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Introdução à

Teologia
Professor Esp. Érlon Migliozzi
2021 by Editora Edufatecie
Copyright do Texto C 2021 Os autores
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

M634i Migliozzi, Érlon


Introdução à teologia / Érlon Migliozzi. Paranavaí:
EduFatecie, 2021.

93 p.: il. Color.

1. Teologia. 2. Teologia das religiões (Teologia cristã). 3.


Religião – História. 4. Religião – Filosofia. 5. Igreja –
catolicidade. 6. Igrejas Pentecostais. I. Centro Universitário
UniFatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III Título.

CDD : 23 ed. 230


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AUTOR

Professor Esp. Érlon Migliozzi

● Especialista em Empreendimentos Educacionais (UCB/RJ).


● Bacharel em Teologia (UniFil).
● Bacharel em Ciências Econômicas (FAFICOP).
● MBA em Liderança (UniFil).
● Mestrado Livre em Liderança Pastoral Urbana (STF/UniFil)
● Docente do curso de Teologia EaD (UniFatecie).
● Consultor Educacional da UniFatecie.

Palestrante e ministrante de cursos teológicos livres na área do Velho Testamento


e Escatologia. Ministro do Evangelho na Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Consultor
empresarial pelo Conselho Regional de Economia de Curitiba/Pr. Professor de Matemática
e Sistema de Informações Gerenciais e Ensino Religioso na Rede Estadual do Paraná.
Além de possuir experiência em sala de aula, tem conhecimento na área administrativa de
instituições de ensino, onde, assessorou Pro-Reitoria de Extensão e Pós-Graduação e de-
partamentos comerciais. É Consultor e Perito Judicial pelo Conselho Regional de Economia
de Curitiba/PR.

CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/8601941430171375


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), é sempre muito bom ter você junto conosco. Você já se de-
parou com situações que você deseja respostas e aí, você ouve dizer: “Ah, este assunto é
um assunto teológico!”? Pois bem, é neste momento que muitos fazem a opção de ir nos
dicionários ou sites e até mesmo questionarem a um líder religioso sobre o que é teologia e
quando você resolve fazer uma investigação, você se defronta com pensamentos diferen-
tes, várias disciplinas, nomenclaturas, e parece que ao receber uma resposta simples, você
fica mais em dúvida ainda.
É por isso que a disciplina de Introdução à Teologia precisa existir na sua grade
acadêmica. Para ser um teólogo, você precisa saber por onde a teologia navega, abrange
e interage. A teologia é uma ciência que não é exata e, acredite, não coloca ponto final em
suas razões. É viva, não está presa ao tempo, tem um perfil místico e um perfil natural, liga
a Fé e a Razão fazendo que cada uma se complete.
Convido você a conhecer um pouco mais sobre a teologia, seu conceito, sua ne-
cessidade e particularidades. Vamos falar muito sobre a história da Igreja, suas principais
ramificações e assim, entender porque há diferentes modos de interpretar fatos bíblicos
e teológicos. Quais são as bases? Qual é o conteúdo que a teologia possui? Qual seu
objeto de estudo? Tudo isso e muito mais estão te esperando nesta disciplina! Entenda
que estamos em um nível introdutório e é um requisito imprescindível você buscar mais
conhecimento através da leitura complementar.
Nossa proposta de estudo vai dar um rumo às suas buscas e aprimoramento, com
objetivo de lhe instigar a conhecer mais sobre as disciplinas que fazem parte da grade teo-
lógica e, quem sabe, definir o objetivo principal do seu estudo, de forma a você continuar,
de agora por diante, no foco daquilo que é sua vocação.

Vamos juntos?
Bom estudo!
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 3
Conhecendo a Teologia

UNIDADE II.................................................................................................... 23
Teologia Católica Romana

UNIDADE III................................................................................................... 46
Teologia Pentecostal

UNIDADE IV................................................................................................... 69
Práticas Teológicas
UNIDADE I
Conhecendo a Teologia
Professor Esp. Érlon Miggliozi

Plano de Estudo:
● A História da Teologia;
● Fundamentos do Estudo Teológico;
● Teologia Acadêmica e Ciência;
● Teologia Bíblica.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a Teologia como Ciência e Razão para a Fé;
● Compreender os tipos de Filosofias e Interpretações Teológicas;
● Estabelecer a importância da Teologia na compreensão do Divino.

3
INTRODUÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

Acredito que antes de você optar em fazer um curso teológico, você deve ter busca-
do informações a respeito. Quando entramos em contato com o mundo teológico, algumas
incertezas podem surgir, entre elas, é o objeto de estudo da teologia, o método de estudo
e os resultados que este estudo pode proporcionar ao estudante.
Em nossa disciplina de Introdução à Teologia, queremos demonstrar através da
história da Igreja e da filosofia, a necessidade da teologia como ciência e como instrumento
de fortalecimento da crença. Nesta primeira unidade, vamos tratar dos primórdios da teo-
logia, vamos conhecer juntos os motivos que levam o homem a desenvolver um discurso
teológico e como isto impacta o mundo.
Falaremos também sobre a história e o conceito da teologia, como surgiu o estudo
que tem como objeto o próprio Deus e suas interações Abordaremos a sua criação, qual o
ponto em que ela se diferencia da filosofia e da ciência e qual sua parte comum.
Continuaremos nosso estudo tratando dos fundamentos teológicos e os métodos que
a ciência utiliza, afinal, como é estudar sobre o divino? Provavelmente não é tão complexo
quanto imaginamos. Temos o conceito que teologia é algo que se pratica dentro das paredes
da igreja, porém, através do tópico Teologia Acadêmica e Ciência, vamos entender então que
na teologia temos muito o emprego da razão para dar confiança ao processo da fé.
Finalmente, desmistificamos um termo que muitos acreditam ser uma teologia
paralela a teologia acadêmica, a teologia Bíblica, que tanto atrai alunos e fala tanto de
espiritualidade. Sendo assim, convido você a entrar neste aprendizado que realmente se
propõe a introduzir o estudo teológico na sua grade acadêmica, de forma simples e bem
sistematizada para que seu aprendizado produza uma teologia prática em sua vida e você
possa optar em qual nível teológico deseja estar.

Um ótimo estudo e vamos juntos!!!!

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 4


1. A HISTÓRIA DA TEOLOGIA

Nada mais sugestivo na disciplina de Introdução à Teologia, como, o seu próprio


enunciado. A palavra introdução, segundo o dicionário Oxford e Aurélio, possui uma par-
ticularidade comum em seu significado, eles atribuem o mesmo sentido à palavra, como,
sendo, “o ato ou efeito de abrir ou dar início a uma tese”.
Portanto, entendemos que essa disciplina precisa ser o início de uma grade acadê-
mica, ou dar o sentido inicial a ela, assim, como toda introdução, vamos falar muito sobre
a história, vamos buscar entender a origem da Teologia em suas diferentes correntes de
interpretação e filosofias.
A Teologia, como ciência, é um assunto muito importante no seguimento religioso,
porém, não está limitado, nos dias atuais, somente ao estudo religioso ou acadêmico, com
vistas ao sacerdócio ou ao próprio ambiente interno eclesiástico. Atualmente, a Teologia
tem se destacado para dar compreensão e entendimento dentro de ambientes coletivos
dos mais diversos, ambientes corporativos, clínicos, por exemplo.
Sabendo que nossa disciplina fala de Teologia, vamos conceituar esta palavra. De
acordo com dois teólogos referenciados no assunto, o Doutor João Batista Libânio e o
Doutor Afonso Murad. Primeiramente, o conceito da Palavra Teologia se resume em:
O termo teologia compõe-se etimologicamente de dois termos, que lhe defi-
nem já grandemente a natureza: THEÓS + logía = Deus + ciência. No centro
está Deus, seu objeto principal. Qualquer reflexão teológica refere-se de al-
guma maneira a Deus. Ao determinar-se mais exatamente o estatuto teórico,
ver-se-á como tal referência se produz. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 63)

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 5


A palavra “teologia”, teve sua origem no mundo grego, com Platão, se referindo
aos que discursavam sobre os deuses (BOFF, 1998 [1944], p. 550). O conceito de teologia
tem uma função tripla e é facilmente observado. Suas funções são: Crítica, Pedagógica e
Política, crítico porque tem o caráter investigativo e interrogativo, pedagógico porque pode
modificar o caráter individual e coletivo e político porque se origina e se forma com tal
postura. Posteriormente, Aristóteles, aprendiz de Platão, vai atribuir a teologia um cunho
filosófico, limitando à mesma a teoria. (BOFF, 1998 [1944], p. 554).
É importante analisar que a teologia surgiu com a busca pelo “logos”, ou seja, o
“divino”. Com a criação dos mitos, conhecidos desde a Grécia Antiga, com a finalidade
de descobrir a origem de determinados fenômenos, principalmente os naturais, o homem
começou a se deparar com a realidade de um mundo invisível, metafísico, o qual, era o
desencadeador de determinados fenômenos. De outro modo, podemos dizer que o homem
começou a ter razão de um mundo além do visível e a necessidade de entendê-lo.

FIGURA 1 - SANTO AGOSTINHO (AGOSTINHO DE HIPONA) - Turim, Itália - 15 de março de


2017: O afresco de Santo Agostinho médico da igreja na cúpula da Igreja Basílica Maria Auxiliatriz por

Giuseppe Rollini (1889-1891).

Fonte: https://www.a12.com/redacaoa12/espiritualidade/santos-entre-nos-santo-agostinho-de-hipona .
Acesso em 23 set.2021

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 6


Foi no século IV, que o conceito da Teologia adquiriu um significado cristão, através
de Agostinho de Hipona, o qual, definiu o termo como “raciocínio ou discussão sobre a Dei-
dade”. O “start” para o pensamento teológico é que o divino existe e é manifesto através do
físico ou sobrenatural. Nesta época, a teologia está sendo desenvolvida dentro do ambiente
religioso apenas. Alguns filósofos e religiosos, buscam trazer a razão da fé, como o próprio
Agostinho, de uma forma mais real aos períodos anteriores. (BOFF, 1998 [1944], p. 554)
Vamos revisar e resumir até este ponto do nosso estudo:
O conceito de teologia se inicia no período pré-Socrático, mas, é com Platão que
surge o termo “teologia’’. Os filósofos pré-socráticos rejeitavam explicações simples e
tradicionais sobre os “mitos”, assim, eles introduziram questionamentos como: De onde
tudo vem? Do que tudo é criado? Entre outros questionamentos, assim, entendemos que o
conceito da teologia estava sendo desenvolvido pela primeira vez, ou, que se tem conhe-
cimento. Platão (380 a.C.) vem na sequência e de uma forma simples, utiliza o termo pela
primeira vez em referência a compreensão da natureza divina, no seu livro “A República”,
no Livro II, Capítulo 18, ele traz a teologia com o sentido de “discurso sobre Deus”. Logo
após, Aristóteles, em seus escritos de Metafísica, emprega numerosas vezes o termo, mas,
com duplo sentido, primeiro como ramo fundamental da filosofia e em segundo plano como
denominação do pensamento mitológico, anterior à filosofia. Aristóteles, em suas teorias,
apresenta uma forma de divisão da filosofia, sendo: a matemática, a física e a “teologia”
(teologia, esta, semelhante a metafísica).
No Séc. IV d. C., Agostinho de Hipona, adota o nome e o conceito de teologia como
um raciocínio ou estudo de Deus. Neste período, conhecido como Patrística, a teologia se
conceituou como referência ao conhecimento e ao ensino sobre a natureza de Deus. Já na
Escolástica, passou a ser a disciplina acadêmica que adotava como método a racionaliza-
ção das doutrinas da religião cristã.
Foi a partir do século XVII, que começou a usar o termo teologia para se referir ao
estudo de ideias e ensinamentos religiosos “que não são especificamente cristãos”, inclusive.
O termo teologia não se resume apenas ao meio cristão, pode ser utilizado pelos vários
segmentos de fé que atribuem uma relação divina em sua crença, como, budismo, umbanda,
e outras religiões. Fazer teologia é fazer ciência, mas, além do exercício de razão, a Teologia
tem como componente principal a fé, que extrapola, em muitas vezes, a razão.
Vemos que a história da teologia demonstra claramente que ela veio para contribuir
com a fé, de forma, a dar base para crenças e alicerçar o conhecimento dos atributos e das
relações de Deus com os homens e a natureza.

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 7


2. FUNDAMENTOS DO ESTUDO TEOLÓGICO

2.1 Fé e Razão:
Os fundamentos ou métodos do estudo teológico se concentram em suas “Fontes
de Conhecimento e Princípios Básicos”. No estudo da teologia, dois componentes são fun-
damentais para a compreensão da matéria, o primeiro é a Fé e o segundo, a Razão. Assim,
vamos utilizar a Fé, como ponto inicial para organizarmos nossa linha de raciocínio. Veja a
definição do teólogo Euler Renato Westphal (2010):
O método em teologia diz respeito à maneira e o ponto de partida com que se
desenvolve a reflexão teológica. Podemos partir da premissa de uma postura
ateia, ou de uma postura anti-intelectual, ou da afirmação às Escrituras ou,
ainda, de suspeita às Escrituras. Podemos partir de uma concepção liberal de
Jesus, que vê Cristo somente como exemplo de um ser humano de moral ele-
vada. Podemos partir de uma abordagem que vê Jesus como Senhor, como
Rei, como Deus, ignorando o aspecto da sua humanidade. Podemos colocar
a fé como referencial básico para a elaboração teológica, mas também po-
demos colocar a dúvida como dúvida metodológica no sentido de questionar
as coisas da fé, buscando encontrar respostas. É possível ter a dúvida como
pergunta que não busca respostas, mas a dúvida que vive em função das
próprias dúvidas e somente para confirmar as suspeitas em relação às Escri-
turas. Temos outras formas de procedimento metodológico. Podemos partir
da fé para compreender. (WESTPHAL, 2010, p. 80)

A razão e a fé, quando se fala em Teologia, precisam ser entendidos como parte
integrante, uma da outra, assim, a reflexão teológica é bem constituída:
Primeiro eu creio para então buscar a compreensão daquilo que creio. De
outro lado, busca-se a compreensão intelectual em primeiro lugar, para então
avistar a fé. Ambos os elementos não se excluem, mas devem ser buscados
numa relação simbiótica entre fé e razão, que são dois elementos que cons-
tituem a própria teologia. (WESTPHAL, 2010, p. 80)

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 8


Um componente da Fé é a Crença, que se resume em convicção em algo como
verdadeiro e a Fé, que nada mais é que o sentimento total de confiança em uma crença.
Segundo Euler Renato Westphal (2010), o método tem papel principal na reflexão
teológica: Quando falamos em método dentro da Teologia, precisamos entender que há
uma dependência total do conteúdo e este exerce influência direta:
Quando falamos do método em teologia, estamos colocando um segundo
elemento ao lado deste, que é o conteúdo. Muitas vezes, pensa-se que o mé-
todo pode ser dissociado do conteúdo, mas o método influencia o conteúdo
e o conteúdo influencia o método. Ambos se condicionam. Há elementos que
devem e podem ser dissociados, mas nunca podemos pensar que ambos se
encontram em esferas totalmente diferentes. Isso fica plasmado à medida
que formos avançando nas nossas reflexões. Quando abordamos a questão
do método estaremos logo falando do conteúdo, inclusive a recíproca tam-
bém é verdadeira. (WESTPHAL, 2010, p. 81)

A Fé precisa extrapolar a razão em determinados momentos, mas, a fé é a iluminação


da razão. É a fé que vai impulsionar a razão para o criticismo sadio e a afirmação da crença:
A teologia tem, em primeiro lugar, uma função existencial, pois ao falar de
Deus, o teólogo é aquele que está existencialmente envolvido no círculo
teológico. Não se pode falar de Deus sem tê-lo experimentado. Não conhe-
cemos a graça de Deus em Jesus Cristo sem primeiro termos conhecido a
nossa condenação. A experiência de Deus tem a ver com a experiência da
nossa própria falência e da consciência de nossa própria maldade. Isso Deus
nos revela através da sua Palavra e do seu Espírito. Portanto, somente pode
fazer teologia quem antes teve um encontro pessoal com o Deus vivo e ver-
dadeiro. (WESTPHAL, 2010, p. 81-82)

Precisamos nos atentar que não há sobreposição de valores entre fé e razão. Fé e


Razão existem lado a lado e sua relação não é meio a meio, ou 50% de cada. A relação fé
e razão é completa, 100% de fé e 100% de razão caminhando juntos:
A dimensão existencial da teologia não pode tomar o lugar do aspecto cientí-
fico do labor teológico, mas ambos precisam se complementar. Não podemos
colocar a fé e a razão como alternativas que se excluem mutuamente, mas
ambas devem existir para que a fé seja inteligente e a inteligência seja leva-
da cativa sob a obediência de Cristo. Assim como uma teologia preocupada
somente com a dimensão existencial é unilateral, a teologia científica que
não considera a participação da vida do teólogo peca por fazer de Deus um
objeto de estudos, como se este objeto pudesse ser dissecado, analisado,
servindo como uma coisa que pudesse ser manipulada pelo ser humano.
(WESTPHAL, 2010, p. 81-82)

2.2 Principais Fontes da Teologia:


Segundo o teólogo Leonardo Boff (1998), a Teologia se utiliza de três fontes prin-
cipais em sua reflexão: a Fé-Palavra, a Fé-Experiência e a Fé-Prática, que na verdade,
são relações da Fé e estas relações produzem reflexão, diálogo, um verdadeiro discurso
teológico reflexivo. Vamos entender o significado destas fontes. Quando a Fé e a Palavra
estão juntas, um discurso surge e este discurso é um discurso teológico e a Fé é a base,
que a sabedoria humana não pode ir contra ela. A fé tem suas determinações e estas são
as três. (BOFF, 1998, p. 111).

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 9


Primeiramente, o que seria a Fé-Palavra? Segundo descreve o teólogo Leonardo
Boff (1998), entendemos que há uma relação entre Fé e Palavra e esta relação constitui
um princípio que traz especificações para a Teologia. A FÉ É O FIRME FUNDAMENTO DA
TEOLOGIA, esta fé é a Fé-Palavra e não doutrina. A Palavra produz a doutrina, e esta, a
reflexão teológica. Ainda, seguindo a afirmação de Boff (1998), a teologia tem como seu
princípio objetivo a revelação.
A fé torna-se o princípio subjetivo, assim, temos uma fé revelada e o princípio formal
da teologia é a Palavra de Deus, toda a reflexão teológica deve ser trazida para a ótica da
Palavra de Deus. A reflexão de Deus, sob a ótica da fé, forma o princípio formal subjetivo
da teologia, que é a Fé-Palavra. (BOFF, 1998, p. 112)
Fazer teologia está ligado em confrontar as experiências humanas com a Palavra,
ou melhor, a Bíblia. As Escrituras são testemunhas da revelação e essa revelação em nós
deve encontrar correspondência, ou seja, há uma relação de “ação” da Palavra de Deus
e “reação” do indivíduo. Devemos receber assim, a Palavra com amor que também é uma
fonte de toda a palavra teológica.
A teologia autêntica é a revelação de Deus através da Palavra e a teologia está
fundamentada no testemunho da Palavra, assim, afirma Westphal (2010):
A teologia está fundamentada no testemunho da Palavra, nela encontramos
o testemunho da revelação de Deus em Jesus Cristo na Palavra de Deus, no
Antigo e no Novo Testamento. A Palavra de Deus chama pessoas da morte
para a vida. A teologia autêntica é resposta do ser humano a Deus, que se re-
vela através da Palavra. A Palavra de Deus é Evangelho, pois ali Deus revela
sua santidade, sua ira, sua inacessibilidade. No entanto, é no Evangelho, na
Palavra de Deus, que encontramos a revelação do Deus misericordioso que
aceita e abraça os filhos perdidos e coloca o ser humano arrependido para
dentro da sua aliança. Através da Palavra de Deus nos é dito que somos
pecadores agraciados, e que Deus não nos vê como somos, mas que ele
vê Cristo em nosso lugar. Nós somos condenados, pois em nossa natureza
e essência estamos totalmente perdidos. Ainda assim, Deus não nos exclui,
mas se reconcilia conosco. Ele anuncia sua palavra de anistia para nós con-
denados. Ele não vê a mim em minha maldade e perdição, mas Jesus se
coloca entre mim e Deus, e a justiça que está em mim não é a minha, mas a
de Jesus Cristo. Deus se solidariza com este homem Jesus, e Deus habita
entre nós na pessoa do Nazareno. (WESTPHAL, 2010, p. 90)

2.3 Jesus Cristo como Raiz Teológica:


Não é só a fé que é o ponto de partida importante para o estudo da teologia, mas,
também, a encarnação de Deus em Jesus Cristo, nos dá compreensão da fé e é um impor-
tante conteúdo da teologia. Segundo Westphal (2010, p. 88):

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 10


A teologia parte do seu conteúdo fundamental que é a história concreta do
Deus-Homem, que é Jesus Cristo. A fé é o ponto de partida da teologia. Jesus
Cristo, testemunhado nas Escrituras, é o seu conteúdo. A razão é o instru-
mento que pensa a fé e a revelação, colocando-os de forma ordenada para a
compreensão humana. A compreensão da fé inicia no acontecimento da en-
carnação de Deus em Jesus Cristo. Na pessoa de Cristo, nós temos a autor
revelação de Deus. Jesus não é nenhum herói, mas Deus mesmo assumiu a
forma humana, fazendo-se ser humano com todas as suas limitações e sua
desgraça. O homem Jesus de Nazaré é o Deus eterno, criador do céu e da
terra. Nele temos a consumação final da salvação para toda a humanidade. A
teologia tematiza a realidade da revelação do amor de Deus em Jesus Cristo
e seu significado para a realidade da humanidade. O conteúdo de toda a teo-
logia é a pessoa de Jesus Cristo. Aqui está a verdadeira fonte e o conteúdo
de toda a teologia e, ao mesmo tempo, em Cristo está o ponto de convergên-
cia para o falar teológico.

