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Práticas de Leitura Na Universidade
Práticas de Leitura Na Universidade
Resumo: Num movimento de ir e vir entre teoria e prática no campo dos estudos
aplicados da linguagem, em minha pesquisa, estou considerando as implicações da
Análise de discurso de linha francesa no tocante a práticas de leitura de ensaios em
língua materna em contexto acadêmico. Para tanto, tomo como base a imbricação
língua (entendida como materialidade) e interdiscurso (o espaço da memória do dizer)
tanto na produção dos sentidos quanto na instauração de um sujeito-leitor em práticas
letradas nas quais tenho buscado não tratar o texto como um mero produto lingüístico,
mas como instância de um processo discursivo maior.
Palavras-chaves: análise de discurso, práticas de leitura acadêmica, ensaio, memória.
1. Introdução:
2. Discussão teórica:
3. Modos de leitura:
Vale ressaltar que as práticas de leitura de ensaios envolveram uma turma de 4o.
ano de Letras- Literatura, na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Para a
realização do levantamento das concepções de leitura em contexto acadêmico dos
alunos-professores foi aplicado um questionário.
Minha intenção foi fazer um diagnóstico sobre como a leitura vem sendo trabalhada
em sala de aula em contexto acadêmico (neste caso, no contexto desta universidade
pública do interior do Paraná) e pensar em que medida a abordagem discursiva, ao ser
implementada, pode permitir uma reflexão sobre a historicidade e não uma reflexão da
historicidade. Vamos analisar alguns depoimentos acerca dos sentidos que os alunos
dão para a leitura em contexto acadêmico:
(1) Leitura, na universidade, para mim é extrair o que há de melhor nas obras, sempre
levando em conta a minha opinião e o estilo literário
(2) Uma leitura mais aprofundada de assuntos com análises lingüísticas e investigação do
que há por trás dos textos.
(3) Leitura é forma de aquisição de conhecimento
(4) A leitura é feita mais como imposição dos professores, os professores querem que
pensemos conforme eles, não há espaço para discussão nova
(5) A leitura no contexto acadêmico acaba se tornando uma necessidade e não um prazer.
(6) Leitura no contexto acadêmico é aquisição de conhecimento, de cultura.
(7) A leitura neste contexto não é apenas codificação e decodificação, é muito mais que isso,
é compreensão, interpretação ligada ao nosso mundo. Todas as leituras feitas são mais teóricas e a
partir delas são construídos novos textos para a aprendizagem.
Neste caso, podemos perceber que ler está ligado à aquisição de
conhecimentos, isto é, a leitura se reduz à função referencial da linguagem, a um
conjunto de informações relevantes que precisam ser internalizadas e estocadas, como
se o conhecimento fosse organizado em blocos cognitivos e o sujeito, na ilusão da
completude, buscasse apreender cada vez mais informações para ter controle e para
ser fonte “idealizada” dos sentidos. Nas palavras de Coracini (1995: 14) “o leitor seria,
então, o receptáculo de um saber contido no texto”.
Também, no caso do depoimento ligado ao fato de que ler é extrair um sentido,
podemos notar outra visão de leitura como descoberta do sentido (CORACINI, 2005:
20). Nos termos de Coracini (2005: 20) trata-se da visão essencialista da leitura, uma
vez que se acredita na existência de uma essência no texto, escondido, de modo que
nossa tarefa enquanto leitores seria a de buscá-la, capturá-la.
Outro depoimento aponta para sentidos de que ler, na universidade, não é
somente decodificar textos, é compreender, interpretar, sendo que, a partir dessas
leituras, é possível construir novos textos para a aprendizagem. Neste caso, a prática
de leitura é entendida como produção de novos sentidos, o que, de fato, é bastante
produtivo do ponto de vista discursivo.
