: Você sabe pedir desculpas? Na qualidade de seres Qual o grau de dificuldade para alcançar o nívd de educação emocional de
humanos, rodos cometemos deslius emocionais e magoamos pessoas. Contudo, Hannah~ Bem, Golcman mostrou que é bem _mais fácil quando se é jovem. l:. como
devemos aprendtt a reconhecer e a reparar aquilo que fizemos. Para rali temos de aprender a falar francês ou a tocar violino; você pode adquirir tais apcidões com muito
assumir responsabilidades, pedir perdão e buscar a reparação. O que pode significar mais facilidade na juvencude, beneficiando-se de uma ujanela de oporrunidaden
uma transfonnação de nossa atitude, se esta magoar alguém. Não é urna tarefa fácil, neu.rológica.
mas, se não procurarmos colocá-la em prátíca, nossos erros en;enenatio permanen- Entretamo, se não desenvolveu habilidades emocionais durante a juventude, não
temenre nossos relacionamentos. se preocupe: o adulto ainda pode culcivá-las. Na verdade, a maior parte_das pessoas adquire
certas aptidões emocionais no começo da viela e vem a desenvolvê-las ma.is tarde.
5. Integração de Tudo: A medida que ascende na escala da Educação Emocional, Você pode dar um jeito, mesmo rendo aptidões medianas, com uma mãozinha
você desenvolve uma aptidão que costumo chamar de "inceratividade emocionaln. dos amigos. Mas agora que está de posse deste livro, você cem a oportunidade de
Significa a capacidade de estar em sin ronía com os sen rimenros daqueles que o cercam, ampliar siscematicamente sua Educaçáo Emocional. Tudo querem a fazer é estudar
sentir sew estados emocionais e incerag.ir eficazmente com eles. as lições das próximas páginas e colocá-las em prática.
Hannah lançou mão dessa habilidade para esfriar os ânimos num janrar de Ação
de Graças de que participei alguns anos atrás.
Hannah e seu marido chegaram ao janrar e imediacamence da percebeu que
havia algum problema. To dos - o casal de anfüriões, seus crês filhos adukos e quatro
netos pequenos- pareciam censos. Jim, um dos genros, estava a um canto, "maman-
do" um drinqu~ Ourros membros da familia riam com um cerro aagero. Os
anfitriões pareciam tristes e aturdidos.
· Hannah chamou uma de suas amigas de lado e perguntou por que as pessoas
C$tavam censas. Ela conrou que Jim incl.ispusera-se com Judith, irmã de sua esposa.
Jim era conservador e discutira com Judith, muito mais liberal, sobre a criação dos
filhos. As crianças brincavam com grande alg.uarra e Jim, meio de brincadeira, tinha
dito a Judith que ela estava mimando os filhos e que estes acabariam se tomando

34 35
RESUMO DO CAPÍTULO UM 2

O _Que é Educação Emocional?

TOMANDO CONSCIÊNCIA
Quando somos emocionalmente educados, conseguimos lidar com situações
emocionais espinhosas que, com &eqüência, resultam em discussões, fúria, DAS PRÓPRIAS EMOÇÕF.5
mentiras, agressão e mágoas infligidas a outras pessoas.
Sofremos a influência constante de traumas emocionais, a maioria deles
proveniente de" simples dificuldades cotidianas, e outros, de deslealdades e
decepções. Sem alguma .(arma de escoamento, todo esse so&imenro emocional
leva-nos a um congdamento emocional como forma de proteção. Contudo,
protegendo-nos denrro de uma concha emocional, perdemos o comato com
nossos sencimentos e nos rornamos incapazes de entendê-los ou controlá-los.
Ansiamos pda experiência emocional e a buscamos de muitas maneiras. PRATICAMENTE TODOS EXPERIMENTAM algum desconfono emocional
O curso de Educação Emocional constitui o método mais direro e eficaz para quando um mendigo das ruas se aproxima. Muirns tentam imediatamente sufocar
seus semimenms, preferindo fingir que o mendigo não cx.i.ste ou que, por alguma
restabdecer o contato com os sentimentos e o poder que des têm, estabelecendo
razão, merece a sone que tem. Ourros sentem-se culpados, e provavelmente acha.Jll
desse modo rdaçóes favoráveis e aferuosas com as pessoas.
que deveriam rc.servar uma quantia maior para a caridade, ao invés de comprar anigos
f: possível aprender a tocar o ourro profundamente com as suas próprias
supérfluos, como CDs ou talvez até mesmo esre livro. Há quem chegue a alimentar
emoções. Você nâo precisa extrair poder com base no controle e no medo. Ao
indignação e. hostilidade por aqude individuo, cracando-o como se fosse um intruso
contrário, você pode ser um empata, auferindo poder do amor e comparrilhando
indesejável em sua vida.
o poder que o amor lhe dá.
A minha reação varia. Às vezes, sinto-me péssimo ou constrangido; outras vezes,
t possfvel exercitar-se na arte de saborear os próprios sentimenros e os
sou invadido por culpa ou ira. Se decido nâo ajudar, desvio o olhar e acdero o passo.
sentimentos alheios. Escl ao seu alcance compreender e canalizar as emoções,
Se opto pela ajuda, ofereço algumas moedas sem encarar o pedinte nos olhos. Se de
ouvir e reagir às necessidades do o urro, sanar prejuízos emocionais e navegar no
diz "Deus te abençoe," não me sinto abençoado. A situação provoca uma série de
mar dos sentimentos. reflaões desagradáveis sobre como deve ser a pobreza.
No fim, fico concence quando consigo afastar o encontro da minha mente. Se
não fizer isso, permanecerei algum tempo agitado e cm desequilfbrio. Não admira
que eu me desvie do meu caminho para evitar os mendigos, ainda que para isso cenha
de atravessar a rua.
Essa análise decalhada da minha reação emocional pode parecer exagerada e
cansadva, mas pense cm sua própria experiência. Quanto de rudo que descrevo
passa pela sua cabeça quando se encontra em posição semelhanrc? Até que ponto você
vivencia essa situação sem esrar plenamente consciente? Muitos de n6s não to-
mamos consciência da intensa reação inicial que rapidamente sufocamos em tais
circunstâncias,

36 37
Você idcntifici alguma conseqüência emocional dõSe ripo de enconuo? Ele o Questionário tÚ Comciência Emocional
deixa abalado ou indiferenrc? Irritado, cuJpado ou hipócrita? Ou você coloci a cuJpa
nos po!Iàcos? Responda as pergunras abaixo com o máximo de sinceridade pos:slvd. O imporranre
não é ter um bom desempenho, mas sim descobrir qual o seu nível de consciência
Apesar de em geral não chegarmos a perceber, quase codos nós passamos por
emocional. Se não conseguir decidir se sua resposta é Sim ou Não, responda Não Sei.
essas provas emocionais diariamente. Um mocorisra nos dá uma cortada, um vendedor
é grosseiro conosco, um amigo se mostra frio e distante. Contudo, praticamente não
apreendemos a complexidade de cais incidentes. Vamos examinar essas experiências
J.
emocionais com a finalidade de ampliar a consciência que temos delas.
A Às vezes, quando estou com uma ~ a muito emotiva, fico surpreendentemente
calmo e sem sencimentos.
Origens da Consciência Emocional Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ __

B. Às vezes, quando esrou pRSres a interagir com as pessoas, não me sinto bem,
As emoções são inaras, geradas automaricameme na porção límbica de nosso ~rebro,
renho sensações como palpiraçáo no coração, dor de esrômago, garganta seca ou
a mais primitiva e reptiliana. Medo, ira, tristeza, amor e felicidade constituem
contraída ou dificuldade de respirar, mas na.o sei por que isso aconrece.
lembretes conscames da nossa narurez.a animal.Tais emoções são aheradas e moldadas,
Sim _ _ _ _ _ _ _ _ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
ao longo da vida, pelas experiências em nosso meio. Por or.emplo, se formos criados
por pais agressivos, as pesquisas moscram que, muito provavdmente, nos tomaremos C. As ve:z.es sou
completamente dominado por emoções que me desorienram e
adultos agressivos. Ou, se formos criados por pais aferuosos, muito provavelmenre confundem.
seremos adultos aferuosos. Sim _ _ _ _ _ _ _ _ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
Quase rodos nós remos uma percepção limitada da imensidade de nossas
emoções ou mesmo daquilo que as deflagra. Na verdade, poucos são os que sabem D. Deva. em quando percebo em mim sentimenros de raiva, desde a mais leve
pelo menos quais emoções estão senrindo. Desprovidos dessa consciência, não pode- irri ração aré a ira.
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __
mos ter esperanças de vir a desenvolver aptidões empáticas e incerativas, principais
conquistas da Educação Emocional. Ampliar a consciência das próprias emoções é o E. De modo geral consigo perceber, numa pessoa emotiva, quais são os seus sentimentos:
rema deste capfrulo. por amiplo, medo, felicidade, tristeza, esperança ou raiva
A finalidade do questionário apresentado abaixo é iniciar a exploração de sua Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ __
consciência emocional. Embora não exista um tesre de QE cienrificamenre válido, o
questionário poderá dar-lhe uma boa idéia de seu nlvd de percepção emocional, que F. Gosro de siruaçóes nas quais as pessoas têm intensas emoções positivas de amor,
é parte fundamental dai nteligência emocional. Como vimos no Capitulo 1, Educação esperança e alegria, como por exemplo casamenros ou cultos religiosos.
Sim _ _ _ _ _ _ _ _ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
Emocional é a capacidade de cnrender as próprias emoções, bem como usá-las
produtivamente. Consciência emocional significa:

• saber o que estamos sentindo; 2.


• saber o que os outros estão sentindo;
A. Às vezes, depois de uma situação diflcil com outra pessoa, sinto como se partes
• descobrir a causa desses sentimentos; do meu corpo estivessem entorpecidas.
Sim _ _ _ _ _ _ _ _ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
• conhecer o efcico provável que nossos senàmencos exercem sobre o outro.

38 39
B. Tomo um comprimido ou mais para dor de cabeça, dor de estômago e simomas
4.
digestivos ou dores flsicas que meu médico não consegue explicar.
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
A. Consigo esrar com pessoas em grande sofrimento Hsico sem me perturbar.
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
C. Sei que ccnho senrimentos intensos em meu lmimo, mas não consigo falar a
respeito deles com ouaas pessoas. B. Comei;o a suar nas palmas das mãos quando esrou com pessoas que não conheço.
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __ Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __

D. Tenho consciência de meus sentimentos de medo, desde a apreensão aré o rerror. C. Sei que tenho sentimentos fortes, mas raramente sei identificá-los.
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
D. Tenho facilidade para identificar meus sentimentos e seu motivo.
E. k veres posso perceber os sentimentos de outras pessoas cm meu corpo. Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __
Sim ________ Não ________ Nao Sei _ _ _ _ _ __
E. k vezes os sentimentos alheios são muiro claros para mim, o que pode ser um
F. As pessoas me estimam porque sei como acalmar os ânimos.
problema.
Sim ________ Nao ________ Não Sei _ _ _ _ _ __ Sim ________ Nâo ________ Nâo Sei _______

F. Em geral consigo lidar com pessoas wmadas por si=ntimemos fones, os quais sâo
descarregados em mim.
3. Sim ________ Nâo ________ Não Sei _______

A. Sou capaz de matar facilmente um animal pequeno, como uma galinha ou uma
cobra, sem sentir nada de especial.
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __ 1
,.
5.

A Na maior pane do tempo sou racional e não ccnho problemas com minhas emoções.
B. Sou nervoso e irriclvel, e não consigo me controlar. Sim ________ Não ________ Não Sei _______
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __

C. Percebo que minto sobre meus senrimenros porque me constrange falar a respeito.
J
g
B. Já estive apaixonado, mas, repentina e inexplicavelmente, esse sentimento des·
aparece por completo.
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __ Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ __

D. Tenho consciência de meus sentimentos fones de amor e alegria. C. Às veres sou dominado pelo mau humor.
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ _ __ Sim ________ Não ________ Não Sei _______

D. Quando tenho de tomar uma do:isão importante, em geral sei como estou me
E. Geralmente faço coisas pdas ouua.s pessoas porque simpatizo com elas e não sei
dizer unãou. sentindo: se estou assustado, empolga.do, zangado, ou alguma outra combinação
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __ de emoções.
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei ______
F. Tenho facílidade para ajudar as pessoas a identificar suas emoções porque
E. Numa situação competitiva, na qual estou ganhando ou estou numa posição
cosnuno entender suas razões.
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __ claramente superior, lamento pela outra pessoa.
Sim ________ Não ________ Não Sei _ _ _ _ __

40
1 41
F. Quando estou numa sala cheia de gente, sei como o grupo esc.1 se sentindo:
r Agora di:vc haver um número (de 1 a 6) ao lado de cada leoa acima. Com esses
números, você pode traçar um gclfi.co e determinar seu perfil de consciência emocional
empolgado, assustado, encediado ou zangado.
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __ 1 Crie um diagrama semelhante ao desenho abaixo num papel separado e
preencha os imervalos com seus resultados. Por acmplo, se você respondeu "Sim"
ri cm 6 quescóes D, preencha a coluna D até o número 6. Se respondeu "Sim" em duas
6.

A Raramente choro.
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __
i1 perguntas B, preencha a coluna B até o número 2. Faça o mesmo com os outros
resultados. Quando terminar, você terá um gráfico semelhante ao do exemplo abaixo;

B. k vezes, vejo uin comercial na TV, lágrimas me vêm aos olhos e não sei realmence
5
o porquê.
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sd _ _ _ _ _ __
·i 4
3
2
C. k vezes sinto-me mal e não sei definir se esrou assustado ou zangado.
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __
1 A B e D E F

D. Sou o tipo de pessoa que de vez. em quando sente vergonha e cuJpa. Esse perfil baseia-se numa escala do mínimo ao máximo de cÓnsciência emo-
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __
1
,j
cionaJ. Dcsc:nvolvi esse gráfico para ilustrar os níveis de consciência emocional de cada
pessoa.
E. Já tive oporrunidade de atirar num animal, Üm pássaro, um coelho ou um cervo,
animal. Abaixo há uma explicação para cada nlvel da escala de consciencia emocional.
e não consegui porque tive pena do
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __ 1
,, O conhecimento desses níveis irá ajudá.lo a interpretar e compreender os resultados

F. Costumo mudar minha maneira de agir com outra pessoa porque percebo que ~ Escala de Consdênâa Emocional
isso tornará as coisas mais fáceis enrre nós. 100%
Sim _ _ _ _ _ _ _ Não _ _ _ _ _ _ _ Não Sei _ _ _ _ _ __ ln tera tividade

Empatia
Agora que respondeu todas as perguntas, vamos fazer a conragcm do ques~
tionário. Causalidade
Some [odas as respostas u Sim" para as questões de letra A Escreva esse número '1

(de I a 6) no espaço abaixo com a letra "A''. Repita o procedimenco para as questões e: Diferenciação
·'~
C, D, EeF. o
u BARREIRA VERBAL
A
Experiência Primitiva
B ____
e ____ Sensaçócs Flsicas
D ____
E 0% lnsensib ilidad e
F

42
43
do quesrionário e o perfil pessoal que você acaba de adquirir, tema ao qual recomare-- a ser um contador brando e desapaixonado. Essas o:plosõcs deêcam-no abafado e,
mos no final do capfrulo. comumente, produz.em alguma culpa, mas suas emoçõ~ o ronfundem demais para
que possa alcançar a1gum tipo de discernimento. A insens_ibilidade acaba por reromar
Insensibilidade. Aqueles que se encontram nesre estado não têm consciência daquilo
que chamam de scncimenros ou emoções. Isso acontece mesmo quando estão sob a
com· força renovada.
· Para a psiquiatria, esse estado de torpor emocionai é conhecido como akxitimi.a..
influência de emoções fones.
Curiosamemc, os outros cm geral tbn uma percepção melhor das emoçóes desse Se~e:s Físicas. Neste nfvel de consciência emocional as sensações Rsicas quii!
tipo de pessoa do que ela mesma. Embora um indivíduo nesse estado não seja capaz acompanham as emoções são vivenciadas, mas não as emoções em si. A psiquiatria
de perceber as próprias emoções, aqudcs que convivem com de podem captá-fa.s chama a isto de somatwzfão.
graças a indícios como a expressão facial, o rubor e o rom de voz. Se lhe perguntarem
Uma pessoa pode sencir as batidas aceleradas do coração, mas nao percebe que
como escl se sentindo, provavelmente de relatará apenas indifercnça. ou insensibili-
está com medo. Pode observar um aperto no peito, mas não identificá-lo como
dade. Suas emoções encontram-se numa espécie de congelamento profundo, inaces-
depressão. Consegue experimentar um momento de calor, um calafrio, um nó no
síveis à consci!ncia.
estômago ou um 2.umbido nos ouvidos, formigámemo;1até mesmo pontadas. Pode
Vejam Lucas, contador de 38 anos, e.sua mulher, dara, que me procuraram
vivenciar todas essas smsa;õesda emoção, mas não tem coÍisci!ncia da própria emoção.
para a mediação de suas dificuldades conjugais. Clara acaba de fuer um relato sofrido .
e renso da raiva e mágoa que sente pelo faw de as coisas entre eles escarem do jeiro Essas sensações nunca estão muiro longe da percepção, mesmo para uma pessoa
emocionalmente neutra. Lucas, por exemplo, tem consciência de suas sensações fuic:a.s
que estão. Volto-me para Lucas. Ele parece rígido e consmngido.
quando imcrpclado, embora nao as associe com quaisq(,!er emoçóes em particular.
"Como você se sente, Luc:asr
Depois que Lucas descreve seu estado de torpor, piyssigo com ~ perguntas:
"Bem, acho que da está sendo injusta."
"Tudo bem. Podemos falar sobre isso depois, quando chegannos ao seu ponto de "Ótimo, voce fez uma descrição clara do que lhe acontece emocionalmente
vista. Como está se sentindo cmocionalrnenre depois de 01.Mr o que da ralou de você?" quando sua esposa se queixa de você. Mas vamos exami~ar melhor sua reação. Tem
Ele hesita, remo:e-se na cadeira, pensa. Finalmente, demorucrando embaraço, alguma das sensações flsicas que descrevi antes? O que ~ais acontéee?"
Lucas acrescenca: "Acho que não sinto nada." "De fato, também sinto uma pressão na resta."
ªEu gosraria de saber ... vejamos, vocêidencifica alguma sensação em seu corpo? · "Mais alguma coisa?" Esquadrinho o rosro de Lucas. uSente dor de cabeçaT
Certas pessoas sentem incômodo no estômago, nó na garganta, um formigamento
dolorido, ou vertigem ... "
J uNão exacamenre, mas fico com uma sensação estranha de que vou sen rir. Tenho
dores de cabeça bem fortes. Quando formos embora, vou precisar tomar uma dose
"Bem, cu simo uma espécie de entorpecimenro no corpo inteiro. Agora nem dupla d.e analgésico."
tanto, mais quando da escava falando." Pessoas que vivem nesse estado de desconhecimento emocional costumam
"Você não sente nada?" conrumir drogas que combatem as sensações H.sicas de causa emocional. Embora tais
"Para fular a verdade, não. Sinro-me muito distante, como se eu estives.se no medicamentos quase sempre provoquem efeitos colaretais nocivos, funcionam tem-
meio de um nevoeiro." porariamente para aquele que está cencando enfrenrar seus conlliros emocionais,
Para alguém como Lucas, esse estado de inconsci!ncia é uma experiência Assim, ele dimina dores de cabeça, de estômago e oucras sensações físicas que iriam
comwn. Ocasionalmente, porém, sua raiva irrompe. O que cm geral acontece sob a lembrar-lhe a e:xiuência de problemas emocionais que e,cigem atenção.
influência do álcool ou ounas drogas, como uma explosão rápida e feroz. Algumas " Conseqüentemente, os conflitos não desa.parecem e os problemas emocionais
vezes por ano, Lucas toma um pileque. Nessas ocasiões, ele se coma grosseiro, prosseguem sem solução. Comprimidos podem suprimir ou aliviar rcmporariamen te
emocionalmente agressivo e, às vez.es, cm sua fiíria quebra alguns móveis. Depois, já as sensações desagradáveis, mas promovem o desequilíbrio da química corporal e
sóbrio, de passa por um perfodo de culpa e autoflagelação, para logo em seguida volrar acarretam efeitos nocivos breves e prolongados.

,ft/ 45
Lucas, por exemplo, ingere grandes quamidades de analg6icos corriqueiros para e poder pessoal, mesmo em nossa sociedade emocionalmence mibotada. Isto porque
dores nas cosru e dores de cabeça. Seu médico alen:ou-o que ibuprofen e acetaminophen o indivíduo de elevada educação emocional s-aberá con rrolar seus sencimcnros sempre
ingeridos com álcool podem ca.usar problemas no ligado. Enrão de oprou pela aspirina, que necessário. Talvez isso nao seja passivei ém situações que exijam impiedade
que afea o estômago; toma Maalox.. Pela manhã, toma duas xícaras de café fone para cxw:ma e friaa emocional, mas esce ripo de siruação será evitado pda pessoa
acordar e passa o dia inteiro bebendo refiigeranre dia para manter-se despeno. Também emocionalmente educada. Há certos tipos de trabalho, como cancelar contratos ou
fuma para amenizar a tensão e a ansiedade. A noite, gosta de tomar "um ou dois cálices" enxugar empresas, nos quais um alto nlvel de consciência emocional impossibilita o
cwnprimento eficaz da tarefa.
de vinho para ajudá-lo a relaxar e dormir. Essa auromedicação de forma alguma lhe
proporciona bem-estar, mas pelo menos roma seu desconfono suportável. Baneica Verbal A travessia dessa barreira lingüística exige um ambiente fu.vorável à
Aqudes que ingerem regularmenre uma grande quantidade de medicamentos informação emocional. Contudo, uma vez ulaapassada a barreira, toma-se possívd
e/ou álcool nao são mais _capazes de interpretar suas experiências corporais. Essas falar das próprias emoções, de maneira a desenvolver-se uma cres_cente percepção dos
aperiências são emocionais ou qulmicas, intensas ou sutis, saudáveis ou mal.sãs? próprios sentimentos.
Quando alguc!:m se automed.ica com tanta freqüência e intensidade, roma-se excre- Arnalmenre está cada dia mais diBcil aprender a fular das próprias emoçóes, pois
mamente difkil saber. muicos consomem seus d.ias de trabalho em contato íntimo com máquinas, como os
Pessoas mergulhadas nesse estado de inconsciência emocional podem infligir a computadores, e não com pessoas.
outras graves danos emocionais. Emoções fones e não reconhecidas podem promover O contato com a máquina nâo termina no trabalho. k pessoas vão para casa e
um comporr:amemo irracional, dor e insensibilidade. Mas o comporramenm ir- imobilizam-se diante da tdevisão, dos vuko gama, do apardho de som ou do
racional perpetua o ciclo. As pessoas desabafam, sentem uma culpa profunda e depois computador, os quais mantêm o individuo isolado.
se fecham, estreitando sua consciência rniocional e criando um ciclo bem conhecido Aqueles que passam um longo tempo em isolamento provavdmeme deixam de
de agressão, torpor e ignorância emocional. analisar os próprios semimcncos e podem tornar-se completamente desinteressados
das questões emocionais. lnfdi:unente, grande pane das pessoas esperam pelos
&puiêocia Primitiva. No estágio primitivo, o indivíduo tem consciência das
comerciais da TV para dar acençao a suas questões emocionais, se é que chegam a
emoções, mas estas sao vivenciadas como um nfvel acentuado de energia penurbadora
tratar de cais quescões. Só vao prestar atenção nesse assunto quando o divórcio csrá
que não é enrendida e nao pode ser expressa em palavras. Conseqüentemente, aqude
por um uiz ou o relacionamento com os filhos adolescentes gravemente prejudicado.
que se encontra nesse estado emocional é tremendamente vulnerável e sensível às
A6nal de contas, nâo é mais fácil ficar sencado vendo TV do que estabelecer um
emoções, mas incapaz de compreendê-las ou conuolá-las. Uma pessoa no estado
diálogo substancial com um membro da família? Poucos são os que percebem até que
primitivo tem uma probabilidade maior de so&er explosões emocionais desconuola-
ponto uma escolha como essa pode isolar os indivíduos das próprias emoções e das
das e acessos de impulsividade ou depressão do que aquele cujas emoções estão
alheias. Sem uma análise de nossos sentimencos, jamais poderemos ter esperanças de
congeladas e inconscienres. Em geral, ele é o primeiro a fraquejar num grupo
Jjben:ar-nos de um escado de entorpecimento, agitação Bsica ou caos emocional. E
submetido a tensão. jamais poderemos manter rdações grarifi.canres com as pessoas.
Lucas, como um exemplo oposto, trabalha num ambiente de grande tensão e Precisamos de um ambiente que acolha e estimule o debate emocional, no qual
pressão. Ele é conhecido como o que mamém a "cabeça no lugar" e toma as decisões possamos companilhar sinceramente nossas emoções com pessoas que dividirão as
cruciais em momentos de crise. Colaboradores e até mesmo supervisores não consi- suas com honescidade. Enconcrar um ambiente assim é essencial para o desenvolvi-
deram sua &icza particulamente agradávd, mas sua eficiência é cremendamente mento da consciência cmocional. /u.~ mesmo uma comunidade de dois já é suficiente,
valorizada pelos paa-ões. para começar.
Em razão desse paradoxo, alguns concluem que consciência e sensibilidade
emocionais são uma desvantagem. Na verdade, conquistar as aptidões e a percepção Diferenciação._ Neste nfvel de consciência dá-se um passo a mais em direção ao
próprias de uma elevada Educação Emocional proporcionará, a longo prazo, eficiência reconhecimento das diferentes cmoçóes e sua intensidade, bem como à verbalização

46 47
desras com outras pessoas.. Nesse estágio, tomamos consci&icia das diferenças entre Causalidade. Quando começamos a compreender a narurcza aar::a de nossos senti-
emoções bMicas como ira, amor, vergonha, alegria ou rancor. Percebemos wnbém mentos, passamos igualmente a encendcr a cawa desses sentimentos, o episódio que
que qualquer scn cimento pode manifestar-se nas mais variadas incensidadcs. O medo deflagrou nossa reação emocional. o porquê do orgulho ou da raiva intensos, a origem
pode ir da apreensão ao terror. A raiva estende-se desde a irricação até a ira. O amor do medo.
pode ser sentido cm muitos níveis, do af~o à paixão. Umexemploilustrativo:Petercomcçouascnó.rciúmenanoitecmqueobservou
Tão logo cem.amos a barreira vema! (wn muro virtual para algllOs), começamos sua namorada Jennifer rindo das piadas contadas por um amigo comum, Michad. A
a reconhecer que, frcqüencemcnte, temos uma ampla gama de sentimentos concom i- principio nâo quis admitir para si mesmo o que estava sentindo, pois orgulhava-se: de
rantes. Alguns ddes são intensos e 6bvios, enquanto outros são débeis e ocultos. Alguns sua confiança e segurança. Enrrecmto, percebeu sua exasperação com Jennifer e teve
são breves, oucros duradouros. de admitir para si mesmo que provavelmente estava com ciúme.
Por exemplo, ·quando somos dominados pelo ciúme, é possível perceber que o Aqui a inevitabilidade das interações emocionais precisa ser entendida. Não
sentimen ro principal é a raiva, combinada com sensações menos intensas de amor não obsmnte rodas as alegações cm contrário, podemos provocar sentlmc:ntos nas ouU'a.'i
correspondido e um quê de vergonha. Outra pessoa poderia vivenciar o ciúme como pessoas, e csw podem produzir sentimentos em nós. Nesse aso, o apaICnte Berte de
Jenniíer com Michael ocasionou ciúme cm Peter.
wn sentimento de medo, combinado ao 6dio profundo.
Começamos a dcsvdar a alquimia das emoções; de que maneira nossas ren-
Vamos continuar com Lucas, nosso inquieto contador. Quando pcrguncci por
dências emocionais (ser suscetfvel, agressivo ou ciumento) combinam•se com as
que r~e uma reação tão emocionada às recriminações da esposa, de disse:
tendências emocionais e o comportamento do outro.
"Porque cu estava um pouco aborrecido, acho. n
Finalmente, temos meios de examinar e, na maioria das vezes, entender por que
"E você ficou triste?" sentimos aquilo que sentimos. Constrangido, Pecer explicou seu ciúme a Jennifcr.
"Acho que sim ... t, também fiquei triste", acrescentou vivamente, "e tive medo Esta lhe disse que jamais pretendera provocar~lhe ciúme; acontece que, depois de uma
de perder o concrole, revi.dar e ferir seus sentimentos. Ela é tão susectfvcl." semana difkil, ela apreciava uma boa risada. Agora que sabia do ciúme de Pctcr,
"Você está zangado?", voltei a indagar. decidiu esforçar-se para prestar mais arenção no namorado enquanto Michael estivesse
wNâo muito, só aborrecido. n encrerendo--os.
"Mas se você nâo está tão zangado, por que perderia o conttole?"
Empatia. A medida que vamos descobrindo as diferentes emoções que sentimos, as
"Acho que estou zangado." Lucas ficou em silêncio por um inscante, durance o variações na intensidade com que as sentimos e as suas razões, e à medida que a
qual eu o percebi enrubescer.-~. acho que estou." consciência de nossas emoções vai-se comando refinada e sutil, começamos a perceber
"Furioso?" e intuir a complexidade e sutileza. das emoções daqueles que nos cercam.
Seguiu-se um silêncio prolongado. A essa altura seu rosto estava rubro. Voltan- A empatia é uma forma de intuição das emoções. O funcionamento da empaàa
do-se para a esposa, a voz cheia de culpa e apreensão, finalmence de fulou: "É, é inteiramente surpreendente para o principiame, pois parece depender de uma
pensando bem, realmente isso me deixa muito percurbado." aptidão que, às vi:zcs, afigura-se perigosamente semelhante à clarividência.
Continuei fazendo perguntas a Lucas com o objetivo de verificar se eu não o Quando somos empá.ticos, não pensamos no fu.ro de que entendemos, vemos
estava induz.indo a dizer coisas que não sentia. A medida que eu o ajudava a tomar ou ouvimos as emoções de oucra pessoa. Acredita-se que, na verdade, a empatia é um
consdencia de seus verdadeiros sentimentos, ficou claro que Lucas sentia uma raiva sexto senrido por meio do qual percebemos as energias emocionais assim como o olho
intensa e alucinada d.as acusações feiw pela esposa, e tinha um medo profundo de percebe a luz. Sendo assim, a empatia acontece em um canal intuitivo - indepen-
ªperder a cabeça" e "explodir com ela". Pensando a respeito, também sentiu-se dente dos outros cinco sentidos - que penetra diretamenre cm no~ consciência. A
magoado e desanimado. Um grande avanço para alguém que inicialmcnrc afinnava ignorância emocional sobrevém quando, nos anos de formação da nossa juventude,
nadascndr. dc.ixamos de desenvolver esse sexto sentido. Em geral aprendemos a reprimi-lo com

48 49
as constantes mentiras e a rej~çi.o dos sentimentos comuns nas experiências infantis. Ela ficou dica.da. "De jeito nenhum!" Pensando melhor, Jenniferpercebcu por
Alguns nascc:m "cmpaw", doca.dos de profunda sensibilidade para as emoções, e que de poderia scncir-$C assim. "Acho que sempre considerei uma indc.lia.deza ser
outros são emocionalmemc insensíveis. Quase todos nós estamos cm algum ponto carinhosa com o namorado na presença de uma pessoa que está sozinha."
médio, e rodos podemos aprender ou reaprender a consciência empática. "Entendoº, Petcr assentiu pcnsativamen te.
A c:mpacia, como toda intuição, é imprecisa e pouco valiosa até desenvolvermos "Mas talvez eu tenha exagera.do. Acho que poderíamos ficar de mãos dadas ou
meios de confinnar objetivamente a exatidão de nossas pcrcep~. sentados mais pr6ximos sem deixar Michael eonsttangido. Vou tentar fazer mais isso.
Um exemplo, volCUtdo à situação de Petcr e Jennifer: Jennifer começara a Na verdade, s6 quero que seus amigos gostem de mim, e cu estava querendo
desconfiar que Petcr estava ficando cada vez mais incomodado na presença de demonstrar consideração."
Michad. Sua intuição lhe dizia, embora a principio ele negasse, que Peter escava com Perer confirmou sua intuição de que algo cm Michael acralajennifcr. E também
ciúmes. Não conseguia entender por que de esrava se sentindo assim, pois da se ficou comprovado que Jcnnifcr o evita~ quando os três estavam juntos. Mas o receio
mostt.aw. excremamcme afetuosa e atenta quando estavam juntos. J enni.fer aaeclitava de que da esàvcssc sentimentalmente interessada por Michael ou de que este o
que o s;:iúmc de Percr poderia ter rdaçio com a beleza de Michad, e pfiMc a pensar ofuscasse não tinha fundarnenco. Na verdade, Peter ficou satisfeito ao perceber o
se Peter estaria inseguro com a própria aparência. quanto da dcsejav:a agradar seus amigos e com que empenho procurava momar-.se
Jennifer havia lido um artigo sobre Educação Emocional e aprendera algumas accnta aos scntimencos de outras pessoas.
t&nicas, que havia exposto a Perer. Sua intuição fora con~_rmada, suas apreensões apaziguadas, e Pecer descobriu
em Jenni fer uma noviêlãâfadorável - sua consideração. ·
Quando decidiu pcrgunw- se realmente ele estava com ciúme, o primeiro
impulso de Pcter foi negar. Seu ciúme lhe parecia infantil, e sentia-se constrangido Algumas vezes Peter havia rejeitado as declarações de amor de Jennifer por
cm adm.ici-lo. considerá-las exageradas, mas ouvindo-a f.tlar calmamente sobre as razões pelas quais
ela o havia escolhido, de súbito sentiu-se mais seguro de seu amor. Eis apenas alguns
"Seja sincero, por favor", pediu Jcnnifer, assegurando que o conceito que tinha
dos inúmeros fruros de um diálogo emocionalmente edua.do.
de Peccr não seria afecado.
Dando ouvidos ao pressentimento de que Pecer sentia ciúme, e iniciando uma
"Está bem, estou com um pouquinho de ciúme", de finalmente admitiu.
discussão com de, J en nifer estan apurando uma rdação emocional mente educada e
"Mas cu não acho Michael especialmente atraente. Você me atrai muito mais. n mais incensa com Peter. Sua inruição mostrara-se corn:ra, o que lhe deu a opommi-
"Não e!! isso. Você deixou bem claro o quanto gosta de mimn, de afirmou com dade de mudar, satisfazendo Petcr. Aperfeiçoamos nossa capacidade de empatia
wn sorriso acanhado. "Mas .sabe como às vezes cu fico caladão. Michad e!! cão fazendo perguntas; se o outro se recwar a ser honesto e a oferecer uma resposta
desembaraçado e divertido, isso não te atrai de alguma maneirar verdadeira, não poderemos progredir. O fiedback sincero é a única forma de ampliar
Jcnnifcr refletiu por um inswnc. "Bem, acho que sim. Mas você é igualmente as próprias incuições empáticas.
divertido do seu jeiro, quando cscunos sorinhos. f um prazer enar com alguém como Esse pro~o indispensável que consiste cm reunir fiedb~lu honescos acentua
de, mas i com você que quero ter um rdacionamenco. Sempre haverá pessoas cm a exatidão de nossas percepçóes empáticas posteriores. Aprendemos a tomar consciên-
nosso círculo com qualidades que apreciamos, mas cu estou com você porque você cia dos sentimentos das outras pessoas e da intensidade dos mesmos, e a entender por
tem as qualidades que são mais imponanrcs para mim; porque cu te amo." Ela lhe que ocorrem, às vezes com a mesma clareza com que compreendemos os nossos. Por
deu um abraço, e permaneceram assim por wn inscmre feliz. Mas Pctcr ainda precisava fim, com o desenvolvimento de nossa educação emocional, nossas percepçócs empá-
esclarecer algo. ticas tornam-se mais exatas e confiáveis. Esta transformação é alcançada por meio de
percepção, [ttdha,:k e correção conscantes.
"Posso re fuz.cr uma pergunta?" Jennifcr concordou prontamente. "Tenho a
sensação de que você fica distante quando de está por perto. Na verdade, fico com Interatividade. Ser "meramente" uma pessoa empática - um "empata", se você
medo que você perca o interesse por mim quando escamas os ttb juntos." preferir - tem suas desvantagens. O empata cem a percepção aguçada de uma

50 51
complexa gama de infonnações emocionais amplamence desconhecidas para outros, A percepção de David de que a primeira opção não seria a mais adequada provém
do profundo conhecimento das interações emocionais.
algumas delas dolorosas, talvez até mesmo insuportáveis.
Em outro exemplo mais complicado, John e Deirdre já vinham se desen tenden-
Saber como as outras pessoas se sentem não significa necessariamente saber o
do há um mês.John estava zangado porque Deirdrc passava wn tempo cada vez. maior
que fazer. O comportamento emocional de cada um parece exigir uma resposta, mas
em seu novo trabalho, o primeiro que realmente a esrimulava e desafiava plenamente.
é possível que essa resposca nao seja dese:jada, bem-vinda ou possfveL Ser alrameme
John estava acostumado a ser o que ganhava mais, e vinha sentindo um ciúme e wna
empitico num mundo profundamente ignorante do ponro de visca emocional pode
inveja inexplicáveis. Sempre fora propenso a explosõo- emocionais e, ultimamente,
literalmente enlouquecer uma pessoa. O indivíduo clorado de empatia precisa saber
sentia-se perigosamente prestes a perder a cabeça.
o que f.uer com sua percepção. A intencividade emocional requer o conhecimento
John e Deirdre tinham uma boa relação de muitos anos, e de sabia que Deirdn:
das reações de cada um às emoções alheias, e de quando essa imcraçáo pode
o amava e lhe devotava confiança. Contudo, demonstrações de raiva assustavam-na
desenvolver-se par.a melhor ou para pior. Ou seja, é preciso conhecer as pessoas o
facilmente.
suficiente para saber como alguém irá reagir à raiva, ao medo ou à tristeza, ou como
Eles haviam tido um punhado de ~nvcnas emocionalmente improdutivas, e
curro irá reagir à sexual.idade, à alegria ou ao otimismo.
Deirdre começava a se fdiar emocionalmenrc. John estava cada vez mais desorientado.
A inceratividade emocional coma como base o nfvd mais sofisticado de
Pensando no que fazer, lembrou-se da ocasiao cm que de e Dcirdre travaram
consciência, a capacidade nao apenas de perceber o que você e os outros estão seraindo,
uma discussao acalorada durante um jancar com a irmã de Deirdre, Marsha. A
mas de antever Je que mane.ira se dará a interação das emoçóes. Isco possibilita
presença desra ajudou-o a manter a calma, e Marsh.a atuou como uma tranqüila
antecipar como duas pessoas diferentes, dadas suas inclinações emocionais habituais,
defensora de Deirdre, o que pareceu estimular esta a manteNe firme na discussão.
irão reagir a determinada situação. John decidiu que seria uma boa idfü convidar Marsha para o almoço num
As emoçóes fundem-se, atenuam-se, florescem e minguam na presença de domingo, explicando que de queria a ajuda de Marsha para discucir o trabalho da
alguém e ao longo do tempo. esposa. Expôs a idéia a Dcirdre e, com sua aprovaçao, chamou Marsha. Após uma
Consciência interativa diz respeiro à maneira pela qual as emoções, assim como refeição agradável, John sugeriu que Marsha se sentasse perto de Deirdre, enquanto
as substâncias qufmicas, combinam-se para. criar novas substâncias, inimagináveis se ele contava a esc:a como estava se sentindo.
fossem examinados seus componenres. Tais combinações podem ser criarivas, neutras John sabia que se desse livre vaza.o a seus senrimenros em circunstâncias menos
ou explosivas, assim como no laboratório qufmico. A capacidade de prognosticar essas protegidas, poderia enfurecer-se e intimidar Deirdre. Desse modo, poderia obrigá-la
reaçóes s6 pode provir de uma ampla gama de experiências ou sabedoria acum ui adas.
A complexa percepção de como a.s emoções combinam-se entre si, no {mimo de
1 a reduzir as horas de trabalho, mas nao sem provocar sérias reperetJSS&s emocionais.
Marsha era uma boa opção como mediadora, pois gostava dos dois e nao cinha
cada wn e na convivência, representa o nlvd ma.is devado de sofisticação emocional. medo de John. Sua influência tranqüila e autoconfiante proporcionaria a John
Embora isso possa parecer muito complicado, um exemplo simples dessa segurança para expressar-se com clareza, e a Deirdre, força para enfrentaras exigências
sabedoria em ação foi a maneira como meu amigo David aprescnrou sua nova do marido sem se deixar intimidar.
namorada à filha adolesceme, Robyn, propensa à timidez e ao reuaimenro. Por outro lado, se Deirdre fosse uma pessoa diference, e John soubesse que ela
Sabendo que um encontro cara a cara para jantar poderia ser péssimo para nao-se incomodaria de ouvi-lo até o fim, mesmo se de gritasse, a situação seria
Robyn, David achou melhor a namorada nova ir com de levar a filha de carro para. completamente diferente e exigiria outra abordagem, talvez mais direta, dispensando
visitar a mãe cm outra cidade. Desse modo a menina teria a oportunidade de a mediação da inna de Deirdre.
observá-los juntos de seu posto seguro, no banco de trás. John estava consciente de seus pr6prios scncimentos e tendências, assim como
Foi assim que Robyn entrou em concaro com sua futura madrasta, o que lhe dos de Dei reire. Sabia, por experiência própria, de que maneira seus escilos difcremes
provavelmente iriam interagir, isto é, ele iria gricar e da provavelmente anuiria, mas
permitiu conhecê-la e apreciá-la melhor do que .seria poss!vcl durante um jantar
depois ficaria infeliz e irri ta.d.iça.
porencialmenre difkil, no qual ficaria nervosa por estar cm c:vidência.

52 53
John tomou suas providências para evitar os problemas resúlcantes de uma Se o seu perfil for assim, você é uma pessoa que náo presta muita a[ençâo aos
atitude impulsiva seus scncimemos e que cosruma ficar pcrplaa diante dos sentimentos alheios. Na
Esse ripo de análise daborada do panorama emocional de um rdacionamento maioria das ve:res você nlio tem consciência das próprias emoções; até onde v:i.i sua
constitui um marco de interatividade emocionalmente educada. percepeção, elas não fu.em parte da sua vida colidiana. Nas ocasiões em que apresenta
Interatividade é um conceico amplamente usado na era das comunicações. Neste wna reação emocional muito intensa, você sente raiva ou medo e fará o possfvd para
conrexro, diz respeito à interação inrdigcnte e não à aceitação ~iva. O mesmo sobrepujar esse em.do indesejávd. Você precisa trabalhar sua Educação Emocional.
acontece com a inreracividade emocional. A consciência interativa permite-nos não Perfil de consciência superior:
apenas registrar _as emoções internas e externas, mas também passar a perceber como
elas podem ser moldadas com fins criativos, em vez de passarem despercebidas e saírem 6
do conuole. Podemos fazer uso de nossa consciência emocional para obrer interações
5
mais f.kcis, produtivas e positivas.
A interatividade permite que os empacas apliquem sua percepção para naveg.u
4
habilidosamente ao longo de siruações emocionais inrcnsas. Assim, interatividade é o elo 3
entre a comdbuiaemocional, rema deste capf ru1o, e aEdt.tl'il(ii.o Emocional, tema do livro. 2

EN PS CE DF EM IA
Seu Perfil de Consciência Emocional (F)
(A) (B) (C) {D) (E)
Vamos voltar ao gráfico que você obteve com o questionário das páginas 414 5. Em
primeiro lugar, quero rcssalcar C)Ue esse perfil não é uma medida da Educação Se o seu perfil for assim, as emoções fazem parte da sua consciência cotidian:i...
Emocional, mas uma avaliação da consciência, CJUC constitui um aspecto imporranre Voei sabe como, por CJUC e com que in [ensidade se sente na maioria das vc:z.cs. Saue-se
da Educação Emocional. As questões A avaliam a sensibilidade emocional (SE); as à vontade falando de temas emocionais e compreende as emoções das outras pessoas,
quesróes B verificam os sinromas físicos (SF); as perguntas C referem-se à o:periência mas poderá perceber que sua consciência é um problema. Se falar de suas emoções,
primitiva caótica (EQ; as pcrgunras D avaliam a diferenciação (DF); as questões E você poderá criar problemas para si mesmo, ese não falar, poderá sentir-se um emanho
encarregam-se da empacia (EM); e as questões F, da interatividade (IA). O perfil em terra estranha, onde ninguém vê o que você vê. Vod está em boas condições de
obtido irá ajudá-lo a perceber que tipo de trabalho será necessário para CJUC você desenvolver um d=do nível de Educação Emocional.
desenvolva sua Educação Emocional. Os três perfis mais comuns são: Perfil de consciência mediana:
Perfil de consciência inferior:

6 6

5 5
4 4
3 3
2 2
1
EN PS CE DF EM IA EN PS CE DF EM IA
(A) (B) (C) (D) (E) (F) (A) (B) (C) (D) (E) (F)

54 55
Se seu perfil for assim, você está consciente de SCllS senúmencos, m;\S nem sempn::
sabe o que fazer com des. Compreende algumas emoções mas fica intrigado com RESUMO DO CAP(TULO DOIS
ouuas. Você é capaz de empacizac cm algumas ocasióes, mas em outtas mostra-se frio
diance dos sentimentos alheios. Na maioria das v=:s, nwna siruação emocional, seus Tomando Consciênda das Próprias Emofóes
sentimentos são uma miscelânea caótica e aborrecida, da qual você tema se livrar
ignorando-os. As veus os sentimentos se resolvem, mas em oucras oasiões des se A consciência é parte fundamental da educação emocional. Você po_dc fazer
comam pior:cs. Você é a pessoa que certamente mais aproveitará esre livro. uma auto-avaliação util iz.ando uma escda de educação emocional e vcnficando
comoescá.
Ir Além da Consciência A escala, que vai do nível mais baixo até o mais elevado, é a seguinte:
[nsmsihilidaek. Você não tem consciência de seus sentimentos.
A consciência é wn aspecto essencial do poder pessoal, mas, como jli vimos, por si só Smsttfóts FlsiatS: Suas emoções são registradas Asicamente {por ex:cmplo,
não é suficiente para produz.ir as uansfonnaçóes que a Educação Emocionai c:x.ige. A na forma de dores de cabeça ou tonteira), mas você continua inconsciente das
medida que ocorre a expansão da consciência emocional, o indivíduo toma-se capaz
emoções cm si.
de ap~nder as aptidões adicionais necess:ú-ias à ampliação de uma aticude emocional- Expmlncid Primitir1a:. Voe~ tem consciência das emoções, mas não sabe
menre educada. O aprendizado da consciência e da educação são as lições fim-
0 que significam. Não consegue discuti-las nem compreendê-las. _
damcncus dos Capítulos 3 a 8. ·
Difortnri4fáu: C[U7.ando a barreira verbal e falando sobre seus ~ennmen-
tos, você aprende a estãbdea:r a diferença enac emoções como raiva, amor,
vergonha, _alegria ou ódio.
CaUS11!idade: Você é capaz não apenas de falar sobre cada emoção separa-
damente, como também de pera:ber as suas causas.
Empatia:. Você está cm comaco com as emoções de outras pessoas.
fnttrarividade. Você é dotado de profunda sensibilidade para o fluxo das
emoções circundantes e a maneira como interagem.
Conhecer as próprias emoções, tomar consciência delas cm relaç:ão a voe_:
mesmo e às outras pessoas, eis o primeiro passo para alcançar a Educaçao
Emocional.

56 57
3 Poucas coisas sio cão estimulames quanto redescobrir ou aperfeiçoar nossos cus
emocionais. É esse estúnulo que desperta- o interesse por workshops e cursos de
Educação Emocional.

COMO ALCANÇAR O Encanto de uma Existência Emocionalmente Educada


A COMPREENSÃO EMOCIONAL Verifiquei que:, ao vislumbrarem as implicações de: uma vida plena de Educação
Emocional, o que: frcq üc:nrementc impressiona as pessoas é o potencial de bclC2.a. Eza
explosão de cnrusiasmo faz de algumas delas guerreiras emocionais, numa cruzada
contra a ignorância emocional.
Uma avó de 65 anos, viúva de pouco tempo, tomou pane cm um de meus
workshops na Alemanha e escreveu-me o seguinte:

Destk crumpz eu Jabia que a vuia podia ser diftrmu, e mnp~ tive a vaga
Vocr NÁO TEM de viver c:m cscado de insensibilidade emocional. Tampouco esrá imprmáo tk que isso tinha a ver com hmustú:Ítuk tk smtimmJQu não abrir miio
daquilb que se que-, aliatú, a um profondo (IT!U)r por Jm smulhante. Venho
condenado a passar a vida sentindo-se: deprimido, irritado, ansioso, torturado pelos
impulsos ou descontrolado. Se: você for um empata verdadeiramente se:nsívd, não é tmtando al!l4r tJJ pmoas, amo minha.J filhas e meus netos, 1NlJ agorapercebo que
necessário deixar-se escravizar pelos semimemos alheios. Com um ambiente es- o amor não ! suficimte. Ek potk acabar tm compkw jit1CJ1JJ0, romo no mm
timulante e: uma técnica eficaz, é posslvel transformar as próprias c:moçóes numa fome
ca.sammw. A partir dt agora. vqu ser uma deft,uo,a da Iincnida.tú emocwnal
mertOJ do que mo não JtTVt. Olmgad4 por me 11Wftrar o caminho.
de alegrias.
Pesquisas moscram que: até mesmo a cura de um grave trauma é possível num Essa mulher estabeleceu uma meta tremendamente: elevada, mas com determi-
meio que: pcrm ira a expressão de sentimentos forces. Num ambiente emocionalmente nação e coragem ela poderá chegar lá. Você também. Não de uma vez só, mas com o
educado, você pode ir diretamente ao âmago do seu problema e, lenta mas firme- passar do tempo. O imporn.me é dedicar-se sistematicamente. No fina! deste capitulo
mente:, começar a lidar com de. k. sensações produzidas pelo trauma emocional, faço uma descrição breve dos crês estágios de creinamc:nco que desenvolvi para ajudá-lo
inclusive jlarhbacks, pesaddos, acessos de ansiedade e: períodos de depressão, decres- a alcançar seu próprio alvo de sinceridade emocional: Abrir o Coração, Examinar o
cem com o passar do tempo ou até desaparecem quando são compartilhadas com Panorama Emocional e Asswnir a Responsabilidade:.
amigos, parentes, terapeutas e membros compreensivos do grupo de terapia.
E além disso, você encontrará um novo eu emocional e suas relações com as
pessoas sofrc:ráo uma transformação. Método de Treinamento
Ora, a busca do próprio eu emocional pode afigurar-se uma aventura impru- Primeiro vamos dar uma olhada no método de treinamento.
denre num mundo como o nosso. Aquelas pessoas de seu meio que mantêm sufocados Venho observando ao longo dos anos que podemos descobrir uma abertura cm
os sendmemos fortes parecem levar vantagem - são capazes de manter o prumo nossas barreiras emocionais através da expressão de nossa natura.a amorosa. O
quando outras sio engolfadas pelos scntimc:nros. Comudo, a longo prazo uma vida aprendizado da Educação Emocional começa e termina no coração.
verdadeiramente produtiva exige a inclusão de informaçóes emocionais em nossas Em meu trabalho com casais em crise, de: ordinário as mulheres se queixam de
escolhas. Desde uma conversa rotineira sobre as norkias do dia, durante o c.afé .da que: o homem não as ama ou pelo menos não ama o suficiente, não expressa seus
manhã, até uma decisão crucial, como por exemplo escolher o próprio cônjuge, o sentimentos de carinho ou cmio aceita de bom grado demomrraçóes de a.feco mas
conhecimento emocional é fundamenral para uma existência c:ficienre e harmoniosa. não as retribui.

58 59
...-,.

Sem dúvida sempre há aqueles homens que simplesmemc não amam suas esposas 1. ALrir o Col'a?o: &ta ccapa Vl!lll em primeiro lugar porque o coração é a sede
(ou companheiras). Encrccanro, é mais comum os homens amarem as esposas mas simb6lica de nossas emoções. ~ cm nossos corações que nos sentimos bem quando
sofu:ccm de uma incapacidade de demonsmu: convinccruemenre seu amor. Com fre- csmmos felizes, apaixonados ou alegres. l!. ai que nos sentimos mal quando estamos tristes,
qüência csscs homcns aaham pcrguntando-sc por quc não consegucm ser maisamorosos. zangados e angustiados. Por isso começo m,enando o ccnao de nossos sentimentos dos
Essa incapacidade de amar constirw um c:xcmplo de insensibilidade emocional. impulsos e influências resai.âvos que nos impedem de compartilhar o amor.
Comumenre são as mulheres que fu.em essa queixa dos homens, mas estes
2. &a rnio2.f o PanoramaEmocional: Uma vez implantados os fundamenros básicos
podem ter a mesma reclamação das mulheres - das são frias e não demonstram
pua a abenura do coração, você está apto a dar uma olhada cm como e observar o
afeição. A insensibilidade emocional de modo algum é exdusiv.a. dos homens. Mas,
terreno emocional em que vive. Cumpre-lhe aprender a perceber exatamente como
qualquer que seja o sexo, a solução é a mesma: afrouxar os grilhões do coração.
está se sentindo, com que intensidade e o porquê. Vor.ê toma consciência do Ruxo de
Vou dar um exemplo: Jade e Ginachcgaram ao meu consultório profundamcncc
suas emoções, observa de que maneira. outras pessoas as vivenciam e como os
abalados. Depois de um ano e meio de casamento feli:z.. as coisas estavam indo por
sentimentos destas são inffuenciados por suas acirudcs. Começa a entender de que:
:fgua abaixo. Andavam discutindo por "tudo", e as brigas estavam se romando tão
maneira inreragem as emoções como um rodo, produz.indo vez por ourra violentos
smas que o rdacionamcnto parecia destinado a rcrminar cm desastre.
arroubos de sentimento que arrastam todos n6s. Em suma, você passa a conhecer
Numa rápida discussão preliminar, pude perceber que dcs ainda estavam
melhor os próprios sentimcnros e os daqueles que o cercam.
apaixonados, mas simplesmente eram incapazes de lidar com as qucsrõcs emocionais
que se amontoavam entre os dois. Eu poderia ter dedicado uma boa pane do tempo 3. Asmmir a bponsabilidade: Para efetuar mudanças reais e duradouras em
à inBncia de cada um, ou à tcntaciva de ser um mccl.iador nas discussões, mas sugeri rclacionamenros dercriorados, é preciso assumir a responsabilidade. Você pode abrir
que começassem falando sobre os aspectos bons do oucro, os quais haviam feito com o coração e observar o panorama emocional dos que estão à sua volta, mas isso nao
que se apaixonassem. basta. Quando as coisas v.io mal entre vod e os outros, fica d.i6'cil solucionar o
Isso apaziguou--os e colocou-os cm harmonia. Logo ji estavam se tratando com problema sem tomar uma aôtude firme. Cada um d~ definir qual é o problema,
educação, parecendo até mesmo satisfeiros ao recordarem os "bons tempos" do admiár os erros e deslizes, corrigi-los e encontrar uma maneira de transformar a
relacionamcnro. Em suma, haviam reaberto seus corações. situação. E depois, claro, realizar a transformação.
No decorrer do mês seguinte, cscimulcí-os a explorar a constituição emocional }y.s pessoas cometem pequenos e grandes erros em sew rclacionamencos. Quan-
do parceiro. Utilhando técnicas do uci.namenco em Educação Emocional, pedi-lhes do se erra, é necessário pedir desculpas e assumir a responsabilidade pelo que se fez.
para dcralhar o que sentiam um pelo outro, revelando sua ira, seus medos mais Evidc:ntcmente, I! preciso efetuar a reparação e corrigir o próprio comportamento para
profundos e suas maiores esperanças. Quando condu(ram a observação do panorama que o erro não torne a acontecer.
emocional do cônjuge, dispunham de um novo entendimento e valorização múcuos. Só que é mais fácil falar sobre tudo isso do que fazer. Raros são aqueles docados
De posse dessa compreensão renovada, agora estavam em condições de reco- de habilidade emocional suficiente para pedir desculpas de maneira. sincera e trans-
nhecer o quanto haviam prejudicado o relacionamento com uma série de deslizes parente. É mais fácil deixar as desculpas de lado e procurar cvirar a repetição do erro.
prejudiciais que precisavam ser corrigidos. Só que essa atitude não é tão eficaz quanto um pedido de desculpas. Encrecanro as
Agora estavam prontos para aceitar a responsabilidade de sew atos. Com muita pessoas, na maioria das vezes, tt:lutam em admitir, até para si mesmas, que cometeram
dificuldade, admitiram seus erros e aceiwam as desculpas do ouuo. Foi di.tlcil 1 mas um erro. Se conseguem reconhecê-lo para si, cêm dificuldades em admiti-lo para os
trouxe-lhes profundo alívio, freqüentemente misturado com l~imas de alegria e outros. Há aqudes que pedem desculpas com &cqüência e desembaraço, mas nada
esperani;a. O amor havia reromado e o relacionamento safra fottalccido. fazem para mudar o próprio componamcnco; portanto, suas desculpas são inexpres-
Resumidamente, este ~ o m~todo uàlizado pelo programa. Abaixo apresento sivas. Assumir a responsabilidade por nossos atos e corrigir o próprio comportamento
cada uma das tr!s etapas do processo de treinamento mencionado ancerformentc. é a fase final do treinamento cm educação emocional.

60 61
~ .-

Um MétotÍIJ Energimnte Por Onde Começar


Talvez isso tudo esteja parecendo muito ea:enuanre. Você pode estar achando que
Seguem-se os três cs~os compostos cada um de quatro etapas do treinamento cm
esse mérodo wi deixá-lo exaurido, mas na verdade ele irá energizi-lo. Desperdiçamos
educação emocional. Esse conjunto de inrerações emocionalmente educadas está
um ,morme volwne de energia emocional quando a utifüa.mos para bloquear a
organiz.ado por ordem de dificuldade.
expressão de nossas emoções. Seja guardando para n6s um c~uma que nos ~nvergo-
nha, refreando nossos impulsos afetuosos para não nos senurmos constrangidos, ou Talvez você perceba que j.í possui algumas aptidões das três ou quauo primeiras
fases, preferindo começar pela quinta erapa. Ou talvez já esteja na fase 12, mas sinta
sufocando uma lembrança dolorosa, malbaratamos quantidades impressionantes de
necessidade de rever suas aptidões. Tudo bem. Mas você tem de entender todos os
energia quando reprimimos nossos sentimentos.
A cxpr~o desses sentimentos não apenas liberta nossas emoções em roda sua passos da Educação Emocional 11ntes de poder começar a praticá-la eficientemente.
Se não souber para onde está indo, será mais diRcil encontrar o próprio rumo.
plenitude, co~o Mi~m di:volve-nos a energia que desperdiçamos_ ao sufocá-las. E
permhir que o outto expresse suas emoções fu com que ele se aproXlme de nós~ ~os Os próximos csclgios e etapas desse método funcionam como um mapa da
poupa muiti. dor de cabeça e sofiimcnto. Por isso, aqueles que aprendem essas liçoes transformação emocional. Leia-os com atenção. Eles irão ajud.í-lo a perceber onde
você esteve, onde está e aonde irá.
relatam um ganho de energia sensacional.
Traca-se de uma perspectiva estimulante, mas não devemos lançar-nos às cegas. Escas são as erapas e estágios dos próximos capítulos:
A liberação dos sentimentos pode trazer complicações. As emoções podem desco_n·
crolar-sc e provocar atitudes impulsivas. Portanto, é n:ielhor avan~r de mane_ua
ordenada e prudmte. Mostrarei exatamente como fazer 1~0, por meio de exercícios Está.gi.o Um: Abrir o Coração
passo a passo bem detalhados. l) Dar carinho
2) Pedir carinho
Estratégias do Treinamento em Educação Emocional 3) Aceitar e rejeitar carinho
Se praticar as três estraregias emocionais deste livro -Abrir o Coração, Examinar o 4) Dar carinho a nós mesmos
Panorama Emocional e Assumir a Responsabilidade - você irá observar transfor-
mações radicais cm sua percepção, atitude e eficácia emocionais.
Voe! aprenderá especialmente: Estágio Dois: Examinar o Panorama Emodonal
• A reconhecer o que você deseja e o que sente; a ser verdadeiro com suas emoções; S) Fazer a afirmações de Ação/Sentimento
a buscar a satisfação de suas necessidades emocionais. 6) Aceitar uma afinnação de Ação/Sentimento
• A lidar criativamente com as próprias emoções; quando refrear e quando expressar n Revelar nossos palpites intuitivos
os sentimentos. 8) Confirmar um palpite intuitivo
• A mcarar o entorpecimento ou agitação emocionais e estabelecer contato com as
outras pessoas.
Estágio Três: Assumir a Responsabilidade
• A colocar cm prática seu conhecimento das emoções no trabalho, em casa, na escola,
em grupos sociais e "na vida", ampliando e aprofundando suas rdações e es- 9) Pedir desculpas por nossos erros
tabelecendo vínculos sinceros e duradouros com as pessoas. 10) Aceicar ou recwar pedidos de desculpas
• A exercitar uma visão do poder pessoal centtada no amor, numa. sociedade que 11) Pedir perdão
parece cada vrz mais dura e desumanizada. 12) Conceder ou negar perdão

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l
1
1'
1 RESUMO DO CAPÍTULO TRt.S
4
'1
Como Alcançar a Compreensão Emodona/.

EsTÁGIO UM:
Não é preciso passar a vida emocionalmente entorpecido ou tiranizado pdos
próprios impulsos. Num ambiente apropriado, com amigos, parenres ou tera- ABRIR o CORAÇÃO
peutas compreensivos, você poderá encontrar um novo eu emocional.
Você verá como a busca de um novo eu emocional pode ser empolgante
e satisfatória. O método irá energizá-lo à medida que for experimentando o
poder de suas emoções e deixando de desperdiçar energia para reprimi-las. Para
isso, você precisa praticar.
Abrir o Corllfáo. Com amigos compreensivos, você participa. de atividades
simples de troca de afeto.
Examinar o PanoraTnLl Emocional Você observa o fluxo de suas emoções
u~ CORAÇÃO ABERTO é o pilar da Educação Emocional e o requisito para a
pcluc:a efi~ dos dois estágios seguintes da Educação Emocional: examinar o pano-
e das emoções daqueles que o ecteam ouvindo de coração abeno e procurando
rama emocional e assumir a responsabilidade.
entendê-las.
Nesta etapa do treinamento, aplicamos aquilo que aprendi com o exerdcio
Asrumira &sporwb;/i&u/e. Vocêadmicequccomctcu grandes e pequenos
original do Centro da Carícia, isto é, o simples ato de trocar carícias positivas !~-nos
erros e magoou pessoas de suas rdações. Você pede desculpa e busca a reparação.
a cultivar e educar nossas aptidóes amorosas, além de permitir que nossos coraçóes se
abram. Por isso, o treinamento começa aqui; aprendendo a dar e receber afeto.

O Poder do Carinho

As pessoas interagem para obter carinho. Os carinhos podem ser físicos ou verbais.
Carfcias fisicas são qualquer forma de toque: abraços, beijos, afagos, tapinhas nas
cosras, ficar de mãos dadas, pegar no colo.
Caricias veroais são afümaçóes que reconhecem positivamente alguma caracte-
rlstica na outra pessoa. As carkias verbais podem dirigir-se à aparência, maneira de
vescir, inteligência, generosidade, criatividade, educação emocional, bondade, inte-
gridade, conduta ética, aptidões práticas, dignidade, capacidade de liderança, talento
artístico, sensibilidade ou perícia si:xual, honestidade, alegria, sabedoria prácica,
elegância, mo ou quaisquer outros atriburos que um indivíduo possua.
As característlcas passíveis de um comenclrio positivo nem sempre são óbvias
ou esperadas. Por aemplo, Jane pediu a David para dizer alguma coisa carinhosa
sobre algo que não fosse sua aparência. E ficou surpresa quando ele afirmou: "Invejo

64 65
sua capacidade de emocionar-se. Eu goswia de ter tanra cen:eza do que sinto quanto Por outro lado, temos carinhos negativos, os quais podem ser visivelmente
você. Gosto de suas emoções fones." nocivos, como no caso de insultos do ápo "por que você faz rudo crrador, ou suris
Jane tinha como cerro que sua tendência a chorar no cinema ou durante uma e prejudiciais, na forma de piadas.

discussão era irritante. Ficou surpresa (e satisfeita) quando descobriu que David Carinhos negativos podem ser extremamente prejudiciais para a psique. Tenho
admirava sua capacidade de demonstrar as próprias emoções. visto homens baixinhos que nunca se recuperaram das zombarias de que sua altura
Claro, nem sempre os carinhos são diretos ou verbalizados. Ouvir uma pessoa foi alvo na inBncia, embora tenham se tornado adultos de esrarura mediana. Freqüen-
com atenção ou dar a algu6n wn ramo de flores no final da semana também pode - cernente meninas altas tornam-se mulheres altas que andam curvadas apenas porque
constituir um carinho eficaz, um ..carinho cm açãon, se preferir. foram ridicularizadas pelos companheiros de escola.
Marcel e Ca.rrey são um bom e:xcm pio de como os carinhos em ação podem ser Às vezes os carinhos negativos podem vir disfarçados como elogios, quando
impon:antes. Marcel é um professor muito ocupado. T cm wna agenda de aulas lotada tomam por base a comparação entre duas pessoas.
e mu iro trabalho no comitê. Leva trabalho para fazer cm casa e esd. sempre atarefado. •. Por exemplo, a mãe de Jean sempre lhe dizia: "Você tem a beleza .da familia,
>
mas sua irmã Sara tem a inreligência."
Marcd não é muito bom cm dar carinhos verbais, mas Carrcy, sua mulher. aceitou
essa falha e o estilo devida ocupado do marido porque de é baseante eficiente nos carinhos Essa espécie de afirmação mostrou-se prejudicial para as duas meninas, que se
cm ação. Sempre que da precisa conversar com ele, Marcel deixa o trabalho de lado e a tomaram ressentidas não apenas com a mãe, por diz.er tal coisa, mas rambém wna com
ouve atentamente. Nos finais de semana. ele 1~ o café na cama e lhe dá pequenos a outra Demoraram um bom número de anos para perceber que as duas eram baniras e
intdigemes, e que a mãe as confundira negarivamei:i,re com seu dogio tortuoso.
prescnrcsdeswprcsa. Em resumo, está sempre moscrando seu afeto por meio de seus aros,
além dos carinhos fisicos que compartilham sempre quch.l tempo. Carrey gosraria de ter O urro exemplo de carinho que pode parecer posirivo, mas na verdade é nocivo,
convmas mais longas e desfrutar mais tempo com Marcel, mas ela lhe dá carinhos cm são as comparações do tipo, ºvocê é o mais sabido da famílian, Novamente, esse
carinho pode parecer adequado, mas na verdade é prejudicial, pois desconsidera os
ação com sua presença e apoiando-o em seu trabalho.
outros membros da família.
Ambos sentem-se bastante satisfeitos, embora troquem poucos cuinhos verbais
Às vezes aquele carinho que tanto desejamos pode ser tão incisivo que se torna
e renham pouco tempo para a intimidade.
desagradável. A av6 excessiva.menre afetuosa que sufoca os netos com seus beijos, ou
Todd e Louis, dois amigos de longa dara, são curro exemplo de carinhos quase
o cônjuge que nos cumula de atenções superiores a nossas necessidades constituem
que exclusivamente no nível da ação. Encontram-se regularmenre, falam sobre dois exemplos de carícias inadequadas.
esporres e carros, saem para pescar ou comar uma cerveja. O afeto e respeito mútuos
Finalmente, às vezes os carinhos podem ser insinceros; deveriam ser bons, mas
são indiscuáveis; no entanto, nunca trocam carinhos físicos, e os carinhos verbais
raramente é isso que aconrece.
limitam-se ao trabalho ou atividades cotidianas. Eles recebem o carinho de que
necessitam através da amii..a.de. Contudo, essa amizade maravilhosa poderia ser
ampliada se abrissem mais os corações e aprendessem a compartil.ha.r carinhos verba.is Contratempos no Centro da Carícia
e até mesmo ftsicos.
Os carinhos podem nriar na intensidade ou no ripo de reação que provocam. Nossa natureza biisica clama por carinhos em abundância.
AJguns são "supercarinhosn, pois são especialmente desejados. Quando era adoles- Infelizmente, nem sempre os carinhos fluem livremencc, mesmo entre aqudes
cente, por exemplo, ansiava ardentemente por ouvir elogios à minha aparência. que se amam. Deveria ser simples e agradável tanco dar como receber carícias. Mas
Demorei anos para fazer a pergunta, e fiquei agradavelmente surpreso ao ouvir a na maioria das vezes mostramo-nos desajeitados quando tentamos trocar carinho.
resposta. Um supercarinho é também um gesto que provém de uma pessoa especial, Um de meus clientes, Thomas, exemplificou essa problemática tão aflitiva. Ele
como par occmplo um professor muito respeitado, nosso cônjuge ou alguém por descobriu que, todas as vezes que tentava dizer palavras de amor à esposa, sua garganta
quem estejamos apaixonados. contrafa~se como se alguma mão invisível o estivesse sufocando.

66 67
Embora soubesse o que: queria dizer, literalmente: não conseguia fucr com que oca.si.ão, sugeri que experimentássemos um dos ªjogosn praticados naquela época por
as palavras saíssem. 0:.n:a vc:z., confrontado pela esposa, que lhe pergunrou: "Você me membros de uma organização para tratamenco de viciados em drogas. Nesse jogo, os
ama?", logrou arrancar as palavras à força de sua boca. Mas só foi capaz de balbuciar participames do grupo agrediam-se muruamente com críticas ferozes. Agiam assim
um grasnido dcsagradávd e praticamente inimeligfvd: "Ighh ghhluv ghuu." por acrediw que o caráter do dependente de drogas exigia esse ápo de abordagem
Fdizmenrc, a esposa tinha um grande senso de humor e, para alivio de Thomas, mais rude para que pudesse mudar. Entregamo-nos com prazer ao jogo, e os comen-
caiu na gargalha.da. tários desagradáveis-alguns supostamente de brincadeira - fluíram livremente.
"O quê~", ela exclamou. A experiência pernubou-me profundamente. Algumas coisas que foram ditas a
"Eu te amo, eu te amo", de replicou encabulado, reduzindo o impacto da meu respeito deixaram-me magoado, mas é claro que não revelei meu constran-
mensagem com wn tom de voz indiferente e constrangido. gimento aos oucros. Eu ficaria embaraçado demais se admitisse como aquilo me
Esse acmpl? cômico de um problema comwn mostra o medo e até mesmo a magoara, e como desejava a afeição e o respeito do grupo. O que fiz. foi propor que
dificuldade Hsica com que nos defrontamos quando temamos falar de nossas emoções na semana seguinte fizéssemos exatamente o contrário e disséssemos coisas positivas
amorosas. As pessoas usam todo tipo de subterfúgios. "Você sabe que eu reamo", e amorosas uns aos outros.
podem dizer. Ou: "Quancas vezes vou ter que repetir que te amo?". Ou: ~Eu estaria Todos concordaram. Mas na pr6xima ramiáo ninguém conseguiu pensar em nada
aqui se não re amasser. que pudesse diz.er. Acibamos conseguindo realizar o experimento, mas ficou claro que a
Vapor outra a expressão do semimento é empobrecida pelo com de voz - produção de carinhos positivos era difkil, enquanto os negativos fluíam com facilidade.
irônico, irri rado ou despre:zfvel: "Tá, meu bem, é claro que eu te amo". De rodo modo, Descobri que u pessoas sentiam-se inibidas não apenas ao dar carinho, mas
o carinho não foi sincero. Aquele que pronunciou as palavras evitou expressar a cambém ao pedi-lo ou mesmo reccb~lo. E demonstrar carinho por si pr6prias era
emoção cm toda sua plenitude e sinceridade. definitivamente um rabu.
Isso é tão comum porque poucos são os que se sentem verdadeiramente livres Diana, integranre de um grupo de ce.rapia, mosnou-mc isso com clareza. Uma
para amar sem restrições. Somos n6s que refreamos o dar, receberou aceiw carinhos. tarde percebi queda pareceu constrangida quando alguém do grupo lhefa um elogio.
f especialmente difícil demonstrar carinho por n6s mesmos. O que nos impede? Quesrionei seu embaraço.
"Quando Roberr disse que eu estava bonira", ela explicou, "r~ei que alguém
do grupo pudesse ~sar: 'Eu não acho'; que, se eu risse demais ou parecesse
A Economia. do Carinho emocionada, as pessoas poderiam pensar que eu era carente, patéricae digna de pena. n
Existem regras não-e;criras para os carinhos. Quando nós as infringimos, as pessoas Sugeri como experiência que da pedisse a Roberr para reperir o elogio.
lançam mão de censura ou mesmo hostilidade para impô-las. "Vou parecer tão patética e careme", ela insistiu, remexendo-se na cadeira.
Se você der um abraço carinhoso no seu amor numa rua movimentada, Emão, sugeri: por que não se dar o mesmo carinho? Diga a si mesma que você
provavelmenre algumas pessoas desviamo o olhar, constrangidas. Se trocar um beijo esrá bonita.
ou um carinho no 6nibus, possivelmente na expressão dos outros passageiros haverá A essa altura ela já estava com lágrimas nos olhos. Quando pezguntci por que
embaraço ou desaprovação. Se telefonar do trabalho para sua esposa ou marido e disser estava chorando, Diana admitiu que o elogio de Roben tinha moa do com da. Queria
"eu te amo", estará dando margem a comentários do colega ao lado. acreditar nele e agradecer-lhe, mas a possibilidade: de permitir-se parecer satisfeita
Enaecuito, essas proibições não provêm de: estranhos reprovadores, mas são assustava-a profundamente.
ra.mbém profundamente reforçadas pelo Pai Crfcico que ociste dentro de cada um de nós. Pedi-lhe para pensar por que estaria se sentindo assim. Depois de alguma reflexão,
Quais são essas leis não-escritas que regem a troca de carinhos? De onde vêm? ela lembrou que, tanto no primário como no ginásio, os alvos mais prováveis de zombaria
Tomei consciência da interdição ao carinho pela primeira va num dos encon- eram aqudas crianças impopulares que se mostravam mais satisfeitas consigo mesmas.
tros semanais com Eric Beme. Nessas reuniões, tentávamos diferences "experimentos Ver isso acontecer reperidas vezes fez com que ela passasse a sentir medo de
psicol6gicosn como forma de recreação depois de nosso encontro "ciendfico". Numa aceitar carinhos, especialmente algwn carinho que realmente: desejasse. Se aceitasse,

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poderia revdar a própria emoção publicamente e, na sua cabeça, iria fuzer um papd pcsicivos, as pessoas auromaticamenre abrem seus corações e experimentam sentimen-
ridículo. Diana não tinha dificuldade cm dar carinho, mas apresentava severas tos de amor que antes nunca haviam saboreado, e o efeito irá disseminar-se para a
inibições para aceitar, pedir ou dar-se carinho. família e os amigos. T cnho visro muita genre desenvolver suas aptidões amorosas
Infdizmenre, Diana não era o::ceção. Alguns de nós rejeitamos qualquer ripo de durante um certo período de rempo apenas dando, pedindo e accirando os carinhos
carinho que nos é ofm:cido. Muiros, como Thomas, cambém engasgam quando rentarn que desejam, rejeitando aqueles que não querem e dando carinho a si mesmas.
dar carinho. Todas essas ttaçõcs impedem nossa proximidade das ou eras pessoas. Começaremos pda primeira etapa: dar carinho.
Você já sentiu uma grande vontade de dizer a uma pessoa que a amava ou
apreciava e percebeu-se incapaz de fuê-lo? Ou já se pegou pensando se um amigo,
PRIMEIRA ETAPA
wn parcnre, um namorado ou um cônjuge realmente o amava e, caso a resposta fosse
sim, de que maneira e por que razões? Já pensou em perguntar diretamente à pessoa, ·' :"" -·'
~ "r• •

Dar Carinho
mas logo em seguida repudiou a idéia?
Tudo isso é resultado de nossa submissão às leis da economia de carinho. r
.
-1•,
-)_ _ _Como oferecer afumaç:óes sinceras de afeto
Nós scnâmos amor e vontade de dar carinho em diferentes níveis- a demonstração sutil
Ar Leis da Economi4 de Carinho de carinho pelo filho de um vizinho, a afeição por um velho amigo, o anseio de unir-se
A Economia de Carinho é um conjunto de regras impostas por nosso Pai Crítico, ao .ser amado. Encrecanto, demasiadas vezes esses sencimcntos não são demonsmdos.
aquda voz. crítica que temos dentro de nós e que nos impede de dar e receber carinhos Mas, antes de você começar a dar carinho, quero explicar as regras básicas de
positivos. As leis segundo as quais o Pai Crítico quer que viv.a..mos são as seguintes: todos os cxercfcios de educação emocional que serão apresentados nesre livro.
• Não dê os carinhos que quer oferecer. • Pedir permissão. Respeitar os limires e os sentimenros das ourras pessoas.
• Não peça os carinhos que deseja. • Ser sincero. A honestidade é um requisito básico da Educação Emocional.
• Não aceite os carinhos que deseja. • Enfrentar seu Pai Crírico.
• Não rejeice os carinhos que não deseja.
• Não dê carinho a si próprio. Pedir Pennissáo
Qualquer comunicação emocional pode constituir uma experiência intensa.
Por Que as Pessoas Aceitam Carinhos Negativos No creinamento em educação emocional, não é incomum ver pessoas chorando
Quando as pessoas obedecem as ordens da economia do carinho, a quantidade de quando recebem um carinho profundamente desejado, quando lhe fuem detenni-
carícias trocadas sofre uma redução subsrancial. As pessoas rornam•se famintas de nada pergunta ou quando recebem um pedido de desculpas necessário.
carinho. Um dos efeitos colaterais importames e prejudiciais é que os indivíduos Mas outras razóes, além da reação emocional imensa, exigem um pedido de
começam a aceitar ou até mesmo a buscar as carícias negativas porque não conseguem pennissão ao outro para falar sobre carinhos ou quaisquer outros tópicos emocionais:
obter as positivas. Assim como pessoas morrendo de fome ou de sede comerao • avisar que um comunicado diRcil vai ser feiro;
alimentos podres e beberão água poluída, elas também aceitarão carinhos negativos
• dar à pessoa a oporrunidade de preparar-se para ouvir;
quando não conseguirem os positivos.
Uma das descobenas mais importantes que fü ao longo dos 20 anos em que • dar à pessoa a escolha de rratar do assumo naquele momenro ou não (ralve:z: ela
venho ensinando a educação emocional é que, ao infringirem sistematicamente as leis esteja com uma dor de cabeça lancinante, ou renha uma prova importante na manhã
da economia de carinho, e serem submetidas a uma dieta constante de carinhos seguinte).

70 71
Seguindo csca abordagem, estamos assegurando um solo ~.n:il para nossas Embora possa parecer estranho pedir permis-são para fucr qualquer espécie de
declarações, possibilitando a elaboração de rcsposras produtivas. afirmativa emocional, com o rempo a· pratica. ici removendo essa csoanheza Até que esse
Pedindo permissão sempre que vamos iniciar uma interação emocional, evitamos rirual aparentemente singular será como que uma segunda natureza. Você se tornará
que o oucro sofra um choque, mostre--se dcfenstvo, sinca medo ou até mesmo raiva emocionalmente educa.do o su6cienre para identificar as ocasiões que ocigem uma
-· ·~·
' '_
permissão formal e aquelas nas quais Vtlcê simplesmente pode ir em fi-cnrc e dar carinho.
O mais importanre, contudo, é que o receptor cenha verdadeiramente uma
escolha. Precisamos csrar preparados para aceiw que ctlvei aqude não seja o momento
mais adequado para nossa declaração e, nesre caso, estar dispostos a C'Sperar por uma
oportunidade melhor. Ser Sincero
Se formos com calma e moderação, estaremos preparando a nós mesmos e a
Ao longo deste livro o cerna da sinceridade surgirá várias vezes. A Educa.ção Emocional
oucra pessoa para a reação emocional intensa que poderá ocorrer.
não pode desenvolver-se verdadeiramente num ambiente de menciras ou desones-
Isto é feito da forma mais dementar. Sempre que estiver planejando dar carinho
cid.adesucil. Seas pessoas quiserem sentir confiança umas nasoums, o que é necessário
ou abordar uma questão de cunho emocional, o outro sempre deve ser preparado
através de um pedido de permissão.
para alcançar as aptidões que ensino aqui, elas rcrão de assumir um compromisso com
a sinceridade e honescidade (ver Noras aos Filósofos e Verdades e Mentiras). Dar
É bom dar uma idéia do que se pretende dizer, com um comenrário do tipo:
carinho é a primeira oporrunidade de praticar o principio da sinceridade.
"Posso fular de uma coisa que gosto em você?", ou: "Eu gostaria de comentar uma
sensação que tive enquanro conversávamos ouuo clian, ou: "Quero te pedir desculpas Um carinho tem de ser sincero, não artificial. Tudo o mais poderá tornar-se
por uma coisa que eu disse ainda agora." confuso e contraproducente.
Outras formas de pedir permissão: Nossas aptidões intuitivas desenvolvem-se à medida que nossos corações v.ão se
abrindo. Nossa intuição se confunde quando recebe um carinho que é oferecido como
• uPosso contar o que mais gosto em você?"
se fosse honesto e sincero, mas que na verdade produz uma sensação de falsidade e
• "Esrou com uma sensação que cem me preocupado ulcimamenre. Posso te dizer o artificialidade.
que é?" Quando decidimos dar um carinho, devemos estar seguros de que ele é
• "Está acontecendo uma coisa encre n6s e não esrou gostando. Você está in tcressada autêntico. Para alguns a sinceridade é fácil porque sabem como se senrem verdadei-
em saber o que é?" ramente. Para outros, é al que o aprendizado tem início.
Educação Emocional exige coragem, ca experiência pode afigurar-se demasiado Por exemplo, Daphne desde muito cedo aprendeu que era importante ser
assustadora. Comece com perguntas mais simples: ~Posso te dizer uma coisa?", agradável e dizer coisas agradáveis às pessoas.
seguidas de um pequeno dogio, e vá avançando gradualmente. À medida que for se Depois de anos dizendo coisas agradáveis sem jamais 1~ em conta a verdade
sentindo melhor e mais à voncade, você perceberá que as situações inrimidadoras e daquilo que expressava, Daphnc não sabia mais o que realmente sentia pelas pessoas
aparentemente insolúveis serão cada vez mais raras; você saberá mostrar-se à altura ou de que gostava ou deixa.va de gasear nelas. Por isso, ela precisa concentrar-se para
das siruações e dizer o que for necessário. tomar consciência de seus verdadeiros sentimentos.
Muims temem que esses preâmbulos sejam embaraçosos. Isto acontece porque Vez por outra, quando está sendo verdadeira consigo mesma, da percebe que
aquilo que precisa ser feito é fora do eomum, pode parecer aminarural e alvo de não tem nada de lisonjeiro para dizer. Quando isso acontece, Daphne não consegue
zombaria. O diálogo emocional pode ser descartado como tagarelice psicológica ou expressar honestamente um carinho verbal. Nestas ocasiões, seu Pai Cdtico faz com
ridicularizado por pessoas que não se sentem muito à vontade com as próprias que se sinta muito culpada, e ela retorna aos valores com os quais foi educada,
emoções. invenrando um carinho, seja de sincero ou não. Agindo assim, Daphne se esquece de
No encmto, esses mérodos são importantes para produzir as mudanças que que simplesmente ouvir alguém, tocá-lo !~emente ou sorrir também pode consti cuir
estamos tenrando efetuar. um carinho; um carinho em ação, como expliquei.

72 73
O que da precisa fuzer é manter-se firme, enrrar em simonia com o que escl Depois de tanto esforço para fazer um carinho sincero, Mdanie acabou magoada
sentindo e rcsisrir aos resmungas de seu Pai Crfcico, que fica insistindo: uD iga alguma e decepcionada. Mais tarde, pensando a respeiro, da percebru que o carinho fora
coisa agradávd, idiota!"_ Se não for verdadeira consigo mesma, Daphnc não padeci abrupto, sem nenhum pedido de permissão. Talvez Jandle não estivesse à vontade
sê-lo com os oucros. E as pessoas sabem quando ela não está dizendo a verdade. com a própria aparência e não tenha acra:litado nos elogios.
Ela decide que da próxima vez pedirá permissão.
Na ocasião seguinre, depois que Jandle contou uma piada muito engraçada,
Enfrentar seu Paí Critico Mdanie disse, ainda rindo: "Sabe de uma coisar.
uoquê?"
O maior problema quando vamos dar carinho é nosso Pai Crítico, que pode agir como "Posso di7.er uma coisa que gosto em voá!?"
um carcereiro emocional, apresentando-nos mensagens desanimadoras que nos im- "Tudo bem", diz Janelle, sem muita ênfase..
pedem de enrrar em comato com nossas verdadeiras emoções. Eis algwnas mensagens "Gosto· muito de seu senso de humor. Pdo menos ainda poderemos rir juntas
que nosso Pai Critico sussurra ou esbraveja para impedir-nos de dar carinho: pelo rdefone depois que você se mudar."
• Se a outra pessoa não quiser o carinho, farei papel de bobo. Janelle sorriu, parecendo um pouco triste. Finalmente Melanie havia encontra-
do um carinho que Janelle era capaz de retribuir.
• O meu carinho é inadequado, mal fonnulado e desajeicado. Se falar, vou parecer
Encorajada por seu succs..so, Mdanie dirige-se a Janelle.
um idiota..
"Posso falar mais uma coisa? Sabe, você é como uma irmá para mim; vou sentir
• Isso vai parecer uma cantada.. muitas saudades suas!"
• De qualquer maneira parecerá uma ddicadeza falsa, enúo para que correr o risco? Agora Janelle não sabe o que dizer. Sorri nervosamente, depois fica séria,
promete telefonar rao logo chegue a Nova Iorque.
• Alguém poderá pensar que esrou carente ou louco para fazer amigos.
Mais uma vez Mdan ie fica decepcionada. O que saíra errado? Será que J anelle
• Se eu me emocionar demais, deixarei todos constrangidos e vou ficar rranscornado. sentia-se culpada por ir embora? Será que despedidas emotivas a deixavam cons-
Por exemplo: uSe eu disser à minha irmã que semi muiro sua falta, calvez comece a trangida? Melanie decide comprar um carrão para Jandle, onde escreve;
chorar. Af ela vai ficar embaraçada e eu também, e ambos vamos nos sentir como
dois idiotas. O melhor é dizer apenas: 'Que bom rever!' e deixar por isso mesmo." Querid4 Ja~lk,
Sendo descem idos e confiantes, nos empenhamos em progressiva baralha contra
Ontem .à noite tive a imprmiio tÚ qia a deixá embaraçada quantkJ falei que
nosso Pai Crkico. você era como uma irmii para mim e que vou sentir saudades. Não ui bem
como recebeu o qia eu disse, 11l4J para mim o mau important~ l qia saibt1.
À medida que percebemos como nossos carinhos são valorizados, começamos
como SUtl. companhia sempre foi agradduel e como voc2 ! engraçada e inteli-
a receber carinhos em troca e saciamos nossa profunda fome de carinho. Compreen-
gente. Desejo-Ou tudo de bom em seu tuwo '4r.
demos como na verdade as regras da Economia de Carinho são equivocadas. Quando
isso acontece, a voz do Pai Cri rico vai perdendo gradualmenre seu poder de nos inibir. Para satisfação de Melan ie. Janellc mandou-lhe um cartão-posral duas semanas
Por exemplo, Melanie é tímida quando se trata de dar carinho, e gosraria de ser depois:
mais generosa. Ela quer ser mais carinhosa com sua amiga] anelle, que está se mudando
para Nova Iorque.. Q~ridtz MeltJnie,
Ela diz a Jandle que seu novo corte de cabelo está maravilhoso. "Você acertou, &cebi seu azrtão adordvtl Também tt amo. Muito oa1pada. Não vamos
cone sempre assim!", sugere Mdanie entusiasmada. Para sua surpresa, Jandle solta perder o tonta/o.
uma risada nervosa e não diz palavra. "Falando sério, ficou perfeiro para você", Sua: irmã nout1.-iorquina.,
acrescenra Melanie. Nenhuma reação. · fanei/e

74 75
Av:mçando passo a passo, aprendendo a pedir permissão e usando em seguida adivinhar se vêem em nós essas qualidades positivas. Simplesmente nunca pergunta-
a comunicação cscrira par.a dar a si mesma e a Janelle urna pausa par.a tomarem fôlego mos. Obedecemos de tal maneira ao Pai Crítico que a idéia sequer nos ocorre. Mas
e vencccem o acanhamento, Mdanie foi aprofundando gradualmente o conhecimento hi momentos em que precisamos pedir carinho. Nesse ponto temos de decidir o que
da uoca de carinhos. Melanie foi deixando de lado o medo e o constrangimento pedir e a quem.
iniciais, evoluindo pouco a pouco, desde as mais simples até as mais profundas É mais arriscado pedir do que dar carinho.
exprcssóes da emoção amorosa e positiva. Nunca estamos complcramenre seguros de que vamos receber os carinhos que
Com o tempo, tanto da quanto Janelle adquiriram uma liberdade maior no queremos. Talva o outro não seja realmente capaz de nos dizer aquilo que gostaríamos
intercâmbio do afeto. Isto s6 aconteceu porque Melanie decidiu que queria ser de ouvir. Portanto, é mais arrisca.do pedir um carinho especifico (''Você acha que eu
carinhosa com Jandle, e não se deixou dissuadir por seu Pai Crítico nem pela canto bem?n ou "Me dá um abraçot') do que qualquer forma de carinho que a pessoa
incapacidade inicial de Janelle de receber carinho. possa dar, seja flsico ou verbal.
Com a pclcica, as coisas vão-se tomando mais fáceis. Comece aos pouquinhos O perigo dessa última forma é recebermos um carinho indesejado. A verdade é
e vi avançando gradualmente.
que na grande maioria dos casos, quando pedimos, podemos receber o que queremos.
Por exemplo:
A Poesia dos Carinhos "Oi, Daphne. O meu dia hoje está péssimo. Fico constrangida em dizer isso,
mas escou realmente precisando de um apoio moral para minha escrira. Você tem
Uma caricia deve ser wn poema de amor. ÃsvC"ZCS breve e úmida, ou dara e livremente algum carinho para me dar?" Normalmente esse ripo de diálogo é complicado,
apressa. Uma palavra ou um longo parágrafo, mas sempn: do fundo do coração, tornando-se quase imposslvd porque as pessoas esperam que a outra minta por
sempre auspiciosa e sincera. Mesmo se for um carinho em ação, sem palavras ou conesia. Por isso é táo importante ter bons amigos ou um namorado ou cônjuge,
contato Rsico, a carícia funciona porque é um ato de gcncrosidade e amor que alguém que seja sincero e delicado. O passo mais importante rumo ti. Educação
estendemos a outra pessoa. Se quisermos abrir nossos coraç:ões, teremos de examinar Emocional é encomrar alguém para compartilhar esse aprendizado.
noss-as vidas e nos perguntar quanw vezes ao dia realmente cumprimos essa função Quando encontra uma pessoa interessada no diálogo afetuoso e cordial, você
básica da natureza humana: expressar amor de maneira quase im pcrcepdvel, apaixo-
tem meios de dizer coisas do tipo:
nadamenre ou num nfvel intermediário, seja no seio de nossa f.unflia, no trabalho ou
"Acabei de comprar essa calç:a. Você gosta? Fico bem com da?"
na rua. E se descobrimos, como é rio comum, que estamos privando outras pessoas
de nosso amor, reremos de fuer algo sobre isso e seguir em frente concra rodas as Ou:
dificuldades. "Escrevi uma carca par.a o editor do jornal. Você quer ler e me dizer se gostou?"
Ou:
"Acabei de cer uma conversa difícil com meu filho adolescente. Não sei se estou
SEGUNDA ETAPA
sendo bom pai. Você pode me dar algum apoio para minha qualidade de pai?"
Pedir Carinho Ou:
"Olhei-me ao espelho hoje de manhã e percebi novas rugas no meu rosto. Tenho
Requisitando os carinhos de que necessitamos receio de estar ficando velho e feio. Pode me dizer algo cm meu rosto que você
aprecia?"
É bom receber carinho, mas às vezes eles não escão disponíveis ou, se es[ão, não são
aqueles que queremos. Ou:
Podemos passar anos esperando, silenciosa e timidamente, para saber se aqueles "Estou me sentindo muico sozinho nesta festa. Todo mundo escá se divertindo.
que nos cercam nos consideram intel igenres, criativos, bonitos ou atraentes. T entarnos Você quer dançar comigo?"

76 77
• Mesmo que ela nos conheça, remos alguma coisa obscura e secreta que torna o
TERCEIRA ETAPA
carinho imerecido.
Acei-tar e Iõifeitar Carinhos • O dogio é tão-somente uma tentativa de moscrar educação ou um esforço generoso
para que nos sintamos melhor.
Aceitando carinhos que desejamos • Outta pessoa é mais merecedora de carinho, portamo, não temos o direito de
e rejeitando aqueles que não queremos accicá-lo.
Todos precisamos de carinho, assim como precisamos de alimenco. Quando ficamos • Acciw elogios indica falta de modéscia e vaidade.
sedemos de carinho, as coisas podem se complicar. É possívd que nos tomemos • Ficaremos conso::mgidos se aceitarmos o carinho.
confusos a respeito dos carinhos a receber ou rejeitar. • ~emos nos.sos sentimentos publicamen1e e deixaremos os ourros embaraça-
Podemos nos tornar sedentos de carinho simplesmente porque não estamos
dos.
recebendo nenhum que seja signiAcativo. Mas com freqüência somos carentes de
• Aceitamos carinhos com demasiada facilidade, somos carentes e sedemos de afeto,
carinho porque nos recusamos a aceitar aqueles que estão disponíveis. Talvez es-
portanto, excessivamente ansiosos para merecermos dogios.
tejamos sendo muito exigentes com os afetos que desejamos e recusando todos os
outros, ou quem sabe estamos desenvolvendo uma espécie de anorexia por carinho,
tornando-nos voluntariamente famintos de afeto. Finahnente, calvez nos ofereçam EstuM de Caso: Aceitação
cuinhos tóxicos, mas que parecem atraentes.
Num de meus workhop1 de treinamento, depois de explicar a economia de carinho
·Com todas essas complicações, é grande a probabilidade de rejeitarmos todos
e definir as regras básicas (nada de jogos de poder, imposições ou mentiras), convidei
ou a maioria dos carinhos que recebemos, mesmo se forem positivos e necessários.
os participantes a irem em frente e violarem as leis da Economia de Carinho.
Podemos ter uma dessas acirudes:
Seguiu-se um silêncio pensativo. Após um período de troca de carinhos, Alma
• Agradecemos mas damos de ombros e descartamos o carinho com um sorriso; pbs-se a aplicar como se sentia livre para dar carinho, mas não para receber. Perguntei
• Retribuímos prontunente com outro carinho, não nos permitindo assimilar o se ela queria dar um jeito nisso. Timidamente da assentiu e perguntei o queda queria
elogio recebido ("Obrigado, eu cambém adorei os seus sapatos."); fazer. ''Eu gostaria de f.u.er um carinho em todos que esmo aqui", disse.
Afirmei que isso seria muito bom, mas calvez fosse um tanto fácil demais. Que
• Podemos aré mesmo contestar o carinho e menosprezá-lo ("Imagine, foi f:icil salva.
ral pedir a rodo mundo para lhe dar carinho~ A idéia deixou-a confusa, e ela recusou
a sua vida, qualquer um reria feito o mesmo.").
sacudindo a cabeça.
Y-ta de regra a rejeição de um carinho acontece internamente, embora aparen- "Bem, nesse caso, e se uma única pessoa fizer um carinho cm você?"
temcnre estejamos aceitando. Anna pensou um pouco e concordou: ºEstá bemn, disse.
Nesses Cl50S, frcqüentemcnrca n:jeição se roma clara graças a gcsros e atitudes flsiClS "Creio que você deve pedir", sugeri. Foi bastante diRcil, mas finalmenre da disse
reveladores. Dar de ombros, dcmonsaar trisrC'la no olhar, sacudir a cabeça, lançar um ao grupo: "Eu gostaria que alguém me desse carinho."
olhar de dúvida ou pq>lexidade, ou dar um sorriso nervoso. T odes são sinais e.iccemos Valety ofereceu-se animadamente.
de que estamos fingindo aceitar o carinho. Conrudo, internamente, o que de f.uo estamos "Que bom que pediu, posso lhe faz.c.r um dogiot
ouvindo é nosso Pai Crítico dizendo que não devemos acolher esse afcco. "Tudo bem", disscAnna.
Quando alguém afirma que somos atraentes, cnrusiasmados, espertos, profun- "Eu já 1e conheço há alguns anos, e o que mais aprecio em você é sua meiguice
dos, divertidos, emocionados, compassivos, Cêlfismáricos ou despreocupados e joviais, e amorosidade."
nosso Pai Cdcico nos im~e de desfrutar o dogio ao insistir que: O rosto de Anna anuviou-se. "Obrigada", respondeu.
Percebi que o elogio não havia funcionado.
• Essa pessoa não nos conhece1 portanto, não pode ser levada a sério.

79
78
uAnna, posso fazer uma pergunta? Você recebeu esse carinho?", indaguei. ReJeitar Gzrinhos Indesejáveis
Ela pensou um pouco e disse que não. Exp~cou que, ao ouvir o dogio, cambérn
escutou seu Pai Crítico dizendo: "Ela não te conhece de verdade. Essa meiguice é O exemplo mais óbvio são os carinhos sexuais por pane de alguém em quem não
fingida, sempre se mostrando carinhosa e nunca sendo você mesma." escames interessados. A maioria das mulhemi pode confirmar como é diflcil rejeiw-
,,
Volrei-me para Valery e perguntei se ela concordava que não conhecia Anna. ,l' • - _; avanços sexuais indcsejbeis. Uma mulher pode sencir-se 'incapaz de recusar um
; .... .
~
Valeiy respondeu: comencário de cunho sexual por considerar uma indelicadeu. pedir à pessoa que pare.
"Sei que às vezes da não é franca, mas a An na é tremendamente amorosa, efuso Aprender a rejeitar carinhos indesejáveis constitui uma aptidão valiosa -devemos
eu tenho o:ncza. n interromper o carinho indesejável para c:viw uma situação ainda mais constra11gedora
Virei•me para Anna e indaguei se ela acreditava em Valery. Ela fez que sim. ou incômoda.
"Sabe de uma coisa, Anna?" Anna fitou-me com curiosidade. "Acho que, para AMm d.isso, quando adultos ou crianças mais velhas sujeitam crianças ou
consertaras coisas, você deve pedir desculpas a VaJcry. Ela lhe fez um elogio sincero adolescentes a carícias sexuais, são inegáveis os prejuízos acarretados por esses contacos.
e você preferiu dar ouvidos ao seu Pai Crítico e rejeitar o carinho. Quer fazer isso e Curiosidade e carência de atenção podem levar a criança a aparentemente
pedir a da para repetir o elogio?" concordar com as carícias sexuais, que mais tarde irão revdar•se emocionalmenre
Anna concordou. Desculpou-se e volrou a pedir um carinho. Desta vez ela nocivas. Quando conversamos com as crianças sobre abusos sexuais, na verdade
ouviu, sorriu sarisfeita e, enrubescendo, respirou fundo. esramos ensinando como rejeitar carinhos prejudiciais e, se necessário, escapar de (e
Sem dúvida Anna ha'lia ultrapassado uma grande barreira, e todos escavam denunciar) aJguém que não accica um "nãon como resposca.
contentes.
H;S. outros carinhos indesejáveis que são menos óbvios do que os citados acima.
Quando oferecemos um carinho e temos a impressão de que não foi rocalrnena: Não são contatos ameaçadores, mas sim carícias que parecem nos tomar limitados.
aceito, é importante verificar, "Você ouviu o que eu disse? Você aceita? Você acredita
Por exemplo, wna bela mulher pode acabar cansando-se de ouvir dogios à sua
em mim?"
beleza. Quando lhe fazem esse carinho, talvez. ela se sinta Iim irada, como se isso fosse
"Parece que você não recebeu muito bem o meu elogio, não foi?"
tudo o que as pessoas conseguem perceber nda. Se concluir que o afero alheio toma
Pode afigurar-se tremendarnenre dilkiI fazer com que alguém receba um como base tão-somente a sua beleza, sempre terá de fuer o papd da mulher bonica.
carinho sincero, mas vale a pena o esforço. Dar um carinho que é rejeitado ou
Na verdade, ela pode esar ansiosa para que prestem atenção em suas idéias, em
desprezado pode conscicuir uma experiência constrangedora e decepcionante para
seu trabalho ou em sua inregridade. Com o ucinarnento cm educação emocional, ela
ambos os lados; portanto, é no mínimo sensato insistir:
aprenderia a explicar:
• ..Por f.i.vor, accire o elogio. Estou sendo sincero."
uDesculpe, mas ultimamence tenho percebido que você s6 dogia minha apa-
• "Você não gostou do que eu disse~ Por quê~ Existe alguma outra maneira de rência. Acho que estou sentindo meus outros auiburos negligenciados. Por exemplo,
expressar issot eu queria muito que você me parabeni235Se pda promoção que recebi no trabalho.
Lembre-se que vez por outra os carinhos são como água numa planta ressequida. Mas sei que você não quis me ofender nem decepcionar. Será que, em vez. de elogiar
A prindpio a:igua permanece nasuperBciec nada pareccacontccer1 até que finalmente minha apar!ncia, vod: poderia me dar outro cipo de carinho?n
ela é absorvida pela terra e nutre a planta. Ocasionalmenre pode ser necessário até Da mesma maneira, um homem trabalhador que t sempre dogiado por sua
mesmo regar a planra repetidas vezes para que o efeito poss-a ser sentido. diligência profissional e responsabilidade poderá cansar-se desse tipo de elogio.
Por isso é imponanre observar as pessoas ao receberem o seu carinho. Pelo Quem sabe ele goswia de rer um pouco mais de divenimento, mas acha que
comporcamento delas você pode dizer se o carinho esc:i sendo absorvido ou rejeirado. só é valorizado por sua disposição para o trabalho. Ou calvez possua outros talemos
Um suspiro profundo ou uma expressão de contentamenro são o melhor sinal de que ou qualidades admir.1.veis q uc parecem passar despercebidos, tais como seu jeito com
o carinho foi ouvido e, o que é mais importance, aceito. os filhos.

80 81
Quando as pessoas começam a ressenrir-se com um carinho que habirnalmente Por isso é cada vez. mais importante ensinar a clistinção entre os carinhos que
recebem, de modo geral isso significa que acreditam que devem represemar sempre o queremos e que nos são benéficos e aqudes que são negativos e devem ser rejeicados.
mesmo velho papel para serem apreciadas. f; importante ouvir aremamcnte alguém
que nos pede um carinho difcreme, valorizando sua honesridadc.
É claro que rejeitar um carinho indesejávd pode ser embaraçoso e trazer até QUARTA ETAPA
mesmo prejuízos para o relacionamento. Afinal de contas, quando alguém lhe faz wn
dogio sincero, espera ouvir pelo menos um "obrigado". Dar Carinho a Nós Mesmos
Nesses casos, é imporrance declinar o carinho com ddicadcza. Explique de
coração aberto o porquê e diga o que você preferiria ouvir, pedindo o carinho que Ampliando nossa confiança por meio do amor-próprio saudável
realmente deseja.
Embora não ex.isca um verdadeiro substinno para os carinhos que recebemos de outras
pessoas, saber dar carinho a si mesmo constitui uma aptidão fundamental que pode
• J: -
Separandc, oJoio do Trigo ser tremendamente útil quando nos vemos numa situação difkil e longe de pessoas
que nos dariam carinho.
O mais difícil nessa iniciariva é separar os carinhos que desejamos daqueles que não
Na grande maioria das vezes, somos condicionados a considerar os "rapinhas
queremos, e distinguir os carinhos que são bons para nós daquelc.s que podem ser
nas costas" que damos a nós mesmos como fu.lca de modéscia e vaidad~, ou quem sabe
noovos.
como carência, rolice e humilhação.
Quando remos a impressão de que não queremos determinado carinho, preci-
samos nos fu.er a seguinte pergunta: ªEstou rejcicando esse carinho porque é desagra- Nao há nada de constrangedor em dar carinho a si próprio, mesmo que você
dável para mim ou será que se trata de um carinho perfei tameme válido que meu Pai não esteja grandemente necessicado dele. Talvez você cenha algumas qualidades que
Crítico não quer me pcrmicir?". os outros ainda não conhecem. Ou talvez as pessoas que o cercam estejam sendo
sovinas em suas demorurrações de carinho e você precise de mais do que está
Se concluímos que o carinho oferecido é bom e nós o desejamos, precisamos ir
recebendo.
contra nosso Pai Critico e aceitá-lo. Se resolvemos que é negativo ou redundante,
devemos rejeitá-lo. Nesses casos, é perfeitamente correto dar carinho a si mesmo.
Uhimamenre está surgindo um movimento coletivo para ajudar as pessoas a Por exemplo, depois que todos devoraram a bela refeição que Colin havia
rejeitar carinhos que não quercn. É uma evolução bastante positiva que procege preparado, ele correu os olhos pela mesa e perguntou: "E a!, gosrar.un?" _
príncipalmence mulheres e crianças dos prejuízos ocasionados pelos carinhos in- Todos assentiram animadarnemc, mas não se estenderam nwna resposci. ma.is
desejlivei.s. especifica
O lado negativo desse movimento é que erigimos barreiras adiciona.is comra Um canto decepcionado com a falta de elogios, Colin observou:
codo tipo de carinho. As pessoas receiam que carinhos sinceros sejam mal incerprera- "Bem, se voces me perguntassem, cu diria que o fumgo estava muiro 5uculenco
dos e elas sejam consideradas estúpidas ou, cm alguns casos, o simples aw de pegar e o arroz, bem temperado e solrinho. Dei duro para que saísse assim. Estou vendo que
no colo uma criança chorando ou mamar-se simpático com o colega de trabalho vocês rodos goscaram, e estou muito sacisfeito.~
possa ser considerado abuso sexual. "Você escá aborrecido com a gente? Nós gostamos mesmo, de verdade. Eu sei
Essa recente fobia ao carinho coma-se mais evidente no modo como aqueles que gosret, disse Carrie, preocupada se Colin os estaria repreendendo pelas reações
que trabalham com crianças escão se privando de demonsrrar-lhe.s qualquer afeto ,• insossas.
Rsico, por mais inofensivo que seja. O medo de alguma acusação contribui gran- "Não, não, eu só escava me congratulando um pouquinho pelo bom trabalho
demente para o entorpecimento emocional dos indivfduos e para o aumento da que fiz", ele declarou. Os outros sorriram aprovadoramente, contentes com o am~
alienação social e da depressão. biente relaxado e franco.

82 83
1 CombatetUÚJ o Pai Critico RESUMO DO CAPÍTULO QUATRO
Temos especial ~ecessidade de dar carinho a nós mesmos como uma mane~ de
1 neutralizar os carinhos negativos que recebemos de nosso Pai Crícico, que nos diz que Abrir o Cora;ão
somos esrúpidos, maus, dementes, feios ou fracassados. Para isto precisamos saber
como reagir aos seus ataques. Iniciamos este exercício porque o Coração é a sede das emoções. Abrimos nossos
Se O seu Pai Critico disser que você é obruso, irresponsávd e não é confiável, corações e fonalecemos nossosvfnculos com as pessoas dando e recebendo carinho.
será preciso ser capaz de dizer a si mesmo algo assim: "Eu sou esperto e eficiente. Todos necessitamos de carinhos positivos. Existem carinhos Rsicos, como
Considerando-se que renho dois filhos bem aacados em casa, sei que sou digno de abraços e beijos; carinhos verbais, como dogios à nossa aparência, inccligência,
confiança. Orgulho-me porque sou capaz, seguro e honesto." . generosidade, imegridade ou aptidão; e carinhos cm ação, rais como mosuar-sc
Se o seu Pai Crícico afirmar que vocé é gordo, feio e fracassado, você prema ser atento, prestativo, afetuoso ou mostrar empatia.
capaz de dizer: "Tudo bem, não tenho a bdeza de um moddo. Mas r~ho um cori::o A Economia de Carinho é um conjunto de regras que nos impede de dar e
legal e saudável, e as mulheres dizem que eu sou arraencc. Gosto da minha aparência pedir carinhos, de aceitar os carinhos que ,quermios e rejeitar aqudes que não
e tenho cena.a de que vou conhecer a pessoa cena para mim." desejamos. Ela cambém impossibilita o ato de dar carinho a nós mesmos. O
Esse udiálogo interno" posirivo é chamado de "Pai Nutriente" na Análise resultado ~ que nos tornamos sedentos de carinho e disposcos a aceitar qualquer
Transacional. coisa que pudermos obcer.
Algumas pessoas são capazes de manter um alicerce de compaixão por si mesmas,
Libertando-nos das leis da Economia de Carinho, nos comamos livres para
não obstante a crírica e o escárnio de seus companheiros e de seus Pais Críticos. Esse
trocar amor e satisf.ucr nossa necessidade de carinho. Para isso, precisa.mos ir contra
amor-próprio saudávd sugere um núcleo de confiança firmemcnre estabelecido que
o Pai Crícico dentro de nós, que impõe as regras da Economia de Carinho e que
é SUStentado pelo Pai Nutriente.
i ncerfere em todas as tentativas de alcançar a E.ducaçã.o Emocional.
Aprendemos a dar às pessoas os carinhos que elas querem. Pedimos o carinho
que desejamos. Aprendemos a aceitar ou rejeitar caricias. Para isso, temos de
perceber se queremos ou não aquele carinho que nos é oferecido.
Quando rejeitamos um carinho, devemos ter certeza de que realmente nao
o queremos. É difldl rejeitar um carinho quando estamos muito carcnces. Por isso,
precisamos aprender a pedir e aceitar os carinhos que queremos. Isto nos mantém
alimentados, e assim não nos vemos tentados a aceiw os carinhos tóxicos.
Devemos rejeitar os carinhos tóxicos, mas, quando nosso Pai Crítico nos
impede de aceirar um carinho que desejamos, devemos desafiar essa proibição.
Finalmente, aprendemos a desenvolver nosso Pai Nuuience e proporcionar
carinho a n6s mesmos, de maneira a consttuir nossa autoconfiança.

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Voâ l voc2, e eu sou eu.
5 E .se por aa:tJo ,ws mcontramw, ! lindo.
Se não, nada hd a four.

Creio que, com este poema, Perls estava tentando ajudar as pessoas a libera-
ESTÁGIO Dois: rem-se das aigências excessivas e culpabilizantes que costumam fazer a si mesmas e
aos omros. Conrudo, o que ele escreveu vulgarizou-se como um chamado à irres-
EXAMINAR O PANORAMA EMOCIONAI. ponsabilidade emocional, sw-renrando, fundamentalmente, a convicção de que não
somos responsáveis pdos sentimentos alheios.
A crença equivocada de que não podemos fuzer o outro sentir ~ o ponto alco da
ignorância emocional. Alguns anos atrás, as implicaçóes equivocadas do poema de
Perls deixaram-me rão pernubado que escrevi minha pr6pria resposta:

Se eu faço minhas coisas e voâ foz a..r mtJS


E 1c não esramo1 nate mundo para vivermos de acordo com nossas expectatiuas
PooEMOS QUESTIONAR A NATUREZA e o propósito de nossas emoçóes, e Nós poderemos viver, mar o mundo não irá 1obrroíua.
até mesmo se das são nossas aliadas ou nossas inimigas. Contudo, a existência das Você ! você, e eu sou eu, e junto1,
emoções é indiscuóvd. Dam:ÚJ-nos as mãos, e náo por a.caso,
As emoções influenciam-nos a cada minuro do dia, estejamos n6s conscientes Nós seremos lindos uns para os outros.
disto ou não. Se niio, não poderanoJ ser ajudmks.
Muiros de nós nos tomamos iruens[veis, e ou aos, excessivamente sensíveis às nossas
O que eu estava tentando dizer aqui é evidente para a maioria dos indivíduos
emoções. Podemos remê-las ou mostrar-nos demasiado ansiosos para acolhê-las.
sensíveis. Nós somos responsáveis pelo ourro. Na seara das emoções, realmente
Nossa maneira de tomar consciência das nossas próprias emoções e das alheias
podemos evocá-las mutuamente, portanto, de modo geral somos responsáveis pelos
é o rema desce capítulo. Vamos aprender a reconhecer, delimitar e percorrer o
sentimentos alheios.
rerrit6rio emocional.
Entretamo, há quem discorde tennipantemente. Duranre uma palescra em que
De ordinário, as causas de nossas emoçóes são obscurns. T cndemos a conside-
estava apresentando minha opinião sobre o rema, um homem pôs-se de pé e
rá-las irracionais, o que é um erro grave. Todas as nossas emoções rêm uma causa
interrompeu-me..
definida, e em geral relacionam-se com o comporcarnenro de alguém. Precisaremos
"Discordo completamente de você", ele aclamou. ~Voei. não pode_me fuzcr
enrender essas razões se quisermos nos tomar emocionalmente educados.
sentir, a menos que eu pennita.n
Nas duas ú[cimas décadas, uma venenre popular da psicologia fez-nos crer que
Até hoje fico constrangido ao reconhecer que mordi a isca. Simulando raiva,
não podemos provocar sentimemos nas outras pessoas. Taivcz esse conceirn inexato
lancei-lhe um olhar fulminan[e e exclamei: u.Esre ~ o maior disparate que já ouvi!
pareça ter-se consolidado quando o psicólogo Fricz Perls escreveu sua Orarão da
Sente-se!"
Gatalt, poema que costuma ser recitado em milhares de worhhops de potencial
Aturdido com a minha reação, o homem ficou rubro e sentou-se. De onde eu
h.um'3Ilo no mundo ocidental.
me encontrava, ele pareceu assustado e muico triste.
Eu faço minhas coisa..r, vod faz as JUAS. "Agora posso lhe fazer uma pergunta?", indaguei. "O que está sencindo neste
Não e1tou nare muruk para viva de acordo com mas expectativas momento?"
E você não está ntste mun&, para viver~ acordo com as mínha..r. "Nada", de insistiu.

86 87
1

.1
!

Sua resposta deixou-me perplexo. Não havia a menor dúvida de que de estava A afirmativa de açãolsenrimc:nco é wna descrição de uma só frase das emoções
perturbado, no emamo ele ceimava cm dizer que não. V o Irei-me para o resto da platéia que sentimos como resultado da ação de outra pessoa. A versão simplificada dessa
e perguntei: "E vocês? Alguém sentiu alguma coisa?" atitude é a seguinte:
Várias mãos ergueram-se. Uma a uma, as pessoas externaram seus sentimentos. "Quando você age, eu sinto uma emoção.º
Eu havia deixado algumas ddas zaogadas. Oucras c.ttavam constrangidas, e outras 'J
- Muito simples, não é? Essa afirmativa tem como objetivo dizer ao outro o que
ainda sentiam-se apreensivas. Embota minha violação agressiva da 6:ica tivesse sido você sentiu como conseqüência de seu comportamento. Ela também ajuda a evitar
desconfortávd, eu havia comprovado meu ponro de vista. Várias pessoas tinham sido que se coloque a culpa no outro ou que este se ponha na defensiva, eximindo-se de
levadas a sentir suas emoções graças à minha reação simuJada ¼q uele homem. quaisquer julgamentos ou acusaçóes.
Sem dúvida, se as pessoas podem ser levadas a sentir medo, raiva, vergonha e Uma afi rmadva de ação/sencimento simplesmente declara que a ação de alguém
outras emoções negadvas, cert:unenre podem ser estimuladas a desfiuw as emoções resultou num sentimento incontesclvel em outra pessoa.
de alegria, amor, orgulho e esperança. Em última análise, isto é educação emocional .'.•,.

na prácica: dar às pessoas as ferramenras ciue lhes permitam passar da insensibilidade


emocional ou do caos assustador para uma existência emocionalmcnre equilibrada, Estudo de Caso: Ação/Sentimento
positi~ e centrada no coração.
· Neste estágio do creinamcmo, exploramos a consciência emocional, que é o John e Mary escão conversando ao telefone; de repente Mary desliga. John fica
entendimento de como as emoções nos influenciam coddianamence. Examinaremos contrariado com essa atitude inesperada e, no dia seguinte, cdefona para Mary para
aquilo que nós senámos e aquilo que os outros sentem, com que intensidade e por lhe dizer como se sentiu com seu componamento. Ele pergunta se pode faiaJ" uma
quê. A finalidade desra etapa é deixar-nos à vontade e bem situados no "panorama coisa que o esrá preocupando e da concorda cm ouvi-lo:
emocionaln. Veremos os seguintes tópicos: "Quando você quis desligar o telefone ontem ¼ noite, a principio eu fiquei
• A rdação emre os sentimentos de uma determinada pessoa e seus atos; furioso e depois uisce."
Supondo-se que Mary possa concordar que interrompeu o diálogo ao telefone
• A relação entre os aros de uma pessoa e os sencimentos de outra.
abrupramente, ela enrendecl a mágoa e a raiva que John sentiu como resultado de
Estes dois tópicos referem-se ao fato de que as atitudes e os sentimentos estão
seus atos. Esra afirmativa de ação/sendmento foi bem-mc.edida, pois forneceu a Mary
intimamente relacionados enrre si e não podem existir separadamente. Nossos atos
informações sobre o sentimento de John, depois que da desligou_
podem provocar senrimentos naqueles que nos cercam, o que, por sua vez, pode
Talvez essa meta pareça insignificante, mas é fundamental para o aprendizado
levá-los a agir de forma a produzir senrimentos em nós e assim por diante. Este ciclo
da Educação Emocional. E também foi um sucesso porque assim John pôde expressar
de senrimemos e atos pode ser positivo e construcivo, ou destrmivo e maligno.
seus sentimenros sem magoar ou agredir Mary.
Analisaremos a relação existente: entre as atitudes e os sentimentos na próxima etapa.
No treinamento· em Educação Emocional, nenhum episódio emocional é
insignificante demais para não ser levado a sério. Invariavelmente, são esses incidentes
QUINTA ETAPA aparentemente triviais que revdarn, quando examinados, qucscóes emocionais pro-
fundas - inseguranças pessoais ou constantes desnlveis num relacionamento.
Afinnativas de Ação/Sentimenw Uma afirmativa de açãolsemimento simples mosrra que determinada atirude
resultou num sentimento especffico. Trocas de ação/sentimento serão uemcndamen-
Enconttando uma maneira de falar dos pr6prios sentimentos
te esclarecedoras em qualquer conflito emocional.
sem fazer julgamentos, acusações ou teorias
Isto porque as afirmativas de ação/sentimento constituem um meio de dissecar
Vou apresentar-lhes uma nova ferramenra, que servirá como um método para explorar um conflito emocional, pomo por ponto. O que é feito separando-se wn conflito em
a relação enm: acirudes e sentimencos: a afirmativa de ação/sentimento. dois elementos: o que aconteceu e como você se sentiu.

88 89
Não ~ cão fácil pan:ilhar afirmativas de ação/scncimento quanto possa parecer. sente. Se quiser saber como os outros estão se sentindo, você terá de pergunw para
E1TOs são comuns. P~r exemplo, confundir ação e motivação e confundir pensamentos cer certeza.
e semimencos.
Muiras discussões originam-se desse ripo de falsa suposição. Por exemplo:
Confundir Afio e Motivação.Ao (cnwdcscrever uma ação, pode-se ir aMm. de wna Francis acha que seu marido não eira os olhos do crabalho enquanto ela está falando
afirmaciw simples. como por exemplo: ~rque não está interessado no que ela tem a dizer. Na.verdade, ele está interessado;
0 problema é que ele está r:enr:ando ler e ouvir a esposa ao mesmo tempo. O que na
• "Quando você desligou o telefone";
maioria das vezes não dá muito ceno. A verdade é que, se ele divide a atenção dessa
• qQuando você chegou wde"; maneira, da acabará ficando triste e muito zangada.
• "Quando você me inccrrompeun; Uma ouaa versão mais sutil dessa confusão entre sentimento e pensamenm são as
afirmações do tipo: "Quando você interrompeu nossa conversa, eu me senti rcjcicado."
eaaescencar um juJgamento ou incerpreração daatirude que csdsendo dC"Serita,
por exemplo: Isto cam~m é um erro, pois sentir-se rcjeica.do não é uma emoção mas,
novamenre, uma hipótese para a motivação do outro. Não dá urna id~a ao interlo-
• "Quando você desligou na minha cara de maneira tão grosseird';
cutor de como você está se sentindo. Você ficou zangado? Triste! Constrangido~
• "Quando vod mt: humilhou atrasando-se"; Envergonhado? Estes são senrimenros. Sentir-se rejeitado, não.
• "Quando você demostrou pouco easo por minha opinião, inrerrompendo-mc." Quando diz que se sentiu rejeitado, na verdade você está afirmando que a outra
&cu idéias fornecem uma cearia para a moàv:11,ão do oucro (intenção de humilhar
pessoa o rejeitou, uma ceoria sobre a motivação alheia· que pode estar incorreta.
ou dC$C0ruideração), cm vez de constinúl'Cm uma simples dcsai9W de um ato. Todos os equívocos apontados acima implicam colocar a culpa no outro ou
Explicações como essas confundem as coisas. Via de regra são incorrew e invaria- tcncar ler seu pcnsamenco. Uma coisa impom.nte que as afirmativas de ação/senti-
vclmeme produum culpa, raiva e oucros scnamentos explosivos e desnecessários. mento nos ensinam é ater-nos aos faros e parar de imaginar que somos capazes de ler
o pensamenco das oucras pessoas.
É melhor guardar cais pormenores para depois, quando lhe pedirem para
expressar suas intuiçóes. Por enquanto estamos tracando da relação entre as atitudes Simplifique a afümaciva de ação/sentimento: o que aconceceu e como você se
de uma pessoa e os sentimentos de outra. sentiu.
As opiniões variam quando se traia de uma Iisca definiriva das emoções primárias
Confundir Sentimentos e Pensamentos. Outro erro que pode ocorrer numa básicas. Felizmente temos uma boa id~a de que a raiva, o medo, a tristeza, a vergonha
afirmativa de ação/sentimento é a confusão entre sentimento e pensamento. e o ódio são emoções nega.âvas primárias, enquanto o amor, o orgulho e a alegria são
Quando tentamos expressar um sentimento, com freqüencia o que rcalmcnrc emoçócs positivas prirmrias. Ciúme. culpa, inveja, desesperança e esperança são
expressamos é um pensamento. Por exemplo: "Quando você interrompeu nossa combinações secundárias das emoções básicas. Falando a respeito, devemos tentar
conversa, eu achei que você a111va zanglllÍa: ou: uQuando você inrerrompeu nossa decompô-las cm suas partes primárias. Por exemplo: se Sam está se sentindo culpado,
conversa, achei que você não atava inter~sstltÍa naquilo que cu tinha a dizer." talva seja bom ele se dar conta de que sua culpa compõe-se de vergonha e medo.
Aqui não se trata. absolutamente de sentimentos. Assim como as intcrprctàções D ária poderia explicar suas emoções de inveja com mais: clareza se pudesse especificar
que analisamos acima, na verdade são suposições sobre o que está se passando na que as emoções primárias são raiva, tristeza e medo.
cabeça do outro. Educação tem a ver com linguagem, e confundir um sentimento Por outro lado, se alguém se diz humilhado, abatido, rejeitado, insultado ou
com uma idéia, um pensamento ou uma teoria~ um erro basl:mrc comum que amado, por exemplo, dcfiniâvamentc não se trata de emoções, mas sim de afirmativas
precisamos cvicar. sobre aquilo que os outros lhe fazem. Precisam ser reavaliadas, e a reação emocional
Para produzir uma boa afirmativa de ação/sencimenco, é preciso concentrar-se oculca deve ser descoberta e revdada.
no que vochstá sentindo e não no que desconfia ou supõe que o outro emi pensando O sexo é uma emoção~ E a fome ou a sede~ O que dizer do sofrimento
ou senrindo. porque esta é a única coisa que você pode saber com certe2a: como se psicológico e elas emoções feridas? Acé o momento não sei ao certo. Fica a questão.

90 91
.. '•'
1

1 O que não deve nos impedir de perseverar na busca da Educação Emocional, Mas funciona. Isso cria um clima favorávd à c:xp.rc.ssão emocional e racional.
'll afirmando ações e sentimentos da maneira. mais clara possfvd . Arrefece os ânimos cxalrados, dá às pessoas a oportunidade de expressar essas emoções
.. 1
f:: . de uma maneira que dificilmente acarrecar.i algum outro ttanscorno, e esrabelcce os
~
fundamentos de um diálogo emocional produtivo e seguro. Além de mostrarmos às
Extraindo uma Afirmativa de Arão/Sentimento pessoas como elas são importantes para nós - como nós as ouvimos e valorizamos o
suficiente para ccrmos uma interação sincera. E.ssa atitude informa a topografia
Ãs vezes i preciso ajudar o ouao a esclarecer como se sente dianrc de uma atitude sua. emocional do oucro, tornado mais fácil a relação do fururo.
Par.a isto, você cerá de ignomr julgamentos e acusações e &ciliw a adaptação do que
está sendo dito aos moldes da ação/sentimento. J! espccialmence importa.me ouvir
atenca e innr.itivamente se quiser entender os sentimentos alheios. SEXTA ETAPA
No cxem pio de Mary e John, wmos supor que John disse o seguinte: "Quando
você desligou de maneira tão grosseira ontem, eu achei que você não escava nem um Aceitando umA Afirmativa de Afáo/Sentimento
pouco interessada cm mim."
_Para extrair uma afirmativa de ação/sentimento viávd desse comenrário, Ma[)' Desenvolvendo a aceitação não-defensiva da informação emocional
poderia responder assim: "Espera aí, vamos ver se eu entendi direiro. Você está dizendo que está sendo oferecida
que ontem, quando eu interrompi nossa conversa, o que me lembro de ter feito, você
sentiu algo, mas não sei o que é. Você ficou zangado?" Para ser eficienre, uma comunicação emocionalmente educada deve ser bem n:cebida
depois que é enviada.
..Não, eu adiei que você estava sendo indelicada."
No momento em que você se torna o receptor de uma afirmativa de ação/sen-
..Está bem, sua opinião é que eu fui indelicada, mas escl disposto a me dizer
timento, a atitude emocionalmente educa.da consiste em presrar bastante atenção nas
como você se sentiu? Estou inrcressada cm saber como você se sentiu naqude
momento." emoçóes que estão sendo descric:as e na atitude que lhes deu origem.
Isso pode ser muito diflcil. O maior problema é quando nos dizem que talvez
"Não sei. Achei que você não gostava de mim."
tenhamos cometido um erro ou que fizemos alguém se sentir mal, e nós reagimos
"Bom, você ainda não disse como se senciu.''
com cuJpa e defcnsiva.mencc. Nosso primeiro impulso é negar, explicar, justificar ou
"O que você quer dizerr
acé mesmo pedir desculpas. Contudo, quero reiterar como é imponanre simplesmente
"Estou reorando saber qual foi o sentimento, a emoção que você senriu. Qual absorver a informaç:io dada: as emoções que sew atos provocaram em outra pessoa.
foi o sentimento que o fe1. pensar que cu não gosto de você? Você ficou magoado?" O impomnte não ~ saber o quanto você errou ao agir daquda maneira, mas
"Um pouco. Para falar a verdade, fiquei muito magoado, sim. AI comecei a como o outro se sentiu a panirdasua atitude. Tampouco~ imponamepedirdescuJpas
• 1 • ...

scnar muita raiva. prontamente ou explicar por que você fez. o que fC?. Cumpre entender a relação entre
"Tudo bem, agora já sei o que queria saber. Voce ficou magoado e zanga.do." sua atirudc e o que o ouuo sentiu. Lembre.se, estamos interessados em verificar de
A essa altura, caro lcicor, você pode estar pensando: "As pessoas não rêm esse que maneira nos af~tamos emocionalmente, e não em assumir a responsabilidade ou
tipo de diilogo na vida real. Talvez falem assim lá na Califórnia, mas não nos lugares a culpa. ~ importante assumir a responsabifülade, mas isto vem depois de adquirirmos
que conheço. Não estou disposto a conversar dessa maneira. Eu ficaria terrivdmenre entendimento mútuo sulicicnte para pedirmos desculpas e fuzermos rcparaçóes
constrangido." significativas e eficazes.
Esta é uma boa afirmativa de ação/sentimento. "Quando f.tlo de maneira Muy, ainda wando o exemplo acima, talvez já saiba que o fim abrupto da
emocionalmente educada, sinto-me constrangido." conversa ao telefune deixou John zangado e magoado, ou ralve:z. fique slll'presa. Ela
Reconheço o problema e só posso concordar com você!. As _pessoas não cos· poderá enrendcr por que de está se sentindo assim, ou poderá ficar intrigada. Seja
rumam ter esse tipo de diá.logo, e às vezes é embaraçoso e bastanre diRcil. como for, rudo o que da precisa no momento é receber a informaçã.o e aceitá-la, o

92 93
que poderá ser feico por meio de um movimenro de cabeça ou, melhor ainda, dizendo: Ela foi até~ armário de bebidas, preparou um bebida suave e volrou calmamente
"Eu esrou ouvindon ou "Entendi que você se sentiu magoado e depois ungado paraosoB..
quando pus fun à conversa", ou simplesmente: "Não entendo." furava passando uma comédia na TV, e Marianne ficou de pé ao lado do sofá,
Agindo assim, Mary toma conhecimento das reações emocionais de John a assistindo enquanto esperava Nick voltar para que pudessem começar a ver o filme.
diferentes tipos de situações e dá a de a oportunidade de abandonar seu sentimento Nesse meio rempo, ele havia decidido guardar alguns papéis enquanto a aguardava.
negativo. Inicia-se aí o processo de diilogo emocional, no qual os sentimentos são Enoneamente, concluíra que Marianne queria terminar seu drinque antes do início
adequadamente reconhecidos. do filme. Ergueu os olhos e viu-a rindo com a comédia de situação que csrava passando
Não é fácil aceitar uma afirmativa de açáo/sentimento. O perigo é que o receptor na TV, enquanto a bebida permanecia praticamente mtaeta.
de uma afumaciva de açáo/sentimemo coloque-se na defensiva, cspecialmeme se ela "Quando você vai ficar pronta?", perguntou irritado.
for mal formulada.
"Eu já estou prontan, da respondeu surpresa.
• "Achei que você tinha acabado de fular; por isso quis desligarn;
"Como assim? Eu é que estou esperando."
• "Indelicada? O que há de tão indelicado em terminar uma conversa? Você é que "Estou bem aqui esperando por você. n
estava sendo grosseiro, falando sem parar sobre seus problemasn;
"Você nem tocou no drinque."
• "Zangado? .É muiro atrevimento seu ficar zangado. Eu é que deveria ficar zangada "É, mas qual o problema?" E1a escava confusa.
por estar perdendo meu tempon;
"Você não quer rerminar seu drinque antes de começarmos?
• "Magoado? Ora, deixe de melindres".
"Não, qu~o ir bebericando durante o filme."
Cada uma dessas reações representa wna negação defensiva dos senrimenros de "Tudo bem, só não entendo por que demorou tanto", ele falou, impaciente,
John. São respostas como essas que impedem um diálogo emocionalmente educado. iniciando o filme.
De ordinário, elas são ocasionadas pela raiva, mas podem ser igualmente uma maneira
Esra forma de imeraçáo havia se tomado corriqueira entre eles. Marianne
de rejeitar alguém de quem não queremos nos ocupar.
pressionou os Mbios tristemente. Com &eqüência sentia que ela assumia a culpa dos
Se Mary estiver se sentindo mal interpretada, culpada ou zangada, ela poderá
pequenos conflitos do casal, o que a deixava bastante desgostosa. Decidiu pôr um fim
falar sobre isso mais tarde. No momento impon.am os sentimentos de John e não os
a essa situação com uma afirmativa de ação/senrimento; não queria começara noitada
de Mary-. .É uma questão de r~ezamento. Nesse ponto é relevante que Mary reconheça
romântica scntindo•se caluniada e ressentida.
os sentimentos de John quando ela quis desligar. Depois ela poderá &lar sobre como
está se scncindo. "Nick, desculpe, mas preciso convel3ar um pouquinho com você anres de
Com muita freqüência esse procedimenlo exige saber calar e ter paciência. começarmos a ver o filme". Ele a fitou consternado, mas concordou. Marianne foi
Lembre-se de que o silêncio pode tranqüilizar os ânimos em diálogos emocionalmente em &ente: "Quando você falou comigo ainda agora naquele tom de voz, eu me senti
exaltados. Mais importan re ainda, essa~ a coisa mais certa a fu.cr quando um amigo muito mal. Fiquei muito chateada."
ou namorado esrá emocionalmenre affito. Por quê? Porque assim de pode deixar a "Qual foi o tom?", pergwuou Nick, pois já havia escucido a mesma reclamação
angústia de lado e a empaâa tem a oportunidade de aflorar. de amigos e familiares antes.
"Bem, você parecia muito aborrecido,"
"Bom, isso é verdade, cu fiquei aborreddo.n Ele pensou por alguns segundos.
Estudo de Caso: Aceitação
Por fim, falou: "Agora estou entendendo o que acomeccu. Quando eu &lei com você
Vejamos um exemplo: certa noire Marianne e Nick decidiram assisdr a um vídeo naqude tom irrir.ado, você se senciu mal". Fitou-a hem nos olhos e pe~tou: "Não
romãncico juntos. Nick já ia colocar a fita quando Marianne interrompeu-o. foi isso?" Ela assentiu. "Desculpe", disse ele, ªrenho que melhorar esse rom de voz
"Espera um minuto", disse ela. "Quero servir um drinqu~" impaciente. Assim está melhor?"

94 95
Marianne sorriu satisfeita por um momento. "Me dá um beijo?" Esperara Vejamos o exemplo de marido e mulher que estão fazendo compras num
ansiosamente pda noice, e sentia-se basr:ance contrariada - magoada e receosa - supermercado:
ame a possibilidade de tudo dar errado. Esposa (vendo uma caixa com seis cervejas no carrinho): "Nao sabia que íamos
Pda primeira vez desde que haviam iniciado a conve~a de parou de inclinar-se comprar cerveja."
impacientemente sobre o vfdeo, abraçou-a pela cintura e lhe deu um longo beijo. Traca-se de uma pergunta do Adulto ou de uma expressão de censura parental?
·'t
As sugestões acima pn:tendem apresentar afirmatlvas de ação/sencimenco. Mas Marido (respondendo): "Ah, vamos sim!n
sem dúvida não podemos ir muito longe sem lidar com nossas desconfianças com Trata-se da confirmação do Aduko à pergunta do Adulto de sua esposa ou da
relação às motiv:ições e intenções das pessoas. A próxima etapa do diálogo emocio- rebeldia da Criança?
nalmente educado irá abordar exatamente em: tópico. Como saber qual o estado do ego envolvido neste diálogo? Para isso é preciso
war a intuição.
No·ssa inruiç:ão é bastante úcil para f:w:r uma estimativa inicial sempre que
SÉTIMA ETAPA "cscivermos no arn com rdaç:ão às emoções ou intenções de alguém. Qu.ando estão
em dúvida, cientistas, detetives e analisw de mercado lançam mão de suas intuições
Revelando Nossos Palpites Intui'tivos
p:m. orientar seus aros. Contudo, o que determina bons resultados é a verificação
Como fazer um "teste de realidade" tomando como base minuciosa de seus pressentimencos iniciais. Um detetive queadivinha que o mordomo
a intuição das inten~ões ou atitudes de outra pessoa é o culpado não pode fazer a prisão sem provas. Um cientista que segue cegamente
seus palpites sem confinná-los com certeza encontrará o fracasso no final. Da mesma
A utilização de nossas aptidões intuitivas cem uma função absolutamente essenciaJ no maneira, para fazer uso de sua intuição, primeiro você cem de checar seu palpite antes
creinamenro em educação emocional. -·· de comar qualquer adrude.
A intuição é sua ferramenta emocional mais eficiente. Com da você pode fuzer . No caso do casal lâzcndo compras, use sua inruição e pergunre a si mesmo como
::.:: .,
descobenas importantes quando nem todos os fatos eséío disponfveis. soou esse diálogo. Trata-se de um intercâmbio Adulro--?Aduko ou Pai--?Filho? O mais
Ames de criar a Análise Transacional, Eric Berne demonsrrou profundo interes- prov:ivd é que você acerte, mas isco não basca. Evidências devem ser reunidas objeciva-
se pela intuição. Segundo Berne, foi a inruíção que lhe revelou a Criança "imerna" meme. T alvcz seja melhor continuar a observar, a fim de obter mais infonnações.
que está por trás da maioria dos nossos atos. .., .. Vejamos a resposta da esposa .
De modo geral, costumamos pensar que aquilo que dizemos provém de nosso Esposa: "Ah! (sorrindo) Tudo bem!" Sua resposta parece indicar que ela aceita
-
-, .
.:..=--.L.
a explicação do marido como uma reação Adulta para uma questão Adulcr..
Adulto_ Numa fesca, podemos agir como uma criança e reconhecer isto alegremente.
Ou, quando repreendemos uma criança chorona, podemos ser paternalistas sem ter Não tocaram mais no assumo e prosseguiram com as compras.Trata-se de uma
que dar satisfações por isso. Contudo, na grande maioria das situações, preferimos interação Adulro-Adulto? Prowvelmcnte, mas ralvCl. não. Se você os seguisse até em
acreditar gue estamos falando com as pessoas de maneira racional e lógica; isco é, com casa e fosse uma mosquinha na parede, as coisas acabariam tomando-se dar.is. Ele
base em nosso estado de ego Adulto. bebe as seis cervejas ances do jantar? Ela tem um ataque ou fica uemendamente
Para nós é diflcil admicir que calvez nosso discurso seja irracional como o de mal-humorada? Ou juntos tomam uma cerveja com hambúrguer e terminam as seis
uma Criança, ou que nossa reação seja dícada pelo preconceito, como um Pai punitivo. cervejas ao longo das duas setmnas· seguintes?
Mas o fato é que grande parte de nossas falas e atos provém de estados do ego que não Ao analisarmos interações como esca, devemos ter o cuidado de não chegar a
são o do Adulco. conclusões precipitadas.
Se conseguimos dissimular para nós mesmos o escado do ego em que csramos, Raramente a intuição está complecamenre cerca ou errada. Para descobrirmos
não é de admirar que às vezes possamos ser enganados - ou pelo menos confundidos
., . se nossas intuições estão corretas I! necess.l:rio coteji-las constantemente com a
- pelas atitudes que observamos nos outros. realidade.
i
96 97

~. -·
Como se Sentem as Outras Pessoas? Quando Jane põe-se a descrever quanto rempo e atenção o pau-ão dedica a Bcth,
Mc:gan fica e.em de que seu paJpitc, um cerro ciúme de Beth, está cerro.
Em nosso dia-a-d.ia, estamos sempre tenrando_entender o comportamento 90 outro. "Parece que você se sente rejeitada e espoliada por Beth porque da recebe mais
Quando nossa comunicação com as pessoas nao é adequada (o que é bastante atenção do que você," Megan observa.
comwn), somos forçados a adivinhar o que o outro está pensando, utilizando todo "Não, de: jeito nenhum", insiste Jane. "Há muitos anos eu me senci um pouco
cipo de informação d.isponívd. assim. Só estou preocupada com o comportamento dda, acho que ela está se
Visto que não costumamos pcrgunrar às pessoas por que esrão agindo de indispondo com muita gente."
determinada maneira, provavelmente não obteriamas uma resposta conflávd mesmo "Mas da é tão querida", objeta Megan.
se pergumásscmos. Quando queremos saber por que as pessoas estão agindo de "Do jeito como Beth está agindo, não sei quanto tempo isso vai durar", declara
determinada maneira, somos obrigados a confiar amplamcn te cm nossa intuição. Mas Jane.
o uso de algo tão vago como a intuição nem sempre fu com que nossas suposições "Mas acho que as coisas de que você esti falando não são cio desrespeitosas, são
sejam convenientes ou válidas. Elas devem ser cuidadosamente verificadas e alteradas apenas um sinal de auro--afirmaçio", diz Megan. "Tem ccneza de que não é o
para que possam corresponder ao que realmente está se passando. ressentimenco que cscá influenciando sua capacidade críricz?", indaga com o máximo
Como cm grande pane os acontecimentos de nossas vidas emocionais tendem de delicadeza.
a ser obscuros e negativos, nossas intuições sobre as pessoas via de regra são paranóidcs. "Não, não, de jeiro nenhum", exclama Jane.
Conrudo, isto não as torna completamente incorretas. Megan vê-se num beco sem saída. Sua intuição está lhe dando rodos os sinais,
Essas inruiçõcs negativas por si s6s e sem fundamento na realidade podem mas Jane insiste em dizer que não guarda ressencimentos.
transformar-se no que chamo de fantasias paranóides. São fancasias porque: são O resultado é que a empatia de Megan pda aflição de Jane é cada vez. menor.
produto de um.a mente exa.lrada, e paranóides porque constituem o:ageros incorretos A experiência de ver sua in rui ção desprezada é tão dcsagradávd que ela se sente incapaz
de uma partícula de verdade. de relacionar-se emocionalmente com a amiga. Põe-se a olhar o rdógio, ansiosa para
Não cscou falando aqui das ilusões perseanórias que fazem da paranóia uma mudar de assunco. Nesse exemplo, perceber que sua in ruição não foi levada cm conta
forma de loucura. O tipo de paranóia a que esrou me referindo tem como origem fez com que Megan se retraísse emocionalmence.
uma percepção ampliada mais desrorcida que é gerada por nossa intuição.
Temos consciência das muitas coisas que nunca são ditas, ou que são desprezadas
e negadas pelas oucras pessoas. Se não n:velarmos nossas intuiçócs, reremos de
1 Quando sentimos algo que é negado, temos duas opções: ou esquecemos o que
quer que renha arrafdo a atenção de nossa inruição ou insistimos em nossa idéia.
Se continuamos a receber negativas e repúdios a nossas intuições, o esforço para
adivinhar as mori.v.ações do outro~ A menos que sejam verificadas, essas inruições descobrir o que escl se passando pode fuc:r com que nos distanciemos tremendamen ce
poderão transformar-se em fanrasias paranóides e redundar cm rcssencimenros não- do alvo, sobretudo se tivermos uma imaginação fértil.
d.itos, capazes de destruir os rdacionamemos. Por isso é imporiante trazer à luz nossas Por exemplo, vamos voltar ao malfadado rdefonema de John e Maxy. Quando
intuições para que stjam verificadas. Mary desliga abrupcunentc, a intuição de John cn rra em ação e segue num crescendo:
• Mary está insatisfeita;
Estudo de Caso: Intuição em Ação • Mary está insarisfeira comigo;
• Mary e.stá zangada comigo;
Jane está aborrecida com sua colega de trabalho, Beth. Ela tem-se queixado a Megan
que não compreende a atitude de Bech. Esta lhe parece mimada e capaz de muito • Mary me odeia.
pouco respeito pdos oucros. John põe-se a buscar a raú.o para Mary odiá-lo. Conversa com Sandra, a melhor
Megan gosta de Beth e cscl. desconfiada que, por rrás das queixas de Jane, amiga de Mary, que levanta a hipótese absurda de que as atitudes scxistas de John
esconde-se alguma rivalidade. estariam incomodando Mary.