Assim, a Fé é o ponto de partida da Teologia e Jesus Cristo, o conteúdo, porque,


nele, temos a revelação de Deus. Os temas e assuntos teológicos deveriam ser unicamente
derivados da pessoa de Jesus Cristo. O que vimos e o que conhecemos de Jesus Cristo
nos aproxima de Deus. Diz Westphal (2010, p. 88):
Quando ouvimos Jesus, então buscamos a Palavra que foi testemunhada
pelas testemunhas oculares. Estas devem ser interpretadas, pois não temos
autoridade canônica e não nos encontramos na mesma linha sucessória dos
apóstolos. O Espírito Santo nos abre os olhos aos mistérios da Palavra de
Deus.

Então, a grande receita para ser um ótimo e excelente teólogo, é ter uma relação
profunda com o Espírito Santo, compreender que a teologia tem total relação com a sua
Palavra, a Bíblia, ter experiência e prática e, com certeza, ter Jesus Cristo como fonte
principal.

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 11


3. TEOLOGIA ACADÊMICA E CIÊNCIA

3.1 Teologia e Ciência:


Primeiramente, vamos retornar um pouco no nosso conteúdo e solidificar um co-
nhecimento que é necessário para o teólogo adquirir compreensão acerca da teologia.
A teologia é uma ciência, mas, o que é ciência? Segundo o dicionário online, o con-
ceito de Ciência diz: “Reunião dos saberes organizados obtidos por observação, pesquisa
ou pela demonstração de certos acontecimentos, fatos, fenômenos, sendo sistematizados
por métodos ou de maneira racional: as normas da ciência.” (CIÊNCIA, 2021, online). Assim,
entendemos que a ciência é uma coletividade de conteúdo e experiências, devidamente
sistematizadas e resultantes de normas.
Quando falamos de fé e ciência, precisamos saber que não há embates entre as
duas. A ciência vem como a razão, provar e normatizar o conhecimento, já, a fé, é a ex-
ploradora de novos acontecimentos. Podemos estar seguros quanto à relação entre fé e
ciência, pois, a fé se dedica a dizer, muitas vezes, quem fez e a ciência em revelar como
se fez. A ciência é compreendida como lógica e a lógica da fé, não traz um ponto final ou
definitivo, pode, mas, está limitado ao tempo.
Em sua definição de Teologia como Ciência, Libânio e Murad (1996), diz que a ciên-
cia teológica não é uma ciência no sentido de ter evidências a respeito de seus princípios,
mas, como uma ciência subordinada a ciência de Deus:

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 12


Os princípios da teologia só se tornam evidentes na ciência mesma de Deus,
é, na ciência que Deus tem de si. A teologia recebe da ciência de Deus —
ciência subordinante — os seus princípios. Está em continuidade com essa
ciência de Deus, em que as verdades reveladas participam da evidência di-
vina pela revelação e fé. É conhecimento certo e dedutivo, mas a seu modo.
A teologia, como ciência subalterna, subordina-se à ciência superior de Deus
e dos santos. Adquire, por isso, mais dignidade que aquelas que se fundam
em princípios conhecidos à luz natural do intelecto e por si evidentes.
Estribando-se na própria ciência de Deus, que não se pode equivocar nem
pode enganar-nos, toda verdade teológica se faz normativa para as outras
ciências. Em qualquer conflito de intelecção, a teologia nessa compreensão
levava vantagem inegável. Tutelava, por isso, tranquilamente todos os outros
saberes humanos. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 80)

3.2 Teologia e Academia:


Da mesma forma que estudamos em outros cursos e níveis de escolaridade, temos
dentro da teologia, uma infinidade de recursos, de disciplinas, que servirão para tecer a teia
do conhecimento teológico em nós.
Para que estou estudando teologia? Esta é a pergunta correta que devemos fazer
para entender quais são as possibilidades e níveis que pretendemos atingir ao estudarmos.
Para ser um pouco mais elucidado em minha exposição, a você aluno, quero dar, como
exemplo, os estudantes de medicina, que podem estudar todos as mesmas disciplinas, mas,
alguns servirão nos hospitais, outros em comunidades, outros em clínicas particulares e
outros assumirão a academia e serão novos professores. Na teologia não é diferente, vamos
estudar o mesmo conteúdo, mas, vamos dar foco a situações possivelmente diferentes.
Alguns serão Teólogos Profissionais. São os teólogos que agem unindo o conheci-
mento acadêmico em resposta às necessidades do Povo de Deus. São pensadores, críticos
e defensores da fé sadia, voltados para o zelo com a veracidade das Escrituras e a boa
prática das mesmas.
Outros são Teólogos Pastorais, aqueles que promovem a evangelização e a prática
da fé, são os líderes eclesiásticos, que utilizam as Escrituras para apascentar o rebanho de
Cristo na face da Terra.
Ainda, há os Teólogos Populares, que praticam a teologia de forma simples, oral,
falada, na prática, são os congregados à fé, que adquirem o conhecimento de forma menos
formal e guiados pelo Espírito da Verdade.
A Teologia não é uma ciência exata, também, sua abrangência e profundidade não
podem ser medidas com um padrão. Para não sermos errôneos, podemos dizer que a cada
década, o mundo conhece algo novo no sentido de pensamento cristão e teológico, os eventos
que envolvem a fé não são totalmente rígidos e o surgimento de novos métodos interpretativos
puxam o teólogo de sua zona de conforto e ocasionam a reflexão teológica constante.

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 13


FIGURA 3 - UNIVERSIDADE DE BOLONHA (A MAIS ANTIGA DA EUROPA) - BOLONHA,
ITALIA – Maio/2018 – Fachada da Universidade de Bolonha – Considerada uma das mais antigas faculdades

do mundo, surgiu em 1088 d.C.

Fonte: https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2021/01/24/bolsas-mestrado-gra-
duacao-universidade-bolonha-italia.htm. Acesso em 23 set.2021.

Um fato muito importante a ser observado é que seguindo o movimento da Esco-


lástica, as primeiras universidades surgiram com foco para resolver problemas teológicos
entre a fé e a ciência, é o caso da Universidade Al-Azhar, no Cairo, criada em 998 d.C.
a pedido do vizir Yaqub para que o califa Aziz ministrasse instrução e alimentação a 36
estudantes da mesquita. A Universidade de Bolonha, na Itália, foi criada em 1088 d. C.,
também, com a teologia como fonte principal na grade acadêmica.
A teologia também possui outros níveis organizacionais, tais, como, a Teologia
Bíblica e a Teologia Sistemática.

3.3 Teologia Sistemática:


A teologia Sistemática, também conhecida como “Dogmática”, é o conjunto de
disciplinas que foram elaboradas ao longo da história da Igreja. Este conjunto de ensinos,
não se vale de doutrinas ou ensino denominacional restrito, vale-se à pura reflexão cristã,
sob um olhar humanista. A teologia sistemática reelabora conceitos fundamentais, como a
revelação, graça, sacramentos, entre outros, isto, de acordo com um estudo sistematizado
e cronológico, entendendo que cada afirmação pode ser provisória dentro do campo teoló-
gico. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 224- 225).
Na Teologia Sistemática é que se pratica a cronologia da teologia, onde são defini-
dos três momentos: O Retrospectivo – onde se analisa o fato e a consequência no passado.
O Introspectivo – no qual se reflete sobre cada objeto teológico e sua posição no presente
e por último a Prospecção dos Fatos, em que entende-se o objeto de estudo, seu potencial
e identifica-se os pontos a serem melhorados.

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 14


4. TEOLOGIA BÍBLICA

A Teologia Bíblica é uma das áreas que mais chama a atenção dos estudantes,
primeiro, porque quando surge, dá a impressão que as demais teologias não são bíblicas
e esta seria a teologia correta, assim, ocorre um desentendimento e um certo desvio ou
conceito errado das demais nomenclaturas.
Não se trata de um ramo teológico, mas, de uma disciplina, a qual, tem a Bíblia
como principal fundamento de estudo. A Bíblia é o principal instrumento de evangelização
e propagação da crença, é a ferramenta do evangelismo, nesse sentido, a teologia Bíblica
estudará o Antigo e Novo Testamento, baseando-se em exegese, que nada mais é que
estudar minuciosamente cada texto, ou perícope sugerida. A exegese é uma disciplina
pré-teológica e não é considerada teologia porque não trata diretamente da fé.
Quando utilizamos o método de exegese na teologia bíblica, podemos observar
que algumas situações os textos se completarão e em outros haverá conflito. A teologia
bíblica é cativante ao estudante porque não traz conflitos ou criticismo, e como leitura das
Escrituras, é alimento para o espírito. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 220)
Enfim, trago este tópico para orientá-lo desde o início que não há uma teologia mais
correta que outra, ou seja, a chamada teologia bíblica é um método que precisa de outros
para trazer para fora o verdadeiro sentido dos textos sagrados.
Muitos alunos entram nos cursos teológico dizendo que vão se prender a teologia
bíblica porque é espiritualizada e não há necessidade de criticismo ou métodos mais refi-

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 15


nados para se entender a compreensão do divino, assim, criam um pré-conceito de outras
disciplinas teológicas e se frustram quando precisa recorrer aos métodos sistematizados.
A teologia só irá acrescentar conteúdo benéfico e retirar enganos e equívocos que, muitas
vezes, travam a fé e sua prática na vida do indivíduo.

SAIBA MAIS

A Universidade de Alazar ou Al-Azhar, está localizada no Cairo, Egito. Está anexa à


mesquita homónima. Foi fundada como escola de teologia no Califado Fatímida, (xiita)
em 988, sendo a segunda mais antiga universidade do mundo. Nacionalizada em 1960,
em 1961 disciplinas não-religiosas foram adicionados ao seu currículo tais como Medici-
na, Farmácia, Engenharia e Agricultura. Em 1962 admitiu pela primeira vez estudantes
femininas.
Fundada como um centro de aprendizagem islâmica, seus alunos estudam o Alcorão e
a lei islâmica em detalhe, sendo necessário, para admissão, saber de cor o Alcorão ou
pelo menos importantes partes dele. Foi uma das primeiras universidades do mundo, e
a única no mundo árabe a sobreviver como uma universidade moderna, incluindo temas
seculares no currículo. Hoje é o centro principal da literatura árabe e da aprendizagem
islâmica sunita no mundo.

Fonte: UNIVERSIDADE DE ALAZAR. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foun-

dation, 2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Universidade_de_Alazar&ol-

did=58352551. Acesso em: 26 maio 2020.

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 16


SAIBA MAIS

A Universidade de Bolonha é considerada uma das universidades mais antigas do mun-


do, tendo sido fundada em Bolonha, na Itália, em 1088. Constantemente é ranqueada
entre as melhores do mundo, figurando entre as Universidades de Elite Mundial. Em
2020, a Alma Mater sobe três posições e faz história ao se tornar a universidade euro-
peia mais preparada para o futuro e 6ª no ranking mundial do Times Higher Education.
Em 1364, vários teólogos começaram o ensino de Teologia. Em Bolonha passaram pe-
ríodos de estudo Dante Alighieri, Francesco Petrarca, Guido Guinizzelli, Cino da Pistoia,
Cecco d’Ascoli, Re Enzo, Salimbene de Parma e Coluccio Salutati.

Fonte: UNIVERSIDADE DE BOLONHA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Fou-

ndation, 2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Universidade_de_Bolonha&ol-

did=59050212. Acesso em: 15 ago. 2020.

REFLITA

Diante da história das universidades mais antigas do mundo em funcionamento, temos


um exemplo de ensino teológico islâmico, a Universidade de Alazar, praticamente a
mais antiga do mundo. Diante deste fato apresentado, podemos dizer que a teologia
cristã evolui?

Fonte: O autor (2021).

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 17


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final de nossa introdução à disciplina de Teologia. Nos propomos a


trazer um conteúdo simples e conceitual sobre o assunto de Introdução à Teologia e como
dissemos no início da unidade, o objetivo maior era situar você dentro do assunto, demons-
trando as possibilidades que a teologia pode lhe oferecer, além do que já era conhecido no
meio religioso.
Quando falamos da história da teologia, demonstramos como o assunto faz parte
da história da humanidade e como repercutiu e repercute nos dias atuais. A história da
teologia, na verdade, foi produzida em grande parte, fora das paredes dos templos da Idade
Antiga e Idade Média.
Vimos também que, os fundamentos teológicos e os métodos são um bom elo entre
a fé e a razão, no qual se ambos andarem juntos em sua totalidade, muitas necessidades
teológicas serão supridas e consequentemente haverá um acréscimo a crença individual
ou coletiva. O Diálogo entre Fé e Razão é mais necessário do que se imagina e é perfeita-
mente bem-vindo.
Ao falarmos de Academia e Ciência, demonstramos que a teologia não coloca um
ponto final definitivo em suas descobertas, que há níveis na teologia em que se pode focar e
trabalhar. Não é somente algo restrito ao meio eclesiástico, mas, envolve o ensino como todo.
Com a explicação sobre teologia bíblica, observamos que realmente, se desejamos
resolver conflitos no entendimento da própria palavra, precisamos de completar a exegese
bíblica com as demais áreas da teologia, assim, obteremos um resultado mais claro.
Então, essa unidade buscou ser introdutória aos eventos centrais que fizeram da
teologia uma das ciências mais praticadas no mundo e uma das mais antigas, inclusive.
Espero que você tenha absorvido o conteúdo e esteja preparado, agora, para subirmos o
nível e possamos trazer mais conceitos e métodos para nossa bagagem.

Até a Próxima Unidade!!! Shalom!!!

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 18


LEITURA COMPLEMENTAR

As mulheres e a Teologia

Entre os ramos e enfoques teológicos, encontramos um que precisa ser mencio-


nado e tem feito parte na atualidade de forma expressiva, estamos falando da Teologia
Feminista.
A proposta deste enfoque teológico é refletir acerca do espaço da mulher nas dife-
rentes áreas, social, familiar, eclesial, movimentos feministas e todo o contexto em que a
mulher possa se inserir.
Catarina Halkes, uma importante teóloga feminista holandesa, define assim:
As mulheres se tornam, pela primeira vez, concretamente, sujeito da vivência
de sua própria experiência de fé, bem como da formulação da mesma e da
reflexão sobre ela, e, portanto, da teologização (. ..) A teologia feminista é
uma teologia crítica da Libertação, que não se baseia no caráter particular
da mulher· como tal, mas em suas experiências históricas de sofrimento, em
sua opressão psíquica e sexual, em sua infantilização e sua invisibilização
estrutural em consequência do sexismo nas Igrejas e na sociedade. (. .. )
Abrange em sua reflexão sobre a fé todos os que não têm liberdade e são
considerados objetos, mas estão conscientes de que são as mulheres que,
praticamente sempre e em toda a parte, estão entre os oprimidos dos oprimi-
dos. “ (C. HALKES, 1980, citado por LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 255)

Com a proposta de uma análise crítica a teologia feminista propõe uma desconstru-
ção das posturas, e ações discriminatória do sexo feminino.
A teologia feminista realiza análise crítica, exploração construtiva e trans-
formação conceptual, colaborando assim para o florescimento da Tradição
viva da Igreja, Sua ação deconstrutora se fixa na denúncia e superação do
sexismo (atitudes, posturas, ações discriminatórias contra o sexo feminino),
principal expressão da visão androcêntrica (centrada no homem varão) que
vigora em grande parte das atuais sociedades do planeta. Fenômeno não
superficial, a discriminação contra a mulher deita suas raízes em antropologia
deficiente, patriarcal, que associa o ser humano ideal ao varão, ente do sexo
masculino. (LIBÂNIO e MURAD, 2003, p. 256-257)

É uma desconstrução para reconstruir. Como dissemos que na teologia, nem sem-
pre podemos pôr um ponto final, a teologia feminista prova isto, pois, ela promove uma
reflexão que produz frutos para um discurso teológico correto.
Já se fazem sentir os frutos da teologia feminista nas convicções e descober-
tas básicas aceitas pela comunidade teológica internacional e lentamente as-
similadas nos textos de teologia acadêmica. Assim, na Bíblia redescobrem-se
as figuras de mulheres; na dogmática, purifica-se a imagem de Deus de suas
conotações masculinas e patriarcais, pelo resgate de características mater-
nas (Deus Pai materno, ou Deus Pai-mãe) e comunitário-familiares (a Trinda-
de); na teologia moral incorpora-se a perspectiva da mulher, especialmente
no âmbito da sexualidade; na liturgia, faz-se exceler o valor de expressões
simbólicas.” (LIBÂNIO e MURAD, 2003, p. 256-257)

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 19


Sob a ótica de uma hermenêutica feminista, vemos que os avanços deste enfoque
teológico têm sido significativos e contribuído com a compreensão do papel da mulher na
sociedade como um todo.
De certa forma, podemos concluir que a teologia feminista, ainda que nova, perante
a tradição já existente, vem ocupando seu espaço de maneira significativa, não só, defen-
dendo seus interesses, mas, abrindo o leque para outras situações que envolvam homens
e mulheres e assim, a teologia feminista vai, aos poucos, conquistando seu lugar.

Fonte: LIBANIO, J. B.; MURAD, A. Introdução à Teologia. São Paulo. Loyola, 1996. p. 255-258.

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 20


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Introdução à Teologia
Autor: João Batista Libânio.
Editora: Edições Loyola, 1996.
Sinopse: O livro foi escrito em 1996 e se refere ao desenrolar do
processo teológico na história da Igreja católica. A obra possui um
caráter introdutório, portanto o método empregado pelo autor é
de introduzir os leitores em uma visão geral do modo como fazer
teologia e do modo como foi sendo feita a teologia no decorrer dos
séculos e nos últimos anos no Brasil. O objetivo deste trabalho é
apresentar uma resenha crítica da obra.

FILME/VÍDEO
Título: Santo Agostinho
Ano: 2015.
Sinopse: Filme clássico, situa-se na fase crucial do declínio do im-
pério romano e da invasão pelos Visigodos e Vândalos. O Doutor
da Igreja, Agostinho é um dos grandes nomes do cristianismo e um
dos maiores filósofos da humanidade. Aos 70 anos de idade, ele
narra a história de sua juventude, seus excessos e transgressões,
a crise existencial que o levou à conversão e a persistente ação de
sua mãe, Santa Mônica. O ator Franco Nero, interpreta Agostinho
na sua velhice, Alessadro Preziosi o recria em sua atormentada
juventude e Mônica Guerritore, a mãe de Agostinho.
Link do vídeo: https://www.paulinas.com.br/produto/santo-agosti-
nho-dvd-duplo-206-min-885

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 21


WEB

Veja o link abaixo no qual relata uma entrevista com Leonardo Boff (22.4.19) - sobre
os “Valores éticos e empatia sintetizados num ser ímpar”.

● Link do site: https://youtu.be/pwFvYJMxntc

UNIDADE I Conhecendo a Teologia 22


UNIDADE II
Teologia Católica Romana
Professor Esp. Érlon Miggliozi

Plano de Estudo:
● Teologia Católica;
● Reforma e Contrarreforma;
● Espiritualidade, Intelectualidade e Eclesialidade;
● Teologia Prática e Teologia Sistemática.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a Teologia Catolica Romana;
● Compreender seu tipo de Filosofia e Interpretações Teológicas;
● Estabelecer a importância da Teologia Catolica na compreensão do Divino.

23
INTRODUÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

Entramos na segunda unidade de nossa Introdução à Teologia e vamos participar da


história da primeira igreja cristã, consequentemente, a primeira linha teológica que surgiu,
portanto, vamos ter uma linha de tempo muito ampla, pois, as demais correntes teológicas,
as demais igrejas e as demais teologias que surgem, derivam da teologia católica, trazem
componentes e, de certa forma, surgem também em reação à mesma.
No primeiro tópico, vamos abordar a história do catolicismo, mas de uma forma
diferente, vamos iniciar no século XIV, onde a igreja começou a enfrentar oposição, conse-
quentemente, precisou se reestruturar para subsistir. Até este período da história da igreja,
o crescimento foi, de certa forma, natural. Agora, vamos falar de um crescimento exigido
sob demanda, no qual podemos dizer que é um crescimento forçado e necessário.
No segundo tópico, vamos abordar de maneira bem simples e direta o maior
desafio da Igreja Católica, a Reforma Protestante e como a Igreja contra-atacou este
movimento, posteriormente, no próximo tópico, vamos nos aprofundar mais no assunto
“Reforma Protestante” e também falar de três componentes da teologia, a Espiritualidade,
a Intelectualidade e a Eclesialidade, temas que fazem parte significativa na grade curricular
do teólogo católico.
Por fim, no último tópico, vamos falar de teologia prática e sistemática, a fim de des-
mistificar estes termos. Espero que você esteja desejoso de aprender um pouco mais da
história da Igreja, que, também, é uma disciplina muito importante dentro do seu currículo
e, agora, você terá contato com uma grande parte da principal linha da história. Não deixe
de utilizar os recursos disponibilizados em seu material, aprofunde-se mais e veja quanto é
importante a teologia para o mundo.