Também, temos depoimentos nos quais a leitura única do professor é
questionada. De fato, é urgente a necessidade de se desfazer o círculo vicioso a partir
do qual os alunos-professores perpetuam a perspectiva da leitura literal, já que seus
professores na universidade assim o fazem, ou seja, precisamos evitar que esses
alunos sejam “naturalmente integrados” a essa concepção de leitura (cf. BAGHIN-
SPINELLI, 2002: 80). Outrossim, conforme assevera Coracini (1995: 31), não há
espaços, em salas de aulas de línguas, “para a pluralidade de leituras, já que o
professor conduz o aluno para sua leitura que, na verdade, acredita ser a única
possível, e, portanto, a única correta”.
a)relação do texto com o autor: o que o autor quis dizer- Podemos dizer que o ensaísta
constrói uma representação de mediadora cultural, no caso da poeta Elizabeth Bishop,
um tanto quanto desinteressada em relação ao nosso país. Assim sendo temos
mobilizada neste texto uma memória de Brasil como lugar visto como falta, incompleto
para o estrangeiro.
(6)“ no Brasil, tudo é malfeito, sem acabamento. (Bishop, Uma arte, 258)
(7)“em seu contato com o Rio, cristalizou-se em Bishop uma imagem da cidade
como lugar adverso ao trabalho e à civilização que jamais se alteraria nas
décadas seguintes”. (p.145)
c)relação do texto com seu referente: O texto, ao abordar a relação tensa de Bishop em
relação ao nosso país, nos permite repensar a identidade sócio-cultural brasileira a
partir do olhar externo, do estrangeiro. E essa construção de sentidos sobre o que é o
Brasil se contrapõe à imagem que a poeta fazia do seu país de origem, os Estados
Unidos.
Assim a memória que ganha corpo neste ensaio representa um conflito entre o
Brasil como lugar da natureza, da beleza, da falta de cultura e Estados Unidos, país de
origem da poeta, como lugar da cultura. Natureza nesta formulação, em termos de
modos de dizer predicativo, é significada como espontaneidade, liberdade, amor,
acolhida, contudo ausência de cultura.
d)relação do texto com o leitor: O ensaio, por trazer à tona, dentre os sentidos
dominantes, representações de Brasil como lugar atrasado, primitivo, de povo irracional
mobilizam no leitor questões subjetivas que conforme notei no estudo de caso
conduzem o leitor a questionar os sentidos homogeneizantes atribuídos pela autora.
Neste caso, tomemos como base a representação de Bishop sobre a cidade brasileira
do Rio de Janeiro e ao próprio Brasil.
(9) “é tanta bagunça- uma mistura de Cidade do México com Miami, mais ou
menos, tem homens de calção chutando bolas de futebol por toda parte,
Começam na praia, às sete da manhã- e pelo visto continuam o dia todo nos
lugares de trabalho” (Uma arte, 226-7. Em contraste, os Estados Unidos lhe
pareciam caracterizar-se por sua “limpeza reluzente (que) é a coisa de que
mais sinto mais falta no início”
Assim sendo, após o traço, que, por sua vez, abre espaços para uma explicação
para o item lexical pobres (definidos como primitivos) e após a vírgula que explica os
aristocratas representados por Lota poderia configurar um conectivo explicativo como
isto é, ou seja. Assim o estrangeiro acaba ocupando uma posição mais privilegiada que
o brasileiro, de modo que o brasileiro para ser sofisticado precisa conhecer a língua do
outro e estar no país do outro.
(12) Após a morte de Lota, sente-se abandonada por todos- ninguém no fundo
gostava de mim e explode: “Os países atrasados geram pessoas atrasadas e
irracionais”. (p. 149)
(13) A Lota não tem interesse por nada que seja brasileiro ou “primitivo”.
(14) Manuelzinho- poema inspirado por uma pessoa real, misto de posseiro e
rendeiro, que vive na terra de Lota- apresenta a caricatura de um primitivo
brasileiro: um “tonto”, um “incapaz”, “o pior hortelão desde Caim”, ignorante,
supersticioso e desvergonhadamente vil.
(15)Meus alunos são muitíssimos simpáticos, quase todos- mas devo dizer que
estou um pouco preocupada com a Juventude Americana. (30) Eles são
inteligentes, quase todos eles, mas não parecem se divertir muito (...) quando
penso o quanto os jovens brasileiros se divertem com um violão, com uma festa,
ou apenas um cafezinho (sic) e uma conversa.
5.Considerações finais:
6. Referências bibliográficas: