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Palcologin (1989) VIL, 3: 275-284 Escala de autoconceito: adaptacao portu- guesa do «Piers-Harris Children’s Self- -Concept Scale» FELICIANO H. VEIGA * A importincia do autoconceito tem vindo a ser progressivamente salientada no campo da Psicologia da Educagiio (Veiga, 1988, 1989), da Psicologia ‘Social (Gecas, 1982; Neto, 1986) ou da Psicologia Clinica (Kohout, 1988; Serra, 1986). Embora se trate de um constructo frequentemente confundido com outros, ¢ nem sempre devidamente estudado (Wylie, 1979), tém-se verificado importantes progressos nos Uiltimos anos, quer ao nivel da sua conceptualizagio, quer na sua avaliago, © presente estudo descreve a adaptagio para a Populagdio portuguesa de um dos instrumentos de avaliagio do autoconceito mais utilizados na inves- tigagSo, © «Piers-Harris Children’s Self-Concept Scales (PHCSCS) de Piers (1969, 1988). Dada a falta de instrumentos de autoconceito adaptados & populagio portuguesa c adequados aos objectivos de ‘uma investigagio mais vasta a realizar pelo autor — tese de doutoramento sobre o autoconceito ¢ a dis- rupgio escolar dos alunos adolescentes (a finalizar em breve) —, procedeu-se 2 adaptagiio portuguesa do PHCSCS. ‘Apresenta-se a metodologia seguida para a adap- mento utilizado. Por dltimo, apresentam-se os resul- * Departamento de Educagéo, Faculdade de Ciéncias da Universidade de Lisboa. Rua Emesto Vasconcelos, Edif. C1, 1700 Lisboa. Agradece-se © apoio ¢ as sugesttes dadas pelo Prof. Deutor Leandro Almdeida (Univ. 4o. Minko), na finali- _a¢40 do trabalho apresentado, tados obtidos no estudo das qualidades psicométricas do referido instrumento, relativas a fidelidade, a vali- dade de constructo e & validade externa. METODOLOGIA ‘Apés revisio da literatura sobre os instrumentos de medida do autoconceito que conduriv & escotha do PHCSCS, seguiu-se todo um process de recotha de dados com vista A testagem das hipsteses relativas as qualidades psicométricas desta escala. Sujeitos A populagdo é formada pelos alunos adolescen- tes, de ambos 08 sexos, do curso secundirio unificado oficial e diumo, de Lisboa e de Viseu. A amostra foi constituida por 915 sujeitos entre 0 7." ¢ 0 9.° ano de escolaridade. Mais propriamente, escolheram-se as referidas localidades, adoptando uma metodologia de amostragem nio probabilistica casual, A constituigdo dda amostra baseou-se ainda no método de amosiragem Probaiitico por agrupamentos: em cada localidade trés escolas e, dentro destas, pro- Cisse us ott ts tiie: das on Sah ‘escolar ¢ nos diferentes estabelecimentos de ensino, num total de 36 turmas. 275 Instrumento O PHCSCS € um dos instrumentos de medida do autoconceito mais utilizados na literatura psicolégica sobre este constructo, Criado ¢ desenvolvido pelo psicol6gico americano Piers (1969, 1988), 0 PHCSCS presenta na sua versio original seis factores: aspecto comportamental (AC), estatuto intelectual ¢ escolar (ED, aparéncia e atributos fisicos (AF), ansiedade (AN), popularidade (PO), satisfagdo e felicidade (SF). Trata-se de uma escala de tipo Thurstone (itens dicotémicos). Conforme 0 enunciado do item seja ou ‘no aplicavel a0 sujeito, este deve assinalar «sim» ou «niio». A cada resposta na direcgo do autoconceito positivo, dé-se um ponto. Procedimento ‘Ap6s autorizagaio superior do