Você está na página 1de 12
APRESENTACAO DA COLECCAO: JOHN FISKE Se ee eee INTRODUCAO AO ESTUDO rie coms conten cono do DA COMUNICACAO fundamentas da viveacia quoti so msi humilde semansrio re no pelos grades isis, produts au dade crelasies| Teadegao MARIA GABRIELA ROCHA ALVES fundamental parao conhecimento das relagdes ¢ das prétcas humanas no mano contemporineo. Compreender 3 conunicagfo nas suas possbilidades técnica, nas suas virtuaidedes ulturaisenas suas incidnciasprticas, es o que se prope com a presente caleceaa ‘OBRAS PUBLICADAS INTRODUCAO AO ESTUDO DA CONUNICACAO EDICOES ASA das a da preocupacao final e mais abstracta da semi papel da ideotogia na sigificagio, aproveitei todas as oportunidades para com- forma alguma me preocupa que surjam comenté- rips da escola processul nos capitulos semidticos ¢ vice-versa: esse € a ‘melhor maneira de perspectivar as duas escola. ica —0 TEORIA DA COMUNICACAO Origens A obra de Shannon e Weaver, Mathematical Theory of Communication (1949; Weaver, 1949) € largamente aceite como uma das principais fontes de onde nasceram 0s Estudos da Comunicagdo. & um exemplo claro da escola processual, vendo a comunicaso como transmissdo de mensagens. ¢ durante a Segunda Guerra Mundial, aos |, nos EUA, e a sua principal preocupagdo era cengendrar uma mnaneira de os canats de comunicagéo poderem ser usados com ‘ méximo de eficécia. Para eles, os principais cansis eram o cabo telefénico © ‘onda de rédio, Desenvolveram uma teoria que lhes permitia estudar o pro- blema de como enviar uma quantidade méxima de informacio por meio de um determinado canal, ¢ de como medir a capacidade de qualquer canal para transportarinformagio. Esta concentracio no canal e na sua capacidade condiz com as suas formagées em engenharia e matemética, mas eles afirmam que a sua tooria¢ largamente aplicdvel a todas as questtes da comunicago humana, ‘© Modelo de Shannon e Weaver (1949; Weaver, 1949b) 0 seu modelo bésico de comunicagdo apresenta-a como um simples pro- ‘cesso linea, A sua simplicidade suscitou muitas derivagdes, e a sua natureza linear, centrada num processo, suscitou mui ctfticas. Mas devemos olhar 19 eS Figura2 0 modelo de comunicapao de Shannon e Weaver para o modelo (figura 2), antes de considerarmos as suas implicagdes e de © adelo € compreensivel & primeira vista. As suas Gbvias caracterfsticas de simplicidade e linearidade destacam-se clara- ‘mente. Posteriormente voltaremas aos elementos referidos no process. Shannon e Weaver identificam trés niveis de problemas no estudo da comunicaglo. Sao eles: Nivel A Com que preciséo se podem transmitir os (problemas téenicos) _simbolos da comunicago? Nivel B ‘Com que precisto os simbotos transmitidos (problemas seménticos) transportam o significado pretendido? Nivel C Com que oficécia o significado recebido (problemas de eficicia) afecta a conduta da maneira desejada? Os problemas técnicos do nivel A sdo os mais simples de compreender, ¢ foi para os explicar que 0 modelo originalmente foi desenvolvidt Os problemas seménticos séo, mais uma ve, féceis de identificar, mas, ‘bem mais diffceis de resolver, indo do significado das palavras até ao signifi- cado que uma imagem do noticiério americano poderd ter para um russo. Shannon e Weaver consideram que o significado estd contido na mensagem: assim, melhorando a codlfcagto, aumaenta a exactiddo seméntica, Mes aqui cntram também em jogo factores culturais que o modelo no especifica: 0 ado encontra-se, tanto na cultura como na mensagem, no mfaimo.em proporgdesidénticas 20 (Os probiemas'de eficécia podem, A primeira vista, fazer crer qu € Weaver véem a comunicagio como manipulagio ou propagands ‘comunicou eficazmente com B quando B reage da forma que A deseja. Eles expoem-se, ral que a reacgao estética ou emocional a uma obra de arte 6 um efeito de com- nicago. Afirmam que ost niveis nfo io herméticos mas ¢ interdependentes, e que o seu modelo, apesar de te origem no nfvel A, fun- ciona igualmente bem para os trés niveis, O interesse em estudar a comunica- slo a cada um destes niveis, ¢ a todos eles, reside em compreender como