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Julho-agosto de 2005 601

CONTROLE BIOLÓGICO

Compatibilidade do fungoBeauveria Bassiana(Bals.) Vuill.

(Deuteromicetos) com Extratos de Sementes e Folhas de Neem e o
óleo emulsionável

ROGÉRIODE ANÚNCIOSEPIERI1,2, SUELIS.MARTINEZ1EAYRESO.MENEZESJR.3

1Laboratório. Entomologia, Instituto Agronômico do Paraná, C. postal 481, 86001-970 - Londrina, PR
rdepieri@sercomtel.com.br , suemart@sercomtel.com.br
2Bolsista CBP & D/Café
3Depto. Agronomia, Universidade Estadual de Londrina, C.postal 6001, CEP 85051-970 - Londrina, PR
ayres@uel.br

Neotropical Entomology 34(4):601-606 (2005)

Compatibilidade do FungoBeauveria bassiana(Bals.) Vuill. (Deuteromycetes) com Extratos de Sementes e

Folhas e o Óleo Emulsionável de Nim

RESUMO – A compatibilidade de uma formulação comercial de óleo emulsionável de nim (Azadirachta

indicaA. Juss.), do extrato aquoso de sementes e do extrato aquoso de folhas de nim comBeauveria
bassiana(Bals.) Vuill., foi avaliadoem vitro. Foram tratados três experimentos para avaliar o efeito de cada
um dos produtos no crescimento vegetativo do fungo, e na produção e viabilidade dos conídios. Os
produtos foram incorporados ao meio de cultura (PDA+E) e distribuídos em placas de Petri, nas
concentrações, 0,15; 1,5 e 15% (extrato aquoso de folhas), 1; 2 e 4% (extrato aquoso de sementes) e 0,5; 1
e 1,5% (óleo emulsionável). Com base no crescimento vegetativo e na produção de conídios, os extratos
aquosos de sementes e de folhas e o óleo emulsionável de nim foram caracterizados segundo o modelo T
para classificação de compatibilidade de produtos. Os extratos de sementes e de folhas apreciado-se
menos prejudiciais aB. bassianaque o óleo emulsionável. Esse produto, nas concentrações, não foi
compatível comB. bassiana, inibindo significativamente o crescimento vegetativo e incentivando a
produção e a viabilidade dos conídios com efeitos mais acentuados nas concentrações mais altas. Os
extratos de sementes e de folhas de nim foram compatíveis com o entomopatógeno em todas as
concentrações. O extrato de sementes acompanhou o crescimento vegetativo e a produção de conídios,
mas não afetou a viabilidade dos esporos produzidos. Embora o extrato de folhas a 15% tenha reduzido
um pouco o crescimento vegetativo e a produção e viabilidade dos conídios, ainda se manteve compatível
com o fungoB. bassiana, segundo o modelo T.

PALAVRAS-CHAVE: Azadirachta indica, seletividade, controle biológico, fungo entomopatogênico

RESUMO - A compatibilidade de uma fórmula comercial de óleo de nim emulsível (Azadirachta indicaA. Juss.) e de extratos
aquosos de sementes e folhas de nim comBeauveria bassiana(Bals.)Vuill. foi avaliada em vitro. Três experimentos foram
conduzidos para avaliar o efeito de cada produto no crescimento vegetativo do fungo e na produção e viabilidade de
conídios. Os produtos foram incorporados ao meio de cultura (BDA+E) e distribuídos em placas de Petri, nas seguintes
concentrações: 0,15%; 1,5% e 15% (extrato aquoso das folhas), 1%; 2% e 4% (extrato aquoso da semente) e 0,5%; 1% e
1,5% (óleo emulsionável). O crescimento vegetativo e a produção de conídios serviram de base para a caracterização dos
extratos aquosos de sementes e folhas e do óleo emulsionável, utilizando o modelo de classificação T para
compatibilidade de produtos. Os extratos de sementes e folhas foram menos nocivosB. bassianado que o óleo
emulsionável. Nas concentrações testadas, o óleo não foi compatível comB. bassiana, inibindo significativamente o
crescimento vegetativo dos conídios e diminuindo a produção e a viabilidade dos conídios, particularmente em
concentrações mais altas. Os extratos de sementes e folhas de Neem foram compatíveis com o entomopatógeno em
todas as concentrações. Os extratos das sementes reduziram o crescimento vegetativo e a produção de conídios, mas
não afetaram a viabilidade dos esporos. O extrato de folhas a 15% teve um pequeno impacto negativo no crescimento
vegetativo, na produção e viabilidade de conídios, mas ainda foi compatível com o fungoB. bassiana, de acordo com o
modelo T.