Um ótimo estudo e vamos juntos!!!!

UNIDADE II
I Teologia
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Católica
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Romana 24
1. TEOLOGIA CATÓLICA

1.1 Os bastidores da Igreja Católica dos Séculos XIV ao XVIII


Partindo da unidade anterior, podemos entender que a teologia surgiu em um tronco
único, ou seja, não tinha suas divisões e sua interpretação era única. A teologia foi praticada
dentro do meio filosófico e dentro da Igreja, pelos seus pensadores, de forma a resolverem
os problemas teológicos que houvessem, ou, procurar compreendê-los.
O termo “teologia” foi sendo fundamentado ao longo dos tempos e cada vez mais
utilizado, assim, após a obra de Eusébio de Cesaréia (260-340 d.C.) em sua obra “História
Eclesiástica” o uso do termo passou a ser mais utilizado, principalmente no Ocidente, e o
tornou conhecido como o primeiro historiador cristão. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 66)
Porém, vamos adiantar bem mais a frente, no ponto em que a teologia católica
precisa se fortalecer e dialogar para não sofrer rupturas e descaracterizações, foi nos sé-
culos XIV e XV que o pensamento medieval começou a desmoronar, ele atuava no campo
político-religioso e no campo do pensamento, assim, inicia um processo, em que, do tronco
teológico, surgiriam galhos e estes, após quase cinco séculos, vão produzir novos ramos.
Veja como Libânio descreve este momento:
Os séculos XIV e XV viram o lento desmonte da ideia-chave do pensamento
medieval, a saber, a “ordem universal” determinada por Deus, na qual todas
as coisas têm seu lugar. A idade moderna traz incríveis novidades, tais como:
o capitalismo mercantil com seu espírito aventureiro e conquistador, o con-
tato comercial e cultural com o Oriente, o movimento filosófico que afirma a
supremacia da razão e do indivíduo racional, as manifestações artísticas e o
humanismo renascentista. Uma avalanche de tendências desagregantes se

UNIDADE II
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Conhecendo
Católica
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Romana 25
precipita sobre a cristandade: subjetivismo e individualismo, nacionalismo,
laicismo, secularização. Elas atuam no sentido de diluir as grandes sínteses
alcançadas no plano político-religioso (o império e o papado) e no pensamen-
to (dialética e sistematização escolásticas). A teologia escolástica não assimi-
la o “ giro cartesiano” da razão, nem o individualismo emergente. A Reforma
protestante, iniciada por Lutero e seus companheiros no século XVI, golpeia
duramente a unidade católica da Europa. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 135)

Nos séculos seguintes (XVI e XVII), haverá um período de reestruturação na teolo-


gia católica, com o evento da Contrarreforma, onde, vários pensadores se levantarão para
organizar e defender os assuntos pertinentes ao catolicismo romano.
Os séculos XIV e XV viram o lento desmonte da ideia-chave do pensamento
na teologia destacam-se a Escola de Salamanca e os teólogos Jesuítas, (...)
A Teologia combativa marca estes séculos. Neste espírito, Roberto Belarmi-
no, figura notável, elabora o Catecismo romano. (LIBÂNIO e MURAD, 1996,
p. 136)

Nos séculos seguintes, o mundo passa por fortíssimas transformações culturais e


sociais e passa a sofrer ataques, agora, do sistema econômico e político global, não são
apenas lutas internas, mas, o mundo sofre revoluções que culminam com a implantação
de novos sistemas econômicos e políticos, assim, agora, a teologia precisa se guardar das
influências de uma nova sociedade.
Os séculos XVIll e XIX assistem as transformações ainda mais incisivas: a
consolidação do capitalismo, a revolução francesa e outras revoluções bur-
guesas, as mudanças radicais no modo de produção do campo e da cidade
(revolução industrial e agrícola), o advento da mentalidade urbana, o cresci-
mento da filosofia moderna com Kant, Hegel e Marx e a irrupção do movimen-
to socialista. A teologia assume posição de defesa, reafirma que o sistema
a: aristotélico-tomista constitui a única “filosofia perene”. A reflexão teológi-
ca não se deixa contaminar com as pretensiosas filosofia da modernidade.
Busca-se a restauração da velha teologia medieval com a “neoescolástica”,
que atinge seu ponto alto no Concílio Vaticano I. ao proclamar o dogma do
primado e da infalibilidade papal. A teologia, portanto, ao seguir a tendência
dominante na Igreja, nega-se a dialogar com o mundo moderno. Ao contrário,
trata de combatê-lo. evocando a nostalgia do mundo da cristandade, ainda
sobrevivente. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 136)

A teologia preponderante nesta época caracteriza-se pela submissão ao ensino, ou


seja, o magistério, o qual, torna-se a característica fundamental da Igreja neste período. É o
ensino que combate as heresias e se levanta como grande arma para eliminar os conflitos
internos na instituição Igreja. “Especializa-se nas tarefas de expor, definir, defender, provar
e confirmar a fé ortodoxa, examinar e condenar os erros. Deixe sua função de pesquisa
para se tomar exposição autoritativa da doutrina.” (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 136)
A teologia tem seu papel importante na estruturação da fé cristã e nas crenças
católicas. Segundo Libânio e Murad (1996, p.136) “Os teólogos chegam a constituir um
poder de fato na instituição da Igreja católica. Graças a eles é que o catolicismo moderno
fica marcado pela preocupação com a homogeneidade, a ortodoxia, a clareza.”

UNIDADE II
I Teologia
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É neste momento que há um crescimento excessivo da dependência teológica no
clérigo. Os primeiros beneficiários são exatamente os clérigos, os religiosos e os dioce-
sanos, os quais passam a ter a obrigatoriedade de possuir um curso teológico e, como
consequência, a formação sacerdotal sofre uma vulgarização irremediável. A teologia se
desenvolve assim, sobre em três áreas: Fundamental, Dogmática e Moral:
Na fundamental, prevalece a apologética, cujas demonstrações não visam a
suscitar a fé, mas sim a mostrar a credibilidade do testemunho dado à revela-
ção por Jesus Cristo e sua Igreja. Contra os incrédulos, funda racionalmente
a necessidade de uma religião e divindade do cristianismo católico. (LIBÂNIO
e MURAD, 1996, p. 137)

Já a teologia moral, se estrutura sobretudo a partir da lei, que é divina, natural e


positiva nos dez mandamentos. E a teologia Dogmática utiliza do método regressivo, ou
seja, partem de uma tese, remetendo-a ao ensinamento atual do magistério eclesiástico.

1.2 O renascimento da teologia católica no início do Séc. XIX


Antes de falarmos do Concílio Vaticano II, que foi um marco na mudança da teo-
logia católica, precisamos entender alguns personagens que foram preponderantes nesta
mudança, no caso, instituições.
Neste momento, surgem duas escolas, a primeira é a Escola de Tübingen, na Ale-
manha, no ano de 1817, onde a academia teológica de Württemberg incorpora à Universi-
dade como Faculdade Teológica Católica. Suas conquistas: Diálogo com o romantismo e o
idealismo alemão, busca a fusão do método especulativo, com o método histórico positivo,
compreende a Igreja como lugar de continuação da manifestação divina. Ela fez um retorno
à patrística e à escolástica.
A segunda instituição foi o Colégio Romano, que, em meio a uma derrocada na
teologia local, se sobressaiu com a crítica textual dos monumentos, os quais, com as re-
centes descobertas arqueológicas, entram, assim, em contato com a escola alemã. Libânio
e Murad (1996) traduz o sucesso destas instituições da seguinte forma:
As Escolas Romana e Tübingen emergem como exemplos significativos de
esforços renovadores empreendidos por várias instâncias teológicas. Apre-
sentam alguns pontos em comum: realizam estudos positivos, críticos e histó-
ricos. Aproveitam-se das descobertas arqueológicas. Intentem ir de encontro
ao pensamento moderno. A crítica bíblica, a ciência, das religiões e a histó-
ria dos dogmas questionam princípios da teologia reinante. A nova postura
funda-se sobre a história comparada. ao considerar o desenvolvimento do
pensamento e ao pôr em xeque a concepção fixista da Escritura e a visão
monolítica do dogma com suas verdades absolutas. Em suma, a concepção
histórica entra lentamente na teologia ameaçando desestabilizar o sistema
especulativo vigente. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 140)

UNIDADE II
I Teologia
Conhecendo
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Romana 27
1.3 O despertar da teologia católica no início do Século XX
O século XX inicia-se de uma maneira muito positiva para a Igreja Católica, Roma
e Alemanha produzem uma teologia inovadora e promissora, e então, a França começa a
produzir dicionários e revistas de grande envergadura, com estudos de exegese, patrologia,
história das religiões, dogmas e história da Igreja. O movimento neotomista desencadeado
pelo Papa Leão XIII, ganha espaço e se desenvolve.
Com o desenvolvimento da “Apologética da Imanência”, desenvolvida por M. Blon-
del, que trabalha com o perfil do homem concreto e histórico, procurando pontos de abertura
para a revelação cristã. Blondel, de certo modo está propondo uma resposta construtiva
para o modernismo. Resumindo: O método da imanência de Blondel favorece a percepção
da espiritualidade e necessidade da revelação.
Nem tudo ocorreu no mesmo ritmo, os intitulados modernistas, atingiram um pico
em suas contribuições:
O movimento “modernista”, assim chamado pela pretensão de seus protago-
nistas de adaptarem o catolicismo ao pensamento moderno, mesmo a custo
de certa descontinuidade com o ensinamento tradicional da Igreja e suas
formas institucionais, floresce na primeira década de nosso século. Faz eco
à teologia protestante liberal do final do século passado, como aparece, por
exemplo, em Schleiermacher e Sabatier. Sofre influência do agnosticismo
dos neokantianos, panteísmo e evolucionismo dos neo-hegelianos e o vitalis-
mo dos pragmáticos. Seu principal corifeu é A. Loisy (1857- 1940), professor
do Instituto Católico de Paris. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 142)

Então, o golpe fatal nos crescentes modernistas veio quando os exegetas e histo-
riadores do dogma propõem reformular o conceito de revelação e dogma, introduzindo na
igreja aspectos evolucionista, imanentistas e subjetivistas. E assim, introduzem o pensar
histórico do sujeito ao progresso, contra a rigidez dogmática da Igreja. Diz Libânio e Murad
(1996) que:
A Igreja oficial desfecha-lhe violento processo de perseguição. Pio X denomi-
na-o “suma de todas as heresias” (Dz 2105, 2114), condenando-o por meio
de dois documentos: Lamentali (Dz 2001-2065) e “Pascendi” (Dz 2071-2109),
em 1907. O primeiro, decreto pontifício, simplesmente enumera 65 afirma-
ções dos modernistas, reprovando-as e prescrevendo-as em bloco. O se-
gundo, carta encíclica, faz detalhada análise e acre juízo do movimento. A
condenação elimina não só os exageros, mas também o espírito renovador
que o movimento traz em si. Favorece desta forma a reação integrista, freia o
desenvolvimento das ciências bíblicas e de outras áreas da teologia, reforça
a fixação na teologia manualística. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 143)

Como dissemos no início de nossos estudos, não há como estudar a teologia sem
estudar a história das grandes Igrejas, no caso, vimos como funcionou o caminhar teológico
dentro da Igreja Católica. Até este momento da história, temos uma teologia que foi única
e incontestada, que passou por um embate interno, no qual surgiu o protestantismo. Pas-
sou, também, por pressão externa, através do surgimento do Iluminismo e outras filosofias

UNIDADE II
I Teologia
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Católica
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Romana 28
liberais, somadas à evolução da sociedade e o despertar para um mundo mais corporativo,
vencendo todos estes desafios, mas agora, recebe uma sentença que provoca uma pausa
em sua evolução.
Porém, nos vinte anos entre a primeira e a segunda Grande Guerra, a teologia
católica se desenvolveu sobremaneira produzindo métodos e reflexões ímpar. Em resumo,
houve um grande movimento para aproximar a teologia da espiritualidade e estes movi-
mentos envolveram os dominicanos franceses, os jesuítas, os beneditinos e os carmelitas.
A teologia, além de espiritualizada, começa a receber influência do humanismo e a
teologia observa um enfoque com mais atenção, e assim surge a preocupação da teologia
ao passar a ser com o bem-estar presente do homem.
A problemática humana começa a ser assunto de teologia. Elaboram-se es-
critos sobre a moral familiar e as relações entre Igreja e Estado, o progres-
so, as relações sociais. O humanismo cristão, sobretudo com J. Maritain,
traz novo alento à espinhosa questão do natural-sobrenatural, que subjaz
à teologia da graça. Na eclesiologia, ressaltam-se as dimensões espiritual,
sobrenatural e comunitária da Igreja, em contraposição ao juridicismo e ao
individualismo. (LIBÂNIO e MURAD, 2003, p. 144)

1.4 O Movimento Querigmático


Neste tempo, surgiu o movimento querigmático, protagonizado por um grupo de
teólogos de Innsbruck, na Áustria (J. A. Jungman, H. Rahner, J. B. Lotz), o qual, se resu-
me em estudar a teologia e desenvolvê-la para atender a necessidade dos fiéis que não
tinham capacidade de absorver os termos teológicos, assim, a teologia era estudada nos
seus termos teológicos já existentes e, também, era instruída de forma que o pregador
alcançasse a eloquência e a vivacidade da Palavra, fazendo-se de um excelente pregador
e conseguindo passar a mensagem a todos, desde o mais simples.
Então, teríamos duas teologias, a primeira, já conhecida entre os teólogos, a erudita
e a segunda teologia que era a querigmática, voltada a pregação da Palavra com ênfase no
plano salvífico de Deus na história. Utiliza-se de recursos pedagógicos na apresentação da
mensagem cristã e uma teologia mais do coração que intelectual, utiliza imagens e estilo
simples, distanciando-se muito dos manuais de teologia.
Infelizmente, o movimento se afasta muito do eixo de existência entre as teologias
propostas e inevitavelmente perde espaço.
A teologia querigmática diagnostica completamente a doença no corpo da
teologia, mas prescreve medicação equivocada. Acentua demasiadamente a
separação em duas teologias. Toda teologia deve ser simultaneamente que-
rigmática, servindo à evangelização, e científica, atenta à sistematicidade e
coerência de seu discurso. Certamente o tipo de interlocutor exige acentos di-
versos. Mas a teologia na época só conhecia um tipo de cientificidade, herdada
do tomismo. E neste momento ela não comportava abertura para a pastoral.
Mesmo assim, a teologia querigmática produz frutos benéficos, gerando reno-
vação no ensino e busca de teologia com incidência existencial, utilizável na
pregação. Alerta para a dimensão pastoral da teologia, promove também volta
às fontes da Escritura e dos Santos Padres. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 145)

UNIDADE II
I Teologia
Conhecendo
Católica
a Teologia
Romana 29
Com esta base que estudamos, podemos entender porque a teologia católica
segue como tal, de forma a entendermos que o catolicismo procura manter suas origens
e sua institucionalidade. Nos tópicos a seguir, veremos o que foi a Reforma Protestante e
entenderemos mais sobre a teologia católica também. Sugiro que você acesse o material
complementar que estamos indicando e continue a conhecer a história da teologia católica,
você estará conhecendo o momento de vários novos movimentos teológicos e de definição
da teologia católica contemporânea.

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Conhecendo
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a Teologia
Romana 30
2. REFORMA E CONTRARREFORMA

2.1 Pré-Reforma:
No Séc. XII d.C., um homem chamado por Pedro Valdo (Pedro, por ser compa-
rado ao apóstolo Pedro e Valdo, por ser um Valdez), comerciante de Lyon, na França, se
converteu ao cristianismo e ao ter contato com a Bíblia, decidiu adquirir um exemplar em
linguagem popular e passou a pregar a Palavra sem ser sacerdote. Ao mesmo tempo, re-
nunciou seu ofício e dividiu seus bens aos pobres. Os seguidores de Valdo são conhecidos
como “valdenses” e se caracterizam por não reconhecer a soberania eclesiástica de Roma,
renunciavam o culto a imagens e tinham como direito que cada fiel tivesse um exemplar das
escrituras sagradas em sua própria Língua.
No Séc. XIV d.C. tivemos outro precursor importante da Reforma, o Inglês John
Wycliffe, que defendia que a Igreja deveria retornar às origens, era contra o enriquecimento
do clero e que o poder da Igreja deveria se limitar às questões religiosas.

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Romana 31
FIGURA 1 - JOHN HUSS - MONUMENTO DE JOHN HUSS (JAN HUS), MEMORIAL NACIONAL
DE VITKOV, PRAGA, REPÚBLICA CHECA - 6 DE JUNHO DE 2017: O reformador e padre boêmio está
pregando aos guerreiros. Movimento hussitista contra igreja católica

Logo em seguida, surge João Huss, pensador tcheco, continua o pensamento de


Wycliffe e também reúne fiéis a sua causa. (GEORGE, 1993, p. 38-41). Com esta breve
introdução, demonstramos o que já havia em oposição ao catolicismo.

2.2 Reforma Protestante:


Foi no início do século XVI, um monge alemão chamado Martinho Lutero, conven-
cido das idéias dos pré-reformadores (João Huss, Wycliffe, Valdo), realizou três sermões
contra as indulgências cobradas pela Igreja Católica. No dia 31 de outubro de 1517 ele
afixou as 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg, com um convite aberto a uma
disputa escolástica sobre elas. Assim, temos o início da chamada Reforma Protestante.
(GEORGE, 1993)
Mas, primeiramente, quem foi Martinho Lutero? Vamos ver o que nos diz o Dr.
Timothy George em sua breve biografia de Lutero:
Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, filho de
um minerador de prata de classe média. Destinado para o estudo de Direito,
voltou-se para o mosteiro, no qual, após muitas lutas, desenvolveu uma nova
compreensão de Deus, da fé e da igreja. Isso o envolveu num conflito com
o papado, seguido de sua excomunhão e da fundação da Igreja Luterana, a
qual presidiu até morrer, em 1546. (GEORGE, 1993, p. 51)

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Romana 32
Martinho Lutero, condenava a avareza do paganismo na igreja, bem como, a
cobrança de indulgências, estes eram os pontos principais, embora, há outros a serem
defendidos e debatidos pelo reformador.
As 95 teses foram traduzidas para o alemão e em pouco tempo, um mês, e suas
cópias estavam por toda a Europa. Obviamente, Lutero foi processado pela igreja e em
1520 foi excomungado e exilado no Castelo de Wartburg, em Eisenach, onde permaneceu
por cerca de um ano e ali, trabalhou em traduzir a Bíblia para o alemão, a qual, em 1522,
estava sendo impressa o Novo Testamento.
Para esta unidade o que precisamos entender sobre a Reforma Protestante é o fato
que a publicação e os fatos posteriores, desencadearam uma série de movimentos contra
o clero da época, padres renunciaram seus votos de castidade, houve um movimento de
desaceleração no recebimento de indulgências. Lutero se casou e com isto, outros padres
também seguiram seu exemplo. Este ato culminou com o rompimento definitivo de Lutero
com a igreja católica romana.
Na ótica do clero católico, houve um enorme prejuízo à imagem da instituição ecle-
siástica e por alguns anos, o catolicismo procurou regenerar suas práticas.

2.3 Contrarreforma:
Este tema, neste momento, nos chama mais a atenção porque estamos falando de
teologia católica e a contrarreforma foi uma estratégia desta teologia para se defender e
buscar o apogeu que tinha anteriormente.
Então, enfim, o que é a contrarreforma? Podemos entender que foi o esforço da
Igreja Católica para conter o crescimento do protestantismo pela Europa, através de várias
ações conjuntas.
Como iniciou a contrarreforma? Iniciou-se no Concílio de Trento no ano de 1545
e durou 18 anos, indo até 1563. Foi convocado pelo papa Paulo III e dividido em três
encontros, as discussões tinham como centro o combate às heresias e o fortalecimento da
Igreja Católica.
As questões doutrinárias foram os primeiros atos a serem discutidos no Concílio,
tais como, o pecado original, sacramentos, ritualismo, papel de Maria, Jesus, entre outros,
foi mantida a infalibilidade do papa, mas, diante dos ataques protestantes, a igreja recuou
no quesito “venda de indulgências”, proibindo esta prática.
Não foram somente através de princípios que a contrarreforma ocorreu. A ação
também aconteceu na proibição da venda e leitura de certos livros, que eram contra o

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catolicismo romano. Houve a instituição da catequese, a fim, de doutrinar os membros
e a confirmação da transubstanciação, do celibato e a hierarquia clerical, também eram
imposição para os sacerdotes católicos na época e deviam ser também de conhecimento
de todo o povo.
Surgiu a Companhia de Jesus, uma importante frente de jesuítas, aptos a catequi-
zar e reciclar o ensino religioso para qualquer nação. Inácio de Loiola foi o grande fundador
dessa companhia em 1534.
Foram reativados os “Tribunais do Santo Ofício” e instaurou-se a inquisição. Nos
países em que o catolicismo perdia fortemente terreno para o protestantismo, aqueles que
faziam a opção de não serem católicos, eram julgados como hereges e queimados vivos.
(GEORGE, 1993)
Enfim, neste breve resumo sobre a contrarreforma, percebemos que, na verdade,
o movimento de defesa da teologia católica não trouxe consideráveis inovações, mas, uma
fixação das ordens católicas já existentes. De fato, o maior benefício para todos, ocorreu
por causa da Reforma Protestante, porque, com a ascensão do protestantismo, o povo foi
liberto da cobrança de indulgências.
No Brasil, os jesuítas contribuíram muito com a formação da sociedade. Eles eram
contra a escravidão indígena e práticas bizarras que poderiam ser praticadas, também,
promoveram a educação e a catequização do povo escravo.