Ministério da Educagio, 0 PHCSCS foi administrado colectiva- mente, por dois psicélogos. Na aplicagao procurou- -se controlar varidveis julgadas pertinentes para 0 estudo em questo, mais propriamente: — 08 efeitos do sexo do experimentad foi passada por um psicdlogo e por uma psicsloga; — a motivacio: foi indicado que todos aqueles que nfo desejassem colaborar se podiam retirar. Leu- -se uma nota, logo no comeco, apresentando 0 objec- tivo da investigacao informando os alunos de que se garantia total confidencialidade nos resultados indi- viduais e de que era permitido 0 uso de pseudénimos. ‘Atendeu-se ainda hora do dia, ou seja, 0 nimero de turmas que respondeu durante a manha foi sensivel- mente igual ao que respondeu de tarde. As instrugdes foram as mesmas em todas as escolas em que a ¢s- cala foi aplicada. RESULTADOS Os dados foram introduzidos em computador e analisados com o programa SPSS-X (versio 1988). Estudou-se o poder discriminativo dos itens, a fideli- dade ¢ a validade dos resultados da escala. Dada a sua extengdo, ¢ porque os mesmos aparecem minima- ‘mente contemplados nos coeficientes de consisténcia 276 interna e na validade de constructo, optou-se por nao apresentar aqui os elementos referentes & andlise do poder discriminativo dos itens. Fidelidade dos resultados Os coeficientes de consisténcia intema K.R.20 foram determinados com o procedimento «Reability> do SPSS-X e apresentam-se satisfat6rios quer para a escala global quer para as sub-escalas (Quadro 1). No factor geral (PTOT), ¢ para qualquer dos QUADRO I Coeficientes de consisténcia interna da escala e dos sub-factores na amostra global e por grupos de pertenca Gnuro_| ac | AN | et | PO | a | s¥ [Pron] Amos. tot en=o1s) | 78 | 76 | 15 | 73 | 75 | 77 | 88 Masculino 16 | 1 | 67 | 64 | 95) 76 | 87 (N=492) | 73. | 75 | 70 | 67 | 74 | 25) 88 Litoral e=aes) | 75 | 74 | 65 | 64 | m1 | 74 | 87 Interior 3 | 17 | 2 | 76 | 76 | 76 | 28 33| 24 | 66 | 0 | m) m | 96 x3 || 20 | |) | 27 as | 15) .m| 665 | 78 | 92] 99 36 | 73 | 70 | 67 | 75| 74 | 87 exeasn) | 70 | 76 | 9 | 7 | 24 | 77 | 7 grupos em estudo, os coeficientes K.R.20 séo sempre muito altos (>.85). Relativamente a amostra geral, os coeficientes tendem a ser inferiores, principalmente no factor popularidade, o que é de esperar, na medida em que se trata de grupos menos heterogéneos. Por outro lado, atendendo ao menor ntimero de itens nos factores popularidade (PO), aparéncia fisica (AF) e satisfagdo-felicidade SF), ¢ a que se trata de uma escala de tipo Thurstone (itens dicotémicos), tais QUADRO IL Estrutura Factorial da escala PHCSCS (N=915) Sate res rrexs Say PACTOR I (63, | Sou um chefe nas brincadcras © no desporto 389 33 | Or meas amigos gota dat mins ine 50 Aspecto comportamental (AC) 15. | Sou forte = 367 ‘Explica 12.59 da varincia total (cigen-value» = 7.2) ‘5. | Sou uma pessoa esperta 3st 6S. Nas inches « cepa ober em vee de pair | 339 27.) rage mine ce ai * 21,| Fag bom os meus rao ecole au Fe cera comitc’ 42, | Naescola ofereo-me vias vezes com vols) — | 312 31, | Neca estou dsatas pemar nous esa * 36, Teno soe 26 35, | So obedience 14 | Cho problemas mina fata * 56, | Mtoe em muss risa * FACTOR IV 25.