Podemos melhorar a precisdoe a eficdcia do processo. Mas, voltemos ao nosso modelo. A fonte é vista como detentora do poder 4e decisao, isto 6, a fonte decide qual a mensagem a enviar, ou melhor, selec- ciona uma de entre um conjunto de mensayens possfveis. Fsta mensagem seleccionada é depois transformada, tmissor, mum sinal que 6 envi- ado ao receptor, através do canal. Para um telefone, 0 canal é um fo, o sinal tate eléctrica que passa nee, ¢o transmissor ¢ o receptor S80 0s ayscl ‘adores do telefone. Numa conversa, a minha boca é o ransmissor, 0 sinal S30 38 ondas sonoras que passam através do canal do ar (no se poderia falar a ninguém no vécuo) ¢ 0 ouvido do meu interlocutor, o receptor. Obviamente, algunas partes do inodelo podem operar mis do que uma sagem telefénica, por exemplo, a ininka boca transmite u lador que nesse momento é um receptor e que, instantanes- ‘mente, se toma um transmissor para enviar o sinal ao ausculiador do outro telefone, que o recebe ¢ o transmite em seguida, através do ar, a0 ouvido, O modelo de Gerbner, como oportunamente veremos, trata mais satisfatoriae ‘mente este desdobramento de certs estos do provesso. Ruido © tinico termo neste modelo cujo significado nao é imediatamente dbvio & © ruldo. O ruido € algo que ¢ acrescentado ao sinal, entre a sua transmissdo € u intesferéncias uma linha telefonica, electcicidade nico, ou “granizo” num écran de televisio. Todos estes sto exemplos de ‘wide que ocorrem dentro do canal, ¢ este tipo de rufdo, no nivel A, constitu 4 principal preocupacio de Shannon e Weaver. Mas 0 conceito de rufdo tem sido alargado de forma a significar qualquer sinal recebido que no Foi mitido pela fonte, ou qualquer coisa que tora o sinal preteniido m: de descodificar com exactidio. Ass ‘ums palestra pode ser uma fonte de rufdo — no recebemos as mensagens ape- nas através dos olhos ¢ ouvidos. Pensamentos mais interessantes do que as palavras do orador também sao ruido, Shannon e Weaver admitem que 6’conceito de ruido do nivel A tem de ser ‘largado de forma a permitir idar com os problemas ao nivel B. Distinguem entre ruido seméntico (nivel B) ¢ ruido de engenh: A), € sugerem que poderé ser necessétio inserir um elemento intitulado “receptor seman. tico” entre o receptor da engenharia e o destino, O ruido seméntico define-se emo uma qualquer distargio de significado que ocorre no processo de comu- nicagio e que nao € pretendido pela fonte, mas que afecta a recepefo da men- sagem no seu destino, O mufdo, quer tenha origem no canal, no pablico, no emissor ow na prépria ide sempre a incengdo do emissor, limitando deste modo a agdo desejada que pode ser envida numa dada situacdo, rum determinado tempo. A superagdo dos problemas causados pelo ruido levaram Shannon e Weaver a mais alguns coaceitos fundamentais. Informagio: conceitos bésicos Embora afirmando que trabalham com os niveis A. Be C, Shannon ¢ ‘Weaver concentra de facto 0 seu trabalho no nivel A. A este ‘minologia de informaglo é usada num semtido técnivo, de especial 4 compreendermos temos que apagar dos nossos espiritos o seu significado habitual e corrente. AA informacdo ao nivel A é a medida da previsibilidade do sinal, ou seja, 0 ‘ndmero de escolhas a disposigao do seu emissor,e nada tem a ver com o seu contesdo, Um sinal, como nos lembramos, € a forma fisica de uma mensagem ~ondas sonoras no ar, ondas de luz, impulsos eléetricas, toques, ou seja 0 que for. Assim, eu posso ter um c6digo consttuido por dois sinais — acender uma limpada uma vez, ou acendé-la duas vezes. A informagdo contida por cada lum destes sinais & idémtica: 50 por cento de previsibilidade, Isto independen- temente do que eles realmente significarem ~ acender a lémpada poderia querer dizer “sim”, duas vezes “no”, ou uma vez poderi todo Antigo Testamento ¢ duas vezes o Novo. Neste caso, “sim” contém a mesma quantidade de informago que o Antigo Testamento. A informagio contida pela Ietra “u” quando esta se segue 2 letra “q" em portugues 6 nula, porque € totalmente previsivel {nformagao: outras implicacées Podemos usar a unida ara medir informacao, A palavra “bit” é