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Romana 34
3. ESPIRITUALIDADE, INTELECTUALIDADE E ECLESIALIDADE

3.1 Espiritualidade:
A espiritualidade é a essência natural e parte integrante da teologia, ela não causa
dano ou descrédito a teologia, por abalar sua cientificidade. Libânio e Murad (1996) concei-
tua a relação de espiritualidade e teologia como algo que é necessário ao futuro teólogo:
Ao articular-se com a espiritualidade, a teologia recria, como na patrística, as
condições para ser “mistagogia”, introdução ao mistério divino. Constata-se,
com tristeza, que alunos do terceiro ou quarto ano de teologia, após estudar
tanto tempo a “doutrina sagrada”, avançaram muito pouco na vida de fé, no
seguimento a Jesus. Poder-se-ia contra-argumentar que o curso de teologia
não se destina primariamente a esta finalidade. Alimenta-se espiritualidade
no espaço eclesial, não no espaço acadêmico: seminário, casa de formação
ou grupo/pastoral dos leigos, conforme o caso. Mas a pergunta irrenunciável
permanece: como a intelecção das verdades da fé pode ajudar a sua vivên-
cia? De que forma a compreensão impulsiona o coração a entregar-se de for-
ma mais madura a Deus, e as mãos a abrir-se na causa da evangelização?”
(LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 241)

A Espiritualidade é totalmente necessária para uma teologia completa, afinal, a


teologia tem seu componente de fé, de busca pelo oculto: “Na feliz expressão de J. Sabrina,
a espiritualidade, ao incidir na teologia, muda-lhe o rosto, dá-lhe sabor, confere-lhe caracte-
rísticas ímpares: teologal, popular e dialogal (criatura!).” (LIBÂNIO e MURAD, 2003, p. 241)

3. 2 Intelectualidade:
A intelectualidade é a capacidade de fazer uma reflexão profunda de determinados
eventos, no qual diz respeito à personalidade do indivíduo, que em seus níveis de inteli-
gência, pode possuir preponderância ou se inclinar para um determinado tipo, por exemplo,

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Conhecendo
Católica
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Romana 35
podemos ter uma inteligência crítica mais forte que uma inteligência analítica, assim, nossa
intelectualidade irá refletir nos nossos resultados. Antonin Gilbert Sertillanges, escritor da
obra “A vida intelectual”, escrita em 1920, detalha como a vida intelectual influencia em uma
vocação autêntica:
Falar de vocação equivale a designar os que pretendem fazer do trabalho
intelectual a sua vida, ou porque dispõem do tempo vago para entregarem
ao estudo, ou porque, no meio de ocupações profissionais reservam para si,
como feliz suplemento e recompensa, o profundo desenvolvimento do es-
pírito. Digo profundo, para descartar uma ideia de tintura superficial. Uma
vocação não se satisfaz com leituras vagas nem com pequenos trabalhos
dispersos. Requer penetração continuidade e esforço metódico, no intuito
duma plenitude que responderá ao apelo do Espírito e aos recursos que lhe
aprouve comunicar-nos. (SERTILLANGES, 2010, p. 06)

O fundamento da vocação intelectual se manifesta primeiramente no aprender a


pensar, depois, se manifesta de realidade, com um misto de utopia e por fim, manifesta sua
lucidez de realidade, assim, o fruto é a liberdade responsável do intelecto.
A vida intelectual é uma vocação e depende do desejo em realização. A intelectua-
lidade na atualidade exige criticidade e capacidade de dialogar, assim, seu fruto pode ser
compreendido.

3.3 Eclesialidade:
A Eclesialidade nada mais é que o coletivo, o trabalhar com e em prol de um grupo.
O teólogo não caminha sozinho, ele não trabalha só e seus frutos não são para ele apenas
e a comunidade agrega a teologia, no qual precisa levar em conta as manifestações popu-
lares dos fiéis. O que os fiéis professam como verdade é critério para validar um ensino.
O teólogo precisa estar em sintonia com a comunidade e com a igreja, manter
suas origens teológicas e contrastar com a realidade vivida na comunidade em que estiver
inserido. O teólogo deve analisar o contexto do local e respeitar as crenças e verdades
professadas pelos locais. Falar de Eclesialidade é dizer que a teologia vai até o povo que
precisa da pregação da Palavra, como conceito simples.

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4. TEOLOGIA PRÁTICA E TEOLOGIA SISTEMÁTICA

4.1 Teologia Prática


A Teologia Prática nada mais é que a prática da teologia na vida cotidiana. Parece
simples, mas, o teólogo precisa saber como interagir com seu ambiente de forma a conse-
guir aplicar sua teologia quando lhe convier. Esta definição se aplica à prática individual.
E segundo o teólogo cristão Richard R. Osmer (2008), em sua obra “Teologia Prática e
introdução”, a teologia se utiliza de quatro questões que produzem quatro reações:
O que está acontecendo? Que desencadeará uma tarefa empírico-descritiva. Por
que está acontecendo? Com consequência em uma tarefa interpretativa. O que deve
acontecer? Resultando em uma tarefa normativa. E como devemos responder? Com uma
tarefa pragmática.
Porém, não é desta prática que queremos falar agora, queremos falar sobre a prática
da “ciência” teologia católica. A prática teológica no catolicismo, tem como sua ferramenta
a catequese, ou melhor especificando, a relação da Igreja com o mundo e, sendo mais,
específico ainda, como tem se desenvolvido a relação da igreja com o todo, como ela se
comunica e dialoga com as diferentes necessidades.
Para poder analisar sua ação, a teologia prática se departamentaliza, se dividindo
em áreas, as quais são analisadas, cada uma em sua ótica e necessidade. Se retornarmos
ao movimento querigmático, vamos lembrar que a preocupação que levou este movimento
a surgir foi em estabelecer uma comunicação mais simples entre a teologia e o povo.

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Assim, atualmente, a Teologia Litúrgica e a Teologia Sacramental, surgem como
disciplinas dentro da teologia prática, a fim, de analisar e dinamizar a interação dos ritos com
os seus fins e propósitos, é algo que faz todo o sentido, pois, o teólogo precisa transmitir o
que lhe é inspirado, de forma organizada e simples, trazendo uma compreensão litúrgica.

FIGURA 2 - A TEOLOGIA EM PRÁTICA - MITRAPUR, ÍNDIA - 26 DE FEVEREIRO DE 2020:


Católicos fiéis durante uma missa ao ar livre na vila de Mitrapur, Bengala Ocidental, Índia

Temos outra disciplina que é conhecida como Teologia do Direito Canônico, que
analisa os procedimentos e normas jurídicas da Igreja e viabiliza a prática dentro das nor-
mas. O direito canônico se utiliza dos mandamentos dados por Jesus a sua Igreja e ao
poder que ela exerce.
Outra interdisciplinar da teologia prática é a Teologia Pastoral, que cuida da apli-
cação dos ensinos e ações teológicas da Igreja no dia-a-dia, ou melhor, no cotidiano da
comunidade como um todo. É esta interdisciplinar que traz o dinamismo à liderança da
igreja local perante seus membros.
Por fim, temos a última interdisciplinar, a Teologia Espiritual, que trata, em resumo,
da trajetória do espírito humano em busca de atingir a perfeição e a santidade, que ocorre
em Cristo Jesus. Esta interdisciplinar se dividirá ainda em duas: ascética e mística, que são
definidas pelo objeto de estudo. A primeira tem como objeto a teoria e a prática da perfeição
cristã até o estado contemplativo e a segunda tem como objeto a própria contemplação.
(LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 226-228)
Ao entendermos este tópico sobre a prática teológica católica, vamos observar,
quando estudarmos outras correntes teológicas, que a teologia católica se apresenta bem
mais organizada neste aspecto de condução e sistematização de suas práticas ministeriais,
é um método que surgiu para que os ensinos não sofressem influências na linha de frente
da ministração da Palavra.

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4.2 Teologia Sistemática
Teologia sistemática nada mais é que um estudo “ordenado” ou “organizado” da Bíblia.
É a própria designação da palavra sistemática que quer dizer “conjunto de elementos classifica-
dos e organizados entre si segundo um ou mais critérios” (SISTEMÁTICA, 2021, online)
A teologia sistemática, parte primeiramente do que diz a Palavra sobre Revelação
e em seguida, o que a Palavra nos diz sobre Deus é e assim o que ela diz sobre Jesus e
depois sobre tudo o que Jesus fez pelo homem. Assim, fica claro que a base da sistemati-
zação é unicamente a Palavra.
Na sequência da linha de sistematização, será considerado a doutrina do homem,
do pecado, santificação, Igreja e dos finais dos tempos. Desta forma, fica claro que a
sistematização é por tema, assunto, relevância e não é uma ordem cronológica ou de
cânon, livros. Então, temos agora um horizonte aberto para sabermos onde vamos buscar
um estudo alinhado das prioridades teológicas, dentro do estudo teológico. A disciplina de
teologia sistemática se subdivide nela mesmo, mantendo a linha geral, ou seja, teremos
uma divisão em níveis: sobre a Revelação e Deus, Teologia Sistemática I, sobre o homem,
pecado... Teologia Sistemática II, e assim por diante, costumeiramente até o nível sete,
sendo sua melhor divisão:

QUADRO 1 - ORDEM DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA

Teologia Sistemática
Parte 1 - Introdução.
Parte 2 - A Doutrina de Deus.
Parte 3 - A Doutrina do Homem.
Parte 4 - As Doutrinas de Cristo e do Espírito Santo.
Parte 5 - A Doutrina da Aplicação da Redenção.
Parte 6 - A Doutrina da Igreja.
Parte 7 - A Doutrina do Futuro.
Fonte: O autor (2021).

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SAIBA MAIS

NOMES DOS PAPAS - Durante muitos séculos, os Papas eleitos utilizavam os seus no-
mes de batismo. Porém, isso mudou no ano de 533, com a eleição de Mercúrio. Como
não ficaria bem para o representante da Igreja Católica utilizar o nome de um deus pa-
gão, ele optou por mudar o seu nome e decretou que, durante o seu papado, seria cha-
mado de João II. Esse costume passou a ser utilizado pelos seus sucessores, e quase
todos os Papas mudam o seu nome desde o século X, sendo que o último a utilizar o
nome de batismo durante o pontificado foi Marcelo II, no ano de 1555.

Fonte: G1. Saiba como será escolhido o nome do novo Papa. 2013. Disponível em: http://g1.globo.com/

mundo/renuncia-sucessao-papa-bento-xvi/noticia/2013/03/saiba-como-sera-escolhido-o-nome-do-novo-

-papa.html. Acesso em: 16 set. 2021.

SAIBA MAIS

CELIBATO - Originalmente, os primeiros sacerdotes católicos não precisavam ser celi-


batários. “Isso foi sendo reconhecido como um valor importante ao longo dos séculos”,
afirma Ribeiro Neto. “Assim, entre os católicos de rito oriental (os ortodoxos), até hoje
existem padres casados.”
Por volta dos séculos 3º e 4º já existiam movimentos dentro do catolicismo propondo
que os religiosos deveriam praticar o celibato. “Mas é no primeiro e no segundo concí-
lios de Latrão, ao longo do século 12, que se estabelece a obrigatoriedade definitiva do
celibato aos clérigos católicos romanos”, relata o sociólogo. Outros concílios prévios já
mencionaram o tema, propondo a abstenção sexual de sacerdotes e proibindo o casa-
mento de monges e freiras foi proibido.

Fonte: BBC News. Quando e por que a Igreja Católica passou a impor o celibato aos padres. Disponível

em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45489668. Acesso em: 16 set. 2021.

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REFLITA

A Igreja Católica, mantém o celibato porque acredita que os padres celibatários desem-
penham suas funções religiosas melhor do que os casados, segundo os especialistas.
O que você acha e o que você diria?

Fonte: O autor (2021).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da segunda unidade de nossa Introdução à Teologia e conhece-


mos a história da primeira igreja cristã e, consequentemente, a primeira linha teológica que
surgiu. Como dissemos na introdução, essa é uma linha de tempo muito ampla, são vários
acontecimentos, portanto, nos apegamos aos principais.
E cada etapa desta história, deve ter produzido reações e frutos que não conse-
guiríamos dimensionar todos aqui, são vários pensadores que criticaram e buscaram a
melhoria do sistema religioso preponderante.
No primeiro tópico, abordamos a história do catolicismo, iniciamos de um ponto
onde a teologia já estava institucionalizada e passava a ser alvo de ataques frequentes,
tanto internos quanto externos.
No segundo tópico, falamos sobre a Reforma Protestante, talvez o maior embate
interno dentro da instituição, que, não só dividiu os clérigos, como, provocou uma reação
dentro da instituição.
No tópico terceiro, fomos um pouco mais ao sentido acadêmico da teologia católica,
pois é necessário entender que a referida corrente teológica tem seus componentes com-
pletos, a espiritualidade, a intelectualidade e a eclesialidade, entre tantas outras disciplinas
que surgiram dentro do estudo teológico.
Por fim, no último tópico, falamos sobre a prática e a academia, no qual pretende-
mos mostrar como são tratados os métodos da teologia e qual sua finalidade após o curso.
Acredito que você tenha sido bem introduzido ao tema e possa, de agora em diante,
saber como buscar mais conhecimento sobre a teologia e a Igreja Católica, sabendo que
ela contribuiu muito com o cristianismo que conhecemos e ainda, é uma corrente prepon-
derante no mundo.
Qual sua concepção sobre a teologia católica, há algo que você não compreendeu
muito bem? Busque se aprofundar mais no material de apoio.

Muito obrigado por estarmos juntos!!! Até a Próxima Unidade!!!

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LEITURA COMPLEMENTAR

RCC – Renovação Carismática Católica

Vamos trazer um texto que fala de um movimento de avivamento recente, dentro


do catolicismo, que está produzindo muitos discípulos pelo mundo afora, vamos falar como
se iniciou o movimento carismático no mundo. Este movimento é tido por muitos como um
movimento pentecostal dentro da Igreja Católica.
Incentivamos os alunos a conhecerem mais sobre o surgimento no Brasil e o des-
fecho da Igreja em Roma sobre o movimento.
O fim de semana de Duquesne:
A sociedade Chi Ro estava organizando um retiro para os estudantes da Duques-
ne, quando os dois professores, que eram conselheiros desta sociedade, sugeriram uma
modificação no tema do retiro, de “sermão da montanha” para “Atos dos Apóstolos”.
Segundo recorda Patty Mansfield, então estudante da Duquesne e participante
do retiro, “os dois professores não fizeram nenhuma referência específica ao Batismo no
Espírito Santo, mas deixaram transparecer um sentimento de antecipação e de alegria,
que era profundo”. Isso a levou, junto com outros estudantes, a ficar curiosa quanto ao que
aconteceria no retiro.
No dia 17 de fevereiro de 1967, vinte e cinco estudantes aproximadamente, acompa-
nhados pelo capelão do campus, que era um padre da ordem do Espírito Santo, dirigiram-se
para um centro de retiros chamado “The Ark and the Dove”, situado na região de North Hills, e
pertencente à Diocese de Pittsburg. Os professores orientaram o grupo para que cantassem
o hino “Veni Creator Spiritus” em cada sessão, implorando a vinda do Espírito Santo.
As palestras teriam o seu foco nos primeiros quatro capítulos dos Atos dos Após-
tolos. Na noite de sexta-feira, logo após a abertura do evento, na Capela, o instrutor con-
selheiro levantou uma imagem de Nossa Senhora em que ela está com as mãos erguidas
em atitude de oração. Ele fez uma descrição de Maria como uma mulher de fé e de oração.
Depois da meditação sobre Maria, houve um serviço de contrição e penitência.
No dia seguinte, os professores coordenadores haviam convidado Flo Dodge para
que participasse do retiro e apresentasse umas palavras aos estudantes. Sua apresenta-
ção versou sobre a realeza de Jesus Cristo e sobre o Batismo no Espírito Santo. Para mais
tarde, à noite, estava programada uma festa de aniversário para alguns dos participantes,
mas muitos dos jovens foram sentindo-se individualmente induzidos a se dirigirem para a
capela, onde experimentaram, de forma manifesta, o Batismo no Espírito Santo.

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Romana 43
No Domingo, ouviram uma palestra sobre o segundo capítulo dos Atos dos Apóstolos,
no fim do dia os estudantes se retiraram com a recomendação de lerem o livro de John Sherril,
“Eles falam outras línguas”. Durante algumas semanas após o encontro, alguns dos professores
e dos alunos da Universidade compareceram às reuniões de oração da casa de Flo Dodge, e
depois esta reunião deixou de existir. Certamente, já havia preenchido sua finalidade.
Enquanto isso, um dos professores foi a South Bend e testemunhou para um grupo
de trinta estudantes e alguns amigos a maravilha que é viver Pentecostes em nossos dias.
Estes pediram que se orasse para que recebessem o Batismo no Espírito Santo. Mais tarde,
começaram a realizar-se, regularmente, em Notre Dame, encontros católicos carismáticos
de oração, e se difundia cada vez mais a Graça do Batismo no Espírito. Duquesne, Notre
Dame, Michigan, e um número enorme de católicos têm sido batizados no Espírito Santo.

Fonte: COMSHALOM. Você sabe qual a origem da Renovação Carismática Católica? Disponí-

vel em: https://comshalom.org/a-origem-da-rcc/. Acesso em: 15 jun. 2021.

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MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental
Autor: Thomas E. Woods Júnior.
Editora: Quadrante Editora; 10ª edição (26 junho 2019).
Sinopse: Se perguntarmos a um estudante universitário o que
sabe do contributo da Igreja Católica para a sociedade, a sua res-
posta talvez se resuma a uma palavra: “opressão”, por exemplo,
ou “obscurantismo”. No entanto, essa palavra deveria ser “civiliza-
ção”. O autor destas páginas, Thomas Woods, doutorado pela Uni-
versidade de Columbia, mostra como toda a Civilização Ocidental
nasceu e se desenvolveu apoiada nos valores e ensinamentos da
Igreja Católica.

FILME/VÍDEO
Título: Dois Papas
Ano: 2020.
Sinopse: Buenos Aires, 2012. O cardeal argentino Jorge Bergoglio
(Jonathan Pryce) está decidido a pedir sua aposentadoria, devido
a divergências sobre a forma como o papa Bento XVI (Anthony
Hopkins) tem conduzido a Igreja. Com a passagem já comprada
para Roma, ele é surpreendido com o convite do próprio papa
para visitá-lo. Ao chegar, eles iniciam uma longa conversa onde
debatem não só os rumos do catolicismo, mas também afeições e
peculiaridades da personalidade de cada um.
Link do vídeo: https://www.netflix.com/br/title/80174451?sour-
ce=35

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UNIDADE III
Teologia Pentecostal
Professor Esp. Érlon Miggliozi

Plano de Estudo:
● O Movimento Pentecostal Norte Americano e Sueco;
● O Movimento Pentecostal no Brasil;
● Teologia Escandinava e Norte Americana;
● Desafios atuais da Teologia Pentecostal.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a Teologia Pentecostal.
● Compreender seu tipo de Filosofia e Interpretações Teológicas.
● Estabelecer a importância da Teologia Pentecostal na compreensão do Divino.

