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Politica e Natureza Humana em Thomas Hobbes - Givano Irineu
Politica e Natureza Humana em Thomas Hobbes - Givano Irineu
Belo Horizonte
2022
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Instituto de Filosofia e Teologia
Departamento de Filosofia
Belo Horizonte
2022
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar a teoria política-filosófica de
Thomas Hobbes expressa em suas obras Leviatã e Do cidadão. Para melhor elucidar
a nossa análise, pode-se dizer que nesse artigo, buscaremos apresentar uma possível
resposta para as seguintes perguntas: O que é o estado de natural hobbesiano? Como
o britânico caracteriza as leis naturais e civis? E, do mesmo modo, como ele conceitua
o direito natural, a liberdade humana e o poder de vontade corporal? Por fim, como
ele articulou tais conceitos para justificar a existência do Estado civil soberano? Para
responde-las, no primeiro capítulo apresentaremos a forma como Hobbes
problematizou o estado de natureza, refletindo sobre as paixões humanas, priorizando
dentre elas, o sentimento do medo. De todos os impulsos naturais, o medo é aquele
que ganha destaque na teoria política hobbesiana, podendo ser considerado o ponta
pé inicial, para que os homens deixem o Estado de Natureza para viverem em
sociedade. No segundo capitulo, vamos comentar a forma como o autor conceituou
as leis e os direitos naturais, a liberdade e a vontade humana. Em suma, as leis
naturais são imperativos que, fundamentados na razão, funcionam como base para a
elaboração das leis civis que, por sua vez, possibilitam a efetivação do poder
soberano. Todavia, as leis naturais só serão efetivas a partir da realização do contrato
social. O contrato, por sua vez, só será legitimo se for capaz de atingir a sua finalidade
original, isto é, a proteção e o bem estar de todos os seus associados. Por fim,
buscaremos tratar das leis civis, a organização do estado e como os dois termos, lei
natura e lei civil, se distinguem.
Palavras-chave: contrato social; direito natural; estado civil; estado natural; lei da
natureza; lei civil; liberdade humana; Vontade.
ABSTRACT
1 INTRODUÇÃO
Por esse motivo, as duas obras receberão destaque neste artigo, todavia, a
primazia teórica será do livro Do cidadão. Porém, quando for necessário, o Leviatã
será usado para justificar ou melhor elucidar as passagens da obra Do cidadão
Neste estudo, a perspectiva antropológica hobbesiana, articulada com a sua
formulação política, será explicitada. Para isso adotar-se-á um levantamento prévio
de textos de outros filósofos e comentadores, que retratam em suas obras a
perspectiva antropológico-política hobbesiana. Dentre eles, podemos citar: Renato
Janine Ribeiro, Quentin Skinner e Norberto Bobbio.
Seguindo esse roteiro, nosso estudo terá uma divisão que ocorrerá da seguinte
forma: Primeiro vamos tratar da percepção antropológica de Thomas Hobbes. Nesse
sentido, buscaremos explicar conceitos chaves que fundamentam o pensamento do
filosofo sobre essa temática, tais como: estado de natureza, estado civil, paixões
naturais, autopreservação e vontade. Em seguida, apresentaremos a sua reflexão
política, guiando-nos por meio da exposição dos seguintes conceitos: lei e direito
natural, leis civis, justiça distributiva e comutativa, liberdade, soberano e contrato
social. Esclareceremos, por fim, como essas duas análises (antropológica e política)
se relacionam em sua justificativa para a instituição de um estado soberano.
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seu destino social; nesse sentido, o estado, assim como qualquer outra forma de
associação humana é originado artificialmente, por uma necessidade natural de
autopreservação. “[...] A origem de todas as grandes e duradouras sociedades não
provém da boa vontade recíproca que os homens tivessem uns para com os outros,
mas do medo recíproco que uns tinham dos outros”. (HOBBES, 1992, p. 32). Nesse
sentido, Hobbes propõe a elaboração de um sistema ético-racional, separado
terminantemente da teologia e capaz por si mesmo de assegurar a universalidade dos
princípios da conduta humana (BOBBIO, 1994).