98 99
"Então é isso!n, John conclui num derradeiro surto de paranóia. "Mary me odeia Então Don na ligou para de, nervosa. Craig contou que estava deprimido porque não
porque acha que sou um porco chauvinisra.r se sente capaz de encon crar trabalho. Ela engoliu cm seco e tocou no assunto remido:
Enquanro isso, Mary não tem a menor idéia do que está se passando. Embora "Tenho observado que você deixou de telefonar; fiquei pensando se você estaria
renha sido brusca com John, o que da estava era cansada e ansiosa, aguardando um constrangido de ligar para mim aqu.i em meu novo apartamento com Jusàn."
ouuo tdefoncma. Ela realmente havia ficado um pouco aborrecida com John. mas
não porque de esci~ se mostrando chauvinista. Ao contrário, tinha se irritado
porque de não parava de falar dos problemas com sua amiga Anne.
l
1
1
ªAh, não, de jciro nenhum.n Craig apressou-se cm responder, aparentando
sinceridade.
'Tem certeza? Talvez. seja esquisito para você fãlar com Juscin pela primeira ve:z.
,1
Assim, de cc.na forma a inruição de John estava correta, como geralmente ; por rdefone. n
acontece com as intuições. Mary estava insacisfcita com de. Mas será que da dirá ''Não, dara que não", insiste Craig.
quando de perguntar pçir que estava zangadal A resposta mais provável será: "Zanga- Oonna decide acreditar cm Craig. Mesmo assim, não volta a receber cdefone-
d.a1 De jeito ne~um. Estou ó cima. Gosto de você, John. n mas, carrões nem cartas. Será que deve insistir, mesmo com a relação sobrecarregada
por atritos não esclarecidos? Resolve deixar as coisas como estio por algum tempo.
A essa altura os pensamentos de Don na já estavam confusos: por que de estava
DesprerAndo a Intuição abrindo mão da sua amizade? Será que se sentia humilhado demais para tdefonar?
Essa reação deixa John confuso. Não obstante a confirmação de Mary de que está Será que estava com ciúme de J ustin r Nesre caso, de havia mencido quando afirmou
rudo bem, pcrsi.sre a sensação de que há algo errado. não se incomodar com a mudança de Donna?
Emocionalmeruc, trata-se de uma catástrofe menor. John fica satisfcim porque Donna aaedica rcr dado a Craig a oportunidade de ser sincero. Mas de preferiu
Mary afuma gostar dde? Ou fica zangado porq uc ela está negando que alguma coisa negar sua intuição de maneira dcsconc:cname e profundamente antipática. Em tão pouco
está errada? D~c confiar nela? As perguntas que a resposta de Mary suscitou são rempo não parecia restar qualquer indicio de uma amizade de mais de quatro anos.
suficientes para fazer rua ca~ça girar.
O exemplo acima moscra como pode ser desconcertante rer a própria intuição
A aritude de Mary é chamada de "desprezo emocional", e desmente a intuição negada Por ouuo lado, a descoberta e confirmação da veracidade da partícula de
de John de que Mary está 7.angada, descarrando-a como se: fosse inteiramente verdade na intuição produz.em um efeiro esclarecedor. Vamos rever o exemplo acima,
equivocada. Confusão e paranóia crcscenre costumam ser o resulcado dessa reação. a fim de verificar o que teria acontecido se a verdade viesse a ser descoberta:
l=. perigoso, para um rdacionamenro, rejeitar as descon6anças de algu<!:m como
se fossem complewncnte incorretas. O outro, juscificadamenre, terá a impressão de "Tcm cencza de que não fica constrangido! T ai vez seja estranho falar com Justi n
que não pode estar rntalmentc errado, e poderá começar a swpeiw de que está sendo pela primeira vez por telefone", ela pergunta.
enganado, ou de que o outro não tem consciência de suas próprias motivações. Desta vez vez Craig decide confirmar, ao invés de rejeitar, a intuição de Donna.
Eis outto exemplo de intuição rcjcicad.a: "Bom, tudo bem, já que você perguntou, admiro que fiquei um pouco abor-
Há muito tempo Donna vem colocando em dúvida a amizade com Cra.ig. Ao recido há alguns anos, quando pedi para conhecer Justin e você disse que não. AI,
longo dos anos de relacionamento, desenvolveu a impressão de que de tem interesse depois, quando vocês começaram a namorar s&io, você nunca nos apresentou."
em ser mais do que um amigo, o que a deixava constrangida. Era um incômodo Donna fica surpresa. "Pensei que você cinha entendido que às vezes rduto em
perceber que de sempre parecia alimentar uma pretensão romântica oculta. apresentar meus amigos. Eu já contei a você de uma ocasião em que apresentei pessoas
As coisas mudaram quando Donna conheceu Justin e foram morar juntos. De que não se deram bem, o que foi bastante constrangedor.n
um dia para o outro Cra.ig parou de tdefonar. Don na havia desenvolvido tamanho É verdade, mas sem dúvida isso não é tudo; agora é a vez de Donna ser sincera.
antagonismo com relação a Craig que quase se sentiu aliviada. N ocnranro, da gostava "Mas Craig, quero ser sincera, j:i que você foi honesto cm sua resposta." Ela
de Craig de verdade, e não queria perder sua amizade. Mandou-lhe um cartão com espera a permissão de Craig para prosseguir. "Eu tam~m tinha medo de aprcsenrá-lo
uma cartinha amistosa, esperando, quem sabe, uma resposta. Nenhum telefonema. ao Justin porque me sencia atraída por ele e desconfiava que há muito cempo você

100 /OI
estava intei:essado em mim. Receei que você ficasse com ciwnc quando comecei a Talvez isco leve Mary a considerar exatamente por que parea:u irrimda e decidiu
. " pôr um fim ao tdefonema. Afinal de comas, John tem o hábito de demorar-se muiro
namorar o Juscn.
Donna engole em seco. uÉ verdade que você ficou com ciwne quando come- ao telefone. Além disso, ela não c.ttaya com vontade de continuar fu.lando sobre a
amizade de John e Anne. Como de parecia rusposto a ouvir sua crfrica, talvez. pudesse
çamos a namorar?"
Agora era a hora da verdade para Craig. Ele poderia negar rudo ou mosaara Oonna arriscar-se a ser sincera. Mary decide: tenw.
como sua intuição fora equivocada. explicando que alguma ouaa coisa que da jamais "P~ fulru- a verdade, cu não fiquei propriamente :zangada com você, mas quando
pcderia imaginar estava aconteeendo. Ou teria de admitir que escava se sentindo você tdefonou, eu estava cansa.da e esperava outra ligação. Fiquei um pouquinho irritada
exacamcntc como ela havia desconfia.d.o. T ai~ estivesse ao 7TlartllJ tnnpa com ciúme de porque você falou demais e por causa do assunto. Pen.sei ter dado sinais de que não queria
J ustin e desconfiado de que Donna tinha vergonha de apresentá-lo a seus amigos. conversar sobn: a Anne, mas parece que voe! não percebeu. Isso fu sentido?"
De todo modo, _ao confirmar a veracidade de sua. intuição, Oonna df. a partida Embora renha se sentido um tanto conscrangido ao saber que fora um chato, a
para um diálogo emocionalmcnce educa.do. No exemplo anterior, a negação total de explicação de Maiy deixou-o aliviado. Havia algo errado. Mas Mary não estava
Craig produz um. bloqueio das informações emocionais, o que deixa Donna confusa zangada com de, apenas irritada. Agora sabia qual era o problema. E compreendeu
e desarmada d iame das mensagens obscuras de Craig. Depois que Craig esclarece seus os próprios sentimentos e os sentimentos de Mary, bem como suas causas. Percebeu
smtimentos. Donna fica profundamente aliviada e a rdação pode ter s~imcnto. que havia colocado a paciência de Mary à prova falando sem parar de Anne. Então
pôde acreditar que ela realmente gos1.ava dde.
Os faros daquela siruação e os scnrimencos de John se encaixaram como um
OITAVA ETAPA quebra-cabeça. Talvez sua conversa chata cenha lhe trazido um certo constrangimen-
to, mas o tremendo receio de que M:uy nuuisse ddio por ele havia sido desmentido.
Confimulfáo de um Palpite Intuitivo John sentiu-se bem; recebera uma con6.rmação.
A busca da verdade - por menor que seja - Às vezes a intuição como um todo está correm e não apenas parte dda. Por
presente numa intuição exemplo, <:!.Se diálogo poderia ter confirmado facilmente toda a intuição de John.
Poderia ter sido assim:
Nós, na grande maioria das vezes, desenvolvemos tend&cias defensivas que nos
"Sim, John, estou zangada com você. Para fu.lar a verdade, ultimamente você
impedem de admicir a veracidade das inruiçõcs do outro. T alve:z uma confissão desse
cem me decepcionado basmnte. Não sei se quero concinuar sendo sua amiga. Estava
cipo possa parecer um sinal de fraqueza de nossa parte, ou quem sabe rclummos cm
esperando que você percebesse e parasse de me rdefonar. n
ferir os sentimentos alheios. Seja como for, aquele que acolhe a intuição do ourro deve
São palavras duns, e não muito educadas emocionalmente, mas é mdhor que John
procurar confinni-la para que possa ocorrer um diálogo emocionalmente educado.
as ouça claramente do que concinuar vivendo num clima emocional confuso e prejudicial
Vamos voltar a John e Mary. Mary acaba de rejeitar as suspeitas de John de que
havia desligado o tdefone porque estava ungada, dizendo: "Zangada? De jeito Esse diálogo pode cer concinuidade, para que se possa analisar por que Mary
nenhum. Escou ótima. Gosto de você. John.º não gosta de John, de sua tendência a falar sem parar e da própria incapacidade de ser
John insiste: "Por algwna razão achei que havia algum problema. Estou errado?" dara quando não quer mais conversar. Ou o assunto pode ser deixado de lado, assim
Mary pondera. Sabe que deve tentar encontrar uma pareda qualquer de verdade como a amizade. Seja como for, há um grande número de etapas, ao longo do processo
nas dúvidas de John. "Realmente, John, fiquei zangada depois do seu telefonema, não de compreensão mútua, para que seja possfvd alcançar uma existência emocional-
mente educa.da.
com você, mas com Sandra- calvez seja isso."
Para John, isto m.lvezainda não explique sua intuição. Ele deve insistir mais um Contudo, os problemas em geral não são tão complexos. Em sua grande maioria
podem ser solucionados Ci nesse caso, esse tipo de diálogo cem um efeito cmaordinário
pouco no assunro.
"Bom, isso não juscifica minha sensação de que você estava zangada comigo. na solução de pequenos ~ai-entendidos que de outro modo dcsgasmriam o rclacio-
Aconteceu alguma coisa enquanto conversávamos~" namenco.

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Comunicação Sincera ardc:ntementc apICndc:r a ser mais mcn:iv.a. Então da revelou uma outra intuição:
''Tenho outra sensação, e me assusCl revelá-la, mas, combinamos que seríamos
A capacidade de falar sobre os pr6prios sentimentos pode produzir resultados es-
sinceras, portamo acho que devo falar. Quer saber o que estou pcnsandot
pecacuJares, sobrerudo quando as duas pessoas cscão empenhadas numa comunicação
"Está bem", Sarah concordou com uma expressão preocupada.
cooperaciva e franca.
ªBom", disse Julie, "eu wnbfut renho a impressão de que você se incomoda
Nos workhops de educação emocional, explico de que maneira a inwição,
porque sou mais jovem e os homens do escrit6rio me aclwn atraente. Fico preorupad.a
quando é usada com eficiência e segundo os ditames da educação emocional. pode
porque parece que você acha que eu sou alguma bonequinha."
ajudar-nos amplamente em nossa compreensão mutua. ( Os participantes do workshop não disseram palavra, olharam para Sarah nervo-
Por exemplo, Sarah e Julie parcicipaiam de um de meus workshops. Juüe tem 27
sos, perguntando-se como da iria reagir. Tenho de admitir que cunbém fiquei
anos e parece wna modelo. ~ considen.cla muiro bonim, embora se vista com
inquieto. Apesar de todos os seminúios que já conduzi, há sempre uma ce.na
simplicidade para nãó chamar atenção. Sarah cem 35 anos e 1em dificuldade de
apreensão quando um dos participantes aborda. um rema delicado como este.
controlar seu peso. São colegas de trabalho que vêm rendo algumas discussões
"Não é fácil, mas renho de concordar que sinto ciúme da atenção que voe!
desagn.diveis. Julie está aborrecida e até mesmo com um cen:o receio de ir trabalhar
recebe dos homens no escric6rio", a~ciu Sarah. "Isco também estimula minha raiva.
por causa desses dcscnrendimentos.
Para mim isso não ~ motivo de orgulho, mas é verdade. n
No meio de um debate sobre a intuição, Julie perguntou a Sarah se poderia
O silêncio tomou coma do grupo, cada qual mergulhado no pr6prio cons-
revelar-lhe uma sensação que tivera.
trangimento. Finalmente, um outro pa.rricipance. de nome Mark, quebrou o mutismo
"Desconfio que você me considera wna idiota", disse Julie, ,ornada de profunda com wna questão. Por fim, Sarah e Julie receberam ririos carinhos sinceros por sua
perru.rbação. "Tcnhotambémaimprcs.sãodequcvo<:ameachaincompetenteepronca coragem e honcscidade.
a agüentar todas as repreensões ~ gerência. Estou certa?" O grupa concinuou explorando as sutilezas das relações profissionais. Depois
Sarah sacudiu a cabeça e respondeu ansiosa: "De jeito nenhum. Eu acho você de dois dias de workshop, os parrici panccs saíram sentindo-se fortalecidos e otimistas.
muico capaz. n Como você pode ver, quando realizamos a etapa Abrir o Coração com essas
Julie afundou na cadeira, desencorajada. Nesse momento expliquei que de duas récn icas - a Afirmativa de Ação/Sentimento e a Confirmação da Intuição - ,
modo geral existe um fundo de verdade nos pressentimentos das pessoas. Em v~ de csrabelcce-se um diãlogo emocionalmente educado que substirui a desconfiança, o
negar cerminan rememe a sensação de Julie, seria melhor se Sarah rcflccissesobre o que medo, as recriminações e a culpa.
poderia haver de verdadeiro na f.un:asia de Julie. Por meio desses diilogos, as pessoas aprendem a ser sinceras e a reunir infor-
ªEducação emocional wn~m é respeitar a intuição do ouuo, cm vez de mações sobre seus sentimentos em relação ao outro. Descobrem de que maneira seus
rejeitá-la", lembrei ao grupo. "É preciso estar disposto a analisar profundamente as atos influenciam os sentimentos alheios e suas intuições recrawn e distoram a
próprias motivações." real.idade. Fazem isto sem julgamentos, acusações nem caos emocional, trabalhando
Dei algum 1empo para que esse conceito fosse assimilado e então perguncd a ao mesmo tempo a possibilidade da confiança.
Sarah se havia alguma verdade na inruição de Julie.
Sarah rdieáu durante vários segundos e. por fim, fez um movimenro afi nnativo
com a cabeça: "Julie, acho que de cerca forma seu palpite está correro", disse com Amadurecimento da Empatia
nervosismo. "Eu realmenre considero você muito capaz, mas me irrita. a facilidade Num relacionamento, à medida que v.ai-sc desenvolvendo uma comunic::aç:ão franca
'
com que você se intimida e concorda com as pessoas que a pressionam. Isso me faz l e confiávd, as pessoas passam a compartilhar seus palpi1es intuicivos e enconttam a
pensar que você é frágil. Mas sinceramente. cu a acho muito competente." t
panícula de verdade que confinna as intuições do outro. Esse constante diálogo
Julie sentlu-sc melhor ao conhecer os verdadeiros sentimentos de Sarah, foi harmoniza a compreensão mútua no território emocional. Os indivíduos aprendem
capaz de concordar que se deixava intimidar por qualquer coisa e que desejava a perceber qual será o sentimento mais provável das pessoas cm determinadas siruaçõcs

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e o que pode coloci-la.s à vonrade. Com a pdrica dessas transações ao longo do tempo, parece triste e Carter zangado, mas nenhum dos dois fala de seus sentimentos. Ao
o amadurecimenco da intuição produz uma profunda empatia. Comumcnte, a contrário, criticam-se muruamcnce. Sandra queixa-se de que Cancr era tão apancona-
intuição tem início como uma percepção vaga de que mal temos consciência, e se do e agora csrá se mostrando sexualmente indiferente. Caner diz que se senre
torna um poderoso holofote que ilumina o panorama emocional, tomando-o familiar constantemente censurado e criticado, além de ser usado scxualmcnce.
e acessível. Essa aptidão, centrada no coração, de sentir com o outro é um componente Depois de ouvir por algum tempo, fuço um aparte. "Escutem, está claro que
fundamental da próxima erapa do treinamento: assumir a responsabilidade. vocês dois estão emodonalmcnte abalados, concordam?"
Sandra faz que sim com a cabeça. Cartcr, o rosto fechado, parece disposto a me
OUVIC.
ESTUDO DE CASO
"Gostaria de ajudá-los a esclarecer por que estão tão transtornados, e para isso
sugiro que a gente use aquilo que chamo de técnica de ação/senámento. Vocês
JntegrllfáO
topam?"
Veremos agora o que acontece quando integramos as etapas percorridas acé aqui. Ambos concordam.
Caner e Sandra trabalham juntos. Sandra, propried.ria da empresa, é chefe de "f muico simples. Cada um de vocês vai alternar-se cm afirmativas de ação/se.n-
Carrer. Há cerca de seis meses iniciaram um relacionamento sexual. Agora, passados rimenco, como por exemplo: ·Quando você (ação), cu sinto (emoção).' O objetivo é
alguns meses de encanto romântico, começaram a discuri~. Pediram-me para ajudá- descrever uma ação especifica e a emoção (ou emoções) resultante. Nada de floreios,
los, na qualidade de amigo, a esclarecer os conffitos e emoções negativas que os vinham apenas esses dois fatos: wna ação e os sentimentos rcsulranccs."
atormentando. "Quem quer começar?", perguntei. "Confiem em mim, v.a.i ser interessante. A
Gosto dos dois e preocupa-me a possibilidade de terem criado uma confusão intenção é ter uma idéia do panorama emocional e explorar o que está se passando
insolúvel para ambos. Meu receio é que precisem deixai' de trabalhar juntos ou tenham com voeis."
de dar fim ao relacionamento, ou as duas coisas. Eles querem rnanrer a relação
"Antes de começarmos, mais uma coisa". Expliquei como era importanre pedir
profissional e ao mesmo tempo preservar o envolvimento afecivo. Apesar das dificul-
permissão sempre que alguma afirmação emocionalmente contundente fosse expressa.
dades recentes, os dois manifcscam um carinho m úruo e profundo, e desejam construir
um compromisso a longo prazo. Depois de um minuto embaraçoso, Sandra comou a iniciaciva.
.As discussões tiveram inicio no trabalho, cm corno da polráca de negócios e das "Posso falar algo que senti oncem à noire?", ela perguntou a Cancr. Depois que
relações com os dienres. Cartcr é cordial e condescendente com os clientes, enquanto ele concordou, Sandra foi cm freme.
Sandra cosruma ser mais firme e incisiva. De maneira geral escabc:lece-se assim um "Ontem à noite você me frustrou e achei que você não me amava mais."
bom equilrbrio, só que Cartcr concedeu crédito a três clientes que não estão pagando "ô, Sandra, espera aí!", interrompi. "Vamos ter um pouco de trabalho para
as conw. Agora Sandra quer que ele exija pagamenco imediato, o que Carter rerusa-se transformar isso numa afirmativa de ação/sentimento. Posso tencar?" Sandra concor-
a fuz.c:r. Cada um acha que o outro está-exagerando. Sandra acrcdica que Cancr escl dou com a cabeça. "Você diz que ele a frustrou. E.sra não é uma açã.o dara O que foi
sobrecarregando as finanças da empresa, enquanto este pensa que a atirude de Sandra que ele fez?"
vai afastar seus clientes. "Depois de passar a noite inteira me seduzindo, ele virou para o lado e dormiu
O conflito no trabalho desaguou na vida particular. Agora elc:s parecem discor- assim que fomos dcimr", cxpücou Sandra. "Fiquei profundamente desapontada e
dar de tudo. O relacionamento sexual praticamente extinguiu-se e a lua-de-mel, ao achei que ele não escava mai.s apaixonado por mim."
que parece, chegou ao fim.
"O que n6s esramos buscando aqui é uma afirmativa simples de emoções como
Após diversas conversas por cdefone, convidei-os para janw e discudr o que conseqüência de um componamenco real", falei. "Primeiro, vamos admitir que de
estava aconreccndo; depois da sobremesa, sugeri que inicwscmos o debate. Sandra foi dormir."

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Olhei para Caner e verifiquei que de não contestou o fato. Voltando-me para saram sen rimemos simples sem deduzir as motivações, pudemos ir adiante econfirmar
Sandra, indaguei: ªExarameme como você se scnriu quando ele foi dormirr Vamos os pressentimentos inruirivos de cufa um.
fu..lar das emoções básicas, como: triste, furiosa ou envergonhada."
"A:, crêsn' da desfechou.
Abertura para a Intui;@
"Bem, quaJ foi a primeira emoção e a mais forte?", perguntei.
"A mágoa. Fiquei envergonhada de minha carência saual e depois triste, e agora Embora tenha encorajado ambos a falarem apenas de estados emocionais básicos -
estou zangada, muito zangada". Seus olhos encheram-se de lágrimas. migo a, uisteza, constrarigimento, ira-, reações emocionais mais complexas conti-
"Está bem, agora vou fazer uma afumariva de ação/senrimento a parcir da nuaram aflorando. Em apenas uma hora aproximadamente já havíamos colhido uma
informação que vod me deu, eliminando as acusações. 'Ontem à noite, quando você série de informações: a sensação de Sandra de que era seduzida saualmence e o medo
dormiu em vez de fazer.amor comigo, eu mesenri envergonhada, muito triste e depois de que Caner não mais a amasse, e a convicção de Carter de que da menosprezava
irada.' Está vendo?" Sandra assentiu, enxugando os olhos. sua educação inferior e o via como um empregado sexual.
Caner permaneceu sentado em silêncio, o rosco inexpressivo. Virei-me para de. Então fomos em frente. Expliquei-lhes que reações emocionais complexas como
"Está acompanhando, Carter?" essas compõem-se de emoções básicas e simples que produz.em intuições negativas.
"Estou, mas não ... " Assegurei-lhes que agora csciv:unos prontos para lida.e com essas suposições, e pedi a
ambos para declarar suas desconfianças, exacamemc as mesmas que anres lhes pedira
'Tenho cerreza que você tem muici coisa a dizer sobre= siruação", imerrompi.
para refi-ear.
"Mas no momemo só quero que vcxx me diga se entendeu o que Sandra disse. Isco t, que
Contudo, cu tinha uma única regra.: ouvir o outro com a mente aberra. Em
da ficou envergonhada, triste e ungada porque você dormiu tão logo vocês foram se
lugar de negar as acusações, buscar nelas a verdade, por menor que fosse.
deiClr ontem à noite. ls.so vai ajudar a esclarecer o que esci acontecendo com vocês."
Comecei com uma pergunra: Sandra considerava Ca.rrer simplesmente um
"Tudo bem, estou entendendo. Posso dizer como estou me senrindor
homem sensual e desprovido de inteligência? E.sre era um dos medos de Carrer, o que
· "Sem dúvida." da conteslOu veementemente. Ainda assim, convidei-a a pcllS'al' melhor.
"Sinto que me tomei o bode expiatório da Sandra. Ela me critica e af quer que "Sandra, vamos supor que Carrer não está louco e, se de acredita nessas coisas,
eu faça amor apaixonadamente com da. Não consigo fuu:r o que ela quer que eu faça é porque das podem ter um fundo de verdaden, objetei. ºNão adianta rejeitar o que
no trabalho ou na cama e me sinto intimidado." ele está sentindo. Por que você não procura perceber o que pode haver de verdadeiro
Mais uma va. expliquei o problema do "sentir-se imunidada" não ser um nas apreensões de Caner, ainda que seja uma coisa insignificantc?n
sentimento e a necessidade de afirmações sucintas que relacionem os atos às emoções. Sandra franziu o cenho e não disse palavra. Por fim, decidiu falar.
Finalmente, Carrer apontou com precisão diversas ocasiões cm que Sandra fizera "f verdade que eu gosto do seu jeito de transar comigo, Cartcr. E também t
afirmações criticas. Então de foi capaz de articular os senrimentos que havia experi- verdade que desejo esse tipo de reação em você, tanto quanto tudo o mais que você
mentado: raiva, tristc:z.a. me dá. E realmente acho que quando fazemos amor você é maravilhosamente
Seguiram explorando a situação. Sandra falou da atitude condescendente de insensato. Mas acho que você tem razão, essa sensação acaba se tornando pane de
Carter no trabalho e de como isso a deixava assustada, enquanto Caner revelou seu minha maneira de vê-lo o tempo todo, o que pode magoá-lo. n
constrangimento quando tinha de aceitar que Sandra era a dona do negócio e rivera "É isso mesmon, disse Carrcr.
uma educação melhor do que a sua. Passados alguns instantes de silencio constrangedor, Sandra perguntou a Carrcr:
Durante essa discussão fui esdareccndo as desconfianças que tinham um do "Posso dizer algo que tenho medo que você pense de mimt
outro. Sandra cernia que Cartcr não a amasse mais e escivesse com ela apenas por c:awa Ele concordou cm ouvir o que da queria dizer.
do emprego. Carter suspeitava que a única coisa que Sandra apreciava nele era sua "Para mim é muito diflcil falar, mas tenho medo que você pense que eu sou
sexualidade. Depois que ambos debateram esses temores e ressentimentos e o:pres- fi-fgida."

108 109
"Voei. quer dizer sexualmcmc?", de perguntou. RESUMO DO CAPÍTULO CINCO
"Én, Sandra falou, à beira das lágrimas.
Carter rdletiu.por um longo tempo. Por fun, lançou-me um olhar perplexo. Examinar o Panorama Emocional
"Pense nisso", sugeri. uPor que da teria essa impressão? Vod. acha que da é fria
de alguma maneirar
Embora psicólogos de renome preferissem que você acreditaSSe em algo_ dife·
"Bom, sim, acho que ¼:s vezes da é fria", de fulou, voltando-se para S:mclra. "E
rente, você pode provocar emoções em outra pessoa ~ _vice-versa. Por isso a
de certa forma o modo como você quer que os clienres sejam trarados é frio. E de vez
afirmativa de ação/sentimento é tão útil. É posslvcl uahzá-la para explorar os
cm quando você me trata assim também. T cnho pensado a esse respeito. Mas na cama,
você é apaixonada quando quer, ou melhor, quando você est1 bem comigo." sentimentos próprios e alheios sem fazer acusações ou !ulgament0~- ~
O formato é simples: "Quando você {açáo), eu sinto (emoça.o).
Sandra concordou. "Acho que deve ter sido isso que eu captei, que você
considera minha atirude no trabalho fria. Eu ode.ia essa minha frieza", da afirmou,
Se usar corretamente afirmativas de ação/sentimento, aos poucos você co·
recomeçando a chorar. meçaci a lançar luz no panorama emocional que o cc~- VoC: terá uma fe~·
Cartcr aproximou-se para abraçá-la. "Eu não oddo, cu admiro. Admiro sua ramenra para saber como as pessoas se sentem, com que mccns1dadc e por que.
postu.ra profissional. S6 não feche minha conta." Aprender a ouvir e entender como nossos aros influenciam os sentimentos
Ambos desataram a rir. alheios, sem nos tornarmos defensivos, é muito importante nesse processo. ~
A conversa prosseguiu, e Carter e Sandra continuaram a abordar os sentimentos medida que for ampliando sua Educação Emo~~nal, vocês~ capaz de sentir
múruos. as emoções do outro fazendo uso de sua inru1çao. Aprendera a afirmar seus
V imos como des escavam ocupados tirando conclusões desrrucivas das atitudes palpites intuitivos e, se a verdade dessas intuições for confirmada ~lo outro,
· - 'rá amadure,..,.r e -""'"r em empatia. Essa empatia amorosa
do outro e produzindo sencimcmos nocivos no companheiro. ·
sua mtu1çao 1 ....... l:i........ - d
Mostrei como as rdações costumam ser canalizadas cm duas direções possíveis, constitui O alicerce do comportamento emocionalmente educado. Com e,
a positiva ou a ·negativa. Amor, consideração múrua, confiança, generosidade, es- poderemos enfrentar situações emocionais diflccis e_evi_rar seu ~ra~cnto na
pom::meidade sc,cual e admiração pessoal podem ser um estimulo para ambos e criar medida em que abrirmos as porcas para relações mais nc:as e sausfarónas.
um bom relacionamento, assim como raiva, egoísmo, ressencimenco e julgamcmos
negativos podem arruiná-lo.
A relação de Sandra e Outer havia mudado de um estado positivo - o período
inicial de entusiasmo e crescente afeto e paixão - para um estado negaóvo. Seriam
necessários energia e empenho para restaurar o ciclo positivo e evenrualmeme
rcsta.bdccê-lo, mas agora eles sabiam como estavam se sentindo, com que intensidade
e por quê, e isto sem dúvida iria ajudar.
Sandra e Carrer optaram pela terapia de casal e deram conôriuidade à sua
educação emociona.!. Até hoje estio juntos e bem, e garantem que nossa conversa .,
depois do jantar fui o principio da renovação no relacionamento.

I 11
110
Presre acenção e observe os sentimentos que resulcam de tais diálogos. Nesses
6
jogos, uma ou mais pessoas renninam sencindo-se mal - magoadas, zangadas,
assuscadas e ás.sim por diante. Ourras interações são mais tranqüilas e parecem fazer
bem aos indivíduos. Provavelmente não sofrem a influência dos jogos. Seja como for,
as pessoas estão recebendo carinhos. No momenco em que incorrem nesses jogos, as
ESTÁGIO TRÊS: interações são negativas e os carinhos nocivos, e quando dispensam os jogos, as
ASSUMIR A REsPONSABILIDADE transações são positivas e as carícias ben~ficas.
Beme descobriu que exisrem diferences tipos de jogos. Por exemplo, cenas
pessoas tomam pane em jogos deprimentes do tipo "Me dê um poncapé", outras
preferem os do tipo "Agora repeguei", e outras ainda praticam jogos autodesuutivos
como o alcoolismo.
Por que as pessoas jogam?
Existem diferences teorias. Uma ddas afirma que as pessoas que jogam estão
fazendo uma renraciva equivocada de receber carinhos positivos, o que acaba
A ETAPA FINAL, E A MAIS diRcil. no aprendizado da Educação Emocional, é produzindo um resulcado nefasco e carinhos negativos.
assumir a responsabilidade pdos erros que comecemos em nossos relacionamemos. Concordo com essa ceoria e cheguei à conclusão que as pessoas jogam porque
Se mu.itos de nós olhássemos pan. nossas vidas com honestidade, podcrfamos cêm sede de carinhos e querem recebê-los a qualquer custo, mesmo que com isso
perceber como somos verdadeiramente humanos, e quantos erros cometemos. consigam apenas carinhos negativos.
.É bem sabido que comeremos esses erros o tempo todo. Magoamos aqueles que
Smpts. Decisões Que Regem Nossas Vidas. Embora os jogos sejam rem:acivas
amamos, mentimos para nossos amigos, cralmos pessoas que confiam em nós, temamos
malogradas e prejudiciais de recebe~ carinhos positivos, cada jogo concluído propor-
ajudar e, quando fracassamos e o outro parece inacessível ao auxilio, passamos a
ciona ao jogador um resulcado: confirma determinada visão de mundo que o jogador
atormentar gente que precisa de nós. Quando incorremos em tais cqufvocos e nos damos
decidiu adotar. Isro faz com que sua vida lhe pareça coerente e compreensível,
coma disso, colocamos a culpa em nós mesmos ou em nosus vítimas, ou pedimos
conquanto seu encendimenco da vida seja negativo.
desculpas vis. Nenhuma dessas soluções ~ ideal. .É muico melhor emender por que
continuamos a repetir esses erros e depois tomar providências para corrigi-los. Eis algumas visões de mundo negativas ápicas: "k pessoas legais sempre se dão
mal", ou "Nunca confie numa mulher (homem)", ou "Meta•secomigo e você vai se
Eric Berne, com sua teoria dos jogos e Jmpts, oferece-nos uma maneira muito
:arrepende(. Esse tipo de percepção, embora negativa, dá ao jogador a sensação de
eficiente de compreender por que comecemos tais equívocos emocionais. Vou explicar:
que compreende a vida, por mais ordinária que ela seja.
Desde cedo as pessoas escolhem quais serão as perspectivas para a sua vida. Essas
Os Jogos Mais Comuns decisóes tornam-se projetos de vida, ou Jcripu, semelhantes aos roceiros de cinema ou
tearro. Muitas pessoas obedecem a esses smpts pelo resco de suas vidas.
Se você se puser a observar as pessoas e suas conversas, perceberá que algumas têm Sempre que panícipa de um jogo aré sua conclwão, o indivíduo tem um
uma forma caracrerfsrica de interação desagradável. Certas pessoas tomam-se mesq ui- sentimento de satisfação agridoce denominado "desfecho do rcript{ou existencial)".
nhas e acabam assustando aqueles que as cerca,m. Há quem transforme qualquer Essa sensação sugen:-lhe que, embora esteja complewnence confuso, pelo menos de
conversa numa piada. E outros que sempn: conseguem deprimir quem quer que seja sabe quem é e qual o significado real de sua vida.
seu imedocutor. Na maioria das vez.es nós obedecemos a um desses padróes, às vezes Há cerras afirmações existenciais rea.lmenre nocivas, mas que no entanto
a mais de um, e o repecimos insisrencemente. Quando agimos assim, estamos jogando. conferem significado à vida: "Nasci para perder", "Todo mundo me detesta", "Nada

ll2 113
dácerroR_ No fim de um péssimo dia, pelo menos pademos dizer an6s mesmos: "Eu alegando que dcs nos malnataram e nos ensinanm a ser deprimidos, insanos ou
sabia. A vida é um inferno e depois você morre". Ao termo de uma existência terrível, ébrios. Todas essas teorias têm wn fundo de vi=rdade para algumas pessoas e são
podemos afirmar: ªÉ isso al. Exacamente como eu pensei. A vida foi um inferno e certeiras para ourras. Existem aspectos hereditários no alcoolismo, na loucura e na
agora eu estou mo~ndo." depressão. Alguns aprendem com os pais a alimentar a depressão, a desonestidade ou
Os jogos são parte desses padrões ou scriptsde vida globais. O jogador do cipo a ira, ou mesmo a rer atitudes insanas ou a drogar·se. Em suma, alguns de n6s tiveram
ªpor que você não... ? Sim, mas...n t~ um .smpt depressivo; o jogador do tipo "Me inB.ncias difíceis que produ2.iram confusão e medo.
dê um ponta.péR tem wn scriptde vfcima; o jogador irado cem um scriptde perseguidor; No encanto, ainda que algo em nossos genes nos leve a agir assim, e por mais
o alco61atra cem um scriptautodesuuàvo e trágico, e assim por diante. que nossas vivências infantis possam ter sido nocivas para n6s1 a vida continua sendo
Uma das decisões de scriptque roma.mos nos primórdios de nossa vida trara das consti ruída por experiências diárias que são talhadas por nossas decisões e comporta-
nossas emoções. Com &eq üência escolhemos um occ~mo emocional ou seu oposto. mentos cotidianos.
Nenhum deles conduz à Educação Emocional ou a uma cxiscência satisfatória.
Se transformamos essas experiências com a modificação de nossas decisões e
Decidimos suprimir nossos scncimentos e acabamos nos tornando permanente- atitudes, e corrigindo nossos erros, nossa vida também pode ser transformada.
mente insensfveis; ou resolvemos ser imensamente scntimema.is, nao controlamos
É posslvd alterar os padsóes de nossa vida, se decidirmos transformar nossos
nossas emoções e acabamos vivendo num caos emocional. Decidimos não amar e
scripts e enconcrar significado numa maneira de vida diferente, com a qual possamos
nos comamos duros e indife~tc:s; ou optamos por amar o tempo todo e repetida-
ser úreis a outras pessoas cm lugar de magoá-las. Esta decisão favorece a Educação
mente terminamos decepcionados.Tornamos a decisão de evitar o perigo a todo cusro
Emocional e exerci: um cfcho transformador tanro naqueles que nos cercam como
e nos tornamos cowmente passivos; ou decidimos expressar a raiva livremenre e
em nós mesmos.
passamos a ser violentos. Resolvemos deixar de sentir ou entregar-nos a qualquer
emoção que nos acometa. O Salvador, o Algoz e a Vítima. De que maneira podemos escapar de nossas
Do.:isõcs como essas conduzem-nos a um beco sem saída emocional. E como o armadilhas emocionais? Como os scripts não estão fixados em nosso cérebro e como
scriptrespons.1.vd é uma parte tão nossa, torna-se cxtremarnenre di8cil pc:rcc:ber o que tomam por base nossas próprias decisóes, nós não estamos presos ades. É possfvel
etti aconrc:ccndo. Enr~tanro, rudo o que precisamos fuz.cr para. cseapar dessa situação alrcrá-los, baseando para isso transformar nosso pensamento e ter acirudes diferentes
cdcica é analisar os principais padrões de nossas vidas. Qualquer um que se meta regu- e mais produtivas.
larmente em encrencas com as pessoas provavelmen reperceberá, com alguma reflexão,
O primeiro requisito para mudar nosso scripté entender os três principais papéis
que está preso a uma série de jogos que compõem um 1criptde vida, que foi definido
deruucivos que as pessoas representam em seus jogos. São os papéis de Salvador, Algoz
no começo da vida como reação a um faro rrawnácico ou infdíz daquela época.
e Vitima, presentes ~m rodos os jogos. No momento cm que representamos um velho
Vcjam o empregado que sempre é despedido. Ou a mulher que é repetidamente
script, selecionamos um desses três papéis para nós.
abandonada pelos amantes. Ou o homem que está todo o tempo embriagado. Se você
sempre está arrasado ou endividado, se vive esquecendo :is coisas, mencindo para Os Salvadores cuidam daqueles que deveriam tomar conta de si mesmos,
encobrir seus erros ou sem um tose.ão, provavdmenrc esses contratempos constámes protegendo-os de apuros, impedindo-os de tomar suas próprias decisões ou de
~m pane de um 1criptde toda uma vida. encontrar seu próprio caminho. Os Algoz..cs cricicam, distribuem conselhos e pu-
nições. & Vftlmas são incapazes de tomar decisócs, deixando que outr_os conduzam
Um grande volume de teorias procura explicar por que no553S vidas se tomam
tão confusas, por que fica.mos tão deprimidos que chegamos a perder o interesse pela suas vidas e comem conta delas.
vida, ou por que enlouquecemos ou nos entregamos a wn vício, ou magoamos aqueles Por que nos agarramos a esses papéis? Porque aprendemos a receber carinhos
que nos cercam. A grande maioria das teorias tende a responsabilizar nossos pais. Um sempre que os representamos e porque são eles que dao sentido a nossas vidas.
certo número delas coloca a culpa nos genes de nossos antepassados, afirmando que ]! curioso mas é verdade; quem representa. um desses papéis acaba trocando e
esses problemas são herediclrios. Ourras acusam o componarnento de nossos pais, assumindo os outros dois papéis.