46
INTRODUÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

Esta é a terceira Unidade de nosso estudo da disciplina Introdução à Teologia,


vamos sair do foco da espinha dorsal da teologia clássica e vamos ter contato com sua
primeira teologia de oposição, a teologia protestante. Embora o Catolicismo tenha se di-
vidido séculos antes em Romano e Ortodoxo, esta divisão não trouxe mudanças radicais
na escola teológica e teve uma conotação de divisão mais territorial, uma separação por
região, melhor dizendo.
A teologia teve alguns questionamentos quanto aos ritos e práticas, mas, não houve
êxodo de um lado para outro. Já, neste evento que teve seu desfecho em 1517, a Reforma
Protestante, a Igreja Romana foi confrontada com uma nova teologia e, esta, exerce grande
influência até os dias atuais.
No primeiro capítulo da unidade, vamos realizar uma introdução relembrando o
período da reforma e trazendo as ideias principais que surgiram, porém, vamos dar um
salto ao movimento pentecostal, que também é uma divisão do movimento protestante,
resultante da Reforma. No segundo capítulo, vamos falar sobre as particularidades da teo-
logia pentecostal no Brasil, afinal, este movimento foi importado e posteriormente, o Brasil
tornou-se seu maior exportador e referência em sua teologia.
No terceiro capítulo, vamos tratar das raízes que geraram o movimento no Brasil,
como suas características se adaptam em solo brasileiro e como influenciou na formação
das bases da teologia. E no último capítulo, vamos falar dos desafios do pentecostalismo
nos dias atuais, trazer uma reflexão diante dos dados que identificam o maior movimento
evangélico do país.
Esperamos que você absorva um conteúdo que trará entendimento ao assunto,
lembrando, que estamos destacando apenas uma pontinha da história que trouxe muita
reflexão aos teólogos contemporâneos e há muito assunto a ser descoberto, partindo desta
nossa unidade.
Um ótimo estudo e vamos juntos!!!!

UNIDADE III Teologia Pentecostal 47


1. O MOVIMENTO PENTECOSTAL NORTE AMERICANO E SUECO

Na unidade anterior, fizemos um breve resumo do movimento protestante conheci-


do como Reforma, a fim de introduzir o contexto católico da Contrarreforma. Agora, vamos
fazer uma nova ponte, desta vez, vamos ligar a reforma ao movimento que surgiu após, o
pentecostalismo, porém, para sabermos e entendermos sobre o pentecostalismo, precisa-
mos entender a sua raiz, o protestantismo clássico, que foi iniciado lá em 1517 com Lutero.
Vamos trazer também um resumo das ideias que vigoram no protestantismo, não mais nos
referenciando ao catolicismo, mas, ao dia-a-dia da corrente teológica e alguns nomes e
acontecimentos também.

1.1 Teologia Tradicional Protestante


Protestantismo Clássico, Protestantismo Tradicional, Protestantismo Histórico,
Evangélicos de Missão ou apenas evangélicos, são as nominações que se fazem aos
grupos de protestantes que surgiram com a Reforma Protestante.
Ao contrário do que muitos possam imaginar ou conhecer, embora foi Martinho
Lutero que eclodiu a Reforma, sua Igreja, a Igreja Luterana, não seguiu juntamente com
as outras denominações que também surgiram da mesma Reforma. (TILLICH, 1988, p.
258-270)

UNIDADE III Teologia Pentecostal 48


FIGURA 1 - CRONOLOGIA DOS RAMOS DO CRISTIANISMO

Fonte: WIKIMEDIA. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cristianismo.JPG.

Acesso em: 21 set. 2021.

Como isso ocorre? Na segunda fase da Reforma Protestante, vários outros his-
toriadores e teólogos iniciam um processo de institucionalização. Foi na Reforma Suíça,
promovida por Ulrico Zuínglio, que fazia parte da primeira reforma também, mas discordava
dos luteranos, principalmente nos sacramentos (TILLICH, 1988, p. 254).
João Calvino, publica suas obras “As Institutas” e com sua ampla divulgação, agre-
ga-se a ele vários outros nomes da teologia protestante, Martin Bucer, William Farel, Zuin-
glio, Heinrich Bullinger, Pietro Martire Vermigli, Teodoro de Beza, John Knox. Assim, nasce
uma teologia reformada e leva este nome. Muitos vinculando a João Calvino, a tratam como
Calvinismo, mas, o próprio não desejava assim (COTTRET, 2010).
Neste ponto da história da Igreja, temos o Catolicismo Romano se preparando para a
Contrarreforma, o Luteranismo desfrutando de seu novo tempo e começo, a Teologia Reforma-
da ganhando corpo por toda a Europa. Para sermos mais precisos, temos então: O Catolicismo
Romano, o Catolicismo Ortodoxo, o Luteranismo e a Teologia Reformada ou Calvinista.
Agora, vamos observar um pouco sobre o que consiste a teologia reformada, o que
ela acredita e define como base de fé e, assim, descobrir o solo em que vai surgir o pente-
costalismo séculos depois. A teologia reformada está alicerçada em cinco pontos, também,
conhecidos como “Cinco Solas” e está ligada diretamente ao movimento da reforma, por-
que, vai direto aos pontos que a impulsionaram: Sola Fide, Sola Scriptura, Solus Christus,
Sola Gratia e Soli Deo Gloria. Traduzindo: Somente a Fé, Somente a Escritura, Somente
Cristo, Somente a Graça, Somente a Deus Glória (FERREIRA, 2017, p. 32). Então, estes
pontos definem a Teologia reformada diante da Teologia Católica.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 49


E o movimento calvinista vai enfrentar um outro embate, os “Arminianos”. Veja que
nem todos os ex-católicos romanos e não luteranos concordavam com os pontos colocados
pelos reformadores calvinistas. Já existiam grupos que questionavam a participação do
homem na sua salvação (estude sobre o “sinergismo” e “monergismo”), enquanto, calvi-
nistas defendiam que era Deus quem escolhia quem iria salvar, independente da vontade
humana, os sinergistas e monergistas acreditavam que o homem tinha participação ou que
pela ação do Espírito Santo, o homem poderia ser salvo. Foram várias brigas, discussões e
gerou morte, ao ponto de ser convocado um sínodo nacional em Dort, Holanda, iniciou-se
o concílio em 13 de novembro de 1618 e foram 154 reuniões até o dia 09 de maio de 1619.
Os arminianos perderam as discussões e foram considerados hereges, perderam
seus cargos eclesiástico e foram desapropriados. Certo tempo depois, Maurício de Nassau,
governador da Holanda, calvinista, morre, o poder dos calvinistas fica enfraquecido e os
arminianos conseguem retornar ao país e fundar suas igrejas. Assim, a Holanda continha
um berço arminiano que cresceu e se expandiu pelo mundo.
Mas para a teologia, quais reflexões esta disputa ocasionou? Vamos fazer uma
tabela para demonstrar a diferença entre as duas correntes:

TABELA 1 - COMPARATIVA ENTRE CALVINISMO E ARMINIANISMO

Calvinismo Arminianismo
Depravação Total A depravação é total
Expiação Limitada A Expiação destina-se a Todos
Graça Irresistível A Graça é Resistível
Eleição Incondicional A eleição é condicional
Perseverança dos Santos A segurança eterna é também condicional

Fonte: O autor (2021).

Teríamos muito o que explicar em cada um destes pontos, mas, vamos ficar por
aqui, pois seria um assunto mais extenso que vamos colocar na leitura complementar para
não sairmos do foco.
Você diria que a teologia neste ponto, se dividiu, pulverizou, cresceu, evoluiu?
ATENÇÃO: É nesse ponto que muitos alunos de teologia cometem o equívoco de dizer
que a teologia ficou humanizada e perdeu crédito para tratar sobre o divino, ou, em outras
palavras, não é de Deus. Começam a acreditar que por haver opções de pensamento, a fé
é algo produzido humanamente. Pois bem, é agora que a teologia recebe sabor, tempero.
Neste ponto de reflexão, vamos descobrir a profundidade do Plano de Salvação e a Graça
abundante de Deus para com sua criação. Quero afirmar a você algo que possa ir contra

UNIDADE III Teologia Pentecostal 50


a sua concepção até aqui: “a teologia é ciência humana, é coisa do homem”, mas, não é
por isso que Deus deixa de existir, de interagir, de se manifestar da forma que lhe convém.
A fé não para diante de problemas teológicos. Gostaria muito que você procurasse se
posicionar quanto a estes pontos, o que você acha mais correto e, digo mais, como o
catolicismo romano, catolicismo ortodoxo, o luteranismo se posicionam nestes assuntos.
Se você percebeu, a teologia sistemática já é uma boa opção para você analisar a situação,
talvez, o ponto de partida.

1.2 O Movimento Pentecostal Mundial


Saiba que o movimento pentecostal surgiu no Ocidente da América, nos Estados Uni-
dos, mas o pentecostalismo americano ainda tem influência de outras correntes teológicas.
No século XVII, na Inglaterra, surgiram um grupo de fiéis chamados Quakers, que
em oposição ao domínio católico romano, pregavam o pacifismo, a simplicidade, rejeitavam
organizações clericais, viviam separados, na pureza moral, na prática do pacifismo, da mo-
ral e da filantropia. Estes fiéis, viviam em constante zelo com a espiritualidade e a conduta
do dia-a-dia, se consagram literalmente, a fim de serem cheios do espírito Santo. Deste
grupo, imigrantes estiveram em solo americano, antes do surgimento do pentecostalismo.
(ARAÚJO, 2007, p. 586)
Dos Quaquers, surgiram os Shakers, ainda na Inglaterra, e este grupo era conhecido
pelos mesmos costumes dos Quaquers, mas, diferenciavam pela igualdade entre os sexos
e no comportamento frenético durante os cultos religiosos. Este grupo também esteve em
solo americano e foi um solo fértil para sua religião.
Vamos falar agora do Pietismo, um movimento que surgiu dentro do Luteranismo
Ortodoxo (veja como há uma diversidade de escolas teológicas até aqui). Com a expansão
do luteranismo pós reforma, as questões pessoais ficaram em segundo plano, assim, sur-
giram fiéis que insatisfeitos com esta posição, formaram um movimento, que valorizava as
experiências pessoais dos fiéis com Deus. Era o luteranismo original da reforma, mas, com
um foco no ser humano e não tanto na instituição igreja, proporcionando uma diminuição
nos credos e confissões.
O Pietismo Alemão influenciou diretamente o surgimento do Metodismo, através
de John Wesley, na Inglaterra. Os metodistas protagonizaram uma disputa, que produziu
três movimentos no solo americano, todos eles voltados à prática da santidade e busca
contínua do Espírito Santo. Vamos destacar o Movimento De Santidade, um dos grupos
que surgiu neste ínterim, por volta de 1890 e produziu grandes pregadores do Evangelho.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 51


Vamos ser mais diretos, no verão de 1896, houve um avivamento pentecostal na
Carolina do Norte, um movimento influenciado por um metodista e um batista, no qual
dizem os relatos que aproximadamente 130 pessoas foram cheias do Espírito Santo e
começaram a falar em línguas nesta época. (ARAÚJO, 2007, p. 586)
Foi na cidade de Eudora, no Kansas, que surgiu um jovem chamado Charles
Fox Parham, que pregou o Evangelho desde sua adolescência. Parham, ministrava a
santificação e realizava curas e milagres e em 1898 fundou um albergue e publicou uma
revista “Fé Apostólica”.
Chegamos a um ponto em que você vai entender como se origina a teologia pen-
tecostal. Parham fundou uma escola e seu ensino se baseava somente na Bíblia, com
ênfase na leitura do Livro de Atos dos Apóstolos, principalmente no batismo do Espírito
Santo, realizava cultos intermináveis e momentos de oração fervorosos. Foi em um destes
estudos que Parham se convenceu que a evidência do Batismo com o Espírito Santo era
falar em línguas.
Em 1905, no sul do Texas em Houston, ocorreu a grande contribuição de Parham
para o pentecostalismo e ao chegar de suas ministrações, que haviam curas instantâneas
e muitos milagres, ele fundou uma Escola Bíblica e um de seus alunos foi o então jovem
William Seymour. (ARAÚJO, 2007, p. 595)
E qual nossa percepção do que é o pentecostalismo? Podemos dizer que é um
movimento que surge da prática da Santidade, da busca pelo ser cheio do Espírito Santo,
de ter a Bíblia como único instrumento de fé e da evidência em falar em línguas e milagres,
juntamente com um culto com uma liturgia mais participativa. Fica claro que é dos movi-
mentos da igreja que a teologia se ocupa e aqui vemos claramente isto acontecendo.
O restante da história é muito rico em detalhes, vamos fazer uma pausa por aqui
para podermos tirar outras conclusões e mantermos o foco.
Haverá vários avivamentos ocorrendo no solo americano, cada um, possuirá uma
característica mais evidente. Parham, mantém contato com Seymour, seu ex-aluno, mas,
um discípulo. Porém, Seymour, tem seu ministério diferenciado de Parham em pontos que o
próprio Parham não era muito flexível. Nos anos que estavam vivendo, havia a diferença de
raças e o preconceito nos Estados Unidos, Parham era de cor branca e Seymour, de origem
negra. Isto, entre os dois, não era problema, mas, para Parham, ver negros e mulheres a
frente de uma obra eclesiástica não era admissível. Foi o que ocorreu, em 1906, Parham
visita Seymour e se depara com uma igreja avivada, com negros e mulheres exercendo
ministério sobre brancos, isto, irrita Parham e ele acaba por não mais manter contato com
Seymour. Bem, o movimento cresceu ainda mais, e a corrente teológica pentecostal já era
muito forte e expressiva nos Estados Unidos. (ARAÚJO, 2007, p. 595-607)

UNIDADE III Teologia Pentecostal 52


E o movimento pentecostal na Suécia, de onde são oriundos os missionários da
Assembleia de Deus no Brasil?
Os relatos de avivamento também seguem como os relatos americanos, porém,
nosso jovem Lewi Pethrus, foi o protagonista do avivamento sueco. Pethrus, experimentou
a mesma sede e as mesmas manifestações de Seymour. Foi um avivamento muito forte,
porém, o diferencial da influência de Pethrus no pentecostalismo, foi não se deter ao deno-
minacionalismo, ao contrário do movimento pentecostal americano, o avivamento sueco fez
de Pethrus um pastor itinerante e foi nesta caminhada que provocou as experiências dos
jovens que iriam aos Estados Unidos, e posteriormente no Brasil. (ARAÚJO, 2007, p. 574)
Como nosso foco é entender a teologia e não a história da igreja, trazer a vida de
Pethrus aqui, seria uma repetição de fatos já conhecidos, então, vamos agora para o nosso
território, o Brasil, ver como se deu o início e em que se baseia o pentecostalismo brasileiro.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 53


2. O MOVIMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL

Houve vários movimentos evangélicos no Brasil, anteriores ao ano de 1910, data


em que as manifestações pentecostais ganharam visibilidade. Tivemos as Igrejas Refor-
madas chegando antes no nosso solo. Presbiterianos, Batistas, fizeram a abertura de uma
ministração não católica em nossa nação. (ARAÚJO, 2007, p. 582)
Porém, vamos falar de um italiano que foi cheio do Espírito Santo em solo america-
no, seu nome Louis Francescon, se converteu ao presbiterianismo e passou a frequentar a
Igreja Presbiteriana Valdense. Francescon recebeu uma profecia dias depois de ser cheio
pelo Espírito Santo, onde, iria pregar a mensagem pentecostal para o povo italiano. Ele é
considerado o fundador da Assembleia de Deus na Itália. (ROLIM, 1985, p. 36)

FIGURA 2 - LOUIS FRANCESCON - CARTÃO DE IMIGRAÇÃO BRASILEIRO

Fonte: WIKIMEDIA. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Louis_Francescon_Brazilian_im-


migration_card_1947.jpg. Acesso em: 21 set. 2021.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 54


Francescon, é o responsável pela primeira igreja pentecostal do Brasil, (1910) a
Congregação Cristã do Brasil, que depois trocou de nome para Congregação Cristã no
Brasil. Antes, Francescon fundou várias igrejas nos Estados Unidos, todas igrejas Ítalo-
-americanas, também, viajaram para a Argentina e fundou a Igreja Cristã Pentecostal da
Argentina. (ARAÚJO, 2007).
O que precisamos saber é que a motivação e a bagagem trazida por Francescon
são oriundas do mesmo pentecostalismo americano que conhecemos anteriormente.
Neste mesmo ano, desembarcaram em Belém do Pará, os fundadores da atual
Igreja Assembleia de Deus no Brasil, mas, que iniciou com o nome do ministério de Sey-
mour, Missão Fé Apostólica e, seis anos após, adotou o nome que é até hoje.
O que precisamos saber sobre os dois assembleianos, é que eles enfrentaram
muitas dificuldades no Brasil, barreira de idioma, adaptação cultural. A maior dificuldade
que tiveram ocorreu dentro da igreja batista, onde frequentaram. Em um trabalho, um jovem
começou a falar em línguas e os motivadores foram os suecos, que haviam ministrado ao
jovem. Qual foi a repercussão? A igreja batista era ortodoxa e eles foram expulsos junta-
mente com mais 18 jovens no dia 13 de junho de 1911 e no dia 18 de junho de 1911 surgiu
a segunda igreja pentecostal no Brasil, a Missão Fé Apostólica. (MORAES, 2014, p. 17)
Qual a teologia pentecostal no Brasil? Deixando a história, agora, vamos entender
o pentecostalismo como um todo, inclusive, como ele é no Brasil.
Respondendo à pergunta, a teologia pentecostal é fundamenta na Palavra de
Deus, a Bíblia, é histórica, e mantém o pensamento teológico dos reformadores quanto às
doutrinas cardeais da fé cristã (Salvação, Batismo com o Espírito Santo, Cura Divina e a
Segunda Vinda de Jesus Cristo). Ela enfatiza a doutrina do Espírito Santo (pneumatologia).
A teologia pentecostal dá ênfase às experiências pessoais do cristão, que podem
ser fundamentadas na Palavra de Deus. Segundo Antônio Gilberto (GILBERTO, 2008, p.
52), a teologia pentecostal serviu para a contenção de heresias a respeito da doutrina do
Espírito Santo:
Os pentecostais resgataram a com unhão com o Cristo vivo, ressuscitado,
como nos tempos do Novo Testamento. A batalha contra os liberais, os avan-
ços nos estudos sobre o Espírito Santo e os seus dons, com as suas ma-
nifestações nos cultos e na vida pessoal de cada crente, são as principais
contribuições do pentecostalismo na construção do pensamento teológico do
século XX.

Com a doutrina do Espírito Santo sendo enfatizada no meio pentecostal, atitudes


heréticas eram identificadas e repreendidas ao longo da história da igreja pentecostal.
Como, então, se resumem as crenças principais do pentecostalismo?

UNIDADE III Teologia Pentecostal 55


Sobre a Salvação (Soteriologia), os pentecostais creem que é uma transformação
espiritual milagrosa, operada na alma e no caráter de toda a pessoa que professa Cristo
como seu único e suficiente Salvador. Gilberto (2008, p. 334), cita a salvação como algo
bem mais abrangente e definido:
Não se trata apenas de livramento da condenação do inferno; a salvação
abarca todos os atos e processos redentores, bem como transformadores da
parte de Deus para com o ser humano e o mundo (isto é, a criação), através
de Jesus Cristo, nesta vida e na outra “Rm I3 ; Hb 7.25; 2 Co 3.18; Ef 3.19”.