PALAVRAS-CHAVE:Azadirachta indica, seletividade, controle biológico, fungo entomopatogênico

602 Compatibilidade do fungoBeauveria Bassiana(Bals.) Vuill. (Deuteromicetos)...
O controle biológico, principalmente por fungos
entomopatogênicos, é importante para reduzir a densidade
populacional de pragas em programas de Manejo Integrado de
Pragas (MIP). Portanto, deve-se observar a preservação de
entomopatógenos que ocorrem naturalmente ou são
introduzidos para controle de insetos (Oliveirae outros. 2003).
Além disso, devemos entender a compatibilidade dos fungos
entomopatogênicos com outras técnicas de produção agrícola,
como o uso de inseticidas, que podem inibir em menor ou
maior grau o desenvolvimento e a reprodução do patógeno
(Malo 1993).
broca do café,Hypothenemus hampei(Ferrari)
(Coleoptera: Scolytidae), é uma das pragas mais graves da
cultura do café, atacando os frutos em todos os estádios de
desenvolvimento. O endosulfan, um organoclorado, ainda
é o tratamento mais comum contraH. hampei, apesar de
seus efeitos fungitóxicos sobreBeauveria bassiana(Mourão
e outros 2003, Oliveirae outros2003), um dos mais
importantes patógenos naturais da broca do café. A
utilização contínua do endosulfan pode promover a seleção
de populações resistentes ao inseticida e a outros produtos
do mesmo grupo químico (Brune outros1989, 1994), além
de causar problemas ambientais e intoxicação de
agricultores.
A pesquisa de meios alternativos para controlar a broca do café
inclui o uso de extratos e óleos de plantas inseticidas. Neem,
Azadirachta indica(Meliaceae), tem um pequeno impacto na fauna
benéfica e no meio ambiente (Schmutterer 1995, Martinez 2002).
Pesquisas sobre o uso do neem no controle da broca-do-café
apresentam resultados promissores (Sponagel 1994, Rodrigues-
Lagunese outros. 1998, RA Depieri & SS Martinez inédito). Os
efeitos do Neem em inimigos naturais, no entanto, particularmente
em fungos entomopatogênicos, precisam de mais pesquisas.
Estudos sobre a compatibilidade deB. bassianacom nim
mostram resultados conflitantes. Para alguns autores, o óleo de
nim emulsível inibe o crescimento micelial (Bajane outros1998,
Hirosee outros. 2001) e a produção e germinação de esporos deB.
bassiana(Hirosee outros. 2001). Outros autores não relatam efeitos
fungitóxicos causados pelo óleo emulsionável (Rodriguez-Lagunes
e outros. 1997), exceto para concentrações acima de 4% (ED
Quintela & PV Pinheiro, inédito), ou por extrato de semente de nim
em concentrações acima de 2,5% (Rodriguez-Lagunese outros.
1997).
O objetivo deste estudo foi avaliarem vitro,a
compatibilidade entre o fungoB. bassianacom óleo emulsível
de neem e extratos de sementes e folhas, em concentrações
que mostraram potencial para redução da broca do café em
estudo anterior (RA Depieri & SS Martinez unpubl.).
Materiais e métodos
Os ensaios foram conduzidos no Laboratório de
Manejo Ecológico de Pragas e Plantas Inseticidas,
Instituto Agronômico do Paraná, IAPAR, em câmara de
crescimento a 25 ± 1ºC, fotofase de 12h.
Avaliamos o efeito de cada produto em três ensaios sobre
crescimento vegetativo, produção de conídios e viabilidade de
B. bassianaesporos. Dalneem emulsionável®neem
Depieri et al.
óleo (0,5%, 1% e 1,5%) (composto principal azadiractina 0,1%),
extrato aquoso da semente (1%, 2% e 4%) e extrato aquoso da
folha de nim (0,15%, 1,5% e 15%), foram incorporados ao meio
PDA+S (batata-dextrose-agar com sulfato de estreptomicina) e
avaliados separadamente. Cada tentativa teve uma tentativa
de controle correspondente em meio PDA+S.
Isolamento e Cultivo deB. bassiana.O isolado deB. bassiana
obtido a partir de conídios foi extraído da broca do café morta (
H.hampei)espécimes, coletados em cafeeiros cultivados
organicamente em Londrina, PR. O isolado foi mantido em
placas de petri (100 mm∅)contendo meio BDA+S, em câmara
de crescimento, semelhante aos isolados selecionados para os
ensaios, até a completa esporulação.
Incorporação de Óleo de Neem Emulsível em Meio de Cultura.
O óleo emulsível de nim foi diluído em meio PDA+S não solidificado
(45ºC), para obtenção das concentrações de 0,5%, 1% e 1,5%. Para
cada ensaio, 1000 ml de meio de crescimento tratado foram
preparados e colocados em 50 placas de Petri, para inoculação de
B. bassiana.
Preparo do Extrato Aquoso das Sementes e Incorporação ao Meio de
Cultura.Frutos maduros de nim de árvores com dez anos de idade