|Porweme mal em casa * Popularidade (PO) 21. | Fogo em on evs tation excolres 59,| A mia faa ext desapntadscomigo* pin 23% da vs tl igen-aten= 19) 45, Odeo aescola* (6 Exquro 0 ge apendo* 51, |Teabo mato smigor ra 53, | So espa rele a mits coisas * 3: | Teno dfcalades em fz amizades* ‘9 7a | eno em cnn ms ™ 71 | Gono mais de tbr sri) do qu em aropo* | 496 4, | Maite ves so atipicol) com a xs pesos * 61.| Davin bem om ot etn “as Sf. As pesto pees comin * 46. Soa dost) imesa) a ser exci) pra jorse® | 408 72 | Teno um bo ptcia an 46, | Site paso de pare * 302 FACTOR II 1, Os meus coless de was wogam de min * 318 11 | oe impopatae® 38 ‘Ansiedade (AN) (6. | Nas brincaderas e desportos, observo em vez de paricipar* | 311 xpi 51% dvi ol igen vale 28, |sov meron) * | FACTOR V 74, | Teno med mats ves * | Aparéncia fica (AP) 79, | hor faciiente* 7.| Feo nervosa) qundooprofesir me fax prgots* Enpia 2.0% da vs ttl igenaien = 1.7 31. | Preceepowe to ® | 68 ite com facile * 54,| Soa boi) os 10, | Fen prescupdo() guna tenho tts na esla* 41, Teno oeabeo bonito «61 4 sto rite ua vezes 2, Tea ako orton ‘su 61. | Quando tenor gua css, parce qu tad come mal*| 19 | Teno uma cara ara 50 6 | Sow uma peso nia * 73, | Tea uma on aprecin ast 78, | Peso er coisas mis * | A minha apartaca fica desagrademe* 0 26,| So et) 2 eins osabalosecoaes* | | FACTOR VI FACTOR IT | Satisfasdo-feicidade (SF) staat intelectual e escolar (El) Enpica 285 da vii tl cigensaon= 1.6 xpi 45% da variinia al (cgen- vale = 26) 50.) Soaintiz® 48, Os mew cles aco acham qe tno fos ikias 2.| Soom pone fs ‘ 30,| So cpus de dar ua bos impressio pean ua 42, | Contra de er eifrente dogo gue sou * 4 9, | Quando for maioe, vou ser uma pesto importante '52.| Soa alegre | 42s 55. Teno mit eeria 39,| Gono de er como soe * | 27.| Sou um membro importante da minha turma 40, | Sinto-me posto de pare * | a4 16 | Tento tows iin 4) stow rie masts vse * [= + 0 asters inno ten inveros om eos cts, 277 coeficientes podem considerar-se aceitéveis. Em todas as situagdes, os coeficientes sao superiores a .60 e, portant, tidos como adequados, Utilizou-se ainda 0 método teste-reteste para 0 estudo da estabilidade temporal dos resultados na pontuagao total do PHCSCS (factor geral). Com um més de intervalo, 184 sujeitos (20.12% da amos- tra), pertencentes a turmas aleatoriamente seleccio- nadas, responderam pela segunda vez aos itens da escala. Mediante a determinacao do coeficiente de correlagao de Pearson entre os resultados das duas aplicagdes, obteve-se um valor de r= .792 no factor geral do PHCSCS, que € altamente significativo (p<.001). Relativamente a outros estudos em que foi deter- minada a fidelidade (Franklin er al., 1981; Smith & Rogers, 1978), os indices encontrados na nossa ‘amostra so muito semethantes, nalguns casos mesmo superiores, aos apontados por esses estudos, jé ante- riormente considerados, Validade de constructo No estudo da validade de constructo (validade interna), utilizou-se 0 procedimento «PA 1» do SPSS- -X, tomando a amostra total, e com prévia indicagdo de seis factores para extracgdo, uma vez que Piers (1968, 1988) apresenta seis factores. A estrutura fac- torial do questionério encontrada é consistente com a da versdo original (Quadro II). No Quadro III observam-se as correlagdes entre cada sub-escala e 0 factor geral, todas positivas € altamente significativas (p<.001). QUADRO IIT Correlacdo de cada factor especifico com o factor geral (N=915) ac | AN | Bt | PO | AF | SF