A soteriologia pentecostal é, geralmente, mais arminiano que calvinista. No pente-


costalismo, a fé e o arrependimento são necessários para a salvação e precisam de uma
continuidade. No calvinismo, uma vez que a salvação encontra o homem, este é salvo por
definitivo, já para o pentecostalismo que é arminiano neste quesito, a salvação precisa ser
conquistada continuamente.
E sobre o Batismo com o Espírito Santo? Como vimos na história da Igreja Pente-
costal, este quesito é fundamental na prática pentecostal e pelo que podemos observar, o
referido batismo ocorre através de um processo de busca incessante de santidade, uma
vida de oração e comunhão espiritual. É tido como o prêmio de algo que se deseja arden-
temente. O pentecostal não tem como sua preocupação primeira a instituição eclesiástica,
os ritos, a teologia crítica, ele busca a completude do Espírito em sua vida, que é fonte de
poder, de Graça, algo que realmente completa a relação Deus-Homem.
O que é o batismo com o Espírito. É um revestimento e derramamento de
poder do Alto, com a evidência física inicial de línguas estranhas, conforme
o Espírito Santo concede, pela instrumentalidade do Senhor Jesus, para o
ingresso do crente numa vida de mais profunda adoração e eficiente serviço
para Deus “Lc 24.49; At 1.8;10.46.1 Co 14.15,26”. (GILBERTO, 2008, p. 191)

Assim, vemos que para o pentecostal, há uma evidência do encher-se no Espírito,


primeiramente o manifesto que é o Dom de falar em línguas estranhas e consequentemen-
te, uma vida transformada.
Os pentecostais não restringem os recebimentos dos Dons apenas no período dos
Apóstolos e no dia de pentecostes. Nesse sentido, eles são “continuacionistas”, que creem
que todos os Dons do Espírito que se manifestaram na igreja primitiva, continuam até os
dias de hoje e são necessários para a igreja.
As línguas estranhas são apresentadas, também, como um dos dons do Es-
pírito Santo (I Co 12.10,30). Quando comparamos as passagens de Atos 2.17
e 19.6, vemos que os dons espirituais podem ser concedidos por Deus no
momento do batismo com o Espírito. Como foi o seu batismo? Como você foi
ensinado sobre essas coisas da Bíblia? (GILBERTO, 2008, p. 184)

UNIDADE III Teologia Pentecostal 56


Dessa maneira, se ao receber o batismo com o Espírito Santo a pessoa recebe
os Dons, embasando o crer pentecostal, pois hoje pessoas são batizadas ainda. Quanto à
profecia, para os pentecostais, não há problema em ter a Bíblia como única regra de fé, a
Sola Scriptura, mas, como ocorre com os Dons do Espírito Santo, também, os profetas são
levantados nos dias atuais. Para o pentecostalismo, ainda estamos no contexto do Livro de
Atos, porém, em tempos mais adiantados.
A palavra “profecia”, tem duplo sentido, primeiro são as profecias bíblicas e históri-
cas, que estão relatadas e eram específicas para o povo de Deus ou a quem Deus quisesse
revelar. Segundo a profecia que é revelada nos dias atuais é tida como uma “manifestação
espontânea da Graça de Deus” e pode ser dada por aquele a quem o Espírito Santo deseje
usar. Também faz parte do continuacionismo.
Uma das características da dispensação da graça é o fato de Deus se comu-
nicar com cada crente de modo individual, independentemente de sexo ou
faixa etária — por meio de sonhos, visões, profecias e até pequenas coisas
naturais do dia-a-dia “cf. At 2.17,18”. (GILBERTO, 2008, p. 52)

No meio pentecostal é muito comum Deus usar pessoas para profetizar para outras,
é o ato de manifestação voluntária do Espírito Santo no meio de seu povo. Foi assim que
Francescon, Daniel Berguer e outros evangelistas ocuparam seus lugares e deram sua
contribuição, através do recebimento de profecias.
Sobre o Dom de Línguas (Glossolalia - Xenoglossia) há dois tipos de dons de lín-
gua, um o qual o indivíduo expressa sons inteligíveis (a chamada língua dos anjos), que
parecem ter sons e dialetos e formas diferentes, nem sempre são iguais e o dom em falar
línguas que existem, mas, o próprio indivíduo não as domina. É como se um brasileiro que
não sabe japonês, em instantes dominasse essa língua sem nunca jamais ter estudado.
Operação Milagres é outra manifestação no meio pentecostal que tem forte partici-
pação na identidade pentecostal é o Dom de Cura e de Milagres, também está ligado aos
dons experimentados pelos apóstolos e que continuam na igreja. Mas, por que estes dons
são manifestos e qual a relação com a fé?
No original, os dois termos que designam este dom estão no plural: “opera-
ções de maravilhas”. São operações de milagres extraordinários, surpreen-
dentes, pasmosos; prodígios espantosos pelo poder de Deus, para despertar
e converter incrédulos, céticos, oponentes, crentes duvidosos. “Leia João 6;
Atos 8.6,13; 19.11; e Josué 10.12-14”. (GILBERTO, 2008, p. 198)

Com essa explicação acerca dos Dons de milagre, concluímos que na teologia
pentecostal, todas as manifestações concorrem para trazer o homem para a presença de
Deus, reconhecer a soberania divina e dar continuidade a “segurança do crente”, uma
doutrina arminiana que defende que os crentes estão seguros no relacionamento com Deus
enquanto estiverem perseverantes na fé.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 57


Outra característica que está na linha pentecostal é a liberdade de expressão nos
cultos e a manifestação independente de ordem litúrgica, estamos falando sobre manifes-
tações conhecidas como dançar no Espírito, ser arrebatado, ter visões.
Não vamos entrar em detalhes sobre outras características pentecostais, como o
usos e costumes, por exemplo, pois são características que têm a mesma finalidade das
demais práticas, abdicar daquilo que é padrão e tendência do mundo atual, que, muitas
vezes não leva em conta padrões morais e podem prejudicar a relação do homem com o
Espírito Santo.
Com este breve capítulo, procuramos dimensionar o que consiste a teologia pente-
costal e como esta linha teológica está presente, tanto no Brasil, como no mundo.
Há diferenciação entre o pentecostalismo do Brasil, para o mundo? Não e sim. Os
princípios são geralmente os mesmos, mas, alguns ritos de santidade e formas de se obter
a ação do Espírito Santo, podem variar, mas, em suma, todos se resumem em busca e
aperfeiçoamento no Espírito Santo.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 58


3. TEOLOGIA ESCANDINÁVIA E NORTE AMERICANA

Sabemos que o movimento pentecostal é um movimento multifacetado, mas,


precisamos identificar suas principais influências a fim de defini-lo o melhor possível. Já
falamos sobre o pietismo alemão, que influenciou americanos e suecos. Sobre a influência
de grupos norte-americanos e suecos (escandinavos) no pentecostalismo brasileiro, agora,
vamos definir melhor o que cada grupo influenciou no estilo pentecostal aqui no Brasil.
(ARAÚJO, 2007, p. 560)
Até meados de 1920, as duas influências não eram tão evidentes, porque estavam
sendo lançadas as bases da igreja pentecostal ainda, em grande ascendência, a Assembleia
de Deus. Destes anos até a década de 1950, a influência era total sueca, pois, estavam
sob controle direto de Daniel Berguer e Gunnar Vingren, com o retorno de Vingren para
a Suécia, em 1930, outro sueco assumiu a liderança da denominação. Samuel Nyström,
foi de suma importância para a denominação. Sueco, era um nome fortíssimo na teologia
pentecostal. Nas convenções da denominação, ele era quem trazia as decisões teológicas,
era excelente orador e escritor, chegou a produzir um livro que vendeu mais de 5.000 exem-
plares em uma época que não se tinha muito hábito de ler livros. Isso demonstra a sede de
conhecimento que estava no povo assembleiano da época. (ARAÚJO, 2007, p. 562)
A grande diferença entre as duas tradições, escandinava e norte-americana, estava
no estudo teológico. Os escandinavos eram mais práticos, voltados para a obra expan-
sionista, pregação bíblica. Já os americanos eram mais voltados aos estudos exegéticos,
seminários, estudo contínuo e minucioso das Escrituras, produção de material teológico,
inclusive, foram eles que blindaram o pentecostalismo brasileiro das heresias.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 59


Esta diferença provocava algo ainda maior. Para se formar obreiros nas primei-
ras décadas sob a liderança escandinava, eram realizados seminários intensivos de três
meses apenas e era visada mais a questão prática. Já na década de 1950 em diante, os
americanos intensificaram mais o estudo teológico e exigiram mais da formação de seus
obreiros, assim, eram necessários mais estudo e tempo para formar novos obreiros. Com
esta mudança, logo percebia-se uma clara diferença entre os obreiros, os suecos eram
mais abertos, voltados para a prática e os americanos mais sistemáticos, metódicos.
Podemos dizer que, os suecos trabalharam o alicerce e os americanos contribuí-
ram com o corpo do pentecostalismo brasileiro. (ARAÚJO, 2007, p. 562). Desta forma,
entendemos mesmo que superficialmente, as diretrizes da educação teológica pentecostal
no Brasil. Sugerimos a leitura de biografias, como, a de Samuel Nyström, Daniel Berguer e
Gunnar Vingren, Lawrence Olson e Raymond Calson. São nomes que contribuíram com a
teologia pentecostal no Brasil e trazem mais casos ocorridos na construção da identidade
teológica deste movimento.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 60


4. DESAFIOS ATUAIS DA TEOLOGIA PENTECOSTAL

São mais de cem anos de pentecostalismo no Brasil. A maior igreja pentecostal do


mundo é brasileira e o maior percentual dentro do grupo evangélico são os pentecostais.
Estes dados são dados pelo Censo do IBGE no ano de 2012 e de lá para cá, não mudou
significativamente, pelo menos, informalmente, pois, não tivemos outro censo mais recente.
Gostaria de chamar a atenção para dois comentários que estão no site do IBGE e
que falam sobre os pentecostais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2012, online) no qual diz que: “(...) evangélicos pentecostais (6,2%) são os grupos com as
maiores proporções de pessoas de 15 anos ou mais de idade sem instrução (...)” E “Mais
de 60% dos evangélicos pentecostais recebem até 1 salário mínimo...são os evangélicos
pentecostais o grupo com a maior proporção de pessoas nessa classe de rendimento
(63,7%) (...)”
Diante dos dados obtidos pelo IBGE, gostaria de demonstrar de uma forma indireta
os maiores desafios dos pentecostais no Brasil. Creio, que renda e educação sejam alvo
de todos os brasileiros e que os pentecostais não são diferentes também. Mas, esta é a
resposta ao nos perguntar qual o maior desafio, tornar-se atraente para outras classes
sociais? Abranger níveis maiores na pirâmide social?
Não estamos falando de algo discriminatório, apenas utilizando números e dados
que são reais para nós. Acredito que, frente ao crescimento expressivo e, sem dúvida,
especial dos pentecostais no Brasil com todo o mérito que são deles, se há um desafio além

UNIDADE III Teologia Pentecostal 61


do espiritual, o social, e pode estar sendo desvendado. Renda e educação são desafio em
quase todas as economias e pode estar vinculado a influência externa. Então qual a saída?
Talvez seguir para o caminho da criação de escolas seculares, gerando emprego além do
conhecimento.
Destacamos então a Fala do Doutor Ricardo Marinho (2010) em seu artigo na
edição 329 da Revista do Instituto Humanitas Unisinos :
Depois de um século de presença no país, o pentecostalismo prossegue
crescendo majoritariamente na base da pirâmide social, isto é, na pobreza.
Embora contenha um contingente de classe média, recruta a maioria de seus
adeptos entre os pobres das periferias urbanas. Um de seus principais de-
safios, portanto, consiste em tornar-se atraente para as classes médias e
mais escolarizadas. Nesse terreno, porém, enfrenta uma série de adversários
religiosos mais bem-sucedidos, uma vez que as preferências religiosas das
classes médias recaem sobre o catolicismo, o kardecismo, o protestantismo
histórico, o esoterismo, entre outras. Sua estreita base social circunscrita às
classes populares faz com que o pentecostalismo, não obstante sua vertigi-
nosa expansão numérica e seu crescente poder político e midiático, mante-
nha-se numa posição claramente subordinada no campo religioso brasileiro.
Seu baixo prestígio social deriva igualmente de seu relativo sectarismo e de
sua crença na posse exclusiva do monopólio dos bens de salvação ou da
verdade divina. Modos de ser e de pensar que se chocam com traços básicos
da modernidade. (MARINHO, 2010, p.5-7)

São palavras que despertam a teologia pentecostal a contribuir com a mudança


de um paradigma, um modelo que está sendo desenhado nas últimas décadas. Cabe a
teologia pentecostal cooperar com discernimento e enfrentamento dos desafios.
Com exceção das denominações que priorizam o evangelismo de massas
e realizam cultos em grandes catedrais (...), as igrejas pentecostais tendem
a formar comunidades religiosas relativamente estáveis e pequenas. Isto é,
elas são compostas por congregações e pequenos templos em que todos se
conhecem, residem no mesmo bairro e compartilham coletivamente crenças,
saberes, práticas, emoções, valores, os mesmos modos e estilos de vida,
moralidade e posição de classe. (...) São laços gerados por meio do contato
pessoal, de relações face a face, estabelecidas em frequentes e sistemáticas
reuniões coletivas realizadas semanalmente, ano após ano. Eles tendem, as-
sim, a formar relações fraternais de amizade, de confiança mútua e também
de solidariedade com os ‘irmãos necessitados’”. A definição é do sociólogo
Ricardo Mariano. Na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line, ele
entende que “depois de um século de presença no país, o pentecostalismo
prossegue crescendo majoritariamente na base da pirâmide social, isto é, na
pobreza”. Na sua visão, o baixo prestígio social do pentecostalismo deriva
“de seu relativo sectarismo e de sua crença na posse exclusiva do monopólio
dos bens de salvação ou da verdade divina. Modos de ser e de pensar que se
chocam com traços básicos da modernidade. (MARINHO, 2010, p. 05)

Quando falamos de desafio, temos áreas a definir e cremos que podemos dizer
que está sendo exemplar a área espiritual, ficando o desafio maior na área material, onde,
a conquista de novos níveis sociais seja o alvo para os próximos anos.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 62


SAIBA MAIS

CONTROVÉRSIA QUINQUARTICULAR - É um termo usado para se referir puramente


aos confrontos teológicos calvinista-arminiano do período de 1609 até 1618, uma época
em que o debate tinha sérias conotações políticas na Holanda. Quinquarticular, quer
dizer, “ter a ver com cinco pontos” e se refere aos pontos de discórdia levantados pelo
partido arminiano em sua publicação de os cinco artigos da remonstrância em 1610.
Estas foram rejeitadas pelo Sínodo nos Cânones de Dort, que é em essência o que se
conhece como os cinco pontos do calvinismo.
A controvérsia marcou a transformação do movimento arminiano para uma organização
eclesiástica separada e perseguida na Holanda. Para os arminianos, foi o início de uma
total perseguição após a imposição do decreto, enquanto que para os calvinistas isso
resultou no estabelecimento de pontos claros sobre as doutrinas que foram iniciadas por
João Calvino e esclarecidas por Teodoro de Beza.

Fonte: História do Debate Calvinista–Arminiano. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia

Foundation, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Hist%C3%B3ria_do_deba-

te_calvinista%E2%80%93arminiano&oldid=61342571. Acesso em: 8 jun. 2021.

SAIBA MAIS

A CONFISSÃO DE WESTMINSTER - Foi produzida pela Assembleia de Westminster,


convocada pelo Parlamento inglês em 1643, durante a Guerra Civil Inglesa. A Assem-
bleia de Westminster (1643-1649) constituiu o ponto culminante da elaboração confes-
sional reformada. Os documentos teológicos que dela resultaram, a Confissão de Fé e
os Catecismos Maior e Breve, tornaram-se os padrões doutrinários mais aceitos pelos
reformados ao redor do mundo. Na década de 1640, os puritanos ganharam o controle
do Parlamento inglês e entraram em guerra contra o rei Carlos I, que queria manter o
sistema episcopal. Esse Parlamento calvinista convocou a Assembleia de Westminster,
que se reuniu na famosa abadia de Westminster. Seus integrantes foram cerca de 120
ministros puritanos, ao lado de uns poucos, mais influentes, presbiterianos escoceses.
Após extensos debates, o texto da confissão foi concluído no final de 1646.

FONTE: Confissão de fé de Westminster. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Founda-

tion, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Confiss%C3%A3o_de_F%C3%A9_

de_Westminster&oldid=61550746. Acesso em: 06 jul. 2021.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 63


REFLITA

Você ouviu muito a palavra “divisão”. Você acredita que novas linhas de pensamento
teológico, estão dividindo ou multiplicando a abrangência o “Reino de Deus”? Isso tam-
bém é teologia.

Fonte: O autor (2021).

REFLITA

Até este ponto do seu estudo de Introdução à Teologia, você consegue identificar uma
teologia totalmente brasileira?

Fonte: O autor (2021).

UNIDADE III Teologia Pentecostal 64


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desta Unidade, podemos estar certos que já conhecemos o principal sobre
a Igreja Histórica, sua espinha dorsal, como surgiu a reflexão teológica e como ela seguiu
até os dias atuais. Vamos falar na próxima unidade sobre os mais recentes movimentos
teológicos que surgiram mais recentemente, mas para você poder fechar o raciocínio com
todas as correntes que gerar movimentos significativos na história teológica cristã, o con-
teúdo desta unidade explica muito, inclusive, sobre a realidade no Brasil.
No capítulo de número um, fizemos uma ligação entre o evento que provocou
uma ruptura no clero católico romano e o surgimento de uma teologia menos institucional,
deixamos claro que quando ocorreu a Reforma Protestante, não houve só um pensa-
mento teológico que surgiu, o próprio movimento reformador precisou contemplar uma
pluralidade em seu meio.
Fizemos a menção de um crescimento muito expressivo da teologia pentecostal no
Brasil, inclusive, é o maior movimento evangélico no nosso solo. Demonstramos como as
correntes escandinava e norte-americana trouxeram suas culturas dentro da teologia pen-
tecostal e quais são as suas contribuições para o movimento. E também falamos de como
o pentecostalismo brasileiro está depois de cem anos de existência, dos seus desafios e de
uma linha de crescimento.
Esperamos que você possa ter emergido neste contexto pentecostal e adquirido
o conhecimento para poder se localizar ao se deparar com alguma prática teológica que
precise ser interpretada. Hoje, diante daquilo que você estudou, se você é cristão, você
poderia dizer que sua comunidade eclesiástica segue qual linha teológica? Luterana, Ca-
tólica Romana, Evangélica Tradicional, Evangélica Pentecostal? Se você não pertencer a
nenhuma delas, tudo bem, talvez você esteja em uma ramificação, mas, você saberia dizer
qual foi a raiz teológica mais próxima.
Se você ainda está em dúvida, convido você para a próxima unidade, que vamos
estudar o Neopentecostalismo e revisar alguns pontos importantes daquilo que já estudamos.

Até a Próxima Unidade!!!

UNIDADE III Teologia Pentecostal 65


LEITURA COMPLEMENTAR

Arminianismo

Arminianismo, um movimento teológico no Cristianismo Protestante que surgiu


como uma reação liberal à doutrina calvinista da predestinação. O movimento começou no
início do século 17 e afirmou que a soberania de Deus e humana o livre arbítrio é compatível.
O movimento foi nomeado em homenagem a Jacobus Arminius, um teólogo refor-
mado holandês da Universidade de Leiden (1603–1609) que se envolveu em um debate
altamente divulgado com seu colega Franciscus Gomarus, um calvinista rígido, a respeito
da interpretação calvinista dos decretos divinos a respeito da eleição e reprovação. Para
Arminius, a vontade de Deus como amor incessante foi o iniciador e árbitro determinante
do destino humano. O movimento que ficou conhecido como “O Arminianismo”, no entanto,
tendia a ser mais liberal do que Arminius.
O arminianismo holandês foi originalmente articulado no Remonstrance (1610),
uma declaração teológica assinada por 45 ministros e submetida aos Estados Gerais ho-
landeses. O Sínodo de Dort (1618–19) foi convocado pelos Estados Gerais para aprovar
a Remonstrância. Os cinco pontos da Remonstrância afirmam que: (1) a eleição (e conde-
nação no Dia do Juízo) foi condicionada pela fé racional (ou não-fé) de cada pessoa; (2) A
expiação , embora qualitativamente adequada para todos os humanos, era eficaz apenas
para a pessoa de fé; (3) sem a ajuda do Espírito Santo , nenhuma pessoa é capaz de
responder à vontade de Deus; (4) a graça não é irresistível; e (5) os crentes são capazes
de resistir ao pecado, mas não estão além da possibilidade de cair em desgraça. O ponto
crucial do Arminianismo Remonstrante reside na afirmação de que a dignidade humana
requer uma liberdade de vontade intacta.
Os remonstrantes holandeses foram condenados pelo Sínodo de Dort e sofreram
perseguição política por um tempo, mas em 1630 eles foram legalmente tolerados. Eles
continuaram a afirmar tendências liberalizantes eficazes na teologia protestante holandesa.
No século 18, John Wesley foi influenciado pelo Arminianismo. Na revista Arminian,
editada por ele, ele afirmou que “Deus deseja que todos os homens sejam salvos, falando
a verdade em amor”. O Arminianismo foi uma influência importante no Metodismo, que se
desenvolveu a partir do movimento Wesleyano. Uma versão ainda mais liberal do Arminia-
nismo entrou na construção do Unitarismo Americano.

Fonte: ENCICLOPÉDIA Britânica. Arminianismo. Disponível em: https://www.britannica.com/

topic/Arminianism. Acesso em: 17 set. 2021.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 66


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Teologia Sistemática - Introdução à Teologia - A Bíblia.
Deus. A criação.
Autor: Norman Geisler.
Editora: CPAD.
Sinopse: Através de uma abordagem filosófica você obterá o
conhecimento necessário sobre as principais doutrinas do Cristia-
nismo.

FILME/VÍDEO
Título: ESPERO-VOS DOMINGO (COME SUNDAY)
Ano: 2018.
Sinopse: Uma crise de fé leva o pastor Carlton Pearson a trilhar
um novo caminho espiritual que coloca em risco tudo que lhe é
mais sagrado.
Link do vídeo: https://www.netflix.com/br/title/80152625.

UNIDADE III Teologia Pentecostal 67


WEB

Caros alunos, a seguir temos o link de um vídeo no qual aborda sobre a “Reconsti-
tuição da Chegada dos Missionários”.
• Link do site: https://youtu.be/8MlxpTC2gsg

UNIDADE III Teologia Pentecostal 68


UNIDADE IV
Práticas Teológicas
Professor Esp. Érlon Miggliozi

Plano de Estudo:
● Teologia Neopentecostal;
● Tradição;
● Teologia Fundamental, Dogmática e Moral;
● Teologia Moderna.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a Teologia Neopentecostal.
● Compreender os tipos Grupos de Disciplinas Teológicas Acadêmicas Básicas.
● Estabelecer a importância da Tradição e da Teologia Moderna.