JJ,f I15
Por essa r.azão, na Análise Transacional, como sugere Stephen Katpman (ver ESTUDO DE CASO
Referências), dispomos esses três papéis nwn uiângulo, para moslCI.J" como as pessoas
passam de wn papd para o outro, num circulo vicioso infinito.
Na verdade, esses papc!is são cío imponantcs para nós que foram instituciona-
lizados, tomando-se cada um deles o alicerce de: uma ideologia polftica. O Algoz foi Hany é alcoólatra. Bebe todos os dias e embriaga-se nos fins de semana. Sua esposa,
adota.do por extremistas conserva.dores, que defendem a renúncia a roda noção de Hden, bebe moderadamcntc,-mas é uma fumante inveterada. Depois de um porre
responsabilidade por seus semelhantes, bem como a prisão e o repúdio a todos que: de: fim de semana panicularmenre desagradável e uma ressaca na segunda-feira de
não forem ªbonsn cidadãos. O papel de Sa!wdor constirui a atitude preferida dos manhã, Harry decidiu parar de beber. Na qU2Cta-fc:ira ainda não havia tomado um
liberais "impostos e gascosn, capazes de: sacrificar codos os nossos recursos para cuidar drinque sequer e estava. se: sentindo muito bem, sóbrio e virruoso. Então começou a
de ourras pessoas. A Vítima~ o papel favorito de qualquer grupo cujos membros perseguir Helen e seu hábito de: fumar, procurando convencê-la de que da também
disponham-se a c:nfunw a sociedade ou não queiram cuidar de si mesmos e prefiram é alcoólatra e deve abandonar radicalmente a bebida.
que outros assumam esse encargo. Ela já passara por isso antes. Não se deixa impR:SSionar pdos ugumcntos do
marido e fica irritada porque de a está. imporrunando. Harry acha que está mudado.
Hdcn sabe que não é verdade. e aconselha-o a sair do seu pé e ir a wna reunião dos
SALVADOR - - - - - - - - - - - ALGOZ
.: .'
Alcoólicos Anônimos. Ele diz que não precisa do AA
Para resumir a história, na sexta-feira Harry já escl bebendo de novo e colocando
-'l a culpa em Helen por sua recalda.
Esse é o relato do jogo de um alcoólatra que não se rransformou. Vejamos o
-,1 · -
- Salvador que não consegue escapar de seu saipt, embora acredite estar se saindo bem
ao assumir o papel de Algoz.
. !
vfTIMA Há anos Helen ~ a Salvadora de Harry. Um dia ela lê algo sobre co-dcpendencia
e decide desligar-se completa.mente do marido. Quebra todas as garrafas de bebida da
Ora, isso não quer dizer que vez por outra tais atitudes não sejam legícimas. casa, croca. a fechadura da porta. e diz a Hany que ele não poderá entrar em casa
Pode: ser louvável prestar auxílio a outras pessoas, assim como exigir que cuidem de enquanto continuar bebendo. Quando Harry chega cm casa depois do crabalho e de
si mesmas pode constituir uma atitude admir.ivel. É razotvel pedirmos ajuda quando alguns drinques no bar, ela não o deixa entrar e chama a poUcia quando ele começa
nos sencimos impossibilicados de ir em freme:. Entreranto, no momento em que .,
--r·· - a esmurrar a porta. No momento em que a poUcia chega, clao deixa entrar, os guardas
algwna dessas iniciativas transforma-se num dogma polrtico que não pode ser vão embora e Hany bate nela, passando de Vítima a Algoz. Tudo volm a ser como
quesàonado, ou num papel inflexfvd, ela se torna prejudicial e improdutiva. an res. Mais uma vei., trata•se de uma abordagem c:xtrcmada e inAc:xfvcl do problema,
Como rasgar o próprio script, dar um basta a esses jogos e recuperar a própria que não representa. uma transformação real.
vida? A resposta 6 você precisa abrir mão dos papéis de Salvador, Algoz. e Vfrima. Mas Evidentemente: não são essas as verdadeiras soluções. Se estiver preso a um st:ript
é preciso ter cuidado e verificar se com isso não estamos simplesmente: pulando de wn desse tipo, o que você precisa fazer é encarar-se a si mesmo e suas atitudes com
papel par.i outro. t muito imponante perceber que, se representar um desses papéis, sinceridade, e ad.mici.r que ta.lvei. você esteja errado e precise: de ajuda, acolhendo idéias
você acabara incorrendo nos oucros dois. Quando alguém tenta par.tr de jogar, sua novas e melhores. t preciso abandonar por completo esse carrossd de papéis e começar
tendência inicial é mudar para um papel diferente no mesmo jogo. Se é a Vítima num a receber carinhos honestamente, em vez de jogar para obcê-los.
jogo de alcoolismo (isro é, o alcoólatra), talvez você pense que está mudando, se passar É mais fácil falar do que fazer, mas é possível. Beme acreditava que, na maioria
a ser o Algoz ou o Salvador. Você poderá acreditar que csrá. mudando, o que não é das vezes, nós esta.mos basicamente OK e, se tivermos uma oporrunidade, poderemos
verdade. Trata-se simplesmente do mesmo jogo, apenas com umamudanç:a de elenco. encontrar a felicidade e passar a ccr vidas mentalmente .saudáveis. Daí o dito popular:

116 JJ7
ªEu estou OK, você está OK". Para efetuar essa mudança, cada um precisa enconcrar jovem basranre atenciosa, verificou em seu livro e, depois de procura.r por algum
a "essência OK" cm si mesmo e reconhecê-la no ouao. tempo, sacudiu a cabeça educadameme. _
"Sinto muito, Dr. Sceiner, mas não temos reservas para o senhor hoJC. Sua
Não cxisce melhor mane.ira de encontrar sua essência OK do que decidindo reserva começa amanhã, e esta noite não remos nenhum quarto livre. n
mudar de atitude a partir de agora; amar e cuidar de si próprio, e ao mesmo tempo A notícia deixou-me desconcertado.
amar e cuidar de seus semelhantes. Em ouuas palavras, não ser o Sah-:3dor, o Algoz
"Mas eu mesmo rdefonei há várias semanas..."
nem a Vítima. E nada melhor para fuzcr-nos lembrar de nossos erros passados do que "Sim, e esrou vendo aqui que o senhor está registrado pata amanhã~, ela insistiu.
um pedido de desculpas sincero para cada um ddcs. Por isso, a última pane do
ªBem, o erro foi seu.!", vociferei.
programa ensina a pedir desculpas e a buscar a reparação.
Oi.da vc:z mais ex:altado, de repente comecei a me dar conta de que eu estava
errado. Presumira que a reserva seria para um dia depois de deixar a França, mas havia
A Importânci4 de Assumir a Respomabilidade me esquecido de que na verdade eu estaria chegando no mesmo ~a ~um ~o
]esce-oesre da Europa para os Estados Unidos. Nesse meio tempo a recepc10111Sta havia
Os erros que comeremos, em geral varridos para debaixo do tapere, exercem um efeiro chamado alguém pelo rdefone e estava explicando a siruação. .
corrosivo, duradouro e cwnulaàvo em nossas relações. Ap6s anos de acúmulo de Um minuco depois da desligou e disse; ªDr Sreiner, vamos tentar arran1ar wn
prejuízos emocionais, muicos relacionamentos comam-se frios e distames, ou simples-
<JUano, mas ... " _
mente chegam ao fim. A essa altura eu já deixara de ouvir. Fora à Europa dar um curso de ~ucaçao
Para efetuar uma transformação verdadeira e definitiva numa rdação que se Emocional e sabia que tinha de colocar em prática aquilo que eu pregava, amda que
desgastou cm razão de equívocos emocionais, é preciso assumir a responsabilidade. i.sso significasse a possibilidade de acabar na rua. .
Afinal de contas, podemos nos tomar receptivos às interações, bem como reconhecer "Posso lhe pedir desculpas?", perguntei, o rosto rubro de consrrangunenco.
o rem~no da paisagem emocional, se abrirmos nossos corações, mas os danos emocio-
Ela me olhou perploi:a.
nais em:re as pessoas não podem ser sanados sem que sejam feitos esforços para definir
"Só agora percebi ciue você estava com a razão", prossegui. ªQuando cdefonei para
e admitir os erros e negligências cometidos.
Fazer minha reserva, imaginei que chegaria no dia seguinte à minha partida de Paris."
O problema é que muito poucas pessoas possuem habilidade cmocronal sufi- "Não cem problema", ela respondeu. "Isso é muico comum, as pessoas não se
ciente para perur desculpas de maneira sincera e não-defensiva. Em resumo, a grande
dão coma de que não há diferença de fuso horário quando voltam. Mas das nunca
maioria não sabe como dizer sinto muito.
pedem desculpas." . . " . . .
A última apridáo em educação emocional <JUe vou ensinar é a arce primorosa ªBem, eu lhe devo desculpas pela maneira como a tracei amda agora , U1S1St1.
de reconhecer os próprios erros e pedir, até mesmo implorar, o perdão.
"Você aceita?"
A idéia de pedir desculpas com roda sinceridade infunde pavor ao coração do
"Ah, sim, não cem problema", disse ela, baixando o olhar pata seu livro.
homem comum. Ficar desacreditado, vo)rar atrás, humilhar-se - todas essas pos-
"Não, não, falando sério, você aceita minhas desculpas?"
sibilidades rrazi=m de volta Jembranças de embates escolares humilhantes. Apren-
Ela voltou os olhos para mim e sorriu._ "Claro, por que não? Muito obrigada",
demos a acreditar que recuar é sinal de fraqueza e humilhação. No entanto, um
disse. ªAs pessoas esperam um pedido de desculpas por nossos erros, mas raramente
indivíduo emocionalmenre maduro admire sew erros e pede desculpas pelos danos
descuJpam-se pelos seus." _
produzidos por suas atitudes.
Usatti um exemplo comum da minha própria vida para ilustrar essa questão.
Como você pode imaginar, essa história reve um final feliz. Ela en~ntrou w:'1
quarto para mim e pouco depois eu já estava confortavdmente ador~eodo. HaVI~
Um &em.pio Pessoal. Eu tinha acabado de chegar a Chicago, vindo da Europa, e colocado cm prática aquilo que proclamava e me senti muito bem assim. Consegui
fui imediatamenrc para o hotd onde fizera reserva. O vôo deixara-me exausto e eu um quarto e esrabdcci uma imeração agradavelmente sincera com uma moça encan-
estava ansioso porwn banho quente e uma longa noite de sono. A recepcionista, uma tadora, rudo isso por causa de um equívoco.

IIB 119
Uma shie de obstáculos devem ser superados para que então possamos assumir promovemos a reparação, deixamos de ter atirudcs que magoam as pessoas. Paramos
a responsabilidade e oferecer um pc:d.ido de desculpas sincero. dé representar os papéis do passado.
A reparação constitui um aspecto importante do perdão, pois através dela
1. Admitir pan. nós mesmos que cometemos um erro. Em geral é tão difkil colocamos a ação no lugar de nossas palavras, por assim dizer, e cm muicos casos o
perceber que erramos porque as.sim nós nos tornamos vulneráveis ao julgamento perdão não seria poss(vd sem ela..
severo de nosso Pai Crítico. Seguindo o conselho oferecido no Estágio Três, você entenderá o que significa
.e. comum ouvir mentalmente a seguinte crítica: asswnir a responsabilidade dos próprios atos. Aprenderá a admitir - para si mesmo
• "Seu idiota, você cometeu um erro ridículo, e agora ainda por cima está fazendo e para a(s) vltima(s) de seu engano - que fez algo erra.do e que esd. disposto a íazcr
papel de bobo com essa d.iscussãon, ou o que for preciso para consertar as coisas.
Lembre-se, rodos cometemos erros, inclusive cmodonais. Tornando-nos emo-
• ..Muito bem, como 'sempre você está por foran, ou
cionalmente educados, aprendemos a evitar os equívocos em sua origem e a corrigir
• "Você é mesmo pirado, veja só o que fez agora!" o mais rápido possível aqudcs que já cometemos.
Não se esqueça de que um dos objetivos do Pai Crítico é fazê.lo sentir-se
deficiente e não OK, e admitir um erro para si próprio ofcrccc a oponunidade perfeita
para alcam;ar exatamente essa finalidade. De Que Maneira os Papéis de Vitima, Algoz e Salvador Produzem Erros
Emocionais Comum
2. Admitir seu erro para o outro. Como se não bascwc admitir para nós mesmos
o nosso erro, confessar ao oucro que cometemos um erro nos torna vulneráveis à ira Já discutimos os uês papéis cmocionaJ mencc desaucivos que representamos no nosso
e à decc:pção alheia, assim como à fiscalização e à cólera de nosso Pai Crítico. dia-a-dia. Agora wmos analisá-los mais detalhadamente.
Isto pode constituir um obsd.culo tremendo e humilhante, mas é preciso
aprender a superá-lo. Admitir os próprios equívocos é uma experiência purificadora O Salvador. A Salvação é um episódio inceracivo, pane de um tipo de comportamento
e poderosa, e rodo aquele que aspira à Educação EmocionaJ deve passar por da_ bastante comum, também conhecido como "co-dependêncian ou "capacitação". Em
geral, rem início como wn excesso de disponibílidade para prestar au:x:Jlio, o que mais
3, Sentir e apressar autêntico pesar. Aqui cer o coração aberto será indispensável, wde causa problemas e conflitos. Reprcscnramos o papel de Salv:i.dor quando fuemos
pois mesmo se rcconhea:rmos e admitirmos nosso erro, isso não significará neces- algo que não queremos para ouaa pessoa. ou quando fuemos mais do que a nossa parte.
sariamente admitir ou lamentar os prejuízos que tal.vei cenhamos causado. Por isso Somos estimulados a Salvar quando o outro parece: incapaz de assumir a
esta é a última fase do aprendizado da Educação Emocional: é diRcil pedir desculpas responsabilidade por si mesmo.
por um dano emocional que não compreendemos. Certas pessoas são salvadoras conrumazcs e saem cm auxilio de outras sob
Impõe-se desenvolver a empatia anrcs de sermos capazes de reconhecer o qualquer prerexro, mesmo que estas não queiram realmente ser Salvas. De modo geraJ
sofri mem:o que nossos aros ocasionaram em outras pessoas. Sem esse reconhecimenco, tomamos essa atitude porque:
é diRcil assumir a responsabilidade. Graças à empatia desenvolvida nesce trabalho, j.
• Gostamos de nos sentir necessários.
podemos percc:ber como nossas atitudes podem ter levado alguém a sentir-se magoa-
do, triste, envergonhado, ?.angado ou assustado. Somente a partir do momento em • Confundimos pessoas capazes que estão passando por dificuldades com pessoas
que realmente entendermos isso é que estaremos predispostos a lamemar nossos atos. impotentes que estão passando por dificuldades.

4. Fmalmeate, admitir a ne:cessidade de promover a reparafrÍO. Via de regra, • Ensinaram-nos que sempre temos de fazer as pessoas íelizcs.
assumir a responsabilidade de um erro significa promover a reparação. O que significa
mudar nosso comportamento e até mesmo oferecer uma compensação. Quando EUcn é um exemplo da Salwdora contumaz.

120 121
r
Ela ficou sabendo que Richard, seu vizinho de longa data., está com AIDS.
1
!
!
Cansam-se de cuidar dos outros e passam a nutrir-lhes ódio, por serem tão
Quando o encontra, vê--se forçada a ser extremamente atenciosa, e a rcfi:rir-se à .sua carentes e sugarem demais. Embora o erro renha sido do Salvador, de não se en fureo:
enfermidade com o máximo de tato e consideração. consigo mesmo, mas com aqudes a quem se dedicou em demasia. Afinal de concas,..
Finalmenre, o esforço excessivo para que Richard se sentis.se bem coma um "eu dei tudo e não recebi nada cm troca?"
estorvo aré mesmo a simples visão do vizinho. Ellcn tem uma vaga consciência de que Nesse ponto, os Salvadores tomam-se AJgozcs de suas Vftimas. .
Richard é um homem extremamente auto-suficiente e espiritualmente equilibrado, e Perer é um mecânico competente e dado à bebida; depois do trabalho, costwna
que na verdade não necessita de toda a energia emocional que i:la vinha despendendo. ir direrameme para o bar, onde toma algumas cervejas. Já chega em casa levcmtme
Contudo, Salvar é um h:lbito tão arraigado que da não sabe como pôr-lhe fim. embriagado e afunda no sofá em frenreà 1V, enquanto cspcraquejacquie, sua esposa,
Essa Salvação toma a relação de Ellen e Richard cansaàva, aré que da começa a voice para casa e prepare o jancar.
evitá-lo. EntrCCU1co, n~ fundo sabe que está tomandoaindapiorwnasiruação jidelicada Jacquie tamhml mbaJha. Quando chega em cua, cm geral ainda vai cozinhar,
par.a. ruchard, e sente--se culpada por cnvol~lo em seu jogo de Salwd.ora. E.sta siruação embora saiba que Peter não vai querer lavar os pratos.
é basca.me conhecida de EUen, que escl. sempre tentando ser boa para os oucros, mas via No encanto, da faz o jantar e arruma a cozinha na convicção de que o trabalho
de regra acaba por ciar problemas para as pessoas, em vez de solucioná-los. de Petcr é muito cansativo e não cabe a da censurá-lo. Quando vão deitar, Peter j:ã
A Salvação também pode originar-sede um desejo sutil de fuer com que o ouuo está bem alto, depois de mais algumas cervejas. Não fazem scc:o há anos.
contraia wna d!v:idaconosco, ou de uma incapacidade de dizer não quando nos peclem As 6n anç:a$ do e.asai também eslio sobrecarregadas em razão de gastos excessivos
algo. Seja como for, nós agimos como Salvadores quando: com almoços na rua e muJw da Justiça, pois Peccr foi condenado por dirigir bêbado.
• Fazemos algo que não queremos, ou Passados alguns anos, 6na1menre Jacquie se cansa Conhece um homem sim•
• Faz.emos mais do que nos cabe numa dada situação. pático e abstêmio no uabaJho e transa com ele, em pane apenas par.a. 6c:ar quites com
Pecer. Passa a gostar desse colega de trabalho e. poucos meses depcis, no meio de uma
É fundamental estabelecer a diícrcnça cnrrç a salvação enquanto atividade huma-
discussão durante o jancar, Jacquie anuncia a Perer que vai deixá-lo.
nitária e a Salvação enquanro papel emocionalmente prejudicial Por isso, em Análise
Inopinadamente, Jacquie passou de Salvadora a Algoz.
Transacional, escrevemos a primeim com minúscula e a segwida com maiúsruJa.
Perer fica atordoado e sente·se uma vitima completa. Grita, implora e reclama
É claro que se alguém estiver em desamparo e precisar de alimenco, cuidados
nada entender. Vai para o bar, conversa com o barman e ouve canções countriesque
médicos ou consolo, se pudennos ser úteis, não deveremos hesicar. Se chegarmos num
falam sobre a crueldade das mulheres. Agora ele é uma Vítima "indefesa" cm pleno
momento crucial e liccralmente salvarmos a vida de alguém, nós estaremos prestando
desenvolvimento.
um auxilio posicivo. Contudo, num grande número de situações em que "ajudamos"
Forcalecido por algum consc:lho inoportuno e pela bebida, ele decide ir para casa e
o ouuo, na verdade o que estamos é prejudicando quando fuemos o papel de
assumir o conuole da situação. Derruba a pena trancada e ameaça Jacquie. Peccr passou
Salvador, embora provavdrnenre pensemos estar sendo úteis.
de Vfrima e Algoz. e agora Jacquie passou de Salvadora e Algoz para Vítima accnorizada.
Aqude que é um Salvador conrumaz, sempre fazendo mais do que deve e
Ela vai para a casa de sua mãe, que toma o partido de Peter. Em conseqüência,
empenhando-se cm atividades das quais não desejaria realmencc participar, com
J acquie passa uma semana inteira em profunda depressão e insegurança, culpando-se
certe7.a está. criando problemas interpessoais. A ajuda indesejada promove o egofsmo,
integralmente pelo problema.
a dependência e a impotência da Vitima. AJém disso, subtrai àquele que é Salvo a
iniciativa e o poder pessoal, acabando por estimular a raiva e o rc:.uentimenco canto Finalmente, procura um advogado que lhe dá razão, e de novo ela passa de
no Salvador quanto na Vitima. Vícima a Algoz. Preenche uma ordem judicial concra Peter e contrata um advogado.
Ele muda de Algoz para Vítima, pede'desculpas e implora o perdão de sua mulher.
O AJgoz. Mais uma vez, nesses rres papfü, quando represenca um deles, você acaba Ela, que passa de Algoz a Vítima, sente pena dele e concorda em volw. Uma semana
incorrendo nos outros dois. Por exemplo, inevicavelmente os Salvadores vêem-se depois, Peter volca a beber e o processo se repece, só que dessa vez Peter bate em
dominados pdas necessidades daqueles a quem estão ajudando. Jacquie.

122 123

Eles despendem mais alguns anos nesse ca.rrosscl deSalwdor-.Algoz.-Vltima, até que A tendência à culpar as mulheres que concordam com as agressões infligidas a
Peter conhca:outta mulher, que não se importa com saa hibito de bebere o acha atraente. si próprias e aos filhos é um outro exemplo. Conrudo, no caso da mulher que está
Agora é a vez. de Jacquie 6car atordoada. Sem algum tipa de ajuda ou interven- sujeira a wna siruação de violência sem meios de escapar, é importante levar cm conta
ção, ambos continuarão a incorrer nesses jogos com a fura.Ilia e os amigos, pos- que talvez. sua responsabilidade seja menor.
sivdmcntc até a morte de um deles. Em muitos casos, coei.avia, cabe à Vítima o mesmo quinhão de l'CSponsabiüdade
Jacquie precisa pôr um fim a esse processo e recusar-se a sera Salvadora, o Algoz pda si ruação que ao Algoz ou ao Salvador. Fundamcncal na n:lação Salvador•Vhima
ou a Víci ma. Em lugar de passar abrupwncnre de Salvadora a Algoz, da deve n:corrcr é a raiva que a salvação de pessoas acaba por provocar. O Salvador se cansa de fuzcr
ao apoio de amigos ou a um grupo de auto.ajuda, como o Alanon, para então desen- coisas que não quer e a Vítima se cansa de ser tratada como alguém que não pode
volver um plano de ação que cuide de seus incercsses e aj~de Pcter a decidir o que furá cuidar de si mesmo.
para craw dos seus. Por fim, da deve pedir desculpas a Pcccr por Salvá.lo, prometendo lnevita.velmencê: o Salvador perseguirá a Vitima, ou a Vítima perseguirá o
nunca mais repetir esse componamen10. Depois de rudo isso, da podera sentir que o Salvador. A raiva fluirá em todas as direções.
relacionamento não está funcionando e decidir deixar Pcter. Concudo, se fizer isso, No momento em que representamos qualquer um desses papéis, a atitude
da não cstar.i fazendo uma troca de papéis, mas uma verdadeira mudança no script. emocionalmente educada é consertar a siruaçao, melhorar as coisas. Começaremos
Mais adiante, neste capítulo, enconcra-sc um exemplo de como conseguir isso. com a Salvação.

A VítiDla. C.Omo acabamos de ver, quando fazem o papel de Salvador, os indivíduos


acabam por enfurecer-se. NONA ETAPA
No momento em que isso acontece. oalvodagcnerosidadeequivocadado Salvador
roma-se consciente da raiva e desprao do Salvador. A Vítima que é Salv:i. começar.{ a
r Pedir Desculpas por Nossos Erros
sentir-se hwnilhada e traw:la como se fosse um caso para uma insriruição de caridade.
Remediando uma salvação
Oi6cilmence as pessoas gostml de ser viscas como a Vítima, por isso senccm-se I •
humilhadas e ressentidas quando se dão conta de que estio sendo Salvas. Embora o impuJso de f.izer as coisas pdos outros seja remador, e por mais difkil que
O exemplo acima conscitui um episódio do ciclo de Salvação na vida real. Eric seja dizer "não", aprender a não Salvar é fundamental para aquele que deseja preservar
Bernc falava do primeiro, segundo e terceiro estágio do jogo. E. possível avaliar a e desenvolver relacionamentos significativos, Quando percebemos que estamos rcpre•
gravidade desses papéis pelos prejuízos causados à Vfcima. sentando o papel de Salvador, numa espécie: de circulo vicioso, é importante consertar
Se a Vítima é agredida fisicamente, como no caso de Jacquie, temos um caso de nosso erro, reconhecendo essa aritude, pondo-lhe um fim e pedindo desculpas. Eis
Algoz e Salvador de "terceiro graun. Nos casos mais comuns, de primeiro grau, a uma maneira de f.izê-lo:
Vítima sofre humilhações, m~oas e tristezas. O jogo de terceiro grau acaba cm
suicfdio ou agressões A'sicas graves. Quando tu (~sa-tvt-st a ttrão), Salvei uor:ê: J) porque eu nátJ qutria.
realmente /azo iJso, ou 2) porqut pm:tbi que tstava fazmrlo mais (Ú) que
Chegamos então à qucstao ddicada que é o papel da Vítima e sua coca de
tÍt'llill. Pera desadp1JJ e da prdxima ua; promela sair-~ melhor. Vor:i-acdta
responsabilidade no que: está acontecendo. minhllJ tksaJpas?
Sem dúvida um grande mlmcro de indivíduos deixa-se esmagar pela imenção
única que move um oucro: ser o Algoz.. Os judeus na II Guerra Mundial, os negros Essa quesrão deve ser tratada com todo o cuidado. Tomar consci~ncia de que
dos guetos ou as vfti mas de estupro e incesto são um exemplo. No encanto, cm alguns alguém cem agido como seu Salvador pode ser omemame:me humilhante. Além disso,
casos a Vítima agrava a situação ao aceitá-la. Com certeza., no caso de Jacquie ela cscl saber que uma pessoa das suas relações quer dei.x.ar de lado alguma atitude que j.ã vinha
colaborando para o que está lhe acontecendo. praticando M. algum tempo pode soar como abandono. O assunto deve ser abordado

124 125
com muita delicadeza, e é essencial assumir a responsabilidade pdo erro cometido, Erros Que Cometemos QuandD Pedimos Desculpas
mosuando--se ao mesmo tempo tão carinhoso quanto poss[vd. Falar da Boca para Fora. A importância do pedido de desculpas é universalmente
Paza deixar de ser o Salvador, você precisa perceber com clareza o que quer ou reconhecida.
0 que não quer fazer, e o que é lfcito. E, é claro, você tem de determinar que acirude A Reparação é wna das 12 etapas do programa dos Alcoólicos Anônimos. Aqudcs
sua constirui especificamente uma Salv.a.ção. que mbalham c.om o público, como por exemplo aeromoças e caixas de banco, aprendem
A melhor maneira de fazer isso é colocando-se questões sobre o que você vem a pedir desrulpas como uma forma de aalmar clientes irados, quando necessário.
fazendo e se deve ou não concinuar agindo assim. Por aemplo, calvez você precise se Um pedido de desculpas pode ser superficial e inexpressivo. Não basta dizer
perguntar. simplesmente "Puxa, sinto muito", ou mesmo "Sinto muito, sinceramente", se não
• Quero dar continuidade a essa conveaa? houver uma atitude de seriedade e arrependimento sublinhando o pedido.
Por exemplo, Perer pedia desculpas com frcqüencia aJacquie. Ena-etanro, mal
• Quero fazer sexo? se dav.a. coma do que estava dizendo, e na cena expressava-se com um mínimo de
• Quero conscrw o carro? sinceridade. Sabia que assim apaziguava Jacquic, por isso estava pronto a pedir
• Quero ir ao jogo~ desculpas sempre que tinham algum problema. Ela aceirava a justificativa do marido,
mas em questão de dias - talvez horas - sentia que aquilo não servia paza nada.
• Quero visicar a familia de meu marido? Um pedido de desa.ilpas deve ser sincero e rcrcomo alvo derenninada atitude; caso
• Quero cozinhar hoje à noite? concrário, perde o significado e acaba se tomando inútil S6 as palavras não são suficientes
Vez. por ou era, a atitude de Salv.u pode exigir mais do que o seu quinhão. Neste para mudar as coiw ou abrandar aqude que foi magoado. E, é claro, desculpas que não
caso, voei deve se perguntar qual seria a cota de esforço mais justa num relaciona- sio seguidas por wna mudança de atirude tomam-se rapidamente inexpressivas.
mento. E pode fazer a si mesmo perguntas desse tipo: Culpar a Vitima. Quando descobriinos que estamos sendo o Salvador de alguém, é
• Para mim é suficiente lavar os pratos enquanto Mruy cozinha, ou rambém devo comum sentirmos raiva dessa pessoa. Jacquie é um exemplo: depois de tanro Salvar,
varrer o chão~ ela ficou furiosa com Pcrer. Dificilmente enfureceMe constitui a reação cerca; com
certeza é a atirude errada se voei: quer deixar de ser um Salvador.
• Está certo que seja sempre eu a iniciar a relação sexual?
Lembre-se de que para dançar o tango são necessárias duas pessoas, mas para
• Sou eu que sempre devo pagar o jantar quando salmos? mudar a dinâmica de uma relação, basta uma. Ficar irado pode prejudicar o relacio-
• É justo que eu sempre pegue as crianças na escola? namenro com a pessoa que você: cem ajudado, por isso é importante pôr um fim à
S-alvação ames que a raiva aumente. O que se consegue com uma explicação delicada
• Há meses Sharon vem falando sobre seus problemas com a irmã. Devo deixar que e enriquecedora, e não com um retraimento repentino. Acima de tudo, não coloque
da continue, ou digo que esse assunto jt esi:á me cansando? 1--
a culpa de seu pr6prio erro na vftima. Não se esqueça: ser o Salvador é um erro seu,
Em ourras palavras, voce tem de aprender a saber o que quer fazer ou qual é, na l- não neccssariamcmte um erro da Vfrimaque é Salva.
sua opinião, uma discribuição jusm das responsabilidades no rdacionamenco. Vou
explicar o que estou querendo diu:r usando o exemplo de Peter e Jacquie: ESTUDO DE CASO
• Quando Jacquie prepara o janw todas as noites e Peter assiste TV, da está fuendo
mais do que a sua parte, portanto, está sendo a Salvadora, ainda que goste de Os Dois Ladoi de um Pedido de ·Desculpas
cozinhar e não se incomode. Eis um exemplo de um pedido de desculpas adequadameme proferido e aceiro:
• Quando da lava a louça porque Peter sugere deixar rudo para a manhã seguinte, Freqüentemente Laura mantinha relações sexuais com o marido, Brian, sem
ela está f'azcndo algo que odeia, ponanto, escá sendo a Salvadora.. sentir vontade. Ele alegava que tivera um dia diRcil e precisava dela, ou que escava

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excitado e não ia conseguir dormir se da não ~ e sexo com ele. Caso Laura se Brian explodiu. "O que você está querendo dizer? Não quer mais dormir
recusasse, Brian fiava zangado ou emburrado. Nesse ponto Laura acabava cedendo, comigo?"
não importa como estivesse se sentindo. "Não, na.o estou dizendo que nunca renho vontade de rraru:ar, só estou querendo
Ela me procurou e perguntou se poderia modificar sua relação com Brian. Dizia moscrar que nós fa7.emos sexo quando você csú com vontade e não quando eu estou,
amõi-lo, mas sentia-se usada por ele. Ultimamente o ressentimento contra o marido e cu não quero continuar a f.u:er amor sem sentir vontade. Não estou colocando a
vinha aumenC1.ndo, e chegara a pensar cm deixá-lo. Laura acrcdicaw. que um pouco culpa em você pelo meu comportamento até agora, satisfuend!) os seus desejos e
de educação emocional poderia ser útil, e gostaria que cu lhe transmitisse as fer- ignorando os meus. Estou tentando assumir a responsabilidade pelos meus atos, mas
ramentas necessárias. camb6m quero mudar as coisas."
Depois de conversar por algum tempo com ela, percebi que Laura costumava "Bom, parece que eu não estou te excitando, que você transa por caridade.,."
representar o papel de Salvadora não apenas com Brian, mas cm rodo ripo de situação. "Não, não, você me atrai sim, s6 que às vezes estou cansada ou preocupada ou
Com Brian, seu pior ato de Salvação consiscia em manter relajjões sexuais mesmo sem shnplesmente não simo vontade de ter relações."
ter vontade. Agora da estava se sentindo usada e queria tornar-se o Algoz, deixando T
,• "Bem, alguma vct voe! sentiu vontade? O que me parece é que, se cu não
o marido. começar, de você n,unca vai partir nenhuma iniciativa."
Expliquei-lhe a imponância de assumir a responsabilidade por suas arirudcs e ·t verdade que em geral não sou eu quem inicia a transa, mas às vezes eu gosto
moruei como produ:rir um pedido de desculpas pdo coÍnpon:amento de Salvadora.. muito quando você toma a iniciativa. Em outras ocasiões, como eu já disse, estou
Afirmei que ela pro:isava deixar de ser a Salvadora cm todas as siruações, e que cansada e não muito disposta. Não quero continuar a transar assim, sem sentir
seria uma boa idéia começar por Brian. Eis o que aconceceu cm seguida: realmente vontade. Fico com vergonha de mim mesma e, de vez em quando, até
mesmo com raiva de você. Talvez se a gente não rransassc tantas vezes sem que cu
Na sexta-feira à tarde, Laura disse a Brian que gostaria de fazer um jantarzinho sinta vontade, eu pudesse sentir von~de mais vezes."
especial na noite seguinte para terem uma conversa importante. Brian mostrou-se Brian ouviu em silêncio.
desconfiado e um tanm alarmado. "A culpa não I!: sua, eu assumo a responsabilidade pda minha decisão de ceder.
"Quero falar sobre algo em que tenho pensado", wsse Laura. "Janraremos cedo Mas a partir de agora quero agir difereme. S6 quero que a nossa relação seja agradável,
e depais poderemos convers:ir tranqüilamente." como sei que ela pode ser, porque eu ceamo."
Na noite de sábado, depois que Brian terminou de: jancar, Laura respirou fundo
e deu a partida. 1 Brian fitou-a desconfiado. "Bom, não vou te incomodar, não quero que você
faça caridade sexual comigo. Quando quiser &zcr amor, me avise."
"Brian, tenho me sentido um pouco incomodada com uma questão nossa. Posso Com isso, ele foi para o soÍá e ligou a TV para assistir a um jogo de beisebol.
falu sobre isso?" Laura estava bastante abalada, embora eu a houvesse alerta.do que Brian poderia
Brian deu de ombros. Embora estivesse sorrindo, inrernamcnce ele se senua mostrar•se muito defensivo a prindpio. Contudo, uma vez superado o choque inicial,
apreensivo. "Bom, parece que é por isso que estamos aqut, anunciou caucelosarncnte. provavelmente ele iria relaxar e aceitar os sentimentos e a proposta da esposa.
"Bem, fico com medo de você se aborrecer com o que vou dizer. Lá. vai". Laura Laura foi para o quan.o, ond~ sabia que não seria ouvida, e rdefonou para a
engole em seco. "Para mim esr;i sendo dificil fazer amor com você ultimamente, innã, com quem desabafou sobre seus problemas. Depois foi se deitar e teu um
porque às vezes não sinto vontade." romance. Decidiu deixar a louça para o dia seguinte.. Quando Brian veio deitar-se,
Fitou-o nervosamente, procurando perceber a reação de Brian. Não conseguin- fingiu estar dormindo para cv:icar um confronro. Ele se acomodou na cama sem
do identificar nada no rosto do marido, da fui em frente. "Não mostro claramence a encostar nda e, depois de permanecer algum tempo acordado, caiu no sono. Ao ouvir
você que cu não quero, acho que eu passo uma mensagem dupla, e peço desculpas sua respiração regular, Laura aproximou-se e abraçou-o até adormecer. Escava preo-
por isso." cupada, mas procurou ter em mente que as coisas rerminariam bem.

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Mudança rk Sentimento Superando uma Perseguição
O papd de Algoz é muito ma.is óbvio do que o de Salvador. Não é preciso explicar
Pela manhã, Brian, que havia percebido Laura aninhada junco a de durante a noite, por que o pedido de desculpas para o Algoz é tão imporoum!
mostrou-se arredio, limitando-se a ler o jornal e a tomar o café. Então decidiu Cerras pessoas cosrwnam representar os Algozes, digamos assim, "encalhando"
sair inesperadamente, anunciando uma combinação dominical de última hora com nwn papd de ira e censura. Nada funciona, rudo é culpa do outro e o sentimento de
alguns amigos. raiva de alguém ou algo é constante:.
À noite, chegou cm casa com um pequeno ramo de flores desajeitadas que havia O Algoz é a imagem da Vítima para quem nada dá certo e tudo é culpa de outra
colhido quando voltava para casa. Ela o beijou cm agradecimento. Por um instante, sentiu pessoa.
vontade de agarrar Laura e beijá-la, mas conteve-se, sentindo-se vagamente humilhado. Quando representamos o papel de Algoz., nós nos moscramos irritáveis e
Ela. percebeu a percwbação do marido e fui para a cozinha preparar um chi rabugentos. Podemos insulw, ridicularizar, desprezar, ignorar, interromper, vocife-
Brian sentou-se no sofã, debatendo-se com o sentimento de humilhaçáo. Afinal rar, repreender ou escar sempre contradizendo alguém. Ou podemos mentir.
de contu, pensou, da não está me censurando. Lembrou-se das raras vt!V!5, no Todas essas atirudes constituem jogos de poder, e ser o Algoz implica fun-
principio do relacionamento, em que da quisera transar e ele havia se mostrado damentalmente lançar mão do jogo de poder para dominar as pessoas. De maneira
cansado demais. Decidiu tentar não levar a situação para o plano pessoal. sutil, tanto o papel de Salvador como o de Vítima faz uso desse jogo, pois a finalidade
cm ambos os casos também é a manipulação do outro.
"Vamos comer fura esta noite", ele anunciou impulsivamente.
Em lugar de apegar-se intensamente a esse papel, as pessoas na maioria das vezes
Ourante o jantar, Brian perguntou: "Posso falar sobre como estou me sentindo?"
mudam de urna atitude normal e raioávd para o papd de Algoz em uma ou duas
Laura concordou animadamente:. interações. Então, sem se darem conta das conseqüências de seus atos, voltam ao
"Quando você me falou da sua falta de voncade para o sex:o ontem à noice, a normal como se nada tivesse acontecido.
principio fiquei 7.angado, e depois assustado com a idéia de que você não sentisse mais Cada uma das agressões do Algoz, insignificante ou marc.ance, acrescenta e cria
arração por mim. AI fiquei triste porque remos tram:a.do sem que você sinta prazec." ressentimemos. Que acabam proliferando e se transformando em atitudes mais
Laura assentiu. agressivas e em sentimentos ainda mais exaltados. A m3.ioria das pessoas absorve esses
Brian continuou. "Aceito suas desculpas por se submeter. Vamos ver se s6 incidcnces na convicção de que eles estão sendo remediados, o que se verifica no
transa.mos quando nós dois quisennos.n entorpecimento emocional.
Contudo, se quisennos levar uma vida emocionalmenre harmoniosa, teremos
Naquela noite, depois do jancar, beijaram-se na cama. Brian decidiu não fazer
de corrigir todos esses danos, o que conseguimos reconhecendo nos.sos erros e pedindo
qualquer tenrariva de manter relações com Laura, que adormeceu cm seus braços. Ele
desculpas.
"ficou frustrado e pennaneceu acordado por um bom tempo, mas sentiu-se tranqüili-
O Algoz pode ser muito óbvio, muito sutil ou siruar-se numa posiç.ão interme-
zado com Laura dormindo aconchegada junco dde.
diária. A cura para o Algoz segue o mesmo padrão da cura para o Salvador. Vou dar
Foram necessários alguns meses para que as tensões entre Laura e Brian se
um exemplo:
acalmassmi. Contudo, pouco a pouco de passou a aceitar os desejos da mulher e
superou sua s~ção de constrangimento e abandono. De sua pane, Laura esforçou-se
ESTUDO DE CASO
para de vez em quando tomar a iniciativa na cama, sobretudo nos fins de semana,
quando dispunha de ma.is energia. Desarrumado e Asseada
Graças ao diálogo e a concessões mútuas eles deixaram de lado o padrao
destrutivo do Salvador, que secreramentc ameaçava a vida ;exual de ambos e, em Bech foi morar há pouco tempo com Richard. Beth é organizada e asseada. Além
disso, é muico cuidadosa com seus objetos. Na sua opinião, cada álbum de recor-
última análise, o casam emo.

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dações, oda livro, suas roupas e acé mesmo as rrnstas represencam pequenos cesouros Tornando consciência de seu erro, Bech pergunta a Richard quando ele teci
que e.la foi acumulando e guardando, não obstante as inúmeras mudanças de um tempo para conversarem. Ele sugere depois do almoço e, quando chega o momento,
aparramenro para outro. o diálogo deve acontecer da seguinte maneira:
Richard é um criador de caos conrumaz e convive com uma pilha de paptis, uRkhard, quero lhe pedir dcsculpas.b
caixas com novas aquisições e roupas espalhadas por todos os lados. "De quê?"
Sem querer, Richard costuma colocar suas coisas sobre as de Bcth, que fica "Você sabe como nós brigamos quando você trata as minhas coisas de wna
furiosa. Ela é muico dccalhista e sempre sabe onde coloca seus objetos. Jamais atira maneira que não aprccio.n
seu casaco cm cima dos sapacos de Richard ou amassa suas rcviscas novas. Além disso, Richard arqueia as sobrancelhas e murmura "hum-hum", demonstrando esta.e
ela esrá passando por um momemo de grande tensão, cm vinude de desavenças com perfeitamente ciente das "brigasn, que a seu ver parecem tempestades num copo
o patrão e da preocupação com o irmão deprimido. A negligência de Richard a está d'água.
deixando cada ve:z mais irritada. "Bem, acho que venho te aconnencando injustamente. Nunca sentei para pedir
calmamente que agisse de ourra maneira, e creio que não posso esperar que você se
Corno não sabe ao cerro de que maneira cocar no assunco, freqüentemente Beth
transforme da noite para o d.ia."
lança mão de um tom de voz furioso quando se queixa: ªOh, querido ... olha só o
"Estou muito frustrada e preocupada com meu patrão e com meu irmão, e
manual do aucomóvel todo cheio de graxa que encontrei em cima dos meus escarpins
provavelmente estou descarregando uma parre da minha frustração em você. Peço
preferidos... seu danadi nho."
desculpas por estar sendo tão agressiva e impaciente."
Richard lança um olhar em direção a ela, vagamente consciente de que está
Diante dessa atitude, a reação de Richard poderia ser a seguinte: "Tudo bem,
sendo repreendido. Mas o problema continua. Acé que finalmente Bech fica irada.
eu não tinha me dado conta de como você l= suas coisas a ~rio. Vou procurar
"Que saco, Richard, por que você fu isso? Olha como os meus sapatos estão
melhorar. Desculpe por eu ter chamado nosso quarrode'mcuquano'. Também acho
amassados~ Estou há quase uma hora procurando o meu suéter, que você misrurou que devo te ouvir com mais atenção_."
com a sua roupa suja! Não roque nas minhas coisas!"
"Elas estão espalhadas pelo meu quarto", Richard revida.
"Seu quarro? Se eu não posso colocar minhas coisas na cadeira do NOSSO Abandonando o Papel de Vitima
quarto, enrao estou arrependida de cer vindo morar com você. T alvC"L seja melhor eu Por último, mas com ccrreza não menos importante nessa lista de atitudes corretivas,
ir embora para que você possa ter o SEU quarto de volta." vem a cura do papel de V/cima.
No seu Intimo Beth e.scl cada vez mais inquieta com a postura agressiva que Uma das maneiras de recuperarmos uma pane de nosso poder, quando nos
acabou assumindo. O que dera errado? sentimos completamente derrotados e impotentes, é fu.cr o papel de Vitima.
Do pomo de vista da educação emocional, eis o que deu errado: Um dos primeiros jogos que Eric Beme descobriu, e que ilustra muito bem esse
principio, é o "Por que você nao? Sim, masn.
Depois de conseguir a atenção de Richard, da deveria ter fulado dos próprios
sentimentos com tranqüilidade, fazendo uso de wna afirmativa de ação/sentimento. Nesse jogo, aqude que se encontra no papel de Vkima "fisga" uma ou mais
Em ve:z disso, Beth começou reclamando cirnidamencc, num tom de brincadeira um pessoas, pedindo conselhos para um problema que ele considera irremecfüivel. Por
tanto critico que só conseguiu deixar Richard confuso, sem captar a mensagem de exemplo: Bruce. detesta seu emprego e seu chefe, e tem certeza de que seus colegas de
trabalho odeiam•no. O que de deve fuer? Faz essa pergunta a vários amigos, que
Beth. Em resumo, o quc ela fez foi concordar com o estilo desorganizado e indesejável
procuram ajudar:
de Richard, agindo como Salvadora. Suas queixas tornaram-se subitamente hostis no
momenco cm que da se cansou de ser ignorada. T: "Por que você não deixa esse trabalho e enconua outro?n
Vejamos o que ela deve tazer: B: "Sim, é uma boa idéia, mas os oucms trabalhos não pagam tão bem quanto esse."

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N: "Por que você não consegue um mediador do sindicato e cene2 ajeitar as coisas Ed está falando demais durante uma reunião no crabalho e uma de suas colegas,
com o seu pacrão?" Sue, ordena que ele caJe a boca, quando na verdade uma reação bem menos agressiva
B: "Sim, eu ~sei nisso, mas o mediador do sindicato agora é wna mulher, e ela reria sido mais adequada. Mais tarde Sue vai aré a sala de Ed e pede desculpas.
não entende de:s.ses problemas." Enuetanto, ele continua magoado por ter sido menosprezado na reunião. Por alguma
F: uPor que você não panicipa de um fim de semana de meditação e produz uma razio, as desculpas náo funcionam.
luz branca à sua volta para protegê-lo de todas essas \'1.brações negariv-.as?" Como lidar com a o:plicação da colega de uabalho sem aceitá-la de pronto?
O erro mais comum quando se recebe wn pedido de desculpas é perdoar com
B: uSim, com certeza, mas você já viu quanto custam esses fins de semana?"
facilidade demais. Ed poderia reagir da seguinte maneira à justificativa de sua colega:
T: "Tem razão, você escá num momento bem difkil. Se eu estivesse no seu lugar, ia "Não tem problema, rudo bem."
querer me matar."
Conrudo, agindo assim, o mais provávd. é que ele esteja temando evitar a hwni-
B: "Estou vendo que nada disso ad.iama. Acho que nenhum de vocês pode me ajudar. lhação de sentir-se tratado com condcsccndênàa Ou talvez de esteja tentando agir como
Sou eu que tenho de fa:zu alguma coisa, nio é? Essa situação é irremediávd." Salvador, ocimindo a colega de suas responsabilidades. É melhor não fuer isso.
A= aJnua rodos estio deprimidos. Bruce rcgozija•se com sua capacidade de Um pedido de desculpas não serve de muita coisa se for aceito sem reflruo. Se
deixar abatidos um punhado de companheiros de bar, e sua sombria visão de mundo alguém se desculpa de: maneira superficial, e você responde "Não tem problema",
fica comprovada. possivelmente continuará se sentindo tão mal quanto antes. Você aceitou essa
No dia seguinte Bruce comprou o livro Educação Emocionale leu sobre o papel justificativa apenas porque aprendeu que é isso que se espera socialmente de você.
da Vítima. Deu-se conta de sua rendência para a depressão e a desesperança, e de que Mesmo que as desculpas sejam sinceras, poderão tomar-se inúteis se você as aceitar
a melhor maneira de abandonar essa pomua é pedindo desculpas. descuidadamente.
No próximo encontro com os amigos, deixou todos surpresos ao dizer: "Ouçam, A reação emocionalmente apropriada é sempre refletir sobre o pedido de
caras, quero pedir desculpas por uma coisa." desculpas e decidir se quer aceiti•lo ou não.
Todos permaneceram num silêncio estarrecido.
Hl. duas razões perfeitamente: válidas que justificam a incficlcia de um pedido
B: "Bem, quando começo a me queixar do meu trabalho e fico pedindo conselhos de desculpas:
sem aceitl,.[os, acho que na verdade estou agindo como uma vítima imporence, • Ele soa falso;
devo parecer um pedime. Sinro muito. Não vou ma.is fazer isso.n
• Ele: não especifica a agressão perperrada.
T: "O que é isso, uma reparação cm 12 etapas ou o quê?"
Neste caso, Ed poderia diz.cr o segui nce: "Olha, Sue, obrigado por cer vindo me
B: "Algo desse ripo. Mas esrou &lando sério, e quero que vocês aceitem meu pedido pedir desculpas, mas não me parece que você esteja sendo sincera. Você realmente
de desculpas, rudo bem?n lamenra o que disse? É bem veroade que c:u escava falando demais na ~união. Mas é
muito ruim ser tratado assim. Eu gostaria de acreditar que você de futo esrá arrepen·
dida de cer falado daquela maneira comigo."
DfCIMA ETAPA
Aqui Ed optou por agradecer, mas não aceitar as desculpas de sua colega.
Aceitar ou Rejeitar um Pedido de Desculpas Suponhamos que Sue tenhasedirigidoàsal.adeEd e tenha sido sincera; "Escuta,
Ed, sinto muico pelo que aconteceu hoje à tarde."
Sem dúvida é preciso ter muita habilidade para pedir desculpas com sinceridade. Ed poderia aceitar isso, mas mesmo assim sentir-se constrangido. Ela está
Contudo, o que poucas pessoas parecem perceber é que aceitar ou rejeitar desculpas pedindo desculpas por quê?
também c:xige perícia igualmenre ampla. Ele pergunta: uDo que você está falando? Está pedindo desculpas por quê?"