Assim, pode-se constatar que um dos principais objetivos do filosofo britânico,
em suas obras Leviatã e Do cidadão, é justamente, encontrar um método científico,
capaz de estabelecer um verdadeiro código de conduta moral; que possa ser aplicado,
sem a desconsideração dos impulsos naturais humanos, subjugando-os através da
racionalidade, em vista do bem estar social. Assim Hobbes declara:
Portanto, a verdadeira razão é uma lei certa, que (já que faz parte da natureza
humana, tanto quanto qualquer outra faculdade ou afecção da mente)
também é denominada natural. Por conseguinte, assim defino a lei da
natureza: é o ditame da reta razão no tocante àquelas coisas que, na medida
de nossas capacidades, devemos fazer, ou omitir, afim de assegurar a
conservação da vida e das partes de nosso corpo. (HOBBES, 1992, p. 44).
1 A primeira trata do esforço que devemos ter para conquistarmos a paz, a segunda sobre a
regulamentação de todas as coisas e, por fim, a terceira proclama a responsabilidade que devemos ter
para o cumprimento de todos os acordos sociais
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Vemos todos os países, embora estejam em paz com seus vizinhos, ainda
assim guardarem suas fronteiras com homens armados, suas cidades com
muros e portas, e manterem uma constante vigilância. Com que propósito
fazem tudo isso, se não for pelo medo ao poder do vizinho? Vemos, até nos
Estados bem governados, onde há leis e castigos previstos: para os
delinquentes, que mesmo assim os particulares não viajam sem levar sua
espada a seu lado, para se defenderem, nem dormem sem fecharem - não
só suas portas, para proteção de seus concidadãos - mas até seus cofres e
baús, por temor aos domésticos. Poderiam dar os homens melhor
testemunho da desconfiança que têm cada um do outro, e todos de todos?
Assim agindo, tanto os países como os particulares professam publicamente
seu temor e desconfiança mútua. (HOBBES, 1992, p. 16-17).
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O homem natural de Hobbes não é um selvagem. É o mesmo homem que vive em sociedade. Melhor
dizendo, a natureza do homem não muda conforme o tempo, ou a história, ou a vida social. Para
Hobbes, como para a maior parte dos autores de antes do século XVIII, não existe a história entendida
como transformando os homens. Estes não mudam. É por isso que Hobbes e outros citam os gregos
e romanos quando querem conhecer ou exemplificar algo sobre o homem, mesmo de seu tempo.
(RIBEIRO, 2005. p. 54)
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Sendo assim, da mesma forma é possível supor que o Estado político, isto é,
aquele originado por meio da instituição do contrato social, sempre existiu. A
humanidade, nesse sentido, nunca passou por uma situação totalmente ausente de
relações sociais. Contudo, vale ressaltar que, o estado civil nunca conseguiu
plenamente estabelecer a paz, pois mesmo que a sociedade consiga atingir um
grande número de membros que se respeitem mutuamente, sempre haverá uma
parcela de indivíduos que, por falta de instrução e disciplina de suas paixões, acabam
por transgredir as leis. Nesse contexto, o contrato social deve funcionar como um
ideal, ou seja, um guia legislativo que busque regular todas as ações de uma
determinada sociedade, mas que não se efetiva espontaneamente ou de maneira
harmônica-natural, mas sim, de forma gradativa, por meio da educação e disciplina
dos sentidos.
Com essa reflexão, podemos observar o primeiro compromisso do estado civil
que, em suma, configura-se em promover uma aceitação geral, contudo gradativa, do
contrato. Os cidadãos, nesse sentido, desde a infância deverão ser instruídos a seguir
a ordem social, ter respeito pelas leis e disciplinar seus impulsos naturais, para que,
já na fase adulta possam exercer plenamente os deveres civis. Conforme Hobbes nos
alega:
[...] Um homem perverso é quase a mesma coisa que uma criança que
cresceu e ganhou em força e se tornou robusta, ou um homem de disposição
infantil; e a malícia é a mesma coisa que uma falta de razão naquela idade
em que a natureza deveria ser mais bem governada mediante a boa
educação e a experiência. Portanto, a menos que dizendo que os homens
são maus por natureza entendamos apenas que eles não recebem da
natureza a sua educação e o uso da razão, deveremos necessariamente
reconhecer que os homens possam derivar da natureza o desejo, o medo, a
ira e outras paixões, sem, contudo, imputar seus maus efeitos à natureza.
(HOBBES, 1992. p. 18).
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Todo homem é opaco aos olhos de seu semelhante – eu não sei o que o outro deseja, e por isso, tenho que
fazer uma suposição de qual será a atitude mais prudente e razoável. Como ele também não sabe o que quero,
também é forçado a supor o que farei. Dessas suposições recíprocas, decorre que geralmente o mais razoável
para cada um é atacar o outro, ou para vencê-lo, ou simplesmente, para evitar um ataque possível: assim a guerra
se generaliza entre os homens. (HOBBES, 2005. p. 55)
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4Hobbes tem perfeita consciência de que essa definição há de chocar seus leitores, que se prendem
à definição aristotélica do homem como zoon politikon, animal social. Para Aristóteles, o homem
naturalmente vive em sociedade e, só desenvolve todas as suas potencialidades dentro do estado.