69
INTRODUÇÃO

Caro(a) Aluno(a),

Chegamos a quarta e última Unidade de nosso estudo da disciplina Introdução à Teo-


logia, esta unidade vem consolidar a parte introdutória da Teologia, como disciplina acadêmica.
Após as disciplinas introdutórias e de conteúdo bíblico, ético e moral e acadêmico, agora vamos
ser apresentados à primeira matéria, que de fato, representa o curso e seu propósito.
De uma forma direta, demonstraremos como o conteúdo teológico é formado na
história da Igreja, através dos acontecimentos que culminaram em eventos históricos reli-
giosos de grande significado.
Logo no primeiro capítulo tratamos do Neopentecostalismo, um movimento no qual
tem sua teologia definida e sua posição em destaque, porque trata-se do movimento que
mais cresce no Brasil e é constante alvo de reflexões na teologia. Falar sobre neopen-
tecostalismo é falar de um fato e uma tendência, mas igualmente foram os movimentos
anteriores, este, poderá dar origens a outras linhas teológicas?
Posteriormente, no segundo capítulo, trataremos sobre a chamada “Tradição”. Tan-
to para católicos e protestantes, também é um ponto de teologias e identidade. A Tradição
é um objeto que acompanha paralelamente a Palavra de Deus, é mais que um simples
capítulo contínuo da história da Igreja, nesse ponto que a teologia clássica e a teologia
contemporânea buscam falar sobre a Revelação. Tradição
No terceiro capítulo, vamos tratar de três blocos de disciplinas acadêmicas que
necessariamente devem se formar em sua grade curricular. A Teologia Fundamental, Dog-
mática e Moral, trazem os princípios para a formação do conteúdo teológico.
E finalmente, vamos falar sobre a Teologia moderna e nos inclinar mais para a
tendência de assuntos e conflitos que podem surgir em meio às mudanças sócio-políticas
mundiais, embora, os grandes movimentos religiosos de hoje, surgiram pequenos e em
locais normais e assumiram grandes proporções.

Lembre-se: “É só Introdução à Teologia”.Um ótimo estudo e vamos juntos!!!!

UNIDADE IV Práticas Teológicas 70


1. TEOLOGIA NEOPENTECOSTAL

Muito bem, chegamos ao movimento contemporâneo da teologia, sua ramificação


teológica expressiva mais nova (1970). Vamos falar agora sobre o neopentecostalismo ou
terceira onda do pentecostalismo.
Neopentecostalismo quer dizer um “novo pentecostes”, mas, na sua questão de
interpretação, não quer dizer sobre um novo derramamento do Espírito Santo e tampouco,
uma nova ação milagrosa, antes não revelada, ou um novo “dom” do Espírito inédito. (MA-
RIANO, 1999)
Talvez você se pergunte também por que a terceira onda do pentecostalismo. A
primeira foi o movimento relatado no Livro de Atos, capítulo de número dois e a segunda
onda, foi o pentecostalismo “tradicional” ou “clássico” que vimos na unidade anterior. Note,
que a onda produz movimento, portanto, a terceira onda (que produz o movimento) do
neopentecostalismo é a onda do momento, ou seja, é o mais novo movimento teológico.
É importante dizer que, esta onda não deixa de ter bases bíblicas, portanto, não
tenha como neopentecostalismo, as teologias liberais (liberais porque se usam de outros
princípios também) como: teologia feminista, teologia liberal, entre outras. Vamos entender
um pouco mais sobre esta teologia.
O que se define como característica teológica o neopentecostalismo? Lembrem-se
que trouxemos um tópico na unidade anterior falando sobre os desafios dos pentecostais
no Brasil? Cremos que na metade da década de 1970, isso já havia sido pensado. O novo

UNIDADE IV Práticas Teológicas 71


pentecostalismo, difere do pentecostalismo clássico no aspecto da santidade, pois rejeita
as práticas de usos e costumes e tem seu foco na prosperidade dos seus adeptos, ou
seja, os bens terrenos são sinal de comunhão com Deus. A ideia de raiz petista, em que o
homem deixa as coisas do mundo para se separar para que Deus derrame o seu Espírito
de forma a manifestar poder e criar mais intimidade com o homem, no novo pentecostes
não é assim:
No plano teológico neopentecostal, caracterizam-se por enfatizar a guerra
espiritual contra o Diabo e seus representantes na terra, por pregar a Teologia
da Prosperidade, difusora da crença de que o cristão deve ser próspero, sau-
dável, feliz e vitorioso em seus empreendimentos terrenos, e por rejeitar usos
e costumes de santidade pentecostais, tradicionais símbolos de conversão e
pertencimento ao pentecostalismo. (MARIANO, 1999, p. 124)

De acordo com Mariano, o novo movimento se caracteriza pela ênfase na “guerra


espiritual”, o que seria isso? Não é necessário analisarmos muito ou trazermos concepções
de outros pensadores e teólogos aqui. Vamos fazer uma reflexão teológica sobre o assunto.
Na teologia católica romana, o homem dependia de Deus e da Instituição para alcançar a
Salvação de sua alma, correto? Com a Reforma Protestante, o homem passa a conhecer
uma “Graça de Deus” mais libertadora ainda, não há mais indulgências e o homem conhece
a Graça imerecida, irresistível, ou seja, é Deus puro na questão da Salvação.
Com o pentecostalismo tradicional, o homem depende de Deus e a “Segurança
do Crente” é mantida enquanto o fiel estiver debaixo da vontade de Deus, ok? Qual é
a descoberta agora? O neopentecostalismo, coloca a Graça de Deus e a Segurança do
Crente, condicionada a ação do “inimigo” o Diabo, ou o Próprio Satanás, como preferir e,
na ação de seus demônios.
Em alguns seguimentos do novo pentecostalismo, você precisa repreender a ação
demoníaca sobre sua vida constantemente e, em outros, você precisa repreender e cumprir
os mandamentos. Você conseguiu entender esta simples explicação? Podemos tecer co-
mentários acerca disto? Sim, mas, vamos conferir como surgiu tudo isso antes de tomarmos
nossas conclusões. Lembre-se que a teologia tem seu conteúdo e esse conteúdo surge em
meio a igreja, a comunidade.
Como surgiu o neopentecostalismo? Um estudo só termina quando se esgota
toda a ciência sobre o assunto. A teologia não tem um ponto final definitivo, na unidade
anterior, colocamos o que o IBGE apontou como o momento do pentecostalismo brasi-
leiro: expressivo na massa mais carente e com pouca expressão em faixas sociais mais
elevadas. Pois bem, isso foi há dez anos e, não mudou muito realmente, mas apresenta
sinais de mudança. Já existem vários empresários declarados pentecostais, seminários
teológicos, escolas de nível básico e médio, pertencentes aos pentecostais que surgem
no país com frequência.

UNIDADE IV Práticas Teológicas 72


O pentecostalismo está caminhando sim, mas, não é um movimento midiático, não
é um movimento que quer crescimento abandonando raízes teológicas, o pentecostalismo
preza por um crescimento coerente. O que isso quer dizer? Quer dizer que a teologia do
novo pentecostes ocupou o lugar que o pentecostalismo não buscou, a comunicação com
a grande massa, não poupou tempo e investiu em programas de TV, rádios, e trouxe algo
que preenche com algo a mais a alma sedenta. Surge um evangelho de Jesus Cristo que
apresenta pontos de contato visíveis e palpáveis, um evangelho que tem como missão
apresentar resultados e este resultado é mudança para uma vida melhor.

TABELA 1 - EVANGÉLICOS NO BRASIL

Evangélicos (em milhões de Fiéis)


Protestantes Tradicionais 7,7
Não Determinados 9,2
Pentecostais e Neopentecostais 25,3
Total Evangélicos 42,2

Fonte: Censo IBGE, 2010.

Não podemos afirmar e nem sermos ignorantes ao ponto de não reconhecer que
haja milagres, curas, no meio neopentecostal, afinal, Deus opera como ele deseja, mas
os líderes do neopentecostalismo, utilizam a demonstração das curas e milagres para a
autopromoção. Esta autopromoção, fica evidente com as chamadas e os convites que enfa-
tizam que em tal denominação Deus irá fazer e o proselitismo religioso começa a provocar
vai e vem de fiéis.
Este artigo não está contra este movimento, de maneira nenhuma, pois se uma
pessoa alcançar uma bênção e glorificar a Jesus por isso, dando-lhe o crédito, quem será
eu em ser contra. “E a Jesus Glória!”, esse é um princípio que cogito como correto e idôneo.
Mas, vamos para a história, ela nos demonstrará este resumo.
Não Em 1950, os missionários americanos realizaram uma tentativa de montarem
um ministério voltado para a teologia neopentecostal que conhecemos hoje:
O segundo grupo de igrejas implantado no Brasil, que não obteve nomen-
clatura consensual na literatura acadêmica, começou na década de 1950,
quando dois missionários norte-americanos da International Church of The
Foursquare Gospel criaram, em São Paulo, a Cruzada Nacional de Evange-
lização. Por meio dela, iniciaram o evangelismo focado na pregação da cura
divina, que atraiu multidões às concentrações evangelísticas na capital pau-
lista e acelerou a expansão do pentecostalismo brasileiro. Em 1953, funda-
ram a Igreja do Evangelho Quadrangular no Estado de São Paulo. No rastro
de suas atividades de evangelização, surgiram Brasil Para Cristo (1955, SP),
Deus é Amor (1962, SP) e Casa da Bênção (1964, MG). Os missionários da
Quadrangular conferiram ênfase teológica à cura divina, seguindo o bem-
-sucedido movimento de cura propagado nos Estados Unidos durante a Se-
gunda Guerra Mundial. Como estratégia proselitista, além da ênfase na cura,
essa vertente pentecostal notabilizou-se pelo intenso uso do rádio e pela pre-
gação itinerante com o emprego de tendas de lona. (MARIANO, 1999, p. 123)

UNIDADE IV Práticas Teológicas 73


A Igreja Universal do Reino de Deus, é nosso ponto de referência nesta análise e
para tal, vamos observar o seguinte: o pentecostalismo precisou de 100 anos para conso-
lidar duas igrejas de expressão, a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil.
A Congregação Cristã teve seu perfil mais sectário, se isolou das demais denominações,
mas, está em expressão ainda, a Assembleia de Deus evoluiu de forma diferente, criou uma
convenção e se divide em vários ministérios e sua teologia é compartilhada para outras
denominações pentecostais.
Se considerarmos o tempo de existência da IURD, com toda certeza, vamos consta-
tar um crescimento mais rápido que as igrejas pentecostais. Antes, precisamos esclarecer
que a IURD não foi a única denominação a construir a teologia neopentecostal:
O neopentecostalismo teve início na segunda metade dos anos de 1970.
Cresceu, ganhou visibilidade e se fortaleceu no decorrer das décadas se-
guintes. A Universal do Reino de Deus (1977, RJ), a Internacional da Graça
de Deus (1980, RJ), a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (1976, GO)
e a Renascer em Cristo (1986, SP), fundadas por pastores brasileiros, cons-
tituem as principais igrejas neopentecostais do país. (MARIANO, 1999, p.
123-124)

A IURD surgiu com a divulgação do Evangelho de forma simples, exercendo uma


valorização dos Ritos Sagrados, algo, que no pentecostalismo, havia sido deixado em
últimos planos. Por exemplo: no pentecostalismo, as assembléias de Deus promoviam
cultos ao ar livre, nestes cultos, havia curas, libertação e apelos aos que queriam seguir
sua doutrina e entregar sua vida para Jesus. Na IURD, os trabalhos são rigorosamente
ocorridos dentro de seus templos, é ali que está a unção de cura e bênção divina, assim, o
fiel precisa ir ao templo, não é qualquer lugar, algo que nos remete a nossa origem católica
romana. Veja a tabela a seguir:

TABELA 2 - EVANGÉLICOS NO BRASIL

Pentecostais (em milhões de Fiéis)


Assembleia de Deus 12,3
Congregação Cristã do Brasil 2,28
Igreja Universal do Reino de Deus 1,87
Igreja do Evangelho Quadrangular 1,80

Fonte: Censo IBGE, 2010.

Assim, o novo pentecostalismo traz uma cultura religiosa de reverência e com o


toque de liberdade. Assim, exemplifica Ricardo Mariano:

UNIDADE IV Práticas Teológicas 74


Encabeçado pela Igreja Universal, o neopentecostalismo é a vertente pente-
costal que mais cresce atualmente e a que ocupa maior espaço na televisão
brasileira, seja como proprietária de emissoras de TV, seja como produtora e
difusora de programas de televangelismo. Do ponto de vista comportamental,
é a mais liberal. Haja vista que suprimiu características sectárias tradicionais
do pentecostalismo e rompeu com boa parte do ascetismo contracultural tipi-
ficado no estereótipo pelo qual os crentes eram reconhecidos e, volta e meia,
estigmatizados. De modo que seus fiéis foram liberados para vestir roupas
da moda, usar cosméticos e demais produtos de embelezamento, frequentar
praias, piscinas, cinemas, teatros, torcer para times de futebol, praticar espor-
tes variados, assistir à televisão e vídeos, tocar e ouvir diferentes ritmos mu-
sicais. Práticas que, nos últimos anos, também foram sendo paulatinamente
permitidas por igrejas pentecostais das vertentes precedentes, com exceção
da Deus é Amor, que manteve incólume a velha rigidez ascética. Em todas
as vertentes permanece, porém, a interdição ao consumo de álcool, tabaco
e drogas e ao sexo extraconjugal e homossexual. (MARIANO, 1999, p.124)

Ao analisarmos este contexto, vamos perceber que o neopentecostalismo é a


corrente mais inclinada a acomodar a sociedade abrangente e a seus valores, interesses e
práticas. A igreja apresentou-se com estratégia, valorizou a liberdade contemporânea, agiu
de forma Paulina, como diz na carta de Paulo aos Coríntios:
Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda
mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os
que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os
que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem
lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para
ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar
os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar
alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante
dele. (BÍBLIA, I Coríntios 9, 21-23)

Quanto à fundação da IURD, ocorreu em 1977, na Zona Norte do Rio de Janeiro,


no local onde era uma pequena funerária. Em trinta anos já era o maior fenômeno religioso
na mídia e destacava-se também no campo religioso. Mariano (1999, p.125) pontua que:
Um dos principais responsáveis pela constituição desse verdadeiro império
religioso, o fluminense Edir Bezerra Macedo, seu líder e fundador, tornou-se
crente evangélico aos dezoito anos, ingressando na Igreja de Nova Vida por
meio da influência de uma irmã. Antes era católico e frequentava a Umbanda.
Permaneceu na Nova Vida de 1963 até 1975, quando, contrariado com seu
elitismo de classe média, deixou-a para fundar a Cruzada do Caminho Eter-
no. Dois anos depois, nova cisão: saiu para formar, junto com outros crentes,
a Universal do Reino de Deus.

Algo importante que precisamos saber é que houve um crescimento de Edir Mace-
do dentro da liderança da IURD. O então líder Soares perdeu espaço para Edir diante da
crescente popularidade que ele adquiria nos programas que apresentava e isso culminou
com a saída de Soares juntamente com Roberto Augusto Lopes da IURD.
Soares fundou então sua denominação e Lopes retornou para a política, foi o
primeiro Deputado Federal eleito na IURD. E Edir Macedo implantou o sistema Episcopal
na IURD em 1990 e se tornou vitalício no cargo, mas problemas com a justiça o fizeram
abdicar. Mariano (1999) nos diz:

UNIDADE IV Práticas Teológicas 75


Em 1980, implementou o governo eclesiástico episcopal, no qual assumiu o
posto de bispo primaz e o cargo vitalício de secretário-geral do presbitério,
cargo do qual renunciaria em 1990 para evitar que eventuais sanções penais
contra si atingissem a igreja. (MARIANO, 1999, p.127)

E neste período, a IURD sofreu fiscalização da Polícia Federal e Edir Macedo preci-
sou sair do Brasil, assim que pode, e com isso, fundou a IURD em solo americano, algo que
contribuiu para o crescimento denominacional posteriormente, em vários outros países.

FIGURA 1 - IGREJA UNIVERSAL NO EXTERIOR - Hialeah, FL, EUA: abril de 2021: Fachada da
Igreja Universal do Reino de Deus em Hialeah, Flórida. Entidade local de culto. Teologia, Bíblia e Deus

Como podemos ver na foto acima, a Igreja Universal e o neopentecostalismo, al-


cançaram pontos fora do Brasil. Assim, demonstra Ricardo Mariano:
Nesse período conturbado da história da Universal, Macedo procurou rarear
sua presença no Brasil e estendê-la nos Estados Unidos, onde fundara uma
filial em 1986. Decidiu, então, nomear o pastor Renato Suhett para substi-
tuí-lo na direção da igreja no Brasil, para logo em seguida enfraquecê-lo, ao
transferir funções administrativas a outros bispos e dividir o poder eclesiás-
tico em quatro regiões no país. Em meados da década de 1990, consagrou
dezenas de novos bispos para assumir funções de direção em nível regional,
estadual e nacional. Para evitar cismas, reestruturou o poder eclesiástico,
criando três instâncias hierárquicas: Conselho Mundial de Bispos, Conselho
de Bispos do Brasil e Conselho de Pastores. Com isso, a igreja manteve os
princípios de verticalidade e concentração de seu governo episcopal, que
continuou encimado por Macedo. (MARIANO, 1999, p.130)

Então, acreditamos que você já conhece o necessário para entender como a teolo-
gia praticada no neopentecostalismo se originou. É necessário compreender que o modelo
no qual a IRD apresentou foi algo extremamente diferente daquilo que a religião brasileira
conhecia. Templos abertos 24 horas por dia, a santidade praticada de modo diferente ao

UNIDADE IV Práticas Teológicas 76


catolicismo e ao pentecostalismo, uma abordagem midiática, uma relação de benefício para
quem serve a Deus (não a necessidade de abdicação e santidade do pentecostalismo).
Outro fato importante é que Edir Macedo até montou um Seminário Teológico para sua
denominação, mas, quando viu que isso tiraria o tempo de seus pastores, decidiu fechar
o seminário. A educação passou a ser dirigida pelo próprio Edir Macedo para seus líderes
através dos meios de mídia digital.
Não nos opomos às linhas teológicas existentes, enquanto teólogos, pois, é nosso
conteúdo de reflexão, só podemos manifestar nossa opinião, quando é pertinente. Precisamos
saber que cada indivíduo, professor, aluno, fiel, tem a sua crença e cabe-nos, quando solicitado,
dar a devida orientação para que a razão cumpra seu papel crítico e arrazoe a fé existente.
Portanto, através deste capítulo, nós encerramos o conteúdo sobre as origens teo-
lógicas predominantes, agora, nos próximos capítulos desta unidade vamos tratar alguns
assuntos pertinentes ao nosso conhecimento. Será que existe tradição na IURD, nas Igrejas
Pentecostais e na Igreja Católica Romana. E nas Igrejas Reformadas?

UNIDADE IV Práticas Teológicas 77


2. TRADIÇÃO

Tradição, segundo o dicionário, tem o sentido de “entregar”, e quer dizer “passar


adiante”, é uma comunicação que ocorre por uma ou várias vias, oral, escrita, etc. (TRADI-
ÇÃO, 2021, online)
Ela revela um conjunto de comportamentos, costumes, rumores, memórias, cren-
ças, lendas, práticas, doutrinas e leis que são transmitidos para indivíduos de uma comuni-
dade, fazendo parte da cultura. Podemos dizer que faz parte da continuidade do passado.
(JAPIASSÚ e MARCONDES, 1993, p. 269)
Na Igreja Católica, a tradição é algo muito ímpar, porque é e traz a base do conheci-
mento, leis e regras acerca de tudo o que a Igreja construiu ao longo dos séculos. Na teologia
católica a tradição se divide em Oral e escrita (igual ao judaísmo), sendo: Oral – Consiste no
testemunho dos apóstolos acerca da revelação de Jesus Cristo, os quais delegou os apóstolos
para a continuação da mensagem do Evangelho e posteriormente passada para a liderança
da Igreja, para o Papa, que é a continuação dos apóstolos. Escrita – São os Testamentos ou
Evangelhos, que contém a parte escrita e inspirada do testemunho dos apóstolos.
A Igreja Católica diz que, nem toda a tradição oral foi registrada e que, ainda hoje
ela é transmitida de geração para geração e através da “Revelação” que o “Magistério” é
exercido na instituição católica romana. Esta autoridade do Magistério é soberana e definiu
o Cânone Bíblico por exemplo.

UNIDADE IV Práticas Teológicas 78


As primeiras Igrejas Reformadas, consideram que a Bíblia é uma autoridade su-
perior à tradição da Igreja, pois é a Palavra direta e inspirada de Deus, ou seja, é a fonte
primária da fé cristã. A Igreja Luterana tem uma tradição mais ligada à teologia reformada,
porém, mantém alguns costumes pré-reforma no sentido dos ritos e sacramentos.
E assim, cada grupo religioso terá sua tradição, cabe ao teólogo respeitá-las como
objeto de encontro das razões para as práticas religiosas. Identificar as tradições existentes
em uma comunidade faz parte da cosmovisão, para trabalhar com a Tradição é necessário
despir-se de preconceitos e imergir no ambiente eclesiástico que está tendo contato.
Trazemos este breve tópico neste momento do estudo, porque é algo que precisa
ser entendido para um bom conhecimento teológico. Sabemos que ao nos introduzirmos
na Teologia Católica, teremos um conteúdo diferente do conteúdo da Teologia Reformada,
isto pode ser grosseiramente entendido como ponto de vista, mas é algo maior, envolve
regras e construção de teorias. Além disso, reflete a história teológica do grupo a que se
está tendo contato.
Qual a tradição que você está tendo contato? Como é a tradição da igreja ao qual
você frequenta? Fica uma dica para uma ótima reflexão teológica.