134 135
. Lado 1nugro
Sue poderia responder: "Ah, por cer me tangado com voe~ e não rcr oferecido A.gredir o de Agredir o Lado íntegro·
café no intervalo." voco é aquilo que chaJOO -
l}rr,. outtO equf plo de Ed e Sue. seu tomdevoz.dcsagra
t claro que isso n\io vai funcionar. ..
•?
Vamos vob:ar ao excrn
c.J
d culpas sincet35 a .cu par
Ed deveria dizer algo do tipo: _L~... que Sue peça es , d ara
Sup<>w-~os . -.r:a oi.ar a boca. urna oportUn1d.a e p
"Sue, percebi o que houve no intervalo, mas o que realmente me magoou fui o dá,vel quando lhe disser-- 'do de desculpas de Sue corno
modo como você me mandou alar a boca. Se quiser se desculpar, ~ desse pedido de
E.d paderia usar o pcd~a oi-la como ela o magoou: di1.Cf "'Estou ofendido e
desculpas que preciso." . us sentimentos, paxa. g . tlficar"' e\e podena .
Sue mostra-se surpresa. "Ah ... bom, você tem razio, aquilo foi desneccsdrio. ferir se . na hora de se JUS ,.. ~
"Bom. Já estava voá age como uma va01- :'IOlver sua E.d.ucaçao
Acho que eu pensei que voe! não se incomodava com crfócas•.. Sinto muíto. Eu não
z.angado corn você. Às vt:IJ!S a ucle que está tentando d~nna.tlva de açãof5:n~
devia ter fulado daqude jeito com vod:."
!sto de nada serve ~o ~e paderi fa7.er"U.SO de um do voe! falou cormgo
Agora Ed pode rdaxar, eis um pedido de desculpas que de pode aceitar. Tudo Emocional. Se E.d esóvet ira • ,.;,o: "Fiquei ,zangado quan -'ido d.e desculpas,
que foi dito acima pretende d~mon.suar que wna pessoa pode necessitar de um pedido lidar com sU2. rea.. .d Mas agradcc;o seu F ..
de dcsculpàs mais amplo do que aquele que está sendo oferecido. tlmento par.i. bém estou constrangi o. d
d.aquele jeito- Taro . :•..,.. " roiooa foi tão profun a
~ far.1 mais ..,,....... ral porque a D • cdse
Por favor, nao • ã funcionam, cm gc . -~ . Talvez. a viama pr
J,..s ~ descul~ n º1 uma simples )u.stincanva-
Recusando um Pedido de Descul.p11S cl eUmmá- a com ~o
que não é posslv d alguma forma de repa.ta? .
Mais alguns exemplos: de urna exp\.icação ou e necessidade de que
• Uma mulher fica arrasada quando seu noivo cancela o casamento um dia antes Por eitcml?\o~ . d" elo finacci raroente pela cspai:3~~ da insolvência.
da cerimônia. Ela se scn te destn.úda e humilhada. Dias depois, ele a procura para pedir O homem que é preJu ,ca .ará um uabalho pata u - . u nome na
d e que arranJ . convite em se d
desculpas, mas da esci furiosa e magoada demais para aceitar. e\a explique quem~ ou e André admita ter aceito um ir assim e consultar Clau e
Somente depois de muitos meses é inúmeras e prolongadas discussões em tomo Claude precssa qu . ·d- Promete parar de ag
b a sua om1 ..... bo ul
da decisão de romper o compromisso é que finalmente ela consegue aceitar as esperança. de que ~ .al que envolva a.rn s. . d m pedido de dcsc pas
desculpas. ,.,,da compromisso soct a finalidade málóma eu .
cm - . mente que
• Vítima de wna longa série de gastos compulsivos feitos pela esposa, Peter é t .unr-
nortaJllC ter cm
·da.de de sanar a
própria. mágoa.
incapaz. de perdoá-la. Ele ncccssim de um pedido de desculpas muico mais amplo pelos é dar à V{tirna a oport11n1
anos de preocupações financeiras que da lhe causou, aUm de um certo número de
EI RA ETAPA
evidências concretas da intenção de sua esposa de mudar seu modo de sc.r. Dt.CIMA PRlM -
• André, amigo de Claude, desculpa-se por reraccim um convite pata jantar em
nome dele .sem consuhá-lo. Claude começa a perceber que André vem ignorando sua Pedi.r PeráãD
aversão a incursões sociais com novas pessoas. Ele sempre acha que cada festa é uma & edir desculpas
exceção. Rejeita as desculpas porque André não parece se incomodar com o fato de •0 n,a1.m.ente edu.cad~_: P te outra pessoa
Uin modo euioo snagoou profunwuu-en:
colocá-lo sempre em situações embaraçosas.
Esses exemplos mostram que é um erro acdtar um pedido de desculpas se este
Por UJD.3. atitude 411.e . Em vista disto, fu parte da
c..-uênaa. .
. . cpetcrn-sc com 11'-'i uc necessário,
não fizer com que você se sinta realmente melhor. Vod deve explicar àqude que está Inúmeros er[OS em_ocl:i"·r r 'flcl.-los e corrigi•\OS sempre q
se justificando por que Dão esci se saindo bem. Assim ele poderá tencar desculpar-se manutenção emoc1on I cnt1
de maneira a reconhecer a verdadeira natureza de seu erro.
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Contudo, vez por outra comeremos erros graves que podem causar danos a Owame o worluhop, Edgar percebeu que precisava fazer algo que nunca havia
longo prazo. Neste caso, impõe-se fazer um pedido de descuJpas mais amplo e até tentado antes: asswnir toda a responsabilidade por sua infidelidade e implorar- o
mesmo, s.c necessário, implorar perdão. perdão de Ros.c.
"Peço desculpas por (ação); agi mal e lamento ter magoado você. Você me E assim fez. da maneira mais comovente. Diante de rodo o grupo, Edgar ficou
perdoar de joelhos e agarrou a mão de Rose. Com lágrimas nos olhos, pôs.se a falar.
"Rosen, pediu, "posso dizer uma coisa a vocêt
"Pode", ela conco_rdou.
ESTUDO DE CASO ªRose, sei que já pedi descu.lpas uma centena de vezes por causa disso, e já me
queixei porque parece não ter adiantado nada."
Impwrando o Perdão Ela assentiu.
"Depois desse debate, percebi que, embora eu tenha pedido desculpas, elas não
Um exemplo tocancc de um pedido de perdão é a hi.srória de Rose e Edgar, ambos eram sinceras, e foi por isso que não funcionaram."
com 62 anos e prestes: a comemorar seu aniversário de 40 anos de casammto quando Novamente da kz. que sim com a cabeça.
decidiram panicipar de um de meus workshop, de educação emocional. "Eu sei a causa. É porque eu ainda não havia percebido o quanro magoei você.
Depois de debatermos o poder que wn um pedido de desculpas, Edgar l=nrou Eu não queria realmente aceitar que a rinha magoado ramo. Por isso eu pedia
a mao e declarou que precisava fazer um cerco trabalho emocional com Rose. desculpas e nunca deixava de sentir a sua dor."
Ele o.plicou o porquê: 35 anos atrás, na noite do nascimento do filho do casal, Ele enxugou os olhos e perguntou; "Posso repedir desculpas agora?"
ele havia mantido relações sexuais com outra mulher. A essa altura não havia mais ninguém de olhos enxutos na sala, inclwive Rose.
Mais uma vez da assemiu, dessa vez calorosamente, pousando as mãos sobre as dde.
Tudo aconteceu depois que ele viu o bebê e visirou Rose no quano do hospital.
ºRose, depois de todos esses-anos, percebo o quanto magoei você. Sinro muito
Ele foi embora tarde da noite, mas estava empolgado demais par-a ir direto para casa.
por tudo que fiz, sinto ramo que demorei esse tempo rodo para compreender a
Decidiu então ir a um bar da vizinhança tomar um drinque. Ao senrar-se para
exrensão da sua dor. Por favor, você me perdoa?" Rose concordou e eles se abraçaram,
desfrutar de seu uísque duplo, avistou wna moça do seu trabalho. Contou do
e foram rodeados pelos alunos do curso de Educação Emocional.
nascimento de seu filho e ofereceu-lhe uma bebida. Um drinque levou a outro e, antes
Um ano depois encona-ei•me com Edgar por acaso. Perguntei-lhe como es-
que ele se desse conra, foram parar no apartamento dela, onde transaram.
tavam as coisas e ele me conrou que recencemente haviam feito uma festa de
Na manhã seguinte Edgar foi embora tomado pela culpa. Estava se semindo aniversário maravilhosa, com muitos amigos e a família.
péssimo porque fora infiel à esposa e achava que devia ser honesto e contar a Rose o "AJiásn, ele acrescentou, "Ros.c nunca mais falou daqude incidente:."
que tinha feiro.
A noácia deixou Ros.c arrasada. Embora ele tivesse garantido que esrava
completamente bêbado e nunca mais queria ver aquda mulher, Rose ficou inconso- DÉCIMA SEGUNDA ETAPA
lável e não o perdoou.
Aceitar ou Recusar o Perdão
Ao longo dos 35 anos seguintes, praticamente em codasasdiscussõesque tinham
ela se referia àquele incidente. Sempre que Rose sentia que Edgar não estava lhe dando Depois de ouvir um pedido de desrulpas, esta etapa mostra
o valor ou a atenção que da merecia, ela crazia o temível assunto à baila. como conceder, recwar ou adiar o perdão
Essa atirude foi deixando os dois exrenuados. Depois de ranros anos, o epis6dio
ainda era um rorrnento constante em suas vidas, o qual des já haviam desistido de Depois de ouvirmos um pedido de desculpas e um desabafo sincero, podemos;
eliminar. · • Conceder o perdão;

138 139
• Adiar a n:paraçio adicional e imincnre; Bill acabou celefonando para da e, depois de um preâmbulo educado, indagou:
'Você recebeu meu bilherer
• Recusar o perdão.
"Recebi."
Pressupõe-se que, se algu6n oferece um pedido de desculpas sincero por um "Eaír
erro parciculanncntc grave, a parte ofendida está pronta a perdoar, ou assim deveria
"E ai o quê?"
ser. Contudo, o perdão é um dom enorme, que nem scmpn: pode ser concedido. O
'Você me perdoat
perdão depende inteiramente da abertura de nosso coração para um pedido de
desculpas, e não é posslvd nem aconsdhávd obrigar o coração quando se trata de "Por quê?"
amor, ódio ou perdão. "Como assim, por quê? Pensei que você queria um pedido de desculpas!"

Por con~te, nas relações emoàonalmcnce educadas ~ tão impoltllltc


"Ah, sim ... bom, acho que eu não te pcrdôo."
conccclcr ou recusar o perdão quanto pedi-lo. Infelizmente, às v~ o perdão não é "Por que não1"
concedido cm nenhwna circunstância. "Você não pediu desculpas de verdade."
Karla demorou cinco anos para recuperar-se de um divórcio profundamemc "E o meu bilhetd"
sofrido e amargo, no qual Bill foi embora repcntinamcnrc com uma amante secn:ta "Seu bilhete foi legal para começar. Você pediu desculpas porquê?" "Por magoar
de seis meses, para cm seguida tentar, sem sucesso (porque Karfa tinha um advogado você. n
muito bom), impedi-la de rcccbcra parte que lhe cabia dos bens do casal. O sofi-imenro "Eu preciso de um pedido de desculpas pelo que você fez."
de Karla durou cinco anos inteiros, mas da acabou conseguindo recuperar-se de seu "O que você quer dizer?"
infortúnio, conhco:u ouuo homem, voltou a se casar e está fdiz. No enranco, até hoje "Você mentiu, foi cruel, tentou me enganar."
os olhos de Karla se enchem de lágrimas sempre que ela fula a respeito do passado. "Não sei do que você está falando. Isso é wna questão de ponro de vista... "
Logo após o divórcio, Bill separou-se da amanrc e voltou a procurar Karla, apenas
"Bom, então para que você c.stá pedindo dcscuJpas? Não basta dizer que você
para serem amigos. Mas da não queria sequer dirigir a palavra a Bill; não obstante,
me magoou. Qual foi sua participação? Se você não pode reconhecer o que ftt para
com o passar dos anos, graças a amigos comuns que gostavam dos dois e pelo bem do
me magoar, não estou nem um pouco interessada num pedido de desculpas."
filho adolescente, ocasionalmente ela passou a falar com o e:x-marido por tdefonc. Há
A conversa terminou assim. Vários anos depois, Bill mais uma va. quis consenar
muito ela havia concluído que o primeiro casamenro fora um eq ufvoco e que a melhor
coisa que podia ter acontecido fora o divórcio. Entretanto, Karla não conseguia as coisas. Escreveu outro bilhete.
esquecer nem perdoar as mentiras que Bill pregara e as jogadas financeiras contra as
quais tivera de lutar. Acravés dos amigos, ela ÍC'Z com que Bill soubesse que, sem um Querida Karla:
pedido de desculpas, nenhuma forma de relacionamento seria posslvel. Peruei naquilo que convuramos e concordo que mmti para vod, mas foi
Este, ansioso por restabelecer a amizade, escreveu-lhe wn bilhete: porque eu achava que você fitaria maiJ transtornada u souht:Sse a vmiatk, t
finanuirammtt eu tinha medo qut: voc2 me rkpenasu. Sinto muito se f ai 1tu1
Qumdtt Kar!a: sentimmtos, peço dt1culpz.
Qµrro pedir desculpz por toda a mdgoa ~ lhe causa. Sinto muito.
Bill Novamente Karla não ficou satisfeita. As justifica.tivas de Bill para as atitudes
que agora ele reconhecia como suas desqualificavam tanto o pedido de desculpas que
Quando recebeu o bilhete, Ka.rla ficou furiosa. Ele esperava que ela accirassc Karla não conseguiu abrir o coração, nem ver alguma razão para que Bill fosse de novo
aquda nocinha escrita às pressas como um pedido de desculpas? Não se deu ao trabalho acciro em sua vida. Aparentemente ele não havia percebido o quanto a havia magoado.
sequer de responder. Ela respondeu com outro bilhete:

140 141
Bill: RESUMO DO CAPÍTULO SEIS
&cebi sua cana. , vejo q~ você e1td tentando comertar as couas. Entrttanto,
você atá despa-diçanda palavras ao pedir de1culpas ptlo que fez. em lugar de Assumir a R.espomahiüdade
admitir qiu eu pasui por umJ1. o:pmmcia tmível e dolaroia. Ambos comete-
mos emn pelos quais estamos pagando. Eu não foi perfeita. Mas st quiser que A d rá be . o mais difkil na Educação Emocional é reconhecer
Como voce po e pe.rcc r, é ma cta=
voltemos a ter amigos, terei de ser convencida tk que você um con.scimcia do , s que você cometeu em seus relacionamentos, mas esta u r-
os cqwvoco
quanta m, magoou, , de que o meu sofrimento foi causado pelai SU4J atituda.
indispensávd.
Entiío você terá de smrir e tkmonstrar nlgrnn nrreprodimmto, , talvez atl SU4 Em primeiro lugar, você dc:ve admitir para si mesmo que :mete_u um
culpa. para mim. Preciso peruber tsu tipo de smtimmto em você e, mqurmto Depois terá de confessar seu erro ao oucro. Af você teci e sefunnur ~
mo não aconucer, sinto e acredita que o melhor para mim i ma.n~rmos erro. , .. . , magoou Por , tera
arrependimento verdadeiro e uansmmr ISSO a pessoa que .
distAnda.
de oferecer alguma forma de reparação. A ••

Karla. eometemos .....·"""S emoo·onais quando incorremos num desses tres papéis.
~

Assim o assunto foi en~rrado. Talvez Bill venha a compreender o que precisa Sal,.,ador, Algoz. ou V(cima. . das
fazer, ou conclua que não é capaz ou não quer, mas Karla está cuidando cmodonal- Como Salvador, você = e.._ -r~~ =ssoas coisas que não dc:seJa e que
~ r-

mcnre de si mesma ao recusar um perdão prcmaruro. Se ela se comovesse e tratasse dcveriam fazer par si mesmas. . _ _.
Bill com demência, sem desfruttr o prazer apaziguador de um pedido de desculpas Como Algoz. você fica irado e:, sentindo-se: cheio de ra7ao, crmca outras
sincero, ela num;a estaria realmente se abrindo para Bill, e a "amizade" entre ambos pessoas via de regra aqudas que você ccntou Salvar.
ser.ia uma hipocrisia penora. Todo o processo do pedido de desculpas e do ~rdão é ~omo Vh:ima, pcrmice que um Salvador cuide: de você ou que um zgoz
extremamenrc: importante: numa aisrência emocionalmente c:tiucada, e vale a pena o acuse, lamuriando-se o cempo.codo porque não pode fazer nada para me orar
l~-lo a cxrremos por ve:c:s torrunntcs. a situação. · di d culpas
A medida que as pessoas vão-se familiarizando com o uso dessas récnicas, das Se você agiu como Salvador, Algoz, ou Vítima, é preCISO pe r es
deixam de lado o consrr.1ngimento inicial. E as técnicas tornam-se pane da manuten- , essoas ue m oou e dispor-se a agir como um adulto responsivd daí ~r
ção de um cotidiano emocional, como recolher as folhas no quintal, levar o cachorro
as p q fo~ d d ndera. melhor maneira de conceder, adiar
diante. Se você I magoa o, evcapre
para passear ou passar 60 dental. ou recusar o perda.o.
Uma vez. assimiladas, elas contribuem para uma vida emocionalmente ordena-
da, na qual as emoções são reconhecidas e têm sua importância como fonte de poder
e bem-estar.
Conrudo, as recompensas da Educação Emocional são muito maiores do que
simplesmente uma morada emocional organizada. No momento cm que nossas
emoções romam-sc: claras e são expressas cm sua plenirude, e os sentimentos alheios
passam a ser ráo importantes quanto os nossos, a vida se toma profundamente
cscimulantc e, às vezes, realmente prazerosa. ~ af que as recompensas de uma vida
emocionalmente educada se fuc:m sentir.

143
142
domínio, e as mulheres têm dificuJdade de seafinnar. C,omo diz um novo provérbio:
7 "Homens são de Mane, mulheres são de Vánw."
Não é de admirar que mais e mais pessoas estejam simplesmente desistindo e
preferindo viver sozinhas.
~ daro que a solução não é essa, a menos que vi"YC" sozinho seja realmente o que:
AMOR, PATERNIDADE
você quer. A resposta está cm bwcar wn relacionamento e a Educação Emocional ao
E TRABALHO mesmo tempo. Para isso, é preciso cumprir as regras de uma relação emocionalmente:
educada, que são:
• A convicção de que ambos os parceiros são iguais;

• O compromisso com a sinceridade;


• A decisão mútua de não praticar os jogos de poder.

Igualdade, Sinceridade e Entendimento. Recomendo àqueles que desejam alcançar


AEDUCAÇÃO EMOCIONAL É VALIOSA cm praticunente codos os aspectos uma relação emocionalmente educada o pronro cstabdecimcnto de um contrato de
do cotidiano. C,olocando em prática as ecapas da Educação Emocional sobre as quais cooperação com base na igualdade e na sincc;ridade. Uma relação cooperativa é aquda
acabou de ler, provavelmente a sua relação com a grande maioria das pessoas irá cm que nenhum dos dois tema manipular o ouuo com jogos de poder nem faz o que
melhorar. O mais importame é a mudança na relação consigo mesmo, que resultará não quer. Ao conmlrio. os parceiros pedem com delicadeza tudo que desejam, am
numa transformação em sua maneira de lidar com o outro. Você percebem que essas sentirem-se satisrutos, embora ambos ouçam com ·empatia as necessidades do outto.
técnicas não apenas dão sentido ao mundo que nos cerca, mas wnb~m ao nosso Naruralmenre erros serão cometidos e desculpas e reparações serão nccessá.rias.
mundo inrerno. Essas regras básicas exigem a superação do$_ velhos padrões estabelecidos onde são
.1
Embora csce livro apresente um programa abrangente para desenvolver a comuns jogos de poder, salvação e mentiras. Tal mudança não é fácil e nao aconrecerá.
J
Educação Emocional em rodas as áreas da sua vida, ex.ístem três situações que exigem
uma atenção especial: as relações amorosas, a criação dos filhos e as relações no
1 da noite para o dia, mas você vera que a energia e o otimismo produzidos durante esse
i' processo serão revigorantes em qualquer rdação, antiga ou nova.
trabalho. 1
j
Começaremos pelos relacionamencos amorosos. Igualdade. A igualdade cem como base a idéia de que as duas pessoas devem ter
-i direitos iguais e devem dar a mesma coca de contribwção para o sucesso do rdacio-

Educação Emocional nas Relações Amorosas


Alcançar e manter um bom relacionamento é wc~ das mais .irduas. Diversas pessoas
] namenro. A idéia de que as pessoas têm direitos iguais não significa que elas não
possam ser diferenres para que a relação funcione. Especialmente entre homem e
mulher, que sáo diferentes em muitos aspectos, isso quer dizer simplesmente que as
diferenças não conferem a alguém um privilégio sobre o outto.
vêm descobrindo que, embora o vdho sistema de dominação/submissão já. esteja Igualdade não significa que os parceiros E!m de trabalhar e ganhar o mesmo ou ·
bastante obsoleto, continuam recorrendo a ele enquanto não tomam conhecimento que as despesas da casa sejam divididas meio a meio. Igualdade, numa rdação
e se esforçam para alcançar uma nov:a abordagem. emocionalmente educada, sugere que os dois lados contribuem com aquüo que t!rn .
Acualmente, as pessoas cêm afirmado, da boca para fora, a necessidade de uma a oferecer, de modo que ambos se sintam sa.tisfeicos. Se houver alguma insatisfação,
relação de igual para igual. Na pclcica, porém, das estão confusas e não sabem como
fazer isso. Nas relações homem-mulher, os homens ainda mosnam uma u:ndência ao
.1 os parceiros devem ter a liberdade de expressá-la, na certeza de que o oucro irá buscar
uma conciliação justa.
1
1
144 us
Sinceridade. A sinceridade é o compromisso mais importante dentro de uma rdação
seria horrlvel descobrir um segredo desses por acaso. Por isso, a mentira é tão prej u-
cnue iguais. diciaJ e deve ser eliminada de qualquer rdacionamenco emocionalmente edu~do.
Ninguém inicia um rdac:ionamenco sério esperando ouvir mentiras do ourro. Na Pensando nisso, decidi propor alguns acordos capazes de criar uma rdação
verdade, supõe-se que duas pessoas apaixonadas não devem mentir uma para a outra. emocionalmente educada:
Muicos compromis:sos são sdados cm cerimônias, durante as quais sáo feitos os
e Igualdade para os dois: Lembre-se de que uma relação emocionalmente
scguinres juramentos: "Na riqueza ou na pobreza, na saúde ou na doença, prometo educada exige que ambos os parceiros atuem como iguajs. Para isto, ê preciso assegurar
honrar, amar e trarar com carinho ... " Normalmente estes votos não incluem a ao outro direitos iguais e pressupor responsabilidades iguais.
promessa da sinceridade toetl. O que não é de admirar, pois naquela aJrura pelo menos
• A cooperação é fundamental: F.si:abeleça com seu parceiro uma relação livre
um dos parceiros já pregou wna mentira, na maioria dos relacionamentos. Às vezes
de jogos de poder, especialmente de menáras e Salvai;õcs. Deixe claro que você está
ambos os parceiros. Até mesmo na mais honesca das rdai;ões, o mais provávd é que
buscando uma rdaçã.o em que os dois possam pedir tudo que desejarem e não fâzcr
alguma coisa não renha saldo a contento e renha sido varrida para debaixo do tapete. o que não quiserem.
Quem sabe há. muiro da venha ansiando por mais elogios à sua aparência, mas sinta-se
Comece falando de uma i ntcraç:ão cooperativa desde já. Se pretende envolver-se
demasiado constrangida para pedir. Ou talvez de não tenha sido honesro, deixando
num novo relacionamenco, comece a f.tlar desse conceito logo que sentir que a relação
de expressar sua insatisfação saual.
tem pqrencial.
Até mesmo a mais insignificance das mentiras ou segredos exerce um efeito
Isso é especialmente imponante se você estiver apaixonado, quando rudo parece
nocivo, pois pode ser a semente de desonestidades maiores.
cor-de-rosa. Ser sincero proporcionará clareza e realidade a essa rdação que está
Se o seu relacionamento já. é anágo, a situação se torna mais delicada. Ao tentar nascendo.
csclal'CCCr as coisas, calvez haja alguns segredos obscuros capazes de deixar o outro
Fran e John estão apaixonados. Estão deitados na grama ao sol de primavera em
transtornado. Quem sabe uma noicada ardente ou atê mesmo um caso prolongado
seu dia de folga. Ambos querem se casar. .Ela já teve um casamento malogrado
com uma terceira pessoa. Ou talvez um dos parceiros esteja gaseando irresponsavel- amcriormence, e dessa vez. quer se sair melhor.
mente o dinheiro da conra conjunta sem contar nada ao outro. Alguma desdita de
longa dara ou insatisfação profunda com a aparência, a intdigência, o senso de humor F: "John, posso rocar num assumo sobre o qual goscaria de conversar antes de nos
ou o estilo sexual do outro pode estar em jogo. Se for este o ciso, mlvez seja uma boa casarmos?"
idéia livrar-se de a.is segredos com o awálio de uma terceira pessoa: um amigo de
confiança, um terapeura. ou um padre. J: "Claro, o que é?"

Essas mentiras por omissão, de modo geral envolvendo sexo, dinheiro ou F: "Li um livro que fala a respeito d~ como deve ser uma relação emocionalmente
aparência, não podem concinuar a ser segredos numa relação emocionalmente educada. n
educada. Devem .ser compartilhadas. Se o parceiro tem um segredo e não o revela, e
o ouuo descobre, a6nno com base naexperiênciaquea mentira magoa mais o parceiro J: "Que tipo de rdação?"
do que o erro. Desde quando o segredo vem sendo mantido, quancas pessoas têm F: "É uma rdação de envolvimento emocional e consciência. Uma relaçã.o de
conhecimento dde e todas as ramifi.ca~es da mcnrira com freqüência são dados tão ~
cooperação cm que as duas pessoas chegam a um acordo anrccipadamence sobre
devastadores que podem prejudicar ou arruinar definitivamente a relação. t diflcil ,, o:rw coisas."
perdoar um mau passo, mas é mais difícil ainda perdoar as mentiras que são criadas
cm rornn do erro. J: xue coisas.
""· • ~tt

AI.é m~mo aqueles que afirmam não querer saber se o parceiro "pulou a cerca" F: "Bom, esse livro fala de uma relação sincera enrrc iguais, e adorei o que ele disse;
provavelmente irlío sentir-se profundamente humilhados e magoados quando desco- a idéia é que a gente combine de sempre F.a.lar o que quiser e nunca se deixar
bri rcm a verdade. Quando dizemos uprefiro não saber", não estamos prevendo como pressionar a fàzer o que não quiser. n

U6
147
J: "Gostei. Mas acho que a gente já fu. isso. Você não concorda?" à famflia, como na festa de At;ão de Graças da sua tia. Foi um pouco demais para
mim conhecer todas aquelas pessoas que não parecem tão importantes para nós."
F: ªAcho que~ isso que ambos queremos, mas às vezes, pra falar a verdade, acho
que não fucm.os." F: "Tudo bem". Ela responde baixinho. "Fico dcsapon?,da e consuangida só de
pensar que eu reapresentei a rodo mundo com moro enrusiasmo e você estava
J: "Quando?"
com vontade de sair dali.n
F: "'Acho que nós dois mentimos sobre o que queremos com o oucro às vezes. Hoje
de manhã, por exemplo, quando fomos ao Blue Bam tomar caf6 da manhã, na J: "Não foi tão ruim assim. Só que eu ccria preferido oucra coisa.~
verdade eu queria ir.ªº Brick Shack, mas menti porque queria te agradar." F: "Bem, cu realmente gosto de 6car bastante com a minha famflia, desde que sou
J: "Mentiu? Is.so não é ser generosa?" criança. Mas se você não quiser ir, cu vou sozinha."

F: "Em Eduatf4o EmoaOMÍ, isso se chama Salvar, e não e!: bom porque, depois de Segue-se um .silêncio pensativo. John volta a falar: "Sabe de uma coisa, por
algum runpo Sahr.ando, a pesli0a fica furiosa. Em gcr.d sou cu que concordo com que você não me diz quais são as ocasiões realmente importantes pra você? Eu
An
vocc. acompanharei. você nelas. Talvez. vod possa ir mais cedo e cu ce encontro um
pouco mais tarde, assim não terei de ficar tanto tempo. n
J: "Eu te conheço e amo esse seu jeiro; você me mima. Quer dizer que mais carde
você vai ficar furiosa comigor F: "Isso parece uma boa idéia."

F: "Pode ser, não sei ao certo. Quem sabe você esr.cja cedendo em oucras coisas sem Ele a abraça apertado. Ambos têm o que pensar, mas Fran está orgulhosa
que cu saiba?" de si mesma por iniciar um diálogo emocionahnentc educado, e John ficou
aliviado por conseguir e.sc:apar de algumas obrigações sociais indesejáveis.
J: "'Bom, algumas vezes, mas eu não me importo ... "
F: "Bem, acho que o Dr. Sceinertem razão; seria mdhorse fôssemos completamente Talvez você esteja pensandó por que dois jovens namorados felizes deveriam
sinceros nesse ripo de coisa. Em que você cede?" começar a discutir as pequenas insatisfações que no momenco parecem toralmcmc
sem importância, comparadas ao amor maravilhoso que sentem. Mas são essas coisas
J: "Por que você quer que eu procure algo para. me queixar? Eu cc amo!" que, quando o brilho róseo do novo amor começa a fcnecer e a realidade retorna,
F: "Só quero que a gente renha uma relação sincc:ra e cooperativa." fu.em com freqüência com que os casais que outrora haviam acrcdimdo que nada
poderia interpor-se entre eles acabem se discanciando.
J: "Vamos tem:ar." Ele pensa por um inscance. "Tudo bem. A verdade é que eu Fran havia aprendido isso da maneira mais árdua em seu primeiro casamento.
preferiria não cnconcrar codas as suas amigas e sair com elas como fazemos ... " Ela esrá cena em tomar a iniciativa e iniciar um dWogo sobre as regras básicas para.
F: "Realmente. n escabeleccr wn patamar de honcsciàade e consciência, que mais tarde sccl fundamental
para eviw outro desastre emocional.
J: ".É que não tenho muita vontade, não estou m uico interessado. Quer dizer, posso
...:.::. ' ...
me encontrar com elas, mas não quero ter obrigação. Sabe, não tenho tempo para • Sinceridade é a melhor política: Seu parceiro o conhece: suficicntemence para fazer
conhecer cada uma de suas amigas. AJém disso... desculpe, estou sendo muiro uma imagem real de quem você ~? Se a resposta ~ não, tenha coragem e mostre-se. A
duro com você?" sinceridade assusta, mas vale a pena quando da proporciona um idacionamenro mais
fone e profundo.
F: "Um pouco, mas rudo bem, vá em frente. Obrigada por perguntar."
Se você está omitindo alguma informação, conte-a a seu 'parceiro o mais rápido
J: "OK, se você tem cerrez.an. Ele prossegue com urna expressão preocupada. "Fico possfvel De modo geral, esperar por uma ocasião melhor para falar não dá certo
muirn concence de ter sido aprci;entado a seus pais. Mas eu não sou muito chegado porque essa ocasião melhor raramente aparece. Em vez de esperar, f.de agora.

148 149
Entenda que ser sincao implica dizer o que quer, rcvdar como você se sente e Carol soergue os olhos úmidos de H.grimas para o marido e encosca a cabeça cm
pedir dcscu.lpa:s quando você não pode esquecer o erro de um parceiro. seu ombro. Ele tenra tomá-la nos braços, mas ela não permite.
"Por que você não me conrou antes?", da indaga, suplicante.
Sloan e Carol estão casados há algwu anos. Têm uma boa rdação que remonta "Embora tivéssemos combinado que poderíamos sair com ouuas pessoas, cu
aos tempos da escola secundária, quando foram dei tos o casal mais simpático do ano. sabia que isso iria te incomodar. Sei que me incomodaria. Senti-me culpado e disse a
Num arroubo de romantismo, Carol diz a Sloan como é bom saber que nunca tiveram mim mesmo que provavelmente ambos havíamos dormido com outras pessoas
relações sexuais com o'utras pessoas.
durante aquele perlodo, e aí semi que eu não queria saber de seus outros amantes.
Sloan engole em seco. A verdade é que três anos atrás, durante uma separação Achei que você ia pensar o mesmo.
de seis mesc,ç cm que reavaliaram o relacionamento, de tivera uma noitada com wna "Fico feliz em saber que sou o único homem de sua vida. Voe! é a única mulher
conhecida de Carol. Não conrou nada à esposa, dizendo a si mesmo que aquilo não que amei, é verdade, Carol. Quando você disse antes que nenhum de n6s dois rinha
faz.ia parte do acordo. Agora, entretanto, sente que deve falar: ficado com outra pessoa, cu me senti muito mal. Não queria mentir para você, que é
"Carol, o que você pensa da idéia de que, :SC queremos r~ wna relação tão carinhosa comigo. Não queria confundi-la e decidi que você merece toda a
duradoura, não deve haver segredos nem mentiras entre nós?" verdade. Agora que sabe, não tenho que me preocupar em esconder nada."
Ou-oi leva um susro. "Por quê, você tem mentido pra mim?!" Carol ficou muico aborrecida. Explicou que o furo em si não a incomodava cmto
Sloan a encar.a...Não, Carol, acho que não, e não quero começar agora. Vamos quanto a idéia de que de havia guardado um segredo por ranto tempo. Sencia-sc uma
sentar. Tem wna coisa. que só agora eu percebo que preciso re dizer. Posso contar 0 idiota ao pensar que fizera wna falsa imagem de seu ma.rido, a pessoa com qucrn mais
que é?n tinha intimidade. O que mais magoava Carol não era a no irada de Sloan, mas a perda
"Diga o que é, pelo amor de Deus!n da confiança.
Sloan conduz C.arol até o sofá. Olhos nos olhos, ele pergunta: "Você se lembra Naquela noite, abraçaram-se com mais força que nunca. Foi uma noite ines-
de quando nos separa.mos na faculdade?n q uecfvd, e Carol demorou muito tempo para superar sua m;igoa. Mais tarde, ela aré
"Lcmbron, da responde, começando a perceba o que de escava prestes a dizer. se sentiu lisonjeada porque Sloan a preferira no lugar de Suzie, que era uma una-
"Bem, nunca deixei de pensar em você, durante aqudes meses, mas também nimidade. Entendeu por que de não havia comado nada e decidiu que, embora a
achava que você poderia concluir que não me queria mais. Eu tentava me acostumar principio fosse diflcil aceitar, ela poderia conviver com essa nova informação. No
à idéia do que quer que pudesse aconreccr, e estava muito deprimido. Uma noite saf fururo, se por aC2SO pensasse que Sloan poderia esrar lhe escondendo algo, Carol seria
com Suzie Green. n tranqüilizada pela idéia de que se de fora capaz de contar sobre aquela noite,
provavelmente nunca pregaria uma outra mentira. Adquiriu uma profunda segurança
"Minha velha amiga. Susanr, aclamou com voz estridente. Ela sempre se
em rdação a de.
sentira um pouco insegura ao lado da bela e popular Susan.
Há quem defenda veementemente que esrc dpo de sinceridade é desnecessário,
"É, achei que devia lhe fular desse encontro."
ou pior, que é um ato irresponsável de cruddade e sadismo. Poderá argumentar que
"Oh, meu Deus, Sloan!"
uma pessoa na posição de Sloan, depois de comcrcr um erro terrlvel, deve carregar o
"Sinto muito. Não pensei que reria de contar. Mas depois do que você disse fardo do remorso legitimo e oculw a informação dolorosa da esposa.
sobre nunca ter tido outros amanres, percebi que precisava falar. Afinal, quero que
Estes argwnentos ignoram alguns facos importames. Não levam c:m conta o
voe:! saiba tudo de mim". Ao ver a cxp~o no rosto da esposa, de fica assustado.
efcico prejudicial até mesmo da menor mentlra; como ela pode proliferar-se cm
Decidido a ir até o fim, ele pergunta: "Posso continuar?"
mentiras maiores e como guardar segredos solapa o procc:sso empático e intuitivo do
"Vá cm frente, conte rudo", ela fala por enue as lágrimas. ca!lal. E, mais imporumtc:, desconsideram o sofrimento muito maior que as pessoas
"Passei a noite com Suzie". Ela chora mais alto. "Não foi nada de mais, mas sentem quando descobrem que foram sistematicamente enganadas por um longo
aconteceu."
tempo. Imaginem como Carol iria se sentlr, passados cinco ou seis anos, se por acaso

150 151
encontrasse Susan Green socialmente e descobrisse, graças a uma observação casual No sábado, mal iniciaram a caminhada, Hillary disparou: "Estou sencindo que:
do marido de Susan, que esta e Sloan haviam sido amames. esra.mos nos afustando. Embora pareça.mos bem e amorosos, acho que há muitas coisas
enae nós que, ao menos para mim, fuzcrn mal."
•A manutenção é necessária: O termômetro de uma rdaç:ão é o diálogo que ela
~ Bom, eu escou me sentindo bem", diz Bill. "Você está insatisfeita com alguma
possibilita. Dedique algum tempo à manutenção emocional. Diga ao outro quais são
suas desconfianças, palpites ou funcasias paranóides. Ouça com atenção. Aproveite as coisa?"
oportunidades de pedir desculpas pelas mágoas causadas. E, acima de rudo, encontre "Veja, talvez este seja o problema. Você não parece se dar conta de que temos
tempo para dar carinho ao outro. pequenas discordâncias que, cm geral, acabam fucndo com que um de nós, quase
Não crate de questóes emocionais durante os comerciais da tdevisão ou quando sempre eu, ceda para evitar problemas. Fico pensando que estou muito cansada ou
csàver cansado demais para conversar. Escolha um momento especial para o diálogo. que amanhã fularemos nesse assunto ou que talvrz eu esteja sendo mesquinha, mas a
Costumo recomendar a conversa sobre asswuos emocionais durante uma caminhada. verdade é que estou começando a me sentir mal ... "
Uma outra possibilidade é marcar daras regulares para debater os tópicos de cunho Bill interrompeu-a: "Percebo que temos estes probleminhas, mas achei que
emocional. estavam sob concrole. Eu escou bem."
"Talvrz seja este o primeiro problema, porque eu não estou me sentindo tão
• Rever, rever~ cc:ver... : Reveja seus acordos periodicamente. Nesta era de uansfor- bem. Quando você diz que acha que esses problemas estão sendo solucionados ... Posso
maçõcs rápidas, as combinações que faz.iam sencido há sc:is meses podem ter-se
dizer como me sinto?" Bill fu que sim.
tomado obsoleras.
"Na verdade, eu fico furiosa."
Procure ddiater com fi-cqüência tópicos como dinheiro e tempo, sobrerudo
Bill volta a assentir, mas esci abalado.
onde e como ambos d-=vem ser gastos.
Hillary pross~e. "Posso dizer o que eu acho? Desconfio que, quando discor-
O faro de que durame um cerro período de tempo você agiu de determinada
damos, você não percebe que na maioria das v= eu concordo com você só para ficar
maneira nao quer dizer que sua arirude esteja sendo satisfatória para seu parceiro.
rudo bem."
Espccialmence quando o assunto t. sexo, ciue pode se tornar rotineiro e aceiclvd para
um e não para o oucro. Bill pensa um pouco e diz: "Acho que provavdmenre você rem razão, mas não
sei se é cão grave assim. Só sei que sempre considerei como certa a sua índole
• Seja Baívd: Esteja disposto a mudar seus acordos, ainda ciue des tenham sido complacente. Já convcisamos sobre isso antes, e cu sinro muito."
amplamente negociados. Aceite a mudança e os novos pomos de vista. Afinal de Por uma hora Hillary recordou uma sfric de incidentes onde, de alguma
contas, a final idade visada é a atuação conjunta e cooperativa, produzindo sencimentos maneira, as coisas tinham sido como Bill queria. Sem dúvida, algumas das situações
de afeição e esperança, em lugar de desespero e ressentimento. não tinham a menor importância, como por ex~plo o fato de que, numa rua muito
Bill e Hillary são pessoas muico ocupadas. Não têm filhos e trabalham demais. movimentada, Bill sempre anda na frente, ou de que quase sempre é de quem dirige
Quando finalmente conseguem reunir-se à noite, jantam e mal cêm forças para quando estão juntos, ou de que ele nunca sugere o restaurante quando saem, ou de
algumas trucfu e um pouco de 1V na cama. Ficam vendo TV aconchegados e, em que freqüencemence de se mostra distraído enquanto conversam. Tudo isso foi
geral, caem no sono ances mesmo do tdevi.sor desligar auromaticamcnre. Sem que formando uma raiva C[CSCCOle cm Hillary. Ele argumenta que, por da concordar, de
houvesse qualquer combinação, parecem ter concordado cm evitar quescões emocia.- não se dava coma de que ela ficava contrariada. Ela concorda, mas diz que via de ~gra
nais espinhosas. Hillary vem sentindo fulta de mais tempo para assuntos íntimos, de está esgotada demais para discutir essas coisas, e preferiria que de fosse mais atemo a
wna elaboração dos problemas, que têm sido varridos para debaixo do tapete. essas rensões sutis enuc des.
Uma manhã já estavam prontos para ir para o trabalho, quando Hillary sugeriu Depois de alguma conversa, parece que o problema mais sério é que não tinham
que tirassem a manhã de sábado para uma caminhada e uma conversa sobre alguns cempo suficience, ao menos para Hillary. Bill pareda sacisfcito cm senw•se e assistir
assuntos. A princípio Bill torceu o nariz, pois tinha um jogo de golfe, mas Hillary TV, dormir com a esposa, faz.er amor pela manhã ou nos fins de semana, jantar fora
insistiu e ele acabou concordando. algumas vezes, e de faco por algum tempo Hillary também se satisfez assim.

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Enaetrnto, da esrava começando a ficar insatisfeita com o sexo cada vez mais Duranre esse período crftico de aprendiugem as crianças estabdecem .ruas
mecânico que praricavam. Embora houvessem combinado que o sexo pela manhã ' diferences acirudcs. Elas começam a visualizar-se como boas ou más, talentosas ou
s~ia a melhor hora para eles, da não estava apreciando aquda regularidade de um dcsajeiradas, felu.es ou infdizes. Podem inclusive considerar a si mesmas um persona-
rdógio. gem ilusório. Por exemplo, algumas crianças identificam-se com a Branca de Neve
"Não quero mais transar de manhã",.deixou escapar. ou com um dos Sete Anões. Outras irão perceber-se como o Super-homem ou Lois
"Bom, então, quando vai ser? Você mesma disse que à noite fica cansada, ambos Lane, ou até mesmo como Jesus Crisro ou o Diabo.
somos diwnos... " E1as também iráo adorar os hábitos emocionais condizentes com a percepção
"Bem, acho que quero algum tempo para n6s à noite, uma noite inteira Üvre que têm de si mesmas: serão rabugentas, cativantes, impcrru.rbáveis, impacientes,
depois do janrar, sair para tomar um drinque, conversar, acompanhar as mudanças manhosas, santinhas, malvadas. E uma vez que comecem a agir de uma determinada
na vida do outro." maneira, as crianças serão visras assim pelos outros, serão "roruladasn como boas ou
Esta proposta assustou Bill. Estava satisfeito com o seu modo de vida, e remia más, felizes ou infelizes.
que isso rudo fosse tirar um tempo precioso de suas vidas tão cronometradas. Ele Na maioria dos casos, esses padrões emocionais são transmitidos pelos pais e
hesitou e Hillary irritou-se. Os ânimos exaltaram-se e, quando já iam mudar de pessoas da convivfncia da criança. Uma vez adorados, esses hábitos tomam-se padrões
assunto, Hillary disse: "Escl vendo, é .sempre assim. Não entramos em contato com ou scriptr de como a vida é e será. Esses scriptr podem perdurar ao longo de toda uma
nossas discordânci~ e, se eu deixar passar, voltamos ao ponm em que estávamos. Por vida, a menos que aJgo seja feito para modificá-los.
fàvor, vamos conrinuar." • A criança que está sempre triste e apreensiva poderá tomar-se um adulto deprimido
Conversaram por mais uma hora e tomaram algumas decisóes novas. Bill e suicida.
percebeu que não escava considerando sua esposa uma prioridade. Dispôs-se a • A criança que aprende a conter as !~as poderá remar-se insensívd.
experimentar a proposta inquietante de Hillary. Concordaram também em fuer uma
• A criança incapaz de controlar seus acessos de cólera poderá romar-se propensa aos
dessas ªcaminhadas para lavar roupa suja" uma vez por mês.
vfcios quando adulra.
No final, as coisas não saíram exatamente como planejado. Bill manteve
determinadas rotinas com Hillary, mas pas.saram a tirar uma noite por semana, sem A Maneira Certa e a Maneira Errada. Vamos analisar uma "mini tragédia" fumiliar
td~isão, apenas para eles e para fazer amor. fu vezes suas caminhadas acomeciam dpica, à guisa de exemplo de como os padrões emocionais são definidos pelos pais,
apenas de três em crês meses. Mas, de uma maneira geraL a discussão tivera um efeito bem como as duas maneiras de lidar com ela. Primeiro, veremos a maneira tUSprovida
benéfico. Repassaram suas combinações com flexibilidade e definiram um caminho tÚ educação nnodon.al de lidar com essa crise:
para que o relacionamento mantivesse sua Educação Emocional. Manh~, de cinco anos, caiu da cadeira quando tenrava surrupiar biscoitos. Ele
começa a chorar a plenos pulmões. Seu joelho está doendo depois da pancada que
deu no chão, e de está se sentindo humilhado porque foi pego aracando o pote de
Educação Emocional na lnflncia biscoitos. Seus sentimenros são a mágoa, a culpa e o medo ao mesmo tempo.
É mais fácil desenvolver a educação em~cional na in&ncia, quando as informações Seu pai chega à cozinha e percebe o que o filho estava fazendo. Fica irritado.
são apreendidas através do exemplo. "O que houve~ Você se machucou?", o pai pergunra, aborrecido. "Pare de
Acl.q uirir aptidões quando se é jovem, enquanto aquda janela de oponunidade chorar!n
está abem, é muito diferen re de aprendê-las depois que a janela se fecha. Por o:.emplo, Como Marthcw interpretará isto? Deve parar de sentir dor? E seu medo e culpa?
é fácil aprender a ler na juventude. No ent:a.nco, um adulto analfabeto poderá passar Deve continuar sentindo isso mas sem chorar? Confuso, de grita mais alco.
por maus pedaços se quiser aprender a ler. O mesmo aconcece com outras apàdões, Se o pai fosse emocionaJmente educado, ele deixaria o filho cm paz por algum
tais como a pcltica de esportes, o aprendiz.ado de idiomas, da música e, rambém, da rempo. Mas ele encara aqude momento como wna oporrunidade de ensinar a
Educação Emocional. Manh~ uma lição sobte a vida.