Esta é a convicção da maioria das pessoas, que preferem fechar os olhos à tensão que há na
convivência com os demais homens, e conceber a relação social como harmônica. (RIBEIRO, 2005. p.
57).
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mente. Todo prazer mental, tem a sua origem no sentimento de vanglória, que
consiste na busca pela aparente honra e superioridade perante os demais 5. Os outros
prazeres, podem ser considerados como fruto dos impulsos sensuais próprios da
condição natural humana. Com essa afirmação, pode-se dizer que, para Hobbes, o
homem é um animal sensitivo movido por seus impulsos naturais, todas as suas ações
estão condicionadas a busca pelo prazer. Conforme se pode constatar nessa
passagem:
Ora, tudo o que venha a parecer bom é agradável, e se refere quer aos
sentidos, quer à mente. Mas todo prazer mental ou é glória (que consiste em
ter boa opinião de si mesmo), ou termina se referindo à glória no final. Os
demais prazeres são sensuais, ou conduzem, à sensualidade, que pode ser
compreendida entre as conveniências mundanas. Toda associação, portanto,
ou é para o ganho ou para a glória - isto é: não tanto para o amor de nossos
próximos, quanto pelo amor de nós mesmos. (HOBBES, 1992. p. 31).
5 O homem hobbesiano não é então um homo economicus, por que seu maior interesse não está em
produzir riquezas, nem mesmo pilha-las. O mais importante para ele é ter os sinais de honra, entre os
quais se incluem a riqueza (mais como meio, do que como fim). Quer dizer que o homem vive
basicamente de imaginação. Ele imagina ter um poder, imagina ser respeitado pelos semelhantes,
imagina o que o outro vai fazer. Da imaginação decorrem perigos, porque o homem se põe a fantasiar
o que é irreal. (RIBEIRO, 2005. p. 59)
6 Hobbes não defende a tese da renúncia total. Para ingressar na sociedade civil, o homem renuncia a
tudo o que torna indesejável o estado de natureza; mais precisamente, renuncia à igualdade de fato
que torna precária a existência até mesmo a dos mais forte; o direito a liberdade natural, ou seja, ao
direito de agir seguindo não a razão, mas as paixões; ao direito de impor a razão por si só, isto é, à
posse efetiva de todos os bens de que tem força para se apropriar. A finalidade em função do qual o
homem considera útil renunciar a todos esses bens e salvaguarda do bem mais precioso, a vida, que
no estado de natureza tornou-se insegura por causa da ausência de um poder comum. Entende-se que
o único direito ao qual o homem não renuncia, ao instituir o estado, é o direito à vida. (BOBBIO, 1994.
p. 72)
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Direito natural e lei natural são dois conceitos importantes na filosofia política
de Thomas Hobbes. Compreender as suas definições é algo necessário para o
desenvolvimento de nossa análise.
A princípio, podemos dizer que para Hobbes a lei natural é algo que,
fundamentado na razão, regula os movimentos das paixões, impedindo-nos de
realizar alguma coisa que prejudique a nossa integridade. Em suma, é o exercício
analítico da reta razão sobre aquilo que devemos fazer ou omitir, respeitando a nossa
condição natural, com o objetivo de assegurar a conservação da nossa vida particular
e das estruturas sociais. Conforme o filósofo afirma: “A lei de natureza é um preceito
ou regra geral fundada pela razão, pela qual um homem é proibido de fazer aquilo que
seja destrutivo para a sua própria vida ou privar dos meios de conservá-la ou ainda
omitir a melhor forma de a preservar” (HOBBES, 2020. p. 123). O direito natural, por
sua vez, é uma liberdade, ou melhor, a possibilidade de agir, conforme lhe for
conveniente, sem nenhum impedimento externo, para a conservação de sua vida.
Assim como é retratado nessa passagem do Leviatã:
O direito da natureza, a qual escritores usualmente chamam de
jus naturale, é a liberdade que cada homem possuiu de usar seu
próprio poder como queira, para a conservação de sua própria
natureza; ou seja, de sua própria vida; e, consequentemente, de
fazer qualquer coisa que considere, dentro de seu julgamento e
razão, como meios mais aptos para chegar a esse fim.
(HOBBES, 2020. p. 123).