UNIDADE IV Práticas Teológicas 79


3. TEOLOGIA FUNDAMENTAL, DOGMÁTICA E MORAL

Dentro da teologia encontramos áreas do saber distintas, que formam a grade


acadêmica nos assuntos imprescindíveis da teologia. Existem disciplinas curriculares obri-
gatórias que formam grandes núcleos básicos e disciplinas optativas ou específicas, que
podem ou não serem vistas num curso de teologia. Há várias maneiras de se formar uma
grade de um curso de teologia, porém vamos falar e apresentar estas disciplinas básicas
de uma perspectiva acadêmica. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 215)
A Teologia Sistemática ou Dogmática compreende várias disciplinas que resultam
da elaboração teórica da Igreja durante os dois mil anos do cristianismo. Veja como o
doutor Libânio descreve o conjunto da Dogmática:
A matéria-prima da dogmática é o dado revelado, aprofundado, reinterpreta-
do e enriquecido pela tradição viva e regulada pelo magistério, no correr da
história. Normalmente, os institutos privilegiam, na carga horária, as discipli-
nas centrais: cristologia, eclesiologia, sacramentos (em geral, e especifica-
mente os sete sacramentos), Trindade, antropologia teológica (criação, peca-
do, graça e salvação). A dogmática abarca ainda pequenos tratados como a
escatologia e a mariologia. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 224)

Alguns autores preferem o termo “Sistemática” e não “Dogmática”, porém, são a


mesma coisa, assim, evita-se o risco de se concentrar em fórmulas e métodos dogmáticos
e pende-se para um lado da compreensão do processo orgânico de auto compreensão da
fé. A Teologia sistemática tem diferentes abordagens nas Tradições Eclesiásticas:

UNIDADE IV Práticas Teológicas 80


Com a dogmática-sistemática, entra-se na principal área diferenciadora da
teologia católica, em relação aos evangélicos e ortodoxos. Os grupos cris-
tãos não-católicos veem com certa desconfiança o excessivo peso que a
teologia católica dá à dogmática. Os evangélicos acentuam mais a teologia
bíblica, aceitando a dogmática elaborada pelos primeiros concílios ecumêni-
cos. Entretanto, na atualidade, alguns teólogos protestantes, como K. Barth,
P. Tillich, W. Pannenberg e Moltmann entre outros, têm elaborado excelentes,
profundos e amplos tratados de sistemática, oferecendo valiosa contribui-
ção para suas igrejas e para os companheiros católicos. Os ortodoxos vão
um pouco além dos evangélicos, ao aceitar as afirmações dogmáticas até a
patrística tardia, bem como alguns pronunciamentos do magistério católico.
Movem-se, no entanto, em outra esfera de reflexão, mais tradicional e mís-
tica e menos especulativa, se compreendida sob o ponto de vista ocidental.
(LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 225)

A Teologia Fundamental é uma disciplina que lança as bases do conhecimento


teológico e arrasa sobre os fatos que integram a realidade cristã. Assim, uma das definições
que mais se encaixa no contexto da realidade da teologia fundamental é:
A teologia fundamental não explicita todos os conteúdos decisivos do ato de
crer, função que cabe à dogmática. Explicita o ato de crer em suas diversas
dimensões: de razoabilidade e mistério, de liberdade e necessidade, de co-
nhecimento e compromisso etc. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 213)

É o setor da teologia que mais está relacionado com os eventos e mentalidade


contemporânea, é ela quem está mais próxima do diálogo com a ciência e o saber humano.
“Valoriza sobremaneira a experiência existencial e religiosa, visando identificar aí os pontos
de inserção da fé.” (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 213)
O primeiro bloco da Teologia Fundamental é a disciplina Introdução à Teologia,
que tem o seguinte resumo conceitual: (…) basicamente mostra em que consiste o conhe-
cimento teológico, caracteriza seu estatuto epistemológico e método, recorda os grandes
passos de sua história e aponta suas tarefas hodiernas. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 213)
No segundo bloco da Teologia Fundamental, está o círculo hermenêutico da exis-
tência cristã, parte da Revelação, que encontra na encarnação e nos ensinos de Jesus
sua plenitude. Mostraremos a seguir os elementos constitutivos da fé e seus graus de
explicitação:

Reflete sobre as condições básicas que possibilitam a experiência de fé em


determinado contexto sócio histórico e cultural. Cabe ainda à fundamental
descortinar como se faz o processo de interpretação do evento cristão, na
relação viva entre Revelação, Fé, Escritura, Tradição e Sinais dos Tempos.
(LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 214)
A teologia fundamental é entendida hoje mais comumente como a reflexão
sobre a primeira realidade cristã, a revelação de Deus, testemunhada de
modo pleno por Jesus Cristo. Reflexão, portanto, sobre os fundamentos da
dogmática, feita de maneira crítica, mas conduzida pela fé, desvendando-
-lhes os motivos de credibilidade. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 214)
Define-se, portanto, mais pela sua finalidade e objeto e menos pelo método.
O objeto é a revelação de Deus, que é, por sua vez, acontecimento e misté-
rio. A finalidade é permitir ao ser humano, inteligente e livre, fazer uma opção
de fé a esta intervenção de Deus, compatível com sua natureza espiritual.
(LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 214)

UNIDADE IV Práticas Teológicas 81


Na Teologia Moral, a Moral era considerada uma parte prática da teologia e pertencia
a dogmática, mas ultimamente não tem sido visto nesta única ótica, devido a valorização da
dimensão prática de toda a teologia.
Ao contrário do que se ouve dizer, a moral necessita de consistente sustenta-
ção teórica por ser área complexa do pensar teológico. Ao mesmo tempo, ela
toca em muitos aspectos práticos e significativos não somente da pastoral,
mas também da vida pessoal do aluno, exercendo influxo existencial indiscu-
tível. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 221)

Então, o ensino e aprendizagem da teologia moral, procura refletir sobre a resposta


concreta que o cristão dá a Deus nas diversas áreas: pessoal, comunitário, social e político.
A teologia moral também se divide em dois grandes blocos de disciplinas: a) Teologia Moral
Fundamental: Reflexão global das bases e critérios do agir cristão. b) Este bloco irá refletir
a ética específica sobre diversos setores da existência humana: sexualidade, moral política,
bioética, ética ecológica, entre outras.

UNIDADE IV Práticas Teológicas 82


4. TEOLOGIA MODERNA

O período moderno e contemporâneo se inicia do Séc. XVII d.C. até os dias atuais
e nos mostra ciclos que se repetem na história da Igreja. No qual:
[...] distinguindo-se as seguintes “divisões”: 1º, séculos XVII e XVIII, cenário
da ruptura entre os âmbitos espiritual e intelectual, é neste século que a teo-
logia evangélica tem sua gênese, exatamente no interior da ortodoxia confes-
sional, todavia, o fundamentalismo é o resultado dos “revivals” evangélicos
dos séculos XIX e XX; 2º, século XIX, centro de polêmicas e tensões, mas
também ocorrem vislumbres de “renovações”; 3º, século XX, [...] o discurso
teológico que originalmente propunha a “glória de Deus”, evolui em direção à
defesa e à valorização do humanum. (GIBELLINI, 1998, p. 279-299)

Por exemplo, estudamos que a Igreja estava estagnada e a Escola Romana e a


Escola de Tübingen, reagiram, produzindo material teológico e teologia viva aos olhos do
mundo. Agora, vemos no século XIX, um levante de conhecimento, desejando provar a fé
através de material rico em reflexões teológicas. (LIBÂNIO e MURAD, 1996, p. 140)
Observamos que a tendência da teologia passada foi muito mais a busca da teoria,
resultando em sabedoria escrita, dogmatizada, sistematizada. A teologia moderna está sen-
do desafiada a romper no lado mais simples, pregar a Salvação em Cristo Jesus, ser mais
ativa no lado relacional entre Deus-Jesus-Homem e sobrepor aos métodos já conhecidos
da contextualização do Evangelho.
Precisamos enfatizar então que, para ser um teólogo na atual modernidade, é
necessário que o estudante se apegue a história de homens, pensadores e teólogos, que
fizeram diferença na teologia através de inovações na área da exposição bíblica, e estudar
homens que fizeram história como Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Lutero, Calvino,

UNIDADE IV Práticas Teológicas 83


John Huss, entre muitos outros, é um diferencial para iniciar um ciclo de novas ideias,
de atualização e tantas coisas que possam contribuir com a proclamação da Mensagem
de Deus.
A mensagem da nova teologia moderna é esta: “não ter a história da Igreja como
um consumidor final, mas, como um produto a ser trabalhado e distribuído para todos os
consumidores.”

SAIBA MAIS

ANGLICANISMO - O anglicanismo é uma forma de cristianismo. É parte do ramo pro-


testante da religião cristã. O anglicanismo desenvolveu-se na Inglaterra, no século XVI,
os líderes da Igreja apresentaram os chamados Trinta e Nove Artigos, que afirmavam as
crenças da Igreja. Eles seguem a Bíblia e acreditam em dois sacramentos principais, ou
sinais especiais de fé: o Batismo e a Sagrada Comunhão.
A Igreja Anglicana foi criada quando o rei Henrique VIII separou a Igreja da Inglaterra da
Igreja Católica, em meados do século XVI. Ele fez isso porque o papa Clemente VII se
recusou a lhe conceder a anulação de seu casamento com Catarina de Aragão. Henri-
que queria manter a Igreja inglesa tal como era, com a única diferença de que ele seria
o líder, em vez do papa. Na época, outros povos na Europa também estavam rompendo
com a Igreja Católica, a Reforma Protestante.

Fonte: BRITANNICA Escola. Anglicanismo. 2021. Disponível em: https://escola.britannica.com.br/artigo/

anglicanismo/480606. Acesso em: 20 set. 2021.

REFLITA

Quais são os fatores que, ao longo da história da Igreja, têm sido fundamentais para a
discordância e o posterior surgimento de novas “religiões”? Poder político, posses, do-
mínio? O que você elencaria?

Fonte: O autor (2021)

UNIDADE IV Práticas Teológicas 84


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim de mais uma Unidade e de mais uma disciplina também. Ter
estudado a Introdução à Teologia, nos ajudou a entender que a história da Igreja nos acom-
panhará em muitas reflexões teológicas.
Descobrimos que quem faz o conteúdo teológico é a Igreja e, por muito tempo, foi
ela quem fez a teologia também. Digo isto, porque atualmente falar do Divino não é mais
uma exclusividade dos grandes líderes eclesiásticos e também não se limitou aos antigos
locais de retiro e busca de revelação divina. Hoje, sua escola, sua turma e você, tem papel
importante na história da teologia.
Através de academias e pensadores, podemos encontrar verdadeiros diamantes
teológicos, diamantes, porque podem ser lapidados e até quebrados, mas são o que há de
mais forte que a natureza produziu. Estudando o neopentecostalismo na primeira unidade,
vimos através da história de igrejas como a IURD, a possibilidade de se ter novos pensa-
mentos e interpretar a ação de Deus de forma diferente, o surgimento do neopentecostalis-
mo não colocou um ponto final nas tendências teológicas.
Através de uma breve introdução sobre tradição, entendemos que os conhecimen-
tos e experiências adquiridas ao longo da caminhada da Igreja na face da terra, tem um
papel importante para as igrejas e para a teologia. Como tratamos essas experiências e
como fazemos delas, parte do nosso saber teológico é um ponto fundamental.
Vimos também, no terceiro capítulo, uma breve introdução de como é formado
os blocos de disciplinas na teologia e como cada uma se coloca para fechar o círculo
hermenêutico que existe em todo teólogo.
Enfim, falamos sobre a Igreja Moderna, ou melhor, a Teologia Moderna, ficando
assim a certeza que a teologia sempre estará à espera de um novo fato, um novo aconteci-
mento ou pensamento que venha a surgir. Afinal, a teologia não coloca ponto final definitivo
em suas definições. Desejo encontrá-los em novos níveis teológicos e, então, em qual
nível você pretende atuar a contribuir com a sua ação teológica?

Shalom!!!

UNIDADE IV Práticas Teológicas 85


LEITURA COMPLEMENTAR

Movimento carismático

A Renovação Carismática Católica, ou o Pentecostalismo Católico, como foi inicial-


mente conhecida, teve origem com um retiro espiritual realizado nos dias 17-19 de fevereiro
de 1967, na Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA).
Em uma carta enviada dois meses após (29 de abril de 1967), a um professor, Mon-
senhor Iacovantuno, Patti Gallagher, uma das estudantes que participou do retiro, assim
relatou o que aconteceu naqueles dias:
Tivemos um Fim de Semana de Estudos nos dias 17-19 de fevereiro. Prepara-
mo-nos para este encontro, lemos os Atos dos Apóstolos e um livrinho intitulado “A Cruz
e o Punhal” de autoria de David Wilkerson. Eu fiquei particularmente impressionada pelo
conhecimento do poder do Espírito Santo e, pelo vigor e a coragem com que os apóstolos
foram capazes de espalhar a Boa Nova, após o Pentecostes. Eu supunha, naturalmente,
que o Fim de Semana me seria proveitoso, mas devo admitir que nunca poderia supor que
viria a transformar a minha vida!
Durante os nossos grupos de discussão, um dos líderes colocou em tela o fato
de que nós devemos confirmar constantemente os nossos votos de Batismo e de Crisma,
assim como devemos ter a alma mais aberta para o Espírito de Deus. Pareceu-me curioso,
mas um pouco difícil de acreditar quando me foi dito que os dons carismáticos concedidos
aos apóstolos são ainda dados às pessoas nos dias atuais – que ainda existem sinais
do poder divino e milagres – e que Deus prometeu emanar o seu Espírito para que se
fizesse presença a todos os seus filhos. Decidimos, então, efetuar a renovação dos votos
de Batismo e de Crisma como parte do serviço da missa de encerramento, no domingo à
noite. Mas, no entanto, o Senhor tinha em mente outras coisas para nós!...
No sábado à noite, tínhamos programado uma festinha de aniversário para alguns
dos colegas, mas as coisas foram simplesmente acontecendo sem alternativa. Fomos
sendo conduzidos para a capela, um de cada vez, e recebendo a graça que é denominada
de Batismo no Espírito Santo, no Novo Testamento. Isto aconteceu de maneiras diversas
para cada uma das pessoas. Eu fui atingida por uma forte certeza de que Deus é real e que
nos ama. Orações que eu nunca tinha tido coragem de proferir em voz alta, saltavam dos
meus lábios. (...) Este não era, pois, um simples bom fim de semana, mas, na realidade,
uma experiência transformadora de vida que ainda está prosseguindo e se desenvolvendo
em crescimento e expansão.

UNIDADE IV Práticas Teológicas 86


Os dons do Espírito já são hoje manifestados – e isto eu posso testemunhar, por-
que tenho ouvido pessoas orando em línguas, outras praticam curas, discernimento de
espíritos, falam com sabedoria e fé extraordinárias, profetizam e interpretam.
Eu, agora, tenho certeza de que não há nada que tenhamos de suportar sozinhos,
nenhuma oração que não seja atendida, nenhuma necessidade que Deus não possa cobrir
em sua riqueza! E, no depender dele e louvá-lo com fidelidade, eu sinto uma tremenda
sensação de liberdade.
Podemos tentar viver como cristãos, morrendo para nós mesmos e para o pecado,
mas esta será uma luta desanimadora se não contarmos com o poder do Espírito. Ainda
existem tentações e problemas, mas agora tenho a certeza e a confiança em Deus, agora
ele me dá segurança. Realmente, transforma-me a viver nele. É verdade que na Crisma,
nós recebemos o Espírito Santo e que nós somos seus templos, mas nós não nos abrimos
o suficiente para receber em nossas vidas os seus dons e o seu poder. É certo que o
Espírito Santo é o nosso professor: eu dele aprendi tanto e em tão pouco tempo!
As Escrituras vivem! Amém! Eu estou segura de que jamais poderia ter acumulado
por minha própria conta tanto conhecimento, apesar de todo o esforço desenvolvido, e com
as melhores intenções que tivesse.
(…) Eu me vi, de repente, conversando com as pessoas sobre Cristo, e, vendo
desde logo o resultado desse trabalho! Eu jamais teria ousado fazer essas coisas no
passado, mas agora, é ao contrário: é impossível deixar de fazê-lo. É como disseram os
apóstolos depois de Pentecostes: “Como podemos deixar de falar sobre as coisas que
vimos e ouvimos!” (…).
Estas notícias se divulgaram rapidamente, causando um grande impacto no meio
religioso universitário. O “Fim de Semana de Duquesne”, como ficou mundialmente co-
nhecido este retiro, tem sido geralmente aceito como o ponto de partida que deu origem à
Renovação Carismática Católica, cuja abrangência estender-se-á, num curto período de
tempo, por um grande número de países.

Fonte: Histórico da RCC. Disponível em: https://www.rccbrasil.org.br/institucional/


historico-da-rcc.html. Acesso em: 21 set.. 2011.

UNIDADE IV Práticas Teológicas 87


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no
Brasil
Autor: Ricardo Mariano.
Editora:‎ Edições Loyola; 5ª edição.
Sinopse: Este livro analisa o neopentecostalismo, vertente pen-
tecostal responsável pelas principais transformações teológicas,
estéticas e comportamentais por que vem passando o movimento
pentecostal. Elaborado e escrito de uma perspectiva sociológica
e baseado em extensa pesquisa empírica, almeja, além de fa-
miliarizar o leitor com a história das crenças, das práticas e do
funcionamento das igrejas neopentecostais, atestar a ruptura com
o ascetismo contracultural e a progressiva acomodação desses
religiosos e suas denominações à sociedade e à cultura de con-
sumo. Mudanças consideráveis, de caráter secularizante, cujos
efeitos mais visíveis têm consistido em torná-los cada vez menos
distintos e, por consequência, cada vez menos um retrato negativo
dos símbolos de nossa brasilidade.

FILME/VÍDEO
Título: Nada a Perder: Contra Tudo. Por Todos
Ano: 2018
Sinopse: É baseado na trilogia homônima Nada a Perder e no
livro O Bispo: A História Revelada de Edir Macedo, de Douglas
Tavolaro. É estrelado por Petrônio Gontijo, interpretando o pro-
tagonista, Day Mesquita interpretando sua esposa Ester Bezerra
e Beth Goulart interpretando a mãe Dona Geninha. É também a
primeira representação de Silvio Santos no cinema.
Link do vídeo: https://youtu.be/5BdcofHX2WI

UNIDADE IV Práticas Teológicas 88


WEB

Caros alunos, o link abaixo é de um vídeo no qual relata o “Início da Renovação


Carismática Católica no Brasil.”
• Link do site: https://youtu.be/cL6-Hcsw7k0.

UNIDADE IV Práticas Teológicas 89


REFERÊNCIAS

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WESTPHAL, E. R. Teologia como fé inteligente: Aspectos teológico-filosóficos. São Paulo:


Vox scripturae, 2010.

92
CONCLUSÃO GERAL

Caro(a) Aluno(a) Chegamos ao Final, Parabéns!

Que bom que você chegou até aqui. A teologia é um estudo que não acaba, sim,
isso é verdade! Quando elaboramos esta disciplina, buscamos trazer os assuntos e a divi-
são que você precisava para poder entender que o conteúdo teológico é muito amplo e, em
determinados momentos, nós precisamos avaliar nosso foco e seguir por ele durante algum
tempo. Por exemplo, você já se decidiu se o conteúdo teológico que você está absorvendo
vai ser utilizado no ministério pastoral, acadêmico, institucional, ou em outra situação que
possa ser o seu desejo? Falando assim, você percebe que a introdução teológica mexe
com sua vocação (e você teve um pouquinho deste conceito nesta unidade).
Introduzir um aluno a sua matriz acadêmica exige muita responsabilidade, pois,
precisamos demonstrar que você também estará fazendo parte da teologia. Não há como
entrar no universo teológico e continuar a analisar os fatos à nossa volta da mesma forma
como antes.
Vimos que os homens mudaram a história, tanto inovando como retendo o conteúdo
e os métodos, é fato que a teologia implica na sociedade, no seu estilo de vida e utiliza dela
para colher seu grande material. A teologia é viva e acompanha os movimentos religiosos
e espirituais, buscando simplificar o objetivo de sua existência.
A grande contribuição que você também pode tirar desta disciplina é saber que a
Fé e a Razão são companheiras e alicerçam a crença no divino. E é sua missão, também,
fazer que ambas continuem exercendo seu propósito de forma correta.
Peço a você aluno(a) que cresça em conhecimento e no final deste curso teológico,
você se lembre desta disciplina e tenha a certeza que você poderia reescrevê-la, melhor
ainda e contribuir com a excelência das ciências da Fé!!

Muito obrigado! Lute por aquilo que você acredita!

93
+55 (44) 3045 9898
Rua Getúlio Vargas, 333 - Centro
CEP 87.702-200 - Paranavaí - PR
www.unifatecie.edu.br

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