cultivadas em campos experimentais do IAPAR em Paranavaí, PR,
tiveram a polpa retirada em água corrente. As sementes foram secas à
sombra por sete dias e armazenadas a 8–10ºC, por aproximadamente
30 dias. Para o preparo do extrato aquoso de sementes a 40%,
primeiramente as sementes foram trituradas em liquidificador, na
proporção de 80 g para 200 ml de água destilada estéril. O extrato
permaneceu em repouso, por aproximadamente 24h em temperatura
ambiente, no escuro, sendo então filtrado em tecido de poliéster, para
separação dos componentes sólidos. A seguir, 100 ml deste extrato a
40% foram misturados com 900 ml de meio BDA+S a 45ºC (preparado
com 100 ml a menos de água destilada estéril), reduzindo assim a
concentração para 4%. Para obter 100 ml de extrato de semente a 20%
e 100 ml de extrato de semente a 10%, 100 ml de extrato aquoso de
sementes a 40% foram submetidos a diluições seriadas em água. Cada
extrato foi incorporado separadamente, em 900 ml de meio BDA+S a
45ºC, para obtenção das concentrações de 2% e 1%, respectivamente.
Os meios de cultura tratados após a homogeneização foram colocados
no mesmo número de placas do ensaio anterior.
Preparo do Extrato Aquoso da Folha e Incorporação ao Meio de
Cultura.Folhas sem sintomas aparentes de ataque de insetos ou
doenças foram coletadas de árvores de nim com oito anos de idade
cultivadas em campos experimentais do IAPAR, em Londrina, PR.
As folhas foram lavadas em água corrente e imersas por cinco
minutos em solução de NaClO a 1%. Os folíolos foram separados e
lavados em água destilada estéril, sendo então mantidos por
aproximadamente 4h, em capela de fluxo laminar para secagem
superficial. Em seguida, os folíolos foram triturados em
liquidificador, na proporção de 300 g para 500 ml de água destilada
estéril, para obtenção do extrato aquoso das folhas a 60%. O
extrato ficou em repouso por aproximadamente 24h, em
temperatura ambiente e no escuro, sendo então filtrado em tecido
fino de poliéster. Em seguida, 250 ml de extrato de folhas a 60%
foram adicionados a 750 ml de meio BDA+S fundido, a
Julho-agosto de 2005 Entomologia Neotropical 34(4)
a mesma temperatura do ensaio anterior, para reduzir a
concentração para 15%. Para o preparo do meio a 1,5%, 25
ml do extrato a 60% foram diluídos em 225 ml de água e
incorporados à mesma quantidade de meio PDA+S fundido
do tratamento anterior. Para obter a concentração de
0,15%, 2,5 ml do extrato a 60% foram diluídos em 247,5 ml
de água destilada estéril e adicionados a 750 ml do meio
PDA+S previamente derretido. Assim, foram obtidos 1000
ml de meio BDA+S tratado para cada concentração de
extrato aquoso foliar, que posteriormente foram colocados
em 50 placas de Petri.
Preparação e Inoculação do Entomopatógeno em Meio BDA+E
Tratado.Os esporos dos isolados foram suspensos em tubos de
ensaio contendo 10 ml de água destilada estéril com Tween®20
(0,02%) e foram agitados mecanicamente para separar os conídios.
O padrão foi definido em 2,5 x 107conídios/ml. Citações de 0,1 ml
da suspensão foram distribuídas em cada placa de Petri de 100 mm
com meio de cultura BDA. As placas foram mantidas em câmara de
crescimento por dois dias, até a germinação dos conídios. Após o
período de incubação, discos de 4 mm de diâmetro foram cortados
do meio de cultura contendo micélios. A face da placa contendo as
micelas em crescimento foi colocada em contato com o meio
BDA+S solidificado com concentrações de óleo emulsível de nim e
de extratos aquosos de sementes e folhas.
Crescimento fúngico vegetativo.Três dias após a incubação, 35
colônias por ensaio foram selecionadas aleatoriamente e medidas
com um paquímetro em duas direções transversais, subtraindo 4
mm, para determinar o diâmetro médio das colônias. O diâmetro
médio das colônias foi obtido seis dias após a incubação, utilizando
os mesmos procedimentos.
Avaliação da Produção de Conídios.No sexto dia de incubação,
um disco de 4 mm de diâmetro foi cortado da borda de cada
colônia, para quantificar os conídios. Cada disco foi colocado em
um tubo de ensaio contendo 10 ml de água destilada estéril com
Tween 20 (0,02%). Os discos foram agitados por 30 segundos em
vórtice, para extrair os conídios da superfície do meio. Uma cota de
suspensão de cada tubo de ensaio foi canalizada para a câmara de
Neubauer e o número de conídios/ml foi contado.