7
Hobbes reduz a liberdade a uma determinação física, aplicável a qualquer corpo. Com isso, ele
praticamente elimina o valor (a seu ver retórico) da liberdade como um clamor popular, como um
princípio pelo qual homens lutam e morrem. (RIBERO, 2005. p. 67)
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seja ela real ou aparente. Nesse sentido, ele usará de todos os meios que a sua
capacidade permitir para se proteger e vencer o perigo. Essa liberdade manifestada
no direito natural é positiva parcialmente, pois se for vivida em plenitude,
consequentemente levará a guerra de todos contra todos e, por fim, a extinção da
espécie humana.
Por esse motivo, surge a lei natural que possibilita o regulamento das ações a
partir da razão. A lei natural, nesse contexto, funciona como um mecanismo natural
que regula o agir humano, buscando, acima de tudo, a conservação da integridade do
indivíduo perante a sua vivência no ambiente social. Portanto, pode-se dizer que,
mesmo tendendo para o mesmo fim, os dois termos, lei e direito natural, são
particularmente diferentes, o primeiro pode ser compreendido como uma obrigação
racional, enquanto o segundo, uma liberdade. Assim como Hobbes expõe: “[...] o
direito consiste na liberdade de fazer ou reprimir: conquanto a lei determine e conecte
um ao outro: dessa forma, lei e direito diferem tanto quanto a obrigação e liberdade;
que são incompatíveis quando se se referem a mesma matéria” (HOBBES, 2020. p.
123-124).
Surge também nessa mesma problemática um novo termo que ainda não fora
observado: o poder ou vontade de pulsão, o conatus naturale. Nesse sentido, como
uma máquina que possui uma função pré-estabelecida, o poder e vontade seriam um
impulso do corpo, que tem como finalidade a sua própria autoconservação. Percebe-
se então, que existe uma semelhança entre os termos poder e liberdade, ambos são
movimentos do corpo que visam a conservação do indivíduo. Mas é possível observar
um diferencial: a liberdade é a capacidade de usar, plenamente, esse poder que
possui sem nenhum impedimento externo; quando existe algo que impede o indivíduo
de manifestar esse poder, este lhe é retirado. Nesse sentido, o poder, segundo
Hobbes, é todo movimento do corpo que tende para autodefesa, que pode ser
impedido por algum fator externo e, consequentemente, ser retirado. A liberdade, por
sua vez, é a manifestação plena desse poder, sem nenhum impedimento para a sua
realização. A partir dessa análise, pode-se constatar que existem duas possíveis
novas interpretações para o direito natural: o direito de agir sem nenhuma obrigação
social e, inevitavelmente tender para a auto extinção; ou, o direito de agir segundo as
normativas sociais, elaboradas segundo a análise racional dos fatos. Assim, podemos
dizer que o direito natural se interliga com a lei natural, quando o indivíduo, agindo
livremente, abre mão de parte de suas potencialidades e
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Quando o indivíduo firmou o contrato social, renunciou ao seu direito de natureza, isto é, ao
fundamento jurídico da guerra de todos contra todos. É que, neste direito, o meio (fazer o que julgasse
mais conveniente) contradizia o fim (preservar a própria vida). O homem percebeu que, como todos
tinham esse direito tanto quanto ele, o resultado só podia ser a guerra. [...] Mas, dando poderes ao
soberano, a fim de instaurar a paz, o homem só abriu mão de seu direito para proteger a sua própria
vida. Se esse fim não for atendido pelo soberano, o súdito não lhe deve mais obediência – não por que
o soberano violou algum compromisso, mas simplesmente porque desapareceu a arzão que levava o
súdito a obedecer. Esta é a “verdadeira liberdade do súdito”. (RIBEIRO, 2005. p. 68)
21
9
Hobbes formulará um novo termo denominado injúria. Que consiste justamente em descumprir aquilo
que foi acordado no contrato. “Violar um compromisso, ou exigir de volta algo o que já demos é o que
se chama de injúria. Consiste sempre numa ação ou omissão. E tal ação ou omissão é chamada injusta,
uma vez que injúria significa a mesma coisa que uma ação ou omissão injusta, ou quebra da confiança
ou rompimento do compromisso que foi firmado” (HOBBES, 1992. p. 62-63)
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A quarta lei orienta “que todo homem se faça útil aos demais.” (HOBBES, 1992. p. 68).