uma abreviatara de “binary digit" (dfgito bindvio)e significa, na prética, uma escolha entre Sim e Nao. Estas escolhas bindrias, ou oposi¢des bindsias, so a base da linguagem dos computadores, € muitos psicélogos sustentam que também é dessa forma que 0 nosso cérebro funciona. Por exemplo, quando ueremos avaliar a idade de alguém, passamos por uma répida sétie de esco- Ihas bindrias: ¢ velho ou novo; se € novo, é adulto ou pré-adulto; se & pré- -audulto, € adolescente ou pré-adolescente; se 6 pré-adolescente, esti em idade 23 escolar ou pré-escolar; se for pré-escolar, & crianga pequena ou bebé? A res- este sistema de escolhas bindrias, a palavra “bebé” con- de informacio, porque fizemos cinco escolhas pelo caminho, sémos facilmente para o nivel B, porque estas sio u categorias de significado, ¢ no simplesmente de ‘Informagdo”, a este nivel, aproxima-se muito mais do uso normal do termo. Portanto, se dissermos que uma pessoa é nova, damos apenas umn “bit” de informacio: ela nBo € velha. Se dissermos que ela é um bebé, estamos @ dar cinco “bits” de informagio; isto se, e € um grande se, usarmos o sistema de classificagao aciina descrito. Este € 0 problema do conceito de “informaco” a0 seminticos no so definidos com tanta pi ccontém cinco se ela estd na primeira ou na segunda metade ou na segunda metade da metade que se escolheu, Perguntas, ou escolhas binérias, permitir-nos-do ident alfabeto). Mas existem dvi rmedir o significado da m Obviamente, na fo do modelo de Shannon ¢ We ‘formagao destes em matemética ¢ engenkaria. No design de u nico, factor eritico & 0 nsmero de sinais que ele pode transportar. Aquilo que as pessoas realmente dizem é imelevante. A questio, para nds, vidas quanto ao ‘alor da medigto numérica do significado e da informacso, elaconar a quan tidade de informagio com as escolhas disponiveis é esclarecedor e, em termos A compreensio da natureza da Tinguagem facultada pela emnidtica, como veremos mais tarde neste livro. As nogdes de previsibilidade e de escotha sio vitais para se compreender « comunicacio, 24 Redundéncia e entropia Redundéncia: conceitos bésicos Jntimamente ionado com “informagao", temos 0 conceito de redun dlincia, & cedundancia é aquilo que, numa mensagem, 6 previsivel ou con- vencional. O oposto da redundéncia ¢ a enfropia. A redundéncia resulta de -om muita informago, Inversamente, uma mensagem de elevada previsibi lidade 6 redundante e com pouca informacao. Se eu encontrar um amigo na rua € disses “ redundante, ‘Mas ndo desperdicei o meu tempo e esforgo. O uso leigo do termo, impli- cando inutilidade, € enganador, Na comunicacio, a redundincia nio s6 6 Gal ‘como absolutamente vital. Teoricamente, a comunicagio pode verificar sem fedundancia, mas na prética as situagdes em que isso é possi rarai que podemos considerar nio o essencial para a comunicagio prética. A lingua inglesa tem uma redundancia cerca de 50 por cento. Quer isso dizer que podemos eliminar cerca de 50 Por cento das palavras e continuaremos a ier uma Kingua utilizével,capaz de transmitir mensagens inteligiveis. Entdo, qual a utilidade da redundéncia? Ela desempenha dois tipos de fun- ‘goes: a primeira ¢ técnica e estd bem definida por Shannon e segunda implica o alargamento do sew conceito a uma dimensto social, ", tenho uma mensagem altamente previstvel e altamente 0 tao -m. Um certo grau de redundincia é ‘A recundéncia come ajuda erica ‘Shannon e Weaver mostram como a redunclancia facilita a exactidao da descodificagdo e fornece um teste que permite identificar erros. S6 me & pos- 25 “chigur” seria uma palavra diferente de “chegat”, ¢ nfo seria possivel saber que a primeira palavra é um erro, Claro esté, 0 contexto poderia ajudar. ‘Caso o fizesse, o contexto seria uma fonte de redundincia, Numa lingwagem ‘natural, as palavras ndlo sfo equiprovéveis. Se eu disser “A Primavera esté a.” entfo estarcia criar um contexto em que “chegar” é mais provével, e portanto ‘mais redundante do que, digamos, “entrar pela janela”. Claro que € possivel que um poeta, ov mesmo um anunciante de janelas novas, escrevesse “A Primavera estd a entrar