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"Vamos, Matthew, chega de banc;a.r o bebê chorão''. ordcn a. "Você está pior do "Estoun, diz MatthC'N.
"Por quê? Eu quero ajudar você", diz o pai. "Posso dar um beijinho no sc:u
que sua innã. n
Agora Marthew começa a perceber que chorar é ruim, que por alguma razão de dodói?"
csti ªpior do que sua irm:t. Talvez assimile a idéia de que as meninas podem chorar, O pai embala o filho até que de comece a ficar mais tranqüilo.
mas os meninos não, concdco este que o deixa arurd.ido. Ele tenta engolir o choro, "Você queria pegar uns biscoitos?"
mas não consegue. E.stá profundamente assustado com a dc:saprovaçáo do pai. Matthcw recomeça a chorar.
Suponhamos que o pai fique a.inda mais aborrecido e resolva dar continuidade "Está se sentindo culpado? Está com medo que cu fique zangado?"
à lição. Matthcw não responde, mas vai-se acalmando.
"Matdmv, agora chega! Não entra '!essan, ele declara. "Você está parecendo um "Bom, você sabe que eu não gosro que você coma doces demais cnue as r~fciçõcs,
maricas. Afinal de contas, o que é que você esci.va fazendo na mesa da cozinha?" mas fiquei preocupado porque você se machucou", explica o pai. "Da próxima vez
Matthew ouvira outros colegas falarem, no pátio do colégio, de maricas e de não teme pegar os biscoitos sozinho, está bem1"
garoros que se componam como meninas. Seme-se muito culpado por ter sido Em vez de tentar impedi-lo de chorar, de ajudou Matthi:w a entender o porque
apanhado agindo como um garoco mau. Entáo decide parar de chorar. Pressiona os da sua inqu.iecaçáo. Demonstrou empatia, e ao mesmo rempo deu ao filho carinho
dentes e silencia. 6:síco, na fonna de abraços e beijos.
"Is.so é que é um bom garoro", diz o pai. Quando Manhcw estiver mais calmo, o pai terá uma conversa com ele sobre o
Muitos pais acham que meninos que choram não são propriamente masculinos. incidente, o que ambos sentiram e como c:vir:ar rnis melodramas no futuro.
Garocos que aprendem a conter o pranto tomam-se homens adultos que têm vergonha Ao longo de seu crcscimenro, Matthcw aprfflderá que seus sentimentos são
de chorar. Quando esse hom~ se sente triste o bastante para chorar, ele oculcar:1. o v.iliosos e podem ser o:.prcssos com segurança.
furo com alguma mentira.
Até que, fuialmcnce, ele se tomará a cal pomo inconsciente de sua própria trineza Dicas para Desenvolver O QE nas Crianças. .As crianças ini~am o aprcnd~zado da
que passará a negá-la até para si mesmo. E também rejeicar:I. outras expressões de Educação Emocional a partir do seu próprio exemplo. Postenormcntc, ~oce poderá
vulnerabilidade, como a vergonha ou a saudade. A essa altura ele só reconhecerá as conversar com das a respeito de seus sentimentos, cm geral tão logo consigam formar
emoções mais violenras, como a raiva furiosa ou o amor arrcbarado. uma frase. Por volta de dois ou três anos, a garotada entra cm contato com o
sencimemo de culpa e roma-se capaz de empaciz.ar com o outro, portanto, já pode
As. meninas recebem outra formação. Quando choram, e.ssa manifestação é
consjderada rndga e comovente. Dificilmente as garocas são estimuladas a pensar que pedir desculpas pela mágoa que porventura tenha causado.
chorar não é uma arimde feminina ou digna. As mesmas regras de cooperaçio que se aplicam às relações adulr:as dcY"em ser
usadas nas imcraÇ(ks criança-adulto. Igualclade, sinceridade e evitar jogos de poder
Eis uma razão fundamental para as mulheres cm geral serem mais emotivas do
não são menos importantes para as crianças, embora calv~ seja preciso introduzi~las
que os homens.
apropriadameme à situação. Via de regra isco significa dar à criança~ mrocimo de
Um Enfoque Mais Apropriado. Vejam.os agora qu.al seria uma reação mais educada, poder e esw o mais aberto possível, evitando qualquer forma de menara.
do pomo de vista emocional, ao incidente: com os biscoitos. Depois que Matthew cai Eis alguns tópicos importantes para o ensino da Educação Emocional ao seu
da cadeira e bate com o joelho, o pai poderia ajudá-lo a se levantar e dizer: filho:
"Que tombo, cara. Você se machucou?"
• Manter O Coração Aberro: Beije e abrace bastante seus filhos e diga-lhes como você
Em vez de responder, Matthcw solta um grito alto. Est:í amargando a dor Rsica
os ama. Assim como nós, eles gostam e anseiam por demonstrações de afcco. Se
da queda e a culpa de ter sido apanhado roubando um biscoito.
mostrar amor por meio de carinhos Rsicos enquanw seus filhos forem pequenos, des
ªParece que você está furioso comigo", observa o pai, enxugando as lágrimas do
filho. se tornarão adultos generosos.

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• Não Fafl, Jogos de Podu Com Sew Filhos: Nunca bata nos seus filhos. Se você dde. Nunca lhe pregue uma menci.ra deslavada e mte ao máximo mentiras por
_,,'
fu wo de jogos de poder para conseguir o que quer de uma criança, da aprenderá a omissão, procurando o quanto antes siruar o rclacionamcnro pai-filho num pac:a.mar
ser motivada pelo medo e o controle. Se incorrer nesses jogos (como codos nós fazemos de verdade. Se quer que ele seja sincero, em pri mci ro lugar você deve ser sincero com
uma vez ou outra). peça desculpas a seu filho e explique como você se sentiu. Promem. ele. Afinal de contas, a criança sente quando não lhe contam algo, e da aprenderá a
não repcci r essa atitude. Depois, junco com seu filho e talvez com o resto da familia, ter segredos com você.
encontre uma maneira melhor para fazer com que de o obedeça.
Sarah, de três anos, gosta de mexer nos botões e mudar o painel de aparelhos, Se você foi honesto com seus filhos, deve supor quedes serão si nccros com você.
sempre que pode. Várias vezes da já desligou máquinas de &x, reajustou a programa- Emremnro, a mencira é tio corriqueira que você deverá buscl-la nos filhos com -a
ção.do som e lVs. repetiu cdefoncmas e ulrunamcnce anda querendo acender o fogão mesma vigilância com que busca o uso de drogas. C.Cdo ou wde, seu filho pregará
a gás. Sua mãe,Jane, cem muito medo de um vu.amenco deg:isedisseaSar.ah "Não!" uma grande mentira e aeio que esta sem wna oporrunidade fundamenr:al de praticar
inúmeras vezes, mas.ela~ muito endiabrada e cabeça dura. Ú:rta vez. Jane surpreen- aquilo que você aprendeu aqui.
deu-a virando o bolio do gú e perdeu o comrolc. Griwido com Sacah, deu-lhe uma Sally acaba de voltar da escola e vai para seu quuto. Tem ficado ali mais tempo
forte palmada nas nádegas. A menina ficou pcaificada e gritou e chorou cm altos do que o normal. Você vai verificar e a encontra lendo no quano.
brados durante algum tempo. Depois que da se acalmou, seguiu-se a seguinte "Oi, Sally, já voltou da escola?" Ela ergue os olhos e parece: cobrir o que está
conversa: lendo com um livro.
"Sarah, você ainda cscl. chateada?" "O que você está lendot
Sarah fu que sim com a cabeça. "Nada.n
"Bom, eu fiquei muito zangada e não queria ter bacido em você. Você não pode "Parece uma revisa."
brincar com o fogão: "Eu disse que não ~ nada."
ªPosso sim. n A essa altura você pode pcrcc,bcr que cem alguma coisa suspeita. Lembra a si
"Não pode não. O fogão é quente e vai queimu você. Se fuc:r isso de novo, vai mesmo que deve permanecer calmo, cm seu papd de Adulto.
ficar de castigo." "É uma revisra, não ét'
"Não, maJnãe." "t, mãen, ela responde rabugenta.
"Bom, se você prometer que vai parar de mexer nos botões, cu prometo não te "De quem é?"
asswcar mais. Você promete?" Sarah assente impcrccpcivelmente. "É da Kathy, da me emprestou". Agora da está com um ar assustado. Nesse
"Isro ~ um sim?" Sarah balança a cabeça no'Y:llllenrc. meio tempo, você já chegou peno dela e pegou a rcvisra.
"Ela me parece novinha. Onde você conseguiu?"
"OK, se você promete, não vou mais gritar com você, nem vou pô-la de castigo.
Sinto muito ter assusta.do você." "Eu já disse!" Você se senta ao lado dda, observa-a dcsviu o olhar, e com toda
gentilc:za possfvel, falando do fundo do coração, você diz:
Sarah recomeça,?, chorar e abraça. a mãe, que rerribui o abraço. "Tudo bem,
"SaJly, você está me dizendo a verdade? Por favor, não minta para mim. Você
querida, eu te amo, vÓe! é uma boa menina."
sabe o que eu ~nso da mentira. Onde quer que vod: tenha coscguido isso, pra mim
Mostre-se scnslvd' ~os desejos da criança, por mais bobos que pareçam. Ouça-os
o mais importante é a verdade. Simplelimcnte me diga e vamos resolver isso junr:as."
com empatia. Procure ser; 50mprccnsivo quando elas não quiserem fazer alguma coisa
"Eu comprei."
que as assUSte, constranja _ou ofenda sua noção de estética ou suas preferências. Seja
"Ai, que bom, fiquei com medo que você tivesse roubado. Sei de alguns garotos
Acdvcl quando exigir algo.
que acham legal roubar."
• Seja Sincero: A sinceridade com seu filho é fundamental, perdendo apenas para o "Mãe, cu não faria isso. Você nbe!"
item nao dcsrespeiti-lo com jogos de poder. Explique como você se sente e o que quer "Ótimo. Então onde você conseguiu dinheiro para comprar? Diga a verdade."

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Sally fica visivelmente perturbada, baixa os olhos. faz silencio. Você espera • Compreenda os Dem6nios de Seu Fdho= Esteja ciente dos medos de seu filho e
Passados alguns minutos, da diz: accire-os. Aprenda a pcra:ber quando de está com medo e por quê. Converse com
"litci o dinheiro de sua carteira... de sobre seus rea:ios, confirmando-os e ajudando-o a evitá-los. Se você não tiver as
próprias emoções sob ~mrolc. elimine-as dessa cx.pcriência, pois a aiança poderá
"Sally, você fu. isso~"
..Sim.º fic::ar tcrrivdmentc assustada.
Novo silencio. Você procura entender seus sentimentos. Esd assustada com a • Estimule os Meios de Comunicação Emocionalmente Edacados: Leia livros
ar.iwdc de Sally e triste poique da mentiu para você. Está. -zangada porque, ultima- sobre educação emocional com seu filho. Leve-o para ver filmes e peças emocional-
mente, da cem-se mostrado rebelde. Sente vontade de dizer-lhe que tirar dinheiro de mente educados. Evite histórias com muita violênciae crueldade, a menos que tenham
vod é tão mau quanto roubar numa loja. .É hora de wna afirmativa de ação/senti- algum conceito moral evidente, com respeito à raiva e à maneira adequada de lidar
mento. com da. Aconsdha--se o mesmo com i:dação ao amor e ao scc.o: verifique se a
mensagem ~ emocionalmcnrc educada.
"Sally, posso lhe diur como estou me senrindo~n
Sally faz que sim. • Ensine a Autodefesa EmocioD.Bl: Ensine seu filho a defender os próprios li mires e
Mantendo um com amoroso, você diz: "Quando você tira dinheiro da minha a rejeitar atirudes indesej:lveis, cm.endo: "Não gosto disso", ou: "Por fu.vor, pare com
carteira para comprar uma revista, e depois rcnt:a mentir pra mim, isso me deixa isso", ou a.inda: "Deixe--me cm pazº.
assustada, muito triste e cambbn 'Z.3Jlgada. Vod pode enrender isso?" Esses são os mt!codos aa:iclveis e eficientes de evitar o comportamento prej udi-
cial. Represente essas situações F.ucndo um tcatrinho e mosue a seu filho como reagir
Ela ouve e concorda. Agora você tem a oporrurudade de descobrir por que da
considerou necessário roubar para comprar uma. ~ista ordinár.ia. Ela lhe diz que voe! cm diferentes ocasiões.
não iria comprá-la para da, nem deixaria que da usasse a mesada. Ela lhe diz que a • Seja Paciente: A educação dos filhos é demorada mas, uma vci. aprendida, a lição
revista tem histórias inrcrcssanres. Você pega uma ddas e d:i uma olhada. Lixo puro. pcnnanecc para sempre. Repita várias vezes essas lições e procure fuzcr o que você
---: . --
"Bom, Sally, definitivamente não gosto desta rcvi.sta, mas, por oucro lado, prega. Lembre-se: a ma'?, não cai l~nge da árvore.
percebo que não posso impedir o seu interesse. Agora, você não cem permissão de
tirar dinheiro da minha carteira. E cu gostaria que você pedisse desculpas por isso. E
QE no Local de Trabalho
o que é mais importante, quero que você concorde cm não mentir pra mim. Suas
mentiras me assuscam e me deixam triste. Porque, se você começar a mentir, não Introduzir a Educação Emocional no local de trabalho~ cerna para um Üvro inteiro.
poderemos mais conversar como antes. E isto seria terrlvd, você não acha?" Sally Aqui, s6 poderei dar algumas dicas básicas.
concorda. Aprendemos a Educação Emocional com mais facilidade quando estabelecemos
Faça com que a verdade en crc você e seu filho seja o vínculo mais importante a com as pessoas uma relação de cooperação, Üvre dos joguinhos de poder e na qual o
unUos. papel de Salvador e as mentins sejam conscientemente evitados.
De modo geral aconrece: c:xawnente o contrário no ambiente de trabalho, onde
• Ddxc o Controle de Lado= Estimule a capacidade de seu filho, permitindo que ele é mais prowvd cncont.cannos os jogos de poder, as mentiras deslavadas e os segn:di-
assuma a lideran91 nos jogos. Luri: com ele, deixe que ele ba[a cm você durante a nhos. Na verdade, ccnos loctis de aabalho estimulam esse tipo de atitude. São comuns
brincadeira, finja estar triste ou chorando. Essa atitude mostra à criança que nem as histórias de patrões que ameaçam despedir sew funcionários se estes saírem da linha,
sempre você está no concrolc. ou de mulheres que são scx.ualmcnte molestadas. Embora a lei possa favorecer os
Da mesma mane.ira, fale sobre seus sentimentos com seu filho. Se ele quiser empregados, ela não cem eficácia sem um advogado dispendioso, e a maior parte d_os
saber por que você cscl se sentindo assim, ofereça uma cx:pHcação com frases curtas e empregados não tem outra alrcrnativa senão sujeitar-se. Sigilo com relação a salário,
simples. promoções, demissões e resuiçóes no local de trabalho são rotina.

160 161
·~
_.I
!,·r
,'
(i .,1,., "Bom, é uma espécie de reclamação; você rem ccrte-ia de que quer ouvir?"
Grande pane dos joguinhos de poder no trabalho não acontece abertamente.
i:
,,
Os joguinhos COStUmam ser sutis, e não panem uniCIJlleme dos patrões e da gerência, Mark (parecendo realmenre assuscado): "O que eu fiz de errado?"

1
~~
mas são encontrados enue os próprios empregados. Desenvolve-se uma hierarquia SO· uNão é nada de ma.is. Mas quero cer ccrreza de que você quer ouvir."
cial e, com esra, sobr~êm insu!cos sutis, mentiras, fofocas e brincadeiras de mau gosto. Mark "Tudo bem. Que ral agorat
l
~
·i Conquanto as pessoas na maioria das vezes percebam o que está aconceccndo, "Agora? Talvez seja melhor mais tarde, quando tivermos um tempinho."
lti " não entram em acordo para pôr fim a tais arirudcs nem procuram rncá-las. Conse- "Que tal depois elo trabalho?"
.., qüentemente, o ambiente de trabalho pode tornar•se um campo minado de imeraç.õcs "Está ótimo. Não se preocupe, é só uma coisa que está me incomodando, mas

1ri
r,
;,

.,
,: negativas e emocionalmente ddicicnccs.
Como uma pessoa pode criar um ambiente de trabalho emocionalmenre
tenho certeza que v.unos resolver... Nos enconcramos no Huc."
Você pode ver que algo que exigiria uma transação num relacionamento
[ educado? Não é fácil. Mesmo cm ambientes que se caracreri7.am pela camaradagem contratual e cooperativo pode levar vários minutos ele diálogo na vida real. E, claro,
despreocupada, uma ampla gama de agrcssócs emocionais pode ser encontrada.. pede não funcionar tão bem como sugeri.
Basicaro.cnte, você terá de desalojar uma atlrura emocionalmente frágil e cscabdecc:r Mas isso não significa que não possa ser feiro. Com toda probabilidade,

11
f
~
i
outra diferente, na qual os jogos de poder não sejam usados e as emoções sejam
consideradas mercadoras de atcnçáo.
lançando mão de uma abordagem habilidosa e aberta, Marlc estacl preparado para
ouvir o que você tem a dizer, e você será capaz de escabeleccr o entendimenco, para
1 Você pode dar a partida no processo de cransformação encontrando pelo menos que de pare de zc;,mbar das suas roupas.
í,.
f uma pessoa, no interior dessa organização, que cenha canto inreresse pela Educação Dê e peça carinho às pessoas. Accüe de bom grado os carinhos que desejar e
' Emocional quanto você. Depois vá descobrindo outras. É possível despcnar esse cipo recuse educadamente aqudes que não quiser, exacamente como eu apliquei; mas,
de interesse moscrando este livro ou afixando wna cópia dos Mandamentos da repico, cada uma dessas tramações c:xigirá maior prcpaio, pois será mais complicada
1
'rr. -l., Educação Emocional, que se enconaam no fim deste capírulo, no trabalho.
Tudo que ensinei neste livro pode ser experimentado no local de trabalho,
e prolongada, com mais riscos do tiro sair pela culatra. Vocl pode oferecer afirmativas
de ação/sencimcnco e palpites intuitivos na esperança de alcançar uma rca',ão emo-
l ?
l
embora ralvez: seja muito mais difícil. Educação Emocional no trabalho é mais cionalmente educada. Caso contrario, você poderá tencar extrair uma boa resposta,
,.l
,. arriscada porque tem de ser pracicada sem um comraco cooperativo que o proceja de embora possa ser muito mais diRcil.
!•
jogos de poder, memira5 e Salvaçóes. Esteja preparado para lidar com pessoas que se Por exemplo, calva você sinca que tem rr.tbalhado demais num projeto para seu
recusam a cooperar ou até mesmo cêm um reação hosciL chefe e não tem recebido elogios suficientes. Está se sentindo mal e precisa de caricias.
..' Por exemplo: Mark, um funcionário de sua equipe, está sempre fazendo Em lugar de simplesmente pedir permissão e depois pedir algum carinho de seu chefe,
. comentários sobre suas gravaras coloridas. Você desconfia de que de escl. competindo você tem de abordar o assunto com muito mais diplomacia.
com você cm razão de cenas aptidões avançadas na informática que você tem e que "Helen, você tem um minuco? Gos[.lcia de lhe pedir wna coisa h

faltam a ele. Seja como for, você senre voncade de lhe dizer que as brincadeirinhas "Agora estou ocupada. n
com suas gravatas C-1'.cão deixando-o irritado. Você pcrabe que contribuiu para agravar Hden não é de muita conversa. Vorl sente que ela o aprecia. Mas não vai ser
o problema aceitando a brincadeira até agora, mas quer que de pare. f.kil. "E mais tardc?h, você pergunta.
Todas as regras básicas aplicam·se aqui: você deve pedir permissão; mas, nesse "Tudo bemn, da diz. sem afasrar os olhos do trabalho. Não é hostil, apenas
caso, como as pessoas não cscão acostumadas - e. quando isso acontece, podem ocupada.
concordarscmmaioresr~cxãcs-,vocêd~csercxrrcmamemecuidadosoparaobter "Qual é o horário mais convcnicnre para você?"
o consencimemo dele, e não apenas a simples concordância. "Eu o chamo na sua sala assim que terminar isso aqui. Mais ou menos daqui a
"Ei, Mark, quando ôver um minuto, gostaria de dar uma palavrinha com você, meia hora."
rudo bem?" Ótimo. Agora vem a pane mais difkil.
Mark (perplexo): "Claro!" Hden liga para sua sala. "Você queria Falar comigo?n

162 163
Você está apreensivo, a boca está seca e, a essa aJru.ra, parece mais seguro deixar das pessoas, indwivc cm situações cmocionalmcnrc deficientes, sente vonCil.de de ser
o assunto de lado, mas você está determinado e vai cm frente. simpática. com as outras, e o rc:suh:ado mais provável será positivo na maior parte das
"Quero, posso ir à sua sala?" siruaçõcs.
'Você não quer &lar pelo tdcfonc?"
"Se você não se importa, gostaria de conversar pessoalmente". Faz-se uma fração
de segundo de silêncio. Hden está começando a entender que a conversa é especial.
Pratique o Que Você Prega
"OK, venha até aqu.i." Se você estiver cm posição de supervisionar as pessoas, poderá colocar alguns desses
Segundos depois voei chega. à sala de Hdcn, da levanta os olhos do ttabalho e princlpios cm· prática. Sucilmence peça permissão sempre que for apresentar wn
o dia.ma com wn gesto. Está claramente curiosa. Com um sinal, convida-o a scncar. maccrial cmocionalmcruc denso. Vod pode dar e pedir carinhos. Pode aceitar de bom
"E aí, o que está passando pela sua cabeça?" grado carinhos que desejar e rejeitar educadamente aqudcs que não quiser. Vod pode
"Hden, estou um pouco nervoso fazendo isso, mas queria refazer uma pergunta. inclusive dar carinho a si mesmo.
Pode ser?" Dcsenvo!Ya o hábito de dizer às pessoas como voe! se sentiu depois de algo que
"Claro, vai cm frente." elas fu.eram e procure estimulá-las a ouvi.lo sem se colocarem na ~efensiva. Ouça os
"Você sabe que acabamos de terminar um projeto enorme, que c:xigiu muito scntimencos das pessoas.
trabalho e muiw horas." Busque a confirmaçáo da sua intuição e rente obter a conlinnação das pessoas.
"Sim." Se você fizer isso de coração abeno e com 8aibilidade, praticamente: todos irão
"Bom, não sei ao a:no se voei! gostou do trabalho que cu fiz." mostrar-se receptivos, pois 'você estará protc:gc:ndo as pessoas de jogos de poder. Na
ªPensei que cinha lhe dito como apreciei o seu _empenho, não disse?" qualidade de pacrão, contudo, caberá a você a responsabilidade de não impor suas
"Sim, você fez isso, mas sabe, cu não senti que você goscou do trabalho, mas id6as a pessoas impotentes e refiatlrias que ptceisam concordar com você. Por
sim do meu empenho. Quero dizer, tabalhar duro não é gar.uuia de qualidade. Voei! exemplo, suponhamos que você seja um supervisor numa empresa com 25 funciorui-
achou o tr.abalho que cu realizei particularmente bom?" rios sob seu comando. Voei. gosla de ser amigável com des e de ser meado ela mesma
"Mas claro, não precisa nem dizer." maneira.
"Se você não se importa, cu gostaria muito de ouvir se você tiver alguma coisa Uma de suas melhores funcionúias parca: insatisfeita no trabalho. Ela não o
especifica para dizer sobre o trabalho. Nestes dias tenho me sentido pouco valomado, tem cumprimencado com a mesma simpatia e pan:a: rctra!da com os colegas. Sua
não parcicularmemc por você, mas cm geral. Você poderia fazer isso?" intuição lhe diz que há algo errado e você decide investigar de maneira emocional~
!- ~ "Na v~dade, achei seu trabalho excepcional" menre educada.
"Odeio cer de pressioná-la, mas voe! poderia me dizer como?" No intervalo, você se aproxima de Paula. uComo voe! está hoje, Paula?."
"Foi muito criativo e wnbém muito preciso. Achei que voce sabia disso." "Bem."
ªCreio que sim, mas é bom ouvir ele você. Obrigado por fazer a minha vontade. "Posso lhe fuu uma pcrgunrar
Espero não ter te incomodado ... " Ela faz que sim.
"De jeico nenhum, lamento que vod ccnha se sentido menosprezado. Estou Você precisa ter certeza de que da está realmente disposta. "Tcm ccn:eza? Não
muito satisfeita com seu trabalho. n quero me imporn. O tom de sua voz dcw: confirmar que da cem escolha. Você deve
-- j
N aruralmence este é um cenário muito positivo. Hden poderia ter repreendido realmente sentir que da se sente livre para clli.cr não.
você por ficar pescando carícias ou momando--se infantil. Ou poderia ter-se rccwado Vamos dizer que ela de sua permissão. "Claro."
a ampliar seu dogio. Num ambienrc emocionalmente fdgil, não seria de admirar. Se "Bem, tenho percebido que você anda quieta. Tenho a irnpr~o de que algo
isco tivesse acontecido, você reria de pedir desculpas discretamente e dar o assunto a está aborrecendo."
por encerrado, ou então usar as informações para ampliar seu trabalho. Mas a maioria "Ah, não! Esti rudo bemn. Ela não se mosaa muito convincente.

164 165
.
1

·'
'
l:
Normalmente, num ambiente de coo~ração, seria possfvd insistir. Mas neste encontro, mostrando-lhe como esse ripo de retiro iria melhorar os ânimos e a
caso, se insistir você estara abusando de seu poder, t:alva cla nao queira dizer o que produtividade no trabalho. .. .
está errado nem conversar com você. Por que tais iniciativas produum uma aansformação posmva? Porque, ma.is
"Bom, fico satisfeito. Posso lhe dizer como me sinto?" Ela novamente fuz que uma vez, em geral as pessoas nutrem um anseio por carinhos posiâvos, não importa
sim. se acreditam ou não no udnamemo em Educação Emocional, e t!m necessidade de
"Com você tão calada, fico preocupado se há agwn problema. E seria uma pena expressar seus sentimentos com segurança. Num ambicn~e on~e possam da_r e receber
se eu pudesse ser útil e você não pedisse." rodo o que o treinamento promete, das vão se sentir mais fiilizes e produavas.
Ela pato=c em dúvida.
"Você aaalica em mim?"
Novamenr.c da assente.
"OK, então por favor lembre-se de que estou aqui para ajudar, se puder.
Avise-me se precisar de mim."
Com isso, é melhor deixar as coisa desse jeito. Talvez você fique triste ou até
mesmo irritado com a negação de Paula. Quem sabe voe! está errado pensando que OS DEZ MANDAMENTOS
há algum problema. Seja como for, você lançou as bases para diálogos emocional- DA EDUCAÇÃO EMOCIONAL
mente educados com Paula no futuro. Se civere:ssa atirude, você irá adquirir uma boa
reputação com seus funcionários e, quem sabe, com seus superiores. Você poderá até 1. Não fuis jogos de poder. Peça o que quer até conseguir.
mesmo demonstrar que essa abordagem desenvolve a produtividade e o estado de 2. Não pcrmiti.tá.s que te manipulem, Não fuça nada que não desejar de
ânimo dos empregados, e estimular outros supervisores a ~rcm o mesmo. livre vontade.
Para aquele que detém uma posição de poder, o pedido de desculpas é uma boa 3. Não incorrerás cm mentiras por ooiis5áo ou comissão. A menos que a
maneira de demonstrar que você realmente pretende ser educado. Evidenremence sua segurança ou a segurança de outras pessoas esteja em jogo, evite mentir.
você comerecl erros e, no locai de trabalho, de modo geral esses equívocos não são 4. Defenderás os teus sentimenros e as tuas vontades. Se assim não for, o
reconhecidos. Seus funcionários ficarão bem impressionados se você reconhecer os mais provávd é que outro tome a iniciativa.
próprios erros, admiti-los, pedir desculpas, e buscar a reparação para os que foram 5. Respeitarás os sentimentos e desejos do outro. Isto não significa
prejudicados pordes. submerer-se a eles.
6. Buscarás o valor das idéias alheias. Há mais de uma maneira de ver as
coisas.
lniciatzdo um Grupo de Estudos e Apoio em Educação Emocional 7. Pedirás desculpas e oferecerás reparação por teus erros. Nada será mais
estimulante para o próprio crescimento.
Observe, em seu ambicnre de trabalho, quem são as pessoas propensas a aceitar e acé
8. Perdoarás os erros do teu prórim.o. Faça aos ouuos o que gostaria que
mesmo apreciar as etapas deste programa e incentive-as. Com toda proba.bi !idade, são
elas que terão interesse em pa.rcicipar de um grupo de apoio. eles lhe fizessem.
9. Não aceitarás falsas desadpas. Elas valem menos do que nenhuma
O ideal é que esse grupo tenha entre oito e doze participantes. Com um grupo
assim, será pDssfvd instituir uma mudança real. Por exemplo, wn grupo de estudos desculpa.
10. Cumprirá.s estes mandamentos segundo teu melhor julgamento.
com reuniões no hoclrio de almoço poderia ser uma presença digna de nota na maioria
Afinal de conw, eles não foram escritos na pecba
das organizaçócs, e com a:neza iria crescer. Seria mais fácil organiU1r um fim de
semana de treinamento. Talvez a equipe pudesse convencer o patrão a financiar o

166 167
,11:

t
..
1 8 Nas oiganizações milirares, exemplo clássico de uma cultura hierárquica de

Poder, todos que estão no pata.mar inferior sã.o obrigados a bater continência e prestar
obediência a alguém. Neste sistema, a inrubordinação é punida com rigor. e as
informações são manipuladas segundo a "necessidade de saber•.
0 GUERREIRO Na maioria das corporações, os empregados prestam homenagem aos patrões
que enviam os memorandos e controlam a empresa. Com frcqü!ncia os empregados
EMOCIONAL não conhecem as intenções dos chefes, ou são propositalmente induzidos ao erro .
.E.sscs sistemas de dominação não surgiram por acaso; são pane da csrrurur.a
básica da nossa sociedade, basicamente patriarcal.
No patriarcado dúsico, o pai comanda um clã ou tribo, e sua autoridade é
uansmirida aaavés da linhagem masculina. Nos patriarcados atuais, a figura paterna
detém o poder e o transmite de acordo com seus caprichos - via de regra para wn
ou mais seguidores do sexo masculino, mas, vez por oucra. tam~m para mulheres
cuidadosamente escolhidas.
PROCUREI TRANSMITIR, AO L~NGO deste livro, uma série de técnicas Esse sistema é mantido pela dominação, seja no governo, no trabalho, nas
valiosas para ampliar a sua Educição Emocional. gangues ou nas familias.
Essas técnicas irão ajudli-Jo a aperfeiçoar os relacionamentos da sua vjda em A dominação ~ exercida como um todo por meio de intera~ individuais ou
todas as áreas e também a desenvolver seu poder pessoal.
li jogos de poder. O sargento que "marcan o soldado porque o uniforme está amassado,
~ Muitas pessoas fic:ar.un tão impressionadas com os rcsuhados do treinamento o patrão que espera um curnprimenco de sua secreclria mas não se dá ao trabalho de
1.
i·. cm Educ:i.ção Emocional que qwscram apresentar essas idéias aos amigos, pan:nccs e recribuI-lo, o pai que sorri desinteressado sempre que sua filha adolescente quer ser
namorados. Algumas accediwn inclusive que tais conceitos deveriam compor um
l
;, código moral.
ouvida - todas essas interações são ditadas por jogos de poder e dominação.
,.
" Ao longo desses anos, conheci um grande número de sujeitos para os quais o
treinamento em Educação Emocional tornou-se uma fi:rramenta para a rransforma- Compreendendo o Poder de Controle
ç:ão social, o que levou-os a estender essas idéias para além de suas próprias vidas. Essas
Mal nos damos conta de como a dominação acontece, porquanto estamos mergu-
•J pessoas percenccm a uma equipe mundial de ativistas que chamo de Guerreiros
Emocionais. lhados nela desde o nascimento.
O valor da Análise Transacional como wna ferramenta para compreender as
relações pode ser percebido/claramente aqui. De posse dela, voe.e pode "analisar" as
O Antigo Regime relações de poder, examiná-las e, uma vez encendidas, bwcar uma maneira de evitá-las
em si mesmo e nos outros.
No decorrer da história encontramos pessoas dominadas por líderes que fizeram. uso Depois de passarmos a infinda à mercê dos caprichos de outras pessoas.
de quaisquer métodos que lhes possibilitassem manter o controle. Esses métodos consideramos natural sermos a Vkima ou o Algoz, Uder ou seguidor, dominador ou
podem ser flsicos ou psicológicos, mas são invariavelmente sustentados por ameaças dominado. A criança brucalizada toma-se o pai que bate nos filhos, a criança que ~
atemorizantes de violência. Nesse sistema de dominação, os indivíduos são dis- dominada e controlada coma-se o pai que domina e conrrola.Accitamos a agressão e
rribuldos numa pirâmide de poder, acima de alguns e abaixo de outros, e cada nível o poder de controle como o modo de funcionamento do mundo.
connola o degrau inferior. Sigilo e conrrole da informaçáo são métodos muito Se quisermos combater cficienremente o concrole desmedido e o abuso de
empregados para manter o poder.
poder, teremos de enccnder o seu funcionamento.

168 I
169
O quadrn abaixo mostra as quarro maneiras de exercer o poder de controle: O jogo de poder psicológico mais grosseiro chega aos tons e olhares ameaça-
dores, aos insultos, às mentiras deslavadas e ao mau humor evidente. E inclui também:
GROSSEIRO interromper, ignorar, fechar a cara, girar os olhos, tamborilar com os dedos e
cantarolar cnquanco alguém está falando.
1 • Grosseiro, 6sico ll • Gros.sciro, psicol6gico O jogo de poder psicológico mais sutil vai das mentiras mais esperras, mentiras
~ c o , estupro, aprisionamento, Insultos, tons ameaçadores-, ;)l por omissão, mau humor sutil, sa!Ql.Smo, fofoca, lógica falsa, ignorar o que as pe$SC>as
ronura, agressão, surra, cmpWTÕes, interrupções, mau humor, n estão dizendo, até, num nível mais amplo, a publicidade e a propaganda.
ºu .barcr de porcas, gritos.
'tt--------------4--------------
ID • Sutil, Hsico IV• Sutil, p,icol6gico
indiferença, mentiras deslavadas.
6
C"J
Exemplos de abuso de poder Rsico chamam mais atenção do que os exemplos
de abuso psicológico e são menos comuns. Até mesmo nos ambientes mais violentos,
Tocar, cspreicar, invadir espaço, Falsa Iógici., humor sarclmco, õ
plll3l" pelo braço, obrigar a scnr:ar ou menosprezo, atos, mentira por o como as prisões ou os campos de baralha, os indivíduos não sofrem principalmente
l~w. omissao, publicidade e propagmda. com a opressão flsica direra, mas sim com o conrrole que a ameaça de violência exerce
j sobre suas mentes. [sro acontece sobretudo nos lares: cm que as mulheccs e crianças
SUTIL são fisicamente surradas e agredidas.

Existem duas formas principais de conrrole: Rsico e psicológico. Ambos podem


ser exprõS0S sucil ou grosseiramente. Há quatro ripos de jogos de poder: grosseiro/fl- VutS para o Poder
sico, suril/flsico, grosseiro/psicológico e suril/psico[ógico. Um jogo de poder é uma
uansação na qual wna pessoa tenta obriga.e ourra a fucr algo contra sua vontade. Há duas maneiras completamente difa-cnres de ter poder neste mundo: os jogos de
Os jogos de poder Bsico grosseiro são vis!veis ao olhar e incluem sums, poder e a educação .do poder.
empurrões, am:mcssac objeros, bater com as portas ou, pior ainda, seqüestro, tonu ra, Num dos extremos, cscl aqude ind.ivfduo sem sentimentos e, portamo, sem
assassinara e estupro. limites para suas necessidades ganáriciosas. A empatia não exerce muita força sobre
Os jogos de poder Rsicos sutis não são tão evidentes, embora você rome esse tipo de pessoa, que precisa ser fria diante do sofrimento de suas vfcimas e tudo
consciência quando está sendo submerido a eles. No entanto, talve2 você não renha furá para manter seu domínio.
a menor idéia de como funcionam os jogos de poder nem de como impedi-los. A Educapo do Poder. Venho divulgando e ensinando uma impoaante fome de
Incluem-se af colocar-se fisicamente acima das pessoas ou aproximar-se demais, poder pessoal neste livro, o poder da Educaçáo Emocional. Conrudo, para tornar-se
até invadir o espaço pessoal do outro, segurá-lo pdo cotovdo ou pela mão, andar na um guerreiro emocional, é ncccssliria a ~educação do poder", além da Educação
frente, obriga.e as pessoas a se levantar ou semar ou bloquear-lhes a passagem. Emocional. Em outras palavras, você deve enccnder o funcionamento do poder, de
Comumcnrc os jogos de poder são usados por homens para sujeitar as mulheres, na que maneira de cresce, como tomar o poder, como compartilhá-lo e, às vezes, como
convicção de que constituem um comportamento masculino normal. abrir mão ddc.
Os jogos de poder psicológicos funcionam porque as pessoas são ensinadas a O problema é que, num sistema com base na dominação como é? nosso, de
obedecer desde a infância; sem fazer uso da força füica, posso intimidar alguém por ordinlirio defim:-se erroneamente o poder como a "c:a.pacidade de controlar outras
meio de ameaças ou do tom da minha voz.. Posso impeli-lo a agir fazendo-o sentir-se pessoas". Infelizmcnrc, grande pane das reflexões cm tomo do poder adotam essa
culpado. Posso seduzi-lo com um_ sorriso ou uma promessa, ou convencê-lo de que linha de pensamento.
aquilo que quero é o que di:ve ser feito. Posso Uudi-lo, abusar da sua boa-fé ou pregar Os teóricos do poder ignoram outras manifestações imponantcs de autoridade,
uma mentira. Se ri ver condições de vencer sua resistência sem fuzcr uso de força flsica. tais como o poder da comunicação, do conhecimento ou do amor.
cstaJ'd usando jogos de poder psicológicos, tão comuns no nosso dia-a-dia, alguns Ser apaixonado, centrado ou espiritualmente consciente é ser poderoso. Não há
grosseiros, outros sutis. exemplo melhor desse tipo de poder do que Nelson Mandda, que modificou

170 171
. . es é a c:xistência de
de nos tornarmos unpotcnt
c:ompletarncnte a orientação pol!tica da .Afi-ica do Su! de .sua cela na prisão. E que ... ian Interno. Um dos monvos
O ln:---D- nuando uma =oa sofre
fra ucc.e constancemente. ~ r~
personalidade histórica foi mais poderosa do que Jesus de Nauré? Foi wn carpinteiro um inimigo interno que nos en q . d la venha a maltracar os outros
. . prov.ivd é que, mal.S tar e, e elh
pobre que mudou o mundo com sua mensagem de amor. abusos sistcmác1cos, o mais d i próprio e de seu sem ante,
. ma Desse modo, da se torna o agressor e s
O conhecimento é ourro exemplo de poder que se iguala ao controle. Por isso, e as1 mcs ·
governos autoritários sempre procuraram, de todas as maneiras, impedir que as pessoas 0 cuc.creiro e o torrurador. . r bom exemplo d.isso. Os delatores
~ nanstaS 1oram wn
Oscamposd.econcencraçao . . mpanhcirosJ'ud.eusmosaavam-
recebam insttução ou reúnam-se livremente para aprender com os grupos.
Uma das causas da derrocada de governos rocafü:írios da Europa Oriental foi a judeus nomeados pelos etores r--
dir = vigiarem seus co
. Muitos são os ex.emplos de siruações
melhoria das comunicações entre fronteiras, que veio a destruir a capacidade de se freqüentemente rio cruéis quanto os nwsta.s- elhante ministrando-lhe wn
. .das investem conna seu sem '
controlar o fluxo de informações, neurralizando a propaganda desses governos. Eis q ue pessoas opnnu
CJll • o de seus opressores.
outro ~cmplo de como, em última análise, o controle~ uma forma de poder insrávd. uawnento tão agressivo quanto ~o submetidas a agressócs
uando as pessoas .sa
M uicos renunciam ao poda porque percebem que de está sendo usado táo-so- Mas isso tam~m aconccce qsão u=un -1, __ • u1ad ";;osa~orte0nhccidosetendcm
os, , _ .
mente para a dominação ou o controle. Crêem que, para SCI poderoso, não se deve psicológicas sucis. Esses maus·tnltos . il d bam se cransformando no Pai
amar o próximo nem interessar-se verdadeiramente por seu destino. Por isso a rejeição ·d E to sáo assim a os e aca li ha
a ser csqueo os. ntretan • . . d . ·ros mantendo-os na n e
do poder é considerada uma atirudc correta e neccsmia. do no ps1qu1Smo os SUJCl '
Critico interno, pcrmaneccn ntririos a suas leis opressoras.
ensamentos ou aros co ,__ 1
Mas equiparar impotência e vircude rambém é uma forma de desconhecimento punindo-os par to dos os P . ulheres as pessoas de cor, ossuoa.tcer-
do poder. Na verdade, o poder pessoal constitui a capacidade de fazer as coisas . ""~ os inuoverodos, as m ' elh b
Quando as cnan,,.-, . - .1, deficientes flsicos e os v os, po res
acontecerem. As pessoas devem esforçar-se para ser tão poderosas quanto possível, h exu.ais mascwinos, os .
nos, as lésbicas, os omoss ~o impotentes que passam a aCCltar as
sem extrair o poder do outto. ou ufeios" são maluatados, eles se
"uressões,acredírandoquesãomerec1 . dU\
~7" ~cnce,assumemo papddeauco-agrcs-
do do Pai Critico por meio das
-o . . bedcccn o ao coman
As Muitas Faces do Poder Pessoal sares flsi.ca e ps1colog1camente, o d ~cs de ódio a si. mesmos.
' d destruição e emonruaço
mais variadas formas e auto . cal da sociedade, que afirma esrar
. ilam o esquema pacrw
O poder pessoal vai muito além da capacidade de manipular ou controlar o outro. t assim que d cs ass:un ~ ma)aau.dos. Navcrdade,opacriarc:adosugerc
Voei tem poder quando consegue realizar aquilo que está buscando e impedir cenoalgunsdominaremouuos,quesao J . "e-do,t rotulando os pobres
aquilo que não deseja. Por outro lado, você cst:S. impotente quando não consegue pôr ue os que são alvo de agressao de algumamanCJras:ao
J

... . . "
G •.. _,

as minorias de intcleetua.i e
q
em prácica aquilo que deseja ou não consegue impedir aquilo que quer evitar. O " ulh res de ,rraoon:us • ou
de "preguiçosos ou as m e
': presidente de uma empresa, que manipula políticos e empregados, pode ser incapaz moralmente inferiores. . Cri . rua A -auroperseguiçáo é obra
de obter o amor de sua esposa e sua família. Todo o seu poder é inútil se não puder . 1· como o Pat uco a .
Neste livro procurei exp 1ca.r " "Pai Porco"' "crlcico des·
ajudá-lo a ter uma vida pessoal feliz. ,. eh do de "superego severo ' .
do Pai Cnttco, cambém am-1 d . uata-sedcurnavo1.ou1magcm
Somos impotentes quando não conseguimos conrrolar o que comemos ou " - . ., Comoquerqueo cnommem,
crutivo"' ou Inurugo . .di fci I uco ou azarado - em resumo,
bebemos, o que colocamos em nosso organismo, quando não conseguimos dormir menral dizendo que o individuo é mau•. i_ ota, 1 o, od erarnes de pais para filhos,
.
,, 1
' ou permanecer acordados, quando não conseguimos pensar com clareza nem conrro- . essa voz é aansnuuda -ao ongo e g T'" '
'ti
não está OK. E ma.is, ula es inteiras.
J
lar nossas emoções. Somos especialmente impotenres, e temos torai consciência disto, rando terrivelmente nas mentes de pop ço . d liminar o
rever be . na1 c..---os O ,wznento e e
quando não somos capazes de refrear o comportamento controlador e opressot de . E.d
''
: N o tremamenco em u r-
car20 E.moc10 , l="
val Contudo combater o
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.t
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outras pessoas.
Pai Critico de nossas vidas, tare
a
fa. diR mas que e a pena.
c ' N
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dade craca-se de missão perdida se
d Se for capaz de reunir a energia e as aptidões suficientes para enfrentar o . p . e ' . não é o bastante. a ver •
:1 problema, provavelmente sua vida terá uma evolução satisfatória. Se malograr, sua nosso próprio at r uco d . cal controlador que nos cerca.
:1 . . ~'"b"-
não res1sc1rmos ,...... º" ao po er patr1ar
1 vida será triste e pontilhada de tumulto e depressão, psicose e vício.
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-~- J !
Não precisamos travar essa ba ·- I L "nh H
do--se para governar suas pró · i.ouia SOZJ OS. :{ ""'~SO d
"L_ •r - asem to apa.necsfor,-.,,n- Nos Estados Unidos, à medida que vão alcançando pouco a pouco stlltus igual
pnas Vluas e ans1os · r-•
autodetcnninação. Se quisermos ... ;~ __ J as por ururem-se numa batalha pela ao do homem, as mulheres estão deixando de lado os ditames da moda e da vesti menta
.....,._ veni.cuores nessa bata!h
uma nova forma de poder pess a1 - . a. rcremosdede.senvoiver que lhes eram impostos. Em conseqüência, estão se sentindo mais poderosas - mais
o nao-agressivo. conhecida como "carisma".
estáveis, mais firmes e equilibradas.