Para melhor compreendê-la devemos relembrar que são diversos os motivos e
disposições naturais que levam os homens a ingressar na vida social. Isto é, cada
pessoa se difere no modo como expressa e vive as suas afeições e impulsos. Alguns,
vivem de maneira desregrada, tomando para si tudo aquilo que deseja, sem pensar
diretamente no coletivo, isso gera um ambiente de hostilidade e desestabiliza a
estrutura social. Nesse sentido, o indivíduo inútil e perturbador, para Hobbes, pode ser
definido como aquele que não consegue regular as suas pulsões, que acima de
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A particular importância desse contraste revela-se no fato de ser a ele que se refere principalmente
a intepretação corrente que faz do modelo jusnaturalista o reflexo teórico e, ao mesmo tempo, o projeto
político da sociedade burguesa em formação. [...] Essa esfera das relações econômicas é regida por
leis próprias de existência e de desenvolvimento, que são as leis naturais: enquanto tal, ela representa
o momento da emancipação da classe que se prepara para se tornar economicamente dominante com
relação a situação existente. (BOBBIO, 1994. p. 45)
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tudo deseja realizar as suas vontades em detrimento das necessidades daqueles que
se encontram a sua volta. Para elucidar a sua teoria, Hobbes elabora a seguinte
metáfora.
Assim como nas pedras, que se juntam na construção de um edifício, há
diversidade de material e configuração. Assim, uma pedra que por suas
formas angulares e ásperas tira mais espaço das outras do que ela própria
preenche, e que devido à rigidez de sua matéria não pode ser reduzida em
tamanho, nem cortada, e por isso pode fazer que a edificação não seja tão
compacta quanto precisa ser, é descartada, por não ter serventia; da mesma
forma, costuma-se dizer que é um inútil, e perturbador dos demais, aquele
homem que tenha uma grosseira disposição a tomar para si o que é supérfluo,
a privar os outros do que é necessário, e a quem seja impossível corrigir
racionalmente, tão teimosas são suas afeições (HOBBES, 1992. p. 68).
A quinta lei natural nos orienta a “perdoar àquele que se arrepende e pede
perdão pelo passado - desde que nos acautelemos, primeiro, quanto ao tempo futuro”.
(HOBBES, 1992. p. 69). O perdão para Hobbes, nessa perspectiva, pode ser
entendido como a concessão da paz àqueles que a pedem com o objetivo de
reconstituir a relação abalada por um conflito passado. Isso é relevante de se destacar
pois, se o perdão for concedido a alguém que não se arrependeu de sua falta e
continua nos tratando com hostilidade, ele passa a ser denominado como medo, não
configurando-se assim, como um cumprimento da quinta lei natural, pois o conflito não
é finalizado e a pessoa hostilizada pode sofrer, a qualquer momento, um atentado
contra a sua vida.
A sexta lei natural nos afirma que um castigo só pode ser aplicado com a
finalidade de disciplinar e reintegrar o indivíduo que cometeu um determinado crime a
sociedade. “Que, procedendo à vingança ou impondo castigos, devemos ter em mira
não o mal passado, mas o bem futuro” (HOBBES, 1992. p.69). Nesse sentido,
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num julgamento justo e fundamentado nesta lei natural, por exemplo, ao definir a
punição contra o réu, não se deve levar em consideração o mal cometido no passado,
mas o quanto essa punição contribuirá para reintegração do indivíduo no ambiente
social. Assim, como Hobbes nos relata nesse trecho: [...] “Se for levado em conta
apenas o tempo passado - nada mais é que um certo triunfo e glorificação da mente,
que não aponta para fim nenhum (pois contempla apenas o que é passado; ora, o fim
é uma coisa ainda por vir); e como o que não está dirigido para fim algum é vão;
conclui-se que a vingança que não considere o futuro procede ela vã glória, e por
conseguinte não tem razão” (HOBBES, 1992. p. 70). Aquele que descumpre essa lei,
promove um ciclo vicioso de conflitos em que o castigo é motivado apenas pela
violência gratuita e o prazer que o algoz conseguirá ao ver o seu inimigo subjugado.
Vale ressaltar por fim que, a partir dessa lei, Hobbes desenvolve um novo conceito:
crueldade. Essa violência não possui um fundamento racional e justo, não tende a um
fim benéfico e construtivo, busca apenas saciar o desejo de vingança de uma das
partes envolvidas no conflito. Em suma, aquele que descumpre essa lei, pode ser
definido como uma pessoa movida pela crueldade.