prot | .637* | 727* | 731+ | .667* | .s69* | 731° * pcoor Embora Piers (1969, 1988)) nao tenha analisado as intercorrelagdes dos resultados nos seis factores, decidiu-se aprofundar o estudo da validade de cons- tructo, procedendo a esse tipo de andllise no conjunto da amostra. O procedimento utilizado foi o «Factor — PAI» do programa SOSS-X (1988), com a definicao 278 prévia de seis factores. As saturacdes factoriais, bem como a percentagem de varidincia explicada por cada factor € o respectivo eigen-value sdo indicadas no Quadro IV. QUADRO IV Andlise factorial das intercorrelacoes dos resultados nas dimensoes do PHCSCS tomando a amostra global Dimensio| FI | Fu | Fur | Fv | FV | FV ac | 573] sis| 626) .082| .021| 035 AN | 672 | .447|~435|-086| 203] 331 Bt | 710 | -191|~.131| 655) .028 | -.099 po | .744 |-.285| .033|-.138|-.s40) 225 AF | 623 |~.s77| 212|-.210| 424) 087 sr | .788 | .140| —.165 | -.280 | - 039 | ~.s00 ig. value| 2852| 941] 674] 586] 517 | 430 1% de vat. | 47.500 | 15.700 | 11.200 | 9.800 | 8.600 | 7.200 Os valores obtidos apresentam-se consistentes com os postulados subjacentes aos instrumentos de autoconceito, isto €, além da existéncia de um factor geral, surgem vérios factores que contribuem para a diferenciagao dos resultados na realizagio da auto- -avaliago. Verifica-se, por um lado, a importancia decisiva de um factor geral, que se devers associar & «strutura avaliada em todos 0s factore ceito —e, por outro, ressalta 0 contributo dos diver- s0s contetidos para as diferengas encontradas em cada uma das dimensdes da escala. Mais concretamente, enquanto o factor I esta ligado & estrutura comum as varias dimensdes do autoconceito, o factor II parece opor 0 aspecto com- portamental (AC) a ansiedade (AN) aparéncia fisica (AF) e popularidade (PO). O factor IIl liga-se mais ao aspecto comportamental (AC) e & aparéncia fisica versus ansiedade (AN) e satisfagdo-felicidade (SF). 0 factor IV opde o estatuto intelectual (EI) & satisfacdo-felicidade (SF) e aparéncia fisica (AF). Enquanto o factor V se prende com a popularidade «versus» aparéncia fisica (AF) ¢ ansiedade (AN), 0 factor VI ope a ansiedade (AN) a popularidade (PO) a satisfagio-felicidade (SF). Os factores Ve VI siio os de mais dificil interpretagao por se tratar dos Liltimos a serem analisados (efeitos residuais) e porque se apresentam como os menos importantes do con- {junto dos factores. Assim, a relativa proximidade dos valores da percentagem de varidncia e do eigen-value — 0 autocon- nos factores II a VI reflecte que, para além do factor geral, os contetidos das seis dimensdes do PHCSCS assumem alguma especificidade, até por- ‘que no surgem agrupados em factores de «grande grupo. Embora a ordem dos factores seja diferente da apresentada no manual do PHCSCS (Piers, 1969, 1988), aestrutura factorial da versdo portuguesa € algo semelhante. A proximidade entre as duas versdes observa-se ainda quanto a interpretagdo dos diferen- tes factores, cujo contetido, na nossa versio, passamos a interpretar. Factor I - Aspecto comportamental (AC) O conteiido dos 15 itens deste factor, a que por vezes nos referiremos por AC, fazem referéncia & percepeao que o sujeito tem do seu tipo de compor- tamento em situagdes varias e da responsabilidade pelas suas acgdes, designadamente em casa e na escola, Factor II - Ansiedade (AN) Este factor refere-se & inseguranga, as. preo- cupages, aos medos ¢ inquietagdes com que a pes- soa se encara a si prOpria e as situagdes; tem a ver com emogdes e expectativas negativas. Inclui 12 itens. Factor III - Estatuto intelectual e escolar (El) O padrio de respostas dadas neste factor, com 14 itens, sugere a forma como a pessoa se vé a si pré relativamente ao rendimento obtido nas tarefas inte- lectuais; tem a ver com a admiracdo que pensa que Ihe € dispensada na turma, devido as suas ideias e capacidade de aprendizagem. Factor IV - Popularidade (PO) Refere-se maneira como o sujeito se percebe nas relagdes com os colegas, 3 facilidade em fazer ami- 0s, a0 grau de popularidade ¢ ao modo como se sente incluido € desejado nos desportos ¢ noutras ac- tividades de grupo. Tem 10 itens. Factor V -Aparéncia e atributos fisicos (AF) Este factor pretende avaliar 0 que a pessoa pen- sa acerca da sua aparéncia fisica. Uma pontuagio alta neste factor indica que a pessoa gosta do corpo que tem, tal como referido nos seis itens que o compoem. Factor VI —Satisfacdo-felicidade (SF) O significado deste factor sugere a satisfagio que © sujeito sente por ser como é, tem a ver com o seu nivel de felicidade geral. Tem apenas sete itens. Registe-se que aos scores mais elevados corres- pondem, em todos os factores (incluindo o factor «ansiedade»), niveis superiores de autoconceito; quanto maior é a pontuago no factor ansiedade menor éaansiedade. De observar que a ansiedade — que & um dos pontos mais criticados na validagao do cons- tructo auto-estima, uma vez que esta pode apresen- tar correlagdes «demasiado» altas com 0 constructo ansiedade — aparece como segundo factor, e que 0 aspecto fisico, que € assinalado como um factor importante no autoconceito, especialmente no comego da adolescéncia, obtém o quinto lugar na amostra total considerada. s resultados obtidos apresentam-se algo seme- Ihantes aos encontrados noutros estudos sobre a vali- dade do PHCSCS (Michael et al., 1975; Piers, 1988; Platten & Williams, 1981; Rich er al., 1979; Wolf et al., 1982). Validade externa No estudo da validade procedeu-se & andlise das intercorrelagées das pontuagdes nos factores do PHCSCS e anota global obtida pelos alunos no final do ano lectivo transacto nas disciplinas seguintes: Matematica, Portugués, Histéria e Educagao Visual (7.2 ano) e Matemtica, Portugués, Hist6ria e Fisico- Quimica (8.°e 9.° anos). A escolha destas disciplinas tem a ver com o facto de serem as que habitualmente silo tidas como as mais directamente associadas com © sucesso global dos alunos (Almeida & Campos, 1986; Almeida, 1988; Fontaine, 1986). Assim, no Quadro V sio apresentados os coefi- cientes de correla¢ao encontrados, bem como o seu nivel de significdncia estatistica 279 QUADRO V Coeficientes de correlacdo entre os resultados no PHCSCS € a média das notas para 0 7, 82 € 9. anos 8" ano 9. ano Prova (s=302) | av =305) ac 24e 17 AN 21+ 294 EL ae ore PO, 02 ns 03 ns AF O1 ns 08 ns SF n+ am Pror. a4 28M * peal a= nfo significative Os coeficientes obtidos, embora nao sendo muito clevados, apresentam-se estatisticamente significati- vos, na generalidade, Os maiores coeficientes situam- -se no factor AC (aspecto comportamental), no EI (estatuto intelectual) e no factor geral (PTOT); os mais baixos aparecem no factor «aparéncia fisica» (AF) ¢ no «satisfagdo-felicidade> (SF). Em qualquer um dos anos de escolaridade, os coeficientes exprimem uma relagdo positiva e significativa entre o rendimento escolar € a pontuacao nas diferentes dimensdes do PHCSCS, se exceptuarmos o factor «aparéncia fisica» (AF), sempre com valores nio significativos, e 0 factor «popularidade» (PO), com um r significativo apenas no grupo de alunos do 7.