\ Sete Fontes de Poder 2. PAIXÃO: Calor que o Estimula a Avançar. Nada como a força da paixão para
tonificar a sua vida. A paixão pode criar ou desauir, ela reconcilia os opostos,
Mostraie.i agora c:xa...., ... harmoniza o embace de forças e a aansfonnação .
......ente o que estou querend di
podei não-agressivo. Estudiosos das reli ·- . o ~ao descrever as sece fontes de Se não fosse a paixão sexual, não haveria Romeu e Julieta, os casamentos seriam
cada d-'- - . g1oes onenta.is reconh .
uma casa milenar teoria dos "chakrun da io . ~ ~orno ongem de raros, o amor não seria correspondido. Mas a paixão não é apenas sexual. Ela tamb6n
Poder, Cardfaq>, da Garganca do T . ga kunda11m: Básico, do Sexo, do alimenta o fervor missionário, as aventuras quixotescas e a revolução.
Chamo ' ctce1ro Olho e Cósmico.
. essas sete fomes de poder de EquiJJb . . - Quando a paixão não escá desenvolvida, o sujeito é momo, enfadonho e
Comumcação, Informação e Transccndfocia no, Paotão, Controle, Amor, desprovido de energia. Quando a paixão é rransbordante, você explode com energia
Nenhuma dessas apa'd-ocs deve ser mais vai · . da d desenfreada.
devem S<:r usadas em COnJ· unto . da onza o que a o urra. Ao contrário
e • P015 ca uma delas · ' 3, CONTROLE: Mantendo o Domínio Firmemente. O controle tem sido usado
eretuat mudanças. Ao utilizá-! . possw uma capacidade única de
. as conJuntarnenn; l dÃ
de maneira inadequada, mas trara-se de uma forma de poder fi.mdamentaL O controle
arco-frts de opções é bem mais fi d ogo voce po erá perceber que esse
d d e caz o que as fonn . possibilita Iidar com o ambiente, os objetos, as máquinas, os animais e as pessoas.
o po er do Controle que subiu=,.., . d as grosseiras, por vezes brutais
, o-·· munos e nós. ' Esse controle, ramo Hsico quanto psicológico, rambém confere poder sobre si
1. .EQUIUBRIO: De Pés p:-... E ·rfb . . nd; {1" mesmo. O controle é especialmenre importante quando permite, na forma de
............. qu1 no ou
como também é chamado repr~nta a 'd grou ng igação com a rena), autodisciplina, moderar os demais poderes, tais como a paixão, a informação, a
quando csriver de pé, escal:uido d dcapacr ade de manter-se fume e confortável comunicação e todas as emoções. Esse controle é virai quando as siruaçóes estão em
• . • an an o ou correndo.
_Sevocepossw umaaptidãobcmd~nvol "d . . desconrrole e ameaçam a própria sobrevivência. Um dos aspectos da Educação
está p1sandon. Se sabe onde escá . d - vr a para o equilfbno, você "sabe onde Emocional é o controle das emoções, na medida do necessário, com visr:as a um
p15an o, nao será arr-an d fa ·r
pessoa1 ou Rsica. Seu corpo estará fi . ca o c1 menredesuaposição enfoque pessoal vigoroso.
rmememe enraizad ,
.; .·' Da mesma maneira crn rodas fo o, assim como a sua mente . Quando o poder do controle está ausente, voce se roma uma vítima de seu
"meio-termo fellz" no oue' _,,_ . as nrcs_ de poder é preciso tcnrar aJcan,..,r um próprio rumulco interior, tomando-se viciado, deprimido, insone e indolente. Ou
, -, wz respcrro ao rn lib . S .,.._..
equilibrio Você será . -"lw no. e houver algwna ddi "ên . então, voce pode ser uma vítima da realidade externa, tornando-se desempregado,
'. ClCO:sstvam.cnre obcdíente, a.ssustadi . ª ca no indigenre, humilhado, perseguido, mental.mente doenre ou prejudicado pc.la polui-
.- . cm demasia o equilíbrio, você será tcirn .nfl ç:o e tímido. Mas, .se desenvolver

=
O equilibriocoruriruj wna fu doso,• o:í~, obtuso, inabalável e lento. ção. Você passará a imagem de alguém desprovido de disciplina, incapaz de dominar
.
O patnarcado nte e podcr=...,--L~- __ 1,
dcsen cora1a. a busca por .-~'--wanncntevauosa=r::1asmulh
das uJh r-- ercs.
os próprios sentimentos, atos e palavras, bem como aquilo que você ingere, respira e
equilíbrio Rs'.~· As modas funin.i~as. m en:s, de uma forre noção de que corre em suas veias. No extremo oposto, a obsessão pdo controle o toma
apenadas, mlnJSSaias, salros alros - . ~-- para agradar aos homens - roupas preocupado em dominar rodas as situações de sua vida.
~...:in • d ' lnteuCICJTI na estahilidad ti .
o-•ca o recaro - movimcnt limi d e s1ca, bem como a 4. AMOR: Seu Poder de União. Todos querem amar e ser amados, pois sabem como
O h os ta os e cautelosos -das mulh .. ,,
s omens, por ourro lado - 1· Cn"!S educadas . é bom. Mas poucos vão além dos prazeres óbvios do amor e procuram enxergar o
d . ' sao ivres parases . -
CSCJarem, usando roupas e .sapatos confort.1 . e~t1rcm tao à vontade quanto poder que ele confere. Apenas alguns chegam a desenvolver esse poder.
relação à vesrimcnca e ao recato. veis, cumprmdo exig&cias mfnimas com O amor vai além de canócs de Dia dos Namorados, da emoção que você sente
l:
,.
quando encontra seu amado, ou do abraço carinhoso que a mãe dá em seu filho. O
,-
174
1•
·'
amor cem a capacidade de unir as pessoas, cstimuland!Xl.S a trabalhar lado a lado, ativamente envolvido com a busca de informações válidas, isto é, com a informação
incansavdmcntc, em prol das tarefas ma.is árduas, confêrindo esperança suficiente que reflira as realidades do mundo.
para arrancá-las das situações mais tc:rrlvcis - a fome. as guerras, os desastres aéreos.
Se não desenvolver sua capacidade de amar, você será hio, desprovido de carinho 5. COMUNICAÇÃO: Seu Elo com o Outro. Se quiser uansmitir aos demais suas
ou empatia pdas oucras pessoas, incapaz de acalentar e ser acalentado, incapaz aré idi!ias e sew scnrimemos, você deverá fazer uso do poder da comunicação. São
mesmo de amar a si mesmo. necessárias duas ações: enviar e receber, falar e ouvir. Você precisa da comunicação
para uansmicir o conhecimento, para solucionar problemas junwncnte com asou eras
Se essa força for desenvolvida cm excesso, você será um Salvador contumaz,
pessoas, para erigir rdações satisfatórias - em rcswno, para alcançar a Educaçáo
propenso a UQl excesso de sacri8'cios pelo outro e ao mesmo rempo negligenciando a
si próprio. Emocional.
O amor esc:I. no ~tro desse conjunto de poderes éticos. Uma atitude amorosa
Se não dispõe do poder da comunicação, você será incapaz de aprender em larga
orienta o guerreiro emocional. Essa atitude acua nas ttês esferas dementares: o Amor
escala ou desfruw a companhia das pessoas. Se exacerba o uso da comunicac;ão, voe!
a si mesmo, o Amor ao pr6ximo e o Amor à verdade. pode se tomar aqude que fala compulsiva e dcsarcncamente, sem prescar muita
arenção naquilo que diz ou no efeito que suas palavras causam no outro.
No momento cm que a Educação Emocional proporciona as fcrramenw
Todas as formas de poder atuam cm conjunto. Uma combinação bascanre
indispensáveis para uma existência satisfatória, essas três qualidades conferem a visão
neccss:ária para uma forma de vida ccncrada no coração. Vamos definir melhor essas eficiente, usada por grandes mestres, é a comunicação, a informação e o amor. A
qualidades: comunicação enrrc eles é inspirada pelo amor à verdade e às pessoas. Não se deixam
intimidai nem lançam mão do controle. Portanto, seus discípulos são livres para fazer
• Individualidade Fume: Amor a Si Mesmo.. Significa defender firmemente a comparações entre os ensinamentos do mestre e aquHo que-já sabem, consolidando
própria singularidade pcs.soal. A individualidade fume mantém-nos resolutamente suas próprias opiniões. Assim eles adquirem poder pessoal.
conectados com aquilo que queremos e nos toma apros a definir o que favorecerá
nosso caminho pessoal ou o que poderá desviar-nos ddc. Somente um amor apaiJto- 6. INFORMAÇÃO: Seu Antídoto para a Incerteza. O poder da informação ceside
nado a si próprio proporciona.ri a força para perseverar quando todos estao se cm sua capacidade de minorar a inccrrcza dos ind.ivícluos. Quando tem informação,
perguntando para onde vão. você pode prever os acontecimentos, fazer com que as coisas aconteçam ou impedi-las.
Se lhe fulca o poder da informação, você sofie de ignorância. Se CSS3. qualidade
• Lealda.de Inabalável: Amor ao Próximo. Sendo leais, estamos conscientes de nosso escá exccssivamence desenvolvida, vod: tende a confiar dcmrus na ciência e cccnologia,
compromisso com as vidas de outros seres humanos e demonstramos ao outro a mesma
tornando-se hiperincdccrual e insensívd.
paixão que sentimos por nós. Amar a si próprio sem amar ao proximo é cgo(smo. Amar A informação chega até você de quacro maneiras: como ciência, inruiçã:o,
ao próximo sem amar a si próprio nos toma Salvadores que renunciam a rudo.
sabedoria e visão.
O amor a si próprio e ao pr6ximo só pode existir se estabdecermos contato com
A ciEn.cia reúne os fu.cos mc:todicamente, analisando-os com cuidado e vcrilican·
nossas verdadeiras emoções e com as emoções do outro.
do como são e como agem. A ciência assem~·se a uma câmera que e.ira inscantâncos
• Honestidade Consciente: Amor à Verdade. O amor a si próprio e ao próximo não da realidade. :É. uma fonte importante ele ccrtczaS.
poderá cxislir em sua plenitude se ignorarmos a verdade. A intuição apreende o fluxo das coisas. Produz "hipóteses daboradas" de como
A honestidade é csp«ialmente impom.nce na Era da Informação, na qual são as coisas.
podemos estar "bem-informados" e, ao mesmo tempo, sob a influência de infor- A inruição não é tão exara como a ci~cía, mas trata-se de um guia poderoso
mações menciros:as e ilusórias. que provavelmenre écorreto. Por isso, a intuição costuma ser fundamental nos escl.gi~s
Devemos participar acivamcnte da "verdade radical", do apuro e transmissão da iniciais de impactantes descobcnas cienáfüas. Contudo, quando confiamos demais
comunicação honesta. O amor à verdade é aquele acriburo que mantém o indivíduo na inruição, sem checá-la com a realidade, podemos nos tomar paran6ides.

176 177
A sabedoria, ou perspectiva. histórica, provém do conhecimenro de fatos p~-
o poder da o.msccndência proporciona espcran~ e fé de qu~ sua vida tem um
· ifi d embora sua inceligcAncia limitada náo consiga apreende-lo.
sados, sc:ja auavés da experiência pessoal ou do escudo ela história. Embora não seja s1gn ca o, . ,, d · - ·
Com a transcendência, você pode "de:var-sc aama a muaçao e scnnr seu
exatamente igual à ciência, a sabedoria pode constituir uma ferramenra poderosa para
poder, nio obstante as condições materiais. . . . . • .
ajudá-lo a prever os acontecimenros. ainda for mc1p1cnce, vocc verá a s1 mesmo
Se sua capact'dade d e ......
~"~cendência
~
A visão é a capacidade de visualizar diretamente o que vai aconcccer, seja por . cntos !l=rr:mdo--se desesperadamente a suas crenças e
no ccnuo d os aconteom , -o---- .
meio de sonhos ou de visões. · ual ·
desejos, q quer que 5CJaO preçoa=tf':!r r.:,-· Vocêdeixarádepcrccberoefettoquecxerce
_ .
De ordinário, nossa sociedade considera a ciência a única fonte válida de sobre os oucros sci:es humanos e no meio ambiente, porque tudo que é impon:antc
conhecimento: a sabedoria é para os velhos, a inruiçio é para as mulheres e a visão, para você é você. .
para os loucos. No entanto, cada uma d~as formas de informação tem seu valor e A -tiver desenvolvida demais,. como. uma
Se sua uanscen den............
, . : ...
~
forma de enfi:cn-
_
pode ampliar o ~u carisma. _ 11.
camenco, vo,;..c se tor11a1.<. • = •
----' mw'•o .1,_tu1te un::iirando à distâ.naa de todas as qucstoes
r--
. capaz e ~ for= de vontade para colocar os pés no coao.
_L.,,
A informação tem sido m~ cmptegada ao longo dos séc:u1os, colocando-se a mun dan as, mostran d o-se ID r- . .
·serviço do controle, para f.u.er guerras, usurpar cerras e impor visões pol1tici.s e Meu conhecimento sobre essas fontes de poder ainda é embnonáno- ~o~~re-
religiosas. endo algumas (conuole, comunicação) melhor do queoums. (uansccndênoa, ~ao).
Hoje, na Era da Informação, o mau uso surge na forma da desinformação, da eonv1'd0--0, caro leitor ' a adicionar os seus conhecimentos sobre o rema, comunican-
fi al d I'
propaganda falsa, dos anúncios políócos negativos e outras formas de propaganda do-se comigo por carta ou pdo e.-mail que se encontra"º. n este ivro.
moderna. Es.ses recursos são milizados para manipular milhões de pessoas, através da
rdi:visão e outros meios de comunicação, e persuadi-las a ter determinados estilos de Uma Transfonnaçáo para o Milênio
vida e adquirir anos produtos.
Desenvolvendo cada uma das serefontcs de poder, você poderá cultivar o Guerreiro
A informaçâo a serviço do amor seria completamente &ferente. Ela seria usada
para aumentar o poder ~al - a saúde, por meio de conhecimenros médicos e Emocional que existe em seu íntimo. . .
Neste momento, a fixação de nossa sociedade pelo controle vem deixando multa
psicológicos, a sabedoria, através da educação, e os rdacionamencos, através da
,. cê da hierarquia do controle - políticos corruptos, mandachuvas
Educação Emocional. gente ~ mer d gó . d ta.dos de uma
impiedosos, cfnicos executivos da propaganda e homens e ne aos o
7. TRANSCENDtN°CL\.; Elevando-se Acima de Tudo Isso. Quando é considera~ mencalidade fragmentada. · d h ·
da uma fonte de poder, a transcendência representa o poder do desapego, da liberdade Se nos dedicássemos a analisar o poder na cultura ocidental nos dias e oJe,
que é dada aos fatos para que possam seguir seu curso sem inquietações ou sem o veríamos um núcleo de controle influenciando tadas as demais fontes de poder.
. -~ · · d ram deuses colé-
envolvimento do ego. A transcendência faz com que você se sinta tranqüilo cm mcio • A craraccndência seria distorcida em rd1g1oes pacnar~s q~e a o . . o
aos acontecimentos mais exuaordinários, permite que você veja as coisas com dara.a. ricos e são conduz.idas por !(deres religiosos cuja cspmrualidade foi mmada pel
A transcendência é alcançada quando voei: percebe como na verdade é insigni- poder e pelo dinheiro.
ficante diante do universo - como sua vida é curta até que você retorne à poeira • A informação seria limitada ao uso da ciência para servir à tecnologia da guerra e à
cósmica, como seus sucessos e fracassos são efêmecos, como suas dores e alegrias são comerciali:r.açáo de bens.
rdacivamcme insignificanrcs. • A comunicação seria um processo unilateral de manipulação das pessoas.
Qualquer que seja a sua situação, é possível enfrentá-la quando você se vê como • O amor seria uma paródia degradada de si mesmo, repleto de ~iúme e obsessão,
uma partfcula na imensidão do tempo e do espaço. De posse desse emendiinento, represenrado na música popular e nos filmes, mas ignorado na vida real.
você deixa de temer o futuro ou mesmo a morte, pois seu lugar fundamental no
• A paixão seria reduzida à luxúria e à violência.
universo não pode ser destruído por fatos comuns.

179
178
l

• O equilíbrio seria priviUgio ordusivo de super-heróis atléticos.

Nossas vidas não precisam ser assim. Na ciualidade de Guerreiros Emocionais, RESUMO DO CAPÍTULO OITO
podemos f.u:er IBO de nossos poderes do amor para transformar essa situação. Podemos
modificar o mundo, afustando-o do controle cm direção ao amor. O Guerreiro Emocwnal
V od pode abraçar essa causa desenvolvendo seu poder e carisma individuais cm
seus diferentes aspectos. Para isso é necessário: Você não é obrigado a concordar com um mundo no qual a força do homem
expressa-se por meio de jogos de poder ou de violência. Você ~de lutar por
• Equilíbrio para manter o rumo.
uma realidade onde o poder seja expresso através do amor a si mesmo, ao
• Paixão para encrgiz.á-lo. próximo ou à verdade.
• Controle para não se desviar de seu rumo. Isso pode ser alcançado com a Educação Emocional e a transmissão das
• Comunicação para interagir dicienrcmcnte com os demais. técnicas da Educação Emocional aos demais.
Ser um indivíduo apaixonado, centrado e cspirirualmence despcrro é ter
• Informação para f:tter previsões acertadas.
poder. Existem sece fomes benignas de poder, às quais você pode recorrer: o
• T ranscendênci.a para manrcr a pcrspect:M;
Equil!brio, a Paixão, o Concrole, o Amor, a Comunicação, a Informação e a
• Amor para harmonizar todas essas aptidões e dar-lhes um forre impulso esci muiame. Transcendência.
Faça uso dessas fontes de poder consultando sempre o seu coração, à luz
I,. O treinamen m em Educação Emocional fula diretamente ao coração, convocan-
1 da Educação Emocional. Desenvolvendo seu próprio carisma e não se csciue-
1 do pessoas de toda parte para a prática de três virtudes rdacionadas: amor a si mesmo,
ccndo dos seus semelhantes, você se tomará um Guerreiro Emocional.
amor ao próximo e amor à verdade.
Esre é o caminho do Guerreiro Emocional.

180 181 1
· Ih ...anr::mça e nutrição à medida que de for
encontrar formas d e proparoonar- e s"l> __ _
9 crescendo. . d sua Educa,-;;o Emooon - a1 vat· depender de-uma
Por fim, o d esenvo lvunenro e r .
seu
série de fatores: a
desejo, possibilidade de encontrar pessoas~;
cicar as opommidades que esre mundo ira lhe oferea:r e sua
:tms ~ss:a
, e em evmtr
., pra ' d Co estaS últimas palavras quero ter certeza de que
0 lado obscuro desre mun o. m Am
UMA ULTIMA . d
você, caro lcnor, encen eu que a mens:a.g
cm deste livro tem rudo a ver com O· or

PALAVRA - a si mesmo, ao proximo e à verdade.


ClawkStd~r
Julho de 1997
Bcrkdcy, Califómu.

O AMOR É UMA PAIAVRA bastante presente neste livro, uma palavra de que
costumam usar e abusar com a maior fucilidade, e no entanto ... o amor, creio que
muitos concordarão, faz o mundo girar. O que significa ccaramente o amor não csci.
claro, mas com certeza de é muito mais do que a paixão conhecida entre os a.mantes
ou a adoração pelos filhos . .e, o instlnro profundo que nos fu goscar de estar juntos,
cuidar uns dos outros e fazer coisas juntos. Quando permitimos a apressão do amor,
ele nos ajuda a sobreviver e prosperar.
Das muiw coisas que disse neste livro, quero ressalrar uma delas, com minhas
próprias palavras: o Amor é a essência da Educação Emocional. Qualquer forma de
intdigência emocional ao nosso alcance mas dissociada do scncimcnto do amor é
como uma tela que pode retratar uma imagem agradável aos olhos, mas que não é
verdadeira.. Se começar a dar e receber carícias, você irá abrir seu coração e alcançar o
único alicerce duradouro para uma elCistência cmocionalmenre educada.
Muiro provavelmenre você deve estar se perguntando de que maneira a prática
de uns poucos o:erclcios rranncionais podera produzir uma fome cão grandiosa de
energia e poder. Não se trata de uma espécie de alquimia cios números ttansformar o
chumbo psicológico em ouro? Não estou prometendo criar um coração amoroso. O
que cStou garantindo é que essas transações, pratica.das com sinceridade e com uma
pessoa disponívd e receptiva, irão tksencatkar esse poder. Dar e receber carinhos
derrubarão os muros que aprisionam nossos corações. O resto fica a cargo dessa força
irresistível da natureza: o Amor. Talvez alguns não pensem assim. mas o Amor está
pronco para combater o nosso lado obscuro, se assim o permitirmos e se pudermos
183
182
1

l(

NOTAS
AOS FILÓSOFOS

CoM ESTAS NOTAS, esrou seguindo o exemplo de Eric Beme que, em seus IIVTos,
oferecia aos leitores os fundamentos h.isróricos e filosóficos de suas concepções. Estas
noras são o resultado de cntrcvisw com Jude Hall sobre as controvérsias filosóficas
que cercam as questões levancadas neste livro.

O Amor: Um Bem Fundamental

A idéia do amor como um bem fund.amencal, que vem sendo buscado por todos os
seres humanos, constirui uma concepção nitidamente cristã, adotada pda primeira
vez. no Ocidente por Jesus Cristo e, na China, por Mo Di, conccmporânco do
discípulo de Confúcio, Mcncius.
O crfàco mais inffucnce do conceito cristão do amor é Ftiedrich Nieiz.sche, para
quem o amor universal defendido pdos cristãos é falso 1 hipóaica, neurótico e
promotor do niilismo depressivo (por de chamado de niilismo passivo) e da degene-
ração da sociedade e das artes. Nietzsche afirmava que o amor universal e o akruJsmo
a que os crisraos aspiram necessita. de um nivelamento igualidrio que impede a
sociedade de produzir a cx:cdência, atribuindo igualmente os privilégios a rodas as
pessoas, quando na verdade eles deveriam ser concedidos aos mais talentosos. Esses
indivíduos especiais deveriam ter assegurado o poder de que necessitam para alcançar
suas visões. Os ídolos de Niecr.sche eram Napoleão, Júlio César, Augusto César e os

185
'
primeiros imperadores romanos, homens fortes em busca de seu ideal humano, o contra-argumentou que "ninguém rcm o dirdro a uma verdade que fira outrem".
super-homem. Neste livro, embora susccnre que a sinceridade é fundamental par.a a Educação
1
Embora isso possa parecer estranho para o leitor médio, NietzSche (que veio a Emocional, reconheço que o imperativo da verdade~ secundário ao impcracivo da
.! falecer em 1900) é considerado uma das personalidades mais influentes do pensamen- segurança individual. Assim, qualquer wn que aspire à sinceridade integral deve ter
to do século XX. e sua critica d.as ra1zes psicológicas oculras do aJmúsmo é aceita por em mente que a verdade às vezes pode ser prejudicial e precisa ser avaliada de acordo
pensadores tão diversos quamo Max Horkheimcr, Thcodore Adorno e Michel com as circunslincias. Talvcz. iSto pareça abrir a pona para toda sorte de mentiras em
Foucaulr. Cercos aspectos do pensamento nietz.schiano influenciaram. até mesmo o nome da segurança das pessoas. Mas hoje, muito poucas são as siruaçõcs que justificam
pensa.dor igualitário Herbert Marcuse. Assim, por mais que as concepções de Niett- a mentira com base na segurança e, sem dúvida, não há justificaciva para as constantes
schc possam afigurar-se equivocadas para os não-iniciados, das não podem ser desonestidades que são aceitas como se ÍO:s.swl normais. Grande parte das menciras
descartadas. nada tem a ver com a proteção dos indivíduos ou de si próprio de algum dano, e tudo
Estudiosos de -polfrica con rcrn porânea podem ro::onhccer os sinais do ponto de a ver com a manipulação das pessoas cm proveito próprio, via de regra sob pretexto
vista OfCttSchiano nas teorias dos politicos conservadores da atualidade. A c.rença de de proteger o individuo de um sofrimento ªdesnecessário".
que os serviços sociais e os subsídios governamentais para auxiliar os excluídos são Segundo a Ora. Bclla de Paulo, "as mentiras cotidianas são parte do tecido
indesejados constirui uma manifestação ifdta de uma convicção elitista muito mais social", e num escudo sobre pessoas que mentem, ela verificou que um qcinto dos
radical que permeia os corredores do conservadorismo em rodo o mundo. indivíduos mentem cm suas interações sociais e 70% daqudes que mcncem voltariaJll
Paradoxalmente, conquanto as visões deste livro originem-se dos ensinamen cos a mencir; 60% das mentiras compunhàm-se de enganos completos, 10% eram
sobre o amor fraternal de Jesus de Nazart, provavelmente das serio dassificadas como exageros e o rcstamc eram mentiras sueis, fceqüentememe mentiras por omissão.
humanismo secular, an.hema dos cristáos fundamenciliscas. Em seu livro Lying. Sissda Bok, especialista no tema, classifica rodos os tipos de
mentira e scgi:cdos, e reconhece os prcjuJzos que a mentira crônica nos craz. No
encanto, da não chega a rccome[!,dar que as pessoas deixem de mentir, em grande
Mentira e Hoturtidade parte, parece, por medo de que a sinceridade radical possa prestar-se ao mau uso sádico.
Em seu livro Radical Honmy, Brad Blanron, depois de afirmar que "todos nós
A idéia de quea mencira é um mal universal foi registrada em um dos 10 mandamenros
mentimos demais. A mentira nos esgot1, é a fome principal de todas as tensões
uaz.idos do Monte Sinai por Moisés: "Não prestarás falso testemunho". Embora seja
humanas. A mentira acaba com as pessoas", também deixa. de recomendar uma
uma mooma fundamental judeu-cristã, pouco atenroú-se para. qual seria exatamente
polftica radical da verdade (não obstu1te o drulo do livro) porque parte de no~
o significado de obedecer a essa lei. Quando falo sobre a verdade ncsrc livro, estou
mentiras crônicas, segundo o autor, são mentiras que cfuemos a nós mesmos, as quats
apliCU1do os critérios basranre conhecidos que eram seguidos nas cortes, qual seja,
não são táo fáceis de definir nem de interromper. Evito reconhecer minhas próprias
para não mentir, é preciso diz.er "toda a verdade (sem mentiras por omissão), nada
mentiras definindo-as como um ato consciente. Segundo esta definição, rorna•se
mais do que a verdade, somente a verdade (sem mentiras por delegação.)"
Segundo CStl definição, uma mentira é um aro consciente, de modo que o
imposs{vel mentir para si mesmo.
indivíduo não pock mentir sem ter consci~ncia do fato. A verdade é simplesmente a
verdade que o interlocutor conhece. Neste sentido, mentir e dizer a verdade guardam
A Verdade
relação com a verdade subjetiva e apenas vagamente com o conceito absttato e
inatingível de ªverdade" (W!r now sobre a Verdade). Escrevendo sobre a verdade e o amor à verdade, estou imiscuindo-me num amplo
Santo Agostinho foi o grande patrocinador da verdade absoluta. Acreditava de debate füos6fico que mono poliu i ntdigâicias muico maiores e meticulosas do que a
que "Deus proíbe todas as mentiras". A id~ia de que nunca se deve mentir foi l~da minha.
a seu cerremo poUc:ico por Immanucl Kant, para quwi seria um crime moral ocultar A idéia de que a verdade deve ser descoberta com a mente e não aceita pela
de um as.sassino o paradeiro de uma vfcima em porenciaJ. Benjamin Constant religião foi registrada pela primeira v~ no século 4 a.C., resultado de um renovado

186 187 '


i
l
r'
interesse pelas obras do uniVClW físico. S6aaccs e Platão ampliaram sua exploração verdade" a sério e buscar a sinceridade com todo o empenho. Amor à verdade significa,
,,! como se diz que George Sand afumou;que "remos de aet:irar a verdade, ainda que
f até os limices da ética, da escética, da política e da psicologia. (Arist6rclcs ressaltou a
:, ela modifique nosso ponto de visca". Ser sincero é diz.era verdade conforme n6s a
impottincia da investigação empírica, desafiando .seu memc Platão, favorável à
~ especulação e à lógica, com pouco fundamento empírico.} Foram os sofucas gregos, entendemos. Precisamos ser particularmente vigilantes no contexto das rclaçócs
conrcmpoJjhl~s de Platão e adversários intelectuais, que prime.iro sustentaram que a amorosas e coopcraciva.s, onde a memira com freqü~cia parece ntteSSári.a para evitar
emoção e a parcialidade sã.o tão imponanu:s quanto a razão na busca da verdade. prejuízos, mas acaba por trazer muiro mais danos do que aqueles que pretendia obstar.
Platão defendia a verdade absoluta, passfvd de ser descoberta através de um processo
de diáJogo por de chamado de dialético; os so6sas acreditavam que a opinião, ou
"doxa", é a verdade, e que a verdade é ror:almente relativa. Daí a mnhccida máxima
A Vwlência e o Lado Obscuro
de Procágoras, "o homem é a medida de todas as coisas". Em sua maioria, as pessoas bem no fundo de seus corações têm uma necessidade e
A predominância da verdade religiosa voltou com a Idade M&iia, mas no uma vontade reais de vincular-se, abriMe, amar e respeitar os scntimemos alheios.
Iluminismo o debace foi retomado. Os racionalistas repetiam Platão, a.fumando que Um dos primeiros dogmas da Análise Transacional é que todos nascem OK. Prova-
a razão é o melhor guia para a verdade; os cmpirisas, como Arisrótdcs, preferiam velmente essa idéia foi captada por Eric Bcrne do filósofo do século XIX, Jean-Jacques
confiar nos fatos flsicos; os rominticos, inadverridamcnre, fizeram um par.Jdo com Rousseau, para quem as pessoas nascem boas e tornam-se más cm razão das cnfenni-
os sofistas ao asseverar a importância da emoção e do irracional. (Deve-se observar dadcs sociais. O filósofo Herbert Marcusc e, inicialmente, Sigmund Freud chamaram
que, embora os sofistas via de tegra fossem furões dissimulados, os românticos eram essa bondade original de "instinto social inato", Eros, e a energia que o impulsiona,
1
,1 os buscadores sinceros que se rebelaram contra os excessos do racionalismo e da "libido". Originalmenrc, Freud acreditava que nossa capacidade de viver cm harmonia
l industrialização.) e amor provém desse "principio de Eros", enquanto a violência e a exploração
1 Conquanto Nietz.5Che tenha sido o herdeiro da tradição romântica desde seu originam-se do "principio do ego", o lado da natureza hwnana voltado para a
primeiro ídolo, Schopenhauer, representou um dos úlrimos pensadores ruàlantes de autoprcservação, e que, portanto, luta para adquirir ramo pcder {por conseguinte,
que se teve notícia.. Sustentava que a linguagem (e até mesmo o pensamento) é segurança) quanto possível, dispondo-se a ferir as pessoas para alcançar seus objetivos.
fundamentalmente enganosa e que nenhuma sociedade poderá sobreviver sem a Outros, como Francis Fukuy.una, sugeriram que essa convicção rousseauniana
concordância múrua em torno das falsidades: "... ser sincero significa empregar as de que as pessoas são inuinsecamentc boas e roda a negatividade provém de cond içõcs
metiforas usuais. Assim, pan. expressá-las moralmente, deve-se mcn tir de acordo com sociais negativas é uma concepção liberal e ingênua. O próprio Freud, no Anal da
uma convenção ddinida, mentir com o rebanho e de maneira a vincular todas as vida, depois de testemunhar os horrores da II Guerra Mundial, concluiu que, além
pessoas." da libido, prindpio da vida, havia oucra tcndmcia humana inata, um inscimo
Hoje aqudes que conhccan o trabalho dos herdeiros de NiettSche, os filósofos anã-social inato que ele chamou de Thanatos, o inscinco da monc.
estruturalistas e pós-cstrunuafutas como Derrida e Foulcalc, podem escarnecer da Além do lado positivo e cooperativo das pessoas, há um aspecto obscuro da
idéia de que o conceito da verdade tenha algum significado 01.1 possa ser descobeno. natura.a humana que temos de levar em conca. Afora as lições simples deste livro,
A meu ver,não hánadaquepossascrchamado de"a verdade". A verdade muda seremos confrontados por situações dillccis e, como guerreiros emocionais, não
com o tempo. Às vezes há uma série de verdades aparcntememe contraditórias e devemos ser pegos de surpresa se nossos esforços encontrarem uma resistmcia árdua
nenhuma forma de comer os futos ucmcndameme complexos da natura.a num único e c:alvc:z até mesmo maldosa.
conjunto de palavras. Mas creio que cem.s afirmações são mais verdadeiras que outras. A busca de Educação Emocional p~póe que as pessoas nascem com uma
Este livro não pretende deter o monopólio das vecdadc.slmorais universais, mas sim tendência inara para a bondade, a cooperação e o amor; isto é, a ccndencia a o:ercitar
oferecer um paradigma que, em nossa culrura, renha potencial para tornar nossas vidas o poder da ética. Sem csra cendência, eswlamos travando um combace ~n.s~te,
mais felizes e ricas. O que posso afümar com certeza ~ que, se quiser colher os exaustivo e árduo. Mas rodos temos forças interiores profundamente contrárias àéoca,
beneJkios da prática da Educação Emocional, o indivíduo terá de levar o "amor à que não são simplesmente implantadas por uma cultura nefasta, nw; provavdmcnte

188
às veus, uagicunente a virt1.1de nâo apenas é uma recompensa, mas a única recom-
são inacas. Essas. forças envolvem a agressão, a ganância e as manifestações da
pensa. Um guerreiro deve estar preparado para esta passibilida.cle.
sexualidade não-éticas, e provêm de instintos primitivos, inconrroláveis e até mesmo
Um Guerreiro Emocional está consciente do lado negro, canco o lado negro da
vitais e valiosos.
narureza humana (ganância e agressividade inacas) como da condição humana
Os filósofos morais do Iluminismo costumavam definir o mal como um erro.
(tragédia), e esforça-se por praticar O venei:ávd padcr da ética, mesmo quando urna
Segundo c:ste livro, o erro equivale à ignorância emocional ou à ausência de um interesse
ou ambas as facetaS gêmeas do lado negro ameaçam destruir rodo.
pessoal csda.m:::ido, que tomaria claro o quanto nossos maus atos acabam por nos magoar,
deixando-nos isolados. Mas a raiz do mal não pode ser apenas o erro, mas sim o resultado
de impulsos de sobrevivência profundos, iratintivos e inconcrolados.
Para ser um Guerreiro Emocional eficiente, você deve ser capaz de admitir sua Violência eAgressão
própria agres.sividad7, egoísmo e cobiça, seu próprio fmpeto inato de sobreviver a
A relação entre agressão na iníincia e comportamento violenro adulto, mediada pelo
qualquer cusro. Deve igualmente aceitar e tomar consciência desses impulsos no
outro. Um Guerreiro Emocional sabe que tados temos instintos cgolstas e agressivos, entorpecimento emocional, jã é bem conhecida. _
e lidar com esses instintos de maneira ética consiste numa das mecas principais da O relacionamento não é perfeito. Existem ccnos dererminantcs neurol?g1cos
sabedoria emocional. da. acirude violenta que estão intimamente associados ao uauma ccrc~~- Isto é, Jovens
que recebem pancadas na cabeça, sejam elas acidentais ou propos1ta1s, apresentam
Fiador Dostoi~ki reconheceu esse egoísmo irredudvel da natureza humana
uma cerra falra de capacidade inibirória, o que pade resultar cm compartamemo
quando escreveu:
violento incontrolávd. Por outro lado, abusos infantis cambém estiio diretamente
"Amar ao próximo como a si mesmo, como raa o mandamento do Cristo, é vinculados ao comporcamemo adulto violenro. Na verdade, esse tipo de agressã~ esrá
imposslvd. Só Cristo foi capaz disto, mas Cristo é um conceito eterno pdo qual o mais indmamenre relacionad.o com a violência adulta e não com danos cerebr:us. O
homem náo deixa de Jurar ... "
que reforça a necessidade urgem~ de pôr fim à violência dom6cica..
A combinação mais perigosa dos dererminames da violência se dá entre a
Existe um lado negro não apenas na natureza humana, mas também na condição
agressao e a lesão ncurol6giC3, _ _ .
humana. Todos os seres humanos convivem diariamente com o possibilidade da
Analisando-se 95 rapaics durante um perlodo passado na prisão, a gi.ma de
perda, da tragédia e até mesmo do desastre.
avaliação do comportamento violento, obrivcram-se resultados surpreendentes:
Na sociedade moderna, nós nos protegemos de toda sone de tragédias por meio
da tecnologia.. Contudo, cuva estejamos abrindo caminho para uma tragédia coletiva tempo O
Nenhum dctcrmin.uuc ncu.rol6gico, nenhuma agressio
muito maior - uma ca.clstrofe mundial, pois essa mesma tecnologia, se lhe for dado 360 dias na prisão
Dcmfu.inantcs neurológicos, nenhuma agr~o
livre curso, poderá denruir a biosfera. 562 dias na prisão
Nenhum determinante neurológico, agrcssao
l.214 dias na prisão
A consciência da rragédia é fundamental para a busca da Educação Emocional, Dctcrminanccs neurológicos e agrcss:io
especialmente para o Guerreiro Emocional. Alguns sobreviventes da uagédia sentem
O comprometimem:o cerebral em crianças quase invariavdmence provém de
não ter mais forças para se preocupar com os direitos e as necessidades alheias. Podem
abandono ou maus-tratos. A violência infantil, sobrccudo com gol~ na cabeça, é um
incorrer numa atitude niilista do tipo "depois de tudo o que passei, eu mereço ser
grave determinance do comparramento adulto violemo. E o trauma do abandono e
feliz., custe o que cusrar", ou "eu já rofri; por que outros: não poderiam sofrer
dos maus-tratos ocasiona O tipo de entorpecimento emocional que coma alguém ~paz
tambémt. Um Guerreiro Emocional deve entender que essa temação de sucumbir
de agredir ou abandonar uma criança. faz-se premen_te alguma_ interven~o e nema-
ao lado negro de nossa natureza. é uma reação à tragédia, e deve ser capaz de resistir à
mento em Educação Emocional. Ensinando a empaaa, esse cremamento mretrompc
rentaçío. Cumpre-lhe perceber que calvez não seja recompensado materialmente por
0 circulo vicioso de abandono e maus-rratos.
seus esforços, ulva tenha até mesmo de suportar a tragédia, não obstante o seu valor;

190
O Pai Critico
Os pensadores criteriosos questionarão o conceito de Pai Cr!cico. AJguns poderão
argwnent.ac que é demasiadamente semelhante ao homum:ulus, uma pessoinha dentro
da nossa cabeça. O Pai Cdcico constitui apenas uma maneira de tornar acessível um
método para ddlagra.r - recirando energia psfquica - um conjunto de idéias GLOSSÁRIO
depre:iacivas, preconceituosas, fragilizantes: e repcticivas. Esses pensamentos auto-
agressivos não se baseiam nos fatos do d.ia-a-dia, mas constituem resquícios de nossa
inS.ncia, os quais nos perturbam, desmotivam e desmoralizam. O fato de que cenas
pessoas os ouvem como "vozes na ca.bcçan depreciativas, insultamcs ou condenarórias
(aquilo que eonhc:ccmos como Pai Crítico) torna o processo mais fácil. Isto porque
vod: pode fu1ar com das, discordar delas e expulsá-las, enquanto é mais dilk.il reagir
e resistir a uma imagem ou sentimento amozfo de inadequação.
Mais uma vez o valor desses conceitos está cm poder nos ajudar a entender
melhor o comportamento social hwnano. São uma maneira valiosa de representar os Adulto: estado de ego racional.
seres humanos cm suas interações sociais. Quando os analistl.S transacionais desenham Algoz: individuo irado e ressentido que descarrega seus sentimentos nas outras
duas pessoas com seus três estados de ego no quadro negro, sabemos que não são pessoas.
representações verdadeiras dessas pessoas, assim como um mapa não é wna rcprc· Amor. e.moção primordial que estimula as pessoas a jogarem, reunirem-se e rraba·
sentaÇão real de uma cidade. Contudo, são tifo úteis quanto wn mapa para o lharc:m juns:as. Sentimento agradável de cooperação.
entendimento da situação humana - o que explica o grande valor dessas repre- Amoi- à vc,dadc:: anseio fundamem:almenre humano de compreender a realidade.
sentações. Exige: a dispasiç.ão de abandonar as próprias convicções diante de informações
contradirória.s.
Anállie Traosaàonal: sisrema de psicologia e psicoterapia que anali~ as inreraçócs
com a finalidade de entender as pessoas.

. Bcme, Eric pai da Análise Transacional .

l Carícia: aro de rcconhecimenco social. Ver cunbém caricia positiva.


Caricia Negativa: carinho realizado com um sentimento abominávd. Um carinho
que fumai.
Caricia Positiva: carinho reafuado com um sentimento de amor. Um carinho que
1I f.rz. bem.
Carisma: soma tocal do poder pessoal de um indivíduo.
i-·r
Centro do carinho: ocerdcio para eliminar a Economia do Carinho.
\:
Coosci~ncia emocional: percepção dos sentimentos em oposição à inteligência
~
emocional, wcfa muito mais complicada.
Criança: csci.do de ego criativo, consciente, espontâneo, pessoal. Lugar de nossas
cmoçócs.

193 '
192
Economia do carinho: sistema de proibíção de caricias que restringe gravemence a Paran6ide, Fanwia.: aquilo que aconrecc à percepção paran6ide quando é rejeitada
disponibilidade de carinho, promovendo a fome de carinho. e desqualificada. Em geral, idéias de per3Cguição quando não sabemos o ·que
Educação emocional: aptidão que envolve o entendimenco das emoções pr6prias e esrá se passando.
alheias, e de como nossas emoções melhor se expressam para o desenvolvimenro Psicopata: termo antiquado para uma persoanJidade anti-social. Indivíduo des-
máximo do poder pessoal e ético. provido de empatia e incap:iz. de sentir emoção.
EmofÕCS: estados flsicos de origem bioqufmicaque influenciam nosso comportamen~
Reforço existencial: sensação benéfica que os indivíduos obtêm da prática do jogo,
(0.
pois o reforço negativo confirma uma posição existencial que é parte de um
Empata: individuo profundamenre consciente de suas emoções e das emoções do
script, via de regra desde a infância.
ouuo. O empata desprovido de Educação Emocional pode sofrer muito com
sua percepção aguçada.· Salvador (maiúsrula): aquele que fuz. o que não quer para as outras pessoas ou que
Empatia: capacidade intuitiva de entender as emoções. faz mais que do que o seu quinhão em determinada situação. O opcsto do
Entorpecimento emocional: supressão completa da. pc_rcepçã.o das emoções, ocasio~ salvador (minúscula), que ajuda pessoas necessitadas.
nada cm geral por trauma grave. Script:. plano de vida decidido na renra infància como uma maneira de suportar nossas
Estado do ego: uma das rrês maneiras distinw e coerences como as pessoas se condições de vida na ocasião.
comportam: Pai, Adulto ou Criança. Sentimento: o mesmo que emoção.
Simpatia; aspecto mental da empatia. Disp<>sição generosa para entender as emoções
Guerreiro emoàonal: aquele que luta contra a dominaçáo do patriarcado, visando
alhdas sem o acompanhamàlto da pr6pria emoção.
subscicu.J•la pela Educação Emocional, cm sua vida pessoal e na sociedade. Sinceridade: di'ZCI aquilo que se considera verdade.
lntd.igência emocional basicamente igual à Educaçáo Emocional. Surdez emocional: incapacidade de sentir decerminadas emoções. Similar ao dalto~
Intuição: aptidão humana com a qual podemos sentir a realidade sem pn:cisar nismo.
analisá-la. Transação: intercâmbio social de informações ou carinhos.
Janela de oportunidade: perfodo mais favocivel, no começo da vida, para aprender Verdade: conceito indefinfvcl. A verdade não existe, mas é posslvel fazer uma
determinada aptidão. aproximação. Verdade é crença, e nós nos aproximamos da verdade quando
Jogo: uma série de rransaçõcs que malogra na aquisição de carícias positivas, produzín- nossas crenças reflerem as realidades do mundo. A melhor abordagem para a
do, ao contrário, cadeias negariv.u. verdade é o conremo de um grande número de indivíduos livres pensantes.
Vítima (maiúscula): aquele que nao ajuda a si mesmo. Ao contrário da vitima
Mentira: há dois tipos de mentiras. Por delegação; dizer algo que sabemos ser fà.lso.
(minúscula), que está passando por um mau momento.
Por omissáo: deixar de dizer algo que achamos que outra pessoa gostaria de
saber.

Pai: estado de ego tradicional que pré-julga.


Pai cdtico: csrado de ego parental de pré-julgamento negaávo. Freqiiencemente
ouvido como uma voz. que nos diz que não estamos OK; que somos maus,
idiotas, feios, loucos, insanos ou malfadados.
Pai nutriente: estado de ego parental de pré·juJgamento posiávo.
Paranóia: do grego, significa "conhecimento ao lado". Percepção inru.iriva válida que,
contudo, não está imeiramcnre correta.

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1962) Morou na Espanha e no México anres de estabelecer-se nos EUA,
onde estudou engenharia e füic:a. Durante um cerro período ganhou
Salovcy, Pctcr, e Mayer, John, D. "Emocional lntelligence". lmagiruztion Cognition
a vida como mecânico de automóveis, até, finalmente, tornar-se
and P(TSonah"ry. 1989-90, v. 9, n. 3, p.185.
psicólogo clinico da Universidade de Michigan. Foi discípulo e,
Stewart, jan e Joines. Traruo.aionalAnalysis Today. (Lifespace, Reino Unido, 1989) mais carde, colega, amigo e colabora.dor de Eric Berne, psiquiatra e
Srei.ner, Claude. W1un A Man Love1 A Woman; So:ual and Emotionttl Líteracy For aucor de Games Peopk Pla.y. Junra..menre oom Beme, Sreiner foi
Mm. (Grove Press, 1978) membro fundador da Associação de Análise T rans:acional. Após a
- - - - TAM;:ukSimpl.e. (RAPccss, 1971) mone de Berne, em 1971, Sreiner passou a dedicar-se à teoria e
- - - - Healing Akoholism. (Grove Press, 1979) prática da Psiquiauia Radical e seu corolário, a Educação Emocio-
- - - - T1u Wttrm Fuzzy Tak. Qalmar Pres:s, I 9n) nal, rema esre por de aprofundado em livro~ e periódicos.
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----11u-Othc-Su:kofPower. (GrovePrcss, 1981) América Central, onde estudou propaganda. Enue 1987 e 1990, foi
- - - - - ºTransaccionaJ Analysis and Emocional Literacy T raining". Tr11.macrio- editor sênior da revista trimestral Propaganda Rnúw. Retomou a
na A11agsi Jounutl jan. de 1996. prática da psicologia com ênfase na Educação Emocional e os
efeitos, bons e maus, da tecnologia sobre o espírito do homem.Tem
T agney, J .P. e Kun W. Fisher (cds.). Self Consrious Emofions: The Psycholngy ofShnme, rrês filhos adultos e dois netos, mora e trabalha em Berkeley e cm
Guíft and Pride. (Guilford, 199S) sua fazenda em Mendocino, CaJif6mia. Ainda consena ele mesmo
Toch, Hans e Kennerh Adams. The Violem Offináer. (American Psydiological os seus carros e cuida do moror. Denrre seus livros, incluem-se:
Associacion, 1987) Gamei Afchoofics Pliy, Scripts Peopk Live, Healing Alcoholism, The
Other Sitk ofPowere W1Jm a Man Lotm a Woman.
Van der Kohl, Bassel, A., Alexander C. McFarlane, e L:ars \Veesaeth (eds.). Traumatic
Stress. (Guilford, I 996)
e-mail: emlit@igc.apc.org
Homepage: www.igc.apc.org/em lit

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