3.3 Sétima e oitava leis da natureza
11A igualdade é o fato que leva a guerra de todos. Dizendo que os homens são iguais, Hobbes não faz
uma proclamação revolucionária contra o regime (como fará a revolução francesa: “todos os homens
nascem livre e iguais” ...) simplesmente afirma que dois ou mais homens podem querer a mesma coisa,
e por isso todos vivemos uma intensa competição. (RIBEIRO, 2005. p. 66).
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justamente reafirmar que a dignidade conquistada por uma determinada pessoa numa
sociedade não tem a sua origem no estado natural, mas apenas no civil. Novamente,
o filósofo tece uma crítica à Aristóteles, alegando que as desigualdades não são frutos
da condição natural humana, pois racionalmente ela só se justifica num contexto
social, naturalmente nenhum homem aceita, segundo Hobbes, ser subjugado, nem
receber menos prestígio que outro. Por esse motivo, devemos compreender que todos
nós somos iguais, possuímos naturalmente a mesma dignidade e quem for contra tal
afirmação deverá ser visto como alguém movido pela arrogância.
3.4 Da nona a décima terceira lei da natureza
A nona lei trata da justa distribuição dos direitos. Para melhor compreendê-la
devemos lembrar o motivo pelo qual o homem, segundo Hobbes, aceita viver em
sociedade já que “que todos os direitos que um homem reivindique para si, os mesmos
ele reconheça serem devidos a todos os demais” (HOBBES, 1992. p. 72) No estado
de natureza todos os homens são iguais e possuem o direito de realizar qualquer coisa
que desejam. Quando ingressam na sociedade, para se autopreservar de sua própria
condição natural, abrem mão de parte desse direito universal. É uma concessão
parcial, pois existem alguns direitos e necessidades que não podem ser perdidos,
como por exemplo, o direito à proteção de seu corpo, ao livre desfrute do ar, da água
e de tudo aquilo que for necessário para a conservação de sua vida. Sendo assim,
existem muitos direitos do estado natural que são preservados na sociedade civil e
devem ser respeitados. A escolha de quais direitos naturais devem ser inseridos na
sociedade civil se dá pela seguinte máxima: numa sociedade organizada, um direito
natural só pode ser reivindicado por alguém quando for possível distribui-lo de maneira
igualitária a todos os seus membros. Nesse sentido, se esse direito beneficia somente
uma parte da sociedade, ele deve ser descartado ou redistribuído de maneira justa e
universal. Se isso não acontecer, é um atentado direto a nona lei natural. O respeito
a essa lei chama-se modéstia, sua infração pleonexia.
Da décima a décima terceira lei da natureza, percebe-se que Hobbes busca
solucionar algumas pendências que surgem consequentemente da nona lei. Por esse
motivo, elas podem ser explicitadas de maneira mais objetiva, pois as suas
particularidades, como por exemplo, a forma como Hobbes emprega o termo
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Décima quarta Lei orienta que: “a todos homens que mediam a paz sejam outorgados
com um salvo-conduto. Porque a lei que ordena a paz como fim, ordena a intercessão,
como meio. E o meio para a intercessão é o salvo-conduto.” (HOBBES, 2020, p. 145).
A décima quinta e décima sexta lei estão correlacionadas. A primeira nos ensina que
quando um conflito não pode ser resolvido pelo simples diálogo entre as partes, que
a problemática seja levada para o julgamento de uma outra pessoa, que no caso,
exercerá a função de juiz. “Que aqueles entre os quais há controvérsia submetam seu
direito ao julgamento de um árbitro.” (HOBBES, 2020, p. 145).; a segunda (décima
sexta lei) explica que este juiz, não poderá ser nenhuma pessoa que esteja envolvida
no conflito, pois isso levantaria, logicamente, suspeitas sobre a sua imparcialidade.
“Dado que se supõe cada um fazer todas as
12
O sorteio, pode ser de duas espécies: arbitrário ou natural. Arbitrário é aquele que é lançado por
consentimento das partes, e consiste no mero acaso (como dizem) ou fortuna. Sorteio natural é a
primogenitura (em grego kleronomía, significando o que é concedido por sorteio) ou a posse primeira.
(HOBBES, 1992. p. 73-74)
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coisas tendo em vista seu próprio benefício, ninguém pode ser um árbitro adequado
em causa própria” (HOBBES, 2020, p. 145).