pela janela”, mas isso seria um uso altamente centtépico da linguagem. Estamos sempre a testar a cxactidao das mensagens que recebemos em relagio ao provével; € 0 que € provavel é determinado pola nossa experién do eédigo, do contexto e do tipo de mensagem ~ por outras palavras, pela nossa experiéneia da convengao e do costume. A convencdo é uma fonte importante de redundincia e, como tal, de fécil descodificagdo. Um escritor ue quebra a convenglo no quer ser facilmente compreendido: os escritores que desejam uma comunicago os seus Ieitores usam convengdes adequadas, Mais tarde voltaremos a esta questio da convencgo e da redun- dlancia, A redundincia ajuda a superar as deficiéncias de um canal com rufdo. Quando ha interferéncias na linka telefSnica nds repetimo-nos; quando sole- ‘ramos palavras, no rédio ou ao telefone, dizemas A de Ant6nio, S de Susana, ete, Um anuneiante cuja mensagem disputa com muitas ontras a nossa aten- ‘Um outro que possa contar com toda a nossa cemplo, com um antincio técnico mum jornal especializado, poderd criar uma mensagem mais entr6pica, contendo mais informagao, Aumentar a redundancia ajuda também a superar os problemas de trans- pica. Uma mensagem que seja completa- inesperada, ou que seja 0 contrério daquilo que seria de esperar, preci- (Ou poderd precisar de uma preparacio especial: “Bem, tenho uma surpresa para ti, una coisa com que ndo estés nada a conta:.". A redundéncia ajuda também a resolver problemas associados & audién- ‘ia, Se desejamos atingir uma audiéncia heterogénes, maior, precisaremos de produzir uma mensagem com iim elevado grau de redundsineia. Por outro Jado, uma audiéacia pequena, especializada e homsgénea, pode ser conquis- tada com uma mensagem mais entrépica. Assim, a arte popular 6 mais redum- dante que a arte de elite. Um antincio de sabio em pé € mais redundante do ‘que outro para um computador de eseritério, A escollia do caval pode afectar a necessidade de redundincia na mens- ‘gem. A fala necessita de ser mais redundante do que a escrita, pois 0 ouvinte do pode introduzir a sua propria redundincia, o que o leitor pode fazer, a0 ler algo duas vezes. : A primeira fungo da redundancia refere-se, pois, 8 maneira como ela ajuda a superar os problemas préticos da comunicagao. Estes problemas podem estar associados 2 exactidio e & deteccao de erros, ao canal e a0 ruido, {natureza da mensagem ow a audiéneia. Entropia Enquanto que a redundincia é um meio para melhorar a comunicagéo, a entropia, como conceito, tem um valor menor para aqueles que estudam ‘comunicacdo, pois constitui um problema da comunicagio. Mas a entropia pode ser entendida como méxima previsibitidade. Ao nivel A, a entropia & simplesmente uma medida do méimero de escolhas de sinal que podem ser fei- mente, cada sinal teré entropia méxima se 0 bara baralhado, No entanto, se eu colocar as carta por ordem em cada naipe, cada sinal werd redundncia méxima, desde que o receptor conhega, ou seiba identi- ficar, 0 padrdo ou a estrutura de um baralho de cartas. Redundéncia © convenio ‘mente 0 mesmo ef ritmo repetidos, e por ‘mente, aumenta a redun “O vento e 0 mar murmuram oragées, Ba poesia das coisas s Lenta e amorosa em nos ‘A convengao ou forma do soneto determinara q nivel A, tenha trés silabas ¢ rime com “oragdes”. A es tada. Outra convengio mais ainda a escolha mos que @ pal restringimos ainda ma “parracbes". A palavra que Antero de Quental escolheu, “coract facto que ser quase totalmente redandante, Mas ela soa perfeitamente bem é esteticamente satisfat6ria. A redundincia é um elemento critica da satisfagio, providenciado pela forma ou estrutura de uma obra de arte ‘mais popular e acessivel for uma obra de arte, mais redundancias na forma ¢ no conteddo. As cangdes folcl6r crucial no € o nivel de erudicao, mas sim a acessibilidade da obra de arte a ‘uma audiéneia vasta, Por outras palavres, podem populares, mas estas so quase sempre convencionais — pensemos em Jane ‘Austen ou em Beethoven como eruditos populares. ‘Quando analisamtos a entropia e a redundancia relativamente a obras de arte

Você também pode gostar