Avaliação da Viabilidade Conidial.As suspensões para contagem
de conídios nos meios tratados foram diluídas em uma
concentração de aproximadamente 106conídios/ml. As suspensões
dos conídios produzidos em cada uma das concentrações avaliadas
foram pulverizadas por um segundo em três lâminas de vidro
microscópicas contendo uma camada de ágar-água. Houve cinco
repetições por ensaio. O material foi incubado por
aproximadamente 20h em câmara de crescimento. Após esse
período, a viabilidade dos conídios foi determinada pela contagem
dos esporos germinados com microscópio óptico (400x).
Cálculos de compatibilidade.A compatibilidade foi calculada
usando a fórmula proposta por Alvese outros(1998) para classificar
produtos químicos de acordo com sua toxicidade para fungos
entomopatogênicosem vitro. Essa classificação é baseada nos
cálculos do fator T, que relacionam o crescimento vegetativo
603
(VG) e valores de esporulação (conidiogênese) (SP) para o
controle (%): T = [20 (VG) + 80 (SP)]/100. Valores de T entre 0 e
30 classificam os produtos como muito tóxicos; de 31 a 45
como tóxico; de 46 a 60, moderadamente tóxico; e acima de
60, são considerados produtos compatíveis com o fungo em
estudo.
Análise Estatística.O desenho experimental para todos os
ensaios foi completamente randomizado. Os dados foram
submetidos à ANOVA e as médias comparadas pelo teste
de Tukey (P≤0,05).
Resultados e discussão
O óleo de nim emulsível, em todas as concentrações testadas,
reduziu o crescimento vegetativo das colônias e a conidiogênese
deB. bassianasignificativamente, em comparação com o controle. A
1% e 1,5%, o óleo emulsionável também reduziu significativamente
a viabilidade dos esporos produzidos pelas colônias (P≤0,05). Em
geral, o efeito do óleo de nim em todos os parâmetros dependeu
das concentrações, embora as diferenças nem sempre tenham sido
significativas (Tabela 1).
Concentrações de óleo de nim emulsível abaixo de 5% não
causam efeitos de fungitoxicidade significativos, de acordo com
Rodriguez-Lagunese outros. (1997) e ED Quintela & PV Pinheiro
(inédito). A diferença entre os resultados relatados nesses estudos
e os resultados observados neste trabalho pode ser devido à
variabilidade na quantidade de triterpenóides e outros compostos
nas sementes de nim, que são utilizadas para a formulação de
produtos comerciais (Sidhue outros. 2004), ou a emulsificantes e
estabilizantes usados na fabricação. No entanto, efeitos negativos
causados pelo óleo de nim emulsível, ao entomopatógeno, são
relatados por Bajane outros(1998) e Hirosee outros. (2001).
O mecanismo de ação dos subprodutos do nim no crescimento
vegetativo e na reprodução dos fungos ainda é desconhecido
(Locke 1995). No entanto, fitoalexinas, compostos sulfurados e
triterpenóides nesses produtos têm ação fungitóxica (Singh e
outros1984, Bandopadhyay 2002).
As colônias em meios de cultura contendo extrato aquoso de
sementes tiveram seu crescimento vegetativo e conidiogênese
significativamente reduzidos em comparação com o ensaio
controle. A concentração de extrato aquoso de sementes a 1% foi
suficiente para causar inibição significativa do crescimento micelial
e da conidiogênese deB. bassiana,com maiores reduções entre as
maiores concentrações. A incorporação do extrato aquoso das
sementes ao meio de cultura, entretanto, não afetou a viabilidade
dos esporos produzidos em nenhuma das concentrações (Tabela
2). Rodriguez-Lagunese outros. (1997) não observaram inibição
significativa no crescimento vegetativo e germinação de esporos de
B. bassianadevido ao extrato aquoso de sementes a 5%. Variação
na concentração de componentes com possível atividade
fungitóxica em sementes de nim (Sidhue outros. 2004) pode
explicar o menor efeito negativo do extrato aquoso da semente
usado por esses autores sobre o fungo, visto que outros estudos
mostraram a diferença na concentração de azadiractina em
sementes de diferentes origens (Ermele outros1984,
Devaranavadagie outros2003).
Uma inibição significativa do crescimento vegetativo deB.
 Tabela 1. Diâmetro da colônia (média ± SE), quantidade média de conídios e porcentagem de viabilidade, deB. bassianaem BDA+S acrescido de diferentes concentrações de óleo
604
emulsível de nim, a 25 ± 1ºC e fotofase de 12h.
Diâmetro da colônia (n = 35) Quantidade de conídios (n = 35) Viabilidade de conídios (n = 15)