A décima sétima lei natural exige que os árbitros sejam imparciais nos seus
julgamentos, isto é, não podem assumir uma posição que favoreça uma das partes
que estão sendo julgadas. Acima de tudo, devem prezar pela justiça, as suas
sentenças não podem ambicionar o lucro ou prestígio que poderiam receber dos
envolvidos no processo. Essa lei orienta que, para um indivíduo se tornar juiz, ele deve
primeiramente, respeitar as leis naturais e, acima de toda vangloria, priorizar a reta
justiça. “não deve ser juiz ninguém que, da vitória de qualquer das partes, possa ter
qualquer esperança de lucro ou glória: e isso pela mesma razão aqui, que na lei
precedente” (HOBBES, 1992, p. 75).
A décima oitava lei, por sua vez, trata da imparcialidade que as testemunhas
devem ter quando estão colaborando num processo jurídico. “Que os árbitros e todos
os que julgam do fato, quando deste não aparecerem sinais firmes e seguros, baseiem
sua sentença naquelas testemunhas que aparentemente sejam indiferentes a ambas
as partes” (HOBBES, 1992, p. 76).
A décima nona lei trata da forma como as partes envolvidas num determinado
processo jurídico devam se comportar perante o árbitro. Em resumo, não devem
buscar uma vantagem que não seja exclusivamente pelos fatos do crime ocorrido, não
podem, nesse sentido, tentar comprar o juiz com uma espécie de propina. Tal lei
permite um julgamento honesto, em que todos de fato, podem ser tratados como
iguais. Independente da riqueza ou influencia que possui, o réu não poderá usar dela
para vencer o processo, pois este só deve estar fundamentado nos próprios fatos do
processo. Assim, como escreve, Hobbes:
Da definição acima proposta de árbitro podemos inferir ainda que, entre ele e
as partes por quem for designado juiz, não deve haver nenhum contrato ou
promessa que possa induzi-lo a falar em favor de uma delas; mais até: nem
deve ter firmado com nenhuma destas um contrato pelo qual se comprometa
a julgar segundo a equidade, ou mesmo a pronunciar uma sentença que ele
sinceramente julgue ser equitativo. (HOBBES, 1992, p. 76).
A vigésima lei da natureza nos orienta sobre o cuidado que devemos possuir
como o nosso corpo, para que o nosso discernimento racional não seja prejudicado.
Nesse sentido, as leis de natureza, como já retratado, são ditados elaborados pela
reta razão; quando somos privados desse discernimento racional, caminhamos as
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margens das leis naturais e, assim, não as cumprimos plenamente. Sendo assim,
devemos sempre conservar a nossa integridade física, regular o nosso consumo sobre
qualquer coisa que possa danificar a nossa capacidade reflexiva. Aquele que faz uso
de algum entorpecente que lhe impeça de usar plenamente a sua capacidade racional
está agindo contrariamente a vigésima lei da natureza. “que todo aquele que,
consciente ou voluntariamente, fizer qualquer coisa pela qual a faculdade racional
possa ser destruída ou debilitada, assim rompe, consciente e voluntariamente, a lei
de natureza” (HOBBES, 1992. p. 77).
Em suma, essas são as leis naturais formuladas por Hobbes que possuem um
caráter propriamente reflexivo, não é uma imposição legislativa, mas um modelo de
conduta metodologicamente formulado pela razão. “Mas não basta o fundamento
jurídico. É preciso que exista um Estado dotado da espada, armado, para forçar os
homens ao respeito. Desta maneira, aliás, a imaginação será regulada melhor, poque
cada um receberá o que o soberano determinar”. (RIBEIRO, 2005. p. 61)
4 A ORIGEM DO ESTADO CIVIL, CONTRATO SOCIAL E AS TRÊS FORMAS DE
GOVENO
possuem liberdade para realizar tudo aquilo que desejam, apenas um sentimento
impera, o medo. Pois o outro, é visto como um infinito de possibilidades, não sabemos
o que esperar de suas ações e vontade. Isso prejudica a nossa reflexão sobre a
realidade; acometidos pelo encontro com o outrem, a mente é tomada pela suposição.
Naturalmente, guiados pelo medo e imaginação, buscamos a todo custo neutralizar
essa ameaça aparente. Como somos livres, tudo aquilo que pudermos fazer para a
conservação de nossa vida, faremos. Isso gera um conflito que, segundo Hobbes,
pode gradativamente escalar para uma guerra (BOBBIO, 1980).
Por essa condição natural, os homens formam a sociedade, pois mesmo
perdendo parte de seus direitos naturais, é neste ambiente que ele encontra
segurança perante os seus demais. Na sociedade, os homens formulam o contrato e
assim, conseguem viver sem esse medo autodestrutivo, pois as infinitude do outro é,
de certa forma regulada, haja visto que, mesmo que ele faça algo contra nós, a sua
atitude será julgada e receberá a devida punição.