° ano. Estes dois factores apresentam pois menor afinidade com as notas escolares. ‘A validade externa foi ainda estudada tomando © niimero de reprovagdes tidas pelos sujeitos. For- maram-se trés grupos de alunos (A ~sem reprovagbes; B- com uma reprovagio; C — com duas ou mais re- provagdes) e procedeu-se a uma anélise de varidncia dos resultados totais no PHCSCS. Utilizou-se, para tal, 0 procedimento «Oneway», com especificagiio dos contrastes. Tendo em conta que © niimero de re- rovagdes aumenta com 0 avangar na escolaridade (Almeida, 1988), decidiu-se considerar em separado 08 diferentes anos de escolaridade. ‘A hipétese colocada foi a de que existem dife- rengas significativas no PHCSCS entre grupos de alunos com mimero de reprovagées diferente, em que os de maior taxa de reprovacbes (tidas desde escola priméria até ao ano escolar em que se en- contram) apresentam niveis inferiores de autocon- ceito. Assim, a média ¢ 0 desvio-padrao dos resultados € apresentada no Quadro VI; no Quadro VI, encon- tram-se os resultados das anélises de variancia reali- zadas. QUADRO VI Média ¢ desvio-padrdo dos resultados no PHCSCS por anos de escolaridade em funcdo das reprovacdes anteriores ac aN eI vo ar Prot x = uw | pe | w | oe |» | pe | ow uw | oe | mw | op | w | pp —— g]aiss| 1269 | 222 | 635 | 304 | 921 | 248 | sar | 164 | 455 | 169 | sor | 134 | 4235 | 7.72 &)p i} iss) 3.1 | 643 | 259 | 907 | 271 | 800 | 183 | 476 | 154 | 556 | 162 | 4074 | 849 Se 50] 1230) 192 | 648 | 295 | 906 | 253 | 862 | 129 | 498 | 143 | sea | 153 | 42.72 | 606 g} aise] 1218 | 260 | 695 | 269 | 920 | 264 | so | 180 | 471 | as7 | oar | 13s | 4228) 756 =] B 92] 12s | 252 | 586 | 296 | 942 | 279 | sis | 199 | 494 | 13s | so¢ | 140 | aust | 784 %]e 42} 1126 | 263 | 542°] 336 | 828 | 249 | sa | 190 | suo | 169 | sao | 16s | sao) sa7 2] A6s| 1223 | 265 | ss | 291 | 936 | 278 | 190 | 191 | 449 | 178 | ssi | 179 | 4162 | 012 =) a r/ uae | 270 | 621 | 266 | 86s | 250 | 224 | 177 | 461 | 138 | so | 1.64 | 4034 | 690 S}e sa} a0 | 295 | 5:77 | 273 | 913 | 307 | 60 | 152 | 462 | 166 | sar | 199 | 4022 872 280 QUADRO VII Andlise de varidncia dos resultados no PHCSCS, segundo a taxa de reprovagdes em cada ano escolar ro Put evra ee) mae Te Conraee he meee 2 vam | 5999 | wae Acc sae 28 sos | | Bee aw Ene gros 2 2861 30) ant imap | 288 sim | a Ene gros 2 i ny | aepec ° Tnra-rupos | ass 667 ss * Po | Enter-grupos: 2 7.100, 2.550 A=B A=C . ina rpoe 2% 2783 m | meee wl ap Ene rps 2 asi | 1460 | Ansa i erpor 28 2aes = or Ene gos 2 sar | ae | inearupos 28 2489 He Ener gpos 2 | ror | tas | zane Fror ins por 2 0.784 i‘ he Ee grapes 2 vase | aan | asp ace ine open 285 rn aw enevsmpoe | sso | ze | aoe ace Intra-grupos 2s | 8.334 BEC ol om te grupos 2 wae | ans | ap we : ine popoe oss nat me | mee . PO ‘Enter-grupos: 2 189 053. ‘A=B=C . Trap 2s 338 a ol ap Ee gpos 2 waa | ane | Aen ace intwarpoe 28s 2332 . bes sr Ener poe 2 vers | 5305 | aap cues inegnpoe 285 te | ee | Se Ee gupos 2 | asawe | ais | me ace Pron Intra-grupos 285 60.734 “ B>Cc* AC Entre-grupos 2 28.328 3.805 ADB* = ADC* ine ron 2 13 : bee an Ete gupos 2 nm | 16 | pete Inve gupos 2 1.990 Ps ol om Ene grupos 2 a | ta | ape : Inve pupos 23 673 m | me Bc Ll PO. Enter-grupos: 2 10.681 3.254 ‘A=B ADC ** : tows grapes 23 3381 > be | Ente grpoe 2 38 | Asbec Tne grupos 293 292 7 se Ener gpos 2 aa%0 | oor | abac Tne popes 293 gas | as Ener gropon 2 eas | as | Amec Prot i ron 23 new - SpA pO pO) 281 ‘Os resultados obtidos evidenciam a existéncia de um maior nimero de diferengas estatisticamente sig- nificativas no 8." ano do que no 9.* ano, mostrando- -se 07 ano omais escassoem tais diferengas. Quanto 0s dois factores que, no Quadro V. ndo apresentaram coeficientes de correlacdo significativos, verifica-se agora que apenas no 8.° ano os alunos, que nunca Teprovaram ou com uma reprovagdo, obtém média no factor «aparéneia fisica» significativamente diferente, ¢ superior, A daqueles que reprovaram duas ou mais vezes: no factor «popularidade» é curioso notar que, quer os alunos do 7.° ano, quer os do 9.° com duas ou mais reprovagdes, pontuam significativamente dife- rente ¢ mais elevado do que, respectivamente, o gru- po de alunos com uma reprovagdo (BC e B>C) eno 9.° (A>B). No factor geral (PTOT), apenas no 8.° ano se diferencia ‘03 sujeitos com uma reprovacdo dos que reprovararm, duas ou mais vezes (A>C) ¢, estes ultimos, dos que reprovaram uma vez (B>C, p<.05). Relativamente aos restantes contrastes realizados, apresentamos uma sintese das diferencas encontradas ¢ respectivos niveis de significancia. No factor «an- siedade» (AN), 0s alunos do 8° ano sem reprovagies apresentam uma média mais elevada ¢ significati- -vamente diferente (p<.001) quer em relagiio a0 grupo com uma reprovagiio, quer quanto aos que ja repro- varam mais de uma vez; no factor denominado «sa- lisfagdo-felicidade», os alunos que jé reprovaram pelo menos duas vezes (respectivamente, A>C para o nivel de significincia p<.001 e B>C para p<.01). Nao se verificaram quaisquer outras diferengas entre as médias dos grupos de alunos nos restantes contrastes realizados. ‘Uma nio maior diferenciagdo entre o grupo Be C poder ter a ver com 0 menor niimero de sujeitos em estudo e/ou com o «efeito selectivo» que as re+ provagées tém na populagdo estudantil (Almeida, 1988), Em suma, os valores obtidos, mesmo com algumas flutuages a0 longo dos trés anos de esco- 282 laridade tomados, permitem-nos verificar uma relagaio Positiva entre os niveis superiores de autoconceito ¢ © sucesso escolar dos alunos, como seria de esperar. CONCLUSOES ‘A falta de instrumentos aferidos para a avaliagaio do autoconceito dos jovens do ensino secundirio ‘constituit o motivo principal para a adaptago portu- -guesa do PHCSCS. O «Piers-Harris Children's Self-Concept Scale» ‘€ um instrumento de avaliagio do autoconceito reco- mendado por virios autores (Wells & Marrwell, 1976) frequentemente utilizado na investigagiiocientifica intemacional. ‘No fimbito das andlises estatisticas realizadas para ‘a sua adaptagio, concluimos haver necessidade de rretirar alguns itens, garantindo assim a melhoria das qulidades psicométricas da escala. Foram utilizados como principais procedimentos © «Reliability» ¢ 0 «Factor» do SPSS-X, a fim de