Neem emulsível 3 dias 6 dias

(x 105/ml) redução (%) (%) redução (%)
óleo (%)
cm redução (%) cm redução (%)
0 1,33 ± 0,02 a 0,0 2,09 ± 0,07 a 0,0 49,2 ± 4,33 a 0,0 91,5 ± 0,87 a 0,0
0,5 0,75 ± 0,01 b 43,6 1,05 ± 0,01 b 49,8 24,7 ± 1,61 b 49,8 84,8 ± 1,93 ab 7.3
1 0,77 ± 0,01 b 42.1 0,98 ± 0,01 b 53.1 16,6 ± 1,01 bc 66,3 84,3 ± 1,91 b 7.9
1,5 0,74 ± 0,01 b 44.4 0,94 ± 0,02 b 55,0 10,5 ± 0,65 c 78,7 80,2 ± 2,49 b 12.4
As médias seguidas pela mesma letra na coluna não são diferentes umas das outras pelo teste de Tukey (P≤0,05).

Tabela 2. Diâmetro das colônias (média ± SE), quantidade média de conídios e porcentagem de viabilidade, deB. bassianaem BDA+S acrescido de diferentes concentrações de
extrato aquoso de semente de nim, a 25 ± 1ºC e fotofase de 12h.

Diâmetro da colônia (n = 35) Quantidade de conídios (n = 35) Viabilidade de conídios (n = 15)

Semente de Neem aquoso
3 dias 6 dias
extrair (%) (x 105/ml) redução (%) (%)ns redução (%)
cm redução (%) cm redução (%)
0 1,71 ± 0,01 a 0,0 3,25 ± 0,03 a 0,0 48,2 ± 2,65 a 0,0 90,5 ± 1,11 0,0
1 1,45 ± 0,02 b 15.2 2,93 ± 0,02 b 9.8 38,5 ± 2,20 b 20.1 90,4 ± 1,07 0,1
2 1,34 ± 0,03 c 21.6 2,85 ± 0,03 b 12.3 34,3 ± 2,16 bc 28.8 90,3 ± 1,13 0,2
4 1,24 ± 0,02 d 27,5 2,57 ± 0,03 c 20.9 28,2 ± 2,24 c 41,5 90,3 ± 1,61 0,2
As médias seguidas pela mesma letra na coluna não são diferentes umas das outras pelo teste de Tukey (P≤0,05);nsnão significativo.
.
Tabela 3. Diâmetro das colônias (média ± SE), quantidade média de conídios e porcentagem de viabilidade, deB. bassianaem BDA+S acrescido de diferentes concentrações de
extrato aquoso da folha de neem, a 25 ± 1ºC e fotofase de 12h.
Compatibilidade do fungoBeauveria Bassiana(Bals.) Vuill. (Deuteromicetos)...

Diâmetro da colônia (n = 35) Quantidade de conídios (n = 35) Viabilidade de conídios (n = 15)