É esse modo que surge o Estado civil. Abrindo mão parcialmente de suas
paixões, os homens conferem todo o seu poder natural a um único homem ou a um
grupo de pessoas que possam reduzir os seus diversos desejos e promover a unidade
e segurança de todos. Assim sendo, o Estado civil só é originado quando:
Uma multidão de homens concordam ou pactuam, cada um com cada um dos
outros, que a qualquer homem ou assembleia de homens a quem seja
atribuído pela maioria o direito de representar a pessoa de todos eles, todos,
sem exceção, tanto os que votaram a favor, como os que votaram contra ele,
deverão autorizar todos os atos e decisões desse homem ou assembleia de
homens, tal como se fossem seus próprios atos e decisões a fim de viveram
em paz uns com os outros e serem protegidos dos restantes dos homens”
(HOBBES, 2020. p. 163).
Assim que o Estado civil é instituído, este passa a ser responsável pela
manutenção efetiva da paz, ou seja, a preservação da vida de todos os seus
associados. A sua finalidade, nesse sentido, configura-se como sendo a busca pela
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Partindo dessa análise, podemos dizer que, para o contrato social ser efetivado, é
necessário que haja um governo estável e organizado que garanta o seu
cumprimento. Hobbes, nesse aspecto, nos apresentará três formas de governo que
podem atingir tal objetivo. Sendo elas: monarquia, aristocracia e democracia.
4.3 As formas de governo em Hobbes
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“concepção de democracia baseada nos seguintes elementos: a decisão como o elemento central do
processo deliberativo; a ideia de que, uma vez aferida a vontade da maioria, a posição perdedora nada
mais representa do que um erro”. (AVRITZER, 2000, p. 26).
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dizer que é uma marca do poder: só o monarca é um corpo físico coincidindo, sem
excesso nem falha, com a realidade do poder” (RIBEIRO, 1978. p. 40).
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5 CONCLUSÃO
aquilo que os seus impulsos naturais lhe impõem. Nesse ambiente, somente uma
coisa vigora o sentimento do medo, pois eu não sei o que esperar daqueles que se
encontram em minha volta. Essa desconfiança, fomentada pela imaginação, me
impele a agir contra essa ameaça aparente. O outro por sua vez, reconhecendo o
perigo, também luta por sua vida. Isso gera um ciclo vicioso que finda numa guerra
generalizada.
Os homens, por sua vez, para fugirem desse estado belicoso, abrem mão
parcialmente de sua liberdade natural e aceitam se reunir por meio de um contrato
social. O contrato por sua vez, não possibilitam por si a ordem social, por esse motivo,
é necessário que haja um governo, capaz de regular e impor comandos que
possibilitem o cumprimento do pacto. Para que esse governo consiga atingir tal
objetivo, ele deve ser absoluto e respeitar as leis naturais. Hobbes, por fim,
apresentará três possíveis formas de governo civil: monarquia, aristocracia e
democracia, priorizando justamente a monarquia por ser um governo no qual o poder
não está dividido em várias parcelas, mas se concentra somente uma pessoa e por
isso, possibilita um sistema mais estável, orgânico e efetivo.
É claro que o pensamento hobbesiano possui peculiaridades próprias de seu
tempo, como por exemplo, a valorização do sistema monárquico absoluto. Todavia, a
sua contribuição para a modernidade é de suma importância. Primeiramente, na sua
análise, acontece um certo distanciamento da política medieval, apostando no
protagonismo humano, fundamentado na racionalidade. Além disso, podemos
observar que o sistema hobbesiano preza pela conservação da vida, nesse sentido,
não devemos apostar numa ideologia política que prega a morte e o ódio, mas a
unidade e o respeito ao direito do outro. Um governo para ser legitimo deve se basear
na racionalidade das leis naturais, isto é, deve se fundamentar na verdade dos fatos
e priorizar sempre o bem estar de todos. Na sociedade hobbesiana só abrimos mão
daquilo que, vivido universalmente pode se tornar nocivo a todos. Nesse sentido,
aquilo que é particular, mas não fere a dignidade e segurança social, não deve ser
considerado uma ameaça, mas um direito que não pode ser impedido. Para a
contemporaneidade, isso pode significar um verdadeiro convite a aceitação da
pluralidade do outro e o reconhecimento dos seus valores pessoais. Em suma, como
cidadãos, temos deveres e direitos, um verdadeiro compromisso ético com aqueles
se encontram em nossa volta. Mas acima disso, somos humanos,
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REFERÊNCIAS