se estudar a fidelidade e a validade do PHCSCS. Os resultados obtidos, respeitantes a fidelidade, permitem concluir que as diferentes dimensées desta escala apresentam bons indices de consisténcia interna, quer na amostra geral, quer em grupos mais especificos. Tais indices mostram-se semelhantes, em certos ¢a- ‘Sos mesmo superiores, 20s encontrados por outros autores. O factor geral revelou um alto coeficiente de estabilidade temporal (r = .79); p<.001). ‘Ocstudo da validade interna revelou acxisténcia de seis factores, que explicam 31.2% da varidncia total dos resultados, além de um factor geral, o que estéem consoniineia com outros estudos sobre a validade do PHCSCS (Piers, 1988; Michael er ai., 1975; Shavel- son & Bolus, 1982) ¢ os postulados subjacentes as ‘escalas de autoconceito: além de um factor geral existe. © contributo de diferentes contedidos para a diferen- ciagio dos nfveis de autoconceito. Procedeu-se ainda andlise da validade externa, tomando como critério dois pardmetros do aprovei- tamento escolar: as notas € 0 miimero de reprovagGes. Apesar da pouca aproximagaio entre os contetidas das dimensdes do PHCSCS ¢ os conteddos dos curricu- Jos escolares, foram encontradas correlagdes ¢ dife- rengas estatisticamente significativas, conforme as hipéteses formuladas. Em posteriores trabalhos procurar-se-4 progredir no estudo do PHCSCS, analisando as melhorias de- correntes das alteragdes agora sugeridas, Por tiltimo, 0s resultados obtidos permitem observar que a verso portuguesa do «Piers-Harris Children’s Self-Concept Scale» apresenta qualidades psicométricas no seu todo € nos seus sub-factores que permitem, desde jé, pas- sar a dispor de um novo instrumento de pesquisa e na prética da Psicologia e da Educagdo, BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, L. S. (1988) — 0 raciocinio diferencial dos Jovens, Instituto Nacional de Investigagio Cientifica, Lisboa. ALMEIDA, L. S. & CAMPOS, B. P. (1986) — Racioei- nio diferencial e sucesso escolar dos jovens: estudo longitudinal, Cadernos de Consulta Psicolégica, 2, 105-118. FONTAINE, A. M. 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E apresentada a adaptaydo portuguesa da escala ameri- cana «Piers-Harris Children's Self-Concept Scales (PHCSCS), construida por Piers (1969), com manual re- ceniemente revisto (Piers, 1988).O PHCSCS foi waduzido para portugues ¢ foram examinadas as suas propriedades psicométricas. Os coeficientes de fidelidade apresentados 88 coerentes com investigacées anteriores. De igual modo, os resultados de wma andlise factorial de componentes ‘principais com rotagéo varimax—pondo em evidéncia seis factores— sho coerentes com a versa original. 284 ABSTRACT The construt self-concept is one of the most studied, because of its importance to the knowledge of persona- lity. A portuguese adaptation of the american version of Piers-Harris Children's Self-Concept Scate (PHCSCS), constructed by Piers (1969) with recent revised manual (Piers, 1988) is described. The PHCSCS was translated into Portuguese and its properties were investigated. The reliability coefficients presented are consistent with rior research. Also the results of @ factor analysis with varimax-rotation — that yielded six factors — are con- sistent with these findings.

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