folha de nim aquoso
3 dias 6 dias
extrair (%) (x 105/ml) redução (%) (%) redução (%)
cm redução (%) cm redução (%)
0 1,68 ± 0,01 a 0,0 3,24 ± 0,02 a 0,0 52,3 ± 2,20 a 0,0 92,0 ± 0,47 a 0,0
0,15 1,65 ± 0,01 ab 1.8 3,23 ± 0,02 a 0,3 52,0 ± 2,00 a 0,5 92,0 ± 0,37 a 0,0
1,5 1,59 ± 0,01 b 4.8 3,22 ± 0,01 a 0,3 51,3 ± 1,50 a 1.8 90,8 ± 0,47 a 1.3
15 1,15 ± 0,03 c 31,5 2,56 ± 0,03 b 21,0 38,0 ± 2,20 b 27.3 84,9 ± 1,38 b 7.7
As médias seguidas pela mesma letra na coluna não são diferentes umas das outras pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Depieri et al.
Julho-agosto de 2005 Entomologia Neotropical 34(4)
bassianacolônias com extrato aquoso de folhas de nim a 1,5% e
15% após três dias. No entanto, o desenvolvimento vegetativo das
colônias nos meios de cultura em todas as concentrações se
recuperou entre o terceiro e o sexto dia após a inoculação (Tabela
3). A recuperação pode decorrer da metabolização de
componentes tóxicos do extrato da folha de neem, pelo fungo,
como ocorre entre alguns produtos químicos (Alvese outros1998).
A recuperação também pode resultar de processos de oxidação e
decomposição do extrato. A recuperação do crescimento
vegetativo também ocorreu nas colônias em meio com extrato
aquoso das sementes, entre o terceiro e o sexto dias após a
inoculação (Tabela 2). Esse processo, porém, não ocorreu nas
colônias em meio com óleo emulsível (Tabela 1), possivelmente
devido à maior estabilidade e persistência do produto comercial,
quando comparado aos extratos vegetais. A viabilidade dos
esporos foi significativamente reduzida pelo extrato aquoso foliar a
15%, em comparação com o ensaio controle. Da mesma forma, a
conidiogênese foi significativamente inibida pelo extrato aquoso
foliar a 15%, até o sexto dia de incubação (Tabela 3). Castiglionie
outros(2003) relataram efeitos inibidores significativos no
crescimento vegetativo, conidiogênese e germinação deB. bassiana
esporos,causada pela formulação comercial de folhas de nim, em
concentrações iguais e superiores a 5% ia
O extrato aquoso das folhas foi, em geral, menos tóxico para
B. bassianado que o extrato aquoso da semente ou o óleo
emulsionável. O extrato foliar a 1,5% não inibiu o crescimento
vegetativo seis dias após a inoculação do fungo e não reduziu a
conidiogênese ou a viabilidade dos esporos (Tabela 3). Já o óleo
emulsível, na mesma concentração, inibiu o crescimento
vegetativo em mais de 50% e a conidiogênese em quase 80%,
além de reduzir a viabilidade dos esporos (Tabela 1). O extrato
aquoso da semente a 2%, apesar de apresentar menor efeito
negativo sobre o fungo em relação ao óleo emulsionável, foi
mais tóxico ao fungo do que o extrato aquoso da folha;
também, embora não tenha reduzido a viabilidade dos
esporos, reduziu em quase 30% o número de esporos
produzidos, quando comparado ao ensaio controle.
De acordo com os resultados apresentados na tabela de
classificação de produtos fitofarmacêuticos e toxicidade paraB.
bassiana (Tabela 4), o emulsível óleo de nim nas concentrações
testadas não foi compatível com o isolado, podendo ser tóxico para
outros isolados deB. bassianausado para controlarH. hampei. Já
nas colônias submetidas aos extratos aquosos de sementes e
folhas, esses produtos foram compatíveis com o fungo em todas as
concentrações. O óleo emulsionável foi mais tóxico paraB. bassiana
do que os extratos aquosos de sementes e folhas. Na concentração
0,5%, o óleo emulsionável causou maior redução no crescimento
vegetativo e na produção e viabilidade de esporos do que os
extratos botânicos, mesmo quando estes estavam em suas maiores
concentrações.
A fórmula desenvolvida por Alvese outros(1998)
representa o efeito tóxico de produtos fitofarmacêuticos
em fungos entomopatogênicosem vitro. Testes de
compatibilidade em laboratório têm a vantagem de expor o
patógeno ao máximo de atividade possível de produtos
químicos, situação que não ocorre em condições de campo.
Portanto, quando um tratamento é compatívelem vitro, lá
605
Tabela 4. Classificação de compatibilidade de óleo emulsível de nim
e extratos aquosos de sementes e folhas comB. bassiana(Valor T,
calculado a partir da fórmula proposta por Alvese outros1998).
Tratamentos T Classificação
óleo emulsionável de nim
0,5% 50.02 Moderadamente tóxico
1% 36.34 Tóxico
1,5% 26.04 Muito tóxico
Extrato aquoso de semente de Neem
1% 81.96 Compatível
2% 74.51 Compatível
4% 62.62 Compatível
Extrato aquoso de folha de Neem
0,15% 99,54 Compatível
1,5% 98,5 Compatível
15% 73,96 Compatível
é uma forte evidência de sua seletividade em condições de
campo. No entanto, uma alta toxicidadeem vitronão significa
que o produto sempre será tóxico para aquele patógeno no
campo (Alvese outros1998). Nesta situação, a inibição do
crescimento vegetativo pode ser uma indicação menos
representativa de fungitoxicidade do que a viabilidade dos
esporos ou o efeito na germinação (Loriaet al.1983).
Consequentemente, como a fórmula comercial não leva em
consideração o efeito do tratamento na viabilidade dos
esporos, os resultados da pesquisa sugerem cautela ao usar
óleo emulsível de nim em ambientes ondeB. bassianaafeta
H. hamperimortalidade significativamente.
Em condições de campo, a compatibilidade entre o produto
fitofarmacêutico e a germinação é necessária porque os
insetos se infectam por meio da germinação de esporos, por
ingestão ou contato (Malo 1993). Hirosee outros(2001)
observaram redução de 45% na germinação de esporos deB.
bassiana quando misturado com óleo de nim a 2%. Portanto, a
mistura de emulsão aquosa de óleo e esporos do
entomopatógeno controlador de pragas deve ser evitada.
Assim, quando o óleo de nim emulsionável ou extratos de
nim são usados para controlar a broca do café em áreas onde
a ocorrência deB. bassianaé significativo, formulações
compatíveis devem ser preferidas para não prejudicar a ação
do entomopatógeno. Como em condições de campo os fatores
ambientais diminuem o impacto dos componentes tóxicos
sobre o fungo, as formulações consideradas compatíveis nos
testesem vitropode ser seguro para o fungo.
Agradecimentos
Agradecemos ao Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café) pelo patrocínio do
primeiro autor. Agradecemos também a Ana Maria
Meneguim, pela leitura crítica e sugestões.
606 Compatibilidade do fungoBeauveria Bassiana(Bals.) Vuill. (Deuteromicetos)...
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Recebido em 01/II/05. Aceito em 28/IV/05.